Em seu 22º artigo da Série O Rio de Janeiro desaparecido, a Brasiliana Fotográfica lembra a história da Cadeia Velha, demolida em 1922, que deu lugar ao Palácio Tiradentes, inaugurado, em 1926, com imagens de autoria de Augusto Malta (1864 – 1957), fotógrafo oficial da Prefeitura do Rio de Janeiro, entre 1903 e 1936; estereoscopias de Guilherme Santos (1871 – 1966) e registros realizados por fotógrafos ainda não identificados.
O Palácio Tiradentes foi construído no local onde existia a Casa de Câmara e Cadeia, prédio erguido em torno de 1640, quando os membros do Senado e da Câmara do Rio de Janeiro solicitaram a construção de um edifício para abrigar os trabalhos do legislativo. No século XVII, usualmente, nas cidades coloniais da América portuguesa nesses mesmos prédios ficavam as prisões. Só em 1747 foi inaugurado o edifício colonial da Câmara e da Cadeia Velha. Em 1808, com a chegada de d. João VI (1767 – 1826) ao Brasil, o local serviu de moradia para os empregados da corte.
Abrigou a Assembleia Nacional Constituinte que tinha como missão elaborar a Constituição do Brasil recém liberto de Portugal, mas foi dissolvida pelo Exército por ordem de dom Pedro ( (1798 – 1834), que não aprovou o texto original do documento. Foi sede da Câmara dos Deputados, entre 1826 e 1914.
Em 1914, o prédio da Cadeia Velha se encontrava em péssimas condições e a Câmara foi transferida para o Palácio Monroe, no fim da rua do Passeio, na avenida Central, atual Rio Branco, ponto mais nobre da capital do Brasil, na Cinelândia.
Entre 1914 e sua demolição, a Cadeia Velha serviu como depósito. Em 25 de dezembro de 1921, foi aprovado um projeto dos arquitetos cearense Archimedes Memória (1893 – 1960) e do franco-suíço Francisque Couchet (18? – 19?) para a construção do Palácio Tiradentes, no local onde existia a Cadeia Velha (Architectura no Brasil, janeiro de 1922). Os arquitetos trabalhavam no Escritório Técnico Heitor de Mello (1875 – 1920), que havia falecido, em 1920. Memória e Couchet foram sócios até 1929. Segundo a revista Architectura no Brasil, de janeiro de 1922, o estilo do palácio é Luiz XVI, moderno.
Archimedes e Couchet foram também responsáveis pelos projetos do Palácio das Festas e do Palácio das Grandes Indústrias, na Exposição Internacional do Centenário da Independência (1922), um dos maiores eventos internacionais já realizados no Brasil, inaugurada no Rio de Janeiro em 7 de setembro de 1922 e encerrada em 24 de julho do ano seguinte; além dos edifícios do Palácio Pedro Ernesto (1923), cujo projeto foi desenvolvido por eles, já que seu autor, Heitor Mello (1875 – 1920), faleceu em 1920; do Hotel Balneário da Urca (1925), futuro Cassino da Urca e sede da TV Tupi carioca; do Jockey Club Brasileiro, na Gávea (1926), e do Botafogo Futebol e Regatas (1928).

Augusto Malta. Sentados, da esquerda para a direita: Nestor de Figueiredo, Adolpho Morales de los Rios (pai) e Francisque Cuchet. Em pé, na mesma ordem: Archimedes Memoria, Adolpho Morales de los Rios (filho), Celestino Severo de Juan e Edgar Viana, 7 de setembro de 1922. Rio de Janeiro, RJ / Rio Antigo, por Charles Dunlop.
O prédio da Cadeia Velha foi demolido em 1922, quando foi lançada, com a presença do presidente da República, Epitácio Pessoa (1865 – 1942), a pedra fundamental do prédio da nova sede do Legislativo (O Combate, 19 de junho de 1922; Fon-Fon, 24 de junho de 1922).
Em estilo eclético, inspirado no Grand Palais de Paris, o Palácio Tiradentes foi inaugurado em 6 de maio de 1926, no dia em que se completava Um século de vida legislativa no Brasil. Seu nome homenageia Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes (1746 – 1792), um dos líderes da Inconfidência Mineira, que passou cinco dias na Cadeia Velha, da onde foi levado à forca, em 21 de abril de 1792.
Por ordem do então presidente da Câmara, Arnolfo de Azevedo (1868 – 1942), o Palácio Tiradentes foi construído com muita economia, tendo custado 15 contos de réis, metade do custo do Palácio Pedro Ernesto, inaugurado em 1923. Toda sua estrutura é de concreto e tijolo; as estátuas são de massa. Ricos cafeicultores e o estado de São Paulo foram responsáveis pela doação de vários móveis para a nova Câmara Federal, abrigada no Palácio Tiradentes. A Câmara Federal ali funcionou de 1926 até 1960 (Correio de Manhã, 7 de maio de 1926; O Paiz, 6 de maio e 7 de maio de 1926; Architectura no Brasil, junho/julho de 1926).
O presidente dos Estados Unidos, Herbert Hoover (1874 – 1964), fez uma visita ao Palácio Tiradentes, em 22 de dezembro de 1928 (Fon-Fon, 29 de dezembro de 1928).
Abaixo, um imagem de autoria do fotógrafo amador Guilherme Santos (1871 – 1966) no dia da Constituinte de 1934, em 16 de julho de 1934, com a cavalaria e civis diante do Palácio Tiradentes.
O Parlamento foi fechado pelo presidente Getulio Vargas (1882 – 1954) no período do Estado Novo, de 1937 a 1945, e no Palácio Tiradentes passou a funcionar o Ministério da Justiça e o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), órgão de censura do regime. Com a saída de Vargas, em 1945, o Palácio Tiradentes novamente abrigou uma Assembleia Constituinte.
Quando Brasília tornou-se a capital do Brasil, em 1960, o Palácio Tiradentes passou a abrigar a Assembleia Legislativa do Estado da Guanabara (ALEG) que, com a fusão dos estados da Guanabara e do Rio de Janeiro, efetivada em 1975, passou a se chamar Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ).
Andrea C. T. Wanderley
Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica
Fontes:
CASTRO, Ramiro Berbert de. Edifícios da Cadeia Velha, Palácio Monroe e Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro : Empresa Brasil Editora, 1926.
Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional
O GLOBO, 10 de novembro de 2011
Site Academia Ipuense de Letras, Ciências e Artes
Links para os outros artigos da Série O Rio de Janeiro desaparecido
Série O Rio de Janeiro desaparecido I - Salas de cinema do Rio de Janeiro do início do século XX, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 26 de fevereiro de 2016.
Série O Rio de Janeiro desaparecido II – A Exposição Nacional de 1908 na Coleção Família Passos, de autoria de Carla Costa, historiadora do Museu da República, publicado na Brasiliana Fotográfica, em 5 de abril de 2018.
Série O Rio de Janeiro desaparecido V – O quiosque Chopp Berrante no Passeio Público, Ferrez, Malta e Charles Dunlop, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 20 de julho de 2018.
Série O Rio de Janeiro desaparecido VI – O primeiro Palácio da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de setembro de 2018.
Série O Rio de Janeiro desaparecido VII – O Morro de Santo Antônio na Casa de Oswaldo Cruz, de autoria de historiador Ricardo Augusto dos Santos da Casa de Oswaldo Cruz, publicado na Brasiliana Fotográfica em 5 de fevereiro de 2019.
Série O Rio de Janeiro desaparecido VIII – A demolição do Morro do Castelo, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 30 de abril de 2019.
Série O Rio de Janeiro desaparecido IX – Estrada de Ferro Central do Brasil: estação e trilhos, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de novembro de 2019.
Série O Rio de Janeiro desaparecido X – No Dia dos Namorados, um pouco da história do Pavilhão Mourisco em Botafogo, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de junho de 2020.
Série O Rio de Janeiro desaparecido XI – A Estrada de Ferro do Corcovado e o mirante Chapéu de Sol, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 22 de julho de 2021.
Série O Rio de Janeiro desaparecido XXIII e Avenidas e ruas do Brasil XVII - A Praia e a Rua do Russel, na Glória, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 15 de maio de 2023