Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência

Com fotografias em formato cabinet*  de autoria de João Xavier de Oliveira Menezes, o J. Menezes (18? – 19?), pertencentes ao acervo da Fundação Biblioteca Nacional, uma das instituições fundadoras da Brasiliana Fotográfica; e com um pequeno histórico do Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, o portal celebra esta data.

 

 

 

Pequeno histórico do Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência

 

O Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, que coincide com o início da primavera, dia 21 de setembro, e simboliza o nascimento e a renovação do movimento das pessoas com deficiência, foi instituído pela Lei nº 11.133/2005, de 14 de julho de 2015. Seu objetivo é a conscientização da população brasileira de que pessoas com deficiência devem ter seus direitos respeitados e devem ser integradas à sociedade sem preconceitos, de forma igualitária. De acordo com o IBGE, no Brasil, 17,3 milhões de pessoas com dois anos ou mais de idade – o que representa 8,4% da população – possuem algum tipo de deficiência.

 

 

Segundo a Lei Brasileira de Inclusão de Pessoa com Deficiência, também conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência, de 2015, a pessoa com deficiência é aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. 

Existe, há relativamente pouco tempo, o conceito de capacitismo, sobre a discriminação em relação a pessoas com deficiência, a partir da subestimação da capacidade e aptidão dessas pessoas devido a suas deficiências, o que se traduz como um obstáculo à inclusão desses indivíduos à sociedade. Além disso, cada vez mais pessoas com deficiência trazem à sociedade um questionamento: seriam elas deficientes ou seria deficiente a sociedade que não satisfaz às necessidades de todas as pessoas que a formam?

O Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência foi oficializado, como já mencionado, em 2005, porém a data já era celebrada desde 1982 por iniciativa do Movimento pelos Direitos das Pessoas com Deficiência. O grupo começou a se organizar em fins de 1979 para reivindicar direitos e melhorias para a vida das pessoas com deficiência.

 

 

Legislação brasileira em relação a pessoas com deficiência:

Lei n° 7.713/1998: garante a dedução do Imposto de Renda para pessoas com deficiência.

Lei nº 7.853/1989: dispõe sobre o apoio às pessoas com deficiência e sua efetiva integração social.

Lei nº 8.213/1991: ordena que, a partir de 100 empregados, a empresa deve reservar de 2% a 5% de vagas para pessoas com deficiência.

Lei nº 8.899/1994: a Lei do Passe Livre prevê que toda pessoa com deficiência tenha direito ao transporte coletivo interestadual gratuito, e que cabe a cada estado ou município implantar programas similares ao Passe Livre para os transportes municipais e estaduais.

Lei nº 8.989/1995promove a isenção do imposto sobre produtos industrializados – IPI, na aquisição de automóveis para utilização no transporte autônomo de passageiros, bem como conduzidos pelas próprias pessoas com deficiência física, e dá outras providências. (Redação dada pela Lei Nº 10.754, de 31.10.2003).

Lei nº 9.394/1996: Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) – Determina que “haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de educação especial e que o atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular”. A legislação brasileira também prevê o acesso a livros em Braille, de uso exclusivo das pessoas com deficiência visual.

Lei nº 10.098/2000: normatiza as condições de acessibilidade.

Lei nº 10.436/2002: reconhece a Língua Brasileira da Sinais (LIBRAS) para os surdos.

Lei nº 10.754/2003: altera a Lei Nº 8.989, de 24 de fevereiro de 1995 que “dispõe sobre a isenção do Imposto Sobre Produtos Industrializados – IPI, na aquisição de automóveis para utilização no transporte autônomo de passageiros, bem como por pessoas com deficiência física e aos destinados ao transporte escolar.

Lei nº 11.126/2005: garante o direito da pessoa com deficiência visual de ingressar e permanecer em ambientes de uso coletivo acompanhado de cão-guia.

Lei nº 12.319/2010: regulamenta a profissão de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS.

Lei 13.146/2015: a Lei Brasileira de Inclusão de Pessoa com Deficiência, também conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência, incorporou os princípios da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, realizada em 2006, pela Organização das Nações Unidas (ONU) e ratificada pelo país em 2008.

 

Pequeno perfil de João Xavier de Oliveira Menezes, o J. Menezes (18? – 19?)

 

Apesar de não sabermos onde e quando João Xavier de Oliveira Menezes, o J. Menezes, nasceu e faleceu, há registros de sua atuação como fotógrafo a partir de 1875, no Rio de Janeiro, na rua da Quitanda, nº 39. Era filho do comendador Thomaz Xavier Ferreira de Menezes e seus irmãos eram Francisco, Eurydice, Thomaz e Carlos Xavier de Oliveira Menezes; e Rita Augusta de Menezes Pinho (Jornal do Commercio, 2 de novembro de 1891, sexta colunaO Paiz, 13 de setembro de 1896, sexta coluna).

 

deficiente5

Acervo IMS

 

Em 1876, foram realizadas obras em seu estúdio fotográfico e anunciado que já estava a disposição de nosso amigos e fregueses (Gazeta de Notícias, 27 de agosto de 1876).

 

 

Até 1882, foi associado, na firma Pacheco, Menezes & Irmão, a seu irmão, Carlos e a Bernardo José Pacheco (18? -?), que havia sido, entre 1866 e 1874, associado ao fotógrafo açoriano Christiano Junior (1802 – 1902). Apresentavam-se como sucessores de Christiano Junior & Pacheco e ofereciam retratos em todos os systemas (Jornal do Commercio, 3 de dezembro de 1866Gazeta de Notícias, 8 de agosto de 1875Diário do Rio de Janeiro, 9 de novembro de 1875, sexta colunaAlmanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1875 1876187718781879188018811882). Lembramos que Christiano Jr. foi o autor da série Elephansiasis, realizada na década de 1860. Como já indagado no artigo, Para uma história da fotografia médica, no Brasil, de autoria de Joaquim Marçal Ferreira de Andrade, um dos curadores da Brasiliana Fotográfica, teria sido J. Menezes o sucessor de Christiano Junior no atendimento à classe médica da corte?

 

Acessando o link para as fotografias de autoria de J. Menezes disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas. 

 

O estabelecimento passou a chamar-se Menezes & Irmão (Gazeta de Notícias, 13 de junho de 1882, última coluna; Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1884).

 

 

Ainda em 1882, anunciavam Photographia e Pintura e, em 1883, anunciavam uma Grande Novidade:

 

 

 

Em 1883,  foram lidas proclamas de seu casamento com Virgilia Adelaide Mendes Calaza (Gazeta de Notícias, 29 de dezembro de 1893, terceira coluna). Em 1884, com o falecimento de seu irmão e sócio Carlos, foi extinta a firma Menezes & Irmão e J. Menezes passou a atuar por conta própria, ainda na Rua da Quitanda, nº 39 (Jornal do Commercio, 26 de agosto de 1884, sétima coluna; Jornal do Commercio, 3 de outubro de 1884, última coluna). Residia na Rua do Souto, 16.

Foi na década de 1880, que J. Menezes produziu as fotos de pessoas com deficiência exibidas neste artigo.

Nos primeiros anos da década de 1890, seu estabelecimento fotográfico ficava na rua Marquês de Paraná, 1. O último registro de sua atividade como fotógrafo encontrada pela minha pesquisa data de 1902 (Gazeta de Notícias, 13 de junho de 1884, terceira colunaJornal do Commercio, 3 de outubro de 1884, última colunaAlmanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 188518911892, 1898190019011902).

Em 1902, seu filho Augusto (1901 – 1902) faleceu (Jornal do Commercio, 10 de julho de 1902, sexta coluna).

 

 

*Formato de apresentação de fotografias sobre papel que surgiu na Inglaterra em 1866 como uma evolução do formato cartão de visita, tendo portanto o mesmo tipo de apresentação, mas num tamanho maior, razão pela qual era dito de cabinet, de gabinete. Outra denominação empregada para esse formato, inclusive aqui no Brasil, era carte boudoir, em referência àquelas salas íntimas de uso feminino características das residências oitocentistas. Muito utilizado até fins do século passado, esse formato apresentava fotografias de cerca de 9,5 x 14cm montadas sobre cartões rígidos de cerca de 11 x 16,5 cm (Enciclopédia Itaú Cultural).

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

ANDRADE, Joaquim Marçal Ferreira de. Para uma história da Fotografia Médica, no Brasil. Brasiliana Fotográfica, 23 de outubro de 2016

Câmara Paulista para Inclusão da Pessoa Deficiente

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOUTSOUKOS, Sandra Sophia Machado.  O retratado era “diferente”. Rio de Janeiro, c. 1865. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São Paulo, julho 2011.

Ministério da Saúde – Biblioteca Virtual em Saúde

Portal UOL

Site Câmara dos Deputados

No Dia do Repórter Fotográfico, destaque para o “Marco no fotojornalimo brasileiro: a seca no Ceará é documentada com fotografias”

No Dia do Repórter Fotográfico, a Brasiliana Fotográfica republica o Marco no fotojornalimo brasileiro: a seca no Ceará é documentada com fotografias. O assunto do artigo, originalmente publicado no portal em 12 de julho de 2015, é a veiculação de duas fotos de vítimas da maior seca nordestina do século XIX, na revista O Besouro, uma das iniciativas pioneiras da imprensa brasileira na utilização de fotografias como documentos comprobatórios de um fato, estabelecendo uma relação entre a narrativa escrita e o registro fotográfico. O autor das imagens, pertencentes ao acervo da Biblioteca Nacional, uma das instituições fundadoras do portal, foi Joaquim Antônio Correia, cujo ateliê ficava em Fortaleza, no Ceará.

Para os leitores interessados em fotojornalismo, destacamos o portal Testemunha Ocular, uma iniciativa do Instituto Moreira Salles, instituição fundadora da Brasiliana Fotográfica, para preservar e difundir o passado e o presente do Fotojornalismo brasileiro; e também a exposição Evandro Teixeira. Chile 1973, em cartaz até 13 de novembro de 2023, no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro.

 

Marco no fotojornalimo brasileiro: a seca no Ceará é documentada com fotografias

 

J.A. Correia. Secca de 1877-78, 1877-1878. Ceará / Acervo FBN

J.A. Correia. Secca de 1877-78, 1877-1878. Ceará / Acervo FBN

 

Segundo o trabalho “Imagens da Seca de 1877-78 – Uma contribuição para o conhecimento do fotojornalismo na imprensa brasileira”, dos pesquisadores Joaquim Marçal Ferreira de Andrade e Rosângela Logatto, a publicação de fotos de vítimas da maior seca nordestina do século XIX foi uma das iniciativas pioneiras da imprensa brasileira na utilização de fotografias como documentos comprobatórios de um fato (Anais da Biblioteca Nacional, vol 114, de 1994, p.71-83).

Para denunciar a tragédia, o chargista português Rafael Bordalo Pinheiro (1846 – 1905) publicou, em 20 de julho de 1878, em uma ilustração da revista O Besouro, duas fotos que fazem parte de um conjunto de 14 registros fotográficos de vítimas da seca ocorrida entre 1877 e 1878. Porém, não foi dado crédito para o autor das fotos, Joaquim Antônio Correia, cujo ateliê ficava em Fortaleza, no Ceará.

Link para O Besouro de 20 de julho de 1878, ano I, n.16

Esse conjunto de fotografias pertence, atualmente, ao acervo da Biblioteca Nacional.  São imagens chocantes, em formato de cartes de visite, e retratam crianças, homens e mulheres desnutridos e maltrapilhos, de aparência doentia, e, muitas vezes, as fotos, feitas em estúdio, trazem textos rimados que se referem à miséria.

 

Acessando o link para as fotografias de Joaquim Antônio Correia sobre a seca nordestina de 1877/1878 disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

A publicação da ilustração litográfica das duas fotos sendo seguradas por um esqueleto vestindo paletó, sob o título “Páginas tristes – Scenas e aspectos do Ceará (para S. Majestade, o Sr. Governo e os Senhores Fornecedores verem)”, tinha o objetivo de reforçar denúncias feitas pelo escritor e jornalista José do Patrocínio (1853 – 1905) em artigos publicados no periódico de texto Gazeta de Notícias. Patrocínio fazia, na época, a cobertura jornalística da seca com o principal objetivo de acompanhar a aplicação dos recursos governamentais em seu combate. Partiu em 10 de maio de 1878 e retornou ao Rio de Janeiro, em 12 de agosto do mesmo ano. As matérias foram publicadas, na coluna Folhetim, na primeira página da Gazeta de Notícias, sob o título “Viagem ao Norte” (1).

Mas só o texto não era suficiente. Então, Patrocínio enviou as fotos para a redação da revista O Besouro, para a qual já havia mandado, antes da viagem, o artigo “Sermão de Lágrimas” (O Besouro, edição de 4 de maio de 1878 ), em que tratava, com preocupação, a seca e a situação dos retirantes.

A publicação da ilustração com as fotos de Joaquim Antônio Correia, na revista O Besouro, foi um verdadeiro “anticartão de visita, veemente panfleto que denuncia uma realidade que muitos membros da corte se negavam a enxergar”(“Imagens da Seca de 1877-78 – Uma contribuição para o conhecimento do fotojornalismo na imprensa brasileira”).

Abaixo, está reproduzido o texto publicado no O Besouro, na página seguinte à ilustração com as fotografias:

“O Ceará

O nosso amigo José do Patrocínio, em viagem por aquela provincia, enviou-nos as duas photographias por que foram feitos os desenhos da nossa primeira página.

São dois verdadeiros quadros de fome e miséria. E´ n´aquelle estado que os retirantes chegam á capital, aonde quasi sempre morrem, apezar dos apregoados soccorros, que segundo informações exactas são distribuídos de maneira improficua.

A nossa estampa da primeira pagina é uma prova cabal áquelles que accusavam de exageração, a pintura que se fazia do estado da infeliz província.

Repare o governo e repare o povo, na nossa estampa, que é a cópia fiel da desgraça da população cearense.

Continuaremos a reproduzir o que o nosso distincto collega nos enviar a tal respeito.”

Uma curiosidade: também dessa viagem ao norte do país originou-se o romance de José do Patrocinio, Os Retirantes, publicado na Gazeta de Notícias, em estilo de folhetim, entre 29 de junho e 10 de dezembro de 1879.

 

(1) – Links para os artigos escritos por José do Patrocínio sob o título “Viagem ao Norte”.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 1º de junho de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 6 de junho de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 20 de julho de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 23 de julho de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 3 de agosto de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 15 de agosto de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 22 de agosto de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 30 de agosto de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 7 de setembro de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 12 de setembro de 1878.

 

Breve cronologia de Joaquim Antônio Correia (18? – ?)

 

seca1

 

1874 – Até este ano, o nome de Joaquim Antônio Correia apareceia no cadastro de contribuintes como dono de uma casa comercial especializada em produtos manufaturados fora da província,que ficava na rua da Palma , nº 17.

1877 - Estabeleceu como fotógrafo na rua Formosa, n° 31. Atuou como retratista por não menos de dez anos e foi contemporâneo de Agio Pio, do prussiano Carlos Frederico Johann Reeckell, do dinamarquês Niels Olsen (1843 – 1911) associado ao austríaco Constantino Barza, do francês Baubrier e de Francisco Brandão, dentre outros.

 

 

1878 – Defendeu-se da acusação de comercializar indevidamente retratos que produzia de moças de família e ameaçou pendurar de cabeça para baixo os retratos de seus devedores (O Cearense, 12 de maio de 1878).

Em maio, conheceu o escritor José do Patrocínio (1853 – 1905), que havia ido para o Ceará para conhecer mais de perto a tragédia da seca. Voltando para o Rio de Janeiro, publicou duas fotos da seca no Ceará de autoria de Correia, na revista O Besouro, de 20 de julho de 1878, do chargista português Rafael Bordallo Pinheiro (1846 – 1905). Foi uma das iniciativas pioneiras da imprensa brasileira na utilização de fotografias como documentos comprobatórios de um fato. Foi um marco na história do fotojornalismo brasileiro.

A publicação da ilustração litográfica das duas fotos sendo seguradas por um esqueleto vestindo paletó, sob o título “Páginas tristes – Scenas e aspectos do Ceará (para S. Majestade, o Sr. Governo e os Senhores Fornecedores verem)”, tinha o objetivo de reforçar denúncias feitas por do Patrocínio em artigos publicados no periódico de texto Gazeta de Notícias. Patrocínio fazia, na época, a cobertura jornalística da seca com o principal objetivo de acompanhar a aplicação dos recursos governamentais em seu combate. Partiu em 10 de maio de 1878 e retornou ao Rio de Janeiro, em 12 de agosto do mesmo ano. As matérias foram publicadas, na coluna Folhetim, na primeira página da Gazeta de Notícias, sob o título “Viagem ao Norte”. Mas só o texto não era suficiente. Então, Patrocínio enviou as fotos para a redação da revista O Besouro, para a qual já havia mandado, antes da viagem, o artigo “Sermão de Lágrimas” (O Besouro, edição de 4 de maio de 1878 ), em que tratava, com preocupação, a seca e a situação dos retirantes.

1881 – Seu estúdio fotográfico dispunha de um grande sortimento de quadros de gosto…máquinas de 4 objetivas…e tudo por preço tão diminuto que admira.

 

 

1883 / 1884 – Antes da assinatura da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, Fortaleza, em 24 de maio de 1883, tornou-se a primeira capital brasileira a libertar todos os escravizados. No ano seguinte, em 25 de março de 1884, o Ceará passou a ser o primeiro estado brasileiro a extinguir a escravidão. Correia documentou os líderes da luta escravagista em fotos chamadas de Retratos Libertadores e, em 1883, as comercializava.

 

O Libertador, de 1887

O Libertador,  9 de maio de 1883 / História da fotografia no Ceará do século XIX

 

1885 – Correia anunciou que havia adquirido, em Paris, uma nova máquina para retratos instantâneos (O Cearense, de 28 de julho de 1885, última coluna).

1886 – Anunciava que em seu estabelecimento fotográfico tirava-se retratos pelos processos mais aperfeiçoados (O Libertador, 8 de junho de 1886, última coluna).

1892 – Provavelmente continuou trabalhando como fotógrafo até este ano.

Em 29 de dezembro, inaugurou a primeira fábrica de louças do Ceará, no Boulevard da Conceição (A República, 28 de dezembro de 1892, quarta coluna).

1893 – Anunciou a venda de seu estúdio fotográfico:

“Joaquim Antonio Correia vende a sua fotografia constando de boas lentes, drogas, punsas, etc. A tratar: Rua Formosa, nº 31″ (A República, 30 de maio de 1893). Residia na rua Floriano Peixoto, nº 95.

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

ANDRADE, Joaquim Marçal Ferreira de; LOGATTO, Rosângela. Imagens da Seca de 1877-78 – Uma contribuição para o conhecimento do fotojornalismo na imprensa brasileira Anais da Biblioteca Nacional, vol 114, de 1994, p. 71-83.

BEZERRA, Ari Leite. História da fotografia no Ceará do século XIX. Edição do autor, 2019.

Fundação Palmares

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002. 408 p., il. p&b.

Link para o artigo 500 mil mortos: a tragédia esquecida que dizimou brasileiros durante 3 anos no século 19, de Camilla Veras Mota, Camila Costa e Cecilia Tombesi publicada no site da BBC, em 18 de junho de 2021, com as fotografias de Joaquim Antonio Corrêa.*

 

*Esse link foi acrescentado no artigo em 19 de junho de 2021.

**Essa breve cronologia foi inserida em 19 de abril de 2022.

O Dia do Cinema Brasileiro

Para celebrar o Dia do Cinema Brasileiro, a Brasiliana Fotográfica destaca artigos já publicados no portal sobre Benjamin Abrahão Calil Botto (1901 – 1938)Jorge Kfuri (1893 – 1965)João Stamato (1886 – 1951), Nicola Parente (1847 – 1911)Marc Ferrez (1843 – 1923) e seus filhos; e Walter Garbe (18? – 19?), fotógrafos que fizeram parte da história do cinema no Brasil. Além disso, há ainda uma seleção de fotografias de salas de cinema disponíveis no acervo fotográfico do portal e um pequeno histórico da escolha do dia 19 de junho como Dia do Cinema Brasileiro.

 

Acessando o link para as fotografias de salas de cinema disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

Artigos sobre os fotógrafos que fizeram parte da história do cinema no Brasil:

O brilhante cronista visual Marc Ferrez (RJ, 07/12/1843 – RJ, 12/01/1923), 7 de dezembro de 2016,  de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica

Os índios sob as lentes de Walter Garbe, em 1909, publicado em 23 de maio de 2017, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica

Lampião e outros cangaceiros sob as lentes de Benjamin Abrahão, publicado em 28 de julho de 2017, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica

João Stamato, um fotógrafo nos sertões, publicado em 9 de fevereiro de 2021, de autoria de Ricardo Augusto dos Santos

O fotógrafo italiano Nicola Maria Parente (1847 – 1911) e sua trajetória no Brasil, publicado em 21 de fevereiro dde 2023, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica

 

Uma brevíssima história do início do cinema e da escolha do Dia do Cinema Brasileiro

 

 

Os irmãos Lumière, Louis (1864 – 1948) e Auguste (1862 – 1954), mostraram, em 28 de dezembro de 1895,  pela primeira vez ao público sua invenção, o cinematógrafo, síntese de pesquisas realizadas por muitos cientistas durante o século XIX sobre imagens em movimento. A apresentação foi realizada no salão do Grand Café, no Boulevard des Capucines, em Paris, para um público de 33 pessoas. O sucesso foi tão grande que, em pouco tempo, os Lumière passaram a apresentar 20 sessões diárias de meia hora cada uma, com os filmes O Regador Regado e A Saída dos Operários da Fábrica Lumière. Começava assim o cinema.

 

trabalhadores_lumiere

 

Alguns meses depois desta projeção inaugural, realizou-se a primeira sessão pública de cinema no Brasil, na Rua do Ouvidor, 57, em 8 de julho de 1896, às 14h, no Rio de Janeiro, em uma sala especialmente preparada para as projeções do omniógrafo. O invento foi descrito pelo Jornal do Commércio como um “aparelho que projeta sobre uma tela colocada ao fundo da sala diversos espetáculos e cenas animadas, por meio de uma série enorme de fotografias”.

 

 

Em 31 de julho de 1897,  o pernambucano José Roberto Cunha Sales (1840- 1903) e Paschoal Segreto (1868 – 1920) inauguraram a primeira sala cinematográfica do Brasil, o Pariz no Rio Salão de Novidades, na Rua do Ouvidor, 141, que passou a ser um ponto de encontro da sociedade carioca (Gazeta de Notícias, 1º de agosto de 1897). Sales e Segreto romperam a sociedade ainda em 1897. 

 

 

O estabelecimento pegou fogo em 8 de julho de 1898, mas foi reinaugurado em janeiro do ano seguinte (Gazeta de Notícias10 de agosto de 1898, sexta colunaA Notícia, 5 e 6 de janeiro de 1899, primeira coluna) .

 

 

O Dia do Cinema Brasileiro é comemorado em 19 de junho, quando, em 1898, chegou ao Rio de Janeiro, vindo da Europa, o navio Paquebot Brésil. A bordo, encontrava-se o cinegrafista brasileiro de origem italiana Affonso Segreto (1875 – 19?), que retornava de uma viagem para comprar equipamentos de filmagens e conhecer novas técnicas cinematográficas em Nova York e em Paris, onde fez um curso na Pathé Films.

Antes de desembarcar no Rio de Janeiro, Affonso filmou com uma câmara Lumière a entrada da enseada da Baía de Guanabara, as fortalezas e os navios ancorados (Gazeta de Notícias, 20 de junho de 1898, segunda coluna). Teria sido a primeira fita de cinema realizada no Brasil*. O acontecimento deu origem ao Dia do Cinema Brasileiro. Affonso Segreto filmou, posteriormente, aspectos do Rio de Janeiro, além de seus arredores, e também cerimônias e comícios.

 

 

Segundo relato de Domingos Segreto, fiho de Gaetano Segreto, em depoimento publicado no livro Palácios e poeiras, de Alice Gonzaga, ainda inexperiente, Affonso, na sessão marcada para a exibição das vistas, no já mencionado Salão Pariz no Rio, no dia 20 de junho de 1898, na Rua do Ouvidor, abriu erradamente a câmara e o filme foi danificado. Ele então exibiu vistas estrangeiras para o público. Foram convidados para o evento diversas autoridades, dentre elas o presidente da República, Prudente de Morais (1841 – 1902), e o jurista Rui Barbosa (1849 – 1923).

 

“A data de 19 de junho é simbólica da dificuldade que se tem de fazer cinema no Brasil, porque marca um filme que não existiu. Mas também retrata a perseverança”.

Hernani Heffner, Gerente da Cinemateca do MAM-RJ

 

Affonso era irmão de Paschoal (1868 – 1920) e Gaetano Segreto (1866 – 1908), empresários italianos que haviam vindo para o Brasil, em 1883. Trouxeram Affonso para o Brasil na década de 1890. Paschoal tornou-se o ministro das diversões do Rio e Gaetano foi o distribuidor exclusivo do jornal A Notícia e fundou o jornal da comunidade italiana Il Bersagliere. Os irmãos Segreto foram pioneiros da indústria do entretenimento no Brasil, figuras destacadas na cena cultural da Belle Époque do Rio de Janeiro.

 

*Existe uma polêmica em torno do assunto: alguns estudiosos consideram o primeiro filme brasileiro Chegada em Petrópolis devido a uma notícia divulgada pela Gazeta de Petrópolis convidando para uma sessão do filme no dia 1º de maio de 1897, no Theatro Cassino de Petrópolis, organizada pelo napolitano Vittorio di Maio (1852 – 1926). Posteriormente, di Maio vendeu seu projetor e acervo para Paschoal Segreto. Também é de 1897 a vista Ancoradouro de pescadores na Baía de Guanabara, do pernambucano José Roberto Cunha Sales (1840- 1903), porém sua nacionalidade brasileira é contestada por historiadores que acreditam que o cinegrafista recortou o filme de uma vista estrangeira. Ancoradouro de pescadores na Baía de Guanabara está acervado no Arquivo Nacional.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Agência Brasil

GONZAGA, Alice. Palácios e Poeiras. Rio de Janeiro : Record, 1996.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

MARTINS, William de Souza Nunes. Paschoal Segreto: “Ministro das Diversões” do Rio de Janeiro (1883 – 1920). Rio de Janeiro, 2004. Dissertação (Mestrado em História Social) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2004.

Site do Ministério das Relações Exteriores – Departamento Cultural

MOURA, Roberto. Verbete Afonso Segreto. In: MIRANDA, Luiz Felipe e RAMOS, Fernão Pessoa (org). Enciclopédia do cinema brasileiro. São Paulo: Senac, 2000.

O GLOBO, 18 de junho de 2023

Salas de cinema de São Paulo

Site Filmow

 

Outros artigos publicados na Brasiliana Fotográfica sobre teatros e cinemas

 

 Série O Rio de Janeiro desaparecido I Salas de cinema do Rio de Janeiro do início do século XXpublicado em 26 de fevereiro de 2016.

Os teatros do Brasil, publicado em 21 de março de 2016

A inauguração do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, publicado em 14 de julho de 2017

Cinema no Brasil – a primeira sessão e um pouco da história do Cinema Odeon, publicado em 8 de julho de 1921

Série “O Rio de Janeiro desaparecido” XII – O Teatro Lírico (Theatro Lyrico), publicado em 16 de setembro de 2021

O Theatro de Santa Isabel, publicado em 28 de outubro de 2021

O Teatro Amazonas (Theatro Amazonas), em Manaus, a “Paris dos Trópicos”, publicado em 28 de dezembro de 2021

O Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro, no Dia Mundial do Teatro, publicado em 27 de março de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXV – O Theatro Phenix, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 5 de setembro de 2023

No Dia dos Namorados, o álbum “Vistas de Petrópolis” e o fotógrafo alemão Pedro Hees (1841-1880)

No Dia dos Namorados, a Brasiliana Fotográfica traz para seus leitores imagens da bela e romântica Petrópolis, a cidade imperial. Nos últimos anos da década de 1860, o alemão Phillip Peter Hees, que ficou conhecido como Pedro Hees (1841 – 1880), produziu o álbum Vistas de Petrópolis, que pertence à Coleção Thereza Christina, da Biblioteca Nacional, uma das instituições fundadoras do portal. O álbum possui 15 fotografias em papel albuminado que mostram aspectos da cidade, sua ocupação e registros de suas construções e natureza. São fotos do Palácio Imperial, da Igreja da Matriz, do cemitério, da Cascata do Itamaraty, da Cascatinha do Retiro e de diversas ruas, dentre elas a rua do Imperador, que foi o tema do segundo artigo da série Avenidas e ruas do Brasil, publicada pelo portal.

 

 

Acessando o link para as fotografias do álbum Vistas de Petrópolis, de autoria de Pedro Hees disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

É de sua autoria um retrato do imperador Pedro II (1825 – 1891), destacado abaixo, que não faz parte do álbum.

 

 

Mas as belezas de Petrópolis também foram retratadas por outros importantes fotógrafos do sécculo XIX.

Entre 1864 e 1865 foi residir na cidade o francês Revert Henrique Klumb ( c.1826 – c.1886), na rua dos Artistas. Ele havia sido agraciado com o título de Fotógrafo da Casa Imperial, em 1861. Fotografou ruas como a do Imperador, a Tereza e a Joinville; o interior e o exterior do Palácio Imperial, os hotéis Beresford, Brangança e Inglês, o Retiro da Cascatinha, o rio Quitandinha, palacetes e casas, a princesa Isabel (1846 – 1921) e o conde D´Eu (1842 – 1922), além de vistas gerais.  Também fotografou a paisagem urbana de Petrópolis, acrescentando efeitos noturnos, uma importante inovação. Essa série é considerada extremamente significativa do ponto de vista estético, formal e dos limites da linguagem na época. Foi o autor do livro Doze horas em diligência. Guia do viajante de Petrópolis a Juiz de Fora, publicado em 1872, única obra do Brasil do século XIX a ser idealizada, fotografada, escrita e publicada por uma só pessoa. Foi o primeiro livro de fotografia inteiramente litografado e produzido no país. Pedro Hees era considerado seu maior concorrente.

 

 

Ainda em Petrópolis, foram contemporâneos de Klumb e de Hees, na década de 1860, João Meyer Filho e João Nogueira de Sousa (Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1865, segunda coluna).

O fotógrafo e editor suíço Georges Leuzinger (1813 – 1892) também retratou Petrópolis. Em 1865, foi aberto o ateliê de fotografia da Casa Leuzinger, no Rio de Janeiro, especializado em “vistas da cidade, Tijuca, Petrópolis, Teresópolis e rio Amazonas”, como se lê no verso de uma de suas cartes de visite.

Em 1865 montou então Georges Leuzinger um completo ateliê fotográfico, com todos os aparelhos necessários para viagens para o interior do Brasil, tendo para esse fim contratado um habilíssimo artista fotógrafo para dirigi-lo, que em companhia de vários auxiliares fizeram excursões por essa capital, Petrópolis, Teresópolis, etc., tirando fotografias de tudo o que de mais interessante se encontra na pujante natureza daquelas belíssimas regiões“.

Ernesto Senna em O Velho Comércio do Rio de Janeiro

 

 

Outro importante fotógrafo que realizou registros de Petrópolis foi Augusto Stahl (1828 – 1877), também agraciado com o título de Fotógrafo da Casa Imperial, em 21 de abril de 1862. Entre 1863 e 1870, seu estabelecimento fotográfico ficava no Rio de Janeiro.

 

 

Lembramos que, em torno de 1885, o brasileiro e filho de franceses Marc Ferrez (1843 – 1923) realizou o Álbum Vistas de Petrópolis e Rio de Janeiro, com 30 imagens de Petrópolis seus canais, casarões, escolas, estação de trem, fábricas, jardins, paisagens, palacetes e ruas, além de imagens do Palácio de Cristal, do Palácio do Grão-Pará, da avenida Koeller e da construção de uma ferrovia.

 

 

 Breve perfil de Pedro Hees (1841 – 1880)

 

Nascido na região de Hunsruek, na Alemanha, em 1841, Pedro Hees chegou em Petrópolis com 4 anos de idade, em 1845, com sua mãe, Anne Catharine Michel, e com seu pai, o colono alemão Christian Sebastian Hees, marceneiro e entalhador, que trabalhou na construção do Palácio Imperial da cidade, iniciada em 1845 e concluída em 1862. Eles integraram a primeira leva de colonos alemães que chegaram a Petrópolis.

 

 

Pedro casou-se com a alemã Maria Glasow Hees (1843 – 1928), em 22 de janeiro de 1861, e tiveram 11 filhos: Ana Catarina Hees (1861-1944), Edmundo Frederico Nicolau Hees (1862-1944), Fernando Jacob Hees (1865-1866), Fernando Mauricio Hees (1867-1893), João Batista Hees (1868-1876), Otto Hees (1870-1941), Elisa Matilde Hees (1872-1932), Maria Olga Hees (1872-1958), Joana Teresa Hees (1874-1900), Numa Augusto Hees (1877-1961) e Isabel Emma Hees (1878-1943). No site Sou Petrópolis há uma foto de Maria, realizada em 12 de setembro de 1915, com 27 netos (A Noite, 23 de junho de 1922, quarta colunaSou Petrópolis e Geneanet).

 

 

Antes de se interessar por fotografia, o que aconteceu em meados da década de 1860, Pedro trabalhou no comércio como sapateiro, na rua do Bourbon e na rua dom Affonso. Ambas foram fotografadas por ele e fazem parte do álbum Vistas de Petrópolis (Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1962, primeira coluna; Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1964, segunda coluna; Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1965, segunda coluna). Na mesma rua dom Afonso, passou a ter uma ferraria, em 1866 (Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1866, segunda coluna).

 

 

 

 

Em 1868,  já possuía um estúdio fotográfico, a Photographia Popular, na Praça Dom Afonso, atual Praça da Liberdade, que tornou-se bastante conhecido e era frequentado pela nobreza, por políticos, diplomatas e também por comerciantes e artesãos imigrantes. Petrópolis era, na época, muito frequentada pela família imperial (Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1868, segunda coluna).

 

 

Em 1870, Pedro Hees era o secretário da Sociedade Alemã de Beneficência Bruderbund (Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1868, segunda coluna).

Em março de 1876, faleceu seu filho João Baptista Numa Hees, aos 7 anos, de pleuro-pneumonia (O Mercantil, 29 de março de 1876, terceira coluna). Em 16 de agosto do mesmo ano, tornou-se Fotógrafo da Casa Imperial. Segundo Boris Kossoy, recebeu do conde e da condessa d´Eu “a graça de usar o título de Photographo de sua Imperial Caza e de collocar na porta do seu estabelecimemnto as respectivas armas”. O documento foi assinado por Benedicto Torres, mordomo do conde d’Eu e da princesa Isabel.

Faleceu jovem, aos 39 anos, de entero-mezenterite (O Mercantil, 14 de agosto de 1880, última coluna). Seu estabelecimento fotográfico foi arrendado ao fotógrafo Antonio Henrique da Silva Heitor (18?-?), que, posteriormente, recebeu o título de Fotógrafo da Casa Imperial em 2 de março de 1885, outorgado por dom Pedro II. sob o nome de Hees & Irmãos, o estúdio foi assumido pelos filhos de Pedro Hees – Numa Augusto  e Otto -, em 1888, quando este último atingiu a maioridade. Existiu até 1915. Otto foi o autor de uma importante fotografia que tudo indica ter sido o último registro da família imperial antes da proclamação da República, em 15 de novembro de 1889. Também fotografou a assinatura do Tratado de Petrópolis, na residência do Barão do Rio Branco, em 1903; e os netos de Pedro II.

 

 

 Acesse aqui a Cronologia de Pedro Hees (1841 – 1880).

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

CARMONA, João Sêco. Iconografia do Brasil Imperial. Génese do Museu Imperial de Petrópolis e os registos fotográficos. Anais do 5º Seminário Internacional Museografia e Arquitetura de Museus Fotografia e Memória, 2016.

Enciclopédia Itaú Cultural

FERREZ, Gilberto. A fotografia no Brasil: 1840- 1900. Prefácio Pedro Karp Vasquez. 2. ed. Rio de Janeiro: Funarte, 1985.

FERREZ, Gilberto. Um passeio a Petrópolis em companhia do fotógrafo Marc Ferrez. Separata do Anuário do Museu Imperial – 1948.

Google Arts & Culture

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002.

LAGO, Bia Corrêa do. Os fotógrafos do Império: a fotografia brasileira no Século XIX. Rio de Janeiro: Capivara, 2005.

Site Geneanet

Site Library of Congress

Site Museu Imperial de Petrópolis

Tribuna de Petrópolis, 1º de julho de 2016

VASQUEZ, Pedro Karp. Dom Pedro II e a fotografia no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Roberto Marinho, 1985.

Wikipedia

 

Outras publicações da Brasiliana Fotográfica no Dia dos Namorados:

Fotografia e namoro, de autoria de Elvia Bezerra, publicado, em 12 de junho de 2018 .

Série “O Rio de Janeiro desaparecido” X – No Dia dos Namorados, um pouco da história do Pavilhão Mourisco em Botafogo, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 12 de junho de 2020.

 

Cronologia de Pedro Hees (1841 – 1880)

 

Cronologia de Pedro Hees (1841 – 1880)

 

1841 – Nascimento de Phillip Peter Hees, que ficou conhecido como Pedro Hees, na região de Hunsruek, na Alemanha, filho de Anne Catharine Michel e Christian Sebastian Hees, marceneiro e entalhador.

1845 – Chega a Petrópolis com sua família. Seu pai trabalhou na construção do Palácio Imperial, iniciada justamente em 1845 e concluída em 1862 . Foi o palácio de verão de d. Pedro II (1825 – 1891), hoje Museu Imperial, e a residência predileta do imperador. Foi construído por determinação do monarca e às expensas de sua dotação pessoal. Para dar início à construção, d. Pedro II havia assinado, dois anos antes, um decreto em 16 de março de 1843, criando Petrópolis. Uma grande leva de imigrantes europeus, principalmente alemães, sob o comando do engenheiro e superintendente da Fazenda Imperial, major Julius Friedrich Koeler (1804 – 1847), foi incumbida de levantar a cidade, construir o palácio e colonizar a região. A família Hees integrava a primeira leva de colonos alemães que chegaram à cidade.

 

 

Década de 1860 – Pedro trabalhou no comércio como sapateiro, na rua do Bourbon e na rua dom Affonso. Ambas foram fotografadas por ele e fazem parte do álbum Vistas de Petrópolis (Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1962, primeira colunaAlmanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1964, segunda colunaAlmanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1965, segunda coluna). Na mesma rua dom Afonso, passou a ter uma ferraria, em 1866 (Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1866, segunda coluna).

1861 –  Pedro casou-se com a alemã Maria Glasow Hees (1843 – 1928), em 22 de janeiro de 1861, e tiveram 11 filhos: Ana Catarina Hees (1861-1944), Edmundo Frederico Nicolau Hees (1862-1944), Fernando Jacob Hees (1865-1866), Fernando Mauricio Hees (1867-1893), João Batista Hees (1868-1876), Otto Hees (1870-1941), Elisa Matilde Hees (1872-1932), Maria Olga Hees (1872-1958), Joana Teresa Hees (1874-1900), Numa Augusto Hees (1877-1961) e Isabel Emma Hees (1878-1943). No site Sou Petrópolis há uma foto de Maria, realizada em 12 de setembro de 1915, com 27 netos (A Noite, 23 de junho de 1922, quarta colunaSou Petrópolis e Geneanet).

 

 

Meados da década – Passou a se interessar por fotografia.

1868 - Possuía um estúdio fotográfico, a Photographia Popular, na Praça Dom Afonso, atual Praça da Liberdade, que tornou-se bastante conhecido e era frequentado pela nobreza, por políticos, diplomatas e também por comerciantes e artesãos imigrantes. Petrópolis era, na época, muito frequentada pela família imperial (Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1868, segunda coluna).

 

 

Últimos anos da década – Produziu o álbum Vistas de Petrópolis, que pertence à Coleção Thereza Christina, da Biblioteca Nacional, uma das instituições fundadoras da Brasiliana Fotográfica. O álbum possui 15 fotografias em papel albuminado que mostram aspectos da cidade, sua ocupação e registros de suas construções e natureza.

1870 – Pedro Hees era o secretário da Sociedade Alemã de Beneficência Bruderbund (Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1868, segunda coluna).

1876 - Em março, falecimento de seu filho João Baptista Numa Hees, aos 7 anos, de pleuro-pneumonia (O Mercantil, 29 de março de 1876, terceira coluna).

Em 16 de agosto, tornou-se Fotógrafo da Casa Imperial. Segundo Boris Kossoy, recebeu do conde e da condessa d´Eu “a graça de usar o título de Photographo de sua Imperial Caza e de collocar na porta do seu estabelecimemnto as respectivas armas”. O documento foi assinado por Benedicto Torres, mordomo do conde d’Eu e da princesa Isabel.

1880 – Faleceu jovem, aos 39 anos, de entero-mezenterite (O Mercantil, 14 de agosto de 1880, última coluna). Seu estabelecimento fotográfico foi arrendado ao fotógrafo Antonio Henrique da Silva Heitor (18?-?), que, posteriormente, recebeu o título de Fotógrafo da Casa Imperial em 2 de março de 1885, outorgado por dom Pedro II.

1888 – Sob o nome de Hees & Irmãos, o estúdio foi assumido pelos filhos de Pedro Hees – Numa Augusto  e Otto -, quando este último atingiu a maioridade. Existiu até 1915. Otto foi o autor de uma importante fotografia que tudo indica ter sido o último registro da família imperial antes da proclamação da República, em 15 de novembro de 1889. Também fotografou a assinatura do Tratado de Petrópolis, na residência do Barão do Rio Branco, em 1903; e os netos de Pedro II.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

 

O fotógrafo amador Archanjo Sobrinho (18? – 1941)

Pesquisando para escrever sobre a Praia do Russel, tema do 23º artigo da série O Rio de Janeiro desaparecido, publicado em 15 de maio de 2023, aqui na Brasiliana Fotográfica, me deparei com três imagens produzidas, no Rio de Janeiro, durante a década de 1890, por Archanjo Sobrinho. São estereoscopias da já mencionada Praia do Russel, da Enseada da Lapa a partir de adro na Igreja de Nossa Senhora da Glória; e da aléia de palmeiras da Rua Paissandu, no bairro do Flamengo. Muito pouco se sabe até hoje sobre este fotógrafo amador, qualificação que consta em suas imagens.

 

 

A estereoscopia chegou ao Brasil, ainda no século XIX, e foi uma técnica utilizada por fotógrafos renomados como  Revert Henrique Klumb (c.1826 – c. 1886) e Georges Leuzinger (1813 – 1892), ambos europeus e radicados no país. No século XX, destacou-se o estereoscopista amador carioca Guilherme Antônio dos Santos (1871-1966).

 

Acessando o link para as fotografias de Archanjo Sobrinho disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá visualizar e magnificar as imagens.

 

A partir de uma busca na Hemereoteca Digital da Biblioteca Nacional, uma das mais importantes fontes de pesquisa do portal, “descobri” alguns fatos sobre a vida de Archanjo, que partilho com vocês na esperança de que algum ou alguns leitores possam contribuir para adensar o perfil deste fotógrafo tão pouco conhecido até o momento. Infelizmente, ao longo da pesquisa na Hemeroteca, da década de 1880 até a de 1940, já que ele faleceu em 1941, só há duas referências a sua atividade de fotógrafo amador. Mas surgiram diversas informações acerca de sua vida.

 

Cronologia de Archanjo Sobrinho (18? – 1941)

 

 

18? - Archanjo Correia de Mello Sobrinho nasceu em 24 de junho, no século XIX, em ano ainda desconhecido (Gazeta de Notícias, 24 de junho de 1898, última colunaO Paiz, 24 de junho de 1900, sexta coluna; O Cruzeiro, 22 de junho de 1929).

1890 - Ofereceu uma bolsa de malha de prata com 10 libras esterlinas para o artista Peixoto (? – 1910) que havia se apresentado na peça Mimi Bilonira, encenada no Theatro Variedades. Esteve na missa pela morte do ator, em 1910  (Gazeta de Notícias, 15 de setembro de 1890, penúltima colunaA Imprensa, 4 de março de 1910, penúltima coluna).

 

 

 

1894 a 1901 – Estava na lista de guarda-livros – contador – do Almanak Laemmert e morava na Rua da Misericóridia, nº 80 (Almanak Laemmert1894189518961897189818991900 e 1901). Em 1900, foi noticiado que era proprietário da Papelaria União.

 

1901 – O jornal A Imprensa publicou uma trova na coluna”Ineditoriais”, de Felizardo Ventura, na qual ele era um dos personagens (A Imprensa, 5 de janeiro de 1901).

 

 

1902 / 1903 – Era sócio da firma Fernando Freire e Cia (Correio da Manhã, 24 de junho de 1902, penúltima coluna). A notícia abaixo, de 1903, confirma tratar-se do Anchanjo Sobrinho fotógrafo amador e não um possível homônimo. Também se refere jocosamente a suas dificuldades no início de suas atividades de fotógrafo e informa que ele já havia sido barbeiro e dentista. Parece que gostava de beber e era um ótimo amigo, muito relacionado no Rio de Janeiro. De acordo com o texto, na época, já possuia uma papelaria.

 

archanjo

archanjo1

 

Nasceu, em 1903, Ari, seu filho com Jovina Muniz Barreto Correia de Mello (Jornal do Brasil, 3 de março de 1903, quinta coluna). Em 1906, já tinha também uma filha (Jornal do Brasil, 9 de fevereiro de 1906, penúltima coluna). Suas filhas chamavam-se Semiramis, futura professora municipal; Oswaldina (1892 -?) e Inah (A Tribuna, 21 de setembro de 1911, segunda colunaO Paiz19 de abril de 1917, última coluna13 de maio de 1917, quinta coluna; A Razão, 16 de agosto de 1919, sexta coluna).

1904 – Fez parte da primeira diretoria do Retiro Dramático Fluminense, uma agremiação de atores amadores. A festa inaugural aconteceu no Teatro Lucinda com a encenação da peça O Médico das Crianças, protagonizada por Eugênio de Magalhães. Archanjo estava presente (Jornal do Commercio, 1º de setembro de 1904, sexta coluna; Jornal do Brasil, 16 de setembro de 1904, terceira coluna; Jornal do Brasil, 20 de setembro de 1904, segunda coluna).

1910 – Ficou ferido em um descarrilamento do bonde onde estava. Morava na rua Visconde de Sapucai (Correio da Manhã, 8 de maio de 1910, penúltima coluna). Foi um dos jurados do julgameno de Nathalino Paes de Barros, que havia assasinado sua mulher. Georgina Reid Paes de Barros (O Paiz, 3 de agosto de 1910, última coluna).

 

 

 

1911 - Esteve presente à encenação da comédia O Diretor, no Teatro Fluminense, no Campo de São Cristóvão (Gazeta de Notícias, 24 de maio de 1911, quarta coluna).

1912 - Constituiu a firma Archanjo e Sobrinho & Cia para explorar a Papelaria Moderna (O Paiz, 13 de janeiro de 1912, quinta coluna).

 

 

Em dezembro, a Papelaria Moderna, que ficava na Rua Marechal Floriano, nº 21, vizinha do Cinema Brasileiro, que sofreu um incêndio, teve alguns prejuízos devido ao acidente (A Imprensa, 9 de dezembro dde 1912, penúltima coluna).

1913 – No ano seguinte, no Almanak Laemmert, a empresa Archanjo Sobrinho & Cia foi noticiada pela primeira vez, listada na seção de “Litografias e Estamparias”, na de “Papelarias”- a dele seria a Papelaria Moderna; e na de “Tipografias”. Ficava na Marechal Floriano, nº 21. Seus sócios eram Manoel Joaquim P. da Fonseca e José Ferreira da Silva. Seguiu, em 1914, na lista de “Litografias e Estamparias” e de “Tipografias”. Residia na Rua Conde de Leopoldina, 85, e a Papelaria Moderna seguiu na Marechal Floriano, 21, até 1918. Em 1922, 1924, 1925 e 1926 foi listada a tipografia Archanjo Sobrinho & Lobosco, na rua Jorge Rudge, nº 38. Em 1922, a Papelaria Moderna existia ainda na rua Marechal Floriano, mas no número 168. Em 1927, estava listada a tipografia Archanjo Sobrinho & Cia, na Rua da Misericórdia, 59. Neste mesmo endereço, em 1929, estava listada uma papelaria e uma tipografia em seu nome. Também em 1929, estava listada a tipografia Archanjo Sobrinho & Maciel Artes Gráficas, na Rua São Pedro, 21. No ano seguinte e em 1934, estava na mesma Rua São Pedro, mas no número 281 e 269, respectivamente (Almanak Laemmert191319131913191319131914191419141915, 1916191819221922192419241925192619271929192919291930 e 1934).

 

 

1914 – Era também gerente do jornal A Época e sua Papelaria Moderna contribuiu com brindes, cartões de visita com impecável impressão, no concurso promovido pelo jornal. Deixou o cargo em 1915 (A Época24 de junho de 191428 de julho de 1914, terceira coluna18 de agosto de 1915, quarta coluna).

1917 e 1919 - Houve greves dos gráficos e os funcionários da oficina de Archanjo aderiram ao movimento. Na mesma época da greve de 1919, a gráfica de Archanjo foi roubada (O Paiz, 4 de setembro de 1917, última colunaGazeta de Notícias, 3 de setembro de 1919, terceira colunaCorreio da Manhã, 9 de setembro de 1919, quarta coluna). Participou das comemorações do jubileu da vida intelectual do então senador Rui Barbosa (1849 – 1923) (O Paiz, 10 de agosto fe 1918, última coluna).

1919 – Doou uma fotografia da Rua 1º de março, produzida em 1893, para ajudar os flagelados da seca nordestina. Será de sua autoria? É da mesma década de 1890 das fotografias que estão exibidas neste artigo e que pertence ao acervo do Instituto Moreira Salles, uma das instuições fundadoras da Brasiliana Fotográfica.

 

 

1920 – Retirou-se da sociedade da firma Archanjo Sobrinho & Cia.

 

 

1922 a 1926 – Contribuiu para a Obra de Assistência aos Portugueses Desamparados (A Noite, 25 de junho de 1922, terceira coluna). Em 1925, residia na rua Barata Ribeiro, nº 417; e depois na Rua Teófilo Otoni, 118 (A Noite, 16 de abril de 1925, terceira colunaO Paiz, 4 de setembro de 1925, última coluna). No primeiro dia de 1926 foi publicada uma propaganda da Artes Gráficas – Archanjo Sobrinho & Gumarães, na Rua da Misericórdia, nº 59.

 

 

1929 – Retirou-se da sociedade Archanjo Sobrinho & Maciel Artes Gráficas (A Manhã, 25 de julho de 1929, quarta coluna).

1941 – Faleceu, em agosto, no Hospital a Ordem Terceira da Penitência e foi enterrado no cemitério da referida ordem (A Noite, 2 de agosto de 1941).

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Cronologia de Archanjo Sobrinho (18? – 1941)

 

Cronologia de Archanjo Sobrinho (18? – 1941)

A partir de uma busca na Hemereoteca Digital da Biblioteca Nacional, uma das mais importantes fontes de pesquisa do portal, “descobri” alguns fatos sobre a vida de Archanjo, que partilho com vocês na esperança de que algum ou alguns leitores possam contribuir para adensar o perfil deste fotógrafo tão pouco conhecido até o momento. Infelizmente, ao longo da pesquisa na Hemeroteca, da década de 1880 até a de 1940, já que ele faleceu em 1941, só há duas referências a sua atividade de fotógrafo amador. Mas surgiram diversas informações acerca de sua vida.

 

 

18? - Archanjo Correia de Mello Sobrinho nasceu em 24 de junho, no século XIX, em ano ainda desconhecido (Gazeta de Notícias, 24 de junho de 1898, última colunaO Paiz, 24 de junho de 1900, sexta coluna; O Cruzeiro, 22 de junho de 1929).

1890 - Ofereceu uma bolsa de malha de prata com 10 libras esterlinas para o artista Peixoto (? – 1910) que havia se apresentado na peça Mimi Bilonira, encenada no Theatro Variedades. Esteve na missa pela morte do ator, em 1910  (Gazeta de Notícias, 15 de setembro de 1890, penúltima colunaA Imprensa, 4 de março de 1910, penúltima coluna).

 

 

 

1894 a 1901 – Estava na lista de guarda-livros – contador – do Almanak Laemmert e morava na Rua da Misericóridia, nº 80 (Almanak Laemmert1894189518961897189818991900 e 1901). Em 1900, foi noticiado que era proprietário da Papelaria União.

 

 

1901 – O jornal A Imprensa publicou uma trova na coluna”Ineditoriais”, de Felizardo Ventura, na qual ele era um dos personagens (A Imprensa, 5 de janeiro de 1901).

 

 

1902 / 1903 – Era sócio da firma Fernando Freire e Cia (Correio da Manhã, 24 de junho de 1902, penúltima coluna). A notícia abaixo, de 1903, confirma tratar-se do Anchanjo Sobrinho fotógrafo amador e não um possível homônimo. Também se refere jocosamente a suas dificuldades no início de suas atividades de fotógrafo e informa que ele já havia sido barbeiro e dentista. Parece que gostava de beber e era um ótimo amigo, muito relacionado no Rio de Janeiro. De acordo com o texto, na época, já possuia uma papelaria.

 

archanjo

archanjo1

 

 

Nasceu, em 1903, Ari, seu filho com Jovina Muniz Barreto Correia de Mello (Jornal do Brasil, 3 de março de 1903, quinta coluna). Em 1906, já tinha também uma filha (Jornal do Brasil, 9 de fevereiro de 1906, penúltima coluna). Suas filhas chamavam-se Semiramis, futura professora municipal; Oswaldina (1892 -?) e Inah (A Tribuna, 21 de setembro de 1911, segunda colunaO Paiz19 de abril de 1917, última coluna13 de maio de 1917, quinta coluna; A Razão, 16 de agosto de 1919, sexta coluna).

1904 – Fez parte da primeira diretoria do Retiro Dramático Fluminense, uma agremiação de atores amadores. A festa inaugural aconteceu no Teatro Lucinda com a encenação da peça O Médico das Crianças, protagonizada por Eugênio de Magalhães. Archanjo estava presente (Jornal do Commercio, 1º de setembro de 1904, sexta coluna; Jornal do Brasil, 16 de setembro de 1904, terceira coluna; Jornal do Brasil, 20 de setembro de 1904, segunda coluna).

1910 – Ficou ferido em um descarrilamento do bonde onde estava. Morava na rua Visconde de Sapucai (Correio da Manhã, 8 de maio de 1910, penúltima coluna). Foi um dos jurados do julgameno de Nathalino Paes de Barros, que havia assasinado sua mulher. Georgina Reid Paes de Barros (O Paiz, 3 de agosto de 1910, última coluna).

 

 

 

1911 - Esteve presente à encenação da comédia O Diretor, no Teatro Fluminense, no Campo de São Cristóvão (Gazeta de Notícias, 24 de maio de 1911, quarta coluna).

1912 - Constituiu a firma Archanjo e Sobrinho & Cia para explorar a Papelaria Moderna (O Paiz, 13 de janeiro de 1912, quinta coluna).

 

 

Em dezembro, a Papelaria Moderna, que ficava na Rua Marechal Floriano, nº 21, vizinha do Cinema Brasileiro, que sofreu um incêndio, teve alguns prejuízos devido ao acidente (A Imprensa, 9 de dezembro dde 1912, penúltima coluna).

1913 – No ano seguinte, no Almanak Laemmert, a empresa Archanjo Sobrinho & Cia foi noticiada pela primeira vez, listada na seção de “Litografias e Estamparias”, na de “Papelarias”- a dele seria a Papelaria Moderna; e na de “Tipografias”. Ficava na Marechal Floriano, nº 21. Seus sócios eram Manoel Joaquim P. da Fonseca e José Ferreira da Silva. Seguiu, em 1914, na lista de “Litografias e Estamparias” e de “Tipografias”. Residia na Rua Conde de Leopoldina, 85, e a Papelaria Moderna seguiu na Marechal Floriano, 21, até 1918. Em 1922, 1924, 1925 e 1926 foi listada a tipografia Archanjo Sobrinho & Lobosco, na rua Jorge Rudge, nº 38. Em 1922, a Papelaria Moderna existia ainda na rua Marechal Floriano, mas no número 168. Em 1927, estava listada a tipografia Archanjo Sobrinho & Cia, na Rua da Misericórdia, 59. Neste mesmo endereço, em 1929, estava listada uma papelaria e uma tipografia em seu nome. Também em 1929, estava listada a tipografia Archanjo Sobrinho & Maciel Artes Gráficas, na Rua São Pedro, 21. No ano seguinte e em 1934, estava na mesma Rua São Pedro, mas no número 281 e 269, respectivamente (Almanak Laemmert191319131913191319131914191419141915, 1916191819221922192419241925192619271929192919291930 e 1934).

 

 

1914 – Era também gerente do jornal A Época e sua Papelaria Moderna contribuiu com brindes, cartões de visita com impecável impressão, no concurso promovido pelo jornal. Deixou o cargo em 1915 (A Época24 de junho de 191428 de julho de 1914, terceira coluna18 de agosto de 1915, quarta coluna).

1917 e 1919 - Houve greves dos gráficos e os funcionários da oficina de Archanjo aderiram ao movimento. Na mesma época da greve de 1919, a gráfica de Archanjo foi roubada (O Paiz, 4 de setembro de 1917, última colunaGazeta de Notícias, 3 de setembro de 1919, terceira colunaCorreio da Manhã, 9 de setembro de 1919, quarta coluna). Participou das comemorações do jubileu da vida intelectual do então senador Rui Barbosa (1849 – 1923) (O Paiz, 10 de agosto fe 1918, última coluna).

1919 – Doou uma fotografia da Rua 1º de março, produzida em 1893, para ajudar os flagelados da seca nordestina. Será de sua autoria? É da mesma década de 1890 das fotografias que estão exibidas neste artigo e que pertence ao acervo do Instituto Moreira Salles, uma das instuições fundadoras da Brasiliana Fotográfica.

 

 

1920 – Retirou-se da sociedade da firma Archanjo Sobrinho & Cia.

 

 

1922 a 1926 – Contribuiu para a Obra de Assistência aos Portugueses Desamparados (A Noite, 25 de junho de 1922, terceira coluna). Em 1925, residia na rua Barata Ribeiro, nº 417; e depois na Rua Teófilo Otoni, 118 (A Noite, 16 de abril de 1925, terceira colunaO Paiz, 4 de setembro de 1925, última coluna). No primeiro dia de 1926 foi publicada uma propaganda da Artes Gráficas – Archanjo Sobrinho & Gumarães, na Rua da Misericórdia, nº 59.

 

 

1929 – Retirou-se da sociedade Archanjo Sobrinho & Maciel Artes Gráficas (A Manhã, 25 de julho de 1929, quarta coluna).

1941 – Faleceu, em agosto, no Hospital a Ordem Terceira da Penitência e foi enterrado no cemitério da referida ordem (A Noite, 2 de agosto de 1941).

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

No Dia do Imigrante Italiano, a trajetória do fotógrafo Nicola Maria Parente (1847 – 1911) no Brasil

Inspirada pela celebração do Dia Nacional do Imigrante Italiano e pela recente publicação do livro Italianos detrás da câmara: trajetórias e olhares marcantes no florescer da fotografia no Brasil, de autoria de Livia Raponi e Joaquim Marçal, um dos curadores da Brasiliana Fotográfica, escrevo sobre mais um importante fotógrafo italiano que atuou no Brasil no século XIX: Nicola Maria Parente (1847 – 1911), introdutor do cinematógrafo na Paraíba. Em destaque, imagens de sua autoria que pertencem à Fundação Biblioteca Nacional, uma das fundadoras da Brasiliana Fotográfica; e à Fundação Joaquim Nabuco e ao Museu Histórico Nacional, às instituições parceiras do portal.

 

 

Nicola Maria Parente se junta aos também italianos Camillo Vedani (18? – 1888)João Firpo (1839 – 1899) e Elvira (1876 – 1972) e Vincenzo Pastore (1930 – 1918), que já foram temas de artigos publicados no portal.

 

 

Acessando o link para as fotografias de autoria de Nicola Maria Parente disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Pela importância que a comunidade italiana tem na história do Brasil, a lei nº 11.687, de 2 de junho de 2008 instituiu oficialmente o Dia Nacional do Imigrante Italiano no calendário de todo o território nacional. O dia 21 de fevereiro foi escolhido devido à expedição que Pietro Tabacchi fez ao Espírito Santo, em 1874, marco do início do processo da migração em massa dos italianos para o Brasil. Estima-se que atualmente aproximadamente 30 milhões de descendentes de italianos vivam em terras brasileiras.

 

Bandeira da Itália

Bandeira da Itália

 

Breve perfil do fotógrafo italiano Nicola Maria Parente (1847 – 1911)

 

nicola8

 

A biografia de Nicola Maria Parente ainda tem diversas lacunas. Ele nasceu em Marsico Nuovo, província de Potenza, na região de Basilicata, em 13 de março de 1847, filho de Giovannantonio Parente e Maria Carmela Perci (Site Cápsula do Tempo). Relatos de seus familiares informam que ele teria participado nas lutas de Giuseppe Garibaldi (1807-1882) pela unificação da Itália, mas este fato ainda não foi confirmado.

 

 

Provavelmente veio para o Brasil, em 1865. Também de acordo com relatos de familiares, chegou com seu irmão Carmino, seus primos João, Georgina e Luigi; e com sua esposa Carolina Rotunda e seus filhos Galileu e Margarida. Durante a viagem Carolina teria dado à luz a Garibaldi e teria falecido logo depois do parto. No Porto de Santos, Nicola teria conhecido a italiana Giusephina Calliari, que viajava com dois filhos, Marcella e Giulio. Casaram-se e, posteriormente, tiveram uma filha, Carmelita. Há informações de que teriam se estabelecido em Taquari, no Rio Grande do Sul. Quanto à nacionalidade dos filhos há uma divergência ainda não resolvida pela pesquisa da vida de Nicola: no anúncio de sua morte é dito que todos nasceram no Brasil.

Percorreu alguns estados do Brasil e, o que se sabe, é que, na década de 1880, estabeleceu-se em João Pessoa, que na época chamava-se Parahyba do Norte, onde abriu a Photographia Vesúvio, na rua d´Areia, 73.

 

 

Na Paraíba, foi contemporâneo do italiano João Firpo (1839 – 1899) e do alemão Bruno Bourgard (18? – 19?), dentre outros fotógrafos itinerantes, e da pioneira Roza Augusta (18? -19?).

 

 

 

Também trabalhou como dentista.

 

 

Gênio de artista investigador, Nicola foi, além de fotógrafo e dentista, comerciante e inventor. Foi também ele que apresentou o cinematógrafo aos moradores de João Pessoa, na Paraíba, entre julho e agosto de 1897, durante a Festa das Neves, que homenageia a padroeira da cidade, Nossa Senhora das Neves, e que, na época, era o maior acontecimento social e religioso do estado. Em frente à Photographia Vesúvio, na rua Nova, nº 2, foi colocado um grande cartaz com frases em francês anunciando o espetáculo. Segundo anotações do fotógrafo, cineasta, diretor e pesquisador paraibano Walfredo Rodriguez (1893 – 1973), que estava presente ao acontecimento, em seu Roteiro Sentimental de uma Cidade:

“O autor destas desativadas evocações, recorda-se, ainda, envoltas em névoas das imagens remotas, das fitas ali exibidas, numa Festa das Neves de 1897 – “Chegada de um trem a Gare de Lion”, Um macaco pulando um arco” e “Crianças jogando bolas de neve em Biarritz”.

Parece que Nicola Parente conhecia os irmãos Louis e Auguste Lumière, franceses responsáveis pelo invento do cinematógrafo, cuja primeira exibição pública aconteceu em Paris, em 28 de dezembro de 1895. Em 1896, Parente viajou para a Europa e de lá trouxe a novidade. Segundo o bisneto de Nicola, o jornalista Pedro Parente, seu bisavô teria ido aFrança, em 1900, quando teria sido convidado pelos irmãos Lumière para a Exposição Universal de Paris.

 

 

Nicola itinerou com o cinematógrafo por diversos estados do Nordeste, como Bahia, Ceará, Pará e Rio Grande do Norte; e pelo interior de São Paulo. O organizador do livro A crítica de cinema em Belém, Pedro Veriano, aventa a possibilidade de Nicola ter sido o responsável  pelas primeiras filmagens no Pará, “mas não deixou provas concretas do trabalho” .

 

Em 1899,  transferiu-se para Abaeté, atual Abaetetuba, no Pará, onde criou o estabelecimento comercial Casa Italiana, da firma Nicola Parente & Filhos. Também colaborou com o Jornal da Mata.

Em 19 de maio de 1911, faleceu, vítima da explosão de um novo aparelho gerador de gás oxigênio que pretendia inventar em seu laboratório em Abaeté. De acordo com a notícia veiculada pelo Estado do Pará, era sócio de seu filho Garibaldi na firma comercial Parente & Cia.  Seu outro filho, Galileu, era jornalista, poeta e fotógrafo. Como já mencionado, tinha também duas filhas, Margarida e Carmelita. Foi identificado como muito estimado, honesto e caridoso (Estado do Pará, 29 de maio de 1911, última coluna).

 

Acesse aqui a Cronologia de Nicola Maria Parente (1847 – 1911) 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

ALIPRANDI, E.; MARTINI, V. (orgs.). Gli italiani nel nord del Brasile. Rassegna delle vite e delle opere della stirpe italica negli stati del nord brasiliano. Belém: Tip. da Livraria Gilet, 1932.

BARRO, Máximo. Participação italiana no cinema brasileiro. São Paulo : SESI-SP Editora.

Fotografia Paraibana Revista, 2012, pág 73

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

GOLZIO, Derval Gomes. Utilização Político-Ideológica da Fotografia: estudo das imagens publicadas no jornal A União durante a disputa política no Estado da Paraíba-1930. Dissertação de Mestrado em Multimedios, Unicamp, 1997.

Italianos detrás das câmeras: trajetórias e olhares marcantes no florescer da fotografia no Brasil / Organizado por Joaquim Marçal, Livia Raponi, traduzido por Livia Raponi, Vittorio Cappelli. – São Paulo : Editora Unesp, 2022.

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002.

LAPA, José Roberto do Amaral. A cidade: os cantos e os antros : Campinas, 1850-1900. São Paulo : Editora da Universidade de São Paulo, 1996.

LEAL, Wills. O Discurso Cinematográfico dos Paraibanos: a história do cinema na/da Paraíba. João Pessoa: Ed. A União, 1989.

LEITE, Ary Bezerra. Cidade de Fortaleza: 1897-1945: do Cinematógrafo aos Anos de Guerra.

LEITE, Ari Bezerra. História da fotografia no Ceará do século XIX. Edição do autor, 2019.

LEITE, Ary Bezerra. Memória do cinema: os ambulantes do Brasil (Cinema itinerante no Brasil: 1895 – 1914). Fortaleza : Premius, 2011.

PETIT, Pere. Filmes, Cinemas e Documentários no fim da Belle Époque no Pará (1911-1914). Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São Paulo, julho 2011,

VERIANO, Pedro (coord.). A crítica de cinema em Belém. Belém: Secult/PA, 1983.

SANTOS, Alex. Cinema e Revisionismo. João Pessoa, SEC/PB, 1982.

Site Cápsula do Tempo

Site Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro

Site Crônicas Taipuenses

Site Fatos e Fotos de Natal Antiga

Site Fortaleza Nobre

Site Italian Genealogy

Site Paraíba Criativa

Site Pró-Memória de Campinas – SP

Cronologia de Nicola Maria Parente (1847 – 1911)

Cronologia de Nicola Maria Parente (1847 – 1911) 

 

 

1847 –  Nicola Maria Parente nasceu em Marsico Nuovo, província de Potenza, na região de Basilicata, em 13 de março, filho de Giovannantonio Parente e Maria Carmela Perci  (Site Cápsula do Tempo).

1865 – Provável ano de sua chegada ao Brasil com, segundo relatos de parentes, seu irmão Carmino, seus primos João, Georgina e Luigi; e com sua esposa Carolina Rotunda e seus filhos Galileu e Margarida. Durante a viagem, Carolina teve um filho, Garibaldi, e teria falecido logo depois do parto.

No Porto de Santos, Nicola teria conhecido  a italiana Giusephina Calliari, que viajava com dois filhos, Marcella e Giulio. Casaram-se e, posteriormente, tiveram uma filha, Carmelita. Quanto à nacionalidade dos filhos há uma divergência ainda não resolvida pela pesquisa da vida de Nicola: no anúncio de sua morte é dito que todos nasceram no Brasil. Há informações de que teria se estabelecido em Taquari, no Rio Grande do Sul, com sua família.

1871 – Chegou no Rio de Janeiro, no vapor italiano Expresso, que veio da Europa. Do Rio de Janeiro, seguiu para a Bahia no paquete Cruzeiro do Sul (Diário do Rio de Janeiro, 26 de março de 1871, quarta colunaDiário do Rio de Janeiro, 15 de abril de 1871, primeira coluna).

1886 - Já possuia a Photographia Vesúvio, na rua d´Areia, 73, em João Pessoa, na capital da Paraíba.

1888 – Atuava como dentista em João Pessoa. Viajou para Pedras de Fogo, também na Paraíba; e para Goiana, em Pernambuco, mas retornaria à capital da Paraíba (Gazeta da Parahyba. 12 de outubro de 1888, última coluna).

 

 

1889 – Foi anunciado que ele iria para o sul do país. Na ocasião atuava na arte dentária e na fotografia (Gazeta da Parahyba, 12 de dezembro de 1889, última coluna).

 

 

1895 - Na cidade de Goiana, em Pernambuco, fundou a Photograhia Ítalo-Brasileira, na rua Conde d´Eu, onde oferecia seus serviços como fotógrafo e também como protético.

1896 – Já de volta à Paraíba, agradeceu às pessoas que estiveram presentes ao enterro de Francisco Jorge da S. Parente e convidou para a missa de sétimo dia (A União (PB), 19 de setembro de 1896, terceira coluna).

Agradeceu às pessoas que estiveram presentes ao enterro de Anna Isabel do Sacramento e convidou para a missa de sétimo dia (A União (PB), 27 de setembro de 1896, segunda coluna).

Em novembro, estava no Recife, da onde seguiu para a Paraíba, no vapor Maranhão (Jornal de Recife, 4 de novembro de 1896, terceira coluna).

Viajou à Europa e, na França, adquiriu o cinematógrafo, inventado pelos irmãos Lumière, cuja primeira exibição pública aconteceu em Paris, em 28 de dezembro de 1895.

1897 – Foi o responsável pela apresentação ao paraibanos do cinematógrafo durante a Festa das Neves, que homenageia a padroeira da cidade, Nossa Senhora das Neves (A União (PB), 5 de agosto de 1897, penúltima coluna; e 8 de agosto de 1897, última colunaA Notícia, 9 de agosto de 1897, segunda colunaA República (CE), 20 de setembro de 1897, terceira coluna).

Em frente à Photographia Vesúvio, na rua Nova, nº 2, foi colocado um grande cartaz com frases em francês anunciando o espetáculo. Segundo anotações do fotógrafo, cineasta, diretor e pesquisador paraibano Walfredo Rodriguez (1893 – 1973), em seu Roteiro Sentimental de uma Cidade, que estava presente ao acontecimento:

“O autor destas desativadas evocações, recorda-se, ainda, envoltas em névoas das imagens remotas, das fitas ali exibidas, numa Festa das Neves de 1897 – “Chegada de um Trem a Gare de Lion”, Um macaco pulando um arco” e “Crianças jogando bolas de neve em Biarritz”.

 

 

 

Esteve em Belém, apresentando o cinematógrafo.

Em novembro, apresentou o invento em Fortaleza, no Ceará (A República, 20 de novembro de 1897, quarta coluna).

 

 

1898 – A Photographia Vesúvio foi anunciada pelo filho de Nicola, Garibaldi (A União (PB), 15 de junho de 1898).

 

 

O consultório dentário de Nocola ficava na rua General Osório, 2 (antiga rua Nova), mesmo local da Photographia Vesúvio, em João Pessoa.

 

 

Em abril, Nicola esteve em Natal, onde apresentou o cinematógrafo na rua do Comércio (A República, 19 de abril de 1898):

“Sábado à noite o Sr. Nicolau Parente fez uma excelente exibição do cinematógrafo – mais uma das grandes aplicações da eletricidade, devida ao grande gênio de Edison. O trabalho agradou bastante e é uma das melhores diversões que temos gozado nesta capital”.

Entre julho e outubro, Nicola esteve na Bahia apresentando o cinematógrafo, na rua Carlos Gomes, nº 26 (Jornal de Notícias (BA), 8 de julho de 1898, terceira coluna).

 

 

Em novembro, esteve em Bragança (SP) com o cinematógrafo.

1899 – Em Campinas, exibição regular de sessões de cinema organizadas por Nicola no Cine Teatro Rink.

 

nicola12

Propaganda veiculada em 6 de dezembro de 1899 / A cidade: os cantos e os antros : Campinas, 1850-1900, página 31.

 

Transferiu-se para Abaeté, atual Abaetetuba, no Pará, onde criou o estabelecimento comercial Casa Italiana, da firma Nicola Parente & Filhos. Também colaborou com o Jornal da Mata.

1900 – Esteve apresentando o cinematógrafo em Manaus e também em Belém.

Segundo seu bisneto, o jornalista Pedro Parente, viajou para a Europa como convidado especial dos irmãos Lumière para a Exposição Universal de Paris.

1911 – Em 19 de maio, faleceu, vítima da explosão de um novo aparelho gerador de gás oxigênio que pretendia inventar em seu laboratório em Abaeté. De acordo com a notícia veiculada pelo Estado do Pará, era sócio de seu filho Garibaldi na firma comercial Parente & Cia.  Seu outro filho, Galileu, era jornalista, poeta e fotógrafo. Como já mencionado, tinha também duas filhas, Margarida e Carmelita. Foi identificado como muito estimado, honesto e caridoso (Estado do Pará, 29 de maio de 1911, última coluna).

 

 

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

O fotógrafo amador pernambucano Henrique Martins (1864 – 1933)

O pesquisador Rodrigo Cantarelli, da equipe da Coordenação-Geral de Estudos da História Brasileira (CEHIBRA) da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), uma das instituições parceiras da Brasiliana Fotográfica, recentemente identificou a autoria de algumas imagens produzidas por Henrique Martins, que atuou como fotógrafo amador nas primeiras décadas do século XX, em Pernambuco. Sua produção fotográfica está presente em duas coleções integrantes do acervo da Fundação Joaquim Nabuco: a Coleção Franklin Santiago Poggi de Figueiredo e a Coleção Josebias Bandeira. São imagens belíssimas do Recife, de Olinda e de Jaboatão dos Guararapes.

Acessando o link para fotografias de autoria de Henrique Martins disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.  

 

O fotógrafo amador pernambucano Henrique Martins (1864 – 1933)

Rodrigo Cantarelli*

Henrique Martins (1864 – 1933) foi um fotógrafo amador com atuação em Pernambuco nas primeiras décadas do século XX, sendo encontradas menções aos seus trabalhos, na imprensa recifense, a partir de 1903. Filho mais jovem de José Izidoro Martins e Francisca Emilia de Oliveira, Henrique Martins integrou uma família de intelectuais conhecidos no estado, sendo irmão do desembargador Samuel Martins (1862 – 1930) e do jurista Martins Júnior (1860 – 1904).

Henrique Martins se graduou bacharel na Faculdade de Direito do Recife, em 1889, chegando a escrever sobre a utilização da fotografia em processos judiciais, no entanto, não seguiu uma carreira profissional nesse campo, tal qual seus irmãos, ocupando-se do cargo de Secretário da Faculdade de Direito e sócio responsável da empresa Martins & C., que comercializava material fotográfico na capital pernambucana. São encontradas algumas notícias na imprensa local relatando que a Martins & C. produziu pequenos filmes publicitários, com o intuito de serem projetados antes das sessões nos cinemas do Recife, a exemplo do Festival do Jornal do Recife, relatado na notícia de 18 de julho de 1915 do referido jornal, e o Festival d’A Província, também relatado pelo Jornal do Recife, em 17 de agosto do mesmo ano. Ainda são encontrados dois endereços, hoje não mais existentes, onde funcionou a Martins & C., sendo o primeiro na Rua Sigismundo Gonçalves (por vezes rua do Cabugá), n.º 3, 1º andar, e Rua das Laranjeiras, n.º 2, ambos logradouros situados no bairro de Santo Antônio.

 

 

A produção fotográfica de Henrique Martins está presente em duas coleções integrantes do acervo da Fundação Joaquim Nabuco. A primeira delas é a Coleção Franklin Santiago Poggi de Figueiredo, composta exclusivamente por negativos em acetato, datados do começo do século XX. Estes negativos estão quase todos identificados por um código numérico, elaborado pelo autor das imagens, bem como, em alguns casos, datados e com o título da imagem identificando o seu local. Além disso, alguns desses negativos ainda possuem as assinaturas “H.” ou “H.M.”. Não é possível afirmar que todas as imagens desta coleção, composta por 84 documentos, seja de autoria de Henrique Martins, entretanto, tanto a semelhança na caligrafia grafada nos documentos quanto a técnica e a temática dos negativos reforça essa possibilidade.

 

 

 

 

 

 

Já a segunda coleção onde encontramos os trabalho de Henrique Martins é a Josebias Bandeira, composta, quase que exclusivamente, por cartões postais. São diversas as imagens do início do século passado onde, além das assinaturas “H.” e “H.M.” presentes nos negativos que deram origem aos cartões postais, ainda percebemos um pequeno carimbo circular onde lemos “H. Martins”.

 

 

 

 

 

 

 

É importante destacar que alguns dos negativos que deram origem aos postais encontrados na Coleção Josebias Bandeira, estão presentes na Coleção Franklin Santiago Poggi de Figueiredo. Um desses postais, que mostra a igreja Matriz da Boa Vista, no Recife, autentica a autoria da imagem do negativo da Coleção Franklin Poggi, visto que, quando comparamos as duas imagens, podemos perceber que negativo foi danificado e perdeu exatamente a parte da imagem com a assinatura “H.”.

 

 

 

 

 

 

Tais imagens foram expostas e comercializadas em lugares, na cidade do Recife, frequentados por uma elite intelectual pernambucana, a exemplo da Livraria Francesa, da Livraria Universal e da Fábrica da Lafayette. A imprensa local, em diversas ocasiões, ao comentar os trabalhos de Henrique Martins, nos permite reconstituir os mais diversos temas registrados por ele, seja o desembarque de personalidades no Porto do Recife, paisagens urbanas e até mesmo os mais diversos retratos, tendo ele registrado uma imagem do cangaceiro Antônio Silvino (esta, infelizmente não presente nas coleções da Fundação Joaquim Nabuco). No entanto, estes outros temas mencionados estão presentes também nas duas coleções, que mostram desde aspectos do Porto do Recife, sobrecarregado de embarcações em função da 1ª da Guerra Mundial; aos banhos de mar na cidade de Olinda; bem como as novas e as velhas edificações da capital pernambucana, e dos seus arredores, naquele início do século XX.

 

 

 

 

 

 

 

 

Rodrigo Cantarelli é pesquisador da CEHIBRA – FUNDAJ.

 

 

Fontes:

DESEMBARGADOR Samuel Martins. Jornal Pequeno, Recife, 23 de abril 1930.

MARTINS, Henrique. Lista geral dos bacharéis e doutores que tem obtido o respectivo grao na faculdade de direito do Recife desde sua fundação em Olinda, no anno de 1828, ate o anno de 1923. Recife, 1923.

MARTINS, Henrique. Sobre a photographia judiciaria: seu historico e sua applicacao. A Cultura Academica, Recife. a.3, v.3, p.75-86, ago. 1906.