Série “O Rio de Janeiro desaparecido” XXIII e Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVII – A Praia e a Rua do Russel, na Glória

A Brasiliana Fotográfica publica o 23º artigo da Série O Rio de Janeiro desaparecido e o 17º da série Avenidas e ruas do Brasil, com o tema Praia e Rua do Russel, na Glória. Grande parte da Praia do Russel foi aterrada, em meados da década de 1900, para a construção da Avenida Beira-Mar, inaugurada, em 1906, cuja abertura foi, assim como a execução da Avenida Central, uma das grandes obras realizadas durante a gestão do prefeito Francisco Pereira Passos (1836 – 1913) (Gazeta de Notícias, 13 de novembro de 1906). A Praia do Russel desapareceu completamente com a criação do Aterro do Flamengo, na década de 1960. A Rua do Russel será durante os próximos quatro anos o local da sede carioca do Instituto Moreira Salles, uma das instituições fundadoras do portal.

 

 

A publicação traz imagens produzidas pelos fotógrafos amadores Archanjo Sobrinho (18? – 19?) e Guilherme Santos (1871 – 1966), por Juan Gutierrez (c. 1860 – 1897), um dos mais importantes fotógrafos paisagistas dos oitocentos, no Brasil; pelo alagoano Augusto Malta (1864 – 1957), fotógrafo da Prefeitura do Rio de Janeiro entre 1903 e 1937; por Jorge Kfuri (1893 – 1965), autor das primeiras fotografias aéreas do Rio de Janeiro, por Georges Leuzinger (1813 – 1892), um dos mais importantes difusores para o mundo da fotografia sobre o Brasil no século XIX, além de pioneiro das artes gráficas no país; por Antônio Caetano da Costa Ribeiro (18? – 19?) e por Marc Ferrez (1843 – 1923), cuja vasta e abrangente obra iconográfica se equipara a dos maiores nomes da fotografia do mundo.

 

“Russel, a praia é do Russel em nome, porque propriamente falando ela é de El-Rei, do seu povo e dos poetas que ali vão inspirar-se. é uma praia parnaso”.

Diário do Rio de Janeiro, de 12 de setembro de 1871

 

 

O prefeito Pereira Passos promoveu uma significativa reforma urbana no Rio de Janeiro, realizando diversas demolições, conhecidas popularmente como a política do “bota-abaixo”, que contribuiu fortemente para o surgimento do Rio de Janeiro da Belle Époque. Essas transformações foram definidas por Alberto Figueiredo Pimentel (1869-1914), autor da seção “Binóculo”, da Gazeta de Notícias, com a máxima “O Rio civiliza-se”, que se tornou o slogan da reforma urbana carioca.

 

 

Acessando o link para as fotografias da Praia do Russel selecionadas e disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá visualizar e magnificar as imagens.

 

 

 

Voltando à Praia do Russel. Até os primeiros anos da década de 1860, chamava-se Praia de Pedro I, mas com o início das operações da primeira empresa responsável pelo tratamento do esgoto da cidade, a Rio de Janeiro City Improvements Limited, mudou de nome (Correio Mercantil, 30 de janeiro de 1863, terceira colunaDiário do Rio de Janeiro, 13 de setembro de 1869, terceira coluna).

 

“O leitor conhece a formosa praia que circunda a pitoresca colina da Glória; chamam-na praia do Russel. Aí se vai banhar crescido número de pessoas”. 

Diário do Rio de Janeiro, 6 de abril de 1871

 

A lei n. 719, de 28 de setembro de 1853, aprovada pelo decreto n. 1.929, de 29 de abril de 1857, autorizou o contrato estabelecido entre o governo imperial e os empresários Joaquim Pereira Viana de Lima Júnior e João Frederico Russell (18? – 1888), cujo sobrenome acabou dando nome à praia e a um pequeno bairro entre a Glória e o Flamengo. Ele era engenheiro, filho de ingleses, e morava numa casa, na Praia do Russel, demolida em 1920 para a construção do Hotel Glória, inaugurado em 15 de agosto de 1922. Russel foi o presidente da Companhia Melhoramentos da Cidade de Santos (Correio Mercantil, 30 de janeiro de 1863, terceira coluna).

 

 

 

 

Segundo o contrato, os empresários teriam a exclusividade, durante noventa anos, sobre o serviço de limpeza das casas e do esgoto das águas pluviais da cidade do Rio de Janeiro. A obras começaram em 1862, ano em que o Decreto n. 3.004, de 21 de novembro estabeleceu as condições para a execução de itens presentes no mencionado contrato de 1857, que admitiu a constituição de uma empresa fora do país para realizar as obras de implantação do sistema de esgotamento sanitário. Coube ao membro do Instituto de Engenheiros Civis de Londres, Eduardo Gotto, a elaboração do projeto do sistema contratado, bem como a constituição de uma empresa de capital inglês, a The Rio de Janeiro City Improvements Company Limited, conhecida depois como City, para a qual o contrato de Russel e Lima Junior foi transferido, em maio de 1863 (Correio da Manhã, 15 de novembro de 1940).

 

 

A Rua do Russel teve aprovada essa denominação em 1868. Ficava no prolongamento da Praia do Flamengo e terminava junto às obras do esgoto (Correio Mercantil, 29 de janeiro de 1868, sexta coluna).

 

 

 

 

Uma das primeiras casas construídas no local foi a do hotel-balneário Grand Chalet, do comendador Domingos Moitinho, importante industrial brasileiro (c. 1825 – 1895), que morava num casarão ao lado que foi, posteriorente, transformado no Hotel Russel.

 

 

Também moraram no Russel o poeta Francisco Otaviano (1825 – 1899) e Hugo A. Gruber, autor do livro Método de Ahn, ensino prático de aprender com facilidade a língua francesa (O Sexo Feminino, 6 de junho de 1874).

 

 

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Agenda Bafafá

Arquivo Nacional

GERSON, Brasil. História das Ruas do Rio. Rio de Janeiro: Bem-Te-Vi, 2013.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

Portal da Cedae

Revista de Engenharia, 14 de março de 1888

 

Links para os outros artigos da Série O Rio de Janeiro desaparecido

 

Série O Rio de Janeiro desaparecido I Salas de cinema do Rio de Janeiro do início do século XXde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 26 de fevereiro de 2016.

Série O Rio de Janeiro desaparecido II – A Exposição Nacional de 1908 na Coleção Família Passos, de autoria de Carla Costa, historiadora do Museu da República, publicado na Brasiliana Fotográfica, em 5 de abril de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido III – O Palácio Monroe, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica, em 9 de novembro de 2016.

Série O Rio de Janeiro desaparecido IV - A via elevada da Perimetral, de autoria da historiadora Beatriz Kushnir, publicado na Brasiliana Fotográfica em 23 de junho de 2017.

Série O Rio de Janeiro desaparecido V – O quiosque Chopp Berrante no Passeio Público, Ferrez, Malta e Charles Dunlopde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portalpublicado na Brasiliana Fotográfica em 20 de julho de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VI – O primeiro Palácio da Prefeitura Municipal do Rio de Janeirode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de setembro de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VII – O Morro de Santo Antônio na Casa de Oswaldo Cruzde autoria de historiador Ricardo Augusto dos Santos da Casa de Oswaldo Cruzpublicado na Brasiliana Fotográfica em 5 de fevereiro de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VIII – A demolição do Morro do Castelode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portalpublicado na Brasiliana Fotográfica em 30 de abril de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido IX – Estrada de Ferro Central do Brasil: estação e trilhosde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de novembro de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido X – No Dia dos Namorados, um pouco da história do Pavilhão Mourisco em Botafogode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de junho de 2020.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XI – A Estrada de Ferro do Corcovado e o mirante Chapéu de Sol, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 22 de julho de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XII – o Teatro Lírico (Theatro Lyrico), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 15 de setembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIII – O Convento da Ajuda, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de outubro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIV – O Conselho Municipal, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 19 de novembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XV – A Praia de Santa Luzia no primeiro dia do verão, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 21 de dezembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVI – O prédio da Academia Imperial de Belas Artes, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, publicado na Brasiliana Fotográfica em 13 de janeiro de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVII – Igreja São Pedro dos Clérigos, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 18 de março de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVIII – A Praça Onze, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 20 de abril de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIX – A Igrejinha de Copacabana, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 23 de junho de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XX – O Pavilhão dos Estados, futuro prédio do Ministério da Agricultura, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 26 de julho de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXI – O Chafariz do Largo da Carioca, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 19 de setembro de 2022. 

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXII – A Cadeia Velha que deu lugar ao Palácio Tiradentes, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 11 de abril de 2023.

 

Links para as outras publicações da série “Avenidas e ruas do Brasil”

 Série “Avenidas e ruas do Brasil” I – Avenida Central, atual Rio Branco, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 7 de setembro de 2016

Série “Avenidas e ruas do Brasil” II – A Rua do Imperador em Petrópolis por Klumb, Leuzinger e Stahl, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 26 de junho de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” III – A Rua do Bom Jesus, no Recife, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 6 de agosto de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IV – A Rua 25 de Março, em São Paulo, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 1º de setembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” V – A Rua Direita, a Rua das Mercês e a Rua Macau do Meio, em Diamantina, Minas Gerais, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 22 de outubro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” VI  – Rua Augusto Ribas e outras, em Ponta Grossa, no Paraná, pelo fotógrafo Luiz Bianchi, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 16 de novembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” VII – A Avenida Atlântica, em Copacabana, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 23 de dezembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil VIII – A Rua da Carioca por Cássio Loredano, de autoria de Cássio Loredano, publicada em 20 de janeiro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IX – Ruas e panoramas do bairro do Catete, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 14 de julho de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” X – A Rua da Ajuda, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 9 de novembro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XI – A Rua da Esperança, em São Paulo, por Vincenzo Pastore, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 14 de dezembro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XII – A Avenida Paulista, o coração pulsante da metrópole, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 21 de janeiro de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XIII – A Rua Buenos Aires no Centro do Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 19 de julho de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XIV – A Avenida Presidente Vargas, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 31 de agosto de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XV – Misericórdia: rua, largo e ladeira, no Rio de Janeiro, por Cássio Loredano, de autoria de Cássio Loredano, publicada em 8 de dezembro de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVI – Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVI – Alguma coisa acontece no meu coração, a Avenida São João nos 469 anos de São Paulo, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 25 de janeiro de 2023

 

 

 

 

O Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro, no Dia Mundial do Teatro

No Dia Mundial do Teatro, a Brasiliana Fotográfica traz para seus leitores registros da mais antiga casa de espetáculos do Rio de Janeiro, o Teatro João Caetano, na Praça Tiradentes, antigo Largo do Rocio, onde floresceu uma dramaturgia genuinamente brasileira, liderada pelo ator João Caetano (1808 – 1863), que dá nome ao teatro desde 1923. As imagens foram produzidas, já no século XX, por Augusto Malta (1864 – 1957), pelo fotógrafo amador Guilherme Santos (1871 – 1966) e por fotógrafos ainda não identificados. Não confundir nem com o Teatro João Caetano, construído na ocasião da Exposição Nacional de 1908, nem com o Teatro João Caetano de Niterói.

Vários ícones da cultura brasileira já se apresentaram no palco do João Caetano, dentre eles, Chiquinha Gonzaga (1847-1935), Dercy Gonçalves (1907 – 2008), Dulcina de Moraes (1908 – 1996), Fernanda Montenegro (1929-), Fernanda Torres (1965-), Gal Costa (1945-), Grande Otelo (1915 – 1993), Maria Bethânia (1946-), Marco Nanini (1948-), Marilia Pera (1943- 2015), Paulo Autran (1922 – 2007), Paulo Gracindo (1911 – 1995) e Procópio Ferreira (1898 – 1979). Em seu palco também foram realizados shows históricos do Projeto Seis e Meia, idealizado por Albino Pinheiro (1934 – 1999), em 1976, além das séries de grandes musicais como Rua Azusa e Sassaricando.

As fotos realizadas por Guilherme Santos são estereoscopias. Ele era um entusiasta desta técnica fotográfica, tornando-se um de seus pioneiros no Brasil, ao adquirir, em 1905, na França, o Verascope, um sistema de integração entre câmera e visor, que permitia ver imagens em 3D, produzidas a partir de duas fotos quase iguais, porém tiradas de ângulos um pouco diferentes. Eram impressas em uma placa de vidro e reproduziam a sensação de profundidade de maneira bem próxima da visão real. Antes dele, entre os anos de 1855 e 1862, o “Photographo da Casa Imperial”, Revert Henrique Klumb (1826 – c. 1886), favorito da imperatriz Teresa Christina e professor de fotografia da princesa Isabel, havia realizado vários registros utilizando a técnica da estereoscopia. A Casa Leuzinger também produziu fotografias estereoscópicas.

 

 

Acessando o link para as fotografias do Teatro João Caetano disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a ela. 

 

O alagoano Augusto Malta (1864 – 1937) foi contratado, em 1903, pela Prefeitura do Rio de Janeiro como fotógrafo oficial, cargo criado para ele. Passou a documentar a radical mudança urbanística promovida pelo então prefeito da cidade, Francisco Pereira Passos (1836-1913), período que ficou conhecido como o “bota-abaixo”. Trabalhou na Prefeitura até 1936, quando se aposentou. Foi o mais importante cronista fotográfico do Rio de Janeiro das primeiras décadas do século XX, autor de um importante legado iconográfico.

 

 

O Dia Mundial do Teatro foi  instituido, em 1961, pelo Instituto Internacional do Teatro, organização não-governamental fundada pela UNESCO e por profissionais da dança e do teatro, em 1948.

 

teatro

 

Um pouco da história do Teatro João Caetano

 

O  Teatro João Caetano foi inaugurado, em 12 outubro de 1813, por dom João VI, com o nome de Real Theatro de São João, com a peça lírica O Juramento dos Nunes, de autoria do escritor e dramaturgo português dom Gastão Fausto da Câmara Coutinho (1772 – 1852), com música do também português Bernardo José de Souza e Queiroz (1865 – 1837), compositor oficial do teatro (O Patriota, outubro de 1813Gazeta do Rio de Janeiro, 18 de janeiro de 1814). Suas bases foram alicerçadas com pedras destinadas à construção da catedral do Rio de Janeiro. Para os supersticiosos, isso foi a causa dos diversos incêndios ocorridos ao longo da existência do teatro.

 

 

A construção do teatro foi determinada por um decreto, de 28 de maio de 1810, assinado por dom João VI (1767 – 1826):

“Fazendo-se absolutamente necessario nesta Capital que se erija um Theatro decente, e proporcionado á população, e ao maior gráo de elevação e grandeza em que hoje se acha pela minha residencia nella, e pela concurrencia de estrangeiros, e de outras pessoas que vêm das extensas Provincias de todos os meus Estados: fui servido encarregar ao doutro Pau’o Fernandes Vianna, do Meu Conselho e Intendente Geral da Polícia, do cuidado e diligencia de promover todos os meios para elle se erigir, e conservar sem dispendio das rendas publicas, e sem ser por meio de alguma nova contribuição que grave maios ou meus fieis vassallos, a quem antes desejo alliviar de todas ellas; e havendo-me propsoto o mesmo Intendente que grande parte dos Meus vassallos residentes nesta Còrte me haviam já feito conhecer que por ser esta obra do meu real agrado, e de notoria necessidade, se prestavam de boa vontade e dar-me mais uma prova de seu amor, e distincta fidelidade, concorrendo por meio de acções a fazer o fundo conveniente, principalmente si eu houvesse por bem de tomar o dito Theatro debaixo de minha protecção, e de permittir que com realação ao meu real nome se denominasse Real Theatro de S. João (…)”..

Foi edificado em um terreno adquirido por Fernando José de Almeida e o responsável pelo projeto, neoclássico, foi o engenheiro João Manuel da Silva. Sua fachada assemelhava-se a do Real Theatro de São Carlos, em Lisboa, de autoria de José da Costa e Silva (18? -1819), que teria vindo para o Rio de Janeiro, em 1812, e que, em agosto deste ano, havia sido empossado como Arquiteto Geral de todas as obras Reais no Brasil.

“O projeto arquitetônico com sua volumetria dominava a paisagem e enobrecendo o Largo do Rossio, obedecendo ao estilo da cena italiana, seguia hierarquicamente os espaços internos do edifício teatral, separando os limites entre o palco e a plateia, com sua forma aproximada de ferradura, apresentava a curvatura dos balcões em forma de “U” alongado, definindo os foyers, o proscênio e o fosso da orquestra. Seguindo o modelo de arquitetura teatral europeia, o teatro possuía um pórtico ao corpo frontal do edifício, para proteção dos espectadores que chegavam de carruagem. Um estilo de fachada próprio para um teatro de grande importância cultural e social…Havia um terraço, ou varanda na frente do edifício que serviu de palco para importantes pronunciamentos históricos.”.

José Dias em Teatros do Rio: do século XVIII ao século XX

 

Dom João VI era um assíduo frequentador do teatro assim como pessoas de destaque da sociedade carioca, o que tornou o Real Teatro de São João, além de centro da vida artística da capital, o ponto de encontro da vida política e social da cidade.

Cerca de um ano depois do casamento por procuração de dom Pedro I (1798 – 1834) com a arquiduquesa austríaca Leopoldina (1797 – 1926), realizado, em 13 de maio de 1817, o pintor francês Jean-Baptiste Debret (1768- 1848), um dos cenógrafos do Real Theatro de São João, criou um cenário povoado de figuras mitológicas e alegóricas, para um baile, que aconteceu no teatro, em 18 de maio de 1818. Posteriormente, foi o autor do pano de boca inaugurado nas festas de coroação de d. Pedro I, em 1822.

 

 

 

Debret chegou ao Brasil, em 1816, integrando um grupo de artistas que ficou conhecido como Missão Artística Francesa, do qual faziam parte o arquiteto francês Grandjean de Montigny (1776 – 1850), o gravador suíço Charles Simon Pradier (1786 – 1947), entre outros, incluindo artesãos e o músico austríaco Sigismund von Neukomm (1778 – 1858), chefiados pelo intelectual e administrador francês Joachim Lebreton (1760 – 1819), que havia sido administrador das obras de arte do Museu do Louvre, em Paris, e secretário perpétuo da classe de Belas Artes do Institut de France. Foi demitido de suas funções, em 1815, devido a seu apoio a Napoleão (1769 – 1821) e também por seu discurso proferido no Institut contra o desmembramento das coleções do Louvre. Veio para o Brasil como exilado (Gazeta do Rio de Janeiro, 6 de abril de 1816, segunda coluna; Correio Official, 29 de dezembro de 1834, terceira coluna).

Em 1821, foi feita uma reforma, o teatro foi pintado interna e externamente, forrados os camarotes, de cujos parapeitos pendiam sanefas de veludo e ouro, festões de flores, bandeiras e troféus; foi estendido um tablado que, encobrindo os camarotes da primeira ordem, corria até o soalho do proscênio. Do teto pendia grande quantidade de lustres de cristal, iluminados com velas de cera (José Dias, 2012).

Alguns momentos importantes da história do Brasil aconteceram no teatro: a leitura, pelo futuro imperador D. Pedro I, do decreto de 24 de fevereiro de 1821, pelo qual D. João VI aprovava a Constituição elaborada pelas Cortes de Lisboa. Em 5 de junho do mesmo ano, também no teatro, reuniu-se a assembleia perante a qual D. Pedro jurou as bases da futura Constituição de Portugal. Ao retornar de São Paulo, em 15 de setembro de 1822, D. Pedro surgiu num dos camarotes do São João mostrando, no braço, uma faixa verde e amarela, onde estava escrito “Independência ou Morte”, sendo ovacionado pelo público e pela multidão que irrompeu a sala (José Dias, 2012).

O Real Theatro de São João sofreu seu primeiro incêndio ao final da representação do drama sacro Vida de Santo Hermenegildo, em 25 de março de 1824, data em que se comemorava o juramento da Constituição do Império do Brasil. Aconteceu pouco depois que dom Pedro I havia deixado o recinto. O fogo se espalhou e o prédio ficou reduzido a quatro paredes (Diário do Rio de Janeiro, 24 de março de 1824, primeira colunaAbelha do Itacolomy, 13 de abril de 1824Diário do Rio de Janeiro, 20 de abril de 1824, primeira coluna).

 

 

Seu proprietário, Fernando José de Almeida, já mencionado, conseguiu um empréstimo no Banco do Brasil, estabeleceu acionistas de camarotes e obteve a concessão de loterias. Durante as obras de reconstrução, foi preparado em um salão da frente, junto à varanda, o Theatrinho Constitucional, inaugurado em 1º de dezembro de 1824, para festejar a coroação e sagração de D. Pedro I. Tinha um pequeno palco, 24 camarotes e uma plateia para 150 pessoas. Na estreia, apresentação do Hino, composto pelo Imperador e tocado pela orquestra; de um discurso recitado pela atriz Estela Joaquina de Moraes e da ópera de Rossini, O engano feliz.
O teatro foi reedificado e reinaugurado com o nome de Imperial Theatro de São Pedro de Alcântara, com a ópera Tancredo, de Giochanino Rossini (1792 – 1868), em 22 de janeiro de 1826, data de aniversário da imperatriz dona Leopoldina (1797 – 1826) (O Spectador Brasileiro, 23 de janeiro de 1826, segunda coluna). Foi em seguida fechado para a conclusão da reforma e reaberto em 4 abril do mesmo ano, aniversário da princesa dona Maria da Glória (1819 – 1853) (O Spectador Brasileiro, 12 de abril de 1826, primeira coluna).

“O Imperial Theatro de São Pedro de Alcântara conservou todas as características do projeto anterior (Real Theatro de São João, 1813).”  “O teatro possuía 100 camarotes, distribuídos em quatro ordens, com capacidade para umas 300 pessoas, separadas por um gradil dourado da platéia que acomodava aproximadamente 600 espectadores. Ao centro ficava o camarote imperial, ornado com o brasão do império, com lindos trabalhos de talha dourada e guarnecido de cortinas de seda azul, bordadas a ouro (essa decoração deve ter sido substituída por verde e ouro, cores a que se refere Carlos Seidler). A iluminação era feita por 220 velas de cera, resguardadas em mangas de vidro. A não ser no camarote imperial, onde havia um grande lustre e várias arandelas, do teto não pendia nenhum candelabro para não prejudicar a visão. O edifício era bastante arejado, atendendo aos rigores do clima. À entrada havia um buffet.”

Teatros do Centro Histórico do Rio de Janeiro

 

O teatro ficou temporariamente fechado em 1831 e José Fernando de Almeida, filho do antigo proprietário, arrendou o teatro ao Banco do Brasil. Reabriu, no mesmo ano, em 3 de maio, com o nome de Theatro Constitucional Fluminense com a apresentação da peça Tolita ou O Império das Leis (Jornal do Commercio, 3 de junho de 1831, primeira coluna). Após o distúrbio ocorrido no teatro, em 28 de setembro de 1831, iniciado por uma briga entre o tenente brasileiro Antônio Caetano e o oficial português Paiva, do Estado-Maior do Exército, que tomou proporções maiores, deixando dois feridos e três mortos, o teatro foi novamento fechado (Distúrbios no Theatro Constitucional FluminenseJornal do Commercio, 1º de outubro de 1931, segunda coluna).

 

 

Foi reaberto em 02 de dezembro de 1831, com a representação do drama O aldeão magistrado, encenado por uma companhia constituida pelo arrendatário do teatro. Em 3 de maio de 1832, foi encenado no teatro o drama A reconciliação das duas tribos pelo poder da inocência (Correio Mercantil, 2 de maio de 1832, segunda coluna). João Caetano dos Santos (1808 – 1863), o mais importante ator brasileiro do século XIX, fazia parte do elenco.

 

Para liquidação total da dívida, o Banco do Brasil, em 1838, levou o imóvel à praça, sendo arrematado por Manuel Maria Bregaro e Joaquim Valério Tavares que formaram uma sociedade por ações, composta por quarenta acionistas, um dos quais, o ator João Caetano dos Santos.

A representação da tragédia Antônio José ou o Poeta e a Inquisição, de Gonçalves de Magalhães (1811-1882) , em 13 de março de 1838, no Teatro Constitucional Fluminense, é considerada fundamental para a definição individual do teatro brasileiro. O drama foi apresentado pela companhia de João Caetano, composta exclusivamente de atores brasileiros (Jornal do Commercio, 6 de março de 1838, primeira coluna).

Em outubro de 1838,  foi novamente fechado, dessa vez para uma reforma, quando foi construído o segundo andar, o teto foi pintado pelo artista Olivier e, o pano de boca, pintado por Manuel Araújo Porto Alegre (1806-1879), discípulo do já mencionado Grandjean de Montigny. Em 7 de setembro de 1839, foi reaberto com seu antigo nome: Theatro de São Pedro de Alcântara. Em cena, João Caetano na peça Olgiato, de J. G. de Magalhães (Diário do Rio de Janeiro, 3 de setembro de 1839, primeira coluna).

João Caetano tornou-se seu principal acionista, tomando a si a empresa do Teatro Constitucional Fluminense, em 1843.

O segundo incêndio no teatro aconteceu em 9 de agosto de 1851, após de uma representação de O cativo de Fez, de João Antônio da Costa.

“Ardeu o arquivo das companhias líricas e dramáticas, avaliado em mais de 12.000$; vestimentas, cenário, instrumentos de música, tudo o fogo devorou. Salvaram-se somente os livros do escritório, uma mesa com algum dinheiro e os móveis da sala de entrada do camarote particular do Imperador”

Henrique Marinho em O teatro brasileiro…(1904)

 

João Caetano, então diretor e empresário do teatro, decidiu reconstrui-lo e o Theatro São Pedro de Alcântara foi reinaugurado, com a presença de dom Pedro II (1825 – 1891) e da imperatriz Teresa Cristina (1822 – 1889), em 18 de agosto de 1852, com o espetáculo O Livro Negro, protagonizado por João Caetano. Os arquitetos Olivier e Hosxe participaram da reconstrução e o cenógrafo Joaquim Lopes de Barros Cabral foi o responsável pela pintura (Diário do Rio de Janeiro, 20 de agosto, terceira coluna; 21 de agosto, primeira coluna; e 25 de agosto de 1852, penúltima coluna). 

 

 

Em 26 de janeiro de 1856, outro incêndio, ocorrido após a apresentação do drama de Mendes Leal, D. Maria de Alencastro, em benefício da atriz Isabel Maria Nunes, que reduziu a cinzas todo aquele edificio (Correio Mercantil, 27 de janeiro de 1856, última coluna). Cerca de um ano depois, em 3 de janeiro de 1857, foi, com a presença do imperador Pedro II (1825 – 1891), mais uma vez reinaugurado, com o drama Affonso Pietro, protagonizado por João Caetano, e o vaudeville Ketly ou A volta à Suiça. A reforma foi comandada pelo ator José Romualdo de Noronha, que idealizou um teatro com todas as características das salas de espetáculos da Europa. Entretanto, as condições técnicas ainda e a acústica eram insatisfatórias.

 

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“O teatro com efeito corresponde à expectação de todos. Ornado com simplicidade e elegância, todo branco com flores de ouro, forrados os seus camarotes de papel azul e branco fabricados no país, apresenta algumas inovações muito bem entendidas. O fundo dos camarotes tem a forma circular aconselhada pelas leis da acústica; a quarta ordem apresenta um avarandado de muito bom gosto, a abóbada do forro em vez de começar na linha em que terminam os camarotes, começa na linha em que estes principiam, e assim erguendo- -se o forro, dá a essa quarta ordem uma elevação que perfeitamente contrasta com o acachapado das nossas torrinhas. Reduzindo a menores proporções a tribuna imperial, o construtor do teatro ganhou espaço para mais dois camarotes em cada ordem, ao mesmo tempo que estabelecendo a orquestra no vão por baixo do arco do proscênio deu mais extensão ao espaço destinado às cadeiras”.

Jornal do Commercio, 5 de janeiro de 1857

 

Mesmo com o falecimento de João Caetano, em 24 de agosto de 1963, o teatro continuou  a ser o mais frequentado da Corte.

Na década de 1880, apresentaram-se em seu palco duas das maiores atrizes do século XIX: a italiana Eleonora Duse (1858 – 1924), em 1885; e a francesa Sarah Bernhartd (1844 – 1923), em 1886, quando sua atuação em Fedra, de Jean Racine (1639 – 1699) arrebatou a plateia (Jornal do Commercio, 29 de junho de 1885, última colunaA Semana, 17 de julho de 1885Diario do Brazil, 7 de agosto de 1885, primeira coluna; Gazeta de Notícias, 3 de junho de 1886, última coluna).

Em 1885 foi feita realizada outra reforma desta vez por iniciativa dos diretores do Banco Industrial e Mercantil, que eram, na ocasião, proprietários do teatro. O projeto arquitetônico foi de Pedro Leonardo Lamberti. As condições de visibilidade e acústica foram melhoradas e a instalação da iluminção a gás foi supervisionada pelo próprio imperador Pedro II. A pintura das paredes se assemelhava à mármore e as cadeiras ficaram mais espaçosas. O pano de boca foi pintado pelo cenógrafo Rossi, baseado em uma ideia de Ângelo Agostini (1843 – 1910). Em 1888, foi novamente reformado.

Com a Proclamação da República, o teatro foi atingido pela crise econômica que afetou atividades artísticas. Passou a abrigar companhias circenses e de variedades.

Em 3 de maio de 1891, foi inaugurada numa praça que existia defronte ao edifício da antiga Academia Imperial de Belas-Artes, hoje Museu de Belas-Artes, uma estátua em tamanho natural de João Caetano como o protagonista da peça Oscar, filho de Ossion, de Antoine-Vincent Arnault (1766 – 1834), de autoria do escultor carioca Francisco Manuel Chaves Pinheiro (1822 – 1884) e fundida em Roma.

 

 

Por escritura pública datada de 14 de junho de 1898, passada no Cartório do Tabelião Evaristo, o Banco do Brasil, mais uma vez, passou a ser o proprietário do imóvel, por permuta feita com o Conde de Santa Marinha, Comendador Antônio Teixeira Rodrigues, e sua esposa.

Em 1916, a estátua de João Caetano foi transladada do Campo de Santana – onde estava desde 1909 – para a Praça Tiradentes, diante do Teatro de São Pedro de Alcântara (O Paiz, 3 de setembro de 1909, primeira colunaO Paiz, 20 de agosto de 1916, última colunaO Paiz, 6 de outubro de 1916, segunda coluna).

 

 

O Teatro de São Pedro de Alcântara foi remodelado, em dezembro de 1916. Custou mais de 300 contos ao Banco do Brasil e foi executada pelo engenhero Silveira da Mota com a firma construtora Andrade Lima & Cia. Os encarregados pela iluminação e pelos aparelhos elétricos, foi a firma F. R. Moreira & Cia e a decoração e o pano de boca foram realizados pelos irmãos Timóteo.

Por escritura lavrada em Notas do 18º Ofício, Cartório do Tabelião Álvaro Borgert Teixeira, no Livro n. 23, folhas 2, em 22 de dezembro de 1920, o teatro tornou-se propriedade da Prefeitura do Distrito Federal.

Finalmente, a partir de 24 de agosto de 1923, pelo Decreto nº 1891 do prefeito Alaor Prata (1882 – 1964), o teatro passou a chamar-se Teatro João Caetano, em homenagem ao ator, considerado o pai do teatro brasileiro (O Paiz, 25 de agosto de 1923, quarta colunaRevista da Semana, 1º de setembro de 1923, primeira coluna).

Durante a gestão do prefeito Antônio da Silva Prado Junior (1880 – 1955), em 15 de junho de 1928, realizava-se o último espetáculo do antigo teatro pela companhia Margarida Max, com a revista Rio nu, de autoria de Moreira Sampaio. Foi demolido, reconstruído e o prédio atual foi inaugurado em 28 de junho de 1930, com a opereta Rose Marie, com música de Rudolf Friml (1879 – 1972) e Herbert Stothart (1885 – 1949), e livro e letra de Otto Harbach (1873 – 1963) e Oscar Hammerstein II (1895 – 1960), apresentado por uma companhia francesa do Morgadu, com Jane Marney como estrela. Devido à apresentação, as músicas da opereta, já conhecidas, voltaram a fazer muito sucesso (O Imparcial, 29 de novembro de 1928O Paiz, 27 de junho de 1930; O Cruzeiro, 21 de junho de 1930; e O Malho, 19 de julho de 1930, coluna do meio). Foi essa obra que deu ao teatro a estrutura que mantém até os dias de hoje, sem o pórtico por onde passavam as carruagens (Correio da Manhã, 24 de junho e 20 de julho de 1930).

 

 

Houve uma acirrada polêmica entre o arquiteto francês Joseph Gire (1872 – 1933) que tinha um projeto de remodelar e modernizar o Teatro João Caetano, mantendo a estrutura original e o urbanista francês Alfred Agache (1875 – 1959), convidado, em 1927, para trabalhar em um projeto de remodelação urbana do Rio de Janeiro a convite de Prado Júnior. Agache venceu e viabilizou a proposta do projeto de Alejandro Baldassini, que demoliu o imóvel. Nos primeiros anos da década de 1930, Baldassini foi editor da revista Forma juntamente com o engenheiro teuto brasileiro Emilio Baumgart, calculista de suas principais obras.

O projeto e sua execução ficaram a cargo da empresa Gusmão, Dourado & Baldassini. Com uma fachada futurista e com sua volumetria purista, em um estilo bem moderno, o novo edifício, considerado um ícone art déco do Rio de Janeiro, não agradou a todos (Fon-Fon, 24 de maio de 1930O Malho, 7 de junho de 1930; O Jornal, 13 de julho de 1930, penúltima colunaO Cruzeiro, 9 de agosto de 1930; Jornal do Brasil, 21 de dezembro de 2008).

 

 

“Conquanto os principais teatros do mundo sejam considerados obras de arte do primeiro renascimento arquitetônico, o nosso é, no século atual, um monumento de época. Como construção, encarado sob o ponto de vista técnico, é a última palavra no arrojo a que tem chegado a engenharia moderna, utilizando-se do concreto armado, heterogêneo e monolítico. Assim, observa-se na estrutura óssea do novel edifício, como no indumento arquitetônico, a ausência absoluta de arcos. E as poucas vigas que se vêem apresentam originalidades de perfis. Os camarotes, balanceados em quase quatro metros, não são suportados por nenhuma coluna que embarace a vista nem vigas ou consolos, o que no campo da lógica dá  a pensar até onde chegaremos. A questão da acústica foi baseada nos métodos modernos análogos aos usados na construção do grande Salão de Música Pleyel, em Paris.”

 

 

Os painéis de temática musical, Samba e Carnaval, que foram pintados a óleo diretamente sobre a parede do foyer superior do Teatro João Caetano são de autoria do pintor Emiliano Di Cavalcanti (1897 – 1976). Foram projetados em 1929.

 

 

As datas 1931 e 1964 grafadas sob a assinatura do artista referem-se, respectivamente, ao ano da pintura e ao da intervenção feita pelo próprio artista. A obra é considerada o primeiro mural modernista brasileiro e foi tombada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural do Rio de Janeiro – Inepac -, em 27 de outubro de 1967.

 

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Nas décadas de 40 e 50, o João Caetano foi o palco de diversas revistas musicais e também de bailes de carnaval como os registrados nas matérias Dalva, a rainha – Baile do Rádio – Texto de Josué Guimarães e fotos de José Medeiros e Flávio Damm (O Cruzeiro, 17 de fevereiro de 1951); Paz e alegria no Baile das Atrizes – Texto de Arlindo Silva e fotos de João Martins, Flávio Damm e Jorge Audi (O Cruzeiro, 13 de março de 1954), Rainha do Rádio – Texto de Ary Vasconcelos e fotos de Jorge Audi, Mário de Moraes e José Medeiros (O Cruzeiro, 25 de fevereiro de 1956), Baile das Atrizes – Texto de Mário de Moraes e fotos de Walter Luiz, Antônio Ronek, José Medeiros, Jorge Audi e Hélio Passos (O Cruzeiro, 25 de fevereiro de 1956).

 

 

Na década de 1960, durante três anos, no governo de Carlos Lacerda (1914 – 1977), foi realizada uma reforma no teatro, cujo responsável pelas obras foi o engenheiro Stélio de Morais, diretor do Departamento de Prédios e Aparelhamentos Escolares. O projeto foi de Roberto Thompson Motta e a inspeção da execução ficaram a cargo de Celso Torreão Campos.

Sobre a reforma, João Bethencourt (1924 – 2006), então Diretor do Serviço de Teatro, comentou:

“…além da nova pintura geral, assoalhos, ladrilhos, espelhos, lustres etc., as 650 poltronas da plateia serão estofadas; as frisas e camarotes terão novo acabamento; o palco, os camarins e os sanitários serão totalmente remodelados; além do pano de boca e das passadeiras. Só o pano de boca, em veludo, custou 4 milhões de cruzeiros e as obras totais custarão cerca de 30 milhões. É sabido que uma das muitas deficiências do Teatro João Caetano sempre foi a acústica, considerada péssima por quantos ali têm atuado. Sobre tal problema dos mais importantes, disse-nos o diretor do Serviço de Teatros que, segundo a opinião do engenheiro Piragibe, técnico no assunto, além de Administrador Regional do Centro, as pequenas reformas e melhoramentos por que está passando o teatro serão suficientes para modificar completamente a acústica da casa. Se, porém, tal não se der, o problema será atacado futuramente, com novas verbas especiais para atendê-lo, pois se trata de dispositivo caríssimo”.

A Noite, 28 de janeiro de 1964

 

O João Caetano reabriu suas portas em 7 de setembro de 1965. Na programação: execução do Hino Nacional; concerto da Orquestra Sinfônica Brasileira, regida pelo maestro Eleazar de Carvalho (1912 – 1996), apresentando a Sétima Sinfonia de Beethoven; os Choros nº 10 de Villa-Lobos e um concerto de Schumann (1810 – 1856), com a pianista Guiomar Novaes (1894 -1979) (Jornal do Brasil, 8 de setembro de 1965, penúltima coluna).

Ainda nos anos 60, foram montados no João Caetano grandes musicais como, Hello Dolly! (1938), do escritor norte-americano Thornton Wilder (1897 – 1975), estrelado por Bibi Ferreira (1922 – 2019), que contracenou com o barítono Paulo Fortes (1923 – 1997) , em março de 1966. Também no elenco: Augusto César Vanucci (1934 – 1992), Lisia Demôro (19?- ?), Hilton Prado (1935 – 2021), Marly Tavares (1940-) e Milton Carneiro (1923 – 1999), entre outros (Jornal do Brasil, 2 de março de 1966, segunda coluna). Aliás, foi no Teatro João Caetano que Bibi esteve pela primeira vez em um palco: com apenas 24 dias de nascida entrou em cena no colo da mãe, a atriz espanhola Aida Izquierdo Ferreira (1903 – 1985).

De março de 1978 até março de 1979, passou por uma nova remodelação. Adolfo Bloch era o presidente da Fundação dos Teatros do Rio e Rafael Peres foi o responsável pelo projeto arquitetônico. Roberto Thompson Motta ficou ccom o projeto acústico e Fernando Pamplona ficou encarregado parte cênica, de iluminação e mecânica do palco. A  supervisão foi do engenheiro Carlos Lafayette.

 

 

O Teatro João Caetano foi reinaugurado com a comédia protagonizada por Paulo Gracindo (1911 – 1995), O Rei de Ramos, de Dias Gomes (1922 – 1999), em 11 de março de 1979 (Jornal do Brasil, 11 de março de 1979). A direção foi de Flavio Rangel (1934 – 1988) e a música de Chico Buarque de Holanda (1944-) e Francis Hime (1939-).

 

 

Nas décadas de 1970 e 80, o João Caetano teve seu nome associado a shows musicais. Em 1980, o teatro vinculou-se à Funarj – Fundação Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de Janeiro ou Fundação de Artes do Estado do Rio de Janeiro.

Em julho de 1989, o forro do telhado no segundo balcão do Teatro João Caetano caiu sobre as cadeiras durante um show do cantor Belchior (1946 – 2017). A causa do desabamento foi a infiltração generalizada no telhado e a má conservação do prédio (Jornal do Brasil, 15 de julho de 1989, quinta coluna).

Em abril de 1992, o teatro entrou em uma nova reforma. Nesta ocasião, o painel Samba, pintado por Di Cavalcanti, foi restaurado (O Fluminense, 2 de abril de 1991, primeira coluna; Jornal do Commercio, 2 de abril de 1992, primeira coluna).

Em 22 de abril de 1994, foi inaugurado o Sótão do Teatro João Caetano com a encenação da peça Casa de Prostituição Anaïs Nin, de Francisco Azevedo, dirigido por Ticiana Studart (Jornal do Brasil, 18 de abril de 1994, quarta coluna). A sala, por não ter tido uma boa aceitação, deixou de funcionar. No ano seguinte, o João Caetano passou por outra reforma.

Em 2009, foram realizadas novas intervenções que incluíram a restauração dos dois painéis de Di Cavalcanti, tratamento cênico de Gringo Cardia (1957-) e reforma de foyers, plateia e balcões. Foram adquiridos um novo carpete e novas poltronas.

Para comemorar seus 200 anos, em outubro de 2013, houve apresentações gratuitas do balé , de Deborah Colker. A Orquestra Sinfônica, o Coro e Orquestra de Música Popular da Escola de Música Villa-Lobos, além do grupo Chorando Baixinho e da Banda Sinfônica do Corpo de Bombeiros, participaram da programação do aniversário realizada no Largo Albino Pinheiro, ao lado do teatro. Houve também um evento fechado para convidados, no dia 12 de outubro, quando foi lançada uma medalha comemorativa pela Casa da Moeda e realizada uma homenagem ao ator Rogério Fróes (1934-), representando a classe artística. No foyer do teatro, realização de uma exposição com peças raras da história do João Caetano como programas do século XIX e a ata de reinauguração do teatro, em 1930, com as assinaturas do presidente Washington Luís (1869 – 1957) e do prefeito do Distrito Federal, Prado Junior (1880 – 1955).

 

 

Em 2022, os dois painéis, Samba e Carnaval, de Di Cavalcanti, foram restaurados por uma equipe de técnicos, alguns que haviam participado do restauro o mural Guerra e Paz, de Cândido Portinari (1903 – 1962), na sede da ONU. A equipe foi liderada pelo professor Edson Motta Júnior, da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (O GLOBO, 16 de julho de 2022).

 

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O Teatro João Caetano da Exposição de 1908

 

Em 1908, por ocasião da Exposição Nacional Comemorativa do 1º Centenário da Abertura dos Portos do Brasil, no Rio de Janeiro, o então Teatro Constitucional ergueu, no local do evento, um pavilhão temporário para apresentar peças e concertos para o público. Vários espetáculos foram montados num espaço confortável, batizado de Teatro João Caetano, organizado em platéia, galeria e camarotes.

 

 

A exposição foi inaugurada, em 11 de agosto de 1908, na região da Urca, no Rio de Janeiro, em comemoração ao centenário da Abertura dos Portos às Nações Amigas, decretada em 28 de janeiro de 1808, pelo então príncipe regente de Portugal, dom João de Bragança, futuro dom João VI (1767 – 1926)(O Paiz, 11 de agosto de 1908). A exposição exibiu um “inventário” do Brasil através de seus produtos industriais, agrícolas, pastoris e artísticos. Promovida pelo governo federal, apresentou a cidade do Rio de Janeiro, recém urbanizada e saneada pelo então prefeito Francisco Pereira Passos (1936 – 1913) e pelo cientista Oswaldo Cruz (1872 – 1917), respectivamente. O evento foi encerrado em 15 de novembro de 1908 (O Paiz, 16 de novembro de 1908, sexta coluna).

 

 

Com projeto de Francisco Isidro Monteiro, o Teatro João Caetano da Exposição de 1908 foi construído em madeira revestida de estuque ocupando uma área de 870 m² com capacidade para 800 espectadores. A decoração interna em tons de verde e com capitéis dourados foi realizada pelo caricaturista Raul Pederneiras (1874 – 1953) e equipe.

Foi inaugurado, em 12 de agosto de 1908, no dia seguinte à abertura da Exposição Nacional, com a apresentação das peças O Noviço, de Martins Penna (1815 – 1848); e Não consultes médico, de Machado de Assis (1839 – 1908) (O Paiz, 13 de agosto de 1908, terceira coluna). Nos meses da exposição, foram apresentadas diversas peças, dentre elas Vida e morte, de Artur Azevedo (1855 – 1908); e Romance de uma moça rica, de Pinheiro Guimarães (1832 – 1877) (Revista da Semana, 27 de setembo de 1908).

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Arquivo Nacional e a história luso-brasileira

CABOT, Roberto. Joseph Gire: a construção do Rio de Janeiro moderno/RobertoCabot, – 1. ed – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2014.

COSTA, Carla. Série “O Rio de Janeiro desaparecido” II – A Exposição Nacional de 1908 na Coleção Família Passos in Brasiliana Fotográfica, 5 de abril de 2018.

DIAS, José da Silva Dias. Teatros do Rio: do século XVIII ao século XX. Fundação Nacional de Artes, FUNARTE, 2012, p. 87.

Edarc – Arquivo Nacional

Entretextos

Facebook – Museu da Música Mariana

GOUVEIA, Viviane. Vida artística no período joanino in O Arquivo Nacional e a História Luso Brasileira, agosto 2018.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

LISBOA  JUNIOR, Luiz Américo. Teatro português no Brasil: do Império à Primeira República. Tese orientada pelo Prof. Doutor Jose Damião Rodrigues, especialmente elaborada para a obtenção do grau de Mestre em História. Especialidade em História e Cultura do Brasil. Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras, 2020.

MARINHO, Henrique. O teatro brasileiro… Rio de Janeiro: H. Garnier, 1904.

GLOBO, 5 de outubro de 2013 – João Caetano, uma história em cena há 200 anos, por Nani Rubin 

PAIXÃO, Mucio da. O teatro no Brasil. Editora Brasília Rio. Rio de Janeiro, 1936.

PRADO, Décio de Almeida. João Caetano: o ator, o empresário, o repertório. São Paulo : Perspectiva, Ed. da Universidade de São Paulo, 1972.

Site As Histórias dos Monumentos do Rio

Site Bolsa de Arte – Paralelo

Site Elenco Brasileiro

Site Funarj

Site Inepac

Site Jusbrasil

Site Paulo Fortes

Site Rio Memórias

Site SP Escola de Teatro

Site Teatros do Centro Histórico do Rio de Janeiro

Site World Theatre Day

Veja Rio, 26 de outubro de 2022

 

Outros artigos publicados na Brasiliana Fotográfica sobre teatros e cinemas

 

 Série O Rio de Janeiro desaparecido I Salas de cinema do Rio de Janeiro do início do século XXpublicado em 26 de fevereiro de 2016.

Os teatros do Brasil, publicado em 21 de março de 2016

A inauguração do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, publicado em 14 de julho de 2017

Cinema no Brasil – a primeira sessão e um pouco da história do Cinema Odeon, publicado em 8 de julho de 1921

Série “O Rio de Janeiro desaparecido” XII – O Teatro Lírico (Theatro Lyrico), publicado em 16 de setembro de 2021

O Theatro de Santa Isabel, publicado em 28 de outubro de 2021

O Teatro Amazonas (Theatro Amazonas), em Manaus, a “Paris dos Trópicos”, publicado em 28 de dezembro de 2021

 

A Praça Paris no aniversário do Rio de Janeiro

A Brasiliana Fotográfica celebra o aniversário de 458 anos do Rio de Janeiro com a publicação de um artigo sobre a Praça Paris, uma das mais belas da cidade, considerada uma obra prima dos últimos tempos da Belle Époque carioca, com imagens de autoria de fotógrafos ainda não identificados, da Escola de Aviação Militar, da Escola de Aeronáutica e do Instituto de Expansão Comercial.

 

 

Erguida em um aterro feito em frente à antiga Praia da Glória, a Praça Paris foi projetada pelo urbanista francês Alfred Agache (1875 – 1959), que pretendia tornar o Rio de Janeiro uma Paris da América do Sul (Jornal do Brasil, 28 de janeiro de 1928, segunda colunaGazeta de Notícias, 31 de janeiro de 1928, penúltima coluna). Suas obras foram iniciadas em 1926 e finalizadas em 1929, durante a gestão do prefeito Antônio da Silva Prado Júnior (1880 – 1955). A ideia era reproduzir o traçado e a elegância de um jardim parisiense, abrigando em seus espaços grandes gramados, lago e chafariz, além de obras de arte e esculturas. Seria um oásis de beleza e tranquilidade no centro do Rio de Janeiro.

 

 

Acessando o link para as fotografias da Praça Paris disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

A Praça Paris teve partes destruídas devido às obras do metrô, iniciadas na década 1970. Foi restaurada e reinaugurada em 1992 e, após essa reforma, foi cercada por grades. Foi tombada, em 1995, pelo Departamento Geral de Patrimônio Cultural da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Em 2012, quinze monumentos foram restaurados e 55 mil mudas de lírios-amarelos foram plantadas. Em 2021, a Fundação Parques e Jardins realizou ações do projeto de revitalização da Praça Paris.

 

 

Uma curiosidade: enquanto temos uma Praça Paris no Rio de Janeiro, em Paris existe a Place Rio de Janeiro, próxima ao Parque Monceau, um dos pontos mais bonitos e visitados da capital francesa.

 

 

 

Andrea C.T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Outros artigos publicados na Brasiliana Fotográfica em comemoração ao aniversário do Rio de Janeiro

A fundação do Rio de Janeiro, publicado em 1º de março de 2016, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Uma homenagem aos 452 anos do Rio de Janeiro: o Corcovado e o Pão de Açúcar, publicado em 1º de março de 2017, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

O Rio de Janeiro de Juan Gutierrez, publicado em 1º de março de 2019, de autoria de Maria Isabel Ribeiro Lenzi, Doutora em História pela UFF e historiadora do Arquivo Histórico do Museu Histórico Nacional ; e de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

 

Fontes:

GERSON, Brasil. História das Ruas do Rio. Rio de Janeiro: Bem-Te-Vi, 2013.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

O GLOBO, 21 de setembro de 2012

Site Diário do Rio

Site IPatrimônio

Site Prefeitura do Rio de Janeiro

O Rei Momo por Jean Manzon e por outros fotógrafos dos Diários Associados

Neste artigo a Brasiliana Fotográfica vai contar um pouco da história do Rei Momo do carnaval carioca a partir de uma imagem produzida pelo importante fotógrafo francês Jean Manzon (1915 – 1990), responsável pela renovação do fotojornalismo brasileiro na década de 1940. A foto destacada foi publicada no Diário da Noite, de 31 de dezembro de 1948, na ocasião do falecimento do primeiro Rei Momo, Francisco de Moraes Cardoso (1893 – 1948). No registro, de 28 de fevereiro de 1946, ele está na coroação realizada, no Teatro João Caetano, da vedete Mara Rubia (1918 – 1991), eleita dias antes Rainha do Baile do Carnaval das Atrizes de 1946 (Diário da Noite, 21 de fevereiro de 1946, sétima coluna). Vamos também traçar um pequeno perfil de Manzon. Foi em 3 de fevereiro de 1934 que o carnaval carioca foi aberto pela primeira vez por um Rei Momo de carne e osso.

 

 

 

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Os Diários Associados e a importância da preservação de um arquivo fotográfico de imprensa

 

Pela terceira vez uma imagem dos Diários Associados – Rio de Janeiro -, que foi incorporado, em 2016, ao acervo fotográfico de uma das instituições fundadoras da Brasiliana Fotográfica, o Instituto Moreira Salles (IMS), é o destaque de uma publicação do portal. Esse conjunto de fotos dos Diários Associados, que já foram o maior conglomerado de mídia do Brasil, possui cerca de 700 mil fotografias e 300 mil negativos com imagens produzidas para O Jornal, primeiro órgão dos Diários, comprado por Assis Chateaubriand (1892 – 1968), em 1924; para o Diário da Noite, fundado por ele, em 1929; e para o Jornal do Commercio, fundado, em 1827, e adquirido pelo grupo em 1959.

Mais uma vez destacamos a relevância da preservação de um arquivo fotográfico de imprensa mesmo que as imagens estejam disponíveis em plataformas como a Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional, uma das mais importantes fontes de pesquisa do portal. Com a preservação, as fotografias podem, a partir de recursos tecnológicos, como a digitalização e o zoom, terem outra visibilidade e serem acessadas em sua qualidade plena.

 

Acessando o link para as fotografias do Rei Momo publicados em jornais cariocas dos Diários Associados e disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Pequeno perfil de Jean Manzon (1915 – 1990)

 

O fotógrafo e cineasta Jean Manzon nasceu em Paris, em 2 de fevereiro de 1915. Começou sua carreira, aos 16 anos, no jornal L´Intransigeant. Depois trabalhou nas revistas ilustradas Vu e Match e no vespertino Paris Soir. Também trabalhou para o serviço cinematográfico da Marinha Francesa durante a Segunda Guerra Mundial. Veio para o Brasil, em agosto de 1940, e fixou-se no Rio de Janeiro.

Nos primeiros anos da década de 1940, foi o encarregado pela organização do Setor de Fotografia do Departamento de Imprensa e Propaganda do Estado Novo do presidente Getúlio Vargas (1882 – 1954). Manzon tinha a função de produzir material para a divulgação da imagem do Brasil no país e no exterior. Editou pela Força Expedicionária Brasileira a revista Brasil na Guerra.

Atuou em diversas publicações dos Diários Associados, principalmente na revista O Cruzeiro, onde começou a trabalhar em 1943, a convite de Frederico Chateubriand (O Cruzeiro, 10 de julho de 1943), onde permanceu até 1951. Neste período produziu mais de 300 fotorreportagens cujos temas a professora e arquiteta Helouise Costa separou em quatro tópicos: política, personalidades, religião e realidade brasileira. Justamente nas décadas de 40 e 50 as matérias da revista tiveram um forte impacto na formação do imaginário brasileiro abordando, muitas vezes, pela primeira vez, alguns assuntos. Formou com David Nasser (1917 – 1980) uma das duplas mais importantes do jornalismo brasileiro. Juntos percorreram o Brasil de norte a sul e é deles, por exemplo, a matéria Enfrentando os chavantes, reportagem pioneira sobre índios brasileiros (O Cruzeiro, 24 de junho de 1944).

Manzon foi o responsável pela renovação do fotojornalismo no Brasil, implantando em O Cruzeiro, a partir de sua experiência europeia, uma linguagem fotográfica que usava ângulos de baixo para cima e vice-versa, tomadas oblíquas, enfatizando detalhes expressivos e utilizando intencionalmente a cenografia, onde a imagem era meticulosamente arquitetada pelo fotógrafo que, desta forma, construia a imagem. Introduzia assim a fotorreportagem, onde a foto não se limitava a ilustrar o texto, mas transmitia um ponto de vista especificamente visual sobre os fatos e resultava, com o texto, uma narrativa estruturada.

Manzon formou em O Cruzeiro uma equipe de fotógrafos que tornou-se pioneira do fotojornalismo moderno no país. Alguns deles foram Luciano Carneiro (1926 – 1959),  José Medeiros (1921- 1990) e Peter Scheier (1908 – 1979).

Na década de 1950, passou a colaborar com a revista Paris Match. Colaborou também com o jornal Última Hora e com a revista Manchete, em cuja capa do primeiro exemplar, de 26 de agosto de 1952, há uma chamada para Uma grande reportagem de Jean Manzon, intitulada Nem tudo é sombra e água fresca, também se trabalha na Câmara dos Deputados.

Ainda nos anos 50, fundou a empresa cinematográfica Jean Manzon Produções, que realizou mais de 900 documentários. Um deles, L´Amazone, foi premiado com o Leão de Ouro do Festival de Cinema de Veneza, Itália, em 1966. Retornou a Paris e, entre 1968 e 1972, assumiu a direção da Paris Match. É de sua autoria os livros Flagrantes do Brasil (1950) e Mergulho na Aventura (1950), este último em parceria com David Nasser; Brasil (1952) e Féerie Brésilienne (1957), entre outros.

Ele se orgulhava de ser o maior propagandista brasileiro no exterior e acusado, muitas vezes, de não mostrar a realidade do Brasil em seus documentários, declarou, em entrevista no artigo de Sérgio Gomes, Profissão otimista, publicado na Folha de São Paulo de 17 de novembro de 1977:

Folha de São Paulo, 17 de novembro de 1977

Folha de São Paulo, 17 de novembro de 1977

Segundo o poeta Manuel Bandeira (1886 – 1968), na apresentação da segunda edição de Flagrantes do Brasil, a obra de Manzon seria como um retrato de “nossa terra, nossos homens e nossos costumes”. Seu acervo é um dos maiores patrimônios cinematográficos de preservação da história e da memória no Brasil e em toda América Latina produzido por um só artista.

Em junho de 1990, em São Paulo, recebeu a Cruz de Oficial da Legião de Honra da França. Jean Manzon faleceu em Reguengos de Monsaraz, em Portugal, em 1º de julho de 1990, devido a um traumatismo craniano ocasionado por uma queda de uma escada (Jornal do Brasil, 5 de junho de 1990; e 3 de julho de 1990).

 

Um pouco da história do Rei Momo I e Único do carnaval carioca

 

 

Na Mitologia Grega, Momo era o deus da festividade, filho do Sono e da Noite. Por sua irreverência e sarcasmo foi expulso do Olimpo. Na Grécia, registros históricos revelam que os primeiros reis Momos até hoje conhecidos desfilavam em festas de orgia por volta dos séculos 5 ou 4 a.C. Já nas bacanais romanas, os participantes selecionavam um Rei Momo entre os soldados mais bonitos do exército e, ao final da festa, ele era sacrificado em honra do deus Saturno.

A primeira representação do Rei Momo de que se tem notícia no Brasil foi feita pelo caricaturista alemão radicado no Brasil, Henrique Fleiuss (1824 – 1882), e publicada na Semana Illustrada, em 2 de março de 1862, primeira publicação humorística ilustrada da imprensa brasileira. Fundada por Fleiuss, existiu entre 1860 e 1876, e teve como colaboradores Joaquim Nabuco (1849 – 1910) e Machado de Assis (1839 – 1908), dentre outros.

 

 

Até hoje, acredita-se que a primeira representação física do Rei Momo no país tenha acontecido em 21 de junho de 1910 durante a encenação da opereta Cupido no Oriente apresentada no Circo Spinelli. O famoso Benjamim de Oliveira (1870 – 1954), um dos autores da peça ao lado de David Carlos (18?-19?) e o primeiro palhaço negro do Brasil, interpretou Momo. O espetáculo contava com 28 músicas de autoria do maestro Paulino do Sacramento (1880 – 1926) e quatro atos.

 

 

 

 

Em 1933, a Federação das Sociedades Carnavalescas do Rio de Janeiro, a Casa dos Artistas e a Empresa Beira-Mar Cassino organizaram a entrada triunfal do Rei Momo no Rio de Janeiro, que seria uma nota interessantíssima do carnaval. A programação foi apresentada por Cerqueira Lima, representante do Touring Club (A Noite, 20 de dezembro de 1932, penúltima colunaA Noite, 28 de janeiro de 1933, quarta coluna; e 14 de fevereiro de 1933, terceira coluna).

 

“Foi uma ideia feliz essa de se dar, assim, como uma apoteose ao deus da folia, abertura oficial aos folguedos de carnaval”.

A Noite, 15 de fevereiro de 1933

 

 

 

E, em 18 de fevereiro de 1933, desembarcou na cidade um Rei Momo, porém de papelão. Foi esculpido pelo cenógrafo Hipólito Colomb que, com o decorador Jayme Silva, o vestiu. Momo chegou à Praça Mauá a bordo do Mocanguê. A alegoria media 13 metros e era iluminada por 800 lâmpadas elétricas. Houve um desfile na avenida Rio Branco e o rei da folia instalou-se no Cassino Beira-Mar. Foi a diretoria do Lloyd Club que promoveu a luxuosa cerimônia de chegada (A Noite, 15 de fevereiro18 de fevereiro, primeira coluna; 18 de fevereiro, quarta coluna; e 19 de fevereiro, de 1933; Diário da Noite, 18 de fevereiro; e 20 de fevereiro de 1933).

 

 

Como provado por fotos publicadas no jornal A Noite, de 21 de fevereiro de 1933, e na mesma data 3ª edição; e de 23 de fevereiro de 1933, já existia um  Rei Momo de carne e osso em 1933, criado por iniciativa dos jornalistas de A Noite Vasco Lima, Raymundo Magalhães Junior, Edgard Pilar Drummond, pseudônimo Palamenta, que integrava o Centro dos Cronistas Carnavalescos; e do caricaturista Fritz, pseudônimo de Anisio Mota. O escolhido para encarnar o soberano do carnaval carioca foi o cronista de turfe, que também trabalhava no jornal, o carioca Francisco Moraes de Cardoso (1893 – 1948), um tipo bonachão, alegre e com cara de glutão.

 

 

Mas foi no ano seguinte, em 3 de fevereiro de 1934, que o Rei Momo de carne e osso abriu o carnaval do Rio de Janeiro. Chegou na Praça Mauá e seguiu pela Avenida Rio Branco até o Palácio das Festas, onde houve um baile em sua homenagem (A Noite, 13 de dezembro de 1933, terceira colunaA Noite, 19 de fevereiro de 1934, primeira coluna; A Noite, 30 de janeiro de 1934, penúltima coluna; A Noite, 3 de fevereiro de 1934; A Noite, 4 de fevererio de 1934).

 

momo10A Noite, 3 de fevereiro de 1934

 A Noite, 3 de fevereiro de 1934

 

Foi vestido, por sugestão do maestro Silvio Piergilli (c.1888 – 1962), que trabalhava no Teatro Municipal e era amigo de Raymundo Magalhães Junior, com a roupa do duque de Mântua, personagem da ópera Rigoletto, de Giuseppe Verdi. Há uma outra versão na qual o caricaturista Fritz teria sido o desenhista da roupa, que teria sido executada por uma costureira do Teatro Municipal. Provavelmente, em 1933, Momo usou a fantasia do duque e, no ano seguinte, 1934, desfilou com a roupa desenhada por Fritz.

 

 

 

O jornal A Noite, de 9 de dezembro de 1948, resumiu assim a história do Rei Momo no carnaval do Rio de Janeiro:

 

momo14momo15

 

O fato é que durante 15 anos, de 1934 até sua morte, em 9 de dezembro de 1948, Moraes de Cardoso reinou no carnaval carioca (A Noite, 9 de dezembro de 1948; O Jornal, 10 de dezembro de 1948, primera coluna). Havia ingressado em A Noite em fins da década de 20, a convite de Adauto de Assis, que chefiava a seção esportiva do jornal. Antes, Moraes Cardoso trabalhava na papelaria Casa Cruz. Quando faleceu, além de repórter esportivo e comentarista de turfe, era Chefe da Seção de Circulação de A Noite.

 

 

 

Retrospectiva do Rei Momo do carnaval carioca desde 1934

 

 

1934 a 1948 – Francisco Moraes Cardoso

1949 – Gustavo Matos

1950 – Jaime de Moraes

1951 a 1957 – Nelson Nobre

1958 a 1971 – Abrahão Reis

1972 – Edson Seraphin de Santana

1973 – Elson Macula

1974 a 1982 – Edson Seraphin de Santana

1983 – Paolo Vicente Paccelli

1984 – Robertão

1985 e 1986 – Elson Macula

1987 a 1995 – Reynaldo Bola

1996 – Paulo Cesar Braga

1997 a 2003 –   Alex de Oliveira

2004 – Wagner Monteiro

2005 – Marcelo Reis

2006 a 2008 – Alex de Oliveira

2009 a 2013 – Milton Junior

2014 a 2016– Wilson Dias da Costa Neto

2017 – Fabio Damião

2018 – Milton Junior

2019 – Wilson Dias da Costa Neto

2020 a 2021– Djeferson Mendes da Silva

2022 – Wilson Dias da Costa Neto

2023 – Djferson Mendes da Silva,

 

Andrea C.T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

ABI – Boletim Informativo, 1990

BURGI, Sérgio; COSTA, Helouise (org.). As origens do fotojornalismo no Brasil: um olhar sobre O Cruzeiro. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2012.

CARDENUTO FILHO, Reinaldo. Discursos de intervenção: o cinema de propaganda ideológica para o CPC e o Ipês às vésperas do Golpe de 1964 São Paulo, 2008. Tese (Mestrado) – Universidade de São Paulo. Escola de Comunicação e Artes.

COELHO, M. Beatriz Ramos de Vasconcelos. A Construção da imagem da nação Brasileira pela fotodocumentação: 1940-1999. São Paulo, 2000. Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas.

COSTA, Haroldo. 100 anos de carnaval no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro : Irmãos Vitale, 2001.

COSTA, Helouise. Palco de uma história desejada: o retrato do Brasil por Jean Manzon em: Revista do Patrimônio, nº 27, 1998. Maria Inez Turazzi (org.). Brasília: IPHAN, 1998.

COSTA, Helouise. Um olho que pensa: estética moderna e fotojornalismo. Tese de doutoramento. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, 1998.

Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira

GOMES, Sérgio. Jean Manzon. Profissão: otimista, artigo publicado na Folha de São Paulo de 17 de novembro de 1977.

Figuras e Coisas do Carnaval Carioca / Jota Efegê: apresentação de Artur da Távola. —2. ed. — Rio de Janeiro: Funarte, 2007.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

MANZON, Jean. Flagrantes do Brasil. Rio de Janeiro: Ed. Bloch, 1950.

MANZON, Jean. Memórias do Brasil. São Paulo: Cepar Consultoria e Participações, 2007.

MANZON, Jean. Retrato vivo da grande aventura. São Paulo: Cepar Consultoria e Participações, 2006/2007.

PEREGRINO, Nadja. O Cruzeiro: a revolução da fotoreportagem. Rio de Janeiro, Dazibao, 1991.

PINHEIRO, Marlene M. Soares (1996), A Travessia do avesso: sob o signo do carnaval. São Paulo : Annablume, 1995.

Memória do carnaval, Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, 1991.

Revista Superinteressante, 14 de fevereio de 2020

Site Enciclopédia Itaú Cultural

Site Fundaj

Site MultiRio

TACCA, Fernando de. O índio na fotografia brasileira: incursões sobre a imagem e o meio. História, ciências, saúde – Manguinhos – Vol. 18, nº 1, p.191-223. Rio de Janeiro., 2011

TeatroBR Blogspot 

 

Artigos publicados na Brasiliana Fotográfica com fotografias do acervo dos Diários Associados

Os Diários Associados na Brasiliana Fotográfica, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 30 de maio de 2018.

A Casa dos Artistas nos Diários Associados, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 26 de agosto de 2019.

 

Links para artigos sobre carnaval já publicados na Brasiliana Fotográfica

 

Imagem relacionada

O carnaval nas primeiras décadas do século XX, publicado em 5 de fevereiro de 2016

 

 

O carnaval do Cordão da Bola Preta, publicado em 9 de fevereiro de 2018

 

 

As Camélias Japonesas no carnaval de Alagoas pelas lentes do fotógrafo amador Luiz Lavenère Wanderley (1868 – 1966, publicado em 21 de fevereiro de 2020

 

Cenas da folia em Manaus em 1913, publicado em 28 de fevereiro de 2020

 

 

Baile de Carnaval em Santa Teresa – Di Cavalcanti, Klixto e Helios Seelinger, na casa de Raul Pederneiras, publicado em 25 de fevereiro de 2022

 

Foliões do Carnaval de Diamantina por Chichico Alkmi, publicado em 17 de fevereiro de 2023

 

Hanseníase em Jacarepaguá

Ricardo Augusto dos Santos, pesquisador da Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz, uma das instituições parceiras da Brasiliana Fotográfica, é o autor do artigo Hanseníase em Jacarepaguá, no qual nos conta um pouco da história do Hospital Colônia de Curupaiti, inaugurado, em 1928, em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Lá os portadores da doença conhecida popularmente como lepra, que era considerada um castigo divino, viviam afastados da sociedade. Na época, essa era considerada uma medida de obstáculo à propagação da doença e também um tratamento. O isolamento compulsório foi abolido em meados dos anos 1980.

 

 

Hanseníase em Jacarepaguá

Ricardo Augusto dos Santos*

 A doença conhecida popularmente como lepra, era considerada um castigo divino. Temida pelas populações, a hanseníase não inspirava nenhuma solidariedade. A internação compulsória e o isolamento foram práticas obrigatórias durante décadas. Encarcerados em hospitais, os doentes eram separados de suas famílias e amigos; o afastamento social era considerado tratamento e obstáculo à propagação da doença.

Durante o século XX, hospitais colônias espalharam-se pelo Brasil, segregando as pessoas contaminadas. Era característico destes espaços o longo período de internação, resultando em separação perpétua da vida social. Estigmatizados, milhares de enfermos passaram vidas inteiras nos leprosários. Assim, aqueles que porventura saíam das colônias de hansenianos tornavam-se eternamente excluídos da sociedade.

 

 

No Brasil, inúmeros fugiram da hospitalização, mas muitos permaneceram confinados. Alguns ficaram enclausurados por mais de 60 anos. Mesmo após o término do isolamento compulsório, abolido em meados dos anos 1980, os pacientes – por vários motivos – continuaram nesses hospitais.

Neste texto, apresentamos imagens do Hospital Colônia de Curupaiti. A pedra fundamental foi lançada em 1922 e a inauguração ocorreu somente em 1928. Localizado em Jacarepaguá, bairro da zona oeste da cidade do Rio de Janeiro, seus prédios foram projetados para o isolamento obrigatório dos portadores de hanseníase.

 

Acessando o link para as imagens do Hospital Colônia de Curupaiti disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

Desde meados do século XIX, a cidade do Rio de Janeiro vinha passando por uma série de transformações urbanísticas. Habitações coletivas dos pobres, os cortiços foram sendo demolidos, levando os habitantes a viverem em favelas próximas ao centro da cidade ou em zonas suburbanas afastadas do núcleo citadino. Funcionários públicos, comerciantes e militares começaram a construir suas residências na zona sul, distante das “classes perigosas” e suas doenças. Procurava-se produzir uma cidade organizada de acordo com as ideias hegemônicas no pensamento médico e social.

No auge das demolições dos velhos prédios coloniais, intelectuais, políticos e médicos pensavam a futura “Cidade Maravilhosa” como um corpo doente que necessitava ser alvo de intervenção sanitarista/urbanística.

Tratar as doenças em locais distantes dos bairros populosos fazia parte de uma estratégia sanitária. Logo, diversos argumentos foram utilizados para implantar um determinado modelo de cuidado clínico. Ao retirar os doentes do convívio social, a ciência pretendia proteger os sãos e os doentes, impedindo a circulação das pessoas. Construídos como conjuntos independentes dentro das cidades, os hospitais de isolamento possuíam cinemas, lojas e espaços para recreação. Havia acomodações para solteiros e habitações para casais doentes sem dificuldades de locomoção.

 

 

No Rio de Janeiro, Jacarepaguá, situado na zona rural do município e cercado por fazendas produtoras de alimentos, foi o local escolhido para a criação dos hospitais de isolamento para tratamento das doenças. Nesta região da cidade, foram erguidos hospitais para apartar da sociedade os atingidos pela tuberculose, lepra e doença mental.

Nas primeiras décadas do século XX, a estação de trem mais próxima localizava-se em Cascadura, bairro da zona norte da cidade. Pensava-se que o exílio e o clima seriam adequados para a assistência necessária.

Entre as décadas de 1920 e 1950, a construção dos prédios obedeceu a este critério: segregação para tratamento das doenças. As instituições de atendimento aos portadores de lepra, doença mental e tuberculose – Hospital Colônia de Curupaiti, Colônia Juliano Moreira e o Sanatório de Curicica – estavam de acordo com as premissas do conceito de Hospital-Colônia: terrenos de grande extensão territorial e afastados dos centros urbanos. Comércio, entretenimento e práticas de esportes faziam parte das atividades recomendadas. Além das terapias medicamentosas, deveria existir um espaço de sociabilidade controlado pela equipe médica.

As fotografias que ilustram o presente artigo pertencem ao acervo do médico Heráclides César de Souza Araújo. Nascido em 24 de junho de 1886, em Imbituva (PR), era filho de Júlio César de Souza Araújo e Manoela Alves de Souza Araújo. Em 1912, concluiu o curso de farmácia pela Escola de Farmácia de Ouro Preto. No ano seguinte, transferiu-se e ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e, depois, no Curso de Aplicação do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), quando foi aluno de Adolpho Lutz (1855-1940) e trabalhou com doenças sexualmente transmissíveis.

 

 

Nesse período, por indicação de Lutz, especializou-se em dermatologia na Universidade de Berlim, onde apresentou um trabalho sobre a lepra no Brasil. Em 1924, retornou ao IOC e ao grupo de pesquisa coordenado por Lutz, e no mesmo ano iniciou sua viagem de três anos por vários países. Na época, inaugurou o Laboratório de Leprologia, que dirigiu até sua aposentadoria em 1956.

 

 

Após a criação do Serviço Nacional de Lepra, em 1941, ministrou cursos para leprologistas pelo Departamento Nacional de Saúde. Entre 1941 e 1956, foi editor das Memórias do Instituto Oswaldo Cruz e exerceu a chefia da Seção de Bacteriologia e da Divisão de Microbiologia e Imunologia do IOC. No ano seguinte e até sua morte, foi perito da Organização Mundial da Saúde em leprologia. Participou de associações acadêmicas e profissionais em todo o mundo, tendo contribuído para a criação da Sociedade Internacional de Leprologia, em que ocupou o cargo de vice-presidente no período compreendido entre 1932 e 1956. Após a aposentadoria, continuou seu trabalho no IOC. Morreu em 10 de agosto de 1962, no Rio de Janeiro.

 

 

 

 

 

*Ricardo Augusto dos Santos é Pesquisador Titular da Fundação Oswaldo Cruz

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XV – Misericórdia: rua, largo e ladeira, no Rio de Janeiro, por Cássio Loredano

Série Avenidas e ruas do Brasil  XV – Misericórdia, rua, largo e ladeira, no Rio de Janeiro, por Cássio Loredano

Na décima quinta publicação da série Avenidas e ruas do Brasil a Brasiliana Fotográfica traz para seus leitores o artigo Misericórdia: rua, largo e ladeira, escrito pelo caricaturista Cássio Loredano. É a terceira contribuição de Cássio no portal – já escreveu sobre a Igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro e sobre a Rua da Carioca.

 

 

Acessando o link para as imagens da rua da Misericórdia disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Misericórdia: rua, largo e ladeira, no Rio de Janeiro

Cássio Loredano*

 

 

No Guia Rex de 1993, um dos últimos guias de ruas do Rio de Janeiro a serem impressos em papel, a Rua da Misericórdia ainda é apenas um trecho mínimo, de uns trinta metros, entre a lateral esquerda do Forum e o Largo da Misericórdia. Quem hoje a procure caminhará sobre a bonita restauração ajardinada da Praça do Expedicionário, ao fundo da qual – e muito próximo de onde esteve a velha rua – está o imponente obelisco-monumento ao Barão do Rio Branco. Fazia de fato pena ver o herói durante anos em vergonhoso estado de abandono na praça cercada de horrendos tabiques de lata amarrotados e emporcalhados.

 

 

A rua. (Esqueçamos régua e esquadro no traçado de ruas de cidades orgânicas.) A tirar do rabicho de rua do plano do guia um caminho mais ou menos direito rumo ao Paço Imperial, temos que chegaríamos, rasgando o prédio do Forum de fora a fora em diagonal, à esquina das atuais Rua Erasmo Braga e Avenida Presidente Antônio Carlos. Por ali cerca se dava o que Brasil Gerson, em sua História das Ruas do Rio, chama “o encontro” das ruas Direita e da Misericórdia. Esta, aberta para facilitar o acesso do cada vez mais importante centro administrativo e comercial da cidade a seu hospital, a Santa Casa da Misericórdia, na Praia de Santa Luzia, embrião da primeira faculdade de Medicina do Rio.

 

 

Da Misericórdia foi chamada por causa da Santa Casa e por passar, entre seu início no Paço e o hospital, pelo Largo da Misericórdia, com seu pequenino, lindo templo de Nossa Senhora do Bonsucesso, nos fundos da Santa Casa. E pelo início, aqui também à esquerda, da primeira rua da cidade, a Ladeira da Misericórdia.

 

Ladeira e Rua da Misericórdia / História das ruas do Rio por Brasil Gerson, página 13 da 6ª edição

Ladeira e Rua da Misericórdia, s/d. Rio de Janeiro, RJ / História das ruas do Rio, por Brasil Gerson, página 13 da 6ª edição

 

Este, a Ladeira, foi muito provavelmente o caminho que tomaram Natividade e Perpétua para subir ao Morro do Castelo na primeira cena de Esaú e Jacó, penúltimo romance de Machado de Assis.

“Era a primeira vez que as duas iam ao Morro do Castelo. Começaram de subir pelo lado da rua do Carmo. Muita gente há no Rio de Janeiro que nunca lá foi, muita haverá morrido, muita mais nascerá e morrerá sem lá pôr os pés. Nem todos podem dizer que conhecem uma cidade inteira. Um velho inglês, que aliás andara terras e terras, confiavame há muitos anos em Londres que de Londres só conhecia bem o seu clube, e era o que lhe bastava da metrópole e do mundo. Natividade e Perpétua conheciam outras partes, além de Botafogo, mas o Morro do  Castelo, por mais que ouvissem falar dele e da cabocla que lá reinava em 1871, era-lhes tão estranho e remoto como o clube. O íngreme, o desigual, o mal calçado da ladeira mortificavam os pés às duas pobres donas. “

O morro teve três ou quatro subidas. O escritor Gastão Cruls fala nessa quarta, uma Calçada da Sé, a partir do meio da Rua da Misericórdia, mas que nenhum outro historiador conhece e ela não está em nenhum dos mapas que às dezenas esquadrinharam aquele quadrilátero ao longo das décadas. Tais caminhos se fizeram necessários para dar à cidade que paulatinamente descia à várzea acesso ao que continuava no alto, a Catedral, que, com seu amplo adro de terra batida, atraía multidões para as grandes festas de São Sebastião, o Colégio dos Jesuítas, depois um quartel, um hospital militar e o observatório.

 

 

O que faz supor que foi a Misericórdia que Natividade tomou com a irmã para o morro é Machado indicar que as duas “começaram a subir pelo lado da Rua do Carmo“, isto é, o lado da velha ladeira. E terem deixado o coupé esperando-as meio escondido também daquele lado, no espaço entre a Igreja de São José e a Assembleia, de onde saiu para apanhá-las na esquina de São José com a Rua da Misericórdia e levá-las de volta a Botafogo.

E agora? Se já então constatava Machado que muito carioca nunca tinha estado no morro… E vaticinava, sem poder calcular o alcance do que dizia: “muita [gente] mais nascerá e morrerá sem lá por os pés.

Agora, só guiados pela magia de um Gastão Cruls, de um Brasil Gerson, um Noronha Santos, um Vieira Fazenda, um Lima Barreto, um João do Rio; ou pela magia dele próprio, o “Bruxo do Cosme Velho”, como Machado de Assis ficou conhecido.

 

 

 

 

* Cássio Loredano é jornalista e caricaturista. E, sobretudo, um apaixonado pelo Rio de Janeiro e suas histórias.

 

Links para as outras publicações da série “Avenidas e ruas do Brasil”

 Série “Avenidas e ruas do Brasil” I – Avenida Central, atual Rio Branco, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 7 de setembro de 2016

Série “Avenidas e ruas do Brasil” II – A Rua do Imperador em Petrópolis por Klumb, Leuzinger e Stahl, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 26 de junho de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” III – A Rua do Bom Jesus, no Recife, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 6 de agosto de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IV – A Rua 25 de Março, em São Paulo, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 1º de setembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” V – A Rua Direita, a Rua das Mercês e a Rua Macau do Meio, em Diamantina, Minas Gerais, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 22 de outubro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” VI  – Rua Augusto Ribas e outras, em Ponta Grossa, no Paraná, pelo fotógrafo Luiz Bianchi, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 16 de novembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” VII – A Avenida Atlântica, em Copacabana, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 23 de dezembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil VIII – A Rua da Carioca por Cássio Loredano, de autoria de Cássio Loredano, publicada em 20 de janeiro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IX – Ruas e panoramas do bairro do Catete, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 14 de julho de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” X – A Rua da Ajuda, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 9 de novembro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XI – A Rua da Esperança, em São Paulo, por Vincenzo Pastore, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 14 de dezembro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XII – A Avenida Paulista, o coração pulsante da metrópole, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 21 de janeiro de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XIII – A Rua Buenos Aires no Centro do Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 19 de julho de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XIV – A Avenida Presidente Vargas,, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 31 de agosto de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVI – “Alguma coisa acontece no meu coração”, a Avenida São João nos 469 anos de São Paulo, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 25 de janeiro de 2023

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVII  e série “O Rio de Janeiro desaparecido” XXIII – A Praia e a Rua do Russel, na Glória, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 15 de maio de 2023

 

 

A construção do Bondinho do Pão de Açúcar sob as lentes de Therezio Mascarenhas

A Brasiliana Fotográfica destaca imagens da construção do Bondinho do Pão de Açúcar realizadas pelo fotógrafo Therezio Mascarenhas (18? – 19?), cuja biografia ainda é pouco conhecida. Na primeira década do século XX, ele morava em Vitória e, provavelmente, conheceu o engenheiro civil Augusto Ferreira Ramos (1860 – 1939), criador e construtor do Bondinho do Pão de Açúcar, em torno de 1909, quando este estava fazendo obras de instalação de água, luz, força e tração, no Espírito Santo.

 

 

Acessando o link para as fotografias do Bondinho do Pão de Açúcar de autoria de Therezio Mascarenhas disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

O Pão de Açúcar com seu bondinho e o Cristo Redentor são os principais pontos turísticos do Brasil, segundo e primeiro  mais visitados do país, e marcas registradas do Rio de Janeiro, seus mais conhecidos cartões-postais.

 

 

O Bondinho do Pão de Açúcar já foi visitado por diversas celebridades, dentre elas o físico Albert Einstein (1879 – 1955), o cantor e compositor Bob Marley (1945-1981), o papa João Paulo II (1920 – 2005); em 1941, pelo futuro presidente dos Estados Unidos, John Kennedy (1917-1963); as atrizes Halle Berry (1966-) e Natalie Portman (1981-), o ator Robert de Niro (1943-), a cantora Tina Turner (1939-) e Malala Yousafzai (1997-), ganhadora do Prêmio Nobel da Paz em 2014. Em um dos bondinhos foram filmadas cenas de 007 Contra o Foguete da Morte (1979): em uma das sequências, o agente James Bond, na época interpretado pelo ator Roger Moore (1927 – 2017), se equilibrou, a mais de 500 metros de altura, em seus cabos de aço.

 

 

Um pouco da história do Bondinho do Pão de Açúcar

 

O projeto do bondinho era ousado e grandioso e estava em consonância com as transformações urbanas realizadas no Rio de Janeiro, no começo do século XX, durante a gestão do prefeito Francisco Pereira Passos (1836 – 1913), entre 1903 e 1906. Para sanear e modernizar a cidade diversas demolições foram feitas. Era a política do “bota-abaixo”, como ficou popularmente conhecida, que contribuiu fortemente para o surgimento do Rio de Janeiro da Belle Époque. Essas transformações foram definidas por Alberto Figueiredo Pimentel (1869-1914), autor da seção “Binóculo”, da Gazeta de Notícias, com a máxima “O Rio civiliza-se”, que se tornou o slogan da reforma urbana carioca.

 

 

O criador do Bondinho do Pão de Açúcar, Augusto Ferreira Ramos, nascido em 22 de agosto de 1860, em Cantagalo, no estado do Rio, formou-se, em 1882, na Polytecnica do Império do Brasil, atual Faculdade de Engenharia da UFRJ, e tornou-se sócio do Clube de Engenharia, em 1894, por indicação de Conrado Jacob de Niemeyer (1831 – 1905). Faleceu em 28 de julho de 1939, em sua residência, na rua 5 de julho, nº 130, em Copacabana (O Globo, 29 de julho de 1939).

 

O Globo, 29 de julho de 1939

Augusto Ferreira Ramos / O Globo, 29 de julho de 1939

 

Visionário, ele teve a ideia da criação do bondinho, durante a Exposição Nacional de 1908, na região da Urca, no Rio de Janeiro, em comemoração ao centenário da Abertura dos Portos às Nações Amigas, inaugurada em 11 de agosto de 1908. Ramos foi um dos coordenadores do pavilhão do estado de São Paulo devido ao café, um dos assuntos de seu interesse, e sobre o qual escreveu tanto sobre o seu cultivo como sobre sua comercialização. O café era, na época, o principal produto da balança comercial do Brasil.

A construção de um caminho aéreo entre os morros da Baía de Guanabara alavancaria o turismo na cidade. Conseguiu capital – entre os investidores estavam Eduardo Guinle (1846-1912)Candido Gaffrée (1845-1919) e Raymundo de Castro Maya (1894 – 1968) – apoio do governo e fundou a Cia Caminho Aéreo Pão de Açúcar.

 

 

As obras foram realizadas entre 1909 e 1912. O teleférico carioca, cujas duas linhas somam 1325 metros, superou os dois que existiam na época: o do Monte Ulia, na Espanha, com extensão de 280 metros; e o de Wetterhorn, na Suíça, com 560 metros. O empreendimento custou uma fortuna, dois milhões de contos de réis, e centenas de operários, além de alpinistas, trabalharam em sua construção.

 

 

Os bondinhos de madeira maciça foram trazidos da Alemanha e fixados nos cabos com o auxílio de guindastes. Foi contratada a empresa alemã J.Pohling, de Colônia, que fabricou e montou os equipamentos.

 

 

Finalmente, em 27 de outubro de 1912, foi inaugurado o caminho aéreo no Rio de Janeiro, entre a Praia Vermelha e o Morro da Urca, que se tornaria o mundialmente famoso Bondinho do Pão de Açúcar (Careta, 5 de outubro de 1912). Alguns dias antes, houve uma visita da imprensa às obras (Correio da Manhã, 10 de outubro de 1912). Em 1º de dezembro, foi inaugurada a iluminação elétrica no caminho aéreo (Jornal do Brasil, 1º de dezembro de 1912, na última coluna).

 

 

O bondinho no segundo trecho, entre o Morro da Urca e o Pão de Açúcar, numa extensão de 750 metros e 396 metros de altura, começou a funcionar no dia 18 de janeiro de 1913, completando a ligação até o alto do pico do Pão de Açúcar (O Paiz, 19 de janeiro de 1913, quarta coluna).

 

 

Augusto Ferreira Ramos dirigiu a empresa até 1934, ano em que o industrial e banqueiro Carlos Pinto Monteiro assumiu a administração da Companhia Caminho Aéreo Pão de Açúcar até 1962, quando o engenheiro Cristóvão Leite de Castro (1904 – 2002) assumiu a direção. Durante sua gestão, em 1969, a Companhia do Pão de Açúcar obteve permissão para duplicar a linha e, após algumas reformas, passou a contar com quatro novos bondinhos, cada um com capacidade para transportar 75 passageiros. Os trabalhos foram completados em 29 de outubro de 1972.

Em 1993, Cristóvão passou o cargo para sua filha, Maria Ercília Leite de Castro, mestre em Administração de Empresas pela COPPEAD. Em 2002, o bondinho passou por outra reforma com a substituição dos oito cabos de aço e na realização de melhorias como nova pintura, iluminação, equipamento de som e placas de sinalização. Foram gastos 852 mil dólares. Entre 2008, foram inaugurados quatro novos bondinhos e a operação do teleférico foi digitalizada.

Em 2022, zerou suas emissões de carbono e ganhou uma nova marca e um novo lema: Parque Bondinho Pão de Açúcar, “Felicidade lá em cima”. Recebeu de presente, em homenagem aos seus 110 anos uma canção, O bondinho, de Roberto Menescal, Alex Moreira e Cris Delanno. É dirigido por Sandro Fernandes.

 

 

Uma curiosidade: em novembro de 2021, Anna Caroline Boyd Martine entrou para a história do cartão postal carioca, tornando-se a primeira mulher a trabalhar como operadora de cabine do teleférico do Parque Bondinho Pão de Açúcar.

 

Acesse aqui um artigo publicado na revista Brazil – Ferro – Carril, número 36, em 1912, onde o projeto do Bondinho do Pão de Açúcar é explicado detalhadamente.

 

 

 

Pequeno perfil e cronologia de Therezio Mascarenhas (18? – 19?)

 

Como já mencionado, pouco se sabe, até hoje, sobre a biografia do fotógrafo Therezio Mascarenhas. A partir da pesquisa na Hemeretoca Digital da Biblioteca Nacional, segue uma pequena cronologia de sua vida, que ajuda a traçar um pouco de seu perfil.

 

 

 

1900 – Procedente do Rio de Janeiro, fazendo quarentena na Ilha Grande, chegada do vapor nacional Pernambuco , em Vitória. Therezio era um dos passageiros (O Estado do Espírito Santo: Ordem e Progresso, 24 de julho de 1900, última coluna).

1908 – Foi um dos convidados de F. Clemetson, superintendente da Estrada de Ferro Sul do Espírito Santo, para viajar para Engenheiro Reeve com o cientista e ministro plenitenciário da França, Charles Wiener (1851–1913), nascido em Viena, que ficou bastante conhecido por suas viagens ao Peru (Diário da Manhã: Órgão do Partido Construtor (ES), 20 de fevereiro de 1908, quarta coluna).

Fotografou indígenas do Rio Doce (Diário da Manhã: Órgão do Partido Conservador (ES), 20 de fevereiro de 1908, segunda coluna).

Identificado como um ativo jovem, Therezio seguiu para o Rio de Janeiro, no paquete Maranhão, em 6 de junho, com a intenção de conversar com o diretor da Sociedade Nacional de Agricultura sobre a abertura de um estabelecimento de artigos e ferragens para a lavoura. Retornou em julho (Diário da Manhã: Órgão do Partido Construtor (ES), 7 de junho de 1908, quinta colunaCommercio do Espírito Santo, 24 de julho de 1908, segunda coluna).

Foi anunciado que ele abriria, na rua da Alfândega, em Vitória, um depósito para máquinas para a lavoura importados da Europa e da América do Norte (Cachoeirano, 20 de junho de 1908, terceira coluna).

Publicação de uma poesia de sua autoria (O Malho, 8 de agosto de 1908).

1909 - Ele e Casemiro Guimarães tiraram várias diversas fotográficas do piquenique dos sócios do Club de Regatas, realizado na Ilha do Boi, no Espírito Santo (Commercio do Espírito Santo, 22 de março de 1909, primeira coluna).

O engenheiro Augusto Ferreira Ramos (1860 – 1939), criador e construtor do Bondinho do Pão de Açúcar, promoveu uma excursão durante a qual os aplicados amadores Paulo Motta e Therezio Mascarenhas tiraram várias fotografias (Diário da Manhã: Órgão do Partido Construtor (ES), 8 de abril de 1909, última coluna). Provavelmente, em torno deste ano, Augusto e Therezio se conheceram.

Foi publicada na revista Fon-Fon uma fotografia do capor Queen Eleanor de sua autoria. Foi identificado como fotógrafo amador (Fon-Fon, 24 de abril de 1909).

 

 

Praticava tiro ao alvo (Diário da Manhã: Órgão do Partido Construtor (ES), 4 de maio de 1909, primeira coluna).

No Café Globo, em Vitória, houve uma exposição de fotografias de sua autoria dos serviços de abastecimento e luz realizados pelo engenheiro Augusto Ferreira Ramos. Foi identificado como amador e nesses registros Therezio revelava muito bom gosto pela arte (Diário da Manhã: Órgão do Partido Construtor (ES), 24 de maio de 1909, quinta colunaCorreio do Espírito Santo, 26 de maio de 1909, segunda coluna).

Fazia parte da comitiva de Augusto Ferreira Ramos em visitas de obras hidráulicas realizadas pelo engenheiro  (Diário da Manhã: Órgão do Partido Construtor (ES), 10 de julho de 1909, segunda colunaDiário da Manhã: Órgão do Partido Construtor (ES), 13 de julho de 1909, quinta coluna).

Participou da homenagem realizada pelo governo do Espírito Santo ao presidente Afonso Pena (1847 – 1909), na Catedral de Vitória (Commercio do Espírito Santo, 13 de julho de 1909, última coluna).

Foi noticiado seu aniversário, no dia 23 de agosto (Correio do Espírito Santo, 23 de agosto de 1909, primeira coluna).

Produziu várias fotografias durante uma excursão ao Jucu promovida pelo engenheiro Augusto Ferreora Ramos, contratante dos serviços de água, luz e esgoto de Vitória, que ofereceu um piquenique à família do político capixaba Torquato Moreira e a outras distintas famílias (Commercio do Espírito Santo, 21 de setembro de 1909, segunda coluna).

Esteve presente na missa de sétimo dia do prefeito de Vitória, Ceciliano Abel de Almeida (Commercio do Espírito Santo, 24 de novembro de 1909, quarta coluna).

Fotografou as festas realizadas na Escola Aprendizes de Marinheiro e foi identificado como um hábil fotógrafo (Diário da Manhã: Órgão do Partido Construtor (ES), 23 de dezembro, segunda coluna).

1910 – Possuia um estabelecimento fotográfico na Villa Moscoso, nº 16, em Vitória, no Espírito Santo (Diário da Manhã: Órgão do Partido Construtor (ES), 26 de fevereiro de 1910, segunda colunaAlmanak Laemmert, 1910, primeira colunaAlmanak Renault, 1912, última coluna).

Estava vendendo artigos  fotográficos (Diário da Manhã: Órgão do Partido Construtor (ES), 10 de março de 1910, última coluna).

 

 

1911 - Chegou no porto de Vitória, procedente do norte no paquete Sattelite (Diário da Manhã: Órgão do Partido Construtor (ES), 18 de outubro de 1911, segunda coluna).

1916 - Seu estabelecimento fotográfico na Villa Moscoso, em Vitória, no Espírito Santo, foi anunciado pela última vez no Almanak Laemmert (Almanak Laemmert, 1916, última coluna).

1927 - Ele e Augusto Ferreira Ramos foram alguns dos subscritores do abaixo-assinado feito por moradores e proprietários na Praia Vermelha, elogiando os melhoramentos realizados pelo prefeito do Rio de Janeiro, Antônio da Silva Prado Junior (1880 – 1955), na remodelação da principal artéria e nas cercanias da região, o que facilitaria a visita ao encantador passeio do Pão de Açúcar (O Paiz, 14 de dezembro de 1927, segunda coluna).

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Diário do Rio

Extra, 27 de outubro de 2022

Correio Braziliense, 12 de junho de 2008

Folha de São Paulo, 12 de fevereiro de 2022

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

Jackobson, Andrea. O bondinho do Pão de Açúcar. Rio de Janeiro : Editora Andrea Jackobson, 2018.

O GLOBO, 13 de junho de 2011

O GLOBO, 20 de outubro de 2012

Portal Clube de Engenharia

Rezende, Nilza. Pão de Açúcar – A Marca do Rio / Sugar Loaf – Rios Trademark.  Editora Clio.

Revisa EDVD

Serra News

Site Bondinho do Pão de Açúcar

Site Instituto Histórico Geográfico Brasileiro

Superinteressante, 4 de julho de 2018

A estátua do Pequeno Jornaleiro por Alfredo Krausz

A Brasiliana Fotográfica, no Dia do Jornaleiro, destaca a imagem Estátua do Pequeno Jornaleiro de autoria de Alfredo Krausz (? – 19?). Pouco se sabe, até o momento, sobre este fotógrafo. Imagens produzidas por ele integraram a exposição São Paulo 450 Anos: a imagem e a memória da cidade no acervo do Instituto Moreira Salles, realizada no Centro Cultural Fiesp, entre 23 de janeiro e 27 de junho de 2004. No acervo fotográfico do portal, há 52 imagens, todas do Instituto Moreira Salles, produzidas por Krausz no Rio de Janeiro – registros da Baía de Guanabara, de avenidas e ruas, de cinemas, edifícios e monumentos, do Cristo Redentor, dos Arcos da Lapa, dentre outras – , e, em São Paulo, a de um Zepellin sobrevoando a cidade com destaque para o Edifício Martinelli.

Acessando o link para as fotografias de Alfredo Krausz disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar a imagem e verificar todos os dados referentes a ela.

 

 

A Estátua do Pequeno Jornaleiro foi inaugurada na confluência das ruas Ouvidor e Miguel Couto junto à avenida Rio Branco, durante as festas do Mês da Cidade, em 1º de junho de 1933, por iniciativa do jornal A Noite. O discurso da inauguração foi feito pelo escritor Coelho Neto (1864 – 1934) (A Noite, 2 de junho de 1933). Um dos maiores incentivadores das festas foi Anísio Teixeira (1900 – 1971), então Diretor da Instrução Municipal do Rio de Janeiro e um dos mais importantes educadores do Brasil (A Noite, 22 de maio de 1933).

A obra, do caricaturista Fritz, pseudônimo do carioca Anísio Oscar Mota (1895-1969), foi fundida em bronze na Zani Fundição Artística e Metalúrgica Ltda e foi o ponto de partida para a criação da Casa do Pequeno Jornaleiro, concretizada, em 1940, pela então primeira-dama Darcy Vargas (1895 – 1968). A estátua reproduz uma cena que era muito comum no Rio de Janeiro do início do século XX: um menino que vestindo roupas velhas e com jornais debaixo do braço gritava as últimas manchetes do dia para vender os exemplares de jornal que carregava.

 

 

A inspiração de Fritz para a criação da estátua foi um menino chamado José que vendia, durante a década de 20, jornais nas ruas do Rio de Janeiro, e vivia na redação de O Malho, onde o caricaturista trabalhava como repórter. O menino não tinha parentes e suas roupas eram quase o dobro de seu tamanho. Já havia sido, anteriomente, o inspirador do personagem Pirulito (Jornal do Brasil, 19 de setembro de 1963).

 

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Segundo o historiador da música popular brasileira Carlos Didier (1954-) que com João Máximo (1935 – ) escreveu o livro Noel Rosa – Uma biografia (1990), no dia da inauguração da estátua, no Programa Casé, o poeta e compositor Orestes Barbosa (1893 – 1966)  fez, tendo como fundo musical solos de violão de Noel Rosa (1910 – 1937), a seguinte saudação ao monumento: “Esse garoto, que está aí na avenida, é a rua. A rua é o aplauso sincero e a vaia justa“(O GLOBO, 11 de janeiro de 2016).

 

 

 

Entre 1996, durante o Projeto Rio Cidade, a estátua foi transferida para a calçada da rua Sete de Setembro. Em  janeiro de 2016, o Pequeno Jornaleiro foi para o Parque Noronha Santos, devido às  obras do VLT  (O GLOBO, 11 de janeiro de 2016). Foi reinaugurado próxima a seu local original, na esquina da rua do Ouvidor com a avenida Rio Branco, em 3 de outubro de 2019 (O GLOBO, 3 de outubro de 2019).  E assim o grito do Pequeno Jornaleiro voltou a ecoar no Centro do Rio de Janeiro.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

 

Fontes:

Enciclopédia Itaú Cultural

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

Inventário dos Monumentos do Rio de Janeiro

O GLOBO

Site Senado Federal

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XIV – A Avenida Presidente Vargas

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XIV – A Avenida Presidente Vargas

O tema do 14º artigo da Série Avenidas e ruas do Brasil é a Avenida Presidente Vargas, no Centro do Rio de Janeiro. Foram selecionadas 19 fotografias da avenida em si e também de lugares que existiam antes de sua inauguração, na década de 40. São imagens produzidas por Alfredo Krausz (? – 19?), Antônio Caetano da Costa Ribeiro (18? – 19?), Augusto Malta (1864 – 1957), Guilherme Santos (1871 – 1966), Marc Ferrez (1843 – 1923), Revert Henrique Klumb (c. 1826 – c. 1886) e Uriel Malta (1910 – 1994). As mais antigas são da década de 1860, foram realizadas por Klumb e retratam o então Canal do Aterrado, o Canal do Mangue.

A avenida Presidente Vargas liga o Largo da Candelária à Praça da Bandeira e tem quatro quilômetros de extensão e 80 metros de largura. É lá que acontecem as festas de 7 de setembro. Também já foi palco de manifestações populares que fazem parte da história do Brasil como a do movimento pelas Diretas Já.

 

 

Acessando o link para as fotografias da Avenida Presidente Vargas disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá visualizar e magnificar as imagens.

 

 

Logo no início da década de 40, durante o Estado Novo, o então presidente Getúlio Vargas (1882 – 1954) decidiu construir a Avenida Presidente Vargas e, pelo projeto, um trecho do Campo de Santana, partes da Praça Onze, além de ruas inteiras, como a General Câmara, a São Pedro, a Senador Eusébio e a Visconde de Itaúna teriam que ser destruídos (O Malho, dezembro de 1941). Começaram as demolições. Inúmeras famílias foram desalojadas, mais de 500 prédios foram derrubados, dentre eles a antiga sede da prefeitura, e algumas igrejas como a Igreja de São Pedro dos Clérigos, que já foram temas de artigos da série O Rio de Janeiro desaparecido. As igrejas do Bom Jesus do Calvário, de Nossa Senhora da Conceição e a Capela de São Domingos também foram demolidas. No traçado original, nem a Candelária resistiria, mas desistiram de demoli-la e construíram a Praça Pio XI para harmonizá-la com a nova avenida.

 

 

O segundo trecho da nova avenida foi concluído em 10 de novembro de 1942; e, em 10 de novembro de 1943, foi batizada de Presidente Vargas. Finalmente, em 7 de setembro de 1944, foi inaugurada. A obra foi realizada durante a gestão dom prefeito Henrique Dodsworth (1895 – 1975) em apenas três anos (O Malhodezembro de 1942abril de 1943dezembro de 1943O País, 10 de novembro de 1943Jornal do Brasil, 8 de setembro de 1944).

 

 

 

 

Segundo o site MultiRio:

“Muito embora a Presidente Vargas tenha cumprido, de imediato, o seu papel de corredor de transportes, dotando o Centro de melhor infraestrutura rodoviária, o crescimento imobiliário da via não cumpriu o roteiro programado, à exceção do trecho próximo à Avenida Rio Branco. Aos poucos, os empreendimentos se estenderam até o Campo de Santana, tornando-se, a partir daí, cada vez mais rarefeitos, fato que contribuiu para a decadência de toda a região da Cidade Nova.

Segundo informações do Instituto Pereira Passos, a renovação dessa área só começou a acontecer na década de 1970, quando várias instituições públicas passaram a construir grandes prédios para ali se instalarem, a exemplo dos Correios, do Arquivo Público Nacional, do Centro Administrativo São Sebastião, do Centro de Convenções. O fato é que o espírito da cultura negra permanece mais vivo do que nunca no trecho da Avenida Presidente Vargas onde existia a antiga Praça Onze. É ali que fica o Monumento a Zumbi, o Terreirão do Samba, a armação do desfile das maiores escolas de samba da cidade”.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

BORDE, Andrea de Lacerda Pessôa. Avenida Presidente Vargas: narrativas históricas. Revista do Arquivo Geral do Rio de Janeiro, nº 10, 2016.

BUENO, Eduardo e TAITELBAUM, Paula. Avenida Presidente Vargas: um desfile pela história do Brasil. Rio de Janeiro: Arco, 2010.

Diário do Rio

GERSON, Brasil. História das Ruas do Rio. Rio de Janeiro: Bem-Te-Vi, 2013.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

O GLOBO, 6 de setembro de 2019

Site MultiRio

 

Links para as outras publicações da série “Avenidas e ruas do Brasil”

 Série “Avenidas e ruas do Brasil” I – Avenida Central, atual Rio Branco, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 7 de setembro de 2016

Série “Avenidas e ruas do Brasil” II – A Rua do Imperador em Petrópolis por Klumb, Leuzinger e Stahl, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 26 de junho de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” III – A Rua do Bom Jesus, no Recife, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 6 de agosto de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IV – A Rua 25 de Março, em São Paulo, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 1º de setembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” V – A Rua Direita, a Rua das Mercês e a Rua Macau do Meio, em Diamantina, Minas Gerais, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 22 de outubro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” VI  – Rua Augusto Ribas e outras, em Ponta Grossa, no Paraná, pelo fotógrafo Luiz Bianchi, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 16 de novembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” VII – A Avenida Atlântica, em Copacabana, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 23 de dezembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil VIII – A Rua da Carioca por Cássio Loredano, de autoria de Cássio Loredano, publicada em 20 de janeiro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IX – Ruas e panoramas do bairro do Catete, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 14 de julho de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” X – A Rua da Ajuda, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 9 de novembro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XI – A Rua da Esperança, em São Paulo, por Vincenzo Pastore, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 14 de dezembro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XII – A Avenida Paulista, o coração pulsante da metrópole, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 21 de janeiro de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XIII – A Rua Buenos Aires no Centro do Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 19 de julho de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XV – Misericórdia: rua, largo e ladeira, no Rio de Janeiro, por Cássio Loredano, de autoria de Cássio Loredano, publicada em 8 de dezembro de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVI – “Alguma coisa acontece no meu coração”, a Avenida São João nos 469 anos de São Paulo, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 25 de janeiro de 2023

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVII  e série “O Rio de Janeiro desaparecido” XXIII – A Praia e a Rua do Russel, na Glória, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 15 de maio de 2023

 

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XIII – A Rua Buenos Aires no Rio de Janeiro

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XIII – A Rua Buenos Aires no Rio de Janeiro

No 13º artigo da Série Avenidas e ruas do Brasil, a Brasiliana Fotográfica destaca a Rua Buenos Aires, antiga Rua do Hospício, no Centro do Rio de Janeiro. Os registros são de Augusto Malta (1864 – 1957), alagoano que foi o fotógrafo oficial da Prefeitura do Rio de Janeiro, entre 1903 e 1936, e de um fotógrafo ainda não identificado. Malta foi contratado pelo prefeito Pereira Passos (1836 – 1913) para documentar a radical mudança urbanística promovida por ele, período que ficou conhecido como o “bota-abaixo” e que contribuiu fortemente para o surgimento do Rio de Janeiro da Belle Époque.

 

Acessando o link para as fotografias da rua Buenos Aires disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

A Rua Buenos Aires liga o Campo de Santana à rua 1º de Março e fica na região conhecida como Saara, caracterizada pela forte presença de lojas especializadas em artigos populares. Lembramos a nossos leitores que a utilização da ferramenta zoom possibilita a exploração mais aproximada de aspectos interessantes das fotografias. Por exemplo, na imagem abaixo, realizada por um fotógrafo ainda não identificado, que registrou a Rua Buenos Aires na direção da Avenida Passos, podem ser observados mais detalhadamente seu antigo casario, os pedestres, as fachadas das lojas e um bonde em seus trilhos.

 

 

No século XVIII, a Rua Buenos Aires era chamada de Rua Detrás do Hospício, apesar de não ter existido um hospício nela: a parte de trás da antiga Igreja do Hospício, localizada na Rua do Rosário, que tinha uma capela e um albergue, dava para a Buenos Aires. Conforme lembrado por Brasil Gerson (1904 – 1981), no livro História das Ruas do Rio: No português antigo, hospício era o mesmo que albergue e hospital. Ainda, segundo o mesmo autor, antes de ficar conhecida como Rua do Hospício, alguns de seus trechos tiveram outras denominações como Rua da Portuguesa, certamente por causa da portuguesa Margarida Soares, que nela morava quando ela não ia além do caminho para o Morro da Conceição; Rua do Sebastião Ferrão, que foi provavelmente um tabelião; Rua do Teixeira, que nela explorava uma casa de jogo de truque; Rua do Becão, famoso cirurgião da Santa Casa; e Rua do Alecrim.

Passou a chamar-se Rua Buenos Aires, em 1915, durante a gestão do prefeiro Rivadávia da Cunha Correia (1866- 1920) (A Noite, 16 de novembro de 1915, quarta coluna; A Rua, 23 de novembro, segunda coluna).

Abrigou alguns estabelecimentos importantes da cidade como, por volta de 1860, a empresa Mesquita e Moreira, de matérias fecais, que antes da instalação do serviço de esgoto no Rio de Janeiro recolhia os urinóis caseiros e jogava sua carga no mar; a redação do jornal O Jacobino, a primeira sede do Clube Ginástico Português, a companhia Mútua de Seguros de Vida de Escravos, em 1862; em 1880, o Grêmio dos Professores; e, em 1905, a Liga Metropolitana de Futebol. Já na década de 1930, tornou-se uma Ra cheia de sedes de jornais: lá estavam instalados, no quarteirão entre o Mercado das Flores e a Rua Uruguaiana, A Manhã, O Popular e  A Tarde.

 

 

O registro abaixo, do Mercado das Flores, na Rua Buenos Aires, foi produzido por Malta. Foi inaugurado em 17 de abril de 1910 com a presença do então prefeito da cidade, Serzedelo Correia (1858 – 1932) e de Julio Furtado (1851 -1934), diretor das Matas e Jardins. Agora já pode o estrangeiro ir a um mercado de flores decente e digno de uma capital como a nossa (Correio da Manhã, 18 de abril de 1910, última coluna). Porém a construção não agradou a todos (Gazeta de Notícias, 18 de abril de 1910, segunda coluna). Foi o caso da escritora Julia Lopes de Almeida (1862 – 1934), que publicou uma crítica no jornal O Paiz, de 10 de maio de 1910. O Mercado das Flores, além de ser um polo de referência no comércio de flores, foi um ponto turístico da cidade, devido à exuberância de seus arranjos florais.

 

 

A Rua Buenos Aires, que ainda se chamava Rua do Hospício, foi mencionada na crônica Vinte Anos! Vinte Anos!, de Machado de Assis (1839 – 1908).

“…Depois de dizer o diabo do correspondente, de fazer e desfazer mil planos, Gonçalves assentou no que lhe pareceu melhor, que era ir à casa dele, na Rua do Hospício, descompô-lo, armado de bengala, e dar-lhe com ela, se ele replicasse alguma coisa. Era sumário, enérgico, um tanto fácil, e, segundo lhe dizia o coração, útil aos séculos…Eram os vinte anos que irrompiam cálidos, férvidos, incapazes de engolir a afronta e dissimular. Gonçalves foi por ali fora, Rua do Passeio, Rua da Ajuda, Rua dos Ourives, até à Rua do Ouvidor. Depois lembrou-se que a casa do correspondente, na Rua do Hospício, ficava entre as de Uruguaiana e dos Andradas; subiu, pois, a do Ouvidor para ir tomar a primeira destas. Não via ninguém, nem as moças bonitas que passavam, nem os sujeitos que lhe diziam adeus com a mão. Ia andando à maneira de touro. Antes de chegar à Rua de Uruguaiana, alguém chamou por ele.”

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Diário do Rio

GERSON, Brasil. História das Ruas do Rio. Rio de Janeiro: Bem-Te-Vi, 2013.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

 

Links para as outras publicações da série “Avenidas e ruas do Brasil”

 Série “Avenidas e ruas do Brasil” I – Avenida Central, atual Rio Branco, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 7 de setembro de 2016

Série “Avenidas e ruas do Brasil” II – A Rua do Imperador em Petrópolis por Klumb, Leuzinger e Stahl, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 26 de junho de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” III – A Rua do Bom Jesus, no Recife, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 6 de agosto de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IV – A Rua 25 de Março, em São Paulo, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 1º de setembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” V – A Rua Direita, a Rua das Mercês e a Rua Macau do Meio, em Diamantina, Minas Gerais, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 22 de outubro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” VI  – Rua Augusto Ribas e outras, em Ponta Grossa, no Paraná, pelo fotógrafo Luiz Bianchi, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 16 de novembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” VII – A Avenida Atlântica, em Copacabana, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 23 de dezembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil VIII – A Rua da Carioca por Cássio Loredano, de autoria de Cássio Loredano, publicada em 20 de janeiro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IX – Ruas e panoramas do bairro do Catete, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 14 de julho de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” X – A Rua da Ajuda, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 9 de novembro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XI – A Rua da Esperança, em São Paulo, por Vincenzo Pastore, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 14 de dezembro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XII – A Avenida Paulista, o coração pulsante da metrópole, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 21 de janeiro de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XIV – A Avenida Presidente Vargas,, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 31 de agosto de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XV – Misericórdia: rua, largo e ladeira, no Rio de Janeiro, por Cássio Loredano, de autoria de Cássio Loredano, publicada em 8 de dezembro de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVI – “Alguma coisa acontece no meu coração”, a Avenida São João nos 469 anos de São Paulo, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 25 de janeiro de 2023

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVII  e série “O Rio de Janeiro desaparecido” XXIII – A Praia e a Rua do Russel, na Glória, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 15 de maio de 2023