Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência

Com fotografias em formato cabinet*  de autoria de João Xavier de Oliveira Menezes, o J. Menezes (18? – 19?), pertencentes ao acervo da Fundação Biblioteca Nacional, uma das instituições fundadoras da Brasiliana Fotográfica; e com um pequeno histórico do Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, o portal celebra esta data.

 

 

 

Pequeno histórico do Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência

 

O Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, que coincide com o início da primavera, dia 21 de setembro, e simboliza o nascimento e a renovação do movimento das pessoas com deficiência, foi instituído pela Lei nº 11.133/2005, de 14 de julho de 2015. Seu objetivo é a conscientização da população brasileira de que pessoas com deficiência devem ter seus direitos respeitados e devem ser integradas à sociedade sem preconceitos, de forma igualitária. De acordo com o IBGE, no Brasil, 17,3 milhões de pessoas com dois anos ou mais de idade – o que representa 8,4% da população – possuem algum tipo de deficiência.

 

 

Segundo a Lei Brasileira de Inclusão de Pessoa com Deficiência, também conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência, de 2015, a pessoa com deficiência é aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. 

Existe, há relativamente pouco tempo, o conceito de capacitismo, sobre a discriminação em relação a pessoas com deficiência, a partir da subestimação da capacidade e aptidão dessas pessoas devido a suas deficiências, o que se traduz como um obstáculo à inclusão desses indivíduos à sociedade. Além disso, cada vez mais pessoas com deficiência trazem à sociedade um questionamento: seriam elas deficientes ou seria deficiente a sociedade que não satisfaz às necessidades de todas as pessoas que a formam?

O Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência foi oficializado, como já mencionado, em 2005, porém a data já era celebrada desde 1982 por iniciativa do Movimento pelos Direitos das Pessoas com Deficiência. O grupo começou a se organizar em fins de 1979 para reivindicar direitos e melhorias para a vida das pessoas com deficiência.

 

 

Legislação brasileira em relação a pessoas com deficiência:

Lei n° 7.713/1998: garante a dedução do Imposto de Renda para pessoas com deficiência.

Lei nº 7.853/1989: dispõe sobre o apoio às pessoas com deficiência e sua efetiva integração social.

Lei nº 8.213/1991: ordena que, a partir de 100 empregados, a empresa deve reservar de 2% a 5% de vagas para pessoas com deficiência.

Lei nº 8.899/1994: a Lei do Passe Livre prevê que toda pessoa com deficiência tenha direito ao transporte coletivo interestadual gratuito, e que cabe a cada estado ou município implantar programas similares ao Passe Livre para os transportes municipais e estaduais.

Lei nº 8.989/1995promove a isenção do imposto sobre produtos industrializados – IPI, na aquisição de automóveis para utilização no transporte autônomo de passageiros, bem como conduzidos pelas próprias pessoas com deficiência física, e dá outras providências. (Redação dada pela Lei Nº 10.754, de 31.10.2003).

Lei nº 9.394/1996: Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) – Determina que “haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de educação especial e que o atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular”. A legislação brasileira também prevê o acesso a livros em Braille, de uso exclusivo das pessoas com deficiência visual.

Lei nº 10.098/2000: normatiza as condições de acessibilidade.

Lei nº 10.436/2002: reconhece a Língua Brasileira da Sinais (LIBRAS) para os surdos.

Lei nº 10.754/2003: altera a Lei Nº 8.989, de 24 de fevereiro de 1995 que “dispõe sobre a isenção do Imposto Sobre Produtos Industrializados – IPI, na aquisição de automóveis para utilização no transporte autônomo de passageiros, bem como por pessoas com deficiência física e aos destinados ao transporte escolar.

Lei nº 11.126/2005: garante o direito da pessoa com deficiência visual de ingressar e permanecer em ambientes de uso coletivo acompanhado de cão-guia.

Lei nº 12.319/2010: regulamenta a profissão de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS.

Lei 13.146/2015: a Lei Brasileira de Inclusão de Pessoa com Deficiência, também conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência, incorporou os princípios da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, realizada em 2006, pela Organização das Nações Unidas (ONU) e ratificada pelo país em 2008.

 

Pequeno perfil de João Xavier de Oliveira Menezes, o J. Menezes (18? – 19?)

 

Apesar de não sabermos onde e quando João Xavier de Oliveira Menezes, o J. Menezes, nasceu e faleceu, há registros de sua atuação como fotógrafo a partir de 1875, no Rio de Janeiro, na rua da Quitanda, nº 39. Era filho do comendador Thomaz Xavier Ferreira de Menezes e seus irmãos eram Francisco, Eurydice, Thomaz e Carlos Xavier de Oliveira Menezes; e Rita Augusta de Menezes Pinho (Jornal do Commercio, 2 de novembro de 1891, sexta colunaO Paiz, 13 de setembro de 1896, sexta coluna).

 

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Acervo IMS

 

Em 1876, foram realizadas obras em seu estúdio fotográfico e anunciado que já estava a disposição de nosso amigos e fregueses (Gazeta de Notícias, 27 de agosto de 1876).

 

 

Até 1882, foi associado, na firma Pacheco, Menezes & Irmão, a seu irmão, Carlos e a Bernardo José Pacheco (18? -?), que havia sido, entre 1866 e 1874, associado ao fotógrafo açoriano Christiano Junior (1802 – 1902). Apresentavam-se como sucessores de Christiano Junior & Pacheco e ofereciam retratos em todos os systemas (Jornal do Commercio, 3 de dezembro de 1866Gazeta de Notícias, 8 de agosto de 1875Diário do Rio de Janeiro, 9 de novembro de 1875, sexta colunaAlmanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1875 1876187718781879188018811882). Lembramos que Christiano Jr. foi o autor da série Elephansiasis, realizada na década de 1860. Como já indagado no artigo, Para uma história da fotografia médica, no Brasil, de autoria de Joaquim Marçal Ferreira de Andrade, um dos curadores da Brasiliana Fotográfica, teria sido J. Menezes o sucessor de Christiano Junior no atendimento à classe médica da corte?

 

Acessando o link para as fotografias de autoria de J. Menezes disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas. 

 

O estabelecimento passou a chamar-se Menezes & Irmão (Gazeta de Notícias, 13 de junho de 1882, última coluna; Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1884).

 

 

Ainda em 1882, anunciavam Photographia e Pintura e, em 1883, anunciavam uma Grande Novidade:

 

 

 

Em 1883,  foram lidas proclamas de seu casamento com Virgilia Adelaide Mendes Calaza (Gazeta de Notícias, 29 de dezembro de 1893, terceira coluna). Em 1884, com o falecimento de seu irmão e sócio Carlos, foi extinta a firma Menezes & Irmão e J. Menezes passou a atuar por conta própria, ainda na Rua da Quitanda, nº 39 (Jornal do Commercio, 26 de agosto de 1884, sétima coluna; Jornal do Commercio, 3 de outubro de 1884, última coluna). Residia na Rua do Souto, 16.

Foi na década de 1880, que J. Menezes produziu as fotos de pessoas com deficiência exibidas neste artigo.

Nos primeiros anos da década de 1890, seu estabelecimento fotográfico ficava na rua Marquês de Paraná, 1. O último registro de sua atividade como fotógrafo encontrada pela minha pesquisa data de 1902 (Gazeta de Notícias, 13 de junho de 1884, terceira colunaJornal do Commercio, 3 de outubro de 1884, última colunaAlmanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 188518911892, 1898190019011902).

Em 1902, seu filho Augusto (1901 – 1902) faleceu (Jornal do Commercio, 10 de julho de 1902, sexta coluna).

 

 

*Formato de apresentação de fotografias sobre papel que surgiu na Inglaterra em 1866 como uma evolução do formato cartão de visita, tendo portanto o mesmo tipo de apresentação, mas num tamanho maior, razão pela qual era dito de cabinet, de gabinete. Outra denominação empregada para esse formato, inclusive aqui no Brasil, era carte boudoir, em referência àquelas salas íntimas de uso feminino características das residências oitocentistas. Muito utilizado até fins do século passado, esse formato apresentava fotografias de cerca de 9,5 x 14cm montadas sobre cartões rígidos de cerca de 11 x 16,5 cm (Enciclopédia Itaú Cultural).

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

ANDRADE, Joaquim Marçal Ferreira de. Para uma história da Fotografia Médica, no Brasil. Brasiliana Fotográfica, 23 de outubro de 2016

Câmara Paulista para Inclusão da Pessoa Deficiente

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOUTSOUKOS, Sandra Sophia Machado.  O retratado era “diferente”. Rio de Janeiro, c. 1865. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São Paulo, julho 2011.

Ministério da Saúde – Biblioteca Virtual em Saúde

Portal UOL

Site Câmara dos Deputados

Série “Feministas, graças a Deus!” XVI – O I Salão Feminino de Arte, em 1931, no Rio de Janeiro

Entre 6 e 30 de junho de 1931, aconteceu, no Rio de Janeiro, o I Salão Feminino de Arte, em um dos salões da Escola Nacional de Belas Artes.  Foi um dos muitos eventos importantes da história das artes plásticas no Brasil ocorridos na cidade durante o referido ano e é o tema do décimo sexto artigo da série Feministas, graças a Deus!. O Salão Feminino é considerado, até hoje, a primeira exposição realizada no país com a participação exclusiva de mulheres nas áreas de arquitetura, artes aplicadas, escultura, gravura e pintura. Fotografias das pintoras Georgina Albuquerque (1885 – 1962) e Sylvia Meyer (1889-1955); e da escultora Nicolina Vaz de Assis Pinto do Couto (1874 – 1941), integrantes da mostra de 1931, fazem parte do Álbum de artistas doado, em 1932, pelo escritor M. Nogueira da Silva (1880 – 1943), à Seção de Estampas da Fundação Biblioteca Nacional, uma das instituições fundadoras da Brasiliana Fotográfica.

As imagens de Nicolina Pinto do Couto são das décadas de 10 e de 20 e, em algumas, ela está acompanhada de seu marido, o escultor português Rodolfo Pinto do Couto (1888 – 1945). Há ainda um registro de Nicolina com um grupo de artistas no Salão Nacional de 1913.

 

 

Acessando o link para as fotografias de mulheres do Álbum de Artistas disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

As fotografias de Silvia Meyer são de 1912: de aulas de pintura ao ar livre e de uma cena do concurso de fim de ano na Escola Nacional de Belas Artes.

 

 

Os registros de Georgina Albuquerque são da década de 1910: em um deles ela está com sua família, filhos e marido, o também pintor Lucilio de Albuquerque (1877 – 1939) e, em outro, ela está com seus filhos.

 

 

No Álbum dos artistas, vale ressaltar que, dentre imagens de dezenas de artistas, existem apenas fotos de cinco mulheres. Além das já citadas, imagens da arquiteta Arinda Sobral (1883 – 1981) e da pintora Angelina Agostini (1888 – 1973).

O I Salão Feminino de Arte foi promovido pela Sociedade Brasileira de Belas Artes, dirigida por Augusto José Marques Junior (1887 – 1960), em colaboração com a Associação de Artistas Brasileiros. A iniciativa foi apoiada pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF), que se propôs a envidar esforços para que o evento fosse exitoso, revelando que, naquele momento do feminismo brasileiro, a organização de uma mostra com participação exclusiva de mulheres foi um fato importante para o movimento.

Em um artigo de Conceição Andrade de Arroxelas Brandão, publicado no Diário de Notícias, de 1º de fevereiro de 1931, fica evidente o entusiasmo da FBPF pela realização do I Salão Feminino de Arte (Diário de Notícias, 1º de fevereiro de 1931, última coluna).

 

 

Lembramos que, em torno de 1931, a busca pela emancipação da mulher no Brasil, principalmente a partir da luta pelo voto feminino, estava em alta e contava com feministas como Bertha Lutz  (1894 – 1976), fundadora de FBPF, em 1922; Natércia Cunha Silveira (1905 – 1993), fundadora da Aliança Nacional de Mulheres, em 1931, Elvira Komel (1906 – 1932) e  Carmen Portinho (1903 – 2001), fundadora da União Universitária Feminina, em 1929, dentre várias outras.  No mesmo mês da abertura do salão, sob a orientação de Bertha Lutz, foi promovido o Segundo Congresso Internacional Feminista. Finalmente, menos de um ano depois da realização da exposição, o Decreto nº 21.076, de 24 de fevereiro de 1932, instituiu o Código Eleitoral Provisório e reconheceu o direito de voto às mulheres.

Além da efervescência de acontecimentos em prol da emancipação feminina na época, outro fato que liga o feminismo à realização deste evento artístico é a presença, na comissão organizadora do Salão, da escritora e feminista atuante, Anna Amélia Carneiro de Mendonça (1896 – 1971), presidente da Casa do Estudante do Brasil, fundada em 1929.

 

 

A exposição contou com 63 artistas, 172 pinturas, 17 esculturas, 1 gravura e 3 de artes aplicadas, todas obras assinadas individualmente, e mais outras dessas últimas artes, com a assinatura coletiva da Escola Profissional Orsina da Fonseca e da Escola Profissional Paulo de Frontin (Fon-Fon, 27 de junho de 1931). A diretora da Orsina da Fonseca era a feminista e professora Leolinda Daltro (1859 – 1935), que foi tema do décimo quinto artigo da série Feministas, graças a Deus!, publicado em 19 de abril dde 2023.

 

 

 

 

Algumas das artistas que participaram da exposição foram, além das já mencionadas, as pintoras Camilla Alvares de Azevedo, Cândida de Gusmão Cerqueira, Francisca Leão, Haydéa Santiago, Helvia Barbosa Lima, Ignez Corrêa de Castro, Isabel Teixeira de Mello Julieta Bicalho, Katarina Gesnesha, Maria Francelina Barreto Falcão (1897-1979), Moema Machado Vieira, Nativa Tinoco, Nieta Gomes, Odelli Castello Branco, Palmyra Pedra Domeneck, Regina Veiga, Ruth de Almeida, Sarah Vilela de Figueiredo, Solange Frontin Hess, Suzanna Mesquita, Wanda Turatti e Yvonne Visconti. A gravurista Lucilia Ferreira e as escultoras Celita Vaccani ((1913 – 2000), Rosalina Candido Mendes e Zelia Ferreira.

Chama atenção a ausência das modernistas Tarsila do Amaral (1886 – 1973) e Anita Malfatti (1889 – 1964). Terá sido devido à divisão entre acadêmicos e modernos, já que todas as obras expostas no I Salão Feminino de Arte tinham caráter acadêmico? Ou terá sido falta de interesse delas, já artistas consagradas, em participarem da mostra?

Segundo uma de suas organizadoras, a pintora Cândida de Gusmão Cerqueira:

 

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Inicialmente, a inauguração do salão seria na primeira quinzena de maio, mas foi adiada para junho (A Noite, 27 de abril de 1931, penúltima coluna; Jornal do Commercio, 7 de junho de 1931, última coluna).

 

 

Sua vernissage aconteceu em 5 de junho e, a abertura para o público, no dia seguinte.

 

 

Sob o patrocínio da comissão organizadora do evento, o jornalista, pintor e intelectual Celso Kelly (1906 – 1979) proferiu uma conferência sobre a arte brasileira (A Noite, 10 de junho de 1931, penúltima coluna). Ele havia sido, em 1928, o organizador de um mostra livre de arte, na Biblioteca Nacional, que reuniu 300 trabalhos de 120 artistas, e que resultou na criação por ele e pelos irmãos Armando e Mário Navarro da Costa (1883 – 1931) da Associação Brasileira de Artistas, uma das promotoras do I Salão Feminino de Arte.

 

 

Em 12 de junho, o Diário de Notícias publicou uma reportagem especial sobre o evento:

 

 

 

 

 

Terra de Senna, pseudônimo do jornalista, escritor, humorista, poeta e dramaturgo Lauro Nunes (1896-1972), publicou uma crítica sobre o salão e comentou se tratar de um esforço digno dos maiores incentivos, porém lamentou seu caráter de exposição retrospectiva (Diário Carioca, 17 de junho de 1931, segunda coluna).

Em 22 de junho, a poetisa Anna Amélia Carneiro de Mendonça fez uma palestra intitulada Um salto de cinquenta anos (Jornal do Brasil, 23 de junho de 1931, quinta coluna).

 

 

A exposição foi encerrada com a palestra Príncipe Raul de Leoni, de Paschoal Carlos Magno (1906 – 1980) (A Noite, 29 de junho de 1931, segunda coluna). Publicação de uma crítica (O Jornal, 5 de julho de 1931).

 

 

O II Salão Feminino de Arte foi realizado muitos anos depois, em 1939, na Associação Cristã dos Moços. Algumas artistas que participaram do evento, em 1931, como Celita Vaccani, Georgina de Albuquerque e Regina Veira apoiavam a realização da segunda edição do evento, mais uma vez promovido pela Sociedade Brasileira de Belas Artes (Diário de Notícias 15 de junho de 1939, terceira coluna; O Jornal15 de junho de 1939, primeira coluna; e 23 de julho de 1939, quarta coluna).

 

Brevíssimo resumo de outros importantes eventos artísticos ocorridos no Rio de Janeiro em 1931

 

Movimento Artístico Brasileiro

 

 

Conforme mencionamos no início do artigo, em 1931, ocorreram no Rio de Janeiro outros importantes eventos da história das artes plásticas no Brasil. Um deles foi a criação do Movimento Artístico Brasileiro no Salão Essenfelder, no Studio Nicolas, que ficava localizado na Praça Marechal Floriano e pertencia ao fotógrafo romeno Nicolas Alagemovitz (1893 – 1940), um musicista que se fez mago da arte fotográfica, que era sócio do Photo Club Brasileiro. De acordo com o estatuto da nova associação, o Movimento foi organizado por uma comissão formada por Affonso de Carvalho, Nicolas Alagemovits, Fritz, Martha Silva Gomes, Henrique Pongetti, Bandeira Duarte e João Ribeiro Pinheiro.

“O “Movimento Artístico Brasileiro” começou pelo princípio: a sua sala no andar ocupado pelo fotógrafo Nicolas, num dos mais belos arranha céus da Cinelândia, dispõe de duzentas confortáveis cadeiras, de um palco para teatro, concertos e conferências e supera em elegância muitas das famosas “boîtes” espirituais de Paris, pequenas colmeias de homem de talento”.

 

O escritor Henrique Pongetti (1898 – 1979) em entrevista para o

Jornal do Brasil, 3 de junho de 1931

 

 

Segundo Nicolas, o Movimento Artístico Brasileiro é exclusivamente um centro de cultura, de arte e de pensamento e cuja atividade é dirigida no sentido de propagar todas as manifestações estéticas e congregar os seus criadores. José Siqueira, em artigo publicado, na Revista da Semana, de 19 de fevereiro de 1939, destacou que o Movimento vinha realizando uma série de conferências, concertos, recitais e exposições de pintura, em que tomaram parte grandes vultos da arte nacional e estrangeira. Essa instituição que é de todos os artistas, tem por fim congregá-los, para que dessa estreita união a Arte venha a ser amplamente beneficiada  (Diário de Notícias, 4 de junho de 1931Revista da Semana, 27 de junho de 1931, última coluna; Diário de Notícias, 22 de janeiro de 1932; Revista da Semana, 19 de fevereiro de 1938).

 

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Com a morte de Nicolas, em 27 de setembro de 1940, apesar de continuar existindo, o Movimento foi perdendo vigor e as notícias a seu respeito foram diminuindo na imprensa carioca nos anos que se seguiram (Correio da Manhã, 28 de setembro de 1940, última coluna).

 

Núcleo Bernardelli

 

 

Ainda em junho, no dia 12 , foi criado o Núcleo Bernardelli, formado por um grupo,  liderado por Edson Motta (1910 – 1981), de pintores insatisfeitos com o ensino artístico da Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro (ENBA). Buscavam democratizar o ensino de arte e conseguir o acesso dos artistas modernos ao prêmio de viagens ao exterior e ao Salão Nacional de Belas Artes. O nome é uma homenagem a dois professores da ENBA, os irmãos Henrique Bernardelli (1858-1936) e Rodolfo Bernardelli (1852-1931).

Alguns dos integrantes do grupo foram Bustamante de Sá (1907 – 1988), José Pancetti (1902 – 1958), Manoel Santiago (1897 – 1987) e Milton Dacosta (1915 – 1988) (Diário de Notícias, 12 de junho de 1931, quarta coluna). Sua primeira sede foi o já citado Studio Nicolas. Depois o grupo se transferiu para os porões da Escola Nacional de Belas Artes, onde permanceu até 1936, quando foi para a Rua São José e, depois, para a Praça Tiradentes, n. 85, até 1941, quando foi extinto.

 

Exposição Geral de Belas Artes de 1931, que ficou conhecido como Salão Revolucionário

 

 

Meses depois, em 1º de setembro, foi aberto a Exposição Geral de Belas Artes de 1931, que ficou conhecido como Salão Revolucionário, sob a organização do então diretor da instituição, Lúcio Costa (1902-1998). Foi um marco na história da arte no Brasil. A participação dos artistas modernos foi maciça e por decisão do júri do evento todos os trabalhos inscritos foram aceitos. Participaram da exposição Alfredo da Veiga Guignard (1896 – 1962), Cândido Portinari (1903 – 1962), Di Cavalcanti (1897 – 1976), Ismael Nery (1900 – 1934) e Pedro Correia de Araújo (1874 – 1955), dentre vários outros. Um dos destaques do salão foi o quadro Eu vi  mundo…ele começa no Recife, de Cícero Dias (1907 – 2003) (O Jornal, 2 de setembro de 1931). Foi chamado pelo poeta Manuel Bandeira de Salão dos Tenentes pela participação de diversos modernistas que se opunham aos generais da arte, os acadêmicos.

Abaixo, o artigo O “Salão dos Tenentes”, de Bandeira, publicado no Diário Nacional, de São Paulo, em 5 de setembro de 1931:

 

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Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

BANDEIRA, Manuel. O salão dos tenentes. VIEIRA, Lucia Gouveia. Salão de 31. Rio de Janeiro: Funarte, 1984. p.93-94.

Enciclopédia ItaúCultural

HARTWIG, Nathalia Lange. O Movimento Artístico Brasileiro (1931-1940) no cenário musical carioca dos anos 1930. XXVIII Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música – Manaus – 2018.

HARTWIG, Nathalia Lange. Salão Essenfelder: descobertas por meio da Imprensamusical do Rio de Janeiro da década de 1930. UFPR. ANAIS DO IV SIMPOM 2016  -SIMPÓSIO BRASILEIRO DE PÓS-GRADUANDOS EM MÚSICA.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

MORAES, Frederico. Cronologia das Artes Plásticas no Brasil 1816-1994. Rio de Janeiro : Topbooks, 2001.

SILVA, Tahis Canfield. Um olhar sobre o I Salão Feminino de Arte de 1931. XIII Encontro de História da Arte. Arte em confronto: embates em torno da história da arte, 2018..

 

Acesse aqui os outros artigos da Série “Feministas, graças a Deus!

Série “Feministas, graças a Deus!” I – Elvira Komel, a feminista mineira que passou como um meteoro, publicado em 25 de julho de 2020, de autoria da historiadora Maria Silvia Pereira Lavieri Gomes, do Instituto Moreira Salles, em parceria com Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” II  – Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993), o jequitibá da floresta, publicado em 20 de agosto de 2020, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” III  – Bertha Lutz e a campanha pelo voto feminino: Rio Grande do Norte, 1928, publicado em 29 de setembro de 2020, de autoria de Maria do Carmo Rainha, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” IV  – Uma sufragista na metrópole: Maria Prestia (? – 1988), publicado em 29 de outubro de 2020, de autoria de Claudia Heynemann, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” V – Feminista do Amazonas: Maria de Miranda Leão (1887 – 1976), publicado em 26 de novembro de 2020, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, mestre em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” VI – Júlia Augusta de Medeiros (1896 – 1972) fotografada por Louis Piereck (1880 – 1931), publicado em 9 de dezembro de 2020, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” VII – Almerinda Farias Gama (1899 – 1999), uma das pioneiras do feminismo no Brasil, publicado em 26 de fevereiro de 2021, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” VIII – A engenheira e urbanista Carmen Portinho (1903 – 2001), publicado em 6 de abril de 2021, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” IX – Mariana Coelho (1857 – 1954), a “Beauvoir tupiniquim”, publicado em 15 de junho de 2021, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” X – Maria Luiza Dória Bittencourt (1910 – 2001), a eloquente primeira deputada da Bahia, publicado em 25 de março de 2022, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XI e série “1922 – Hoje, há 100 anos” VI – A fundação da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, publicado em 9 de agosto de 2022, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XII e série “1922 – Hoje, há 100 anos” XI – A 1ª Conferência para o Progresso Feminino, publicado em 19 de dezembro de 2022, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, historiadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” XIII – E as mulheres conquistam o direito do voto no Brasil!, publicado em 24 de fevereiro de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XIV – No Dia Internacional da Mulher, Alzira Soriano, a primeira prefeita do Brasil e da América do Sul, publicado em 8 de março de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XV – No Dia dos Povos Índígenas, Leolinda Daltro,”a precursora do feminismo indígena” e a “nossa Pankhurst, publicado em 19 de abril de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XVII – Anna Amélia Carneiro de Mendonça e o Zeppelin, equipe de Documentação da Escola de Ciências Sociais FGV CPDOC, em parceira com Andrea C.T. Wanderley, publicado em 5 de janeiro de 2024

O Observatório Nacional pelas lentes de Marc Ferrez, amigo de vários cientistas

Marc Ferrez (1843 – 1923) fotografou a sede do novo Observatório Nacional, no Morro de São Januário, em São Cristóvão. A ata de lançamento da pedra fundamental do edifício foi assinada em 28 de setembro de 1913 e as estereoscopias que Ferrez produziu das novas instalações mostram os prédios prontos. Ele esteve fora do Brasil entre abril de 1915 e fevereiro de 1920. Voltou à França em maio de 1921 e retornou ao Rio de Janeiro em 14 de agosto de 1922, onde faleceu em 12 de janeiro de 1923. Ou seja, ele pode ter retratado o Observatório entre fevereiro de 1920 e maio de 1921, período mais provável; ou no segundo semestre de 1922.

 

 

Como já mencionado em outros artigos da Brasiliana Fotográfica, a estereoscopia chegou ao Brasil, ainda no século XIX, e foi uma técnica utilizada por fotógrafos renomados como  Revert Henrique Klumb (c.1826 – c. 1886) e Georges Leuzinger (1813 – 1892), ambos europeus e radicados no país. Do século XX, temos em nosso acervo fotógrafico imagens realizadas pelos estereoscopistas amadores Guilherme Antônio dos Santos (187 1- 1966) e Archanjo Sobrinho (18? – 1941). Todos já foram temas de artigos publicados no portal.

 

O Observatório Nacional 

 

O Imperial Observatório do Rio de Janeiro foi criado por D. Pedro I em 15 de outubro de 1827, sendo uma das mais antigas instituições científicas brasileiras (Diário Fluminense, 11 de outubro de 1827, primeira coluna; e 22 de outubro de 1827, segunda colunaDiário da Câmara dos Senadores do Império do Brasil, 27 de setembro de 1927, segunda coluna). Entre suas finalidades estava a orientação e estudos geográficos do território brasileiro e de ensino da navegação.

 

 

Com a Proclamação da República, em 1889, o Imperial Observatório Astronômico passou a denominar-se Observatório Astronômico e, finalmente, ganhou o nome de Observatório Nacional, a partir do Decreto nº 7672, de 18 de novembro de 1909.

Acessando o link para as fotografias do Observatório Nacional realizadas por Marc Ferrez disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

Inicialmente, funcionou numa das torres da Escola Militar e seu diretor, entre 1842 e 1844, foi Pedro de Alcântara Bellegarde (1842-1844). A partir de 1846, suas instalações foram transferidas para o prédio de uma antiga igreja jesuita do Morro do Castelo,  apesar da contrariedade de seu então diretor, o belga Eugênio Antônio Fernando Soulier de Sauve (? – 1850), que achava que “o observatório não teria a máxima imobilidade que lhe é necessária e porque, no Castelo, o observatório seria provisório, pois, segundo era corrente, havia projeto em arrasá-lo e, portanto, teria que ser abandonado, o que seria motivo de grandes despesas, razão esta, muito forte, para que não mais se pensasse no referido morro” . (SAUVE, S. de, apud MORIZE, 1987, p. 48).

 

 

 

A inauguração do novo Observatório ocorreu durante a gestão do francês naturalizado brasileiro Henri Charles Morize ou Henrique Morize (1860 – 1930), engenheiro e astrônomo, que esteve à frente da instituição de 27 de junho de 1908 a 1927, quando se afastou da direção por motivos de saúde, tendo nomeado Alix de Lemos (1877–1957) diretor interino. Seu sucessor foi o paraense Sebastião Sodré da Gama (1883 – 1951) (O Paiz, 21 de abril de 1929, quinta colunaO Malho, 29 de março de 1930).

 

Morize era discípulo do astrônomo belga Louis Ferdinand Cruls (1848 – 1908), a quem sucedeu na direção da instituição. Ambos eram muito amigos de Marc Ferrez, que se relacionou com diversos cientistas e pesquisadores no Brasil do século XIX e do início do século XX, dentre eles o geólogo norte-americano Charles Frederick Hartt (1840 – 1878), que chefiou a Comissão Geológica do Império (1875 – 1878), da qual fez parte; o médico Camillo Fonseca (18? – 1923), em cujo consultório foram realizadas experiências radiográficas nas gêmeas siamesas Rosalina e Maria Pinheiro, nascidas em 1893, no Espírito Santo; além dos já citados diretores do Observatório Nacional no Rio de Janeiro.

 

 

Uma das diretrizes da gestão de Morize era dotar o Observatório Nacional de instalações adequadas às suas atividades (Correio da Manhã, 20 de março de 1930). Em 28 de setembro de 1913, foi, como anteriormente mencionado, assinada a ata de lançamento da pedra fundamental do novo Observatório Nacional. Finalmente, em 1922, foi transferido do Morro do Castelo, atual Esplanada do Castelo, para o Morro de São Januário, onde permanece funcionando (Illustração Brasileira, 20 de janeiro de 1922).

 

 

 

Na foto, o físico e os astrônomos do Observatório Nacional Foto: Divulgação/Mast

Visita de Albert Einstein, sentado ao centro, ao Observatório Nacional, 9 de maio de 1925 ( O Paiz, 10 de maio de 1925, última coluna). Morize está à direita de Einstein e Alix de Lemos à esquerda / Acervo Museu da Astronomia e Ciências Afins

 

As relações entre o fotógrafo Marc Ferrez e os cientistas Henrique Morize, Louis Ferdinand Cruls e outros

 

 

Desde a década de 1890, Morize e Ferrez se conheciam. Em 1891, a Casa Lombaerts & C incorporou-se à Casa Marc Ferrez, sob a firma Lombaerts, Marc Ferrez & C (Diário da Manhã, 9 de março de 1891, na terceira coluna). A firma publicou postais e, por encomenda da Inspetoria Geral da Instrução Primária e Secundária da Capital, publicou o álbum Quadros de história Pátria, com 21 fototipias, e o ensaio de Henrique Morize, intitulado Esboço de uma climatologia do Brasil. No mesmo ano, a sociedade de Lombaerts e Ferrez foi dissolvida (Diário de Notícias, 15 de dezembro de 1891, quarta coluna). Em torno de 1897, Ferrez realizava experiências cinematográficas com Morize e com Tasso Fragoso (1869 – 1945), na época aluno da Escola Militar e, posteriormente, general.

Em 1899, no gabinete dos doutores Camilo Fonseca e de Morize, foram realizadas experiências radiográficas nas gêmeas siamesas Rosalina e Maria Pinheiro, nascidas em 1893, no Espírito Santo, que chegaram ao Rio de Janeiro em junho (A Imprensa, 23 de junho de 1899, na terceira coluna). Elas foram fotografadas por Marc Ferrez em várias posições (O Cachoeirano, 2 de julho de 1899, na última coluna). A cirurgia para separá-las, realizada em 30 de maio de 1900, na Casa de Saúde São Sebastião, no Rio de Janeiro, pelo médico Eduardo Chapot Prevost (1864 – 1907), foi a primeira do gênero que foi bem sucedida em todo o mundo. Maria morreu cinco dias após a cirurgia devido a uma grave infecção e Rosalina viveu até pelo menos 75 anos, tendo casado e tido filhos (A Imprensa, 11 de agosto de 1900, na primeira coluna).

Em 1902, o então capitão Tasso Fragoso realizou sua segunda conferência sobre artilharia de campanha de tiro rápido. Foram apresentadas fotografias de projéteis e canhões, expostas em uma lanterna de projeção manejada por Morize e Ferrez  (Jornal do Brasil, 26 de abril de 1902, nona coluna). Em 1912, Marc Ferrez era um dos integrantes da comitiva do presidente do Brasil, Marechal Hermes da Fonseca (1855 – 1923), que havia ido para Passa Quatro observar o eclipse solar ocorrido em 10 de outubro daquele ano. Também participaram do evento Morize, chefe da comissão brasileira; o diretor do Jardim Botânico, Graciano dos Santos Neves (1868 – 1922), e astrônomos ingleses, dentre outros (Gazeta de Notícias, 11 de outubro de 1912, na quinta coluna sob o título “Marechal Hermes e o eclipse“).

Em 1919, Marc Ferrez morava na França e supõe-se que ele teria, por seu interesse no assunto e por sua proximidade com Henrique Morize, acompanhado à distância os trabalhos dos registros fotográficos do eclipse total do Sol, ocorrido em 29 de maio de 1919, realizados por astrônomos brasileiros do Observatório Nacional e também por cientistas de outros países, em Sobral, no Ceará. A equipe brasileira, liderada por Morize, era formada pelos astrônomos Domingos Fernandes da Costa (1882 – 1956), Allyrio Hugueney de Mattos (1889 – 1975) e Lélio Itapuambyra Gama (1892 – 1981), além do químico Theophilo Henry Lee (1873 – ?), do meteorologista Luís Rodrigues, do mecânico Arthur de Castro Almeida e do carpinteiro Primo Flores. Partiram do Rio de Janeiro no dia 25 de abril de 1919, a bordo do vapor João Alfredo (Jornal do Commercio, 23 de abril de 1919, última coluna). Em março de 1922, em Paris, Marc Ferrez recebeu a visita de Morize, em viagem para Europa em missão oficial do Observatório Nacional. Morize esteve presente à missa de sétimo dia de Ferrez, em janeiro de 1923 (O Paiz, 20 de janeiro de 1923, na última coluna).

Como já mencionado, Morize sucedeu no Observatório Nacional o astrônomo Louis Ferdinand Cruls, que já conhecia Ferrez desde a década de 1880. Cruls dirigiu o Observatório entre 1891 e 1908. O retrato abaixo foi exposto, em 1884, na Notre Dame de Paris, e referido como um “trabalho artístico obtido pelo novo sistema de gelatino-bromureto, especialidade do sr. Marc Ferrez, clichê do sr. Insley Pacheco”(Jornal do Commercio, 4 de julho de 1884, na última coluna).

 

 

Fotografias de Ferrez ilustraram a matéria escrita por Arthur Barreiros sobre Cruls, publicada na segunda edição da revista Galeria Contemporânea do Brasil (O Cearense, 29 de agosto de 1884, na terceira coluna). Em uma reunião da Sociedade Central de Immigração, da qual faziam parte, entre outros, Cruls, o pintor italiano Nicolau Facchinetti (1824 – 1900) e o político Alfredo d´Escragnolle Taunay (1843 – 1899), foram apresentadas por esse último, presidente da associação, fotografias da ferrovia do Paraná, de autoria de Ferrez (A Immigração, agosto de 1886). Em 1888, no Arsenal de Marinha, com as presenças de Suas Altezas, da baronesa de Loreto Maria Amanda Paranaguá Dória (1849 – 1931), do barão de Corumbá João Mendes Salgado (1832 – 1894), do marquês de Paranaguá João Lustosa da Cunha Paranaguá (1821 – 1912), e de Cruls (1848 – 1908), dentre outros, o meteorito de Bedengó foi coberto com ácido nítrico. Na matéria, foi mencionado que Ferrez fotografaria o meteorito (Gazeta de Notícias, 17 de agosto de 1888, na segunda coluna sob o título “Corte do Bendegó”).

 

Um curiosidade: O daguerreótipo chegou ao Brasil no mesmo navio em que Soulier de Sauve (? – 1850), que dirigiu  Observatório Nacional entre 1845 e 1850, e sua esposa, Louise, vieram para o país, a corveta Oriental , que aportou no Rio de Janeiro, em 23 de dezembro de 1839. A embarcação foi identificada como um colégio boiante, um navio-escola que promovia uma expedição didática- científica (Jornal do Commercio, 25 de dezembro de 1839, terceira coluna e Jornal do Commercio, 28 de dezembro de 1839, terceira coluna). No navio havia marinheiros capazes e professores hábeis, reunidos pelo capitão para iniciar os alunos a bordo nas primeiras noções da marinha e do comércio. Dentre eles estava Francisco Sauvage, inventor do phisionotypo, um novo modo de suprir a escultura, Soulier de Sauve e e o abade francês Louis Comte (1798 – 1868) (Correio Mercantil (BA), 13 de dezembro de 1839, terceira coluna). A expedição naval trazia a bordo um daguerreótipo, aparelho capaz de  produzir as primeiras fotografias, cuja invenção devida a Louis Daguerre e Nicéphore Niépce, tinha sido anunciada ao mundo por François Arago na sessão da Academia de Ciências da França de 19 de agosto de 1839. O abade Comte, que havia aprendido com o próprio Daguerre a daguerreotipia, era o encarregado pela assistência intelectual e espiritual e pelo ensino de religião, música e canto durante a viagem. Produziu alguns daguerreótipos, em 16 de janeiro de 1840, no Rio de Janeiro e, alguns dias depois, apresentou o invento a dom Pedro II.

 

 

A partir daí a fotografia tornou-se uma das paixões do futuro imperador. Em março do mesmo ano, d. Pedro II adquiriu um daguerreótipo, provavelmente o primeiro da América do Sul (Jornal do Commercio,  20 de janeiro de 1840, terceira coluna).

 

Andrea C.T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

BARRETO, Luiz Muniz. Observatório Nacional: 160 anos de história. Academia brasileira de ciências, Secretaria de ciência e tecnologia do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1987.

CAMPOS, J.A. Eclipse Solar de 31 de dezembro de 1842: Confronto entre Maximiano da Silva Leite e Soulier de Sauve. Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2016.

Eu sei tudo, janeiro de 1928

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

LUZ, Sabina Ferreira. Do Castelo ao Januário: o Observatório Nacional muda de morro. XXVIII Simpósio Nacional de História. Florianópolis, Santa Catarina. 21 a 31 de julho de 2015.

MORIZE, Henrique. Observatório Astronômico, um século de história (1827-1927). Rio de Janeiro : Museu de Astronomia e Ciências afins : Salamandra, 1987.

Portal da Academia Nacional de Engenharia

Portal da Câmara dos Deputados

TURAZZI, Maria Inez. A viagem do Oriental-Hydrographe (1839 – 1840) e a introdução da daguerreotipia no Brasil. Acervo; Revista do Arquivo Nacional, Rio de Janeiro, v.23, nº 1, p.45-62, jan-jun 2010.

Site Ministério da Tecnologia

 

Publicações da Brasiliana Fotográfica em torno da obra do fotógrafo Marc Ferrez 

 

O Rio de Janeiro de Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 30 de junho de 2015

Obras para o abastecimento no Rio de Janeiro por Marc Ferrez , de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 25 de janeiro de 2016

O brilhante cronista visual Marc Ferrez (7/12/1843 – 12/01/1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 7 de dezembro de 2016

Do natural ao construído: O Rio de Janeiro na fotografia de Marc Ferrez, de autoria de Sérgio Burgi, um dos curadores da Brasiliana Fotográfica, publicada em 19 de dezembro de 2016

No primeiro dia da primavera, as cores de Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 22 de setembro de 2017

Marc Ferrez , a Comissão Geológica do Império (1875 – 1878) e a Exposição Antropológica Brasileira no Museu Nacional (1882), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica,  publicada em 29 de junho de 2018

Série “O Rio de Janeiro desaparecido” V – O quiosque Chopp Berrante no Passeio Público, Ferrez, Malta e Charles Dunlop, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 20 de julho de 2018

Uma homenagem aos 175 anos de Marc Ferrez (7 de dezembro de 1843 – 12 de janeiro de 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 7 de dezembro de 2018 

Pereira Passos e Marc Ferrez: engenharia e fotografia para o desenvolvimento das ferrovias, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 5 de abril de 2019

Fotografia e ciência: eclipse solar, Marc Ferrez e Albert Einstein, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 

Os 180 anos da invenção do daguerreótipo – Os álbuns da Comissão Geológica do Império com fotografias de Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 19 de agosto de 2019

Celebrando o fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 4 de dezembro de 2019

Uma homenagem da Casa Granado ao imperial sob as lentes de Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 7 de fevereiro de 2020

Ressaca no Rio de Janeiro invade o porão da casa do fotógrafo Marc Ferrez, em 1913, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado 6 de março de 2020

Petrópolis, a Cidade Imperial, pelos fotógrafos Marc Ferrez e Revert Henrique Klumb, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 16 de março de 2020

Bambus, por Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 5 de junho de 2020

O Baile da Ilha Fiscal: registro raro realizado por Marc Ferrez e retrato de Aurélio de Figueiredo diante de sua obra, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 9 de novembro de 2020

O Palácio de Cristal fotografado por Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 2 de fevereiro de 2021

A Estrada de Ferro do Paraná, de Paranaguá a Curitiba, pelos fotógrafos Arthur Wischral (1894 – 1982) e Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 22 de março de 2021

Dia dos Pais – Julio e Luciano, os filhos do fotógrafo Marc Ferrez, e outras famílias, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 6 de agosto de 2021

No Dia da Árvore, mangueiras fotografadas por Ferrez e Leuzinger, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 21 de setembro de 2021

Retratos de Pauline Caroline Lefebvre, sogra do fotógrafo Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 28 de abril de 2022

A Serra dos Órgãos: uma foto aérea e imagens realizadas pelos mestres Ferrez, Leuzinger e Klumb, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 30 de junho de 2022

O centenário da morte do fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 12 de janeiro de 2023

No Dia Mundial do Meio Ambiente, a potente imagem da Cachoeira de Paulo Afonso, por Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 5 de junho de 2023

A Fonte Adriano Ramos Pinto por Guilherme Santos e Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 18 de julho de 2023

Os 180 anos de nascimento do fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 7 de dezembro de 2023

No Dia do Imigrante Italiano, a trajetória do fotógrafo Nicola Maria Parente (1847 – 1911) no Brasil

Inspirada pela celebração do Dia Nacional do Imigrante Italiano e pela recente publicação do livro Italianos detrás da câmara: trajetórias e olhares marcantes no florescer da fotografia no Brasil, de autoria de Livia Raponi e Joaquim Marçal, um dos curadores da Brasiliana Fotográfica, escrevo sobre mais um importante fotógrafo italiano que atuou no Brasil no século XIX: Nicola Maria Parente (1847 – 1911), introdutor do cinematógrafo na Paraíba. Em destaque, imagens de sua autoria que pertencem à Fundação Biblioteca Nacional, uma das fundadoras da Brasiliana Fotográfica; e à Fundação Joaquim Nabuco e ao Museu Histórico Nacional, às instituições parceiras do portal.

 

 

Nicola Maria Parente se junta aos também italianos Camillo Vedani (18? – 1888)João Firpo (1839 – 1899) e Elvira (1876 – 1972) e Vincenzo Pastore (1930 – 1918), que já foram temas de artigos publicados no portal.

 

 

Acessando o link para as fotografias de autoria de Nicola Maria Parente disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Pela importância que a comunidade italiana tem na história do Brasil, a lei nº 11.687, de 2 de junho de 2008 instituiu oficialmente o Dia Nacional do Imigrante Italiano no calendário de todo o território nacional. O dia 21 de fevereiro foi escolhido devido à expedição que Pietro Tabacchi fez ao Espírito Santo, em 1874, marco do início do processo da migração em massa dos italianos para o Brasil. Estima-se que atualmente aproximadamente 30 milhões de descendentes de italianos vivam em terras brasileiras.

 

Bandeira da Itália

Bandeira da Itália

 

Breve perfil do fotógrafo italiano Nicola Maria Parente (1847 – 1911)

 

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A biografia de Nicola Maria Parente ainda tem diversas lacunas. Ele nasceu em Marsico Nuovo, província de Potenza, na região de Basilicata, em 13 de março de 1847, filho de Giovannantonio Parente e Maria Carmela Perci (Site Cápsula do Tempo). Relatos de seus familiares informam que ele teria participado nas lutas de Giuseppe Garibaldi (1807-1882) pela unificação da Itália, mas este fato ainda não foi confirmado.

 

 

Provavelmente veio para o Brasil, em 1865. Também de acordo com relatos de familiares, chegou com seu irmão Carmino, seus primos João, Georgina e Luigi; e com sua esposa Carolina Rotunda e seus filhos Galileu e Margarida. Durante a viagem Carolina teria dado à luz a Garibaldi e teria falecido logo depois do parto. No Porto de Santos, Nicola teria conhecido a italiana Giusephina Calliari, que viajava com dois filhos, Marcella e Giulio. Casaram-se e, posteriormente, tiveram uma filha, Carmelita. Há informações de que teriam se estabelecido em Taquari, no Rio Grande do Sul. Quanto à nacionalidade dos filhos há uma divergência ainda não resolvida pela pesquisa da vida de Nicola: no anúncio de sua morte é dito que todos nasceram no Brasil.

Percorreu alguns estados do Brasil e, o que se sabe, é que, na década de 1880, estabeleceu-se em João Pessoa, que na época chamava-se Parahyba do Norte, onde abriu a Photographia Vesúvio, na rua d´Areia, 73.

 

 

Na Paraíba, foi contemporâneo do italiano João Firpo (1839 – 1899) e do alemão Bruno Bourgard (18? – 19?), dentre outros fotógrafos itinerantes, e da pioneira Roza Augusta (18? -19?).

 

 

 

Também trabalhou como dentista.

 

 

Gênio de artista investigador, Nicola foi, além de fotógrafo e dentista, comerciante e inventor. Foi também ele que apresentou o cinematógrafo aos moradores de João Pessoa, na Paraíba, entre julho e agosto de 1897, durante a Festa das Neves, que homenageia a padroeira da cidade, Nossa Senhora das Neves, e que, na época, era o maior acontecimento social e religioso do estado. Em frente à Photographia Vesúvio, na rua Nova, nº 2, foi colocado um grande cartaz com frases em francês anunciando o espetáculo. Segundo anotações do fotógrafo, cineasta, diretor e pesquisador paraibano Walfredo Rodriguez (1893 – 1973), que estava presente ao acontecimento, em seu Roteiro Sentimental de uma Cidade:

“O autor destas desativadas evocações, recorda-se, ainda, envoltas em névoas das imagens remotas, das fitas ali exibidas, numa Festa das Neves de 1897 – “Chegada de um trem a Gare de Lion”, Um macaco pulando um arco” e “Crianças jogando bolas de neve em Biarritz”.

Parece que Nicola Parente conhecia os irmãos Louis e Auguste Lumière, franceses responsáveis pelo invento do cinematógrafo, cuja primeira exibição pública aconteceu em Paris, em 28 de dezembro de 1895. Em 1896, Parente viajou para a Europa e de lá trouxe a novidade. Segundo o bisneto de Nicola, o jornalista Pedro Parente, seu bisavô teria ido aFrança, em 1900, quando teria sido convidado pelos irmãos Lumière para a Exposição Universal de Paris.

 

 

Nicola itinerou com o cinematógrafo por diversos estados do Nordeste, como Bahia, Ceará, Pará e Rio Grande do Norte; e pelo interior de São Paulo. O organizador do livro A crítica de cinema em Belém, Pedro Veriano, aventa a possibilidade de Nicola ter sido o responsável  pelas primeiras filmagens no Pará, “mas não deixou provas concretas do trabalho” .

 

Em 1899,  transferiu-se para Abaeté, atual Abaetetuba, no Pará, onde criou o estabelecimento comercial Casa Italiana, da firma Nicola Parente & Filhos. Também colaborou com o Jornal da Mata.

Em 19 de maio de 1911, faleceu, vítima da explosão de um novo aparelho gerador de gás oxigênio que pretendia inventar em seu laboratório em Abaeté. De acordo com a notícia veiculada pelo Estado do Pará, era sócio de seu filho Garibaldi na firma comercial Parente & Cia.  Seu outro filho, Galileu, era jornalista, poeta e fotógrafo. Como já mencionado, tinha também duas filhas, Margarida e Carmelita. Foi identificado como muito estimado, honesto e caridoso (Estado do Pará, 29 de maio de 1911, última coluna).

 

Acesse aqui a Cronologia de Nicola Maria Parente (1847 – 1911) 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

ALIPRANDI, E.; MARTINI, V. (orgs.). Gli italiani nel nord del Brasile. Rassegna delle vite e delle opere della stirpe italica negli stati del nord brasiliano. Belém: Tip. da Livraria Gilet, 1932.

BARRO, Máximo. Participação italiana no cinema brasileiro. São Paulo : SESI-SP Editora.

Fotografia Paraibana Revista, 2012, pág 73

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

GOLZIO, Derval Gomes. Utilização Político-Ideológica da Fotografia: estudo das imagens publicadas no jornal A União durante a disputa política no Estado da Paraíba-1930. Dissertação de Mestrado em Multimedios, Unicamp, 1997.

Italianos detrás das câmeras: trajetórias e olhares marcantes no florescer da fotografia no Brasil / Organizado por Joaquim Marçal, Livia Raponi, traduzido por Livia Raponi, Vittorio Cappelli. – São Paulo : Editora Unesp, 2022.

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002.

LAPA, José Roberto do Amaral. A cidade: os cantos e os antros : Campinas, 1850-1900. São Paulo : Editora da Universidade de São Paulo, 1996.

LEAL, Wills. O Discurso Cinematográfico dos Paraibanos: a história do cinema na/da Paraíba. João Pessoa: Ed. A União, 1989.

LEITE, Ary Bezerra. Cidade de Fortaleza: 1897-1945: do Cinematógrafo aos Anos de Guerra.

LEITE, Ari Bezerra. História da fotografia no Ceará do século XIX. Edição do autor, 2019.

LEITE, Ary Bezerra. Memória do cinema: os ambulantes do Brasil (Cinema itinerante no Brasil: 1895 – 1914). Fortaleza : Premius, 2011.

PETIT, Pere. Filmes, Cinemas e Documentários no fim da Belle Époque no Pará (1911-1914). Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São Paulo, julho 2011,

VERIANO, Pedro (coord.). A crítica de cinema em Belém. Belém: Secult/PA, 1983.

SANTOS, Alex. Cinema e Revisionismo. João Pessoa, SEC/PB, 1982.

Site Cápsula do Tempo

Site Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro

Site Crônicas Taipuenses

Site Fatos e Fotos de Natal Antiga

Site Fortaleza Nobre

Site Italian Genealogy

Site Paraíba Criativa

Site Pró-Memória de Campinas – SP

O Brasil do futebol, uma paixão nacional

Hoje a seleção brasileira de futebol estreia na Copa do Mundo do Catar jogando contra a Sérvia em busca do hexacampeonato e a Brasiliana Fotográfica traz para seus leitores fotografias dos estádios de futebol dos clubes cariocas Botafogo e Fluminense. Diversos jogadores que fizeram a glória do Brasil em copas do mundo e em outros campeonatos internacionais vieram destes dois times de futebol, dentre eles Amarildo (1939-), Castilho (1927 – 1987), Didi (1928 – 2001), Félix (1937 – 2012), Garrincha (1933 – 1983), Jairzinho (1944-), Marcos Carneiro de Mendonça (1894 – 1988), Nilton Santos (1925 – 2013), Paulo César (1949-) e Zagallo (1931-).

A imagem do estádio do Botafogo foi produzida, em 1º de abril de 1941, por Uriel Malta (1910 – 1994), filho do alagoano Augusto Malta (1864 – 1957), que foi fotógrafo da prefeitura do Rio de Janeiro entre 1903 e 1936.

 

 

Uma das fotos do Fluminense Football Club foi produzida, em torno de 1921, pelo sírio naturalizado brasileiro e autor das primeiras fotografias aéreas do Rio de Janeiro, Jorge Kfuri (1893 – 1965).

 

 

A outra, de 19 de julho de 1935, foi produzida pela Escola de Aviação Militar, cujo setor responsável pela atividade de fotografar era a Seção Foto e estava vinculada às escolas de aviação que formavam pilotos e observadores aéreos, além de funcionar como uma “escola técnica de aviação” que formava também militares especializados em fotografia e em toda a técnica envolvida.

 

 

Breve história da chegada do futebol no Brasil

 

 

Foi o paulista Charles Miller (1874 – 1953) que trouxe o futebol para o Brasil. Filho de britânicos, após uma estadia na Inglaterra, de 1884 a 1894, retornou ao Brasil trazendo duas bolas de futebol, um livro de regras e dois jogos de uniformes. A primeira partida aconteceu em 14 de abril de 1895: uma disputa entre os funcionários da Companhia de Gás e da São Paulo Railway, na Várzea do Carmo, em São Paulo. A equipe de Miller, a São Paulo Railway, derrotou a adversária por 4 x 2. O pioneirismo de Miller é contestado por alguns historiadores que afirmam que o futebol já era praticado no Brasil na década de 1870.

 

Retrospectiva dos campeões e da classificação do Brasil em Copas do Mundo

 

Faltam poucos meses: expectativas do Brasil para a Copa do Mundo do Catar

 

O Brasil é o único país que participou de todas as edições de copas do mundo e já sediou duas delas, em 1950 e em 2014. Além disso é o maior vencedor da competição, com cinco títulos: 1958, 1962, 1970, 1994 e 2002.

1930 – Copa do Mundo do Uruguai. Campeão: Uruguai. Brasil: 6º lugar

1934 – Copa do Mundo da Itália. Campeão: Itália. Brasil: 14º lugar

1938 – Copa do Mundo da França. Campeão: Itália. Brasil: 3º lugar

1950 – Copa do Mundo do Brasil. Campeão: Uruguai. Brasil: vice-campeão

1954 – Copa do Mundo da Suíça. Campeão: Alemanha. Brasil: 5º lugar

1958 – Copa do Mundo da Suécia. Campeão: Brasil

1962 - Copa do Mundo do Chile. Campeão: Brasil

1966 - Copa do Mundo da Inglaterra. Campeão: Inglaterra. Brasil: 11º lugar

1970 - Copa do Mundo do México. Campeão: Brasil.

1974 - Copa do Mundo da Alemanha Ocidental. Campeão: Alemanha. Brasil: 4º lugar

1978 – Copa do Mundo da Argentina. Campeão: Argentina. Brasil: 3º lugar

1982 - Copa do Mundo da Espanha. Campeão: Itália. Brasil: 5º lugar

1986 - Copa do Mundo do México. Campeão: Argentina. Brasil: 5º lugar

1990 - Copa do Mundo da Itália. Campeão: Alemanha. Brasil: 9º lugar

1994 - Copa do Mundo dos Estados Unidos. Campeão: Brasil

1998 - Copa do Mundo da França. Campeão: França. Brasil: vice-campeão

2002 - Copa do Mundo da Coreia do Sul e Japão. Campeão: Brasil

2006 - Copa do Mundo da Alemanha. Campeão: Itália. Brasil: 5º lugar

2010 - Copa do Mundo da África do Sul. Campeão: Espanha. Brasil: 6º lugar

2014 – Copa do Mundo do Brasil. Campeão: Alemanha. Brasil: 4º lugar

2018 -  Copa do Mundo da Rússia. Campeão: França. Brasil: 6º lugar

2022 - Copa do Mundo do Catar. Campeão: ? Brasil: ?

 

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A Brasiliana Fotográfica agradece à colaboração do talentoso caricaturista Cássio Loredano, uma enciclopédia do futebol, para elencar os jogadores do Botafogo e do Fluminense.

 

Andrea C.T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Link para o artigo Dia Nacional do Futebol, publicado na Brasiliana Fotográfica, em 19 de julho de 2016.

 

A Reação Republicana

O artigo de hoje foi escrito pela historiadora Silvia Pinho, do Museu da República, uma das instituições parceiras da Brasiliana Fotográfica. É sobre a Reação Republicana, uma campanha política em torno da sucessão presidencial que mobilizou o Brasil, entre 1921 e 1922, cuja chapa oposicionista se opunha ao domínio de São Paulo e Minas Gerais na política nacional. Reuniu estados importantes – Rio de Janeiro, Pernambuco, Bahia e Rio Grande do Sul, mais o Distrito Federal – que queriam construir um eixo alternativo de poder.  Os candidatos à presidência e à vice-presidência da Reação eram o fluminense Nilo Peçanha (1867 – 1924) e o baiano J.J. Seabra (1855 – 1942). Nas eleições de 1º de março de 1922, foram derrotados pelo mineiro Artur Bernardes (1875 – 1955) e pelo maranhense Urbano Santos (1859 – 1922), que morreu antes de tomar posse. As fotografias são da Coleção Nilo Peçanha.

 

 

Acessando o link para as fotografias do Movimento Reação Republicana disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

A Reação Republicana

Silvia Pinho*

 

 

A eleição é um dos principais episódios da vida política de um país. Além de peça chave do sistema representativo, os momentos que a antecedem são marcados por debates que levantam questões de importância nacional. A forma como é realizada revela muito da organização social e política de uma sociedade. Nos anos de 1921 e 1922, uma campanha política em torno da sucessão presidencial mobilizou o país. Era a Reação Republicana, chapa oposicionista formada em reação ao domínio de São Paulo e Minas, reunindo estados importantes – Rio de Janeiro, Pernambuco, Bahia e Rio Grande do Sul, mais o Distrito Federal – que queriam maior participação na política do país, com o objetivo de construir um eixo alternativo de poder. A plataforma da Reação propunha mudanças na organização política e econômica do país, defendendo maior equilíbrio federativo, solução da crise financeira, diversificação agrícola, expansão da educação pública, incentivo ao desenvolvimento econômico e regeneração dos costumes políticos.

 

 

A Reação Republicana lançava como candidato à Presidência da República o político fluminense Nilo Peçanha, e como candidato a vice o governador da Bahia, J. J. Seabra. O então presidente Epitácio Pessoa apoiava a chapa oficial, formada pelo mineiro Artur Bernardes e pelo maranhense Urbano Santos. A disputa representava, sobretudo, uma fissura no pacto oligárquico que caracterizou a Primeira República, baseado na Política dos Governadores – o governo central apoiava os grupos dominantes nos estados, e estes, em troca, apoiavam a política do presidente da República – e na Política do Café com Leite, segundo a qual São Paulo e Minas Gerais decidiam quem seria o candidato oficial à Presidência da República (quase sempre vencedor) e traçavam o rumo das políticas nacionais.

 

 

A grande novidade da Reação Republicana foi sua campanha. Foi a primeira vez que se realizou uma campanha política para a Presidência da República de amplo alcance, sobretudo geográfico, com formação de comitês eleitorais nas mais diversas cidades do país. A bordo do Íris – navio fretado especialmente para esse fim –, Nilo Peçanha visitou vários estados brasileiros, fazendo comícios em praças e teatros, percorrendo as ruas, articulando alianças e conversando com as pessoas em busca de apoio.

 

 

Nilo Peçanha e J. J. Seabra sabiam que estavam em desvantagem em relação à chapa oficial, que dominava o jogo político na maior parte do país. Além disso, nessa época, o voto não era secreto e as fraudes eram prática comum. Porém, os membros da Reação pensavam ser possível reverter a diferença, assim como inibir as fraudes, mediante o convencimento da sociedade, trazendo-a para sua causa.

 

 

A campanha da Reação começou em 24 de junho de 1921 e, enquanto J. J. Seabra visitava estados do Sul, Nilo Peçanha partiu em excursão pelo Norte e Nordeste. À bordo do Íris, ele visitou o Amazonas, Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Sergipe, Bahia, Espírito Santo e Distrito Federal. Em São Paulo, foi impedido pelo governo local de realizar seu comício, redigindo então um “Manifesto ao Povo Paulista”, no qual afirmava que a Reação era o “ideal renovador do Brasil e que varre a tutela usurpadora dos nossos direitos soberanos!”.

 

 

Embora fosse um movimento das elites políticas, a Reação atraiu a simpatia e conquistou a adesão de vários segmentos sociais insatisfeitos com o governo. Um dos mais importantes foi o grupo dos militares, cujo apoio foi fundamental para a força e a amplitude geográfica da campanha. A Reação Republicana também conquistou o apoio da maçonaria, de grupos feministas e de setores médios urbanos, além da participação efetiva da imprensa na promoção da campanha.

Em 1º de março de 1922, sob forte tensão, ocorreu a eleição. O pleito foi marcado por denúncias de fraude generalizada e a vitória coube ao candidato oficial, Artur Bernardes. Nilo Peçanha e J.J. Seabra, contudo, não reconheceram o resultado e passaram a reivindicar a criação de um Tribunal de Honra, que arbitrasse o processo eleitoral. Como a posse de Bernardes só se daria em 15 de novembro, os membros da Reação continuaram engajados nos meses que se seguiram, tentando mobilizar a opinião pública e encontrar uma solução política que revertesse a situação. Nesse entremeio, no dia 5 de julho, jovens militares – grupo que apoiou a Reação, mas que tinha força, ideologia e demandas próprias – se rebelaram no Forte de Copacabana, em um levante que, embora reprimido, seria o marco inicial do movimento tenentista.

 

 

Os esforços dos candidatos da Reação foram ineficazes e Artur Bernardes tomou posse no Palácio do Catete. Nilo Peçanha morreria pouco depois, em 1924. Em 1930, uma nova crise política, mais forte e ampla, irrompeu e reuniu novamente as oligarquias estaduais dissidentes, militares e setores urbanos, além de outros grupos insatisfeitos com o regime. Era a Revolução de 1930, que pôs fim àquele sistema político.

A Reação Republicana demonstra a complexidade do jogo político na Primeira República, visto muitas vezes de forma simplista e unívoca. O que se desvela, entretanto, é uma trama política dinâmica e múltipla, repleta de conflitos, nuances e atores variados, de um período rico e diverso de nossa história republicana.

 

 

A Coleção Nilo Peçanha, pertencente ao Arquivo Histórico e Institucional do Museu da República, é formada por cerca de 20 mil documentos, sobretudo textuais, sendo em sua maioria correspondências. O acervo foi formado, principalmente, através das doações feitas pela viúva Anita Peçanha em 1948 e por Armênia Peçanha, irmã do titular, em 1960. Constam da coleção também 547 fotografias, nas quais se destaca o conjunto de imagens que retrata a campanha Reação Republicana.

 

*Silvia Pinho é historiadora do Arquivo Histórico e Institucional do Museu da República

Aspectos de Poços de Caldas impressos no papel fotográfico fabricado pelo pioneiro Conrado Wessel (1891 – 1993)

A Brasiliana Fotográfica destaca imagens de aspectos da cidade mineira de Poços de Caldas, impressas no papel fotográfico produzido pelo fotógrafo, inventor e empreendedor Conrado Wessel (1891 – 1993), pioneiro da indústria fotográfica no Brasil. Filho do fotógrafo argentino Guilherme Wessel (1862 – 1940), sua vida é um exemplo de desenvolvimento científico e inovação realizados no Brasil. As imagens pertencem ao acervo da Fundação Biblioteca Nacional, uma das fundadoras do portal, e, atrás de todas elas, produzidas em 1929, está escrita a marca do fabricante do papel no verso: “Wessel“. Também foram publicadas na seção “Cronologia de Fotógrafos”, as cronologias de Conrado e Guilherme, a 51ª e 52ª produzidas pelo portal.

 

Acessando o link para as fotografias de Poços de Caldas impressas no papel fotográfico produzido por Conrado Wessel disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

 

 

 

As trajetórias de Guilherme (1862 – 1940) e Conrado Wessel (1891 – 1993)

 

 

“Contribuiu decisivamente para a implantação da indústria fotográfica no país, pois fundou a primeira indústria de papel fotográfico no Brasil. Utilizou fórmulas e processos segundo sua concepção e auxiliou Valério Vieira na sensibilizaçaodo famoso painel “Panorama da Cidade de São Paulo. Introduziu o papel fotográfico tamanho postal, que se tornou conhecido por “Postaes Wessel Jardim” e que foram largamente consumido pelos lambe-lambe”. Sua indústria foi posteriormente adquirida pela Kodak e durante algum tempo lia-se nas casixas de papel fotográfico a sigla Kodak-Wessel”

Boris Kossoy sobre Conrado Wessel, 1975

 

O nome de batismo de  Conrado Wessel era Ubald Konrad August Wessel e ele nasceu em Buenos Aires, na Argentina, em 16 de fevereiro de 1891, filho do fotógrafo Guilherme Wessel (1862-1940), que havia nascido em Concepcion do Uruguai; e de Nicolina Krieger Wessel (1863 – 1956). Eles se casaram em 3 de março de 1887. A família Wessel, tradicional fabricante de chapéus em Hamburgo, na Alemanha, havia imigrado para a Argentina em meados do século XIX, provavelmente nos primeiros anos da década de 1860. Guilherme foi para Hamburgo onde formou-se em Física, e retornou à Argentina.

Em 1892, Guilherme foi com a família – mulher e dois filhos, Georg Walter (1888 – 1908) e Conrado – para Sorocaba e, depois, para São Paulo, convidado para lecionar na Escola Politécnica, que viria a ser uma das unidades fundadoras da Universidade de São Paulo, em 1934.

Ele abriu em sociedade com Carlos Norder, em 1900, um estabelecimento de artigos de fotografia e de laboratórios químicos, na rua São Bento, 41 A, no centro da capital, Aos Photograhos e Amadores da photographia. Oferecia gratuitamente aos amadores lições práticas e disponibilizavm para todos os fregueses um quarto escuro. Na mesma época, Guilherme Gaensly (1843 – 1928) tinha um ateliê fotográfico, na rua 15 de Novembro, 28 (O Estado de São Paulo, 3 de janeiro de 1900, página 2, sexta coluna; Correio Paulistano, 5 de janeiro de 1900Almanak Laemmert, segunda coluna, 1901)

 

 

 

O Estado de São Paulo, 3 de janeiro de 1900

O Estado de São Paulo, 3 de janeiro de 1900

 

Anunciava em dezembro de 1900 ter recebido grande sortimento de produtos: chapas Lumière, câmaras fotográficas e objetos para fotografia e distribuiu a seus fregueses, em dezembro do ano seguinte, uma carteira com espelho (O Commercio de São Paulo, 21 de dezembro de 1900; O Estado de São Paulo, 1º de janeiro de 1902, página 2, quarta coluna).

 

 

Em 1901, Guilherme já prestava serviços fotográficos para as secretarias da Fazenda, do Interior e da Justiça de São Paulo (O Estado de São Paulo, 6 de março de 1901, página 1, penúltima coluna; Correio Paulistano, 7 e março, quinta coluna; 4 de setembro, segunda coluna, de 1903; Correio Paulistano, 22 de setembro de 1904, última coluna; Correio Paulistano, 6 de janeiro de 1905, sétima coluna). Também tinha uma Casa Importadora de Artigos para Photografia e Aparelhos de Eletricidade, na rua Direita, nº 20 (Almanak Laemmert, primeira coluna, 1903).

 

Illustração Brasileira, 1905

Illustração Brasileira, 1905

 

Em 1904, Guilherme foi um dos doadores para a quermesse em prol do Instituto Pasteur de São Paulo e do Conservatório Dramático Municipal (Correio Paulistano, 11 de março de 1904, primeira coluna). Neste mesmo ano promoveu uma exposição de fotografias no intuito de estimular os amadores (O Commercio de São Paulo, 9 de julho de 1904, primeira coluna).

 

 

Em 1907, Guilherme tinha uma loja de artigos fotográficos na rua Líbero Badaró, 48. Nessa mesma época, Valério Vieira (1862 – 1941)Vincenzo Pastore (1865 – 1918) também possuiam estabelecimentos fotográficos em São Paulo.

 

 

O italiano Pastore, importante cronista visual de São Paulo da segunda metade do século XIX e do início do século XX, e Guilherme foram, provavelmente, amigos, já que Guilherme estava presente a seu enterro, em janeiro em 1918 (Almanak Laemmert, 1907primeira coluna; Almanak Henault, 1909Correio Paulistano, 19 de janeiro de 1918, terceira coluna).

 

 

Guilherme foi contratado pelo Jockey Club de São Paulo para inaugurar o serviço de fotografia de chegadas dos páreos (O Paiz, 23 de fevereiro de 1907, quarta colunaRevista da Semana, 3 de março de 1907).

 

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Trabalhava com seu filho mais velho Georg Walter, que faleceu de tifo, em 26 de dezembro de 1908, e foi enterrado no Cemitério dos Protestantes (Correio Paulistano, 2 de novembro de 1914, primeira coluna). Nesse mesmo ano, por cerca de seis meses, Conrado foi assistente de um cinegrafista da Gaumont, que havia vindo ao Brasil para filmar fazendas de café para a propaganda do produto na Europa, tornando-se um dos primeiros cinegrafistas do Brasil. Estava na folha de pagamentos da Secretaria da Fazenda de São Paulo (Correio Paulistano, 4 de novembro de 1908, sexta coluna).

“O primeiro documento expedido no Brasil atestando a capacidade para o exercício da função de cinegrafista foi fornecido ao químico Conrado Wessel, em 1908, pela Gaumont Films, uma das produtoras mais antigas da França. Wessel (1891-1993) conta em sua carta autobiográfica que recebeu o atestado das mãos de um cinegrafista da Gaumont, Colliot, que veio ao país contratado pela Secretaria de Agricultura de São Paulo.
Por mais de seis meses, ele foi intérprete e ajudante do cinegrafista francês e ambos filmaram várias fazendas de café, colhendo cenas para a propaganda do produto na Europa” (Ana Maria Guariglia, Folha de São Paulo, 2 de março de 1995).

Guilherme fechou a loja e, em 1909, continuou a trabalhar fornecendo fotografias para a Secretaria da Agricultura. Em 1911, recebeu pagamento da secretaria por ter fornecido 20 fotografias ao poeta Olavo Bilac (1865 – 1918). Em 1920, forneceu à Diretoria de Indústria e Comércio uma fita cinematográfica e ampliações fotográficas para a Feira de Lyon (Correio Paulistano, 12 de outubro de 1909, última coluna; Correio Paulistano, 7 de junho de 1911, terceira coluna; Correio Paulistano, 20 de março de 1912, terceira coluna; O Paiz, 21 de agosto de 1912, quinta coluna; O Combate, 3 de dezembro de 1920, última coluna).

 

 

Conrado, que havia feito seus primeiros estudos na Escola Alemã daVila Mariana, participou de um concurso de fotografia, apresentando 25 fotografias em um pavilhão especialmente preparado para a exposição, no Posto Zootécnico de São Paulo (Correio Paulistano, 21 de outubro de 1906, quinta coluna). Já havia conquistado dois prêmios como fotógrafo quando, em 1911, foi para Viena, na Áustria.

 

 

Além de estudar fotoquímica no K.K. Graphischen Lehr und Versuchsanstalt, entre julho de 1911 e dezembro de 1912 ,estagiou na Casa Beissner & Gottlieb, especializada na área gráfica e fotográfica, entre de 10 de julho de 1912 e 8 de fevereiro de 1913. Especializou-se em clichês para jornais e revistas.

 

 

Abaixo, a reprodução do certificado da Casa Beissner & Gottlieb, de Viena, de 8 de fevereiro de 1913, documentando o estágio profissional obrigatório realizado por Conrado Wessel, na conclusão de seus estudos no Instituto K.K. Graphischen Lehr und Versuchsanstalt.

 

 

Tradução: Atestado: Viena, 8 de fevereiro de 1913. O sr. Conrado Wessel, após ter terminado os estudos gráficos da K.K. Graphischen Lehr & Versuchsanstalt, esteve em nosso instituto em atividades práticas desde 10 de julho de 1912 até hoje. Trabalhou em diferentes departamentos e obteve sucesso e muitos bons resultados. Nós atestamos portanto com satisfação que estamos contentes pelo seu desempenho em cada índice, com extremado respeito por suas realizações, e desejamos a ele o maior progresso no futuro”.

Voltou para São Paulo, em 1913, com maquinário para a montagem de uma clicheria com o pai. Guilherme seguia trabalhando para a Secretaria da Fazenda e, em 1914, fez uma proposta para prorrogar por mais um ano o contrato que tinha de fornecimento de fotografias para a entidade (Correio Paulistano, 3 de fevereiro de 1914, quarta colunaCorreio Paulistano, 29 de julho de 1916, quarta coluna; Correio Paulistano, 13 de dezembro de 1917, terceira coluna; Correio Paulistano, 10 de janeiro de 1918, última coluna).

Em 1914, Conrado fotografou o Salto do Paranapanema durante uma visita realizada pelo então secretário da Agricultura de São Paulo, Paulo de Moraes Barros, ao local, quando inaugurou o primeiro trecho do prolongamento da ferrovia Sorocabana Railway na direção do Porto Tibiriçá (Correio Paulistano, 16 de fevereiro de 1914, sexta coluna).

Entre 1915 e 1919, foi aluno ouvinte na Escola Politécnica e também trabalhou como auxiliar no laboratório do professor de bioquímica, físico-química e eletroquímica Roberto Hottinger, no curso de Engenharia Química. Conrado queria criar um papel fotográfico de qualidade equivalente a dos importados – os usados eram da Kodak, da Agfa e da Gevaert – porém com um preço mais baixo.

Segundo o próprio:

“Durante quatro anos fiz de tudo ali. Desde a preparação do nitrato de prata até os estudos das diferentes qualidades de gelatinas. Da ação dos halogênios como o bromo, o cloro, e o iodo sobre o nitrato de prata ao brommeto de potássio. Cheguei à conclusão que a mistura de uma pequena dose de iodo ao bromo dava muito melhor resultado, assim como a adição do iodo ao cloro”.

O entusiasmo de um inventor (2006)

 

Em 1916, Guilherme seguia trabalhando para a Secretaria de Agricultura (A Gazeta (SP), 18 de janeiro de 1916, quarta coluna) e Conrado já estava desenvolvendo uma fórmula para banhar o papel que batizou de Postal Jardim, para atrair os lambe-lambes do Jardim da Luz. Em fevereiro, foi à inauguração da exposição de Levino Fanzeres (1884 – 1956), na rua Líbero Badaró, 66 (O Estado de São Paulo, 28 de fevereiro, página 2, última coluna).

Em 10 de novembro de 1916, Guilherme consultou a empresa International Patent Agency, de Moura & Wilson, que eram agentes de privilégios sediados no Rio de Janeiro, com o objetivo de se informar quanto aos procedimentos de requerimento de uma patente. A empresa respondeu três dias depois, dispondo-se a providenciar a patente mediante ao fornecimento dos documentos necessários e ao pagamento de Rs 220$000.

Em 1917, Guilherme Wessel possuia uma Oficina de Gravura, na Travessa Guaianazes, 155, na Barra Funda. em 1921, o Almanak Laemmert identificava no endereço um estabelecimento fotográfico (Almanak Laemmert, 1917 e 1921, última coluna). Em 1921, um dos funcionários da oficina sofreu um pequeno acidente (O Combate, 12 de maio de 1921, penútima coluna).

 

 

Em 1919, Conrado comprou uma casa na rua K , em Casa Verde (Correio Paulistano, 5 de fevereiro de 1919, quinta coluna).

A fórmula de Conrado, patenteada no início em 1921, em documento assinado pelo presidente da República, Epitácio Pessoa (1865 – 1942), foi descrita como um “novo processo para fabricação de material photographico, sensível à luz, para o processo positivo e negativo, à base de emulsões de saes de prata ou gelatina, albumina ou collodio, servindo de supportes para estas emulsões papel, vidro, celluloide ou qualquer outro supporte que seja appropriado”.

 

 

 

Em 1921, Conrado comprou do professor de Filosofia da Escola Normal, dr. Picarollo, e de seu filho o maquinário necessário, importou papel da Alemanha e começou a trabalhar em um pequeno prédio de seu pai, na Barra Funda. Enquanto aguardava a chegada do papel, um acaso o ajudou a criar uma forma de pendurar o papel emulsionado para a secagem, uma vez que dispunha de pouco espaço. Realizava um trabalho de propaganda para a Tapeçaria Schultz e observou o sistema de cortinas movimentadas por cordas. Achou que um processo semelhante poderia ser usado para secar metros e metros de papel. Mas a experiência foi um desastre. Nem 10 centímetros foram aproveitados dos 10 metros de papel emulsionados. Teria que encontrar outra solução.

 

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Surgia assim, em março de 1921, a primeira fábrica de papel fotográfico da América Latina, a Fábrica Privilegiada de Papéis Fotográficos Wessel, sediada na rua Lopes de Oliveira, em São Paulo.

 

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Apesar da qualidade do papel fotográfico e de ter melhor preço, os consumidores resistiam a utilizar um produto nacional e continuava a utilizar o postal da Ridax e da Gevaert. Foi nessa época que Wessel forjou o lema que o acompanharia por toda a vida: “Insista, não desista”.

Em 1922, foi inaugurada a exposição provisória do Panorama de São Paulo, na rua São Bento, nº 24, do fotógrafo Valério Vieira (1862 – 1941), anunciada como a maior fotografia já realizada no mundo, com 16 metros (Correio Paulistano, 6 de setembro de 1922, na segunda coluna e 7 de setembro, na quarta coluna). O trabalho foi apresentado na Exposição do Centenário da Independência, no Rio de Janeiro, realizada entre 7 de setembro de 1922 e 24 de julho de 1923. Foi Conrado que possibilitou a impressão da foto em uma solução de brometo de sais de prata (O Estado de São Paulo, 13 de agosto de 1998).

 

 

Dois anos depois, um acontecimento histórico ajudou os negócios de Conrado: entre 5 e 28 de julho de 1924, São Paulo ficou sitiada devido à eclosão da Revolução dos Tenentes ou Revolta Paulista, liderada por Isidoro Dias Lopes (1865 – 1949) e motivada pelo descontentamento dos militares com a crise econômica e a concentração de poder nas mãos de políticos de Minas Gerais e de São Paulo. Devido ao violento conflito urbano, faltou papel importado para os fotógrafos que atuavam, principalmente, no Jardim da Luz, e eles passaram a comprar de Wessel. Quando a rebelião terminou, o fornecimento de papel importado foi restabelecido, mas Wessel já havia conquistado uma clientela fiel. Sua empresa começou a prosperar.

Durante a década de 30, Conrado adquiriu vários imóveis e terrenos, dentre eles um terreno e um prédio na alameda Eduardo Prado, nº 18; o prédio da rua Santo Antônio, nº 89; o prédio da rua Anna Cintra, 34; um prédio na rua Lopes de Oliveira; e um prédio na Conselheiro Belisário, 96 (O Estado de São Paulo,12 de outubro de 1931, página 3, segunda coluna; 24 de junho de 1932, página 3, segunda coluna; 15 de agosto de 1934, página 3, quarta coluna; 5 de novembro de 1935, página 7; e 6 de maio de 1936, página 10, penúltima coluna; Correio Paulistano, 29 de setembro de 1934, sexta coluna; 6 de outubro, primeira coluna, de 1934; 23 de fevereiro de 1935, quinta coluna).

Na revista O Malho, de 2 de janeiro de 1932, publicação de uma fotografia de autoria de Conrado Wessel.

 

 

No mesmo ano, o ministro interino do Trabalho declarou caduca a patente de Wessel (Jornal do Commercio, 18 de março de 1932, segunda coluna). Pelo o que se seguiu, tudo indica que essa decisão foi revogada.

 

 

A residência e a fábrica de Conrado ficavam na rua Lopes de Oliveira, 18. Foi roubado um pacote de papel de sua fabricação mas ele conseguiu encontrar o autor do furto (Correio de São Paulo, 30 de novembro de 1933, terceira coluna).

Ainda na década de 30, foram as bobinas de papel produzidas pela firma de Conrado que alimentaram o sistema Photo Rotativo usado pelo fotógrafo Theodor Preising (1883 – 1962). Tratava-se de um mecanismo que produzia fotografias no formato postal e 18 x 24cm para álbuns a partir de até dois negativos.

 

 

Falecimento de Guilherme Wessel, em 25 de janeiro de 1940 (O Estado de São Paulo, 26 de janeiro de 1940, página 4, quinta coluna).

 

O Estado de São Paulo, 28 de janeiro de 1940

O Estado de São Paulo, 28 de janeiro de 1940

 

Em setembro de 1954, conforme acordado, em 1949, tanto a fábrica, construída em Santo Amaro pela Kodak, quanto a patente de Conrado passou a pertencer à empresa norte-americana, na época líder do mercado fotográfico, denominand0-se Kodak – Wessel. Àquela altura, após décadas dirigindo seu negócio, Conrado já havia consolidado seu patrimônio.

 

 

Sua mãe, Nicolina Krieger Wessel, faleceu, em 7 de novembro de 1956, aos 93 anos, em São Paulo (O Estado de São Paulo, 8 de novembro de 1956, página 7, terceira coluna).

 

O Estado de São Paulo, 8 de novembro de 1956

O Estado de São Paulo, 8 de novembro de 1956

 

No Suplemento Literário do O Estado de São Paulo, de 24 de novembro de 1974, foi publicado o artigo O fotógrafo ambulante – a história da fotografia nas praças de São Paulo, do professor Boris Kossoy (1941-), e a importância de Conrado foi destacada.

Conrado Wessel  faleceu, em 23 de maio de 1993, sem herdeiros e em seu testamento, datado de 11 de maio de 1988, foi determinado que seus bens fossem destinados à criação da Fundação Conrado Wessel, fundada, em 20 de maio de 1994, para a difusão da arte, da ciência e da cultura. O primeiro diretor-presidente da fundação foi Antônio Valério Lorenzini, que havia, assim como seu pai, trabalhado anos com Conrado (O Estado de São Paulo, 29 de janeiro de 1999). Em 2003, A Fundação Conrado Wessel passou a distribuir, anualmente, prêmios nas categorias de Arte, Ciência, Cultura e Medicina.

 Link para a Cronologia de Guilherme (1862 – 1940) e Conrado Wessel (1891 – 1993)

 

Poços de Caldas

 

 

Poços de Caldas, em Minas Gerais, foi fundada em 6 de novembro de 1872 e suas águas raras e com poderes de cura foram responsáveis pela prosperidade da cidade. Seu nome tem origem na cidade de Caldas da Rainha, importante terma em Portugal. Como as fontes eram poços usados por animais, o nome da cidade mineira ficou Poços de Caldas.

Em 1886, funcionava em Poços um balneário voltado ao tratamento de doenças de pele, que utilizava as águas sulfurosas que eram captadas pela Fonte Pedro Botelho (O Paiz, 29 de setembro de 1886, quarta coluna).

 

 

Neste ano, foi visitado, em outubro, por Pedro II (1825 – 1891) e por dona Teresa Cristina (1822 – 1889), que ficaram em um chalé feito especialmente para receber o casal, no Hotel da Empreza – Empresa Balneária, que funcionou como concessionária das termas nos anos 1880-, pelo engenheiro alemão Carlos Alberto Maywald e pelo arquiteto italiano Giovanni Battista Pansini. O casal imperial estava na região devido à inauguração do ramal de Caldas da Estrada de Ferro Mogiana, em 22 de outubro de 1886 (O Paiz, 25 de outubro de 1886, sétima coluna).

 

 

O balneário foi demolido nos anos 20 e substituído pelo conjunto arquitetônico de Eduardo Pederneiras, composto pelo Palace Hotel, de 1923 e reinaugurado em 1929; pelas Thermas Antônio Carlos e pelo Palace Cassino, inaugurados em 29 de março e 31 de março de 1931, respectivamente.

 

 

 

As Thermas Antônio Carlos foi o primeiro estabelecimento termal do Brasil a oferecer uma série de serviços e tratamentos de saúde a partir do uso da água termal. Sua gestão é feita pelo governo de Minas Gerais desde 2018.

O Palace Cassino fez muito sucesso e era frequentado pela aristocracia brasileira e lá aconteciam shows com artistas como Carmen Miranda, Sylvio Caldas e Orlando Silva. Com a assinatura do decreto-lei 9 215, de 30 de abril de 1946, pelo presidente Eurico Gaspar Dutra, determinando a proibição do jogo no país, o cassino fechou suas portas. Muitos anos depois foi restaurado tornando-se patrimônio histórico e arquitetônico da cidade que até hoje é um importante destino turístico.

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Enciclopédia Itaú Cultural

Especial Prêmio Conrado Wessel – Pesquisa Fapesp, 2004

Folha de São Paulo, 6 de junho de 2004

Fundação Conrado Wessel

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002. 408 p., il. p&b.

LEMOS, Eric Danze. Fotografia profissional, arquivo e circulação: a produção de Theodor Preising em São Paulo (1920 – 1940).  Dissertação apresentada ao programa de Pós-Graduação em História Social do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 2016

MEGALE. Nilza Botelho. Memórias Históricas de Poços de Caldas. Minas Gerais : Gráfica Dom Bosco, 1990.

MOURÃO, Mário. Poços de Caldas – Synthese Historica e Cronologica, 1933.

Revista Pesquisa Fapesp – O entusiasmo de um inventor

Revista Pesquisa Fapesp – Rumos de um inventor

Revista Pesquisa Fapesp – Trajetória de um inventor

Site Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais

Site Memórias de Poços

Site Palace Cassino

Site Poços.com

Série “1922 – Hoje, há 100 anos” I – Os Batutas embarcam para Paris, em 29 de janeiro – Uma história de música e de racismo

A Brasiliana Fotográfica inaugura a Série 1922 – Hoje, há 100 anos com o artigo Os Batutas embarcam para Paris, em 29 de janeiro – Uma história de música e de racismo, contando um pouco da história da turnê parisiense dos Batutas, considerado o primeiro grupo de música popular brasileira a alcançar projeção internacional. Tinha, entre seus integrantes, dois expoentes: o virtuoso Alfredo da Rocha Vianna Filho, o Pixinguinha (1897 – 1973), o maior chorão de todos os tempos; e Joaquim Maria dos Santos, o Donga (1891 – 1974), um dos autores daquele que é um dos primeiros sambas gravados no Brasil, Pelo Telefone, registrado em 27 de novembro de 1916.

“A verdade é que o choro me agrada mais por ser mais trabalhado, com três partes, cada uma delas com dezesseis compassos, e não apenas oito, como no samba. Depois, o choro, que me parece originado da polca (uma das músicas de salão da época), era para mim a forma metódica através da qual eu podia expressar meus sentimentos”

Pixinguinha (1966)

“O ritmo caracteriza um povo. Quando o homem primitivo quis se acompanhar, bateu palmas. As mãos foram, portanto, um dos primeiros instrumentos musicais. Mas como a humanidade é folgada e não quer se machucar, começou a sacrificar os animais, para tirar o couro. Surgiu o pandeiro. E veio o samba. E surgiu o brasileiro, povo que lê música com mais velocidade do que qualquer outro no mundo, porque já nasce se mexendo muito, com ritmo, agitadinho, e depois vira capoeira até no enxergar”.

Donga (1966)

Ao longo do ano, serão publicados no portal artigos com imagens de fatos importantes ocorridos em 1922 como a Semana de Arte Moderna e a Exposição do Centenário da Independência do Brasil. A temporada dos Batutas que, em 29 de janeiro de 1922, embarcaram para a França, foi um sucesso e causou polêmica e ataques racistas, veiculados na imprensa brasileira. Uma curiosidade: os Batutas e o fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923) retornaram da França no mesmo navio, o Lutetia, e chegaram ao Brasil em 14 de agosto de 1922.

 

 

Acessando o link para as imagens dos Batutas disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

O dançarino Duque, o empresário Arnaldo Guinle e os Oito Batutas

 

“Pixinguinha nem sequer era músico. Era música – e essa seria a melhor palavra para defini-lo, explicá-lo e amá-lo”.

Carlos Heitor Cony

O dentista, dançarino, compositor e jornalista baiano Antônio Lopes de Amorim Diniz (1884-1953), conhecido como Duque, conheceu no Assyrio, cabaré no subsolo do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, os Oito Batutas, que tocavam enquanto ele dançava com sua parceira, a dançarina e manequim francesa Gaby, entre fins de 1921 e início de 1922.

Foi noticiado que Pixinguinha tinha reassumido a função de diretor de harmonia do bloco carnavalesco de Reinado de Siva.

 

 

Mas então:

“Menos de três semanas depois, Pixinguinha estava trocando o palácio do Reinado de Siva, na rua Senador Pompeu pelo Shérérazade, 16, Faubourg Montmartre, em Paris. Isto porque, nessas três semanas abençoadas, Ogum resolveu usar sua espada para abrir as portas do mundo para seu filho de fé e seus sete companheiros. Para transportá-los, usou como veículo o Assyrio, cabaré instalado no subsolo do Teatro Municipal. Ali são ouvidos todas as noites pela fina flor da sociedade boemia carioca. Ali, no mesmo espetáculo, um casal de bailarinos de fama internacional empolga o público dançando o ritmo que, durante anos e anos, fora uma dança excomungada, anatematizada, proibida às moças e aos rapazes de família. Duque e Gaby dançam o maxixe, ou la matchiche, como preferiam os almofadinhas da época”.

Filho de Ogum Bexiguento, página 49.



 

Segundo Pixinguinha, na Série Depoimentos:

“Bem, o Duque era um bailarino aristocrático. Ele dançava um maxixe aristocrático. Era um malabarista. Duque empolgou todo mundo. Não era um maxixe como a gente via em certos lugares. Era um sujeito muito delicado. Dançava um maxixe clássico. Quando chegamos em Paris conhecemos a academia dele. Era uma academia que ensinava a dança do maxixe brasileiro. Quando Duque chegava no salão, todo mundo disputava o privilégio de dançar com ele. Eram princesas, reis, etc, Sim, senhores, até rei apareceu para dançar com ele. Foi ele que pediu ao Arnaldo Guinle para nos levar para Paris. Ele gostava muito do que a gente fazia e interpretava a nossa música nos pés. Depois de quatro compassos ele já estava criando coisas novas nos pés. E tinha a Gaby, uma francesa que compreendia perfeitamente o Duque”.

 

O Duque havia se mudado de Salvador para o Rio de Janeiro, em 1906. Três anos depois, começou a viajar pelo mundo. Chegou em Paris, conforme artigo que escreveu para a revista O Cruzeiro, em 1912, quando passou a dançar em restaurantes e bares com a dançarina ítalo-brasileira Maria del Nigri, conhecida como Maria Lino, a Rainha do Maxixe (c. 1880 – 1940). Ganharam, em 1913, o primeiro prêmio em uma competição em Berlim. Também foram suas parceiras Arlette Dorgère (1880 -1965) e Gaby. Tornou-se dono de academias de dança em Paris e no Rio de Janeiro, tendo sido responsável pela difusão do maxixe em capitais como Berlim, Buenos Aires, Montevidéu, Londres, Nova York e Paris, numa época em que o ritmo era considerado imoral por boa parte da sociedade brasileira. Em 1921, havia, após uma temporada no Brasil com sua parceira Gaby, retornado à França, onde estrelou um espetáculo na Ópera de Paris com o compositor e violinista paulista Nicolino Milano (1876 – 1962) e apresentou o samba na peça La Proie (A Presa), de Regina Regis de Oliveira (18? – 1956), no Teatro Albert I, também em Paris. Foi provavelmente a primeira exibição de samba em um palco europeu (L´Esprit Nouveau, página 106A Gazeta (SP), 8 de março de 1921, sexta colunaJornal do Brasil, 2 de abril de 1921, terceira coluna D. Quixote, 18 de maio de 1921, primeira coluna).

 

 

Foi, como mencionado por Pixinguinha, o Duque que pediu ao empresário Arnaldo Guinle (1884 – 1963) que patrocinasse a excursão dos Batutas à França, em janeiro de 1922, para a divulgação da música popular brasileira no cenário internacional. Mecenas das artes e dos esportes, Arnaldo Guinle foi um dos homens mais ricos do Brasil, cuja fortuna era oriunda da exploração do Porto de Santos. Além do suporte financeiro de Guinle, Duque conseguiu apoio político-diplomático de Lauro Müller (1863 – 1926), o que, segundo o antropólogo Rafael José de Menezes Bastos, imprimiu na jornada uma idéia, diríamos, de missão quase diplomática. Duque e Guinle haviam se conhecido na França, já que Guinle vivia entre o Rio de Janeiro e Paris. O general e engenheiro militar Lauro Müller, ministro das Relações Exteriores entre 1912 e 1917, havia conhecido os Batutas por ter sido um assíduo frequentador da noite carioca. Mas o governo não contribuiu financeiramente para a viagem. Segundo Donga, em depoimento para o Museu da Imagem e do Som:

“Absolutamente. O grande brasileiro Arnaldo Guinle nos levou para lá sem it, com essa pelezinha escura e tudo, sem medo de levar vaia. Viajamos às custas dele”.

Guinle contratava, desde 1919, os Batutas, que conheceu tocando na sala de espera do Cine Palais, para saraus em sua mansão no bairro das Laranjeiras. Patrocinou, com o apoio de Irineu Marinho (1876 – 1925), fundador do jornal O GLOBO, uma turnê do grupo pelo Brasil, iniciada em outubro de 1919 por São Paulo e Minas Gerais e encerrada, no ano seguinte, pela Bahia e por Pernambuco. O objetivo da turnê, além da realização de apresentações artísticas, era recolher e catalogar ritmos para integrar uma antologia de música folclórica sob a supervisão do escritor Coelho Neto (1864 – 1934) que, por seu estilo literário, considerado ultrapassado, sofreu fortes críticas na Semana de Arte Moderna de 1922, tema do próximo artigo da Série 1922: Hoje, há 100 anos.

 

 

Segundo o depoimento de Donga para o Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro:

“O dr. Arnaldo, como bom brasileiro que era, simpatizou com a gente. Pensou e combinou com o Coelho Neto uma antologia, recolhendo material através de pessoas idôneas. Ele, junto com o Floresta de Miranda, nos procurou e disse: “amanhã você vai à minha casa em Copacabana”. Eu fui junto com o Pixinguinha. Nós estávamos há 20 dias sem função e o dinheiro tinha acabado. Ele explicou o que queria e perguntou o que achávamos. Nós dissemos que íamos fazer uma excursão ao Norte e o dr. Arnaldo pediu que incluíssemos o João Pernambuco, porque assim ele faria algumas coisas para ele. Assim foi feito, nós fomos a Pernambuco, Bahia, etc, e o João Pernambuco recolheu uma porção de coisas e trouxe. Mas não era o bastante. O dr. Arnaldo disse para o João Pernambuco que ia prosseguir na colheita, mas só que dessa vez levaria um músico para escrever, porque ele só havia trazido letras e músicas de memória. Disse ainda que pagaria tudo. Eu não sei o que eles arranjaram, ele e Pixinguinha, porque o dr. Arnaldo ficou zangado e não quis saber de mais nada. O João Pernambuco era meio egoísta e parece que pediu demais. Eu não sabia de nada. Depois de alguns dias o Patricio Teixeira me deu um recado que o dr. Arnaldo queria falar comigo. Eu fui e ele disse: “Não quero mais saber de histórias com o João Pernambuco e com o Pixinguinha”. Eu então combinei tudo com ele, que exigiu a presença de um músico na viagem. Eu comecei a enrolar um pouco e toda vez que o Floresta de Miranda me procurava para informar ao dr. Arnaldo eu dava sempre uma desculpa: “Olha, eu queria o Zezé, mas ele para escrever música de folclore é difícil e como tem o Pixinguinha, este seria melhor”. Parece que o Floresta de Miranda disse isso ao dr. Arnaldo e ele amoloceu um pouco com respeito ao Pixinguinha. Com o João Pernambuco ele nunca mais falou até morrer. Nas proximidades da viagem eu disse ao dr. Arnaldo: “eu acho que vou levar o Pixinguinha”. Ele respondeu: “você leva quem quiser, apanhe o dinheiro lá na rua Sete de Setembro”. Era tudo pago. Estivemos então em Morro Velho, Minas, Bahia, etc. Pixinguinha trouxe tudo escrito, tudo bem feito, e o dr. Arnaldo ficou satisfeito”.

Segundo o historiador Clóvis Bulcão, essas pesquisas foram responsáveis pelo encontro dos Guinles com Heitor Villa-Lobos (1887 – 1959), pois foi o compositor o encarregado pela organização do material. Em 1923,  Arnaldo Guinle deu a Villa-Lobos duzentos contos de réis para que ele fosse aprimorar sua arte na França.

 

A temporada dos Batutas em Paris (1922)

 

Chegamos ao dia do embarque. No dia 29 de janeiro de 1922, o grupo formado então pelos músicos Alfredo da Rocha Vianna Filho, o Pixinguinha (1897 – 1973); seu irmão, Octávio (1888 – 1926), conhecido como China; Joaquim Maria dos Santos, o Donga (1891 – 1974); Nelson Alves (1895 – 1960), Sizenando Santos (o Feniano), José Monteiro e José Alves de Lima embarcou no navio transatlântico Massília rumo à França (O Jornal, 24 de janeiro, segunda coluna e 28 de janeiro, última coluna de 1922; O Paiz, 29 de janeiro de 1922, quarta coluna). Os últimos dois substituíram os irmãos Jacob e Raul Palmieri (1887 – 1968), que desistiram da viagem. O baterista Joaquim Silveira Tomás (1898 – 1948), o J. Tomás, adoeceu e não pode viajar com o grupo. Ao longo de sua existência, entre 1919 e 1931, a formação dos Batutas variou.

Para Paris foram mesmo sete batutas. Foi o primeiro conjunto brasileiro a apresentar na Europa a música urbana produzida no Rio de Janeiro na época. Tocaram durante os seis meses que ficaram em Paris, na época a capital cultural do mundo, choros, maxixes, polcas, tangos brasileiros, sambas, lundus, batuques, valsas, cateretês, emboladas, cocos e toadas sertanejas.

 

 

Chegaram em 11 de fevereiro, no porto de Bordeaux, na França e foram recepcionados na Gare d´Orsay, em Paris, no dia seguinte, pelo Duque e pelo jornalista Floresta de Miranda, secretário particular de Guinle. Nos meses seguintes, como Les Batutas, seriam atração fixa numa badalada casa noturna de Paris, o dancing Shéhérazade, na Faubourg Montmartre, 16, cujo diretor artístico era o Duque, responsável pelo convite ao conjunto. O proprietário era G. Calmet.

 

Interior do cabaré Sheherazade

Interior do cabaré Shéhérazade / Pixinguinha, Vida e Obra

 

A chegada do grupo em Paris foi noticiada por alguns jornais franceses:

 

Le Gaulois, 11 de fevereiro de 1922

“Fala-se bastante dos “Batutas” no mundo artístico. É com curiosidade que esperamos por sua muito próxima estreia” / Le Gaulois, 11 de fevereiro de 1922

 

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“Os Batutas, que chegaram do Brasil, farão esta semana sensacional estreia em Paris” / Le Gaulois, 12 de fevereiro de 1922

 

 

“Les Batutas, cet extraordinaire orchestre brésilien, unique au monde, d’une gaieté endiablée, composé de virtuoses surnommés les rois du rythme et de la samba, joue tous les jours aux thés et aux soupers de Shéhérazade, 16, Faubourg Montmartre. Direction: Duque” (Tradução: Os Batutas, esta extraordinária orquestra brasileira, única no mundo, com alegria frenética, composta por virtuosos apelidados de reis do ritmo e do samba, toca todos os dias nos chás e jantares do Shéhérazade, 16, Faubourg Montmartre. Direção: Duque).

 Le Journal, 14 de fevereiro de 1922

 

A Primeira Guerra Mundial havia acabado há pouco tempo e Paris fervilhava na euforia do pós-guerra, ocupada por músicos do mundo inteiro, principalmente dos Estados Unidos e das Antilhas, e por artistas de vanguarda, o que tornava trepidantes a atmosfera cultural da cidade, seu ritmo e sua noite. Eram os Anos Loucos. Como definiu o escritor norte-americano Ernest Hemingway (1899 – 1961): Paris é uma festa. Os intelectuais estavam interessados em antropologia e por estudos sobre a África, o que propiciava um ambiente receptivo para movimentos artísticos relacionados com a cultura negra, caso dos Batutas, recebidos com simpatia por simbolizar um certo exotismo, em voga na ocasiãoMuitas bandas de jazz apresentavam-se no Shéhérazade, identificado pela imprensa parisiense como um palácio das mil e uma noites. O dancing, onde os Batutas se apresentaram, era frequentado por intelectuais, pela aristocracia, por políticos e artistas de renome – era o ponto de encontro da elite que circulava na capital francesa. Pixinguinha entrou em contato com o charleston, o foxtrote, o shimmie e o ragtime. Foi, posteriormente, acusado de ter sido influenciado pelo jazz norte-americano.

Foi durante a temporada em Paris que Pixinguinha passou a tocar saxofone. Gostou tanto do instrumento que acabou sendo presenteado com um por Arnaldo Guinle, que também enviou para o Brasil uma bateria para J. Tomás, o batuta que na última hora ficou doente e não pode seguir para Paris com o grupo.

 

“Foi em Paris. Quando viajei para lá não tocava saxofone. Tocava flauta. No conjunto que se apresentava na casa em frente aos Shéhérazade, havia um violoncelista que, durante a apresentação, mudava do violoncelo para o saxofone, principalmente na hora de tocar o shimmy. Um dia, Arnaldo Guinle me perguntou: “Você toca aquele instrumento?”. Respondi: “Eu toco”. Na verdade, eu já conhecia a escala do instrumento e sabia que era quase igual à flauta”. Então vou mandar fazer um saxofone pra você”, me disse Arnaldo Guinle. Um mês depois o saxofone estava pronto. Levei o instrumento para o hotel e ensaiei. No outro dia já estava tocando uns chorinhos no saxofone. Mas só toquei naquele dia, porque não queria magoar o músico da casa em frente. Toquei só para o Arnaldo Guinle ver. Ele viu e ficou satisfeito. Depois, fiquei só na flauta. Quando voltei para o Brasil é que passei a tocar mais saxofone. Mas nós trouxemos outras novidades. Na volta, o nosso pessoal estava tocando violão-banjo, cavaquinho-banjo, estas coisas”.

Pixinguinha, na Série Depoimentos

 

As apresentações fizeram sucesso com o público e com a imprensa parisiense. E os Batutas, que haviam sido contratados para uma temporada de um mês no Shéhérazade, com um salário de 3.500 réis, ficaram na cidade por cerca de 6 meses. O grupo executava músicas como Dádiva de Amor, composta por Donga, em Paris; Fala Baixo, de Sinhô (1888 – 1930)Gargalhada, de Pixinguinha; Les Batutas, também de Pixinguinha e com letra de Duque; e Vem vovó, de Álvaro Sandim (1862 – 1919).

 

Le Galois, 25 de fevereiro de 1922

No Shéhérazade: Os Batutas, a célebre orquestra brasileira única no mundo, estreou com gande sucesso no Shéhérazade, o feérico estabelecimento do faubourg Montmartre. Vá ouvir os Batutas, você não vai se arrepender de sua viagem / Le Galois, 25 de fevereiro de 1922

 

 

A partir de maio,  apresentaram-se no Chez Duque, na rue Caumartin, 17, cujo proprietário era o Duque; e, em 1º de junho, eles e a prestigiada Bernard Kay’s American Jazz Band estavam presentes na inauguração dos Chás Dançantes, na Reserve de Saint-Cloud, na boulevard Senard. Fizeram também um show em homenagem ao norte-americano Jack Dempsey (1895 – 1993), campeão mundial dos pesos pesados de 1919 a 1926 (O Imparcial, 15 de agosto de 1922).

 

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Anúncio da inauguração dos Chás Dançantes no La Reserve de Saint-Cloud / Pixinguinha, Vida e Obra

 

Segundo Donga, fizeram uma apresentação para a família real brasileira que residia em Paris. Sebastião Braga, em seu livro O Lendário Pixinguinha, menciona uma apresentação do músico no Conservatório de Paris, quando Pixinguinha teria tocado a polca Gargalhada e os diretores do Instituto de Música da França, em respeito, teriam lhe dado uma flauta de prata. De acordo com o jornalista e musicólogo Lúcio Rangel (1914 – 1979), o primeiro prêmio de flauta do Conservatório de Paris, Harold de Bozzi, teria ficado embasbacado com Pixinguinha.

Por intermédio de Olivia Penteado (1872 – 1934), grande incentivadora do modernismo no Brasil e ligada ao movimento intelectual que desencadeou a Semana de Arte Moderna, os Batutas foram convidados pelo embaixador Luiz Martins de Souza Dantas (1876 – 1954) para participar de uma festa organizada pelo Comitê França-América, no Palais des Affaires Publiques. Souza Dantas (1876 – 1954), que servia como chefe da representação brasileira em Roma e que, em novembro de 1922, assumiu a embaixada brasileira na França, era um dos anfitriões do evento. Vale lembrar que Souza Dantas foi proclamado, no Museu do Holocausto, em Israel, em 2003, Justo entre as nações, por ter arriscado sua vida para ajudar os judeus perseguidos pelo nazimo e pelo fascismo.

 

Le Gaulois, 26 de junho de 1922

Le Gaulois, 26 de junho de 1922

 

A polêmica em torno da ida dos Batutas a Paris – O Racismo

 

Mas aqui no Brasil, a excursão do grupo à Europa suscitou polêmica e debates nos jornais, ora defendendo os Batutas ora os atacando com declarações abertamente racistas. A música popular como representante da cultura nacional também fez parte da discussão. Porém ataques racistas não eram novidades para os Batutas, que foram alvos deles desde seu início, em 1919 (Fon-Fon, 19 de abril de 1919).

“Desde sua fundação Os Oito Batutas geraram polêmica. O fato de serem em sua maioria negros e o tipo de música que faziam eram motivos para controvérsia. Identificá-los à genuína musicalidade nacional, significava para muitos uma desqualificação em termos de uma pretensa universalidade – equacionada com o cânone da música clássico-romântica ocidental – e um veredicto de provincianismo. Além disso, a negritude era vista como sinal de inferioridade sociocultural”.

Rafael José de Menezes Bastos

 

Segundo Sérgio Cabral, no livro Pixinguinha – Vida e Obra (1997), na ocasião da estreia do grupo no Cine Palais, que reabria suas portas, em 1919, o pianista e maestro paulista Júlio Cesar do Lago Reis (1863 – 1933), em sua coluna de música no jornal A Rua, se disse envergonhado com o que considerava um escândalo. Afinal, como poderia um grupo musical composto de afro-descendentes se apresentar em um endereço chique e elegante, um cinema na antiga avenida Central? 

Na Revista da Semana, do início de abril de 1919, em nota atribuida ao jornalista Xavier Pinheiro, veio a resposta à crítica de Júlio Reis que, segundo ele:

“(não aceita) pela sua fina educação artística, que o violão, o cavaquinho, o reco-reco, o chocalho e a flauta interpretem as modinhas, as chulas, os sambas, os tangos e outras composições que tenham cunho nacional, na sala de espera de qualquer cinema da avenida porque isso é ofensivo aos ouvidos educados da grande maioria da nossa sociedade composta de uma boa parte de nossa aristocracia. O defensor de nossa sociedade aristocrática está enganado na apreciação da orquestra dos Oito Batutas. Aqueles rapazes morenos, que levam horas a cantar as encantadoras modinhas da nossa terra e as executam na flauta, no violão, no reco-reco, no cavaquinho e no chocalho, têm sido apreciados pela nossa finíssima sociedade, não têm escandalizado, têm obtido ruidoso sucesso…A Orquestra dos Oito Batutas foi mal apreciada pelo aplaudidíssimo e popular maestro Julio Reis porque aqueles rapazes tocam e cantam com clima, com sentimento, interpretam a música muito melhor do que certos e conceituados artistas que andam por aí…O maestro Júlio Reis foi severo. Foi injustíssimo com os morenos que ganham sua vida com brilho e aplauso no Cine Palais. Eles tocam bem, são da nossa terra, têm compostura, agradam a todos e o povo que ali vai gosta da flauta de Pixinguinha, do violão de Donga, do cavaquinho do Nelson e dos outros caboclos seus companheiros”.

Os ataques racistas, segundo os quais os Batutas desmoralizariam o Brasil levando para Paris o que o país tinha de pior para o seio da civilização da Europa, recrudesceram, em 1922. O cronista A. Fernandes escreveu no Diário de Pernambuco: “Não sei se a coisa é para rir ou para chorar. Seja como for, o boulevard vai se ocupar de nós. Não do Brasil de Arthur Napoleão, de Osvaldo Cruz, de Rui Barbosa, de Oliveira Lima, não do Brasil expoente, do Brasil elite, mas do Brasil pernóstico, negróide e ridículo e de que la chanson oportunamente tomará conta” (Diário de Pernambuco, 1º de fevereiro de 1922, segunda coluna). Uma observação: o destacado político baiano Ruy Barbosa (1849 – 1923) era grande fã dos Batutas e presença frequente nas apresentações do grupo no Cine Palais.

O cronista que se assinava como S, no Jornal do Commercio, em 1º de fevereiro de 1922, descreveu os Batutas como oito, aliás, nove pardavascos que tocam violas, pandeiros e outros instrumentos rudimentares” e lamentava“não haver uma política inexorável que, legalmente, os fisgasse pelo cós e os retirasse de bordo com a manopla rija, impedindo-lhes a partida no liner da Mala Real!”.

Segundo o artigo do jornalista e escritor Benjamin Costallat (1897 – 1961), publicado na Gazeta de Notícias de 22 de janeiro de 1922, foi um verdadeiro escândalo a presença dos Batutas no Cine Palais, em 1919, assim como o anúncio da ida do grupo para Paris. Foram atacados com um desabrido e repugnante racismo:

“Eram  músicos brasileiros que vinha cantar cousas brasileiras. Isso em plena Avenida, em pleno almofadismo, no meio de todos esses meninos anêmicos, frequentadores de “cabarets” que só falam francês e só dançam tango argentino! No meio do internacionalismo das costureiras francesas, das livrarias italianas, das sorveterias espanholas, dos automóveis americanos, das mulheres polacas, do esnobismo cosmopolita e imbecil!

Não faltaram censuras aos modestos “oito batutas”. Aos heróicos “oito batutas” que pretendiam, num  cinema da Avenida, cantar a verdadeira terra brasileira, atráves de sua música popular, sinceramente, sem artifícios nem cabotinismos, ao som espontâneo de seus violões e cavaquinhos.

A guerra que lhes fizeram foi atroz. Como os músicos eram bons, “batutas de verdade”, violeiros e cantadores magníficos, como a flauta de Pixinguinha fosse melhor do que qualquer flauta por aí saída com dez diplomas de dez Institutos, começaram os despeitados a alegar a cor dos “oito batutas”, na maioria pretos”. Segundo os descontentes, era uma desmoralização para o Brasil ter na principal artéria de sua capital uma orquestra de negros! O que iria pensar de nós o estrangeiro?”

O jornal A Noite também antecipou a possibilidade de que haveria quem num melindre idiota reprovasse a ida dos rapazes porque eram de cor (A Noite, 28 de janeiro de 1922).

 

nosso

 

O Imparcial saudou com entusiasmo a viagem dos Batutas, exímios tocadores de instrumentos nacionais que só executam músicas nacionais, o que só podem considerar como uma das mais altas expressões da arte musical genuinamente brasileira (O Imparcial, 28 de janeiro de 1922, segunda coluna).

 

 

 

Uma carta enviada pelo jornalista Floresta de Miranda, de Paris, defendeu e deu notícias das apresentações dos Batutas na França (Jornal do Recife, 11 de abril de 1922, primeira coluna).

 

 

“Paris, inverno de 1922. Frio de rachar, vários graus abaixo de zero. Duque e eu estávamos na Estação de Quai d´Orsay, esperando o trem de Bordéus. Nesse trem iriam chegar os Oito Batutas. Às 23 horas apareceram os músicos brasileiros, cada qual carregando o seu instrumento. Trajavam roupas leves e tiritavam. Na manhã seguinte Duque os levou a comprar roupas apropriadas para aquele clima. Vem a estreia no Shéhérazade. Sucesso completo. Paris acode àquele dancing. Pixinguinha com a sua flauta infernal faz o diabo. China abafa com o seu violão e a sua bela voz e Donga abafa no pinho e desperta paixões…”

Parte de uma crônica do jornalista Floresta de Miranda

publicada no livro Samba jazz & outras notas

 

Já em fins da década de 1970, o jornalista carioca João Ferreira Gomes, cujo pseudônimo era Jota Efegê (1902 – 1987) e que se destacou como um grande cronista das histórias cariocas, de seus personagens e manifestações culturais, comentou esse tipo de declaração abertamente racista em relação aos Batutas no artigo Para os racistas, os Oito Batutas eram “negróides” e “pardavascos”, publicad0 em O GLOBO.

 

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O GLOBO, 22 de março de 1977

 

Até por políticos a ida dos Batutas à Europa foi questionada. Em 24 de julho de 1922, votava-se na Câmara um auxílio de 40 contos de réis para uma viagem do compositor Heitor Villa-Lobos (1887 – 1959) à Europa. Pedro da Costa Rego (1889 – 1954), representante de Alagoas, deu parecer contrário e Gilberto Amado (1887 – 1969), deputado por Sergipe, ao encaminhar a votação, discordou de seus colegas que combateram a emenda e apelou:

“Negar a Heitor Vila Lobos 40:000$ para que possa tomar passagem e ir à Europa, que nos manda, todos os anos, maestros e pseudomaestros, às vezes abaixo de nossa cultura negar a Vila Lobos o direito de ir à Europa, mostrar que não somos apenas os “Oito Batutas”, que lá sambeiam, é negar que pensamos musicalmente, é uma atitude não digna da Câmara dos Senhores Deputados brasileiros!”

 

O Retorno

“Chiii! Se fosse agora, nós seríamos o Roberto Carlos”

Pixinguinha em depoimento dado, em 1966,

sobre a popularidade dos Batutas quando retornaram de Paris

“Fiquei tão apaixonado pela França que compus uma valsa de seis partes, ganhando um prêmio da Sociedade Francesa de Compositores. Mas era grande a saudade que sentíamos do Rio de Janeiro. Um dia, quando passeávamos por uma rua parisiense, um de nós começou a assobiar uma valsa de Manuel da Harmonia. Não nos contivemos: choramos como crianças”.

Donga(1966)

 

Em 31 de julho de 1922, os Batutas embarcaram no Lutetia, em Bordeauxna França. O navio fez escalas em Boulogne-sur-mer, Vigo e Lisboa e, após cerca de 6 meses, em 14 de agosto de 1922, os músicos chegaram no Rio de Janeiro. Durante a viagem de volta, fizeram algumas apresentações em festas a bordo. Saudades do Brasil, os negócios de Duque que não rendiam muito e a vontade de participar dos festejos do centenário da independência do Brasil foram razões alegadas para o retorno. Além deles, desembarcaram também do navio o fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), o inventor Alberto Santos Dumont (1873 – 1932), o presidente do Jockey Clube, Lineu de Paula Machado (1880 – 1942); o empresário Arnaldo Guinle (1884 – 1963); o coronel Buchalet, da missão militar francesa no Brasil, e o médico Paulo de Figueiredo Parreiras Horta (1884 – 1961) (A Noite1º de agosto, primeira coluna, e 14 de agosto de 1922; O Paiz, 15 de agosto de 1922, página 3 e página 4). No artigo do Imparcial, de 15 de agosto, Pixinguinha (1897 – 1973), declarou que não havia animosidade contra os homens de cor na França. Mencionou a presença de músicos de jazz em Paris e disse que os Batutas voltaram para o Brasil para tomar parte nas comemorações pelo centenário da Independência do Brasil.

 

 

“Modéstia à parte, fique sabendo que triunfamos. É bom que se saiba de que quando daqui saímos, animados por uns, ridicularizados por outros, não tinha a estulta pretensão de representar no estrangeiro a arte musical brasileira. O que iríamos apresentar em Paris, e o fizemos com decência, graças a Deus, era apenas uma das feições de nossa música, mas daquela essencialmente popular, característica. Para os que amavam, ficam em nossos corações o reconhecimento e a saudade. Dos outros, preferimos amargar os apodos a discutir. Tocamos para frente!”

Pixinguinha, em entrevista dada ao jornal A Notícia, após a chegada no Rio de Janeiro (Pixinguinha: Vida e Obra)

Durante o mês de setembro, os Batutas fizeram apresentações na Exposição do Centenário da Independência como atração fixa do pavilhão da montadora de automóveis norte-americana General Motors, contando com os reforços da cantora Zaíra de Oliveira (1900 – 1951), mulher de Donga (1890 – 1974)); e do trompetista Bonfiglio de Oliveira (1894 – 1940). Pixinguinha, em entrevista, disse que havia tocado também durante a primeira transmissão radiofônica oficial brasileira, ocorrida em 7 de setembro de 1922. O evento integrou as comemorações do centenário da Independência. Toquei num estudiozinho que havia lá e a Zaíra de Oliveira cantou. O estúdio foi montado no pavilhão dos Estados Unidos.

 

 

Uma estação de 500 watts, montada no alto do Corcovado pela Westinghouse Eletric International em combinação com a Companhia Telefônica Brasileira, irradiou músicas e um discurso do presidente Epitácio Pessoa (1865 – 1942), surpreendendo os visitantes da Exposição Internacional do Rio de Janeiro, através de 80 receptores vindos dos Estados Unidos, que haviam sido distribuídos às autoridades e instalados em pontos centrais da cidade.

Após diversas apresentações, entre agosto e dezembro de 1922, dentre elas shows promovidos pela famíla Guinle em dois dos mais exclusivos clubes do país, o Fluminense, presidido por Arnaldo Guinle; e o Jockey Club do Rio de Janeiro, cujo presidente era Lineo de Paula Machado, marido de Celina Guinle; os Oito Batutas embarcaram no navio Duque d´Osta para uma temporada no Teatro Empire, em Buenos Aires, sob o comando do empresário José Segreto (O Paiz, 2 de dezembro de 1922, quarta coluna).

 

Os Batutas na imprensa brasileira em 1922

 

Decadência do maxixe… (O Paiz, 4 de janeiro de 1922, última coluna) – Na coluna “Artes e Artistas”, comentário sobre o fato dos Oito Batutas ser o único conjunto musical a privilegiar o maxixe.

Os Oito Batutas estrearam no Cine Theatro Abigail Maia, em Madureira (Correio da Manhã, 7 de janeiro de 1922, terceira coluna; A Noite, 9 de janeiro de 1922, segunda coluna)

Os Oito Batutas apresentavam-se no Cine-Theatro Abigail Maia, em Madureira. Mané Pequeno, imitador de caipiras também participava do espetáculo (O Imparcial, 11 de janeiro de 1922, primeira coluna; O Jornal, 12 de janeiro de 1922, última coluna).

No Cine Theatro Fluminense, em São Cristóvão, com a participação dos Oito Batutas e a apresentação de duas peças, realização de um espetáculo em homenagem ao Clube de São Cristóvão (Correio da Manhã, 13 de janeiro de 1922, quinta coluna; O Jornal, 17 de janeiro, sexta coluna).

Os Oito Batutas tocaram durante uma excursão marítima em comemoração aos 35 anos de formatura de uma turma de médicos (O Paiz, 14 de janeiro de 1922, terceira coluna).

No Trianon, participaram de uma festa em benefício de Christóvão Vasques (O Paiz, 17 de janeiro de 1922, sexta coluna).

Artigo do jornalista e escritor Benjamin Costallat (1897 – 1961) fazendo uma pequena trajetória dos Batutas e criticando o esnobismo imbecil em relação à música popular brasileira e o racismo e defendendo a ida do conjunto para Paris (Correio da Manhã, 22 de janeiro de 1922, penúltima coluna).

Lançamento da música A Carta, de autoria de Pixinguinha (1897 – 1973) e M. Almeida (A Noite, 24 de janeiro de 1922, terceira coluna). 

Sátira aos novos auxiliares do Ministério da Fazenda, chamando-o de Oito Batutas (D. Quixote, 25 de janeiro de 1922).

Os Oito Batutas vão dar concertos em Paris (O Imparcial, 28 de janeiro de 1922, segunda coluna).

Pelo que é nosso (A Noite, 28 de janeiro de 1922).

A Pátria saudou a viagem como uma das expressões mais legítimas do que é nosso (A Pátria, 28 de janeiro de 1922).

No dia 29 de janeiro de 1922, o grupo musical Oito Batutas embarcou no navio transatlântico Massília rumo à França (O Paiz, 29 de janeiro de 1922, terceira coluna).

Na coluna Aventuras de Motta e Chefe, publicação de uma charge satirizando a ida dos Oito Batutas à Europa (Jornal do Brasil, 29 de janeiro de 1922). 

Crítica à ida dos Batutas a Paris. “Não sei se a coisa é para rir ou para chorar. Seja como for, o boulevard vai se ocupar de nós. Não do Brasil de Arthur Napoleão, de Osvaldo Cruz, de Rui Barbosa, de Oliveira Lima, não do Brasil expoente, do Brasil elite, mas do Brasil pernóstico, negróide e ridículo e de que la chanson oportunamente tomará conta” (Diário de Pernambuco, 1º de fevereiro de 1922, segunda coluna).

Meu diário

O sr. Benjamin Costallat, que é um dos nossos mais finos observadores, estava o ano passado em Paris, quando a sua confreira patrícia, a sra. Regina Regis, lá residente, fez representar num teatro qualquer uma peça “genuinamente brasileira” por ela assim inculcada ao público e, como tal, por esse vivamente aplaudida. Nessa assistência, contava-se a flor de nossa colônia na Cidade Luz. E o cronista não pode deixar de manifestar a sua indignação em correspondência para um jornal do Rio diante de um negroide obsceno das bananeiras e dos sambas que a sra. Regis se lembrara de impingir como as únicas coisas típicas de sua pátria à frivolidade boulevardière.

Eu recordei-me imediatamente do protesto de Costallat ao ler um dias desses do telegrama (informando) que o dançarino Duque embarcara com destino à capital francesa levando em sua companhia a troupe dos Oito Batutas. Esses “artistas” já estiveram aqui se exibindo no Teatro Moderno. São oito, aliás, nove desempenados pardavascos, que tocam viola, pandeiro e outros instrumentos rudimentares, acompanhando uns aos outros em cantigas do horrível gênero Catulo Cearense e dançando com exagero as cores da nossa Tersícopere bárbara.

Pois bem! É essa gente que Luiz Duque, o famoso bailarino do Luna Park, um dos ilustres reveladores de “La Mattchiqhe” ao velho mundo, vai fazer exibir no seu cassino, onde passa cotidianamente a gama de blasbenismos e do rastacuerismo internacional. Os Oito Batutas vão ser, dentro de pouco, o número “suco” do Luna e, diante deles, o parisiense blasé se espantará, excitando a sua perdida sensualidade diante das sortes daqueles mulatos audazes que pretendem representar o Brasil”.

E não haver uma política inexorável que legalmente os fisgasse pelo cós e os retirasse de bordo com manopla rija, impedindo-lhes a partida no liner da Mala Real! Impunemente, porém, os Oito Batutas lá vão rumo a Paris mais o Duque, que tem olho fino, mais fino mesmo que os pés e sabem como treinar para que eles se mostrem de verdade uns cotubas no remelexo, nas cantilenas estropeadas de Catulo, na música lúbrica dos choros. Para consagrá-los e desmoralizarem cada vez mais o seu país, lá estão a espera com os seus lugares reservados, os mesmíssimos brasileiros que aplaudiram a peça “nacionalista” da sra. Regis. E depois ainda nos queixamos quando chega por aqui um maroto estrangeiro que, de volta a penates, se dá a divertida tarefa de contar das serpentes e da pretalhada que viu no Brasil (Jornal do Commercio, 1º de fevereiro de 1922 – de um cronista que se identificava como S).

Foi noticiado que tanto o Jornal do Commercio como o Diário de Pernambuco, do Recife, criticaram a ida dos Oito Batutas à Europa com comentários racistas (Jornal do Brasil, 2 de fevereiro de 1922, segunda coluna). 

Crítica à ida dos Oito Batutas para a Europa. Menção à música Ai, seu Mé, uma sátira em torno da alegada passividade de Artur Bernardes (1875 – 1955), eleito presidente da República, em março de 1922  (Correio da Manhã, 3 de fevereiro de 1922, sexta coluna). 

De Barbacena, Leon Feranda enviou uma carta em francês criticando a ida dos Oito Batutas a Paris como representantes do Brasil como havia sido noticiado pelo jornal A Noite. O jornal O Paiz responde às críticas (O Paiz, 4 de fevereiro de 1922, terceira coluna).

Na coluna “Ecos e Novidades”, comentário sobre a ida dos Batutas a Paris e crítica ao esnobismo ignorante dos que nunca atentaram para as belezas da música popular (A Noite, 4 de fevereiro de 1922, primeira coluna).

Crítica ao esnobismo em torno da ida dos Oito Batutas a Paris (A Província, 15 de fevereiro de 1922, terceira coluna).

Notícia sobre a estreia, com sucesso, dos Batutas, em Paris (Jornal do Brasil, 17 de fevereiro de 1922, sexta coluna; Gazeta de Notícias, 17 de fevereiro de 1922, sétima coluna).

Publicação do artigo Os “Batutas” em Paris, de José Fortunato, em torno da polêmica da ida dos Batutas a Paris (A Maçã, 18 de fevereiro de 1922).

O préstito do Club dos Democráticos durante o carnaval contou com um carro alegórico de crítica chamado Oito Batutas, onde eram tocados os tangos que mais agradaram ao público dos teatros cariocas (Correio da Manhã, 28 de fevereiro de 1922, quarta coluna; Jornal do Brasil, 4 de março de 1922, última coluna; O Jornal, 28 de fevereiro de 1922, quinta coluna).

Notícia sobre o sucesso dos Oito Batutas no pequeno teatro de Montmartre, Shéhérazade, sob a direção de Duque, em Paris (O Paiz, 9 de março de 1922, quarta coluna; O Jornal, 10 de março de 1922, última coluna).

Publicação do artigo A Música Brasileira, de Chrysantheme, Maria Cecília Bandeira de Melo Vasconcelos (1870 – 1948), elogiando a turnê dos Oito Batutas, em Paris (Correio Paulistano, 29 de março de 1922, primeira coluna).

Matéria celebrando o sucesso dos Batutas em Paris (Careta, 1º de abril de 1922).

Quando o samba fala francês… Publicação da letra do samba Les Batutas, composto por Pixinguinha (Gazeta de Notícias, 14 de abril de 1922, quarta coluna).

Uma carta enviada pelo jornalista A. Floresta de Miranda de Paris defendeu e deu notícias das apresentações dos Batutas em Paris (Jornal do Recife, 11 de abril de 1922, primeira coluna).

Carta do jornalista A. Floresta de Miranda em defesa dos Batutas (Jornal do Recife, 11 de abril de 1922, primeira coluna). 

Os “Oito Batutas” representam a música vulgar carioca’(A Noite, 19 de abril de 1922, quinta coluna).

Crítica sobre a temporada dos Batutas em Paris. Estariam fazendo sucesso.  …está dando em resultado o cruzamento harmônico e melódico do nosso do samba com o cancan parisiense (Jornal do Brasil, 22 de abril de 1922, sexta coluna).

Em um artigo sobre a universalidade da linguagem universal, o autor, Augusto de Lima (1859 – 1934), membro da Academia Brasileira de Letras, cita os Oito Batutas (O Imparcial, 16 de junho de 1922, quarta coluna).

Após cerca de 6 meses, em 14 de agosto de 1922, os Batutas voltaram ao Rio de Janeiro, a bordo do Lutetia. O paquete partiu de Bordeux, em 1º de agosto, e fez escalas em Boulogne-sur-mer, Vigo e Lisboa (A Noite1º de agosto, primeira coluna, e 14 de agosto de 1922; Diário de Pernambuco, 2 de agosto de 1922, quarta colunaO Paiz, 15 de agosto de 1922, página 3 e página 4Jornal do Brasil, 15 de agosto, quinta colunaGazeta de Notícias, 15 de agosto de 1922, última coluna).

Pixinguinha declarou que não havia animosidade contra os homens de cor na França. Mencionou a presença de músicos de jazz em Paris e disse que os Batutas voltaram para o Brasil para tomar parte nas comemorações pelo centenário da Independência do Brasil (O Imparcial, 15 de agosto de 1922).

O dançarino Duque, Antônio Lopes de Amorim Diniz (1884-1953), que também havia retornado de Paris, fez uma visita à redação da Gazeta de Notícias e revelou que pretendia abrir um curso de dança no Rio de Janeiro. Estava acompanhado de Donga (1891 – 1974) e de China (1888 – 1926). Foi noticiado que, em 17 de agosto, os Batutas apresentariam um repertório de músicas brasileiras, no Jockey Club em uma festa oferecida ao presidente do clube, Lineu de Paula Machado. No dia 6 de setembro, se apresentariam no Fluminense Futebol Clube no gênero jazz band (Gazeta de Notícias, 16 de agosto de 1922, segunda coluna).

Na coluna “Artes e Artistas” foi noticiado que, a convite da sra. Rasimi (1874 – 1954), diretora da Companhia do Ba-ta-clan, os Oitos Batutas haviam apresentado no Theatro Lyrico o repertório dos shows que haviam realizado em Paris. “Não há dúvida nenhuma: mais uma vez os versos do trovador popular se justificam… ”A Europa continua a curvar-se ante o Brasil” (O Paiz, 23 de agosto de 1922, quinta coluna; e 27 de agosto, penúltima coluna, de 1922; Correio da Manhã, 24 de agosto de 1922, segunda coluna; Gazeta de Notícias, 27 de agosto de 1922,segunda coluna).

A senhora Rasimi ofereceu um almoço, na Ilha d´Água, a vários escritores, artistas e jornalistas brasileiros com uma apresentação dos Oito Batutas (O Paiz, 24 de agosto de 1922, primeira coluna).

Propaganda e notícia da apresentação dos Batutas no Theatro Lyrico, no espetáculo de revista V´la Paris (O Paiz, 26 de agosto de 1922 e Correio da Manhã, 26 de agosto de 1922; O Jornal, 26 de agosto de 1922, terceira coluna).

No Palace Hotel, a esposa do adido naval dos Estados Unidos, a sra. Herbert Sparrow, ofereceu uma recepção com a apresentação dos Oito Batutas (O Paiz, 2 de setembro de 1922, terceira coluna).

Foi noticiado que os Oito Batutas trouxeram de Paris novas músicas: Dádiva d´ Amor, de Donga (1891 – 1974), e Batutas, samba de Pixinguinha (A Noite, 5 de setembro de 1922, última coluna).

Segundo artigo do poeta e compositor Hermes Fontes (1888 – 1930): “Já cá estão os Oito Batutas, de volta de Paris, onde estragaram o sentimento brasileiro e a verdadeira poesia dos sertões” (A Illustração Brasileira (FRA), 7 de setembro de 1922).

Apresentação dos Oito Batutas na inauguração do Hotel Balneário Sete de Setembro, construído na Praia de Botafogo para as comemorações do centenário da independência do Brasil (O Paiz, 7 de setembro de 1922, quarta coluna; O Imparcial, 7 de setembro, penúltima coluna).

Propaganda da estreia dos Oito Batutas no Cine-Theatro Rialto (O Paiz, 10 de setembro e 12 de setembro de 1922; Correio da Manhã, 10 de setembro de 1922; O Imparcial, 12 de setembro de 1922, quarta coluna).

Os Oito Batutas foram contratados pelo prefeito do Rio de Janeiro, Carlos Sampaio (1861 – 1930), para tocarem na festa, no alto do Corcovado, oferecida às delegações de Buenos Aires e de Montevidéu, presentes na cidade devido à comemoração do centenário da Independência do Brasil. “Os Oito Batutas empurraram um maxixe eletrizante” (Correio da Manhã, 16 de setembro, última coluna; O Combate, 18 de setembro de 1922, primeira coluna).

Participaram, no Teatro Municipal, de uma homenagem ao presidente de Portugal, Antônio José de Almeida. O ator Leopoldo Froes (1882 – 1932) e os músicos Catulo da Paixão Cearense (1863 – 1946) e Mario Pinheiro (1883 – 1923) também participaram do evento (Jornal do Commercio, 18 de setembro de 1922, última coluna).

No Country Club, apresentação dos Oito Batutas e da jazz band Harry Kosarin´s (ou Kosarini) em um chá dançante em homenagem a estudantes sul-americanos (O Paiz, 21 de setembro de 1922, primeira coluna; O Imparcial, 21 de setembro de 1922, penúltima coluna).

A Sociedade Brasileira de Autores Teatrais havia aberto um inquérito contra os Oito Batutas devido a acusações feitas a eles por J. B. da Silva, o Sinhô (1888- 1930), e Francisco José Freire Junior (1881 – 1956). Segundo os compositores, os Oito Batutas haviam, sem autorização, editado, em Paris, trabalhos musicais da autoria deles. O relator foi Cardoso de Menezes, que pediu que o professor Duque fosse ouvido (O Imparcial, 21 de setembro de 1922, segunda coluna; Jornal do Commercio, 6 de outubro de 1922, quinta coluna; Jornal do Commercio, 10 de outubro de 1922, segunda coluna).

Os Oito Batutas tocaram na festa oferecida pelo Círculo da Imprensa para os jornalistas estrangeiros, presentes na cidade devido à comemoração do centenário da Independência do Brasil (Correio da Manhã, 2 de outubro de 1922, quarta coluna).

A Companhia Abigail Maia estava sendo esperada, com os Oito Batutas, em São Paulo, onde fariam apresentações no Teatro da República (O Combate, 2 de outubro de 1922, segunda coluna3 de outubro, primeira coluna).

No Clara Hotel, apresentação dos Oito Batutas com o delicioso exotismo de seus fox-trots parisienses (O Imparcial, 7 de outubro de 1922, terceira coluna).

A valsa Diza, de autoria de China (1888 – 1926), irmão de Pixinguinha (1897 – 1973), e executada pelos Oito Batutas e pelas orquestras Cícero, Romeu Silva e Andreosi, foi editada pela Casa Viúva Guerreiro (O Jornal, 1º de novembro de 1922, terceira coluna).

No Palácio das Festas, na Exposição do Centenário da Independência do Brasil, os Oito Batutas e uma banda militar foram as atrações musicais do baile promovido pela União dos Empregados no Comércio. O serviço de buffet foi do restaurante Falconi (A Noite, 8 de novembro de 1922, quarta coluna; O Paiz, 9 de novembro de 1922, segunda coluna).

Tocaram na sala de espetáculos do Teatro Carlos Gomes, onde se apresentava o vaudeville Surpresas da exposição, do dramaturgo Gastão Tojeiro (1880 – 1965) (Jornal do Brasil, 28 de novembro de 1922, quinta coluna); O Imparcial, 28 de novembro de 1922, segunda coluna).

Os Oito Batutas embarcaram no navio Duque d´Osta para uma temporada no Empire, em Buenos Aires, sob o comando do empresário José Segreto (O Paiz, 2 de dezembro de 1922, quarta coluna; O Jornal, 3 de dezembro de 1922, quinta coluna; Correio Paulistano, 2 de dezembro de 1922, quinta coluna 1922, quinta coluna; Correio Paulistano, 2 de dezembro de 1922, quinta coluna).

 

Uma brevíssima história dos Oito Batutas e Pixinguinha

 

“Se você tem 15 volumes para falar de toda a música popular brasileira, fique certo de que é pouco. Mas, se dispõe apenas do espaço de uma palavra, nem tudo está perdido; escreva depressa: Pixinguinha”

Ary Vasconcellos, crítico e historiador

 

 

“É o melhor ser humano que conheço. E olha que o que eu conheço de gente não é fácil!”

Vinícius de Moraes sobre Pixinguinha

 

O elegante Cine Palais foi inaugurado, na avenida Rio Branco, antiga avenida Central, no Rio de Janeiro, em 16 de julho de 1914. Ficava no edifício onde anteriormente localizava-se o Cine Pathé (Correio da Manhã, 12 de julho e 15 de julho de 1914). Seu proprietário era o coronel Gustavo de Mattos (Revista da Semana17 de julho  e 24 de julho de 1915).

 

 

Apresentaram-se pela primeira vez, em abril de 1919, na sala de espera do Cine Palais, os Oito Batutas, formado por Pixinguinha (flauta), Donga (violão), China (voz e violão), Nelson Alves (cavaquinho), os irmãos Raul (violão) e Jacob Palmieri (pandeiro); José Alves de Lima, o Zezé (bandolim e ganzá) e Luís de Oliveira (bandola e reco-reco). Todos os livros consultados pela pesquisa da Brasiliana Fotográfica apontam o dia 7 de abril de 1919 como o da estreia do grupo no Cine Palais, mas há registros nos jornais da época de apresentações anteriores a essa data (O Paiz2 de abril, penúltima coluna; e 4 de abril, terceira coluna, de 1919; Manchete, 24 de setembro de 1966).

Pixiguinha já havia tocado flauta, em meados da década de 1910, na sala de projeção do Cine Palais, acompanhando os filmes mudos. 

 

 

A ideia da criação do conjunto musical, que se tornaria lendário na história da música popular brasileira, foi de Isaac Frankel, gerente do cinema, como uma estratégia para resgatar o público que havia se afastado dos cinemas devido à violenta epidemia de gripe espanhola, em 1918. Frankel havia ouvido, no carnaval de 1919, o Grupo Caxangá, do qual faziam parte, dentre mais de 15 músicos, Pixinguinha (1897 – 1973), Donga (1891 – 1974) e João Pernambuco (1883 – 1947), no coreto do Largo da Carioca, ao lado da sede da Sociedade Tenentes do Diabo. O Caxangá era, na década de 1910, uma das principais atrações do carnaval do Rio de Janeiro.

 

Grupo Caxangá no carnaval de 1915 / Pixinguinha, vida e Obra

Grupo Caxangá no carnaval de 1914 / Pixinguinha, Vida e Obra

 

Em julho de 1919, os Oito Batutas também tocaram nas salas de espera dos teatros Carlos Gomes e São José, ambos do empresário e um dos pioneiros do cinema no Brasil, Paschoal Segreto (1868 – 1920) (O Paiz, 23 de julho de 1919). Em outubro, João Pernambuco integrava o conjunto, do qual o bandolinista José Alves de Lima havia se desligado.

 

 

As apresentações do grupo na sala de espera do Cine Palais, frequentado pela elite carioca, onde já haviam tocado os pianistas Oswaldo Cardoso de Menezes (1893 – 1935) e Luciano Gallet (1893 – 1931), fizeram muito sucesso e logo o conjunto ganhou admiradores como o músico Ernesto Nazareth (1863 – 1934), que tocava na sala de espera do concorrente Cine Odeon; o político Ruy Barbosa (1849 – 1923) e o empresário Arnaldo Guinle (1884 – 1963) que, como já mencionado, patrocinou uma turnê do grupo por estados do sudeste e do nordeste do Brasil, entre 1919 e 1920; e, em 1922, para Paris.

 

 

Estava programada uma apresentação dos 8 Batutas para os reis da Bélgica, que visitaram o Brasil entre 19 de setembro e 16 de outubro de 1920. Aconteceria durante o almoço que seria oferecido a eles pelo então prefeito do Rio de Janeiro, Carlos Sampaio, na Mesa do Imperador. Porém uma chuva fez com que o evento fosse cancelado (O Paiz, 24 de setembro de 1920, segunda colunaO Paiz, 25 de setembro de 1920).

Em 1º de dezembro de 1922, após a turnê de Paris, o conjunto seguiu em nova viagem internacional, desta vez para a Argentina e foram mesmo Oito Batutas: Pixinguinha (flauta e saxofone), Donga (violão e banjo), J. Tomás (bateria), China (violão e voz), Nelson Alves (cavaquinho e banjo), J. Ribas (piano), Josué de Barros (violão) e José Alves (bandolim e ganzá). Apresentaram-se em Buenos Aires, no Teatro Empire; em Rosário, La Plata e Chivilcoy (O Paiz, 2 de dezembro de 1922, quarta coluna). A temporada foi um sucesso e terminou em abril de 1923 (Correio da Manhã, 6 de abril de 1923, sexta coluna).

Em 1927, os Batutas começaram a tocar no Cinema Odeon e fizeram uma turnê por Santa Catarina (Correio da Manhã, 25 de agosto, segunda coluna). Também se apresentaram em teatros e no espetáculo Noites de Montmartre, no Assyrio (Correio da Manhã, 14 de julho de 1927), onde, de maio de 1928 a 1931, foram atração fixa.

Pixinguinha, Donga (1891 – 1974) e João da Baiana (1887 – 1974) criaram o Grupo da Guarda Velha, que substituiu os Batutas e foram um grande sucesso no carnaval de 1932. Os três músicos foram frequentadores da Casa de Tia Ciata (1854 – 1924), que ficava na Pequena África no Brasil, expressão baseada numa afirmação do cantor e pintor Heitor dos Prazeres (1898 – 1966) se referindo à área que começava no Porto do Rio de Janeiro e abrangia os atuais bairros da Saúde, Estácio, Santo Cristo, Gamboa e Cidade Nova, até a Praça Onze de Junho, que foi totalmente remodelada nos anos 1940 para a abertura da avenida Presidente Vargas. Foi  lá que, a partir da década de 1870, a comunidade baiana se estabeleceu no Rio de Janeiro, fazendo da área um local de concentração de diversas manifestações da cultura afro-brasileira.

 

 

João da Baiana era filho de Prisciliana Maria Constança, e Donga, filho de Amélia Silvana de Araújo, tias baianas da Pequena África. Eras irmãs-de-santo da lendária Tia Ciata (1854 – 1924), Hilária Batista de Almeida, no terreiro de João Alabá, um dos principais babalorixás do candomblé  no Rio de Janeiro. Havia também as tias Bebiana, Carmen e Mônica, dentre outras, que fizeram de suas casas pontos de referência e de convívio, que garantiram a manutenção das tradições africanas na cidade. Nessas casas eram cultuadas a música e a religiosidade afro-brasileira. As casas de Tia Prisciliana e, principalmente, a de Tia Ciata foram espaços fundamentais da música popular carioca.

 

O GLOBO, 26 de maio de 2019

Região da Pequena África / O GLOBO, 26 de maio de 2019

 

Entre a última década do século XIX e as primeiras décadas do século XX, a comunidade afro-descendente se reunia nessa região para praticar religiões de matriz africana e cantar sambas. Foi na casa de Tia Ciata, onde havia um terreiro de candomblé clandestino e onde os bambas do samba se encontravam, que o primeiro samba, registrado e gravado como tal, Pelo telefone, foi composto por Donga e Mauro de Almeida (1882 – 1956), em 1916. Foi lançado pela Odeon, em 1917. Existiu uma polêmica em torno de sua autoria: foi registrado por Donga, em 27 de novembro de 1916, mas teria sido uma criação coletiva. Houve uma troca de petardos musicais entre Sinhô (1888 – 1930), que estaria presente na casa de Tia Ciata quando o samba foi composto e a turma de Donga, dentre eles João da Baiana e Pixinguinha. Outra polêmica envolve o fato de ter sido mesmo o primeiro samba ou se foi o primeiro samba a fazer sucesso, já que alguns autores alegam que antes foram compostos os sambas Em casa da baiana, de 1911; e A viola está magoada, de 1914.

 

 

Foi também na Pequena África que a Deixa Falar, considerada a primeira escola de samba, foi fundada, em 12 de agosto de 1928, pelos sambistas Bide, Mano Edgar, Brancura, Baiaco, dentre outros, além de Ismael Silva, que reinvidicava a expressão escola de samba. Eles se reuniam no Bar Apolo ou no Café Compadre, em frente à Escola Normal, no Largo do Estácio. Existiu até 1932, quando se apresentou como rancho carnavalesco.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

A Brasiliana Fotográfica agradece a colaboração de Bia Paes Leme, coordenadora de Música do Instituto Moreira Salles, e a de Fernando Krieger e Isadora Cirne, assistentes da Coordenadoria de Música do Instituto Moreira Salles, para a publicação desse artigo.

Para mais informações sobre Pixinguinha e os Batutas, inclusive para acessar gravações e mais fotografias do conjunto, acesse o site Pixinguinha, do Instituto Moreira Salles.

 

Abotoaduras que pertenceram a Pixinguinha. Arquivo Pixinguinha / Acervo IMS

Abotoaduras que pertenceram a Pixinguinha/ Arquivo Pixinguinha / Acervo IMS

 

 

Fontes:

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Site Musica Brasiliensis -Crônicas bovinas

Site Musica Brasilis

Site O Obscuro Fichário dos Artistas Mundanos

Site Orquestra Paulista

TINHORÃO, José Ramos. Pequena história da música popular. São Paulo: Círculo do Livro, [s.d.]

ULHOA, Marta Tupinambá de; AZEVEDO, Claudia; TROTTA, Felipe. Made in Brazil. Studies in Popular Music. New York : Routledge, 2015.

 

Links para os artigos já publicados da Série 1922 – Hoje, há 100 anos

Série 1922 – Hoje, há 100 anos II- A Semana de Arte Moderna, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, publicado em 13 de fevereiro de 2022, na Brasiliana Fotográfica

Série 1922 – Hoje, há 100 anos III – A eleição de Artur Bernardes e a derrota de Nilo Peçanha, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, publicado em 1º de março de 2022, na Brasiliana Fotográfica

Série 1922 – Hoje, há 100 anos IV – A primeira travessia aérea do Atlântico Sul, realizada pelos aeronautas portugueses Gago Coutinho e Sacadura Cabral, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicada em 17 de junho de 2022, na Brasiliana Fotográfica

Série 1922 – Hoje, há 100 anos V – A Revolta do Forte de Copacabana, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicada em 5 de julho de 2022, na Brasiliana Fotográfica

Série 1922 – Hoje, há 100 anos VI e série Feministas, graças a Deus XI – A fundação da Federação Brasileira para o Progresso Feminino, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 9 de agosto de 2022, na Brasiliana Fotográfica

Série 1922 – Hoje, há 100 anos VII – A morte de Gastão de Orleáns, o conde d´Eu (Neuilly-sur-Seine, 28/04/1842 – Oceano Atlântico 28/08/1922), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 28 de agosto de 2022, na Brasiliana Fotográfica.

Série 1922 – Hoje, há 100 anos VIII – A abertura da Exposição Internacional do Centenário da Independência do Brasil e o centenário da primeira grande transmissão pública de rádio no país, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 7 de setembro de 2022, na Brasiliana Fotográfica.

Série 1922 – Hoje, há 100 anos IX – O centenário do Museu Histórico Nacional, de autoria de Maria Isabel Lenzi, historiadora do Musseu Histórico Nacional, publicado em 12 de outubro de 2022, na Brasiliana Fotográfica.

Série 1922 – Hoje, há 100 anos X –  A morte do escritor Lima Barreto (1881 – 1922), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 1º denovembro de 2022, na Brasiliana Fotográfica.

Série 1922 – Hoje, há 100 anos XI e série Feministas, graças a Deus XII 1ª Conferência pelo Progresso Feminino e o “bom” feminismo, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, antropóloga do Arquivo Nacional, publicado em 19 de dezembro de 2022, na Brasiliana Fotográfica.

A Estrada de Ferro do Paraná, de Paranaguá a Curitiba, pelos fotógrafos Arthur Wischral e Marc Ferrez

 

 

Arthur Júlio Wischral (1894 – 1982) foi um importante fotógrafo do Paraná, tendo realizado trabalhos para a imprensa e também para o governo do estado onde atuou. Em 1928, foi contratado pela Rede Viação Paraná – Santa Catarina e registrou o dia a dia das obras de manutenção da estrada de ferro Curitiba-Paranaguá assim como as dificuldades enfrentadas por seus trabalhadores. Um álbum, editado pelo próprio fotógrafo e por J. J. Wischral, foi produzido com esses registros.

 

 

 

Acessando o link para o Álbum de Photografias da Ferrovia de Curytiba a Paranaguá, de autoria de Arthur Wischral, disponível na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

No final do artigo, há uma cronologia da vida de Wischral.

 

Um pouco da história da ferrovia Curitiba-Paranaguá, cuja construção foi registrada pelo fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923)

 

 

O surgimento dos trens de ferro e a expansão das ferrovias eram no século XIX um evidente sinal de modernidade. Significavam a vitória, o triunfo do homem a partir da tecnologia e tinham como uma de suas consequências o desenvolvimento econômico. A ideia da construção da Ferrovia do Paraná surgiu após a emancipação do estado do Paraná, em 29 de agosto de 1853, a partir da Lei Imperial nº 704, assinada por dom Pedro II(1825 – 1891). Era um desafio escoar a erva-mate, importante produto para a economia do estado, para os portos do litoral. Por essa razão, foi autorizada a contratação de uma via férrea a partir da Lei Provincial nº 11, de 30 de abril de 1856 (Dezenove de Dezembro, 22 de outubro de 1856).

 

Acessando o link das imagens do Álbum da Estrada de Ferro do Paraná, de autoria de Marc Ferrez, disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Porém, só no início da década de 1870, os engenheiros Francisco Monteiro Tourinho (1837 – 1885), Antônio Pereira Rebouças (1839 – 1874) e Maurício Schwartz (18? -?) solicitaram ao Império um pedido de concessão para a construção da ferrovia. Eles já haviam construído a Estrada da Graciosa, também no Paraná. A estrada de ferro do Paraná sairia, a princípio, da cidade de Antonina. Após muita polêmica, o Decreto Imperial de 1.º de maio de 1875 decidiu que o trem partiria de Paranaguá. O argumento foi que a profundidade da baía de Antonina não comportaria navios de grande porte.

O projeto da ferrovia, arrojado e muito avançado para a época, foi dos irmãos e engenheiros André Rebouças (1838 – 1898) – também abolicionista – e Antônio Pereira Rebouças (1839 – 1874), considerados, até hoje, os primeiros afrodescendentes formados em Engenharia no Brasil. Para realizá-lo, os irmãos fizeram um estudo detalhado da Serra do Mar e elaboraram um traçado cheio de pontes, túneis e viadutos.

 

 

Em 1873, por não conseguir cumprir os prazos estabelecidos para o início das obras, Antônio Rebouças cedeu seus direitos ao Barão de Mauá (1813 – 1889), que também não cumpriu as exigências do contrato. Em 1877, foi aprovado um novo traçado baseado nos originais de Rebouças e com adaptações dos engenheiros Rodolpho Alexandre Helh e Luiz da Rocha Dias. Pelo Decreto n° 7420 de 12 de agosto de 1879, assinado por João Lins Vieira Cansanção de Sinimbu, o Visconde de Sinimbu (1810 – 1906), foi autorizada a transferência de todos os direitos e obrigações dos, desde 1875, concessionários da ferrovia, José Gonçalves Pecego Junior e José Maria da Silva Lemos, à companhia francesa Compagnie Général de Chemins de Fer Brésiliens, que não tinha expertise em relação à construção de estradas de ferro, o que sua companhia associada, a empreiteira belga Société Anonyme de Travaux Dyle et Bacalan, tinha. Ficou, então, encarregada das obras.

 

 

O diretor dos novos serviços para a construção, um marco da engenharia do Brasil, foi o comendador Antônio Ferrucci (c. 1830 – ?), um dos principais chefes de seu planejamento que, com outros membros da comissão de engenharia da estrada, chegou ao Rio de Janeiro, em 8 de fevereiro de 1880, no paquete francês Gironde (Gazeta de Notícias, 10 de fevereiro de 1880, sétima coluna). Ferrucci comandou as obras até fins de 1881. A partir de 20 de janeiro de 1882, o representante no Brasil da Société Anonyme des Travaux Dyle et Bacalan, o engenheiro Francisco Pereira Passos (1836 – 1913), futuro prefeito do Rio de Janeiro, entregou a chefia das obras ao engenheiro brasileiro João Teixeira Soares (1848 – 1927), que concluiu a construção da ferrovia, sendo o seu primeiro diretor.

 

 

A construção da ferrovia para a qual, entre brasileiros e estrangeiros – franceses, italianos, belgas, suíços, suecos e poloneses -, foram empregados cerca de nove mil trabalhadores, alavancou o desenvolvimento de Curitiba assim como a história da economia do Paraná.

Em 5 de junho de 1880, com a presença de dom Pedro II (1825 – 1891), em sua primeira e única visita ao Paraná, foi lançada a pedra fundamental das obras da ferrovia (Dezenove de Dezembro, 24 de maio de 1880Dezenove de Dezembro, 9 de junho de 1880, segunda coluna). A inauguração do tráfego regular da primeira seção, o trecho de Paranaguá a Morretes, ocorreu em 17 de novembro de 1883. O da segunda seção, entre Morretes e Borda do Campo ou Roça Nova, em 1884.

 

 

Em 13 de dezembro de 1884, a princesa Isabel (1846 – 1921), seus filhos, o governador do Paraná, Brasílio Augusto de Machado Oliveira (1848 – 1919); além de outras autoridades viajaram na ferrovia do Paraná, entre Curitiba e Paranaguá, onde a princesa embarcaria para Antonina e depois para Santa Catarina, onde encontraria seu marido, o conde d´Eu (1842 – 1922), em Joinville (Gazeta de Notícias, 14 de dezembro de 1884, primeira colunaDezenove de Dezembro, 14 de dezembro de 1884, primeira colunaO Paiz, 14 de dezembro de 1884, segunda coluna).

 

 

No dia 1º de fevereiro de 1885,  partiu da cidade de Curitiba um trem especial com destino à Paranaguá. Nele viajaram o dr. Brasilio Machado (1848 – 1919), presidente da Província; o chefe da Polícia, o senador Pedro Leão Veloso (1828 – 1902), o engenheiro João Teixeira Soares (1848 – 1927), dentre outras autoridades. Em Paranaguá, pelo vapor América, fretado pela Compagnie Général de Chemins de Fer Brésiliens, chegaram da Corte, no dia seguinte pela manhã, entre outros, o ministro da Agricultura, Manoel Pinto de Souza Dantas (1831 – 1894);  os ministros da Bélgica, da Rússia e da França; o Visconde de Paranaguá (1821 – 1912) e o Conselheiro Sinimbu (1810 – 1906) (Dezenove de Dezembro, 4 de fevereiro de 1885).

 

O vapor do mar, em galas, saudava a locomotiva, vapor de terra. Fulton abraçava Stephenson.

 

O fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), que fotografou a ferrovia na época de sua construção, estava presente no evento (Dezenove de Dezembro, 4 de fevereiro de 1885, terceira coluna).

 

 

Ainda na manhã de 2 de fevereiro, às 10h, o trem inaugural da Ferrovia do Paraná partiu de Paranaguá, fez uma parada em Morretes e, às 14h, em Cadeado, onde os convidados almoçaram. Houve uma série de saudações, uma delas feita pelo engenheiro Pereira Passos (1836 – 1913).

 

 

Depois de mais uma parada, na estação de Piraquara, o comboio chegou, às 19h, à Curitiba, tendo sido recepcionado por cerca de cinco mil pessoas que o aguardavam. Às 20:20, a Compagnie Général de Chemins de Fer Brésiliens ofereceu um banquete aos convidados da Corte, em um dos armazéns da estação, ornamentada com as bandeiras belga, brasileira, francesa, italiana e russa. Havia também uma exposição de utensílios dos operários que haviam trabalhado na construção da ferrovia.

 

 

 

 

 

 

Pereira Passos (1836 – 1913) presenteou dom Pedro II (1825 – 1891) com 14 fotografias e um álbum de autoria de Ferrez das obras da ferrovia, Estrada de Ferro do Paraná. O álbum integra a coleção Thereza Christina Maria, mantida na Biblioteca Nacional do Brasil, uma das instituições fundadoras da Brasiliana Fotográfica.

 

 

Em 1886, em uma reunião da Sociedade Central de Immigração, da qual faziam parte, entre outros, o astrônomo belga Louis Ferdinand Cruls (1848 – 1908), o pintor italiano Nicolau Facchinetti (1824 – 1900), e o político Alfredo d´Escragnolle Taunay (1843 – 1899), foram apresentadas por esse último, presidente da associação, fotografias da ferrovia do Paraná, de autoria de Ferrez (A Immigração, agosto de 1886).

 

álbum

 

Acesse aqui o pdf do Álbum da Estrada de Ferro do Paraná, de autoria de Marc Ferrez, com 33 imagens.

Sobre o viaduto São João, considerado o mais importante de toda a linha, inaugurado em 26 de junho de 1884 e registrado na fotografia abaixo, o engenheiro Teixeira Soares (1848 – 1927) comentou:

 

 

“Os três vãos pequenos são vencidos com vigas de alma cheia. Só o vão central é de treliça. Assenta sobre pilares de ferro batido, apoiados em base de alvenaria de pedra. A estrutura metálica é fabricada na Bélgica. Fornecemos os perfis do terreno natural e do greide. Eles projetam cada ponte ou viaduto de acordo com o trem de carga especificado. Aqui fazemos a montagem, que não é fácil. Para muita gente pode parecer desperdício pilares metálicos, se estamos rodeados de granito e de gnaisse em abundância. Acontece que a experiência europeia concluiu que, a partir de 30 metros, o ferro torna-se mais econômico do que a alvenaria de pedra. O alojamento e a manutenção do numeroso pessoal necessário à execução de importantes maciços de alvenaria acarretam dificuldades. Embora isso, os pilares metálicos devem ser embutidos em bases de alvenaria, com certa altura. Não só impedem que a unidade provoque a corrosão do metal, como evitam que suba até a estrutura metálica. Para vãos inferiores a 15 metros, os europeus recomendam vigas de alma cheia. Mais afoitos, os americanos as empregam até vãos de 35 metros. Seu inconveniente é a rebitagem. Trabalho insano. Como estamos sujeitos ao mercado europeu, acima de 15 metros usamos vigas em treliça, a exemplo do vão central. As treliças simples são três. Em “V”, conhecidas por vigas ‘Warren’, do nome do engenheiro inglês que primeiro as usou no seu país. Em “N”, ou Monier, nome do engenheiro belga que as patenteou em 1858, na Alemanha. Finalmente as Neville, nome tirado do engenheiro americano que as inventou, mas que não passam de um tipo misto das anteriores. Aqui, dada a extensão do vão, os belgas projetaram uma treliça múltipla dupla.”

 

Pequena cronologia da carreira de Marc Ferrez como fotógrafo no setor ferroviário

 

 

1880 – Entre 1880 e 1890,  fotografou as construções ferroviárias no Brasil, quando produziu um grande panorama da paisagem brasileira de sua época.

1882 – Fotografou as obras da ferrovia Dom Pedro II, em São Paulo e em Minas Gerais, tendo registrado a presença do imperador Pedro II e de sua comitiva na entrada do túnel da Serra da Mantiqueira (Gazeta de Notícias, 27 de junho de 1882, na quarta coluna).

 

1883 – O Club de Engenharia ofereceu uma recepção ao engenheiro hidráulico holandês J. Dirks, o grande especialista da época em portos e canais, que estava de passagem pelo Rio de Janeiro e seguiria para Valparaíso, no Chile. Na ocasião, foi realizada uma exposição de fotografias das estradas de ferro, de autoria de Marc Ferrez (Revista de Engenharia, 14 de abril de 1883).

c. 1884 – Fotografou as obras da ferrovia do Paraná (Paranaguá – Curitiba. O gerente da firma Société Anonyme des Travaux Dyle et Bacalan, empreiteira belga encarregada pelas obras, o futuro prefeito do Rio de Janeiro, o engenheiro Francisco Pereira Passos (1836 – 1913), presenteou dom Pedro II com 14 fotografias e um álbum de autoria de Ferrez com registros da ferrovia e da província do Paraná.

1884 - Exposição de fotografias da estrada de ferro Teresa Cristina, na A la Glacê Elegante (Gazeta da Tarde, 11 de novembro de 1884, na quinta coluna).

1885 – Ferrez participou da inauguração da ferrovia do Paraná, a estrada de ferro Paranaguá – Curitiba (Dezenove de Dezembro, 4 de fevereiro de 1885, na terceira coluna).

1886 – Em uma reunião da Sociedade Central de Immigração, da qual faziam parte, entre outros, o astrônomo belga Louis Ferdinand Cruls (1848 – 1908), o pintor italiano Nicolau Facchinetti (1824 – 1900), e o político Alfredo d´Escragnolle Taunay (1843 – 1899), foram apresentadas por esse último, presidente da associação, fotografias da ferrovia do Paraná, de autoria de Ferrez (A Immigração, agosto de 1886).

O Club de Engenharia aprovou a proposta de Marc Ferrez e de E. de Mascheuk para a execução de “diversos trabalhos concernentes à exposição dos caminhos de ferro” (Revista de Engenharia, 14 de dezembro de 1886, na primeira coluna).

Ferrez fotografou a ferrovia Dom Pedro II, em Juiz de Fora.

1887 - Entre 2 de julho e 2 de agosto, nos salões do Liceu de Artes e Ofícios, por uma iniciativa do Club de Engenharia, realizou-se a Exposição dos Caminhos de Ferro Brasileiros, com a exibição de fotografias de Ferrez (Revista de Engenharia, 14 de agosto de 1887). Estiveram presentes no encerramento da exposição, no dia 2 de agosto, a princesa Isabel(1845 – 1921) e o conde d´Eu (1842 – 1922), além de outras autoridades. O conselheiro Sinimbu (1810 – 1906) leu o relatório do júri da exposição, do qual também fazia parte o visconde de Mauá (1813 – 1889), Pedro Betim Paes Leme (1846 – 1918), Christiano Benedicto Ottoni (1811 – 1896), Carlos Peixoto de Mello (1871 – 1917), Álvaro Joaquim de Oliveira (1840 – 1922) e Manoel José Alves Barbosa (1845 – 1907). Ferrez foi contemplado com uma menção honrosa pelas “magníficas fotografias de importantes trechos de nossas vias férreas, com que concorreu não só para abrilhantar a Exposição como até para suprir algumas lacunas sensíveis de estradas que se não fizeram representar” (Jornal do Commercio, 3 de agosto de 1887, na terceira coluna e Revista de Estradas de Ferro, 31 de agosto de 1887, na primeira coluna).

1888 – Em 25 de novembro, foi inaugurado o tráfego entre as estações de Alcântara e Rio do Ouro da estrada de ferro de Maricá. Marc Ferrez fotografou “instantaneamente ” um grupo de convidados da diretoria das estradas na estação Santa Izabel (Revista de Engenharia, 28 de dezembro de 1888, na primeira coluna).

1890 – Em setembro, Ferrez integrou a comitiva convidada para a  inauguração das obras da ferrovia Benevente -Minas, de Carangola a Benevente, atual Anchieta, no Espírito Santo (Diário de Notícias, 28 de setembro de 1890, quinta coluna).

1891 – Na Revista de Engenharia, 28 de dezembro de 1890, foi publicado um anúncio: “Marc Ferrez – Fotógrafo da Marinha Nacional. Especialista de vistas de estradas de ferro e em geral das grandes obras públicas. Reprodução de plantas com traços pretos sobre fundo branco. Rua São José 8″. O mesmo anúncio voltou a ser veiculado na edição de 14 de agosto de 1891.

1892 – Foi determinado que nas estradas de ferro subvencionadas pelo governo federal fossem liberados passes de ida e volta para Marc Ferrez e um ajudante para que pudessem “levantar fotografias em diversas localidades para o serviço da Exposição Universal Colombiana de Chicago”, que aconteceu entre 1º de maio e 30 de outubro de 1893 para celebrar os 400 anos da chegada do navegador genovês Cristóvão Colombo (1451 – 1506) ao Novo Mundo, em 1492 (Jornal do Brasil, 21 de agosto de 1892, na quinta coluna).

1895 – Em novembro, Ferrez fotografou, em Búzios, os convidados e a comissão responsável pela construção da Estrada de Ferro Rio de Janeiro-Minas, que uniria o povoado de Búzios a Paquequer, no estado de Minas Gerais (A Notícia, 11 de novembro de 1895, segunda coluna).

1900 – Revista da Semana de 21 de outubro de 1900, publicou uma litogravura da Estação Central da Estrada de Ferro da Central do Brasil baseada em uma fotografia de autoria de Marc Ferrez.

 

 

1904 - Exposição de fotografias da estrada de ferro Central do Brasil de autoria de Ferrez, no Club de Engenharia (O Commentario, março de 1904).

1908 – A Casa Marc Ferrez produziu filmes sobre obras em estradas de ferro do Brasil.

 

Cronologia do fotógrafo Arthur Júlio Wischral

 

 

1894 - Em Curitiba, nascimento de Arthur Júlio Wischral, descendente de alemães.

c. 1910 - Com uma máquina fotográfica emprestada de um amigo, Arthur Wischral procurou orientação do fotógrafo alemão Germano Fleury (1873 – 1945), estabelecido em Curitiba, durante a década de 1900. Além de fotografar, Fleury comercializava artigos fotográficos. Na cidade havia, na época, estúdios fotográficos utilizando as últimas técnicas trazidas da Europa e aonde também eram vendidos cartões postais e materiais fotográficos. Com Fleury, Wischral teve as primeiras noções de fotografia profissional. Segundo ele, quando começou a fotografar gostava de registrar cenas incomuns das reuniões familiares (Diário do Paraná, 28 de junho de 1975).

1912 – Fotografou o primeiro bonde elétrico de Curitiba, que saiu da praça Ouvidor Pardinho com destino ao Portão (Diário do Paraná, 28 de junho de 1975).

1913 - Ganhou de seu pai uma máquina fotográfica com todas as inovações que as indústrias de Dresden haviam conquistado até então. Custando 120 mil réis, a câmara apresentava fole, movas dimensões 13 x 18 cm – e vários outros recursos que possibilitavam um trabalho ainda mais sensível e de qualidade (Diário do Paraná, 21 de junho de 1975). Antes, seu pai havia tentado demovê-lo da ideia de ser fotógrafo. Queria que o filho se dedicasse ao violino.

O amador fotográfico Arthur Wischral fotografou os enterros de Mário de Castro e de Francisco de Luccas, em Curitiba (Diário da Tarde (PR), 14 de maio de 1913, quinta coluna).

Trabalhava como repórter fotográfico do jornal A República, do Paraná, e produziu registros de manobras militares realizadas pelo Regimento de Segurança na invernada do Campo Comprido (A República (PR), 26 de maio de 1913, sexta coluna).

Fotografou uma horrível catástrofe quando 26 tamboretes de explosivos de guerra explodiram nos armazéns da Rede Ferroviária, na praça Eufrásio Correia, causando a morte de 8 soldados, 3 operários e uma criança, deixando vários feridos e produzindo grandes danos materiais. As fotos foram vendidas para jornais do Rio de Janeiro e de São Paulo (A República (PR), 2 de julho de 1913, primeira coluna; Diário do Paraná, 28 de junho de 1975).

Pelo jornal A República (PR), ele e Seraphin França acompanharam o governador do Paraná,  Carlos Cavalcanti (1864 – 1935), em uma viagem a cidades do litoral do estado (A República (PR), 14 de julho de 1913, terceira coluna; A República (PR), 22 de julho de 1913, sexta coluna).

Wischral era o repórter fotográfico da revista ilustrada, humorística e literária A Bomba (PR), publicada nos dias 10, 20 e 30 de cada mês. Era de propriedade de Marcello Bittencourt (A Bomba, 30 de julho de 1913, primeira coluna).

Além de Wischral, a Photographia Volk passou a integrar a equipe de reportagem fotográfica da revista A Bomba (PR) (A Bomba (PR), 10 de setembro de 1913, segunda coluna).

 

 

1914 – Estava presente à inauguração do ramal Serrinha – Nova Restinga, da Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande (A República (PR), 19 de fevereiro de 1914, última coluna).

Em 5 de abril, fotografou o primeiro voo de avião realizado em Curitiba. O piloto foi Cícero Martins (Diário do Paraná, 28 de junho de 1975).

Já estava na Alemanha e não era repórter fotográfico de A República (PR) (A República (PR), 30 de outubro de 1914, última coluna). A conselho de seu pai, havia viajado para aprender novas técnicas fotográficas. Ficou no país até depois do fim da Primeira Guerra Mundial. Empregou-se num estabelecimento que prestava serviços fotográficos para amadores. Fez um estágio no laboratório na Universidade de Würzburg e aprendeu a técnica do retoque com um fotógrafo da cidade, dominada por poucos profissionais em Curitiba. Em Würburg, encontrou-se uma vez com o futuro papa Pio XII a quem perguntou onde poderia encontrar pessoas que falassem português e ele lhe indicou uma escola onde estavam alguns feridos de guerra. Eram portugueses e estranharam o sotaque dele.  Durante sua estada na Alemanha, trabalhou durante seis anos no jornal Franken Warte. No período em que ficou na Europa viajou para diversos países do continente (Diário do Paraná, 28 de junho de 1975).

1921 – Voltou a Curitiba e por volta dessa época começou a prestar serviços para o governo e para empresas. Fotografou o interior do Paraná, realizando uma série de imagens que integrariam o estande do estado na exposição comemorativa do Centenário da Independência do Brasil, no Rio de Janeiro.

1922 – Fotografou a exposição comemorativa do Centenário da Independência do Brasil, no Rio de Janeiro.

Voltou ao Rio de Janeiro, onde fotografou os primeiros prédios da orla carioca e também os arredores de Petrópolis.

1924 - Esteve no Palácio do governador do Paraná, Caetano Munhoz da Rocha (1879 – 1944) (O Dia, 13 de fevereiro de 1924, terceira coluna).

O hábil fotógrafo Arthur Wischral realizou na Villa Olga uma sessão de projeção de fotografias (O Dia (PR), 30 de março de 1924).

 

 

1926 – No artigo Uma audaciosa excursão ao Marumby, escrito por Affonso Wischral, de 9 de julho de 1926, foi mencionado que o autor e Arthur Wischral haviam fotografado aspectos do passeio que poderiam ser vistos na loja “O Pequeno Paris“, na rua 15, nº 58 (O Dia (PR), 26 de julho de 1926, última coluna).

1928 – Foi contratado pela Rede Viação Paraná – Santa Catarina e registrou o dia a dia das obras, as dificuldades dos trabalhadores e as obras de manutenção da estrada de ferro Curitiba – Paranaguá, inaugurada em 1885 e considerada um marco na história da engenharia no Brasil. Um álbum, editado pelo próprio fotógrafo e por J. J. Wischral, foi produzido com esses registros. O endereço deles era avenida Silva Jardim, nº 175.

 

 

Acessando o link para o Álbum de Fotografias da Ferrovia de Curitiba a Paranaguá, de autoria de Arthur Wischral, disponível na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

1929/1931 - Durante cerca de um ano e meio, Wischral permaneceu na Bahia onde documentou, contratado pelas Empresas Elétricas Brasileiras S.A, a construção da Barragem Jerry O´Connell, em Bananeiras. Uma das fotografias da barragem foi publicada no Estado de Florianópolis, 26 de julho de 1930.

 

O contrato previa também a produção de uma série de imagens de Salvador e do interior da Bahia que foram, posteriormente, reunidas em uma publicação de quatro volumes intitulada Desenvolvimento, Geologia e Produtos Agrícolas, Indústria do Cacau, feita pelas Empresas Elétricas Brasileiras S.A.

Wischral montou, com imagens de sua estada na Bahia, um álbum pessoal com cerca de 500 fotografias.

1934 - Registrou-se para receber algum pagamento da prefeitura de Curitiba (Correio do Paraná, 21 de fevereiro de 1934, quinta coluna).

1935 – Na ocasião do cinquentenário da Estrada de Ferro do Paraná, Wischral, identificado como veterano dessas empreitadas estéticas e artista da Kodak, deu um depoimento, publicado no jornal O Dia (PR), 9 de janeiro de 1935.

Foi contratado para acompanhar e documentar a expedição do coronel Raul Bandeira de Mello ao sudoeste do Paraná. As fotos e o relatório deram origem ao livro de mais de 400 páginas Ensaios de Geobélica Brasileira, editado pela Imprensa Nacional em 1938. O nome do fotógrafo não foi citado. A expedição registrou fatos e imagens desde Palmas até 7 Quedas e é um documento formidável da vida naquelas paragens nos anos 30. Eles documentaram os lugares das batalhas da revolução de 1924 e a situação de pontes, estradas e as defesas militares brasileiras na região. Também indígenas e até um chocante registro de uma família de deficientes físicos gerados por um casal de irmãos, imagens que correram o Brasil à época. Ao final uma cena bucólica com o comandante da expedição em meio aos hóspedes do hotel argentino das cataratas, constando do acervo até uma carta de “vinos” e menu, com a assinatura de todos os presentes. São mais de 90 fotos e mapas que mereciam uma exposição e uma edição fac-símile da obra, ou pelo menos das suas fotografias. Os originais encontram-se com Paulo José da Costa, proprietário da Fígaro Loja de Cultura Sebo e Antiquário, de Curitiba (Página Arthur Wischral no Facebook).

 

geobélia

 

1936 - A matéria Capricho ou punição da natureza, sobre as consequências da sífilis, trazia uma fotografia de uma família com 4 filhos portadores de deficiência física , produzida por Wischral quando esteve no sertão de Guarapuava (O Estado (SC), 2 de setembro de 1936, primeira coluna).

1937 – Uma fotografia de sua autoria foi publicada no artigo A Floresta Brasileira (O Observador Econômico e Financeiro, agosto de 1937). 

 

 

Década de 1940 – No início dessa década, Wischral foi contratado pela prefeitura de Curitiba e documentou detalhadamente as obras do Plano Agache. Ao longo de três décadas fotografou a transformação da cidade, a urbanização dos bairros, o alargamento das ruas, a construção de praças ajardinadas e dos primeiros grandes edifícios.

Seu laboratório ficava na rua Desembargador Westphalen.

1950 – A mesma fotografia publicada na edição de agosto de 1937 da revista Observador Econômico e Financeiro foi de novo publicada na edição de julho de 1950 da mesma revista. No ano seguinte, um leitor da revista, Martim Zipperer, de Curitiba, curioso acerca da autoria da fotografia que, segundo ele, foi produzida no rio dos Bugres, no município de São Bento do Sul, em Santa Catarina, a pedido de um de seus parentes, procurou a revista. Havia fotografado o mesmo local e a imagem foi publicada em Observador Econômico e Financeiro, abril de 1951. Segundo a reportagem “o confronto dessas fotografias, representando duas épocas, é um dos mais impressionantes documentos que se poderia divulgar sobre os males causados pela economia predatória que vem sido exercida sobre as nossas reservas florestais!”

 

 

1964 - Uma fotografia de 1912 ou 1914, de autoria de Wischral foi publicada (Correio do Paraná, 23 de fevereiro de 1964, penúltima coluna).

 

 

1967 - Com texto de Sérgio Augusto e fotografias de Arthur Wischral, publicação do artigo A maravilhosa Curitiba-Paranaguá (Diário do Paraná, 15 de julho de 1967).

Publicação da matéria Era uma vez um vapor chamado Pery, com texto de Sérgio Augusto e fotos cedidas por Wischral (Diário do Paraná, 6 de agosto de 1967).

Com fotografias dos arquivos de César Pinto e de Arthur Wischral, publicação da matéria Prefeitura -Século XX (I – Parte Primeira – Do aluguel de 200 mil réis à casa própria (Diário do Paraná, 10 de setembro de 1967).

1975 – Publicação da matéria Curitiba em dois tempos, com fotos antigas produzidas por Wischral e com atuais do fotógrafo Mário Nunes do Nascimento (Diário do Paraná, 21 de junho de 1975). Dias depois, publicação de uma matéria sobre sua vida (Diário do Paraná, 28 de junho de 1975).

1978 - Publicação de um artigo com fotografias de carnavais antigos sob as lentes de Wischral (Diário do Paraná, 3 de fevereiro de 1978).

1979 - Na Casa Romário Martins, em Curitiba, realização da exposição Imagens e paisagens que Curitiba perdeu, com registros de Wischral e de outros fotógrafos (Diário do Paraná, 10 de junho de 1979, primeira coluna).

 

 

1982 – Na Sala Funarte, em Curitiba, realização da exposição Paraná de ontem com fotografias de Wischral e de Alberto Weiss, dentre outros (Diário do Paraná, 4 de maio de 1982, terceira coluna).

O fotógrafo Arthur Wischral faleceu, em setembro.

Década de 1990 – Em fins dessa década, A Universidade Federal da Bahia comprou da família do fotógrafo o álbum montado por ele com cerca de 500 imagens de sua estada na Bahia em torno de 1930.

1994 – Foi um dos fotógrafos com obras expostas no evento Curitiba Capital Nacional de Fotografia, entre 14 e 21 de agosto (Jornal do Brasil, 27 de julho de 1994).

2020 – O Instituto Moreira Salles adquiriu em leilão 91 imagens de um conjunto de registros de Salvador e de outras localidades, realizadas em 1931, por ocasião das obras da construção da usina hidrelétrica de Bananeiras, todas de autoria de Wischral. Complementam o trabalho do fotógrafo presente no acervo do IMS, que já possuía o álbum Estrada de Ferro Curitiba-Paranaguá, de 1928.

 

Link para um pequeno filme realizado pelo Paraná Portal sobre Arthur Wischral

Link para o filme Ferrovia Curitiba Paranaguá vista por Arthur Wischral

Link para a cronologia de Marc Ferrez, publicada na Brasiliana Fotográfica, em 7 de dezembro de 2016

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

A construção do trem da Serra do Mar entre Curitiba e o Litoral em 1885, TV Bandeirantes, Youtube

Blog de Paulo José da Costa

Boletim Casa Romário Martins. O acervo Wischral: documentos de um olhar / pesquisa e texto por Maria Luiza Baracho e Marcelo Saldanha Sutil; apresentação por João Urban. Curitiba : Fundação Cultural de Curitiba, vol 31, n. 134, abril de 2007.

CERON, Ileana Pradilla Ceron. Marc Ferrez – uma cronologia da vida e da obra. São Paulo : Instituto Moreira Salles, 2018.

Estrada de Ferro Paranaguá Curitiba, Youtube

Facebook

Ferrovia Paranaguá-Curitiba 130 Anos – Documentário, Youtube

Gazeta do Povo

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002.

Site Artes na Web

Site Biblioteca Digital Mundial

Site Clube dos Amantes da Ferrovia

Site Inbec-Pós-graduação

Site Paraná Portal

Site Patrimônio belga no Brasil

Site Prefeitura de Curitiba

TURAZZI, Maria Inez. Cronologia. In O Brasil de Marc Ferrez – São Paulo : Instituto Moreira Salles, 2005.

 

Publicações da Brasiliana Fotográfica em torno da obra do fotógrafo Marc Ferrez 

 

O Rio de Janeiro de Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 30 de junho de 2015

Obras para o abastecimento no Rio de Janeiro por Marc Ferrez , de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 25 de janeiro de 2016

O brilhante cronista visual Marc Ferrez (7/12/1843 – 12/01/1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 7 de dezembro de 2016

Do natural ao construído: O Rio de Janeiro na fotografia de Marc Ferrez, de autoria de Sérgio Burgi, um dos curadores da Brasiliana Fotográfica, publicada em 19 de dezembro de 2016

No primeiro dia da primavera, as cores de Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 22 de setembro de 2017

Marc Ferrez , a Comissão Geológica do Império (1875 – 1878) e a Exposição Antropológica Brasileira no Museu Nacional (1882), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica,  publicada em 29 de junho de 2018

Série “O Rio de Janeiro desaparecido” V – O quiosque Chopp Berrante no Passeio Público, Ferrez, Malta e Charles Dunlop, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 20 de julho de 2018

Uma homenagem aos 175 anos de Marc Ferrez (7 de dezembro de 1843 – 12 de janeiro de 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 7 de dezembro de 2018 

Pereira Passos e Marc Ferrez: engenharia e fotografia para o desenvolvimento das ferrovias, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 5 de abril de 2019

Fotografia e ciência: eclipse solar, Marc Ferrez e Albert Einstein, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 

Os 180 anos da invenção do daguerreótipo – Os álbuns da Comissão Geológica do Império com fotografias de Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 19 de agosto de 2019

Celebrando o fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 4 de dezembro de 2019

Uma homenagem da Casa Granado ao imperial sob as lentes de Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 7 de fevereiro de 2020

Ressaca no Rio de Janeiro invade o porão da casa do fotógrafo Marc Ferrez, em 1913, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado 6 de março de 2020

Petrópolis, a Cidade Imperial, pelos fotógrafos Marc Ferrez e Revert Henrique Klumb, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 16 de março de 2020

Bambus, por Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 5 de junho de 2020

O Baile da Ilha Fiscal: registro raro realizado por Marc Ferrez e retrato de Aurélio de Figueiredo diante de sua obra, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 9 de novembro de 2020

O Palácio de Cristal fotografado por Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 2 de fevereiro de 2021

Dia dos Pais – Julio e Luciano, os filhos do fotógrafo Marc Ferrez, e outras famílias, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 6 de agosto de 2021

No Dia da Árvore, mangueiras fotografadas por Ferrez e Leuzinger, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 21 de setembro de 2021

Retratos de Pauline Caroline Lefebvre, sogra do fotógrafo Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 28 de abril de 2022

A Serra dos Órgãos: uma foto aérea e imagens realizadas pelos mestres Ferrez, Leuzinger e Klumb, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 30 de junho de 2022

O centenário da morte do fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 12 de janeiro de 2023

O Observatório Nacional pelas lentes de Marc Ferrez, amigo de vários cientistas, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 29 de maio de 2023

No Dia Mundial do Meio Ambiente, a potente imagem da Cachoeira de Paulo Afonso, por Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 5 de junho de 2023

A Fonte Adriano Ramos Pinto por Guilherme Santos e Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 18 de julho de 2023

Os 180 anos de nascimento do fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 7 de dezembro de 2023

 

 

O Baile da Ilha Fiscal: registro raro realizado por Marc Ferrez e retrato de Aurélio de Figueiredo diante de sua obra

A Brasiliana Fotográfica destaca uma rara fotografia do interior de um dos salões do Baile da Ilha Fiscal, realizada por Marc Ferrez (1843 – 1923), provavemente no dia da festa, em 9 de novembro de 1889; e um registro do pintor paraibano Francisco Aurélio de Figueiredo (1856 – 1916) diante do quadro que ficou conhecido como o O baile da Ilha Fiscal. As duas imagens pertencem à Fundação Biblioteca Nacional, uma das fundadoras do portal. O quadro está no acervo do Museu Histórico Nacional (MHN) desde 1933, ano em que a instituição, uma das parceiras do portal, incorporou o patrimônio do antigo Museu Naval, extinto por decreto de Getulio Vargas (1882 – 1954) de 14 de janeiro de 1932. A Ilha Fiscal integra o Complexo Cultural da Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha, também uma instituição parceira da Brasiliana Fotográfica.

 

Sobre o registro de Ferrez

 

A notícia da descoberta da fotografia da sala do Baile da Ilha Fiscal, realizada por Marc Ferrez em 1889, por pesquisadores da Divisão de Manuscritos na Coleção Livraria José Olympio Editora, incorporada ao acervo da Biblioteca Nacional, em 2006, está documentada nos Anais da Biblioteca Nacional, vol 128, de 2008, na seção “Preciosidades do Acervo”. O artigo, intitulado O Baile da Ilha Fiscal, por Marc Ferrez (página 251), foi escrito pelos historiadores Frederico de Oliveira Ragazzi e Priscilla Helena Pereira Duarte, e pela cientista social Monique Matias Ramos de Oliveira. Supõe-se que o registro poderia vir a integrar livros de história do Brasil publicados pela editora, como alguns de autoria de Octávio Tarquínio de Sousa e Pedro Calmon. A fotografia encontrava-se na pasta “Dom Pedro II – solenidades – coroação – Inauguração E. (Estrada) de Ferro Pedro II – baile da Ilha Fiscal – etc – soberano visitando doentes”. Seu título foi extraído do papel originalmente colado no verso do cartão-suporte com informações datilografadas atribuídas a funcionários da Editora José Olympio.

 

 

A cópia a óleo de um retrato do almirante Cochrane, pendurado em uma das paredes do salão da festa, que aparece no registro de Ferrez, foi trabalho do artista Novack (O Paiz, 26 de outubro de 1889, sétima coluna).

 

 

Acessando o link para as fotografias da Ilha Fiscal disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

O acervo da Livraria José Olympio Editora e  sua chegada na Fundação Biblioteca Nacional

 

Em outubro de 2006, a Fundação Biblioteca Nacional recebeu o acervo da Livraria José Olympio Editora, doado pelos familiares do empresário Henrique Sérgio Gregori – fundador da filial brasileira da empresa Xérox -, que em 1984 adquiriu o controle acionário da empresa, então sob a tutela do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Fundada em 1931, a editora e livraria teve um papel destacado no cenário cultural brasileiro ao divulgar a obra de alguns dos mais notáveis escritores brasileiros, como José Lins do Rego, Jorge Amado, Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Gilberto Freyre, Guimarães Rosa, entre tantos outros que contribuíram para solidificar o panorama literário brasileiro no século XX. Esse feito deve-se, em especial, à figura do seu fundador, José Olympio (1902- 1990), cuja identidade, não por acaso, sempre esteve diretamente associada à da instituição.

O acervo, abrangendo os oitenta anos de atividades da editora, é constituído principalmente pela correspondência trocada entre escritores e o editor José Olympio, documentos administrativos (com informações preciosas para a compreensão do funcionamento de uma editora na época), fotografias e recortes de jornais e revistas (com notícias sobre os acontecimentos na área editorial), projetos gráficos para cartazes e capas de livros, ilustrações criadas por renomados artistas brasileiros, como Santa Rosa, Poty, Eugênio Hirsch, Gian Calvi etc.

Não obstante ser composto por documentos, em sua grande maioria, do último século, há também no acervo alguns documentos do século XIX. A fotografia de Ferrez do salão de bailes no palacete da Ilha Fiscal – feita provavelmente pouco antes do início da festa — é, sem dúvida, uma peça notável, pois são raras as representações do baile que se tornou, para contragosto de seus organizadores, um irônico símbolo do declínio final da Monarquia“…

Anais da Biblioteca Nacional, vol 128, 2008 – O Salão de de Baile da Ilha Fiscal, por Marc Ferrez, pág. 251

 

Sobre Aurélio de Figueiredo, sobre sua fotografia no Álbum dos artistas e sobre o quadro O Baile da Ilha Fiscal

 

A fotografia do pintor Aurélio de Figueiredo (1856 – 1916) diante do quadro O Baile da Ilha Fiscal faz parte do Álbum de artistas, do acervo da Fundação Biblioteca Nacional. O álbum foi doado à Seção de Estampas da instituição, em 22 de abril de 1932, pelo escritor, jornalista, cronista literário e crítico de arte maranhense Manoel Nogueira da Silva (1880 – 1943) (Gazeta de Notícias, 16 de novembro de 1943, terceira coluna). Dentre diversas personalidades, encontram-se retratadas no álbum, além do mencionado doador, Angelina Agostini (1888 – 1973)Antônio Parreiras (1860 -1937)Pedro Weingartner (1853 – 1929) e Menotti del Picchia (1892 – 1988). Nogueira da Silva foi o autor do livro Pequenos Estudos Sobre Arte, Pintura, Escultura (1926) e era considerado um dos melhores comentadores da obra do escritor Gonçalves Dias (1823 – 1864)(Gazeta de Notícias, 28 de janeiro de 1940, terceira coluna). Ocupou a cadeira 23 da Academia Carioca de Letras e trabalhou nos jornais Gazeta de Notícias e A Notícia.

 

 

O republicano e abolicionista Aurélio de Figueiredo nasceu em Areia, cidade paraibana, em 3 de agosto de 1854. Além de pintor foi caricaturista, desenhista, escritor e escultor. Sob a orientação de seu irmão, o pintor Pedro Américo (1843 – 1905) – autor de quadros importantes como A Fala do Trono (1873) Batalha do Avaí (1877)  e Independência ou Morte! (1888)  – e de Jules Le Chevrel (c. 1810 – 1872), frequentou durante a adolescência, a Academia Imperial de Belas Artes, no Rio de Janeiro. Publicou suas caricaturas em revistas como A Comédia Social e a Semana Ilustrada. Em 1875, viajou para a Europa (Jornal do Commercio, 29 de agosto de 1875, sexta coluna) e, entre 1876 e 1878, morou em Florença, na Itália, onde trabalhou no ateliê do irmão e teve aulas com Antonio Ciseri (1821 – 1891), Nicolò Barabino (1832 – 1891) e Stefano Ussi (1822 – 1901). Retornou ao Brasil em outubro de 1878 (Jornal do Recife, 10 de outubro de 1878, terceira coluna) e estabeleceu-se no Recif,e onde oferecia-se para a realização de pinturas históricas e retratos a óleo (Jornal do Recife, 5 de abril de 1879, quinta coluna).

 

 

Dirigiu um curso noturno de desenho (Jornal do Recife, 16 de fevereiro de 1880, quinta coluna). Trabalhou executando retratos a óleo copiados de fotografias ou de originais (Jornal do Recife, 14 de maio de 1880, terceira coluna). Foi professor de desenho e pintura do Colégio de Nossa Senhora das Graças (Jornal do Recife, 29 de dezembro de 1880, segunda coluna). Ainda nos anos 1880, visitou outros países europeus e participou de várias edições da Exposição Geral de Belas Artes. Expôs, no estabelecimento fotográfico de M. Alfred Ducasble, no Recife, dois quadros: Saudade e Melancolia (Diário de Pernambuco, 19 de abril de 1881, primeira coluna). Meses depois, por motivos de saúde, o pintor foi para a Paraíba e deixou como contato no Recife a Galeria Ducasble (Diário de Pernambuco, 8 de setembro de 1881, quarta coluna). Em 1882, expôs no Liceu de Artes e Ofícios (Jornal do Recife, 20 de outubro de 1882, penúltima coluna) e, na comemoração dos 41 anos da Imperial Sociedade dos Artistas Mecânicos e Liberais de Pernambuco, foi realizada uma exposição com quatro salas e quadros a óleo de sua autoria integraram a mostra (Jornal do Recife, 19 de dezembro de 1882, quinta coluna). Participou de outras exposições dessa sociedade. Em 1884, voltou a expor na Galeria Ducasble (Jornal do Recife, 6 de dezembro de 1884, quinta coluna). Em 1885, fixou residência em Montevidéu, no Uruguai, onde trabalhou na revista Illustracion Uruguaya (Jornal do Recife, 23 de dezembro de 1885, penúltima coluna). Foi noticiado que ele havia decidido pintar um quadro de grandes dimensões sobre a abolição da escravatura (Jornal do Recife, 24 de maio de 1888, quinta coluna). O pintor foi um dos autores do Projeto de reforma no ensino das artes plásticas, apresentada ao ministro do Interior (Jornal do Recife, 16 de fevereiro de 1890, quarta coluna). Por volta de 1889 foi viver no Rio de Janeiro e seu ateliê ficava na rua do Barão de Capanema. Realizou uma exposição na Academia de Belas Artes, em 1891 (Revista Illustrada, outubro de 1891,  primeira coluna; e Jornal do Recife, 23 de abril de 1892, segunda coluna). Foi publicada uma carta dele redigida após uma reunião de artistas realizada em seu ateliê no dia 29 de janeiro de 1893, quando ficou decidida a organização de exposições gerais anuais de Belas Artes e a fundação de uma Galeria Livre (Revista Illustrada, março de 1893).

Sua produção foi apresentada em duas exposições individuais: a primeira em 1912, no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo (O Paiz, 23 de janeiro de 1912, sexta coluna), e a segunda, póstuma, em 1956, no Museu Nacional de Belas Artes (O Paiz, 5 de setembro de 1956, segunda coluna). Faleceu no Rio de Janeiro em 9 de abril de 1916. Sua mulher, Paulina de Figueiredo, faleceu dias depois (O Paiz, 10 de abril de 1916, segunda coluna; e O Paiz, de abril de 1916, segunda coluna).

Apesar de ter ficado conhecida como O baile da Ilha Fiscal, o autor havia dado à tela o título de A ilusão do Terceiro Reinado. Pintada em 1905, ela só seria apresentada ao público em 9 de janeiro de 1907, na Escola Nacional de Belas Artes, sob um terceiro título: O advento da república (Jornal do Brasil, 1o de janeiro de 1907, sétima coluna). Foi exibida na exposição de 1922, comemorativa do centenário de Independência, e na exposição de 1939, que celebrou o 50º aniversário da República. No artigo O último baile e seus personagens: protagonistas e figurantes na tela de Aurélio de Figueiredoa historiadora Maria Isabel Ribeiro Lenzi, do Museu Histórico Nacinal, identifica várias figuras representadas na pintura, dentre elas Machado de Assis (1839 – 1908) e Carolina Novaes (1835 – 1904); o poeta e jornalista João Cardoso de Menezes e Souza, barão de Paranapiacaba (1827 – 1915); o prefeito Francisco Pereira Passos (1836 – 1913); a família do próprio pintor; e a família imperial. Outros quadros importantes do pintor foram Francesca da Rimini (1873), Moça na janela (1891)Compromisso Constitucional (1896).

 

 

Sobre o Baile da Ilha Fiscal

 

 

Em 1889, as relações de amizade entre o Brasil e o Chile foram festejadas com demonstrações recíprocas de apreço e estima. Em Santiago e em Valparaíso, o governo e o povo chileno homenagearam a oficialidade do cruzador Almirante Barroso (O Paiz, 4 de julho de 1889, sexta coluna), em viagem de circunavegação iniciada em 27 de outubro de 1888 (O Paiz, 28 de outubro de 1888, segunda coluna). O Brasil fez o mesmo quando, retornando da Europa, a esquadra chilena, liderada pelo encouraçado Almirante Cochrane, sob o comando do capitão-de-mar-e-guerra Constantino Bannen (1847 – 1899), aportou no Rio de Janeiro, em 11 de outubro de 1889 (Gazeta de Notícias, 12 de outubro de 1889). Uma série de eventos, entre piqueniques, espetáculos de gala, banquetes e excursões, foram realizados mobilizando a elite carioca. O Império enfrentava problemas econômicos e a abolição da escravatura contribuia para a falta de sustentação política do regime. Nesse quadro de instabilidade, o gabinete ministerial se empenhou em organizar as festividades em torno dos chilenos para demonstrar o prestígio da monarquia.

O Baile da Ilha Fiscal, em 9 de novembro, oferecido pelo presidente do Conselho de Ministros do Império do Brasil, Visconde de Ouro Preto (1836 – 1912), foi o ápice das Festas Chilenas e um golpe de publicidade na tentativa de promover o terceiro reinado. Foi o primeiro (e último) baile oficialmente promovido pelo Império. Pretendia-se realizar uma celebração inesquecível para fortalecer a monarquia diante da ameaça republicana. Para a festa, o último grande evento do Império Brasileiro, inicialmente marcada para o dia 19 de outubro e adiada devido à morte do rei Luís I de Portugal (1861 – 1889), sobrinho do imperador Pedro II (Gazeta de Notícias, 20 de outubro de 1889; e O Paiz, 21 de outubro de 1889, sétima coluna), foram distribuidos cerca de 3 mil convites. Os preparativos e a realização da festa foram bastante noticiados e seu luxo foi muito criticado pela imprensa.

 

ingresso

 

Contou com as presenças de dom Pedro II (1825 – 1891), de dona Teresa Cristina (1822 – 1889), da princesa Isabel (1846 – 1921), do Conde d´Eu (1842 – 1922) e das mais importantes figuras da sociedade e da política do país. A Família Imperial, sua comitiva, diplomatas estrangeiros e alguns convidados ficaram em um salão especialmente preparado para eles.

 

 

 

O edifício da Ilha Fiscal, projeto do engenheiro Adolpho José Del Vecchio (1848 – 1927), havia sido inaugurado em 27 de abril de 1889, poucos meses antes da realização do baile. No dia da festa foi iluminada com luz elétrica, tecnologia rara na época, e refletores de grandes navios iluminavam o Paço, a Capela Imperial e a Igreja da Ordem Terceira do Carmo, propiciando uma bela visão do Rio de Janeiro aos convidados da festividade. Por volta das 23h, começaram as danças com seis bandas tocando diversos tipos de música como valsas, mazurcas quadrilhas, lanceiros e polcas. Em frente à ilha, no Largo do Paço, uma banda da polícia tocava lundus e fandangos alegrando uma pequena multidão que não havia sido convidada para a festividade.

O casal imperial, o conde d´Eu e a princesa Isabel foram embora à uma da madrugada, mas a festa só terminou por volta das 5 da manhã. Foram descritos com detalhes 74 trajes das damas presentes e publicada também uma descrição detalhada da ceia, anunciada em um menu de 12 páginas. O banquete ficou a cargo da Casa Paschoal (O Paiz, 10 de novembro de 1889Gazeta de Notícias, 11 de outubro de 1889Revista Illustrada, 16 de novembro de 1889).

Durante a festa foram servidos cerca de 10 mil litros de cerveja e 304 caixas de bebidas, das quais 258 eram de vinhos e champanhes, o que significa terem sido abertas mais de três mil garrafas. Segundo Carlos Cabral, essas bebidas custariam hoje 250 mil dólares, uma vez que foram servidos um raríssimo Porto de 1834, além dos até hoje famosos vinhos Tokay, Chateau D’Yquem, Chateau Lafite e um Falerno em homenagem à Imperatriz… Ao final, a conta apresentada pela Casa Paschoal incluía, além das bebidas acima mencionadas, os outros serviços, onde constava um bufê com 11 tipos de pratos quentes, 15 de pratos frios, 12 tipos de sobremesa, no qual foram utilizados 18 pavões, 25 cabeças de porco, 64 faisões, 300 peças de presunto, 500 perus, 800 quilos de camarão, 800 latas de trufas, 1.200 latas de aspargos, 1.300 galinhas, além de 50 tipos de saladas com maionese, 2.900 pratos de doces variados, 12.000 taças de sorvete, 18 mil frutas e 20 mil sanduíches.(1)

A festa foi definida por Machado de Assis (1839 – 1908) em seu romance Esaú e Jacó como um sonho veneziano; toda aquela sociedade viveu algumas horas suntuosas; novas para alguns, saudosas para outros.

Durante o baile, muitos militares estavam reunidos na Escola Militar da Praia Vermelha, articulando a derrubada do poder imperial.

Reza a lenda que o monarca, durante a festividade, tropeçou e então teria dito a Ouro Preto: a monarquia balança, mas não cai ou O monarca tropeçou, mas a monarquia não caiu. Ironia do destino? Caso tenha de fato dito isso, seu vaticínio não se cumpriu: dias depois, em 15 de novembro de 1889, foi proclamada a República e a monarquia caiu (O Paiz, 16 de novembro de 1889, primeira coluna). Dom Pedro II faleceu no exílio, em Paris, em 5 de dezembro de 1891.

 

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                                                       Revista Illustrada, 16 de novembro de 1889

 

(1) SUAUDEAU, Laurent; DITADI, Carlos Augusto Silva. O Império à mesa, por Luarent Suaudeau e Carlos Augusto Silva Ditadi  In: MALERBA, Jurandir; HEYNEMANN, Cláudia; RAINHO, Maria do Carmo Teixeira. Festas chilenas, sociabilidades e política no Rio de Janeiro no ocaso do império. Porto Alegre: EdiPUCRS, 2014.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Link para o artigo A Ilha Fiscal na Baía de Guanabara, publicado na Brasiliana Fotográfica em 27 de abril de 2020.

 

Fontes:

Anais da Biblioteca Nacional, vol 128, de 2008

CARVALHO, José Murilo. Pedro II: ser ou não ser. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

DUNLOP, Charles.Os impressionantes números do último baile da Ilha Fiscal. Rio de Janeiro:Editora Rio Antigo

Folha de São Paulo, 12 de novembro de 2019

GOMES, Laurentino. 1889: Como um imperador cansado, um marechal vaidoso e um professor injustiçado contribuíram para o fim da Monarquia e a Proclamação da República no BrasilSão Paulo:Globo, 2013.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

LENZI, Maria Isabel Ribeiro. O último baile e seus personagens: protagonistas e figurantes na tela de Aurélio de Figueiredo. Anais do Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro, vol 51, 191-216, 2019.

MALERBA, Jurandir; Heynemann, Claudia; RAINHO, Maria do Carmo Teixeira. Festas Chilenas, sociabilidade e política no Rio de Janeiro no ocaso do império. Rio Grande do Sul:EDICPUCRS, 2014.

PRIORI, Mary del. Entre “doidos” e “bestializados”: o baile da Ilha Fiscal. REVISTA USP, São Paulo, n.58, p. 30-47, junho/agosto 2003.

SANDRONI, Carlos. “Quem animou o baile?” In: MALERBA, Jurandir; HEYNEMANN, Cláudia; RAINHO, Maria do Carmo Teixeira. Festas chilenas, sociabilidades e política no Rio de Janeiro no ocaso do império. Porto Alegre: EdiPUCRS, 2014.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. As barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

SCHWARCZ, Lilia Moritz; STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: Uma Biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

Site Aventuras na História

Site Enciclopédia Itaú Cultural

SUAUDEAU, Laurent; DITADI, Carlos Augusto Silva. O Império à mesa, por Luarent Suaudeau e Carlos Augusto Silva Ditadi  In: MALERBA, Jurandir; HEYNEMANN, Cláudia; RAINHO, Maria do Carmo Teixeira. Festas chilenas, sociabilidades e política no Rio de Janeiro no ocaso do império. Porto Alegre: EdiPUCRS, 2014.

Veja, 22 de maio de 2010

 

Publicações da Brasiliana Fotográfica em torno da obra do fotógrafo Marc Ferrez 

 

O Rio de Janeiro de Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 30 de junho de 2015

Obras para o abastecimento no Rio de Janeiro por Marc Ferrez , de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 25 de janeiro de 2016

O brilhante cronista visual Marc Ferrez (7/12/1843 – 12/01/1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 7 de dezembro de 2016

Do natural ao construído: O Rio de Janeiro na fotografia de Marc Ferrez, de autoria de Sérgio Burgi, um dos curadores da Brasiliana Fotográfica, publicada em 19 de dezembro de 2016

No primeiro dia da primavera, as cores de Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 22 de setembro de 2017

Marc Ferrez , a Comissão Geológica do Império (1875 – 1878) e a Exposição Antropológica Brasileira no Museu Nacional (1882), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica,  publicada em 29 de junho de 2018

Série “O Rio de Janeiro desaparecido” V – O quiosque Chopp Berrante no Passeio Público, Ferrez, Malta e Charles Dunlop, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 20 de julho de 2018

Uma homenagem aos 175 anos de Marc Ferrez (7 de dezembro de 1843 – 12 de janeiro de 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 7 de dezembro de 2018 

Pereira Passos e Marc Ferrez: engenharia e fotografia para o desenvolvimento das ferrovias, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 5 de abril de 2019

Fotografia e ciência: eclipse solar, Marc Ferrez e Albert Einstein, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 

Os 180 anos da invenção do daguerreótipo – Os álbuns da Comissão Geológica do Império com fotografias de Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 19 de agosto de 2019

Celebrando o fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 4 de dezembro de 2019

Uma homenagem da Casa Granado ao imperial sob as lentes de Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 7 de fevereiro de 2020

Ressaca no Rio de Janeiro invade o porão da casa do fotógrafo Marc Ferrez, em 1913, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado 6 de março de 2020

Petrópolis, a Cidade Imperial, pelos fotógrafos Marc Ferrez e Revert Henrique Klumb, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 16 de março de 2020

Bambus, por Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 5 de junho de 2020

O Palácio de Cristal fotografado por Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 2 de fevereiro de 2021

A Estrada de Ferro do Paraná, de Paranaguá a Curitiba, pelos fotógrafos Arthur Wischral (1894 – 1982) e Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 22 de março de 2021

Dia dos Pais – Julio e Luciano, os filhos do fotógrafo Marc Ferrez, e outras famílias, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 6 de agosto de 2021

No Dia da Árvore, mangueiras fotografadas por Ferrez e Leuzinger, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 21 de setembro de 2021

Retratos de Pauline Caroline Lefebvre, sogra do fotógrafo Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 28 de abril de 2022

A Serra dos Órgãos: uma foto aérea e imagens realizadas pelos mestres Ferrez, Leuzinger e Klumb, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 30 de junho de 2022

O centenário da morte do fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 12 de janeiro de 2023

O Observatório Nacional pelas lentes de Marc Ferrez, amigo de vários cientistas, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 29 de maio de 2023

No Dia Mundial do Meio Ambiente, a potente imagem da Cachoeira de Paulo Afonso, por Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 5 de junho de 2023

A Fonte Adriano Ramos Pinto por Guilherme Santos e Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 18 de julho de 2023

Os 180 anos de nascimento do fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 7 de dezembro de 2023