Série “Feministas, graças a Deus!” XVI – O I Salão Feminino de Arte, em 1931, no Rio de Janeiro

Entre 6 e 30 de junho de 1931, aconteceu, no Rio de Janeiro, o I Salão Feminino de Arte, em um dos salões da Escola Nacional de Belas Artes.  Foi um dos muitos eventos importantes da história das artes plásticas no Brasil ocorridos na cidade durante o referido ano e é o tema do décimo sexto artigo da série Feministas, graças a Deus!. O Salão Feminino é considerado, até hoje, a primeira exposição realizada no país com a participação exclusiva de mulheres nas áreas de arquitetura, artes aplicadas, escultura, gravura e pintura. Fotografias das pintoras Georgina Albuquerque (1885 – 1962) e Sylvia Meyer (1889-1955); e da escultora Nicolina Vaz de Assis Pinto do Couto (1874 – 1941), integrantes da mostra de 1931, fazem parte do Álbum de artistas doado, em 1932, pelo escritor M. Nogueira da Silva (1880 – 1943), à Seção de Estampas da Fundação Biblioteca Nacional, uma das instituições fundadoras da Brasiliana Fotográfica.

As imagens de Nicolina Pinto do Couto são das décadas de 10 e de 20 e, em algumas, ela está acompanhada de seu marido, o escultor português Rodolfo Pinto do Couto (1888 – 1945). Há ainda um registro de Nicolina com um grupo de artistas no Salão Nacional de 1913.

 

 

Acessando o link para as fotografias de mulheres do Álbum de Artistas disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

As fotografias de Silvia Meyer são de 1912: de aulas de pintura ao ar livre e de uma cena do concurso de fim de ano na Escola Nacional de Belas Artes.

 

 

Os registros de Georgina Albuquerque são da década de 1910: em um deles ela está com sua família, filhos e marido, o também pintor Lucilio de Albuquerque (1877 – 1939) e, em outro, ela está com seus filhos.

 

 

No Álbum dos artistas, vale ressaltar que, dentre imagens de dezenas de artistas, existem apenas fotos de cinco mulheres. Além das já citadas, imagens da arquiteta Arinda Sobral (1883 – 1981) e da pintora Angelina Agostini (1888 – 1973).

O I Salão Feminino de Arte foi promovido pela Sociedade Brasileira de Belas Artes, dirigida por Augusto José Marques Junior (1887 – 1960), em colaboração com a Associação de Artistas Brasileiros. A iniciativa foi apoiada pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF), que se propôs a envidar esforços para que o evento fosse exitoso, revelando que, naquele momento do feminismo brasileiro, a organização de uma mostra com participação exclusiva de mulheres foi um fato importante para o movimento.

Em um artigo de Conceição Andrade de Arroxelas Brandão, publicado no Diário de Notícias, de 1º de fevereiro de 1931, fica evidente o entusiasmo da FBPF pela realização do I Salão Feminino de Arte (Diário de Notícias, 1º de fevereiro de 1931, última coluna).

 

 

Lembramos que, em torno de 1931, a busca pela emancipação da mulher no Brasil, principalmente a partir da luta pelo voto feminino, estava em alta e contava com feministas como Bertha Lutz  (1894 – 1976), fundadora de FBPF, em 1922; Natércia Cunha Silveira (1905 – 1993), fundadora da Aliança Nacional de Mulheres, em 1931, Elvira Komel (1906 – 1932) e  Carmen Portinho (1903 – 2001), fundadora da União Universitária Feminina, em 1929, dentre várias outras.  No mesmo mês da abertura do salão, sob a orientação de Bertha Lutz, foi promovido o Segundo Congresso Internacional Feminista. Finalmente, menos de um ano depois da realização da exposição, o Decreto nº 21.076, de 24 de fevereiro de 1932, instituiu o Código Eleitoral Provisório e reconheceu o direito de voto às mulheres.

Além da efervescência de acontecimentos em prol da emancipação feminina na época, outro fato que liga o feminismo à realização deste evento artístico é a presença, na comissão organizadora do Salão, da escritora e feminista atuante, Anna Amélia Carneiro de Mendonça (1896 – 1971), presidente da Casa do Estudante do Brasil, fundada em 1929.

 

 

A exposição contou com 63 artistas, 172 pinturas, 17 esculturas, 1 gravura e 3 de artes aplicadas, todas obras assinadas individualmente, e mais outras dessas últimas artes, com a assinatura coletiva da Escola Profissional Orsina da Fonseca e da Escola Profissional Paulo de Frontin (Fon-Fon, 27 de junho de 1931). A diretora da Orsina da Fonseca era a feminista e professora Leolinda Daltro (1859 – 1935), que foi tema do décimo quinto artigo da série Feministas, graças a Deus!, publicado em 19 de abril dde 2023.

 

 

 

 

Algumas das artistas que participaram da exposição foram, além das já mencionadas, as pintoras Camilla Alvares de Azevedo, Cândida de Gusmão Cerqueira, Francisca Leão, Haydéa Santiago, Helvia Barbosa Lima, Ignez Corrêa de Castro, Isabel Teixeira de Mello Julieta Bicalho, Katarina Gesnesha, Maria Francelina Barreto Falcão (1897-1979), Moema Machado Vieira, Nativa Tinoco, Nieta Gomes, Odelli Castello Branco, Palmyra Pedra Domeneck, Regina Veiga, Ruth de Almeida, Sarah Vilela de Figueiredo, Solange Frontin Hess, Suzanna Mesquita, Wanda Turatti e Yvonne Visconti. A gravurista Lucilia Ferreira e as escultoras Celita Vaccani ((1913 – 2000), Rosalina Candido Mendes e Zelia Ferreira.

Chama atenção a ausência das modernistas Tarsila do Amaral (1886 – 1973) e Anita Malfatti (1889 – 1964). Terá sido devido à divisão entre acadêmicos e modernos, já que todas as obras expostas no I Salão Feminino de Arte tinham caráter acadêmico? Ou terá sido falta de interesse delas, já artistas consagradas, em participarem da mostra?

Segundo uma de suas organizadoras, a pintora Cândida de Gusmão Cerqueira:

 

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Inicialmente, a inauguração do salão seria na primeira quinzena de maio, mas foi adiada para junho (A Noite, 27 de abril de 1931, penúltima coluna; Jornal do Commercio, 7 de junho de 1931, última coluna).

 

 

Sua vernissage aconteceu em 5 de junho e, a abertura para o público, no dia seguinte.

 

 

Sob o patrocínio da comissão organizadora do evento, o jornalista, pintor e intelectual Celso Kelly (1906 – 1979) proferiu uma conferência sobre a arte brasileira (A Noite, 10 de junho de 1931, penúltima coluna). Ele havia sido, em 1928, o organizador de um mostra livre de arte, na Biblioteca Nacional, que reuniu 300 trabalhos de 120 artistas, e que resultou na criação por ele e pelos irmãos Armando e Mário Navarro da Costa (1883 – 1931) da Associação Brasileira de Artistas, uma das promotoras do I Salão Feminino de Arte.

 

 

Em 12 de junho, o Diário de Notícias publicou uma reportagem especial sobre o evento:

 

 

 

 

 

Terra de Senna, pseudônimo do jornalista, escritor, humorista, poeta e dramaturgo Lauro Nunes (1896-1972), publicou uma crítica sobre o salão e comentou se tratar de um esforço digno dos maiores incentivos, porém lamentou seu caráter de exposição retrospectiva (Diário Carioca, 17 de junho de 1931, segunda coluna).

Em 22 de junho, a poetisa Anna Amélia Carneiro de Mendonça fez uma palestra intitulada Um salto de cinquenta anos (Jornal do Brasil, 23 de junho de 1931, quinta coluna).

 

 

A exposição foi encerrada com a palestra Príncipe Raul de Leoni, de Paschoal Carlos Magno (1906 – 1980) (A Noite, 29 de junho de 1931, segunda coluna). Publicação de uma crítica (O Jornal, 5 de julho de 1931).

 

 

O II Salão Feminino de Arte foi realizado muitos anos depois, em 1939, na Associação Cristã dos Moços. Algumas artistas que participaram do evento, em 1931, como Celita Vaccani, Georgina de Albuquerque e Regina Veira apoiavam a realização da segunda edição do evento, mais uma vez promovido pela Sociedade Brasileira de Belas Artes (Diário de Notícias 15 de junho de 1939, terceira coluna; O Jornal15 de junho de 1939, primeira coluna; e 23 de julho de 1939, quarta coluna).

 

Brevíssimo resumo de outros importantes eventos artísticos ocorridos no Rio de Janeiro em 1931

 

Movimento Artístico Brasileiro

 

 

Conforme mencionamos no início do artigo, em 1931, ocorreram no Rio de Janeiro outros importantes eventos da história das artes plásticas no Brasil. Um deles foi a criação do Movimento Artístico Brasileiro no Salão Essenfelder, no Studio Nicolas, que ficava localizado na Praça Marechal Floriano e pertencia ao fotógrafo romeno Nicolas Alagemovitz (1893 – 1940), um musicista que se fez mago da arte fotográfica, que era sócio do Photo Club Brasileiro. De acordo com o estatuto da nova associação, o Movimento foi organizado por uma comissão formada por Affonso de Carvalho, Nicolas Alagemovits, Fritz, Martha Silva Gomes, Henrique Pongetti, Bandeira Duarte e João Ribeiro Pinheiro.

“O “Movimento Artístico Brasileiro” começou pelo princípio: a sua sala no andar ocupado pelo fotógrafo Nicolas, num dos mais belos arranha céus da Cinelândia, dispõe de duzentas confortáveis cadeiras, de um palco para teatro, concertos e conferências e supera em elegância muitas das famosas “boîtes” espirituais de Paris, pequenas colmeias de homem de talento”.

 

O escritor Henrique Pongetti (1898 – 1979) em entrevista para o

Jornal do Brasil, 3 de junho de 1931

 

 

Segundo Nicolas, o Movimento Artístico Brasileiro é exclusivamente um centro de cultura, de arte e de pensamento e cuja atividade é dirigida no sentido de propagar todas as manifestações estéticas e congregar os seus criadores. José Siqueira, em artigo publicado, na Revista da Semana, de 19 de fevereiro de 1939, destacou que o Movimento vinha realizando uma série de conferências, concertos, recitais e exposições de pintura, em que tomaram parte grandes vultos da arte nacional e estrangeira. Essa instituição que é de todos os artistas, tem por fim congregá-los, para que dessa estreita união a Arte venha a ser amplamente beneficiada  (Diário de Notícias, 4 de junho de 1931Revista da Semana, 27 de junho de 1931, última coluna; Diário de Notícias, 22 de janeiro de 1932; Revista da Semana, 19 de fevereiro de 1938).

 

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Com a morte de Nicolas, em 27 de setembro de 1940, apesar de continuar existindo, o Movimento foi perdendo vigor e as notícias a seu respeito foram diminuindo na imprensa carioca nos anos que se seguiram (Correio da Manhã, 28 de setembro de 1940, última coluna).

 

Núcleo Bernardelli

 

 

Ainda em junho, no dia 12 , foi criado o Núcleo Bernardelli, formado por um grupo,  liderado por Edson Motta (1910 – 1981), de pintores insatisfeitos com o ensino artístico da Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro (ENBA). Buscavam democratizar o ensino de arte e conseguir o acesso dos artistas modernos ao prêmio de viagens ao exterior e ao Salão Nacional de Belas Artes. O nome é uma homenagem a dois professores da ENBA, os irmãos Henrique Bernardelli (1858-1936) e Rodolfo Bernardelli (1852-1931).

Alguns dos integrantes do grupo foram Bustamante de Sá (1907 – 1988), José Pancetti (1902 – 1958), Manoel Santiago (1897 – 1987) e Milton Dacosta (1915 – 1988) (Diário de Notícias, 12 de junho de 1931, quarta coluna). Sua primeira sede foi o já citado Studio Nicolas. Depois o grupo se transferiu para os porões da Escola Nacional de Belas Artes, onde permanceu até 1936, quando foi para a Rua São José e, depois, para a Praça Tiradentes, n. 85, até 1941, quando foi extinto.

 

Exposição Geral de Belas Artes de 1931, que ficou conhecido como Salão Revolucionário

 

 

Meses depois, em 1º de setembro, foi aberto a Exposição Geral de Belas Artes de 1931, que ficou conhecido como Salão Revolucionário, sob a organização do então diretor da instituição, Lúcio Costa (1902-1998). Foi um marco na história da arte no Brasil. A participação dos artistas modernos foi maciça e por decisão do júri do evento todos os trabalhos inscritos foram aceitos. Participaram da exposição Alfredo da Veiga Guignard (1896 – 1962), Cândido Portinari (1903 – 1962), Di Cavalcanti (1897 – 1976), Ismael Nery (1900 – 1934) e Pedro Correia de Araújo (1874 – 1955), dentre vários outros. Um dos destaques do salão foi o quadro Eu vi  mundo…ele começa no Recife, de Cícero Dias (1907 – 2003) (O Jornal, 2 de setembro de 1931). Foi chamado pelo poeta Manuel Bandeira de Salão dos Tenentes pela participação de diversos modernistas que se opunham aos generais da arte, os acadêmicos.

Abaixo, o artigo O “Salão dos Tenentes”, de Bandeira, publicado no Diário Nacional, de São Paulo, em 5 de setembro de 1931:

 

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Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

BANDEIRA, Manuel. O salão dos tenentes. VIEIRA, Lucia Gouveia. Salão de 31. Rio de Janeiro: Funarte, 1984. p.93-94.

Enciclopédia ItaúCultural

HARTWIG, Nathalia Lange. O Movimento Artístico Brasileiro (1931-1940) no cenário musical carioca dos anos 1930. XXVIII Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música – Manaus – 2018.

HARTWIG, Nathalia Lange. Salão Essenfelder: descobertas por meio da Imprensamusical do Rio de Janeiro da década de 1930. UFPR. ANAIS DO IV SIMPOM 2016  -SIMPÓSIO BRASILEIRO DE PÓS-GRADUANDOS EM MÚSICA.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

MORAES, Frederico. Cronologia das Artes Plásticas no Brasil 1816-1994. Rio de Janeiro : Topbooks, 2001.

SILVA, Tahis Canfield. Um olhar sobre o I Salão Feminino de Arte de 1931. XIII Encontro de História da Arte. Arte em confronto: embates em torno da história da arte, 2018..

 

Acesse aqui os outros artigos da Série “Feministas, graças a Deus!

Série “Feministas, graças a Deus!” I – Elvira Komel, a feminista mineira que passou como um meteoro, publicado em 25 de julho de 2020, de autoria da historiadora Maria Silvia Pereira Lavieri Gomes, do Instituto Moreira Salles, em parceria com Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” II  – Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993), o jequitibá da floresta, publicado em 20 de agosto de 2020, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” III  – Bertha Lutz e a campanha pelo voto feminino: Rio Grande do Norte, 1928, publicado em 29 de setembro de 2020, de autoria de Maria do Carmo Rainha, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” IV  – Uma sufragista na metrópole: Maria Prestia (? – 1988), publicado em 29 de outubro de 2020, de autoria de Claudia Heynemann, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” V – Feminista do Amazonas: Maria de Miranda Leão (1887 – 1976), publicado em 26 de novembro de 2020, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, mestre em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” VI – Júlia Augusta de Medeiros (1896 – 1972) fotografada por Louis Piereck (1880 – 1931), publicado em 9 de dezembro de 2020, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” VII – Almerinda Farias Gama (1899 – 1999), uma das pioneiras do feminismo no Brasil, publicado em 26 de fevereiro de 2021, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” VIII – A engenheira e urbanista Carmen Portinho (1903 – 2001), publicado em 6 de abril de 2021, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” IX – Mariana Coelho (1857 – 1954), a “Beauvoir tupiniquim”, publicado em 15 de junho de 2021, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” X – Maria Luiza Dória Bittencourt (1910 – 2001), a eloquente primeira deputada da Bahia, publicado em 25 de março de 2022, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XI e série “1922 – Hoje, há 100 anos” VI – A fundação da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, publicado em 9 de agosto de 2022, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XII e série “1922 – Hoje, há 100 anos” XI – A 1ª Conferência para o Progresso Feminino, publicado em 19 de dezembro de 2022, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, historiadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” XIII – E as mulheres conquistam o direito do voto no Brasil!, publicado em 24 de fevereiro de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XIV – No Dia Internacional da Mulher, Alzira Soriano, a primeira prefeita do Brasil e da América do Sul, publicado em 8 de março de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XV – No Dia dos Povos Índígenas, Leolinda Daltro,”a precursora do feminismo indígena” e a “nossa Pankhurst, publicado em 19 de abril de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XVII – Anna Amélia Carneiro de Mendonça e o Zeppelin, equipe de Documentação da Escola de Ciências Sociais FGV CPDOC, em parceira com Andrea C.T. Wanderley, publicado em 5 de janeiro de 2024

Série “1922 – Hoje, há 100 anos” VI e série “Feministas, graças a Deus!” XI – A fundação da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino

O assunto do sexto artigo da Série 1922 – Hoje há 100 anos e do décimo primeiro artigo da série Feministas, graças a Deus, é a fundação, em 9 de agosto de 1922, da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF), iniciativa vinculada ao movimento sufragista internacional, principal objetivo do feminismo no início do século XX. As outras reivindicações feministas eram, em resumo, a igualdade entre os sexos e a independência da mulher. A existência da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino foi fundamental para o processo de emancipação das mulheres no Brasil.

 

 

Ainda em 1922, em dezembro, a FBPF promoveu o I Congresso Internacional Feminista no Rio de Janeiro e recebeu a medalha de ouro na Exposição Internacional do Centenário da Independência (Revista da Semana, 2 de julho de 1932). Bertha Lutz  (1894 – 1976)Carmen Portinho (1903 – 2001), Jeronyma Mesquita (1880 – 1972) e Stella de Carvalho Guerra Duval (1879 – 1971) foram algumas das fundadoras da entidade, que sucedeu a Liga pela Emancipação Intelectual da Mulher e a Liga pelo Progresso Feminino. Eram mulheres com excelente escolaridade e conheciam as direções dos movimentos feministas tanto na Europa como nos Estados Unidos.

 

Acessando o link para as fotografias  relacionadas ao feminismo no Brasil disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Bertha Lutz, cuja biografia confunde-se com a história da FBPF, e Stella de Carvalho Guerra Duval foram designadas presidente e vice-presidente, respectivamente; a secretaria geral coube a Valentina Biosca (? -?) e a segunda secretaria a Esther Salgado Monteiro (?-?). A tesouraria ficou a cargo de Corina Barreiros (? -?) e a escritora Júlia Lopes de Almeida (1862 – 1934) foi eleita presidente de honra da federação.

 

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Em seu início, as reuniões da FBPF ocorriam nas residências das sócias, já que a entidade não tinha sede própria. Sua primeira sede ficava na avenida Rio Branco, 117 (Revista da Semana, 2 de julho de 1932).

 

 

No fim dos anos 20, a FBPF reunia várias associações profissionais de mulheres e possuía núcleos em vários estados, com destaque para os de Alagoas, sob a direção de Lili Lages (1907 – 2003), primeira mulher eleita deputada da Assembleia Legislativa de Alagoas, em 1934; da Bahia, dirigido por Maria Luísa Dória Bittencourt (1910 – 2001), primeira deputada estadual da Bahia, em 1935; de Minas Gerais, pela advogada Elvira Kommel (1906 – 1932); e de Pernambuco, por Nícia Sá Pereira.

Houve, durante os cerca de 15 anos da entidade, uma cisão, em 1930, devido a divergências entre Bertha Lutz e a advogada gaúcha Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993) em relação a questões de engajamento partidário. Natércia saiu da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino e fundou a Aliança Nacional de Mulheres, no Rio de Janeiro, em 30 de janeiro de 1931. A entidade era mobilizada pelo tema do trabalho e foi registrada em 7 de março do mesmo ano.

 

 

A FBPF liderou conquistas como a criação da União Universitária Feminina, em 13 de janeiro de 1929, sob a presidência de Carmen Portinho (1903 – 2001); as leis de proteção à mulher e à criança; o ingresso de meninas no Colégio Pedro II, a equiparação da Escola Normal aos cursos secundários oficiais e o voto feminino.

 

A Noite, 14 de janeiro de 1929A Noite, 14 de janeiro de 1929

 

Decreto nº 21.076, de 24 de fevereiro de 1932 instituiu o Código Eleitoral Provisório e reconheceu o direito de voto às mulheres.

 

 

Com a instauração do Estado Novo, em 10 de novembro de 1937, Bertha Lutz foi se afastando da FBPF e a entidade perdeu sua força. Em 1940, a escritora e declamadora Maria Sabina de Albuquerque (1898 – 1991) passou a presidi-la.

 

 

 

Pequeno perfil de algumas das fundadoras da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino

 

Bertha Lutz (1894 – 1976) foi um dos principais nomes do feminismo no Brasil. Em 1932,  foi uma das duas mulheres nomeadas para integrar a comissão para elaborar o ante-projeto da nova Constituição – a outra foi a advogada Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993).

 

 

Em 1936, Bertha, bióloga por formação, assumiu o mandato de deputada na Câmara Federal. Sempre ocupou importantes cargos públicos, dentre eles a chefia do setor de Botânica do Museu Nacional, cargo no qual se aposentou em 1964. Em agosto de 1965, recebeu o título de professora emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Sua vida sempre esteve ligada à ciência e à luta pela emancipação da mulher. Nasceu em São Paulo, em 2 de agosto de 1894, filha da enfermeira inglesa Amy Marie Gertrude Fowler (1869 – 1922 ) e do cientista e pioneiro da Medicina Tropical, Adolpho Lutz (1855 – 1940). Faleceu no Rio de Janeiro, em 16 de setembro de 1976.

 

Carmen Velasco Portinho (1903 – 2001) nasceu em Corumbá, no Mato Grosso, em 26 de janeiro de 1903, e foi uma militante das causas feministas como o sufrágio feminino, além de ativista pela educação das mulheres e pela valorização do trabalho feminino fora da esfera doméstica, tendo sido uma das primeiras mullheres a se formar em Engenheira Civil (1925) e a primeira a obter o título de urbanista (1939) no Brasil.

 

 

Sempre na vanguarda, foi uma mulher graciosa, cheia de energia, culta, inteligente, dinâmica, tenaz, considerada simpática e afável. E, segundo a própria, apesar de ter tido uma vida de muito trabalho, sempre se divertiu. Viveu quase todo o século XX, tendo falecido em 25 de julho de 2001.

 

A enfermeira Jerônima Mesquita (1880 – 1972) e Stella de Carvalho Guerra Duval (1879 – 1971) eram muito amigas e participaram juntas de diversos projetos além da FBPF.

Jerônima era mineira de Leopoldina. Trabalhou como voluntária da Cruz Vermelha na França e na Suíça durante a Primeira Guerra Mundial. Durante a Gripe Espanhola, já de volta ao Brasil, como associada da entidade Damas da Cruz Verde, ao lado de sua mãe, a baronesa do Bonfim, e de sua amiga Stella de Carvalho Guerra Duval, coordenou a assistência às vítimas da pandemia, no Rio de Janeiro, improvisando enfermarias de emergências dentro dos hospitais cariocas. Cerca de 14 senhoras da sociedade carioca faziam parte do grupo Damas da Cruz Verde.

Foi a partir dessa experiência que surgiu o projeto de criação da Pró-Matre, cuja fundação aconteceu na casa da família Duval, em 1º de abril de 1918, com a presença de Jerônima, da promotora cultural e feminista Laurinda Santos Lobo (1878 – 1946) e da escritora e também feminista Maria Eugênia Celso Carneiro de Mendonça (1886 – 1963), dentre outras mulheres, além do ginecologista e obstetra Fernando Magalhães (1871-1944) e do marido de Stella, o fotógrafo amador, barítono e poeta Fernando Guerra Duval (18? – 1959), com que havia se casado em 1º de dezembro de 1908. Formavam um casal muito popular e frequentavam os salões mais requintados e intelectualizados do Rio de Janeiro, além de terem sido festejados anfitriões de muitas festas e reuniões em seu palacete na rua Barão de Itambi, em Botafogo (O Imparcial, 31 de julho de 1935, terceira colunaIllustração Brasileira, janeiro de 1939).

 

 

Voltando à Pró-Matre. A primeira maternidade foi inaugurada em 9 de fevereiro de 1919, em um casarão na avenida Venezuela, cedido por Venceslau Brás (1868 – 1966), presidente da República. Stella foi tesoureira da entidade por quase vinte anos e sua presidente perpétua (O Paiz, 4 de dezembro de 1908, segunda colunaO Jornal, 5 de dezembro de 1951, segunda colunaO Cruzeiro, 12 de novembro de 1955).

 

 

Em 1919, Jerônima e Stella com Bertha Lutz, a escritora Maria Eugênia Celso Carneiro de Mendonça (1886 – 1963), a educadora Maria Lacerda de Moura (1887 – 1945), Isabel Imbassahy Chermont, a escritora Júlia Lopes de Almeida (1862 – 1934), Valentina Biosca, Esther Salgado Monteiro e Corina Barreiros criaram a Liga para a Emancipação Intelectual da Mulher. Em 1922, foi substituída pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino.

 

 

Jerônima fundou, em 1920, a Federação das Bandeirantes do Brasil e foi sua primeira presidente, tendo, devido à sua dedicação, sido homenageada com o título de Chefe Fundadora do Movimento Bandeirante brasileiro. Participou também da fundação da Associação Brasileira de Educação (1924) e da criação do Conselho Nacional das Mulheres (1947). Foi uma das pioneiras na luta pelo direito ao voto feminino, participando ativamente do movimento sufragista de 1932.

Em 1926, quando Madame Curie e sua filha, Irène Joliot-Curie (1897 – 1956) visitaram o Brasil, tanto Jerônima como Stella as receberam. Na ocasião, Jerônima presidia o Conselho Nacional de Mulheres (O Paiz, 31 de janeiro de 1926, quarta coluna). A cientista compareceu a uma reunião das senhoras da comissão de recepção organizada pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, na casa da tesoureira da instituição, Stella de Carvalho Guerra Duval (1879 – 1971)(O Paiz, 11 de agosto de 1926, quarta coluna). Houve também uma recepção oferecida pela baronesa de Bonfim (1862-1953) e por Jerônima. Entre os presentes, os ministros Félix Pacheco (1879 – 1935), Miguel Calmon (1879 – 1935) e Edmundo da Veiga (1869 – 1946), o prefeito do Rio de Janeiro, Alaor Prata (1882 – 1964), além de embaixadores, diplomatas, acadêmicos, enfim personalidades importantes de diversos setores da sociedade ( O Paiz, 7 de agosto de 1926, quarta coluna e Revista da Semana, 7 de agosto de 1927). Lembramos que Carmen Portinho e Bertha Lutz eram integrantes da comissão de senhoras da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino responsável pela programação da cientista e de sua filha, no Rio de Janeiro.

Em homenagem a Jerônima, o dia 30 de abril, data de seu nascimento, em 1880, é o Dia Nacional da Mulher, instituído pela Lei nº 6.791, de 9 de junho de 1980. Faleceu, em 10 de dezembro de 1972, no Rio de Janeiro (Jornal do Brasil, 11 de dezembro de 1971).

Stella de Carvalho Guerra Duval nasceu em 1º de dezembro de 1879 e faleceu em 2 de fevereiro de 1971, no Rio de Janeiro (Jornal do Brasil, 3 de fevereiro de 1971, última coluna).

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

BARRETO, Maria Renilda Nery. Pro Matre: arquivo e fontes para a história da maternidade no Rio de Janeiro, 2011.

DEL PRIORE, Mary (Org.). História das mulheres no Brasil. Coordenação de textos de Carla Bassanesi. São Paulo: Contexto, 1997

DEL PRIORI, Mary. História e conversas de mulher. São Paulo: Planeta Brasil, 2014

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

HEYNEMANN, Claudia; RAINHO, Maria do Carmo. Memória das lutas feministas in Brasiliana Fotográfica, 8 de agosto de 2017.

PINTO, Celi Regina Jardim. Uma história do feminismo no Brasil. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo (coleção história do povo brasileiro) 2003.

SCHUMAHER, Schuma; BRAZIL, Erico Vital (organizadores). Dicionário mulheres do Brasil: de 1500 até a atualidade biográfico e ilustrado. Rio de Janeiro : Jorge Zahar Ed., 2000.

Site Mulher 500 anos atrás dos panos

 

Acesse aqui os outros artigos da Série “Feministas, graças a Deus!

Série “Feministas, graças a Deus!” I – Elvira Komel, a feminista mineira que passou como um meteoro, publicado em 25 de julho de 2020, de autoria da historiadora Maria Silvia Pereira Lavieri Gomes, do Instituto Moreira Salles, em parceria com Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” II  – Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993), o jequitibá da floresta, publicado em 20 de agosto de 2020, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” III  – Bertha Lutz e a campanha pelo voto feminino: Rio Grande do Norte, 1928, publicado em 29 de setembro de 2020, de autoria de Maria do Carmo Rainha, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” IV  – Uma sufragista na metrópole: Maria Prestia (? – 1988), publicado em 29 de outubro de 2020, de autoria de Claudia Heynemann, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” V – Feminista do Amazonas: Maria de Miranda Leão (1887 – 1976), publicado em 26 de novembro de 2020, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, mestre em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” VI – Júlia Augusta de Medeiros (1896 – 1972) fotografada por Louis Piereck (1880 – 1931), publicado em 9 de dezembro de 2020, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” VII – Almerinda Farias Gama (1899 – 1999), uma das pioneiras do feminismo no Brasil, publicado em 26 de fevereiro de 2021, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” VIII – A engenheira e urbanista Carmen Portinho (1903 – 2001), publicado em 6 de abril de 2021, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” IX – Mariana Coelho (1857 – 1954), a “Beauvoir tupiniquim”, publicado em 15 de junho de 2021, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” X – Maria Luiza Dória Bittencourt (1910 – 2001), a eloquente primeira deputada da Bahia, publicado em 25 de março de 2022, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XII e série “1922 – Hoje, há 100 anos” XI – A 1ª Conferência para o Progresso Feminino, publicado em 19 de dezembro de 2022, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, historiadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” XIII – E as mulheres conquistam o direito do voto no Brasil!, publicado em 24 de fevereiro de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XIV – No Dia Internacional da Mulher, Alzira Soriano, a primeira prefeita do Brasil e da América Latina, publicado em 8 de março de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XV – No Dia dos Povos Índígenas, Leolinda Daltro,”a precursora do feminismo indígena” e a “nossa Pankhurst, publicado em 19 de abril de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XVI – O I Salão Feminino de Arte, em 1931, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica, publicado em 30 de junho de 2023

Série “Feministas, graças a Deus!” XVII – Anna Amélia Carneiro de Mendonça e o Zeppelin, equipe de Documentação da Escola de Ciências Sociais FGV CPDOC, em parceira com Andrea C.T. Wanderley, publicado em 5 de janeiro de 2024

Links para os artigos já publicados da Série 1922 – Hoje, há 100 anos

Série 1922 – Hoje, há 100 anos I – Os Batutas embarcam para Paris, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, publicado em 29 de janeiro de 2022

Série 1922 – Hoje, há 100 anos II- A Semana de Arte Moderna, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, publicado em 13 de fevereiro de 2022, na Brasiliana Fotográfica

Série 1922 – Hoje, há 100 anos III – A eleição de Artur Bernardes e a derrota de Nilo Peçanha, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, publicado em 1º de março de 2022, na Brasiliana Fotográfica

Série 1922 – Hoje, há 100 anos IV – A primeira travessia aérea do Atlântico Sul, realizada pelos aeronautas portugueses Gago Coutinho e Sacadura Cabral, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicada em 17 de junho de 2022, na Brasiliana Fotográfica

Série 1922 – Hoje, há 100 anos V – A Revolta do Forte de Copacabana, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicada em 5 de julho de 2022, na Brasiliana Fotográfica

Série 1922 – Hoje, há 100 anos VII – A morte de Gastão de Orleáns, o conde d´Eu (Neuilly-sur-Seine, 28/04/1842 – Oceano Atlântico 28/08/1922), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 28 de agosto de 2022, na Brasiliana Fotográfica.

Série 1922 – Hoje, há 100 anos VIII – A abertura da Exposição Internacional do Centenário da Independência do Brasil e o centenário da primeira grande transmissão pública de rádio no país, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 7 de setembro de 2022, na Brasiliana Fotográfica.

Série 1922 – Hoje, há 100 anos IX – O centenário do Museu Histórico Nacional, de autoria de Maria Isabel Lenzi, historiadora do Musseu Histórico Nacional, publicado em 12 de outubro de 2022, na Brasiliana Fotográfica.

Série 1922 – Hoje, há 100 anos X –  A morte do escritor Lima Barreto (1881 – 1922), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 1º denovembro de 2022, na Brasiliana Fotográfica

Série 1922 – Hoje, há 100 anos XI – 1ª Conferência pelo Progresso Feminino e o “bom” feminismo, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, antropóloga do Arquivo Nacional, publicado em 19 de dezembro de 2022, na Brasiliana Fotográfica.

Série “Feministas, graças a Deus”! VIII – A engenheira e urbanista Carmen Portinho (1903 – 2001)

 

“Acho que nasci feminista. Por isso não me lembro quando nem por que – estava na Escola Politécnica, isso eu sei – resolvi assumir esse meu lado contestatório e reivindicatório”.

 

 

A fotografia acima foi produzida pelo Serviço Fotográfico de Vida Doméstica e é muito semelhante a um registro publicado na edição de agosto de 1931 da revista. A dedicatória na foto é de novembro de 1931 e refere-se ao II Congresso Internacional Feminista, realizado no Rio de Janeiro, em junho de 1931, do qual Carmen foi a secretária-geral.

 

 

Nascida em Corumbá, no Mato Grosso, em 26 de janeiro de 1903, Carmen Velasco Portinho foi uma militante das causas feministas como o sufrágio feminino, além de ativista pela educação das mulheres e pela valorização do trabalho feminino fora da esfera doméstica, tendo sido a terceira mulher a se formar em Engenheira Civil (1925) e a primeira a obter o título de urbanista (1939) no Brasil. Sempre na vanguarda, foi uma mulher graciosa, cheia de energia, culta, inteligente, dinâmica, tenaz, considerada simpática e afável. E, segundo a própria, apesar de ter tido uma vida de muito trabalho, sempre se divertiu.

Viveu quase todo o século XX, tendo falecido em 2001. Conheceu pessoas influentes do Brasil e do mundo como o empresário norte-americano Nelson Rockfeller (1908 – 1979), o escritor francês André Malraux (1901 – 1976), os arquitetos Le Corbusier (1887 – 1965), Lúcio Costa (1902 – 1998), Mies Van Der Hohe (1886 – 1969), Oscar Niemeyer (1907 – 2012), e Walter Gropius (1883 – 1969), além de artistas como André Lhote (1885 – 1962), Candido Portinari (1903 – 1962), Cícero Dias (1907 – 2003), Edith Behring (1916 – 1996), José Pancetti (1902 – 1958), Maria Martins (1894 – 1973) e Roberto Burle Marx (1909 – 1994).

Foi amiga e trabalhou com diversas feministas, dentre elas a advogada Almerinda Farias Gama (1899 – 1999), a também engenheira civil Amélia Sapienza, a bióloga Bertha Lutz  (1894 – 1976), Déa Torres Paranhos (1915 – 2001), uma das primeiras mulheres registradas como arquiteta no CREA, em 1935; a advogada Elvira Komel (1906 – 1932), a naturalista e ornitóloga alemã Emilia Snethlage (1868-1929), a professora Heloisa Marinho (1903 – 1994), as médicas Herminia de Assis e Juana Lopes; a enfermeira Jerônima Mesquita (1880 – 1972), a mecenas Laurinda Santos Lobo (1878 – 1946), as advogadas Maria Alexandrina Ferreira Chaves, Maria Ester Correia Ramalho e Myrthes de Campos ( 1875 – 1965); a escritora Maria Eugênia Celso (1886 – 1963), a advogada Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993), Orminda Ribeiro Bastos (1899 – 1971), formada em Ciências Jurídicas; e Stella de Carvalho Guerra Duval (1879 – 1971).

 

 

Viajou muito, participou de congressos, seminários, programas de rádio, criou e escreveu para revistas e jornais, foi curadora e suas principais atividades sempre estiveram ligadas à engenharia, ao urbanismo, ao desenho industrial e às artes. Declarou em uma entrevista, em 1951, que suas paixões eram a matemática e a jardinagem. Vamos tentar nesse artigo traçar um perfil dessa mulher notável que deixou, a partir de suas ações, uma marca indelével na história do Brasil e na história da emancipação da mulher brasileira.

 

Acessando o link para as fotografias de Carmen Portinho disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Filha da boliviana Maria Velasco Blanco (1877 – 1958), conhecida como Mamita, com o gaúcho Francisco Sertório Portinho (1871 – 1925), conhecido como coronel Portinho, ainda criança, em 1911, mudou-se com os pais para o Rio de Janeiro. Era a primogênita de nove irmãos: as advogadas Branca (? – 1966) e Rosita (? – 1996) – que como ela nasceram em Corumbá – e os já nascidos no Rio de Janeiro, o engenheiro e jornalista José Velasco Portinho  (? – 1986), que foi diretor de O Jornal; os advogados Teresa (? – 1950), Carlos (? – 1991) e Luzia (? – c. 2005),  Maria de Lourdes (c. 1918 – 1962), que chegou a cursar os primeiros anos de Engenharia; e o também advogado Paulo (? – 2007). Luzia e Branca, se tornaram, por concurso, funcionárias da Câmara dos Deputados.

 

Maria Blanco Portinho e Francisco Sertório Portinho, os pais de Carmen

Maria Blanco Portinho e Francisco Sertório Portinho, os pais de Carmen / Correio da Manhã, 17 de julho de 1958Carmen Portinho – Por toda a minha vida

 

Começou a cursar, em 1920, Engenharia na Escola Politécnica da Universidade do Brasil. Ingressou também na Escola Nacional de Belas Artes, que cursou durante dois anos. Estudou escultura e desenho a mão livre com professores como o escultor Celso Antônio de Menezes (1896 – 1984) e o pintor Lucílio de Albuquerque (1877 – 1939). Foi na Escola de Belas Artes que Carmen conheceu e tornou-se amiga do arquiteto Lúcio Costa (1902 – 1998) e do pintor Candido Portinari (1903 – 1962) (O Jornal, 17 de maio de 1962, primeira coluna).

Em 9 de agosto de 1922, ela, Bertha Lutz  (1894 – 1976), Jerônima Mesquita (1880 – 1972) e Stella Guerra Duval (1879 – 1971) fundaram a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, que no mesmo ano recebeu a medalha de ouro na Exposição Internacional do Centenário da Independência. A iniciativa estava vinculada ao movimento sufragista internacional, principal tendência do feminismo no início do século XX. As outras reivindicações eram de igualdade entre os sexos e de independência da mulher.  Carmen foi tesoureira e vice-presidente da entidade. Inicialmente, a sede da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino ficava na avenida Rio Branco, 117 (Revista da Semana, 2 de julho de 1932).

Em 1924, formou-se como engenheira geógrafa e, ainda cursando Engenharia Civil na Escola Politécnica da Universidade do Brasil, para aumentar o rendimento familiar, dava aulas de matemática no Colégio Pedro II, um internato masculino, o que foi considerado um escândalo. O então ministro da Justiça, Augusto Viana do Castelo (1874 – 1953), tentou, sem sucesso, impedi-la. Conversaram, ela apresentou suas justificativas e o rendimento de seus alunos, tendo seguido lecionando por mais três a quatro anos no colégio, quando decidiu pedir demissão.

Seu pai, Francisco Sertório Portinho (1871 – 1925), que havia sido superintendente da Limpeza Pública do Distrito Federal, faleceu, em 1925 (O Paiz, 21 de outubro de 1925, última colunaJornal do Brasil, 29 de outubro, de 1925, sétima coluna). Nessa época, Carmen montou uma loja para suas irmãs trabalharem como datilógrafas.

 

A emancipação econômica da mulher é a base de sua emancipação social e política.

 

Formou-se, em 1925, como a terceira mulher engenheira civil do Brasil. Foi antecedida por Edwiges Becker e por Maria Ester Correia Ramalho e, em 1926, na cerimônia de colação de grau de engenheiros civis e de engenheiros geógrafos formados no anterior na Escola Politécnica, foi a responsável pela leitura do compromisso solene. Ao final de seu discurso, o orador da turma de engenheiros civis, Gentil Ferreira de Souza, prestou uma homenagem a ela oferecendo uma corbeille de flores. O paraninfo foi o engenheiro e político Mauricio Joppert (1890 – 1985), que foi, posteriormente presidente do Clube de Engenharia do Rio de Janeiro e ministro dos Transportes do governo do presidente José Linhares (1886 – 1957). O paraninfo da turma dos engenheiros geógrafos foi o engenheiro e astrônomo Henrique Morize (1860 – 1930), com quem o fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923) havia realizado experiências cinematográficas em 1897. Morize foi diretor do Observatório Nacional entre 1908 e 1929 e o primeiro presidente da Academia Brasileira de Ciências, de 1916 a 1926. Os ministro da Justiça e da Agricultura, Afonso Pena Junior (1879 – 1968) e Miguel Calmon (1912 – 1967), respectivamente, e o prefeito do Distrito Federal, Alaor Prata (1882 – 1964), estavam presentes à solenidade (O Paiz, 30 de abril de 1926Jornal do Brasil, 4 de maio de 1926, primeira colunaA União, 9 de maio de 1926, última coluna). Além dos já citados professores, ao longo do curso, Carmen foi aluna de Manuel Amoroso Costa (1885 – 1928) e José Matoso de Sampaio Correia (1875 – 1942), dentre outros.

 

 

Seu professor de Hidráulica, Mauricio Joppert (1890 – 1985), a convidou, com mais dois alunos, para trabalhar com ele em uma obra federal na Ilha das Cobras, prevista para durar dois anos. Declinou do convite devido à sua nomeação pelo então prefeito, Alaor Prata (1882 – 1964), ao quadro técnico da Diretoria de Obras e Viação da prefeitura do Distrito Federal do Brasil. Seu diretor, um engenheiro que não confiava na competência feminina, deu a ela como primeira tarefa a vistoria de um para-raios instalado no alto de um edifício da prefeitura. Seria um teste. Sua passagem pelo Centro Excursionista Brasileiro, quando escalava diversos morros cariocas, na companhia de amigas como Clotilde Cavalcanti (1904 – 1984), a ajudou a passar no teste. Segundo a própria: “Peguei uma escada, subi ao teto, vi o que o para-raios tinha e resolvi o problema. Foi uma maneira de enfrentar o preconceito“…”difícil mesmo foi aprender como se consertava um para-raios… (Jornal do Brasil, 20 de dezembro de 1999, última coluna). A partir desse dia, adotou calças compridas para o trabalho.

Em 1928, foi promovida a auxiliar técnico da Diretoria de Obras da Prefeitura do Distrito Federal (Correio Paulistano, 15 de abril de 1928, primeira coluna). Ainda nesse ano, ela, Bertha Lutz  (1894 – 1976) e Maria Amélia de Faria, tesoureira, presidente e secretária da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, respectivamente, sobrevoaram o Rio de Janeiro fazendo propaganda pelo voto feminino, lançando folhetos e cartões em cima dos edifícios da Câmara, do Senado e em diversas ruas do centro da cidade (Correio da Manhã, 12 de maio de 1928, sexta colunaCorreio Paulistano, 12 de maio de 1928, primeira coluna).

 

 

Foi uma das signatárias da Declaração dos Direitos da Mulher distribuído pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino. Outras que também assinaram o manifesto foram Bertha Lutz  (1894 – 1976), a mecenas da Belle Époque carioca, Laurinda Santos Lobo (1878 – 1946); a escritora Maria Eugênia Celso (1886 – 1963) e Maria de Lourdes Lamartine de Faria (1906 – 1992) (Correio da Manhã, 15 de junho de 1928).

 

 

 

 

 

Participou do banquete oferecido pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino à Julia Alves Barbosa (1898 – 1943), identificada como a primeira eleitora brasileira e uma das fundadoras da Associação de Eleitoras Norte-Rio-Grandenses. Na verdade, a primeira eleitora brasileira foi Celina Guimarães Viana (1890 – 1972) (O Paiz, 23 de junho de 1928, última colunaO Paiz, 24 de junho de 1928, Fundaj).

 

 

Abaixo a mesma foto, que faz parte do acervo do Arquivo Nacional:

 

 

Era, com Bertha Lutz  (1894 – 1976) e Orminda Ribeiro Bastos (1899 – 1971), responsável pela coluna “Feminismo”, de O Paiz (O Paiz, 4 de novembro de 1928).

Estava presente e foi fotografada na recepção a Lou Henry Hoover (1874 – 1944), mulher do então presidente eleito dos Estados Unidos, Herbert Hoover (1874 – 1964), ofereceu, no Palácio Guanabara, a associações feministas (O Paiz, 23 de dezembro de 1928).

 

 

Abaixo, a mesma foto, que pertence ao acervo do Arquivo Nacional. Carmen Portinho é a terceira, da direita para a esquerda.

 

 

Sob sua direção foi criada a União Universitária Feminina, no Rio de Janeiro, em 13 de janeiro de 1929, que congregava mulheres com ensino superior em prol da defesa dos direitos femininos. As outras criadoras da entidade foram a também engenheira civil Amélia Sapienza, a bióloga Bertha Lutz  (1894 – 1976),  a advogada Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993), a naturalista e ornitóloga alemã Emilia Snethlage (1868-1929), a professora Heloisa Marinho (1903 – 1994), as médicas Herminia de Assis e Juana Lopes, as advogadas Maria Alexandrina Ferreira Chaves, Maria Ester Correia Ramalho e Myrthes de Campos ( 1875 – 1965); e Orminda Ribeiro Bastos (1899 – 1971), formada em Ciências Jurídicas (O Paiz, 14 de janeiro de 1929, terceira colunaO Imparcial, 15 de janeiro de 1929, primeira colunaGazeta de Notícias, 15 de janeiro de 1929, quarta colunaA Noite, 5 de abril de 1930, primeira colunaManchete, 30 de janeiro de 1971).

 

 

 

 

Também em 1929, foi promovida a engenheira de segunda classe no quadro técnico da Diretoria de Obras da Prefeitura do Distrito Federal. Como era sempre preterida nas promoções, foi falar diretamente com o presidente da República, Washington Luís (1869 – 1957), que interferiu por ela. Ele teria dito ao comandante Braz Veloso, que o acompanhava nas audiências públicas: “Tome nota e providencie o pedido da moça“.

Desde seu ingresso na diretoria já havia fiscalizado as obras da Escola Modelo Soares Pereira, remodelado o Asilo Francisco de Assis, e estava incumbida da instalação elétrica de todos os próprios municipais, incluindo instalação em quase de todas as escolas públicas, fator este que favoreceu a inauguração de cursos noturnos que deixavam de funcionar por falta de iluminação. Havia sido também responsável por melhoramentos em escolas profissionais (A Noite, 9 de março de 1929, segunda colunaO Paiz, 9 de março de 1929, primeira colunaO Paiz, 10 de março de 1929, primeira coluna; Movimento Brasileiro, abril de 1920, coluna do meio).

Suas primeiras construções foram realizadas ao longo da década de 30: uma escola em Ricardo de Albuquerque, subúrbio carioca, e a sede da Polícia Municipal, na rua do Rezende, no centro do Rio de Janeiro; ambos projetos de Affonso Eduardo Reidy (1909 – 1964), de quem, anos depois, tornou-se companheira. Segundo Lúcio Costa (1902 – 1998), como arquiteto Reidy foi o mais elegante e civilizado de sua geração.

 

 

 

Para Carmen, Reidy projetou duas casas: a Casa Carmen Portinho, em Jacarepaguá, e a Casa Reidy-Portinho (1959), no Vale do Cuiabá, em Itaipava.

A Casa Carmen Portinho foi construída entre 1949 e 1952, concebida para que ele e Carmen vivessem lá. Ela foi a engenheira responsável (Diário Carioca, 11 de março de 1953, última coluna).

 

 

Ficou conhecida como Residência Carmen Portinho e foi tombada a nível municipal pelo Decreto nº 35.874 de 05 de julho de 2012, devido à sutileza plástica de sua arquitetura, na qual foram utilizadas técnicas inovadoras para sua época, tem sua presença destacada na cultura arquitetônica carioca.

 

 

 

Foi uma das idealizadoras da criação da Casa do Estudante do Brasil, inaugurada em 13 de agosto de 1929, durante uma assembleia promovida peo Centro Acadêmico Cândido de Oliveira, da Faculdade Nacional de Direito, reunindo estudantes universitários das escolas superiores do Rio de Janeiro e de representantes das escolas Naval e Militar. A poetisa e Rainha dos Estudantes, Ana Amélia Carneiro de Mendonça (1896 – 1971), foi aclamada presidente da entidade e o escritor Pascoal Carlos Magno (1906 – 1980), secretário (O Jornal, 13 de agosto de 1952, quinta colunaTribuna da Imprensa, 9 de março de 1956).

Na Escola Nacional de Música, Carmen esteve presente nas conferências realizadas pelo arquiteto francês Le Corbusier (1887 – 1965), em dezembro de 1929, a convite do arquiteto espanhol Morales de los Rios Filho (1887 – 1973). Foi a primeira visita de Le Corbusier ao Rio de Janeiro. Em pauta, urbanismo e revolução arquitetônica. Le Corbusier, considerado um dos mais importantes arquitetos do século XX, exerceu grande influência sobre a arquitetura moderna brasileira (O Jornal, 3 de dezembro de 1929, última colunaO Jornal, 4 de dezembro de 1929, quarta colunaO Jornal, 6 de dezembro de 1929, segunda colunaO Jornal, 8 de dezembro de 1929, quarta coluna). Foi com a construção do Ministério da Educação, no Rio de Janeiro, a partir de 1937, encomendado pelo ministro Gustavo Capanema (1900 – 1985), que no Brasil puseram-se em prática as teorias do arquiteto como brise soleil (proteção contra raios solares), pan de verre (fachada envidraçada) e pilotis (estacarias). O prédio é um ícone da arquitetura moderna brasileira.

No início da década de 30, foi uma das engenheiras responsáveis, sem cobrar por isso, pela adaptação de um sobrado na rua do Passeio, que havia sido sede do Clube dos Diários e da sociedade carnavalesca Democráticos, para abrigar a Associação Brasileira de Imprensa (Boletim da Associação Brasileira de Imprensa, agosto de 1956 e julho de 1961).

Representou o governo do Rio Grande do Norte no IV Congresso Pan-americano de Arquitetos, realizado no Rio de Janeiro entre 19 e 30 de junho de 1930. O estado ganhou na exposição promovida pelo congresso a medalha de prata por seu plano de remodelação de Natal. A tese da qual Carmen foi uma das vogais era Parques escolares, universitário, hospitalares, esportivos e de diversões (Jornal do Brasil, 28 de junho de 1930Mensagens do Governo do Rio Grande do Norte, 1930Correio da Manhã, 24 de junho de 1930, última coluna).

 

 

A bordo no navio Southern Prince, partiu para os Estados Unidos, onde participaria do Congresso Internacional de Estradas de Rodagem, em Washington, como delegada do Automóvel Clube do Brasil. Conheceu o Canadá e ficou hospedada com umas primas, em Nova York (Correio da Manhã, 15 de outubro de 1930, terceira colunaA Gazeta (SP), 14 de outubro de 1930, segunda coluna).

A Federação Brasileira pelo Progresso Feminino organizou o II Congresso Internacional Feminista, no Rio de Janeiro, inaugurado, em junho, no Automóvel Club. Carmen foi uma das encarregadas pela organização e pela programação do evento, cujos temas foram educação feminina, proteção às mães e à infância, trabalho feminino, direitos das mulheres e estreitamento das relações pan-americanas e internacionais (Correio da Manhã, 5 de março de 1931, primeira colunaJornal do Brasil, 19 de junho de 1931O Jornal, 19 de junho de 1931, primeira colunaCorreio da Manhã, 26 de junho de 1931O Malho, 27 de junho de 1931;  Revista da Semana, 27 de junho de 1931 Correio da Manhã, 1º de julho de 1931O Malho, 11 de julho de 1931Vida Doméstica, agosto de 1931).

 

 

 

Finalmente, o Decreto nº 21.076, de 24 de fevereiro de 1932 instituiu o Código Eleitoral Provisório e reconheceu o direito de voto às mulheres. Sobre essa conquista, em entrevista, declarou que deveria ser um estímulo para outros avanços: “Obtivemos a nossa emancipação política, mas esse direito assim isolado, de que nos serve?” (A Noite, 17 de agosto de 1933, última coluna).

Casou-se, em 11 de março de 1932, com o irmão da feminista Bertha Lutz, Gualter Adolpho Lutz (1903 – 1969), que viria a ser especialista em medicina legal, tornando-se catedrático da Escola Nacional de Medicina. Separaram-se poucos anos depois (Revista da Semana, 5 de março de 1932, primeira coluna).

 

 

Foi uma das fundadoras da Revista da Diretoria de Engenharia – posteriormente Revista Municipal de Engenharia -, cuja primeira edição foi publicada em julho de 1932. Foi criada por sugestão dada por ela ao então secretário de Obras do Rio de Janeiro, Delso Mendes da Fonseca (1899 – 1984). Seu diretor-geral era Everardo Backheuser e seu editor Armando de Godoy. A revista, técnica, divulgava as realizações da prefeitura, de engenheiros e de arquitetos. Carmen foi inicialmente secretária e posteriormente foi também redatora e diretora da publicação. Foi na Revista da Diretoria de Engenharia da Prefeitura do Distrito Federal que surgiram os primeiros ensaios sobre a arquitetura moderna no Brasil. No primeiro número foram publicados artigos sobre o primeiro projeto de Affonso Eduardo Reidy (1909 – 1964), sobre o projeto de Lúcio Costa e Warchavshick para apartamentos na Gamboa e dois artigos de Carmen, A arquitetura moderna na Holanda e Influência do nosso clima na arquitetura das prisões. Nas páginas da revista foram, portanto, publicados os primeiros ensaios sobre a arquitetura moderna no Brasil, que seria, anos depois, uma das mais importantes expressões da criatividade do país.

 

 

Foi a capa da revista Brasil Feminino de novembro de 1932.

 

 

Acompanhou a comissão do Ministério da Viação de obras contra a seca no Nordeste, a convite do ministro José Américo de Almeida (1887 – 1980). A comissão era presidida por Sampaio Correia (1875 – 1942) e contava com alguns de seus antigos professores como Mauricio Joppert (1890 – 1985) e Hildebrando de Góes (1899 – 1980). Durante a viagem, visitou as filiais da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino na Bahia, em Pernambuco, no Ceará e no Rio Grande do Norte (Jornal do Brasil, 30 de novembro de 1932, sexta coluna; Jornal do Recife, 7 de dezembro de 1932, penúltima colunaCorreio da Manhã, 10 de dezembro de 1932, terceira colunaJornal do Brasil, 14 de dezembro de 1932, terceira colunaJornal do Brasil, 15 de dezembro, segunda colunaJornal do Brasil, 23 de dezembro de 1932, terceira coluna).

Ela e Bertha Lutz  (1894 – 1976) participaram da Conferência Pan-americana, em Montevidéu, no Uruguai. Seguiram para o evento em companhia do diplomata Arno Konder (1882 – 1942), futuro cônsul do Brasil em Washington e na Alemanha (Correio da Manhã, 30 de novembro de 1933, quinta colunaJornal do Brasil, 2 de dezembro de 1933, sexta colunaCorreio da Manhã, 9 de dezembro de 1933, terceira coluna).

Em 1934, era a segunda secretária do Sindicato Central de Engenheiros, do qual, em 1938, tornou-se vice-presidente  (Jornal do Brasil, 7 de janeiro de 1934, primeira colunaRevista Municipal de Engenharia, setembro de 1938Correio da Manhã, 8 de outubro de 1938, primeira coluna). Também em 1934, foi nomeada engenheira-chefe da prefeitura (Jornal do Brasil, 16 de agosto de 1934, primeira coluna).

Ingressou, em 1936, no curso de pós-graduação do Curso de Urbanismo e Arquitetura da Universidade do Distrito Federal. Em 22 de dezembro de 1938, Carmen defendeu sua tese, Plano da futura capital do Brasil (Jornal do Brasil, 14 de dezembro de 1938, quinta colunaCorreio da Manhã, 18 de dezembro de 1938, segunda coluna).

 

 

Tornou-se, em 1939, a primeira mulher a obter o título de urbanista no Brasil (Correio da Manhã, 17 de janeiro de 1939, primeira coluna e sua tese foi publicada nas edições de março e maio da Revista Municipal de Engenharia. A primeira turma do curso era composta por oito alunos: Carmen Portinho, Déa Torres de Paranhos  (1915 – 2001), Albino dos Santos, Dante Jorge Albuquerque, Ricardo José Antunes Júnior, Paulo de Camargo e Almeida, João Lourenço da Silva e Adhemar Marinho da Cunha (O Imparcial, 7 de agosto de 1938, última coluna). Todos, menos ela, eram arquitetos. Teve como professores Mário de Andrade (1893 – 1945), de História da Arte; Candido Portinari (1903 – 1962), de Pintura; e Celso Antônio de Menezes (1896 – 1984), de Escultura, dentre outros. Foi nessa ocasião que conheceu Edith Behring (1916 – 1996), que se tornaria uma das mais importantes gravadoras brasileiras e futura responsável pelo Ateliê de Gravura do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

Por iniciativa de Carmen e de outras engenheiras, foi fundada, em 19 de julho de 1937, a Associação Brasileira de Engenheiras e Arquitetas (ABEA), para incentivar mulheres formadas a ingressar no mercado de trabalho. Ela foi sua primeira presidente (Correio da Manhã, 27 de julho de 1937, terceira coluna).

 

 

Lista de Presença da Fundação da ABEA / Fonte: Revista da ABEA Nacional – Ano 1 no. 1, 2011.

Lista de Presença da Fundação da ABEA /
Fonte: Revista da ABEA Nacional – Ano 1 no. 1, 2011.

 

Foi eleita, em 1940, membro do Conselho Diretor do Club de Engenharia, presidido por José Matoso de Sampaio Corrêa (1875 – 1942) (Jornal do Commercio, 16 de junho de 1940, segunda coluna).

Em 1945, foi uma das organizadoras, com Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993), Maria Luisa Dória de Bittencourt (1910 – 2001), primeira deputada da Bahia; Maria Rita Soares de Andrade (1904 – 1998) e outras mulheres, de uma coligação democrática para apoiar a candidatura do brigadeiro Eduardo Gomes (1896 – 1981) à presidência da República (Diário de Notícias, 24 de fevereiro de 1945, quinta coluna).

Viajou para a Inglaterra, em agosto de 1945, por ter recebido uma bolsa do Conselho Britânico para estagiar junto às comissões de reurbanização das cidades inglesas destruídas pela guerra. A viagem durou 24 dias de navio. Em setembro, já em Londres, ela ofereceu uma recepção na sede do British Council. Em outubro, foi homenageada com um almoço na residência do embaixador do Brasil em Londres, José Joaquim de Lima e Silva Muniz de Aragão (1887 – 1974). Em 21 de dezembro, foi oferecido em homenagem a seu regresso ao Brasil um cocktail na sede da Sociedade de Engenheiros da Prefeitura do Distrito Federal. Segundo ela, foi nesse período que aprendeu o conceito de unidade de habitação. Esteve também na Escócia e em Paris, quando encontrou-se com Beata Vettori (1909 – 1994), diplomata e sua antiga companheira na Federação Brasileira para o Progresso Feminino. Também, em Paris, encontrou-se com Le Corbusier (1887 – 1965) e lhe mostrou as transparências e as plantas da sede do Ministério da Educação (A Noite, 6 de setembro de 1945, terceira colunaO Jornal, 6 de outubro de 1945, primeira colunaJornal do Commercio, 7 de outubro de 1945, quinta colunaCorreio da Manhã, 15 de dezembro de 1945, sexta colunaRevista da Semana, 10 de abril de 1948Jornal do Commercio, 21 de dezembro de 1945, sexta coluna). 

Foi criado, em 1946, o Departamento de Habitação Popular da Secretaria de Viação e Obras Públicas da Prefeitura do Distrito Federal e Carmen foi nomeada sua chefe (Diário de Notícias, 5 de abril de 1946Correio da Manhã, 5 de abril de 1946, quarta colunaDiário de Notícias, 16 de abril de 1946, quarta colunaCorreio da Manhã, 17 de fevereiro de 1948, sétima colunaDiário Carioca, 3 de março de 1948, quinta coluna). Em 1951 foi destituída do cargo, para o qual foi e reconduzida em 1952. Em 1961, foi substituída pelo engenheiro Stelio Emmanuel de Alencar Roxo (1925 – ?), nomeado por Carlos Lacerda (1914 – 1977), que havia sido empossado no governo da Guanabara, em 5 de dezembro de 1960. Carmen tinha divergências políticas irreconciliáveis com Lacerda. Aposentou-se do serviço público (Diário Carioca, 4 de janeiro de 1961, quinta coluna).

No período que atuou à frente do departamento, lutou pela implementação de um programa de habitação popular na cidade do Rio de Janeiro. Liderou uma equipe de assistentes sociais, arquitetos e engenheiros que idealizaram e construíram quatro conjuntos residenciais, importantes e seminais na trajetória do urbanismo e da arquitetura no Brasil.

1 – O Conjunto Residencial do Pedregulho, cujos primeiros 54 apartamentos foram inaugurados com a presença do prefeito Ângelo Mendes de Moraes (1894 – 1990) e de diversas autoridades. Na ocasião, Carmen proferiu uma palestra sobre a construção (A Noite, 20 de junho de 1950, primeira coluna; Correio da Manhã, 21 de junho de 1950). O projeto de Reidy conquistou o  prêmio de Organização de Grandes Áreas ou de Urbanismo na Bienal Internacional de São Paulo de 1951 (Última Hora, 24 de agosto de 1951, quarta colunaCorreio da Manhã, 6 de dezembro de 1951, primeira coluna).

 

 

 

2 – O Conjunto Residencial da Gávea, outro projeto de Reidy. O prefeito Dulcidio Espírito Santo Cardoso (1896 – 1978) extinguiu a comissão de Planejamento e Direção das Obras do Parque Proletário na rua Marquês de São Vicente, na Gávea, que ficou a cargo de Carmen Portinho. Publicação de uma entrevista com ela (Jornal do Commercio, 16 de janeiro de 1953, primeira colunaA Noite, 17 de janeiro de 1953). Devido à sua aposentadoria, em 1961, não concluiu a obra.

 

 

 

3 – O Conjunto Habitacional Paquetá,  projeto de Francisco Bolonha (1923 – 2006), inaugurado em 1952 (Correio da Manhã, 30 de março de 1952, segunda coluna).

 

 

4 – O Conjunto Residencial de Vila Isabel , cuja concorrência foi aberta em 1954. Foi também um projeto do arquiteto Francisco Bolonha voltado para funcionários municipais (Diário de Notícias, 16 de janeiro de 1954, quinta colunaA Noite, 1º de outubro de 1956Jornal do Commercio, 18 de outubro de 2003, última coluna).

 

 

Entre 27 de setembro e 1º de outubro de 1947, participou, como delegada do Brasil, do Congresso Internacional de Mulheres, organizado pela Entente Mondiale pour la Paix, na sede da Unesco, onde ficava anteriormente o Hotel Majestic. Retornou em 24 de outubro e, em 5 de novembro, proferiu uma palestra sobre o evento, na Casa do Estudante do Brasil (Correio da Manhã, 18 de julho de 1947, terceira colunaCorreio da Manhã, 27 de agosto de 1947, quinta coluna; Correio da Manhã, 28 de setembro de 1947, última coluna; O Jornal, 28 de setembro de 1947, sexta colunaCorreio da Manhã, 25 de outubro de 1947, última colunaJornal do Commercio, 5 de novembro de 1947, primeira colunaRevista da Semana, 6 de dezembro de 1947).

Em 21 de março de 1951, foi eleita e tomou posse a nova diretoria do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, fundado em 1948: Raymundo de Castro Maya (1894 – 1968) – presidente -, Francisco de San Thiago Dantas  (1911 – 1964) – vice-presidente -, Niomar Moniz Sodré Bittencourt (1916 – 2003) – diretora executiva , Carmen Portinho – diretora executiva adjunta -, Maria Barreto (diretora secretária) e Walther Moreira Salles (1912 – 2001) (tesoureiro). Permaneceu no cargo até 1966. Nesses 15 anos, participou ativamente das atividades do museu, tendo apoiado, curado ou organizado importantes exposições de artistas como Portinari, Cícero Dias e Pancetti.

 

 

Foi a engenheira de sua sede definitiva, projeto de Reidy, no Aterro do Flamengo. O início das obras se deu em 9 de dezembro de 1954, quando o bate-estaca da obra foi acionado pelo então presidente Café Filho (1899 – 1970). Uma cápsula do tempo foi enterrada junto às fundações, contendo marcas do período, como moedas, notas e recortes de jornal. A pedido de Carmen, a artista plástica Lygia Clark decorou a barraca do museu com amostras do material que seria usado nas obras, com um painel de exposição na entrada, entre a sala de trabalho e de reuniões (Correio da Manhã, 9 de dezembro de 1954Tribuna da Imprensa, 10 de dezembro de 1954, penúltima colunaCorreio da Manhã, 16 de dezembro de 1954, terceira colunaVida Doméstica, janeiro de 1955).

 

 

Filme Reidy, a construção da utopia

 

Foi inaugurada em 27 de janeiro de 1958, com uma exposição permanente de seu acervo, uma mostra do inglês Ben Nicholson (1894 – 1982) e uma de escultores ingleses.  (Última Hora, 4 de janeiro de 1958, primeira colunaCorreio da Manhã, 5 de janeiro de 1958Correio da Manhã, 28 de janeiro de 1958Última Hora, 28 de janeiro de 1958, quarta colunaO Jornal, 30 de janeiro de 1958, última coluna).

 

 

O projeto do arquiteto Affonso Eduardo Reidy (1909 – 1964) é reconhecido internacionalmente como um marco da arquitetura moderna mundial. Seus jardins são de autoria de Roberto Burle Marx (1909 – 1994), que também integrou a equipe que realizou, alguns anos depois, o paisagismo do Parque Flamengo, contíguo ao museu.

 

 

 

Em 8 e 9 de setembro de 1966, respectivamente o presidente e o vice-presidente do Museu de Arte Moderna, Gustavo Capanema (1900 – 1985) e João Carlos Vital (1900 – 1984) pediram demissão. A crise no museu foi ocasionada pelo convite feito ao então ministro das Relações Exteriores, Juracy Magalhães (1905 – 2001), para visitar o museu na ocasião da exposição do artista português Bernardo Marques (1898 – 1962). Juracy era um desafeto de Niomar Moniz Sodré Bittencourt (1916 – 2003), então presidente de honra do museu. Em 27 de setembro foi realizada uma reunião do Conselho Deliberativo e por aclamação foi eleita uma nova diretoria. Assim, após 15 anos, Carmen Portinho deixou o cargo de diretora executiva adjunta do MAM-RJ, que exerceu desde 1951. Por não concordarem com esta resolução, os conselheiros Raymundo de Castro Maya (1894 – 1968), Rodrigo de Mello Franco (1898 – 1969) e Leonídio Ribeiro pediram demissão  (Correio da Manhã, 9 de setembro de 1966, primeira colunaCorreio da Manhã, 29 de setembro de 1966Jornal do Brasil, 14 de setembro de 1978, quinta colunaJornal do Brasil, 8 de julho de 1979).

Foi convidada, em 1967, pelo então governador da Guanabara, Francisco Negrão de Lima (1901 – 1981), para ser diretora da Escola Superior de Desenho Industrial – Esdi –, cargo que exerceu por 20 anos. A Esdi havia sido criada pelo Decreto 1.443, de 25 de dezembro de 1962, e publicado no Diário Oficial do Estado da Guanabara de 4 de janeiro de 1963, durante a gestão do governador Carlos Lacerda (1914 – 1977). Foi instalada à Rua Evaristo da Veiga 95, estendendo-se o terreno até a Rua do Passeio, onde tem o nº 80. Iniciou suas atividades de ensino em 1963, como instituição isolada, pertencente à estrutura da Secretaria de Educação e Cultura da Guanabara. Dada à fusão dos estados do Rio de Janeiro e Guanabara, foi integrada pelo decreto n°67, de 11 de abril de 1975, à nascente UERJ, antiga UEG (O Jornal, 1º de abril de 1967, quinta coluna; O Jornal, 11 de abril de 1967, primeira coluna; Leitura, agosto de 1967; Jornal do Brasil, 26 de setembro de 1977, primeira coluna). 

 

 

 

Foi sob sua direção que, em 1970, a Esdi foi oficializada pelo Conselho Nacional de Educação (Jornal dos Sports, 20 de maio de 1970, primeira coluna). Em 1986, Carmen conseguiu unanimidade na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro na contestação do veto do prefeito Saturnino Braga (1931 – ) ao projeto de preservação da área ocupada pela Esdi, impedindo o despejo da escola (Jornal do Commercio, 6 de julho de 1986, sexta coluna).

Em 1987, foi convidada pelo Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CDNM) a entregar ao presidente da Câmara dos Deputados, Ulysses Guimarães (1916 – 1992), ao lado de outras mulheres, a Carta das Mulheres aos constituintes, com propostas para a Constituição que estava sendo escrita (Correio Braziliense, 27 de março de 1987, segunda coluna).

Foi convidada, em 1988, para trabalhar como assessora do Centro de Tecnologia e Ciências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Recebeu o Prêmio Gonzaga Duque, da Associação Brasileira de Críticos de Arte, destinado a crítico associado, pela sua atuação ou publicação de livro. O troféu é uma escultura de Haroldo Barroso (1935 – 1989). Foi eleita presidente da Associação Brasileira de Críticos de Arte, cargo que ocupou até 1990, quando foi substituída por Esther Emilio Carlos. Uma curiosidade: foi por sugestão de Mario Pedrosa (1900 – 1981) que passou a fazer parte da Associação Brasileira de Críticos de Arte, em torno de 1967 (Jornal do Commercio, 3 de outubro de 1988, quinta colunaJornal do Commercio, 3 de outubro de 1990, quarta coluna).

Em 1991, passou a fazer parte da Comissão Técnica de Arte da Bienal Internacional de São Paulo (Jornal do Commercio, 22 de fevereiro de 1991, quinta coluna). Carmen Portinho, em 1993, era então a mais antiga engenheira do Brasil e coordenava as unidades do Centro de Tecnologia e Ciências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (O Globo, 27 de abril de 1993).

Em 1999, trabalhava como consultora do Centro de Tecnologia e Ciências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Foram lançados os livros Carmen Portinho, de autoria de Ana Luiza Nobre; e de Carmen Portinho – por toda a minha vida, um depoimento dela a Geraldo Edson de Andrade (Jornal do Brasil, 24 de novembro de 1999, terceira colunaJornal do Brasil, 18 de dezembro de 1999, última coluna).

Carmen faleceu no dia 25 de julho de 2001, aos 98 anos (Jornal do Brasil, 26 de julho de 2001). Não teve filhos, mas adotou informalmente uma menina de 6 anos, filha de sua irmã Maria de Lourdes (c. 1918 – 1962), morta precocemente – por coincidência, também chamada Carmen, irmã da atriz e cineasta Ana Maria Magalhães.

Em 2019, foi homenageada com a declaração do Ano Institucional Carmen Portinho da UERJ.

 

 

 

Cronologia de Carmen Velasco Portinho (1903 – 2001) 

 

 

1903 – Carmen Velasco Portinho nasceu em Corumbá, no Mato Grosso, em 26 de janeiro de 1903, filha do casal formado pela boliviana Maria Velasco Blanco (1877 – 1958) e pelo gaúcho Francisco Sertório Portinho (1876 – 1925). Maria Velasco, nascida em Cochabamba, em 4 de junho de 1877, e conhecida como Mamita era filha do poeta Leon Velasco e da professora Abigail Blanco. Casou-se em Corumbá com Francisco Sertório Portinho (1871 – 1925), conhecido  como coronel Portinho, nascido em Cachoeira do Sul. Ele havia sido obrigado a deixar o Rio Grande do Sul por ter participado da Revolução Federalista, ocorrida no estado entre 1893 e 1895, quando a paz foi assinada e os castilhistas foram vitoriosos. Portinho era maragato.

Carmen era a primogênita de nove irmãos: as advogadas Branca (? – 1966) e Rosita (? – 1996), que como ela nasceram em Corumbá. Os demais nasceram no Rio de Janeiro: o engenheiro e jornalista José Velasco Portinho  (? – 1986), que foi diretor de O Jornal; os advogados Teresa (? – 1950), Carlos (? – 1991) e Luzia (? – c. 2005),  Maria de Lourdes (c. 1918 – 1962), que chegou a cursar os primeiros anos de Engenharia; e o também advogado Paulo (? – 2007). Luzia e Branca, se tornaram, por concurso, funcionárias da Câmara dos Deputados.

1911 - Mudou-se com a família para o Rio de Janeiro.

1912 - Passou a estudar no Colégio Sacre-Coeur de Jésus, na Glória, onde aprendeu francês.

1914 - Estava inscrita e foi aprovada nos exames finais de instrução primária da Escola Afonso Pena (O Paiz, 29 de novembro de 1914, segunda colunaO Paiz, 22 de dezembro de 1914, penúltima coluna).

1918 – Enviou ao Tico-Tico: Jornal das Crianças, os textos A Tempestade e O Regato (Tico-Tico, 20 de março de 1918, última coluna).

Foi uma das organizadoras das manifestações dos alunos do externato Maurell da Silva em homenagem a Amalia Maurell da Silva, diretora do estabelecimento (O Paiz, 5 de setembro de 1918, segunda colunaJornal do Commercio, 6 de setembro de 1918, quarta coluna).

1919 – Em dezembro era candidata à turma suplementar de inglês do Colégio Pedro II (Correio da Manhã, 1º de dezembro de 1919, segunda coluna).

1920 Começou a cursar Engenharia na Escola Politécnica da Universidade do Brasil. Ingressou também na Escola Nacional de Belas Artes, que cursou durante dois anos. Estudou escultura e desenho a mão livre com professores como o escultor Celso Antônio de Menezes (1896 – 1984) e o pintor Lucílio de Albuquerque (1877 – 1939). Foi na Escola de Belas Artes que Carmen conheceu e tornou-se amiga do arquiteto Lúcio Costa (1902 – 1998) e do pintor Candido Portinari (1903 – 1962) (O Jornal, 17 de maio de 1962, primeira coluna).

1922 – No concurso Qual é a mulher mais bela do Brasil?, realizado no Rio de Janeiro, em uma apuração parcial, havia recebido dois votos na eleição do bairro de São Cristóvão (A Noite, 14 de junho de 1922, terceira coluna).

Em 9 de agosto, ela, Bertha Lutz  (1894 – 1976), Jeronyma Mesquita (1880 – 1972) e Stella Guerra Duval (1879 – 1971) fundaram a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, que no mesmo ano recebeu a medalha de ouro na Exposição Internacional do Centenário da Independência. A iniciativa estava vinculada ao movimento sufragista internacional, principal tendência do feminismo no início do século XX. As outras reivindicações eram de igualdade entre os sexos e de independência da mulher.  Carmen foi tesoureira e vice-presidente da entidade. Inicialmente, a sede da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino ficava na avenida Rio Branco, 117 (Revista da Semana, 2 de julho de 1932).

1924 – Formou-se engenheira-geógrafa.

1925 – Ainda cursando Engenharia Civil na Escola Politécnica da Universidade do Brasil, para aumentar o rendimento familiar, dava aulas de matemática no Colégio Pedro II, um internato masculino, o que foi considerado um escândalo. Sem sucesso, o então ministro da Justiça, Augusto Viana do Castelo (1874 – 1953), tentou, sem sucesso, impedi-la. Conversaram, ela apresentou suas justificativas e o rendimento de seus alunos, tendo seguido lecionando por mais três a quatro anos no colégio, quando decidiu pedir demissão.

Seu pai, Francisco Sertório Portinho (1871 – 1925), que havia sido superintendente da Limpeza Pública do Distrito Federal, faleceu (O Paiz, 21 de outubro de 1925, última colunaJornal do Brasil, 29 de outubro, de 1925, sétima coluna).

Nessa época, Carmen montou uma loja para suas irmãs trabalharem como datílografas.

Integrava uma das juntas examinadoras dos estabelecimentos de ensino secundário de Petrópolis (Correio da Manhã, 15 de novembro de 1925, sétima coluna).

Formou-se como a terceira mulher engenheira civil do Brasil. Foi antecedida por Edwiges Becker e por Maria Ester Correia Ramalho.

1926 – Na cerimônia de colação de grau de engenheiros civis e de engenheiros geógrafos formados no anterior na Escola Politécnica, Carmen foi a responsável pela leitura do compromisso solene. Ao final de seu discurso, o orador da turma de engenheiros civis, Gentil Ferreira de Souza, prestou uma homenagem a ela, que se tornou uma das primeiras engenheiras do Brasil, a quem foi entregue uma corbeille de flores. O paraninfo foi o engenheiro e político Mauricio Joppert (1890 – 1985), que foi, posteriormente presidente do Clube de Engenharia do Rio de Janeiro e ministro dos Transportes do governo do presidente José Linhares (1886 – 1957). O paraninfo da turma dos engenheiros geógrafos foi o engenheiro e astrônomo Henrique Morize (1860 – 1930), com quem o fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923) havia realizado experiências cinematográficas em 1897. Morize foi diretor do Observatório Nacional entre 1908 e 1929 e o primeiro presidente da Academia Brasileira de Ciências, de 1916 a 1926. Os ministro da Justiça e da Agricultura, Afonso Pena Junior (1879 – 1968) e Miguel Calmon (1912 – 1967), respectivamente, e o prefeito do Distrito Federal, Alaor Prata (1882 – 1964), estavam presentes à solenidade (O Paiz, 30 de abril de 1926Jornal do Brasil, 4 de maio de 1926, primeira colunaA União, 9 de maio de 1926, última coluna). Além dos já citados professores, ao longo do curso, Carmen foi aluna de Manuel Amoroso Costa (1885 – 1928) e José Matoso de Sampaio Correia (1875 – 1942), dentre outros.

 

 

Seu professor de Hidraúlica, Mauricio Joppert (1890 – 1985), a convidou, com mais dois alunos, para trabalhar com ele em uma obra federal na Ilha das Cobras, prevista para durar dois anos. Declinou do convite devido à sua nomeação pelo então prefeito, Alaor Prata (1882 – 1964), ao quadro técnico da Diretoria de Obras e Viação da prefeitura do Distrito Federal do Brasil. Seu diretor, um engenheiro que não confiava na competência feminina, deu a ela como primeira tarefa a vistoria de um para-raios instalado no alto de um edifício da prefeitura. Seria um teste. Sua passagem pelo Centro Excursionista Brasileiro, quando escalava diversos morros cariocas, na companhia de amigas como Clotilde Cavalcanti (1904 – 1984), a ajudou a passar no teste. Segundo a própria: “Peguei uma escada, subi ao teto, vi o que o para-raios tinha e resolvi o problema. Foi uma maneira de enfrentar o preconceito“…”difícil mesmo foi aprender como se consertava um para-raios… (Jornal do Brasil, 20 de dezembro de 1999, última coluna). A partir desse dia, adotou calças compridas para o trabalho.

Participou do lançamento da pedra fundamental da Maternidade do Méier (O Paiz, 22 de maio de 1926, última colunaO Jornal, 22 de maio de 1926).

1926 – Ela e Carlos Penna e fiscalizavam as obras da Escola Municipal Soares Pereira (O Jornal, 14 de novembro de 1926,  quinta coluna).

Em 15 de julho, foi uma das mulheres que recepccionam a cientista francesa Marie Curie (1867 – 1934), anunciada como uma das mais ilustres individualidades do mundo científico internacional, e sua filha Irène Joliot-Curie (1897 – 1956), que haviam chegado ao Rio de Janeiro a bordo do navio Pincio (O Paiz, 16 de julho de 1926, sexta coluna).  Participou da conferência inaugural do curso de Madame Curie sobre o elemento rádio na Escola Politécnica (Correio da Manhã, 21 de julho de 1926, quinta colunaCorreio da Manhã, 22 de julho de 1926, segunda coluna; O Paiz, 21 de julho de 1926, primeira coluna). Era uma das integrantes da comissão de senhoras da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, presidido por Bertha Lutz  (1894 – 1976), responsáveis pela programação da cientista e de sua filha no Rio de Janeiro (O Paiz, 26 e 27 de julho de 1926, última coluna).

1927 - Fazia parte da quarta junta examinadora para os exames de 2ª época dos colégios particulares do Distrito Federal. As juntas eram designadas pelo diretor-geral do Departamento Nacional de ensino, na época, Aloysio de Castro (1881 – 1959) (Jornal do Commercio, 12 de março de 1927, última coluna).

Participou, assim como Bertha Lutz  (1894 – 1976) e outras feministas, de uma reunião da Comissão de Legislação e Justiça do Senado, presidida por Adolfo Gordo (1858 – 1929). Em pauta: o voto feminino. A sessão foi aberta pelo senador Aristides Rocha (1882 – 1950), relator da comissão. Na época, Carmen era uma das secretárias da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (O Paiz, 13 de novembro de 1927, primeira coluna).

 

 

Parabenizou o governador Juvenal Lamartine de Faria (1874 – 1956) pela instituição do voto feminino no Rio Grande do Norte (O Jornal, 25 de novembro de 1927, primeira coluna).

1928 - Era a tesoureira da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (O Paiz, 4 de abril de 1928, terceira coluna).

Foi promovida a auxiliar técnico da Diretoria de Obras da Prefeitura do Distrito Federal (Correio Paulistano, 15 de abril de 1928, primeira coluna)

Ela, Bertha Lutz  (1894 – 1976) e Maria Amélia de Faria, tesoureira, presidente e secretária da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, respectivamente, sobrevoaram o Rio de Janeiro fazendo propaganda pelo voto feminino, lançando folhetos e cartões pelo sufrágio feminino em cima dos edifícios da Câmara, do Senado e em diversas ruas do centro da cidade (Correio da Manhã, 12 de maio de 1928, sexta colunaCorreio Paulistano, 12 de maio de 1928, primeira coluna).

 

 

Estava presente ao desembarque, no Rio de Janeiro, do governador de São Paulo, Júlio Prestes (1882 – 1946), que ficou hospedado no Copacabana Palace. Ele veio à cidade para ser padrinho do casamento de Maria Pereira de Souza, filha do presidente Washington Luís (1869 – 1957), com o advogado Firmino Pires de Mello (O Paiz, 13 de maio de 1928, terceira coluna).

Foi receber Juvenal Lamartine de Faria (1874 – 1956), governador do Rio Grande do Norte, e patrono do voto feminino, que chegava ao Rio de Janeiro, a bordo do navio Almanzora, em 5 de maio de 1928. Na ocasião, estavam no cais, aguardando pelo governador, autoridades políticas, além de outras associadas da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino como a advogada Natércia da Cunha Silveira (1905 -1993) e a engenheira civil Carmen Portinho (1903 – 2001). A advogada Orminda Ribeiro Bastos (1899 – 1971), também da FBPF,  saudou o governador como representante do Norte do país e Natércia como a representante do Sul (O Paiz, 6 de maio de 1928O Paiz, 7 de maio de 1928, última coluna).

Em nome da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF), Carmen fez a saudação a Juvenal, poucos dias antes do regresso do governador ao Rio Grande do Norte, durante uma chá oferecido a ele no Hotel Glória (O Jornal, 1º de junho de 1928O Paiz, 6 de junho de 1928).

 

 

Foi uma das signatárias da Declaração dos Direitos da Mulher distribuído pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino. Outras que também assinaram o manifesto foram Bertha Lutz  (1894 – 1976), a mecenas da Belle Époque carioca, Laurinda Santos Lobo (1878 – 1946); a escritora Maria Eugênia Celso Carneiro de Mendonça (1886 – 1963) e Maria de Lourdes Lamartine de Faria (1906 – 1992) (Correio da Manhã, 15 de junho de 1928).

 

 

 

 

 

Participou do banquete oferecido pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino à Julia Alves Barbosa (1898 – 1943), identificada como a primeira eleitora brasileira e uma das fundadoras da Associação de Eleitoras Norte-Rio-Grandenses. Na verdade a primeira eleitora brasileira foi Celina Guimarães Viana (1890 – 1972) (O Paiz, 23 de junho de 1928, última colunaO Paiz, 24 de junho de 1928).

“É importante lembrar que Celina Guimarães Viana, natural de Mossoró, não foi a primeira mulher a requerer inclusão no alistamento eleitoral. Em verdade, tal pioneirismo coube à professora Júlia Alves Barbosa, nascida em Natal, em 24 de novembro de 1927. Entretanto, na época, dada à sua condição de solteira, o juiz da 1ª vara da Capital retardou o deferimento do pleito de Júlia, e este só saiu publicado, no Diário Oficial do Estado, no dia 1º de dezembro do mesmo ano. Por outro lado, o despacho de Celina foi rapidamente aprovado, pelo fato de ser casada com um advogado e professor. Logo, por ser esposa de alguém importante, Celina se tornou a primeira eleitora não apenas do Rio Grande do Norte e do Brasil, porém, de toda a América Latina. E Júlia Alves Barbosa ficou sendo a segunda eleitora. Seja como for, pode-se observar como o movimento sufragista potiguar era atuante, na época” (Fundaj).

 

 

Abaixo a mesma foto, que faz parte do acervo do Arquivo Nacional:

 

 

Era, com Bertha Lutz  (1894 – 1976) e Orminda Ribeiro Bastos (1899 – 1971), responsável pela coluna “Feminismo”, de O Paiz (O Paiz, 4 de novembro de 1928).

Estava presente e foi fotografada na recepção a Lou Henry Hoover (1874 – 1944), mulher do então presidente eleito dos Estados Unidos, Herbert Hoover (1874 – 1964), ofereceu, no Palácio Guanabara, a associações feministas (O Paiz, 23 de dezembro de 1928).

 

 

Abaixo, a mesma foto, que pertence ao acervo do Arquivo Nacional. Carmen Portinho é a terceira, da direita para a esquerda.

 

 

1929 - Sob sua direção foi criada a União Universitária Feminina, no Rio de Janeiro, em 13 de janeiro de 1929, que congregava mulheres com ensino superior em prol da defesa dos direitos femininos. As outras criadoras da entidade foram a também engenheira civil Amélia Sapienza, a bióloga Bertha Lutz  (1894 – 1976),  a advogada Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993), a naturalista e ornitóloga alemã Emilia Snethlage (1868-1929), a professora Heloisa Marinho (1903 – 1994), as médicas Herminia de Assis e Juana Lopes, as advogadas Maria Alexandrina Ferreira Chaves, Maria Ester Correia Ramalho e Myrthes de Campos ( 1875 – 1965); e Orminda Ribeiro Bastos (1899 – 1971), formada em Ciências Jurídicas (O Paiz, 14 de janeiro de 1929, terceira colunaO Imparcial, 15 de janeiro de 1929, primeira colunaGazeta de Notícias, 15 de janeiro de 1929, quarta colunaA Noite, 5 de abril de 1930, primeira colunaManchete, 30 de janeiro de 1971).

 

 

 

 

Aderiu a um almoço organizado por professores em homenagem ao delegado do Departamento Nacional do Ensino, Raul Leitão da Cunha (1881 – 1947), no Bar e Restaurante Lido-Antártica, na avenida Atlântica (Correio da Manhã, 17 de janeiro de 1929, segunda coluna).

Foi publicado o artigo de sua autoria A mulher na atuação universitária (O Paiz, 27 de janeiro de 1929).

Na coluna “Notas sociais”, publicação de um comentário desairoso sobre o feminismo e o estilo das roupas das feministas. Bertha Lutz  (1894 – 1976) e Carmen Portinho foram citadas (Jornal do Brasil, 27 de fevereiro de 1929, primeira coluna).

Foi promovida a engenheira de segunda classe no quadro técnico da Diretoria de Obras da Prefeitura do Distrito Federal. Como era sempre preterida nas promoções, foi falar diretamente com o presidente da República, Washington Luís (1869 – 1957), que interferiu por ela. Ele teria dito ao comandante Braz Veloso, que o acompanhava nas audiências públicas: “Tome nota e providencie o pedido da moça“.

Desde seu ingresso na diretoria já havia fiscalizado as obras da Escola Modelo Soares Pereira, remodelado o Asilo Francisco de Assis, e estava incumbida da instalação elétrica de todos os próprios municipais, incluindo instalação em quase de todas as escolas públicas, fator este que favoreceu a inauguração de cursos noturnos que deixavam de funcionar por falta de iluminação. Havia sido também responsável por melhoramentos em escolas profissionais e até para a colocação de um para-raio já havia sido incumbida (A Noite, 9 de março de 1929, segunda colunaO Paiz, 9 de março de 1929, primeira colunaO Paiz, 10 de março de 1929, primeira coluna). Suas primeiras construções foram realizadas ao longo da década de 30: uma escola em Ricardo de Albuquerque, subúrbio carioca, e a sede da Polícia Municipal, na rua do Rezende, no centro do Rio de Janeiro; ambos projetos de Affonso Eduardo Reidy (1909 – 1964), de quem, na década de 40, tornou-se companheira.

 

 

 

No Palace Hotel, Carmen participou de uma sessão presidida pela enfermeira e líder feminista Jeronyma Mesquita (1880 – 1972) em que se deliberou que as associações femininas colaborariam com a campanha de educação sanitária, de acordo com a Comissão de Cooperação de Exitinção da Febre Amarela (O Paiz, 14 de abril de 1929, terceira colunaDiário Nacional, 24 de abril de 1929, segunda coluna).

Integrava a comissão organizadora do II Congresso Pan-americano de Estradas de Rodagem, inaugurado em 18 de agosto de 1929, no Rio de Janeiro. Foi com o deputado Rafael Fernandes e com o engenheiro Clóvis Nóbrega, representante do Rio Grande do Norte (Correio da Manhã, 3 de agosto de 1929, terceira coluna; Jornal do Commercio, 3 de agosto de 1929, quinta coluna).

Foi uma das idealizadoras da criação da Casa do Estudante do Brasil, inaugurada em 13 de agosto de 1929, durante uma assembleia promovida pelo Centro Acadêmico Candido de Oliveira, da Faculdade Nacional de Direito, reunindo estudantes universitários das escolas superiores do Rio de Janeiro e de representantes das escolas Naval e Militar. A poetisa e Rainha dos Estudantes, Ana Amélia Carneiro de Mendonça (1896 – 1971), foi aclamada presidente da entidade e o escritor Pascoal Carlos Magno (1906 – 1980), secretário (O Jornal, 13 de agosto de 1952, quinta colunaTribuna da Imprensa, 9 de março de 1956).

Acompanhou os delegados estrangeiros que participaram do  II Congresso Pan-americano de Estradas de Rodagem a uma visita a São Paulo (Correio Paulistano, 31 de agosto de 1929, terceira coluna).

 

 

 

Estava presente ao chá de despedida oferecido pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, no Pão de Açúcar, à comissão de estudantes norte-americanos vencedores no concurso nacional de oratória promovido nos Estados Unidos. As três mulheres vencedoras de conscursos regionais e também Maria Luisa Dória de Bittencourt (1910 – 2001), vencedora do concurso promovido na Faculdade de Direito, no Rio de Janeiro, foram homenageadas. Maria Luisa tornou-se, em 1935, a primeira deputada estadual da Bahia (Jornal do Commercio, 14 de setembro de 1929, primeira colunaJornal do Brasil, 14 de setembro de 1929, quarta coluna).

 

 

 

Em reunião da União Universitária Feminina, foi aprovado o apoio da entidade a um grupo de líderes feministas europeias o sentido de obtenção da nomeação de mulheres delegadas entre os representantes oficiais dos governos na próxima Conferência de Codificação do Direito Internacional Privado, que ocorreria em Haia, em 1930. Outra solicitação aprovada foi a de colaboração para que esses mesmos governos apoiassem os direitos de nacionalidade idênticos para homens e mulheres. Também foi criada uma comissão, que Carmen passou a integrar, para auxiliar a propaganda junto à imprensa e a venda de entradas para a peça Orfeu, que seria encenada no estádio do Fluminene em benefício da Casa do Estudante. A feminista e poetisa Ana Amélia Carneiro de Mendonça (1896 – 1971) participou do encontro (O Jornal, 3 de outubro de 1929, quinta colunaJornal do Commercio, 5 de outubro de 1929, segunda coluna).

Integrava a comissão nomeada pela Associação Comercial para estudar a reforma do Calendário (Gazeta de Notícias, 18 de outubro de 1929, última colunaCorreio Paulistano, 29 de outubro de 1929).

Em reunião da União Universitária Feminina, presidida por ela, foi comunicado que a feminista mineira Elvira Komel (1906 – 1932) estava fundando com a colaboração de Alzira Reis Vieira Ferreira (1886 – 1970), de Teófilo Otoni, o Diretório Mineiro da entidade. O evento foi realizado na sede da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, na avenida Rio Branco, nº 111 (Jornal do Commercio, 2 de novembro de 1929, quarta coluna).

Publicação de uma entrevista de Carmen Portinho a respeito de suas impressões sobre as atividades políticas e sociais das mulheres argentinas durante a temporada de cerca de um mês que passou naquele país, enviada por O Jornal. Visitou os jornais La PrensaLa Razon e Caras y Caretas, além de instituições de caridade dirigidas por mulheres. Regressou  no dia 21 de novembro a bordo do transatlântico Astúrias (Correio da Manhã, 22 de novembro de 1929, quarta colunaO Jornal, 23 de novembro de 1929).

 

 

Na Escola Nacional de Música, Carmen esteve presente nas conferências realizadas pelo arquiteto francês Le Corbusier (1887 – 1965), a convite do arquiteto espanhol Morales de los Rios Filho (1887 – 1973). Foi a primeira visita de Le Corbusier ao Rio de Janeiro. Em pauta, urbanismo e revolução arquitetônica. Le Corbusier, considerado um dos mais importantes arquitetos do século XX, exerceu grande infuência sobre a arquitetura moderna brasileira (O Jornal, 3 de dezembro de 1929, última colunaO Jornal, 4 de dezembro de 1929, quarta colunaO Jornal, 6 de dezembro de 1929, segunda colunaO Jornal, 8 de dezembro de 1929, quarta coluna). Foi com a construção do Ministério da Educação, no Rio de Janeiro, a partir de 1937, encomendado pelo ministro Gustavo Capanema (1900 – 1985), que no Brasil puseram-se em prática as teorias do arquiteto como brise soleil (proteção contra raios solares), pan de verre (fachada envidraçada) e pilotis (estacarias). O prédio é um ícone da arquitetura moderna brasileira.

O discurso que proferiu, na sede da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, sobre as associações femininas argentinas na ocasião da palestra do ministro plenipotenciário do Uruguai, Ramos Monteiro, foi muito aplaudido. Ramos Monteiro falou sobre o movimento feminista em seu país (Jornal do Commercio, 14 de dezembro de 1929, última coluna).

1930 – Apesar de nunca ter estado em Natal, no Rio Grande do Norte, colaborou com o arquiteto italiano Giacomo Palumbo (1891 – 19?) no projeto de remodelação da cidade.

No início dessa década foi uma das engenheiras responsáveis, sem cobrar por isso, pela adaptação de um sobrado na rua do Passeio, que havia sido sede do Clube dos Diários e da sociedade carnavalesca Democráticos, para abrigar a Associação Brasileira de Imprensa (Boletim da Associação Brasileira de Imprensa, agosto de 1956 e julho de 1961).

No Hotel Glória, foi comemorado com um almoço o primeiro ano da fundação da União Universitária Feminina com a presença de Carmen Portinho, Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993), Amélia Sapienza, Mary Corbett, “Master of Arts”; Srta Gutrie, além das estudantes de engenharia Elza Pinho Osborne (? – 1995), Renée Rocques e Sylvia Vacanni (Jornal do Brasil, 14 de janeiro de 1930, primeira colunaO Paiz, 13 e 14 de janeiro de 1930, segunda coluna).

 

 

Em entrevista para o Jornal do Brasil, Carmen Portinho chamava atenção para a importância da construção de praças de jogos para crianças (Jornal do Brasil, 25 de janeiro de 1930, quinta coluna).

No Liceu de Artes e Ofícios, visitou a exposição póstuma de desenhos do jornalista Roberto Rodrigues (1906 – 1929), assassinado na redação do jornal a Crítica, em 26 de dezembro de 1929, pela escritora Sylvia Serafim Thibau (1902 – 1936). O estopim do crime foi a publicação na primeira página do jornal da notícia do pedido de seu desquite do médico João Thibau Júnior, com quem Silvia tinha dois filhos, acompanhado de um desenho. O jornal a acusava de estar tendo um caso com o médico Manuel Dias de Abreu (1894 – 1962), futuro inventor da abreugrafia (Crítica, 28 de fevereiro de 1930, quinta coluna).

Ela e Bertha Lutz (1894 – 1976) falaram sobre o feminismo em uma reunião do Rotary Club (Revista da Semana, 24 de maio de 1930).

O advogado, escritor e jornalista Sebastião Paraná (1864 – 1938), na coluna “Crônica” comenta o fato de Bertha Lutz  (1894 – 1976), Carmen Portinho e Amélia Carolina de Freitas Bevilacqua (1860 – 1946) terem tentado, sem sucesso, ingressar na Academia Brasileira de Letras (Diário da Tarde (PR), 16 de junho de 1930, segunda coluna).

Representou o governo do Rio Grande do Norte no IV Congresso Pan-americano de Arquitetos, realizado no Rio de Janeiro entre 19 e 30 de junho de 1930. O estado ganhou na exposição promovida pelo congresso a medalha de prata por seu plano de remodelação de Natal. A tese da qual Carmen foi uma das vogais era Parques escolares, universitário, hospitalares, esportivos e de diversões (Jornal do Brasil, 28 de junho de 1930Mensagens do Governo do Rio Grande do Norte, 1930Correio da Manhã, 24 de junho de 1930, última coluna).

 

 

Participou do almoço de despedida da advogada e feminista sergipana Maria Rita Soares de Andrade (1904 – 1998), que se tornaria, em 1967, a primeira juíza do Brasil (Jornal do Brasil, 28 de junho de 1930, segunda coluna).

Participou da homenagem prestada pela embaixada italiana à escritora italiana Margarida Sarfati e ao professor Francisco Severi, ambos da Real Academia Italiana (Correio da Manhã, 22 de agosto de 1930, sexta coluna).

Publicação de um artigo com um resumo dos principais objetivos da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino e também com um resumo das conquistas femininas no Brasil (Correio da Manhã, 29 de junho de 1930).

A Federação Brasileira pelo Progresso Feminino ofereceu um chá para Maria Amélia Teixeira, diretora da revista Portugal Feminino (Excelsior, outubro de 1930).

 

 

A bordo no navio Southern Prince, estava a caminho dos Estados Unidos, onde participaria do Congresso Internacional de Estradas de Rodagem, em Washington, como delegada do Automóvel Clube do Brasil. Conheceu o Canadá e ficou hospedada com umas primas, em Nova York (Correio da Manhã, 15 de outubro de 1930, terceira colunaA Gazeta (SP), 14 de outubro de 1930, segunda coluna).

1931 – Em comemoração ao segundo ano de fundação da União Universitária Feminina, foi inaugurado na sede da entidade uma exposição com obras de arte de autoria feminina: Georgina de Albuquerque, Maria Francelina, Sarah Figueiredo, Cândida Cerqueira, Celita Vaccani, Odelli Castelo Branco e Wanda Turatti (Fon-Fon, 31 de janeiro de 1931).

Uma curiosidade, em setembro do mesmo ano, foi realizado o Salão de Arte Moderna de 1931, o Salão Revolucionário como ficou conhecida a 38ª Exposição Geral de Belas Artes, em razão de ter abrigado, pela primeira vez, artistas de perfil moderno e modernista. Realizado no curto período de Lúcio Costa (1902 – 1998) na direção da Escola Nacional de Belas Artes – Enba, de 1930 a 1931, o Salão Revolucionário sinalizou o esforço do arquiteto de modernizar o ensino de arte no país e de abrir as mostras oficiais, até então dominadas pelos artistas acadêmicos, à arte moderna (Manchete, 3 de dezembro de 1977Enciclopédia Itaú Cultural).

Era a vice-presidente da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (Jornal do Brasil, 11 de março de 1931, última coluna).

A Federação Brasileira pelo Progresso Feminino  organizou o II Congresso Internacional Feminista, no Rio de Janeiro, inaugurado, em junho, no Automóvel Club. Carmen foi uma das encarregadas pela organização e pela programação do evento cujos temas foram educação feminina, proteção às mães e à infância, trabalho feminino, direitos das mulheres e estreitamento das relações pan-americanas e internacionais (Correio da Manhã, 5 de março de 1931, primeira colunaJornal do Brasil, 19 de junho de 1931O Jornal, 19 de junho de 1931, primeira colunaCorreio da Manhã, 26 de junho de 1931O Malho, 27 de junho de 1931; Correio da Manhã, 1º de julho de 1931O Malho, 11 de julho de 1931Vida Doméstica, agosto de 1931).

 

 

 

Na Associação Cristã dos Moços, realização de um chá em homenagem a Carmen Portinho (Jornal do Brasil, 2 de agosto de 1931).

 

 

Por proposta de Carmen Coutinho foram admitidos homens no quadro social da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (Correio da Manhã, 14 de agosto de 1931, sétima coluna).

Integrava com a comissão da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino que foi ao Ministério da Viação e Obras solicitar ao ministro José Américo de Almeida (1887 – 1990) a readmissão das mulheres nas repartições dos Correios (Diário Nacional, 15 de agosto de 1931, primeira coluna).

Durante a última reunião do ano da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, Carmen assumiu a presidência porque Bertha Lutz  (1894 – 1976) estava fora do Brasil (Correio da Manhã, 10 de dezembro de 1931, quinta coluna).

1932 - No terceiro aniversário da União Universitária Feminina, Carmen Portinho fez uma palestra de cinco minutos na Rádio Sociedade, inaugurando o programa idealizado por ela em colaboração com a Rádio Sociedade do Brasil (Correio da Manhã, 13 de janeiro de 1932, terceira coluna).

Decreto nº 21.076, de 24 de fevereiro de 1932 instituiu o Código Eleitoral Provisório e reconheceu o direito de voto às mulheres.

Foi uma das signatárias de uma carta enviada pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino ao presidente da República, Getulio Vargas (1882 – 1954), em agradecimento pelo reconhecimento do direito do voto feminino  (Diário Nacional, 2 de março de 1932, última coluna).

Em 11 de março, casou-se com o irmão da feminista Bertha Lutz, Gualter Adolpho Lutz (1903 – 1969), que viria a ser especialista em medicina legal, tornando-se catedrático da Escola Nacional de Medicina, de quem se separou poucos anos depois (Revista da Semana, 5 de março de 1932, primeira coluna).

 

 

Escreveu uma carta para a revista Brasil Feminino (Brasil Feminino, maio de 1932).

 

 

Com uma programação especial para celebração do primeiro Dia das Mães, estabelecido a partir de uma iniciativa do Congresso Feminino de 1931, e criado pelo Decreto nº 21.366, de 5 de maio de 1932, assinado pelo presidente Getulio Vargas (1884 – 1954) consagrando o segundo domingo de maio para a celebração anual da data no Brasil, a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, inaugurou a nova sede da entidade, no edifício Caetano Segreto, na Praça Tiradentes, sob a presidência de Carmen Portinho, já que Bertha Lutz  (1894 – 1976) estava fora do Brasil (Correio da Manhã, 10 de maio de 1932, sétima coluna).

Publicação de uma artigo sobre a União Universitária Feminina (Revista da Semana, 9 de julho de 1932).

Natércia da Cunha Silveira (1903 – 1993), da Aliança Nacional de Mulheres; Bertha Lutz (1894 – 1976), da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino; e Carmen Portinho (1903 – 2001), pela União Universitária Feminina, foram indicadas para integrar a comissão para elaborar o anteprojeto da nova Constituição. Finalmente, Natércia e Bertha foram nomeadas (Correio da Manhã, 14 de julho de 1932, terceira colunaCorreio da Manhã, 19 de julho de 1932, primeira colunaBrasil Feminino, dezembro de 1932).

Foi uma das fundadoras da Revista da Diretoria de Engenharia – posteriormente Revista Municipal de Engenharia -, cuja primeira edição foi publicada em julho de 1932. Foi criada por sugestão dada por ela ao então secretário de Obras do Rio de Janeiro, Delso Mendes da Fonseca. Seu diretor-geral era Everardo Backheuser e seu editor Armando de Godoy. A revista, técnica, divulgava as realizações da prefeitura, de engenheiros e de arquitetos. Carmen foi inicialmente secretária e posteriormente foi também redatora e diretora da publicação. Foi na Revista da Diretoria de Engenharia da Prefeitura do Distrito Federal que surgiram os primeiros ensaios sobre a arquitetura moderna no Brasil. No primeiro número foram publicados artigos sobre o primeiro projeto de Affonso Eduardo Reidy (1909 – 1964), sobre o projeto de Lúcio Costa e Warchavshick para apartamentos na Gamboa e dois artigos de Carmen, A arquitetura moderna na Holanda e Influência do nosso clima na arquitetura das prisões.

Participou da Quinzena da Constituição, uma série de estudos práticos sobre o futura Constituição, organizada em comemoração dos 10 anos de fundação da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (Correio da Manhã, 18 de outubro de 1932).

Foi a capa da revista Brasil Feminino de novembro de 1932.

 

 

Acompanhou a comissão do Ministério da Viação de obras contra a seca no Nordeste, a convite do ministro José Américo de Almeida (1887 – 1980). A comissão era presidida por Sampaio Correia (1875 – 1942) e contava com alguns de seus antigos professores como Mauricio Joppert (1890 – 1985) e Hildebrando de Góes (1899 – 1980). Durante a viagem visitou as filiais da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino na Bahia, em Pernambuco, no Ceará e no Rio Grande do Norte (Jornal do Brasil, 30 de novembro de 1932, sexta coluna; Jornal do Recife, 7 de dezembro de 1932, penúltima colunaCorreio da Manhã, 10 de dezembro de 1932, terceira colunaJornal do Brasil, 14 de dezembro de 1932, terceira colunaJornal do Brasil, 15 de dezembro, segunda colunaJornal do Brasil, 23 de dezembro de 1932, terceira coluna).

Era uma das colaboradoras da Lux-Jornal (República (SC), 18 de dezembro de 1932, quarta coluna).

Era uma das mulheres integrantes de uma comissão da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino pelo incentivo ao alistamento eleitoral feminino. No ano seguinte, a comissão passou a oferecer seus préstimos também a homens que precisassem de ajuda para o alistamento (Jornal do Brasil, 30 de dezembro de 1932, quarta colunaJornal do Brasil, 31 de janeiro de 1933).

1933 - Publicação do artigo Concurso para a urbanização das avenidas compreendidas entre “La Place de L´Etoile”, em Paris, e a praça circular de La Défense, em Courbevoie, de sua autoria, na edição de janeiro da Revista da Diretoria de Engenharia.

Em uma reunião da sub-comissão constitucional,  Afrânio de Melo Franco (1870 – 1943), ministro das Relações Exteriores, mencionou um telegrama assinado por Bertha Lutz  (1894 – 1976) e Carmen Portinho, dentre outras, representando a mulher brasileira e solicitando que ao votar-se a questão na nacionalidade se resolvesse pelo jus soli, quando a nacionalidade originária é obtida em virtude do território onde o indivíduo tenha nascido – regra do solo. Oswaldo Aranha (1894 – 1960), minisro da Fazenda, então comentou Tivemos o cuidado de ficar com as mulheres…antes do pedido (Correio da Manhã, 17 de janeiro de 1933, sétima coluna).

Ela e Clotilde Cavalcanti (1904 – 1984), chefe do Departamento de Cultura da União Universitária Feminina, que ficou conhecida como Tilde Canti, visitaram, em companhia da jornalista Zenaide Andrea, a redação do Correio de São Paulo, onde falaram sobre a inauguração da filial paulista da União Universitária Feminina, presidida por Adolpha Rodrigues, da Universidade Mackenzie (Correio de São Paulo, 28 de março de 1933, primeira coluna).

 

 

Era uma das dirigentes da Liga Eleitoral Feminina (Correio da Manhã, 22 de março de 1933, quarta coluna).

Compareceu à reunião da Convenção Nacional das Eleitoras, quando discutiu-se a melhor forma de fazer a propagadana eleitoral da candidatura de Bertha Lutz  (1894 – 1976) à Assembleia Nacional Constituinte nas eleições de 3 de maio. Foi lançado um manifesto escrito pela jornalista, feminista e declamadora Maria Sabina de Albuquerque (1898 – 1991). Bertha não foi eleita, tendo obtido 15.756 votos. Foi eleita a primeira mulher constituinte nesse pleito, a médica paulista Carlota Pereira de Queiroz (1892 – 1982) Em 9 de novembro de 1933, Bertha foi diplomada como primeira suplente do Partido Autonomista do Distrito Federal.

Identificada como Carmen Portinho Lutz, era a representante da Engenharia na comissão da homenagem à poetisa Gilka Machado (1893 – 1980), que se realizaria no Instituto Nacional de Música (Jornal do Brasil, 17 de maio de 1933, sexta coluna).

Na recentemente inagurada nova sede da Associação Cristã Feminina, Carmen proferiu a palestra sobre os Problemas do Nordeste (Correio da Manhã, 24 de maio de 1933, terceira coluna).

Na Universidade Livre da Capital Federal, realização da aula magna do curso de Altos Estudos Femininos, dirigido pela poetisa e escritora Francisca de Bastos Cordeiro. Carmen e Bertha eram algumas das professoras (Correio da Manhã, 26 de maio de 1933, quarta coluna).

Foi reconhecida  pelo ministro do Trabalho, Joaquim Pedro Salgado Filho (1888 – 1950) como delegada eleitora pela União Universitária Feminina. Nessa condição, em 30 de julho, concorreu nas eleições dos constituintes representantes das associações profissionais. Maria Eugênia Celso Carneiro de Mendonça (1886 – 1963) concorreu pela União Profissional Feminina. Não foram eleitas (Correio da Manhã, 25 de julho de 1933, sétima coluna; Correio da Manhã, 1º de agosto de 1933, primeira coluna).

Em entrevista, declarou que a conquista do direito ao voto feminino deveria ser um estímulo para outros avanços: “Obtivemos a nossa emancipação política, mas esse direito assim isolado, de que nos serve?” (A Noite, 17 de agosto de 1933, última coluna).

O artigo Futura Cidade Universitária Argentina, de autoria de Carmen, foi publicado na Revista da Diretoria de Engenharia (Correio da Manhã, 10 de setembro de 1933, última coluna).

Um manifesto de autoria de Bertha Lutz  (1894 – 1976) e assinado por Carmen Coutinho, pela tradutora Lina Hirsh, por Almerinda Farias Gama (1899 – c. 1992), sindicalista e uma das primeiras mulheres negras a atuar na política brasileira; e a advogada Maria Luisa Dória de Bittencourt (1910 – 2001), que em 1935 tornou-se a primeira deputada estadual da Bahia; foi apresentado à seção de Legislação da Conferência Nacional de Proteção à Infância (Jornal do Brasil, 23 de setembro de 1933, penúltima colunaCorreio da Manhã, 23 de setembro de 1933, quinta coluna).

 

 

Fazia parte da embaixada de universitários cariocas que seguiram para uma visita a São Paulo patrocinada pela Associação Universitária (Correio da Manhã, 1 de outubro de 1933, primeira coluna).

Nas eleições da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, ela e Maria Eugênia Celso Carneiro de Mendonça (1886 – 1963) continuaram a ocupar os cargos de vice-presidentes ex-officio (Jornal do Brasil, 17 de outubro de 1933, penúltima coluna).

Fazia parte da comissão de bolsas de estudos oferecidas pelas associações universitárias americanas e outras associações como o Instituto Internacional de Educação. Na ocasião, a sede do ficava no Edifício Odeon, sala 417, na praça Marechal Floriano (Correio da Manhã, 1º de novembro de 1933, penúltima coluna).

Ela e Bertha Lutz  (1894 – 1976) participaram da Conferência Pan-americana, em Montevidéu, no Uruguai. Seguiram para o evento em companhia do diplomata Arno Konder (1882 – 1942), futuro cônsul do Brasil em Washington e na Alemanha (Correio da Manhã, 30 de novembro de 1933, quinta colunaJornal do Brasil, 2 de dezembro de 1933, sexta colunaCorreio da Manhã, 9 de dezembro de 1933, terceira coluna).

 

 

1934 – Na edição de janeiro da Revista da Diretoria de Engenharia, publicação do artigo de O critério científico no urbanismo, de sua autoria (Jornal do Brasil, 24 de janeiro de 1934, sexta coluna).

Era a segunda secretária do Sindicato Central de Engenheiros (Jornal do Brasil, 7 de janeiro de 1934, primeira coluna).

Foi sorteada para fazer parte do Tribunal do Juri (Correio da Manhã, 19 de janeiro de 1934, última coluna).

Visitou a Associação Brasileira de Imprensa, da qual foi representante junto à imprensa uruguaia durante a realização da Conferência Pan-americana, em dezembro de 1933 (Correio da Manhã, 24 de janeiro de 1934, primeira coluna).

Foi uma das feministas que enviou à Assembleia Nacional o pedido de voto para artigos da futura Constituição que contemplavam os direitos da mulher (Correio da Manhã, 23 de março de 1934, quinta coluna).

Era uma das organizadoras da celebração do Dia das Américas realizado pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino. Foi identificada no artigo como Carmen Portinho Lutz (Jornal do Brasil, 13 de abril de 1934, penúltima coluna).

Estava presente ao chá oferecido na Casa do Estudante, presidida por Anna Amélia Queiroz Carneiro de Mendonça (1896 – 1971), para as calouras universitárias. Na ocasião, a arqueóloga sueca , da Universidade de Estocolmo, fez uma palestra Hanna Rydh (A Noite Illustrada, 18 de abril de 1934).

 

 

No salão nobre do Hotel dos Estrangeiros, cArmen proferiu a palestra Uma viagem ao Nordeste, dentro da programação de abril do Centro Excursionista Brasileiro (Vida Doméstica, maio de 1934).

 

 

 

Na edição de julho da Revista da Diretoria de Engenharia, publicou o artigo O ensino do urbanismo.

Foi a tradutora do livro A ditadura dos incas, do escritor mexicano Gabriel A. Gomes (Diário da Manhã (SC), 31 de julho de 1934, terceira coluna).

Foi homenageada por sua recente nomeação a engenheira-chefe da prefeitura (Jornal do Brasil, 16 de agosto de 1934, primeira coluna).

Foi citada no artigo As Vitórias Femininas, de Costa Rego, sobre as conquistas das mulheres da Constituição promulgada em 16 de julho de 1934 (Correio da Manhã, 17 de agosto de 1934, segunda coluna).

Como delegada do Distrito Federal, ela e Maria dos Reis Campos participaram da Convenção Nacional Feminina, na Bahia. Bertha Lutz  (1894 – 1976) era a delegada federal assim como a líder do encontro (Jornal do Brasil, 24 de agosto de 1934, última colunaCorreio da Manhã, 26 de agosto de 1934, quinta colunaCorreio da Manhã, 1º de setembro de 1934, sexta coluna).

Recebeu a incumbência de ser a engenheira responsável pela construção do novo prédio da sede do Montepio dos Empregados Municipais. Pediu exoneração da função em 1936 (Jornal do Brasil, 31 de agosto de 1934, segunda colunaJornal do Brasil, 4 de março de 1936, primeira coluna).

Era a redatora-chefe da Revista da Diretoria de Engenharia (Revista da Diretoria de Engenharia, setembro de 1934).

Ela, que na época era engenheira ajudante da Diretoria Geral de Engenharia, foi designada para assumir interinamente o cargo de engenheiro-chefe de divisão da entidade (Correio da Manhã, 13 de setembro de 1934, segunda coluna).

Integrava o conselho de redação da recém lançada revista Tribuna Feminina, sob a direção de Alzira Reis Vieira Pereira, tendo como principal redatora Eunice Weaver (O Fluminense, 27 de dezembro de 1934, última coluna).

1935 - Publicou o artigo A arte dos jardins (Revista da Diretoria de Engenharia, janeiro de 1935).

No Palace Hotel, comemoração dos seis anos da União Universitária Feminina (Walkyrias, fevereiro de 1935).

 

 

A poetisa baiana Seleneh Carneiro de Souza foi homenageada pela União Universitária Feminina com um chá na Sorveteria Americana (A Noite Illustrada, 12 de março de 1935).

 

 

Ela e Edith Fraenkel (1889 – 1968), futura primeira presidente eleita da Associação Brasileira de Enfermagem e uma de suas fundadoras, foram indicadas para suplentes da delegação brasileira no Congresso de Istambul. A representante do Brasil seria a poetisa e feminista Anna Amélia Queiroz Carneiro de Mendonça (1896 – 1971) (Relatórios do Ministério das Relações Exteriores, 1935Jornal do Brasil, 11 de abril de 1935, primeira coluna).

 

 

 

Inauguração da primeira oficina da Divisão de Edificações Municipais, onde Carmen era engenheira-chefe (Revista da Semana, 6 de julho de 1935).

 

 

Estava presente à homenagem prestada pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino ao ministro das Relações Exteriores, José Carlos Macedo Soares (1883 – 1968), e a sua esposa, no salão nobre do Automóvel Clube (O Imparcial, 6 de julho de 1935, primeira coluna).

Foi homenageada na celebração dos 13 anos da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (O Imparcial, 10 de agosto de 1935).

A Diretoria de Engenharia da Secretaria Geral de Viação, Trabalho e Obras Públicas do Distrito Federal convocou ela, Affonso Eduardo Reidy (1909 – 1964) e outros engenheiros para resolver um assunto relativo às obras no Paço Municipal (Jornal do Brasil, 12 de outubro de 1935, primeira coluna).

1936 – Ingressou no curso de pós-graduação do Curso de Urbanismo e Arquitetura da Universidade do Distrito Federal. A primeira turma do curso era composta por oito alunos: Carmen Portinho, Déa Torres de Paranhos  (1915 – 2001), Albino dos Santos, Dante Jorge Albuquerque, Ricardo José Antunes Júnior, Paulo de Camargo e Almeida, João Lourenço da Silva e Adhemar Marinho da Cunha (O Imparcial, 7 de agosto de 1938, última coluna). Todos, menos ela, eram arquitetos. Teve como professores Mário de Andrade (1893 – 1945), de História da Arte; Candido Portinari (1903 – 1962), de Pintura; e Celso Antônio de Menezes (1896 – 1984), de Escultura, dentre outros. Foi nessa ocasião que conheceu Edith Behring, que se tornaria uma das mais importantes gravadoras brasileiras e futura responsável pelo Ateliê de Gravura do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

Devido a irregularidades cometidas pela Companhia Territorial Construtora, pediu exoneração do cargo de engenheira responsável pela construção do novo prédio da sede do Montepio dos Empregados Municipais (Correio da Manhã, 9 de janeiro de 1936, terceira coluna).

Dentre outros, como o professor e artista plástico Benevenuto Berna (1865 – 1940) e o fotógrafo Augusto Malta (1864 – 1957), que entre 1903 e agosto de 1936 foi o fotógrafo oficial da prefeitura do Rio de Janeiro, fazia parte da caravana do Centro Carioca que visitou as obras da estrada para o Cristo Redentor (Correio da Manhã, 12 de janeiro de 1936, penúltima colunaBeira-Mar, 18 de janeiro de 1936).

 

 

Participou da organização e da programação da celebração do Dia Pan-americano ou Dia das Américas. Em castelhano, Carmen proferiu uma palestra pleitando a inclusão de mulheres delegadas plenipotenciárias em todas as delegações das conferências de paz. Bertha Lutz  (1894 – 1976) falou em inglês e Anna Amélia Queiroz Carneiro de Mendonça (1896 – 1971) em português também discursaram (Correio da Manhã, 15 de abril de 1936, terceira coluna).

Ela e a artista plástica Clotilde Cavancanti – Tilde Canti – (1906 – 1984), representando a União Universitária Feminina, e Anna Amélia Queiroz Carneiro de Mendonça (1896 – 1971), presidente da Casa do Estudante, reuniram-se com o presidente da República, Getulio Vargas (1822 – 1954), para tratar de assuntos relativos ao intercâmbio universitário (Correio da Manhã, 9 de julho de 1936, terceira colunaA Offensiva, 9 de julho de 1936, segunda coluna).

No Salão Nobre da Escola Nacional de Belas Artes, como aluna do Curso de Urbanismo e Arquitetura da Universidade do Distrito Federal, durante a celebração em torno do ex-prefeito Francisco Pereira Passos (1836 – 1913), proferiu o discurso Passos, o grande prefeito. O arquiteto espanhol Morales de los Rios Filho (1887 – 1973), professor do mesmo curso, proferiu o discurso o Passos, o Haussmann brasileiro (Jornal do Brasil, 5 de setembro de 1936, terceira coluna).

Ela e sua amiga e colega no curso de Urbanismo, Déa Torres Paranhos (1915 – 2001), uma das primeiras mulheres registradas como arquiteta no CREA, em 1935, publicaram o artigo Aerophotogrametria (Revista da Diretoria de Engenharia, novembro de 1936). Déa havia ingressado, com 15 anos, em 1930, na Escola Nacional de Belas Artes da Universidade do Rio de Janeiro, no curso especial de Arquitetura, mesma turma de Oscar Niemeyer (1907 – 2012), uma turma com um total de 137 alunos, onde apenas 15 eram mulheres.

 

Fotografia do álbum de formatura de Deá Torres de Paranhos

Fotografia do álbum de formatura de Deá Torres de Paranhos / Biblioteca da FAU/UFRJ

 

1937 - Após presidir a União Universitária Brasileira desde sua fundação, Carmen Portinho foi sucedida pela também engenheira Elza Pinho Osborne (? – 1995) (Jornal do Brasil, 22 de janeiro de 1937, segunda coluna).

Participou e foi uma das signatárias do manifesto lançado pelo Congresso Nacional dos Estudantes (Correio da Manhã, 2 de abril de 1937, quarta coluna).

Por iniciativa de Carmen e de outras engenheiras foi fundada, em 19 de julho de 1937, a Associação Brasileira de Engenheiras e Arquitetas (ABEA), para incentivar mulheres formadas a ingressar no mercado de trabalho. Ela foi sua primeira presidente (Correio da Manhã, 27 de julho de 1937, terceira coluna).

 

 

Lista de Presença da Fundação da ABEA / Fonte: Revista da ABEA Nacional – Ano 1 no. 1, 2011.

Lista de Presença da Fundação da ABEA /
Fonte: Revista da ABEA Nacional – Ano 1 no. 1, 2011.

 

Integrava o Departamento de Urbanismo do Centro Carioca, cuja sede ficava na Praça tiradente, nº 60, no quarto Andar. Era presidido pelo professor e artista plástico Benevenuto Berna (1865 – 1940) (Correio da Manhã, 24 de agosto de 1937, penúltima coluna).

Publicou o artigo O Homem e o seu Abrigo no primeiro número da Revista de Cultura Técnica (Jornal do Brasil, 27 de agosto de 1937, última coluna).

Ela, Affonso Eduardo Reidy (1909 – 1964), Iberê Ebert e outros engenheiros foram designados redatores da Revista Municipal de Engenharia, sob a gerência do engenheiro Alim Pedro  (Jornal do Brasil, 16 de outubro de 1937, última coluna).

O redator-chefe da Revista da Diretoria de Engenharia passou a ser Carvalho NettoEla, Affonso Eduardo Reidy (1909 – 1964), Raposo de Almeida e Castro Faria passaram a ser os redatores (Revista Municipal de Engenharia, novembro de 1937).

Foi indicada para integrar a subcomissão de Elaboração do Plano da Cidade.

1938 - Publicação de uma notícia sobre o curso de Urbanismo e sobre a defesa da tese de seus alunos, dentre eles, Carmen Portinho (Jornal do Brasil, 7 de agosto de 1938, última coluna).

Foi eleita vice-presidente do Sindicato Nacional dos Engenheiros (Revista Municipal de Engenharia, setembro de 1938Correio da Manhã, 8 de outubro de 1938, primeira coluna).

Em 22 de dezembro, Carmen defendeu sua tese, Plano da futura capital do Brasil (Jornal do Brasil, 14 de dezembro de 1938, quinta colunaCorreio da Manhã, 18 de dezembro de 1938, segunda coluna).

 

 

1939 - Tornou-se a primeira mulher a obter o título de urbanista no Brasil (Correio da Manhã, 17 de janeiro de 1939, primeira coluna)*.

Publicação de sua tese Plano da futura capital do Brasil nas edições de março e maio da Revista Municipal de Engenharia.

Estava presente na inauguração da Seção Brasileira da Confederação dos Trabalhadores Intelectuais, com sede em Genebra. A iniciativa foi da advogada Marie Therese Nizot (Jornal do Brasil, 16 de agosto de 1939, sexta coluna).

1940 – Foi uma das juradas no juglamento de um assassinato (Gazeta de Notícias, 14 de março de 1940, primeira coluna).

Foi eleita membro do Conselho Diretor do Club de Engenharia, presidido por José Matoso de Sampaio Corrêa (1875 – 1942) (Jornal do Commercio, 16 de junho de 1940, segunda coluna).

1941 – Integrava a comissão organizadora e a delegação do Club de Engenharia no I Congresso Brasileiro de Urbanismo, realizado entre 20 e 27 de janeiro, no Rio de Janeiro, com a participação de profissionais de renome como o francês Alfred Agache (1875 – 1959). O evento foi idealizado pelo engenheiro Francisco Baptista de Oliveira, diretor do Departamento de Urbanismo do Centro Carioca. Houve um concurso de cartazes para o evento (Gazeta de Notícias, 22 de novembro de 1940, quinta colunaJornal do Commercio, 11 de de dezembro de 1940, primeira colunaRevista de Arquitetura, dezembro de 1940). A edição especial de maio da Revista da Semana foi dedicado ao tema do urbanismo.

 

 

Na Rádio Difusora da Municipalidade, proferiu uma palestra, que integrou a Jornada de Habitação Econômica, presidida pelo então prefeito do Rio de Janeiro, Henrique Dodsworth (1895 – 1975) (Jornal do Commercio, 17 de setembro de 1941, segunda coluna).

Fazia parte da diretoria do Sindicato de Engenheiros, presidida por Furtado Simas (1913 – 1978) (O Radical, 22 de novembro de 1941, terceira colunaJornal do Commercio, 22 de novembro de 1941, quinta coluna;  O Malho, janeiro de 1942).

Era uma das colaboradoras da revista Urbanismo e Viação (O Jornal, 11 de dezembro de 1941).

1942 – Publicação de seu artigo A habitação – o Homem (Revista Municipal de Engenharia, janeiro de 1942).

Fazia parte da comissão que entregou à delegação dos Estados Unidos uma moção de solidariedade da União Universitária Feminina aos princípios que regem a solidariedade continental de defesa da democarcia e da liberdade, durante a III Reunião de Consulta dos Ministros das Relações Exteriores das Repúblicas Americanas, no Rio de Janeiro (Correio da Manhã, 20 de janeiro de 1942, terceira coluna).

Em uma reunião extraordinária da Obra de Fraternidade da Mulher Brasileira, presidida pela advogada Maria Rita Soares de Andrade (1904 – 1998), Carmen foi uma das mulheres que falaram sobre a importância da participação da mulher universitária no esforço de defesa do Brasil após o torpedeamento de cinco navios mercantes brasileiros pelos países do Eixo – Alemanha e Itália (Jornal do Brasil, 28 de agosto de 1942, segunda coluna).

Ela, Maria Rita Soares de Andrade (1904 – 1998) e, como suplentes, as médicas Maria Lourdes Pedroso e Iraci Dolle Ferreira, foram as representantes da União Universitária Feminina na IV Convenção Nacional Feminina, realizada na sala de leitura do Palácio Itamaraty, entre 26 e 28 de outubro, presidida por Maria Sabina de Albuquerque (1898 – 1991) e que contou com a participaçao de diversas feministas, dentre elas Bertha Lutz  (1894 – 1976) e Anna Amélia Queiroz Carneiro de Mendonça (1896 – 1971). Em pauta, a participação da mulher brasileira na guerra. Na época, Carmen era a presidente da Associação das Engenheiras e Arquitetas Brasileiras (A Manhã, 22 de outubro de 1942, última colunaA Manhã, 27 de outubro de 1942, quinta colunaA Manhã, 29 de outubro de 1942, primeira coluna).

 

 

1943 – Era uma das cinco mulheres integrantes do Club de Engenharia. As outras eram Anita Dubrugas (1892 – 1951), Elza Pinho Osborne (? – 1995), Edwiges Maria Becker Hom’meil  (18? – 19?) e Maria Helena Souza Coelho. Edwiges e Anita foram a primeira e a segunda mulheres, respectivamente, a se formarem em Engenharia Civil no Brasil. Carmen fazia parte do Conselho Diretor da chapa Eugênio Gudin – Marques Porto que concorreu, mas não ganhou as eleições do Club de Engenharia (Diário de Notícias, 14 de março de 1943, última colunaO Jornal, 16 de março de 1943, sexta coluna).

Era a segunda secretária da diretoria do Conselho Diretor da Sociedade de Engenheiros da Prefeitura e vice-presidente do Sindicato dos Engenheiros (Correio da Manhã, 30 de julho de 1943, quarta coluna).

 

 

1944 – Como presidente da União Universitária Feminina endereçou uma carta à diretora do Museu Nacional solicitando que mulheres fossem autorizadas a fazer a prova para a contratação de ex-numerário mensalista na instituição (A Manhã, 10 de fevereiro de 1944, terceira coluna).

Sob sua presidência, a União Universitária Feminina promoveu sua I Exposição de Artes Plásticas, patrocinado pelo Ministério de Educação e Saúde (Diário da Noite, 1º de agosto de 1944).

 

 

Como vice-presidente da Associação de Engenheiras e Arquitetas Brasileiras proferiu a palestra A reconstrução de Londres, na sessão inaugural da exposição do plano urbanístico para a reconstrução de Londres, realizada no Instituto dos /arquitetos do Brasil, sob os auspícios do Conselho Britânico (A Manhã, 22 de outubro de 1944, última coluna).

1945 - Foi uma das organizadoras com Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993), Maria Luiza Bitencourt (1910 – 2001), primeira deputada da Bahia; Maria Rita Soares de Andrade (1904 – 1998) e outras mulheres, de uma coligação democrática para apoiar a candidatura do brigadeiro Eduardo Gomes (1896 – 1981) à presidência da República (Diário de Notícias, 24 de fevereiro de 1945, quinta coluna).

Estava presente à posse do general Isidoro Dias Lopes (1865 – 1949) como presidente da Coligação Democrática do Distrito Federal de combate ao getulismo (Correio da Manhã, 18 de março de 1945, quarta coluna).

Estava presente na chegada ao Rio de Janeiro do general Manoel Rabelo (1878 – 1945), ministro do Superior Tribunal Militar, que apoiava a candidatura do brigadeiro Eduardo Gomes à presidência da República (O Jornal, 23 de março de 1945, primeira coluna).

Na sede da Associação Brasileira de Imprensa, eleição do Diretório da União Democrática Nacional (UDN). Ela, Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993) e Maria Rita Soares de Andrade (1904 – 1998) compunham o Comitê Feminino do Distrito Federal. A UDN foi fundada em 7 de abril de 1945 como uma “associação de partidos estaduais e correntes de opinião” contra a ditadura do Estado Novo e sua principal bandeira foi a oposição constante a Getulio Vargas (1884 – 1954) e ao getulismo (O Jornal, 7 de abril de 1945, sexta colunaCorreio da Manhã, 8 de abril de 1945, sexta coluna; Revista da Semana, de 1950).

Foi uma das signatárias do manifesto de programa de ação da recém fundada União Socialista Popular, de caráter provisório, que serviria de base para a organização de um grande órgão político socialista (Diário Carioca, 18 de abril de 1945, quarta coluna).

Carmen deu uma entrevista ao jornal Correio da Manhã, que havia rompido as amarras da censura dipeana com a publicação, em 22 de fevereiro de 1945, de declarações, que tiveram grande repercussão, de José Américo de Almeida (1887 – 1980) a Carlos Lacerda (1914 – 1977) acerca da situação política estabelecida pelo Estado Novo. José Américo participou da Revolução de 30, havia sido ministro da Viação de Getulio e pré-candidato à presidência da República para as eleições de 1938 que não se realizaram devido ao estabelecimento do Estado Novo. É também o autor do aclamado romance A Bagaceira (1928). Dentre outros assuntos, Carmen Portinho, na entreista, comentou as restrições impostas às mulheres pelo Departamento Administrativo do Serviço Público, o DASP, com referência ao trabalho feminino nas repartições públicas (Correio da Manhã, 26 de abril de 1945, quinta coluna).

 

 

 

 

Participou das demonstrações práticas dos eletrodutos moldados Semerato, invenção do brasileiro Ariosto Semeraro, nas obras do edifício Aquitânia, na avenida Presidente Vargas. Ela comentou o sucesso que o invento teria na reconstrução das cidades inglesas destruídas pela guerra (A Noite, 30 de maio de 1945, primeira coluna).

Viajou para a Inglaterra, em agosto de 1945, por ter recebido uma bolsa do Conselho Britânico para estagiar junto às comissões de reurbanização das cidades inglesas destruídas pela guerra. A viagem durou 24 dias de navio. Em setembro, já em Londres, ela ofereceu uma recepção na sede do British Council. Em outubro, foi homenageada com um almoço na residência do embaixador do Brasil em Londres, José Joaquim de Lima e Silva Muniz de Aragão (1887 – 1974). Em 21 de dezembro, foi oferecido em homenagem a seu regresso ao Brasil um cocktail na sede da Sociedade de Engenheiros da Prefeitura do Distrito Federal. Segundo ela, foi nesse período que aprendeu o conceito de unidade de habitação. Esteve também na Escócia e em Paris, quando encontrou-se com Beata Vettori (1909 – 1994), diplomata e sua antiga companheira na Federação Brasileira para o Progresso Feminino. Também, em Paris, encontrou-se com Le Corbusier (1887 – 1965) e lhe mostrou as transparências e as plantas da sede do Ministério da Educação (A Noite, 6 de setembro de 1945, terceira colunaO Jornal, 6 de outubro de 1945, primeira coluna; O Jornal, 6 de outubro de 1945, primeira colunaJornal do Commercio, 7 de outubro de 1945, quinta colunaCorreio da Manhã, 15 de dezembro de 1945, sexta colunaRevista da Semana, 10 de abril de 1948Jornal do Commercio, 21 de dezembro de 1945, sexta coluna). 

Neste ano formou-se em Engenharia na Universidade Federal do Paraná, Enedina Alves Marques (1913 – 1981), primeira mulher negra a se tornar engenheira no país.

 

 

1946 – Na Sociedade dos Engenheiros da Prefeitura, Carmen proferiu a palestra Comentários sobre uma viagem à Grã-Bretanha e à Escócia (A Manhã, 9 de janeiro de 1946, primeira coluna).

Publicação dos artigos de Carmen Portinho, Habitação Popular, onde abordou as limitações de cidades-jardins, cidades-dormitórios e cidades-satélites, defendendo a criação de conjuntos residenciais, construídos em áreas previamente determinadas e distribuidos racionalmente por todo o centro urbano. Também abordou a existência das favelas, explicou o conceito de Unidade de Habitação, comentou a construção de habitações para solteiros e idosos e outros aspectos da reconstrução de cidades na Inglaterra e o Decreto-Lei 9128 de 1º de maio de 1946 autorizando a criação da Fundação da Casa Popular (Correio da Manhã, 10 de março de 1946, quarta colunaCorreio da Manhã, 17 de março de 1946, quarta colunaCorreio da Manhã, 24 de março de 1946, quarta colunaCorreio da Manhã, 31 de março de 1946, quarta colunaCorreio da Manhã, 7 de abril de 1946, primeira coluna; Correio da Manhã, 14 de abril de 1946, sétima coluna).

Criação do Departamento de Habitação Popular da Secretaria de Viação e Obras Públicas da Prefeitura do Distrito Federal. Carmen foi nomeada chefe do departamento (Diário de Notícias, 5 de abril de 1946Correio da Manhã, 5 de abril de 1946, quarta colunaDiário de Notícias, 16 de abril de 1946, quarta colunaCorreio da Manhã, 17 de fevereiro de 1948, sétima colunaDiário Carioca, 3 de março de 1948, quinta coluna).

Foi uma das pessoas designadas pelo prefeito Hildebrando de Góis (1899 – 1980) para integrar a Comissão de Revisão do Código de Obras do Distrito Federal (O Jornal, 30 de maio de 1946, primeira coluna).

Publicação do artigo de sua autoria Trabalho Feminino, sobre a participação das mulheres na Segunda Guerra Muncial (Correio da Manhã, 2 de junho de 1946, quarta coluna).

Foi citada com seu nome de casada, Carmen Portinho Lutz (Correio da Manhã, 2 de julho de 1946, quinta coluna).

Publicação de seu artigo Escola Maternal e Jardim de Infância. A respeito do artigo, Gloria A. Vaz lhe enviou uma carta, também publicada na jornal (Correio da Manhã, 14 de julho de 1946, quarta colunaCorreio da Manhã, 28 de julho de 1946, quarta coluna).

Publicação de seu artigo Exposição Fotográfica de Arquitetura Britânica, apresentada na Sociedade Brasileira de Cultura Inglesa. Ela fez uma conferência sobre o assunto no dia 6 de agosto (Diário de Notícias, 28 de julho de 1946, segunda colunaCorreio da Manhã, 11 de agosto de 1946, quarta coluna).

Publicação de seu artigo Matisse (Correio da Manhã, 13 de outubro de 1946, quarta coluna).

Foi mencionada como uma das professoras queridas em artigo de Paulo A. Figueiredo, No Pedro II do meu tempo (A Manhã, 25 de outubro de 1946, sexta coluna).

Publicação do artigo A Cidade dos Motores, de Le Corbusier (1887 – 1965), traduzido por ela. O artigo é sobre a futura construção da Cidade dos Motores, na Baixada Fluminense, projetada por Paul Lester Weiner e José Luiz Sert (Correio da Manhã, 17 de novembro de 1946, quinta coluna).

1947 - Publicação do artigo de sua autoria Senhor dos Navegantes, sobre a procissão realizada em Salvador no dia 31 de dezembro (Correio da Manhã, 12 de janeiro de 1947).

Foi eleita presidente da Sociedade de Engenheiros da Prefeitura (Revista Municipal de Engenharia, julho de 1947).

Entre 27 de setembro e 1º de outubro, participou, como delegada do Brasil, do Congresso Internacional de Mulheres, organizado pela Entente Mondiale pour la Paix, na sede da Unesco, onde ficava anteriormente o Hotel Majestic. Retornou em 24 de outubro e, em 5 de novembro, proferiu uma palestra sobre o evento, na Casa do Estudante do Brasil (Correio da Manhã, 18 de julho de 1947, terceira colunaCorreio da Manhã, 27 de agosto de 1947, quinta coluna; Correio da Manhã, 28 de setembro de 1947, última coluna; O Jornal, 28 de setembro de 1947, sexta colunaCorreio da Manhã, 25 de outubro de 1947, última colunaJornal do Commercio, 5 de novembro de 1947, primeira colunaRevista da Semana, 6 de dezembro de 1947).

 

 

Foi uma das signatárias de um protesto enviado ao Congresso Nacional contra o projeto do senador Ivo d´Aquino (1895 – 1974), que pretendia cassar mandatos de parlamentares. O projeto se aplicava aos comunistas quando incluía entre os casos de extinção a cassação do registro do respectivo partido por ser considerado “extremista” (artigo 141 da Constituição de 1946). Aprovado em primeira e segunda votações no Senado em outubro de 1947, por 35 votos a 19, e 34 a 18, respectivamente, o projeto foi votado pela Câmara dos Deputados em 7 de janeiro de 1948 (162 votos favoráveis e 74 contrários) e levado à sanção de Dutra na mesma data (Tribuna Popular, 4 de dezembro de 1947, primeira colunaCPDOC).

1948 – Foi a personagem da coluna “Personalidade da Semana”. Um dos assuntos que abordou foi a construção do Conjunto Habitacional do Pedregulho, no bairro de São Cristóvão, para abrigar funcionários públicos do então Distrito Federal. O projeto, de Affonso Eduardo Reidy (1909 – 1964), já havia sido aprovado pelo prefeito Ângelo Mendes de Moraes (1894 – 1990) (Revista da Semana, 10 de abril de 1948).

Participou com Oscar Niemeyer (1907 – 2012), Affonso Eduardo Reidy (1909 – 1964), Henrique Mindlin (1911 – 1971) e Rodrigo de Mello Franco de Andrade (1898 – 1969), dentre outros, de um almoço que o Conselho Britânico realizou no Hotel Palace para engenheiros e arquitetos que recepcionaram o arquiteto inglês Percy Marshall (1915 – 1993) no Rio de Janeiro (Correio da Manhã, 20 de junho de 1948, última coluna).

Estava envolvida no projeto da prefeitura do Rio de Janeiro, cujo prefeito era Ângelo Mendes de Moraes (1894 – 1990), de construção de 500 casas no Parque Proletário da Gávea para moradores que seriam transferidos da Favela do Pinto (Correio da Manhã, 20 de julho de 1948, sexta coluna).

Mostrou fotografias do projeto de urbanização da região do desmonte do Morro de Santo Antônio, realizado por Affonso Eduardo Reidy (1909 – 1964), diretor do Departamento de Urbanismo da Prefeitura (Correio da Manhã, 7 de novembro de 1948, segunda coluna).

Ela e o arquiteto Mauro Viegas (1919 – ), adjunto do secretário de Viação, foram os representantes da prefeitura do Rio de Janeiro no Segundo Congresso Brasileiro de Arquitetos, em Porto Alegre, de 20 a 27 de novembro. Apresentaram o projeto do Conjunto Residencial do Pedregulho, da urbanização da região do desmonte do Morro de Santo Antônio e do Estádio Municipal (Correio da Manhã, 12 de novembro de 1948, primeria colunaCorreio da Manhã, 14 de novembro de 1948, quinta coluna; Revista de Arquitetura,  novembro/dezembro de 1948).

 

segundo

 

1949 - Ela, formavam a comissão para realizar os estudos e os projetos para a urbanização das áreas situadas nas encostas da Tijuca, no vale do rio Cachoeira e das terras compreendidas entre o Itanhangá, a lagoa e a Barra da Tijuca (Correio da Manhã, 12 de janeiro de 1949, sétima coluna).

Artigo sobre a construção do Conjunto Residencial do Pedregulho, cuja executora era Carmen Portinho (Correio da Manhã, 23 de janeiro de 1949, quinta coluna).

Fazia parte da chapa encabeçada por Alcides Lins (1891 – 1969) para o Club de Engenharia. A eleição foi vencida pela chapa encabeçada por Edson Passos *1893-1954) (A Noite, 31 de março de 1949, penúltima coluna).

Foi um dos engenheiros designados para representar a prefeitura do Rio de Janeiro no I Congreso Pan-americano de Engenharia que se realizou na cidade entre 15 e 24 de julho (Correio da Manhã, 14 de julho de 1949, primeira coluna).

1950 – A princesa Margaret da Inglaterra (1930 – 2002) fumou em público o que causou certa polêmica. Algumas mulheres brasileiras foram convidadas a comentar o fato, dentre elas, Carmen que declarou não achar condenável a atitude da princesa (Diário da Noite, 11 de abril de 1950).

Foi uma das representantes do Brasil no III Seminário Regional de Assuntos Sociais da União Panamericana, que se realizou em Porto Alegre entre 14 e 26 de maio (A Manhã, 10 de maio de 1951, última coluna).

Inauguração dos primeiros 54 apartamentos do Conjunto Residencial do Pedregulho com a presença do prefeito Ângelo Mendes de Moraes (1894 – 1990) e de diversas autoridades. Na ocasião, Carmen proferiu uma palestra sobre a construção (A Noite, 20 de junho de 1950, primeira coluna; Correio da Manhã, 21 de junho de 1950).

Deu uma entrevista falando de suas ideias em relação à questão da habitação (Diário Carioca, 2 de julho de 1950).

1951 – Em 21 de março, foi eleita e tomou posse a nova diretoria do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, fundado em 1948: Raymundo de Castro Maya (1894 – 1968) – presidente -, Francisco de San Thiago Dantas  (1911 – 1964) – vice-presidente -, Niomar Moniz Sodré Bittencourt (1916 – 2003) – diretora executiva , Carmen Portinho – diretora executiva adjunta -, Maria Barreto (diretora secretária) e Walther Moreira Salles (1912 – 2001) (tesoureiro).

Foi uma das personalidades de destaque no Brasil que se manifestou entusiasmadamente sobre a realização da I Bienal Internacional de São Paulo, promovida pelo Museu de Arte Moderna de São Paulo, então presidido por Ciccillo Matarazzo (1898 – 1977).  Sua mulher, de Yolanda Penteado (1903 – 1983), foi uma peça fundamental para a realização do evento, que aconteceu em um pavilhão provisório localizado na Esplanada do Trianon, na região da Avenida Paulista. Foi realizada entre outubro e dezembro com 729 artistas de 25 países e 1854 obras. O projeto do Conjunto Residencial do Pedregulho, do arquiteto Affonso Eduardo Reidy (1909 – 1964), do qual Carmen era a engenheira, conquistou o prêmio de Organização de Grandes Áreas ou de Urbanismo (Última Hora, 24 de agosto de 1951, quarta colunaCorreio da Manhã, 6 de dezembro de 1951, primeira coluna).

 

bienal

Foi afastada do cargo de diretora do Departamento de Habitação Popular pelo novo secretário de Viação da Prefeitura, Paulo Sá, nomeado pelo novo prefeito do Rio de Janeiro, João Carlos Vital (1900 – 1984) (Correio da Manhã, 28 de abril de 1951, segunda coluna).

Foi uma das integrantes da delegação de Habitação e Urbanismo designada pelo presidente da República para participar do III Seminário Regional de Assuntos Sociais da União Pan-americana, realizada entre 14 e 26 de maio, em Porto Alegre (Correio da Manhã, 10 de maio de 1951, última coluna).

No artigo Muita construção, alguma arquitetura e um milagre, sobre os últimos 50 anos de arquitetura no Brasil, o arquiteto Lúcio Costa (1902 – 1998) citou a participação de Carmen Portinho na Faculdade como decisiva para a formação do arquiteto no Brasil e a definiu como um “traço vivo de união, desde menina, entre as Belas Artes e a Politécnica” (Correio da Manhã, 15 de junho de 1951, segunda coluna).

Em entrevista, declarou que suas paixões era a matemática e a jardinagem (A Noite, 5 de outubro de 1951)

1952 - O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, fundado, em 1948, sob a presidência de Raymundo de Castro Maya (1894 – 1968) e inaugurado, em  20 de janeiro de 1949, com a exposição Pintura Europeia Contemporânea, em sua sede provisória localizada no 11º andar do Banco Boavista, passou a funcionar, em 15 de janeiro de 1952, no pavimento térreo do Edifício Gustavo Capanema, o prédio do Ministério da Educação. A área foi cedida, no ano anterior, pelo então ministro da Educação e da Saúde e também fundador do jornal A Tarde, da Bahia, Ernesto Simões Filho (1886 – 1957). O recinto do museu foi projetado por Oscar Niemeyer (1907 – 2012) e Carmen foi responsável pelas obras. A cerimônia de inauguração, à qual compareceram diversas personalidades do mundo político e cultural brasileiro, como a primeira-dama Darci Vargas (1895 – 1968) e o casal Ciccillo Matarazzo (1898 – 1977) e Yolanda Penteado (1903 – 1983), foi presidida por Simões Filho.

Carmen era, como já mencionado, diretora executiva adjunta do MAM-RJ, cargo que ocupou até 1967. Sua diretora executiva era Niomar Moniz Sodré Bittencourt (1916 – 2003), seu vice-presidente, Francisco Clementino San Tiago Dantas (1911 – 1964), e seu tesoureiro, Walther Moreira Salles (1912 – 2001). A exposição inaugural mostrou quadros pertencentes ao museu e obras premiadas na I Bienal de São Paulo, realizada entre outubro e dezembro de 1951 (Correio da Manhã, 21 de janeiro de 1949, terceira colunaCorreio da Manhã, 7 de março de 1951, quinta colunaCorreio da Manhã, 6 de janeiro de 1952, quarta coluna; Correio da Manhã, 16 de janeiro de 1952A Noite, 5 de outubro de 1951, primeira colunaÚltima Hora, 9 de janeiro de 1952, penúltima colunaA Noite, 16 de janeiro de 1952Vida Doméstica, fevereiro de 1952; Revista da Semana, 26 de julho de 1952).

 

 

 

 

Carmen Portinho hasteou a bandeira do Brasil na inauguração da escola do Conjunto Residencial do Pedregulho (A Noite, 31 de janeiro de 1952, penúltima coluna).

 

 

Inauguração do Conjunto Habitacional Paquetá,  projeto de Francisco Bolonha (1923 – 2006), do qual Carmen era a diretora das obras (Correio da Manhã, 30 de março de 1952, segunda coluna).

Fazia parte do Conselho Central da Fundação da Casa Popular, nomeado pelo ministro do Trabalho, Segadas Viana (1906 – 1991) (Diário Carioca, 9 de abril de 1952, segunda colunaTribuna da Imprensa, 9 de abril de 1952, primeira coluna).

Foi uma das engenheiras citadas em um artigo sobre mulheres engenheiras no Rio de Janeiro. Foi publicada uma foto dela fiscalizando as obras do Conjunto Residencial do Pedregulho (Manchete, 24 de maio de 1952).

 

 

Em entrevista, Carmen afirmou que a construção de conjuntos residenciais seria a solução ideal para o problema de habitação no Rio de Janeiro (Tribuna da Imprensa, 2 de julho de 1952).

Foi uma das diretoras do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro que recepcionou o artista André Lhote (1885 – 1962) em visita ao museu (Correio da Manhã, 23 de julho de 1952, terceira coluna).

Participou de um ciclo de conferências realizado no Centro de Medicina Social como uma das relatoras do tema dos problemas das favelas (A Noite, 4 de agosto de 1952, penúltima coluna).

Inauguração, no MAM-RJ, na Exposição de Arquitetura Contemporânea Brasileira. Segundo Carmen, organizadora do evento: “esse trabalho serve para demonstrar que nossa arquitetura moderna não está divorciada da tradição, da boa qualidade. O que é bom é bom em qualquer época“. O trabalho a que se referia era uma igreja antiga de Gregory Warchavsky (1896 – 1972), arquiteto ucraniano radicado no Brasil (Tribuna da Imprensa, 6 de agosto de 1952, primeira colunaCorreio da Manhã, 6 de agosto de 1952).

 

 

 

Em artigo, o jornalista Carlos Lacerda (1914 – 1977), futuro governador da Guanabara, elogia Reidy e Carmen, dois dos melhores servidores da cidade e o projeto do Conjunto Residencial do Pedregulho, em São Cristóvão (Tribuna da Imprensa, 14 de agosto de 1952, primeira coluna).

 

 

 

Fez em sua casa, na rua Timboassu, 671, em Jacarepaguá, uma reunião para apresentar um óleo do artista Ivan Serpa (1923 – 1973), que ela classificava como a mais bela obra do jovem artista que tinha, na época, 29 anos (Correio da Manhã, 10 de outubro de 1952, quinta coluna).

A casa foi construída entre 1949 e 1952, concebida por Reidy para que ele e Carmen vivessem lá. Ela foi a engenheira responsável. (Diário Carioca, 11 de março de 1953, última coluna).

 

 

Ficou conhecida como Residência Carmen Portinho e foi tombada a nível municipal pelo Decreto nº 35.874 de 05 de julho de 2012 devido à sutileza plástica de sua arquitetura, na qual foram utilizadas técnicas inovadoras para sua época, tem sua presença destacada na cultura arquitetônica carioca.

 

 

Foi uma das diretoras do museu que participou da cerimônia que aconteceu pouco antes da inauguração da exposição retrospectiva de Cícero Dias (1907 – 2003), no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, quando empresário norte-americano Nelson Rockefeller (1908 – 1979) recebeu o título de sócio remido da instituição (Correio da Manhã, 21 de novembro de 1952, quinta coluna).

Carmen foi uma das convidadas da primeira-dama do Brasil, Darci Vargas (1895 – 1968), para assistir, no Palácio do Catete, à exibição de filmes sobre os artistas plásticos franceses Georges Braque, Paul Gauguin e Toulouse-Lautrec (Última Hora, 28 de novembro de 1952, primeira coluna).

Foi reconduzida ao cargo de diretora do Departamento de Habitação Popular da administração do novo prefeito do Rio de Janeiro, Dulcidio Espírito Santo Cardoso (1896 – 1978) (Tribuna da Imprensa, 17 de dezembro de 1952, sexta coluna).

Estava presente na inauguração de uma exposição de arte infantil, com trabalhos de crianças de 2 a 12 anos, fruto do curso do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro ministrado sob a orientação de Ivan Serpa (1923 – 1973). Dois outros cursos eram ministrados no museu: com os artistas plásticos norte-americanos Margaret Spence (1914 – ?) e Milton Goldring (1918 – ?) (Tribuna da Imprensa, 17 de dezembro de 1952, primeira colunaTribuna da Imprensa, 26 de dezembro de 1952, quarta coluna).

1953 – Estava presente à reunião do Conselho Deliberativo do museu quando o embaixador Maurício Nabuco (1891 – 1979) foi eleito por aclamação presidente da instituição, devido ao pedido de demissão de Raymundo de Castro Maya (1894 – 1968). Na ocasião foi extinto o cargo de conservador e criado o de segundo vice-presidente, ocupado por Aloysio de Salles (1918 – 2007)(Correio da Manhã, 9 de janeiro de 1953, terceira coluna).

O prefeito Dulcidio Espírito Santo Cardoso (1896 – 1978) extinguiu a comissão de Planejamento e Direção das Obras do Parque Proletário na rua Marquês de São Vicente, na Gávea. O conjunto residencial em construção ficaria a cargo de Carmen Portinho, diretora do Departamento de Habitação Popular da Secretaria de Viação e Obras da Prefeitura. Publicação de um entrevista com ela (Jornal do Commercio, 16 de janeiro de 1953, primeira colunaA Noite, 17 de janeiro de 1953).

 

 

 

Instalação da Comissão das Favelas, criada pelo prefeito Dulcidio Espírito Santo Cardoso (1896 – 1978). Carmen era um das intergrantes (Correio da Manhã, 14 de fevereiro de 1953, terceira coluna).

Integrava a comissão artística do Congresso Eucarístico que realizaria no Rio de Janeiro, em 1955 (Tribuna da Imprensa, 10 de março de 1953, primeira coluna).

Carmen, como diretora do Serviço de Habitação Popular da Prefeitura falou sobre soluções para o problema de transporte no Rio de Janeiro (Flan, 12 a 18 de abril de 1953).

Ela e o arquiteto Affonso Eduardo Reidy (1909 – 1964) foram elogiados pelo arquiteto e artista plástico suíço Max Bill (1908 – 1994), que visitou o Brasil a convite do Itamaraty (Sombra, abril/maio de 1953Correio da Manhã, 28 de maio de 1953, quinta coluna).

Estava presente na inauguração de uma exposição de Candido Portinari (1903 – 1962), no MAM-RJ (Correio da Manhã, 30 de abril de 1953Sombra, junho de 1953).

 

 

 

Ela, Rui de Souza Leão, Stelio Alencar e Olga Costa Leite – esses três últimos funcionários da Secretaria de Assistência Social, sob o comando de Guilherme Romano – formavam a comissão especial para estudar a transferência dos favelados do “Esqueleto”, que estavam sob a custódia da prefeitura no Albergue da Boa Vontade e no Asilo de São Francisco, para os parques proletários (Última Hora, 8 de junho de 1953, terceira coluna).

Fez uma exposição do Conjunto Residencial do Pedregulho em uma visita-conferência promovida pela Difusão Cultural da Prefeitura (Correio da Manhã, 14 de junho de 1953, terceira colunaA Noite, 25 de junho de 1953, quarta coluna).

Esteve presente ao cocktail oferecido por Valentim Bouças (1891 – 1964) na ocasião em que o empresário doou um desenho do artista francês Henri Matisse (1869 – 1954) ao Museu de ARte do Rio de Janeiro (Correio da Manhã, 12 de julho de 1953, terceira coluna).

Recepcionou o então diretor-geral da Unesco, Luther Harris Evans (1902 – 1981), na visita que ele fez ao Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, durante uma viagem a países da América Latina (Correio da Manhã, 23 de agosto de 1953, quarta coluna).

Esteve presente na cerimônia que marcou o início das obras preliminares do desmonte do Morro de Santo Antônio (Correio da Manhã, 7 de novembro de 1953, terceira coluna).

 

 

Esteve presente à vernissage da II Bienal Internacional de São Paulo (Correio da Manhã, 10 de dezembro de 1953, terceira coluna).

1954 – Carmen, diretora do Departamento de Habitação Popular, falou sobre os conjuntos residenciais do Pedregulho e da Gávea, que pretendia concluir ainda em 1954, e informou que já havia sido aberta a concorrência pública para a construção de um conjunto residencial em Vila Isabel (Diário de Notícias, 16 de janeiro de 1954, quinta colunaJornal do Commercio, 18 de outubro de 2003, última coluna).

Participou da comemoração dos dois anos da sede do MAM-RJ, no Palácio Capanema, com a inauguração de uma exposição do projeto e da maquete da futura sede do museu, no Aterro do Flamengo, de autoria de Affonso Eduardo Reidy (1909 – 1964); e de uma exposição com obras de seu acervo (Tribuna da Imprensa, 16 de janeiro de 1954, segunda coluna).

Publicação de uma foto do Conjunto de Habitação Paquetá, projeto de Francisco Bolonha (1923 – 2006) (Revista da Municipal de Engenharia, janeiro/março de 1954).

 

 

Ela e outras feministas brasileira pioneiras como Bertha Lutz  (1894 – 1976), Jeronyma Mesquita (1880 – 1972), Maria Rita Soares de Andrade (1904 – 1998) e Maria Sabina de Albuquerque (1898 – 1991), dentre outras, estiveram presentes à solenidade, realizada no Senado, da promulgação da lei reingresso das mulheres na carreira diplomática (Correio da Manhã, 19 de janeiro de 1954, quarta coluna).

Em visita ao Rio de Janeiro, o arquiteto alemão Walter Gropius (1883 – 1969), fundador da Bauhaus, esteve com Carmen, com o paisagista Roberto Burle Marx (1909 – 1994) e os arquitetos Lúcio Costa (1902 – 1998), Oscar Niemeyer (1907 – 2012), Affonso Eduardo Reidy (1909 – 1964) e Sergio Bernardes  (1919 – 2002) (Tribuna da Imprensa, 27 de janeiro de 1954, terceira coluna).

Deu uma entrevista a respeito da nova sede do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro que seria construído, próximo ao Aeroporto Santos Dumont, em um aterro que seria realizado com o material resultante do desmonte do Morro de Santo Antônio. O projeto era do arquiteto Affonso Eduardo Reidy (1909 – 1964) (A Noite, 12 de fevereiro de 1954).

Membros do Instituto Norte-Americano de Arquitetos visitaram o MAM-RJ e Carmen Portinho expôs a eles a maquete da futura sede da instituição, projeto de Reidy (Correio da Manhã, 18 de fevereiro de 1954, terceira coluna).

Estava presente na abertura da Exposição de Cubismo no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (Tribuna da Imprensa, 18 de março de 1954, penúltima coluna).

Publicação do artigo A arte deste século, sobre a construção da futura sede do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (Revista Shell, abril, maio, junho de 1954).

 

 

Foi, com os arquitetos MMM Roberto, colaboladora do artigo A arquitetura industrial brasileira, publicado na Revista Shell, nº 66, de 1954.

Ela e Reidy receberam o italiano Aldo Calvo (1906 – 1991), autoridade na construção de teatros que estava no Rio para colaborar com Reidy na construção do Auditório do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Calvo estava morando em São Paulo há cerca de seis anos e desenvolvia um Curso de Cenografia da Comissão do IV Centenário (Correio da Manhã, 15 de junho de 1954, quinta coluna).

 

 

Foi uma das signatárias de uma nota que a diretoria do MAM-RJ divulgou acerca da realização do Congresso Eucarístico no Rio de Janeiro, em 1955, em resposta a declarações feitas por dom Helder Câmara (1909 – 1999) no Correio da Manhã de 27 de junho de 1954 sobre uma polêmica em torno da localização do evento: o Aterro de Santa Luzia onde se construiria a futura sede do MAM) ou o Aero Clube de Manguinhos (Correio da Manhã, 29 de junho de 1954, última coluna).

Assinou um manifesto em apoio à criação do Núcleo de Estudos e Divulgação da Arquitetura no Brasil – NEDAB (Correio da Manhã, 8 de julho de 1954, quarta coluna).

Ela e Reidy receberam o italiano Paolo Grassi (1919 – 1981), diretor do Piccollo Teatro de Milano, que visitou a exposição Modernos de Israel, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (Correio da Manhã, 18 de julho de 1954, terceira coluna).

Esteve presente à conferência de M. Georges Henri Rivier, diretor do Museu de Artes e Tradições da França e e presidente do Conselho de Museus Internacional, que visitava o Brasil. O evento se realizou na casa da adida cultural da França no Rio de Janeiro (Jornal do Brasil, 15 e 16 de agosto de 1954, primeira coluna).

Foi à inauguração da exposição retrospectiva de 30 anos de carreira do pintor Emiliano Di Cavalcanti (1897 – 1976), no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, ainda instalado no Palácio Gustavo Capanema. Ela era diretora executiva adjunta do MAM-RJ (Tribuna da Imprensa, 11/12 de setembro de 1954, terceira colunaA Noite Ilustrada, 21 de setembro de 1954).

 

 

Carmen estava presente ao chá oferecido pelas sócias da União Universitária Feminina, fundada por ela em 1929, a Minnie Miller, professora de línguas do Teacher`s College, no Kansas, e membro da Associação de Mulheres Universitárias dos Estados Unidos (Correio da Manhã, 5 de dezembro de 1954, quarta coluna).

Chefiou as obras de engenharia civil da construção da nova sede do MAM, no Aterro do Flamengo. O início das obras se deu em 9 de dezembro de 1954, quando o bate-estaca da obra foi acionado pelo então presidente Café Filho (1899 – 1970). Uma cápsula do tempo foi enterrada junto às fundações, contendo marcas do período, como moedas, notas e recortes de jornal. A pedido de Carmen, a artista plástica Lygia Clark decorou a barraca do museu com amostras do material que seria usado nas obras, com um painel de exposição na entrada, entre a sala de trabalho e de reuniões (Correio da Manhã, 9 de dezembro de 1954Tribuna da Imprensa, 10 de dezembro de 1954, penúltima colunaCorreio da Manhã, 16 de dezembro de 1954, terceira coluna;Vida Doméstica, janeiro de 1955).

 

 

 

 

 

1955 - O MAM-RJ abriu a temporada de 1955 com uma exposição de obras de seu acervo. No artigo, foi apintada como um dos diretores da instituição que nos últimos três anos trabalharam sem cessar (Tribuna da Imprensa, 7 de janeiro de 1955, primeira coluna).

Ela, Reidy e Niomar Muniz Sodré Bittencourt, dentre outros, estavam presentes à inauguração da Exposição de Flores e Frutos, realizada no Hotel Quitandinha, em Petrópolis. Foi averta pelo presidente Café Filho (1899 – 1970) com a presença do governador da Guanabara, Miguel Couto Filho (1900 – 1967). O paisagista Roberto Burle Marx (1909 – 1994) era o resonsável pela decoração e pela distribuição dos stands do evento (Correio da Manhã, 6 de março de 1955, sexta coluna).

Não passam de charlatães!” Assim reagiu Carmen em relação a arquitetos desonestos, referidos como assinadores de plantas, após desmoronamentos de edifícios no Rio de Janeiro. Ela e outros engenheiros se pronunciaram no sentido da cassação das carteiras desses profissionais (Última Hora, 13 de abril de 1955, última coluna).

Em entrevista, Carmen defendeu que a criação de conjuntos residenciais resolveriam “integralmente os problemas da donas de casa. Eles são feitos visando a atender às necessidades daquelas que sentem mais de perto os problemas da família”. Ainda segunda a engenheira, o planejamento desses conjuntos deveriam ser realizados com espírito social (Tribuna da Imprensa, 11 de maio de 1955).

Durante a exposição retrospectiva do pintor José Pancetti (1902 – 1958), no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Carmen recebeu os irmãos José Medeiros (1921 – 1990) – fotógrafo e jornalista – e Anisio Medeiros (1922 – 2003) – artista plástico -, entre outros (Correio da Manhã, 19 de maio de 1955).

 

 

Participou do almoço que o ministro da Marinha, o almirante Amorim do Valle (1893 – 1971), ofereceu ao pintor José Pancetti (1902 – 1958) (Jornal do Brasil, 26 de maio de 1955, terceira coluna).

Publicação de uma entrevista com Carmen falando sobre o andamento das obras do museu. Já haviam sido cravadas 300 das 370 estacas projetadas. Cerca de um mês depois a última estaca foi cravada (Correio da Manhã, 26 de maio de 1955, terceira colunaCorreio da Manhã, 27 de junho de 1955).

Devido à realização do 36º Congresso Eucarístico Internacional no Rio de Janeiro, em julho, no Aterro do Flamengo, as obras da nova sede do MAM foram suspensas e retomadas em meados de agosto (Correio da Manhã, 1º de janeiro de 1956, quinta coluna).

Era uma das diretoras do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro que convidavam para a abertura da Exposição de Litografias de Artistas Ingleses (Tribuna da Imprensa, 16 de setembro de 1955, sexta coluna).

Viajou para a Europa. Participou do Congresso de Arquitetos, em Haia, na Holanda. Visitou a Itália e encontrou, em Milão, Pascoal Carlos Magno (1906 – 1980). Esteve também na Alemanha e ficou impressionada com a reconstrução de cidades inteiras (Correio da Manhã, 16 de julho de 1955, quarta colunaCorreio da Manhã, 5 de agosto de 1955, terceira colunaO Jornal, 27 de setembro de 1955, penúltima coluna).

Em outubro, foi realizada uma visita às obras da nova sede do MAM-RJ com a presença do prefeito do Rio de Janeiro, Alim Pedro (1907 – 1975), da diretoria do museu e de vários de seus conselheiros. Na ocasião, Carmen expôs detalhes da construção do novo prédio (Almanak do Correio da Manhã, 1956).

Foi uma das colaboradoras do álbum de propaganda do país, Le Brésil Actuel 1955 (Diário de Notícias, 27 de novembro de 1955, quarta coluna).

Publicação de uma entrevista com Carmen Portinho com fotografias dos conjuntos residenciais do Pedregulho e da Marquês de São Vicente – projetos de Reidy – ; e de Paquetá – projeto de Francisco Bolonha (1923 – 2006) (Tribuna da Imprensa, 17 de dezembro de 1955).

 

 

1956 - Compareceu à vernissage de Roberto Burle Marx (1909 – 1994) no MAM-RJ (Última Hora, 16 de março de 1956, última coluna).

Sobre o trabalho de pesquisa sobre a integração da pintura à arquitetura que a artista Lygia Clark (1920 – 1988) estava realizando, Carmen declarou: “A contribuição de Lygia Clark à arquitetura contemporânea será, sem dúvida, muito valiosa. Talento, coragem e honestidade para levar a sua tarefa até o fim não lhe faltam” (Correio da Manhã, 7 de abril de 1956, última coluna).

Era uma das diretoras do MAM-RJ que convidava para a abertura da Exposição de Arte Alemã Contemporânea (Tribuna da Imprensa, 9 de abril de 1956, última coluna).

Ela e outros diretores do Museu de Arte Moderna recepcionaram o empresário norte-americano Nelson Rockefeller (1908 – 1979) que visitou as obras da instituição. Rockefeller elogiou muito a precisão, a clareza e o conhecimento da engenheira Correio da Manhã, 14 de abril de 1956Correio da Manhã, 15 de abril de 1956).

Também visitaram as obras do museu as arquitetas italianas Adele Racheli Domenighetti (c. 1894 – 19?) e Maria Luisa Rastelli Baj. Várias personalidades do mundo político, cultural e econômico visitaram as obras, dentre eles o prefeito do Rio de Janeiro, Negrão de Lima (1901 – 1991)  (Correio da Manhã, 4 de maio de de 1956, sexta colunaCorreio da Manhã, 14 de setembro de 1956).

No MAM-RJ, Participou da inauguração, realizada pelo presidente da República, Juscelino Kubitschek (1902 – 1976), da exposição da escultora Maria Martins (1894 – 1973), mulher do embaixador Carlos Martins Pereira e Souza (1884 – 1965) (O Jornal, 18 de maio de 1956, quarta coluna).

O projeto do edifício do Teatro Rural Estudantil, em Campo Grande, foi de Carmen e de Reidy. Foi a engenheira Elza Pinho Osborne (? – 1995) que conseguiu a doação do terreno para sua construção (Diário Carioca, 13 de julho de 1956, primeira coluna).

 

 

Eleição da nova diretoria do museu para o período de 1956 a 1961. Carmen seguiu como diretora executiva adjunta (Correio da Manhã, 9 de agosto de 1956).

 

 

Integrava a diretoria do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (Módulo, setembro de 1956).

 

 

 

Em entrevista, Carmen declarou que os conjuntos residenciais da Gávea, projeto de Reidy, e de Vila Isabel, projeto de Francisco Bolonha  (1923 – 2006), para funcionários municipais, seriam entregues em 1957 (A Noite, 1º de outubro de 1956).

Carmen ciceroneou visitas públicas e explicadas à maquete e às obras da nova sede do Museu de ARte Moderna do Rio de Janeiro dentro da programação da Campanha Internacional de Museus em comemoração aos 10 anos da Unesco (Correio da Manhã, 6 de outubro de 1956).

Passou de sócia efetiva a remida do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (Correio da Manhã, 6 de novembro de 1956, última coluna).

Compareceu ao almoço de confraternização da Escolinha de Arte do Brasil, dirigida por Augusto Rodrigues (1913 – 1993), pioneiro na criação desse tipo de escola no Brasil (Diário Carioca, 18 de dezembro de 1956).

1957 –  Na coluna de Jayme Maurício (1926 – 1997), publicação de uma entrevista com Carmen Portinho sobre a construção da nova sede do museu (Correio da Manhã, 6 de janeiro de 1957).

Era uma das diretoras que convidavam para a reabertura da exposição permanente do MAM-RJ, acrescida de algumas doações (Tribuna da Imprensa, 10 de janeiro de 1957, quarta coluna).

Segundo Carmen Portinho: “O Brasil está à frente de todos os países do mundo quanto à aplicação da arquitetura moderna às obras públicas“. Foi mencionado que ela havia há pouco tempo viajado para a Europa e para os Estados Unidos (Tribuna da Imprensa, 25 de janeiro de 1957, primeira coluna).

Fez uma viagem à Europa, tendo visitado a Itália e a Grécia (A Noite, 2 de abril de 1957, primeira colunaCorreio da Manhã, 10 de abril de 1957, última colunaÚltima Hora, 9 de maio de 1957, segunda coluna).

Na União Universitária Feminina proferiu a palestra Impressões da Europa, ilustrada com projeções (Jornal do Brasil, 30 de junho de 1957, quinta coluna).

Participou como presidente da Associação de Engenheiras e Arquitetas do Brasil de uma homenagem à ministra Francisca Fernãndez Hall, na ocasião embaixadora da Guatemala no Brasil. (Correio da Manhã, 21 de julho de 1957, quarta coluna).

Durante todo o ano, ciceroneou diversos visitantes às obras da nova sede do museu (Correio da Manhã, 4 de setembro de 1957).

Deu uma entrevista sobre a nova sede do MAM-RJ, que seria inaugurado em janeiro de 1958 (Jornal do Brasil, 24 de outubro de 1957).

 

 

Ela – tesoureira-, Elza Pinho Osborne – 1ª vice-presidente -, e Isabel do Prado – secretária de Relações Internacionais -, da União Universitária Feminina, assinavam uma carta de agradecimento endereçada à Condessa Pereira Carneiro pela publicação doa artigo Nada de privilégios, de Maria Rita Soares de Andrade (1904 – 1998), no Jornal do Brasil de 9 de outubro de 1957. A presidente da União Universitária Feminina era, na ocasião, Zeia Pinho de Rezende Silva (Jornal do Brasil, 27 de outubro de 1957, quarta coluna).

Convidou para a exibição do filme Estruturas metálicas do prédio da UNESCO, no Departamento de Habitação Popular, do qual era diretora (Correio da Manhã, 30 de outubro de 1957, primeira coluna).

Ela, Reidy e outros arquitetos ofereceram um almoço ao arquiteto alemão naturalizado norte-americano Mies Van Der Hohe (1886 – 1969), pioneiro da arquitetura moderna e ex-professor da Bauhaus, em visita ao Rio de Janeiro (Correio da Manhã, 7 de dezembro de 1957).

 

 

Era uma das diretoras do MAM-RJ que convidavam para a abertura da exposição Coelção Fleischmann, de arte norte-americana (Tribuna da Imprensa, 17 de dezembro de 1957, segunda coluna).

1958 - Inauguração, em 27 de janeiro, do Bloco Escola do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, no Aterro do Flamengo, com uma exposição permanente de seu acervo, uma mostra do inglês Ben Nicholson (1894 – 1982) e uma de escultores ingleses. O projeto do arquiteto Affonso Eduardo Reidy (1909 – 1964) é reconhecido internacionalmente como um marco da arquitetura moderna mundial. Seus jardins são de autoria de Roberto Burle Marx (1909 – 1994), que também integrou a equipe que realizou alguns anos depois o paisagismo do Parque Flamengo, contíguo ao museu  (Última Hora, 4 de janeiro de 1958, primeira colunaCorreio da Manhã, 5 de janeiro de 1958Correio da Manhã, 28 de janeiro de 1958Última Hora, 28 de janeiro de 1958, quarta colunaO Jornal, 30 de janeiro de 1958, última coluna).

 

 

Na edição de 26 de janeiro do Correio da Manhã, publicação de diversos artigos sobre o assunto, dentre eles, Características da construção do museu, de autoria de Carmen. O arquiteto Reidy, opaisagista Burle Marx, o professor Carlos Flexa Ribeiro (1914 – 1991) e o crítico de cinema Antônio Augusto Moniz Vianna (1924 – 2009) assinaram outros artigos.

 

 

 

Por nomeação do então prefeito do Rio de Janeiro, Francisco Negrão de Lima (1901 – 1991), ela, o professor José Maria Arantes (1915 – 1997) e Reinaldo Reis, Chefe do Gabinete do Prefeito, passaram a integrar o Conselho Fiscal da Fundação Leão XIII (Última Hora, 31 de janeiro de 1958, quarta coluna).

Foi homenageada por seus 10 anos à frente do Departamento de Habitação Popular da Prefeitura do Rio de Janeiro (Correio da Manhã, 11 de fevereiro de 1958, terceira colunaJornal do Brasil, 12 de fevereiro de 1958).

 

 

Participou da inauguração da exposição de Candido Portinari (1903 – 1962) na nova sede do MAM-RJ (Correio da Manhã, 24 de abril de 1958).

Manifestou-se a favor da política educacional implementada pelo professor Anisio Teixeira, diretor do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos – INEP – e criador e primeiro dirigente da Campanha Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, atual CAPES (Última Hora, 2 de maio de 1958, quinta coluna).

Inauguração da Escola Pública Francisco Sertório Portinho, em homenagem ao pai de Carmen, que havia sido funcionário da prefeitura do Rio de Janeiro (Correio da Manhã, 10 de maio de 1958, primeira coluna).

Falecimento da mãe de Carmen, Maria Velasco Portinho (1877 – 1958), conhecida como Mamita (Correio da Manhã, 17 de julho de 1958, penúltima coluna).

 

 

Participou em Haia, na Holanda, do Seminário de Habitação e Urbanismo, a convite da Associação Internacional de Habitação e Urbanismo. Depois seguiu para o Congresso de Habitação de Urbanismo, em Liège, e para a Feira Internacional em Bruxelas (Jornal do Brasil, 17 de agosto de 1958, quinta coluna).

1959 – Reidy projetou a casa de campo dos dois, no Vale do Cuiabá, em Itaipava.

 

Era a tesoureira da União Universitária Feminina quando a associação comemorou 30 anos de existência. Foi sua fundadora e primeira presidente (Jornal do Brasil, 11 de janeiro de 1959, segunda coluna).

Foi usada como exemplo na matéria Alforria para a mulher casada (Manchete, 25 de abril de 1959).

 

 

Em maio, inauguração do Ateliê Livre de Gravura no MAM com um curso ministrado pelo gravador franco-alemão Johnny Friedlaender (1912-1992). Carmen foi uma das maiores incentivadoras da criação deste departamento, dirigido por Edith Behring por cerca de 10 anos. Teve como assistentes Rossini Perez e Anna Letycia, dentre outros. Reuniu nomes como Fayga Ostrower, Maria Bonomi e Thereza Miranda.

Presidiu, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, a comissão julgadora do melhor cartaz do Dia do Papai, promovido pelo sindicato de Lojistas do Comércio do Rio de Janeiro (Correio da Manhã, 10 de junho de 1959, quarta colunaCorreio da Manhã, 28 de junho de 1959, primeira coluna).

Estava presente ao almoço  – que inaugurou a cantina do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – oferecido ao escritor e ministro da Cultura da França, André Malraux (1901 – 1976) (Correio da Manhã, 29 de agosto de 1959, primeira coluna).

1960 – Apoiou a candidatura de Sérgio Magalhães (1916 – 1991), do PTB, ao governo da Guanabara. Ele foi derrotado por Carlos Lacerda (1914 – 1977), da UDN, nas eleições realizadas em 3 de outubro. Ele era casado com uma das irmãs de Carmen, Maria de Lourdes (c. 1918 – 1962) (Última Hora, 29 de setembro de 1960, penúltima coluna).

1961 – Carmen foi substituida no Departamento de Habitação Popular pelo engenheiro Stelio Emmanuel de Alencar Roxo (1925 – ?), nomeado por Carlos Lacerda (1914 – 1977), que havia sido empossado no governo da Guanabara, em 5 de dezembro de 1960. Carmen tinha divergências políticas irreconciliáveis com Lacerda. Aposentou-se do serviço público (Diário Carioca, 4 de janeiro de 1961, quinta coluna).

Ela e Reidy se encontraram com o casal Paulo Bittencourt (1895 – 1963), dono do jornal Correio da Manhã, e Niomar Moniz Sodré Bittencourt (1916 – 2003), em Paris. Niomar havia deixado há pouco tempo o cargo de diretora executiva do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (Última Hora, 20 de junho de 1961, quinta colunaDiário de Notícias, 30 de junho de 1961, última coluna).

Tomou posse como Conselheira da Fundação Casa Popular (Correio da Manhã, 2 de julho de 1961, sexta coluna).

Gustavo Capanema (1900 – 1985) passou a ser o presidente do MAM-RJ, substituindo o embaixador Maurício Nabuco (1891 – 1979). Carmen continuou como diretora executivva adjunta (Correio da Manhã, 16 de julho de 1961, sexta coluna).

Ela, Aldo Calvo (1906 – 1991), Giselda Leiner (1928 – ) e José Geraldo Vieira (1897 – 1977) formavam o júri do Concurso Nacional de Desenho para Jóias, promovido pela H. Stern (Correio Paulistano, 7 de novembro de 1961, segunda coluna).

Integrava a comissão julgadora das obras apresentadas na I Exposição de Arte Decorativa, realizada no Clube de Engenharia (Tribuna da Imprensa, 13 de dezembro de 1961, segunda coluna).

1962 – Em missão cultural embarcou para a Europa, onde visitaria a Grécia, a Suíça, a Itália, a Alemanha e a França (A Noite, 18 de outubro de 1962, quinta coluna).

1963 – Carmen falou em entrevista sobre os 12 dias que passou no Egito (Correio da Manhã, 18 de janeiro de 1963, quarta coluna).

Fazia parte do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira de Museologistas (Diário de Notícias, 13 de novembro de 1963, terceira coluna).

Integrava o júri da Primeira Bienal Americana de Gravura, realizada em santiago, no Chile. Na ocasião, Edith Behring (1916 – 1996), professora de gravura do MAM-RJ e do Museu de Belas Artes, foi a grande premiada do evento (Correio da Manhã, 24 de novembro de 1963, primeira colunaDiário de Notícias, 27 de novembro de 1963, segunda colunaO Jornal, 13 de dezembro de 1963, sexta coluna).

1964 – Falecimento de seu marido, Affonso Eduardo Reidy, em 10 de agosto de 1964, de câncer (Correio da Manhã, 11 de agosto de 1964, última coluna; A Tribuna (SP), 16 de agosto de 1964).

 

 

Fazia parte da delegação brasileira, chefiada por Flávio Lacerda (1903 – 1983), ministro da Educação, que participou em Assunção, no Paraguai, da inauguração do Colégio Experimental Paraguai Brasil, projeto de Reidy (Diário de Notícias, 4 de setembro de 1964, quarta colunaCorreio da Manhã, 5 de setembro de 1964, primeira colunaCorreio da Manhã, 20 de setembro de 1964, primeira coluna).

 

 

1965 - Carmen empenhou-se para a realização, entre 12 de agosto e 12 de setembro, no MAM-RJ, da exposição Opinião 65, proposta pelos marchands Ceres Franco (1926 -) e Jean Boghici (1928 – 2015). A mostra, que chamou a atenção para uma nova geração de artistas, que incluía Hélio Oiticica (1937 – 1980), que mostrou seus parangolés;  Rubens Gershman (1942 – 2008), Antônio Dias (1944 – ), Carlos Vergara (1941 – ) e Ivan Serpa (1923 – 1973), integrou as comemorações do IV Centenário da Cidade do Rio de Janeiro.

No Peru, Carmen realizou várias palestras em torno da obra de Reidy, em exposição em Lima, sob o patrocínio da Faculdade de Arquitetura e do Colégio de Arquitetos do Peru (Jornal do Brasil, 17 de agosto de 1965, penúltima coluna).

Estava presente na inauguração da Exposição Arquitetura Atual da América, em Madri, na Espanha. Também visitou Barcelona (Correio da Manhã, 9 de dezembro de 1965, segunda coluna).

As obras brasileiras apresentadas na II Bienal de Gravura em Santiago, no Chile, foram selecionadas por Carmen e ganharam três prêmios – Roberto De Lamonica (1933 – 1995) e Luiz Arthur Piza (1928 – ) conquistaram os prêmios Eduardo Frei e Instituto Extensão em Artes Plásticas, respectivamente; e o conjunto brasileiro recebeu o prêmio Sociedade amigos do Museu de ARte Contemporânea (O Jornal, 17 de de dezembro de 1965, primeira coluna).

Deu uma entrevista para a coluna “Itinerário das Artes Plásticas”, de Jayme Maurício (1926 – 1997), acerca das obras no Aterro do Flamengo (Correio da Manhã, 25 de dezembro de 1965).

1966 - Foram iniciadas, em 15 de fevereiro de 1966, sob a supervisão de Carmen, as obras do Bloco de Exposições do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, que foi inaugurado em 29 de outubro de 1967, com uma exposição retrospectiva de Lasar Segal (1889 – 1957) (Diário de Notícias, 4 de março de 1966, primeira colunaCorreio da Manhã, 13 de março de 1966, penúltima colunaCorreio da Manhã, 31 de outubro de 1967).

Esteve na Argentina como comissária da Exposição de Artistas Brasileiros Contemporâneos, realizada no Museu de Arte Moderna de Buenos Aires. Quando regressou, foi homenageada pela diretoria do MAM-RJ com um almoço (O Jornal, 28 de abril de 1966, primeira coluna).

Em 27 de abril viajou para os Estados Unidos como convidada do programa de intercâmbio educativo e cultural do Departamento de Estado norte-americano. Foi homenageada com um jantar oferecido pela escultora Irene Amar, em Nova YorkRegressou ao Brasil, em 26 de junho (Correio da Manhã, 1º de maio de 1966, . terceira colunaCorreio da Manhã, 24 de junho de 1966, primeira colunaO Jornal, 26 de junho de 1966, terceira colunaTribuna da Imprensa, 1º de julho de 1966, primeira colunaO Cruzeiro, 9 de agosto de 1966, segunda coluna).

Apresentou-se um programa da TV Continental, produzido por Wilma Luchesi (O Jornal, 17 de julho de 1966, quinta coluna).

Realizou uma exposição sobre a obra de Le Corbusier (1887 – 1965), no MAM-RJ, com a colaboração de Charlotte Perriand (1903 – 1999), designer e ex-colaboradora do arquiteto. Na época, morava no Rio de Janeiro porque seu marido, Jacques Martin, era o representante da Air France no Brasil(Jornal do Brasil, 1º de agosto de 1966).

Foi reeleita para o cargo de diretora executiva adjunta do MAM-RJ, para um período de cinco anos (Correio da Manhã, 3 de agosto de 1966, primeira coluna).

O deputado Carvalho Neto propôs que ela recebesse o título de Cidadã do Estado da Guanabara (O Jornal, 18 de setembro de 1966, primeira coluna).

Em 8 e 9 de setembro, respectivamente o presidente e o vice-presidente do Museu de Arte Moderna, Gustavo Capanema (1900 – 1985) e João Carlos Vital (1900 – 1984) pediram demissão. A crise no museu foi ocasionada pelo convite feito ao então ministro das Relações Exteriores, Juracy Magalhães (1905 – 2001), para visitar o museu na ocasião da exposição do artista português Bernardo Marques (1898 – 1962). Juracy era um desafeto de Niomar Moniz Sodré Bittencourt (1916 – 2003), então presidente de honra do museu. Em 27 de setembro foi realizada uma reunião do Conselho Deliberativo e por aclamação foi eleita uma nova diretoria. Assim, após 15 anos, Carmen Portinho deixou o cargo de diretora executiva adjunta do MAM-RJ, que exerceu desde 1951. Por não concordarem com esta resolução, os conselheiros Raymundo de Castro Maya (1894 – 1968), Rodrigo de Mello Franco (1898 – 1969) e Leonídio Ribeiro pediram demissão  (Correio da Manhã, 9 de setembro de 1966, primeira colunaCorreio da Manhã, 29 de setembro de 1966Jornal do Brasil, 14 de setembro de 1978, quinta colunaJornal do Brasil, 8 de julho de 1979).

 

 

Por seus 15 anos como diretora executiva adjunta do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, foi homenageada por seus amigos, no restaurante Casa Grande, e recebeu outra homenagem no MAM-RJ (O Jornal, 5 de outubro de 1966, primeira colunaO Cruzeiro, 9 de outubro de 1966).

 

 

Ela e o crítico de arte Clarival do Prado Valladares (1918 – 1983) foram os responsáveis pela escolha da representação brasileira da III Bienal de Córdoba, na Espanha, quando os artistas Abrahan Palatnik (1928 – 2020) e João Câmara (1944 – ) foram premiados. Em matéria publicada no Jornal do Brasil de 26 de outubro de 1966, Clarival revelou que o transporte das obras brasileiras foi pago por Carmen com dinheiro doado por amigos, que exigiram sigilo. A pedido do jornalista Alberto Dines (1932 – 2018), Carmen atuou também, durante o evento, como correspondente do Jornal do Brasil. Paralelamente à Bienal, foi realizada o II Salão Universitário de Gravura, em Buenos Aires, do qual Carmen fazia parte do júri (O Cruzeiro, 3 de dezembro de 1966).

1967 - Foi a orientadora artística da matéria Em Belo Horizonte, inauguração do XXI Salão Municipal de Belas-Artes, de José Franco com fotografias de Luis Alfredo (O Cruzeiro, 11 de fevereiro de 1967).

Foi convidada pelo então governador da Guanabara, Francisco Negrão de Lima (1901 – 1981), para ser diretora da Escola Superior de Desenho Industrial – Esdi –, cargo que exerceu por 20 anos. A Esdi havia sido criada pelo Decreto 1.443, de 25 de dezembro de 1962, e publicado no Diário Oficial do Estado da Guanabara de 4 de janeiro de 1963, durante a gestão do governador Carlos Lacerda (1914 – 1977). Foi instalada à Rua Evaristo da Veiga 95, estendendo-se o terreno até a Rua do Passeio, onde tem o nº 80. Iniciou suas atividades de ensino em 1963, como instituição isolada, pertencente à estrutura da Secretaria de Educação e Cultura da Guanabara. Dada à fusão dos estados do Rio de Janeiro e Guanabara, foi integrada pelo decreto n°67, de 11 de abril de 1975, à nascente UERJ, antiga UEG (O Jornal, 1º de abril de 1967, quinta coluna; O Jornal, 11 de abril de 1967, primeira coluna; Leitura, agosto de 1967; Jornal do Brasil, 26 de setembro de 1977, primeira coluna).

 

 

Como diretora da Escola Superior de Desenho Industrial, a Esdi, comentou o entusiasmo dos alunos (A Cigarra, maio de 1967).

 

 

Fez parte do júri que escolheu a decoração para o baile de carnaval do Teatro Municipal de 1968 (Correio da Manhã, 30 de dezembro de 1967, sexta coluna).

Por sugestão de Mario Pedrosa (1900 – 1981), passou a fazer parte da Associação Brasileira de Críticos de Arte.

1968 – Publicação da matéria Carmen Portinho e seus sete instrumentos, de Carlos Calcalcanti com fotos de Sérgio Rocha (O Cruzeiro, 10 de fevereiro de 1968).

 

 

Na Esdi, inauguração da exposição O artista brasileiro e a iconografia de massa, organizada pelo Diretório Acadêmico da escola com a colaboração do professor e crítico de arte Frederico Moraes (1936 – ) (O Jornal, 18 de abril de 1968, segunda coluna).

1969 – Matéria publicada sobre a Esdi questionava o motivo da escola não ser reconhecida oficialmente pelo Ministério da Educação. Em outubro de 1969, o Conselho Federal de Educação aprovou o currículo mínimo da escola (Jornal dos Sports, 27 de abril de 1969Jornal dos Sports, 24 de outubro de 1969).

Fazia parte do Conselho de Cultura da Revista GAM – Galeria de Arte Moderna – , lançada em dezembro de 1966 e editada por Claudir Chaves, jornalista e crítico de arte (Jornal do Brasil, 26 de janeiro de 1969Manchete, 21 de junho de 1969).

Viajou à Brasília (Correio Braziliense, 12 de julho de 1969, última colunaCorreio Braziliense, 24 de julho de 1969, primeira coluna).

Publicação de um artigo de sua autoria O carioca Mavignier , sobre o artista plástico Almir Mavignier (1925 – 2018) que participaria da 10ª Bienal de São Paulo (Jornal do Brasil, 27 de setembro de 1969).

1970 – Integrou o júri que votou do Resumo da Arte, promovido pelo Jornal do Brasil . Os críticos votavam nas exposições que consideraram as mais importantes do ano anterior (Jornal do Brasil, 20 de fevereiro de 1970).

Fazia parte do júrio do Prêmio Simonsen da Feira Nacional de Utilidades Domésticas (Correio da Manhã, 1º de abril de 1970, terceira coluna).

Sob sua direção a Esdi foi oficializada pelo Conselho Nacional de Educação (Jornal dos Sports, 20 de maio de 1970, primeira coluna).

Foi homenageada como uma das Dez Mulheres do Ano pelo Conselho Nacional de Mulheres do Brasil (Diário de Notícias, 13 de dezembro de 1970, primeira coluna).

1971 – Ela, Walmir Ayala (1933 – 1991) e  Clarival do Prado Valadares (1918 – 1983) compunham o júri do Salão de Veraõ do JB (Jornal do Brasil, 13 de fevereiro de 1971).

1972 – Jayme Maurício (1926 – 1997) escreveu sobre os 10 anos de existência da Esdi, dirigida desde 1967 por Carmen (Correio da Manhã, 30 de abril de 1972).

Fazia parte da Comissão Organizadora da Copa Independência, mostra de arte promovida pela Comissão Nacional das Comemorações do Sesquicentenário (Jornal do Brasil, 8 de abril de 1972, terceira colunaCorreio da Manhã, 23 de junho de 1972).

Esteve em Moscou (Diário de Notícias, 29 de julho de 1972, última coluna).

1974 – A Comissão de Críticos de Arte da Bienal de São Paulo era composta por ela, Liseta Levy, Rhada Abramo (1934 – 2013), Wolfgang Pfeifer (1912 – 2003) e Walmir Ayala (1933 – 1991) (Jornal do Brasil, 27 de maio de 1974, última coluna).

1976 – Era a vice-presidente da chapa de José Roberto Teixeira Leite (1930-) que concorreu à nova Diretoria da Associação Brasileira de Críticos de Arte. A chapa vencedora era formada por Carlos Flexa Ribeiro (1914 – 1991) e Clarival do Prado Valadares (1918 – 1983), presidente e vice-presidente, respectivamente (Jornal do Brasil, 5 de abril de 1976, segunda colunaJornal do Brasil, 17 de maio de 1976, segunda coluna).

1977 - Foi uma das personagens de uma matéria sobre a Associação Brasileira de Engenheiras e Arquitetas (Manchete, 3 de dezembro de 1977).

1978 – Participou do júri que escolheu o projeto da sede da Radiobras, em Brasília (O Cruzeiro, 21 de janeiro de 1978, segunda coluna).

Quando o Museu de Arte Moderna pegou fogo, em julho, estava em Paris com seu irmão José e sua cunhada Norma (Jornal do Brasil, 9 de julho de 1978).

Integrava o juri que escolheu uma escultura em bronze de autoria de Mario Agostinelli (1915 – 2000) como troféu do prêmio Golfinho de Ouro (Tribuna da Imprensa, 27 de novembro de 1978, primeira coluna).

1979 – Protestou contra a colocação de telha de alumínio no pavilhão de exposições do museu, classificando-a de ser ridícula e de também ser um “desrespeito à obra do arquiteto Affonso Eduardo Reidy” (Jornal do Brasil, 6 de março de 1979, penúltima coluna). O embaixador Hugo Gouthier (1909 – 1992) presidia a Comissão de Reconstrução.

1980 – Foi uma das signatárias do documento Por um MAM para a cidade do Rio de Janeiro (Jornal do Brasil, 10 de junho de 1980, quarta coluna).

1982 - Inaugurou o ciclo de palestras realizado pelo Museu Nacional de Belas Artes, Aspectos da Criatividade Humana – Uma introdução à Historia da Arte, falando sobre Desenho e Indústria (Jornal do Brasil, 2 de julho de 1982, segunda coluna).

1985 – Exposição do fotógrafo Ademar Manarini (1920 – 1989) no espaço de exposição criado na Esdi, sob a curadoria de Carmen (Manchete, 14 de dezembro de 1985, segunda coluna).

1986 – Carmen conseguiu unanimidade na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro na contestação do veto do prefeito Saturnino Braga (1931 – ) ao projeto de preservação da área ocupada pela Esdi, impedindo o despejo da escola (Jornal do Commercio, 6 de julho de 1986, sexta coluna).

1987 Foi convidada pelo Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CDNM) a entregar ao presidente da Câmara dos Deputados, Ulysses Guimarães (1916 – 1992), ao lado de outras mulheres, a Carta das Mulheres aos constituintes, com propostas para a Constituição que estava sendo escrita (Correio Braziliense, 27 de março de 1987, segunda coluna).

1988 - Foi convidada para trabalhar como assessora do Centro de Tecnologia e Ciências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.

Recebeu o Prêmio Gonzaga Duque, da Associação Brasileira de Críticos de Arte, destinado a crítico associado, pela sua atuação ou publicação de livro. O troféu é uma escultura de Haroldo Barroso (1935 – 1989).

Foi eleita presidente da Associação Brasileira de Críticos de Arte, cargo que ocupou até 1990, quando foi substituída por Esther Emilio Carlos (Jornal do Commercio, 3 de outubro de 1988, quinta colunaJornal do Commercio, 3 de outubro de 1990, quarta coluna).

1991 – Passou a fazer parte da Comissão Técnica de Arte da Bienal Internacional de São Paulo (Jornal do Commercio, 22 de fevereiro de 1991, quinta coluna).

1993 – Carmen Portinho, então a mais antiga engenheira do Brasil, coordenava as unidades do Centro de Tecnologia e Ciências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (O Globo, 27 de abril de 1993).

1999 – Lançamento dos livros Carmen Portinho, de autoria de Ana Luiza Nobre; e de Carmen Portinho – por toda a minha vida, um depoimento dela a Geraldo Edson de Andrade (Jornal do Brasil, 24 de novembro de 1999, terceira colunaJornal do Brasil, 18 de dezembro de 1999, última coluna).

Continuava trabalhando como consultora do Centro de Tecnologia e Ciências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro

2001 – Faleceu no dia 25 de julho de 2001, aos 98 anos (Jornal do Brasil, 26 de julho de 2001).

2009 – Lançamento do documentário Reidy, a construção da utopia, dirigido por Ana Maria Magalhães (1950 – ), filha de Maria de Lourdes (c. 1918 – 1962), irmã de Carmen, com o político Sérgio Magalhães (1916 – 1991). O filme trazia depoimentos de Carmen.

2019 – Foi homenagem com a declaração do Ano Institucional Carmen Portinho da UERJ.
*A pesquisa não encontrou informação sobre o êxito ou não da outra aluna, Déa Torres Paranhos, que defendeu a tese Grande composição apresentando projetos de melhoramentos na Cidade do Rio de Janeiro (Gazeta de Notícias, 14 de dezembro de 1938, terceira coluna). No livro Carmen Portinho, por toda a minha vida, Carmen informou que Déa “acabou não frequentando o curso“. 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

ANDRADE, Geraldo Edson; PORTINHO, Carmen. Por toda a minha vida. Rio de Janeiro : UERJ, 1999.

Cavalcanti, Lucas. Conhecendo Tilde Canti. Rio de Janeiro ; UFRJ, 2020

DEL PRIORE, Mary (Org.). História das mulheres no Brasil. Coordenação de textos de Carla Bassanesi. São Paulo: Contexto, 1997

DEL PRIORI, Mary. História e conversas de mulher. São Paulo: Planeta Brasil, 2014

Filme Reidy, a construção da utopia (2009), de Ana Maria Magalhães

Filme Carmen Portinho e a UERJ (2019) / Programa Campus – TV UERJ

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

HEYNEMANN, Claudia; RAINHO, Maria do Carmo. Memória das lutas feministas in Brasiliana Fotográfica, 8 de agosto de 2017.

Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro

NASCIMENTO, Flávia de Brito do. Carmen Portinho e o habitar moderno – Teoria e trajetória de uma urbanista. R. B. Estudos Urbanos e regionais v.9, Nn.1 / maio 2007

NOBRE, Ana Luiza. Carmen Portinho. Rio de Janeiro : Relume Dumará, 1999

PINTO, Celi Regina Jardim. Uma história do feminismo no Brasil. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo (coleção história do povo brasileiro) 2003.

Portal Câmara dos Deputados

Portal MultiRio

Portal Senado Federal

Revista Brasileira de Enfermagem, volume 55, nº 3. Brasília jan/fev de 2002

Revista Casa Claudia, 22 de agosto de 2017

Revista Projeto, junho de 1988

Revista Vitruvius, janeiro de 2007agosto de 2001

SERRANO, Cinthia Lobato. Arquitetura e Gênero: o resgate de pioneiras no cenário profissional. Dissertação do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense, 25 de março de 2013.

SCHUMAHER, Schuma; BRAZIL, Erico Vital (organizadores). Dicionário mulheres do Brasil: de 1500 até a atualidade biográfico e ilustrado. Rio de Janeiro : Jorge Zahar Ed., 2000.

SILVA, Raquel Coutinho M. da. Carmen Portinho: engenheira da prefeitura do Distrito Federal, difusora do urbanismo e uma feminista avant-gardeRevista do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro.

Site ArqFashion

Site Bienal de São Paulo

Site Casas Brasileiras

Site CPDOC

Site Cronologia do Pensamento Urbanístico

Site Democracia e Mundo do Trabalho

Site Esdi

Site Mulher 500 anos atrás dos panos

Site Unifei

 

Acesse aqui os outros artigos da Série “Feministas, graças a Deus!

Série “Feministas, graças a Deus!” I – Elvira Komel, a feminista mineira que passou como um meteoro, publicado em 25 de julho de 2020, de autoria da historiadora Maria Silvia Pereira Lavieri Gomes, do Instituto Moreira Salles, em parceria com Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” II  – Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993), o jequitibá da floresta, publicado em 20 de agosto de 2020, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” III  – Bertha Lutz e a campanha pelo voto feminino: Rio Grande do Norte, 1928, publicado em 29 de setembro de 2020, de autoria de Maria do Carmo Rainha, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” IV  – Uma sufragista na metrópole: Maria Prestia (? – 1988), publicado em 29 de outubro de 2020, de autoria de Claudia Heynemann, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” V – Feminista do Amazonas: Maria de Miranda Leão (1887 – 1976), publicado em 26 de novembro de 2020, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, mestre em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” VI – Júlia Augusta de Medeiros (1896 – 1972) fotografada por Louis Piereck (1880 – 1931), publicado em 9 de dezembro de 2020, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” VII – Almerinda Farias Gama (1899 – 1999), uma das pioneiras do feminismo no Brasil, publicado em 26 de fevereiro de 2021, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” IX – Mariana Coelho (1857 – 1954), a “Beauvoir tupiniquim”, publicado em 15 de junho de 2021, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” X – Maria Luiza Dória Bittencourt (1910 – 2001), a eloquente primeira deputada da Bahia, publicado em 25 de março de 2022, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XI e série “1922 – Hoje, há 100 anos” VI – A fundação da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, publicado em 9 de agosto de 2022, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XII e série “1922 – Hoje, há 100 anos” XI – A 1ª Conferência para o Progresso Feminino, publicado em 19 de dezembro de 2022, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, historiadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” XIII – E as mulheres conquistam o direito do voto no Brasil!, publicado em 24 de fevereiro de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XIV – No Dia Internacional da Mulher, Alzira Soriano, a primeira prefeita do Brasil e da América Latina, publicado em 8 de março de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XV – No Dia dos Povos Índígenas, Leolinda Daltro,”a precursora do feminismo indígena” e a “nossa Pankhurst, publicado em 19 de abril de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XVI – O I Salão Feminino de Arte, em 1931, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica, publicado em 30 de junho de 2023

Série “Feministas, graças a Deus!” XVII – Anna Amélia Carneiro de Mendonça e o Zeppelin, equipe de Documentação da Escola de Ciências Sociais FGV CPDOC, em parceira com Andrea C.T. Wanderley, publicado em 5 de janeiro de 2024

Série “Feministas, graças a Deus” VII – Almerinda Farias Gama (1899 – 1999), uma das pioneiras do feminismo no Brasil

A advogada e sindicalista alagoana Almerinda Farias Gama (1899 – 1999) foi uma das primeiras mulheres negras a atuar na política brasileira numa época em que tanto o machismo como o racismo eram ainda mais presentes na sociedade brasileira do que são hoje. Nasceu em Maceió, em 16 de maio de 1899, passou parte da infância no Pará, onde escreveu para o jornal A Província e formou-se em datilografia. Foi para o Rio de Janeiro, em fevereiro de 1929, quando descobriu que o salário de datilógrafas mulheres eram bem menores do que o dos homens.

 

 

“A inteligência não tem sexo”

 

Assim que chegou à cidade, filiou-se à Federação Brasileira pelo Progresso da Mulher (FBPM), presidido por Bertha Lutz (1894 – 1976), e iniciou sua luta pela emancipação da mulher, especialmente pelo voto feminino, que para ela uma arma que nós tínhamos para poder ingressar no recinto onde se discutia esses assuntos. Tornou-se uma das pioneiras na história do feminismo brasileiro. Leitora assídua, inspirou-se em grandes mulheres do passado para sua luta pelos direitos femininos.

 

 

Foi de Bertha a ideia de criar, em 1931, o Sindicato dos Datilógrafas e Taquígrafas, reconhecido em 1933, associação da qual Almerinda tornou-se a primeira presidente. Em junho de 1931, Almerinda participou do II Congresso Internacional Feminista, no Automóvel Club, no Rio de Janeiro, organizado pela FBPM.

 

“Eu sempre, por instinto, me revoltei contra a desigualdade de direitos entre homem e mulher”

 

Em 20 de julho de 1933, indicada pelo Sindicato das Datilógrafas e Taquígrafas, como delegada sindical, votou na escolha da bancada classista para a Assembléia Nacional Constituinte de 1934, tendo sido a única representante feminina presente. Compareceu com uma máquina de escrever com a qual, durante a votação, confecciou numerosas chapas para os colegas que as solicitavam. Ainda em 1933, um manifesto de autoria de Bertha Lutz (1894 – 1976) e assinado por ela, por Carmen Portinho (1903 – 2001), pela tradutora Lina Hirsh e pela advogada Maria Luisa Dória de Bittencourt (1910 – 2001) foi apresentado à seção de Legislação da Conferência Nacional de Proteção à Infância. Estava à frente do movimento de renovação cívica Ala Moça do Brasil, uma associação de cunho social e político, instalado em 28 de novembro de 1933, na sede da Ordem Mystica do Pensamento. Na época era bacharelanda de Direito.

Em 18 de fevereiro de 1934, foi inaugurado o Ginásio Almerinda Gama, educandário dirigido por Laurentino Garrido, na rua Maria Emília, nº 50, em São João do Meriti. Foi batizado em homenagem à Almerinda, responsável por uma infatigável agitação das causas do ensino. Ainda em 1934, foi uma das feministas que enviou à Assembleia Nacional o pedido de voto para artigos da futura Constituição que contemplavam os direitos da mulher.

Foi uma das dirigentes do Partido Socialista Proletário do Brasil, fundado em agosto de 1934. Foi candidata à deputada pela legenda Decreto ao Direito ao Trabalho (Congresso Master) nas eleições para a Câmara de Deputados e para o Senado, realizadas em outubro de 1934, mas não foi eleita.

No panfleto de Almerinda, lia-se:

Advogada consciente dos direitos das classes trabalhadoras, jornalista combativa e feminista de ação. Lutando pela independência econômica da mulher, pela garantia legal do trabalhador e pelo ensino obrigatório e gratuito de todos os brasileiros em todos os graus“.

 

almerinda3

 

Era também poetisa e participava de saraus no Studio Eros Volusia, boite da rua São José, onde tantas figuras do nosso meio artístico têm recebido os aplausos da elite carioca. Também se apresentou como atriz. Foi professora e tradutora de francês, inglês e espanhol. Publicou, em 1942, o livro de poesias Zumbi, no qual também foi a responsável pelas ilustrações. Em 1943, foi contratada como escrevente do 9º Ofício de Notas, onde trabalhou até 1967. Era a tesoureira da diretoria do Curso Popular Chiquinha Gonzaga, em 1947. Em 1956, trabalhava no jornal O Dia e foi uma das dirigentes dos trabalhos realizados na instalação da Comissão de apoio à Conferência de Mulheres Trabalhadoras, na Associação Brasileira de Imprensa. Em 1992, gravou uma pequena entrevista para a organização feminista ComMulher.

Sua data de morte era até pouco tempo desconhecida e foi revelada pela pesquisa realizada por Patrícia Cibele Tenório para a elaboração de sua dissertação de Mestrado em História, no Programa de Pós-Graduação em História, da Universidade de Brasília, A trajetória de vida de Almerinda Farias Gama (1899-1999) – feminismo, sindicalismo e identidade política (2020): Almerinda faleceu em 31 de março de 1999, em São Paulo.

 

Cronologia de Almerinda Farias Gama (1899 – 1999)

 

 

1899 – Almerinda Farias Gama nasceu em Maceió, em Alagoas, em 16 de maio de 1899, filha de José Antônio Gama, dono de casas proletárias, e de Eulália da Rocha Gama, dona de casa. Tinha um irmão, o jornalista José da Silva Gama (c. 1891 – 1941) e uma irmã, mais velha do que ela, cerca de dois anos.

c. 1907 – Ficou órfã e, aos oito anos, foi morar com uma tia no Pará. Ficou nove anos sem frequentar nenhuma escola, período em que sua tia a ensinou prendas domésticas, como corte e costura, e música.

c. 1920 – Quando pode receber a herança de seu pai, voltou a estudar, mas já no segundo ano do curso de datilografia custeava seus estudos como monitora. Frequentou a Escola Prática de Comércio, em Belém, e tornou-se datilógrafa profissional (Estado do Pará, 11 de junho de 1920, quarta coluna). Escrevia crônicas para o jornal A Província (PA). 

1923 – Casou-se, em março, com um primo, o poeta e escritor Benigno Farias Gama (c. 1897 – 1925), que contribuia para vários periódicos paraenses, autor dos livros Epopeia acreana e Águas e selvas, dentre outros. Com ele teve um filho, que faleceu de doença não identificada, entre esse ano e 1925.

1925 – Benigno morreu, em 1925, de tuberculose (O Paiz, 20 de dezembro de 1925, quinta coluna).

1929 - Quando descobriu que o salário de datilógrafas mulheres era um terço do que o pago aos homens, mudou-se, em fevereiro, para o Rio de Janeiro.

1930 – Iniciou seu ativismo feminista, filiando-se à Federação Brasileira pelo Progresso da Mulher (FBPM), presidido pela bióloga Bertha Lutz (1894 – 1976). Integrou a comissão organizadora de uma homenagem da associação ao governador do Rio Grande do Norte, Juvenal Lamartine de Faria (1874 – 1956) (A Gazeta, 2 de julho de 1930, quarta coluna).

Recitou poesias na inauguração do Centro de Sócias da FBPM (O Paiz, 17 de setembro de 1930, penúltima coluna).

Publicação da Carta aberta ao senhor Humberto de Campos, de sua autoria, onde questionava o voto contrário do escritor e político ao ingresso das mulheres na Academia Brasileira de Letras (O Jornal, 6 de março de 1930, primeira coluna).

Inaugurou a sessão Perspectivas, dentro  da coluna “Para a mulher no lar”, dirigida por Sylvia Serafim (1902 – 19936), em O Jornal. Sylvia havia assassinado o jornalista Roberto Rodrigues (1906 – 1929), na redação do jornal a Crítica, em 26 de dezembro de 1929. O estopim do crime foi a publicação na primeira página do jornal da notícia do pedido de seu desquite do médico João Thibau Júnior, com quem Silvia tinha dois filhos, acompanhado de um desenho. O jornal a acusava de estar tendo um caso com o médico Manuel Dias de Abreu (1894 – 1962), futuro inventor da abreugrafia. Foi absolvida em agosto de 1930 pelo advogado Clóvis Dunshee de Abranches, de quem Almerinda seria secretária. Em sua crônica inaugural, Almerinda escreveu sobre o caso de uma esposa que depois de seis meses de casamento, por não aguentar os maus tratos do marido, havia se incendiado (O Jornal, 4 de maio de 1930, terceira coluna).

Publicação de seu poema, A Nossa História (O Jornal, 22 de junho de 1930).

 

 

Em suas crônicas na seção Perspectivas, de O Jornal, comentou um caso de incesto seguido de infanticício, do suicídio de uma mulher, a não candidatura de Maria de Lourdes Lamartine à Câmara, dentre outros assuntos (O Jornal, 13 de julho de 1930, terceira coluna; O Jornal, 20 de julho de 1930, terceira coluna; O Jornal, 3 de agosto de 1930, terceira  coluna; O Jornal, 12 de outubro de 1930, terceira coluna; O Jornal, 19 de outubro de 1930, terceira coluna; O Jornal, 2 de novembro de 1930, terceira coluna; O Jornal, 26 de abril de 1931, terceira coluna).

Publicação de um pequeno perfil de Almerinda (O Jornal, 21 de dezembro de 1930).

Publicação de uma pequena crônica de sua autoria, Films do écran e da plateia (A Esquerda, 6 de dezembro de 1930, segunda coluna). No mesmo jornal, publicou o artigo Cultura Feminina, no qual critica a falta de estímulo, no Brasil, para a publicação de livros escritos por mulheres; e também a posição da Academia Brasileira de Letras que, alegando tradição, não aceitava mulheres (A Esquerda, 13 de dezembro de 1930, penúltima coluna).

Acompanhou a escritora Sylvia Serafim (1902 – 1936) em uma viagem à Belo Horizonte (A Esquerda, 18 de dezembro de 1930, quarta coluna).

Foi publicado na edição de dezembro da Revista A.E.C, da Associação dos Empregados do Comércio, um artigo de sua autoria, A doutrina de Malthus (Correio da Manhã, 27 de dezembro de 1930, segunda coluna).

1931 – Por ideia de Bertha Lutz (1894 – 1976), criação do Sindicato dos Datilógrafas e Taquígrafas, do qual Almerinda foi a primeira presidente.

 

Trabalhava como auxiliar no 9º Cartório, na rua do Rosário (Almanak Laemmert, 1931).

Publicou o artigo Cartas sem endereço (O Jornal, 11 de janeiro de 1931, terceira coluna).

Ela e Sylvia Serafim (1902 – 1936) foram entrevistadas pelo jornal A Batalha. Em pauta, a concessão de direitos políticos da mulher (A Batalha, 13 de março de 1931, primeira coluna).

Suas observações acerca da moda foram citadas no artigo No império da moda (O Jornal, 29 de março de 1931, primeira coluna).

Publicação de seu poema Da tristeza que mora nos meus olhos (O Jornal, 12 de abril  de 1931A Batalha, 19 de abril de 1931).

 

 

Foi uma das filiadas da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino que encantaram com belos números de arte as participantes da celebração do Dia do Trabalho, organizado pela associação (A Noite, 4 de maio de 1931, primeira coluna).

Publicação de seus poemas Moderna afronta e Felicidade (O Jornal, 17 de maio de 1931, penúltima coluna; O Jornal, 31 de maio de 1931, prenúltima coluna).

Em junho, participou do II Congresso Internacional Feminista, no Automóvel Club, no Rio de Janeiro, organizado pela FBPM (O Jornal, 19 de junho de 1931, primeira coluna; Correio da Manhã, 24 de junho de 1931, primeira colunaO Malho, 27 de junho de 1931O Malho, 11 de julho de 1931Vida Doméstica, agosto de 1931). Com um grupo de senhoras que participavam do encontro, foi visitar a Usina de Ribeirão das Lajes, a convite da Rio de Janeiro Light & Power. Depois, visitaram a Maternidade Suburbana, em Cascadura (Jornal do Commercio, 30 de junho de 1931, última coluna).

Publicação do conto Tatuagem, de sua autoria (O Jornal, 6 de setembro, segunda colunaRevista da Semana, 12 de setembro de 1931).

Cartões ilustrados com versos da poetisa  Almerinda Gama e de outros nomes em evidência nos meios literários foram distribuídos como propaganda da Suipa, Sociedade União Infantil Protetora dos Animais. Na reunião organizadora dessa associação, realizada na Federação Brasileira pelo Progresso da Mulher, Almerinda foi eleita secretária da diretoria provisória (A Esquerda, 7 de setembro de 1931, quinta coluna).

Trabalhava como secretária no escritório do advogado Clóvis Dunshee de Abranches (Jornal do Brasil, 16 de setembro de 1931, quarta coluna).

Foi a responsável pela leitura na Rádio Sociedade nos cinco minutos feministas de um texto de autoria de Maria Eugênia Celso Carneiro de Mendonça (1886-1963), vice-presidente da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (Diário de Notícias, 23 de setembro de 1931, terceira coluna).

1932 O Decreto nº 21.076, de 24 de fevereiro de 1932, instituiu o Código Eleitoral Provisório e reconheceu o direito de voto às mulheres.

Por iniciativa do Congresso Feminino de 1931 foi criada uma data para a comemoração do Dia das Mães. O Decreto nº 21.366, de 5 de maio de 1932, assinado pelo presidente Getulio Vargas (1884 – 1954), consagrou o segundo domingo de maio para a celebração anual da data no Brasil. No primeiro ano de sua comemoração, Almerinda escreveu um artigo sobre a importância da efeméride (Diário de Notícias, 24 de abril de 1932, penúltima coluna).

Publicação do poema de sua autoria Meu amor é a incarnação do vento (Diário de Notícias, 21 de agosto de 1932).

 

 

Ela, Alice Coimbra e Sylvia Patrício formavam a comissão nomeada pela Federação Brasileira pelo Progresso da Mulher para atender à solicitação do Centro Cândido de Oliveira no sentido de combater o sensacionalismo na repressão ao crime (Correio da Manhã, 23 de setembro de 1932, última coluna).

Almerinda esteve na redação do jornal A Batalha para falar sobre a conquista do voto da mulher e sobre o alistamento eleitoral feminino (A Batalha, 24 de setembro de 1932, penúltima coluna).

Publicação do artigo Divórcio: um bem ou um mal?, de sua autoria (Diário de Notícias, 30 de novembro de 1932, penúltima coluna).

Foi publicado o artigo Lendas Amazonenses – A Gênese das Frutas, de sua autoria (Diário de Notícias, 4 de dezembro de 1932, penúltima coluna).

Publicação de seu artigo Feminismo e Serviço Militar (Diário de Notícias, 9 de dezembro de 1932, penúltima coluna).

Escreveu um artigo sobre Eros Volúsia (1914 – 2004), filha dos poetas Rodolfo de Melo Machado (1884 – 1923) e Gilka Machado (1893 – 1980), uma dançarina arrojada, que se notabilizou por suas coreografias inspiradas na cultura brasileira (Diário de Notícias, 11 de dezembro de 1932, primeira coluna).

 

 

1933 - Publicação de seu poema Meu Carnaval (Diário de Notícias, 5 de março de 1933, penúltima coluna).

Publicação do poema Ele falou, de sua autoria (Diário de Notícias, 19 de março de 1933, penúltima coluna).

Participou, como secretária, da Convenção Nacional de Eleitoras, realizado na sede da Federação Brasileira pelo Progresso da Mulher, quando foi lançada pela educadora Alba Canizares (1893 – 1944) a candidatura de Bertha Lutz (1894 – 1976) à Constituinte.

 

 

Diversas feministas estavam presente no evento, dentre elas a engenheira e urbanista Carmen Portinho (1903 – 2001), Orminda Ribeiro Bastos (1899-1971), Maria Luisa Dória Bittencourt (1910 – 2001), Maria Sabina de Albuquerque (1898 – 1991), filha do cientista João Pedro de Albuquerque (1874 – 1934) ; e Maria Eugênia Celso Carneiro de Mendonça (1886-1963) (Diário de Notícias, 4 de abril de 1933, primeira colunaO Dia (PR), 4 de abril de 1933, primeira coluna; Jornal do Commercio, 5 de abril de 1933, segunda coluna; Diário de Notícias, 5 de abril de 1933).

 

 

Publicação de uma poesia de Almerinda em homenagem à poetisa Gilka Machado (1893 – 1980) (O Malho, 15 de abril de 1933).

 

 

 

Participou como atriz da peça inédita Rumo à Turquia, de Jorge Murad (1910 – 1998), apresentada no Studio Eros Volusia, boite da rua São José, onde tantas figuras do nosso meio artístico têm recebido os aplausos da elite carioca (A Noite, 20 de abril de 1933, terceira coluna).

 

 

Participou de mais uma tarde de arte do Studio Eros Volúsia e seu melhor número foi a apresentação da lenda amazonense do boto (Diário de Notícias, 30 de abril de 1933, primeira coluna). Meses depois, Almerinda voltou a se apresentar no Studio Eros Volusia, recitando as poesias de sua autoria O inverno chegou e O que eu pediria ao amor (Correio de Manhã, 12 de julho de 1933, primeira coluna).

Publicação de seu poema, Viandante que passas…, ilustrado por Odelli Castello Branco(Diário de Notícias, 21 de maio de 1933).

Reconhecimento pelo Ministério do Trabalho do Sindicato de Datilógrafas e Taquígrafas, do qual Almerinda era presidente (O Radical, 3 de junho de 1933, primeira coluna).

Em 20 de julho de 1933, indicada pelo Sindicato das Datilógrafas e Taquígrafas, como delegada sindical, votou na escolha da bancada classista para a Assembléia Nacional Constituinte de 1934, tendo sido a única representante feminina presente. Compareceu com uma máquina de escrever com a qual, durante a votação, confecciou numerosas chapas para os colegas que as solicitavam (A Nação, 21 de julho de 1933, segunda coluna; O Radical, 21 de julho de 1933, última coluna; Jornal do Commercio, 21 de julho de 1933, primeira coluna; A Batalha, 21 de julho de 1933, primeira coluna).

 

 

Publicação da poesia Fogueira, de sua autoria (O Malho (RJ), 3 de agosto de 1933).

 

 

Pronunciou-se, em reunião presidida por ela na Federação Brasileira pelo Progresso da Mulher, sobre a situação das garçonetes, devido à execução do decreto 24.417, de 17 de maio de 1932, proibindo o trabalho de mulheres em estabelecimentos públicos após as 22h (A Noite, 19 de agosto de 1933, penúltima coluna).

 

 

Um manifesto de autoria de Bertha Lutz (1894 – 1976) e assinado por ela, por Carmen Portinho (1903 – 2001), pela tradutora Lina Hirsh e pela advogada Maria Luisa Dória de Bittencourt (1910 – 2001), que em 1935 tornou-se a primeira deputada estadual da Bahia; foi apresentado à seção de Legislação da Conferência Nacional de Proteção à Infância (Jornal do Brasil, 23 de setembro de 1933, penúltima colunaCorreio da Manhã, 23 de setembro de 1933, quinta coluna).

Publicação de seu poema Cântico de Yara, ilustrado por Odelli (Correio de Manhã, 24 de setembro de 1933, primeira coluna).

Foi uma das oradoras na celebração do primeiro ano de fundação do partido político Centro Cívico 4 de Novembro, no Sindicato dos Proprietários de Padarias. O partido havia sido fundado em 11 de novembro de 1932 (O Radical, 7 de novembro de 1933, penúltima coluna).

Estava à frente do movimento de renovação cívica Ala Moça do Brasil, uma associação de cunho social e político, instalado em 28 de novembro de 1933, na sede da Ordem Mystica do Pensamento, na avenida Suburbana, nº 2.618. Na época era bacharelanda de Direito (Diário da Noite, 24 de novembro de 1933, segunda coluna; Jornal do Brasil, 24 de novembro de 1933, quinta coluna; A Batalha, 30 de novembro de 1933, segunda coluna).

 

 

Era a encarregada, no Brasil, de prestar informações sobre o concurso que a Nero History Society promovia para estudantes matriculados em universidades, escolas secundárias e de ensino superior da América do Sul, América Central, México, Antilhas e ilhas adjacentes ao continente sul-americano (Jornal do Brasil, 29 de dezembro de 1933, última coluna).

1934 – Como presidente da Ala Moças do Brasil participou de uma reunião da sede do jornal O Proletário, em São João do Meritipara a discussão de providências em relação à educação e à saúde da classe de trabalhadores  do referido bairro. Almerinda providenciaria junto ao interventor do Estado do Rio, o comandante Ari Parreiras (1890 – 1945), a abertura de dois postos de socorro para o atendimento de trabalhadores em São João do Meriti, José Bulhões e Xerém. Também pediria que o Ginásio Almerinda Gama fosse aberto no dia 21 de janeiro. Lá funcionaria um educandário para crianças pobres de ambos os sexos, dirigido por Laurentino Garrido. Antônio Hermont havia cedido um barracão na rua Maria Emília, nº 50, em São João do Meriti, para sediá-lo (O Paiz, 3 de janeiro de 1934, última coluna). A inauguração do ginásio aconteceu em 18 de fevereiro, foi batizado em homenagem à Almerinda, responsável por uma infatigável agitação das causas do ensino (A Batalha, 17 de fevereiro de 1934, segunda coluna; Jornal do Brasil, 17 de fevvereiro de 1934, terceira coluna; Correio da Manhã, 17 de fevereiro de 1934, segunda coluna).

Participou da recepção oferecida pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino à jornalista norte-americana Marjorie Schuler (O Paiz, 17 de janeiro de 1934, terceira coluna).

Foi uma das feministas que enviou à Assembleia Nacional o pedido de voto para artigos da futura Constituição que contemplavam os direitos da mulher (Jornal do Brasil, 23 de março de 1934, penúltima coluna).

Publicação do artigo Casamentos para todos os gostos, de sua autoria (A Batalha, 10 de junho de 1934, primeira coluna).

Participou da homenagem prestada pela Federação Brasileira pelo Progresso da Mulher ao poeta paraibano Antônio Joaquim Pereira da Silva (1876 – 1944) admitido na Academia Brasileira de Letras (Jornal do Commercio, 23 de junho de 1934, terceira coluna).

Falando em nome do Sindicato das Datilógrafas e Taquígrafas e de outros sindicatos de trabalhadores do Rio de Janeiro, Almerinda fez um discurso, muito aplaudido, durante a inauguração da sede do Sindicato dos Vendedores Lotéricos, no Beco das Cancelas, nº 8. O interventor do Distrito Federal, Pedro Ernesto (1884 – 1942), estava presente na solenidade (O Paiz, 5 de julho de 1934, quinta coluna).

Dentre outras, ela, Bertha Lutz (1894 – 1976) e Carmen Portinho (1903 – 2001) foram referidas como pioneiras do feminismo no Brasil (Walkyrias, agosto de 1934).

Foi uma das dirigentes do Partido Socialista Proletário do Brasil, fundado em agosto de 1934 até 1937, quando foi instaurado o Estado Novo (Diário da Noite, 4 de agosto de 1934, segunda coluna).

 

 

Já formada em Direito, foi candidata à deputada pela legenda Decreto ao Direito ao Trabalho (Congresso Master) nas eleições para a Câmara de Deputados e para o Senado, realizadas em outubro de 1934. Por esse motivo foi afastada do Partido Socialista Proletariado do Brasil (Diário de Notícias, 22 de setembro de 1934, terceira coluna).

A outra mulher que também concorreu pelo partido foi Guilly (Jornal do Brasil, 27 de setembro de 1934, quinta coluna; Jornal do Brasil, 5 de outubro de 1934, terceira coluna; Jornal do Brasil, 9 de outubro de 1934, quarta coluna). Não foram eleitas.

No panfleto de Almerinda, lia-se:

 

Advogada consciente dos direitos das classes trabalhadoras, jornalista combativa e feminista de ação. Lutando pela independência econômica da mulher, pela garantia legal do trabalhador e pelo ensino obrigatório e gratuito de todos os brasileiros em todos os graus“.

 

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1935Passou a viver com um engenheiro com quem teve um filho, mas ambos faleceram antes dela.

1936 – Publicação de seus poemas Passeio de Automóvel e Aspiração (A Gazeta (SC), 25 de setembro de 1936; A Gazeta (SC), 26 de setembro de 1936).

 

 

 

1937 – Identificada como conhecedora de altos ensinos esotéricos, Almerinda proferiu a palestra Viver para si, na Tattwa Fraternidade Exotérica (A Nação, 21 de fevereiro de 1937, quinta coluna).

Participou e foi uma das oradoras de uma festa em homenagem a Catulo da Paixão Cearense (1863 – 1946), na casa do compositor, em Engenho de Dentro (Gazeta de Notícias, 25 de agosto de 1937, segunda coluna).

Foi identificada como uma das nossas poetisas humoristas mais interessantes. Um de seus textos, Corrida da bicicleta, foi lido pelo poeta Renato Lacerda, no programa radiofônico Hora do Guri, na Rádio Tupi (Gazeta de Notícias, 29 de agosto de 1937, primeira coluna)

1938 – Escreveu as crônicas  Raça, Eu e o meu Brasil e Mamãe (A Notícia (SC), 1º de maio de 1938, penúltima coluna; A Notícia, 3 de maio de 1938, terceira coluna; A Notícia (SC), 22 de junho de 1938, penúltima coluna).

1939 – Era professora em um estabelecimento de ensino particular (Jornal do Brasil, 8 de agosto de 1939, terceira coluna).

1941 – Foi publicado um anúncio em que Almerinda oferecia seus serviços de datilógrafa, de redatora e de tradutora de francês, inglês e espanhol (Jornal do Brasil, 23 de junho de 1940, sétima coluna; Jornal do Brasil, 5 de janeiro de 1941, sexta coluna).

Ela e S. Moura ofereciam cursos de datilografia e caligrafia individual ou coletivo, na Escola Prática de Comércio Avalfred, de dia e à noite (Jornal do Brasil, 12 de janeiro de 1941, sexta coluna).

Almerinda anunciou realizar cópias a máquina em qualquer língua (Jornal do Brasil, 13 de abril de 1941, sétima coluna). No ano seguinte, voltou a anunciar seus serviços (Jornal do Brasil, 7 de junho de 1942, quarta coluna).

Enviou um telegrama felicitando o presidente da República, Getulio Vargas (1884 – 1954), pela promulgação da lei de proteção à família (Jornal do Commercio, 7 de maio de 1941, primeira coluna).

Falecimento de seu irmão, José da Silva Gama (c. 1891 – 1941) (Diário da Noite, 11 de setembro de 1941, última coluna).

1942 – Publicação do artigo de sua autoria, Não quero ser doutor (Jornal das Moças, 6 de agosto de 1942).

Publicou, em 1942, o livro de poesias Zumbi. Foi também a responsável pelas ilustrações (Careta, 30 de janeiro de 1943).

 

 

Ofertou 15 exemplares do livro Zumbi para o leilão promovido pelo Diário da Noite para a compra do  Arará, um avião Catalina PBY-5 da Força Aérea Brasileiraque se tornaria o primeiro avião brasileiro a afundar um submarino do Eixo, o U-199, ao largo da costa do Rio de Janeirom, em 31 de julho de 1943. Foi batizado Arará em homenagem ao navio de carga brasileiro homônimo que havia sido torpedeado no litoral da Bahia, em 17 de agosto de 1943, pelo submarino alemão U-507 (Diário da Noite, 25 de setembro de 1942, sexta coluna).

 

 

1943 - Zumbi foi inscrito para concorrer ao Prêmio Olavo Bilac da Academia Brasileira de Letras (Jornal do Commercio, 24 de junho de 1943, última coluna).

Foi membro da Associação dos Escreventes da Justiça do Distrito Federal, tendo sido nomeada escrevente juramentada do Tabelião do 9º Ofício de Notas. Desde o ano anterior ocupava o cargo, interinamente (Diário de Pernambuco, 16 de julho de 1943, segunda colunaGazeta de Notícias, 2 de fevereiro de 1944, segunda coluna).

 

 

1944 – Seu poema, Como é triste a prisão, fez parte da programação do festival da bailarina de oito anos, Sally Loretti (c. 1934 -?), no Teatro Carlos Gomes (Jornal do Brasil, 14 de maio de 1944, quinta coluna). No mesmo ano, a canção Quem chora comigo, música de Hilda Matos e letra de Almerinda, foi apresentada na edição do festival de Sally Loretti em benefício do músico Assis Valente (1911 – 1958), que estava doente (A Noite, 19 de novembro de 1944, primeira coluna).

1946- Publicação do poema Figurinha de Quadro Americana, de sua autoria (O Jornal, 12 de maio de 1946).

 

 

1947 - Participou da festa de arte no Esporte Clube Minerva, promovida pela escritora Hecilda Clark (1909 – ?) e Leocádia Silva, presidentes das Uniões Femininas Lapa-Esplanada do Senado e Catumbi-Rio Comprido, respectivamente (Tribuna Popular, 10 de junho de 1947, penúltima coluna).

Era a tesoureira da diretoria do Curso Popular Chiquinha Gonzaga, na rua do Riachuelo, sob a responsabilidade jurídica de Hecilda Clark (1909 – ?). Participou de um show em benefício da criação de um ambulatório popular promovido pela entidade e também de uma festa de artistas na sede da Associação Cristã dos Moços, na rua Araújo Porto Alegre, nº 36 (Diário de Notícias, 7 de junho de 1947, terceira coluna; Diário de Notícias, 12 de junho de 1947, quinta colunaDiário Carioca, 12 de novembro de 1947, sexta coluna; Jornal do Commercio, 26 de novembro de 1947, primeira coluna).

1949 – A entrevista que deu ao Diário de Notícias sobre a oficialização da Justiça foi manchete de primeira página: Justiça para o povo é gênero de primeira necessidade (Diário de Notícias, 22 de maio de 1949).

 

 

1955 - Foi uma das jornalistas que assinou um telegrama enviado ao presidente da República reclamando a inscrição na Ordem do Mérito Aeronáutico do nome de Victorino de Oliveira (1882 – 1964), idealizador e fundador, em 14 de outubro de 1911, do Aeroclube do Brasil. Ele havia sido redator do jornal A Noite (Correio da Manhã, 19 de outubro de 1955, quarta colunaDiário Carioca, 20 de janeiro de 1962, primeira coluna).

1956 - Foi uma das dirigentes dos trabalhos realizados na instalação da Comissão de apoio à Conferência de Mulheres Trabalhadoras, na Associação Brasileira de Imprensa. Trabalhava no jornal O Dia (Imprensa Popular, 28 de janeiro de 1956, penúltima coluna).

1958 – Foi acusada de ter cometido irregularidades como escrevente em uma escritura de compra e venda de imóvel, em Caxias, do qual seria a beneficiada. Teria falsificado a assinatura de Hans Bertold Stochaussen, falecido em 8 de julho de 1947. A Comissão de Investigações levou o inquérito para a Corregedoria. Almerinda sempre afirmou que a transação havia sido legal, o que disse que provaria em juízo (Jornal do Brasil, 15 de outubro de 1958, terceira coluna; A Noite, 7 de março de 1961, quinta colunaCorreio da Manhã, 9 de outubro de 1964, quinta coluna).

1961 – Publicação do artigo Sapato – Artigo de Luxo, de sua autoria, sobre a incidência de verminoses nos trabalhadores (O Dia (PR), 19 de abril de 1961).

1964 – Publicação de O dedo de Luciano, de autoria de Almerinda. A iniciativa foi da Companhia Antárctica Paulista que o distribuiria gratuitamente em todo o país como contribuição à divulgação dos ensinamentos de higiene, em benefício da saúde pública (Jornal do Brasil, 18 de novembro de 1964, última coluna).

1967 - Almerinda foi demitida do cargo de escrevente juramentada do 9º Ofício de Notas (Correio da Manhã, 16 de março de 1967, segunda coluna).

1984 - Em 8 de junho de 1984, foi entrevistada por Angela Maria de Castro Gomes e Eduardo Navarro Stotz no contexto do projeto “Velhos Militantes”, em vigência entre os anos de 1983 e 1986, sendo parte integrante do livro homônimo publicado pela Zahar Editores em 1988. A escolha da entrevistada se justificou por sua atuação como militante de movimento feminista nos anos de 1930 e de movimento sindical pró-Getulio Vargas (FGV – CPDOC).

1989 - Publicação de uma foto de Almerinda votando no segundo turno da eleição presidencial (Jornal do Brasil, 18 de dezembro de 1989).

 

 

1991 – Foi entrevistada por Joel Zito de Araújo (1954 – ) que produziu e dirigiu com Ângela Freitas o média-metragem Almerinda, uma Mulher de Trinta (1991), premiado no Festival Guarnicê de Cinema, realizado no Maranhão.

1992 - Gravou uma pequena entrevista para o documentário Memória de Mulheres, dirigido por Maria Angélica Lemos (1958 – ), para a organização feminista ComMulher. Na época, morava em uma casa em um subúrbio carioca. É a última notícia que se tem de Almerinda.

 

 

1999 - Sua data de morte era até pouco tempo desconhecida e foi revelada pela pesquisa realizada por Patrícia Cibele Tenório para a elaboração de sua dissertação de Mestrado em História, no Programa de Pós-Graduação em História, da Universidade de Brasília, A trajetória de vida de Almerinda Farias Gama (1899-1999) – feminismo, sindicalismo e identidade política (2020): Almerinda faleceu em 31 de março de 1999, em São Paulo.

2016 – Foi instituído pela prefeitura de São Paulo o Prêmio Almerinda Farias Gama, de incentivo a iniciativas em comunicação social ligadas à defesa da população negra.

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Veja aqui o documentário Almerinda, a luta continua, dirigido por Cibele Tenório e produzido pela FGV CPDOC Núcleo de Audiovisual e Documentário

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Fontes:

 

Almerinda, uma mulher de 30 Produção: Tapiri Vídeos, SOS CORPO/ TV VIVA – A Sua Imagem/CCLF Direção: Angela Freitas e Joel Zito Araújo, 1991.

Blog Mulheres Notáveis

Almerinda, a luta continua. Filme realizado na 2ª Oficina de Produção Audiovisual do Núcleo de Audiovisual e Documentário FGV/CPDOC. Direção: Cibele Tenório

DEL PRIORE, Mary (Org.). História das mulheres no Brasil. Coordenação de textos de Carla Bassanesi. São Paulo: Contexto, 1997

DEL PRIORI, Mary. História e conversas de mulher. São Paulo: Planeta Brasil, 2014

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

HEYNEMANN, Claudia; RAINHO, Maria do Carmo. Memória das lutas feministas in Brasiliana Fotográfica, 8 de agosto de 2017.

Marques, Teresa Cristina de Novaes. “Enfim, eleitoras”. O voto feminino no Brasil 2ª ed. Brasília: Edições Câmara, 2018.

PINTO, Celi Regina Jardim. Uma história do feminismo no Brasil. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo (coleção história do povo brasileiro) 2003.

SCHUMAHER, Schuma; BRAZIL, Erico Vital (organizadores). Dicionário mulheres do Brasil: de 1500 até a atualidade biográfico e ilustrado. Rio de Janeiro : Jorge Zahar Ed., 2000.

Site CPDOC

Site Democracia e Mundo do Trabalho

Site Festival Guarnicê de Cinema

Site Mulher 500 anos atrás dos panos

Site Poder Naval

TENÓRIO, Patrícia Cibele da Silva. A vida na ponta dos dedos: A trajetória de vida de Almerinda Farias Gama (1899-1999) – feminismo, sindicalismo e identidade política. Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós-Graduação em História, Universidade de Brasília. Brasília, 2020.

 

Acesse aqui os outros artigos da Série “Feministas, graças a Deus!

Série “Feministas, graças a Deus!” I – Elvira Komel, a feminista mineira que passou como um meteoro, publicado em 25 de julho de 2020, de autoria da historiadora Maria Silvia Pereira Lavieri Gomes, do Instituto Moreira Salles, em parceria com Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” II  – Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993), o jequitibá da floresta, publicado em 20 de agosto de 2020, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” III  – Bertha Lutz e a campanha pelo voto feminino: Rio Grande do Norte, 1928, publicado em 29 de setembro de 2020, de autoria de Maria do Carmo Rainha, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” IV  – Uma sufragista na metrópole: Maria Prestia (? – 1988), publicado em 29 de outubro de 2020, de autoria de Claudia Heynemann, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” V – Feminista do Amazonas: Maria de Miranda Leão (1887 – 1976), publicado em 26 de novembro de 2020, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, mestre em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” VI – Júlia Augusta de Medeiros (1896 – 1972) fotografada por Louis Piereck (1880 – 1931), publicado em 9 de dezembro de 2020, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” VIII – A engenheira e urbanista Carmen Portinho (1903 – 2001), publicado em 6 de abril de 2021, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” IX – Mariana Coelho (1857 – 1954), a “Beauvoir tupiniquim”, publicado em 15 de junho de 2021, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” X – Maria Luiza Dória Bittencourt (1910 – 2001), a eloquente primeira deputada da Bahia, publicado em 25 de março de 2022, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XI e série “1922 – Hoje, há 100 anos” VI – A fundação da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, publicado em 9 de agosto de 2022, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XII e série “1922 – Hoje, há 100 anos” XI – A 1ª Conferência para o Progresso Feminino, publicado em 19 de dezembro de 2022, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, historiadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” XIII – E as mulheres conquistam o direito do voto no Brasil!, publicado em 24 de fevereiro de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XIV – No Dia Internacional da Mulher, Alzira Soriano, a primeira prefeita do Brasil e da América Latina, publicado em 8 de março de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XV – No Dia dos Povos Índígenas, Leolinda Daltro,”a precursora do feminismo indígena” e a “nossa Pankhurst, publicado em 19 de abril de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XVI – O I Salão Feminino de Arte, em 1931, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica, publicado em 30 de junho de 2023

Série “Feministas, graças a Deus!” XVII – Anna Amélia Carneiro de Mendonça e o Zeppelin, equipe de Documentação da Escola de Ciências Sociais FGV CPDOC, em parceira com Andrea C.T. Wanderley, publicado em 5 de janeiro de 2024

Série “Feministas, graças a Deus!” VI – Júlia Augusta de Medeiros (1896 – 1972) fotografada por Louis Piereck (1880 – 1931)

Série “Feministas, graças a Deus!” VI – Júlia Augusta de Medeiros (1896 – 1972) fotografada por Louis Piereck (1880 – 1931)

 

A Brasiliana Fotográfica publica o sexto artigo da Série “Feministas, graças a Deus”, desta vez sobre Júlia Augusta de Medeiros (1896 – 1972), uma das pioneiras no jornalismo, na educação e no feminismo no Rio Grande do Norte, destacando um retrato produzido pelo fotógrafo Louis Piereck (1880 – 1931), que será o tema do próximo artigo do portal.

Na imagem de Júlia Augusta de Medeiros, um expoente da cultura no Seridó, há uma dedicatória à líder feminista e bióloga Bertha Lutz (1894 – 1976): Dona Bertha, uma forma de minha admiração – Julia Medeiros, Caicó, 2 de maio de 1929. Bertha já foi o assunto do terceiro artigo da série “Feministas, graças a Deus“, de autoria da historiadora Maria do Carmo Rainho, do Arquivo Nacional, publicado na Brasiliana Fotográfica, em 29 de setembro de 2020. Bertha Lutz fez uma visita ao Caicó, cidade natal de Júlia, em 1928. Tornaram-se amigas e iniciaram uma frequente troca de cartas. Além disto, Júlia acompanhava as atividades de Bertha pelos jornais. Em dezembro de 1929, Júlia, visitou, no Rio de Janeiro, a sede da Federação Brasileira para o Progresso Feminino, presidido por Bertha.

 

 

Ao lado de mulheres como Dolores Cavalcante (1885 – 1968), Maria Carolina Wanderley Caldas (1876 – 1954), a Sinhazinha Wanderley; e a poeta e jornalista Palmyra Wanderley (1894 – 1978), desempenhou um papel fundamental para a conquista do direito à educação das mulheres do Rio Grande do Norte. Também lutou pelo voto feminino. Era uma idealista e sua atuação contribuiu para a construção da educação e do direito da cidadania da mulher.

Não era, apesar de suas posições a favor de mudanças e conquistas para as mulheres, uma ativista feminista exaltada. Para Júlia, a vitória do feminismo viria com a preparação da mulher a partir da educação, cultivando seu caráter forte e tornando-a amante da família e do lar. Essa noção denota seu comprometimento com os paradigmas do patriarcado nordestino e também com os princípios de sua formação católica. Lutava pela emancipação feminina, por uma maior participação da mulher no mundo moderno, sempre a partir do incremento de sua formação intelectual. Porém, de acordo com suas ideias, isto não poderia prejudicar o papel da mulher na família.

Não pretendia igualar-se aos homens: “a missão da mulher poderá se estender além do lar, cujo programa será sempre a dedicação, não procurando vencer senão pela virtudea nossa força e o nosso prestígio representam a modéstia e a delicadeza inerentes ao próprio sexo”. Neste mesmo texto, intitulado A missão da mulher e publicado na edição de setembro/outubro de 1925 da Revista Pedagogium levantou seu “brado de revolta contra os antigos preconceitos que nos escravizavam ao mais baixo nível da civilização”.

Anos depois, no Jornal das Moças, de 19 de abril de 1928, publicou:

“O feminismo educado e moralizado será a dinâmica das gerações novas. Hoje, vemos na pátria de Washington as mulheres exercendo funções públicas, jumas legislam na Câmara, outras são advogadas e uma chegou a governar um dos Estados daqueles singulares Estados Unidos. Vendo e percrustando a marcha do feminismo, não podemos deixar de encorajar as sertanejas, que aliam suas virtudes cívicas ao seu devotamento extremo e nobreza de sentimentos. Que a vitória seja o prêmio dos vossos esforços”.

Júlia Augusta de Medeiros nasceu, na Fazenda Umari, em Caicó, em 28 de agosto de 1896, filha de Antônio Cesino (18? – 1926) e Ana Célia Amélia Medeiros. Segundo Guerra Filho, foi “quem sabe a mulher do século de Caicó“. Ana Célia Amélia era a segunda esposa de Antônio Cesino. Júlia, segunda de uma prole de seis irmãs e um irmão, foi batizada, por seu tio, Ambrósio Florentino de Medeiros, e sua avó paterna, Ana Vieira Mimosa, em 10 de outubro do ano de seu nascimento.

Sua família pertencia à elite rural, tinha origem na ilha de São Miguel, nos Açores, Portugal, e teria vindo para o sertão nordestino no século XVIII. Seu pai, conhecido como “Tonho do Umari”, era um proeminente produtor de algodão, proprietário de terras, com destaque para a Fazenda Umari, uma das maiores do Seridó. A cotonicultura era uma atividade econômica importante no Rio Grande do Norte. Era também dono dos sítios Curral Queimados e Currulim, em Caicó, e do sítio Carrapateira, em São José do Sabugi. Herdou suas terras de seu pai, Francisco Antônio de Medeitos, o “Chico do Umari”. Foi eleito intendente de Caicó, cargo que exerceu entre 1914 e 1916 (Relatórios dos Presidentes dos Estados Brasileiros – RN – 1890-1930).

Júlia foi alfabetizada em casa por Misael de Barros, um professor particular, denominado mestre-escola, um privilégio da elite rural. Diferentemente da maioria dos homens de sua época, o pai de Júlia não fazia distinção de sexo no tocante à educação. Todas as suas filhas tiveram acesso à educação em uma época em que, na maioria das famílias, só os filhos homens recebiam instrução. A primeira instituição de ensino para mulheres em Caicó foi inaugurada em 15 de janeiro de 1926 e chamava-se Colégio Santa Terezinha, da Congregação Filhas do Amor Divino. Lá as moças da elite aprendiam prendas domésticas, francês, canto, dança e piano.

Para tornar-se professora, ainda adolescente e já órfã de mãe, Júlia foi estudar no Colégio Nossa Senhora da Conceição, em Natal, onde morou com o professor de português Joca Vicente, amigo de sua família. Em 1921, aos 25 anos, foi estudar na Escola Normal, também na capital. O curso compreendia as seguintes matérias:

 

listacursos

 

Já em 1925, ano em que se formou, escrevia para a revista Pedagogium (1921 – 1925), da Associação dos Professores do Rio Grande do Norte. Sua formatura aconteceu em 30 de janeiro de 1926, no Teatro Carlos Gomes, na Ribeira.

 

Lembrança da colação de grau de Júlia Medeiros / Acervo particular de Maria Julieta Dantas

Lembrança da colação de grau de Júlia Medeiros / Acervo particular de Maria Julieta Dantas

 

Nos anos em que morou em Natal, além de estudar, Júlia participava das atividades culturais e sociais da cidade. Era amiga da poetisa Palmyra Wanderley (1894 – 1978), do deputado, senador e governador do Rio Grande do Norte entre 1924 e 1927, José Augusto Bezerra de Medeiros (1884 – 1971), nascido como Júlia em Caicó e que durante sua gestão priorizou a educação no estado; de Juvenal Lamartine (1874 – 1956), governador do estado entre 1928 e 1930 e patrono do voto feminino no Brasil; e do professor e jornalista Amphilóquio Câmara (1899 – 1957), dentre outros.

Júlia retornou ao Caicó, em 1926, e, apesar da desvalorização do magistério pelo abandono dos homens desta profissão, tornando-se professora Júlia pode atuar na vida pública da cidade. De personalidade forte e considerada muito inteligente, culta e elegante, seu comportamento em Caicó era revolucionário: ela vestia roupas que mostravam costas e pernas e usava a cor preta fora do luto. Os cabelos, curtos. A moda era um indício de sua busca pela emancipação feminina.

 

 

Frequentava o Café Comercial, considerado um espaço masculino, e fazia discursos em público. Também dirigia automóvel, um Ford 1929, o que reforçava seu caráter de independência; ia ao Cine-Teatro Avenida, inaugurado em 1925, e, mais tarde, ao Cine Pax, aberto em 1936, e era assídua nos bailes e nas Festas de Sant´Anna, padroeira de Caicó, estando sempre presente na cena cultural e boêmia de sua cidade

Já em 1926, passou a dar aulas particulares na casa de sua irmã, Julieta Medeiros. Neste mesmo ano, assumiu, como interina, a cadeira Infanto-Misto Suplementar, do Grupo Escolar Senador Guerra, sob a direção do Professor Joaquim Coutinho. O Grupo Escolar havia sido criado por decreto em 16 de fevereiro de 1909 e seu nome foi uma homenagem ao padre Francisco de Brito Guerra (1777 – 1845), fundador da Escola de Latim, em 1832, em Caicó, na época Vila do Príncipe. Cerca de um ano depois da inauguração da sede própria do Grupo Escolar, ocorrida em 22 de setembro de 1925, com a presença do governardor José Augusto Bezerra de Medeiros (1884 – 1971), Júlia iniciou suas atividades na escola em 1º de julho de 1926, tendo sido efetivada em 30 de setembro do mesmo ano. Começava ali uma história de dedicação ao magistério, onde ela se destacou por suas práticas pedagógicas em busca de uma sociedade mais igualitária.

 

 

Segundo relatos de ex-alunos, as aulas de Júlia eram divertidas e ela era disciplinadora, afetuosa, dinâmica e enérgica. Usava a Nova Cartilha Analítico-Sintética e a Cartilha Ensino-Rápida de Leitura, ambas do educador paulista Mariano de Oliveira (1869 -19?). Em outubro de 1926, tornou-se 2ª secretária da Associação Educadora Caicoense (O Paiz, 13 de outubro de 1926, quarta coluna).

Sobre Júlia Medeiros:

“Conheço bem de perto a distinta perfilada que, hoje, não escapa à curiosidade de meu lápis. É uma das ilustres filhas desta boa terra, que à vista de seus esforços acaba de conquistar um título com o que muito há de lucrar o magistério do nosso estado. Possuidora de um excelente coração traz sempre um sorriso nos lábios, deixando-nos a impressão de que “A vida é um lago azul. Ela é bastante decidida em suas resoluções, gosta muito de trocar ideias e os seus verdes olhos nos dizem que tem o espírito dado a fantasias”.

                                                                                                                                              Jornal das Moças, 11 de abril de 1926

 

“Risonha e boa, de uma inteligência clara, com um coração que diz bem dos seus invulgares predicados. É uma das criaturas mais simpáticas da nossa elite que a estima na conta de um dos seus mais finos elemento de destaque. Hoje, dedica-se ao magistério e ao Jornal das Moças”. 

                                                                                                                                            Jornal das Moças, 29 de agosto de 1926

 

Erudita e excelente oradora, representava as professoras nas festividades do colégio e estava sempre presente nos eventos em torno de visitas de pessoas importantes à cidade como em agosto de 1926, na ocasião da visita do presidente eleito Washington Luis, à cidade, especificamente ao Educandário Santa Terezinha, organizada por uma de suas irmãs, Otávia Benigna (Diário de Pernambuco, 8 de agosto de 1926, segunda coluna); da feminista e bióloga Bertha Lutz (1894 – 1976), em campanha pelo voto feminino, em agosto de 1928 (O Paiz, 2 de setembro de 1928, última coluna), mesma época em que discursou na inauguração, no Sítio do Arroz, da primeira pista de pouso da cidade, quando aterrissou em Caicó um avião trazendo a bordo o governador do Rio Grande do Norte, Juvenal Lamartine (1874 – 1956); e do presidente Getulio Vargas (1882 – 1954), em 1933 (Diário de Pernambuco, 13 de setembro de 1933, segunda coluna). Em outra passagem pela cidade, o governador Lamartine foi de novo saudado por Júlia (Gazeta de Notícias, 29 de setembro de 1929, terceira coluna).

Foi colaboradora, redatora e gerente do Jornal das Moças, que existiu em Caicó de 1926 a 1932. Fundado, em 7 de fevereiro de 1926, por Georgina Pires e inicialmente gerenciado por Dolores Diniz, o jornal pretendia trazer um espírito de modernidade à cidade. Segundo Júlia:

 

“Não me surpreendeu o gesto de minhas dignas conterrâneas, lançando um jornal à apreciação de nosso público, no momento atual, em que o problema do feminismo vem preocupando as camadas sociais. O Jornal das Moças será, portanto, o porta-voz de uma plêiade de jovens que, tratando de desenvolver o seu espírito tão rico de inteligência, ocupe-se, de modo particular, pelo progresso e desenvolvimento de nossa terra”.

Jornal das Moças, 28 de fevereiro de 1926

O Jornal das Moças, responsável pela inserção da mulher no jornalismo em Caicó, também promovia festivais culturais, além de concursos de graciosidade e simpatia. Outros de seus redatores foram Santinha Araújo, Maria Leonor Cavalcante, Julinda Gurgel, Renato Dantas, Janúncio Bezerra da Nóbrega e José Gurgel de Araújo, sob o pseudônimo Flor de Lis.

Começou a publicar artigos de sua autoria no ano de fundação do periódico, 1926. Júlia advogava e representava a conquista do direito à educação para as mulheres e o acesso às letras. Os assuntos mais abordados em seus artigos para o jornal eram sobre modernidade e a mulher na sociedade, religiosidade e fé, e sentimentos como o amor e a solidão. Também reivindicava a participação feminina no jornalismo.

 

“O jornalismo feito por nós viverá, porque para tal lhe foi emprestado o brilho, a tenacidade e a força de vontade desse punhado de conterrâneas, que certamente lhe vão bordar as colunas dos mais agradáveis artiguetes. Agradáveis sim, porque a mulher tem o espírito talhado para fantasias, para o amor e para as coisas de pureza de ideal. De pureza digo bem, porque elas primam por manter de pé essa rara elegância de espírito, essa rara elegância mental, ela, só elas, sabem mais do que todos e sustenta alto, bem alto, esses princípios que lhe dão encanto e formosura na sociedade”.

                                                                                                                                               Jornal das Moças, 8 de julho de 1926

 

Júlia foi a primeira mulher de Caicó a se alistar (O Paiz, 9 de dezembro de 1927, penúltima coluna) e a votar, o que ocorreu nas eleições de 5 de abril de 1928. O sufrágio feminino era uma de suas lutas. Júlia recebeu um telegrama de Bertha Lutz (1894 – 1976), datado de 4 de março de 1928, felicitando-a pelo alistamento e a convidando para tornar-se sócia da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, presidido por ela.

 

votando

Júlia Medeiros votando em 5 de abril de 1928 / Arquivo da Universidade de Brasília – UnB / Essa foto foi publicada no jornal O Paiz, de 4 de novembro de 1928

 

Apesar de, do ponto de vista eleitoral, o estado do Rio Grande do Norte ter reconhecido esta igualdade, faltava, porém, a concretização do “voto de saias”, o que ocorreu nas eleições municipais realizadas no dia 05 de abril de 1928. Em Natal votaram Antônia Fontoura, Carolina Wanderley, Júlia Barbosa e Lourdes Lamartine. Em Mossoró, além de Celina Guimarães, votaram Beatriz Leite e Eliza da Rocha Gurgel. Em Apodi as primeiras eleitoras foram Maria Salomé Diógenes e Hilda Lopes de Oliveira. Em Pau dos Ferros, Carolina Fernandes Negreiros, Clotilde Ramalho, Francisca Dantas e Joana Cacilda Bessa. Ainda em Caicó e Acari, respectivamente, Júlia Medeiros e Martha Medeiros. Além de votar, algumas mulheres, a exemplo de Júlia Alves Barbosa em Natal e Joana Cacilda de Bessa em Pau dos Ferros,  foram também eleitas para o cargo de intendente municipal, equivalente a vereador atualmente.

Centro de Memória do Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Norte

 

O Rio Grande do Norte foi também o primeiro estado no Brasil a eleger uma prefeita mulher: Alzira Teixeira Soriano (1897 – 1963), na cidade de Lages, em setembro de 1928, venceu com 60% dos votos (O Paiz, 1º e 2 de outubro de 1928, penúltima colunaJornal Pequeno, 13 de outubro de 1928, segunda coluna).

Em torno de 1940, Júlia passou a administrar o Hospital do Seridó – inaugurado pelo presidente Washington Luís em 7 de agosto de 1926 -, tendo sido a primeira mulher a atuar  na administração pública de uma instituição de Caicó. Ficou no cargo por volta de quatro anos. Aos 55 anos, afastou-se do Grupo Escolar Senador Guerra e candidatou-se a vereadora nas eleições de 1951. Foi eleita e reeleita para o mandato de 1954-1958. Encerrou sua carreira política e, na época, por estar cansada e doente – com lapsos de memória e indícios de insanidade mental – afastou-se de todas as suas atividades, ficando reclusa em sua casa, na rua de Seridó, 157.

 

 

Em 1960, sua família a transferiu para Natal, onde foi morar na rua da Misericórdia, no bairro da Cidade Alta. Ganhou o apelido de “Rocas-Quintas“.

“Natal, década de 60, em algum lugar entre os bairros das Rocas e Quintas. Garotos se divertem provocando uma senhora trôpega, suja e maltrapilha. Os meninos fazem coro: “Rocas-Quintas”! E ela, com o dedo em riste, revida: “Me respeitem, que eu tive vida importante”! A zombaria continua, e a mulher, que se tornou folclórica por fazer todo santo-dia, a pé, o mesmo itinerário da linha de ônibus Rocas-Quintas (daí o apelido), retoma as passadas ligeiras e nervosas, parando sempre para catar lixo e restos de coisas podres” (Jornal Folha Regional, 19 de junho de 2017)

Faleceu, em 29 de agosto de 1977, no Hospital das Clínicas, de Natal. Em sua certidão de óbito a causa de morte é envenenamento, seguido da interrogação: suicídio? Assim terminava a vida de Júlia de Medeiros, uma vida entre a visibilidade e o anonimato.

 

morte

Certidão de óbito de Júlia Medeiros / 4º Ofício de Notas de Natal (RN)

 

Foi homenageada postumamente dando nome à Escola Profissionalizante Professora Júlia Medeiros, inaugurada em 16 de abril de 1975, na rua Coronel Bem Bem, nº 145, no bairro Paraíba; e também a rua Professora Júlia Medeiros, no centro de Caicó.

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Centro de Memória do Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Norte

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

Jornal Folha Regional

LOBO, Yolanda. Bertha Lutz. Pernambuco : Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2010.

MELO, Elisângela de Araújo Nogueira; MORAIS, Maria Arisnette Câmara. Contribuição feminina à história da educação no Rio Grande do Norte: Maria Dolores Bezerra Cavalcanti. Departamento de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2003

OLIVEIRA, Larissa Constantino Martins de; ARAGÃO, Isabella Ribeiro. Apontamentos históricos sobre material de divulgação e cartelas dos filmes do Ciclo do Recife: A filha do advogado e Aitaré da praiaAnais do 9º Congresso Internacional de Design da Informação | CIDI 2019.

Portal da História do Ceará

Portal Instituto Federal Rio Grande do Norte

ROCHA NETO, Manoel Pereira. A educação da mulher norte-rio-grandense segundo Júlia Medeiros (1920 – 1930). Centro de Ciências Sociais Aplicadas / Programa de Pós-Graduação em Educação : Universidade Federal do Rio Grande Norte, 2005.

ROCHA NETO, Manoel Pereira. Júlia Medeiros – Uma trajetória entre a Educação e a Imprensa no Rio Grande do Norte. Rio Grande do Norte : Infinita Imagem, 2013.

Site CPDOC

Site Curiozzzo.com

Site Mulher 500 anos atrás dos panos

Site Tok de História

SOLANO, Loriany; FAGUNDES, Flaviane; ALVES, Jussara; LOPES, Leyliane; LIMA, Caroline; ROCHA NETO, Manoel Pereira. Júlia Medeiros: uma mulher a frente do seu tempo. Universidade Potiguar, Rio Grande do Norte. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação X Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – São Luis, MA – 12 a 14 de junho de 2008.

 

Acesse aqui os outros artigos da Série “Feministas, graças a Deus!

Série “Feministas, graças a Deus!” I – Elvira Komel, a feminista mineira que passou como um meteoro, publicado em 25 de julho de 2020, de autoria da historiadora Maria Silvia Pereira Lavieri Gomes, do Instituto Moreira Salles, em parceria com Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” II  – Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993), o jequitibá da floresta, publicado em 20 de agosto de 2020, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” III  – Bertha Lutz e a campanha pelo voto feminino: Rio Grande do Norte, 1928, publicado em 29 de setembro de 2020, de autoria de Maria do Carmo Rainha, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” IV  – Uma sufragista na metrópole: Maria Prestia (? – 1988), publicado em 29 de outubro de 2020, de autoria de Claudia Heynemann, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” V – Feminista do Amazonas: Maria de Miranda Leão (1887 – 1976), publicado em 26 de novembro de 2020, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, mestre em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” VII – Almerinda Farias Gama (1899 – 1999), uma das pioneiras do feminismo no Brasil, publicado em 26 de fevereiro de 2021, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” VIII – A engenheira e urbanista Carmen Portinho (1903 – 2001), publicado em 6 de abril de 2021, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” IX – Mariana Coelho (1857 – 1954), a “Beauvoir tupiniquim”, publicado em 15 de junho de 2021, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” X – Maria Luiza Dória Bittencourt (1910 – 2001), a eloquente primeira deputada da Bahia, publicado em 25 de março de 2022, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XI e série “1922 – Hoje, há 100 anos” VI – A fundação da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, publicado em 9 de agosto de 2022, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XII e série “1922 – Hoje, há 100 anos” XI – A 1ª Conferência para o Progresso Feminino, publicado em 19 de dezembro de 2022, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, historiadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” XIII – E as mulheres conquistam o direito do voto no Brasil!, publicado em 24 de fevereiro de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XIV – No Dia Internacional da Mulher, Alzira Soriano, a primeira prefeita do Brasil e da América Latina, publicado em 8 de março de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XV – No Dia dos Povos Índígenas, Leolinda Daltro,”a precursora do feminismo indígena” e a “nossa Pankhurst, publicado em 19 de abril de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XVI – O I Salão Feminino de Arte, em 1931, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica, publicado em 30 de junho de 2023

Série “Feministas, graças a Deus!” XVII – Anna Amélia Carneiro de Mendonça e o Zeppelin, equipe de Documentação da Escola de Ciências Sociais FGV CPDOC, em parceira com Andrea C.T. Wanderley, publicado em 5 de janeiro de 2024

Série “Feministas, graças a Deus!” IV – Uma sufragista na metrópole: Maria Prestia (? – 1988)

Série “Feministas, graças a Deus!” IV – Uma sufragista na metrópole: Maria Prestia (? – 1988)

 

No quarto artigo da Série “Feministas, graças a Deus!”, Claudia Beatriz Heynemann, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional, uma das instituições parceiras da Brasiliana Fotográfica, escreveu sobre a feminista Maria Prestia (? – 1988) e sobre o próprio movimento feminista no Brasil. Além disso, abordou a questão da circulação dos retratos, “um aspecto frequentemente negligenciado na reflexão teórica sobre a fotografia, em detrimento das análises sobre o modo de representação tecnológico que a fotografia introduziu e, portanto, sobre o lugar do referente na fotografia, esse vínculo de indexação que ela mantém com o objeto“.

 

 

Uma sufragista na metrópole: Maria Prestia

Claudia Beatriz Heynemann*

 

 

No início do século XX o endereço da Santa Ifigênia em São Paulo era conhecido por seu comércio sofisticado, no qual predominavam lojas de chapéus, peles e tecidos, frequentado pelas famílias do bairro Campos Elísios. Nessa área central, onde inicialmente se instalaram os cafeicultores enriquecidos, funcionava o ateliê Photo Skarke, de propriedade de Hugo Skarke (1898 – 197?) [1] cujo fundador, Fernando Skarke (1858 – 1935), foi, possivelmente, o único na província de São Paulo a ser distinguido com o título de fotógrafo da Casa Imperial em 1886, funcionando em Piracicaba [2] e posteriormente em Santos.

Esses fundos e cenários, com opções de mobiliário e outros acessórios, tão comuns no século XIX, continuaram em voga no início do XX. Por trás do busto recortado em oval de Maria Prestia,  [3]  distingue-se uma paisagem que envolve a sua face compenetrada. No retrato de Maria Prestia, o Photo Skarke empregou o recurso da colorização, criada por André Adolphe Eugène Disdéri, também responsável pela invenção das carte de visite, por volta de 1863 e que pode ser encontrado no Brasil pouco tempo depois. Bastante disseminada no país, apesar das críticas recebidas, a fotopintura “fornecia um ar aristocrático à fotografia, aproximando-a dos quadros pintados a óleo”  [4]  O gênero iria se perpetuar por muitas décadas da primeira metade do século XX em retratos de família, chegando ao gosto popular. Contudo, nesse momento da virada da década dos anos 1920, a técnica parece indicar uma escolha refinada, aplicada para realçar as joias e o batom, em uma fotografia que apresentava sua titular ao meio profissional e político em que circulava.

O retrato de Maria Prestia, possivelmente enviado para sua amiga Bertha Lutz pelo correio, produz sua presença no evento em que faltaria, mas não interrompe ali a sua trajetória. Uma legenda em inglês a identifica como líder de um minoritário grupo de feministas de S. Paulo, e aponta para o caráter internacional do movimento sufragista. Atesta da mesma forma a sua passagem a documento público com todos os deslocamentos que o arquivo promove, em uma primeira inflexão, considerando-se que integra o fundo Federação para o Progresso Feminino sob a custódia do Arquivo Nacional. De natureza privada, esse conjunto dialoga com o universo documental da Instituição, predominantemente público, interpelando as esferas de ação política e comportamento daquelas primeiras décadas do século XX.

A circulação do retrato, evidenciada nesse exemplar, é um aspecto frequentemente negligenciado na reflexão teórica sobre a fotografia, em detrimento das análises sobre o modo de representação tecnológico que a fotografia introduziu, e, portanto, sobre o lugar do referente na fotografia, esse vínculo de indexação que ela mantém com o objeto. No entanto, não se deve esquecer outra característica, a separação entre imagem fotográfica e referente, na perspectiva da circulação, quando as fotografias ganham uma mobilidade que seu referente nunca possuiu e circulam em espaço e tempo separados, como sintetiza Tom Gunning. [5] Assim é que a fotografia é um índice da modernidade, compartilhando com a moeda e o capitalismo a possibilidade de transformar objetos em simulacros transportáveis, um equivalente universal. A partir das carte de visite sobretudo, as imagens fotográficas, em formatos cada vez mais intercambiáveis e passíveis de serem colecionados, transitam do estúdio às vitrines, aos álbuns, às famílias, aos arquivos e às redações dos jornais.

O retrato que acompanha a correspondência vinha emoldurado em generoso passe-partout onde caberia a dedicatória “À distinta amiga Bertha Lutz, o meu apoio à grande causa. S. Paulo, 19/6/1931”. A data coincide com a da abertura do II Congresso Internacional Feminista no Rio de Janeiro, que contou com a presença do presidente Getulio Vargas no salão do Automóvel Club do Brasil e ao qual Prestia deveria comparecer. O Diário de Notícias, [6] assim como outros jornais, deu espaço ao encontro que durou mais de dez dias e incluiu uma série de passeios e visitas a pontos turísticos da capital, teatros e instituições tradicionais como o Instituto Histórico Geográfico Brasileiro. Ela era representante da filial da Federação em S. Paulo, inserção recente como se pode acompanhar pela correspondência oficial da FBPF que cita o cartão enviado por Maria Prestia, no qual havia se pronunciado “em prol dos nossos ideais, nos meios femininos dessa capital”, formulando votos pelo sucesso da causa. Na mesma carta ela é convidada a participar do “Congresso Feminista” [7], embora não fosse ainda filiada aos quadros da Federação conforme correspondência posterior ao congresso, de 27 de agosto de 1931, quando é ressaltada a sua “simpatia” pela causa feminista [8]

A “causa feminista” a que se referem nesses documentos foi, como é característico nos movimentos identitários, um território de disputas atravessado por uma série de outras condições, a principal delas a das classes sociais, dos movimentos de trabalhadores, das tendências políticas. Apesar disso a atuação da FBPF e de Bertha Lutz domina a narrativa consolidada sobre os movimentos das mulheres brasileiras, encobrindo um cenário bastante mais fragmentado, como alerta Mª Margareth Lopes:

“Em suas múltiplas faces, a diversidade dos feminismos brasileiros incluía mulheres que partilhavam concepções conflitantes de feminismos, de conotações ideológicas e prioridades variadas, diferentes credos religiosos ou nenhum; diversas opções políticas, teóricas, regionais, partidárias. Tais mulheres repensaram as relações de gênero no país, inseridas em maior ou menor grau em um contexto internacional de movimentos feministas, sufragistas, modernistas, cientificistas, pacifistas, anarquistas, comunistas, de reivindicações e lutas por diretos das mulheres”. [9]

Não são essas as diferenças assinaladas na correspondência de Maria para Bertha, acerca do Congresso Feminista no Rio de Janeiro. Em carta de 3 de junho ela se desculpa pelo silêncio e conta ter estado muito doente, mas, uma vez recuperada, iria “colaborar para que S. Paulo possa apresentar uma prova real do trabalho operoso de suas mulheres”. Menciona em seguida ter consigo “uma amiga de ideal, a escritora Lila Escobar de Camargo”, uma possível militante. Trata-se aqui de uma referência significativa; autora de Caracteres femininos, de 1920, Camargo era ligada ainda à escritora Albertina Bertha, membro de organizações como a Associação da Mulher Brasileira, uma leitora de Nietzsche, conhecida por seus livros centrados em personagens femininos. Da mesma forma que Albertina, de quem Tristão de Athayde diria tender “a um delírio da individualidade”, Lila Escobar retratava, para o crítico, o “artifício requintado das cidades no interior das quais ganharia cada vez mais espaço a afirmação das individualidades femininas”. [10]

Qualquer que fosse a avaliação de Athayde, podemos entrever por essa descrição da escritora Lila Escobar, algo da identidade feminina de Prestia, suas afinidades, bem como de sua sociabilidade em um ambiente literário, intelectual, indo além dos círculos da assistência social nos quais iria se sobressair. Seu espaço na grande imprensa paulista foi conquistado como presidente da Federação Internacional Feminina, com representação na Praça da Sé, entidade que tinha como objetivo central a “assistência à mulher e à criança”. Prestia recebeu atenção nos jornais, no ano seguinte ao congresso feminista, durante a Revolução constitucionalista de 1932, quando não teria relegado o “soldado que na trincheira luta e morre por São Paulo”. A diretoria da Federação criou o Curso de Enfermagem, a Casa do Trabalho, a Casa da Criança e os “bilhetes para eles”. [11]. Logo no ano seguinte, finda a Revolução, é a Casa da Criança que recebe a atenção do Correio de São Paulo, que ouviu a presidente e a secretaria da Federação sobre o que consideraram “o testemunho inegável do espírito filantrópico da sociedade paulista”. Em suas declarações Maria Prestia assegurou que no amparo à infância, a federação, voltada à família paulista, as educaria “de acordo com os preceitos da pedagogia moderna, tendo paralelamente ao ensino a higiene que não faltará a esta casa. Além do ensino primário ministraremos o ensino religioso, o amor pelo trabalho, fazendo-as aprender desde o trabalho agrícola até o Industrial e tudo, afinal, que as torna capazes de engrandecer com o seu concurso a nossa amada pátria.” [12]

Esses enunciados jogam luz sobre o perfil político do movimento encabeçado pela FBPF, eminentemente sufragista, mas não só, que em análises mais tradicionais representaria, assim, uma primeira onda do feminismo no Brasil. A Federação operaria apartada das lutas sindicais, lutando exclusivamente pelo direito ao voto e pelos direitos civis,  não atendia a muitas trabalhadoras e intelectuais que não se reconheciam em Bertha e suas seguidoras. Não encontrava acolhida por exemplo junto às comunistas que iriam fundar a União Feminina do Brasil. O conflito de classes e as diferentes condições de vida das mulheres trabalhadoras não parecia ecoar nas preocupações e estratégias da Federação. Ainda hoje, diz Glaucia Fraccaro, procura-se “compreender como um movimento desse caráter pretendia lutar pelos direitos das mulheres sem alterar os direitos dos homens, atuando por dentro das instituições governamentais”. A explicação encontrada, não satisfatória para essa autora, varia entre tratá-las como um “feminismo difuso”, ou ainda como um “feminismo tático” [13].

Em 26 de junho, ainda no decorrer do II Congresso Internacional Feminista, Maria Prestia informa a Bertha Lutz que não poderia comparecer, enviando uma representante em seu lugar e recomenda destaque ao relatório que havia produzido. Mesmo que considerando o documento incompleto, ela pondera ter percorrido todas as repartições onde os diretores seriam favoráveis ao feminismo – “a semente que florescerá em breve”, acrescentando que “as moças funcionárias, dizem que são contra o feminismo pois elas pensam erradamente, não tem noção do verdadeiro feminismo”, sem que o defina, refletindo sobre o obstáculo representado por um “certo egoísmo entre as mulheres”. Conclui contando ter recebido “insistentes convites para visitar fábricas e instituições onde há interesses femininos. Por falta de tempo, só visitei algumas e mais tarde atendendo aos inúmeros pedidos irei trabalhando. Farei o que for possível. Aqui em S. Paulo a mulher já venceu naturalmente, ela ocupa lugares importantes, falta-lhes agora saber compreender sua missão de amparar e proteger” [14]

O ativismo de Prestia movia-se entre o apoio resoluto à “grande causa” e o que aparenta ser um distanciamento em relação aos “interesses femininos” que ela poderia encontrar nas fábricas, uma suposição da “vitória” das mulheres paulistas e de seu poder exercido em S. Paulo, “onde os homens são governados suavemente pelas mulheres”. A despeito dessas crenças, que em si já seriam portadoras de um juízo conservador sobre as mulheres, Prestia faz parte da história das lutas feministas, devendo-se lembrar que a Federação acabaria por endossar reivindicações que incluíam as trabalhadoras como a pauta da equiparação dos salários entre homens e mulheres. De seu retrato, alinhado aos cânones da fotografia de estúdio e de seus padrões femininos, a filha do imigrante italiano ressurge nas páginas da memória de Zelia Gattai, e figura, assim, contestadora e militante no que é também a sua experiência urbana:

“Berta Lutz, por essa época, conclamava as mulheres à luta pela emancipação feminina. Mamãe e Wanda haviam recebido uma visita de Maria Préstia, filha mais velha de uma família italiana numerosa, habitante antiga do bairro, convidando-as a tomar parte em manifestação feminista. Maria Préstia era exaltada discípula de Berta Lutz, mas parece que não conseguiu nada lá em casa”. [15]

 

[1] Almanak Laemmert : Administrativo, Mercantil e Industrial (RJ) – 1891 a 1940. Ano 1931, vol. II, p. 664.
Disponível em

http://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=313394&pesq=skarke&pagfis=36563

[2] KOSSOY, Boris. Dicionário Histórico-Fotográfico Brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: IMS, 2002, p.296

[3] Retrato de Maria Prestia. Federação Brasileira para o Progresso Feminino. Arquivo Nacional. BR_RJANRIO_Q0_ADM_CPA_VFE_FOT_0024_d0001de0001.

[4] MAUAD, Ana Maria. Imagem e autoimagem do Segundo Reinado. In: ALENCASTRO, Luiz Felipe de (Org). História da vida privada no Brasil: Império. São Paulo: Companhia das Letras, 1997, p. 194.

[5] GUNNING, Tom. O retrato do corpo humano: a fotografia, os detetives e os primórdios do cinema. In: CHARNEY, Leo, SCHWARTZ, Vanessa R. (Orgs.). O cinema e a invenção da vida moderna. São Paulo: Cosac & Naify, 2001

[6] Instala-se hoje o segundo congresso internacional Feminista. Diário de Notícias. 20/6/31. Disponível em http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=093718_01&pasta=ano%20193&pesq=%22Congresso%20Internacional%20Feminista%22&pagfis=5890

[7] Correspondência entre a FBPF e Maria Prestia. Federação Brasileira para o Progresso Feminino. Arquivo Nacional. Rio de Janeiro, 18 de abril de 1931. OOAdm Cor A931.54, p.138.

[8] Correspondência entre a FBPF e Maria Prestia. Federação Brasileira para o Progresso Feminino. Arquivo Nacional. Rio de Janeiro, 27 de agosto de 1931. OOAdm Cor A931.54, p.186

[9] LOPES, Maria Margaret. Proeminência na mídia, reputação em ciências: a construção de uma feminista paradigmática e cientista normal no Museu Nacional do Rio de Janeiro. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.15, supl., p.73-95, jun. 2008. Disponível em https://www.scielo.br/pdf/hcsm/v15s0/04.pdf

[10] TOLENTINO, Thiago Lenine Tito. Do ceticismo aos extremos: cultura intelectual brasileira nos escritos de Tristão de Athayde (1916-1928). Tese (doutorado) – Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, 2016, p. 221. Disponível em https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/BUOS-AQ8PMU

[11] Na Federação Internacional Feminina foram inscritas as primeiras madrinhas dos órfãos da revolução constitucionalista. Diário Nacional – 17/8/1932. Disponível em http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=213829&pesq=Federa%C3%A7%C3%A3o%20Feminina%20Internacional&pagfis=15759

[12] Uma agradável visita à Casa da Criança. Correio de São Paulo. 8/6/1933. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=720216&Pesq=Federa%c3%a7%c3%a3o%20Feminina%20Internacional&pagfis=1773

[13] FRACCARO, Glaucia Cristina Candian. Uma história social do feminismo – Diálogos de um campo político brasileiro (1917-1937). Estudos Históricos. Rio de Janeiro, vol. 31, nº 63, p. 7-26, janeiro-abril 2018, p. 10. Disponível em http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/article/view/71642

[14] Carta de Maria Prestia a Bertha Lutz. São Paulo, 26 de junho de 1931. Federação Brasileira para o Progresso Feminino. Arquivo Nacional. BR_RJANRIO_Q0_ADM_COR_A931_0086_d0001de0001, p. 4.

[15] GATTAI, Zelia. Anarquistas, graças a Deus. Ed. Record, 1979, p. 245.

 

*Claudia Beatriz Heynemann é Doutora em História | Pesquisadora do Arquivo Nacional

 

Acesse aqui os outros artigos da Série “Feministas, graças a Deus!

Série “Feministas, graças a Deus!” I – Elvira Komel, a feminista mineira que passou como um meteoro, publicado em 25 de julho de 2020, de autoria da historiadora Maria Silvia Pereira Lavieri Gomes, do Instituto Moreira Salles, em parceria com Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” II  – Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993), o jequitibá da floresta, publicado em 20 de agosto de 2020, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” III  – Bertha Lutz e a campanha pelo voto feminino: Rio Grande do Norte, 1928, publicado em 29 de setembro de 2020, de autoria de Maria do Carmo Rainha, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” V – Feminista do Amazonas: Maria de Miranda Leão (1887 – 1976), publicado em 26 de novembro de 2020, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, mestre em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” VI – Júlia Augusta de Medeiros (1896 – 1972) fotografada por Louis Piereck (1880 – 1931), publicado em 9 de dezembro de 2020, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” VII – Almerinda Farias Gama (1899 – 1999), uma das pioneiras do feminismo no Brasil, publicado em 26 de fevereiro de 2021, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” VIII – A engenheira e urbanista Carmen Portinho (1903 – 2001), publicado em 6 de abril de 2021, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” IX – Mariana Coelho (1857 – 1954), a “Beauvoir tupiniquim”, publicado em 15 de junho de 2021, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” X – Maria Luiza Dória Bittencourt (1910 – 2001), a eloquente primeira deputada da Bahia, publicado em 25 de março de 2022, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XI e série “1922 – Hoje, há 100 anos” VI – A fundação da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, publicado em 9 de agosto de 2022, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XII e série “1922 – Hoje, há 100 anos” XI – A 1ª Conferência para o Progresso Feminino, publicado em 19 de dezembro de 2022, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, historiadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” XIII – E as mulheres conquistam o direito do voto no Brasil!, publicado em 24 de fevereiro de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XIV – No Dia Internacional da Mulher, Alzira Soriano, a primeira prefeita do Brasil e da América Latina, publicado em 8 de março de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XV – No Dia dos Povos Índígenas, Leolinda Daltro,”a precursora do feminismo indígena” e a “nossa Pankhurst, publicado em 19 de abril de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XVI – O I Salão Feminino de Arte, em 1931, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica, publicado em 30 de junho de 2023

Série “Feministas, graças a Deus!” XVII – Anna Amélia Carneiro de Mendonça e o Zeppelin, equipe de Documentação da Escola de Ciências Sociais FGV CPDOC, em parceira com Andrea C.T. Wanderley, publicado em 5 de janeiro de 2024

Série “Feministas, graças a Deus!” III – Bertha Lutz (1894 – 1976) e sua luta pelo voto feminino

Série “Feministas, graças a Deus!” III – Bertha Lutz (1894 – 1976) 

 

O terceiro artigo da série “Feministas, graças a Deus”, Bertha Lutz e a campanha pelo voto feminino: Rio Grande do Norte, 1928 é de autoria da historiadora Maria do Carmo Rainho, do Arquivo Nacional, uma das instituições parceiras da Brasiliana Fotográfica. Bertha Lutz (1894 – 1976) foi a fundadora da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, em 1922, iniciativa vinculada ao movimento sufragista internacional, principal tendência do feminismo no início do século XX. As outras reivindicações eram de igualdade entre os sexos e de independência da mulher. Em 1932, Bertha foi uma das duas mulheres nomeadas para integrar a comissão para elaborar o ante-projeto da nova Constituição – a outra foi a advogada Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993) – tema do segundo artigo da série do portal. Em 1936, Bertha assumiu o mandato de deputada na Câmara Federal. Sempre ocupou importantes cargos públicos, dentre eles a chefia do setor de Botânica do Museu Nacional, cargo no qual se aposentou em 1964. Sua vida sempre esteve ligada à ciência e à luta pela emancipação da mulher. Nasceu em São Paulo, no dia 2 de agosto de 1894, filha da enfermeira inglesa Amy Marie Gertrude Fowler (1869 – 1922 ) e do cientista e pioneiro da Medicina Tropical, Adolpho Lutz (1855 – 1940).

 

 

 Bertha Lutz e a campanha pelo voto feminino: Rio Grande do Norte, 1928

Maria do Carmo Rainho*

 

O acervo da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, custodiado pelo Arquivo Nacional, foi constituído a partir de doações realizadas entre 1976 e 1986. Contemplando 25 metros lineares de documentos textuais e 537 itens iconográficos, dentre estes, 478 fotografias produzidas nas décadas de 1910-1970, o fundo privado conserva também cartazes, cartões-postais, desenhos e gravuras. Conjunto expressivo de fotografias registra eventos nacionais e internacionais promovidos pela Federação ou com a participação de Bertha Lutz e integrantes da entidade, como o I Congresso Internacional Feminista (Rio de Janeiro, 1922) e o IX Congresso da Aliança Internacional pelo Sufrágio Feminino (Roma, 1923). Registros de cerimônias públicas; audiências com autoridades; almoços, jantares, recepções, além de retratos variados (políticos, feministas do Brasil e do exterior) também se destacam. Para este artigo foram selecionadas algumas das fotografias que registram a movimentação em torno do sufrágio feminino no Rio Grande do Norte, a partir de 1927; a atuação de Juvenal Lamartine nesse sentido e, a viagem de Bertha Lutz àquele estado em 1928, em campanha pelo alistamento das mulheres.

 

Acessando o link para as fotografias de Bertha Lutz disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Conforme observa June Hahner, “a campanha sufragista no Brasil nunca se tornou um movimento de massas – existem poucos destes na história do Brasil -, mas, apesar disso, teve o mérito de se caracterizar por sua excelente organização, bem maior do que a da maioria dos movimentos semelhantes que a seguiram na América Latina.”(1) Essa organização se deve, em grande parte, a Bertha Lutz, por ter fundado, em 1919, a Liga para a Emancipação Intelectual da Mulher- LEIM, precursora da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino – FBPF, de 1922; pelo modo como constituiu as entidades e articulou suas integrantes; e, sobretudo, pelas estratégias utilizadas na busca pela extensão do direito do voto às mulheres.

Estratégicas também foram a preservação e a organização dos documentos da Liga e da Federação, que somados ao amplo material publicado pela imprensa referente às campanhas pelo sufrágio feminino nos anos 1920, nos possibilitam traçar uma parte importante da trajetória de Bertha Lutz, por meio da análise das relações que ela vai construindo e de como atua no espaço social.

Nosso ponto de partida foram as fotografias referentes à viagem que Bertha empreendeu ao Rio Grande do Norte, nos meses de julho e agosto de 1928, em campanha pelo alistamento, após a aprovação do voto feminino naquele estado, em 1927. Somam-se a elas registros das primeiras eleitoras e das primeiras eleitas, e dos eventos, muitos deles, relacionados a Juvenal Lamartine, político potiguar que desde o início da década se dedicou à causa. As fotografias nos levaram à documentação textual do fundo FBPF e às matérias publicadas pela imprensa, dando a ver o alcance da campanha de alistamento, o protagonismo de Bertha Lutz no processo e as conexões que a uniam a Lamartine, então governador do estado.

Esses documentos também possibilitaram analisar as estratégias empregadas por ela, aquilo que Celi Pinto qualificou de “feminismo bem comportado”(2) ; o “bom feminismo”, conforme a própria Bertha, ou, a nosso juízo, o feminismo pragmático, que, no lugar do confronto visando expor as desigualdades de gênero – tática utilizada por Leolinda Daltro – preferia se associar a lideranças masculinas que defendiam o voto das mulheres, como Lamartine, Justo Chermont, Adolfo Gordo e Maurício de Lacerda, entre outros.

Em 1921, a LEIM inaugurou a prática de enviar cartas e telegramas aos deputados solicitando a atenção a projetos que possibilitassem às mulheres o direito ao voto; cópias dessas correspondências eram encaminhadas também à imprensa. Naquele ano, Bertha Lutz entrou em contato pela primeira vez com Lamartine, deputado federal pelo Rio Grande do Norte desde 1906, e este lhe prometeu “destacar a emenda sobre o voto feminino do projeto de reforma eleitoral, para que ele próprio desse parecer.”(3) No entanto, após o adiamento da votação, em novembro de 1921, um novo projeto foi apresentado na Câmara dos Deputados, permitindo o alistamento eleitoral de mulheres com mais de 21 anos, as quais poderiam também ser votadas. Integrante da Comissão de Constituição e Justiça e relator do projeto, Juvenal Lamartine expressou vivamente o seu apoio à causa das mulheres, em texto embasado, no qual elencava as conquistas femininas no século XX e os países nos quais elas já podiam votar(4).

 

 

A partir de então, ele participa de reuniões e eventos da Federação e torna-se alvo frequente de suas homenagens.(5) De fato, o apoio a Juvenal Lamartine ganhou corpo quando, em sua plataforma para o governo do Rio Grande do Norte, em 1927, ele incluiu o voto feminino. E mais ainda, logo após a sua eleição, ao enviar telegrama ao então governador, José Augusto Bezerra de Medeiros, para que constasse na Lei que regulava o serviço eleitoral que poderiam “votar e ser votados, sem distinção de sexo, todos os cidadãos que reunirem as condições exigidas”(6).

A relação entre Bertha e Juvenal era simétrica e de mão dupla: ao mesmo tempo em que recebia o apoio dele em sua campanha pelo sufrágio feminino, ela colaborava para a construção da imagem pública de Lamartine como um governante moderno, associado a pautas progressistas. Pesquisando-se os jornais do ano de 1927 e 1928 é possível perceber o espaço que ele ocupava nas matérias que tratavam especificamente do voto feminino e da Federação de modo geral. Bertha também se encarregava de citá-lo constantemente na coluna “Feminismo”, publicada pelo jornal O Paiz, redigida juntamente com Orminda Bastos. A relação entre eles é tão estreita e o nome de Lamartine tão associado ao voto feminino que Bertha, convidada a enviar material para a exposição “A mulher, o movimento feminista e a imprensa”, realizada na Alemanha, em abril de 1928, encaminha um quadro dedicado ao Rio Grande do Norte, incluindo foto de Lamartine, do eleitorado feminino, e da primeira eleitora daquele estado, a professora de matemática Júlia Barbosa.(7) Esta será uma figura importante para o alistamento feminino no Rio Grande do Norte e uma das responsáveis pela viagem de Bertha Lutz ao estado. Conforme a correspondência trocada entre elas, Júlia expressa o desejo de Lamartine de que se organizasse uma entidade filiada à Federação; ao mesmo tempo, revela um desinteresse das mulheres potiguares, por terem “alcançado ingresso na vida política do nosso Estado sem trabalho e sem lutas”. (8) A solução, segundo ela, estaria na viagem de Bertha. Nas cartas e telegramas evidencia-se que Júlia é uma das interlocutoras da presidente da Federação para os assuntos relativos aos direitos das mulheres no Rio Grande do Norte: é solicitada a lhe enviar dados, como o número de eleitoras por município; informa Bertha sobre a decisão do diretor do Departamento de Educação de excluir do magistério as mulheres casadas; comenta a eleição para o Senado do ex-governador José Augusto, na qual haviam votado as eleitoras alistadas há mais de 60 dias. (9) Por sua vez, pede o apoio de Bertha para a construção de uma maternidade em Natal. Torna-se colaboradora na coluna “Feminismo”, de O Paiz e, em junho de 1928, funda a Associação Eleitoral Feminina. Por sua atuação é homenageada pela Federação com um almoço no Hotel Glória, no Rio de Janeiro.(10)

Em 6 de julho de 1928, Bertha Lutz, acompanhada por seu pai, o cientista Adolpho Lutz, parte para o Rio Grande do Norte; ambos em missão de pesquisa da flora local mas, Bertha, a serviço, primordialmente, do sufrágio feminino. Ao longo da viagem prospectos em favor da propaganda do voto feminino são jogados do avião em cidades de oito estados, dentre elas Vitória, Caravelas, Recife, Maceió e Natal. Bertha repetia a ação realizada em maio, no Rio de Janeiro, quando sobrevoou a cidade com Carmen Portinho (1903 – 2001) e Amélia Bastos lançando panfletos “na Câmara, no Senado, no Palácio da Presidência, nas redações de jornais, nas grandes artérias da capital” (11).

 

 

Até 24 de agosto, véspera do seu retorno ao Rio, Bertha percorrerá inúmeros municípios daquele estado. Em Natal, onde permanece a maior parte do tempo, cumpre uma extensa programação que inclui a recepção pela Associação Eleitoral Feminina; um evento promovido pelas associações operárias, presidida por Juvenal Lamartine no teatro estadual; festa no Palácio do governo; a inauguração do curso de botânica na Escola Normal; a Festa Matuta, organizada pelos intelectuais natalenses; a inauguração da sede social do Clube Paissandu. Também participa do almoço oferecido por Juvenal Lamartine, no palacete da Assembleia Legislativa, aos aviadores italianos Arturo Ferrarin e Carlo del Prete, (12) evento no qual o governador conseguiu reunir expoentes de dois importantes pilares da sua administração: a aviação (13) e o feminismo.

A partir de Natal, Bertha viaja, geralmente, acompanhada por outras mulheres às cidades de Macaíba, São José de Mipibu, Ceará- Mirim, Acari, Seridó, Santa Cruz, Currais Novos, Caicó, visando ao alistamento das eleitoras, além de participar de almoços, banquetes, lanches e inaugurações. Nesses locais encontram-se os círculos sociais frequentados por Bertha Lutz, integrados por mulheres das camadas médias e altas, escolarizadas, em sua maioria, professoras. E embora aqui e ali haja algumas menções à presença de operárias em eventos, habitualmente, o que se noticia é a participação de “altas autoridades civis, militares e eclesiásticas”; “a elite natalense”; os “chefes políticos locais”; o “juiz eleitoral”; “o prefeito”. É interessante registrar também que, a despeito de se tratar de uma temática feminista, parcela da imprensa, ao elencar as mulheres alistadas em Macaíba, por exemplo, ainda as apresentam de forma anônima: são “as senhoras do prefeito, do juiz de direito, do diretor de mesa de rendas, do promotor e de outras autoridades.”(14)

 

 

As relações que Bertha estabelece com as elites locais, para além de evidenciarem o lugar que ocupa no espaço social, reforçam uma tática adotada por ela: “a necessidade de se legitimar aos olhos do público, procurando para isto mobilizar mulheres cuja posição social fosse de indiscutível respeitabilidade.”(15) A viagem ao Rio Grande do Norte também evidencia a importância da sociabilidade, dos encontros, palestras, almoços e jantares nos quais ela circula e discursa e estimula as mulheres ao alistamento. E a importância que ela, àquela altura já havia alcançado, no que tange ao fomento de associações e grupos de mulheres envolvidos com a causa do sufrágio. Não é por acaso que, em 9 de agosto de 1928, é fundada a Associação das Eleitoras Norte-Riograndenses(16) e que, um ano após a aprovação do voto feminino, 10% do eleitorado daquele estado fosse constituído por mulheres.

 

 

No registro do encontro das feministas com a primeira eleitora vemos a produção de sentido pelas fotografias ou como construímos o mundo visualmente. Não passa despercebido o fato de todas as mulheres estarem elegantemente vestidas, em uma imponência a que podemos chamar autonomia. São figuradas, conforme a “última moda”, exibindo roupas e cabelos mais curtos, estes no estilo “à la garçonne”, embora escondidos nos chapéus cloche. Os vestidos com modelagem solta e cintura baixa, não aprisionam o corpo, as pernas à mostra também estão livres. Mas cabem algumas perguntas: as feministas se deixavam subjugar pela moda? Ou os cuidados de si eram, naquele momento, imprescindíveis para ocupar espaços? Se a moda de cabelos e roupas mais curtas é onipresente, das fotos das feministas às revistas populares, talvez ela expressasse os desejos que as mulheres compartilhavam de ocupar novas posições. Nesse sentido, haveria pouco espaço para roupas com armações ou espartilhos. Mas, pensando a contrapelo, é preciso refletir se a emancipação estava à disposição de todas ou se roupas e cabelos mais curtos não eram, eles também, elementos de distinção social, evidenciando que, se as mudanças ocorrem, elas nunca ocorrem todas de uma vez e nem para todas.

(1) HAHNER, June E. Emancipação do sexo feminino. A luta pelos direitos da mulher no Brasil, 1850-1940. Florianópolis : EDUNISC, 2003, p.333.

(2) PINTO, Celia Regina Jardim. Uma história do feminismo no Brasil. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2003, p. 6.

(3) KARAWEJCZYK, Monica. As filhas de Eva querem votar: uma história da conquista do sufrágio feminino no Brasil. Tese (Doutorado em História), Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2013, p. 219-220.

(4) “Nada justifica mais, na época atual, essa restrição que é uma sobrevivência dos tempos em que a mulher era considerada incapaz de exercer os direitos civis e políticos.” Anais, vol. XIX, 1925, p. 40, apud KARAWEJCZYK, Monica, op. cit., p. 223.

(5) Em 1925, Lamartine foi convidado pela FBPF para evento alusivo às datas cívicas nacionais, discorrendo sobre a concessão dos direitos políticos à mulher nas democracias modernas. Em 1927, a entidade promoveu uma manifestação comemorativa da sua eleição ao governo do Rio Grande do Norte. Em 1928, ao viajar a então capital do país, para tratar de assuntos referentes à administração daquele estado, foi recebido no desembarque por expressivo grupo de mulheres. No discurso da representante da FBPF, Orminda Bastos, Juvenal é qualificado de “estadista liberal e administrador eminente”.“Ecos da chegada do presidente Juvenal Lamartine”, O Paiz, 7 e 8 de maio de 1928, p. 5.

(6) Lei n. 600, de 25 de outubro de 1927.

(7) “A Federação Brasileira pelo Progresso Feminino e a exposição de imprensa de Colônia”, O Paiz, 18 de abril de 1928, p. 2.

(8) Carta de Julia Barbosa para Bertha Lutz, Natal, 23 de janeiro de 1928. Arquivo Nacional, FBPF, BR RJANRIO Q0.ADM, COR.A928.107.

(9) “Dessa eleição dependerá, tacitamente, a resolução do problema feminino no Brasil inteiro, pois se o Senado “engolir” os votos que eu e as minhas conterrâneas demos ao dr. José Augusto…”. Carta de Julia Barbosa para Bertha Lutz, Natal, 9 de abril de 1928. Arquivo Nacional, FBPF, BR RJANRIO Q0.ADM, COR.A928.107.

(10) “O primeiro banquete político feminino”, O Paiz, 24 de junho de 1928, p. 10.

(11) “A propaganda feminista por via aérea”, O Paiz, 14 e 15 de maio de 1928, p. 8.

(12) Os pilotos se notabilizaram por realizar a primeira travessia do Atlântico em avião, sem escalas, entre a Europa e a América Latina, indo de Montecelio, na Itália, a Touros, no Rio Grande do Norte.

(13) Natal, assim como Dakar, no Senegal, por sua posição geográfica, interessava vivamente às empresas de aviação – dentre elas, a francesa Latécoère – que desejavam expandir suas rotas para os países da América do Sul (Brasil, Argentina, Chile). Foi em um avião da companhia que Bertha Lutz se deslocou do Rio de Janeiro a Natal e de volta ao Rio, em 1928; a empresa também cedeu um aparelho a Juvenal Lamartine quando da inauguração dos campos de aterrisagem de Acari e Caicó no mesmo ano. As rotas e suas respectivas escalas envolviam interesses tanto econômicos quanto por prestígio, dos países de origem das empresas e dos locais que deveriam fazer parte dos itinerários estabelecidos. Lamartine soube capitalizar a importância da aviação comercial naquele momento e, em especial, da cidade de Natal como escala em um circuito mundial de navegação aérea. Nesse sentido, entende-se, também, a inauguração do Aeroclube de Natal em 1928. TEIXEIRA, Rubenilson B. “Por mar, terra e ar: Dakar, Natal e as conexões transatlânticas (1880-1940)”, Cahiers des Amériques Latines, vol. 76, 2014, p. 131-157. Disponível em: https://journals.openedition.org/cal/3327 Acesso em 27 de setembro de 2020.

(14) “Em efervescência o alistamento feminino no Rio Grande do Norte”, Correio da Manhã, 24 de julho de 1928, p. 2.

(15) ALVES, Branca Moreira, Ideologia e feminismo: a luta das mulheres pelo voto no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1980, p.100.

(16) Filiada à Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, a Associação era presidida por Francisca Bezerra Dantas. A data da fundação era uma homenagem ao aniversário de Juvenal Lamartine e aos 6 anos de fundação da FBPF.

 

*Maria do Carmo Rainho é Doutora em História | Pesquisadora do Arquivo Nacional

 

Acesse aqui os 0utros artigos da Série “Feministas, graças a Deus!

Série “Feministas, graças a Deus!” I – Elvira Komel, a feminista mineira que passou como um meteoro, publicado em 25 de julho de 2020, de autoria da historiadora Maria Silvia Pereira Lavieri Gomes, do Instituto Moreira Salles, em parceria com Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” II  – Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993), o jequitibá da floresta, publicado em 20 de agosto de 2020, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” IV  – Uma sufragista na metrópole: Maria Prestia (? – 1988), publicado em 29 de outubro de 2020, de autoria de Claudia Heynemann, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” V – Feminista do Amazonas: Maria de Miranda Leão (1887 – 1976), publicado em 26 de novembro de 2020, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, mestre em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” VI – Júlia Augusta de Medeiros (1896 – 1972) fotografada por Louis Piereck (1880 – 1931), publicado em 9 de dezembro de 2020, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” VII – Almerinda Farias Gama (1899 – 1999), uma das pioneiras do feminismo no Brasil, publicado em 26 de fevereiro de 2021, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” VIII – A engenheira e urbanista Carmen Portinho (1903 – 2001), publicado em 6 de abril de 2021, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” IX – Mariana Coelho (1857 – 1954), a “Beauvoir tupiniquim”, publicado em 15 de junho de 2021, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” X – Maria Luiza Dória Bittencourt (1910 – 2001), a eloquente primeira deputada da Bahia, publicado em 25 de março de 2022, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XI e série “1922 – Hoje, há 100 anos” VI – A fundação da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, publicado em 9 de agosto de 2022, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XII e série “1922 – Hoje, há 100 anos” XI – A 1ª Conferência para o Progresso Feminino, publicado em 19 de dezembro de 2022, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, historiadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” XIII – E as mulheres conquistam o direito do voto no Brasil!, publicado em 24 de fevereiro de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XIV – No Dia Internacional da Mulher, Alzira Soriano, a primeira prefeita do Brasil e da América Latina, publicado em 8 de março de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XV – No Dia dos Povos Índígenas, Leolinda Daltro,”a precursora do feminismo indígena” e a “nossa Pankhurst, publicado em 19 de abril de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XVI – O I Salão Feminino de Arte, em 1931, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica, publicado em 30 de junho de 2023

Série “Feministas, graças a Deus!” XVII – Anna Amélia Carneiro de Mendonça e o Zeppelin, equipe de Documentação da Escola de Ciências Sociais FGV CPDOC, em parceira com Andrea C.T. Wanderley, publicado em 5 de janeiro de 2024

Série “Feministas, graças a Deus!” II – Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993), o jequitibá da floresta

 Série “Feministas, graças a Deus!” II  – Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993), o jequitibá da floresta

 

A personagem do segundo artigo da série “Feministas, graças a Deus“, Natércia da Cunha Silveira, foi uma importante personalidade na luta pela emancipação da mulher no Brasil. Na fotografia destacada abaixo, seu entusiasmo, eloquência, seu espírito vibrante e culto parecem saltar da imagem, que faz parte do Fundo Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, do Arquivo Nacional, uma das instituições parceiras da Brasiliana Fotográfica. Ela, como oradora, representante do sul, da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino FBPF), estava saudando Juvenal Lamartine de Faria (1874 – 1956), governador do Rio Grande do Norte e patrono do voto feminino, que chegava ao Rio de Janeiro, a bordo do navio Almanzora. Além da expressividade da oradora, é interessante também notar o registro da presença de um homem à direita da imagem. Na ocasião, estavam no cais, aguardando pelo governador, autoridades políticas, além de outras associadas da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF) como a bióloga Bertha Lutz  (1894 – 1976), uma das fundadoras da entidade; e a engenheira e urbanista Carmen Portinho (1903 – 2001). Orminda Ribeiro Bastos (1899 – 1971), também da FBPF,  saudou o governador como representante do Norte do país.

 

 

Essa mesma foto está reproduzida na reportagem sobre o evento publicada no jornal O Paiz, de 6 de maio de 1928. Aqui não podemos deixar de chamar atenção para a importância da digitalização de imagens, que possibilita, a partir de recursos tecnológicos como o zoom, que as fotografias tenham outra visibilidade e possam ser acessadas em sua qualidade plena.

 

 

Foi também uma das 86 fotografias do Arquivo Nacional integrantes da exposição Imagens da Mulher Brasileira, no Espaço BNDES, em 1996.

 

 

Nascida em Itaqui, em 14 de março de 1905, Natércia foi a primeira advogada do Rio Grande do Sul. Elegante, simpática, ativa, inteligente, culta são adjetivos frequentes com os quais Natércia foi, ao longo de sua vida, elogiada. Uma adolescente ardorosa, ainda no Rio Grande do Sul, envolveu-se com a política, muito provavelmente por influência de seu pai, Manoel da Cunha Silveira (18? – 1941), membro do Partido Libertador do Rio Grande do Sul. Na Revolução de 1923, aderiu à causa libertadora e foi considerado um acontecimento para a vida dos Pampas os discursos com que Natércia da Silveira em nome da mulher gaúcha acolheu os generais Zeca Netto e Honório Lemes na sua chegada a Porto Alegre.

Colou grau em Direito pela atual Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 1926, e veio para o Rio de Janeiro. Já em dezembro deste ano, deu uma entrevista ao jornal O Paiz, edição de 5 de dezembro, falando sobre feminismo, direito de votos e educação. No ano seguinte, fez sua estreia no Tribunal do Juri. Na ocasião, já era ligada à Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, presidida pela também feminista, a bióloga Bertha Lutz (1894 – 1976).

Em 1929, foi uma das fundadoras da União Universitária Feminina, no Rio de Janeiro, que congregava mulheres com ensino superior em prol da defesa dos direitos femininos, sob a direção da engenheira civil Carmen Portinho (1903 – 2001).  As outras foram a também engenheira civil Amélia Sapienza, Bertha Lutz  (1894 – 1976), a naturalista e ornitóloga alemã Emilia Snethlage (1868-1929), a professora Heloisa Marinho (1903 – 1994), as médicas Herminia de Assis e Juana Lopes, as advogadas Maria Alexandrina Ferreira Chaves, Maria Ramalho e Myrthes de Campos (1875 – 1965); e Orminda Ribeiro Bastos (1899 – 1971), formada em Ciências Jurídicas.

Neste mesmo ano, Natércia fez a defesa do título eleitoral de Francisca de Gaya, que trabalhava como enfermeira em São João da Barra, mediante a procuração que lhe fora substabelecida por Bertha Lutz  (1894 – 1976), presidente da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, a quem a senhora Gaya encarregaria da defesa dos seus direitos eleitorais.

Em janeiro de 1931, em companhia da também advogada e sufragista Elvira Komel (1906 – 1932), Natércia participou no Rio de Janeiro de vários encontros para pleitear apoio à causa do voto feminino. Estiveram com o prefeito Adolpho Bergamini (1886 – 1945), com o ministro do Trabalho, Lindolpho Collor (1890 – 1942); com o ministro da Fazenda, José Maria Whitaker (1878 – 1970); com o ministro da Justiça e Assuntos Internos, Oswaldo Aranha (1894 – 1960); com o cardeal Sebastião Leme (1882 – 1942) e com o general Juarez Távora (1898 – 1975), além de terem visitado as redações de A Batalha, do Jornal do Brasil , de  e de A Noite. 

Devido a divergências com Bertha em relação a seu engajamento político e a sua participação em comícios da Aliança Liberal em apoio a Getulio Vargas (1882 – 1954) e João Pessoa (1878 – 1930), Natércia fundou, em 30 de janeiro de 1931, a Aliança Nacional de Mulheres, cujo objetivo principal era proporcionar proteção à mulher que trabalhava em todos os ramos de atividades, amparando-a na conquista de sua independência econômica. Por volta de 1932, a entidade contava com cerca de três mil sócias. Dentre as atividades da Aliança Nacional de Mulheres, destacavam-se a fiscalização das condições de trabalho das mulheres, o serviço de assistência jurídica e uma caixa de auxílio à mulher desamparada. Eram realizadas reuniões mensais nas quais temas relativos à legislação, à educação, ao trabalho e às artes eram contemplados. As associadas também faziam visitas a fábricas e a entidades de assistência social. Com o Estado Novo, decretado em 1937, foi extinta, mas Natércia continuou atuando no fórum do Rio de Janeiro.

Em junho de 1931, Natércia foi a representante do Rio Grande do Sul no Segundo Congresso Internacional Feminista, promovido pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, sob a orientação de Bertha Lutz  (1894 – 1976); e vice-presidente do I Congresso Feminino Mineiro, em Belo Horizonte, presidido por Elvira Komel (1906 – 1932).

Em 1932, foi nomeada segunda adjunta do procurador do Conselho Nacional do Trabalho. O Decreto nº 21.076, de 24 de fevereiro de 1932 instituiu o Código Eleitoral Provisório e reconheceu o direito de voto às mulheres. Ela e Bertha Lutz foram as únicas mulheres nomeadas para integrar a comissão para elaborar o anteprojeto da nova Constituição. Sempre esteve ligada à política: foi candidata à Assembleia Constituinte nas eleições de 1933; no ano seguinte, concorreu a vereadora pela Frente Única do Distrito Federal, quando elegeu-se suplente; e em 1945 e em 1950 foi candidata a deputada pelo Partido Libertador, integrante da coligação democrática que apoiava a União Democrática Nacional (UDN).

Ao longo de sua vida pessoal e profissional, sempre esteve ligada aos temas relativos aos direitos da mulher, ao trabalho, à educação e à assistência social. Em 1964, tornou-se a primeira mulher a ocupar a direção geral do Departamento Nacional do Trabalho (DNT), do qual pediu demissão, em 1966, após uma discussão com o então ministro do Trabalho, Walter Peracchi Barcelos (1907 – 1986), acerca de um projeto de decreto que, no seu entendimento, aniquilaria o movimento sindical portuário. Voltou à Procuradoria Geral do Trabalho, de onde se aposentou, em 1971, após ter ocupado cargos de relevância, tendo sido muito elogiada pelo então procurador-geral, Marco Aurélio Frates de Macedo, pelos dedicados e eficientes serviços prestados à Procuradoria não só por meio de eruditos pronunciamentos como também quando por diversas vezes assumiu sua chefia.

Foi casada de 1933 a 1972 com o médico e membro da Academia Brasileira de Medicina, Paulo Arthur Pinto da Rocha (1901 – 1972), com quem teve uma filha Velleda Maria (1938 – ).

 

Cronobiografia de Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993)

“Eu sou como o jequitibá da floresta, o machado que tentar derribar-me há de criar dentes”.

 

 

1905 –  Natércia da Cunha Silveira nasceu em 14 de junho, em Itaqui, no Rio Grande do Sul, filha de Manoel da Cunha Silveira (18? – 1941), primeiro promotor público da comarca de Itaqui, juiz de Direito em Uruguaiana e membro do Partido Libertador do Rio Grande do Sul; e Maria da Conceição do Valle Cunha (18? – 1924). Além de Natércia, o casal teve mais cinco filhos: Demócrito, Cézar, Athalia, Hesione e Octacília

1923 – Sobre a atuação política de Natércia ainda na adolescência: “Ardorosa desde adolescente, desposou a causa libertadora, quando da Revolução de 1923. Foi um acontecimento para a vida dos Pampas os discursos com que Natércia da Silveira em nome da mulher gaúcha acolheu os generais Zeca Netto e Honório Lemes na sua chegada a Porto Alegre” (Correio da Manhã, 31 de janeiro de 1932, quarta coluna). Sobre Honório Lemes, escreveu, anos depois,  o artigo O Leão do Caverá, publicado no jornal A Esquerda de 3 de outubro de 1931.

1924 – Falecimento de sua mãe, Maria da Conceição do Valle Cunha (18? – 1924).

Fazia parte da comissão do Centro dos Acadêmicos de Direito, em Porto Alegre, que iria promover a comemoração do aniversário da fundação dos cursos jurídicos no Brasil.

 

Correio do Povo, de 1924

Correio do Povo (RS), 23 de julho de 1924

 

Natércia, que neste ano completaria o curso da Faculdade Livre de Direito de Porto Alegre enviou uma carta a Honório Lemes (1864 – 1930), oferecendo-se para advogar em sua defesa. Ele estava preso por ter apoiado a rebelião de jovens oficiais do Exército liderados por Luis Carlos Prestes (1898 – 1990) contra o governo do presidente Artur Bernardes (1875 – 1955). Ele respondeu aceitando a oferta da jovem advogada (O Estado do Paraná, 24 de novembro de 1925, quarta coluna).

1926Colou grau em Direito pela atual Universidade Federal do Rio Grande do Sul, tornando-se  a primeira mulher advogada do Rio Grande do Sul (A Noite (RJ), 11 de maio de 1926, quarta coluna).

Havia chegado há pouco no Rio de Janeiro e faria sua estreia em pouco tempo no juri da cidade. Foi entrevistada pelo O Paiz e falou sobre feminismo, direito de votos e educação (O Paiz, 5 de dezembro de 1926, segunda coluna).

 

 

1927 – Estreia de Natércia no Tribunal do Juri, no julgamento do réu Joaquim Bueno da Costa Cruz. acusado de ter atirado no dr. Annibal Bittencourt por ter convicção que ele era o responsável pela morte de sua irmã, esposa da vítima. Foi muito apreciada a atuação da jovem advogada (Correio da Manhã, 1º de julho de 1927, sexta coluna).

 

 

1928 – Como oradora, representante do sul, da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF), Natércia saudou Juvenal Lamartine de Faria (1874 – 1956), governador do Rio Grande do Norte, e patrono do voto feminino, que chegava ao Rio de Janeiro, a bordo do navio Almanzora.  Na ocasião, estavam no cais, aguardando pelo governador, autoridades políticas, além de outras associadas da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino como a bióloga Bertha Lutz (1894 – 1976) e a engenheira civil Carmen Portinho (1903 – 2001). A advogada Orminda Ribeiro Bastos (1899 – 1971), também da FBPF,  saudou o governador como representante do Norte do país (O Paiz, 6 de maio de 1928; O Paiz, 7 de maio de 1928, última coluna).

Foi elogiado o talento oratório de Natércia durante uma discussão em torno do voto feminino com o senador Thomas Rodrigues, que ocorreu na leitura do parecer do senador Godofredo Vianna (1878 – 1944) contrário ao voto feminino no pleito do Rio Grande do Norte (O Imparcial (MA), 21 de maio de 1928, quarta colunaDiário Nacional: A Democracia em Marcha, 23 de maio de 1928, primeira coluna).

Falou ao jornal Correio da Manhã sobre os direitos políticos da mulher (Correio da Manhã, 15 de junho de 1928).

 

 

Foi uma das associadas da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino que assinou uma moção em homenagem à presidente da entidade, Bertha Lutz  (1894 – 1976), por sua atuação como líder do movimento feminista nacional (A Noite (RJ), 12 de dezembro de 1928, quarta coluna; O Paiz, 12 de dezembro de 1928, segunda coluna).

 

 

1929 – Seu escritório de advocacia ficava na rua Rodrigo Silva, nº 11, no Centro do Rio de Janeiro (Almanak Laemmert, 1929).

Em janeiro, foi uma das fundadoras da União Universitária Feminina, no Rio de Janeiro, que congregava mulheres com ensino superior em prol da defesa dos direitos femininos, sob a direção da engenheira civil Carmen Portinho (1903 – 2001).  As outras foram a também engenheira civil Amélia Sapienza, a bióloga Bertha Lutz  (1894 – 1976), a naturalista e ornitóloga alemã Emilia Snethlage (1868-1929), a professora Heloisa Marinho (1903 – 1994), as médicas Herminia de Assis e Juana Lopes, as advogadas Maria Alexandrina Ferreira Chaves, Maria Ramalho e Myrthes de Campos ( 1875 – 1965); e Orminda Ribeiro Bastos (1899 – 1971), formada em Ciências Jurídicas (A Noite, 14 de janeiro de 1929O Imparcial, 15 de janeiro de 1929, primeira coluna; Gazeta de Notícias, 15 de janeiro de 1929, quarta coluna; A Noite, 5 de abril de 1930, primeira colunaManchete, 30 de janeiro de 1971).

Natércia fez a defesa do título eleitoral de Francisca de Gaya, que trabalhava como enfermeira em São João da Barra, mediante a procuração que lhe fora substabelecida pela dra. Bertha Lutz  (1894 – 1976), presidente da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, a quem a senhora Gaya encarregaria da defesa dos seus direitos eleitorais (Correio da Manhã, 25 de janeiro de 1929, quarta coluna; O Imparcial, 26 de janeiro de 1929, terceira coluna; Gazeta de Notícias, 26 de janeiro de 1929, terceira coluna; O Paiz, 3 de fevereiro de 1929).

 

 

Visitou na Casa de Detenção, Maria da Silva Bastos, que havia assassinado o marido que a abandonara, deixando ela e os filhos na penúria (Crítica (RJ), 11 de dezembro de 1928Crítica (RJ), 20 de março de 1929, terceira coluna).

Integrava a Comissão Feminina em apoio à Cruzada na Cooperação na Extinção da Febre Amarela. Em uma reunião, foi uma das escolhidas de fazer propaganda da causa em programas de rádio (O Paiz, 24 de abril de 1929, terceira colunaGazeta de Notícias, 28 de abril, quinta colunaDiário Carioca, 28 de abril de 1929, quinta coluna).

A advogada sergipana Maria Rita Soares de Andrade (1904 – 1998), em uma reunião da União Universitária Feminina fez um discurso no qual defendia que a entidade deveria mobilizar a opinião pública em prol da valorização da formação intelectual da mulher brasileira. Foi formada uma comissão cujas integrantes eram, além de Natércia, Bertha Lutz  (1894 – 1976) e Amélia Sapienza, para estudar o assunto e redigir um apelo aos pais no sentido de estimular o estudo das mulheres (Jornal do Brasil, 1º de novembro de 1929, quarta coluna). Maria Rita Soares de Andrade tornou-se, em 1967, a primeira juíza federal brasileira.

Foi designada pela União Universitária Feminina, da qual era secretária, a convite da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, para falar em um programa da Rádio Club. Em pauta, o estímulo das famílias à cultura superior de suas filhas (A Noite (RJ), 14 de dezembro de 1929, quinta coluna; O Paiz, 14 de abril de 1929, quinta coluna).

Participou de comícios da Aliança Liberal em apoio a Getulio Vargas (1882 – 1954) e João Pessoa (1878 – 1930), nas escadarias do Palácio Tiradentes. Falando “em nome da mulher brasileira arrancou delirantes aplausos da massa popular”. Na ocasião também discursaram os deputados Plinio Casado, Marry Junior, Nelson Senna, Adolpho Bergamini e Cândido Pessoa (Diário Carioca, 21 de dezembro de 1929, segunda coluna; Diário Nacional, 21 de dezembro de 1929, segunda colunaEstado do Rio Grande, 21 de dezembro de 1929; O Jornal, 22 de dezembro de 1929, sétima coluna A Razão, 27 de dezembro de 1929; O Rebate (AC), 29 de dezembro de 1929, quarta coluna). A feminista Bertha Lutz  (1894 – 1976), da Fundação Brasileira pelo Progresso Feminino, não concordou com a atitude de Natércia que, na sua opinião, poderia comprometer a luta pelo voto feminino (O Jornal, 16 de julho de 1932, terceira coluna).

 

 

Foi publicada uma entrevista em que Natércia manifestava sua posição política em apoio à Campanha Liberal (A Batalha (RJ), 26 de dezembro de 1929).

 

 

Fez parte da equipe inicial de advogados da escritora Sylvia Serafim Thibau (1902 – 1936), que assassinou o jornalista Roberto Rodrigues (1906 – 1929), na redação do jornal a Crítica, em 26 de dezembro de 1929. O estopim do crime foi a publicação na primeira página do jornal da notícia do pedido de seu desquite do médico João Thibau Júnior, com quem Syvia tinha dois filhos, acompanhado de um desenho. O jornal a acusava de estar tendo um caso com o médico Manuel Dias de Abreu (1894 – 1962), futuro inventor da abreugrafia.

 

 

Sylvia foi ao jornal armada, atrás do editor Mário Rodrigues ( 1885 – 1930), que não estava na redação. Sylvia acabou atirando em Roberto, filho do editor. O futuro escritor Nelson Rodrigues (1912 – 1980), irmão da vítima, então com 17 anos, testemunhou o assassinato, fato que influenciou fortemente sua obra literária. Seu julgamento, em 22 de agosto de 1930, presidido pelo juiz Margarino Torres (1892 – 1942), foi o primeiro no país a ser transmitido ao vivo pelo rádio. O promotor foi Max Gomes de Paiva e o advogado de defesa, Clóvis Dunshee de Abranches. A ré foi absolvida por 5 votos a 2. Anos depois, em 27 de abril de 1936, Sylvia, que era filha de Augusto Serafim, auxiliar de Oswaldo Cruz (1872 – 1917), se suicidou (O Jornal, 27 de dezembro de 1929, primeira colunaO Jornal, 28 de dezembro de 1929, primeira colunaA Crítica, 28 de dezembro de 1929Gazeta de Notícias, 28 de dezembro de 1929, sétima colunaA Batalha, 10 de janeiro de 1930, última colunaJornal do Brasil, 12 de janeiro de 1930, terceira colunaA Batalha, 8 de abril de 1930Diário Nacional: A Democracia em Marcha, 30 de abril de 1930, segunda colunaCrítica, 23 de agosto de 1930; O Jornal, 23 de agosto de 1930).

1930 – No Hotel Glória, foi comemorado com um almoço o primeiro ano da fundação da União Universitária Feminina com a presença de Carmen Portinho (1903 – 2001), Natércia da Cunha Silveira, Amélia Sapienza, Mary Corbett, “Master of Arts”, Srta Gutrie, as estudantes de engenharia Elza Pinho, Renée Rocques e Sylvia Vacanni (Jornal do Brasil, 14 de janeiro de 1930, primeira coluna; O Paiz, 13 e 14 de janeiro de 1930, segunda coluna).

 

 

Esteve presente na missa de Ação de Graças realizada na Catedral Metropolitana do Rio de Janeiro em homenagem ao aniversário do ex-presidente da República, Epitácio Pessoa (1865 – 1942) (Jornal do Commercio, 24 de maio de 1930, segunda coluna).

Natércia estreou na Tribuna Popular, defendendo Waldemar Ferreira da Silva, acusado de assassinato. Com sua argumentação, considerada segura, muita calma e de grande oportunidade, conseguiu a desclassificação do delito para ferimentos leves, o que foi aceito. O juiz Magarino Torres havia a nomeado para a defesa porque o réu, sentenciado a sete meses e 15 dias de prisão, era pobre (Diário de Notícias, 1º de julho de 1930, terceira coluna)

Durante uma seção do Instituto dos Advogados constou do expediente a proposta da inclusão da dra. Natércia como membro efetivo da entidade (Jornal do Commercio, 25 de julho de 1930, terceira coluna).

Natércia declarou-se muito comovida com a morte de João Pessoa (1878 – 1930) e compareceu à missa de sétimo dia, celebrada na Igreja da Candelária (A Batalha, 29 de julho de 1930, penúltima colunaO Jornal, 2 de agosto de 1930, terceira coluna). João Pessoa era governador da Paraíba e candidato à vice-presidência na chapa de Getulio Vargas (1882 – 1954). Foi assassinado, em 26 de julho de 1930, no Recife, pelo jornalista João Duarte Dantas (888 – 1930), seu adversário político. A polícia da Paraíba, sob o governo Pessoa, invadiu o escritório de Dantas e, além de outras coisas, apoderou-se de cartas íntimas entre ele e a professora e poetisa Anaíde Beiriz (1905 – 1930). O crime é considerado o estopim da Revolução de 30. As últimas fotos de João Pessoa foram produzidas pouco antes de sua morte no ateliê do fotógrafo Louis Piereck (1880 – 1931).

Diário de Notícias publicou uma grande reportagem com diversas fotografias sobre o Batalhão Feminino João Pessoa, dirigido pela feminista mineira Elvira Komel (1906 -1932), no Hotel Magnífico. Em uma das fotografias, Natércia encontra-se ao lado do jornalista Hugo Auler. O Batalhão participou, com grande sucesso, do desfile do dia 15 de novembro (Diário de Notícias, de 18 de novembro de 1930).

 

 

Publicação do artigo Jury e jurados, de autoria de Natércia (A Esquerda, 3 de dezembro de 1930, última coluna).

No Tribunal do Juri atuou como advogada de defesa de João Batista de Souza, acusado pelo assassinato de João de Souza Breves (O Jornal, 24 de dezembro de 1930, primeira coluna).

1931 – Em janeiro, em companhia da também advogada e sufragista Elvira Komel (1906 – 1932), Natércia participou no Rio de Janeiro de vários encontros para pleitear apoio à causa do voto feminino (A Razão, 14 de fevereiro de 1931, segunda coluna; Vida Doméstica, fevereiro de 1931).

 

 

Fizeram visitas ao prefeito Adolpho Bergamini (1886 – 1945), às redações de A Batalha, do Jornal do Brasil , de O Jornal  e de A Noite. Na manchete da notícia da visita neste último jornal foram classificadas como “Duas batalhadoras do ideal feminista, no Brasil” (A Batalha, 16 de janeiro de 1930, última colunaA Noite, 17 de janeiro de 1931).

 

 

Encontraram-se com o então ministro do Trabalho, Lindolpho Collor (1890 – 1942), para pleitear a igualdade de direitos entre os sexos reivindicando para as mulheres o direito ao voto e as honras militares de oficiais do Exército (Diário da Noite, 13 de janeiro de 1931, quarta colunaJornal do Brasil, 14 de janeiro de 1931, primeira coluna).

Publicação de uma reportagem sobre o encontro de Elvira Komel e Natércia da Silveira com o Barão de Itararé, alcunha de Aparicio Torelly (1895 – 1971), dono do semanário humorístico A Manha (A Manha, 16 de janeiro de 1931).

Durante sua estadia no Rio de Janeiro, Elvira e Natércia encontraram-se também com o ministro da Fazenda, José Maria Whitaker (1878 – 1970), com o cardeal Sebastião Leme (1882 – 1942) e com o general Juarez Távora (1898 – 1975), no Rio de Janeiro (A Notícia (SC), 20 de janeiro de 1931, quarta colunaEu vi, 21 de janeiro de 1931; A Notícia (SC), 22 de janeiro de 1931, segunda colunaO Combate (MA), 3 de março de 1931).

 

 

Natércia da Silveira e Elvira Komel encontraram-se com a Delminda Aranha, mulher de Oswaldo Aranha (1894 – 1960), então ministro da Justiça e Assuntos Internos, para conversar sobre direitos políticos das mulheres na organização da constituinte. Já haviam estado com o próprio ministro, em janeiro (O Estado de Florianópolis, 15 de janeiro de 1931, primeira colunaO Dia (PR), 11 de fevereiro de 1931, última coluna).

Por divergir de Bertha Lutz  (1894 – 1976) em relação a questões de engajamento partidário, Natércia fundou a Aliança Nacional de Mulheres, no Rio de Janeiro, em 30 de janeiro de 1931. A entidade era mobilizada pelo tema do trabalho e foi registrada em 7 de março do mesmo ano.

 

 

A própria Natércia estruturou um projeto de atendimento voluntário, como advogada, para aconselhamento jurídico. Em seguida, médicas associadas também dedicavam um tempo para consultas gratuitas. Abaixo reportagem sobre a nova associação com fotografias de Natércia, presidente da entidade, da médica Herminia de Assis e da professora catedrática Esther Pego Rodbeere Williams, vice-presidentes; da advogada Maria Alexandrina Ferreira Chaves e da médica Amélia de Godoy, secretárias; e da engenheira civil Amélia Sapienza, tesoureira. Também faziam parte da diretoria da Aliança Nacional de Mulheres, e como tesoureira, a funcionária pública Sara Muniz Freire. /Pouco tempo depois, a escritora e jornalista Rachel Prado (1891 – 1943) foi convidada para dirigir um dos departamentos da associação. A sede provisória ficava na avenida Rio Branco, nº 33, quarto andar, sala 16. Ao longo do ano, Natércia e diversas associadas visitaram vários bairros do Distrito /federal, divulgando as propostas da Aliança Nacional de Mulheres (Correio da Manhã, 20 de fevereiro de 1931, quinta colunaDiário Carioca, 21 de fevereiro de 1931, quinta colunaO Estado (SC), 25 de fevereiro de 1931, quinta colunaA Noite, 18 de março de 1931; A Esquerda, 23 de março de 1933Diário de Notícias, 2 de abril de 1931, sexta coluna; Gazeta de Notícias, 1º de dezembro de 1935, terceira coluna).

 

 

Sobre a Aliança Nacional de Mulheres, Lindolfo Collor (1890 – 1942), ministro do Trabalho, escreveu à Natércia: “O concurso da associação, cujos delineamentos estatutários visam o amparo da mulher que trabalha será na obra que esboçamos e começamos a realizar, por certo notável, preenchendo, assim, com o esforço louvável de suas diretoras, uma das partes de nosso programa revolucionário” (Correio da Manhã, 26 de fevereiro de 1931, sétima coluna).

Após o pronunciamento do gaúcho Batista Luzardo (1892 – 1982), em Caxambu, no qual explicitou o pensamento do chefe do Governo Provisório, Getulio Vargas (1882-1954), sobre os direitos políticos das mulheres, em nome da Aliança Nacional de Mulheres, Natércia enviou telegramas ao orador, a Getulio Vargas  e ao ministro Joaquim Francisco Assis Brasil (1857 – 1938), chefe do Partido Libertador (Correio da Manhã, 11 de março de 1931, segunda coluna).

Foi uma das feministas que participou da enquete promovida pelo jornal A Esquerda sobre o voto feminino e a Constituinte (A Esquerda, 13 de março de 1931).

Uma comissão de senhoras das associações femininas do Rio de Janeiro, dentre  elas, Natércia, visitou as dependências médicas e esportivas da Light (Sino Azul, março de 1931O Jornal, 19 de março de 1931, segunda coluna; A Esquerda, 19 de março de 1931, terceira coluna).

Resposta de Natércia à enquete “Deve a mulher ser guerreira ou pacifista?”, promovida pelo jornal A Esquerda: “Sou pela paz, desde que essa paz não repouse no aviltamento de uma raça e não macule uma nacionalidade” (A Esquerda, 24 de março de 1931).

Natércia e Hemínia de Assis foram visitar uma fábrica onde haviam sido informadas que as moças trabalhavam em péssimas condições (A Batalha, 25 de março de 1931, terceira coluna).

Foi a oradora, representando a Aliança Nacional de Mulheres, no desembarque do chefe da Polícia do Distrito Federal, o gaúcho Batista Luzardo (1892 – 1982), paladino ardoroso dos direitos femininos, no Rio de Janeiro. Da diretoria da associação, também estiveram presentes ao evento Maria Alexandrina Ferreira Chaves, Isolina Becker de Segadas Vianna e Amélia Sapienza (A Esquerda, 31 de março de 1931A Batalha, 31 de março de 1931, quarta coluna; A Esquerda, 1º de abril de 1931).

Enquanto a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino afastava de seu programa as questões políticas e religiosas, a Aliança Nacional de Mulheres queria a participação ativa na vida política brasileira política de renovação intelectual e moral para a obra de rejuvenescimento da pátria. O primeiro manifesto da Aliança Nacional de Mulheres foi irradiado em 12 de abril de 1931 (A Batalha, 7 de abril de 1931Jornal do Recife, 11 de abril de 1931, sexta coluna).

 

 

Em sua sede provisória, no Edifício do Liceu de Artes e Ofícios, realizou-se uma reunião da Aliança Nacional de Mulheres com a presença de várias associadas. ficou estabelecido que a entidade promoveria conferências de instrução, educação e orientação das mulheres sobre educação moral e cívica, educação higiênica, educação associativa e cooperativa, educação econômica tanto individual como doméstica, educação artística e educação política, versando sobre direitos civis e políticos, orientando o critério de seleção eleitoral. Natércia agradeceu a diversas lojas comerciais por ajudarem a Aliança e informou que a associação se pronunciaria sobre a reforma da legislação. Tratou também do programa de alfabetização das sócias e ressaltou que o atendimento médico e jurídico às mesmas seria totalmente grátis (Diário da Noite, 2 de maio de 1931, penúltima colunaDiário de Notícias, 5 de maio de 1931).

Na agência da Prefeitura de Campo Grande, a Aliança Nacional de Mulheres iniciou uma série de visitas com o objetivo de propagar as ideias e iniciativas da associação (Jornal do Brasil, 19 de maio de 1931, segunda coluna).

Fotografias de Bertha Lutz  (1894 – 1976) e de Natércia ilustraram uma reportagem sobre a expansão do feminismo no Brasil (Excelsior, julho de 1931).

 

 

Foi a representante do Rio Grande do Sul no Segundo Congresso Internacional Feminista, promovido pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, sob a orientação de Bertha Lutz  (1894 – 1976) (O Jornal, 19 de junho de 1931, primeira coluna).

Foi a vice-presidente, em junho de 1931, do I Congresso Feminino Mineiro, em Belo Horizonte, presidido por Elvira Komel (1906 – 1932). Foi publicada a programação do evento (Excelsior, junho de 1931). Durante o evento, representantes de municípios mineiros, do Espírito Santo, de Goiás, da Paraíba, do Rio Grande do Sul, e da Aliança Nacional de Mulheres, fundada por Natércia da Silveira, discutiram questões acerca da emancipação da mulher. A Além de Natércia, a Aliança foi representada pelas médicas Herminia de Assis, membro do Conselho Deliberativo do Sindicato Médico Brasileiro; Amélia de Godoy, do Hospital Pedro II; Isolina Becker de Segadas Vianna, Olga Gervais Vieira, ex-interna e assistente voluntária da clínica oftalmológica da Faculdade de Medicina; Ermilinda Lopes de Vasconcelos, primeira médica formada no Brasil; Ercilia Rocha Pitta e Eponina Rua. Também integravam a comitiva da associação Esmeralda Souto, dentista e regente da cadeira de Geografia e Cosmografia do Liceu de Humanidades Nilo Peçanha, em Niterói; a advogada Maria Alexandrina Pereira Chaves; a escritora e jornalista Anna César, membro da Associação Brasileira de Imprensa; a professora Joanna Brasil Silvado, a farmacêutica Elvira Roch e a engenheira civil Amélia Sapienza. Natércia foi também representante dos jornais A Batalha e A Esquerda, no congresso e, a pedido de José Antônio Flores da Cunha (1880 – 1959, governador do Rio Grande do Sul, representou o estado no evento. Na ocasião, foi aprovada unanimemente uma moção de apoio ao governo revolucionário (A Batalha, 5 de junho de 1931, quarta colunaCorreio da Manhã, 6 de junho de 1931, primeira coluna; A Batalha, 20 de junho de 1931, penúltima colunaCorreio da Manhã, 23 de junho de 1931, terceira colunaDiário de Notícias, 23 de junho de 1931, quarta colunaCorreio da Manhã, 30 de junho de 1931, sétima coluna; A Esquerda, 7 de julho de 1931, quinta colunaDiário da Noite, 31 de julho de 1931, quarta colunaDiário Carioca, 14 de agosto de 1931, última coluna).

 

 

 

O governador do Rio Grande do Sul, Flores da Cunha, enviou a Natércia um telegrama a felicitando por sua participação brilhante no I Congresso Feminino Mineiro (A Batalha, 2 de julho de 1931, segunda coluna).

Ela e Bertha Lutz  (1894 – 1976) foram algumas das representantes do II Congresso Internacional Feminista recebidas, no Palácio do Catete, por Getulio Vargas (1882 – 1954), chefe do Governo Provisório (Diário de Notícias, 17 de julho de 1931, segunda coluna).

Foi auxiliar de acusação no julgamento de Sidney da Rocha Sampaio, acusado de assassinato (A Noite, 6 de agosto de 1931, quarta coluna).

Foi recebida no Palácio do Catete por Getulio Vargas (1882 – 1954) (Correio da Manhã, 21 de agosto de 1931, quarta coluna).

O Ministério da Educação remeteu ao diretor geral do Departamento de Ensino os decretos já referendados que nomearam Adelaide Bastos Tornaghi e Natércia para exercer em comissão as funções de inspetoria em estabelecimentos de ensino secundário no Distrito Federal. Amélia Sapienza, tesoureira da Aliança Nacional de Mulheres, exerceria as mesmas funções em São Paulo (O Jornal, 5 de setembro de 1931, primeira coluna).

Publicação de uma reportagem intitulada A nova legislação eleitoral e o voto feminino, com a história do movimento feminista no Brasil, onde a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, dirigido por Bertha Lutz  (1894 – 1976), a União Universitária Feminina e a Aliança Nacional de Mulheres, presidida por Natércia foram citadas como importantes iniciativas para a emancipação da mulher no país. Na matéria foi publicado também a lista dos países onde as mulheres já possuíam direito ao voto e comentada a liderança do Rio Grande do Norte na concessão de direitos políticos às mulheres, por intermédio do governador Juvenal Lamartine. Foi transcrito também o discurso proferido por Ruy Barbosa (1849 – 1923) no Teatro Lyrico em apoio à causa feminina (A Batalha, 13 de setembro de 1931).

 

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Como presidente da Aliança Nacional de Mulheres, Natércia da Silveira anunciou a presença de Elvira Komel na reunião da entidade. Na ocasião, Elvira foi saudada pela professora paraense Adélia de Lacerda (Correio da Manhã, 2 de outubro de 1931, sétima coluna).

Duas advogadas, a paulista Maria Xavier da Silveira e Natércia atuaram em conjunto no Tribunal do Juri e conseguiram a absolvição do réu Chrispim do Nascimento, acusado de assassinato (Diário de Notícias, 26 de novembro de 1931, penúltima coluna; A Noite Ilustrada, 2 de dezembro de 1931; O Cruzeiro, 12 de dezembro de 1931).

 

 

 

Natércia e outras associadas da Aliança Nacional de Mulheres fizeram uma visita ao Instituto Nacional de Surdos-Mudos (Diário de Notícias, 1º de dezembro de 1931, última coluna). Na reunião mensal da associação, ocorrida no dia seguinte, Natércia revelou que havia pedido a Getulio Vargas a criação de uma seção feminina no instituto (Correio da Manhã, 2 de dezembro de 1931, segunda coluna).

Participou, no Beira-Mar Cassino, de uma homenagem a João Neves da Fontoura (1887 – 1963), que havia lançado em Porto Alegre uma campanha em prol da convocação da Constituinte (Diário Carioca, 26 de dezembro de 1931, quinta coluna).

Foi realizada a última reunião mensal do ano da Aliança Nacional de Mulheres na qual foi feito um balanço muito positivo da associação ao longo de 1931 (Correio da Manhã, 1º de janeiro de 1932, quarta coluna).

1932 – Foi nomeada segunda adjunta do procurador do Conselho Nacional do Trabalho (Jornal do Brasil, 21 de janeiro de 1932, quinta colunaDiário de Notícias, 24 de janeiro de 1932, segunda coluna).

Publicação de uma reportagem com um balanço do primeiro ano de existência da Aliança Nacional de Mulheres (Correio da Manhã, 31 de janeiro de 1932, quarta coluna).

Na reunião comemorativa do primeiro ano da Aliança Nacional de Mulheres, Natércia propôs a criação da Caixa de Auxílio à Mulher Desamparada (Correio da Manhã, 4 de fevereiro de 1932, quarta coluna).

Decreto nº 21.076, de 24 de fevereiro de 1932 instituiu o Código Eleitoral Provisório e reconheceu o direito de voto às mulheres.

No Automóvel Clube, realização de um almoço em homenagem a Natércia (Para Todos, 27 de fevereiro de 1932).

 

 

Foi entrevistada por Branca de Castro para a revista Brasil Feminino, de março de 1932.

 

 

Requereu sua inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil e foi requisitado, assim como a outros requerentes, que ela explicasse a diversidade entre sua assinatura e o nome com o qual figurava na relação do registro da Corte de Apelação (O Jornal, 13 de março de 1932, segunda coluna).

Na reunião mensal da Aliança Nacional de Mulheres, a primeira realizada após a promulgação da lei eleitoral concedendo o voto à mulher, decidiu-se o envio de uma moção para Getulio Vargas e para Maurício Cardoso (1888 – 1938), ministro da Justiça, como uma demonstração do júbilo da associação (Correio da Manhã, 1º de abril de 1932, sexta coluna).

Ela e uma comissão da Aliança Nacional de Mulheres foram visitar os Grandes Laboratórios Farmacêuticos (Brasil Feminino, maio de 1932).

 

 

Na reunião mensal da Aliança Nacional de Mulheres, foi anunciada a criação do Departamento de Professoras, que seria instalado em breve e dirigido por Maria do Carmo Vidigal (Correio da Manhã, 4 de maio de 1932, última coluna).

Participou no Salão da Sociedade Riograndense, onde todo o alto mundo carioca estava reunido, da leitura do livro Migalhas, da poetisa gaúcha e diretora da revista Brasil Feminino, Iveta Ribeiro (1886 – 1962), seguido por uma apresentação de declamação e canto de Zoraide Aranha (Revista da Semana, 25 de junho de 1932).

 

 

Na reunião mensal da Aliança Nacional de Mulheres, foi anunciada a instalação do Departamento Eleitoral , a cargo da professora Adelaide Horta de Andrade, a quem as sócias deveriam se dirigir para questões de alistamento eleitoral (Correio da Manhã, 3 de junho de 1932, última coluna).

Foi enviado a Getulio Vargas uma carta indicando Natércia para a comissão para elaborar o anteprojeto da nova Constituição “não só por seus serviços à causa da mulher e da Revolução Brasileira como por ser possuidora da necessária cultura científica para essa missão“(República (SC), 17 de junho de 1932, terceira coluna).

Natércia, na época adjunta do Procurador Geral do Conselho Nacional do Trabalho, foi indicada pela Aliança Nacional de Mulheres, por ofício ao Ministro da Justiça, Francisco Campos, em 24 de junho de 1932, para integrar a comissão para elaborar o anteprojeto da nova Constituição. O documento foi assinado por sua vice-presidente, Herminia de Assis, fazendo referência à sua representatividade de 1.900 mulheres (corpo de sócias de médicas, advogadas, engenheiras, professoras, escritoras, funcionárias públicas, empregadas do comércio, operárias e domésticas), para inclusão de uma representante feminina na Comissão:

Para esta missão indicamos a Dra. Natércia da Cunha Silveira, Advogada e adjuncto do Procurador Geral do Conselho Nacional do Trabalho. Pelos seus serviços á causa da mulher brasileira e á Revolução, pela sua cultura solida, que a impoz em nosso meio social, apresenta ella as credenciaes necessárias para o encargo. Nossa representação conta elemento de todas as classes sociaes: medicas, advogadas, engenheiras, professoras, escriptoras, funcionarias publicas, empregadas no comercio, operarias e domesticas“.

A escritora Ilka Labarthe (? – 1975) proferiu a palestra A incorporação da mulher proletária na sociedade durante a reunião da Aliança Nacional de Mulheres, presidida pelo embaixador do México, A. Reys. A escritora também lançou a candidatura de Natércia para integrar a comissão para elaborar o anteprojeto da nova Constituição.(A Noite, 1º de julho de 1932, última coluna).

Outro ofício da Aliança, de 7 de julho de 1932, elaborado após uma assembleia com mais de três mil mulheres do Rio de Janeiro, com a assinatura de 348 mulheres, foi encaminhado a Getulio Vargas, com a indicação de Natércia. Bertha Lutz (1894 – 1976), da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, e Carmen Portinho (1903 – 2001), pela União Universitária Feminina, também foram indicadas, o que causou um impasse. Entre Bertha Lutz (1894 – 1976) e Natércia houve um conflito aberto. A mineira Elvira Komel, a pernambucana Martha de Hollanda, presidente da Cruzada Feminina Brasileira, e a escritora Ilka Labarthe (? – 1975)apoiaram a indicação de Natércia, que escreveu a Getulio Vargas, retirando sua candidatura, após saber de  uma intempestiva agressão pelas partidárias da sra. Bertha Lutz. Dias depois, a professora Adelaide Horta de Andrade entregou, em nome da Aliança, uma moção a Getulio, afirmando que as afiliadas da entidade continuavam a desejar unanimemente a nomeação de Natércia. Sua amiga, Maria do Patrocínio Oliveira, lembrou que toda vez que contavam a Natércia alguma maquinação da inveja e do despeito ela falava o ditado: “Eu sou como o jequitibá da floresta, o machado que tentar derribar-me há de criar dentes” (Correio da Manhã, 2 de julho de 1932, sexta coluna; A Batalha, 3 de julho de 1932Correio da Manhã, 5 de julho de 1932, segunda colunaDiário de Notícias, 5 de julho de 1932, penúltima colunaA Batalha, 6 de julho de 1932; Correio da Manhã, 9 de julho de 1932, sexta coluna; O Radical, 9 de julho de 1932, primeira colunaA Gazeta(SP), 9 de julho de 1932, quarta colunaCorreio da Manhã, 13 de julho de 1932, quarta coluna).

 

 

Finalmente, Natércia foi nomeada para integrar a comissão para elaborar o anteprojeto da nova Constituição, fato comemorado na Confeitaria Paschoal. Bertha Lutz  (1894 – 1976) também foi indicada (Correio da Manhã, 14 de julho de 1932, terceira coluna; Correio da Manhã, 19 de julho de 1932, primeira coluna; Brasil Feminino, dezembro de 1932).

Natércia foi a capa da revista Brasil Feminino de julho de 1932.

 

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Como presidente da Aliança Nacional de Mulheres assinou o manifesto da Cruz Vermelha dirigido ao governo provisório no sentido de pacificar o país que passava pela Revolução Constitucionalista de 1932, movimento armado que expressava a insatisfação dos paulistas com a Revolução de 1930 (O Jornal, 28 de julho de 1932, terceira colunaJornal do Recife, 30 de julho de 1932, última coluna). O movimento serviu, antes de mais nada, para convencer o Governo Provisório de Getulio Vargas da necessidade de pôr fim ao caráter discricionário do regime sob o qual vivia o país. Isto só aconteceria quando a constituição de 1890, tornada sem efeito, fosse substituída por outra. A Revolução Constitucionalista começou em 9 de julho de 1932 e terminou alguns meses depois, em 1º de outubro.

A Aliança Nacional de Mulheres decretou luto de oito dias devido à morte prematura de Elvira Komel (1906 – 1932), líder do movimento feminista em Minas Gerais (Correio da Manhã, 28 de julho de 1932, oitava coluna).

Abaixo, registro do embarque, na Central do Brasil, de uma comissão da Aliança Nacional de Mulheres, que apoiava o governo, para visita ao front do setor leste. Visitaram também os prisioneiros na Ilha Grande (O Radical, 17 de agosto de 1932, quinta colunaA Noite, 24 de agosto de 1932; Revista da Semana, 27 de agosto de 1932; Revista da Semana, 27 de agosto de 1932; O Cruzeiro, 27 de agosto de 1932).

 

 

 

 

Foi promovida, em Niterói, pelo Departamento Fluminense da Aliança Nacional de Mulheres, uma reunião de professoras, sob a direção de Natércia (Revista da Semana, 17 de setembro de 1932).

Casamento de Octacília da Cunha Vieira , irmã de Natércia, com José Ferreira Noval (Vida Doméstica, outubro de 1932).

Em 27 de outubro, o presidente Getulio Vargas nomeou a comissão do anteprojeto da nova Constituição brasileira, três semanas após o fim  da Revolução Constitucionalista. Era formada por 23 componentes, dentre eles Bertha Lutz (1894 – 1976) e Natércia da Cunha Silveira.

 

 

Na fotografia abaixo, Natércia e Bertha Lutz (1894 – 1976) com Afrânio de Melo Franco (1870 – 1943), Agenor Lafayete de Roure ( 1870 – 1935), Carlos Maximiliano Pereira dos Santos (1873 – 1960), Francisco Antunes Maciel  Júnior (1881 – 1966) e José Américo de Almeida (1887-1980), no dia da instalação da Comissão do Anteprojeto da Constituinte, no Palácio Monroe (Correio de São Paulo, 9 de novembro de 1932).

 

 

Fez uma contribuição à Casa do Pobre de Copacabana (Beira-Mar: Copacabana, Ipanema, Leme, 8 de outubro de 1932, quinta coluna).

Ela e Adalzira Bittencourt (1904 – 1976) eram consultoras jurídicas da revista Brasil Feminino. Na edição de dezembro da revista foi publicada a matéria Feminismo – O que a mulher deve querer , sobre a instalação oficial da Comissão do Anteprojeto da Constituinte e sobre o papel de Natércia e Bertha como representantes femininas (Brasil Feminino, dezembro de 1932).

 

 

O escritório de advocacia de Natércia ficava na avenida Rio Branco, nº 183, sala 501, onde permaneceu até 1937 (Beira-mar, 26 de novembro de 1932Almanak Laemmert, 1934; Almanak Laemmert, 1937).

 

 

Natércia da Cunha Silveira e a escritora Olga Monteiro de Barros patrocinaram, no Instituto Nacional de Música um concerto com a participação do pianista Ênio de Freitas (1911 – 1975), da harpista Jacy Lobato e do flautista Moacyr Lisserra (1905-1971) (Fon-Fon, 17 de dezembro de 1932).

1933 - Natércia justifica não ter aceito o convite, feito pela escritora Ikla Labarthe para participar de uma convenção cujo tema seria a criação de um Partido Nacional Revolucionário, ideia do Partido Socialista Brasileiro (Diário Carioca, 11 de janeiro de 1933, terceira coluna).

Foi uma das homenageadas na inauguração de uma galeria de retratos no Tribunal do Juri com retratos das maiores figuras da defesa que funcionaram na sede nova da instituição desde 1927 (Correio da Manhã, 19 de janeiro de 1933, terceira coluna).

Foi enviado ao prefeito Pedro Ernesto (1884 – 1942) as conclusões do Departamento das Professoras da Aliança Nacional de Mulheres sobre a reforma da Instrução Municipal (Diário da Noite, 27 de janeiro de 1933).

Vários eventos marcaram o aniversário de dois anos da aliança Nacional de Mulheres. Um deles realizou-se no salão nobre da Associação dos Empregados do comércio, quando Natércia foi homenageada com um festival literário e musical (A Noite, 28 de janeiro de 1933, quarta colunaJornal do Brasil, 1º de fevereiro de 1933, primeira coluna).

 

 

 

As feministas Natércia e Ilka Labarthe (? – 1975) tiveram suas mãos lidas (O Malho, 4 de fevereiro de 1933).

 

 

A pedido da Aliança Nacional de Mulheres foi proibido que homens se fantasiassem de mulheres grávidas durante o carnaval no Distrito Federal (Diário da Noite, 22 de fevereiro de 1933, terceira coluna).

Na reunião mensal da Aliança Nacional de Mulheres, foi discutida a candidatura de Natércia à Assembleia Constituinte (Correio da Manhã, 1º de abril de 1933, última coluna).

Publicação de uma reportagem sobre as candidatas à Assembleia Constituinte (Noite Ilustrada, 2 de abril de 1933).

Em 20 de abril, o Departamento Político da Aliança Nacional de Mulheres, realizou na sede social da associação, localizada na rua 13 de maio, nº 33/35, quarto andar, uma reunião para apresentar o programa de pré-candidatura de sua presidente, Natércia, à Assembleia Constituinte (Diário Carioca, 20 de abril de 1933, última coluna).

Em 27 de abril, realizou-se, na Esplanada do Castelo, um comício feminino organizado pela Aliança Nacional de Mulheres, em prol da candidatura de Natércia para deputada constituinte. Ela não pode comparecer devido a uma indisposição súbita (Diário da Noite, 26 de abril de 1933, segunda coluna; Correio da Manhã, 28 de abril de 1933, primeira coluna).

 

 

Além dela, foram candidatas para deputadas constituintes pelo Rio de Janeiro a bióloga Bertha Lutz (1894 – 1976), a escritora e jornalista Anna César Vieira (? – 1942), a escritora socialista Ilka Labarthe (? – 1975) e Georgina de Azevedo Lima (? – 19?) que, segundo a reportagem publicada na Revista da Semana, não se sabia de trabalhos feministas. Na matéria da Revista da Semana, a professora baiana Leolinda Daltro (1859 – 1935), também candidata e uma das precursoras do feminismo no Brasil, declarou-se satisfeita por testemunhar a candidatura de mulheres a cargos políticos no país (Correio da Manhã, 26 de abril de 1933, terceira colunaRevista da Semana, 20 de maio de 1933). Nenhuma delas foi eleita.

 

 

 

Fotos das demais candidatas:

 

 

 

 

 

A eleição aconteceu em 3 de maio de 1933. A professora Olga Monteiro de Barros (c. 1868 – 1943) fez um apelo em prol da  candidatura de Natércia (Jornal do Brasil, 3 de maio de 1933, penúltima coluna), que obteve 3.220 votos, mas não foi eleita (Jornal do Brasil, 3 de maio de 1933; A Noite, 31 de julho de 1933, segunda coluna). Bertha Lutz recebeu 15.756 votos; Georgina Azevedo Lima, 14.093; e Ilka Labarthe, 3.869.

 

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                                       A Batalha, 1º de julho de 1933

 

A pedido de Natércia, o ministro da Fazenda, Oswaldo Aranha (1894 – 1960), autorizou a realização de uma loteria em benefício à Caixa de Auxílio da Mulher Desamparada, da Aliança Nacional de Mulheres (Diário da Noite, 4 de setembro de 1933, quarta coluna).

O anúncio do noivado de Natércia com o médico e cirurgião da Assistência Municipal, o gaúcho Paulo Arthur Pinto da Rocha (1901 – 1972), um espírito elegante, foi considerado uma notícia amável para a sociedade carioca. Casaram-se, em 9 de setembro de 1933, no Rio de Janeiro. O casamento constituiu uma nota de elegância na sociedade carioca. Ela adotou o sobrenome do marido passando a chamar-se Natércia Silveira Pinto da Rocha  (Jornal do Brasil, 21 de julho de 1933, terceira colunaDiário da Noite, 9 de setembro de 1933, segunda colunaA Noite Ilustrada, 13 de setembro de 1933; Vida Doméstica, outubro de 1933).

 

 

Foi com os professores Alexandre Pogio, Eustorgio Wanderley, Lourdes Moreira Ribeiro e Maria Rosa Moreira Ribeiro organizadora do Teatro da Criança, com caráter estritamente educacional, tendo como objetivos principais o aprendizado da califasia da música, do canto orfeônico e da dança e da arte de representação. Para isso ofereceria cursos práticos (Jornal do Brasil, 8 de novembro de 1933, terceira coluna).

Natércia, o jornalista e presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Herbert Moses (1884 – 1972), o escritor e político Humberto de Campos (1886 – 1934) e o médico e político Washington Pires (1892 – 1970) foram os patrocinadores da solenidade de posse da diretoria da União Brasileira dos Estudantes, na sede da ABI, no dia 10 de dezembro de 1933 (O Paiz, 6 de dezembro de 1933, última coluna).

1934 - Foi eleita a nova diretoria da Aliança Nacional de Mulheres para o triênio de 1934 a 1937 e foi realizado uma missa na Igreja Santa Cruz dos Militares e um almoço no Automóvel Club (Jornal do Brasil, 24 de janeiro de 1934, segunda coluna).

 

 

No concurso do Banco do Brasil, a colaboração feminina não estava sendo aceita. Natércia escreveu para o presidente do Banco do Brasil, Arthur Costa (1893 – 1957); para Oswaldo Aranha (1894 – 1960), ministro da Fazenda; e para o presidente da República, Getulio Vargas, no sentido de conseguir a reversão desta situação (Correio da Manhã, 22 de fevereiro de 1934, quarta coluna).

Natércia foi agraciada com o título de membro perpétuo da União Cultural Universal de Sevilha (Correio da Manhã, 24 de fevereiro de 1924, última coluna; O Jornal, 24 de fevereiro de 1934, segunda coluna).

Foi publicado o artigo Benefícios mutilados, de sua autoria, sobre a necessidade de desenvolver e aperfeiçoar  a obra de assistência social…É um mito com arremedos de realidade a que existe (Jornal do Brasil, 6 de abril de 1934, quinta coluna).

Em nome da Aliança Nacional de Mulheres, Natércia enviou a Getulio Vargas (1882 – 1954), chefe do Governo Provisório, um apelo relativo à comutação de pena de delinquentes primários, conforme decidido na reunião mensal da entidade (O Paiz, 3 de junho de 1934, quinta coluna).

As reuniões mensais da Aliança Nacional de Mulheres continuavam a ser realizadas (Correio da Manhã, 6 de setembro de 1934, sétima coluna).

Concorreu a vereadora pela Frente Única do Distrito Federal, em 14 de outubro de 1934, e obteve 22.559 votos, tornando-se suplente (Diário de Notícias, 12 de outubro de 1934, terceira colunaCorreio da Manhã, 13 de outubro de 1934, última coluna; Correio da Manhã, 1º de fevereiro de 1935, quarta coluna; Jornal do Brasil, 3 de fevereiro de 1935, sexta coluna).

 

 

1935  Ao longo de 1935 e 1936, participou de diversas reuniões do Conselho Nacional do Trabalho.

Em uma entrevista, Natércia dá suas opiniões sobre o movimento feminista e mais uma vez reafirma a necessidade de uma cultura científica, profissional e objetiva para a concretização das conquistas femininas. “Essa cultura é o denominador comum que devemos alcançar” (A Nação, 5 de maio de 1935).

Natércia manifestou seu pesar com a morte da professora Leolinda Daltro (1859 – 1935), que fazia parte da comissão fiscal da Aliança Nacional de Mulheres (Jornal do Brasil, 8 de maio de 1935, quinta coluna). Baiana e atuante ativista pela emancipação da mulher, Leolinda viveu a maior parte de sua vida no Rio de Janeiro e foi uma das precursoras do indigenismo e do feminismo no Brasil. Defendia a incorporação da população indígena brasileira à sociedade a partir da alfabetização laica e para por sua ideia em prática, entre 1896 e 1897,  percorreu o interior do país. Organizou, em 1906, o organizou a Grêmio Patriótico Leolinda Daltro destinado à proteção dos índios. Era muita amiga da primeira mulher do presidente Hermes da Fonseca (1855 – 1923), Orsina Fonseca (1858 – 1912) que, como ela, era a favor da igualdade entre os sexos. Em 1910, fundou o Partido Republicano Feminino (PRF) para mobilizar as mulheres em torno do direito ao voto feminino. Fundou a Escola de Ciências, Artes e Profissões Orsina da Fonseca e a primeira Escola de Enfermeiras Laicas do Brasil, da Cruz Vermelha, ambas em 1911. Em 1919, candidatou-se ao cargo de intendente municipal pela cidade do Rio de Janeiro. Em 1920, lançou o livro Da catequese dos índios do Brasil (notícias e documentos para a história). Em 1933, foi candidata pelo Partido Nacional do Trabalho para deputada constituinte, mas não se elegeu. Faleceu em um desastre de automóvel em 4 de maio de 1935 (Jornal do Brasil, 2 de novembro de 1906, oitava colunaRevista Feminina, de 1919Revista da Semana, 20 de maio de 1933A Noite, 3 de agosto de 1934, primeira colunaCorreio da Manhã, 5 de maio de 1935, sexta colunaRevista da Semana, 11 de maio de 1935).

 

 

 

Natércia foi uma das promotoras de uma homenagem a o dramaturgo Renato Vianna (1894 – 1953), criador do Theatro Escola, no Studio Nicolas (Jornal do Brasil, 23 de maio de 1935, quarta coluna; Gazeta de Notícias, 24 de maio de 1935, quinta coluna).

Natércia e Evaristo de Morais (1871 – 1939) foram alguns dos advogados que se ofereceram para defender, sem nenhuma remuneração, o jornalista Américo Novais, acusado de ter atirado em Oscar Viana, oficial de gabinete do Ministério da Agricultura (Jornal do Brasil, 23 de junho de 1935, sétima coluna).

Participou, na Rádio Guanabara, de um programa comemorativo do centenário da Revolução Farroupilha , na Hora do Brasil. Também estavam presentes Dario Crespo, Lindolpho Collor, Lourival Fontes e Luiz Aranha (Gazeta de Notícias, 22 de setembro de 1935).

 

 

1936 - Escreveu o artigo A insegurança do funcionário público (Jornal do Brasil, 11 de julho de 1936, penúltima coluna).

Natércia foi uma das advogadas, Virgolino da Silva, acusado pelo assassinato de Hermeto Faria, chefe da portaria da Câmara dos Deputados (Diário de Notícias, 4 de setembro de 1936, penúltima coluna).

Foi uma das mulheres citadas na reportagem Personalidades Femininas Brasileiras. Segundo a matéria, ela teria fundado o Centro Cívico Feminino de Porto Alegre (A Nação, 13 de dezembro de 1936).

1937 - Na sede da Aliança Nacional de Mulheres, proferiu uma palestra sobre A mulher brasileira em face da Constituição (Correio da Manhã, 16 de julho de 1937, quinta coluna).

1938 – Em um processo do Instituto dos Bancários, Natércia defendeu a obrigatoriedade de pagamento a empregada gestante vencimentos integrais, mesmo afastada do serviço, na forma da lei.

“Reduzir à mulher que trabalha, as fontes de renda de sua atividade pouque necessita interrompê-la para, com sacrifíco próprio, embora o mais dignificante dos saccrifícios, tornar-se mães, não é só desumano, é, sobretudo, o que interessa para a solução do caso, inconstitucional” (O Radical, 17 de abril de 1938, quinta coluna; O Radical, 19 de abril de 1938, primeira coluna; O Radical, 29 de agosto de 1938, terceira coluna).

Escreveu o artigo A aposentadoria compulsória o e Tribunal de Contas (Jornal do Brasil, 22 de abril de 1938, quarta coluna).

Nascimento de Velleda Maria, filha de Natércia e Paulo Arthur, em 1º de setembro que foi batizada, na Igreja Nossa Senhora da Paz (A Noite, 7 de outubro de 1938, sexta coluna).

Foi decretado, em 10 de novembro, o Estado Novo, que vigorou até 31 de janeiro de 1946. Foram fechados o  Congresso Nacional e os partidos políticos foram extintos. A Aliança Nacional de Mulheres foi extinta, mas Natércia deu continuidade a sua vida profissional atuando no fórum do Rio de Janeiro.

1938 – Ao longo do ano, apresentou 1164 processos na Procuradoria Geral do Conselho Nacional do Trabalho  (Gazeta de Notícias, 6 de janeiro de 1939, segunda coluna).

1939 – Natércia fazia parte da comissão especial constituída pelo ministro do Trabalho, Waldemar Falcão (1895 – 1946), para preparar as teses que seriam apresentadas pela delegação brasileira na II Conferência dos Estados da América membros da Organização Internacional do Trabalho, que se realizaria, em Havana, em novembro de 1939 (O Jornal, 14 de setembro de 1939, quarta coluna).

1940 – Foram concluídos os trabalhos da comissão nomeada pelo ministro do Trabalho, Waldemar Falcão (1895 – 1946), em 5 de março de 1940, para rever a legislação sobre trabalhos de mulheres e menores, cuja uma das integrantes era Natércia (O Imparcial, 6 de março de 1940, primeira colunaA Batalha, 16 de junho de 1940, segunda coluna). Sobre o assunto, Natércia deu uma entrevista ao jornal A Noite, de 26 de março de 1940.

Era uma das professoras do curso de Assistência Social, de extensão universitária, mantido pela Escola Técnica de Serviço Social, na Escola Nacional de Belas Artes. Continuou a lecionar no curso em 1941 e 1942 (Jornal do Brasil, 9 de 1940, segunda coluna).

1941 - Natércia estava na Procuradoria Geral do Conselho Nacional do Trabalho ligada a questões da Justiça do Trabalho, ainda não instalada (Jornal do Commercio, 20 e 21 de janeiro de 1941, terceira coluna).

Era uma das integrantes da comissão especial instituída pelo Conselho Nacional do Trabalho para acompanhar a incorporação ao Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Marítimos das Caixas de Aposentadoria e Pensões dos Portuários (O Jornal, 22 de março de 1941, última coluna).

Natércia da Silveira comenta um memorial dos bacharelandos de Direito da Faculdade de Niterói submetido ao presidente da República, Getulio Vargas, – que mandou arquivá-lo – , segundo o qual haveria a necessidade de uma regulamentação das atividades femininas no nos serviços públicos, em cujo crescimento anteviam graves riscos tanto para a ordem pública e social como para a doméstica (A Noite, 18 de maio de 1941, sexta coluna).

 

 

Fez um donativo à uma instituição ligada à Santa Casa de Misericórdia (Jornal do Commercio, 27 de agosto de 1941, quinta coluna).

Falecimento do pai de Natércia, Manoel da Cunha Silveira. Além de Natércia, convidavam para a missa seus irmãos Demócrito, Cézar, Athalia, Hesione e Octacília, seus respectivos cônjuges e filhos (Correio da Manhã, 28 de agosto de 1941, quarta colunaA Noite, 30 de julho de 1941, terceira coluna).

1942 - Como procuradora, integrou uma comissão de inquérito que investigaria uma denúncia contra Rubens de Amaral Soares, diretor da Divisão de Fiscalização do Departamento de Previdência Social do Conselho Nacional do Trabalho. A denúncia foi feita pelo inspetor de Previdência, Nilo de Albuquerque (O Radical, 28 de maio de 1942, quinta coluna).

Fazia parte do quadro de sócios efetivos do Instituto Brasileiro de Direito do Trabalho (A Noite, 25 de abril de 1943, sétima coluna).

1943 - Não era a favor do divórcio (A Manhã, 12 de novembro de 1943, terceira coluna).

1944 - Natércia era a advogada de defesa do soldado do Exército, Jordão Seixas, acusado de assassinato. Natércia alegou legítima defesa e ele foi condenado a dez meses de prisão (O Jornal, 7 de setembro de 1944, sexta coluna).

1945 - Foi uma das organizadoras com Carmen Portinho (1903 – 2001), Maria Luisa Dória de Bittencourt (1910 – 2001), primeira deputada da Bahia; Maria Rita Soares de Andrade (1904 – 1998), que viria a ser a primeira juíza federal do Brasil, e outras mulheres, de uma coligação democrática para apoiar a candidatura do brigadeiro Eduardo Gomes (1896 – 1981) à presidência da República (Diário de Notícias, 24 de fevereiro de 1945, quinta coluna).

Na sede da Associação Brasileira de Imprensa, eleição do Diretório da União Democrática Nacional (UDN). Ela, Carmen Portinho (1903 – 2001) e Maria Rita Soares de Andrade (1904 – 1998) compunham o Comitê Feminino do Distrito Federal. A UDN foi fundada em 7 de abril de 1945 como uma “associação de partidos estaduais e correntes de opinião” contra a ditadura do Estado Novo e sua principal bandeira foi a oposição constante a Getulio Vargas e ao getulismo (O Jornal, 7 de abril de 1945, sexta coluna; Correio da Manhã, 8 de abril de 1945, sexta coluna).

Foi uma das signatárias do movimento de apoio de advogados à candidatura de Eduardo Gomes à presidência da República, que foi vencido, em 2 de dezembro de 1945, pelo general Eurico Gaspar Dutra (1883 – 1974), da aliança entre O PTB e o PSD. O movimento era encabeçado por uma comissão chefiada por Adauto Lúcio Cardoso (1904 – 1974)  (Diário Carioca, 28 de junho de 1945, última coluna).

Natércia foi uma das convidadas para uma homenagem da União Democrática Nacional (UDN) em homenagem a ex-deputada federal Carlota Pereira de Queiroz (1892- 1982), na época membro da Comissão Executiva da UDN. Ela foi a primeira deputada federal do Brasil, eleita em 1934. A recepção foi oferecida pela sra. Arnon de Mello, em nome do Comitê Feminino da UDN (Correio da Manhã, 31 de agosto de 1945, quarta coluna).

Participou de uma festa da União Social Feminina, no Liceu Literário Português (Gazeta de Notícias, 16 de setembro de 1945, terceira coluna).

Foi receber no aeroporto do Rio de Janeiro, Raul Pilla, líder do Partido Libertador (Correio da Manhã, 7 de outubro de 1945, quarta coluna).

Natércia foi uma das advogadas que subescreveu o manifesto da classe em homenagem ao candidato à presidência da República, Eduardo Gomes (Correio da Manhã, 19 de outubro de 1945, sexta coluna).

 

 

Natércia e o jornalista Fernando Caldas foram designados para delegados do diretório do Partido Libertador de Porto Alegre (Diário de Notícias, 26 de outubro de 1945, primeira coluna). Candidatou-se à Assembleia Nacional Constituinte, mas não se elegeu (Diário de Notícias, 13 de novembro de 1945, primeira coluna). O Partido Libertador Gaúcho havia sido fundado em 1928 por políticos do antigo Partido Federalista do Rio Grande do Sul, como Joaquim Francisco de Assis Brasil (1857 – 1938) e Raul Pilla (1892 – 1973). Foi extinto pelo Estado Novo e reorganizado em 1945, sob a presidência de Pilla, como Partido Libertador. Sua principal bandeira foi a defesa da implantação do parlamentarismo no Brasil. Pilla foi o único do PL a eleger-se para a Assembleia Nacional Constituinte, nas eleições de 1945, mesma ocasião em que o general Dutra elegeu-se presidente da República, vencendo o candidato udenista, brigadeiro Eduardo Gomes.

1946 - Fazia parte do conselho consultivo do Diretório Regional do Partido Democrata Cristão (A Noite, 13 de setembro de 1946, sexta coluna).

Foi organizada, a seção do Distrito Federal do Partido Libertador por seu presidente, Raul Pilla (1892 -1973). Seria presidida pelo general Isidoro Dias Lopes  (1865 – 1949), secretariada por Natércia e divulgada por Espiridião Paulo (Diário Carioca, 1º de novembro de 1946, sexta coluna).

1947 - Era uma das vice-presidentes da instituição social Casa de Nossa Senhora da Paz (A Cruz, 20 de julho de 1947, última coluna).

No auditório da Associação Brasileira de Imprensa, posse do diretório do Distrito Federal do Partido Libertador. Seria presidido pelo general Isidoro Dias Lopes (1865 – 1949) e secretariado por Natércia. Na ocasião, o deputado Raul Pilla (? – 1973), presidente do Partido Libertador, expôs as ideias da referida agremiação política (A Noite, 20 de setembro de 1947, terceira colunaDiário do Paraná (PR), 26 de setembro de 1947, terceira coluna).

1949 – Natércia era procuradora da Justiça do Trabalho (Jornal do Commercio, 11 de junho de 1949, quinta coluna).

1950 - Publicação de uma fotografia de Natércia participando de uma reunião do Diretório do Partido Libertador (PL) carioca (Revista da Semana, 29 de abril de 1950). O PL apoiou a candidatura do brigadeiro Eduardo Gomes (1896 – 1981), pela UDN, à presidência da República, mas ele foi derrotado por Getulio Vargas (1882 – 1954), do Partido Trabalhista Brasileiro, em 3 de outubro de 1950 (Diário Carioca, 6 de junho de 1950, terceira colunaRevista da Semana, 17 de junho de 1950).

 

 

Foi designada pela Procuradoria Geral da Justiça do Trabalho para presidir a mesa apuradora da eleição sindical do Sindicato dos Enfermeiros e Empregados em Hospitais e Casas de Saúde do Rio de Janeiro (A Manhã (RJ), 8 de junho de 1950, penúltima coluna).

Foi candidata a deputada federal pelo Partido Libertador, mas não foi eleita (Jornal do Brasil, 15 de agosto de 1950, quarta colunaA Manhã (RJ), 23 de setembro de 1950, primeira coluna).

 

 

1951 – Elogiou o projeto de lei apresentado pelo senador Mozart Lago (1889 – 1974) criando um departamento feminino no Departamento Federal de Segurança Pública, a qual incumbiria “a Polícia de Costumes, a guarda de detentos e condenados do sexo feminino, e tudo o que disser respeito à mulher e aos menores em ralação à função policial“(Diário de Natal, 21 de julho de 1951, terceira coluna).

Integrava o gabinete executivo da seção carioca do Partido Libertador (Diário de Notícias, 12 de outubro de 1951, sexta coluna).

1953 – Como procuradora geral substituta da Justiça do Trabalho, atuou durante a greve de tecelões no Rio de Janeiro (Diário Carioca, 15 de janeiro de 1953, quarta colunaDiário de Notícias, 14 de março de 1953).

Integrava o Diretório Nacional do Partido Libertador (Jornal do Brasil, 18 de julho de 1953, quarta coluna).

Foi publicado um artigo de sua autoria em homenagem a Lindolfo Collor (1890 – 1942), que havia sido ministro do Trabalho (Diário Carioca, 21 de julho de 1954).

1956 - Foi escolhida para integrar o gabinete executivo do Diretório Nacional do Partido Libertador (O Jornal, 10 de julho de 1956, terceira coluna).

Seu marido, Paulo Arthur (1901 – 1972), tomou posse na cadeira nº 85 da Academia Brasileira de Medicina, em 2 de agosto de 1956.

1958 – Foi escolhida para saudar Evaristo de Moraes Filho, que havia se tornado professor catedrático em Direito do Trabalho na Faculdade de Direito,  durante uma homenagem feita a ele pelos procuradores da Justiça do Trabalho (O Jornal, 13 de julho de 1958, primeira coluna).

Na Capela da Reitoria da Universidade do Brasil, Velleda Maria, única filha de Natércia e Paulo Otávio, casou-se com o pediatra Adherbal de Andrade, em 17 de dezembro (Jornal do Brasil, 12 de dezembro de 1958, primeira coluna).

1959 - Participou da Convenção Nacional do Partido Libertador e integrava o anunciado novo Diretório Nacional do partido (Diário de Notícias, 21 de julho de 1959, quarta coluna).

1964 – Foi empossada como uma das vice-presidentes da Associação do Ministério Público do Brasil (Jornal do Commercio, 23 de agosto de 1964, quarta coluna)

O ministro do Trabalho, Arnaldo Sussekind (1917 – 2012), nomeou Natércia para completar o Conselho Nacional do Sesi (Correio da Manhã, 6 de novembro de 1964, primeira coluna).

O ministro do Trabalho, Arnaldo Sussekind (1919 – 2012) determinou a suspensão da intervenção ministerial na Comissão Nacional de Sindicalização Rural e nomeou Natércia como uma das representantes do ministério no referido órgão (Jornal do Brasil, 8 de dezembro de 1964).

Foi convidada para ser a diretora-geral do Departamento Nacional do Trabalho (DNT). Foi a primeira mulher a ocupar o cargo (Jornal do Commercio, 23 de dezembro de 1964, última coluna; Correio da Manhã, 25 de dezembro de 1964, quarta coluna).

1965 – Segundo Natércia grande parte do pessoal da empresa aérea Panair seria aproveitada pela Força Aérea Brasileira. Em 10 de fevereiro, a Panair havia sido comunicada pelo Governo Federal da cassação de seu certificado de operação. O ato foi assinado pelo ministro da Aeronáutica, brigadeiro Eduardo Gomes (1896 – 1981). Suas linhas nacionais foram passadas para a Cruzeiro e as linhas internacionais para a Varig (Jornal do Commercio, 13 de fevereiro de 1965, terceira coluna).

Natércia, como diretora-geral do Departamento Nacional do Trabalho (DNT), informou que o Ministério do Trabalho divulgaria a lista de 150 entidades sindicais que seriam liberadas da intervenção oficial. Era anticomunista (A Luta Democrática, 28 e 29 de março de 1965, quarta coluna; A Cruz, 24 de outubro de 1965, segunda coluna).

Foi homenageada com um jantar, no Hotel Excelsior, pela Associação Brasileira de Mulheres Universitárias (Correio da Manhã, 23 de maio de 1965, última coluna).

Como diretora-geral do DNT, Natércia fez uma advertência aos dirigentes sindicais no sentido deles se absterem de atividades políticas nas entidades por eles dirigidas(A Luta Democrática, 3 de julho de 1965, quinta coluna).

Também como diretora-geral do DNT, Natércia enviou uma circular a todas as Delegacias Regionais do Trabalho determinando que providências fossem tomadas para a realização de eleições das entidades sob sua jurisdição, que haviam sofrido intervenção (A Luta Democrática, 25 de agosto de 1965, quarta coluna).

Sob sua presidência foi instalada a comissão encarregada de opinar sobre a extinção ou não do Imposto Sindical (Correio da Manhã, 1º de setembro de 1965).

Foi pedida a exoneração de Natércia do cargo de diretora-geral do Departamento Nacional do Trabalho (DNT) (Tribuna da Imprensa, 16 de setembro de 1965, penúltima coluna).

Foi uma das autoridades que se reuniu com o presidente Castelo Branco para uma discussão em torno da crise da indústria açucareira do Nordeste e do crescente desemprego na região (Correio da Manhã, 18 de setembro de 1965, quarta coluna).

Natércia recebeu as primeiras 30 mil, das 250 mil carteiras do trabalhador rural que estavam sendo confeccionadas (Correio da Manhã, 28 de setembro de 1965, primeira coluna).

Meses depois, Natércia negou provimento ao recurso da diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais da Guanabara que pretendia manter a eliminação de 5.516 associados da entidade (A Luta Democrática, 3 e 4 de outubro de 1965, sexta coluna).

Foi nomeada pelo presidente Humberto Castelo Branco (1897 – 1967) para receber a Ordem do Mérito do Trabalho no Grau d0 Mérito Especial (Jornal do Commercio, 29 e 30 de novembro de 1965, sexta coluna).

Foi noticiado que Natércia havia pedido demissão do cargo de diretora-geral do Departamento Nacional do Trabalho (Correio da Manhã, 9 de dezembro de 1965). Segundo jornais da época, o pedido teria sido causado pelo fato dela não ter sido consultada acerca da intervenção ministerial no Sindicato dos Comerciários da Guanabara (Correio da Manhã, 18 de janeiro de 1966, primeira coluna).

1966 – Após uma discussão com o novo ministro do Trabalho, Walter Peracchi Barcelos (1907 – 1986), empossado em dezembro de 1965, acerca de um projeto de decreto que no seu entender aniquilaria o movimento sindical portuário, Natércia pediu demissão do cargo de diretora-geral do Departamento Nacional do Trabalho em caráter irrevogável (Correio da Manhã, 23 de janeiro de 1966, penúltima coluna). Foi substituída por Aladir Barata, que tomou posse no início de fevereiro (O Jornal, 29 de janeiro de 1966, quinta colunaJornal do Commercio, 7 e 8 de fevereiro de 1966, sexta coluna).

Tomou posse como Procuradora Geral da Justiça do Trabalho, cargo que exerceria enquanto o titular. Luiz Augusto do Rego Monteiro, estivesse de férias (O Jornal, 5 de fevereiro de 1966, sexta coluna; Jornal do Brasil, 9 de fevereiro de 1966, última coluna).

1971 – Aposentou-se da Procuradoria-Geral do Trabalho, tendo sido muito elogiada pelo procurador-geral, Marco Aurélio Frates de Macedo, pelos dedicados e eficientes serviços prestados à Procuradoria não só por meio de eruditos pronunciamentos como também quando por diversas vezes assumiu sua chefia. Recebeu a Comenda do Ministério Público (O Jornal, 12 de maio de 1971, primeira coluna).

No apartamento de Natércia, em Ipanema, sob a direção do ex-vice-presidente do Brasil, Pedro Aleixo (1901 – 1975), foi instalada a Comissão Provisória Regional da Guanabara do Partido Democrático Republicano (Jornal do Brasil, 17 de dezembro de 1971, primeira coluna).

1972 – Em 20 de setembro, falecimento de seu marido, Paulo Arthur. Convidavam para o enterro, além de Natércia, a filha do casal, Velleda, e o neto Bruno. a missa de sétimo dia foi na Igreja de Nossa Senhora do Carmo (Jornal do Brasil, 21 de setembro e 26 de setembro de 1972).

1973 – No salão dos Passos Perdidos do I Tribunal do Júri, Natércia, dentre outros juristas, teve um retrato seu inaugurado (Jornal do Brasil, 3 de fevereiro de 1973, quinta coluna).

1975 – Natércia escreveu uma carta ao Secretário de Segurança da Guanabara e ao futuro governador Faria Lima (1917 – 2011), relatando um assalto que sua filha havia sofrido e pedindo providências em relação à insegurança da cidade (Tribuna da Imprensa, 25 e 26 de janeiro de 1975).

Escreveu o artigo Divórcio, um assunto em pauta (Tribuna da Imprensa, 17 de março de 1975).

Como advogada, defendeu os plantonistas do Instituto Médico Legal (IML) , drs Jorge Nunes de Amorim e Graccho Guimarães Silveira, que haviam sido punidos administrativamente pelo diretor do IML, dr. Nilson do Amaral Sant´Ana. Segundo a advogada, a queixa que resultou na punição ocorreu devido à falta de condições de trabalho. Apenas com um auxiliar de necrópsia os acusados deveriam, em 24horas, ter necropsiado 39 cadáveres, mas só haviam conseguido realizar a necrópsia em 31. As famílias dos oito que ficaram sem atendimento fizeram a a queixa (A Luta Democrática, 28 e 29 de dezembro de 1975, última coluna).

1977 – Ainda atuava no Escritório de Advocacia Natércia Pinto da Rocha (Boletim ABI, dezembro de 1977).

1993 – Natércia faleceu em 7 de dezembro de 1993 (O Globo, 14 de dezembro de 1993).

 

O Globo 14 de dezembro de 1993

O Globo, 14 de dezembro de 1993

 

1996 - A fotografia de Natércia que abre esse artigo foi uma das 86 imagens do Arquivo Nacional integrantes da exposição Imagens da Mulher Brasileira, no Espaço BNDES, em comemoração ao Dia Internacional da Mulher (Jornal do Brasil, 21 de março de 1996).

 

 

 

Agradeço a Bruno Pinto da Rocha, neto de Natércia, por sua colaboração nesse artigo.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

BARBOSA, Ruy. A questão social e política no Brasil, 20 de março de 1919.

COELHO, Mariana. A evolução do feminismo: subsídios para sua história. Curitiba: Imprensa Oficial do Paraná, 2002.

COSTA, Valesca Brasil; SOUZA, José Edimar.  Gênero e campo jurídico: a mulher na Faculdade de Direito (1960-1974). Unilasalle Editora – Revista de Educação, Ciência e Cultura, v. 22, n. 3, 2017

DEL PRIORE, Mary (Org.). História das mulheres no Brasil. Coordenação de textos de Carla Bassanesi. São Paulo: Contexto, 1997

DEL PRIORI, Mary. História e conversas de mulher. São Paulo: Planeta Brasil, 2014

DULTRA, Eneida Vinhaes Bello. DIREITOS DAS MULHERES NA CONSTITUINTE DE 1933-1934: disputas, ambiguidades e omissões. Tese de Doutorado. Universidade de Brasília – Programa de pós-graduação da Faculdade de Direito

ENGLER, Isabel. A primeira prefeita brasileira Alzira Soriano: o poder político coronelístico, Lages/RN, 1928. Trabalho de Conclusão de Curso  – Universidade Federal da Fronteira do Sul, Curso de História – Licenciatura, Chapecó, SC, 2019

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

HEYNEMANN, Claudia; RAINHO, Maria do Carmo. Memória das lutas feministas in Brasiliana Fotográfica, 8 de agosto de 2017.

MARQUES, Tereza Cristina de Novaes. Bertha Lutz. Série perfis parlamentares, n. 73. Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2016.

MOREIRA ALVES, Branca. Ideologia & Feminismo. A luta da mulher pelo voto no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1980.

PINTO, Celi Regina Jardim. Uma história do feminismo no Brasil. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo (coleção história do povo brasileiro) 2003.

SCHUMAHER, Schuma; BRAZIL, Erico Vital (organizadores). Dicionário mulheres do Brasil: de 1500 até a atualidade biográfico e ilustrado. Rio de Janeiro : Jorge Zahar Ed., 2000.

SCHWARCZ, Lilia Moritz; STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

Site Academia Nacional de Medicina

Site CPDOC

Site CPDOC – Revolução Constitucionalista de 1932

Site Fundaj

Site Genealogia e História na fronteira sul do RS

Site Geneanet

Site Mulher 500 anos atrás dos panos

Site Museu da Justiça – Centro Cultural do Poder Judiciário

Site Superior Tribunal Eleitoral

 

Acesse aqui os outros artigos da Série “Feministas, graças a Deus!

 

Série “Feministas, graças a Deus!” I – Elvira Komel, a feminista mineira que passou como um meteoro, publicado em 25 de julho de 2020, de autoria da historiadora Maria Silvia Pereira Lavieri Gomes, do Instituto Moreira Salles, em parceria com Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” III  – Bertha Lutz e a campanha pelo voto feminino: Rio Grande do Norte, 1928, publicado em 29 de setembro de 2020, de autoria de Maria do Carmo Rainha, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” IV  – Uma sufragista na metrópole: Maria Prestia (? – 1988), publicado em 29 de outubro de 2020, de autoria de Claudia Heynemann, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” V – Feminista do Amazonas: Maria de Miranda Leão (1887 – 1976), publicado em 26 de novembro de 2020, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, mestre em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” VI – Júlia Augusta de Medeiros (1896 – 1972) fotografada por Louis Piereck (1880 – 1931), publicado em 9 de dezembro de 2020, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” VII – Almerinda Farias Gama (1899 – 1999), uma das pioneiras do feminismo no Brasil, publicado em 26 de fevereiro de 2021, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” VIII – A engenheira e urbanista Carmen Portinho (1903 – 2001), publicado em 6 de abril de 2021, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” IX – Mariana Coelho (1857 – 1954), a “Beauvoir tupiniquim”, publicado em 15 de junho de 2021, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” X – Maria Luiza Dória Bittencourt (1910 – 2001), a eloquente primeira deputada da Bahia, publicado em 25 de março de 2022, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XI e série “1922 – Hoje, há 100 anos” VI – A fundação da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, publicado em 9 de agosto de 2022, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XII e série “1922 – Hoje, há 100 anos” XI – A 1ª Conferência para o Progresso Feminino, publicado em 19 de dezembro de 2022, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, historiadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” XIII – E as mulheres conquistam o direito do voto no Brasil!, publicado em 24 de fevereiro de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XIV – No Dia Internacional da Mulher, Alzira Soriano, a primeira prefeita do Brasil e da América Latina, publicado em 8 de março de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XV – No Dia dos Povos Índígenas, Leolinda Daltro,”a precursora do feminismo indígena” e a “nossa Pankhurst, publicado em 19 de abril de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XVI – O I Salão Feminino de Arte, em 1931, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica, publicado em 30 de junho de 2023

Série “Feministas, graças a Deus!” XVII – Anna Amélia Carneiro de Mendonça e o Zeppelin, equipe de Documentação da Escola de Ciências Sociais FGV CPDOC, em parceira com Andrea C.T. Wanderley, publicado em 5 de janeiro de 2024

Série “Feministas, graças a Deus!” I – Elvira Komel (1906 – 1932), a feminista mineira que passou como um meteoro

Série “Feministas, graças a Deus!” I – Elvira Komel

 

A Brasiliana Fotográfica inaugura hoje a série “Feministas, graças a Deus!” com a publicação de um artigo sobre a advogada e sufragista mineira Elvira Komel (1906 – 1932), líder do movimento feminista em Minas Gerais, na década de 1920 e no início da de 30, e , com seu espírito ativo e inteligência brilhante, uma das mais destacadas militantes do feminismo no Brasil e um dos expoentes da intelectualidade mineira de sua época. A ideia da série surgiu a partir da proposta da pesquisadora Maria Silvia Pereira Lavieri Gomes, do Instituto Moreira Salles, de escrever sobre Elvira. Seu artigo, seguido de uma cronobiografia elaborada pela editora do portal, Andrea C. T. Wanderley, abre a série.

A proposta de Maria Silvia surgiu quando ela assistiu à última mesa do seminário online “Do ponto de vista do antropólogo”, “Arquivos de Mulheres e memória visual”, apresentada por Carolina Alves e Adelina Novaes e Cruz, ambas pesquisadoras do CPDOC, da Fundação Getulio Vargas, em 29 de junho de 2020. A série “Feministas, graças a Deus!” pretende dar visibilidade à trajetória de mulheres que trabalharam vigorosamente pelas conquistas femininas e pelo desenvolvimento do Brasil. Muitas vezes, a história não lhes faz jus.

A fotografia em destaque pertence ao fundo Federação Brasileira pelo Progresso Feminino – FBPF -, do Arquivo Nacional, uma das instituições parceiras da Brasiliana Fotográfica. O fundo possui quase 500 fotografias e evidencia, segundo as historiadoras Claudia Beatriz Heynemann e Maria do Carmo Rainho, a rede formada por mulheres em várias partes do mundo – dos Estados Unidos à Turquia, da Argentina à República Tcheca – na luta por seus direitos, por trabalho, educação, mas, sobretudo, por representatividade política através do voto. Elas são as autoras do artigo Memória das lutas feministas, embrião desta série, publicado na Brasiliana Fotográfica, em 8 de agosto de 2017.

 

Elvira Komel (1906 – 1932), a feminista mineira que passou como um meteoro

 Maria Silvia Pereira Lavieri Gomes *

 

Primeira advogada mulher no Fórum de Belo Horizonte, sufragista e segunda eleitora mineira**, alistada em 1928, Elvira Komel apoiou a Revolução de 1930, publicando nos jornais manifestos dirigido às mulheres, convocando-as a integrar o Batalhão Feminino João Pessoa, que fundou para servir de base de apoio ao movimento na capital mineira. Defendeu também a luta pela educação formal feminina liderando congressos e encontros. Sua breve trajetória foi marcada pelo engajamento nas bandeiras feministas e movida pelo sentimento de construção de um novo Brasil. Ela se posicionou na contramão de juristas que valorizavam a proteção oferecida às mulheres pelo casamento, que fornecia aparência e fazia perpetuar subserviência e obediência.

 

 

No retrato acima destacado, produzido no estúdio do fotógrafo J. Bonfioti, em 1928, Elvira aparece de cabelos curtos, a la garçonne, prático e moderno, como ditava a moda. Essa nova estética buscava simbolizar a independência feminina, a mentalidade moderna.

Elvira Komel nasceu em São João do Morro Grande, hoje município Barão de Cocais, em 24 de junho de 1906, filha de Ernest Komel, austríaco, especialista em montagem hidráulica e usinas elétricas; e da mineira Marieta Correia Guedes. Cursou o ensino primário em sua terra natal e, entre 1921 e 1924, fez o curso ginasial em Viçosa, para onde sua família havia se mudado. Revelou-se uma excelente aluna. Foi para o Rio de Janeiro onde, com apenas 19 anos, em 10 de janeiro de 1925, prestou vestibular para Direito. Graduou-se em Ciências Jurídicas e Sociais, na Universidade do Rio de Janeiro, em novembro de 1929. Foi apontada como a “leader do movimento feminista” de Minas Gerais (Diário Carioca, 8 de janeiro de 1930, primeira coluna).

 

 

 

Voltou para Belo Horizonte e foi morar com os pais no bairro da Floresta. Foi a primeira advogada a atuar em Minas Gerais, no Fórum da Comarca de Belo Horizonte, enfrentando juízes conservadores da época, inclusive o então promotor de Justiça, pronuncia, futuro ministro de Relações Exteriores e constituinte em 1988. Segundo Alberto Deodato, “ela teve grande atividade forense, enfrentando em vários júris o promotor Afonso Arinos de Mello Franco, que levou dela sempre a pior.” [i] No depoimento de Afonso Arinos prestado à historiadora Lélia Vidal para o livro Elvira Komel: Uma estrela riscou o céu, afirmou acreditar “que a formação feminista de Elvira teve o seu forjamento no âmbito universitário, pois naquele tempo já se discutia o voto feminino no Rio de Janeiro. Já a mulher mineira era mais do lar, recatada e não participava dos movimentos organizados em prol de seus direitos”. [ii]

Outra bandeira defendida com entusiasmo por Elvira era a educação feminina, fato que fica evidenciado na conferência pronunciada por ela na Radio Club, “Pela educação da mulher brasileira”, e publicada na íntegra no O Jornal, 05 de janeiro de 1930.

 

 

Durante a Revolução de 30, liderada por Getulio Vargas (1882 – 1954), cuja esposa, Alzira Vargas (1914 – 1992), era sua amiga, Elvira fundou o Batalhão Feminino João Pessoa e seu empenho na causa conseguiu reunir legiões de mulheres em toda Minas Gerais, “de  fardas de brim cáqui e confeccionando a bem da Revolução mais de quatro mil fardamentos para os soldados e servindo nos hospitais de sangue da Capital e dos municípios mineiros, além de terem como obrigatória a instrução militar feminina. Eram mulheres de todas as classes e profissões sociais, incluindo 300 enfermeiras práticas, postas à disposição da Saúde Pública (através de aquiescência do secretário da Saúde, Dr. Ernani Agrícola) e bem comandadas pela inesperada comandante.”[iii]

Foi publicada na primeira página de O Jornal, 15 de novembro de 1930 sob manchete “A colaboração da mulher mineira no movimento revolucionário” uma reportagem completa sobre o Batalhão Feminino.

 

 

O Batalhão Feminino João Pessoa, nome escolhido em homenagem ao Governador da Paraíba que morrera assassinado durante a Revolução de 30, possuía oito mil seguidoras em 52 municípios do Estado de Minas Gerais, sendo 1.200 em Belo Horizonte. No desfile das forças militares realizado no Rio de Janeiro em 15 de novembro, em comemoração à Proclamação da República, o Batalhão da Komel, representado por 75 mulheres, comandadas por Elvira foi uma grande atração (Diário Carioca e o Diário de Notícias, ambos de 15 de novembro de 1930; Jornal do Brasil, 16 de novembro de 1930).

 

 

 

No Rio de Janeiro, ainda participou da inauguração da Praça João Pessoa, onde ficava a Praça dos Governadores (Jornal do Brasil, de 20 de novembro de 1930).

É importante lembrar que a louvação do militarismo e patriotismo, presentes fortemente ideário de Elvira e de suas companheiras, se ajustava à atmosfera carregada do pré-guerra europeu e da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), na ampla mobilização social desejada pelos intelectuais de sua época. O que não impedia que elas fossem muito hostilizadas por questões de gênero, a exemplo da publicação da revista Careta.

 

 

 

No dia 23 de novembro de 1930, na sede do América Futebol Clube, na rua dos Caetés, 343, no centro de Belo Horizonte, Elvira Komel transformou o batalhão feminino na Associação Feminina João Pessoa (AFJP). A reunião preparatória para a fundação da AFJP determinou uma comissão elaboradora dos estatutos: Celina Coelho, a bacharelanda Elza Pinheiro Guimarães; as farmacêuticas Zinah Coelho Júnior e Elvira Poch; as professoras Olympia Duarte, Diva Magalhães, Esmeralda Alves e Irene Dias. Adeptas de 52 municípios mineiros receberam ofícios da Comandante Komel comunicando o início da Associação Feminina João Pessoa e autorizando e estimulando as a fundação de centros municipais e centros filiais nos bairros de Belo Horizonte, por professoras.

 

 

Em janeiro de 1931, esteve no Rio de Janeiro com a também sufragista e advogada gaúcha Natércia da Silveira (1905 – 1993), e se encontraram com o ministro do Trabalho, Lindolpho Collor (1890 – 1942), com Oswaldo Aranha, ministro da Justiça e Assuntos Internos, e com outras autoridades para pleitear a igualdade de direitos entre os sexos, reivindicando para as mulheres o direito ao voto e as honras militares de oficiais do Exército (Jornal do Brasil, 14 de janeiro de 1931, primeira coluna).

Foi a presidente do I Congresso Feminino Mineiro, em Belo Horizonte, entre 21 e 2de junho de 1931, com a participação de representantes de municípios mineiros, do Espírito Santo, de Goiás, da Paraíba, do Rio Grande do Sul, e da Aliança Nacional de Mulheres, fundada por Natércia Silveira (1905 – 1993), 1ª vice-presidente do evento. A primeira-dama Alzira Vargas foi a presidente de honra do congresso. Na ocasião, foram discutidas questões de interesse das mulheres, inclusive a equiparação dos direitos da mulher ao do homem perante à legislação nacional. Foi também votada e aprovada por unanimidade uma moção de solidariedade ao governo de Getulio Vargas.  O congresso foi encerrado em 29 de junho (Correio da Manhã, 6 de junho de 1931, segunda coluna; Correio da Manhã, 23 de junho de 1931, terceira coluna; Correio da Manhã, 30 de junho de 1931, sétima coluna; Diário Carioca, 14 de agosto de 1931, última coluna). Um pouco antes, em 11 de junho, a brasileira Odete Carvalho (1904 – 1969) participou da Conferência Internacional do Trabalho, em Genebra, conselheira técnica governamental;  e, em 19 de junho de 1931, havia sido inaugurado o II Congresso Internacional Feminista, no Rio de Janeiro, sob a direção de Bertha Lutz (1894 – 1976).

 

 

Fundou, em 1931, o Partido Liberal Feminino Mineiro, uma fusão da Associação Feminina João Pessoa e da Legião Feminina, “formando uma única corporação com finalidades amplas: sociais, humanitárias, cívicas e políticas. O nosso programa visa proteger a mulher, trabalhar pela sociedade e pela pátria, colaborando, também, na realização do programa revolucionário, para que a República Nova se torne realidade” (Correio da Manhã, 24 de setembro de 1931, primeira colunaA Noite, 7 de outubro de 1931, quarta coluna).

 

 

Finalmente, através do Decreto nº 21.076, de 24 de fevereiro de 1932, que instituiu o Código Eleitoral Provisório, foi reconhecido o direito de voto às mulheres. Em julho do mesmo ano, Elvira foi para Juiz de Fora, onde proferiu diversas palestras sobre a Revolução de 30 e seu caráter político, preparando-se para a sua candidatura ao senado estadual (deputada estadual). Voltando para Belo Horizonte, sentiu fortes dores de cabeça e, vítima de meningite, faleceu no dia 25 de julho de 1932, com apenas 26 anos de idade, sendo sepultada no Cemitério do Bonfim, na capital mineira (Jornal do Brasil, 27 de julho de 1932; Correio da Manhã, 27 de julho de 1932, sexta coluna). Este laudo foi contestado por sua família, que atribuiu sua morte precoce a um aneurisma cerebral.

A morte inesperadamente a vem colher no desdobramento de um programa de úteis iniciativas em prol da causa feminina, que a Dra. Elvira Komel defendia com desassombro[iv].

                                                                                                                                   Jornal Minas Gerais de 27 de agosto de 1932

 

Os amigos de Elvira, Carlos Drummond de Andrade, Pedro Nava, Cyro dos Anjos, Edmundo Hass, Olinto Fonseca e Alberto Deodato lamentaram sua morte.

 

 

[i] DUARTE, CARMO & LUZ in Mulheres em Minas: Lutas e Conquistas. Conselho Estadual da Mulher de Minas Gerais – 25 anos. Belo Horizonte: Imprensa Oficial. 2008, p 270

[ii] Idem, p 271

[iii] Idem, p 271

[iv] Idem, p 272

 

*Maria Silvia Pereira Lavieri Gomes é historiadora e é desde 2014 pesquisadora responsável pelo acervo do embaixador Walther Moreira Salles, no Instituto Moreira Salles.

** A primeira foi a advogada Mietta Santiago (1903 – 1995) – O Paiz, 16 de setembro de 1928.

 

Cronologia de Elvira Komel (1906 – 1932)

Andrea C. T. Wanderley**

 

 

1906 – A mineira Elvira Komel nasceu em São João do Morro Grande, hoje município Barão de Cocais, em 24 de junho de 1906, filha de Ernest Komel, austríaco, especialista em montagem hidráulica e usinas elétricas; e da mineira Marieta Correia Guedes. Cursou o ensino primário em sua terra natal.

(Correio da Manhã, 27 de junho de 1931, sétima coluna)

1921 a 1924 - Fez o curso ginasial em Viçosa, para onde sua família havia se mudado. Revelou-se uma excelente aluna.

1925 – Foi para o Rio de Janeiro onde, com apenas 19 anos, em 10 de janeiro de 1925, prestou vestibular para Direito.

1925 – Registro de sua aprovação plena nos exames do primeiro ano da facudade de Direito (Jornal do Commercio, 20 de março de 1926, primeira coluna).

1928 – Por volta desse ano começou a exercer a advocacia nos auditórios de Belo Horizonte (O Paiz, 6 janeiro de 1930, quarta coluna).

Quando o politico e advogado Maurício de Lacerda (1888 – 1959) visitou Belo Horizonte, antes de proferir sua palestra sobre o voto secreto no Teatro Municipal da cidade, foi saudado por Elvira. Na ocasião, ela discursou acerca de “conceitos oportuníssimos sobre as mais palpitantes questões políticas do momento, monstrando-se profunda conhecedora de nosas prementes necessidades” (O Jornal, 15 de junho de 1928, quinta coluna; A Esquerda, 20 de setembro de 1928, terceira coluna).

Foi a segunda mulher mineira a se alistar para ter o direito do exercício do voto: “É, pois, um novo valor que se vem  juntar ao esforço coletivo em prol da nossa regeneração política” (O Paiz, 20 de setembro de 1928, segunda colunaDiário Carioca, 20 de setembro de 1928, penúltima colunaA Esquerda, 20 de setembro de 1928, terceira coluna).

Ela e a advogada mineira Mietta Santiago (1903 – 1995) foram citadas no relatório que a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF) – entidade civil criada no Rio de Janeiro, em 1922, cuja fundadora e principal líder foi a bióloga Bertha Lutz  (1894 – 1976) – apresentou à Comissão Redatora da História do Movimento Feminista Internacional, da Aliança Internacional pelo Sufrágio Feminino (O Paiz, 21 de outubro de 1928).

Publicação do artigo Requerendo o meu alistamento eleitoral, de autoria de Elvira Komel (O Paiz, 4 de novembro de 1928, terceira coluna).

Em entrevista, Elvira declarou que o feminismo em Minas estava efetivamente triunfante e que várias mineiras já haviam se alistado. Argumentou também em favor do voto feminino. Nessa matéria, está reproduzida a fotografia de Elvira Komel que se encontra no acervo fotográfico da Brasiliana Fotográfica (A Noite, 16 de novembro de 1928).

 

 

1929 – Foi a primeira eleitora a exercer o direito do voto em Minas Gerais (O Jornal, 8 de maio de 1929, sexta colunaDiário Carioca, 10 de maio de 1929, penúltima colunaDiário Nacional: A Democracia em Macha, 10 de maio de 1929, quinta coluna e Brasil Social, julho de 1929).

 

 

Era a única mulher integrante da embaixada universitária mineira que passou pelo Rio de Janeiro em direção ao Paraná, onde para participaria de uma confraternização acadêmica. Foi como representante da FederaçãoBrasileira pelo Progresso Feminino e da União Universitária Feminina de Minas. O advogado e escritor Cyro dos Anjos (1906 – 1994), na época redator do Diário de Minas, e José Américo de Macedo (1906 – ?), futuro prefeito de Ituiutaba, eram os líderes do grupo. elvira proferiu uma palestra sobre feminismo no Club Curitibano onde depois houve um sarau dançante em homenagem à embaixada universitária (Correio da Manhã, 17 de julho de 1929, segunda coluna; A República: órgão do Partido Republicano Paranaese, 22 de julho de 1929, terceira colunaO Dia (PR), 22 de julho de 1929, segunda colunaO Dia (PR), 27 de julho de 1929, segunda coluna; A República: órgão do Partido Republicano Paranaese, 29 de julho de 1929, penúltima coluna).

 

 

Em reunião da União Universitária Feminina, presidida pela engenheira Carmen Portinho (1903 – 2001), foi comunicado que Elvira Komel estava fundando com a colaboração de Alzira Reis Vieira Ferreira (1886 – 1970), de Teófilo Otoni, o Diretório Mineiro da entidade. O evento foi realizado na sede da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, na avenida Rio Branco, nº 111 (Jornal do Commercio, 2 de novembro de 1929, quarta coluna).

Foi anunciado que Elvira Komel seria a palestrante da pemúltima conferência da série promovida pela Federação bBrasileira pelo Progresso Feminino, na Rádio Club (O Paiz, 21 de dezembro de 1929, quinta coluna).

Foi uma das duas mulheres que se graduaram em Ciências Jurídicas e Sociais, na Universidade do Rio de Janeiro, em 1929. A outra foi Myrthes Etienne Dessaune. A cerimônia de colação de grau dos bacharelandos realizou-se no Instituto Nacional de Música, com a presença do presidente da República, Washington Luis (1869 – 1957) e de outras autoridades. O reitor da universidade, Cícero Peregrino, abriu a cerimônia, o orador da turma foi Narcélio de Queiroz e o paraninfo, Clóvis Bevilaqua (1859 – 1944). O aluno apontado como o melhor da turma foi Helvecio Xavier Lopes, que recebeu a medalha de ouro das mãos do presidente da República. A benção dos anéis foi feita pelo arcebispo coajutor do Rio de Janeiro, Sebastião Leme (1882 – 1942). Uma curiosidades: na mesma turma formou-se Paschoal Carlos Magno (1906 -1980), futuro ator, dramaturgo, poeta e diplomata de destaque no Brasil (A Noite, 27 de dezembro de 1929, primeira coluna).

 

1930 – De volta a Belo Horizonte e morando com os pais no bairro da Floresta, Elvira tornou-se a primeira advogada a atuar em Minas Gerais, no Fórum da Comarca de Belo Horizonte, enfrentando juízes conservadores da época. Foi apontada como a “leader do movimento feminista” de Minas Gerais (Diário Carioca, 8 de janeiro de 1930, primeira coluna).

Pronunciou a conferência “Pela educação da mulher brasileira”, na Rádio Club, de Belo Horizonte (O Jornal, 05 de janeiro de 1930.

Era a representante de Minas Gerais da União Universitária Feminina (A Noite, 5 de abril de 1930, segunda coluna).

Durante a Revolução de 30, liderada por Getulio Vargas (1882 – 1954), cuja esposa, Alzira Vargas (1914 – 1992), era sua amiga, Elvira fundou, em 5 de outubro, o Batalhão Feminino João Pessoa para apoiar o movimento. O batalhão, cujo nome foi escolhido para homenagear o governador da Paraíba que morrera assassinado durante a Revolução, chegou a possuir  oito mil seguidoras em 52 municípios do Estado de Minas Gerais, sendo 1.200 em Belo Horizonte (Jornal do Brasil, 15 de novembro de 1930).

O Batalhão Feminino João Pessoa participou do desfiles de forças militares realizados no Rio de Janeiro, em 15 de novembro de 1930. A porta-bandeira foi Esmeralda Alves, sobrinha de Olegário Maciel (1855 – 1933), presidente do estado de Minas Gerais.

 

 

O Batalhão tinha um hino, escrito por Zinah Coelho Junior e Celina Coelho (Diário da Noite, 14 de novembro de 1930Correio da Manhã, 15 de novembro de 1930, sexta colunaO Estado de Florianópolis, 19 de novembro de 1930, quarta coluna; Jornal do Brasil, 16 de novembro de 1930).

 

 

Foi publicada uma entrevista com Elvira no Diário da Noite de 15 de novembro de 1930.

 

 

Participaram também de diversos eventos sociais e homenagens como a realizada pela União do Empregados do Comércio do Rio de Janeiro, de um Chá na Cruzada Feminina do Brasil Novo e de uma festa no Teatro João Caetano (Diário de Notícias, 18 de novembro de 1930A Batalha, 15 de novembro de 1930A Batalha, 18 de novembro de 1930, terceira coluna; Diário de Notícias, 18 de novembro de 1930O Jornal, 18 de novembro de 1930, penúltima coluna).

 

 

O pai de Elvira, o engenheiro Ernest Komel, foi agredido por um cabo do Exército, quando passava em frente ao Quartel dos Barbonos, na rua Evaristo da Veiga, no Rio de Janeiro. Foi atendido no posto de saúde da Praça da república e retornou ao Hotel Magnífico, na rua do Riachuelo, 124, onde o Batalhão Feminino João Pessoa e sua filha estavam hospedados (A Noite, 18 de novembro de 1930, penúltima coluna).

O Diário de Notícias publicou uma grande reportagem com diversas fotografias sobre o Batalhão Feminino João Pessoa, no Hotel Magnífico (Diário de Notícias, de 18 de novembro de 1930).

 

Elvira participou da inauguração da Praça João Pessoa, onde ficava a Praça dos Governadores, no Centro do Rio de Janeiro (Correio da Manhã, 20 de novembro de 1930, última colunaJornal do Brasil, de 20 de novembro de 1930).

 

 

Foi publicado artigo “A Mulher Mineira“, do médico e jornalista Floriano de Lemos (1906 – 1965), sobre o desfile do Batalhão Feminino João Pessoa (Diário da Noite, 20 de novembro de 1930, última coluna).

Fez uma visita à redação do Jornal do Brasil (Jornal do Brasil, 21 de novembro de 1930). Também visitou a sede do Touring Clube do Brasil acompanhada de Zinah Coelho Junior, Elvira Rodrigues e Julia Guerra (Jornal do Commercio, 30 de novembro de 1930, quinta coluna).

 

 

No dia 23 de novembro de 1930, na sede do América Futebol Clube, na rua dos Caetés, 343, no centro de Belo Horizonte, Elvira Komel transformou o batalhão feminino na Associação Feminina João Pessoa (AFJP).

Durante a sessão do Partido Nacional Feminino, em Nova York, a sra. Oliveira Lima, membro brasileiro da Comissão Interamericana de Mulheres citou o Batalhão João Pessoa, comandado por Elvira, como um exemplo da atuação das mulheres na Revolução de 30, comparável a dos homens (A Gazeta (SP), 22 de dezembro de 1930, quinta coluna).

1931 – Em janeiro, em companhia da também advogada e sufragista Natércia Silveira (1905 – 1993), Elvira esteve no Rio de Janeiro onde permaneceu até dia 17 de janeiro. Em pauta, o apoio à causa do voto feminino.

O mineiro Augusto Lima (1859 – 1934), diretor do jornal A Noite, publicou o artigo “A Mulher Militar“, onde elogiava a ação de Elvira Komel (A Noite, 13 de janeiro de 1931, primeira coluna). Ela agradeceu com uma carta publicada no jornal A Noite, de 20 de janeiro de 1931, penúltima coluna.

Fizeram visitas ao prefeito Adolpho Bergamini (1886 – 1945), às redações de A Batalha, do Jornal do Brasil , de O Jornal  e de A Noite. Na manchete da notícia da visita neste último jornal foram classificadas como “Duas batalhadoras do ideal feminista, no Brasil” (A Batalha, 16 de janeiro de 1930, última colunaA Noite, 17 de janeiro de 1931).

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Encontraram-se com o então ministro do Trabalho, Lindolpho Collor (1890 – 1942), para pleitear a igualdade de direitos entre os sexos reivindicando para as mulheres o direito ao voto e as honras militares de oficiais do Exército (Diário da Noite, 13 de janeiro de 1931, quarta colunaJornal do Brasil, 14 de janeiro de 1931, primeira coluna).

Publicação de uma reportagem sobre o encontro de Elvira Komel e  Natércia Silveira (1905 – 1993) com o Barão de Itararé, alcunha de Aparicio Torelly (1895 – 1971), dono do semanário humorístico A Manha (A Manha, 16 de janeiro de 1931).

Publicação de uma entrevista com Elvira a respeito da luta pelo voto feminino e sobre o Batalhão João Pessoa (Correio da Manhã, 16 de janeiro de 1931, penúltima coluna).

Foi citada em uma reportagem do jornal O Globo acerca da possibilidade de uma mulher poder ser oficial honorária do Exército (República (SC), 16 de janeiro de 1931, segunda coluna).

Durante sua estadia no Rio de Janeiro, Elvira e  Natércia Silveira (1905 – 1993) encontraram-se também com o ministro da Fazenda, José Maria Whitaker (1878 – 1970), e com o general Juarez Távora (1898 – 1975), no Rio de Janeiro (A Notícia (SC), 20 de janeiro de 1931, quarta colunaEu vi, 21 de janeiro de 1931).

 

 

Já em Belo Horizonte, Elvira deu uma entrevista sobre o direito da mulher de ser jurada (A Notícia (SC), 22 de janeiro de 1931).

Elvira declarou-se confiante no êxito das reivindicações feministas que havia feito ao Governo Provisório e ao Cardeal Sebastião Leme durante sua estadia no Rio de Janeiro (A Batalha, 23 de janeiro de 1931, primeira coluna).

Na seção “Notas e comentários”, foi questionada as reivindicações de Elvira: “Ora, para que diabo é que a dra. Elvira Komel quer ser generala? Em que lucra a pátria? Em que melhora o câmbio? Que benefícios trará a distinção à mulher brasileiro? Que ideias novas acarretará?” (Excelsior, fevereiro de 1931).

No Tribunal de Júri de Belo Horizonte, o reú, Agostinho Simão Santos, defendido por Elvira, foi considerado culpado (Correio da Manhã, 4 de fevereiro de 1931, sexta coluna)

A revista Careta de 7 de fevereiro de 1931publicou uma caricatura de Elvira Komel pleiteando patentes de oficiais do Exército. Em 11 de março de 1931, ela enviou uma carta a Alzira Reis Vieira Ferreira (1886 – 1970), que na época dirigia a União Feminina de Teófilo Otoni, comentando algumas críticas em relação a essa reivindicação (O Fluminense, 31 de julho de 1932).

 

 

Elvira e  Natércia Silveira (1905 – 1993) encontraram-se com Delminda Aranha, mulher de Oswaldo Aranha (1894 – 1960), então ministro da Justiça e Assuntos Internos, para conversar sobre direitos politicos das mulheres na organização da constituinte. Já haviam estado com o prórpio ministro, em janeiro (O Estado de Florianópolis, 15 de janeiro de 1931, primeira colunaO Dia (PR), 11 de fevereiro de 1931, última coluna).

Publicação de um telegrama enviado ao Correio da Manhã desmentindo o que havia sido noticiado por alguns jornais mineiros em relação à atuação de Elvira à frente do movimento feminista em Minas Gerais. De acordo com o telegrama ela continuava firme no comando, tendo inclusive feito um discurso na chegada do Chefe do Governo Provisório, Getulio Vargas, quando ele visitou a capital mineira (Correio da Manhã, 6 de março de 1931, terceira coluna).

Elvira enviou telegramas para Getulio Vargas e para Batista Luzardo (1892 – 1992), chefe da polícia do Distrito Federal, após a divulgação, em Minas Gerais, do discurso desse último em nome do Governo Provisório, anunciando a concessão do voto feminino (A Noite, 19 de março de 1931, segunda coluna).

Como diretora do recém criado Núcleo Feminino da Legião de Outubro, lançou um manifesto às mulheres mineiras chamando-as para participarem da reconstrução nacional (A Noite, 12 de março, terceira colunaA Noite, 23 de  março de 1931, segunda coluna).

 

 

Respondendo à enquente promovida peo jornal A Esquerda, Deve a mulher ser guerreira ou pacifista?, Elvira Komel declarou “a mulher mineira é inteiramente pacifista, como devem ser todas as mulheres, qualquer que seja o país a que pertencem” (A Esquerda, 31 de março de 1931).

Foi conferido à Elvira o título de sócia honorária da Cruz Vermelha Internacional (A Noite, 15 de abril de 1931).

Presidiu, em junho de 1931, o I Congresso Feminino Mineiro, em Belo Horizonte, cuja presidente de honra foi a primeira-dama, Alzira Vargas. Foi publicada a programação do evento (Excelsior, junho de 1931).

 

 

 

Durante o evento, representantes de municípios mineiros, do Espírito Santo, de Goiás, da Paraíba, do Rio Grande do Sul, e da Aliança Nacional de Mulheres, fundada por  Natércia Silveira (1905 – 1993), 1ª vice-presidente do evento, discutiram questões acerca da emancipação da mulher. Foi aprovada unanimemente uma moção de apoio ao governo revolucionário (Correio da Manhã, 6 de junho de 1931, primeira colunaCorreio da Manhã, 23 de junho de 1931, terceira coluna; Diário de Notícias, 23 de junho de 1931, quarta colunaCorreio da Manhã, 30 de junho de 1931, sétima coluna; Diário Carioca, 14 de agosto de 1931, última coluna).

 

 

 

Publicação de uma entrevista com Elvira Komel sobre a realização do I Congresso Feminino Mineiro (Diário da Noite, 31 de julho de 1931, quinta coluna).

Pela passagem do primeiro ano de morte de João Pessoa (1878 – 1930), a Associação dos Voluntários Mineiros promoveu uma homenagem no Teatro Municipal de Belo Horizonte, sob a presidência de Ribeiro Junqueira, secretário de Agricultura de Minas Gerais (1871 – 1946). Na ocasião Pedro Aleixo (1901 – 1975), um dos fundadores da Legião Liberal Mineira, versão estadual da Legião de Outubro; e Elvira discursaram (Correio da Manhã, 28 de julho de 1931, quarta coluna).

Anunciou, em setembro, a fundação do Partido Liberal Feminino Mineiro, uma fusão da Associação Feminina João Pessoa e da Legião Feminina.  (Correio da Manhã, 24 de setembro de 1931, primeira coluna; Diário de Pernambuco, 25 de setembro de 1931, quarta colunaA Noite, 7 de outubro de 1931, quarta coluna).

Elvira Komel lançou um manifesto congratulando-se com suas associadas pela publicação do ante-projeto da lei eleitoral, no qual ficou claramente estipulado o voto feminino (A Notícia (SC), 30 de setembro de 1931, penúltima coluna).

 

 

Foi recebida, no Palácio do Catete, por Getulio Vargas (Diário de Notícias, 26 de setembro de 1931, segunda coluna).

Elvira participou da reunião da Aliança Nacional de Mulheres, no Rio de Janeiro, e sua presença foi anunciada pela presidente da entidade,  Natércia Silveira (1905 – 1993), e saudada pela professora Adélia de Lacerda (Correio da Manhã, 2 de outubro de 1931, sétima coluna).

Elvira comentou o ante-projeto de reforma eleitoral e criticou alguns de seus aspectos como o de colocar a mulher casada em inferioridade ao homem e também as solteiras, viúvas ou desquitadas sujeitando-as a uma interminável tutela (Diário de Pernambuco, 10 de outubro de 1931, quarta coluna).

1932 – O Decreto nº 21.076, de 24 de fevereiro de 1932 instituiu o Código Eleitoral Provisório e reconheceu o direito de voto às mulheres, uma das bandeiras defendidas por Elvira.

O jornal A Batalha parabeniza Elvira por seu aniversário e anuncia que ela havia acabado de contratar casamento com o engenheiro Clarkson de Mello Menezes (A Batalha, 24 de junho de 1932, primeira coluna).

Elvira era correspondente especial da revista Brasil Feminino (Brasil Feminino, julho de 1932).

Em julho, Elvira foi para Juiz de Fora, onde proferiu diversas palestras sobre a Revolução de 30. Preparava sua candidatura ao senado estadual (deputada estadual).

Elvira apoiou a indicação de  Natércia Silveira (1905 – 1993), da Aliança Nacional de Mulheres, para ingressar na comissão que Getulio Vargas havia prometido nomear para elaborar o ante-projeto da nova Constituição. Havia um impasse porque outras feministas apoiavam Bertha Lutz (1894 – 1976), da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (A Batalha, 6 de julho de 1932).

Já em Belo Horizonte, lançou um manifesto em prol da pacificação do Brasil, onde se inciava a Revolução Constitucionalista de 1932, que tinha o objetivo derrubar o governo provisório de Getulio Vargas e convocar uma Assembleia Nacional Constituinte  (Jornal do Brasil, 20 de julho de 1932, quinta coluna).

Vítima de meningite, faleceu no dia 25 de julho de 1932, com apenas 26 anos de idade, sendo sepultada no Cemitério do Bonfim, na capital mineira. Na ocasião, Elza Pinheiro Guimarães e Anibal Vaz de Melo, representando Sociedade Cultural e Coligação dos Universitários Independentes, fizeram discursos enaltecendo as qualidades e a atuação de Elvira em favor dos “fracos e oprimidos” (Jornal do Brasil, 27 de julho de 1932Correio da Manhã, 27 de julho de 1932, sexta coluna; Diário de Notícias, 5 de agosto de 1932, primeira colunaNação Brasileira, setembro de 1932). O laudo da causa de sua morte foi contestado por sua família, que atribuiu seu falecimento precoce a um aneurisma cerebral.

A passagem do féretro, todo de branco, foi uma nota muito comovente, arrancando lágrimas a muitos dos circuntantes

(A Noite, 27 de julho de 1932, penúltima coluna).

Amélia Duarte, aluna de Direito da Faculdade de São Paulo, publicou um comentário sobre a morte de Elvira (Correio da Manhã, 28 de julho de 1932, segunda coluna).

A Aliança Nacional de Mulheres, que decretou luto de oito dias pelo falecimento de Elvira Komel, a homenageou  com a celebração de uma missa de sétimo dia na Catedral Metropolitana do Rio de Janeiro. O Chefe do Governo Provisório, Getulio Vargas, foi convidado, não compareceu, tendo sido representado por seu ajudante de ordens, Amaro da Silveira (Correio da Manhã, 28 de julho de 1932, penúltima colunaO Radical, 1º de agosto de 1932, quarta colunaFon-Fon, 6 de agosto de 1932).

 

 

A poetisa Ilka Labarthe (? – 1975) falou sobre a vida de Elvira em um programa da Rádio Club (Correio da Manhã, 31 de julho de 1932, quinta coluna).

Foi feita uma homenagem  a Elvira Komel na reunião da Aliança Nacional de Mulheres (Jornal do Brasil, 2 de agosto de 1932, quinta coluna).

Na passagem do trigésimo dia de seu falecimento, foi feita uma romaria a seu túmulo, em Belo Horizonte (Correio da Manhã, 30 de agosto de 1932, sétima coluna).

 

 

A escritora e jornalista curitibana Rachel Prado (1891 – 1943) publicou um artigo sobre Elvira Komel (Brasil Feminino, dezembro de 1932).

 

 

1934 - Existia em Belo Horizonte o Grêmio Literário Elvira Komel (Lavoura e Commercio (MG), 3 de março de 1934, quarta coluna).

2022 – Foi inaugurada, em 25 de julho, na Praça da Lagoa, em sua cidade natal, uma estátua em sua homenagem, de autoria do escultor Fernando Poletti. Em seu pronunciamento, o prefeito Décio dos Santos ressaltou a emoção daquele momento e destacou aos presentes o fato da estátua de Elvira Komel ter o pulso de sua mão direita fechado, simbolizando sua firmeza e determinação, enquanto o pulso da mão esquerda, em aberto, representa sua leveza e sensibilidade. “Nossa cidade é feita por muitas Elvira”, completou o chefe do Executivo.Durante a cerimônia, a presidente da OAB de Barão de Cocais, Aline Félix, fez a leitura do manifesto escrito por Elvira Komel durante a Revolução de 30 (Prefeitura de Barão de Cocais). ***

 

** Andrea C. T. Wanderley é editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

*** Essa informação foi colocada no artigo em 1º de agosto de 2022.

 

Fontes:

CAMPOS, Raquel Discini de. Floriano de Lemos no Correio da Manhã, 1906-1965. Hist. cienc. saude-Manguinhos vol.20  supl.1 Rio de Janeiro Nov. 2013

DUARTE, CARMO & LUZ in Mulheres em Minas: Lutas e Conquistas. Conselho Estadual da Mulher de Minas Gerais – 25 anos. Belo Horizonte: Imprensa Oficial.

DEL PRIORE, Mary (Org.). História das mulheres no Brasil. Coordenação de textos de Carla Bassanesi. São Paulo: Contexto, 1997

DEL PRIORI, Mary. História e conversas de mulher. São Paulo: Planeta Brasil, 2014

ENGLER, Isabel. A primeira prefeita brasileira Alzira Soriano: o poder polpitico coronelístico, Lages/RN, 1928. Trabalho de Conclusão de Curso  – Universidade Federal da Fronteira do Sul, Curso de História – Licenciatura, Chapecó, SC, 2019

GAMA, Lélia Vidal Gomes de. Elvira Komel: uma estrela riscou o céu. EDIÇÃO IMPRENSA OFICIAL DE BELO HORIZONTE, 1987

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

HEYNEMANN, Claudia; RAINHO, Maria do Carmo. Memória das lutas feministas in Brasiliana Fotográfica, 8 de agosto de 2017.

PINTO, Celi Regina Jardim. Uma história do feminismo no Brasil. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo (coleção história do povo brasileiro) 2003.

Portal da Câmara dos Deputados

SCHUMAHER, Schuma; BRAZIL, Erico Vital (organizadores). Dicionário mulheres do Brasil: de 1500 até a atualidade biográfico e ilustrado. Rio de Janeiro : Jorge Zahar Ed., 2000.

SCHWARCZ, Lilia Moritz; STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

SEVCENKO, Nicolau. Orfeu extático na metrópole: São Paulo, sociedade e cultura nos frementes anos 20. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 1992

Site Acontece Online

Site CPDOC

Site Mulheres de Minas- Lutas e conquistas

Site Mulher 500 anos atrás dos panos

Site Observatório do Terceiro Setor

Tribuna do Paraná, 19 de janeiro de 2013

 

Acesse aqui os outros artigos da Série “Feministas, graças a Deus!

 

Série “Feministas, graças a Deus!” I – Elvira Komel, a feminista mineira que passou como um meteoro, publicado em 25 de julho de 2020, de autoria da historiadora Maria Silvia Pereira Lavieri Gomes, do Instituto Moreira Salles, em parceria com Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” II  – Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993), o jequitibá da floresta, publicado em 20 de agosto de 2020, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” II  – Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993), o jequitibá da floresta, publicado em 20 de agosto de 2020, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” III  – Bertha Lutz e a campanha pelo voto feminino: Rio Grande do Norte, 1928, publicado em 29 de setembro de 2020, de autoria de Maria do Carmo Rainha, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” IV  – Uma sufragista na metrópole: Maria Prestia (? – 1988), publicado em 29 de outubro de 2020, de autoria de Claudia Heynemann, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” V – Feminista do Amazonas: Maria de Miranda Leão (1887 – 1976), publicado em 26 de novembro de 2020, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, mestre em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” VI – Júlia Augusta de Medeiros (1896 – 1972) fotografada por Louis Piereck (1880 – 1931), publicado em 9 de dezembro de 2020, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” VII – Almerinda Farias Gama (1899 – 1999), uma das pioneiras do feminismo no Brasil, publicado em 26 de fevereiro de 2021, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” VIII – A engenheira e urbanista Carmen Portinho (1903 – 2001), publicado em 6 de abril de 2021, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” IX – Mariana Coelho (1857 – 1954), a “Beauvoir tupiniquim”, publicado em 15 de junho de 2021, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” X – Maria Luiza Dória Bittencourt (1910 – 2001), a eloquente primeira deputada da Bahia, publicado em 25 de março de 2022, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XI e série “1922 – Hoje, há 100 anos” VI – A fundação da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, publicado em 9 de agosto de 2022, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XII e série “1922 – Hoje, há 100 anos” XI – A 1ª Conferência para o Progresso Feminino, publicado em 19 de dezembro de 2022, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, historiadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” XIII – E as mulheres conquistam o direito do voto no Brasil!, publicado em 24 de fevereiro de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XIV – No Dia Internacional da Mulher, Alzira Soriano, a primeira prefeita do Brasil e da América Latina, publicado em 8 de março de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XV – No Dia dos Povos Índígenas, Leolinda Daltro,”a precursora do feminismo indígena” e a “nossa Pankhurst, publicado em 19 de abril de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XVI – O I Salão Feminino de Arte, em 1931, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica, publicado em 30 de junho de 2023

Série “Feministas, graças a Deus!” XVII – Anna Amélia Carneiro de Mendonça e o Zeppelin, equipe de Documentação da Escola de Ciências Sociais FGV CPDOC, em parceira com Andrea C.T. Wanderley, publicado em 5 de janeiro de 2024

A cientista Marie Curie (1867 – 1934) no Museu Nacional, Rio de Janeiro, 1926

As cientistas Marie Curie (1867 – 1934) e sua filha, Irène Joliot-Curie (1897 – 1956), estiveram no Brasil entre 15 de julho e 28 de agosto de 1926. A Brasiliana Fotográfica destaca uma imagem que pertence ao acervo do Arquivo Nacional, instituição parceira do portal, produzida no dia 29 de julho de 1926, quando as cientistas fizeram uma visita, organizada pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, ao Museu Nacional, no Rio de Janeiro. Foram ciceroneadas por Hermilio Bourguy Macedo de Mendonça (18? – 1941), diretor interino do museu; pelo naturalista Edward May; pela feminista e bióloga Bertha Lutz (1894 – 1976), pelo naturalista Alipio de Miranda Ribeiro (1874 – 1939), pelo geólogo Alberto Betim Paes Leme (1883 – 1938) e pela antropóloga e futura diretora da instituição, Heloisa Alberto Torres (1895 – 1977) (O Paiz, 30 de julho de 1926, primeira coluna).

 

 

Na fotografia, Marie Curie está sentada e sua filha está, em pé, de chapéu. Heloisa Alberto Torres está à esquerda de Marie Curie e Bertha Lutz é a figura mais à direita do registro. No grupo masculino, da esquerda para a direita, estão o naturalista Alipio de Miranda Ribeiro, Hermilio Bourguy Macedo de Mendonça, possivelmente Alberto May e o geólogo Alberto Betim Paes Leme.

 

 

Numa época em que as ciências eram amplamente dominada pelos homens, Marie Curie tornou-se a primeira mulher a ganhar um Prêmio Nobel, quando, em 1903, com os físicos franceses, Pierre Curie (1859 – 1906), seu marido desde 1895, e Antoine Henri Becquerel (1852 – 1908), recebeu o Prêmio Nobel de Física “em reconhecimento aos extraordinários serviços por eles prestados em suas pesquisas conjuntas sobre o fenômeno da radiação, descoberto pelo Professor Henri Becquerel”. Marie Curie voltou a receber um Nobel, desta vez de Química, em 1911, “em reconhecimento aos serviços que prestou para o avanço da química quando descobriu os elementos rádio e polônio, pelo isolamento do rádio e pelo estudo da natureza e composição desse notável elemento”. Marie Curie tornou-se, então, a primeira pessoa a ser laureada duas vezes com o Prêmio Nobel.

 

 

Sua filha, Irène, recebeu com o físico francês Frédéric Joliot-Curie (1900 – 1958), com quem havia se casado em 9 de outubro de 1926, o Prêmio Nobel de Química em 1935 “em reconhecimento da síntese que fizeram de novos elementos radioativos”.

 

 

A viagem das cientistas ao Brasil, em 1926

 

Mãe e filha ficaram hospedadas no Hotel dos Estrangeiros, na Praça José de Alencar, no Flamengo. A chegada de Marie Curie foi saudada com o belo artigo A mulher e a ciência, de Saul Navarro, publicado na Revista da Semana de 10 de julho de 1926. Na mesma edição foi referida como A embaixatriz da Ciência. A Revista O Malho, de 24 de julho de 1926, também saudou a presença de madame Curie no Brasil com o artigo O verdadeiro feminismo. As cientistas faziam parte de uma comissão de sábios franceses em visita à América do Sul, dentre eles o historiador francês Paul Hazard (1878 – 1944), professor de literatura do Colégio da França (O Paiz, 13 de maio de 1926).

O convite para a viagem partiu da Embaixada do Brasil na França e o governo francês foi o patrocinador do evento (O Paiz, 25 de junho de 1926, terceira coluna). Marie Curie, na época professora da Sorbonne, e o professor Hazard foram designados pela Universidade de Paris para ministrar os cursos do Instituto Franco Brasileiro de Alta Cultura, anexo à Universidade do Rio de Janeiro (O Paiz, 18 de junho de 1926, última coluna). As conferências de madame Curie foram realizadas na Escola Politécnica, dirigida Tobias Moscoso (? – 1928). Na época, o reitor da Universidade do Rio de Janeiro era o conde de Afonso Celso (1860 – 1938) (O Paiz, 17 de julho de 1926, sexta coluna). As conferências, que foram transmitidas pela Rádio Sociedade, aconteceram nos dias 20, 23, 27 e 30 de julho; e em 3, 6, 10, 12, 20, 24 e 27 de agosto de 1926.

A Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, que representava a intelectualidade brasileira feminina, organizou uma comissão para acompanhar Marie e Irène Curie durante a viagem ao Brasil. Dela faziam parte, dentre outras, a bióloga Bertha Lutz (1894 – 1976), a mecenas Laurinda Santos Lobo (1878 – 1946), Maria Bandeira (1902 – 1992), primeira botânica do Jardim Botânico do Rio de Janeiro; e a médica Carlota Pereira de Queiroz (1892 – 1982), que viria a ser a  única mulher eleita deputada à Assembléia Nacional Constituinte, na legenda da Chapa Única por São Paulo, em 1933.

 

 

O dia a dia das visitantes de 15 de julho a 28 de agosto de 1926

 

Julho

 

15/07  – Marie Curie e sua filha Irène Joliot-Curie chegaram ao Rio de Janeiro a bordo do navio Pincio (O Paiz, 16 de julho de 1926), e Marie foi anunciada como uma das mais ilustres individualidades do mundo científico internacional.

17/07 - Mãe e filha visitaram a Escola Politécnica, onde fariam conferências e experimentos, em companhia de seu diretor, Tobias Moscoso (? – 1928), e dos professores Dulcídio Pereira e Mario de Brito (Correio da Manhã, 18 de julho de 1926, quarta coluna).

18/07 -  Com o secretário da Embaixada da França, o barão de Maricourt, madame Curie foi recebida, no Palácio do Catete, por Artur Bernardes (1875 – 1955), presidente da República (O Paiz, 19 e 20 de julho, quarta coluna).

20/07 - Madame Curie proferiu a conferência inaugural de seu curso sobre o elemento rádio na Escola Politécnica (Correio da Manhã, 21 de julho de 1926, quinta coluna e Correio da Manhã, 22 de julho de 1926, segunda coluna).

23/07 – Realização da segunda conferência de madame Curie na Escola Politécnica (Correio da Manhã, 23 de julho de 1926, sexta coluna, e 24 de julho de 1926, segunda coluna).

27/07 – Terceira conferência do curso que madame Curie na Escola Politécnica com a participação de sua filha, Irène (Correio da Manhã, 28 de julho de 1926, última coluna).

À tarde, as Curie visitaram o Pão de Açúcar com a comissão organizada pela Federação Brasileira para o Progresso Feminino. O grupo foi recebido pelos diretores da Companhia Caminho Aéreo Pão de Açúcar, os senhores Miranda Jordão e Augusto Ramos. De lá assistiram ao por do sol e o acender das luzes da cidade (O Paiz, 28 de julho de 1926, quarta coluna).

 

 

Foi noticiado que Marie e Irène Curie já haviam visitado o Corcovado, a convite do deputado Lamartine (1874 – 1956), e a Jacarepaguá e à Tijuca, a convite de Adolpho Lutz (1855 – 1940) (Correio da Manhã, 27 de julho de 1926, quinta coluna).

29/07 – As Curie visitaram o Senado Federal, que ficava no Palácio Monroe, onde foram recebidas por funcionários da casa. Os trabalhos do senado foram suspensos e os senadores foram encontrá-las no Salão Nobre, onde foram saudadas pelo vice-presidente da República, Estácio Coimbra (1872 – 1937), e pelo presidente do Senado Federal, Antônio Francisco de Azeredo (1861 – 1936). Mais uma vez, as cientistas estavam acompanhadas por membros da comissão organizada pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (Correio da Manhã, 30 de julho de 1926, sétima coluna).

Visitaram também o Museu Nacional, quando foi produzida a imagem destacada pela Brasiliana Fotográfica. Foram ciceroneadas por Hermilio Bourguy Macedo de Mendonça, diretor interino do museu; pelo naturalista do setor de Zoologia Edward May, pela feminista e bióloga Bertha Lutz (1894 – 1976), pelo naturalista Alipio de Miranda Ribeiro (1874 – 1939), pelo geólogo Alberto Betim Paes Leme (1883 – 1938) e pela antropóloga e futura diretora da instituição, Heloisa Alberto Torres (1895 – 1977) (O Paiz, 30 de julho, primeira coluna).

Madame Curie esteve no gabinete do prefeito do Rio de Janeiro, Alaor Prata (1882 – 1964) (Correio da Manhã, 30 de julho de 1926, segunda coluna).

30/07 – Realização da quarta conferência de Marie Curie na Escola Politécnica (Correio da Manhã, 31 de julho de 1926, primeira coluna).

31/07 – O embaixador da França, Alexandre Conty, ofereceu uma recepção na embaixada para as Curie (O Paiz, 1º de agosto de 1926, segunda coluna).

 

Agosto

 

02/08 - As Curie foram ao Serviço Geológico e Mineralógico, onde foram recebidas pelo diretor da instituição, Euzébio de Oliveira que, ao final da visita, ofereceu à Marie Curie um estojo com 24 pedras preciosas, 4 exemplares de minerais radioativos e um cartão de ouro com uma dedicatória a ela (Correio da Manhã, 2 de agosto de 1926, sétima coluna e O Paiz, 5 de agosto de 1926, segunda coluna).

No período em que esteve no Rio de Janeiro, madame Curie frequentou eventos sociais como a recepção oferecida pela Baronesa de Bonfim (1862-1953) e pela líder feminista Jerônima Mesquita (1880 – 1972). Entre os presentes, os ministros Félix Pacheco (1879 – 1935), Miguel Calmon (1879 – 1935) e Edmundo da Veiga (1869 – 1946), o prefeito do Rio de Janeiro, Alaor Prata (1882 – 1964), além de embaixadores, diplomatas, acadêmicos, enfim personalidades importantes de diversos setores da sociedade ( O Paiz, 7 de agosto de 1926, quarta coluna e Revista da Semana, 7 de agosto de 1927)

03/08 – Realização da quinta conferência de Marie Curie na Escola Politécnica, com a participação de Irène Curie (Correio da Manhã, 4 de agosto de 1926, segunda coluna).

05/08- A convite da Sociedade Interamericana de Mulheres, Marie e Irène foram a Petrópolis acompanhadas por Bertha Lutz, pela embaixatriz da França, pela sra. Paul Hazard e pelo arquiteto português Luiz Moraes Junior (1868 – 1955), dentre outros. Os carros foram fornecidos pelo Automóvel Clube do Brasil. Foram recebidas pelo prefeito da cidade, Francisco de Avelar Figueira de Melo (1883 – 1938), e o senador Joaquim Moreira (1853 – 1929) ofereceu um almoço ao grupo (O Paiz, 6 de agosto de 1926, quarta coluna).

06/08 – Realização da sexta conferência de Marie Curie na Escola Politécnica, com a participação de Irène Curie (Correio da Manhã, 7 de agosto de 1926, quarta coluna).

10/08 - Realização da sétima conferência de Marie Curie na Escola Politécnica, com a participação de Irène Curie (Correio da Manhã, 11 de agosto de 1926, terceira coluna).

11/08 - Foi noticiado que madame Curie havia feito uma interessante excursão pela Estrada de Ferro Central do Brasil, tendo visitado as cidades de Vassouras, Barra do Piraí e Rodeio. Também foi noticiado que ela havia comparecido a uma reunião das senhoras da comissão de recepção organizada pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, na casa da tesoureira da instituição, Stella de Carvalho Guerra Duval (1879 – 1971)(O Paiz, 11 de agosto de 1926, quarta coluna).

Madame Curie foi ao Jardim Botânico e foi recebida por Antônio Pacheco Leão (1872 – 1931), diretor da instituição, e por Maria Bandeira (1902 – 1992), da seção de briófitos (O Paiz, 12 de agosto de 1926, terceira coluna).

12/08 – Realização da oitava conferência de Marie Curie na Escola Politécnica (Correio da Manhã, 13 de agosto de 1926, segunda coluna).

Marie Curie foi à Câmara dos Deputados, onde foi recebida por seu presidente, Arnolfo Azevedo (1868 – 1942)(O Paiz, 13 de agosto , quarta coluna).

13/08  a 18/08 – A convite dos governos de São Paulo e Minas Gerais, feitos respectivamente pelo dr. Pedro Dias da Silva, diretor da Faculdade de Medicina de São Paulo, e pelo dr. Borges da Costa, diretor do Instituto de Rádio de Belo Horizonte, Madame Curie e sua filha visitaram os dois estados. Foram também convidadas Bertha Lutz e Carlota Pereira de Queiroz (O Paiz, 14 de agosto de 1926, última coluna, O Paiz, de 18 agosto de 1926, sexta coluna, e Correio da Manhã, 19 de agosto de 1926, terceira coluna).

19/08 – Na Academia Nacional de Medicina, Marie Curie recebeu as insignias de membro da instituição pelas mãos de seu presidente, o médico Miguel Couto (1865 – 1934) (O Paiz, 20 de agosto de 1926, segunda coluna).

 

20/08 – Realização da nona conferência de Marie Curie na Escola Politécnica, com a participação de sua filha, Irène (Correio da Manhã, 21 de agosto de 1926, última coluna).

24/08  – Realização da décima conferência de Marie Curie na Escola Politécnica, com a participação de sua filha, Irène (Correio da Manhã, 25 de agosto de 1926, penúltima coluna).

Foi oferecida pelo encarregado de negócios do governo da Polônia, um almoço em homenagem a madame Curie, no palacete da legação no Rio de Janeiro (O Paiz, 25 de agosto de 1926, terceira coluna).

Madame Curie foi homenageada numa sessão solene da Academia Brasileira de Ciências. Na ocasião foi aclamada membro correspondente da instituição (Correio da Manhã, 24 de agosto de 1926, sétima coluna, e O Paiz, de 29 de agosto de 1926, última coluna).

25/08 – No Teatro Casino do Passeio Público a Federação Brasileira para o Progresso Feminino (FBPF) promoveu uma homenagem às Curie. Foram saudadas com um discurso proferido por uma de suas fundadoras e presidente, Bertha Lutz, que foi respondido por Marie Curie com palavras de agradecimento. Ela recebeu, então, o primeiro diploma de honra conferido pela FBPF: todo iluminado em ouro e tons de bronze, em pergaminho, pela ilustre pintora patrícia Silvie Meyer (1899 – 1955)No programa, poesia e teatro (O Paiz, 26 de agosto de 1926, quarta coluna).

 

 

26/08 – Marie e Irène foram ao Palácio do Catete para se despedirem do presidente da República, Artur Bernardes (O Paiz, 27 de agosto de 1926, quarta coluna).

27/08 – Realização da décima-primeira e última conferência de Marie Curie na Escola Politécnica. Na ocasião, o reitor da Universidade do Rio de Janeiro, o conde de Afonso Celso, cumprimentou Marie e Irène Curie pelo brilhante curso realizado (Correio da Manhã, 28 de agosto de 1926, última coluna).

28/08 –  Mãe e filha regressaram à França, no paquete Lutecia. Ao embarque da sra Curie, que esteve muito concorrido, compareceram as figuras mais representativas dos nossos círculos universitários, homens de ciências e de letras,  representantes da imprensa e elementos dos mais distintos de nossa alta sociedade. Do navio, Marie Curie enviou a Bertha Lutz uma mensagem de agradecimento para ser distribuída à imprensa (Jornal do Commercio, 29 de agosto de 1926, primeira coluna e O Paiz, de 29 de agosto de 1926, última coluna).

 

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Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Canal Ciência – IBICT

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

Museu Nacional

Revista Superinteressante

SCHUMAHER, Schuma; BRAZIL, Erico Vital (organizadores). Dicionário mulheres do Brasil: de 1500 até a atualidade biográfico e ilustrado. Rio de Janeiro : Jorge Zahar Ed., 2000.

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