Os 180 anos de nascimento do fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923)

No dia do aniversário de 180 anos de Marc Ferrez (1843 – 1923), a Brasiliana Fotográfica destaca os 27 artigos já publicados no portal em torno da obra do fotógrafo. Ferrez teve uma trajetória singular na história da fotografia no Brasil, tendo se estabelecido, inicialmente, em 1867, na Rua São José, nº 96, no Rio de Janeiro, tornando-se logo o mais importante profissional da área na cidade. Foi no Rio de Janeiro e em seus arredores que ele realizou cerca da metade de sua produção fotográfica, registrando, além do patrimônio construído, a exuberância das paisagens naturais.

 

Foi o único fotógrafo do século XIX que percorreu todas as regiões do Brasil, tendo sido, no referido século, o principal responsável pela divulgação da imagem do país no exterior. Nos anos 1870, integrou a Comissão Geológica do Império e tornou-se Fotógrafo da Marinha Imperial. Participou e foi premiado em diversas exposições nacionais e internacionais.

 

Carimbo de Marc Ferrez, c. 1875. Rio de Janeiro, RJ / Acervo IMS.

Carimbo de Marc Ferrez, c. 1875. Rio de Janeiro, RJ / Acervo IMS.

 

Acessando o link para as fotografias de Marc Ferrez disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Marc Ferrez nasceu no Rio de Janeiro, em 7 de dezembro de 1843, cerca de quatro após o anúncio da invenção do daguerreótipo por François Arago (1786 – 1853), secretário da Academia de Ciências da França, em 19 de agosto de 1839. O daguerreótipo, processo fotográfico desenvolvido por Joseph Nicèphore Niépce (1765-1833) e Louis Jacques Mandé Daguerre (1787-1851), revolucionou em pouco tempo e para sempre a forma do registro do mundo e de seus habitantes, inundando nosso planeta de imagens fotográficas. A invenção chegou ao Brasil em 1840 e dom Pedro II (1825 – 1891) foi um grande entusiasta da fotografia.

 

Câmara de daguerreótipo Succe Frères, de 1939 / Westlicht Photography Museum, em Viena, na Áustria

 

Voltando a Marc Ferrez. Ele era filho de Zépherin (Zeferino) Ferrez (1797 – 1851) e Alexandrine Caroline Chevalier (18? – 1851). Seu pai, um escultor e gravador francês, havia chegado com o irmão Marc (Marcos), no Rio de Janeiro, em 1817. Os dois passaram a integrar a Missão Francesa, que havia se instalado na cidade no ano anterior. Após passar alguns anos em Paris, Marc Ferrez retornou ao Rio de Janeiro em torno de 1863. Casou-se com a francesa Marie Lefebvre (c. 1849 – 1914) em 16 de agosto de 1873. Tiveram dois filhos: Julio Marc (1881 – 1946) e Luciano José André (1884 – 1955).

 

 

Sua trajetória profissional foi marcada por uma forte ligação com atividades culturais e científicas e também por um contato permanente com os principais desenvolvimentos tecnológicos de sua época. Produziu magistrais fotografias de arquitetura durante a construção da Avenida Central, no Rio de Janeiro.

 

 

Também participou da introdução do cinema e da fotografia estereoscópica em cores no Brasil, no início do século XX. Em 1905, obteve a representação da firma francesa Pathé Frères no Brasil. A firma era a maior e melhor fábrica de aparelhos e filmes cinematográficos da Europa. Faleceu em 12 de janeiro de 1923, no Rio de Janeiro.

 

“Há nas suas paisagens…uma nota artística sempre: a escolha do ponto de vista denotava no fotógrafo a existência daquela divina centelha de arte que dá o toque de poesia às frias imagens que a objetiva mecanicamente registra”.

Para Todos, 20 de janeiro de 1923

 

Publicações da Brasiliana Fotográfica em torno da obra do fotógrafo Marc Ferrez 

 

 

O Rio de Janeiro de Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 30 de junho de 2015

Obras para o abastecimento no Rio de Janeiro por Marc Ferrez , de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 25 de janeiro de 2016

O brilhante cronista visual Marc Ferrez (7/12/1843 – 12/01/1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 7 de dezembro de 2016

Do natural ao construído: O Rio de Janeiro na fotografia de Marc Ferrez, de autoria de Sérgio Burgi, um dos curadores da Brasiliana Fotográfica, publicada em 19 de dezembro de 2016

No primeiro dia da primavera, as cores de Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 22 de setembro de 2017

Marc Ferrez , a Comissão Geológica do Império (1875 – 1878) e a Exposição Antropológica Brasileira no Museu Nacional (1882), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica,  publicada em 29 de junho de 2018

Série “O Rio de Janeiro desaparecido” V – O quiosque Chopp Berrante no Passeio Público, Ferrez, Malta e Charles Dunlop, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 20 de julho de 2018

Uma homenagem aos 175 anos de Marc Ferrez (7 de dezembro de 1843 – 12 de janeiro de 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 7 de dezembro de 2018 

Pereira Passos e Marc Ferrez: engenharia e fotografia para o desenvolvimento das ferrovias, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 5 de abril de 2019

Fotografia e ciência: eclipse solar, Marc Ferrez e Albert Einstein, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 

Os 180 anos da invenção do daguerreótipo – Os álbuns da Comissão Geológica do Império com fotografias de Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 19 de agosto de 2019

Celebrando o fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 4 de dezembro de 2019

Uma homenagem da Casa Granado ao imperial sob as lentes de Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 7 de fevereiro de 2020

Ressaca no Rio de Janeiro invade o porão da casa do fotógrafo Marc Ferrez, em 1913, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado 6 de março de 2020

Petrópolis, a Cidade Imperial, pelos fotógrafos Marc Ferrez e Revert Henrique Klumb, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 16 de março de 2020

Bambus, por Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 5 de junho de 2020

O Baile da Ilha Fiscal: registro raro realizado por Marc Ferrez e retrato de Aurélio de Figueiredo diante de sua obra, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 9 de novembro de 2020

O Palácio de Cristal fotografado por Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 2 de fevereiro de 2021

A Estrada de Ferro do Paraná, de Paranaguá a Curitiba, pelos fotógrafos Arthur Wischral (1894 – 1982) e Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 22 de março de 2021

Dia dos Pais – Julio e Luciano, os filhos do fotógrafo Marc Ferrez, e outras famílias, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 6 de agosto de 2021

No Dia da Árvore, mangueiras fotografadas por Ferrez e Leuzinger, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 21 de setembro de 2021

Retratos de Pauline Caroline Lefebvre, sogra do fotógrafo Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 28 de abril de 2022

A Serra dos Órgãos: uma foto aérea e imagens realizadas pelos mestres Ferrez, Leuzinger e Klumb, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 30 de junho de 2022

O centenário da morte do fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 12 de janeiro de 2023

O Observatório Nacional pelas lentes de Marc Ferrez, amigo de vários cientistas, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 29 de maio de 2023

No Dia Mundial do Meio Ambiente, a potente imagem da Cachoeira de Paulo Afonso, por Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 5 de junho de 2023

A Fonte Adriano Ramos Pinto por Guilherme Santos e Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 18 de julho de 2023

 

Acesse aqui a Acervo, Revista do Arquivo Nacional, com o tema Marc Ferrez: a fotografia como experiência, volume 36, nº2 maio/agosto 2023, que traz artigos de algumas parceiras – Maria do Carmo Rainho (Arquivo Nacional) e Maria Isabel Lenzi (Museu Histórico Nacional –  e também de algumas colaboradoras – Ana Maria Mauad e Maria Isabela Mendonça dos Santos – da Brasiliana Fotográfica.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

O fotógrafo Paul Erbe

A arquivista Daniella Gomes dos Santos e a doutora em História Maria Isabel Lenzi, ambas do Museu Histórico Nacional, uma das instituições parceiras da Brasiliana Fotográfica, nos contam sobre o trabalho de pesquisa que realizaram em busca de informações sobre um fotógrafo chamado Paul Erbe, que atuou no Rio de Janeiro nas primeiras décadas do século XX. O Museu Histórico Nacional possui dois álbuns fotográficos de Erbe, além de três retratos realizados por ele na década de 20. Um dos álbuns, com 11 paisagens do Rio de Janeiro produzidas na década de 10, pertenceu ao alemão Karlheinz Klintworth e foi adquirido em 1998. O outro tem 20 imagens do Mosteiro de São Bento realizadas nos anos 20.

 

O fotógrafo Paul Erbe

Daniella Gomes dos Santos e Maria Isabel Ribeiro Lenzi*

Neste artigo relatamos o trabalho de pesquisa em busca de informações sobre um fotógrafo chamado Paul Erbe.

 

 

A investigação iniciou-se após revisão de dados em diversos inventários das coleções sob a guarda do Arquivo Histórico do Museu Histórico Nacional – MHN. Uma das atualizações feitas foi a de um álbum contendo onze fotografias com imagens do Rio de Janeiro, da década de 1910, com a identificação do fotógrafo Paul Erbe, que nós desconhecíamos.

 

 

Acessando o link para as 11 fotografias em sépia do álbum que pertenceu a Karlheinz Klintworth com fotografias de autoria de Paul Erbe do acervo do Museu Histórico Nacional e disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

Esse álbum pertenceu a Karlheinz Klintworth, cidadão alemão, que viveu no Brasil no período de 1957 a 1970 e foi oferecido ao MHN como sendo uma preciosidade. Após trocas de correspondências entre a direção do Museu e o proprietário das fotografias, foi verificada a relevância do material e a compra foi realizada através da Associação de Amigos do Museu Histórico Nacional no ano de 1998.

 

 

Notícia no Jornal do Brasil sobre a compra do álbum:

 

 

 

Buscamos informações sobre Erbe no Dicionário Histórico-Fotográfico Brasileiro de Boris Kossoy, em que foi compilada a trajetória de fotógrafos e retratistas que documentaram o Brasil entre 1833 e 1910, mas não constam nessa obra informações sobre o fotógrafo.

Pesquisando na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional, encontramos notícia de agosto de 1917, em que vários jornais, como O Paiz, Gazeta de Notícias, Jornal do Commercio e Jornal do Brasil, relatam um incêndio de grandes proporções que destruiu grande parte do edifício em que funcionava a redação do jornal O Paiz, na Avenida Branco, esquina com rua Sete de Setembro, no centro do Rio de Janeiro. Ocorre que, o ateliê fotográfico de Huebner Amaral, de quem Paul Erbe era sócio, também funcionava no prédio em que aconteceu o sinistro.

 

 

 

 

Demos prosseguimento à pesquisa em sítios eletrônicos e encontramos um artigo de Mateus Duarte, tendo como objeto de estudo um álbum com fotografias de 1921 a 1936, produzidas por Paul Erbe. O álbum foi doado e dedicado à John Raschle pela diretoria da indústria como prova reconhecimento à sua collaboração como director gerente nos dois primeiros anos da sociedade e como constante lembrança da sua pêssoa , conforme escrito na dedicatória do dia 26 de novembro de 1936.

 

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Álbum S.A. Cotonifício Gávea / Mapeamento sócio técnico e cultural da Gávea: o álbum de fotografia da S.A Cotonifício Gávea, página 10.

 

 

São 45 fotografias de uma pequena fábrica localizada na Gávea, Rio de Janeiro. O autor relata em seu texto que não conseguiu muita informação sobre o fotógrafo e faz referência ao Almanak Laemmert: Administrativo Mercantil e Industrial (RJ) e ao Jornal do Comércio como fonte de pesquisa. Na edição de 1919 do Jornal do Commercio é noticiada a dissolução da sociedade com George Huebner (1862-1935). Paul Erbe, citado na matéria como Paulo Erbe, era sócio-gerente desde 1912, ficando como único proprietário do ateliê fotográfico, localizado na rua da Assembleia nº 100, a partir da interrupção da parceria. Presumimos que a ruptura da sociedade e a mudança de endereço tenha relação com o incêndio de 1917.

 

 

 

Paul Erbe permaneceu na rua da Assembleia nº 100 até o final da década de 1920.  Ao longo deste decênio, grande parte de seus anúncios ofereciam ao público seu trabalho neste endereço no centro da cidade.

 

 

Todavia, no final da década, o fotógrafo faz o movimento rumo ao bairro que estava em franco crescimento: Copacabana. Encontramos, em 1929, no Almanak Laemmert, sua nova direção à rua República do Peru nº 100.

 

 

A partir de 1923, aparecem diversos anúncios em que se faz referência ao trabalho de Paul Erbe em peças teatrais, cujos artistas tinham os retratos expostos nos saguões do teatro e no “estúdio Erbe”. Eram disponibilizados aos assinantes de frisas e camarotes, fotografias dos principais artistas das Companhias, produzidas pelo “magnífico trabalho da acreditada Photographia ERBE, Rua da Assembleia n.100”(Correio da Manhã, 2 de outubro de 1923; O Jornal, 15 de abril de 1924).

 

 

A única imagem que conseguimos encontrar do fotógrafo está na Revista Fon-Fon! - importante periódico que circulou nas primeiras décadas do século XX – é a que está publicada no início deste artigo. A Fon-Fon! apresentava a vida privada da sociedade burguesa e foi grande influenciadora do comportamento da elite carioca (Fon-Fon!, 7 e outubro de 1916).

Nas buscas por mais informações, nos deparamos com trabalhos de Erbe em sites de leilões eletrônicos: fotografias de famílias e paisagens do Rio de Janeiro.

Mas voltando ao álbum, verificamos que aparece na capa o endereço do centro – rua da Assembleia, 100.  Deste modo, deduzimos que ele deve ter sido feito a partir de 1919, talvez na década de 1920. Porém, observando algumas fotografias, percebemos que são imagens da década de 1910. Em duas fotos, o Pão-de-Açúcar aparece sem os cabos que sustentam o bondinho.  Conseguimos visualizar as construções que estavam sendo feitas no alto dos morros da Urca e do Pão-de-Açúcar, mas ainda sem o bondinho que pouco depois levaria turistas para contemplar a paisagem carioca. Sabemos que a primeira parte do Caminho Aéreo do Pão-de-Açúcar foi inaugurado em 1912, de modo que provavelmente essas imagens são anteriores a este ano. Todavia, a montagem do álbum provavelmente é da década de 1920.

 

 

Consta no processo de compra do álbum que um perito do arquivo histórico da Companhia de Navegação Hamburg-Sud, de Hamburgo, apontou que há uma imagem de um navio da referida companhia, que só trafegou na Baía da Guanabara em alguns meses no ano de 1914.  Nesta fotografia em que aparece o navio, o Pão-de-Açúcar fica bem visível sem o cabo do bondinho, de modo que constatamos um equívoco do perito nesta datação, a julgar pelo exposto acima.

O fato de o Morro do Castelo aparecer em uma das fotos corrobora a tese de que as fotografias são da década de 1910. Sabemos que aquele outeiro foi demolido em início dos anos de 1920 e o álbum traz uma fotografia em que o outeiro está intacto.  Então acreditamos que essas imagens são mesmo dos anos 1910, mas foram reunidas em álbum na década seguinte.

 

 

Além do álbum citado neste artigo, o Arquivo Histórico do MHN preserva outro, contendo vinte fotografias com imagens do Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro, além de três retratos da década de 1920, todos produzidos por Paul Erbe.

 

Acessando o link para as fotografias do outro álbum de fotografias de autoria de Paul Erbe com imagens do Mosteiro de São Bento e de três retratos também produzidos por ele pertencentes ao acervo do Museu Histórico Nacional e disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

 

Não localizamos a quem pertenceu este outro álbum e um dos retratos. Já as outras duas fotografias constam a informação de seus doadores: uma foi doada em 1993 por Yeda Telles de Menezes, e é de um familiar da doadora; e a outra, doada em 1998, por José Pinto de Lima, é do próprio doador.

 

 

 

 

A terceira é do engenheiro e político Miguel Calmon (1879 – 1935), que foi ministro e secretário de Estado dos Negócios da Indústria, Viação e Obras Públicas durante a presidência de Afonso Pena (1847 – 1909) e de Nilo Peçanha (1867 – 1924); e também da Agricultura, Indústria e Comércio, do governo de Artur Bernardes (1875 – 1955).

 

 

 

*Daniella Gomes dos Santos é graduada em Arquivologia pela Unirio e arquivista do Arquivo Histórico do Museu Histórico Nacional (IBRAM/MinC)

Maria Isabel Ribeiro Lenzi é doutora em História pela UFF e historiadora do Arquivo Histórico do Museu Histórico Nacional (IBRAM/MinC)

 

Fontes:

DUARTE, Mateus Sanches. Mapeamento sócio técnico e cultural da Gávea: o álbum de fotografia da S.A Cotonifício Gávea.  Disponível em: https://www.puc-rio.br/ensinopesq/ccpg/pibic/relatorio_resumo2019/download/relatorios/CCS/CSOC/CSOC-
Mateus%20Sanches%20Duarte.pdf . Acesso em 11 de agosto de 2023.Acesso em 11 de agosto de 2023.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOSSOY, Boris. Dicionário Histórico-Fotográfico Brasileiro. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002.

ZANON, Marilia Cecilia. A sociedade carioca da Belle Époque nas páginas do Fon Fon!  Patrimônio e Memória, v.4, n. 2, p. 217-235. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/handle/11449/108024. Acesso em 10 de agosto de 2023.

 

 

Nota da editora:

No catálogo dos quadros do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, publicado, em 1948, na revista do referido instituto, está listada uma ampliação fotográfica realizada por Paul Erbe do historiador, professor e jornalista Max Fleiuss(1868 – 1943) (Revista do  Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, outubro / dezembro de 1948, segunda coluna).

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

O “Dr. Photographo” Oswaldo Cruz

Ricardo Augusto dos Santos, Felipe Almeida Vieira e Francisco dos Santos Lourenço, pesquisadores da Fiocruz, uma das instituições parceiras da Brasiliana Fotográfica, são os autores do artigo O “Dr. Photographo” Oswaldo Cruz, que traz para os leitores do portal uma faceta pouquíssimo conhecida do cientista: ele era um entusiasta da fotografia e este interesse ocupou um lugar importante tanto em sua vida privada como na profissional. Atuou muitas vezes como fotógrafo e foi personagem central de inúmeras fotografias ao longo de sua vida. Com a publicação de registros realizados por ele próprio, por fotógrafos ainda não identificados, pelo fotógrafo português José Ferreira Guimarães (1841 – 1924) e por J. Pinto (1884 – 1951), fotógrafo baiano que atuou muitos anos na Fundação Oswaldo Cruz, vamos conhecer um pouco desta história.

 

 

Acessando o link para as fotografias relativas a este artigo disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

O “Dr. Photographo” Oswaldo Cruz

 

Ricardo Augusto dos Santos, Felipe Almeida Vieira e Francisco dos Santos Lourenço*

 

Oswaldo Gonçalves Cruz (1872 – 1917) era um apaixonado pela fotografia. O interesse na criação de imagens em suporte sensível ocupou um lugar de destaque em sua vida privada e no mundo do trabalho. Ele próprio atuou como fotógrafo e foi personagem central de inúmeras fotografias de conteúdos distintos ao longo de sua gloriosa existência.

 

 

 

É importante registrar que nem sempre foi possível a identificação dos profissionais que contribuíram para eternizar a imagem de Oswaldo Cruz com suas lentes, já que a maioria de seus nomes se perdeu no tempo. Nessa perspectiva, até mesmo as fotografias atribuídas a Oswaldo Cruz apresentam um quantitativo subestimado em virtude da carência de elementos descritivos, como datas, nomes e locais, que comprovem a sua autoria.

As raras fontes existentes indicam que Oswaldo Cruz demonstrou interesse pela fotografia quando morou em Paris, na França, com a família, entre 1897 e 1899, a fim de aprimorar seus conhecimentos médico-científicos. Em carta a Emília da Fonseca Cruz, a Miloca (1873 – 1952), sua esposa, retornando da Exposição Internacional de Higiene de Dresden, na Alemanha, em 1911, fez menção a um passeio turístico para Fontainebleau, em 1897. Nessa ocasião, retratou a esposa, filhos e monumentos históricos.

 

 

De acordo com Ezequiel Dias (1880 – 1922), cientista e cunhado de Oswaldo, este se dedicava tanto à fotografia que se tornou um perito na arte, passando os domingos envolvido com a prática. Essa narrativa também foi compartilhada nas memórias afetivas do professor Eduardo Oswaldo Cruz (1933 – 2015), que herdou verdadeiras “preciosidades documentais” deixadas por seu ilustre avô. O material encontra-se sob a guarda da Casa de Oswaldo Cruz.

“O interesse de Oswaldo pela fotografia é evidente pela presença em sua casa da Praia de Botafogo, número 406, de uma câmara escura, localizada ao lado de sua sala de estudo (que ele denominava ‘meu Palácio de Cristal’), o que assegurava condições ideais para seu entretenimento. Sabemos que o próprio executava todas as manipulações necessárias, incluindo a sensibilização das placas, sua revelação e preparo dos positivos”.

Eduardo Oswaldo Cruz. Anaglyphos, s.d.

 

 

 

Porém, segundo a inscrição contida na imagem a seguir, Oswaldo Cruz possuía também em sua anterior residência, na rua Voluntários da Pátria, número 128, em Botafogo, um espaço para exercitar seu passatempo predileto, a fotografia. Em ambos os endereços registrou cenas do cotidiano familiar.

 

 

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Taxiphote, aparelho similar ao pertencente a Oswaldo Cruz / stereoscopyhistory.net

 

Para embasar da melhor forma possível a execução de seu hobby, Oswaldo Cruz cercou-se de publicações sobre teoria e técnica fotográficas. Entre os títulos em alemão, francês e italiano da antiga biblioteca do cientista, hoje preservados no acervo da Casa de Oswaldo Cruz, destacam-se La fotografia industriale. Fotocalchi economici per le riproduzioni di disegni, piani, carte, musica, negative fotografiche, ecc. e Les nouveautés photographiques, années 1904 et 1905. Complément annuel à la théorie, la pratique et l’art en photographie.

 

Coleção Bibliográfica Oswaldo Cruz / Acervo Casa de Oswaldo Cruz

Coleção Bibliográfica Oswaldo Cruz / Acervo Casa de Oswaldo Cruz

 

As câmeras utilizadas por Oswaldo Cruz, que teriam sido adquiridas em Paris, foram a Kodak Folding Pocket, que empregava Roll Film tamanho 118, e a Vérascope Richard, a sua favorita, que produzia fotografias estereoscópicas.

 

“Ainda que em alguns sentidos guarde semelhanças à prática amadora da fotografia plana, o amadorismo estereoscópico tem também suas especificidades, sobretudo no que diz respeito à sua capilarização. Estendendo-se pouco, ou quase nada, para além das elites, podemos perceber um perfil padrão dos fotógrafos amadores: profissionais liberais herdeiros de abastadas famílias brasileiras, homens de posses e/ou ocupantes de altos cargos da administração pública e sediado nos grandes centros urbanos”.

Maria Isabela Mendonça dos Santos.

A estereoscopia e o olhar da modernidade, 2019.

 

 

 

Entre as clássicas denominações atribuídas a Oswaldo Cruz – “mito na ciência brasileira”, “saneador do Rio de Janeiro” e “fundador da medicina experimental no Brasil” – houve uma de procedência totalmente informal, e que serviu de fio condutor para a concepção deste artigo. Sua origem se deu a partir de um episódio pitoresco envolvendo a figura de Oswaldo Cruz, que na ocasião foi chamado de “Dr. Photographo” por estudantes da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.

 

Ezequiel Caetano Dias. Traços biográficos de Oswaldo Cruz, 1922

Ezequiel Caetano Dias. Traços biográficos de Oswaldo Cruz, 1922

 

As imagens que apresentamos no presente artigo pertencem à Coleção Família Oswaldo Cruz. Nela encontram-se, entre outras “preciosidades documentais”, fotografias, cartas e álbuns, de natureza e suportes diversos, que revelam aspectos até então desconhecidos da vida privada e da trajetória de Oswaldo Cruz como médico, cientista, sanitarista e administrador de instituições de ciência e saúde pública. Dito isso, vamos conhecer um pouco mais a respeito do nosso “Dr. Photographo”.

 

 Oswaldo Cruz, a Saga de Um Herói Brasileiro

Samba-enredo da Escola de Samba Em Cima da Hora, no carnaval de 2000.

 

“De São Luiz do Paraitinga

A saga de um herói vamos contar

Grande gênio da ciência

Trouxe a experiência da Cidade-Luz

No Brasil está vivo na memória

Um carnaval de epidemias combateu

Saneando a cidade, o meu Rio tropical

Foi espelho de Paris

Botaram abaixo o antigo

Construindo um ideal e assim remodelaram a capital

 

Com seus feitos, muitas vidas preservou

Foram ideias geniais e amor

Diretor pela saúde se tornou

Nos anais da nossa história o seu nome consagrou

 

Mas nem tudo eram flores

E houve dissabores com a vacinação

E aí a imprensa com humor, malhou, malhou

Em meio a tanta dor

 

Lá no Pará,

Terra de Tapajós e Apiacás

Com muita força e fé, livrou do mal

Operários da Madeira-Mamoré

Pesquisador, tornou-se imortal

Prefeito da Cidade Imperial

 

Oswaldo Cruz, a Fundação é você

Batam palmas, eu quero ver

Parabéns ao centenário

Muito fez por merecer”

 

Natural de São Luiz do Paraitinga, cidade histórica do interior paulista, Oswaldo Cruz nasceu no dia 5 de agosto de 1872, filho do médico Bento Gonçalves Cruz (1845 – 1892) e Amália Taborda de Bulhões Cruz (1851 – 1921). Em 1877, quando Oswaldo tinha cinco anos de idade, sua família se transferiu para a capital do Império, a cidade do Rio de Janeiro.

 

 

Em 1889, ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, onde se formou em 1892, aos vinte anos. Em relação ao período que Oswaldo Cruz realizou sua graduação, é necessária uma correção. A partir da consulta aos documentos sobre a vida estudantil do cientista na Faculdade de Medicina, verificamos ser 1889 o ano correto para a sua entrada no curso médico – e não 1887, como foi difundido por seus primeiros biógrafos.

 

Certificado de provas da primeira série do curso médico, 9 de abril de 1889 / Acervo do Centro de Ciências da Saúde/UFRJ.

Certificado de provas da primeira série do curso médico, 9 de abril de 1889 / Acervo do Centro de Ciências da Saúde/UFRJ.

 

Em 1893, casou-se com Emília, com que teve seis filhos: Elisa (1894 – 1965), Bento (1895 – 1941), Hercília (1898 – 1968), Oswaldo (1903 – 1977), Zahra (1907 – 1908) e Walter (1910 – 1967). Ainda nesse ano, Oswaldo Cruz montou um laboratório de análises clínicas em sua casa e deu início a uma diversificada atuação como médico no consultório que herdara de seu pai, na Fábrica de Tecidos Corcovado e na Policlínica Geral do Rio de Janeiro. Além disso, auxiliou o Instituto Sanitário Federal no diagnóstico da epidemia de cólera que grassava no Vale do Paraíba.

 

 

Entre 1897 e 1899, conforme citado anteriormente, Oswaldo Cruz esteve em Paris estudando microbiologia, soroterapia e imunologia no Instituto Pasteur e medicina legal no Instituto de Toxicologia. Sua estadia com a família na “cidade-luz” foi financiada pelo sogro, o abastado comerciante português Manuel José da Fonseca (1842 – 1912).

 

 

 

De volta ao Rio de Janeiro, Oswaldo Cruz retomou suas funções como médico e fez parte da comissão que averiguou a crise de peste bubônica na cidade de Santos. Em seguida, recebeu o convite para exercer a direção técnica do Instituto Soroterápico Federal, que estava sendo criado na Fazenda de Manguinhos, localizada à beira mar, no subúrbio carioca. Seu funcionamento teve início em 1900, sob o comando do barão de Pedro Affonso (1845 – 1920). Dois anos depois, o barão foi destituído do cargo. Oswaldo Cruz, então, passou a dirigir sozinho os destinos do instituto – “célula mater” do que é, hoje, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

“Embora as verbas permanecessem escassas, o Instituto, sob a direção exclusiva de Oswaldo, foi tendo maiores facilidades para a realização de pesquisas. Trabalhava-se o mais que se podia, despreocupadamente, com satisfação, com muito interesse pelas pesquisas científicas e com liberdade para investigar sobre os mais variados assuntos com aprovação ampla de Oswaldo, cujo maior objetivo era alargar o âmbito das atividades praticadas no Instituto”.

Henrique de Beaurepaire Aragão.

Notícia histórica sobre a fundação do Instituto Oswaldo Cruz (Instituto de Manguinhos), 1950.

 

Sobre os primeiros tempos do Instituto Soroterápico Federal existem relatos de que o próprio Oswaldo Cruz documentou fotograficamente as atividades desenvolvidas nos improvisados ambientes de pesquisa e de preparo de soros e vacinas.

 

 

Em 1903, a partir da contratação do exímio e criativo fotógrafo Joaquim Pinto da Silva, o J. Pinto (1884 – 1951), foram ampliados os registros referentes aos funcionários, estudantes, eventos, expedições científicas, campanhas sanitárias e instalações físicas do que viria a ser, dentro de poucos anos, um dos principais centros de ciências biomédicas e saúde do país. As fotografias produzidas por J. Pinto e outros fotógrafos que serviram na instituição ao longo de sua história, também estão reunidas no acervo da Casa de Oswaldo Cruz. Muitas delas, inclusive, foram apresentadas como tema de artigos na própria Brasiliana Fotográfica.

 

 

 

 

 

Mesmo após a chegada de um fotógrafo profissional, Oswaldo Cruz continuou produzindo fotografias sobre o dia a dia de Manguinhos, bem como de suas viagens a trabalho dentro e fora do país. No edifício símbolo da instituição, o Pavilhão Mourisco, mandou instalar um moderno Gabinete Fotográfico. Essa iniciativa, inovadora para os padrões da época, vem comprovar o grande apreço que o cientista tinha pela elaboração de imagens, não somente fixas, mas também em movimento.

“Entre o 3° e o 4° andar estão os gabinetes de macro e microfotografia, cinematografia etc., onde são executados por profissional de real competência – o Snr. Pinto – todos os trabalhos desse gênero. Ao lado, se acha uma copiosa coleção catalogada de fotografias e microfotografias, todas elas referentes a estudos realizados pelo pessoal do Instituto”. 

Ezequiel Caetano Dias. O Instituto Oswaldo Cruz: resumo histórico (1899-1918), 1918.

 

 

 

A partir de 1903, Oswaldo Cruz também comandou a Diretoria Geral de Saúde Pública (DGSP), tendo como desafio empreender uma campanha sanitária para debelar as principais doenças que assolavam o Rio de Janeiro: febre amarela, peste bubônica e varíola. Essa árdua tarefa se desenvolveu no contexto da reforma urbana orquestrada pelo prefeito Francisco Pereira Passos (1836 – 1913), que recebeu plenos poderes do presidente Francisco de Paula Rodrigues Alves (1848 – 1919) para transformar a capital da República em uma metrópole tropical com ares parisienses.

Cabe ressaltar aqui o papel desempenhado pela fotografia no período da Primeira República ou República Velha. Graças a difusão da técnica, um farto material iconográfico foi publicado na imprensa brasileira. Consultando revistas ilustradas e jornais diários, encontramos fotografias – além de charges e caricaturas – que foram utilizadas para enaltecer ou criticar as campanhas sanitárias e atividades científicas sob a responsabilidade de Oswaldo Cruz.

 

 

Os métodos empregados pelo diretor da DGSP para combater as epidemias de febre amarela e peste bubônica abordaram o isolamento dos doentes, a eliminação de mosquitos e ratos, a notificação compulsória dos casos positivos e a desinfecção de imóveis e ruas. Esses métodos, embora eficazes, não foram bem recebidos por vários segmentos da população, que desconfiavam da sua validade.

 

 

 

 

O combate à varíola, por sua vez, não saiu conforme o planejado por Oswaldo Cruz. Em 1904, depois da aprovação da polêmica lei que tornou obrigatória a vacinação contra a varíola em todo o Brasil, eclodiu uma revolta popular, seguida da tentativa de golpe militar: a Revolta da Vacina. Ela durou sete dias e foi reprimida severamente pelo governo de Rodrigues Alves, que acabou suspendendo a obrigatoriedade da vacinação.

 

 

De 1905 a 1906, ainda como parte das atribuições da DGSP, Oswaldo Cruz realizou uma viagem a diversos portos marítimos e fluviais de norte a sul do Brasil em companhia de seu secretário, o médico João Pedroso Barreto de Albuquerque (1869 – 1936). O objetivo da viagem era estabelecer um código sanitário para o país de acordo com as normas internacionais. Por esse novo empreendimento, Oswaldo Cruz foi mais uma vez incompreendido e atacado pela imprensa.

 

 

 

 

Em 1907, durante o XIV Congresso Internacional de Higiene e Demografia de Berlim (Alemanha), Oswaldo Cruz recebeu da imperatriz Augusta Vitória (1858 – 1921) a medalha de ouro em nome da seção brasileira presente na Exposição Internacional de Higiene. No evento foram exibidos os produtos e documentos referentes às ações do Instituto Soroterápico Federal e da DGSP, como, por exemplo, vacinas e soros, peças anatomopatológicas, coleções zoológicas, gráficos e fotografias de campanhas sanitárias e maquetes dos edifícios construídos para o instituto e a saúde pública no Rio de Janeiro. Quando ainda se encontrava no exterior, o governo brasileiro transformou o Instituto Soroterápico Federal em Instituto de Patologia Experimental de Manguinhos, um antigo anseio do cientista. Ao regressar ao Rio de Janeiro, em 1908, Oswaldo Cruz foi festivamente recebido como herói nacional após o retumbante sucesso alcançado pelo Brasil no evento de Berlim, que consagrou os trabalhos realizados sob seu comando em Manguinhos e contra as epidemias na capital federal, sobretudo a de febre amarela. A partir desse episódio, o comportamento da impressa em relação às atividades de Oswaldo Cruz se modificou, e as homenagens ao homem público, antes tão criticado, se tornaram rotineiras.

 

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Charge alusiva à conquista da medalha de ouro em Berlim / Edgard de Cerqueira Falcão. Oswaldo Cruz monumenta histórica, 1971

 

Com o desenvolvimento e transformação do “Instituto de Manguinhos” no arrojado Instituto Oswaldo Cruz (IOC), assim batizado em 1908 para homenagear os feitos do cientista, fotografia e desenho passaram a ser serviços complementares indispensáveis às atividades de ensino e pesquisa. Os sucessores de Oswaldo na gestão do instituto continuaram a dedicar atenção a essas práticas.

 

 

Oswaldo Cruz pediu exoneração da DGSP em 1909 e voltou a se dedicar exclusivamente ao seu instituto. Entre outras ações, promoveu o inventário das condições sanitárias do interior do Brasil através de expedições formadas por cientistas do IOC e médicos da DGSP. De 1910 a 1911, liderou importantes missões de combate à malária durante a construção da Ferrovia Madeira-Mamoré, a “ferrovia do diabo”, em Porto Velho, Rondônia, e à febre amarela em Belém, a convite do governador paraense João Coelho (1852 – 1926).

 

 

Nas duas ocasiões em que regressou ao Rio de Janeiro proveniente da região Norte do país, Oswaldo Cruz foi calorosamente recepcionado no Cais Pharoux, atual Praça XV, por autoridades, amigos e admiradores, que se deslocaram até o local para parabenizá-lo pela excelente condução dos trabalhos de saúde pública realizados no Pará e Rondônia.

 

 

 

Retornou à Alemanha em 1911 para participar da Exposição Internacional de Higiene de Dresden. O destaque da presença brasileira no evento foi, sem dúvida, a apresentação de peças anatomopatológicas, fotografias, moldes e bustos em gesso de doentes, entre outros itens, sobre a descoberta de Carlos Chagas (1879 – 1940), cientista do IOC, em 1909, da doença transmitida pelo barbeiro, a tripanossomíase americana ou doença de Chagas. A exibição dos filmes que documentam essa descoberta e as ações de combate à febre amarela no Rio de Janeiro também tiveram excelente aceitação entre os participantes da exposição. Muito provavelmente, o fotógrafo J. Pinto foi o responsável pelo filme Chagas em Lassance, o primeiro de caráter científico realizado no Brasil.

 

 

Em carta ao fiel escudeiro João Pedroso, que ficou em seu lugar chefiando os trabalhos de combate à febre amarela em Belém, Oswaldo Cruz resumiu com alegria mais um triunfo da ciência brasileira em solo alemão:

 

Berlim, 28 de julho de 1911.

Caro Pedroso.

De passagem por aqui, de volta de Dresden e a caminho de Paris não quis deixar de te mandar algumas linhas, informando-te dos resultados de nossa Exposição. Quando o Vasconcelos me escrevia cheio de entusiasmo, julgava eu que era vibração exagerada de patriotismo hipertrofiado pelos ares estrangeiros; mas, felizmente, tive ocasião de verificar a realidade do fato: É um sucesso completo, no ponto de vista, que eu o encaro, i. é. como meio de tornar conhecido o Brasil científico. Com efeito, a Exposição tem tido uma verdadeira romaria de sábios de toda a Alemanha. Quando aqui se reuniu o Congresso de Microbiologia foram todos os membros à nossa Exposição, espontaneamente e sem prévio convite; examinaram cuidadosamente tudo e ficaram todos encantados pelos estudos do Chagas. Quando no cinematógrafo viram a fita dos doentes do Chagas, não se puderam conter e irromperam em palmas e vivas! […] Os resultados da campanha do Pará têm pasmado a todos e com um interesse admirável estudam cuidadosamente os gráficos e mapas. Não havia, pois, exagero, e nossa reputação, já adquirida, de país civilizado que caminha na vanguarda do progresso científico, teve mais uma eloquente sanção, e vocês todos contribuíram para isso com enorme contingente, pelo que vivamente os felicito.

E Sales Guerra. Osvaldo Cruz, 1940.

Em 1912, o cientista foi eleito “imortal” da Academia Brasileira de Letras na vaga do poeta Raimundo Correia (1859 – 1911). Em 1914, recebeu a condecoração de oficial da Ordem Nacional da Legião de Honra da França.

 

 

 

 

Ainda em 1914, Oswaldo Cruz presidiu a Conferência Sanitária realizada em Montevidéu (Uruguai), que contou com a participação de representantes da Argentina, Brasil, Paraguai e do país anfitrião. O objetivo da conferência foi a elaboração de uma nova Convenção Sanitária para a região. Antes de voltar ao Rio de Janeiro, esteve na capital argentina visitando estabelecimentos científicos e de ensino superior. Na ocasião, recebeu o diploma de membro honorário da Academia de Medicina da Universidade Nacional de Buenos Aires.

 

 

 

 

Em 1916, por motivos de saúde, deixou a direção do IOC e foi morar em Petrópolis, região serrana fluminense. Lá, durante poucos meses, ocupou o cargo de primeiro prefeito da cidade, por nomeação de Nilo Peçanha (1867 – 1924), presidente do estado do Rio de Janeiro. No dia 11 de fevereiro de 1917, durante os festejos de Momo, Oswaldo Cruz morreu em sua casa, na rua Montecaseros, aos 44 anos, cercado por familiares e amigos. Seu enterro, realizado no dia seguinte, no Cemitério de São João Batista, Rio de Janeiro, reuniu representantes de todas as camadas sociais, que formaram um cortejo solene para dar o último adeus ao grande cientista brasileiro – o “Dr. Photographo” Oswaldo Cruz –, que se tornou símbolo da ciência nacional e da saúde pública.

 

 

* Ricardo Augusto dos Santos é Pesquisador Titular da Fundação Oswaldo Cruz. Felipe Almeida Vieira e Francisco dos Santos Lourenço são pesquisadores do Departamento de Arquivo e Documentação da Casa de Oswaldo Cruz.

 

Fontes:

ARAGÃO, Henrique de Beaurepaire. Notícia histórica sobre a fundação do Instituto Oswaldo Cruz (Instituto de Manguinhos). Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, v. 48, p. 1-75, 1950.

BENCHIMOL, Jaime Larry (coord.). Manguinhos do sonho à vida: a ciência na belle époque. Rio de Janeiro: Casa de Oswaldo Cruz, 1990.

BRITTO, Nara. Oswaldo Cruz: a construção de um mito na ciência brasileira. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2006.

D’AVILA, Cristiane. A Exposição Internacional de Higiene de Dresden, na Alemanha, em 1911. Brasiliana Fotográfica, Rio de Janeiro, 5 jan. 2022.

DIAS, Ezequiel Caetano. O Instituto Oswaldo Cruz: resumo histórico (1899-1918). Rio de Janeiro: Instituto Oswaldo Cruz, 1918.

DIAS, Ezequiel Caetano. Traços biográficos de Oswaldo Cruz. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, v. 15, n. 1, p. 1-79, 1922.

FALCÃO, Edgard de Cerqueira (org.). Oswaldo Cruz monumenta histórica. A incompreensão de uma época. Oswaldo Cruz e a caricatura. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1971. tomo 1.

FONSECA FILHO, Olympio da. A escola de Manguinhos: contribuição para o estudo do desenvolvimento da medicina experimental no Brasil. São Paulo: EGTR, 1974.

FRAIHA NETO, Habib. Oswaldo Cruz e a febre amarela no Pará. 2 ed., rev. e ampl. Ananindeua: Instituto Evandro Chagas, 2012.

FRAGA, Clementina. Vida e obra de Oswaldo Cruz. 2 ed. Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz, 2005.

GUERRA, E. Sales. Osvaldo Cruz. Rio de Janeiro: Vecchi, 1940.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

LIMA, Ana Luce Girão Soares de. A bordo do República: diário pessoal da expedição de Oswaldo Cruz aos portos marítimos a fluviais do Brasil. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 4, n. 1, p. 158-167, 1997.

LIMA, Nísia Trindade; MARCHAND, Marie-Hélène (org.). Louis Pasteur & Oswaldo Cruz. Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz; Banco BNP Paribas Brasil S.A., 2005.

LOPES, Myriam Bahia. Corpos ultrajados: quando a medicina e a caricatura se encontram. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 6, n. 2, p. 257-275, 1999.

LOURENÇO-DE-OLIVEIRA, Ricardo; LOURENÇO, Francisco dos Santos. Antonio Gonçalves Peryassú e o estudo dos mosquitos para sanear o Brasil: uma resenha biográfica. Revista Pan-Amazônica de Saúde, Ananindeua, v. 13, p. 1-13, 2022.

Oswaldo Cruz: o médico do Brasil. São Paulo: Fundação Odebrecht; Brasília: Fundação Banco do Brasil, 2003.

OSWALDO CRUZ, Eduardo. Anaglyphos: Oswaldo Cruz como fotógrafo. Inglaterra, s.d.

ROCHA LIMA, Henrique da. Com Oswaldo Cruz em Manguinhos. Ciência e Cultura, São Paulo, v. 4, n. 1/2, p. 15-38, 1952.

SANTOS, Maria Isabela Mendonça dos. A estereoscopia e o olhar da modernidade. Brasiliana Fotográfica, Rio de Janeiro, 29 maio 2019.

SANTOS, Ricardo Augusto dos. O fotógrafo Joaquim Pinto da Silva, o J. Pinto (1884 1951) e a Fundação Oswaldo Cruz. Brasiliana Fotográfica, Rio de Janeiro, 16 nov. 2017.

SANTOS, Ricardo Augusto dos; LOURENÇO, Francisco dos Santos. João Pedro ou João Pedroso?. Brasiliana Fotográfica, Rio de Janeiro, 11 jan. 2019.

SERPA, Phocion. A vida gloriosa de Osvaldo Cruz. Rio de Janeiro, 1937.

THIELEN, Eduardo Vilela et al. A ciência a caminho da roça: imagens das expedições científicas do Instituto Oswaldo Cruz em 1911 e 1912. Rio de Janeiro: Casa de Oswaldo Cruz, 1991.

THIELEN, Eduardo Vilela. Imagens da saúde do Brasil: a fotografia na institucionalização da saúde pública. Dissertação (Mestrado em História) – Pontifícia Universidade Católica, São Paulo, 1992.

WANDERLEY, Andrea C. T. Breve perfil e cronologia do fotógrafo português José Ferreira Guimarães (1841 – 30/01/1924). Brasiliana Fotográfica, Rio de Janeiro, 30 nov. 2017.

 

O fotógrafo amador Archanjo Sobrinho (18? – 1941)

Pesquisando para escrever sobre a Praia do Russel, tema do 23º artigo da série O Rio de Janeiro desaparecido, publicado em 15 de maio de 2023, aqui na Brasiliana Fotográfica, me deparei com três imagens produzidas, no Rio de Janeiro, durante a década de 1890, por Archanjo Sobrinho. São estereoscopias da já mencionada Praia do Russel, da Enseada da Lapa a partir de adro na Igreja de Nossa Senhora da Glória; e da aléia de palmeiras da Rua Paissandu, no bairro do Flamengo. Muito pouco se sabe até hoje sobre este fotógrafo amador, qualificação que consta em suas imagens.

 

 

A estereoscopia chegou ao Brasil, ainda no século XIX, e foi uma técnica utilizada por fotógrafos renomados como  Revert Henrique Klumb (c.1826 – c. 1886) e Georges Leuzinger (1813 – 1892), ambos europeus e radicados no país. No século XX, destacou-se o estereoscopista amador carioca Guilherme Antônio dos Santos (1871-1966).

 

Acessando o link para as fotografias de Archanjo Sobrinho disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá visualizar e magnificar as imagens.

 

A partir de uma busca na Hemereoteca Digital da Biblioteca Nacional, uma das mais importantes fontes de pesquisa do portal, “descobri” alguns fatos sobre a vida de Archanjo, que partilho com vocês na esperança de que algum ou alguns leitores possam contribuir para adensar o perfil deste fotógrafo tão pouco conhecido até o momento. Infelizmente, ao longo da pesquisa na Hemeroteca, da década de 1880 até a de 1940, já que ele faleceu em 1941, só há duas referências a sua atividade de fotógrafo amador. Mas surgiram diversas informações acerca de sua vida.

 

Cronologia de Archanjo Sobrinho (18? – 1941)

 

 

18? - Archanjo Correia de Mello Sobrinho nasceu em 24 de junho, no século XIX, em ano ainda desconhecido (Gazeta de Notícias, 24 de junho de 1898, última colunaO Paiz, 24 de junho de 1900, sexta coluna; O Cruzeiro, 22 de junho de 1929).

1890 - Ofereceu uma bolsa de malha de prata com 10 libras esterlinas para o artista Peixoto (? – 1910) que havia se apresentado na peça Mimi Bilonira, encenada no Theatro Variedades. Esteve na missa pela morte do ator, em 1910  (Gazeta de Notícias, 15 de setembro de 1890, penúltima colunaA Imprensa, 4 de março de 1910, penúltima coluna).

 

 

 

1894 a 1901 – Estava na lista de guarda-livros – contador – do Almanak Laemmert e morava na Rua da Misericóridia, nº 80 (Almanak Laemmert1894189518961897189818991900 e 1901). Em 1900, foi noticiado que era proprietário da Papelaria União.

 

1901 – O jornal A Imprensa publicou uma trova na coluna”Ineditoriais”, de Felizardo Ventura, na qual ele era um dos personagens (A Imprensa, 5 de janeiro de 1901).

 

 

1902 / 1903 – Era sócio da firma Fernando Freire e Cia (Correio da Manhã, 24 de junho de 1902, penúltima coluna). A notícia abaixo, de 1903, confirma tratar-se do Anchanjo Sobrinho fotógrafo amador e não um possível homônimo. Também se refere jocosamente a suas dificuldades no início de suas atividades de fotógrafo e informa que ele já havia sido barbeiro e dentista. Parece que gostava de beber e era um ótimo amigo, muito relacionado no Rio de Janeiro. De acordo com o texto, na época, já possuia uma papelaria.

 

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Nasceu, em 1903, Ari, seu filho com Jovina Muniz Barreto Correia de Mello (Jornal do Brasil, 3 de março de 1903, quinta coluna). Em 1906, já tinha também uma filha (Jornal do Brasil, 9 de fevereiro de 1906, penúltima coluna). Suas filhas chamavam-se Semiramis, futura professora municipal; Oswaldina (1892 -?) e Inah (A Tribuna, 21 de setembro de 1911, segunda colunaO Paiz19 de abril de 1917, última coluna13 de maio de 1917, quinta coluna; A Razão, 16 de agosto de 1919, sexta coluna).

1904 – Fez parte da primeira diretoria do Retiro Dramático Fluminense, uma agremiação de atores amadores. A festa inaugural aconteceu no Teatro Lucinda com a encenação da peça O Médico das Crianças, protagonizada por Eugênio de Magalhães. Archanjo estava presente (Jornal do Commercio, 1º de setembro de 1904, sexta coluna; Jornal do Brasil, 16 de setembro de 1904, terceira coluna; Jornal do Brasil, 20 de setembro de 1904, segunda coluna).

1910 – Ficou ferido em um descarrilamento do bonde onde estava. Morava na rua Visconde de Sapucai (Correio da Manhã, 8 de maio de 1910, penúltima coluna). Foi um dos jurados do julgameno de Nathalino Paes de Barros, que havia assasinado sua mulher. Georgina Reid Paes de Barros (O Paiz, 3 de agosto de 1910, última coluna).

 

 

 

1911 - Esteve presente à encenação da comédia O Diretor, no Teatro Fluminense, no Campo de São Cristóvão (Gazeta de Notícias, 24 de maio de 1911, quarta coluna).

1912 - Constituiu a firma Archanjo e Sobrinho & Cia para explorar a Papelaria Moderna (O Paiz, 13 de janeiro de 1912, quinta coluna).

 

 

Em dezembro, a Papelaria Moderna, que ficava na Rua Marechal Floriano, nº 21, vizinha do Cinema Brasileiro, que sofreu um incêndio, teve alguns prejuízos devido ao acidente (A Imprensa, 9 de dezembro dde 1912, penúltima coluna).

1913 – No ano seguinte, no Almanak Laemmert, a empresa Archanjo Sobrinho & Cia foi noticiada pela primeira vez, listada na seção de “Litografias e Estamparias”, na de “Papelarias”- a dele seria a Papelaria Moderna; e na de “Tipografias”. Ficava na Marechal Floriano, nº 21. Seus sócios eram Manoel Joaquim P. da Fonseca e José Ferreira da Silva. Seguiu, em 1914, na lista de “Litografias e Estamparias” e de “Tipografias”. Residia na Rua Conde de Leopoldina, 85, e a Papelaria Moderna seguiu na Marechal Floriano, 21, até 1918. Em 1922, 1924, 1925 e 1926 foi listada a tipografia Archanjo Sobrinho & Lobosco, na rua Jorge Rudge, nº 38. Em 1922, a Papelaria Moderna existia ainda na rua Marechal Floriano, mas no número 168. Em 1927, estava listada a tipografia Archanjo Sobrinho & Cia, na Rua da Misericórdia, 59. Neste mesmo endereço, em 1929, estava listada uma papelaria e uma tipografia em seu nome. Também em 1929, estava listada a tipografia Archanjo Sobrinho & Maciel Artes Gráficas, na Rua São Pedro, 21. No ano seguinte e em 1934, estava na mesma Rua São Pedro, mas no número 281 e 269, respectivamente (Almanak Laemmert191319131913191319131914191419141915, 1916191819221922192419241925192619271929192919291930 e 1934).

 

 

1914 – Era também gerente do jornal A Época e sua Papelaria Moderna contribuiu com brindes, cartões de visita com impecável impressão, no concurso promovido pelo jornal. Deixou o cargo em 1915 (A Época24 de junho de 191428 de julho de 1914, terceira coluna18 de agosto de 1915, quarta coluna).

1917 e 1919 - Houve greves dos gráficos e os funcionários da oficina de Archanjo aderiram ao movimento. Na mesma época da greve de 1919, a gráfica de Archanjo foi roubada (O Paiz, 4 de setembro de 1917, última colunaGazeta de Notícias, 3 de setembro de 1919, terceira colunaCorreio da Manhã, 9 de setembro de 1919, quarta coluna). Participou das comemorações do jubileu da vida intelectual do então senador Rui Barbosa (1849 – 1923) (O Paiz, 10 de agosto fe 1918, última coluna).

1919 – Doou uma fotografia da Rua 1º de março, produzida em 1893, para ajudar os flagelados da seca nordestina. Será de sua autoria? É da mesma década de 1890 das fotografias que estão exibidas neste artigo e que pertence ao acervo do Instituto Moreira Salles, uma das instuições fundadoras da Brasiliana Fotográfica.

 

 

1920 – Retirou-se da sociedade da firma Archanjo Sobrinho & Cia.

 

 

1922 a 1926 – Contribuiu para a Obra de Assistência aos Portugueses Desamparados (A Noite, 25 de junho de 1922, terceira coluna). Em 1925, residia na rua Barata Ribeiro, nº 417; e depois na Rua Teófilo Otoni, 118 (A Noite, 16 de abril de 1925, terceira colunaO Paiz, 4 de setembro de 1925, última coluna). No primeiro dia de 1926 foi publicada uma propaganda da Artes Gráficas – Archanjo Sobrinho & Gumarães, na Rua da Misericórdia, nº 59.

 

 

1929 – Retirou-se da sociedade Archanjo Sobrinho & Maciel Artes Gráficas (A Manhã, 25 de julho de 1929, quarta coluna).

1941 – Faleceu, em agosto, no Hospital a Ordem Terceira da Penitência e foi enterrado no cemitério da referida ordem (A Noite, 2 de agosto de 1941).

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XV – No Dia dos Povos Índígenas, Leolinda Daltro,”a precursora do feminismo indígena” e a “nossa Pankhurst”

No Dia dos Povos Indígenas, a Brasiliana Fotográfica publica o décimo quinto artigo da série Feministas, graças a Deus com uma seleção de imagens produzidas por Alberto Frisch (1840 – 1918), Dana B. Merril (1887 – 19?), Felipe Augusto Fidanza (c.1847 – 1903), Franz Keller (1835 – 1890), Hercule Florence (1804 – 1879), Marc Ferrez (1843 – 1923), Vincenzo Pastore (1865 – 1918), Walter Garbe (18? – 19?) e também por fotógrafos ainda não identificados. O portal traz para seus leitores a história da origem da data e também o perfil de uma das primeiras e mais importantes feministas brasileiras, a baiana Leolinda Daltro (1859 – 1935), chamada de a precursora do feminismo indígena e também de a nossa Pankhurst, uma alusão à famosa e fundamental sufragista britânica Emmeline Pankhurst (1858 – 1928).

 

 

Acessando o link para as fotografias de indígenas selecionadas e disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá visualizar e magnificar as imagens.

 

 

A origem do Dia dos Povos Indígenas

 

Anteriormente chamado no Brasil de Dia do Índio, a data foi criada no Primeiro Congresso Indigenista Interamericano, realizado em Pátzcuaro, no México, entre 14 e 24 de abril de 1940, com a participação da grande maioria dos países americanos, exceto o Canadá, o Haiti e o Paraguai. Havia 55 delegações oficiais, 71 delegados independentes e 47 representantes de grupos indígenas de vários países. O representante brasileiro foi Edgar Roquette-Pinto (1884 – 1954), membro do Conselho Nacional do Serviço de Proteção ao Índio (SPI) (Correio da Manhã, 27 de abril de 1940, sexta coluna; Jornal do Brasil, 25 de maio de 1940, primeira coluna).

Nem todos os países americanos adotaram a data como dia de celebração da cultura indígena. No Brasil, a data foi instituída pelo Decreto-Lei 5.540, de 1943, assinado pelo então presidente Getulio Vargas (1882 – 1954), convencido pelo marechal Cândido Rondon (1865 – 1958), primeiro diretor do Serviço de Proteção ao Índio, criado em 1910 e extinto em 1967, quando foi substituído pela Fundação Nacional do Índio, Funai (Correio da Manhã, 3 de junho de 1943, sexta coluna).

 

 

Passou a chamar-se oficialmente Dia dos Povos Indígenas a partir da Lei 14.402, promulgada em 8 de julho de 2022. A alteração ocorreu com a aprovação do PL 5.466/2019, que revogou o já mencionado decreto de 1943. A nova nomenclatura tem como objetivo explicitar a diversidade das culturas dos povos originários.

 

 

Breve perfil de Leolinda Daltro (1859 – 1935), “a precursora do feminismo indígena” e a “nossa Pankhurst”

 

 

Baiana e importante ativista pela incorporação da população indígena brasileira à sociedade a partir da alfabetização laica e defensora da emancipação da mulher, Leolinda de Figueiredo Daltro nasceu em 14 de julho de 1859. De origem indígena, segundo a própria  descendente em linha reta quer pelo lado paterno quer pelo lado materno de duas tribos indígenas – Tymbira e Tupynamba, viveu a maior parte de sua vida no Rio de Janeiro e foi uma das precursoras do indigenismo e do feminismo no Brasil. Entusiasta do voto feminino, fundou o Partido Republicano Feminino (PRF), em 1910, e a Escola de Ciências, Artes e Profissões Orsina da Fonseca, em 1911.

“Minei, pacientemente, o terreno, sem que os inimigos do voto feminino se apercebessem do meu verdadeiro objetivo”

Leolinda Daltro,

Jornal do Brasil, 18 de dezembro de 1927

Abaixo, trecho do  artigo Mulher! Sempre a mulher, da poetisa gaúcha e ex-diretora da revista Brasil Feminino Iveta Ribeiro (1886 – 1962), publicado na revista O Malho, de 5 de abril de 1951. Nele, a autora escreve que Leolinda, por sua luta pelos ideais femininos, deveria ter um monumento em praça pública.

 

 

Leolinda foi casada duas vezes: a primeira com seu primo, Gustavo Pereira de Figueiredo, por volta de 1875; e, a segunda, com Appolonio de Castilho Daltro, em torno de 1883. Com Gustavo teve dois filhos: a futura professora Alcina de Figueiredo (1874 – 1948); e Alfredo Napoleão de Figueiredo (1877 -1931), futuro advogado e funcionário dos Correios. Com Appolonio, teve quatro: Oscar (188?- 1943), Leobino (1887-1959) – que se formaram no Mackenzie College de São Paulo em Direito e Engenharia, respectivamente -; a futura professora Áurea (1893 – 1924) e uma quarta criança, que faleceu ainda bebê.

Veio para o Rio de Janeiro com a familia, por volta de 1888, e foi nomeada professora municipal. Segundo seu relato, quando dirigia a Escola Mista de Santa Isabel, no Matadouro de Santa Cruz, recebeu a visita da princesa Isabel (1846 – 1921) e de seu marido, o conde D´Eu (1842 – 1922), acompanhados do coronel Floriano Peixoto (1839 – 1905), futuro segundo presidente do Brasil; e de outros militares. Em 1893, Leolinda apoiou o movimento que ficou conhecido como a Segunda Revolta da Armada, quando militares da Marinha se revoltaram contra o governo de Floriano.

Em 1896, Leolinda envolveu-se com a questão indígena quando um grupo de indígenas Xerente foi ao Rio de Janeiro para pedir proteção ao então presidente da República, Prudente de Moraes (1841 – 1902). Ela defendia a incorporação da população indígena brasileira à sociedade a partir da alfabetização laica – na época, o sistema vigente era a de catequização e conversão dos indígenas ao catolicismo. Para por sua ideia em prática, entre 1896 e início do século XX, percorreu o interior do país, atendendo a um pedido feito, em 1896, pelo indígena Sapé ao já citado presidente da República, para enviar pessoas capazes de instruir as crianças de sua aldeia, em Goiás. Leolinda atuou às margens do Rio Tocantins lecionando para os indígenas Xerente. Foi denominada Oaci-Zauré (estrela d’alva) pelos indígenas de Goiás. Por sua atuação junto a eles foi muitas vezes ridicularizada. Por exemplo, na peça O Filhote, de Vicente Reis, que estreou no Teatro Lucinda, em 11 de março de 1897, Leolinda era atrozmente insultada (O Paiz, 13 de março de 1897, sexta coluna).

Na sede do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro, foi instalado o Instituto de Protecão aos Indigenas Brasileiros, em 21 de outubro de 1902. Leolinda, cujo ativismo foi importante para a realização da iniciativa, foi, acompanhada de seu filho Alfredo Napoleão de Figueiredo, à primeira sessão ordinária, e agradeceu sua admissão como sócia benemérita. Em um breve relato de suas viagens, Leolinda afirmou que era “urgente a fundação de um núcleo de indigenas na margem do Araguaya”.

Na década de 1900, hospedou diversas vezes indígenas em sua casa no Rio de Janeiro. Em outubro de 1908, fundou a Associação de Auxílio aos Silvícolas do Brasil e ofereceu ao governo seus serviços como coordenadora de uma equipe de educação voltada aos indígenas. Foi delegada do Primeiro Congresso Brasileiro de Geografia, que se realizou no Palácio Monroe, entre 7 e 15 de setembro de 1909. Na comissão de antropologia e etnografia apresentou uma Moção sobre os resultados de suas observações nos sertões de Goiás e Mato Grosso. Seu trabalho completo, intitulado Memória, foi incluído nos anais do evento e seu teor principal refere-se a convicção indigenista de Daltro: retirar da esfera religiosa o privilégio de civilizar os indígenas e transferi-lo para a instância governamental.

Em 23 de dezembro de 1909, fundou a Junta Feminina Hermes – Venceslau, que apoiava Hermes da Fonseca (1855 – 1923) e Venceslau Brás (1868 – 1966) para a presidência e vice-presidência da República, respectivamente. Sob a presidência de Leolinda, a ata da nova associação expressava seu protagonismo como ativista política pelos direitos das mulheres. Em 1º de março de 1910, a chapa apoiada por ela venceu as eleições. Neste mesmo ano, como já citado, Leolinda fundou o Partido Republicano Feminino (PRF).

Em 17 de junho de 1911, inaugurou a Escola de Ciências, Artes e Profissões Orsina da Fonseca, que fundou e dirigiu, com a presença da primeira-dama Orsina da Fonseca (1879 – 1912) e do presidente Hermes da Fonseca (1855 – 1923). O discurso de abertura foi feito pela poeta e ativista Gilka da Costa Machado (1893 – 1980). Na escola, que era gratuita, eram ministradas aulas de alfaiataria, datilografia, enfermagem, tipografia e até tiro e esgrima. No mesmo ano, fundou a Linha de Tiro Rosa da Fonseca, nome da mãe do presidente Hermes da Fonseca. Posteriormente denominado batalhão feminino, era presença frequente nas festas cívicas do Rio de Janeiro.

Leolinda declarou, em 1913, considerar-se a responsável pela semente da emancipação feminina no Brasil. Dois anos depois,´em 1915, já como professora catedrática, aposentou-se. Em 1916, sob sua direção foi lançado o primeiro número do periódico quinzenal A Tribuna Feminina. Ainda neste ano, em dezembro, Leolinda encaminhou à Câmara uma representação em nome do Partido Republicano Feminino, sobre o voto feminino:

“A grande maioria do professorado municipal desta cidade é constituído por mulheres. São elas que dão instrução aos futuros cidadãos, que têm sobre os ombros a difícil tarefa de preparo das novas gerações. Se a lei lhes deu tão grande responsabilidade; se o Estado reconhece a sua capacidade para tão alta função, qual seja a de educar e instruir a mocidade; se a Escola Normal, Oficial, lhes conferiu um diploma que lhes habilita para esse espinhoso mister — como admitir que esse mesmo Estado possa negar-lhes capacidade para a simples escolha dos que devam ser os representantes do país nas assembleias legislativas e nos altos postos da administração pública? É o maior dos absurdos.”

Em 1917, requereu seu alistamento eleitoral, mas seu pedido foi recusado. Cerca de um ano depois lançou o livro Início do Feminismo no Brazil – subsídios para a história. Também em 1918, ainda convalescendo da gripe espanhola, Leolinda ofereceu ao então prefeito do Rio de Janeiro, Amaro Cavalcanti (1849 – 1922), o edifício da Escola Orsina da Fonseca para tornar-se uma enfermaria de atendimento a mulheres e crianças desamparadas e o trabalho das 20 enfermeiras da instituição para ajudar no combate à epidemia.

Em 1919, lançou sua candidatura ao cargo de intendente municipal pela cidade do Rio de Janeiro, mas não foi eleita. Em 1926, voltou a concorrer e não se eleger ao cargo.

O voto feminino e Leolinda foram alvo de zombaria no desfile dos clubes do carnaval carioca de 1920. No fim deste ano, publicou o livro Da catequese dos índios do Brasil (notícias e documentos para a história). Leolinda justificou a publicação tardia de seus registros alegando que a idéia da educação laica dos indígenas fora recebida com indiferença e frieza e a tornara alvo de ridículo.

Em 1926, inaugurou o Centro das Escoteiras da Redemptora, na Escola Orsina da Fonseca. Em seu discurso afirmou ter sido a primeira escoteira do Brasil. Em 1933,foi candidata pelo Partido Nacional do Trabalho para deputada constituinte, mas não se elegeu.

 

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Leolinda sobre a conquista do voto feminino (Revista da Semana, 20 de maio de 1933):

 

 

Em 1934, integrava a comissão fiscal da Aliança Nacional das Mulheres, cuja fundadora e presidente era a advogada e feminista Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993).

Em 30 de abril de 1935, foi atropelada por um automóvel quando atravessava a Praça da República. Após ficar internada por alguns dias na Casa de Saúde Pedro Ernesto, onde teve sua perna amputada, faleceu em 4 de maio. Foi enterrada no Cemitério São João Batista.

 

Leolinda Figueiredo Daltro

Mamãe – nosso ourinho

14/07/1859 04/05/1935

Precursora do verdadeiro feminismo pátrio

Propugnadora da nobilitação dos humildes e humanização dos selvícolas

Seu epitáfio no Cemitério Sao João Batista

 

 

Em 2003, a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro aprovou a Resolução nº 233, que instituiu o Diploma Mulher Cidadã Leolinda de Figueiredo Daltro. A cada ano são escolhidas dez mulheres para receber a homenagem por seu destaque na vida pública e na defesa dos direitos femininos.

 

Cronologia de Leolinda Daltro

 

Leolinda Daltro / A Informação Goyana, maio de 1921

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A Informação Goyana, maio de 1921

 

1859 - Nasceu, em Nagé, na Bahia, em 14 de julho de 1859 – as fontes variam em relação ao ano, mas aqui consideraremos 1859 como o correto, já que é o que consta em seu epitáfio no Cemitério São João Batista, onde está enterrada.

Filha de Alexandrina Tupinambá de Figueiredo e de Luiz Antonio de Figueiredo, em um discurso proferido, em 1926, por ocasião da inauguração do Centro das Escoteiras da Redemptora, Leolinda afirmou ser descendente em linha reta quer pelo lado paterno quer pelo lado materno de duas tribos indígenas – Tymbira e Tupynamba. Leolinda perdeu a mãe ainda na infância e foi criada pela avó, Joana Tupinambá de Sant´Anna Barauna (Gazeta de Notícias, 21 de janeiro de 1916, penúltima colunaO Brasil, 24 de novembro de 1926, quarta colunaCorreio da Manhã, 5 de maio de 1935, sexta colunaDiário de Notícias, 7 de novembro de 1948Jornal do Brasil, 18 de março de 1956).

c. 1871 – Foi internada no Colégio Colé, em Salvador.

1873 – Seu pai, que havia lutado na Guerra do Paraguai, foi promovido a capitão.

c. 1875 – Por volta deste ano Leolinda teria se casado com seu primo, Gustavo Pereira de Figueiredo, conforme declarou em juízo seu filho Alfredo Napoleão de Figueiredo. Desse casamento, cujo desfecho é, até o momento, desconhecido, ela teve dois filhos: a futura professora Alcina de Figueiredo (1874 – 1948); e o já citado Alfredo Napoleão de Figueiredo (1877 -1931), futuro advogado e funcionário dos Correios.

c. 1883 – Casou-se com Appolonio de Castilho Daltro (? – 1943), com o qual teve quatro filhos: Oscar (188?- 1943), Leobino (1887-1959) – que se formaram no Mackenzie College de São Paulo em Direito e Engenharia, respectivamente -; a futura professora Áurea (1893 – 1924) e uma quarta criança, que faleceu ainda bebê.

Uma curiosidade: a esposa de Leobino, Iracema Amazonas, era irmã de Oscar de Siqueira Amazonas, marido de Alcina. Oscar foi casado com a professora Joaquina Daltro e Áurea com Antônio Cardoso de Gusmão Junior. Alfredo Napoleão foi casado com Antonietta de Figueiredo.

 

 

 

Nesta década, Leolinda mudou-se com a família para o Rio de Janeiro. Segundo entrevista dada, em 17 de junho de 2011, por seu neto Othon de Castilho Daltro a Paulete Maria Cunha dos Santos, Appolonio era funcionário da Fazenda da Província da Bahia, em Salvador, e foi transferido para o Rio de Janeiro.

1888 – Foi comunicado ao diretor das escolas suburbanas do Rio de Janeiro que Leolinda havia sido nomeada professora (Jornal do Commercio, 29 de outubro de 1888, segunda colunaJornal do Commercio, 7 de novembro de 1888, primeira coluna)

c. 1888 – Segundo relato de Leolinda, quando dirigia a Escola Mista de Santa Isabel, no Matadouro de Santa Cruz, recebeu a visita da princesa Isabel (1846 – 1921) e de seu marido, o conde D´Eu (1842 – 1922), acompanhados do coronel Floriano Peixoto (1839 – 1905), futuro segundo presidente do Brasil; de outros militares e de outras pessoas gratas, que examinaram os trabalhos escolares, assistiram aos exercícios de ginástica e às aulas de artes e profissões, e a impressão recebida por esses altos personagens foi de tal ordem e tão favorável, que suas altezas, conde d’Eu e a princesa Isabel, mandaram-me um luxuoso livro que intitularam de Livro de Ouro, em cuja primeira página, que denominaram de Página de Honra, lançaram as suas ótimas impressões relativas a sua visita à minha tenda de trabalho. (DALTRO, 1918)

 

 

1893 –  Leolinda Daltro apoiou o movimento que ficou conhecido como a Segunda Revolta da Armada, quando militares da Marinha se revoltaram contra o governo de Floriano Peixoto (1839-1895), acusando-o de desrespeitar a constituição já que após a renúncia do presidente da República, Deodoro da Fonseca, na condição de vice-presidente assumiu a presidência, sem convocar eleições presidenciais conforme previa a Constituição em vigor (Gazeta de Notícias, de 24 de novembro de 1891).

Segundo relato de Leolinda: “Por ocasião da revolta de 6 de setembro de 1893, formado pela primeira vez, em frente da prefeitura, o Batalhão Patriótico Municipal, do qual o mais velho dos meus filhos, Alfredo Napoleão de Figueiredo (com 16 anos de idade), fazia parte como simples soldado, a minha escola apresentou-se com quatrocentos alunos, quase todos uniformizados (à minha custa), fazendo evoluções ginásticas e marchando militarmente entre um delírio de palmas e vivas de quantos assistiram à festa, colocando, uma das alunas, sobre a bandeira do batalhão uma rica coroa de flores douradas, depois de ser pronunciado pela menina Amélia Pessoa um patriótico e vibrante discurso. Todos os alunos foram abraçados com entusiasmo pelos intendentes”. (DALTRO, 1918).

1894 - Seguia trabalhando como professora municipal no Rio de Janeiro (A Federação, 13 de fevereiro de 1894, quarta coluna).

1896 – Leolinda envolveu-se com a questão indígena quando um grupo de indígenas Xerente foi ao Rio de Janeiro para pedir proteção ao então presidente da República, Prudente de Moraes (1841 – 1902). Houve denúncias de negligência que motivaram protestos e reações. Em novembro, Leoinda iniciou sua viagem por Goiás. Seu filho, Augusto Napoleão, havia ido antes. Uma campanha para angariar fundos para expedição foi lançada no Rio de Janeiro e em São Paulo. Leolinda era professora da rede pública do Distrito Federal e recebeu do Conselho Municipal um ano de licença com vencimentos, renovados em 1897 e 1898 e também nos anos seguintes, até 1900. Neste período, instruiu, às margens do Rio Tocantins (Gazeta de Notícias, 30 de julho de 1896, quinta coluna; Jornal do Commercio, 22 de agosto de 1896, terceira coluna; Gazeta de Notícias, 13 de novembro de 1896, quarta colunaJornal do Recife, 6 de agosto de 1897, quarta coluna;  Colecção de Leis Municipaes e Vetos1897 e 1898; Gazeta de Notícias, 25 de julho de 1896, quarta colunaO Paiz, 19 de agosto de 1896, quarta colunaA Notícia, 3 de outubro e 1896, segunda coluna; O Commercio de São Paulo, 24 de julho de 1896, quarta colunaGazeta de Notícias, 17 de setembro de 1902, quinta coluna).

 

 

1897 – Seu retrato foi publicado na Tarde Literária, publicação quinzenal redigida pelo boêmio Raphael Gondry (Gazeta da Tarde, 17 de janeiro de 1897, terceira coluna).

Na peça O Filhote, de Vicente Reis, que estreou no Teatro Lucinda, em 11 de março de 1897, Leolinda era atrozmente insultada (O Paiz, 13 de março de 1897, sexta coluna).

 

 

Em torno deste ano, teria se separado de Appolonio.

Foi noticiado que já havia partido de Goiás para um aldeamento indígena (Jornal do Recife, 6 de agosto de 1897, quarta coluna).

Década de 1900 – Ao longo desta década tirou diversas licenças para tratar de sua saúde.

1901 – Apresentou o mapa que organizou das aldeias que visitou em sua missão pelo estado de Goiás e no Mato Grosso (Jornal do Commercio, 18 de junho de 1901, terceira coluna).

 

 

Pretendia fundar um centro agrícola, denominado Joaquim Murtinho, de 35 léguas de extensão, para onde várias tribos convergiriam.

 

 

1902 – Prestou uma homenagem a Augusto Severo (1864 – 1902), que havia falecido, em 12 de maio de 1902, em Paris, numa explosão do dirigível Pax, inventado por ele (A República (RN), 8 de julho de 1902, terceira coluna).

Leolinda hospedou em sua casa, na rua da Pedreira, em Cascadura, oito indígenas Pinagé que vieram ao Rio de Janeiro fazer reivindicações ao presidente da República, Campos Sales (1841-1913). Alguns estavam enfermos e, outros, amedrontados (Jornal do Brasil, 16 de setembro de 1902, penúltima colunaGazeta de Notícias, 17 de setembro de 1902, primeira coluna). Sua atuação foi comentada em uma crônica de Ferreiro-Mór, publicada em O Malho, de 18 de outubro de 1902. Um dos indígenas que hospedou, o Major Sabino, faleceu.

Em uma sessão do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil de 1902, foi discutida a proposta de um de seus conselheiros, Henrique Raffard, de criação de uma associação de proteção aos indígenas sob os aupícios da referida instituição (Jornal do Commercio, de outubro de 1902, antepenúltima coluna). Um de seus sócios correspondentes, Luiz de França Almeida e Sá (1847 – 1903), falou que um padre da região do Araguaia já havia ordenado o assassinato de Leolinda (Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, 1903).

 

 

Na sede do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro, com o apoio do sócio comendador Julio Henrique Raffard (1851 – 1906) e do general Francisco Raphael de Mello Rego (18? – 1904) foi instalado o Instituto de Protecão aos Indigenas Brasileiros, em 21 de outubro. Leolinda, cujo ativismo foi importante para a realização da iniciativa, foi, acompanhada de seu filho Alfredo Napoleão de Figueiredo, à primeira sessão ordinária, e agradeceu sua admissão como sócia benemérita. Em um breve relato de suas viagens, Leolinda afirmou que era “urgente a fundação de um núcleo de indigenas na margem do Araguaya”.

1904 – Participou de uma homenagem feita ao Barão do Rio Branco (1845 – 1912) (Jornal do Brasil, 20 de fevereiro de 1904, última coluna).

Leu uma saudação durante uma homenagem ao coronel acriano Placido de Castro (1873 – 1908), na Pensão Beethoven, onde ele estava hospedado. Um dos líderes da Revolução Acriana, era presidente da República do Acre. Em 1906, Placido tornou-se o primeiro governador do território do Acre, cargo que ocupou até sua morte, em 1908 (Jornal do Brasil, 12 de maio de 1904, oitava coluna).

1905 – Esteve no velório do escritor e jornalista José do Patrocínio ( 1853 – 1905), no Cemitério São Francisco Xavier (O Paiz, 4 de fevereiro de 1905, última coluna).

Leolinda percorreu o acampamento de Santa Cruz com alguns indígenas Xerente e apresentou um deles, Oyama Prace,  ao presidente Hermes da Fonseca  (1855 – 1923). Oyama queria entrar para a Marinha (Jornal do Brasil, 9 de outubro de 1905, sétima coluna).

 

 

1906 – Era muitas vezes ridicularizada devido à sua atuação junto aos indígenas.

 

 

Voltou a abrigar em sua casa indígenas dessa vez guaranis, que vieram ao Rio de Janeiro fazer reivindicações ao presidente da República. Muitas vezes era ridicularizada (Jornal do Brasil, 20 de junho de 1906, sétima coluna).

Foi felicitada no dia do seu aniversário com uma mensagem no jornal (Gazeta de Notícias, 14 de julho de 1906, primeira coluna).

Em 17 de julho, estava no Cais Pharoux participando da recepção ao diplomata Joaquim Nabuco (1849 – 1910), que chegava ao Rio. Na ocasião apresentou a ele três indígenas pinajés (A República, 20 de julho de 1906, primeira colunaRevista da Semana, 29 de julho de 1906).

 

 

Cerca de um mês depois, acompanhada de vários indígenas, entregou a ele uma mensagem pedindo garantias para a educação leiga dos indígenas das Américas. Na época acontecia no Rio de Janeiro o III Congresso Pan-americano. Nabuco disse que não poderia tratar do assunto porque o tema não fazia parte do evento, mas que imprimiria a mensagem e a distribuiria no Congresso (Correio da Manhã, 17 de agosto de 1906, segunda colunaJornal do Brasil, 17 de agosto de 1906, quinta coluna). O III Congresso Pan-americano aconteceu no então Pavilhão de São Luiz, futuro Palácio Monroe. Ele foi erguido no fim da rua do Passeio, na avenida Central, atual Rio Branco, ponto mais nobre da capital do Brasil. O congresso foi aberto em 23 de julho de 1906 e prolongou-se até o dia 27 de agosto de 1906.

Quando ocorreram conflitos violentos entre os povos da etnia Kaingang e os trabalhadores da construção da estrada de ferro em Bauru, Leolinda enviou telegrama ao governador de São Paulo, Jorge Tibiriçá Piratininga (1855 – 1928), oferecendo sua colaboração.

Organizou, em 1906, o Grêmio Patriótico Leolinda Daltro destinado à proteção dos indígenas (Jornal do Brasil, 2 de novembro de 1906, oitava coluna).

1907 – Com o intuito de imprimir um cunho mais nacional ao préstito popular para o general argentino Julio Roca (1843 – 1914), no Rio de Janeiro, Leolinda quis juntar um grupo de indígenas ao festejo, mas o prefeito Francisco Marcelino de Sousa Aguiar (1855 – 1935) não autorizou a iniciativa (O Pharol (MG), 11 e 12 de março de 1907, segunda coluna).

Foi uma das representantes do professorado municipal que entregou um presente a Leôncio Correia (1865 – 1950), diretor de Instrução Pública no dia de seu aniversário(Jornal do Brasil, 3 de setembro de 1907, sétima coluna).

1908 – Foi aprovado pelo Conselho Municipal do Rio de Janeiro que o cálculo de tempo de serviço de Leolinda como professora contasse desde sua investidura no cargo de professora, em 1888, até 19 de dezembro de 1901, sem descontar o tempo que passou licenciada (Jornal do Brasil, 13 de junho de 1888, quarta colunaJornal do Brasil, 30 de dezembro de 1908, última coluna).

 

 

Fundou, em outubro, a Associação de Auxílio aos Silvícolas do Brasil e ofereceu ao governo seus serviços como coordenadora de uma equipe de educação voltada aos indígenas. Adolpho Gomes de Albuquerque era o presidente da instituição, Leolinda de Figueiredo Daltro, vice-presidente, e seu filho Leobino Castilho Daltro, secretário. A criação da nova associação, que defendia o ensino laico para indígenas e a integração desses povos por vias pacíficas, foi estimulada por um fato ocorrido em 14 de setembro, quando o cientista tcheco Alberto Vojtěch Frič (1882 – 1944) denunciou o extermínio do povo Kaingang em Santa Catarina, no XVI Congresso de Americanistas, em Viena; e pela publicação, na segunda quinzena do mesmo mês de setembro de um artigo do então diretor do Museu Paulista, Hermann von Ihering (1850 – 1930), na Revista do Museu Paulista defendendo o extermínio dos indígenas (Origem e Fundação do Serviço de Proteção aos Índios (III)).

“Os actuaes índios do Estado de S. Paulo não representam um elemento de trabalho e de progresso. Como também nos outros Estados do Brazil, não se póde esperar trabalho sério e continuado dos índios civilizados e como os Caingang selvagens são um impecilio para a colonização das regiões do sertão que habitam, parece que não há outro meio, de que se possa lançar mão, senão o seu extermínio”. 

1909 – Indígenas Xerente foram à redação do jornal O Paiz pedindo ajuda para seu aldeamento às margens do Tocantins, onde são escorraçados pelas legiões de missionários. Uma das reivindicações dos indígenas era a presença de Leolinda para lhes dar instrução e os guiar na organização e na defesa de seu aldeamento (O Paiz, 29 de janeiro de 1909, sexta colunaA Imprensa, 11 de fevereiro de 1909, quarta coluna). Ela então enviou para o ministro Miguel Calmon (1879 – 1935), Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Indústria, Viação e Obras Públicas, o pedido para ser nomeada missionária civilizadora dos indígenas de Goiás. A resposta foi a seguinte:

 

 

Os indígenas Xerente pediram que Leolinda fosse aposentada para que pudesse ir com eles para a aldeia (O Malho, 13 de março de 1909).

 

 

 

 

Foi delegada do Primeiro Congresso Brasileiro de Geografia, que se realizou no Palácio Monroe, entre 7 e 15 de setembro. Na comissão de antropologia e etnografia apresentou uma Moção sobre os resultados de suas observações nos sertões de Goiás e Mato Grosso. Seu trabalho completo, intitulado Memória, foi incluído nos anais do evento e seu teor principal refere-se a convicção indigenista de Daltro: retirar da esfera religiosa o privilégio de civilizar os indígenas e transferi-lo para a instância governamental. Foi instalada a Associação e Proteção e Auxílios aos Silvículas do Brasil e Leolinda tornou-se a segunda secretária da instituição (O Paiz, 7 de setembro de 1909, segunda colunaO Paiz, 14 de setembro de 1909, última colunaGazeta de Notícias, 15 de setembro de 1909, segunda colunaGazeta de Notícias, 18 de setembro de 1909, quinta coluna).

 

 

O então prefeito do Distrito Federal, Inocêncio Serzedelo Correia (1858 – 1932) abriu um crédito especial para pagamento de diferença de vencimentos a Leolinda (O Magistério, 30 de novembro de 1909).

 

 

Em 23 de dezembro, fundou a Junta Feminina Hermes – Venceslau, que apoiava Hermes da Fonseca (1855 – 1923) e Venceslau Brás (1868 – 1966) para a presidência e vice-presidência da República, respectivamente. Sob a presidência de Leolinda, a ata da nova associação expressava seu protagonismo como ativista política pelos direitos das mulheres (A Imprensa, 25 de fevereiro de 1910, quarta colunaO Paiz, 27 de fevereiro de 1910, primeira colunaGazeta de Notícias, 18 de setembro de 1918, terceira coluna).

1910 -  Em 1º de março, realização das eleições em que a chapa de Hermes da Fonseca e Venceslau Brás venceu a de Rui Barbosa (1849 – 1923) e Albuquerque Lins (1852 – 1926).

 

 

Participou da recepção ao marechal Hermes da Fonseca, que voltava ao Rio de Janeiro, vindo do Rio Grande do Sul (A Imprensa, 16 de março de 1910, primeira coluna).

Participou do préstito que levou o busto de Washington, adquirido por subscrição popular, ao Teatro Municipal. O recém eleitro presidente da República, Hermes da Fonseca, estava presente (Jornal do Brasil, 4 de abril de 1910, antepenúltima coluna).

Leolinda recebeu da Prefeitura do Rio de Janeiro uma gratificação adicional sobrre seus vencimentos de professora. Houve uma polêmica a respeito deste assunto envolvendo o marechal Hermes da Fonseca e um funcionário da prefeitura do Rio de Janeiro (O Paiz, 19 de abril de 1910O Paiz, 22 de abril de 1910, quinta colunaO Século, 22 de abril de 1910, primeira coluna).

Enviou à jornalista e escritora Camen Dolores (1852 – 1911) um exemplar do periódico A Política. Em resposta Carmen Dolores declarou que nem era republicana nem feminista (O Paiz, 19 de junho de 1910, segunda coluna).

Por serviços prestados à educação de indígenas no Brasil foi proposto que Leolinda tornasse-se diretora honorária da União Cívica Brasileira (O Paiz, 5 de agosto de 1910, segunda coluna).

O conferencista português João Rodrigues Moreira realizou a palestra Mulheres ilustres brasileiras e uma delas era Leolinda Daltro (A Imprensa, 1º de setembro de 1910, terceira coluna).

Anunciou a fundação da revista Tribuna Feminina, que só seria lançada em 1916 (A Imprensa, 11 de outubro de 1910, primeira coluna).

Fez um discurso em homenagem à primeira-dama do Brasil, Orsina da Fonseca (1879 – 1912), de quem era grande amiga (O Paiz, 19 de outubro de 1910, primeira coluna).

O recém criado Partido Republicano Feminino participou do préstito que acompanhou Hermes da Fonseca do Arsenal de Marinha à sua residência, onde Leolinda leu um soneto em homenagem ao marechal (A Imprensa, 26 de outubro de 1910, primeira colunaJornal do Brasil, 27 de outubro de 1910, sexta coluna).

 

 

Era uma das personalidades retratadas no Álbum Republicano, uma homenagem da Junta Republicana Hermes- Venceslau ao presidente da República, Hermes da Fonseca, ofertado a ele (O Paiz, 12 de novembro de 1910, primeira coluna).

Em 17 de dezembro, foi publicado no Diário Oficial o texto do estatuto do Partido Republicano Feminino (PRF), fundado para mobilizar as mulheres em torno do direito ao voto feminino e Leolinda passou a presidi-lo. Sua sede ficava na rua General Câmara, 387, e o prédio foi cedido pelo então prefeito do Rio de Janeiro, Serzedelo Corrêa (1858 – 1932)  (Jornal do Brasil, 27 de outubro de 1910, sexta coluna). No dia 18 de agosto de 1911, o partido recebeu o registro oficial, depositado no 1º Ofício de Títulos e Documentos do Distrito Federal.

No mês de dezembro de 1910, reuniram-se assim na cidade do Rio de Janeiro professoras, escritoras e donas de casa, somando ao todo 27 mulheres, que concordaram em assinar a ata de fundação de um partido político que tinha como objetivo integrá-las na sociedade política. O grupo buscava representar as mulheres brasileiras na capital federal e em todos os estados do Brasil, promovendo a cooperação entre elas na defesa das causas relativas ao progresso do país e de sua cidadania. Assim, o programa do partido destacava a luta pelo sufrágio feminino como primeiro passo para a plena incorporação das mulheres ao mundo público. 

CPDOC

Assim era composta sua primeira diretoria: presidente, como já mencionado, Leolinda de Figueiredo Daltro; primeira vice-presidente, Maria Carlota Vaz de Albuquerque; segunda vice-presidente, Emília Torterolli Araldo; primeira-secretária, Hermelinda Fonseca da Cunha e Silva; segunda-secretária, Gilka da Costa Machado; tesoureira, Goldemira Moreira dos Anjos; arquivista, Áurea Daltro; procuradora, Alice Esperança Arnosa; zeladora, Vitalina Faria Sena.

1911 - Em 17 de junho, inaugurou a Escola de Ciências, Artes e Profissões Orsina da Fonseca, que fundou e dirigiu, com a presença da primeira-dama Orsina da Fonseca (1879 – 1912) e do presidente Hermes da Fonseca (1855 – 1923). O discurso de abertura foi feito pela poeta e ativista Gilka da Costa Machado (1893 – 1980). Na escola, que era gratuita, eram ministradas aulas de alfaiataria, datilografia, enfermagem, tipografia e até tiro e esgrima (Jornal do Brasil, 15 de outubro de 1910, última colunaO Paiz, 17 de junho de 1911, penúltima colunaA Imprensa, 17 de junho de 1911, terceira colunaO Paiz, 19 de junho de 1911, segunda coluna).

 

 

Em 1918, foi dada à instituição uma subvenção anual (Collecção de Leis Municipaes, 1918).

 

 

No livro A Vida Vertiginosa, seu autor, João do Rio, citou Leolinda na crônica As impressões dos Bororos:

Como nunca tive a coragem civilisadora da professora Daltro, só consigo approximar-me dos authenticos proprietários deste paiz, quando por cá apparece alguma caravana de sujeitos de nariz esborrachado, a pedir ao Papae Grande instrumentos agrários“.

Fundou a Linha de Tiro Rosa da Fonseca, nome da mãe do presidente Hermes da Fonseca. Posteriormente denominado batalhão feminino, era presença frequente nas festas cívicas do Rio de Janeiro (A Imprensa, 20 de outubro de 1911, quinta coluna).

Teve concedida pela Prefeitura do Rio de Janeiro licenças de saúde neste ano, no seguinte e em 1915 (O Paiz, 7 de setembro de 1911, primeira colunaO Paiz, 23 de junho de 1912O Paiz, 10 de abril de 1915, penúltima coluna).

Para comemorar a entrada da primavera organizou um préstito com alunas da Escola Orsina da Fonseca, que foi até o Palácio do Catete, onde foram recebidas pelo presidente e pela primeira-dama. O colégio já contava com mais de mil alunas (O Paiz, 23 de setembro de 1911, quinta colunaJornal do Brasil, 23 de setembro de 1911, primeira coluna).

 

 

O Partido Republicano Feminino dedicava-se à realização de atividades de cultura física e também científica – organizou uma escola de enfermeiras  (O Paiz, 21 de outubro de 1911, segunda colunaO Paiz, 25 de outubro de 1911, segunda coluna).

1912 - Em janeiro, exposição de trabalhos realizados pelas aluna da Escola Orsina da Fonseca em 1911, Na ocasião, o general Serzedelo Corrêa (1858 – 1932) elogiou a gestão de Leolinda (A Imprensa, 14 de janeiro de 1912).

 

 

Lecionava em uma escola municipal que ficava na rua Coronel Cabrita, nº 6, no bairro de São Cristóvão. Teve aprovada pela Prefeitura verba adicional ao seus vencimentos (O Paiz, 15 de fevereiro de 1912O Paiz, 22 de março de 1912, quinta coluna).

Com a presença de mais de 100 sócias foi realizada, na Escola Orsina da Fonseca, uma assembleia para alterar os estatutos do Partido Republicano Feminino, cuja secretária-geral era a poetisa Gilka da Costa Machado (O Paiz, 22 de junho de 1912, penúltima coluna).

Com cerca de 80 senhoras do Partido Republicano Feminino, Leolinda foi ao Cemitério de Jacarepaguá prestar uma homenagem fúnebre ao político e jornalista republicano Quintino Bocaiuva (1836 – 1912), seu amigo e padrinho de sua filha Áurea. Na ocasião, discursou (O Paiz, 19 de julho de 1912, terceira coluna).

 Em 30 de novembro, falecimento da primeira-dama e grande amiga de Leolinda, Orsina da Fonseca (Jornal do Brasil, 5 de dezembro de 1912, terceira coluna).

1913 –  Sua filha, Áurea Daltro, fazia parte do corpo docente da Escola Orsina da Fonseca (O Paiz, 25 de maio de 1913, quarta coluna).

Fez um pequeno reparo ao artigo escrito por Gilka da Costa Machado publicado na edição de A Faceira, outubro e novembro de 1913. Segundo Leolinda, que não foi citada no referido artigo, ela teria sido a responsável pela semente da emancipação feminina no Brasil (A Faceira, outubro e novembro de 1913A Faceira, dezembro de 1913, segunda coluna).

Foi, com alunas da Escola Orsina da Fonseca, ao Cemitério de Jacarepaguá, prestar uma homenagem a Orsina da Fonseca, que havia falecido em de 1912 (O Paiz, 3 de novembro de 1913, penúltima coluna).

 

 

1914 – Leolinda estava presente na inauguração da Escola Prática e Profissional em uma das salas da Imprensa Nacional (A Época, 7 de janeiro de 1914, quinta coluna).

O Partido Republicano Feminino tinha cerca de duas mil associadas (Jornal do Brasil, 4 de junho de 1914, terceira coluna).

1915 – Envolveu-se numa confusão com um recebedor dos bondes da Light (Gazeta de Notícias, 19 de julho de 1915, última coluna).

Leolinda aposentou-se como professora catedrática (A Noite, 24 de julho de 1915, quarta colunaO Paiz, 6 de agosto de 1915, segunda coluna).

O Partido Republicano Feminino, sob a presidência de Leolinda, inaugurou a Escola Cívica Pinheiro Machado para adultos do sexo masculino, que funcionaria todas as noites e provisoriamente na Escola Orsina da Fonseca. Contava no início com 25 alunos que após a preleção inaugural decidiram fundar o jornal Atalaia e também uma linha de tiro (O Paiz, 8 de outubro de 1915, última coluna).

1916 - A Prefeitura do Rio de Janeiro anunciou que despejaria judicialmente a Escola Orsina da Fonseca, que ocupava um prédio na rua General Câmara, que pertencia à Municipalidade. Mas o despejo não se cumpriu (O Paiz, 20 de janeiro de 1916, quarta coluna;  Almanak Laemmert, 1926).

Em entrevista à Gazeta de Notícias, de 21 de janeiro, de 1916, falou sobre sua vida, sobre a fundação da Escola Orsina da Fonseca que, segundo ela, ensinava dentre vários ofícios, a fotografia (Gazeta de Notícias, 21 de janeiro de 1916 ).

 

 

Leolinda, à frente do Partido Republicano Feminino, propôs a criação do donativo patriótico, com o qual todo o funcionalismo público seria conservado com os vencimentos atuais (A Lanterna, 28 de novembro de 1916Jornal do Brasil, 19 de novembro de 1931, terceira coluna).

Lançamento do primeiro número do periódico quinzenal A Tribuna Feminina, dirigido por Leolinda (A Faceira, 1º de dezembro de 1916, última colunaA Federação, 7 de dezembro de 1916, quarta coluna).

 

 

Em dezembro, Leolinda encaminhou à Câmara uma representação em nome do Partido Republicano Feminino, sobre o voto feminino:

“A grande maioria do professorado municipal desta cidade é constituído por mulheres. São elas que dão instrução aos futuros cidadãos, que têm sobre os ombros a difícil tarefa de preparo das novas gerações. Se a lei lhes deu tão grande responsabilidade; se o Estado reconhece a sua capacidade para tão alta função, qual seja a de educar e instruir a mocidade; se a Escola Normal, Oficial, lhes conferiu um diploma que lhes habilita para esse espinhoso mister — como admitir que esse mesmo Estado possa negar-lhes capacidade para a simples escolha dos que devam ser os representantes do país nas assembleias legislativas e nos altos postos da administração pública? É o maior dos absurdos.”

 

 

 

1917 - O Partido Republicano Feminino apoiou o rompimento das relações diplomáticas do governo brasileiro com a Alemanha (A Época, 28 de abril de 1917, primeira colunaGazeta de Notícias, 28 de abril de 1917).

 

 

Requereu seu alistamento eleitoral, mas seu pedido foi recusado (O Imparcial, 10 de fevereiro de 1917, última colunaA República, 13 de fevereiro de 1917, segunda colunaJornal do Brasil, 23 de agosto de 1919, terceira coluna).

Carlos Rubens publicou um artigo exaltando a atuação da professora Leolinda Daltro (A Faceira, 1º de agosto de 1917).

O deputado Mauricio de Lacerda (1888 – 1959) propôs uma emenda à lei eleitoral para estender o alistamento eleitoral para as brasileiras maiores de 21 anos. Foi rejeitada pela Comissão de Constituição e Justiça. Tal atitude da comissão parece ter inspirado uma reação por parte do PRF, através de uma passeata de mulheres pelas ruas do Rio de Janeiro, em novembro de 1917, como uma resposta ao repúdio à proposta de Lacerda. Seguindo o exemplo das feministas de outros países as partidárias do PRF foram convocadas para participar de uma nova manifestação pública, na qual cerca de 84 mulheres foram para as ruas protestar (KARAWEJCZYK, 2014).

O Partido Republicano Feminino manifestou-se, oferecendo os serviços de suas associadas em solidariedade à participação do Brasil na Primeira Guerra Mundial (O Dia, 20 de novembro de 1917). A delegação do Tiro Feminino, às vezes identificado como batalhão feminino, era formado por 89 soldadas do Tiro Feminino, alunas da Escola Orsina da Fonseca. Elas usavam uniforme militar e faziam treinamento em praças públicas do Rio de Janeiro. A iniciativa foi muito criticada e ridicularizada. Em 1920, o batalhão feminino foi rebatizado como Legionárias da Paz.

 

 

1918 - Inauguração, no Campo de Santana, da primeira Escola Popular, uma iniciativa do Partido Republicano Feminino (Correio da Manhã, 14 de julho de 1918, sétima coluna).

Lançou o livro Início do Feminismo no Brazil – subsídios para a história (Gazeta de Notícias, 18 de setembro de 1918, terceira coluna).

 

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Visitou a redação do jornal A Época com Izabel de Souza Matos ou Izabel de Mattos Dillon (1861 – 1920), identificada no artigo publicado no referido periódico, em 24 de setembro de 1918, como a primeira eleitora do Brasil. Leolinda se queixou da falta de atenção da imprensa na divulgação do trabalho dela e do Partido Republicano Feminino em prol do feminismo no Brasil (A Época, 24 de setembro de 1918).

 

 

 

O Partido Republicano Feminino celebrou a posição do presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson (1913-1921), pedindo ao legislativo de seu país a aprovação do voto feminino (A Época, 2 de outubro de 1918).

 

 

Ainda convalescendo da gripe espanhola, Leolinda ofereceu ao prefeito do Rio de Janeiro, Amaro Cavalcanti (1849 – 1922), o edifício da Escola Orsina da Fonseca para tornar-se uma enfermaria de atendimento a mulheres e crianças desamparadas e o trabalo das 20 enfermeiras da instituição para ajudar no combate à epidemia. Na carta ao prefeito revelou que, além dela, 14 membros de sua família tinham contraído a gripe (A Época, 28 de outubro de 1918, quarta colunaCorreio da Manhã, 11 de novembro, sétima coluna).

 

 

1919 – Lançou o opúsculo Pela Velhice (A Noite, 8 de janeiro de 1919, segunda coluna).

O ministro da Guerra, Alberto Cardoso de Aguiar (1864 – 1935) atendeu à solicitação de Leolinda no sentido de oferecer aulas de instrução militar às alunas da Escola Orsina da Fonseca (Jornal do Brasil, 11 de julho de 1919, sexta coluna).

Participou de uma manifestação a favor do prefeito do Rio de Janeiro, Paulo de Frontin (1860 – 1933) (A Razão, 29 de julho de 1919, quarta coluna).

Foi noticiado que Leolinda havia sido escolhida para representar as classes trabalhadoras na Conferência Trabalhista de Washington, em outubro de 1919 (Jornal do Brasil, 26 de setembro de 1919, penúltima coluna).

Lançou sua candidatura ao cargo de intendente municipal pela cidade do Rio de Janeiro. Não foi eleita (A Noite, 24 de setembro de 1919, primeira colunaA Época, 7 de outubro de 1919, quarta coluna; Revista Feminina, outubro de 1919O Paiz, 22 de outubro de 1919, terceira colunaGil Blas, 13 de novembro de 1919Jornal do Brasil, 8 de dezembro de 1919, última coluna).

 

“Como mulher que sou, com um sentido superior de altruísmo, tenho me preocupado com a necessidade de minorar o sofrimento humano e de se atingir uma melhor distribuição da Justiça.”

Revista Feminina, outubro de 1919

 

 

1920 – Leolinda negava sua participação e a do Batalhão do Partido Republicano Feminino em um homenagem ao novo prefeito, Sá Freire (1870 – 1947) (Gazeta de Notícias, 24 de janeiro de 1920, quarta coluna).

 

 

O voto feminino e Leolinda foram alvo de zombaria no desfile dos clubes do carnaval carioca (Jornal do Brasil, 20 de fevereiro de 1920, última coluna).

Em entrevista publicada na capa da Gazeta de Notícias, Leolinda anuncia a adoção de um novo sistema, norte-americano, de ensino prático intuitivo na Escola Orsina da Fonseca e queixa-se do tratamento da imprensa e das autoridades em relação a seu trabalho. comenta a iminente visita dos reis belgas ao Brasil e também sobre a comemoração do centenário da Independência(Gazeta de Notícias, 22 de março de 1920, quarta coluna).

Leolinda havia perdido um memorial que havia dirigido ao Congresso Pan-americano (Jornal do Brasil, 4 de junho de 1920, quinta coluna).

Foi com alunas da Escola Orsina da Fonseca saudar o novo prefeito do Rio de Janeiro, Carlos Sampaio (1861 – 1930) (Jornal do Brasil, 10 de junho de 1920, última coluna).

Leolinda apresentou um requerimento ao prefeito pedindo para ser nomeada despachante municipal (Gazeta de Notícias, 31 de julho de 1920, quarta coluna; O Paiz, 31 de julho de 1920, sexta coluna).

À frente de um grupo de feministas, Leolinda fez uma consulta acerca do conceito de cidadão a renomados juristas, dentre eles Clóvis Bevilacqua (1859 – 1944) e Rui Barbosa (1849 – 1923), (O Norte (PB), 10 de setembro de 1920, quarta colunaRevista Feminina, outubro de 1920).

A possível participação do Batalhão Feminino do Brasil sob o comando de Leolinda na recepção aos reis da Bélgicas que visitariam o Brasil, entre 19 de setembro e 15 de outubro de 1920, foi criticada (D. Quixote, 15 de setembro de 1920).

 

 

Publicação do artigo O voto às brasileiras, no qual Leolinda é citada (Revista Feminina, outubro de 1920).

Em nome do Partido Republicano Feminino, que ainda presidia, convidou a Rainha Elizabeth da Bélgica (1876 – 1965), em visita com seu marido o Rei Alberto I, ao Brasil, para um piquenique em Paquetá. Por falta de espaço na agenda, a soberana declinou do convite (Jornal do Brasil, 7 de outubro de 1920, terceira coluna).

Publicou o livro Da catequese dos índios do Brasil (notícias e documentos para a história). Leolinda justificou a publicação tardia de seus registros alegando que a idéia da educação laica dos indígenas fora recebida com indiferença e frieza e a tornara alvo de ridículo (Jornal do Brasil, 9 de dezembro de 1920, quinta colunaGazeta Suburbana, 25 de dezembro de 1920, primeira colunaVida Carioca, 6 de janeiro de 1921).

 

 

 

 

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1921 – Publicação de um artigo exaltando a atuação de Leolinda e também sua conduta pessoal (Vida Carioca, 6 de janeiro de 1921).

 

 

Na edição de maio de A Informação Goyana, a vida de Leolinda foi exaltada.

 

 

Na coluna “Eleganpcias”, Leolinda revelou seus livros de cabeceira - Justiça e Assistência, de Ataulfo de Paiva (1867 – 1955); e o primeiro volume de versos de Alberto de Oliveira (1857 – 1937), cujo poema Borboleta Azul (Sonetos e Poemas, página 33), havia sido, segundo Leolinda, inspirado nela (D. Quixote, 1º de junho de 1921, segunda coluna). Na edição de junho da mesma revista, numa enquete realizada entre acadêmicos diante da discussão da entrada de mulheres na Academia Brasileira de LetrasRui Barbosa (1849 – 1923) declarou que seu voto seria pelo ingresso de Leolinda Daltro.

Foi entrevistada: em pauta o direito do voto feminino (Gazeta de Notícias, 4 de junho de 1921, terceira coluna).

 

 

Recebeu na Escola Orsina da Fonseca os intendentes argentinos que faziam parte do Conselho Deliberante de Buenos Aires, em visita ao Brasil (Jornal do Brasil, 14 de setembro de 1921, primeira coluna).

Na Escola Orsina da Fonseca, inauguração da Escola Noturna Dr. Nascimento Silva destinada ao combate ao analfabetismo (Jornal do Brasil, 17 de novembro de 1921, quinta coluna; Jornal do Brasil, 21 de setembro de 1922, quarta coluna).

1922 – O nome de Leolinda foi lembrado para ser uma das representantes do Brasil na I Conferência Pan-americana de Mulheres, que se realizaria, em Baltimore, nos Estados Unidos, entre os dias 20 a 23 de julho, patrocinado pela National League of Women Voters, uma divisão da National Woman Suffrage Association (NAWSA), associação norte-americana vinculada ao movimento abolicionista e sufragista, fundada em 1868, em Nova York.  A também feminista Bertha Lutz (1894 – 1976) foi a escolhida como a representante oficial do governo brasileiro (O Combate, 5 de janeiro de 1922, segunda coluna).

Em carta para o jornal A Noite negou que houvesse recebido uma quantia de dinheiro do Banco Nacional Brasileiro para patrocinar a campanha do senador Nilo Peçanha (1867 – 1924) à presidência do Brasil (Diário de Notícias, 19 de março de 1922, quarta colunaA Noite, 22 de março de 1922, última coluna).

Foi receber o marechal Hermes da Fonseca (1855 – 1923) no Palace Hotel. Ele havia sido preso no dia 2 de julho. Este foi um dos eventos que antecederam a Revolta do Forte de Copacabana. O marechal Hermes foi de novo preso e só foi solto, em janeiro de 1923 (O Imparcial, 4 de julho de 1922; O Combate5 de julho de 1922, primeira coluna).

A ideia da construção de um monumento em homenagem à Princesa Isabel foi do Partido Republicano Feminino, em dezembro de 1921. Leolinda pedia que fosse aberta uma subscrição popular para financiamento do monumento e colocava para venda durante a Exposiçao de 1922 exemplares de seu livro, Da catequese dos índios do Brasil, cuja renda reverteria para esta causa. Esteve presente ao lançamento da pedra fundamental do monumento, na Praça XV, em 28 de setembro de 1922, quando leu a ata inaugural (O Jornal, 14 de dezembro de 1921, quinta colunaJornal do Commercio, 29 de setembro de 1922, quinta colunaO Jornal, 29 de setembro de 1922, primeira colunaJornal do Brasil, 22 de outubro de 1922, sétima coluna).

1923 – Foi destinado pelo governo à Escola Orsina da Fonseca uma quantia para a reforma de seu mpbiliário, mas até o momento o dinheiro ainda não havia sido dosponibilizado. No artigo, destacam-se os esforços pessoais de Leolinda para manter a instituição (O Paiz, 13 de junho de 1923, última coluna).

Alunas se formaram em radiotelegrafia na Escola Orsina da Fonseca (Jornal do Brasil, 15 de novembro de 1923).

1924 – Em 15 de abril, falecimento de Áurea Daltro Cardoso de Gusmão, filha caçula de Leolinda (Jornal do Brasil, 17 de abril de 1924, quarta colunaJornal do Brasil, 22 de abril de 1924, última coluna).

1925 – Foi muito elogiada a exposição dos trabalhos das alunas da Escola Orsina da Fonseca, que Leolinda seguia dirigindo (Jornal do Brasil, 5 de agosto de 1925, primeira coluna).

Apoiava a chapa formada por Luis Gonçalves Nogueira e Fortunato Campos de Medeiros para o Conselho de Serventuários Municipais (O Brasil, 18 de outubro de 1925, segunda coluna).

Tendo à frente Leolinda, o Partido Republicano Feminino e a Escola Orsina da Fonseca estiveram presentes, com seus estandartes, ao desembarque, do engenheiro e ex-prefeito do Rio de Janeiro, Paulo de Frontin (1860 – 1933), no Rio de Janeiro (Annuario das Estações Sportivas: Derby Club, 1925).

1926 – Em um artigo sobre a história da luta pela emancipação feminina e pelo voto feminino no Brasil a liderança de Leolinda foi adjetivada de pitoresca (Frou-Frou, fevereiro de 1926).

Concorreu ao cargo de intendente do Rio de Janeiro (Gazeta de Notícias, 2 de março de 1926, segunda coluna).

Com a presença do prefeito Antônio da Silva Prado Júnior (1880 – 1955), foi inaugurado o Centro das Escoteiras da Redemptora, na Escola Orsina da Fonseca. Em seu discurso afirma ter sido a primeira escoteira do Brasil (Jornal do Brasil, 10 de agosto de 1926, primeira colunaO Paiz, 21 de novembro de 1926, quinta coluna; O Brasil, 24 de novembro de 1926, quarta colunaJornal do Brasil, 9 de abril de 1927).

 

 

1927 – A escritora Rachel Prado (1891 – 1943), em entrevista ao jornal Correio da Manhã, referiu-se a Leolinda como a pioneira no Brasil na luta pelo voto feminino, como a nossa Pankhurst, aludindo à famosa e fundamental sufragista britânica Emmeline Pankhurst (1858 – 1928) (Correio da Manhã, 6 de dezembro de 1927). No jornal A Manhã, de 30 de novembro de 1928, a escritora de novo exaltou a atuação de Leolinda como precursora do feminismo e referiu-se a um artigo escrito por Agrippino Nazareth em que ele também elogiava a veneranda educadora (A Manhã, 30 de novembro de 1928, quarta coluna).

Leolinda declarou em entrevista que o voto feminino era seu verdadeiro objetivo (Jornal do Brasil, 18 de dezembro de 1927).

 

 

“O preparo do terreno para a conquista de hoje foi feito por mim, à custa de muito humorismo grosseiro, de muita chacota, de muitas descomposturas! Houve uma época em que durante anos seguidos eu era figura obrigatória em carros carnavalescos, num ridículo medonho!”

Leolinda sobre o voto feminino no Jornal do Brasil, 18 de dezembro de 1927

1928 – O orçamento municipal destinou uma quantia para a aquisição de material para a Escola Orsina da Fonseca. Na época, o prefeito do Rio de Janeiro ainda era Antônio da Silva Prado Junior (1880 – 1955) (O Paiz, 14 de janeiro de 1928, quinta coluna).

1929 - Reivindicava para si a primeira iniciativa de estender o escotismo às mulheres (Diário Carioca, 27 de abril de 1929).

 

 

Leolinda foi homenageada na Escola Orsina da Fonseca, que ainda dirigia, pelas Escoteiras da Redemptora (Jornal do Brasil, 17 de julho de 1929, antepenúltima coluna).

1930 – Foi homenageada pelo Conselho Metropolitano de Escoteiros (Diário Carioca, 12 de julho de 1930, primeira coluna; Correio da Manhã, 17 de julho de 1930, penúltima coluna).

Leolinda é a protagonista do artigo A Pioneira do Feminismo (Diário Carioca, 18 de julho de 1930, última coluna).

No artigo Justiça Tardia, a escritora  Iveta Ribeiro (1886 – 1962) chama atenção para a importância da atuação de Leolinda ao longo de sua vida (Correio da Manhã, 20 de julho de 1930).

 

 

Leolinda foi homenageada na coluna “A esmo…”, escrita pela poetisa e jornalista Rosalina Coelho Lisboa (1900 – 1975) e também no artigo A professora Daltro, escrito pelo jornalista Benjamin Costallat (1897 – 1961) (A Pacotilha(MA), 18 de agosto de 1930, penúltima colunaA Pacotilha (MA), 2 de setembro de 1930, penúltima coluna).

Apoiou a Revolução de 30 (A Batalha, 1º de novembro de 1930, primeira coluna).

Sofreu um acidente de carro (Correio da Manhã, 12 de novembro de 1930, sétima coluna).

1931 – Com a presença de Leolinda, cujo trabalho foi considerado uma obra de esforço e abnegação, exposição de trabalhos realizados na Escola Orsina da Fonseca (Jornal do Brasil, 6 de março de 1931Jornal do Brasil, 3 de fevereiro de 1932).

Em entrevista, Leolinda contou porque se tornou feminista (A Batalha, 2 de abril de 1931).

 

Falecimento de seu filho, Alfredo Napoleão de Figueiredo (Diário de Noticias, 9 de maio de 1931, quinta coluna).

Publicação de uma carta da escritora Maria Lacerda de Moura (1887 – 1945) a também escritora Rachel Prado, onde comenta aspectos do II Congresso Internacional Feminista e a polêmica em torno de uma homenagem que Rachel queria fazer a Leolinda Daltro como pioneira do feminismo no Brasil que foi  como dito no artigo Phosphoros Femininos, escrito por Victoria Regia, abruptamente negada. Segundo o artigo, Daltro foi discriminada por ser pobre, idosa, viúva e por não ter a cultura das feministas da atualidade, que não tiraria o valor da luta inicial pelos direitos da mulher empreendida pela professora  (Diário Carioca, 7 de julho de 1931; Diário Carioca, 21 de julho de 1931, segunda coluna).

 

 

 

Algumas participantes do II Congresso Internacional Feminista foram fazer uma visita a Leolinda (Fon-Fon, 11 de julho de 1931).

1932 - Com a presença da primeira-dama Darcy Vargas (1895 – 1968), realização da exposição de trabalhos da Escola Orsina da Fonseca, quando Leolinda falou sobre a fundação do estabelecimento (Diário Carioca, 23 de janeiro de 1932).

Foi publicada uma fotografia de uma homenagem das Escoteiras da Redemptora ao príncipe dom Pedro de Orleans (1875-1940), em 1930 (Brasil Feminino, maio de 1932).

 

No dia do aniversário de Leolinda, 14 de julho, o Jornal do Brasil publicou um artigo em sua homenagem onde elencou os principais feitos dela, dentre eles a fundação da Escola Orsina da Fonseca e do Partido Republicano Feminino, iniciativa que relacionou à recente nomeação de duas mulheres, Bertha Lutz (1894 – 1976) e Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993), para participar da elaboração do ante-projeto da nova Constituição. Foram também lembradas outras iniciativas de Leolinda como a criação da Escola de Enfermeiras e da Linha de Tiro Rosa da Fonseca (Jornal do Brasil, 14 de julho de 1932, sexta coluna).

Leolinda enviou a Benevenuto Berna (1865 – 1940), presidente do Centro Carioca uma carta confiando à instituição a tarefa de perseverar na campanha para erigir um monumento em homenagem à Princesa Isabel, uma iniciativa tomada por ela em dezembro de 1921. A pedra fundamental da estátua foi lançada em 1922, mas a obra não foi adiante. Alegou que seu estado de saúde precário e abatimento pela morte de seus filhos Áurea, em 1924, e Alfredo, em 1931, a impediam de prosseguir na luta por este ideal. Em artigo de 13 de maio de 1938, a escritora Rachel Prado (1891 – 1943) cobrava a construção da estátua (Jornal do Brasil, 23 de agosto de 1932, terceira colunaCorreio da Manhã, 14 de outbro de 1932, antepenúltima colunaCorreio da Manhã, 4 de novembro de 1932, primeira colunaJornal do Brasil, 13 de maio de 1938, terceira coluna).

Fazia parte de uma comissão da Aliança Nacional de Mulheres, dirigida por Natércia da Cunha Silbeira (1905 – 1993) e foi homenageada pela instituição (Jornal do Brasil, 31 de janeiro de 1932, quarta colunaJornal do Brasil, 31 de dezembro de 1932).

 

 

1933 – Uma comissão formada por alunas da Escola Orsina da Fonseca participou do cortejo fúnebre do ex-prefeito Paulo de Frontin (1860 – 1933), que sempre apoiou o referido colégio (Jornal do Brasil, 17 de fevereiro de 1933, quinta coluna).

Foi candidata pelo Partido Nacional do Trabalho para deputada constituinte, mas não se elegeu (A Noite, 1º de maio de 1933Revista da Semana, 20 de maio de 1933Jornal do Brasil, 31 de maio de 1933, penúltima coluna).

 

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Leolinda sobre a conquista do voto feminino (Revista da Semana, 20 de maio de 1933):

 

 

 

1934 – Integrava a comissão fiscal da Aliança Nacional das Mulheres (Jornal do Commercio, 24 de janeiro de 1934, quinta coluna).

Deu um entrevista para o jornal A Noite, quando elencou a criação da Escola Orsina da Fonseca e a fundação do Partido Republicano Feminino como suas maiores realizações. Revelou que o PRF estava alistando mulheres para votar no Colégio Amazonas, na rua Barão de Mesquita, dirigido por sua filha, a professora Alcina de Figueiredo Siqueira Amazonas (A Noite3 de agosto de 1934).

 

 

 

No artigo Uma heroína, Floriano de Lemos (1885 – 1968) exaltou as iniciativas de Leolinda e os obstáculos que ela enfrentou por seu pioneirismo (Correio da Manhã, 27 de setembro de 1934, primeira coluna).

1935 - Em 30 de abril foi atropelada por um automóvel quando atravessava a Praça da República. Após ficar internada por alguns dias na Casa de Saúde Pedro Ernesto, onde teve sua perna amputada, faleceu em 4 de maio. Foi enterrada no Cemitério São João Batista. Seus filhos vivos eram, na ocasião, o advogado Oscar Daltro e o engenheiro Leobino Daltro e a professora Alcina Siqueira Amazonas.

 

 

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A advogada e feminista Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993) manifestou-se no enterro de Leolinda, que fazia parte da comissão fiscal da Aliança Nacional de Mulheres, presidida por ela (Jornal do Brasil, 3 de maio de 1935, primeira colunaDiário Carioca, 4 de maio, quinta colunaJornal do Brasil, 4 de maio de 1935, quarta colunaA Nação, 5 de maio de 1935Correio da Manhã, 5 de maio de 1935, sexta colunaJornal do Commercio, 6 e 7 de maio de 1935, quarta colunaJornal do Brasil, 8 de maio de 1935, quarta colunaO Malho, 9 de maio de 1935Revista da Semana, 11 de maio de 1935Jornal do Brasil, 15 de maio de 1935, quarta coluna).

Seu epitáfio do cemitério São João Batista:

Leolinda Figueiredo Daltro

Mamãe – nosso ourinho

14/07/1859 04/05/1935

Precursora do verdadeiro feminismo pátrio

Propugnadora da nobilitação dos humildes e humanização dos selvícolas

 

Na Câmara dos Deputados no Rio de Janeiro foi aprovado um requerimento de pesar da deputada Carlota Pereira de Queirós (1892- 1982) pelo falecimento de Leolinda. A Assembleia Constituinte da Bahia inseriu em sua ata uma nota de pesar pelo falecimento da professora Daltro (Correio Paulistano, 7 de maio de 1935, quarta colunaA Noite, 18 de maio de 1935, terceira coluna).

Foi sucedida, na direção da Escola Orsina da Fonseca por sua filha, Alcina Amazonas (1874 – 1948), que foi sucedida por seu filho, Djalma Amazonas (A Noite, 6 de maio de 1937Jornal do Brasil, 9 de maio de 1939, quinta colunaJornal do Brasil, 30 de outubro de 1941, terceira colunaO Jornal, 24 de março de 1948, segunda coluna).

1936 – O Grêmio Literário Leolinda Daltro, promovia um festival dançante (Jornal do Brasil, 16 de agosto de 1936, última coluna).

Em seu artigo Mulheres na Academia, Modesto de Abreu (1901 – 1996) comentando acerca da polêmica sobre o ingresso de mulheres na Academia Brasileira de Letras, propõe a criação de uma Academia Feminina e cita Leolinda Daltro como um ótimo nome para ser patrona de uma de suas cadeiras (Jornal do Brasil, 30 de agosto de 1936, segunda coluna).

O então prefeito do Rio de Janeiro, Henrique Dodsworth (1895 – 1975), na comemoração dos 50 anos  da abolição da escravatura do Brasil, inaugurou um marco na Praça XV indicando o local onde uma estátua da Princesa Isabel seria erigida, uma iniciativa tomada por Leolinda em dezembro de 1921. Em artigo, no Correio da Manhã, de 13 de maio de 1938, a escritora Rachel Prado (1891 – 1943) cobrava a construção da estátua. No artigo Monumento à Princesa Isabel, assinado pela escritora Maria Eugênia Celso (1886 – 1963), publicado no mesmo jornal, em 20 de maio, Leolinda foi outra vez lembrada como a idealizadora do projeto  (Jornal do Brasil, 13 de maio de 1938, terceira colunaCorreio da Manhã, 13 de maio de 1938, quinta colunaCorreio da Manhã, 20 de maio de 1938, penúltima colunaJornal do Brasil, 28 de setembro de 1947, primeira coluna).

1943 – Era a patrona da cadeira 27 da recém criada Academia Feminina sob a presidência de Adalzira Bittencourt (1904 – 1976)(Revista da Semana, maio de 1943, segunda coluna).

1944 - Foi inaugurada na sede da Organização Jurídica, dirigida por seu filho Leobino Daltro, um retrato de Leolinda e um de Oscar Daltro, seu filho já falecido (Nação Brasileira, agosto de 1944, última coluna).

1951 – Publicação da história da Escola Orsina da Fonseca, 1ª Escola Técnico-Profissional da América do Sul (Jornal do Brasil, 11 de março de 1951, primeira coluna).

1956 – Publicação de um artigo sobre Leolinda Daltro (Jornal do Brasil18 de março, quarta coluna e 25 de março, quinta coluna, de 1956).

2003 - A Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro aprovou a Resolução nº 233, que instituiu o Diploma Mulher Cidadã Leolinda de Figueiredo Daltro. A cada ano são escolhidas dez mulheres para receber a homenagem por seu destaque na vida pública e na defesa dos direitos femininos.

 

Assista aqui o vídeo Leolinda e a luta pelo voto feminino, por Mônica Karawejczyk, pesquisadora da Fundação Biblioteca Nacional.

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Centro de Memória do Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Norte

CORRÊA, Marisa. Os índios do Brasil elegante e a professora Leolinda Daltro. São Paulo : Revista Brasileira de História, vol 9, nº 18, agos a setembro de 1989.

DALTRO, Leolinda. Da catequese dos índios no Brasil. Notícias e documentos para a História (1896-1911). Rio de Janeiro: Typografia da Escola Orsina da Fonseca, 1920.

DALTRO, Leolinda. O início do feminismo no Brasil. [recurso eletrônico] : subsídios para história / Leolinda Daltro ; introdução, notas e posfácio de Elaine Pereira Rocha. — Brasília : Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2021. – (Coleção vozes femininas).

FGV CPDOC – Leolinda Daltro

FGV CPDOC – Partido Republicano Feminino

GIRAUDO, Laura. (2017). Homenagear os índios, defender o indigenismo: o “Dia do Índio” e o Instituto Indigenista Interamericano. Estudos Ibero-Americanos, 43(1), 81–96. https://doi.org/10.15448/1980-864X.2017.1.24069

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

JARDILINO, José Rubens Lima. Educadora, Feminista, Indigenista: Leolinda Figueiredo Daltro, uma “Dama” da educação brasileira no final do século XIX. Universidad Pedagógica y Tecnológica de Colombia. Revista Historia de la Educación Latinoamericana, vol. 18, núm. 26, pp. 7-11, 2016.

KARAWEJCZYK, Mônica. Os primórdios do movimento sufragista no Brasil: o feminismo “pátrio” de Leolinda Figueiredo Daltro. Estudos Ibero-Americanos, PUCRS, v. 40, n. 1, p. 64-84, jan.-jun. 2014

MARQUES, Teresa Cristina de Novaes. O voto feminino do Brasil. Brasília : Edições Câmara, 2019.

MELO, Hildete Pereira de; MARQUES, Teresa Cristina de Novaes. Partido Republicano Feminino. Rev. hist.edu.latinoam – Vol. 18 No. 26, enero – junio 2016 – ISSN: 0122-7238 – pp. 311 – 326.

Mulheres de Luta

Observatório do Terceiro Setor

PETSCHELIES, Erik. O Museu Paulista, Hermann von Ihering (1850-1930) e os ameríndios. São Paulo : Revista de Antropologia, nº 66, 2023.

Portal da BBC

Portal do Senado Federal

ROCHA, Elaine Pereira. Entre a pena e a espada: a trajetória de Leolinda Daltro (1859-1935)- patriotismo, indigenismo e feminismo. 2002. Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002.

SANTOS, Paulete Cunha dos. Leolinda Daltro – a Oaci-zauré – relato de sua experiência de proposta laica de educação para os povos indígenas no Brasil central. Universidad Pedagógica y Tecnológica de Colombia. Revista Historia de la Educación Latinoamericana, vol. 18, núm. 26, pp. 15-46, 2016.

SANTOS, Paulete Cunha dos. Leolinda Daltro – a caminhante do futuro: uma análise de sua trajetória de catequista a feminista (Rio de Janeiro/Goiás – 1896 – 1920). Tese de Doutorado. Universidade do Rio dos Sinos, São Leopoldo, Rio Grande do Sul, 2014.

SCHUMAHER, Schuma; BRAZIL, Erico Vital (organizadores). Dicionário mulheres do Brasil: de 1500 até a atualidade biográfico e ilustrado. Rio de Janeiro : Jorge Zahar Ed., 2000.

Site Instituto Histórico Geográfico Brasileiro

Site Memória da Administração Pública Brasileira – Arquivo Nacional

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Site Povos Indígenas no Brasil

STAUFFER, David Hall. Origem e Fundação do Serviço de Proteção aos Índios (III). Revista de História, [S. l.], v. 21, n. 43, p. 165-183, 1960. DOI: 10.11606/issn.2316-9141.rh.1960.120126. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/120126. Acesso em: 24 fev. 2023.

 

Acesse aqui os outros artigos da Série “Feministas, graças a Deus!

Série “Feministas, graças a Deus!” I – Elvira Komel, a feminista mineira que passou como um meteoro, publicado em 25 de julho de 2020, de autoria da historiadora Maria Silvia Pereira Lavieri Gomes, do Instituto Moreira Salles, em parceria com Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” II  – Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993), o jequitibá da floresta, publicado em 20 de agosto de 2020, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” III  – Bertha Lutz e a campanha pelo voto feminino: Rio Grande do Norte, 1928, publicado em 29 de setembro de 2020, de autoria de Maria do Carmo Rainha, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” IV  – Uma sufragista na metrópole: Maria Prestia (? – 1988), publicado em 29 de outubro de 2020, de autoria de Claudia Heynemann, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” V – Feminista do Amazonas: Maria de Miranda Leão (1887 – 1976), publicado em 26 de novembro de 2020, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, mestre em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” VI – Júlia Augusta de Medeiros (1896 – 1972) fotografada por Louis Piereck (1880 – 1931), publicado em 9 de dezembro de 2020, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” VII – Almerinda Farias Gama (1899 – 1999), uma das pioneiras do feminismo no Brasil, publicado em 26 de fevereiro de 2021, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” VIII – A engenheira e urbanista Carmen Portinho (1903 – 2001), publicado em 6 de abril de 2021, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” IX – Mariana Coelho (1857 – 1954), a “Beauvoir tupiniquim”, publicado em 15 de junho de 2021, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” X – Maria Luiza Dória Bittencourt (1910 – 2001), a eloquente primeira deputada da Bahia, publicado em 25 de março de 2022, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XI e série “1922 – Hoje, há 100 anos” VI – A fundação da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, publicado em 9 de agosto de 2022, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XII e série “1922 – Hoje, há 100 anos” XI – A 1ª Conferência para o Progresso Feminino, publicado em 19 de dezembro de 2022, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, historiadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” XIII – E as mulheres conquistam o direito do voto no Brasil!, publicado em 24 de fevereiro de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XIV – No Dia Internacional da Mulher, Alzira Soriano, a primeira prefeita do Brasil e da América do Sul, publicado em 8 de março de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XVI – O I Salão Feminino de Arte, em 1931, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica, publicado em 30 de junho de 2023

Série “Feministas, graças a Deus!” XVII – Anna Amélia Carneiro de Mendonça e o Zeppelin, equipe de Documentação da Escola de Ciências Sociais FGV CPDOC, em parceira com Andrea C.T. Wanderley, publicado em 5 de janeiro de 2024

 

 

 

A construção do Bondinho do Pão de Açúcar sob as lentes de Therezio Mascarenhas

A Brasiliana Fotográfica destaca imagens da construção do Bondinho do Pão de Açúcar realizadas pelo fotógrafo Therezio Mascarenhas (18? – 19?), cuja biografia ainda é pouco conhecida. Na primeira década do século XX, ele morava em Vitória e, provavelmente, conheceu o engenheiro civil Augusto Ferreira Ramos (1860 – 1939), criador e construtor do Bondinho do Pão de Açúcar, em torno de 1909, quando este estava fazendo obras de instalação de água, luz, força e tração, no Espírito Santo.

 

 

Acessando o link para as fotografias do Bondinho do Pão de Açúcar de autoria de Therezio Mascarenhas disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

O Pão de Açúcar com seu bondinho e o Cristo Redentor são os principais pontos turísticos do Brasil, segundo e primeiro  mais visitados do país, e marcas registradas do Rio de Janeiro, seus mais conhecidos cartões-postais.

 

 

O Bondinho do Pão de Açúcar já foi visitado por diversas celebridades, dentre elas o físico Albert Einstein (1879 – 1955), o cantor e compositor Bob Marley (1945-1981), o papa João Paulo II (1920 – 2005); em 1941, pelo futuro presidente dos Estados Unidos, John Kennedy (1917-1963); as atrizes Halle Berry (1966-) e Natalie Portman (1981-), o ator Robert de Niro (1943-), a cantora Tina Turner (1939-) e Malala Yousafzai (1997-), ganhadora do Prêmio Nobel da Paz em 2014. Em um dos bondinhos foram filmadas cenas de 007 Contra o Foguete da Morte (1979): em uma das sequências, o agente James Bond, na época interpretado pelo ator Roger Moore (1927 – 2017), se equilibrou, a mais de 500 metros de altura, em seus cabos de aço.

 

 

Um pouco da história do Bondinho do Pão de Açúcar

 

O projeto do bondinho era ousado e grandioso e estava em consonância com as transformações urbanas realizadas no Rio de Janeiro, no começo do século XX, durante a gestão do prefeito Francisco Pereira Passos (1836 – 1913), entre 1903 e 1906. Para sanear e modernizar a cidade diversas demolições foram feitas. Era a política do “bota-abaixo”, como ficou popularmente conhecida, que contribuiu fortemente para o surgimento do Rio de Janeiro da Belle Époque. Essas transformações foram definidas por Alberto Figueiredo Pimentel (1869-1914), autor da seção “Binóculo”, da Gazeta de Notícias, com a máxima “O Rio civiliza-se”, que se tornou o slogan da reforma urbana carioca.

 

 

O criador do Bondinho do Pão de Açúcar, Augusto Ferreira Ramos, nascido em 22 de agosto de 1860, em Cantagalo, no estado do Rio, formou-se, em 1882, na Polytecnica do Império do Brasil, atual Faculdade de Engenharia da UFRJ, e tornou-se sócio do Clube de Engenharia, em 1894, por indicação de Conrado Jacob de Niemeyer (1831 – 1905). Faleceu em 28 de julho de 1939, em sua residência, na rua 5 de julho, nº 130, em Copacabana (O Globo, 29 de julho de 1939).

 

O Globo, 29 de julho de 1939

Augusto Ferreira Ramos / O Globo, 29 de julho de 1939

 

Visionário, ele teve a ideia da criação do bondinho, durante a Exposição Nacional de 1908, na região da Urca, no Rio de Janeiro, em comemoração ao centenário da Abertura dos Portos às Nações Amigas, inaugurada em 11 de agosto de 1908. Ramos foi um dos coordenadores do pavilhão do estado de São Paulo devido ao café, um dos assuntos de seu interesse, e sobre o qual escreveu tanto sobre o seu cultivo como sobre sua comercialização. O café era, na época, o principal produto da balança comercial do Brasil.

A construção de um caminho aéreo entre os morros da Baía de Guanabara alavancaria o turismo na cidade. Conseguiu capital – entre os investidores estavam Eduardo Guinle (1846-1912)Candido Gaffrée (1845-1919) e Raymundo de Castro Maya (1894 – 1968) – apoio do governo e fundou a Cia Caminho Aéreo Pão de Açúcar.

 

 

As obras foram realizadas entre 1909 e 1912. O teleférico carioca, cujas duas linhas somam 1325 metros, superou os dois que existiam na época: o do Monte Ulia, na Espanha, com extensão de 280 metros; e o de Wetterhorn, na Suíça, com 560 metros. O empreendimento custou uma fortuna, dois milhões de contos de réis, e centenas de operários, além de alpinistas, trabalharam em sua construção.

 

 

Os bondinhos de madeira maciça foram trazidos da Alemanha e fixados nos cabos com o auxílio de guindastes. Foi contratada a empresa alemã J.Pohling, de Colônia, que fabricou e montou os equipamentos.

 

 

Finalmente, em 27 de outubro de 1912, foi inaugurado o caminho aéreo no Rio de Janeiro, entre a Praia Vermelha e o Morro da Urca, que se tornaria o mundialmente famoso Bondinho do Pão de Açúcar (Careta, 5 de outubro de 1912). Alguns dias antes, houve uma visita da imprensa às obras (Correio da Manhã, 10 de outubro de 1912). Em 1º de dezembro, foi inaugurada a iluminação elétrica no caminho aéreo (Jornal do Brasil, 1º de dezembro de 1912, na última coluna).

 

 

O bondinho no segundo trecho, entre o Morro da Urca e o Pão de Açúcar, numa extensão de 750 metros e 396 metros de altura, começou a funcionar no dia 18 de janeiro de 1913, completando a ligação até o alto do pico do Pão de Açúcar (O Paiz, 19 de janeiro de 1913, quarta coluna).

 

 

Augusto Ferreira Ramos dirigiu a empresa até 1934, ano em que o industrial e banqueiro Carlos Pinto Monteiro assumiu a administração da Companhia Caminho Aéreo Pão de Açúcar até 1962, quando o engenheiro Cristóvão Leite de Castro (1904 – 2002) assumiu a direção. Durante sua gestão, em 1969, a Companhia do Pão de Açúcar obteve permissão para duplicar a linha e, após algumas reformas, passou a contar com quatro novos bondinhos, cada um com capacidade para transportar 75 passageiros. Os trabalhos foram completados em 29 de outubro de 1972.

Em 1993, Cristóvão passou o cargo para sua filha, Maria Ercília Leite de Castro, mestre em Administração de Empresas pela COPPEAD. Em 2002, o bondinho passou por outra reforma com a substituição dos oito cabos de aço e na realização de melhorias como nova pintura, iluminação, equipamento de som e placas de sinalização. Foram gastos 852 mil dólares. Entre 2008, foram inaugurados quatro novos bondinhos e a operação do teleférico foi digitalizada.

Em 2022, zerou suas emissões de carbono e ganhou uma nova marca e um novo lema: Parque Bondinho Pão de Açúcar, “Felicidade lá em cima”. Recebeu de presente, em homenagem aos seus 110 anos uma canção, O bondinho, de Roberto Menescal, Alex Moreira e Cris Delanno. É dirigido por Sandro Fernandes.

 

 

Uma curiosidade: em novembro de 2021, Anna Caroline Boyd Martine entrou para a história do cartão postal carioca, tornando-se a primeira mulher a trabalhar como operadora de cabine do teleférico do Parque Bondinho Pão de Açúcar.

 

Acesse aqui um artigo publicado na revista Brazil – Ferro – Carril, número 36, em 1912, onde o projeto do Bondinho do Pão de Açúcar é explicado detalhadamente.

 

 

 

Pequeno perfil e cronologia de Therezio Mascarenhas (18? – 19?)

 

Como já mencionado, pouco se sabe, até hoje, sobre a biografia do fotógrafo Therezio Mascarenhas. A partir da pesquisa na Hemeretoca Digital da Biblioteca Nacional, segue uma pequena cronologia de sua vida, que ajuda a traçar um pouco de seu perfil.

 

 

 

1900 – Procedente do Rio de Janeiro, fazendo quarentena na Ilha Grande, chegada do vapor nacional Pernambuco , em Vitória. Therezio era um dos passageiros (O Estado do Espírito Santo: Ordem e Progresso, 24 de julho de 1900, última coluna).

1908 – Foi um dos convidados de F. Clemetson, superintendente da Estrada de Ferro Sul do Espírito Santo, para viajar para Engenheiro Reeve com o cientista e ministro plenitenciário da França, Charles Wiener (1851–1913), nascido em Viena, que ficou bastante conhecido por suas viagens ao Peru (Diário da Manhã: Órgão do Partido Construtor (ES), 20 de fevereiro de 1908, quarta coluna).

Fotografou indígenas do Rio Doce (Diário da Manhã: Órgão do Partido Conservador (ES), 20 de fevereiro de 1908, segunda coluna).

Identificado como um ativo jovem, Therezio seguiu para o Rio de Janeiro, no paquete Maranhão, em 6 de junho, com a intenção de conversar com o diretor da Sociedade Nacional de Agricultura sobre a abertura de um estabelecimento de artigos e ferragens para a lavoura. Retornou em julho (Diário da Manhã: Órgão do Partido Construtor (ES), 7 de junho de 1908, quinta colunaCommercio do Espírito Santo, 24 de julho de 1908, segunda coluna).

Foi anunciado que ele abriria, na rua da Alfândega, em Vitória, um depósito para máquinas para a lavoura importados da Europa e da América do Norte (Cachoeirano, 20 de junho de 1908, terceira coluna).

Publicação de uma poesia de sua autoria (O Malho, 8 de agosto de 1908).

1909 - Ele e Casemiro Guimarães tiraram várias diversas fotográficas do piquenique dos sócios do Club de Regatas, realizado na Ilha do Boi, no Espírito Santo (Commercio do Espírito Santo, 22 de março de 1909, primeira coluna).

O engenheiro Augusto Ferreira Ramos (1860 – 1939), criador e construtor do Bondinho do Pão de Açúcar, promoveu uma excursão durante a qual os aplicados amadores Paulo Motta e Therezio Mascarenhas tiraram várias fotografias (Diário da Manhã: Órgão do Partido Construtor (ES), 8 de abril de 1909, última coluna). Provavelmente, em torno deste ano, Augusto e Therezio se conheceram.

Foi publicada na revista Fon-Fon uma fotografia do capor Queen Eleanor de sua autoria. Foi identificado como fotógrafo amador (Fon-Fon, 24 de abril de 1909).

 

 

Praticava tiro ao alvo (Diário da Manhã: Órgão do Partido Construtor (ES), 4 de maio de 1909, primeira coluna).

No Café Globo, em Vitória, houve uma exposição de fotografias de sua autoria dos serviços de abastecimento e luz realizados pelo engenheiro Augusto Ferreira Ramos. Foi identificado como amador e nesses registros Therezio revelava muito bom gosto pela arte (Diário da Manhã: Órgão do Partido Construtor (ES), 24 de maio de 1909, quinta colunaCorreio do Espírito Santo, 26 de maio de 1909, segunda coluna).

Fazia parte da comitiva de Augusto Ferreira Ramos em visitas de obras hidráulicas realizadas pelo engenheiro  (Diário da Manhã: Órgão do Partido Construtor (ES), 10 de julho de 1909, segunda colunaDiário da Manhã: Órgão do Partido Construtor (ES), 13 de julho de 1909, quinta coluna).

Participou da homenagem realizada pelo governo do Espírito Santo ao presidente Afonso Pena (1847 – 1909), na Catedral de Vitória (Commercio do Espírito Santo, 13 de julho de 1909, última coluna).

Foi noticiado seu aniversário, no dia 23 de agosto (Correio do Espírito Santo, 23 de agosto de 1909, primeira coluna).

Produziu várias fotografias durante uma excursão ao Jucu promovida pelo engenheiro Augusto Ferreora Ramos, contratante dos serviços de água, luz e esgoto de Vitória, que ofereceu um piquenique à família do político capixaba Torquato Moreira e a outras distintas famílias (Commercio do Espírito Santo, 21 de setembro de 1909, segunda coluna).

Esteve presente na missa de sétimo dia do prefeito de Vitória, Ceciliano Abel de Almeida (Commercio do Espírito Santo, 24 de novembro de 1909, quarta coluna).

Fotografou as festas realizadas na Escola Aprendizes de Marinheiro e foi identificado como um hábil fotógrafo (Diário da Manhã: Órgão do Partido Construtor (ES), 23 de dezembro, segunda coluna).

1910 – Possuia um estabelecimento fotográfico na Villa Moscoso, nº 16, em Vitória, no Espírito Santo (Diário da Manhã: Órgão do Partido Construtor (ES), 26 de fevereiro de 1910, segunda colunaAlmanak Laemmert, 1910, primeira colunaAlmanak Renault, 1912, última coluna).

Estava vendendo artigos  fotográficos (Diário da Manhã: Órgão do Partido Construtor (ES), 10 de março de 1910, última coluna).

 

 

1911 - Chegou no porto de Vitória, procedente do norte no paquete Sattelite (Diário da Manhã: Órgão do Partido Construtor (ES), 18 de outubro de 1911, segunda coluna).

1916 - Seu estabelecimento fotográfico na Villa Moscoso, em Vitória, no Espírito Santo, foi anunciado pela última vez no Almanak Laemmert (Almanak Laemmert, 1916, última coluna).

1927 - Ele e Augusto Ferreira Ramos foram alguns dos subscritores do abaixo-assinado feito por moradores e proprietários na Praia Vermelha, elogiando os melhoramentos realizados pelo prefeito do Rio de Janeiro, Antônio da Silva Prado Junior (1880 – 1955), na remodelação da principal artéria e nas cercanias da região, o que facilitaria a visita ao encantador passeio do Pão de Açúcar (O Paiz, 14 de dezembro de 1927, segunda coluna).

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Diário do Rio

Extra, 27 de outubro de 2022

Correio Braziliense, 12 de junho de 2008

Folha de São Paulo, 12 de fevereiro de 2022

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

Jackobson, Andrea. O bondinho do Pão de Açúcar. Rio de Janeiro : Editora Andrea Jackobson, 2018.

O GLOBO, 13 de junho de 2011

O GLOBO, 20 de outubro de 2012

Portal Clube de Engenharia

Rezende, Nilza. Pão de Açúcar – A Marca do Rio / Sugar Loaf – Rios Trademark.  Editora Clio.

Revisa EDVD

Serra News

Site Bondinho do Pão de Açúcar

Site Instituto Histórico Geográfico Brasileiro

Superinteressante, 4 de julho de 2018

No Dia Internacional da Fotografia, fotógrafas pioneiras no Brasil

 

“O trabalho das mulheres é brilhante. Desde o advento da fotografia a mulher atuou em todos os campos da fotografia”.

 

Stefania Brill (1922 – 1992), fotógrafa, curadora e crítica de fotografia,

durante um debate no Museu da Imagem e do Som, de São Paulo (MIS-SP),

sobre a mulher na fotografia, em 1981

 

Desde a invenção da fotografia, em 1839, as mulheres atuaram nos bastidores e, eventualmente, à frente dos estabelecimentos fotográficos: filhas, esposas ou parentes dos fotógrafos proprietários do negócio comumente trabalhavam nos ateliês e raramente recebiam crédito pelo trabalho que realizavam. Então hoje, quando é comemorado o Dia Internacional da Fotografia, a Brasiliana Fotográfica, com muita satisfação, traz para seus leitores perfis de algumas mulheres fotógrafas ou administradoras de estabelecimentos fotográficos que atuaram no século XIX e nas primeiras décadas do século XX no Brasil. Foram importantes para o desenvolvimento da fotografia no país mas eram, normalmente, invisibilizadas.

Não se conhecem muitas até hoje. Por exemplo, na importantíssima obra de referência sobre a fotografia no Brasil, o Dicionário Histórico -Fotográfico Brasileiro (1982), de autoria do professor Boris Kossoy (1941-), ponto de partida de todas as pesquisas sobre fotógrafos do século XIX  que realizo para a Brasiliana Fotográfica, entre centenas de verbetes sobre fotógrafos que atuaram no Brasil no período de 1833 a 1910, há somente oito mulheres listadas.

São elas: Fanny Volk, que atuou no Paraná; Hermina de Carvalho Menna da Costa, em Pernambuco; Leocadia Amoretti e Madame Lavenue, no Rio de Janeiro; Madame Reeckel, no Rio Grande do Sul; Maria Brasilina de Magalhães Faria, no Espírito Santo; Maria Izabel da Rocha, em Sergipe; e Roza Augusta, na Paraíba. Além da publicação de breves perfis destas fotógrafas, publicamos o perfil de Gioconda Rizzo e de Elvira Pastore, além de cinco cronologias: a destas duas últimas, a de Fanny Volk, a de Hermina de Carvalho Menna da Costa e a de Madame Reeckell.

A Fundação Joaquim Nabuco, parceira da Brasiliana Fotográfica, possui em seu acervo, na Coleção Francisco Rodrigues, retratos de autoria da pioneira Hermina de Carvalho Menna da Costa.

 

 

O Instituto Moreira Salles, uma das instituições fundadoras do portal, possui uma carte de visite produzida pela portuguesa Madame Reeckell, registros produzidos por Gioconda Rizzo e fotografias produzidas por Vincenzo Pastore (1865 – 1918). Sabemos que Elvira (1876 – 1972), sua mulher e parceira profissional, trabalhava no estúdio e era a responsável pelos serviços de fotopintura, revelação e acabamento das fotografias.

 

 

Foto de autoria de Gioconda Rizzo, s/d. São Paulo, SP / Acervo IMS

Foto de autoria de Gioconda Rizzo,19?. São Paulo, SP / Acervo IMS

 

 

 

Pioneiras representadas nos acervos fotográficos de parceiros da Brasiliana Fotográfica

 

Breve perfil de Elvira Leopardi Pastore (1876 – 1972)

 

 

A italiana Elvira Leopardi Pastore (1876 – 1972) foi casada com o fotógrafo italiano Vincenzo Pastore (1865 – 1918), que foi um importante cronista visual de São Paulo da segunda metade do século XIX e do início do século XX. A obra de Vincenzo ficou, durante décadas, em uma caixa de charutos, sem negativos. As ampliações desse material foram produzidas por Elvira, sua parceira no estúdio fotográfico e na vida. Mas o segredo de família chegou ao fim quando as fotografias foram herdadas por seu neto, o pianista e professor Flávio Varani, que as doou – 137 imagens – para o Instituto Moreira Salles, em 1996.

Acessando o link para as fotografias de Vincenzo Pastore disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

Elvira trabalhava no laboratório do estúdio e era a responsável pelos serviços de fotopintura e acabamento. Era ela, também, que registrou, entre 1898 e 1918, em um caderno de anotações, intitulado “A arte de fotografar e revelar“, o trabalho realizado no laboratório, as fórmulas fotográficas e as técnicas de fotopintura.

 

 

Segundo relatos dos filhos mais velhos do casal, eles trabalhavam muitas horas juntos, às vezes, até de madrugada, para atender os prazos de entrega. Era dessa parceria que vinha a sobrevivência da família.

Em seu diário, após ficar viúva, Elvira escreveu aos filhos:

“O dia em que vocês mancharem, mesmo que só com uma mancha pouco perceptível, o nome que aquele anjo lhes deixou, eu os renegarei, eu não lhes darei mais a minha bênção, porque não serão mais dignos dela. Deus e a Voirgem do Carmo os ajudem a afastar essa desgraça e os abençoe”.

Vincenzo havia iniciado suas atividades fotográficas, no Brasil, em São Paulo, em 1894. Retornou à Itália e, em 1897, quando estava em Potenza, na região de Basilicata, ele se casou com Elvira Leopardi Pastore (1876 – 1972). Tiveram 10 filhos: Costanza (1899-?), Beatriz (1902-?), Maria Lucia (1903 – 1988), Francisco (1905 – 1985), Pion Donato (1906-?), Eleonora ( 1908-1992), Olga (1909-?), Carmelita (1910 -?), Dante (1912-?) e Redento (1915 – 1918). No ano seguinte ao casamento, ele já possuia um estabelecimento fotográfico em Potenza. Em 1899, o casal veio para o Brasil, estabelecendo-se, em São Paulo.

Em 1900, os Pastore possuíam um estabelecimento fotográfico na Rua da Assembleia, nº 12 (depois Rua Rodrigo Silva), onde também residiam. Em nota no Estado de São Paulo, edições de 22 e 23 de outubro de 1900, anunciava: “Dá de presente aos seus clientes seis photographias / novo formato Elena, em elegantíssimos cartõezinhos ornados, só 4$500 e por poucos dias”.

A irmã de Elvira, Avelina Leopardi de Mauro, também trabalhava com fotografia em parceria com seu marido, José de Mauro, que havia aprendido fotografia e trabalhado com o próprio Vincenzo Pastore e que assumiu o ateliê da Rua da Assembleia quando foi inaugurado, em 1907, o estabelecimento dos Pastore na Rua Direita. A filha do casal de Mauro, Aurélia Figueiredo, também colaborava fazendo retoques no estúdio da família.

Com sua câmara Vincenzo Pastore capturava tipos e costumes de um cotidiano ainda pacato de São Paulo, uma cidade que logo, com o desenvolvimento econômico, mudaria de perfil. Captava as transformações urbanas e humanas da cidade, que passava a ser a metrópole do café. Com seu olhar sensível, o bem sucedido imigrante italiano flagrava trabalhadores de rua como, por exemplo, feirantes, engraxates, vassoureiros e jornaleiros, além de conversas entre mulheres e brincadeiras de crianças. Pastore, ao retratar pessoas simples do povo, realizou, na época, um trabalho inédito na história da fotografia paulistana. Registrou cenas de ruas de São Paulo com uma câmara de pequeno formato, produzindo imagens diferentes das realizadas, durante o século XIX, com câmeras de grande formato sobre tripés, tendo sido um dos pioneiros da nova linguagem da fotografia do século XX. É o autor de uma panorama de São Paulo a partir do Largo de São Bento e também fotografou eventos e prédios da capital paulista. Em seu estúdio, dedicava-se, com sucesso, ao retrato. Produzia retratos mimosos, que tinham como padrão o recorte losangular, mas os tamanhos e os tipos de cartões variavam. Oferecia serviços variados como imagens em esmaltes para broches, autocromos, platinotipias e fotominiaturas. Fazia montagens com desenhos e retratos de múltipla exposição, revelando um traço de humor. Também contemplou temas bucólicos e produziu ensaios com temas religiosos, muitas vezes com o uso de composições alegóricas.

Vincenzo faleceu, prematuramente, em 15 de janeiro de 1918, devido a complicações após uma cirurgia de hérnia – era alérgico e foi anestesiado com clorofórmio. Elvira tentou continuar com o estúdio, mas não foi possível. O fotógrafo e amigo da família, Michelle Rizzo (1869 – 1929), chegou a emprestar seu funcionário Carlos Tornatti para ajudar. Porém, para sustentar os 10 filhos, ela vendeu tudo, até os negativos de vidro e foi lecionar italiano no Colégio Dante Alighieri.

Passou a reunir, selecionar e organizar recordações da vida de Vincenzo que pudessem preservar a memória do marido. Havia um caderno pessoal, outro reunindo recortes de matérias de jornais do Brasil e da Itália e o Álbum de recordações Vicente e Elvira Pastore com documentos pessoais, boletins, cartas e fotografias.

 

 

Acesse aqui a Cronologia de Elvira Leopardi Pastore (1876 – 1972) e Vincenzo Pastore (1865 – 1918)

 

Breve perfil de Gioconda Rizzo (1897 – 2004)

 

Foto de autoria de Gioconda Rizzo,19?. São Paulo, SP / Acervo IMS

Foto de autoria de Gioconda Rizzo,19?. São Paulo, SP / Acervo IMS

 

“Fotografia é uma coisa maravilhosa, que a gente tira o retrato quando era criança e depois quando é velho está vendo a figura dele quando era criança, é uma coisa maravilhosa. É muito bonito!”

Gioconda Rizzo, 2002

 

O avô da paulistana Gioconda Rizzo (1897 – 2004), Vincenzo Rizzo, já se encontrava em São Paulo, em 1887, e era fabricante de cerveja (L´Italia, 21 de maio de 1887, quarta coluna). Seu filho e pai de Gioconda, Michelle (Miguel) Rizzo (1869 – 1929), sofreu um acidente que afetou seus olhos. Foi para a Itália se tratar, sem sucesso, e lá aprendeu fotografia com B. Lauro, retratista da família real italiana.

Já de volta ao Brasil, Michelle inaugurou, em 10 de março de 1892, a Photographia Central, na Rua Direita nº 55, em São Paulo (O Estado de São Paulo, de 10 de março de 1892, página 1, antepenúltima coluna).

 

O Estado de São Paulo, 10 de março de 1892, página 1, antepenúltima coluna

O Estado de São Paulo, 10 de março de 1892

 

Verso de uma foto tirada no ateliê da família Rizzo

O Estado de São Paulo, 15 de maio de 2012

 

Em um anúncio veiculado pelo Fanfulla, de 8 de agosto de 1896, página 4, Michelle anunciava-se como proprietário da primeira photografia italiana no Brazil. Em 1906, estava na relação de fotógrafos italianos que atuavam em São Paulo (Il Brasile e gli Italiani, 1906, página 1165).

 

 

 

Foi com ele, seu grande incentivador, que Gioconda iniciou seus experimentos em fotografia, tendo sido a primeira mulher a ter um estabelecimento fotográfico, em São Paulo, a Photo Femina, aberto em 1914. Desde a adolescência Gioconda só enxergava com o olho direito. Sempre foi apaixonada por fotografia e aos 12 anos tirou um autorretrato e também fotografou uma amiga:

 

 

“Eu comecei a tirar foto de mim mesma… então meu pai quando viu aquela chapa… a primeira coisa que fiz… viu a chapa… disse: “Quem foi que fez isso?” “Fui eu papai”; ele disse: “Ihhhh! Esta vai me passar a perna!”

 Depoimento de Gioconda Rizzo a Carla Ibrahim. São Paulo, setembro de 2002.

 

Michelle muitas vezes viajava para o interior, de onde enviava fotografias para processamento, retoque e finalização em São Paulo. Quando estava ausente, seu filho Armando (1894 – 19?) cuidava dos negócios. Gioconda trabalhava com o irmão e participava desde a recepção e ambientação dos clientes no ateliê até o trabalho de revelação e acabamentos, como retoques e acondicionamento das fotos em álbuns, molduras ou estojos. Conhecia e dominava todas as etapas do processo fotográfico.

Em 1914, Michelle abriu para Gioconda o ateliê Femina, também na Rua Direita, número 8A, perto do seu, que ficava, então, na mesma rua, no número 10 C. O Femina atendia somente crianças e mulheres, pois, na época, não era adequado que uma mulher ficasse sozinha na presença de homens. Mesmo com essa restrição, a mãe de Gioconda, Giuseppina, sempre a acompanhava em  suas sessões fotográficas.

“Fui a primeira fotógrafa a se especializar em fotos assim. Fotografei, então, muitas mulheres de barões do café e muitas atrizes. Todas gostavam de minha maneira de fazer as fotos porque eu enfocava só meio corpo, realçando o rosto e usando tapetes nas paredes para servirem de fundo”.

Gioconda Rizzo, Folha de São Paulo, 12 de abril de 1982

 

Ainda em 1914, na revista A Cigarra, edição de 31 de dezembro, na seção “A Formiga”, foi publicada uma fotografia de autoria de Gioconda Rizzo com a assinatura do ateliê Femina.

 

Fotografia de autoria de Gioconda Rizzo / A Cigarra, 31 de dezembro de 1914

Fotografia de Wanda Massucci (a maior), de autoria de Gioconda Rizzo / A Cigarra, 31 de dezembro de 1914

 

Para criar diferentes figurinos e cenários, Gioconda possuia em seu estúdio almofadas, banquinhos, diversas cadeiras, colunas de mármore, estátuas de cães, laços, sombrinhas, véus, e outros objetos e adereços. Fazia também uso de uma balança para fotografar bebês, como sua filha, Wanda Pasqualucci (1926-), retratada, em 1926, na foto abaixo.

 

 

Criava poses que descontraíssem suas clientes, que tinham uma tendência a ficar muito sérias na hora da foto. Buscava em seus retratos a beleza, a sensualidade. Criava uma atmosfera de sonho, romântica. Suas retratadas sorriam, deixavam ombros e colos muitas vezes desnudos e os cabelos soltos, sem chapéus, enfeitados com flores.

Gioconda participou, trabalhando no pavilhão Gradisca, da quermesse realizada no parque da avenida Paulista, promovido pela sub-comissão italiana do bairro da Consolação para socorrer as famílias dos reservistas que haviam partido para a Itália (Correio Paulistano, 19 de julho de 1915, segunda coluna).

Em torno de 1916, Michelle trouxe da Itália o flash de magnésio que possibilitava a captação de poses mais rapidamente, o que facilitava enormemente fotografar crianças. Uma vez, Gioconda sofreu uma queimadura na mão direita quando utilizava a nova ferramenta. Também por volta deste ano, seu irmão, Vicente, descobriu que o ateliê Femina recebia cortesãs francesas e polonesas e contou para Michelle, que decidiu fechá-lo. Gioconda voltou a trabalhar com seu pai e seu irmão, Armando Rizzo. Passaram a produzir fotografias coloridas a óleo e a fazer fundos de paisagens aplicadas nas chapas. Também produziam muitas fotos de formaturas de escolas e faculdades.

Em 1926, Gioconda casou-se com o comerciante Onofre Pasqualucci (c. 1898 – 1935) e, no mesmo ano, nasceu sua única filha, Wanda.

 

 

Em 1931, cerca de dois anos depois da morte de Michelle, devido à crise financeira deflagrada pela quebra da Bolsa de Valores de Nova York, a família Rizzo fechou, após cerca de 40 anos de funcionamento, o ateliê da Rua Direita, e abriu outro na Rua Líbero Badaró, 63, chefiado por Armando. Nesse mesmo ano, Gioconda fotografou a Miss Universo, Yolanda Pereira (1910 – 2001).

 

 

Ela aprendeu as técnicas de fotografias fundidas em esmalte para joias com o fotógrafo espanhol Medina, estabelecido no Rio de Janeiro. Adaptou as técnicas à porcelana e passou a produzir fotojoias e decorações tumulares para o ateliê Photo do Carmo, do italiano Sestilio Fiorelli. Instalou em sua casa, no bairro do Cambuci, um ateliê e um forno para a produção das peças, que eram vitrificadas a uma temperatura de 1.000º C.

 

“Essas fotos em porcelana dão muito trabalho e se desenvolvem em várias fases até que se consegue uma película aplicada sobre a louça. Queima-se então a uma temperatura de 1000 graus e está pronta”.

Gioconda Rizzo, Folha de São Paulo, 12 de abril de 1982

 

Foto de autoria de Gioconda Rizzo,19?. São Paulo, SP / Acervo IMS

Fotos em porcelana de autoria de Gioconda Rizzo,19?. São Paulo, SP / Acervo IMS

 

Em 14 de junho de 1935, Gioconda ficou viúva e foi com a fotografia em porcelana que sobreviveu com sua filha. Aposentou-se na década de 60.

 

O Estado de S]ao Paulo, 15 de junho de 1935

O Estado de São Paulo, 15 de junho de 1935

 

Cinco décadas mais tarde, entre 12 e 30 de abril de 1982, houve uma exposição de parte de sua obra na Galeria Fotoptica, em São Paulo: 20 fotos em papel, 15 em porcelana e algumas coloridas a óleo.

Faleceu em 22 de março de 2004, pouco antes de completar 107 anos, e foi sepultada no Cemitério da Consolação.

Uma curiosidade: a capa do livro Anarquistas, Graça a Deus, da escritora Zélia Gattai (1916 – 2008), foi ilustrada com uma foto da família Da Col – Gattai, de autoria de Gioconda.

 

 

Abaixo, reprodução do texto O real e a representação nos retratos de Gioconda, de autoria da fotógrafa e crítica de arte Stefania Bril (1922 – 1992), publicado em O Estado de São Paulo, de 30 de abril de 1982:

 

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Acesse aqui uma entrevista com Gioconda Rizzo para o programa Moviola

 

 

Acesse aqui a Cronologia de Gioconda Rizzo (1897 – 2004)

 

Breve perfil de Hermina de Carvalho Menna da Costa (18? – ?), pioneira da fotografia em Pernambuco

 

 

A partir do século XIX, vários fotógrafos estrangeiros e brasileiros estabeleceram ateliês fotográficos em Recife, tornando a cidade uma referência importante na história da fotografia no Brasil. Alguns dos mais importantes, representados no acervo da Brasiliana Fotográfica, foram o alemão Alberto Henschel (1827 – 1882), o francês Alfred Ducasble (18-?-19?), o francês nascido na Itália Augusto Stahl (1828-1877), o austríaco Constantino Barza (18? -?), o português Francisco du Bocage (1860-1919), os pernambucanos João Ferreira Villela (18?-1901) e Manoel Tondella (1861-1921), o português Joaquim Insley Pacheco (c. 1830-1912) e o europeu Moritz Lamberg (18?-?). 

Outros fotógrafos que atuaram em Pernambuco no século XIX foram Agio Rio Pedro da Fonseca, Antônio Lopes Cardoso, A.W. Osborne, Borges de Mello, Cincinato Mavignier, Daniel Bérard, Eduardo Gadaut, Eugênio, Firmino, Flosculo de Magalhães, Francisco Labadie, Frederico Ramos, Hermina de Carvalho Menna da Costa, João José de Oliveira, João Firpo, J. B. Thoma, Joaquim Canelas de Castro, Jorge Augusto Roth (c. 1840 – 1893), Lins, Louis Piereck, Ludgero Jardim da Costa, Manoel Inocêncio Menna da Costa, Manoel Ribeiro Filho, Manoel Tondella, Mauricio, Monteiro e Roberto.

Dentre eles, havia uma mulher: Hermina de Carvalho Menna da Costa, considerada, até o momento, a primeira mulher fotógrafa de Pernambuco. Porém, pouco se sabe sobre ela.

 

Acessando o link para as fotografias de autoria de Hermina Menna da Costa  disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá visualizar e magnificar as imagens.

 

 

Não se sabe até o momento nem o ano nem o local exato de nascimento e morte de Hermina de Carvalho Menna da Costa, especializada em retratos em estúdio. Apesar das várias lacunas e indagações, esse breve perfil conta um pouco da trajetória de Hermina, até hoje, considerada a primeira fotógrafa pernambucana e, muito provavelmente a primeira brasileira.

Seu nome de solteira era Hermina Adelaide da Cunha Carvalho e casou-se, em 1871, com Felippe Emilio Menna da Costa (Jornal do Recife, 14 de novembro de 1871, primeira coluna). Qual seria então seu parentesco com Manoel Inocêncio Menna da Costa, que atuava como fotógrafo desde 1872 e que, a partir de 1875, possuia um ateliê fotográfico na Rua da Imperatriz, nº 48, no primeiro andar?

Entre 1880 e 1881, antes de se estabelecer como fotógrafa, Hermina trabalhava na Rua da Imperatriz, nº 48, mesmo endereço de Manoel Inocêncio, porém no segundo andar. Fazia qualquer trabalho de cera… bandejas com bolos… doura letreiros em fitas (Jornal do Recife, 2 de dezembro de 1880, antepenúltima coluna). Terá essa vizinhança colaborado para despertar o interesse de Hermina para a fotografia?

 

 

O fato é que, em 21 de outubro de 1883, Hermina inaugurou, já com alguns trabalhos em exposição, o estabelecimento fotográfico Hermina Costa & C, na Rua Barão da Victoria, nº 14, no mesmo local onde antes se localizava o ateliê do francês Francisco (François) Labadie (? – 1883), falecido em fevereiro de 1883, vítima de gastro-hepatite (Jornal do Recife, 19 de outubro de 1883, terceira coluna; Jornal do Recife, 20 de outubro de 1883, penúltima colunaDiário de Pernambuco, 21 de outubro de 1883).

 

 

Em 1884, ela, Manoel Inocêncio Menna da Costa e o antiquário francês Alfred Ducasble (18? – 19?) formavam a comissão da Imperial Sociedade dos Artistas Mecânicos e Liberais para arrecadação dos impostos devidos por fotógrafos e retratistas.

Em setembro de 1885, a Rua Barão da Vitória já havia passado a se chamar Rua Nova e o estabelecimento de Hermina ficava no nº 12, segundo andar  (Jornal do Recife, 12 de setembro de 1885, coluna). Devido à grande quantidade de ateliês fotográficos, a Rua Nova era conhecida, no século XIX, como a rua dos fotógrafos.

Ainda neste ano, em dezembro, Hermina participou da quinta Exposição Artístico-Industrial do Liceu de Artes e Ofícios, promovida pela Imperial Sociedade dos Artistas Mecânicos e Liberais, ocasião em que foi premiada com um Diploma de Mérito. Provavelmente essa conquista conferiu a ela maior visibilidade. O fotógrafo francês Alfred Ducasble (18? -19?) ganhou o Diploma de Progresso (Diário de Pernambuco, 31 de dezembro de 1885, última coluna). O ateliê de Ducasble ficava na Rua Barão da Vitória, nº 65, mesma rua do ateliê de Hermina.

 

 

 

Em 1886, ela anunciou que o fotógrafo Flosculo de Magalhães (18? – ?) não era mais sócio de seu estabelecimento desde o dia 6 de junho. No ano seguinte, inaugurou um outro ateliê fotográfico, a Photographia Moderna, na Rua Primeiro de Março (antiga Rua do Crespo), nº 7. Trabalhavam com ela no novo estabelecimento os fotógrafos Joaquim Canellas de Castro e Manoel Inocêncio Menna da Costa, recém chegado do Maranhão (Jornal do Recife, 27 de outubro de 1887, primeira coluna). Flosculo voltou a trabalhar com Hermina no ateliê fotográfico da Rua Barão da Victoria.

 

 

Em um anúncio de seu estabelecimento, era chamava atenção para a boa luz do ateliê (Jornal do Recife, 4 de maio de 1889).

 

 

Participou com o austríaco Constantino Barza, identificado como sucessor de Alberto Henschel (1827 – 1892), e Alfred Ducasble, de uma concorrência para realizar o quadro de retratos dos formandos da Faculdade de Direito. Barza foi o vencedor (Jornal do Recife, 19 de julho de 1889). No mesmo ano, foram feitos elogios aos novos cartões, que está empregando a oficina fotográfica Hermina Costa (Jornal do Recife, 21 de setembro de 1889, penúltima coluna). Em 1891, venceu a concorrência para a realiação do quadro de formandos da Faculdade de Direito (Diário de Pernambuco, 17 de julho de 1891, última coluna).

Em 1892, foi anunciado que a Photographia Moderna havia passado por uma grande reforma (Jornal do Recife, 22 de setembro de 1892).

 

 

Seu estabelecimento, na Rua 15 de novembro, nº 7, estava listado no Almanak do Estado de Pernambuco de 1894Em 29 de dezembro de 1894, foi publicado que algum pedido feito por ela à Prefeitura do Recife havia sido deferido (Jornal do Recife, 29 de dezembro de 1894, quarta coluna). Até 1895, seu estabelecimento fotográfico continuava a funcionar (Diário de Pernambuco, 5 de fevereiro de 1895, segunda coluna).

Acesse aqui a Cronologia de Hermina de Carvalho Menna da Costa (18? -?)

 

Breve perfil de Madame Reeckel (1837 – 19?)

 

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Izabel Jacintha Reeckell; Photographia Allemã; Madame Reeckell. Retrato de homem não identificado, c. 1876. Porto Alegre, RS / Acervo IMS

 

Acima, uma carte de visite produzida na Photographia Allemã de Mme Reeckell. Por cima do endereço do ateliê, em Porto Alegre, está escrito outro endereço, Praia (?) de Santa Izabel, nº 86, Lisboa. Terá sido o endereço do primeiro ateliê de Madame Reeckell na cidade? Provavelmente a foto foi produzida no Brasil, ainda em Porto Alegre. Teria Madame Reeckell escrito em cima do velho endereço o novo, já em Portugal, para enviar a carte de visite como referência para a produção de novos suportes? Ainda há muitas perguntas em torno da vida do casal formado por Izabel Jacintha e Carlos Reeckell.

Madame Reeckel, a primeira fotógrafa de Porto Alegre, cujo nome de solteira era Izabel Jacintha da Cunha, nasceu no Arquipélago dos Açores, na Ilha de São Jorge, na Vila de Velas, em 23 de outubro de 1837. O fotógrafo prussiano Carlos Frederico Johann Reeckel (18? – c. 189?), seu futuro marido chegou ao Rio de Janeiro no paquete Navarre, em 19 de março de 1863 (Diário Oficial do Império do Brasil, 20 de março de 1863). Izabel Jacintha havia migrado para o Brasil, possivemente com seus pais.

Em 1865, Carlos F. J. Reeckell tornou-se sócio de Bernardo Lopes Guimarães, o Lopes, em um estabelecimento na Rua do Hospício, futura Rua Buenos Aires, nº 104, sob a firma Frederico & Lopes (Correio Mercantil, 11 de julho de 1865, sétima coluna).

Em julho de 1867, Carlos Reeckell anunciava-se como retratista em Vassouras e participava ao respeitável público, aos Srs. fazendeiros da região que havia aberto uma photographia volante na cidade. Já havia trabalhado em Valença e em Santa Teresa (Jornal do Commercio, 19 de julho de 1867, última coluna).

 

 

Carlos e Izabel Jacintha se casaram, no Rio de Janeiro, em setembro de 1867 (O Apóstolo, 20 de outubro de 1867, terceira coluna) e, em 22 de setembro de 1867, partiram para a os Açores, rumo à Ilha Terceira, no patacho português Terceirense (Jornal do Commercio, 23 de setembro de 1867, última coluna). Carlos Reeckell trabalhou e teve ateliês fotográficos montados em três ilhas do arquipélago: São Miguel, Terceira e Faial. Anunciava-se como fotógrafo volante. Transmitiu seus conhecimentos a diversos fotógrafos, dentre eles Antônio José Raposo (1848 – 19?), que adquiriu o ateliê e os clichês de Reeckell.

 

 

O casal partiu da ilha de São Miguel, em 15 de julho de 1870 a bordo da barca portuguesa Amisade, e chegou no Ceará em 1º de agosto (A Constituição, 4 de agosto de 1870, primeira colunaPedro II, 2 de agosto de 1870, primeira coluna).

 

 

 

Estabeleceram-se, em Fortaleza, na Praça Municipal, nº 40 (A Constituição, 20 de setembro de 1870, primeira coluna).

 

 

Em julho de 1872, Carlos Reeckell voltou de uma temporada no sul do Brasil (Pedro II (CE), 12 de julho de 1872, terceira coluna). Em novembro do mesmo ano, seu ateliê fotográfico ficava na Rua do Cajueiro, nº 25, e ele anunciava sua sociedade com Francisco Cândido Pereira Lins.

 

 

Foi noticiado que Carlos iria ao Rio de Janeiro (Pedro II, 10 de novembro de 1872, última coluna). Não foi mencionado se a senhora Reeckell o acompanhou nessa viagem.

Em torno de 1873, o casal encontrava-se em Porto Alegre e o estabelecimento fotográfico de Carlos ficava na Rua dos Andradas. Ele já estava muito doente. Foi então que Madame Reeckell, segundo Miguel Antônio de Oliveira Duarte, autor do livro Faça chuva ou faça sol: fotógrafos em Porto Alegre (1849-1909) (2016), teria tomado a frente do negócio como administradora e fotógrafa no ateliê das Rua dos Andradas, 80 (Álbum do Domingo, 7 de abril de 1878, última  coluna).

Em abril de 1875, foi inaugurada  a segunda Exposição Provincial do Rio Grande do Sul ou Exposição Commercial e Industrial, uma exposição de agricultura, indústria e comércio, realizada no Edifício do Atheneo Rio Grandense, em Porto Alegre. Segundo o historiador Athos Damasceno (1902 – 1975), foi Carlos von Koseritz (1830 – 1890), jornalista, poeta e importante personalidade da colônia alemã no sul do Brasil durante o Segundo Império, quem sugeriu a inclusão na exposição “de uma seção especial destinada a exibição de obras de arte, assim imprimindo no parque um cunho de sensibilidade e cultura…” (Relatórios dos Presidentes das Províncias Brasileiras: Império (RS), 11 de março de 1875).

Dois fotógrafos apresentaram seus trabalhos nessa mostra: Madame Reeckell e o tradicional Luiz Terragno (c. 1831 – 1891), Fotógrafo da Casa Imperial, que possuía estabelecimentos fotográficos no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina (O Despertador, 19 de novembro de 1875, primeira coluna). Na  Exposição Nacional de 1875, no Rio de Janeiro, inaugurada em 12 de dezembro e finda em 16 de janeiro de 1876, Terragno recebeu uma Medalha de Mérito (Jornal do Commercio, 4 de fevereiro de 1876, segunda coluna).

O estabelecimento de Madame Reeckell, em Porto Alegre (RS), se chamava Photographia Allemã, e lá ela desenvolvia sua técnica da “luz tangente para fazer retratos nos dias sombrios (…) e mesmo nos chuvosos”. Ficava na Rua dos Andradas, 80 (A Reforma, 30 de julho de 1875).

Houve uma polêmica em torno deste sistema fotográfico entre Luiz Terragno e Madame Reeckell que no jornal A Reforma, de 4 de agosto de 1870, publicou:

“Luz Tangente. O sr. Terragno, em a pedido inserto no Riograndense, tratando dos retratos à luz tangente, diz que os não tiro pelo mesmo sistema dos seus. Os retratos chamados pelo sr. Terragno de à luz tangente –  são na minha opinião iguais aos que tiro e tenho anunciado. Quem quiser convencer disso venha à minha casa para ver os retratos que tenho tirado e outros de fotógrafos do Rio de Janeiro, também do mesmo sistema, isto é, preferindo-se os dias escuros para o trabalho dessa qualidade de fotografias. O sr. Terragno é injusto quando atribui-me querer imitá-lo, dando o nome de retratos – à luz tangente – que só s.s. pode tirar, quando é certo que os tiro há muito tempo. Desafia-me a apresentar os aparelhos e ingredientes que são precisos. Poderá vê-los  quem quiser. O sistema é simples e não faço mistério para com as pessoas que, visitando a minha galeria, pedem par ver os aparelhos de que me sirvo. Quanto a supor que usei do emblema seu no meu anúncio publicado na Reforma, declaro que nada tenho com isso. E o sr. Terragno com aquela empresa deve entender-se a respeito. M Reeckell”.

Em 1878, a família de artistas Riosa, a quem Carlos Reeckell já havia ajudado no Ceará, reverteu à família Reeckell o valor que arrecadou em um dos espetáculos que realizou em Porto Alegre (Álbum do Domingo, 7 de abril de 1878, segunda coluna).

 

 

Segundo a tese de Paula Cristina Viegas, de acordo com anuários portugueses, Carlos Reeckell havia se instalado em Lisboa, com um novo negócio, na Rua Saraiva de Carvalho, 86, a partir de 1892. Entre 1896 e 1898, a Photographia Allemã, situava-se na Rua Saraiva de Carvalho, n.º 80, 1.º andar, sob a administração de Madame Reeckell, já viúva. A partir de 1897, o estabelecimento passou a existir em outros endereços, conforme anunciado:

“Photographia Allemã 158, avenida da Liberdade 211, rua de S. José. Este atelier fundado em 1878, executa todos os trabalhos com a maior seriedade. Retratos até ao tamanho natural. Instantaneos de creanças. Incumbe-se trabalhos de photographos amadores”. 

Mulheres Fotógrafas em Portugal (1844 – 1918)

Maria E. R. Campos 1.ª Photographa Portugueza

Parece que a Viúva Reeckell ficou à frente da Photographia Allemã até os primeiros anos do século XX.

 

 

Algumas fotografias de autoria de Madame Reeckell estão no acervo do Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul e também no acervo pessoal de Boris Kossoy.

Acesse aqui a Cronologia de Izabel Jacintha Cunha Reeckell, a Madame Reeckell (1837 – 19?)

 

 

Mulheres fotógrafas ou comerciantes de produtos fotográficos no século XIX,

no Brasil, entre 1842 e 1910*

 

Espírito Santo

Maria Brasilina de Magalhães Faria (atuou entre 1876 e 1878) 

Foi casada com o fotógrafo Francisco Antônio de Faria (? – 1876) que havia sido associado a Henrique Deslandes, na Deslandes & Faria, de 1870 a 1871, em Vitória e em Cachoeiro do Itapemirim, no Espírito Santo.

 

 

 

A sociedade já estava desfeita quando Maria Brasilina ficou viúva, em 20 de outubro de 1876. A morte do hábil fotógrafo deixou Maria Brasilina e a filha do casal na pobreza (O Espírito-Santense, 21 de outubro de 1876, primeira coluna). Maria Brasilina seguiu com as atividades do ateliê fotográfico do marido, na Rua Duque de Caxias, nº 55, em Vitória. Não se sabe se exerceu atividades de fotógrafa ou se manteve apenas a administração do negócio. Em 1878, associou-se a Joaquim Ayres, formando a firma Viúva Faria & Ayres, mas a sociedade não durou nem um ano, tendo a companhia ficado para Ayres.

 

 

Paraíba

Roza Augusta (atuou entre 1890 e 1899)

O ateliê de Roza Augusta situava-se na Rua d´Areia, nº 72, em João Pessoa. Chamava-se Photographia Minerva e realizava trabahos fotográficos simples, em esmalte e em porcelana. Encarregava-se também de retratos a crayon, funcionando com bom e mau tempo devido à boa luz do atelier (O Parahybano, 5 de abril de 1892). Sua presença exercendo uma atividade tipicamente masculina deve ter, provavelmente, causado surpresa na capital da Paraíba. Todos os anúncios disponíveis na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional de seu estsbelecimento são de 1892. Não se sabe se itinerou pelo estado e quanto tempo permaneceu na Paraíba. De acordo com um artigo do projeto Fotografia Paraibana Revista, de 2013, a Paraíba só voltou a ter uma mulher fotógrafa em 1932, quando Tereza de Jesus Medeiros foi presenteada com uma câmera-caixão e a cidade de Santa Luzia ganha uma retratista.

 

 

Paraná

Fanny Paul Volk (c. 1867 – 1948)(atuou entre 1900 e 1918)

 

 

Fanny Paul Volk foi uma pioneira da fotografia, filha de uma também pioneira da fotografia, a austríaca Anna Paul, que nasceu na mesma década em que a fotografia foi descoberta.

O fotógrafo alemão de Munique, Adolpho Volk (18? – 1908), a mãe de Fanny, a austríaca Anna Paul (c.1836 – 1902), e seu irmão, August, de 16 anos, vieram para o Brasil, em 1880, no mesmo navio, o Hamburg, e se conheceram durante a travessia. August faleceu durante a viagem. No ano seguinte, Fanny Paul, nascida em Leipa, chegou ao país, com 13 anos, com seu pai, Anton Paul (c. 1831 – 1891).

 

 

Adolpho abriu seu estabelecimento fotográfico, em Curitiba, em 1881, na Travessa da Rua da Carioca (Dezenove de Dezembro, 19 de novembro, de 1881). Em 1882, o ateliê já estava situado na Rua da Imperatriz, 77 (Dezenove de Dezembro, de 1822, segunda coluna).

 

 

 

Fanny casou-se com Adolpho, em janeiro de 1886, e trabalhou com a mãe e com seu marido na capital do Paraná. O trio superou a tendência da sociedade local a discriminar os imigrantes de origem alemã possivelmente porque traziam para a cidade a fotografia, um símbolo da modernidade e para isso divulgaram seu ofício a partir de anúncios em jornais e por seus clientes da comunidade alemã.

 

 

O ateliê funcionou na Rua do Imperador, nº 9, de 1888 a 1889 e na Rua Marechal Deodoro, números 9 e 10, de 1890 a 1902, com a participação de Adolpho, Fanny e Anna, que faleceu em 1902. Em 1903, o ateliê já se encontrava na Rua XV de Novembro, nº 54.

Em 1900, Adolpho foi premiado com a medalha de ouro na Exposição Agrícola e Industrial do Paraná. O último anúncio do ateliê sob sua gestão foi publicado, em 1904 (Diário do Paraná, 16 de janeiro de 1904).

 

 

Em 1904, Adolpho partiu para a Alemanha, deixando Fanny e a filha única do casal, Adolphine (1887 -19?), no Brasil. Constituiu uma nova família e faleceu, na Alemanha, em 1908 (Diário do Paraná (PR), 28 de agosto de 1908, quarta coluna).

 

 

Em 1904, foi oferecido o aluguel de uma das portas do ateliê fotográfico na Rua XV de Novembro. Fanny tomou a frente dos negócios e, no ano seguinte, já anunciava novidadesRetratos do tamanho de selos próprios para cartões de visita e correspondência de cartões postais (Diário da Tarde (PR), 7 de julho de 1904, última colunaCartão Postal, julho de 1905).

Em 1906, foi realizada na vitrine do jornal A Notícia uma exposição com cartões postais luminosos produzidos na Photographia Volk (A Notícia, PR 17 de fevereiro de 1906, penúltima coluna).

 

 

Ainda em 1906, foram expostos na Photographia Volk os retratos dos generais Carneiro e Benjamin Constant que seriam inaugurados no 2º Esquadão da Cavalaria (A Notícia, 13 de novembro de 1906, penúltima coluna).

Os retratos que seriam inaugurados na Secretaria Estadual de Agricultura, em 1907, foram realizados pela Photographia Volk (Diário da Tarde (PR), 15 de abril de 1907, segunda coluna).

Em 1908, anunciava-se como o mais antigo estabelecimento fotográfico do Paraná e realizava fotografias e retratos de todos os gêneros e por todos os processos até hoje conhecidos, como sejam: aristotipia, platinotipia, pigment, bromuro, contact, etc (Almanak do Paraná, 1908).

 

 

Ainda em 1908, foi anunciado que na Photographia Volk seriam produzidos os trabalhos do Primeiro Club de Retratos de Curitiba, organizado por Carlos de Andrade (O Commercio (PR), 8 de março de 1909, primeira coluna).

 

 

Segundo a autora da tese de Doutorado, Fanny Paul Volk : pioneira na fotografia de estúdio em Curitiba, Giovana Terezinha  Simão:

“Afora as fotografias com maiores demandas de inspiração pictórica realizadas por Fanny, a fotógrafa possuía também temáticas mais coloquiais, em geral na composição de retratos de família e casais. É possível observar que após a partida de Adolpho, o trabalho do estúdio foi muito solicitado nas seguintes categorias: fotos de família, dupla de namorados, duplas de amigas e crianças. Destaca-se que e as crianças fizeram parte de uma grande clientela de Fanny, responsáveis talvez, pelo sustento do estúdio. Vale refletir que um perfil recorrente de clientes do estúdio Volk – quando este estava sendo administrado por Fanny – foram as famílias, mulheres e a criançada. Talvez este perfil da clientela tenha se avolumado em virtude de Fanny ser mulher, afinal as mães, avós, tias, madrinhas, entre outras mulheres, teriam menos constrangimentos no reduto do estúdio se existisse uma fotógrafa mulher”.

Não deixou de fotografar diversos homens que se mantiveram ou se tornaram seus clientes, mesmo após a sua separação conjugal e, em 1912, numa época em que os nenéns eram retratados muito vestidos, fotografou um bebê nu. Ainda segundo Simão, esta teria sido uma das primeiras fotografias de um bebê nu produzidas no Brasil e no mundo. O bebê era Javita Egg.

 

 

Adolphine, cujo apelido era Lilly, casou-se, em 1911, com Julio Leite, que aprendeu a fotografar com Fanny e trabalhou com ela após o matrimônio. Lilly e Julio tiveram cinco filhos: Rennée, Helvídia, Fanny, Marcel e Ritta. Neste mesmo ano, foi contratado pela Photographia Volk um hábil artista fotógrafo de Berlim, Hugo Schreiber (Diário da Tarde (PR), 10 de novembro de 1911, quinta coluna).

 

 

A Photographia Volk, que havia se mudado, provisoriamente, para a Rua Marechal Deodoro, nº 81, e Arthur Wischral (1894 – 1982) integravam a equipe de reportagem fotográfica da revista A Bomba (PR) (A República (PR), 14 de março de 1913, última colunaDiário da Tarde(PR), 28 de março de 1913, terceira colunaA Bomba (PR), 10 de setembro de 1913, segunda coluna). O estabelecimento já tinha estado neste mesmo endereço de 1890 a 1902. Na Photographia Volk passaram a ser comercializados terrenos (Diário da Tarde, 26 de abril de 1913, primeira coluna).

 

 

Voltou a funcionar na Rua XV de novembro, nº 72, em 5 de abril de 1914 (A República (PR), 3 de abril de 1914, penúltima coluna; Diário da Tarde(PR), 2 de maio de 1914).

 

 

Em 1915, Fanny recebeu um pecúlio a que tinha direito, pago por um funcionário da Mutua Ideal, de São Paulo (Diário da Tarde (PR), 11 de março de 1915, terceira coluna).

Em 1918, Bernardo Heisler comprou a Photographia Volk e manteve o nome, certamente pelo sucesso e prestígio do estabelecimento.

 

 

Fanny, de uma tradicional família paranaense, faleceu, em Curitiba, em setembro de 1948 (Diário da Tarde (PR), 29 de setembro de 1948, segunda coluna). Foi uma pioneira e conseguiu atuar como fotógrafa durante cerca de 40 anos em um ambiente eminentemente machista.

 

 

Acesse aqui a Cronologia de Fanny Paul Volk (c. 1867 – 1948)

 

Rio de Janeiro

Leocadia Amoretti (atuou entre 1886 e 1894) 

Leocadia Moreira Lamas (18?-?) era o nome de solteira de Leocadia Amoretti, que foi casada e teve três filhos – Luiz, Victoria e Francisco – com o francês, de Marselha, João Baptista Francisco Amoretti (? – 1885), de quem enviuvou em 14 de novembro de 1885 (Gazeta de Notícias, 25 de novembro de 1885, segunda coluna).

Em torno de meados da década de 1860, João Baptista sucedeu Laurent Amoretti na firma A Palheta de Ouro, fundada em 1861.

 

 

A loja ficava na Rua dos Latoeiros, nº 38, mais tarde denominada Rua Gonçalves Dias. A firma era especializada no comércio de equipamentos e produtos para a química fotográfica e foi contemporânea da loja de Georges Leuzinger e Filhos, na Rua do Ouvidor e na Rua Sete de Setembro. A loja anunciou, em 1882, contar com fotógrafos em seu quadro de funcionários (Jornal do Commercio, 18 de janeiro de 1882, segunda coluna). Em 1883, Amoretti anunciou que a loja tinha grande sortimento, trazido por ele de uma viagem à Europa (Almanak Gazeta de Notícias, 1880Jornal do Commercio, 18 de novembro de 1883, penúltima coluna).

Após o falecimento de Francisco, Leocadia dirigiu o estabelecimento de 1886 até meados da década seguinte. Não se sabe, até o momento, se ela também atuava como fotógrafa (Jornal do Commercio, 6 de dezembro de 1886, quarta colunaJornal do Commercio, 23 de março de 1887, terceira coluna).

 

 

 

Madame Lavenue (atuou de 1842 a 1843) 

Em 1842, Mme. Lavenue, provavelmente francesa, foi certamente uma das primeiras mulheres fotógrafas do mundo e comercializava daguerreótipos no Rio de Janeiro, nos primeiros anos da década de 1840, pouquíssimo tempo depois no anúncio do invento do daguerreótipo. Era esposa do afinador de piano, marceneiro e fotógrafo francês Hyppolite Lavenue.

Ela atendia os fregueses no Hotel da Itália, localizado no Largo do Rocio, e também ia à casa dos clientes. Seu estúdio fotográfico foi um dos primeiros da cidade e nos anúncios de seu estabelecimento, oferecia acessórios para a realização das fotografias, chamava atenção para a nitidez das imagens, informava que o horário de atendimento era entre 9 e 11 horas da manhã e, na parte da tarde, entre 14 e 17h. Os preços variavam ente 12$ e 15$.

 

 

Na capa da edição do Jornal do Commercio de 24 de dezembro de 1842, na notícia sobre a presença do fotógrafo norte-americano Augustus Morand (c. 1818 – 1896), no Rio de Janeiro, que passou cerca de cinco meses na cidade, entre novembro de 1842 e abril de 1843, Mme Lavenue foi mencionada como daguerreotipista e por ter participado da recente exposição da Academia de Belas Artes, quando apresentou alguns retratos e uma cópia de gravura de bastante mérito.

 

 

No Jornal do Commercio, de 9 de janeiro de 1843, foi publicada uma carta de um leitor elogiando os retratos tirados por Madame Lavenue, admiráveis pela nitidez e perfeição de todos os traços. Também elogiou o agrado e boas maneiras da fotógrafa.

 

Em anúncios publicados em 17 e em 19 de fevereiro de 1843, oferecia-se para dar aulas de daguerreótipo, na Rua do Rosário, 50 (Jornal do Commercio, 17 de fevereiro de 1843). São esses os últimos registros das atividades de Madame Lavenue que a pesquisa do portal Brasiliana Fotográfica encontrou.

 

 

O francês Hippolyte Lavenue chegou no Recife, em 1839, e anunciou que havia trabalhado durante quatro anos em uma das melhores fábricas de piano da França. Oferecia seus serviços como consertador e afinador de pianos. Em 1840, ele morava na Rua Nova, na capital pernambucana. Em 1942, anunciou que teria que retornar à França, mas, em 5 de novembro de 1842, já anunciava seus serviços de afinador de piano, que executava com Louis Bayer, na Rua do Cano, nº 109, no Rio de Janeiro. Tinham chegado recentemente de Paris (Diário de Pernambuco, 6 de fevereiro de 1839, primeira coluna; Diário de Pernambuco, 17 de janeiro de 1840, segunda colunaDiário de Pernambuco, 5 de novembro de 1840, terceira colunaDiário de Pernambuco, 10 de fevereiro de 1942, segunda colunaJornal do Commercio, 5 de novembro de 1942, segunda coluna; Pequeno Almanak, 1843).

Em 1843, Hippolyte morou em Pouso Alegre, Minas Gerais, onde se estabeleceu como daguerreotipista. Em 1850, residia em Ouro Preto e era o dono ou trabalhava no Hotel Mineiro. Madame Lavenue não foi citada nessas notícias (O Recreador Mineiro, 1º semestre de 1845; O Itamontano, 19 de agosto de 1848 e 30 de janeiro de 1850).

 

Sergipe

Maria Izabel da Rocha (atuou entre 1908 e 1909)  

A sergipana Maria Izabel da Rocha era filha do fotógrafo Manoel Leobardo Rodrigues da Rocha e na ocasião da morte de seu pai, em 1908, decidiu adotar a profissão de fotógrafa. De acordo com o jornal Folha de Sergipe, de 24 de setembro de 1908, ela se considerava competentemente habilitada a exercer a arte fotográfica já que havia sido auxiliar de seu pai e de com ele ter aprendido a prática da fotografia no estabelecimento Photographia Leobardo, da Rua Santo Amaro, em Aracaju. Pedia aos antigos fregueses de seu pai, a continuação de sua preferência e proteção. Esse anúncio foi repetido diversas vezes entre 1908 e 1909. Em julho de 1909, seu ateliê estava situado na Rua São Christóvão (Folha de Sergipe, 1º de julho de 1909).

 

 

Seu pai, Manoel Leobardo, já atuava como fotógrafo desde 1879, em Maceió, na Rua do Palácio, nº 7.  Em abril de 1881, anunciou que passaria por Aracaju, onde não ficaria muito tempo (Correio do Sergipe, 7 de abril de 1881). Atendia na Rua de São Cristóvão, nº 35. Esteve no Rio de Janeiro para aperfeiçoar-se nos mais novos sistemas da arte fotográficas e, em 1884, estava de volta a Maceió (Diário da Manhã, 18 de junho de 1884). Em 1888, seu ateliê ficava na Rua Pedro Paulino. Em 1890, foi para Aracaju e seu estabelecimento ficava na Rua Japaratuba (Gazeta de Sergipe, 8 de fevereiro de 1890).

 

 

Quando faleceu, em 1908, o ateliê ficava na Rua Santo Amaro, assumido por Maria Izabel, até hoje considerada a única mulher a atuar como fotógrafa em Sergipe, na década de 1900.

* Nota da autora: muito ainda há que se avançar na biografia dessas fotógrafas, mas com esses breves perfis acredito que os leitores poderão, pelo menos, saber um pouco de suas vidas e atuações na história da fotografia.

 

Breve história do Dia Internacional da Fotografia

 

A data escolhida para a comemoração do Dia Internacional da Fotografia tem sua origem no ano de 1839, quando, em 7 de janeiro, na Academia de Ciências da França, foi anunciada a descoberta da daguerreotipia, um processo fotográfico desenvolvido por Joseph Nicèphore Niépce (1765-1833) e Louis Jacques Mandé Daguerre (1787-1851). Cerca de sete meses depois, em 19 de agosto, durante um encontro realizado no Instituto da França, em Paris, com a presença de membros da Academia de Ciências e da Academia de Belas-Artes, o cientista François Arago, secretário da Academia de Ciências, explicou o processo e comunicou que o governo francês havia adquirido o invento, colocando-o em domínio público e, dessa forma, fazendo com que o “mundo inteiro” tivesse acesso à invenção. Em troca, Louis Daguerre e o filho de Joseph Niépce, Isidore, passaram a receber uma pensão anual vitalícia do governo da França, de seis mil e quatro mil francos, respectivamente.

 

Acesse aqui o artigo Os 180 anos do invento do daguerreótipo – Pequeno histórico e sua chegada no Brasil, publicado em 19 de agosto de 2019, na Brasiliana Fotográfica.

Acesse aqui o artigo O que elas viram: fotolivros históricos feitos por mulheres, publicado na Revista de Fotografia Zum, em 13 de julho de 2022

 

A Brasiliana Fotográfica agradece à colaboração, neste artigo, dos seguintes profissionais do Instituto Moreira Salles: Millard Schisler, Coodernador da Gestão de Acervos; Joanna Americano Castilho, Coordenadora do Núcleo Digital; Carolina Filippo do Nascimento e Nrishinro Vallabha das Mahe, integrantes de sua equipe; e Joanna Balabram, historiadora da arte que atua na organização e processamento das coleções de fotografia do século XIX, na Coordenadoria de Fotografia. Agradece também à Albertina Lacerda Malta e a Lino Madureira, respectivamente, Coordenadora Geral e Coordenador de Documentação e Pesquisa do Cehibra – Centro de Documentação e de Estudos da História Brasileira Rodrigo Melo Franco de Andrade (Cehibra), da Fundação Joaquim Nabuco. Finalmente, agradece à revisão realizada por André Luis Câmara, poeta, jornalista e Doutor em Literatura pela PUC-RJ.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

BELTRAMIN, Fabiana Marcelli S. Entre o estúdio e a rua: a trajetória de Vincenzo Pastore, fotógrafo do cotidiano. Tese de dooutado em História Social apresentada ao Programa de História Social da Faculdade de Filosfia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo para a obtenção do título de Doutor em História Social. São Paulo, 2015.

BOCK, Mario. Gioconda Rizzo. Um olhar de 105 anos. Revista Fotografe Melhor, São Paulo, setembro de 2002.

Blog do O Estado de São Paulo – Rizzo e sua filha Gioconda, 15 de maio de 2012

CHAVES, Ricardo. Cristalizadores do fugidio in GZH, 4 de novembro de 2016.

CORRÊA, Amélia Siegel. As mulheres na história da fotografia brasileira: alguns apontamentos, 2014.

DUARTE, Miguel Antônio de Oliveira. Faça chuva ou faça sol: fotógrafos em Porto Alegre (1849-1909). Porto Alegre, 2016.

Enciclopédia Itaú Cultural – Gioconda Rizzo e Madame Lavenue

Folha de São Paulo12 de abril de 198230 de janeiro de 1997 .

Fotografia Paraibana Revista, 2013.

GASTAL, Susana. Pedro Weingärtner: sob o olhar fotográfico. 19&20, Rio de Janeiro, v. III, n. 3, jul. 2008.

Globoplay – A pioneira da fotografia Fanny Volk, exibido em 2014

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

História dos Açores

Histórias do Livro

IBRAHIM, Carla Jacques. As retratistas de uma época: fotógrafas de São Paulo na primeira metade do século XX. Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Multimeios do Instituto de Artes da Unicamp como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Multimeios sob a orientação do Prof. Dr. Roberto Berton De Ângelo , 2005.

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002.

LEITE, Ari Bezerra. História da fotografia no Ceará do século XIX. Edição do autor, 2019.

LIMA, André. O retrato da ousadia. Revista Photos e Imagens. São Paulo, nº.26, 2002

MAUAD, Ana Maria. Através da imagem: Fotografia e História in TEMPO. Universidade Federal Fluminense, Departamento de História, volume 1, nº 2, dezembro de 1996. Rio de Janeiro : Relume Dumará, 1996.

O Estado de São Paulo, 14 de agosto de 1998.

OLIVEIRA, Cândida Santos. Lentes, memórias e História: os fotógrafos lambe-lambe em Aracaju 1950 – 1990. Dissertação apresentada ao programa de PósGraduação em História da Universidade Federal de Sergipe, como requisito obrigatório para obtenção do título de Mestre em História, na Área de Concentração Cultura e Sociedade, 2020.

Omicron – Escola de Fotografia

PARAÍSO, Rostand. A velha Rua Nova e outras histórias. Recife: Bagaço, 2011.

Pergamum

ROCHA, Renaldo Ribeiro. Um breve histórico da fotografia em Aracaju. IV Congresso Sergipano de História e IV Encontro Estadual de História da Anpuh / SE, outubro de 1914.

SIMÃO, Giovana Terezinha Fanny Paul Volk : pioneira na fotografia de estúdio em Curitiba. Tese apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Sociologia, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná, como requisito parcial à obtenção do título de Doutor em Sociologia, 2010.

Site Cultura – Governo dos Açores

SOARES, Maria Thereza Gomes de Figueiredo; FEITOSA, Marcia Manir Miguel; FERREIRA JUNIOR, José. Um olhar sobre a fotografia feminista brasileira contemporâneaRev. Estud. Fem. 26 (3), 2018.

SOUZA, Camila Targino. Da Transparência Diáfana à Opacidade Densa – Imagens e Imaginário da Coleção Francisco Rodrigues de Fotografia. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco, 2007.

SUTIL, Marcelo Saldanha; BARACHO, Maria Luisa Gonçalves. Fotos de estúdio: imagens construídas. Fundação Biblioteca Nacional.

TURAZZI, Maria Inez. Poses e trejeitos: a fotografia e as exposições na era do espetáculo: 1839/1889. Prefácio Pedro Karp Vasquez. Rio de Janeiro: Funarte. Rocco, 1995. 309 p., il. p&b. (Coleção Luz & Reflexão, 4). ISBN 85-85781-08-4.

VASQUEZ, Pedro Karp. Dom Pedro II e a fotografia no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Roberto Marinho: Companhia Internacional de Seguros: Ed. Index, 1985.

VASQUEZ, Pedro Karp. Fotógrafos alemães no Brasil do século XIX. São Paulo: Metalivros, 2000.

VASQUEZ, Pedro Karp. Mestres da fotografia no Brasil: Coleção Gilberto Ferrez. Tradução Bill Gallagher. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 1995.

VIEGAS, Paula Cristina de Pinho Coelho Cintra.  Mulheres Fotógrafas em Portugal (1844 – 1918) Maria E. R. Campos 1.ª Photographa Portugueza. Disssertação para a obtenção de grau em Mestre em Arte, Patrimônio e Teoria do Restauro. Universidade de Lisboa Faculdade de Letras, 2018.

Leia aqui os artigos já publicados na Brasiliana Fotográfica sobre o Dia Internacional da Fotografia:

 

Dia Internacional da Fotografia – 19 de agosto, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 19 de agosto de 2015

Os 180 anos da invenção do daguerreótipo – Pequeno histórico e sua chegada no Brasil, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 19 de agosto de 2019

Os 180 anos da invenção do daguerreótipo – Os álbuns da Comissão Geológica do Império com fotografias de Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 19 de agosto de 2019

Autorretratos de fotógrafos – Uma homenagem no Dia Internacional da Fotografia, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 19 de agosto de 2021

Dia Internacional da Fotografia, uma retrospectiva de artigos,  de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 19 de agosto de 2023

Cronologia de Izabel Jacintha Cunha Reeckell, a Madame Reeckell (1837 – 19?)

Cronologia de Izabel Jacintha Cunha Reeckell, a Madame Reeckell (1837 – 19?)

 

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Izabel Jacintha Reeckell; Photographia Allemã; Madame Reeckell. Retrato de homem não identificado, c. 1876. Porto Alegre, RS / Acervo IMS

 

Acima, uma carte de visite produzida na Photographia Allemã de Mme Reeckell. Por cima do endereço do ateliê, em Porto Alegre, está escrito outro endereço, Praia (?) de Santa Izabel, nº 86, Lisboa. Terá sido o endereço do primeiro ateliê de Madame Reeckell na cidade?

1837 – Madame Reeckel, cujo nome de solteira era Izabel Jacintha da Cunha, nasceu no Arquipélago dos Açores, na Ilha de São Jorge, na Vila de Velas, em 23 de outubro de 1837, filha de Antônio Machado da Cunha (1799 – 18?) e Ana Jacintha Emília. Foi batizada dias depois, em 29 de outubro, e seu nome homenageava sua mãe, e sua madrinha, Izabel.

1863 – O fotógrafo prussiano Carlos Frederico Johann Reeckel (18? – c. 189?), protestante luterano e futuro marido de Jacintha, chegou ao Rio de Janeiro no paquete Navarre, em 19 de março de 1863 (Diário Oficial do Império do Brasil, 20 de março de 1863).

1865 Carlos F. J. Reeckell tornou-se sócio de Bernardo Lopes Guimarães, o Lopes, em um estabelecimento na Rua do Hospício, futura Rua Buenos Aires, nº 104, no Rio de Janeiro, sob a firma Frederico & Lopes (Correio Mercantil, 11 de julho de 1865, sétima coluna).

1867 / 1870 - Em julho de 1867, Reeckell anunciava-se como retratista em Vassouras e participava ao respeitável público, aos Srs. fazendeiros da regiaõ que havia aberto uma photographia volante na cidade. Já havia trabalhado em Valença e em Santa Teresa (Jornal do Commercio, 19 de julho de 1867, última coluna).

 

 

Carlos e Izabel Jacintha se casaram, no Rio de Janeiro, em setembro de 1867. Ainda não se sabe, mas Izabel Jacintha havia migrado para o Brasil, possivemente com seus pais (O Apóstolo, 20 de outubro de 1867, terceira coluna).

Provisão de casamento – 20 de setembro:

 

 

Partiram para a os Açores, rumo à Ilha Terceira, no patacho português Terceirense, em 22 de setembro do mesmo ano (Jornal do Commercio, 23 de setembro de 1867, última coluna).

Carlos Reeckell trabalhou e teve ateliês fotográficos montados em três ilhas do arquipélago: São Miguel, Terceira e Faial. Anunciava-se como fotógrafo volante. Transmitiu seus conhecimentos a diversos fotográfos, dentre eles Antônio José Raposo (1848 – 19?), que adquiriu o ateliê e os clichês de Reeckell.

1870 –  O casal veio para o Brasil e chegou ao Ceará, em 15 de julho de 1870, a bordo da barca portuguesa Amisade (A Constituição, 4 de agosto de 1870, primeira colunaPedro II, 2 de agosto de 1870, primeira coluna).

 

 

 

Estabeleceram-se, em Fortaleza, na Praça Municipal, nº 40 (A Constituição, 20 de setembro de 1870, primeira coluna).

 

 

1872 – Em julho, Carlos Reeckell voltou de uma temporada no sul do Brasil (Pedro II (CE), 12 de julho de 1872, terceira coluna). Em novembro do mesmo ano, seu ateliê fotográfico ficava na Rua do Cajueiro, nº 25, e ele anunciava sua sociedade com Francisco Cândido Pereira Lins.

 

 

Foi noticiado que iria ao Rio de Janeiro (Pedro II, 10 de novembro de 1872, última coluna). Não foi mencionado se a senhora Reeckell o acompanhou nessa viagem.

1873 / 1874- O casal encontrava-se em Porto Alegre e o estabelecimento fotográfico de Carlos ficava na Rua dos Andradas, 14. Seu nome constava no Registro de Contribuintes de Imposto de Porto Alegre dos anos 1873-1874. Em torno desta época ele estava muito doente. Foi então que Madame Reeckell teria tomado a frente do negócio como administradora e fotógrafa no ateliê das Rua dos Andradas, 80 (Álbum do Domingo, 7 de abril de 1878, última  coluna).

Em dezembro de 1874, foi anunciado que a Fotografia Alemã, de Madame Reeeckell havia sido reformada (Jornal do Commercio (RS), de 12 de dezembro de 1874).

Fotografia Alemã

A abaixo assinada participa ao público que tendo feito reforma no atelier que se achava muito devassado, de hoje em diante preta-se a tirar retratos em que nada incomode, em qualquer hra do dia, anda mesmo que chova.

Chama a atenção do público para os retratos em porcelana de alto relevo (sic), abrilhantados, coloridos e também a óleo.

Uma dúzia de retratos por 4$ooors. simples, iguais ou melhores aos vindos da Europa, assim como dá amostras.

Rua dos Andradas, 80

Mme REECKELL

No Registro de Contribuintes de Imposto de Porto Alegre dos anos 1874-1875, o nome de Carlos foi lançado acompanhado com a observação que não mais existia.

1875 – Em abril de 1875, foi inaugurada  a segunda Exposição Provincial do Rio Grande do Sul ou Exposição Commercial e Industrial, uma exposição de agricultura, indústria e comércio, realizada no Edifício do Atheneo Rio Grandense, em Porto Alegre. Segundo o historiador Athos Damasceno (1902 – 1975), foi Carlos von Koseritz (1830 – 1890), jornalista, poeta e importante personalidade da colônia alemã no sul do Brasil durante o Segundo Império, quem sugeriu a inclusão na exposição “de uma seção especial destinada a exibição de obras de arte, assim imprimindo no parque um cunho de sensibilidade e cultura…”(Relatórios dos Presidentes das Províncias Brasileiras: Império (RS), 11 de março de 1875).

Dois fotógrafos apresentaram seus trabalhos nessa mostra: Madame Reeckell e o tradicional Luiz Terragno (c. 1831 – 1891), Fotógrafo da Casa Imperial, que possuía estabelecimentos fotográficos no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina (O Despertador, 19 de novembro de 1875, primeira coluna). Na  Exposição Nacional de 1875, inaugurada em 12 de dezembro e finda em 16 de janeiro de 1876, Terragno recebeu uma Medalha de Mérito (Jornal do Commercio, 4 de fevereiro de 1876, segunda coluna).

No estabelecimento de Mme. Reeckell, ela desenvolvia sua técnica da “luz tangente para fazer retratos nos dias sombrios (…) e mesmo nos chuvosos” (A Reforma, 30 de julho de 1875).

Houve uma polêmica em torno deste sistema fotográfico entre Terragno e Madame Reeckell que no jornal A Reforma, de 4 de agosto de 1870, publicou:

“Luz Tangente. O sr. Terragno, em a pedido inserto no Riograndense, tratando dos retratos à luz tangente, diz que os não tiro pelo mesmo sistema dos seus. Os retratos chamados pelo sr. Terragno de à luz tangente –  são na minha opinião iguais aos que tiro e tenho anunciado. Quem quiser convencer disso venha à minha casa para ver os retratos que tenho tirado e outros de fotógrafos do Rio de Janeiro, também do mesmo sistema, isto é, preferindo-se os dias escuros para o trabalho dessa qualidade de fotografias. O sr. Terragno é injusto quando atribui-me querer imitá-lo, dando o nome de retratos – à luz tangente – que só s.s. pode tirar, quando é certo que os tiro há muito tempo. Desafia-me a apresentar os aparelhos e ingredientes que são precisos. Poderá vê-los  quem quiser. O sistema é simples e não faço mistério para com as pessoas que, visitando a minha galeria, pedem par ver os aparelhos de que me sirvo. Quanto a supor que usei do emblema seu no meu anúncio publicado na Reforma, declaro que nada tenho com isso. E o sr. Terragno com aquela empresa deve entender-se a respeito. M Reeckell”.

Na IV Exposição Nacional de 1875, inaugurada em 12 de dezembro e finda em 16

Madame Reeckell, alegando estado de pobreza, requereu à Câmara Municipal de Porto Alegre ser aliviada do pagamento de imposto de sua casa de retratista (Atas da Câmara, 4ª sessão, 21 de outubro de 1875). Parece que seu pedido foi atendido já que o nome de Carlos deixou de aparecer no Registro de Contribuintes de Imposto de Porto Alegre de 1875-1876.

1878 – A família de artistas Riosa, a quem Carlos Reeckell já havia ajudado no Ceará, reverteu à família Reeckell o valor que arrecadou em um dos espetáculos que realizou em Porto Alegre (Álbum do Domingo, 7 de abril de 1878, segunda coluna). A família Riosa, procedente da Ilha de São Miguel, nos Açores, composta por Bonifacio Riosa e seus filhos menores, esteve com o casal Reeckell em 1870, no Ceará. Eles haviam chegado em Fortaleza, em agosto de 1870, na embarcação Íris, cerca e um mês após à chegada dos Reeckell na cidade. Segundo Ary Bezerra Leite, autor do livro História da Fotografia no Ceará do século XIX (2019), eles já se conheciam dos Açores.

 

 

Neste ano, a família Reeckell mudou-se para Portugal e inaugurou um ateliê em Lisboa conforme anunciado em uma propaganda do estabelecimento de 1897.

1892 – Segundo a tese de Paula Cristina Viegas, segundo anuários portugueses, Carlos Reeckell havia se instalado em Lisboa, com um novo negócio, na Rua Saraiva de Carvalho, 86.

1896 - Entre esse ano e 1898, a Photographia Allemã, situava-se na Rua Saraiva de Carvalho, sob a administração de Madame Reeckell, já viúva.

1897 – A partir desse ano, o estabelecimento passou a existir em outros endereços, conforme anunciado:

“Photographia Allemã 158, avenida da Liberdade 211, rua de S. José. Este atelier fundado em 1878, executa todos os trabalhos com a maior seriedade. Retratos até ao tamanho natural. Instantaneos de creanças. Incumbe-se trabalhos de photographos amadores”. 

Mulheres Fotógrafas em Portugal (1844 – 1918)

Maria E. R. Campos 1.ª Photographa Portugueza

c. 1900 – Parece que a Viúva Reeckell ficou à frente da Photographia Allemã até os primeiros anos do século XX.

 

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “1922 – Hoje, há 100 anos” II – A Semana de Arte Moderna

A Brasiliana Fotográfica publica o 2º artigo da Série 1922 – Hoje, há 100 anos, A Semana de Arte Moderna, com fotografias de Mário de Andrade (1893 – 1945) e Oswald de Andrade (1890 – 1954), cujas participações foram fundamentais no evento, realizado no Teatro Municipal de São Paulo, em fevereiro de 1922.  Hoje, o primeiro dos três Grandes Festivais realizados durante o evento completa 100 anos.

Mário e Oswald se conheceram, na década de 1910. Na história do Modernismo brasileiro a versão dominante é que eles se encontraram pela primeira vez, em 1917, no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, mas há indícios de que eles haviam se conhecido anos antes. Foram amigos até 1929 (1).

“Enquanto Oswald de Andrade era o devasso, o piadista, Mário era o “scholar”, o erudito, o monumento moral, imagem que incomodava o próprio escritor: “Me vejo convertido a erudito respeitável e, o que é pior, respeitado. Isso me queima de vergonha”, escreveu em 1942 ao jornalista e crítico Moacir Werneck de Castro”.

José Geraldo Couto e Mario Cesar Carvalho

Folha de São Paulo, 26/09/1993

 

O leitor poderá ler, além de um pouco sobre a densa história da Semana, que na comemoração de seu centenário tem suscitado reinterpretações, brevíssimos perfis dos escritores Mário de Andrade e Oswald de Andrade e dos fotógrafos autores das imagens de ambos publicadas neste artigo: Benedito Junqueira Duarte (1910 – 1995), Jorge de Castro (19? -?) e Kasys Vosylius (1895 – 19?). As fotos pertencem à Fundação Biblioteca Nacional, uma das instituições fundadoras da Brasiliana Fotográfica.

 

 

Acessando o link para as fotografias de Mário de Andrade e de Oswald de Andrade disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

 

A Semana de Arte Moderna de 1922, que contou com uma exposição de arquitetura, escultura e pintura, além de três festivais lítero-musicais (2), é considerado um marco no lançamento do Modernismo no Brasil. O escritor Graça Aranha (1868 – 1931) fez a conferência inaugural do evento, intitulada A emoção estética na arte moderna. 

 

 

Figuras de destaque da Semana foram os artistas plásticos Anita Malfatti (1889 – 1964), Di Cavalcanti (1897 – 1976), Vicente do Rego Monteiro (1899 – 1970) e Zina Aita (1900 – 1967); os poetas Guilherme de Almeida (1890 – 1969), Menotti del Picchia (1892 – 1988) e Ronald de Carvalho (1893 – 1935); os escultores Victor Brecheret (1894 – 1955) e Wilhelm Haarberg (1891 – 1986); os arquitetos Antonio Moya (1891 – 1949) e Georg Przirembel (1885 – 1956); a dançarina Yvonne Daumerie (19? -1977) e os músicos Ernani Braga (1888 – 1948), Guiomar Novaes (1895 – 1979), Lucilia Villa-Lobos (1886 – 1966), Paulina d´Ambrosio (1892 – 1976) e Heitor Villa-Lobos (1887 – 1959), dentre outros (Correio Paulistano, 29 de janeiro, quinta coluna; 2 de fevereiro, penúltima coluna; 7 de fevereiro, sexta coluna; 9 de fevereiro, quinta coluna, resposta à crítica de José Maria Bello; 11 de fevereiro, penúltima coluna; 13 de fevereiro, última coluna; 15 de fevereiro, quinta coluna, comentário de Guiomar Novaes sobre a apresentação musical do dia 13; 15 de fevereiro, quinta coluna16 de fevereiro, sexta coluna; 18 de fevereiro, quarta coluna; de 1922; A Gazeta (SP), 3 de fevereiro, quinta coluna; A Vida Moderna (SP), 23 de fevereiro de 1922; America Brasileira: Resenha da Activida Nacional, março de 1922; Careta, 1º de abril de 1922).

 

 

 

 

“Com o triunfo de ontem, terminou a gloriosa Semana de Arte Moderna. Que ficou dela? De pé – germinando – a grande ideia. Dos vencidos, alguns latidos de cães e cacarejos de galinhas…”

Helios, pseudônimo de Menotti del Picchia

Correio Paulistano, 18 de fevereiro de 1922

Abaixo, um registro do Teatro Municipal de São Paulo, palco da Semana de 22, realizado pelo fotógrafo suíço Guilherme Gaensly (1843 – 1928).

 

 

Dias após o término da Semana, em 17 de fevereiro, foi publicada uma carta de Menotti del Picchia ao crítico Oscar Guanabarino (1851 – 1937) que, no Jornal do Commercio do dia anterior, havia feito comentários negativos sobre a Semana (Jornal do Commercio, 22 de fevereiro de 1922 – praticamente ilegívelCorreio Paulistano, 23 de fevereiro de 1922). O mesmo Guanabarino publicou, no periódico Vida Moderna, de 3 de março de 1922, uma Chronica…carnavalesca, citando vários participantes da Semana.

Cerca de cinco anos antes, uma outra crítica, intitulada A propósito da exposição Malfatti (3), escrita por Monteiro Lobato (1882 – 1948) e veiculada pelo O Estado de São Paulo, em 20 de dezembro de 1917, causou divergências e foi uma espécie de estopim da Semana de Arte Moderna de 1922. Ele elogiava o talento da pintora e lamentava sua opção pela arte moderna. A partir da crítica de Lobato, pintores como Tarsila do Amaral (1886 – 1973) e Pedro Alexandrino Borges (1856 – 1942) e o escritor Oswald de Andrade, dentre outros, se aproximaram de Malfatti e se juntaram a críticos, como Mário de Andrade, e alavancaram o movimento modernista em Sâo Paulo.

A icônica Exposição de Pintura Moderna, de Anita Malfatti, aconteceu na rua Líbero Badaró, 111 (atual número 338), em um salão térreo cedido pelo conde Antônio de Toledo Lara, em São Paulo, e foi inaugurada em 12 de dezembro de 1917 e encerrada em 11 de janeiro de 1918, dia em que foi publicada uma crítica de Oswald de Andrade, no Jornal do Commercio, elogiando a mostra. Foram exibidas obras que se tornaram importantes na história da arte moderna brasileira como A Estudante Russa, O Japonês, Tropical e O Homem Amarelo. Este último foi comprado posteriormente por Mário de Andrade. Em uma de suas visitas à exposição, que foi um sucesso de público e visitada por diversos artistas e personalidades importantes da vida paulistana, Mário presenteou Anita com um soneto sobre o quadro. Além de 53 obras de Mafaltti, foram apresentados trabalhos de artistas internacionais  como Floyd O’Neale, Sara Friedman e Abraham S. Baylinson (1882−1950) (O Estado de São Paulo, 23 e 25 de dezembro de 1917; 27 de janeiro de 2019).

 

 

Curiosamente, não foi encontrada, até hoje, nenhuma fotografia da Semana de Arte Moderna. Até pouco tempo, acreditava-se que o registro fotográfico abaixo fosse o único do evento, mas descobriu-se que, na verdade, foi produzido durante um almoço em homenagem o exportador de café Paulo da Silva Prado (1869 – 1943) nos salões do Hotel Terminus, que ficava à rua Brigadeiro Tobias, esquina com Washington Luís, em São Paulo, ocorrido possivelmente em 12 ou 19 de março de 1924 (Folha de São Paulo, 13 de outubro de 2019).

 

fotosemana

 

 

Brevíssimos perfis de Mário de Andrade, de Oswald de Andrade e dos fotógrafos autores de suas imagens disponíveis neste artigo

 

Mário de Andrade (1893 – 1945)

…Mário, o aluvião de ouro rolando pela barranca.

Rachel de Queiroz, em O Jornal, 1º de março de 1970

 

“Estamos célebres! Enfim! Nossos livros serão comprados ! Ganharemos dinheiro! Seremos lidíssimos! Insultadíssimos! Celebérrimos! Teremos nossos nomes eternizados nos jornais e na História da Arte Brasileira.”

Trecho de uma carta de Mário de Andrade para Helios, pseudônimo de Menotti del Picchia (1892 – 1988),

Coluna “Chronica Social” do Correio Paulistano, 23 de fevereiro de 1922

 

 

O poeta, ficcionista, ensaísta e musicista paulistano Mário Raul de Morais Andrade nasceu em 9 de outubro de 1893. Caracterizou-se pelo inconformismo e inquietação intelectual, pelo brilhantismo, pela autenticidade e ecletismo, tendo sido uma figura decisiva no cenário cultural brasileiro. Segundo Tristão de Athayde (1893 – 1983), ele haveria de marcar uma curva na história de nossas letras. E marcou (Excelsior, abril de 1928).

Foi também fotógrafo e era um grande apreciador da arte fotográfica:

“Ora, a fotografia é antes de mais nada um fato de luz; e apanha, a bem dizer, campos ilimitados. Se é certo que também pelo processo fotográfico podemos inventar livremente, provocando manifestações de luz de nossa arbitrária invenção, creio que ninguém negará ser destino essencial da fotografia, ser a sua fecundidade, ser a sua mensagem infatigável, registrar a realidade enquanto luz”.

Crônica O homem que se achou,

primeira quinzena de 1940

 

Em 1923, passou a fotar com a sua “Codaque” autographic. 

“Seu interesse pela fotografia foi se consolidando a partir de leituras de revistas alemãs e da observação da obra de Moholy-Nagy. O foto-olho do poeta se concentrou na composição – valori plastici (valores plásticos) – e no aproveitamento dos parcos recursos técnicos disponíveis numa câmera para amadores. Ao “fotar” preocupava-se em anotar indicações técnicas – “diaf. 3 – sol 1 das 12 e 30”. O diafragma corresponde à intensidade da luz exterior. Na viagem ao Norte/Nordeste, de maio a agosto de 1927, experimentou com sucesso seu novo perfil de fotógrafo do Turista aprendiz. Nas legendas das belas fotos que produziu, convocava o poeta: “Roupas freudianas”, “Veneza em Santarém”, “A Venus do milho””.

Casa Mário de Andrade

 

Na literatura, estreou, em 1917, com o livro Há uma gota de sangue em cada poema, que assinou com o pseudômino de Mario Sobral (Revista Americana, outubro de 1917).  Nessa época, conheceu o escritor Oswald de Andrade. Trabalhou na revista paulista Papel e Tinta, fundada por Menotti del Picchia e Oswald, em 1920. Um ano depois, escreveu para o Jornal do Commercio a série Mestres do Passado, criticando o parnasianismo, publicadas em 2, 12, 15, 16, 20, 23 de agosto e 1º de setembro de 1921.

Ele e Oswald foram importantes participantes da Semana de Arte Moderna de 1922, mesmo ano em que Mário publicou Paulicéia Desvairada (1922), que introduziu, na poesia brasileira, temas e técnicas modernistas. Formou com as artistas plásticas Anita Malfatti  e Tarsila do Amaral e com os escritores Menotti del Picchia e Oswald de Andrade, o Grupo dos Cinco. Lecionava História da Música e Estética no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo. Colaborou com a revista Klaxondivulgadora do Modernismo no Brasil, que foi publicada entre 15 de maio de 1922 e janeiro de 1923.

Ao longo da década de 20, fez várias viagens pelo país estudando e fotografando a cultura e o folclore. Na Semana Santa de 1924, integrou com Olívia Guedes Penteado (1872 – 1934), Tarsila do Amaral, René Thiollier (1882 – 1968), o filho de Oswald, Nonê (1914 – 1972); e o próprio Oswald a comitiva que acompanhou o poeta francês Blaise Cendrars (1887 – 1961) a Minas Gerais. A partir de 1928, começou a publicar no Diário Nacional, um diário de viagem, O turista aprendiz (Diário Nacional, 22 de janeiro de 1928).

Foi o primeiro diretor do Departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo, criado, em 1935, na gestão do prefeito Fábio da Silva Prado (1887 – 1963), idealizado por ele e por Paulo Junqueira Duarte (1889 – 1984), irmão de Benedito Junqueira Duarte (1910 – 1995), autor da fotografia abaixo.

 

 

Criou os primeiros parques infantis e concebeu a discoteca pública de São Paulo, atual Discoteca Oneyda Alvarenga.

Em março de 1936, foi o autor do Anteprojeto para a criação do Serviço do Patrimônio Artístico Nacional (Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Mário de Andrade, 2002, página 272), que enviou para o então ministro da Educação, Gustavo Capanema (1900 – 1985). Mário reconhecia ali a importância da fotografia na sugestão do tombamento de um bem, propondo a criação de uma repartição que seria responsável por todo o serviço nacional de fotografia, fonografia e filmagem do patrimônio artístico nacional sob as orientações da Chefia do Tombamento.

 

 

Em abril de 1936, Mário instituiu o Curso de Etnografia patrocinado pelo Departamento de Cultura, com a finalidade de iniciar folcloristas nos trabalhos de campo. Durou seis meses e foi ministrado pela etnóloga francesa Dinah Dreyfuss Lévi-Strauss (1911 – 1999), então casada com o antropólogo francês Claude Levi-Strauss (1908 – 2009), que estava lecionando na Faculdade de Letras, Ciências e Artes da Universidade de São Paulo. Em 5 de setembro de 1936, Mário tomou posse como membro da Academia Paulista de Letras, na cadeira nº 3.

Em 1937, criou a Sociedade de Etnografia e Folclore, extinta em 1939, tornando-se seu primeiro presidente. Dinah Dreyfuss Lévi-Strauss ocupou o cargo de 1ª secretária. Poucos meses depois, Mário promoveu no Teatro Municipal de São Paulo, entre 7 e 14 de julho de 1937, o Congresso da Língua Nacional Cantada, conferência sobre folclore e música folclórica, com representantes de diversos estados brasileiros (Correio de S. Paulo, 30 de junho de 1937).

 

“Foi o primeiro congresso musical num país em que a música já alcançou esplêndida qualidade e tem numerosíssimos cultores. Desconfio mesmo que foi o primeiro da América do Sul”.

Mário de Andrade na crônica Congresso de Língua Nacional Cantada, de setembro de 1937

 

Em 1938, após seu afastamento da função de diretor do Departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo, Mário foi para o Rio de Janeiro, onde morou iniciamente na rua Santo Amaro, nº 5, na Glória e, depois, em Santa Teresa. Dirigiu o Instituto de Artes da Universidade do Distrito Federal (UDF) e ocupou a cátedra de Filosofia da Arte e História. Em sua aula inaugural, proferiu a palestra O Artista e o Artesão, publicada em Baile das Quatro Artes, em 1943. A UDF, idealizada e criada, em 1935, por Anísio Teixeira (1900 – 1971), então secretário de Educação do Rio de Janeiro, foi fechada em 1939 por não atender os propósitos do governo federal, e incorporada à Universidade do Brasil. Tinha uma proposta inovadora: não possuia as tradicionais faculdades de Direito, Engenharia e Medicina e possuia uma Faculdade de Magistério, que pioneiramente dotou o magistério de formação específica de nível superior.

Mário voltou para São Paulo, em 1941, e, pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), futuro Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), viajou por todo o estado. No ano seguinte, junto a outros intelectuais contrários ao regime ditatorial do Estado Novo, fundou a Sociedade de Escritores Brasileiros, que passou a chamar-se, em 1943, Associação Brasileira de Escritores (Gazeta de Notícias, 8 de março de 1942, terceira colunaCorreio Paulistano, 28 de fevereiro de 1943, penúltima coluna).

No vigésimo aniversário da Semana de Arte Moderna, por solicitação do escritor Edgard Cavalheiro (1911 – 1958), escreveu um texto que originou a célebre conferência, O Movimento Modernista, proferida no auditório da Biblioteca do Itamaraty, em 30 de abril de 1942 (O Jornal, 24 de abril de 1942, terceira coluna).

“Embora se integrassem nele figuras e grupos preocupados de construir, o espírito modernista que avassalou o Brasil, que deu o sentido histórico da Inteligência nacional desse período, foi destruidor. Mas essa destruição não apenas continha todos os germes da atualidade, como era uma convulsão profundíssima da realidade brasileira. O que caracteriza esta realidade que o movimento modernista impôs é, a meu ver a fusão de três princípios fundamentais: o direito permanente à pesquisa estética; a atualização da inteligência artística brasileira; e a estabilização de uma consciência criadora nacional. Nada disso representa exatamente uma inovação e de tudo encontramos exemplos na história artística do país. A novidade fundamental, imposta pelo movimento, foi a conjugação dessas três normas num todo orgânico da consciência coletiva”.

Trecho do discurso O Movimento Modernista

 

 

Algumas de suas obras de destaque foram A escrava que não é Isaura (1925), O Losângo Cáqui (1926), Amar, verbo intransitivo (1927), Ensaio sobra a música brasileira (1928), Macunaíma (1928), Compêndio de História da Música (1929), Música, doce música (1934), Contos de Belazarte (1934) e Lira Paulistana (1945), seu último livro de poemas, e Contos Novos (1947).

Foi crítico de arte em vários jornais e revistas. Faleceu em 25 de fevereiro de 1945, em São Paulo (Correio Paulistano, 27 de maio de 1945).

 

 

Uma curiosidade: Pixinguinha (1897 – 1973), personagem do primeiro artigo da Série 1922: Há 100 anos, hoje, sobre a turnê dos Batutas a Paris, encontrou-se com Mário de Andrade, durante a temporada da peça Tudo preto, em São Paulo, entre outubro e novembro de 1926, encenada pela Companhia Negra de Revistas. Mário estava pesquisando para o livro Macunaíma, o herói sem nenhum caráter, publicado em 1928, e foi apresentado por Lamartine Babo (1904 – 1963) a Pixinguinha, que colaborou contando a ele sobre o ambiente da casa de Tia Ciata (1854 – 1924), na Pequena África, no Rio de Janeiro, onde havia festas com candomblé e música variada que integravam o repertório de seus frequentadores, dentre eles o próprio Pixinguinha, João da Baiana (1887 – 1974), Donga (1890 – 1974) e Sinhô (188 – 1930). As informações foram usadas por Mário em um dos capítulos do livro, o de número 7, intitulado Macumba, de Macunaíma. O personagem Olelê Rui Barbosa  foi inspirado em Pixinguinha:

“Então a macumba principiou de deveras se fazendo um sairê para saudar os santos. E era assim: Na ponta vinha o Ogã tocador de atabaque que, um negrão filho de Ogum, bexiguento e fadista de profissão, se chamando Olelê Rui Barbosa”. 

 

 

Nos 25 anos de morte de Mário, foi publicada a crônica Lembrança e saudade de Mário, da escritora Rachel de Queiroz (1910 – 2003), em O Jornal de 1º de março de 1970.

 

 

Benedito Junqueira Duarte (1910 – 1995) e Kasys Vosylius (1895 – 19?) são os autores das imagens de Mário de Andrade destacadas nesta publicação da Brasiliana Fotográfica.

 

Pequeno perfil do fotógrafo Benedito Junqueira Duarte (1910 – 1995), pseudônimo Vamp

 

 

“…não fosse o Mario eu não teria conseguido fotografar o que fotografei; não fosse a dedicação e o amor com que realizei meu trabalho, alguns aspectos da cidade não teriam se conservado”.

Junqueira Duarte sobre Mário de Andrade, em depoimento de 1981 para o MIS-SP

 

Junqueira Duarte, conhecido como B. J. Duarte, um dos principais fotógrafos da história paulistana, foi iniciado na fotografia, aos 10 anos, em Paris, por um dos maiores fotógrafos que atuou no Brasil, seu tio-avô, o português José Ferreira Guimarães (1841 – 1924) que, em 1886,  havia inaugurado um verdadeiro palácio da fotografia, a maior casa fotográfica brasileira do século XIX, na rua Gonçalves Dias, nº 2, esquina com a rua da Assembleia.

B. J. Duarte estudou em Paris no Estúdio Reutlinger, um dos mais conceituados de toda a Europa, graças a seu parentesco com Guimarães. Eram os Anos Loucos, do pós-guerra, e a cena cultural parisiense era trepidante. Como disse o escritor norte-americano Ernest Hemingway (1899 – 1961), Paris é uma festa. No Reutlinger, circulavam personalidades como as atrizes Sarah Bernhardt (1844 – 1923) e Gabrielle Réjane (1856 – 1920), que estiveram no Brasil e se apresentaram no Teatro Lírico; cineastas como Jean Renoir (1894 – 1979) e Alberto Cavalcanti (1897 – 1982) e fotógrafos como Paul Nadar (1856 – 1939) e Man Ray (1890 – 1976). Foi nesse ambiente interessante e eclético que B.J. Duarte se formou.

Entre 1929 e 1933, já de volta a São Paulo, trabalhou como fotojornalista do órgão oficial do Partido Democrático, o jornal Diário Nacional, cujo redator-chefe era seu irmão, Paulo Duarte (1889 – 1984). Voltou a atuar como retratista e, devido a seu acesso à intelectualidade, fotografou, além de Mário de Andrade, os artistas plásticos Di Cavalcanti (1897 – 1976), Lasar Segall (1889 – 1957) e Tarsila do Amaral (1883 – 1973); a incentivadora do Modernismo, Olivia Guedes Penteado (1872 – 1934); e o jornalista Barão de Itararé (1895 – 1971), dentre outros. Em entrevista ao Museu da Imagem e do Som de São Paulo, realizada em 14 de maio de 1981, comentou a respeito dessa produção:

“… tinha um arquivo com aproximadamente dez mil negativos, acondicionados em um caixa em minha casa no Jabaquara. Quando faleceu minha primeira esposa, por ocasião de uma viagem a Madri, minhas irmãs se ocuparam da mudança. Quando voltei perguntei sobre a caixa e como nada sabiam, voltei até a antiga casa e nada encontrei”.

Em 1935, ele e Theodor Preising (1883 – 1962) eram os fotógrafos da Revista S. Paulo, publicação mensal cujo projeto gráfico articulava imagem e texto de modo inovador. Entre seus redatores, Cassiano Ricardo (1895 – 1974) e Menotti Del Picchia (1892 – 1988) e, na direção de arte, Livio Abramo (1903 – 1992), responsável pelas fotomontagens a partir das imagens produzidas pelos fotógrafos.

Foi, também nesse ano, convidado por Mário de Andrade para trabalhar como chefe da Seção de Iconografia no recém criado Departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo, dirigido pelo escritor. Lá permaneceu até 1965, quando se aposentou. Realizou filmes sobre a cidade de São Paulo e organizou o arquivo fotográfico das obras realizadas na metrópole, tendo produzido mais de quatro mil fotografias. Realizou diversos filmes científicos, tendo documentado, em 26 de maio de 1968, o primeiro transplante de coração realizado na América Latina, pela equipe chefiada pelo dr. Zerbini (1912 – 1993), no Hospital das Clínicas de São Paulo. Foi um dos fundadores do Foto-cine Clube Bandeirante, em 28 de abril de 1939, tendo sido seu primeiro vice-presidente; e da Cinemateca Brasileira, instituição com maior acervo audiovisual/cinematográfico da América Latina. Foi um dos organizadores das primeiras edições do Salão Paulista de Fotografia e  foi também crítico de cinema.

Segundo o crítico e curador de fotografia Rubens Fernandes Junior (1939-):

Suas imagens da cidade de São Paulo em plena transformação, entre as décadas de 1930 e 1950, bem como seus retratos, são essenciais para a compreensão da fotografia moderna brasileira”.

 

Pequeno perfil do fotógrafo Kasys Vosylius (1895 – 19?)

 

 

“K. Vosylius, o artista que sabe por a alma nas visões que a sua máquina fotográfica fixa… é um artista que vive viajando pelo Brasil, enamorado de nossa natureza e descobrindo o que ela tem de mais bonito e imponente. É uma sensibilidade requintada e um técnico da fotografia de real merecimento”

Revista da Semana, 9 março de 1940

 

 

 

O fotógrafo lituano Kasys Vosylius, um dos fotógrafos presentes no arquivo do Instituto de Estudo Brasileiros da Universidade de São Paulo, nasceu na aldeia Old Sausbaliai, na região de Pilviškiai, em 1895. Mudou-se para Vilnius, onde trabalhou como gráfico e formou-se na Escola de Comércio. Em 1919, depois que os bolcheviques ocuparam a cidade, fugiu para Kaunas e se juntou ao exército lituano como voluntário. Em 1920, foi eleito para a Assembleia Constituinte e, seis anos depois, recebeu uma bolsa de estudos e ingressou na Escola de Fotografia de Berlim, graduando-se em 1929. Veio para o Brasil nos anos 30.

Ao longo das décadas de 30 e 40, foi, ao lado de profissionais como Edgar Cardoso Antunes, o alemão Erich Hess (1911 – 1995), Hans Peter Lange, Herman Kruse, os franceses Marcel Gautherot (1910 – 1996) e Pierre Verger (1902 – 1996), e Silvanísio Pinheiro, fotógrafo do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), criado em 1937, futuro Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), cujo arquivo fotográfico foi coordenado por Rodrigo Melo Franco (1898–1969). Esses fotógrafos tiveram um papel fundamental nos trabalhos de inventariamento do patrimônio e na constituição do acervo da instituição, atividade mais importante do SPHAN em seus primeiros anos. No período em que trabalhou para o SPHAN, Vosylius participou do trabalho de tombamento de bens na Bahia, em Minas Gerais e no Rio de Janeiro, tendo também atuado em Alagoas, no Amapá, no Pará, em Pernambuco e no Rio Grande do Norte. Lembramos aqui que, em 1937, Mário de Andrade era o responsável, em São Paulo, pelo SPHAN.

A museóloga Lygia Martins Costa, em entrevista concedida, em 15 de outubro de 2013, a Eduardo Augusto Costa, autor de Uma trajetória do Arquivo Fotográfico do Iphan: mudanças discursivas entre os anos 1970 e 1980, elogiou bastante o trabalho de Vosylius:

“Como fotografia de estudo, não há ninguém que tenha feito como ele. Ele era o melhor! Absolutamente nítido! A gente via tudo! É, de longe, o melhor fotógrafo!

Após uma temporada na Bahia fotografando para o SPHAN, quando voltava ao Rio de Janeiro, foi roubado a bordo do navio Santarém, entre Vitória e Rio de Janeiro (Diário da Noite, 21 de dezembro de 1939, última coluna).

 

 

Especializado na arte de fotografar pinturas e esculturas, registrou dezenas de quadros no ateliê de Cândido Portinari (1903 – 1962), de quem se tornou amigo, deixando uma coleção de negativos fotográficos, composta de 719 chapas de vidro, descobertas na casa da viúva do pintor, a uruguaia Maria Victória Martinelli Portinari (1912 – 2006), em meados de 1989 (Jornal do Brasil, 26 de outubro de 1989).

Em novembro de 1939, registrou a visita do presidente Getulio Vargas (1882 – 1954) à exposição de Cândido Portinari (1903 – 1962), no Museu Nacional de Belas Artes e, em 1942, fotografou o pintor com seus irmãos.

 

 

Também, em 1942, Vosylius ganhou o segundo prêmio no 1º Salão Paulista de Arte Fotográfica, inaugurado em 3 de outubro, na Galeria Prestes Maia, em São Paulo, uma iniciativa do Foto-cine Clube Bandeirante, cujo um dos fundadores, que também integrava a comissão julgadora do concurso, foi, como já mencionado, Benedito Junqueira Duarte. Sua foto chamava-se Tempos idos. O primeiro prêmio foi conquistado por Hejos (Henrique Joseph), o 3º prêmio por Raul dos Santos Carvalho, do Rio de Janeiro; e o 4º e o 5º por Jorge Bittar e a Herman Binder, ambos de São Paulo, respectivamente (Correio Paulistano, 4 de outubro de 1942, quinta coluna). Anos depois, a capa do Boletim do Foto-cine Clube Bandeirante, junho de 1947, trazia uma fotografia de sua autoria.

 

 

Em 1943, na Associaçao Cristã dos Moços, no Rio de Janeiro, Vosylius expôs as fotografias Visão Nordestina e Ismailovitch, no 3º Salão Brasileiro de Fotografia, uma iniciativa do Foto Club Brasileiro (A Noite, 18 de janeiro de 1943, terceira coluna).

Segundo o American Annual of Photography, de 1944, era um dos quatro fotógrafos do Brasil que participavam de exposições em salões internacionais. Os outros eram Moacir Alves, Pedro Josué e Paulo Muniz. Esse fato foi mencionado pelo fotógrafo José Oiticica Filho (1906 – 1964), pai do artista plástico Hélio Oiticica (1937 – 1980), na inauguração da exposição de fotógrafos da Iugoslávia, na Associação Brasileira de Arte Fotográfica, em 14 de junho de 1952 (A Manhã, 29 de junho de 1952, terceira coluna).

No hall do Cassino Icaraí, Vosylius participou do Salão da Sociedade Fluminense de Fotografia (Beira-mar, janeiro de 1945).

 

 

Entre maio de 1946 e junho de 1947, era, ao lado de João Farkas (1924 – 2011), José Medeiros (1921 – 1990), Peter Scheier (1908 – 1979), dentre outros, responsável pelas fotografias da revista mensal Rio, dirigida por Roberto Marinho (1904 – 2003). No quadro de desenhistas da revista estavam Athos Bulcão (1918 – 2008), Di Cavalcanti (1897 – 1976), Enrico Bianco (1918 – 2013) e Fayga Ostrower (1920 – 2001); e, no de colaboradores, Adalgisa Nery (1905 – 1990), Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1987), Guilherme de Almeida (1890 – 1969), Manuel Bandeira (1886 – 1968), Sérgio Milliet (1898 – 1966) e Vinícius de Morais (1913 – 1980). Henrique Pongetti (1898 – 1979) era seu redator-chefe (Rio, maio, agosto, novembro e dezembro de 1946; fevereiro, março, abril , maio e junho de 1947).

Em 1947, Rodrigo Melo Franco (1898–1969) solicitou que Vosylius pesquisasse e buscasse no Arquivo Militar, para o historiador da arte Robert Chester Smith (1912 – 1975), que estava no Brasil, o panorama/prospecto da cidade do Rio de Janeiro, encomendado pelo Conde de Bobadela, no século XVIII.

Ministrou um curso de fotografia na sede social do Foto cine Clube de Campinas (Diário da Noite (SP), 2 de maio de 1951, quinta coluna). Talvez em torno dessa época tenha ido morar na cidade. Emprestou reproduções fotógraficas de sua autoria de obras sobre a vida de Tiradentes expostas na Biblioteca Pública Municipal de São Paulo. Uma delas, do mural Tiradentes, de autoria de Portinari (O Estado de São Paulo, 24 de abril de 1954).

No Centro de Ciências, em Campinas, realização da Exposição Semana Mário de Andrade, de 6 a 13 de junho de 1960, com a exibição de fotos inéditas do escritor, de autoria e que estavam em poder de Vosylius, referido como amigo de Mário. Pela reportagem, ele ainda moraria em Campinas (Hífen, julho de 1960, segunda coluna). Não se sabe se ele saiu do Brasil ou se permaneceu no país até sua morte, ocorrida na década de 1960 ou depois.

Foi um dos fotógrafos cujos registros foram exibidos na exposição Tesouros do Patrimônio, no Paço Imperial, sob a supervisão geral de Lúcia Meira Lima (Tribuna da Imprensa, 13 de dezembro de 1994). No livro São João del-Rei, de Maria da Graça Soto Queiroz, do Programa Monumenta do IPHAN, lançado em 2010, há imagens produzidas por ele da Igreja de Nossa Senhora do Carmo.

Ao longo de seus anos no Brasil, fotografias de sua autoria foram publicadas em diversos periódicos:

1 – A Noite, 20 de junho de 1941 – foto de uma piaçaveira em uma reportagem sobre o Instituto Central de Fomento econômico na Bahia.

2 – Bahia, tradicional e moderna, de julho de 1939 – fotos do Museu do Estado da Bahia, de um quadro de Alberto Valença e da cidade de Nazaré.

3- O Campo – agostooutubronovembro de 1939; janeiro e março de 1940 -fotos de côcos, de um coqueiral, da indústria de cera, de uma broca de coqueiro e dos produtos dos coqueiros.

4 – Chácaras e Quintais –  15 de abril e 15 de agosto de 1939; 15 de outubro de 1940; e 15 de setembro de 1942 – fotos de vegetação baiana

5 – Gazeta Esportiva, 11 de setembro de 1956; e  de 1º de dezembro de 1958 – fotos do esportista Dolor Barbosa e da comemoração do Dia da Pátria, em Campinas.

6 –  Illustração Brasileira, março de 1940 e  novembro de 1943 – foto de coqueiral na capa e do quadro Paisagem pernambucana, respectivamente.

7 – Revista da Semana13 de janeiro9 de março e 13 de abril de 1940 – fotos de capa.

8 – Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, janeiro de 1945 e 1997 – fotos de uma areal em Pernambuco e diversas outras na ediçao de 1997.

 

 

 

Oswald de Andrade (1890 – 1954)

Ele era uma força da natureza.

Antônio Cândido, crítico literário

 

“Só a ANTROPOFAGIA nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente. Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz. Tupy or not tupy, that is the question”.

Início do Manifesto Antropófago de Oswald de Andrade

 

 

Um dos maiores representantes do Modernismo no Brasil, o poeta, romancista, teatrólogo, ensaísta e jornalista paulistano José Oswald de Souza Andrade nasceu, em 11 de janeiro de 1890. Espírito inquieto e rebelde, foi amigo do poeta Guilherme de Almeida (1890 – 1969), do artista plástico Di Cavalcanti (1897 – 1976) e do escritor Mário de Andrade (1893 – 1945) – amizade rompida em 1929-, alguns de seus companheiros na Semana de Arte Moderna em 1922, evento no qual teve  papel destacado. Além de ter sido um de seus organizadores, leu trechos de seu romance Os Condenados, sob as vaias do público. Os Condenados foi o primeiro volume da Trilogia do Exílio, o segundo e o terceiro foram A Estrela de Absinto (1927) e A Escada Vermelha (1934). Em 1975, foi adaptado para o cinema por Zelito Viana (1938-).

Oswald lançou mais tarde seus programas estéticos no Manifesto da Poesia Pau-Brasil (1924) e no Manifesto Antropófago (1928). Deixou obras marcantes como O Perfeito Cozinheiro das Almas deste Mundo (1918), diário coletivo composto por ele e por amigos que frequentaram a garçonnière do escritor na rua Líbero Badaró, entre 1917 e 1918; Memórias Sentimentais de João Miramar (1924), Serafim Ponte Grande (1933), Marco Zero, a Revolução Melancólica (1943) e Chão (1945), além de peças como O Homem e o Cavalo (1934) e O Rei da Vela e A Morta, ambas de 1937. Trabalhou em vários jornais, dentre eles o Correio Paulistano, o Diário Popular e o Jornal do Commercio, tendo fundado o semanário O Pirralho, em 1911. Em 1920, com o poeta Menotti del Picchia (1892 – 1988), fundou o periódico Papel e Tinta; e, com Patricia Galvão, a Pagu (1910 – 1962), com quem era casado na época, o semanário O Homem do Povo, em 1931. 

 

 

Foi um dos colaboradores da revista Klaxon, divulgadora do Modernismo no Brasil, que foi publicada entre 15 de maio de 1922 e janeiro de 1923; e da Revista da Antropofagia, que circulou entre maio de 1928 e agosto de 1929.

 

klaxon2

 

Viveu com a francesa Henriette Denise Boufflers (c. 1895 -19?), que havia conhecido em uma viagem à Europa, em 1912. Durante esse viagem, conheceu as ideias artísticas sugeridas pelo Manifesto Futurista do poeta italiano Marinetti (1876 – 1944). Com Henriette, que apelidou de Kamiá, teve, já no Brasil, seu primeiro filho, o futuro artista José Oswald Antônio de Andrade (1914 – 1972), conhecido como Nonê de Andrade. Separou-se de Kamiá em 1916. Em 1922, começou a namorar a artista plástica Tarsila do Amaral (1886 – 1973), com quem se casou em 30 de outubro de 1926, tendo como padrinhos o exportador de café Paulo da Silva Prado (1869 – 1943) e Olivia Guedes Penteado (1872 – 1934), grandes incentivadores do Modernismo no Brasil; Washington Luis (1869 – 1957), que tomou posse como presidente da República, cerca de 15 dias depois; e Carlota Inglez de Souza (Correio Paulistano, 31 de outubro de 1926, quinta coluna). Com Tarsila, Anita Malfatti (1889 – 1964), Mário de Andrade (1893 – 1945) e Menotti del Picchia (1892 – 1988), Oswald formou o Grupo dos Cinco, que agitou culturalmente São Paulo com reuniões, festas e conferências. Em 1928, Tarsila deu de presente a Oswald um quadro que tornou-se icônico: o Abaporu, que significa homem que come carne humana, o antropófago. Oswald, então, escreveu o Manifesto Antropófago e inaugurou o Movimento Antropofágico. O casal se separou em 1929.

 

 

Em 1930, Oswald passou a viver com a revolucionária escritora Patrícia Galvão (1910 – 1962), conhecida como Pagu. A união foi consolidada no Cemitério da Consolação, em São Paulo, diante do jazigo da família do escritor, em 5 de janeiro de 1930. Tiveram um filho, o futuro cineasta e escritor Rudá de Andrade (1930 – 2009), e viveram juntos até 1935. Oswald se casou pela última vez, em 1944, com Maria Antonieta D’Alkmin (? – 1969), com quem teve sua única filha, a pesquisadora e artista Antonieta Marília (1945-); e Paulo Marcos (1948 – 1968). Outras mulheres marcantes em sua vida foram as dançarinas Landa Kosbach, que mais tarde adotou o nome artístico Carmen Lydia (c. 1900 – 1992); e Isadora Duncan (1877 – 1927); Maria de Lourdes Castro (c. 1900 – 1919), chamada Deisi, a Miss Cyclone, com quem se casou in extremis dias antes da morte dela; e a poetisa e pintora Júlia Bárbara (1908 – 2005).

Publicou o primeiro volume das suas memórias, Um Homem sem Profissão: sob as ordens da mamãe, pouco antes de falecer, em 22 de outubro de 1954, em São Paulo (Revista da Semana23 de outubro e 13 de novembro de 1954). …no bocadinho que lhe coube de papel jornal, dois dias depois, ali estava Di Cavalcanti bradando na beira do túmulo do escritor, no cemitério da Consolação, que o “natural anarquismo” de Oswald ainda daria uma grande banana para os que o deixaram de lado (Folha de São Paulo, 22 de outubro de 2004).

Definia-se como um vira-latas do modernismo (Manchete, 19 de julho de 1975). Talvez por seu temperamento radical e seu gosto por zombarias – perdia um amigo mas não perdia a piada, dentre eles Mário de Andrade -, alguns de seus livros ficaram anos sem uma segunda edição: Memórias Sentimentais de João Miramar, de 1924, só foi reeditado em 1964; e Serafim Ponte Grande, de 1933, apenas em 1971. Sua peça O Rei da Vela, de 1937, só foi encenada em 1967.

É de autoria de Jorge de Castro a fotografia de Oswald publicada neste artigo.

 

Pequeno perfil do fotógrafo Jorge de Castro (19? – ?)

 

“Fundamentalmente realista, amando as visões da vida, ele as interpreta, porém, captando o momento e o ângulo rico ou compondo o ambiente em que a realidade capitula diante da luz e se converte numa expressão sugestiva e bela”.

Mário de Andrade sobre Jorge de Castro na crônica O homem que se achou,

primeira quinzena de 1940

 

 

A imagem de Oswald de Andrade (1890 – 1954) exibida neste artigo foi produzida pelo fotógrafo Jorge de Castro, na década de 40. Muito bem relacionado e inserido na cena cultural e social carioca, no mesmo período, retratou diversas outras personalidades importantes como o político e escritor Afonso Arinos de Mello Franco (1905 – 1990), o escultor Bruno Giorgi (1905 – 1993), o dramaturgo Guilherme Figueiredo (1915 – 1997), os poetas Augusto Frederico Schmidt (1906 – 1965), Manuel Bandeira (1886 – 1968), Murilo Mendes (1901 – 1975), Olegário Mariano (1889 – 1958) e Raul Bopp (1898 – 1984); o paisagista e artista plástico Roberto Burle Marx (1909 – 1994), o músico Heitor Villa-Lobos (1887 – 1959) e os arquitetos e irmãos Marcelo (1908 – 1964), Milton (1914 – 1953) e Maurício Roberto (1921 – 1996).

Jorge de Castro estudou pintura na Europa e, na Inglaterra, andou metido em teatro e cinema. Ao retornar ao Brasil juntou-se ao grupo do pintor Cândido Portinari (1903 – 1962) e frequentou a Faculdade de Direito, que abandonou no terceiro ano, passando a se dedicar unicamente à fotografia. Registrou paisagens do interior e das capitais do Brasil, além de, como já mencionado, ter fotografado pessoas importantes da sociedade e do cenário cultural nacional.

Foi, durante o Estado Novo (1937 – 1946) –  regime politico instaurado pelo presidente Getulio Vargas (1882 – 1954) -, um dos fotógrafos do Departamento de Imprensa e Propaganda, ao lado de profissionais como o engenheiro Epaminondas Vieira de Macedo, que também fotografou para o SPHAN; e do francês Jean Manzon (1915 – 1990), contratado pelo O Cruzeiro, em 1943, e responsável por um novo modelo de linguagem fotográfica na revista.

Em 1938, foi um dos fundadores do grupo teatral Os Independentes, que passou a dirigir, em 1940, ao lado da atriz Luisa Barros Leite, do ator Brutus Pedreira, do crítico e escritor Gustavo Dória (1910- 1979) e do artista plástico paraibano Tomás Santa Rosa (1909 – 1956). A companhia foi rebatizada de Os Comediantes e passou, em 1943, a ser dirigida pelo escritor Aníbal Machado (1894 – 1964), cunhado de Jorge de Castro (Sombra, outubro de 1946).

 

“Procurando na aparência dos objetos e dos seres o seu momento de transfiguração poética, o artista vai registrando, ora um ramo que o vento verga, ora a superfície rugada de um velho muro, ou a dura face de um homem”.

Tomás Santa Rosa sobre Jorge de Castro

 

Em 1939, Castro fez uma exposição de seus trabalhos no Palace Hotel do Rio de Janeiro. Na década de 40, trabalhou como fotógrafo e cinegrafista da Marinha.

 

 

Mário de Andrade (1893 – 1945) fez na crônica O Homem que se achou, que era Jorge de Castro, escrita na primeira quinzena de janeiro de 1940, considerações acerca de fotografia, que apreciava muito, e, sobretudo, sobre a mencionada exposição de Castro, em que figuravam uma série de retratos de intelectuais brasileiros, paisagens de fotografia “de gênero”, para me utilizar da terminologia da pintura.

Foi uma fotografia de Cândido Portinari (1903 – 1962) de autoria de Castro que ilustrou a capa do boletim do Museu de Arte Moderna de Nova York, em outubro de 1940, ocasião em que foi realizada um exposição do pintor no MoMa.

 

 

Quando a revista Sombra, dirigida por Walter Quadros (?-1962), foi lançada, em dezembro de 1940, Jorge de Castro era o secretário e o fotógrafo da publicação. No primeiro número, foi o responsável pelas imagens de diversas matérias, dentre  elas Ventalma, onde os versos de Mário de Andrade (1893 – 1945) foram interpretados pela bailarina Nini Theilade (1915 – 2018), do Balé Russo de Montecarlo. Na mesma edição suas fotos foram publicadas nas matérias The honorable Jefferson CafferySnra. Lourival Fontes, a poetisa que se assigna Adalgisa Nery, e De Tom Mix a Vivien Leigh.

Passou muito tempo com Lincoln Kirstein (1907 – 1956), importante figura da cena cultural novaiorquina e co-fundador do New York City Ballet, quando este visitou o Brasil, em 1942, como consultor de arte latino-americana, enviado para adquirir obras para o Museu de Arte Moderna de Nova York, o MoMa . Foi Castro que apresentou Kirstein aos pintores Guignard (1896 – 1962), Edith Behring (1916 – 1996), José Bernardo Cardoso Júnior (1861 – 1947) e Tomas Santa Rosa.

Kirstein deu a ele dinheiro para que concluísse um filme sobre a Academia Naval e escreveu ao empresário norte-americano Nelson Rockfeller (1908 – 1979), em 24 de junho de 1942:

“Jorge de Castro: você pode contatá-lo sem embaraço. Um bom amigo de Carlos Lacerda. É considerado uma piada. Ele se parece com um cogumelo. É de excelente família, é conhecido como fotógrafo. Na verdade é um excelente operador cinematográfico, e conhece detalhes a respeito do Brasil que ninguém sabe. Ele é corajoso e foi o primeiro a ajudar Portinari, o que P. agora tende a esquecer. Eu sugiro que você peça a ele para lhe mostrar filmes da Academia Navale e você talvez possa ir lá. Ele é sensacional. Jorge é um pequeno inseto anônimo – mas é o máximo. Ele tirou fotos da Conferência do Rio. Amigo de Queiroz Lima, do secretariado pessoal de Aranha”.

Em 1943, uma comissão de cineastas norte-americanos de Hollywood incorporados ao Office Stratic Service da Marinha de Guerra dos Estados Unidos, a convite do governo brasileiro, visitou São Paulo, para fazer um levantamento das possibilidades do Brasil  no esforço de guerrra das Nações Unidas. Castro era o representante do Ministério da Marinha do Brasil. No ano seguinte, como cinematografista do Ministério da Marinha seguiu para Belém, da onde iria para os Estados Unidos trabalhar em um filme sobre o nosso esforço de guerra, que fará parte de um filme de longa-metragem sobre a luta das Nações Unidas, que está sendo dirigido pelo Sr. John Ford (O Estado de São Paulo, 10 de junho de 1943 e  1º de julho de 1944).

Em 1945, acompanhou o cinegrafista Gregg Tolland (1904 – 1948), em visita ao Brasil. Ele foi o fotógrafo de diversos filmes de sucesso, dentre eles Os Miseráveis (1935), O Morro dos Ventos Uivantes (1939), pelo qual ganhou o Oscar; As Vinhas da Ira (1940), Cidadão Kane (1941) e Os Melhores Anos de Nossas Vidas (1946), dentre outros.

Foi também o fotógrafo do semanário ilustrado Política e Letras, lançado em 24 de julho de 1948, no Rio de Janeiro. O diretor responsável pela publicação era Odylo Costa Filho (1914 – 1979) e dentre seus colaboradores estavam Alceu Amoroso Lima (1893 – 1983), Carlos Drumond de Andrade (1902 – 1987) e Érico Veríssimo (1905 – 1975). Foi o fotógrafo das reportagem Uma Luz nas Trevas – O Farol da Ilha Rasa, assinada por Antônio Rangel Bandeira; e de Um veleiro faz-se ao mar, com Franklin de Oliveira (O Cruzeiro, 26 de março de 1949; 23 de abril de 1949).

Era filho de Vital de Castro e de Maria da Glória Moura de Castro e irmão da pianista Maria Antônia de Castro Massé, de Ari de Castro, de Mário de Castro, de Vital de Castro Filho e de Luisa de Castro Machado, casada com Anibal Machado (1894 – 1964) (O Estado de São Paulo, 4 de dezembro de 1946). Era casado com Maria do Carmo de Castro, com quem teve os filhos Maria Cristina e Vital.

 

 

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(1) Carta de Mário de Andrade a Tarsila do Amaral, na época casada com Oswald de Andrade, marcando a ruptura entre os escritores. Oswald tentou várias vezes uma reconciliação, sem sucesso.

“São Paulo, 4 de julho de 1929

Tarsila, espero que esta carta seja lida confidencialmente apenas por você e Oswaldo pois que só a você é dirigida.

Acabo de receber por Anita o convite que você me faz e que, feito com o desprendimeno e o coração maravilhoso de você, inda mais me entristece. Mas eu não o posso aceitar. Por isso mesmo que a elevação de amizade sempre existida entre você, Osvaldo, Dulce e eu foi das mais nobres e tenho a certeza que das mais limpas, tudo ficou embaçado pra nunca mais. É coisa que não se endireita, desgraçadamente para mim.

Mas devo confessar a você que sob o ponto-de-vista de amizade, único que me pode interessar como indivíduo, nada, absolutamente nada se acabou em mim. Se deu apenas uma como que transposição de planos, e aqueles que faziam parte da minha objetividade cotidiana, continuaram amigos nessa espécie de ambiente de anjo em que o espírito da gente descansa mais, povoado de retratos bons. E então eu, que não fui feito para esquecer, não será possível jamais que eu me esqueça de ninguém nem de nada. Nenhum sentimento desagradável permanece em mim e se acaso alguém confiar a você alguma queixa ou acusação feita por mim contra quem quer que seja de sua família, eu garanto que mente. Pedi aos meus companheiros de vida e até a amigos que nem Couto de Barros, que não me falassem em certos assuntos.

Apenas, Tarsila: esses assuntos existem. E como os podemos esquecer, vocês e eu, que todos conservamos nosso passado comum? E quanto a mim, Tarsila, esses assuntos, criados por quem quer que seja (essas pessoas não me interessam), como será possível imaginar que não me terão ferido crudelíssimamente? Asseguro a vocês – tenho todo o meu passado como prova e vocês me conhecem espero que bem – que as acusações, insultos, caçoadas feitos a mim não podem me interessar. Já os sofri todos mais vezes e sempre passando bem. E nem uma existência como a que eu levo pode se libertar deles. Desque resolvi publicar Paulicéia, de que um só poema exposto provocara o maior enxurro de estupidez e presumidos insultos de que se enaltece a história literária brasileira, desde então me revesti dessa contemplatividade cínica que nos permite, sem inquietar a sinceridade com que caminhamos pra realização de nós mesmos, passarmos incólumes no meio de certos heróis. Não me atingem e, de resto, não os leio. 

Mas não posso ignorar que tudo foi feito na assistência dum amigo meu. Isso é que me quebra cruelmente, Tarsila, e apesar de meu orgulho enorme, não tenho força no momento que me evite de confessar que ando arrasado de experiência.

Eu sei que fomos todos vítimas de um ventarrão que passou. Passou. Porém a árvore caiu no chão e no lugar duma árvore tamanha não nasce mais. É impossível.

Eu peço a vocês licença pra cumprimentá-los quando nos encontrarmos. Assim como desta carta e do que a motiva ninguém saberá por mim, tenho certeza que corações nobres como os de vocês hão-de sentir esse pudor de não dar azo a que os outros façam de nós e dum passado tão lindo nosso, o assunto deles.

Peço mais que me recomende respeitosamente aos de sua família e enumero uma carícia toda especial a Dulce que no meu mundo faz parte do Sol.

E paro porque afinal tudo isso é muito triste e pouco digno dos seus olhos e coração que só podem merecer felicidade.

Respeitosamente

Mário de Andrade”

 

 

(2)                                          Programação da Semana de Arte Moderna em 1922

 

 Catálogo com as atrações da exposição de arte realizada no saguão do Teatro Municipal de São Paulo

ARCHITECTURA

ANTONIO MOYA

1- Entrada do Templo.

2 – Templo.

3 –      “

4 – Monumento.

5 – Pantheon.

6 – Templo.

7 – Casa do poeta.

8 – Residência (planta e fachada).

9 –         ”                 ”        ”     “

10 –       ”                 ”        ”     “

11 –        ”                 ”        ”     “

12-        ”                 ”        ”     “

13 – Volume architectonico.

14 – Entrada.

15 – Cariathyde.

16 – Fonte.

17 – Tumulo.

18 – Tumulo.

GEORG PRSIREMBEL

19 – Taperinha na praia grande (Maquette e planta).

ESCULPTURA

VICTORIO BRECHERET

1 – Genio.

2 – Angelus.

3 – Soror dolorosa.

4 – Idolo.

5- O regresso.

6 – Pietá.

7 – Cabeça de mulher.

8 – Cabeça de Christo.

9 – Sapho.

10 – Torso.

11 – Baixo relevo.

12 – Victoria.

W. HAARBERG

13 – Nossa Senhora (madeira).

14 – Mãe e filho (madeira).

15 –    ”     ”     ”             “

16 – Grupo (madeira).

17 – Pequenas esculpturas decorativas.

PINTURA

Anitta Malfatti

1- Estudante russa.

2 – O Homem amarello.

3 – O Fauno.

4 – O japonez.

5 – A mulher de cabellos verdes.

6 – A onda.

7 – A ventania.

8 – Rochedos.

9 – Casa de chá.

10 – Pedras preciosas.

11 – Penhascos.

12 – Flores amarellas.

13 – Impressão dividionista.

14 – O Homem das sete cores.

15 – Arvores japonezas

16 – Bahianas.

17 – Capa de livro.

18 – Christo.

19 – S. Sebastião.

20 – Moêmas.

DI CAVALCANTI

21 – Ao pé da cruz – painel para capella.

22 – O Homem do Mar – 1920.

23 – Café turco – 1917.

24 –     ”       ”      – 1921.

25 – Retrato.

26 – A Duvida.

27 – Intimidade.

28 –        ”

29 – Illustrações para um livro.

30 – Coqueteria.

31 – Bohemios.

32 – A piedade da inerte.

J. GRAZ

33 – Missa no tumulo.

34 – S. Francisco fallando aos passaros.

35 – Retrato do Ministro G.

36 – Natureza morta.

37 –          ”             ”

38 – Paysagem Suissa.

39 – Paysagem de Espanha.

40 –           ”         ”        ”

MARTINS RIBEIRO

41 – Tedio.

42 –    ”

43 – Desenho.

44 –       ”

ZINA AITA

45 – A sombra.

46 – Estudo de cabeça.

47 – Paysagem decorativa.

48 – Mascaras Sianezas.

49 – Aquarium.

50 – Figura.

51 – Painel decorativo.

52 – 25 impressões.

J.F. DE ALMEIDA PRADO

53 – Dois desenhos.

FERRIGNAC

54 – Natureza dadaista.

VICENTE REGO MONTEIRO

55 – Retrato de Ronald de Carvalho.

56 – Retrato.

57 – Retrato.

58 – Cabeças de Negras.

59 – Cabeça Verde.

60 – Baile no Assyrio.

61 – Lenda Brasileira.

62 – Lenda Brasileira.

63 – Cubismo.

64 – Cubismo.

 

Grandes Festivais

Primeiro Festival – 2ª feira, 13 de fevereiro

1ª parte

CONFERÊNCIA DE GRAÇA ARANHA

“A emoção estética na arte moderna”, ilustrada com música executada por Ernani Braga e poesia por Guilherme de Almeida e Ronald de Carvalho.

Música de câmara Villa-Lobos

1. “Sonata II” de violoncelo e piano / 1916

a. Allegro moderato

b. Andante

c. Scherzo

d. Allegro Vivace sostenuto e finale

Alfredo Gomes e Lucilia Villa-Lobos

2. “Trio Segundo”: violino, violoncelo e piano / 1916

a. Aleggro moderato

b. Andantino calmo (Berceuse-Barcarola)

c. Scherzo-spiritoso

d. Molto allegro e finale

Paulina d´Ambrosio, Alfredo Gomes e Frutuoso de Lima Vianna

2ª parte

CONFERÊNCIA DE RONALD DE CARVALHO

“A pintura e a escultura moderna no Brasil”

3. Solos de piano: Ernani Braga

a. 1917 / “Valsa mística” (da Simples coletânea)

b. 1919 / “Rodante” (da Simples coletânea)

4. Otteto: Três danças africanas

a. “Farrapós” / (“Dança dos moços”) / 1914

b. “Kankukus” / (“Dança dos velhos”) / 1915

c. “Kankikis” (“Dança dos meninos”) / 1916

Violinos Paulina d´Ambrosio, George Marinuzzi

Alto Orlando Frederico

Violoncelos Alfredo Gomes

Basso Alfredo Carazza

Flauta Pedro Vieira

Clarino Antão Soares

Piano Frutuoso de Lima Vianna

 

Segundo Festival – 4ª feira, 15 de fevereiro

1ª parte

1. PALESTRA DE MENOTTI DEL PICCHIA

Ilustrada com poesias e trechos de prosa por Oswald de Andrade, Luís Aranha, Sérgio Milliet, Tácito de Almeida, Ribeiro Couto, Mário de Andrade, Plínio Salgado, Agenor Barbosa e dança pela senhorinha Yvonne Daumerie.

2. SOLOS DE PIANO: GUIOMAR NOVAES

a. E.R. Blanchet: “Au jardin du vieux sérail” (Andrinople)

b. H. Villa-Lobos: “O Ginete do Pierrozinho”

c. C. Debussy: “La soirée dans Grenade”

d. C. Debussy: “Minstrels”

2ª parte

1 – RENATO ALMEIDA

Perennis Poesia

2. CANTO E PIANO

Frederico Nascimento Filho e Lucília Villa-Lobos

a. 1919 / “Festim Pagão

b. 1920 / “Solidão”

c. 1917 / “Cascavel

3. QUARTETO TERCEIRO (CORDAS – 1916)

a. Allegro giusto

b. Scherzo satirico (pipocas e patocas)

c. Adagio

d. Allegro con fuoco e finale

Violinos Paulina d´Ambrosio – George Marinuzzi

Alto Orlando Frederico

Violoncelos Alfredo Gomes

Terceiro Festival – 6ª feira, 17 de fevereiro

1ª parte

1. VILLA-LOBOS

1. “Trio Terceiro” / violino, violoncelos e piano / 1918

a. Allegro con moto

b. Moderato

c. Allegretto spiritoso

d. Allegro animato

Paulina d´Ambrosio, Alfredo Gomes e Lucília Villa-Lobos

2. CANTO E PIANO:

MÁRIO EMMA E LUCÍLIA VILLA-LOBOS

“Historietas” de Ronald de Carvalho / 1920

a. “Lune d´octobre”

b. ‘Voilà la vie”

c. “Jouis sans retard, car vite s´ecoule la vie”

3. “SONATA SEGUNDA / VIOLINO E PIANO / 1914

a. Allegro non troppo

b. Largo

c. Allegro rondó / Prestíssimo finale

Paulina d´Ambrosio e Frutuoso Vianna

2ª parte

VILLA-LOBOS:

4 – SOLOS DE PIANO: ERNANI BRAGA

a. “Camponesa Cantadeira” / (da Suite floral) / 1916

b. “Num berço encantado” / (da Simples coletânea) / 1919

c. “Dança Infernal” / 1920

5. “QUARTETO SIMBÓLICO” / (IMPRESSÕES DA VIDA MUNDANA)

flauta, saxofônico, celesta ou piano

com vozes femininas em coro oculto / (1921)

a. Allegro non troppo

b. Andantino

c. Allegro, finale

Pedro Vieira, Antão Soares, Ernani Braga e Frutuoso de Lima Vianna

 

 (3)                                                               “A Propósito da Exposição Malfatti”

(O Estado de São Paulo, 20 de dezembro de 1917)

“Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que vêem normalmente as coisas e em consequência disso fazem arte pura, guardados os eternos ritmos da vida, e adotados para a concretização das emoções estéticas, os processos clássicos dos grandes mestres. Quem trilha por esta senda, se tem gênio, é Praxíteles na Grécia, é Raphael na Itália, é Rembrandt na Holanda, é Rubens na Flandres, é Reynolds na Inglaterra, é Leubach na Alemanha, é Iorn na Suécia, é Rodin na França, é Zuloaga na Espanha. Se tem apenas talento vai engrossar a plêiade de satélites que gravitam em torno daqueles sóis imorredoiros. A outra espécie é formada pelos que vêem anormalmente a natureza, e interpretam-na à luz de teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica de escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da cultura excessiva. São produtos do cansaço e do sadismo de todos os períodos de decadência; são frutos de fins de estação, bichados ao nascedouro. Estrelas cadentes, brilham um instante, as mais das vezes com a luz de escândalo, e somem-se logo nas trevas do esquecimento. Embora eles se dêem como novos precursores duma arte a vir, nada é mais velho de que a arte anormal ou teratológica: nasceu com a paranóia e com a mistificação. De há muito já que a estudam os psiquiatras em seus tratados, documentando-se nos inumerosos desenhos que ornam as paredes internas dos manicômios. A única diferença reside em que nos manicômios esta arte é sincera, produto ilógico de cérebros transtornados pelas mais estranhas psicoses; e fora deles, nas exposições públicas, zabumbadas pela imprensa e absorvidas por americanos malucos, não há sinceridade nenhuma, nem nenhuma lógica, sendo mistificação pura.

Todas as artes são regidas por princípios imutáveis, leis fundamentais que não dependem do tempo nem da latitude. As medidas de proporção e equilíbrio, na forma ou na cor, decorrem do que chamamos sentir. Quando as sensações do mundo externo transformam-se em impressões cerebrais, nós “sentimos”; para que sintamos de maneira diversa, cúbica ou futurista, é forçoso ou que a harmonia do universo sofra completa alteração, ou que o nosso cérebro esteja em “pane” por virtude de alguma grave lesão. Enquanto a percepção sensorial se fizer normalmente no homem, através da porta comum dos cinco sentidos, um artista diante de um gato não poderá “sentir” senão um gato, e é falsa a “interpretação” que o bichano fizer um “totó”, um escaravelho ou um amontoado de cubos transparentes.

Estas considerações são provocadas pela exposição da sra. Malfatti, onde se notam acentuadíssimas tendências para uma atitude estética forçada no sentido das extravagâncias de Picasso e companhia. Essa artista possui um talento vigoroso, fora do comum. Poucas vezes, através de uma obra torcida para má direção, se notam tantas e tão preciosas qualidades latentes. Percebe-se de qualquer daqueles quadrinhos como a sua autora é independente, como é original, como é inventiva, em que alto grau possui um sem número de qualidades inatas e adquiridas das mais fecundas para construir uma sólida individualidade artística. Entretanto, seduzida pelas teorias do que ela chama arte moderna, penetrou nos domínios dum impressionismo discutibilíssimo, e põe todo o seu talento a serviço duma nova espécie de caricatura.

Sejamos sinceros: futurismo, cubismo, impressionismo e “tutti quanti” não passam de outros tantos ramos da arte caricatural. É a extensão da caricatura a regiões onde não havia até agora penetrado. Caricatura da cor, caricatura da forma — caricatura que não visa, como a primitiva, ressaltar uma ideia cômica, mas sim desnortear, aparvalhar o espectador. A fisionomia de que sai de uma destas exposições é das mais sugestivas. Nenhuma impressão de prazer, ou de beleza denuncia as caras; em todas, porém, se lê o desapontamento de quem está incerto, duvidoso de si próprio e dos outros, incapaz de raciocinar, e muito desconfiado de que o mistificam habilmente. Outros, certos críticos sobretudo, aproveitam a vasa para “épater les bourgeois”. Teorisam aquilo com grande dispêndio de palavrório técnico, descobrem nas telas intenções e subintenções inacessíveis ao vulgo, justificam-nas com a independência de interpretação do artista e concluem que o público é uma cavalgadura e eles, os entendidos, um pugilo genial de iniciados da Estética Oculta. No fundo, riem-se uns dos outros, o artista do crítico, o crítico do pintor e o público de ambos.

Arte moderna, eis o escudo, a suprema justificação. Na poesia também surgem, às vezes, furúnculos desta ordem, provenientes da cegueira nata de certos poetas elegantes, apesar de gordos, e a justificativa é sempre a mesma: arte moderna. Como se não fossem moderníssimos esse Rodin que acaba de falecer deixando após si uma esteira luminosa de mármores divinos; esse André Zorn, maravilhoso “virtuose” do desenho e da pintura; esse Brangwyn, gênio rembrandtesco da babilônia industrial que é Londres; esse Paul Chabas, mimoso poeta das manhãs, das águas mansas, e dos corpos femininos em botão. Como se não fosse moderna, moderníssima, toda a legião atual de incomparáveis artistas do pincel, da pena, da água forte, da “dry point” que fazem da nossa época uma das mais fecundas em obras-prima de quantas deixaram marcos de luz na história da humanidade.

Na exposição Malfatti figura ainda como justificativa da sua escola o trabalho de um mestre americano, o cubista Bolynson. É um carvão representando (sabe-se disso porque uma nota explicativa o diz) uma figura em movimento. Está ali entre os trabalhos da sra. Malfatti em atitude de quem diz: eu sou o ideal, sou a obra prima, julgue o público do resto tomando-me a mim como ponto de referência.

Tenhamos coragem de não ser pedantes: aqueles gatafunhos não são uma figura em movimento; foram, isto sim, um pedaço de carvão em movimento. O sr. Bolynson tomou-o entre os dedos das mãos ou dos pés, fechou os olhos, e fê-lo passar na tela às pontas, da direita para a esquerda, de alto a baixo. E se não o fez assim, se perdeu uma hora da sua vida puxando riscos de um lado para o outro, revelou-se tolo e perdeu o tempo, visto como o resultado foi absolutamente o mesmo. Já em Paris se fez uma curiosa experiência: ataram uma brocha na cauda de um burro e puseram-n’o trazeiro voltado para uma tela. Com os movimentos da cauda do animal a broxa ia borrando a tela. A coisa fantasmagórica resultante foi exposta como um supremo arrojo da escola cubista, e proclama pelos mistificadores como verdadeira obra prima que só um ou outro raríssimo espírito de eleição poderia compreender. Resultado: o público afluiu, embasbacou, os iniciados rejubilaram e já havia pretendentes à tela quando o truque foi desmascarado. A pintura da sra. Malfatti não é cubista, de modo que estas palavras não se lhe endereçam em linha reta; mas como agregou à sua exposição uma cubice, leva-nos a crer que tende para ela como para um ideal supremo. Que nos perdoe a talentosa artista, mas deixamos cá um dilema: ou é um gênio o sr. Bolynson e ficam riscados desta classificação, como insignes cavalgaduras, a corte inteira dos mestres imortais, de Leonardo a Stevens, de Velasquez a Sorolla, de Rembrandt a Whistler, ou… vice-versa. Porque é de todo impossível dar o nome da obra de arte a duas coisas diametralmente opostas como, por exemplo, a Manhã de Setembro, de Chabas, e o carvão cubista do sr. Bolynson.

Não fosse a profunda sympatia que nos inspira o formoso talento da sra. Malfatti, e não viríamos aqui com esta série de considerações desagradáveis.

Há de ter essa artista ouvido numerosos elogios à sua nova atitude estética.

Há de irritar-lhe os ouvidos, como descortez impertinência, esta voz sincera que vem quebrar a harmonia de um coro de lisonjas. Entretanto, se refletir um bocado, verá que a lisonja mata e a sinceridade salva. O verdadeiro amigo de um artista não é aquele que o entontece de louvores, e sim o que lhe dá uma opinião sincera, embora dura, e lhe traduz châmente, sem reservas, o que todos pensam dele por detrás. Os homens têm o vezo de não tomar a sério as mulheres. Essa é a razão de lhes darem sempre amabilidades quando elas pedem opinião. Tal cavalheirismo é falso, e sobre falso, nocivo. Quantos talentos de primeira água se não transviaram arrastados por maus caminhos pelo elogio incondicional e mentiroso? E víssemos na sra. Malfatti apenas uma “moça que pinta”, como há centenas por aí, sem denunciar centelhas de talento, calar-nos-iamos, ou talvez lhe déssemos meia dúzia desses adjetivos “bombons” que a crítica açucarada tem sempre à mão em se tratando de moças. Julgamo-la, porém, merecedora da alta homenagem que é tomar a sério o seu talento dando a respeito da sua arte uma opinião sinceríssima, e valiosa pelo fato de ser o reflexo da opinião do público sensato, dos críticos, dos amadores, dos artistas seus colegas e… dos seus apologistas.

Dos seus apologistas sim, porque também eles pensam deste modo… por trás”.

M. L.

A crítica de Lobato foi mais tarde transformado em Paranóia ou Mistificação? e publicada no livro Ideias de Jeca Tatu, em 1919. 

 

 

Mulheres que participaram da programação da Semana de Arte Moderna

 

 

 

 

 

 

Pode ser que a pintora e decoradora Regina Gomide Graz (1897 – 1973), casada com o suíço John Graz, tenha participado do evento, mas o nome dela não consta no catálogo da exposição.

 

A Brasiliana Fotográfica agradece a colaboração de André Luis Câmara, poeta, jornalista e Doutor em Literatura pela PUC-RJ.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Acesse os 10 encontros do ciclo 1922: MODERNISMOS EM DEBATE, organizados por Ana Gonçalves Magalhães, Fernanda Pitta, Heloisa Espada, Horrana de Kássia Santoz, Helouise Costa e Valéria Piccoli – Instituto Moreira Salles, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo e Pinacoteca -, realizados entre 29 de março e 13 de dezembro de 2021, com a participação de 41 convidados.

Acesse a crônica Mário presente, de Carlos Drummond de Andrade, publicada em 4 de junho de 1970, no Jornal do Brasil.

Acesse o artigo publicado, em 21 de novembro de 2022, na seção POR DENTRO DOS ACERVOS, do Instituto Moreira Salles, Mário de Andrade nos Arquivos IMS, de autoria de Elvia Bezerra.

 

Fontes:

Academia Paulista de Letras

Agenda do Centro de Documentaçãoda TV Globo

ALMEIDA, Paulo Mendes de. De Anita ao museu. São Paulo : Perspectiva, 1976.

AMARAL, Aracy. Artes plásticas na Semana de 22. São Paulo : Perspectiva, 1972.

ANDRADE, Mário de. Anteprojeto para a criação do Serviço do Patrimônio Artístico Nacional. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rio de Janeiro, n. 30, p. 271-287, 2002.

ANDRADE, Mário de. Macunaíma. São Paulo : Editora Martins, 1970.

ANDRADE, Mário de. Será o Benedito? São Paulo : Educ, 1992

AMARAL, Aracy (org). Correspondência entre Mário de Andrade e Tarsila do Amaral. São Paulo : Edusp, 2001.

BOAVENTURA, Maria Eugênia. O Salão e a Selva – Uma biografia ilustrada de Oswald de Andrade. Campinas : Editora Ex-Libris Unicamp, 1995.

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NASTARI, Danielle Misura. A gênese da coleção da arte brasileira do MoMa, a década de 40, Portinari e artistas seguintes. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Interunidades em Estética e História da Arte da Universidade de São Paulo para a obtenção do titulo de mestre em Estética e História da Arte, 2016.

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Site Casa Mário de Andrade

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Site Etnografiha Vilkaviskis

SOUZA, Alana.“Arte anormal: a dura crítica de Monteiro Lobaro à arte de Anita Malfatti in Aventuras na História, 4 de julho de 2021.

TÉRCIO, Jason. Em busca da alma brasileira – Biografia de Mário de Andrade. Rio de Janeiro : Estação Brasil, 2019.

 

Links para os artigos já publicados da Série 1922 – Hoje, há 100 anos

Série 1922 – Hoje, há 100 anos I – Os Batutas embarcam para Paris, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, publicado em 29 de janeiro de 2022

Série 1922 – Hoje, há 100 anos III – A eleição de Artur Bernardes e a derrota de Nilo Peçanha, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, publicado em 1º de março de 2022, na Brasiliana Fotográfica

Série 1922 – Hoje, há 100 anos IV – A primeira travessia aérea do Atlântico Sul, realizada pelos aeronautas portugueses Gago Coutinho e Sacadura Cabral, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicada em 17 de junho de 2022, na Brasiliana Fotográfica

Série 1922 – Hoje, há 100 anos V – A Revolta do Forte de Copacabana, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicada em 5 de julho de 2022, na Brasiliana Fotográfica

Série 1922 – Hoje, há 100 anos VI e série Feministas, graças a Deus XI- A fundação da Federação Brasileira para o Progresso Feminino, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 9 de agosto de 2022, na Brasiliana Fotográfica

Série 1922 – Hoje, há 100 anos VII – A morte de Gastão de Orleáns, o conde d´Eu (Neuilly-sur-Seine, 28/04/1842 – Oceano Atlântico 28/08/1922), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 28 de agosto de 2022, na Brasiliana Fotográfica.

Série 1922 – Hoje, há 100 anos VIII – A abertura da Exposição Internacional do Centenário da Independência do Brasil e o centenário da primeira grande transmissão pública de rádio no país, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 7 de setembro de 2022, na Brasiliana Fotográfica.

Série 1922 – Hoje, há 100 anos IX – O centenário do Museu Histórico Nacional, de autoria de Maria Isabel Lenzi, historiadora do Musseu Histórico Nacional, publicado em 12 de outubro de 2022, na Brasiliana Fotográfica.

Série 1922 – Hoje, há 100 anos X –  A morte do escritor Lima Barreto (1881 – 1922), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 1º denovembro de 2022, na Brasiliana Fotográfica

Série 1922 – Hoje, há 100 anos XI e série Feministas, graças a Deus XII 1ª Conferência pelo Progresso Feminino e o “bom” feminismo, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, antropóloga do Arquivo Nacional, publicado em 19 de dezembro de 2022, na Brasiliana Fotográfica.

O fotógrafo, desenhista e engenheiro alemão Franz Keller-Leuzinger (1835 – 1890)

 

Franz Keller-Leuzinger /  Xilogravura de Adolf Cloß publicada no livro , em 1874

Franz Keller-Leuzinger / Xilogravura de Adolf Cloß publicada no livro Do Amazonas ao Madeira, em 1874

O  engenheiro, fotógrafo e desenhista alemão Franz (Francisco) Keller-Leuzinger nasceu em Mannhein, em 30 de agosto de 1835, e foi um dos primeiros viajantes estrangeiros a documentar a região amazônica. Chegou ao Rio de Janeiro com seu pai, o também engenheiro Joseph (José) Keller (1811 – 1877), em 27 de dezembro de 1855, vindos do Havre, na galera francesa Dom Pedro II. 

Ao longo da década de 60, Franz acompanhou o pai em levantamentos do rio Paraná, na região entre Campo Belo e Barra do Piraí; dos vales do rio Paraíba e Pomba, dos rios Iguaçu, Paranapanema e Tibagi. Dessas investigações resultaram relatórios publicados pelo Ministério da Agricultura (Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1865O Cearense, 2 de dezembro de 1865, terceira colunaDezenove de Dezembro, 20 de dezembro de 1865, última coluna). Nessas expedições, como na que participou à Amazônia, em 1867, Franz registrava em notas, desenhos e aquarelas, vistas locais da fauna e flora, aspectos arqueológicos e etnográficos das regiões por onde passava.

Em junho de 1867, ele e seu pai estudavam mapas e planos da expedição ao Paraná quando foram comissionados pelo Ministério da Agricultura, Comércio e Obras para explorar os rios Amazonas e Madeira para sondar a possibilidade da construção de uma ferrovia, a Madeira-Mamoré, costeando suas margens para contornar corredeiras que tornavam impossível a navegação a vapor em parte dos rios. A comissão da expedição pelo governo imperial foi motivada pela abertura da navegação do rio Amazonas para as nações estrangeiras, estabelecido pelo Decreto Imperial nº 3749 ,de 7 de dezembro de 1866, e pelo novo acordo sobre fronteiras e comércio com a Bolívia firmado, em 27 de março de 1867, pelo diplomata pernambucano, o Conselheiro Felipe Lopez Netto (1814 – 1895) (Publicação do Governo do Amazonas, 24 de agosto de 1868Jornal do Commercio, 15 de julho de 1872, quinta coluna).

Franz e Joseph embarcaram no Rio de Janeiro rumo ao Pará, em 15 de novembro de 1867, no paquete Paraná. O fotógrafo Christoph Albert Frisch (1840 – 1918), comissionado por seu patrão, o fotógrafo e editor suíço Georges Leuzinger (1813 – 1892), acompanhou a expedição até Manaus, levando um escravizado. Também estavam no navio a esposa de Franz, Sabine Christine Leuzinger (1842-1915), e sua irmã, Pauline.  Sabine era a filha primogênita de Leuzinger (Diário do Povo, de 15 de novembro de 1867, primeira coluna). Algumas fontes informam que Franz teria, em meados da década de 60, assumido a seção de fotografia da empresa de seu sogro, criada em 1865, e que teria, inclusive, ensinado a Marc Ferrez (1843 – 1923) a arte da fotografia. Porém, a participação de Franz Keller no ateliê fotográfico de Leuzinger é questionável e, na verdade, até hoje não foi comprovada. Lembramos que na década de 1860, como já mencionado, Franz fez diversas viagens pelo Brasil com seu pai, explorando rios do país sob contrato do governo imperial, o que tornaria difícil a possibilidade dele dirigir o estabelecimento fotográfico de seu sogro.

Voltando à expedição amazônica. Frisch acompanhou os engenheiros somente até Manaus e permaneceu na Amazônia até novembro de 1868, tendo realizado, no período, a impressionante e pioneira série de 98 fotografias na Amazônia: foram os primeiros registros que chegaram até nós de índios brasileiros da região, além de aspectos da fauna e da flora e de barqueiros de origem boliviana que atuavam como comerciantes itinerantes nos rios amazônicos. Esse trabalho começou a ser comercializado a partir de um catálogo publicado pela Casa Leuzinger, Resultat d’une expédition phographique sur le Solimões ou Alto Amazonas et Rio Negro.

 

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Acervo FBN

 

A expedição dos Keller durou até dezembro de 1868, quando voltaram ao Rio de Janeiro. Apresentaram propostas prevendo a construção de um sistema de planos inclinados capaz de permitir aos navios a superação dos declives do leito do Madeira e Mamoré, a abertura de um canal de navegação na margem direita das cachoeiras ou a construção de uma estrada de ferro entre Santo Antônio e Guajará-Mirim.

Em 1874, já de volta à Alemanha, Franz publicou o livro ilustrado Do Amazonas ao Madeira, com anotações, desenhos e aquarelas da expedição de 1867/1868. Foi editado em Londres pela Chapman & Hall e também foi feita uma edição alemã. No livro, descreveu o rio e seus afluentes, as tribos nativas que encontraram, além dos animais e vegetações da floresta virgem dos rios Amazonas e Madeira. A expedição dos Keller se expandiu até o leste da Bolívia. Franz dedicou um capítulo aos índios Mojo daquela região e à história de suas interações com as missões jesuíticas.

 

 

Na introdução a seus relatos, Franz chamava a atenção das autoridades brasileiras para a adoção de três providências que ele considerava prioritárias para o progresso do país: a abolição da escravatura, o incentivo à imigraçao de colonos da Alemanha para desenvolver a agricultura e a modernização dos meios de transportes para integrar o território nacional. Também assumia a autoria das ilustrações.

 

“As ilustrações, que considero suplementos indispensáveis à descrição de cenas que nos são tão estranhas, originam-se de esboços feitos no local e que, para preservar-lhes a mais alta fidelidade, desenhei eu mesmo”.

 

 

Franz Keller-Leuzinger esteve no Brasil na década de 1880 e faleceu em Munique, na Alemanha, em 18 de julho de 1890.

Acessando o link para as fotografias de Franz Keller-Leuzinger disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Cronologia de Franz Keller-Leuzinger (1835 – 1890)

 

 

1835 - Nascimento de Franz Keller, em Mannheim, na Alemanha, em 30 de agosto de 1835, filho do cartógrafo, desenhista e engenheiro Joseph (José) Keller (1811 – 1877), diplomado pela Universidade de Karlsruhe, que havia trabalhado como inspetor de estrada do Grão Ducado de Baden. Franz era irmão do pintor Ferdinand (Fernando) Keller (1842 – 1922).

 

 

1855 - Chegou, em 27 de dezembro, ao Rio de Janeiro com seu pai. Vieram do Havre, na galera francesa Dom Pedro II. Diversas fontes afirmam que Ferdinand, seu irmão, teria vindo com eles, mas nas notícias de jornal só constam os nomes de Joseph e Franz. Certamente Ferdinand passou um período no Brasil, mas provavelmente veio depois de seu pai e irmão (Correio da Tarde, 27 de dezembro de 1855, última colunaDiário do Rio de Janeiro, 28 de dezembro de 1855, última coluna; Correio Mercantil, 28 de dezembro de 1855, segunda coluna).

 

 

1856 - No Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro de 1856, foi mencionado que Joseph Keller poderia ser contratado para a construção da estrada de Mangaratiba ou da de Ubatuba caso o desembargador J.J. Pacheco, presidente da Companhia da Estrada de Mangaratiba, fizesse um contrato com o presidente de São Paulo para uma outra estrada de carros de Taubaté a Ubatuba.

Joseph e um ajudante trabalharam para o Governo da Província do Rio de Janeiro para a ratificação de plantas para a estrada de Petrópolis ao Parahybuna . Franz seria o ajudante? (Correio Mercantil, 21 de abril de 1856, quarta coluna).

Incitados pela lisonjeira recepção que fizemos a seus compatriotas, os engenheiros Keller, vários arquitetos da Escola Politécnica de Karslruhe, no Grão Ducado de Baden, vieram para o Brasil, dentre eles Theodore Marx (1833 – 1890), que viria a ser um dos construtores do Palácio da Quinta da Boa Vista (Correio Mercantil, 12 de junho de 1856, terceira coluna).

1857 – Seu pai, como engenheiro, e ele e Carlos Keller como ajudantes, haviam sido contratados pela Companhia União Indústria. Qual seria o parentesco de Carlos Keller com eles? Sobrinho e primo? Filho e irmão? Ou seria o filho de Johann Nepomuk Keller, o engenheiro Carlos Keller (1839 – 1928), futuro reitor do Instituto de Tecnologia de Karlsruhe? Uma coincidência: o pai do fotógrafo Chistophe Albert Frisch (1840 – 1918), tinha Nepomuk em seu sobrenome: chamava-se Johanes Nepomuk Frisch. Caso isso indique algum parentesco, Frisch e Franz Keller possivelmente já se conheciam antes de virem para o Brasil.

O diretor-presidente da Companhia União Indústria era o comendador Mariano Procópio Ferreira Lage (1821 – 1872). A capacidade de Joseph Keller já era abonada pelos trabalhos executados na Europa sob sua direção (Relatório Companhia União Indústria, 24 de agosto de 1857). Sobre o trabalho para o qual havia sido contratado, uma linha de estrada entre  Pedro do Rio e a villa da Parahyba, Três Barras e a ponte do Parahybuna, apresentou um relatório ao comendador (Relatório Companhia União Indústria, 24 de agosto de 1857; Jornal do Commercio, 31 de agosto de 1857, quarta coluna).

 

 

 

1861 / 1862 – Em 30 de abril de 1861, Joseph Keller apresentou ao comendador Mariano Procópio um relatório sobre o estado da estrada entre a ponte do Paraíba e Juiz de Fora (Relatório da Companhia União Indústria, 15 de junho de 1861). Foi expedida pelo Ministério da Agricultura a ordem para o pagamento dos engenheiros Joseph e Franz Keller pela exploração do rio Paraíba (Boletim do Expediente do Governo: Ministério do Império, novembro de 1861); Correio Mercantil, 7 de abril de 1862, terceira coluna; Boletim do Expediente do Governo: Ministério do Império, junho de 1862). Entre esse ano e 1867, Franz acompanhou o pai em levantamentos no mencionado rio, na região entre Campo Belo e Barra do Piraí; nos vales do rio Paraíba e Pomba, nos rios Iguaçu, Paranapanema e Tibagi. Dessas investigações resultam relatórios publicados pelo Ministério da Agricultura (Diário do Rio de Janeiro, 17 de junho de 1864, quaarta colunaAlmanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1865; O Cearense, 2 de dezembro de 1865, terceira coluna; Dezenove de Dezembro, 20 de dezdembro de 1865, última coluna; Dezenove de Dezembro, 13 de janeiro de 1866, primeira coluna).

1862 – Seu irmão, Ferdinand, voltou do sul do Brasil, a bordo do patacho Guasca (Jornal do Commercio, 26 de fevereiro de 1862, terceira coluna). Retornou à Alemanha e ingressou na Academia de Belas Artes de Karlsruhe, estudando sob a tutela do paisagista alemão Johann Wilhelm Schirmer (1807 – 1863).

Franz fotografou a Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão.

 

c. 1863 –  O fotógrafo carioca Marc Ferrez (1843 – 1923) retornou da Europa ao Brasil. Segundo seu neto, o historiador Gilberto Ferrez (1908 – 2000), Marc teria aprendido a arte da fotografia com Franz Keller (1835 – 1890), que em torno dessa data teria assumido a seção de fotografia da empresa de seu sogro, o fotógrafo e editor suíço Georges Leuzinger (1813 – 1892), criada em 1865. Uma carta enviada em 17 de janeiro de 1923 por um amigo de Ferrez, Luiz Carlos Franco, a seus filhos Julio e Luciano, após a a morte do fotógrafo, confirma que Ferrez havia trabalhado para Leuzinger. Porém, a participação de Franz Keller como diretor do ateliê fotográfico de Leuzinger é questionável e, na verdade, até hoje não foi comprovada. Além disso, na década de 1860, como já mencionado, Franz fez diversas viagens pelo Brasil com seu pai explorando rios do país sob contrato do governo imperial, o que tornaria difícil a possibilidade dele dirigir o estabelecimento fotográfico de seu sogro.

1864 – Franz e seu pai, Joseph, embarcaram rumo a Campos no vapor Ceres (Correio Mercantil, 1º de maio de 1864, segunda coluna).

Em ato oficial, de 24 de dezembro de 1864, do ministro de Estado dos Negócios da Agricultura Comércio e Obras Públicas, assinado pelo ministro Jesuino Marcondes de Oliveira e Sá (1827 – 1903), Franz e Joseph Keller foram encarregados de estudar o rio Ivahy (Correio Mercantil, 1º de janeiro de 1865, segunda colunaJornal do Recife, 22 de novembro de 1865, última coluna).

 

 

Franz Keller chegou a Santos na companhia de um criado, no vapor Dom Affonso, procedente de Santa Catarina com escalas (Correio Paulistano, 29 de outubro de 1865, primeira coluna).

Integrou-se à Expedição do Avaí, quando produziu aquarelas da região.

1865 – Foram publicadas notícias sobre o relatório elaborado pelos engenheiros Keller sobre a navegabilidade do rio Paraiba (Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1865).

1866 – Foram publicadas notícias sobre o relatório elaborado pelos engenheiros Keller sobre a navegabilidade do rio Ivahy (Correio Mercantil, 16 de janeiro de 1866, penúltima coluna).

Joseph e Franz foram contratados pelo governo do Paraná para a realização do levantamento e da impressão da carta corográfica do estado (Dezenove de Dezembro, 28 de março de 1966, primeira coluna).

No dia 24 de julho, Franz e Joseph Keller partiram de Curitiba para explorar o rio Iguaçu. Também faziam parte do grupo o agrimensor Julio Kalkman e o intérprete Fructuoso Antonio de Moraes Dutra, além de 24 tripulantes das oito canoas da expedição (Dezenove de Dezembro, 14 de abril de 1866, última coluna; Dezenove de Dezembro, 4 de julho de 1866, primeira colunaCorreio Mercantil, 30 de julho de 1866, última coluna).

Em 7 de dezembro, o Decreto Imperial nº 3749 autorizou a abertura da navegação do rio Amazonas para outras nações, após pressões internacionais, vindas principalmente dos Estados Unidos. Foi nesse contexto que, no ano seguinte, Franz e Joseph Keller foram encarregados pelo Império do Brasil para a exploração de rios do Norte do país.

DECRETO Nº 3.749, DE  7 DE DEZEMBRO DE 1866

 

“Abrindo os rios Amazonas, Tocantins, Tapajós, Madeira, Negro e S. Francisco á navegação dos navios mercantes de todas as nações.

No intuito de promover o engrandecimento do Imperio, facilitando cada vez mais as suas relações internacionaes, e animando a navegação e o commercio do rio Amazonas e seus affluentes, dos rios Tocantins e S. Francisco, ouvido o Meu Conselho de Estado, Hei por bem Decretar o seguinte:

    Art. 1º Ficará aberta, desde o dia 7 de Setembro de 1867, aos navios mercantes de todas as nações, a navegação do rio Amazonas até á fronteira do Brasil, do rio Tocantins até Cametá, do Tapajós até Santarem, do Madeira até Borba, e do rio Negro até Manáos.

    Art. 2º Na mesma data fixada no art. 1º ficará igualmente aberta a navegação do rio S. Francisco até á Cidade do Penedo.

    Art. 3º A navegação dos affluentes do Amazonas, na parte em que só uma das margens pertence ao Brasil, fica dependendo de prévio ajuste com os outros Estados ribeirinhos sobre os respectivos limites e regulamentos policiaes e fiscaes.

    Art. 4º As presentes disposições em nada alterão a observancia do que prescrevem os Tratados vigentes de navegação e commercio com as Republicas do Perú e de Venezuela, conforme os regulamentos já expedidos para esse fim.

    Art. 5º Os Meus Ministros e Secretarios de Estado, pelas Repartições competentes, promoveráõ os ajustes de que trata o art. 3º, e expediráõ as ordens e regulamentos necessarios para a effectiva execução deste Decreto.

    Antonio Coelho de Sá e Albuquerque, do Meu Conselho, Senador do Imperio, Ministro e Secretario de Estado dos Negocios Estrangeiros, assim o tenha entendido e faça executar.

Palacio do Rio de Janeiro em sete de Dezembro de mil oitocentos sessenta e seis, quadragesimo quinto da Independencia e do Imperio.

Com a Rubrica de Sua Magestade o Imperador.

Antonio Coelho de Sá e Albuquerque.

Este texto não substitui o original publicado no Coleção de Leis do Império do Brasil de 1866″

 

1867 – O presidente da província do Paraná mandou sustar a exploração do rio Iguassu, cujos encarregados eram Joseph e Franz Keller (Diário de São Paulo, 23 de janeiro de 1867, primeira coluna).

Foi assinado, em 27 de março, e selado, em 23 de novembro, o Tratado de Ayacucho, entre o Brasil e a Bolívia, que definia os limites entre os dois países.

Franz casou-se com Sabine Christine Leuzinger (1842-1915), filha primogênita do fotógrafo, livreiro e editor suíço Georges Leuzinger (1813-1892), adotando também o sobrenome do sogro, passando a assinar Franz Keller-Leuzinger.

Por portaria de 10 de outubro de 1867, Franz e seu pai, Joseph Keller, foram incumbidos pelo governo imperial de explorar o rio Madeira na parte encachoeirada dele, desde Santo Antonio até a barra do rio Mamoré, e de elaborar os projetos mais apropriados para o melhoramento dessa importante via de comunicação com a província de Mato Grosso e a república da Bolívia. Relatório da exploração do rio Madeira na parte compreendida ente a cachoeira de Santo Antônio e a barra do Mamoré (Diário de Belém, 10 de outubro de 1869, última coluna).

Em 15 de novembro, embarcaram no Rio de Janeiro rumo ao Pará (Diário do Povo, de 15 de novembro de 1867,  primeira coluna).

O fotógrafo Christoph Albert Frisch (1840 – 1918) seguiu com os engenheiros rumo à Amazônia, comissionado por Leuzinger, em cujo ateliê fotográfico trabalhava. Levava um escravizado. A esposa de Franz, Sabine, e sua irmã, Pauline Keller, também estavam no paquete Paraná, assim como o engenheiro José Manoel da Silva, integrante da expedição (Diário do Povo, 15 de novembro de 1867, primeira coluna; Jornal do Commercio, 16 de novembro de 1867, terceira coluna).

 

 

 

Frisch acompanhou os engenheiros somente até Manaus e … percorreu 400 léguas pelo rio Amazonas e seus afluentes durante 5 meses…, num barco acompanhado por dois remadores, desde Tabatinga até Manaus. Produziu, na ocasião, uma pioneira série de 98 fotografias com os primeiros registros que chegaram até nós de índios brasileiros da região, além de aspectos de fauna e flora e de barqueiros de origem boliviana, que atuavam como comerciantes itinerantes nos rios amazônicos. Segundo o livro de Ernesto Senna, O velho commercio do Rio de Janeiro, a expedição fotográfica de Frisch à Amazônia foi fruto de uma solicitação feita pelo suíço Louis Agassiz (1807 – 1873) a Leuzinger.

Satisfazendo ao pedido de Agassiz, fez Leuzinger tirar vistas até Tabatinga, na fronteira do Amazonas com a República do Peru, vistas que serviram não só para os trabalhos científicos daqule sábio, como também para ilustrações europeias. Quando o engenheiro Keller foi em comissão explorar os rios Madeira e Mamoré, Georges Leuzinger mandou um fotógrafo da casa acompanhar a expedição, que trouxe depois daquelas incomparáveis regiões graande cópia de clichês, da flora, da fauna, de paisagens, e fotograafias de silvícolas e de suas tabas, aldeamentos, instruentos, armas, etc. Estas coleções, de grande valor para estudos etnográficos, eram muito interessantes sob qualquer ponto de vista e muito procuradas por viajantes estrangeiros”.

Agassiz havia, entre 1865 e 1866, comandado a Comissão Thayer no Brasil, que percorreu boa parte do território brasileiro entre o Rio de Janeiro e a Amazônia, viagem que deu origem ao livro A journey in Brazil, editado em Boston, em 1868. A Comissão Thayer foi financiada pelo empresário e filantropo norte-americano Nathaniel Thayer, Jr. (1808-1883), ex-aluno de Agassiz no Museu de Zoologia Comparada, em Harvard. Vale lembrar que Charles Frederick Hartt (1840 – 1878), o futuro chefe da Comissão Geológica do Império (1875 – 1878), integrada pelo fotógrafo Marc Ferrez (1843-1923), participou da Comissão ou Expedição Thayer – foi a primeira vez que esteve no Brasil.

A expedição à Amazônia liderada pelos Keller, com 32 volumes, alcançou Belém, em 1º de dezembro, e seguiu para Manaus, onde chegou no dia 10 do mesmo mês, no vapor Belém (Jornal do Pará, 11 de dezembro de 1867,terceira coluna; Jornal do Rio Negro, 11 de dezembro de 1867, segunda coluna).

 

 

1868 – No Anexo X do Relatório do Ministro da Agricultura de 1868, Joseph e Franz Keller fizeram comentários sobre a formação geológica do solo brasileiro. Em alguns pontos concordaram com o geógrafo, naturalista e explorador alemão Barão de Humboldt (1769- 1859), que havia participado de uma expedição pela América do Sul entre 1799 e 1804.(Jornal do Recife, de 12 de agosto de 1882, primeira coluna; Jornal do Recife, 13 de janeiro de 1883, primeira coluna).

 

geologiaJornal do Recife, de 1883

Jornal do Recife, 13 de janeiro de 1883

 

O governador do Amazonas, José Coelho da Gama e Abreu (1832 – 1906), o barão de Marajó,  submeteu ao governador do Pará, Joaquim Raimundo de Lamare (1811 – 1889), um ofício sobre a comissão dos Keller, que havia sido enviado pelo ministro da Agricultura, Zacarias de Góis e Vasconcelos (1815 – 1877) (Amazonas, 25 de abril de 1868, última coluna; Amazonas, 9 de maio de 1968, última coluna).

Foram concedidas às irmãs Sabine Leuzinger-Keller e a Pauline Keller concessão de passagens de Estado em embarcação da Companhia do Amazonas, de Manaus a Belém do Pará com as despesas pagas pelo Ministério da Agricultura. Joseph e Franz Keller foram recomendados pelo governo do Amazonas ao comandante do Forte Príncipe da Beira,  no Mato Grosso, para onde iriam com o objetivo de explorar o Rio Madeira, conforme comissão do governo brasileiro (Amazonas, 30 de maio de 1868, segunda coluna).

Sabine e Pauline chegaram ao Rio de Janeiro em 19 de junho, a bordo do paquete a vapor Guará (Correio Mercantil, 20 de junho de 1868, última coluna).

O fotógrafo Frisch retornou ao sul do Brasil, a bordo do vapor Cruzeiro do Sul (Jornal Pedro II, 24 de novembro de 1868, na quarta coluna). No ano seguinte, as imagens produzidas por ele durante a expedição pela Amazônia começaram a ser comercializadas a partir de um catálogo publicado pela Casa Leuzinger, Resultat d’une expédition phographique sur le Solimões ou Alto Amazonas et Rio Negro.

 

 

Em 9 de dezembro, o tenente -coronel José Wilkens de Mattos (1822 – 1889), governador do Amazonas, respondendo a um ofício enviado pelos Keller e pelo engenheiro José Manoel da Silva, autorizou a tesouraria de Fazenda a receber objetos que estavam com os requerentes, referentes à comissão que cumpriram no rio Madeira;  tomou ciência de que uma canoa adquirida na Bolívia pelos Keller e por José Manoel seria utilizada por João Martins da Silva Coutinho na comissão de exploração do rio Branco; e informou que os Keller e José Manoel teriam seu transporte a bordo do vapor Belém, de Manaus a Belém, em 10 de dezembro de 1868, custeado pelo Ministério da Agricultura. Poderiam utilizar o espaço de bagagem, duas toneladas, destinado ao governo. O trabalho comissionado pelo governo imperial havia sido concluído e eles voltariam para o Rio de Janeiro no mesmo vapor (Diário de Belém, 28 de dezembro de 1868, quarta colunaAmazonas, 5 de janeiro de 1869, primeira coluna).

 

 

 

1869 No dia 4 de janeiro de 1869, Joseph e Franz Keller e o ajudante José Manuel da Silva chegaram ao Rio de Janeiro a bordo do paquete Paraná. Franz estava enfraquecido pelas febres e queimado pelo sol. Segundo o pesquisador Frank Kohl, ele havia contraido malária (Diário do Rio de Janeiro, 5 de janeiro de 1869, quinta coluna).

Fez o retrato da filha de Leuzinger, Gabrielle Marie (1853 – 1869), que faleceu em 23 de abril de 1869 (Jornal do Commercio, 29 de abril de 1869, última coluna).

Após sua morte, ela estava quase sorridente, uma figura de anjo e tão branca quanto os lençóis de seu leito. Franz Keller fez seu retrato de perfil para nosso espanto o perfil perfeito de Mathilde quando tinha sua idade, 16 anos, 6 dias e 21 horas e meia” (Carta de Georges Leuzinger para seu filho Paul, que estava vivendo na França, de 2 de junho de 1969).

Esteve algumas vezes no Paço Imperial cumprimentando o imperador Pedro II (1825 – 1891) (Diário de Rio de Janeiro, 14 de setembro; 19 de outubro29 de novembro6 de dezembro e 21 de dezembro de 1869, primeiras colunas).

Na seção de 14 de setembro do Instituto Politécnico Brasileiro, fez um discurso agradecendo sua nomeação para sócio correspondente da instituição. Além dele, discursaram Luiz Filipe de Saldanha da Gama (1846 – 1895) e Antônio Augusto Fernandes Pinheiro (18? – ?). Augusto Teixeira Coimbra (18? – ?) também foi, na ocasião, nomeado sócio correspondente (Jornal do Commercio, 24 de setembro de 1869, segunda colunaRevista do Instituto Politécnico Brasileiro, 1869).

1870 – Na seção de 14 de junho de 1870 do Instituto Politécnico Brasileiro, sob a presidência do conde d´Eu (1842 – 1922), J.M. da Silva anunciou que Franz Keller havia viajado para a Europa (Revista do Instituto Politécnico Brasileiro, 1874).

Foi autorizada a venda em hasta pública dos objetos comprados para a exploração dos rios Iguaçu, Ivahy, Paranapanema e Tibagi, entregues por Joseph e Franz Keller a Serafim Carvalho Baptista e José Feliciano da Silva (Dezenove de Dezembro, 12 de outubro de 1870, última coluna).

1872 – Joseph Keller ainda se encontrava no Brasil (Jornal do Commercio, 7 de abril de 1872, sétima coluna).

Em julho, Franz Keller (1835-1890) estava na Suíça.

1873 – Retornou à Alemanha para tratar da saúde, fixando residência na cidade alemã de Karlsruhe. Conforme hjá mencionado, segundo o pesquisador Frank Kohl, Franz havia contraído malária no Amazonas e justamente por isto não pode aceitar o convite do coronel americano George Earl Church (1835-1910) para participar da construção da ferrovia Madeira-Mamoré, que utilizou os dados levantados pelos Keller naquela região. Church havia recebido do governo brasileiro a concessão para a construção da ferrovia. Porém, por diversos motivos, Church não concluiu o empreendimento (Revista do Instituto Politécnico Brasileiro, fevereiro de 1874).

“A magnitude e a expectativa que despertaram os projetos de Church provocaram o acre zelo e a oposição daqueles que detinham o monopólio comercial da área, os comerciantes da Costa do Pacífico, na medida em que se propunha a abrir rota concorrente de comércio. De repente descobriram que uma companhia americana detinha um empreendimento que prometia penetrar pelo centro da América do Sul e transformar seu comércio. Ao utilizar a rede fluvial, afetaria poderosamente as relações políticas e inter comerciais de vários Estados hispano-americanos. Ferozes interesses contrariados se aliaram amplamente. A English Construction Company denunciou o contrato e aliou-se aos seus acionistas em um ataque ao fundo fiduciário ferroviário, que eles vincularam por liminar ao Tribunal de Chancelaria. O governo boliviano tentou apreender o fundo. O coronel Church lutou contra esses pesados ataques, defendendo o terreno a cada polegada que houvesse para sustentar ganhou batalha após batalha entre 1873 a 1878. O comitê dos detentores de títulos subornou o presidente boliviano Daza com £ 20.000 para tomar partido ao seu favor e instaurou um novo processo para revogação da concessão boliviana. Mesmo neste novo processo, o coronel Church ganhou no Tribunal de Primeira Instância. A Câmara dos Lordes finalmente resolveu a questão declarando impraticável o empreendimento, embora meses antes o governo brasileiro tivesse dado seu apoio inabalável ao coronel Church. A seu pedido foi decretado um complemento ao fundo existente com o montante necessário para concluir as obras ferroviárias. Na época em que a empresa faliu havia 1.200 homens trabalhando na linha férrea e uma locomotiva em tráfego no primeiro trecho inaugurado”.

A Madeira-Mamoré e a notícia biográfica de George Earl Church feita por Clements Markham,

por  Dante Ribeiro da Fonseca

 

1874 –  Franz Keller (1835-1890) publicou o livro ilustrado Do Amazonas ao Madeira (Jornal do Commercio, de 31 de janeiro de 1874, na última coluna). Na edição alemã, ficou registrado na folha de rosto que as ilustrações da obra, reconstruídas com base nos esboços de Franz, foram gravadas em madeira na oficina gráfica de Adolf Clob (1840 – 1894). Franz, no prefácio do livro, agradece a seu pai, “meu fiel companheiro e colega de ciência nessa cansativa jornada, além de também agradecer ao meu irmão, professor Ferdinand Keller, especialista em pinturas históricas, cuja consultoria quanto às ilustrações me foram de inestimável valor”. O livro também foi editado em Londres pela Chapman & Hall, no mesmo ano, e possuia 68 ilustrações.

 

 

Com uma carta enviada de Karslruhe, datada de 1º de maio de 1874, Franz respondeu ao opúsculo intitulado Estudo sobre o Rio Madeira (1873), do engenheiro baiano Eduardo José de Moraes (1830 – 1895). O autor afirmava que a expedição para a exploração do rio Madeira não havia atendido às instruções do governo imperial, o que Franz rebateu (Jornal do Commercio, 15 de julho de 1874, quinta coluna).

1876 – Gravuras do livro Do Amazonas ao Madeira foram publicadas na revista Illustração Brasileira, fundada pelo litógrafo alemão Henrique Fleuiss (1823-1882) e muito importante na história da imprensa no Brasil. Seu modelo eram as revistas francesa L´Illustration e a inglesa The Illustrated London News. Para Joaquim Marçal Ferreira de Andrade, um dos curadores do portal Brasiliana Fotográfica e coordenador da BN Digital, as páginas do artigo de Franz Keller-Leuzinger foram um marco na história do projeto gráfico das páginas das revistas ilustradas do Brasil, “mesmo considerando-se que as matrizes eram alemãs”(Illustração Brasileira, 1º de julho e 15 de julho de 1876).

 

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Em Karlsruhe, na Alemanha, dom Pedro II (1825 – 1891), durante sua segunda viagem à Europa, encontrou-se com Franz  Keller (Novo e completo Índice Cronológico da História do Brasil). Na ocasião, Franz, que vivia na época de seus trabalhos artísticos, escreveu uma carta ao monarca, na qual expunha seus planos para o futuro em um possível retorno ao Brasil. Dentre seus projetos, pedia o monopólio para explorar o sal no Paraná e se voluntariava para intermediar a venda da pólvora da Alemanha para o Brasil.

Voltando desse modo outra vez as belas praias da Terra de Santa Cruz, isto é, acompanhando em pessoa um carregamento de pólvora e se necessário fosse de armamento ao Rio de Janeiro. V. M. I. dignasse talvez de encarregar-me outra vez com trabalhos técnicos como antigamente. Me seja permitido, afora os trabalhos de exploração dos rios, alinhamento de estradas e caminhos de ferro e o levantamento de mapas geográficos, citar a elaboração de projetos de abastecimento da capital com água potável, que dia a dia fica mais urgente“.

Carta de Franz Keller-Leuzinger a D. Pedro II, 29 de julho de 1876.

Seção de Manuscritos da Biblioteca Nacional

 

Parece que esses projetos nunca se realizaram.

Tanto ele como seu pai eram sócios correspondentes do Instituto Politécnico Brasileiro (Revista do Instituto Politécnico Brasileiro, outubro de 1876).

1877 – Foi publicado, no primeiro número do jornal O Vulgarisador, a imagem do encontro de Franz com os índios Caripunas, do livro Do Amazonas ao Madeira (O Vulgarisador, 1ª edição, 1877).

 

 

 “Eram criaturas fortes, bem conformadas e de estatura mediana; traziam pendentes comprimidos cabelos pretos; um dos homens apenas usava-os enrolados em trança. Um dente de anta atravessava-lhes as pontas das orelhas, e tinha, além disto, em outro buraco na separação de nariz, um pequeno molho de penas encarnadas de tucano. Não traziam armas, a esta circunstancia junto à presença de uma de suas mulheres na embarcação, respondia-nos pela benevolência de suas intenções” (O Vulgarisador, 1ª edição, 1877).

 

 

Sobre o livro, o editor de O Vulgarisador, o poeta, escritor e jornalista português Augusto Emilio Zaluar (1826 – 1882), comentou: “deve interessar a todos que ligam a verdadeiro apreço aos trabalhos desta natureza, que, infelizmente, ainda tanto escasseiam entre nós”. Ele emigrou para o Brasil, em 1849, e, sete anos depois, naturalizou-se cidadão brasileiro. Em 1876, recebeu a comenda da Ordem da Rosa e era amigo de escritores como Machado de Assis (1839 – 1908) e José de Alencar (1829 – 1877). Colaborou em diversos periódicos como A Época, Espelho e Álbum SemanalO Vulgarizador circulou entre 1877 e 1881, no Rio de Janeiro. Seus livros mais conhecidos são Peregrinações pela Província de São Paulo (1860-1861) (1862) e Doutor Benignus (1875). Este último é considerado a primeira ficção científica brasileira.

 

 

Falecimento de Joseph (José) Keller (1811 – 1877).

Década de 1880 - Durante essa década, Franz Keller, esteve no Brasil, mas voltou à Alemanha.

1881 - Aquarelas de Joseph Keller fizeram parte da exposição História do Brasil, da Biblioteca Nacional.

1889 – Franz Keller continuava sendo sócio correspondente do Instituto Politécnico Brasileiro (Revista do Instituto Politécnico Brasileiro, 1889).

1890 - Franz Keller-Leuzinger faleceu em Munique, na Alemanha, em 18 de julho de 1890.

 

Roteiro da Expedição à Amazônia segundo o Relatório da exploração do rio Madeira na parte compreendida entre a cachoeira de Santo Antônio e a barra do Mamoré

 

Mapa desenhado por Franz Keller-Leuzinger reproduzindo o percurso de sua viagem, no livro Do Amazonas ao Madeira

Mapa desenhado por Franz Keller-Leuzinger reproduzindo o percurso de sua viagem, no
livro Do Amazonas ao Madeira

 

1967

10 de outubro – Foi assinada pelo governo imperial uma portaria incumbindo os engenheiros Franz e Joseph Keller em de explorar o rio Madeira na parte encachoeirada dele, desde Santo Antonio até a barra do rio Mamoré, e de elaborar os projetos mais apropriados para o melhoramento dessa importante via de comunicação com a província de Mato Grosso e a república da Bolívia.

15 de novembro – A expedição parte do Rio de Janeiro. Além dos Keller, embarcaram no paquete Paraná o fotógrafo Christoph Albert Frisch (1840 – 1918), a esposa e a irmã de Franz, repectivamente, Sabine Christine Leuzinger (1842-1915), filha do fotógrafo e editor suíço Georges Leuzinger (1813 – 1892); e Pauline.

1º de dezembro – Chegada em Belém.

10 de dezembro – Chegada em Manaus, a bordo do vapor Belém. A expedição levava 32 volumes. O governador do Amazonas, José Coelho da Gama e Abreu, o barão de Marajó (1832 – 1906), os avisou que a subida das cachoeiras e o estudo do rio das enchentes difícil e penoso. Fizeram então o levantamento. O governador os encarregou de fazer um levantamento de parte da planta do Rio Negro e da cidade de Manaus. O ajudante José Manoel da Silva fez o levantamento da planta de Manaus. Devido à falta de remeiros, o trabalho do Rio Negro não pode ser realizado. Foi feito então um projeto e orçamento para a reconstrução de uma ponte manauara que estava em ruínas.

 

 1868

 

9 de fevereiro – José Coelho da Gama e Abreu, o barão de Marajó (1832 – 1906) foi sucedido no governo do Amazonas por Jacinto Pereira do Rego que não atendeu às solicitações necessárias para a expedição: nem forneceu o número de guardas nem o vapor Jurupensen que poderia ter levado o pessoal e o trem da expedição até Santo Antônio.

fevereiro / maio – Com o propósito de levar a cabo a missão, procuraram o vice-cônsul da Bolívia, Ignacio Araus, que encontrava-se em Manaus. Ele ofereceu toda a ajuda necessária e falou de um comerciante boliviano que iria para o Pará e, de lá, para a Bolívia. Dessa forma uma comissão ao mando do governo imperial seguiu viagem sob os auspícios de um particular.

Compraram, em Serpa, uma canoa de lotação de 300 arrobas mal construída e em mal estado por não haver outra, do major Dalmazo de Souza Barriga.

30 de maio – A comissão Keller partiu de Serpa, no Amazonas, atrás do comerciante boliviano, com sete tripulantes quando a canoa demandava ao menos 12. A embarcação levava mantimentos para 4 meses, ferramentas para a construção e conserto de canoa, instrumentos de medição, armamentos, toldos e barracas.

9 de junho – Chegada à Borba com menos dois remeiros, que haviam fugido.

10 a 13 de junho – Passaram por Sapucaia-oroca, dos índios Mura; a Ilha das Araras e pela barra do rio Aripuanã.

madrugada de 14 para 15 de junho – Conserto de uma canoa, que perigava afundar.

15 de junho – Passaram pelas pedras de Aruá.

18 de junho – Chegaram ao engenho de Ignacio Araus, onde o comerciante boliviano os aguardava com impaciência. Transferiram a carga para uma canoa mais apropriada.

21 de junho – Continuaram a viagem. A comitiva tinha 70 índios bolivianos das missões do Mamoré como remeiros e pilotos de sete canoas e de oito brancos.

30 de junho – Encontraram uma família de índios Mura. Por alguns dias, seguiram a expedição. Compraram tartarugas dos índios.

início de julho – Acima de um lugar denominado Três Casas visitaram a barraca de alguns seringueiros bolivianos que com os índios Moxos exploravam a resina.

5 de julho – Chegaram ao Crato, uma estância para a criação de gado. Lá se encontrava o destacamento de Santo Antônio que, nessa época do ano, princípio da estação de chuvas, se retirava de Santo Antônio para um lugar mais salubre. Foram recebidos com cordialidade pelo comandante do destacamento que os apresentou ao dono do lugar, o capitão Tenório.

10 a 15 de julho – Passaram à Ilha das Abelhas, à barra do Pirapitanga e a do Jamary, muito rica em peixes mas infestada pelas febres de caráter maligno.

16 de julho – Chegaram à Ilha dos Mutuns e à praia dos Tamanduás, onde, no mês de setembro, milhares de tartarugas vêm desovar. Na mesma época, seringueiros e pescadores vêm para o local, onde juntam os ovos das tartarugas para a fabricação de manteiga e levam tartarugas, causando grande destruição.

Chegada à Cachoeira de Santo Antônio. Foi necessário descarregar as canoas e transportar tudo para 450 metros acima dos rochedos da margem esquerda..

18 de julho – Chegaram na correnteza dos Macacos da qual já se descobre a fumaça que levanta o salto do Theotônio.

22 de julho – Chegaram à Cachoeira dos Morrinhos, que tinha dois saltos distintos.

25 de julho – Entre Morrinhos e o Caldeirão do Inferno encontraram canoas construídas com cascas de Jatubá pelo índios Caripunas, que habitavam aquela altura do rio. Foram convidados por eles para visitarem suas malocas e foram presenteados com raízes de mandioca e milhos em espiga. Ofertaram aos índios facas, tesouras e anzóis. Dias depois, encontraram outros Caripunas, de quem compraram uma anta e um porco do mato. Esses encontros transcorreram, segundo o relatório da expedição, sempre em um clima de amizade e harmonia.

26 de julho – Chegaram à parte inferior da perigosa Cachoeira do Caldeirão do Inferno. Muitas cruzes rodeavam o local, onde diversos barcos haviam naufragado e pessoas morrido de febres malignas. O engenheiro peruano Maldonado foi uma das vítimas de um naufrágio na região. Um dos índios remeiros da comissão Keller faleceu no local devido a uma inflamação intestinal.

27 de julho – Avistaram os morros ao pé do Salto do Girão. Durante quatro dias foi feito o transporte das cargas e a varação das canoas.

31 de julho e 1º de agosto – Continuaram a viagem e chegaram a Pedras de Amolar, nome dado ao local por navegantes devido às camadas de gres argiloso (arenito). À tarde, chegaram à correnteza mais forte dos Três Irmãos, com uma  queda de menos de um metro.

3 e 4 de agosto – Chegada à Cachoeira do Paredão, com uma queda divida em duas partes.

5 de agosto – Chegada à Cachoeira Pederneira, assim chamada devido a presença de veias de quartzo nas fendas do rochedo. Rio acima, a cacheira mais próxima era a das Araras. Pouco acima da Pederneira, se acha à margem esquerda a barra do rio Abuná.

9 a 15 de agosto – Chegaram à Cachoeira do Ribeirão onde ficaram até dia 15. Ela é formada por cinco saltos. Foi observado que os riscos das pedras em um dos saltos formam uma paralela interessante com a representação tosca de objetos celestes e de animais nos rochedos do Orenoco, descritos por Humboldt.

15 a 18 de agosto – Chegaram à Cachoeira do Madeira e à Cachoeira das Lages.

19 de agosto – Chegada ao Salto das Bananeiras. A passagem do salto durou dois dias, as canoas tiveram que ser descarregadas e transportadas por cima dos rochedos.

21 a 22 de agosto – Após uma seca extraordinária, chuva forte e queda da temperatura para 11º.

23 de agosto – Chegada à Cachoeira do Guajará-Guassu. As cargas foram transportadas por terra e as canoas por água a sirga (puxadas por cordas).

24 de agosto – Chegada à Cachoeira Guajará-Mirim. Encontraram 10 canoas bolivianas carregadas com couros e sebo, Por seu dono, de Santa Cruz de la Sierra, enviaram ofícios e cartas para o Rio de Janeiro e para o Pará. No mesmo dia, chegaram à barra do Ribeirão da Paca Nova, ao pé da serra homônima. As canoas estavam quase todas defeituosas. Foram tiradas da água e calafetadas.

1º de setembro – A expedição chegou na junção do rio Mamoré com o Guaporé, onde habitava uma tribo indígena. Seguiram para o Serrito, sítio do brasileiro Antônio de Barros Cardoso, que morava na Bolívia há cerca de 15 anos e recebeu a expedição com a maior afabilidade. Ele já havia ajudado anteriormente, no início da década de 1850, o explorador Lardner Gibbon (1820 – 1910), tenente da Marinha dos Estados Unidos. Ele acompanhou a expedição até Exaltacion de la Santa Cruz, na Bolívia, uma antiga missão dos jesuitas.

10 de setembro – Chegada a Exaltacion de la Santa Cruz, onde Franz foi recebido pelas autoridades bolivianas. Com o prefeito da cidade, A. Morant, conversou sobre a o engajamento de índios remeiros para integrar a expedição. A essa altura já havia sido feita a aquisição de canoas e mantimentos.

15 de outubro – Partida para o sítio do Serrito, onde permaneceram até dia 19 de outubro. O comboio era formado por cinco embarcações de diferentes tamanhos – uma galeota, duas ubás, uma montaria e uma igarité – com uma tripulação total de 32  remeiros.

21 de outubro – Chegada à barra do Mamoré, onde ficaram dois dias medindo o volume cúbico das águas dos rios Mamoré e Guaporé.

24 de outubro – Estavam nas Ilhas Cavalo Marinho onde iniciaram uma medição detalhada com o micrômetro. À noite, houve uma tempestade.

25 de outubro – Realização da exploração e sondagem do rio Guajará-Mirim.

27 de outubro –  Passaram o Salto das Bananeiras e, devido ao mau tempo, as embarcações chegaram a encostar e um rochedo. Alguns dos índios assim como um dos engenheiros da expedição tiveram uma febre intermitente e foram tratados com sulfato de quinino. Terá sido Franz o engenheiro já que se sabe que ele provavelmente contraiu malária durante a expedição? Fazia muito calor e à noite houve um temporal.

30 de outubro – Haviam chegado com a medição até a Cachoeira do Pao-Grande.

2 a 7 de novembro – Estavam na barra do rio Beni, onde entraram para realizar a medição de suas águas. Passaram pela Cachoeira do Madeira, pela passagem do Ribeirão, pelos Periquitos e pelas Araras. No dia 7, devido às chuvas, foram obrigados a parar e armar os toldos e as barracas.

8 de novembro – Chegada ao Paredão.

11 e 12 de novembro – Passaram por Três Irmãos e pelo Salto do Girão.

13 a 15 de novembro – Passaram pelo Caldeirão do Inferno e reencontraram os índios Carapunas. Encontram também outra tribo indígena. Uma das canoas da expedição quase naufragou.

16 de novembro – Passaram pela barra do Jassiparaná e chegaram, à tarde, à Cachoeira dos Morrinhos.

17 e 18 de novembro – Chegaram ao Salto do Theotônio.

19 e 20 de novembro – Passaram pela correnteza dos Macacos e pela Cachoeira de Santo Antônio.

21 de novembro – Chegada ao Crato, primeiro ponto onde se encontram alguns recursos. Deixaram com o comandante do destacamento de Santo Antônio uma das ubás para ser devolvida ao brasileiro Antônio de Barros Cardoso, a quem pertencia.

25 de novembro – Passaram o Manicoré e chegaram ao sítio de J. Arans, onde deixaram uma das embarcações e parte da tripulação. Seguiram viagem com três canoas. Na aldeia dos Muras fizeram uma medição do volume cúbico das águas do rio Madeira.

26 de novembro – Chegaram à vila de Borba.

30 de novembro – Chegada a Serpa. Remeteram as canoas ao major Damazo de Souza Barriga e deram conhecimento desse ato ao presidente da província.

Passaram em Manaus onde entregaram no depósito do trem bélico armamentos e utensílios. Encontraram-se com o presidente da província.

14 de dezembro – Chegada no Pará.

 

1969

4 de janeiro – Chegada ao Rio de Janeiro.

 

 

Andrea C.T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Acervo do IMS- Cartas de Georges Leuzinger

ANDRADE, Joaquim Marçal Ferreira de. A trajetória de Henrique Fleiuss, da Semana Ilustrada: subsídios para uma biografia. In: KNAUSS, Paulo et alli (org.) Revistas Ilustradas: modos de ler e ver no Segundo Reinado. Rio de Janeiro: MAUAD; FAPERJ, p.53-66, 2011.

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Dicionário de Verbetes AGCRJ

Enciclopédia Itaú Cultural

FERREZ, Gilberto. A fotografia no Brasil: 1840-1900. 2ª edição. Rio de Janeiro: FUNARTE, 1985.

FASOLATO, Jorge Douglas Alves. Estrada União e Indústria: paisagem, intervenção e fotografias de Revert Henry Klumb na perspectiva de uma rota cultural. Fundação Casa de Rui Barbosa Programa de Pós-Graduação em Memória e Acervos Mestrado Profissional em Memória e Acervos, 2020.

FONSECA, Dante Ribeiro da. A Madeira-Mamoré e a notícia biográfica de George Earl Church feita por Clements Markham. Gente de Opinião, 29 de outubro de 2019.

Biblioteca de jornais digitais da Biblioteca Nacional

KELLER-LEUZINGER, Franz. Os rios Amazonas e Madeira : esboços e descrições do caderno de um explorador . Londres: Chapman & Hall, 1874.

KELLER-LEUZINGER, Franz (1835-1890). Os Rios Amazonas e Madeira: esboços e relatos de um explorador / Franz Keller-Leuzinger; tradução, apresentação e notas de Adriano Gonçalves Feitosa – Belo Horizonte : Editora Dialética, 2021.

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PESSOA, Ana; SANTOS, Ana Lucia Vieira dos. Th. Marx, um arquiteto na corte de D. Pedro II. 3° Congresso Internacional de História da Construção Luso-Brasileira (CIHCLB), realizado em Salvador (BA) nos dias 3 a 6 de setembro de 2019

Relatório da exploração do rio Madeira na parte compreendida entre a cachoeira de Santo Antônio e a barra do Mamoré (Diário de Belém, 10 de outubro de 1869, última coluna; 12 de outubro de 1869, primeira coluna; 13 de outubro, terceira coluna; 14 de outubro de 1869, primeira coluna; 15 de outubro, segunda coluna; 16 de outubro de 1869, terceira coluna).

SENNA, Ernesto. O Velho Comércio do Rio de Janeiro. 2ª edição. Rio de Janeiro: G Ermakoff, 2006.

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Site Infoescola

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Stolberg-Wernigerode, Otto: New German Biography . Berlim: Editor Fritz Wagner, 1997.

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