O fotógrafo alemão Theodor Preising (1883 – 1962), “o viajante incansável”

Destacando imagens produzidas por Theodor Preising (1883 – 1962) do Rio de Janeiro, que se encontram no acervo fotográfico da Brasiliana Fotográfica, este artigo vai contar um pouco da trajetória deste fotógrafo alemão que chegou ao Brasil, em 1923, e, inicialmente, fixou-se no Guarujá e depois seguiu para São Paulo. Foi um dos pioneiros no país na utilização de câmeras pequenas como a Leica e a Contax. Viajante incansável, como o denominou Kariny Grativol em sua Dissertação de Mestrado, Preising com apurado senso estético e grande domínio técnico fotografou diversas regiões do Brasil e produziu álbuns e cartões postais voltados para o turismo.

Tinha um espírito aventureiro, próprio dos fotojornalistas. Considerava-se um repórter fotográfico tanto que se associou, em 1937, ao Sindicato de Jornalistas de São Paulo. Com a divulgação de seu trabalho fotográfico em publicações como a Revista S. Paulo, o jornal Brasil Novo e a revista Travel in Brazil, que visavam tanto ao público nacional como ao estrangeiro, Preising contribuiu para a formação de uma imagem do país. Trabalhou como fotógrafo no Touring Club do Brasil e também no Departamento de Imprensa e Propaganda de São Paulo. Ao final do artigo, está publicada uma cronologia do fotógrafo, a 66ª produzida pelo portal.

 

“Enfim, vejo no trabalho de Theodor Preising mais diversidade imagética e uma estética diferenciada, pois seu compromisso maior era produzir e distribuir uma fotografia que fosse encantadora e sintetizasse a cidade de São Paulo, mesmo que de forma fragmentada, para o cidadão, os visitantes e os turistas que por aqui passavam. Sua obra ainda permanece pouco conhecida, mas seus cartões postais e seus álbuns entraram para história da iconografia paulistana. Podemos ainda ampliar para todo o Brasil, já que Preising registrou diversas cidades brasileiras com a mesma intenção de sensibilizar o cidadão e o turista diante de tanta beleza natural e arquitetônica”.

Rubens Fernandes Jr, pesquisador, curador e crítico de fotografia

 Revista Zum, 16 de fevereiro de 2018

 

Encontram-se no acervo fotográfico da Brasiliana Fotográfica os seguintes registros produzidos por Theodor Preising: da Avenida Rio Branco, do Corcovado, do Pão de Açúcar, do Jardim Botânico, da Praia de Copacabana, além de belas vistas de paisagens cariocas. Há ainda uma fotografia da Basílica de São Bento, em São Paulo. Mais uma vez recomendamos que

 

 

Acessando o link para as fotografias de autoria de Theodor Preising disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas. 

 

 

 

 

 

 

Breve perfil do fotógrafo alemão Theodor Preising (1883 – 1962)

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Nascido em Hildeshein, na Alemanha, em 3 de janeiro de 1883, Theodor Preising era filho de Fridrich e Maria Preising. Seu interesse por fotografia e turismo surgiu a partir de viagens que fazia com seu pai, que era maquinista de trem. Em 1908, casou-se com Elizabeth Elfriede Koesewitz (1874 – 1956) com quem teve três filhos: Úrsula, Carlos Frederico e Sibylle.

 

 

Possuía um estabelecimento fotográfico na Alemanha , quando foi convocado para atuar como fotógrafo no front da Primeira Guerra Mundial. Em 1916, tornou-se proprietário de uma filial da empresa Samson & Co., em Berlim, rede que possuía estabelecimentos fotográficos na Alemanha e em outros países da Europa.

 

 

 

 

Para fugir do caos da Alemanha do pós-guerra, decidiu emigrar e foi, primeiramente, entre março e abril de 1923, para a Argentina Em dezembro do mesmo ano, aportou em Santos, no dia 23, a bordo do navio Cap Polônio.

Inicialmente, fixou no Guarujá e comercializava materiais fotográficos como as câmeras Zeiss Ikon e Agfa; além de cartões postais, no Grande Hotel. Produziu cartões postais até o início da Segunda Guerra Mundial, quando estrangeiros de países do Eixo foram proibidos de fotografar externamente as cidades.

Em 1924, ele se transferiu para São Paulo, onde se estabeleceu na Rua Augusto Tolle, 2, com sua família que já se encontrava Brasil. Seus filhos passaram a auxiliá-lo no laboratório que ele havia montado e onde ele editava e produzia seus próprios cartões postais e álbuns de fotografia. Os textos dos cartões postais eram escritos por sua filha, Sibile. Vendia suas imagens para papelarias e casas fotográficas, como a Fotóptica, fundada pelo pai do fotógrafo Thomaz Farkas (1924 – 2011). Registrou a chegada de imigrantes à cidade, seu carnaval de rua, o dia a dia dos cafezais no interior do estado e a vida praiana de cidades litorâneas como o já mencionado Guarujá e Santos.

Em 11 de março 1927, abriu seu ateliê em São Paulo, na Rua Voluntários da Pátria, nº506, em Santana, na zona norte da cidade (Almanak Laemmert, 1931, segunda coluna).

Preising expôs, na Casa Rosenhain, na Rua de São Bento, álbuns e folhinhas com aspectos da vida paulista, principalmente (Correio Paulistano, 10 de outubro de 1928, terceira coluna).

 

Entre 1928 e 1940, realizou diversos trabalhos fotográficos para a Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo, registrando fazendas no interior do Estado.

 

Theodor Preising. Imigrante na colheita do café, c. 1940 / Publicado na Revista Zum, de 27 de fevereiro de 2018

Theodor Preising. Imigrante na colheita do café, c. 1940 / Publicado na Revista Zum, de 27 de fevereiro de 2018

 

Na década de 1930, colaborou com o jornal O Estado de São Paulo, que então publicava um suplemento em rotogravura.

Em 1930, uma fotografia da Rua XV de Novembro de sua autoria foi publicada no artigo Gigantic Brazil and its Glittering Capital, na edição de julho/dezembro da National Geographic Magazine.

 

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National Geographic Magazine, julho/dezembro de 1930

 

Em 1930, voltou a expor na Casa Rosenhein. Referido como o proprietário da Photo Rotativo de São Paulo, foi elogiado seu amor e admiração pela natureza americana e suas fotos das cataratas do Iguaçu foram consideradas empolgantes (A Gazeta (SP), 20 de novembro de 1930, primeira coluna).

 

 

É de 1930 o registro abaixo de autoria de Preising, Chegada de imigrantes asiáticos.

 

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Theodor Preising. Chegada de imigrantes asiáticos, 1930. Santos, São Paulo / Publicado na Revista Zum, 16 de fevereiro de 2018

 

Entre esse ano e 1931, documentou a colonização de Londrina, no Paraná, contratado pela Companhia Terras Norte do Paraná. Em 1933, esteve no Paraná fotografando vários aspectos do estado (O Dia (PR), 5 de maio de 1933, última coluna). Ainda neste ano, seis fotografias de sua autoria foram mostradas na A Capital de S. Paulo, publicação distribuída pela Secretaria de Agricultura.

 

“Propaganda pelo turismo para o Brasil”

Slogan escrito em seus álbuns de fotografia

 

Em 1934, a bordo do navio Almirante Jaceguai, participou do Segundo Cruzeiro Econômico Turístico do Touring Club do Brasil, empresa para a qual então trabalhava. Produziu, além de registros dos sócios do Touring durante a viagem, uma grande documentação fotográfica, a partir de viagens para o Norte e para o Nordeste (Diário da Manhã (PE), 16 de maio de 1934, quinta colunaDiário de Pernambuco, 20 de maio de 1934, penúltima coluna).

Ele e o fotógrafo Benedito Junqueira Duarte, conhecido como B.J. Duarte (1910 – 1995), pseudônimo Vamp, eram os fotógrafos da Revista S. Paulo. Segundo Junqueira, apesar de Preising ser bem mais velho que ele, tinha um espírito de moço e uma agilidade profissional de adolescente. A publicação mensal foi lançada em 31 de dezembro de 1935 e fazia propaganda do governo de Armando de Sales Oliveira (1887 – 1945), em São Paulo. Seu projeto gráfico articulava imagem e texto de modo inovador. Foi a primeira revista paulistana a ser feita em rotogravura, o que conferia uma maior qualidade à reprodução dos registros fotográficos. A publicação privilegiava a imagem sobre o texto. (Correio Paulistano, 1º de janeiro de 1936, quarta coluna; O Estado de São Paulo, 18 de março de 1978, segunda coluna).

 

 

Era dirigida por Cassiano Ricardo (1895 – 1974), Leven Vampré (c. 1891 – 1956) e Menotti Del Picchia (1892 – 1988). Os livros de memórias de Cassiano, Menotti e Benedito mencionam a presença de Livio Abramo (1903-1992) como ilustrador da revista. Apenas o primeiro, identifica-o como “mestre da gravura, da fotomontagem e das estatísticas ilustradas a rigor…” (A revista S.PAULO: a cidade nas bancas por Ricardo Mendes). A revista S. Paulo circulou em 1936: sua periodicidade foi mensal até o oitavo número, passando a ser bimestral nos dois últimos. Neste mesmo ano, ele entrou com o pedido de sua naturalização como brasileiro.

 

 

 

Links para todas as edições da Revista S. Paulo (1936):

Janeiro / Fevereiro / Março / Abril / Maio / Junho / Julho / Agosto / Setembro e Outubro / Novembro e Dezembro

Neste ano, fotografou o carnaval de rua paulistano e um zeppelin que sobrevoou São Paulo,o dirigível Hindenburg .

 

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Theodor Preising. Carnaval na Av. São João, 1936. São Paulo, SP / Publicado na Revista Zum, 16 de fevereiro de 2018

 

O Estado de São Paulo, 26 de janeiro de 2018

Theodor Preising. Passeio do dirigível Hindenburg pelo centro de São Paulo, 1936. São Paulo, SP / Foto publicada em O Estado de São Paulo, 26 de janeiro de 2018

 

Em 1937, aderiu ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo e enviou uma solicitação para que seu nome passasse a constar do quadro social da entidade (Correio Paulistano, 14 de maio de 1937, quinta coluna).

 

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Carteira do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo de Theodor Preising, matrícula 162 / Publicada em O Viajante incansável – trajetória e obra fotográfica de Theodor Preising

 

Também neste ano, expôs fotografias no Pavilhão Brasileiro, na Exposição Universal de Paris de 1937, realizada entre 25 de maio e 25 de novembro de 1937. Contou com a participação de 44 países e foi visitada por cerca de 31 milhões de pessoas.

No ano seguinte, em setembro de 1938, a Bolsa de Mercadorias de São Paulo realizou uma exposição sobre a cultura do algodão com imagens produzidas por ele. As fotos expostas foram publicadas em um número especial do Suplemento em Rotogravura do jornal, em março de 1939.

 

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O Estado de São Paulo, 6 de setembro de 1938

 

Em 6 de novembro de 1938, entrou para o serviço público tendo sido nomeado fotógrafo do Departamento de Propaganda e Publicidade (DPP), criado pouco antes como Serviço de Publicidade e Propaganda do Estado de São Paulo, dirigido por Menotti del Picchia.

Em 1939, Preising mudou-se com a família para a Rua Cedro, em Jabaquara, vizinho do amigo Benedito Junqueira Duarte, e passou a trabalhar na revista Brasil Novo, criada por Cassiano Ricardo e lançada em 1º de junho do mesmo ano. Também em 1939, aproximadamente 20 fotografias de sua autoria foram publicadas no livro Travel in Brazil, Brazilian representation New York’s World Fair, lançada durante a Feira Mundial de Nova York, que tinha o tema Construindo o mundo de amanhã. O pavilhão brasileiro foi projetado pelos arquitetos Oscar Niemeyer (1907 – 2012) e Lúcio Costa (1902 – 1998). Preising foi um dos fotógrafos cujas obras foram expostas em fotomurais do Departamento Nacional do Café e numa mostra de paisagens brasileiras ao lado de registros realizados por Erich Hess (1911 – 1995), Fernando Guerra Duval  (18? – 1959), Max Rosenfeld (? – 1962), Paulino Botelho (1879 – 1948), Renato G. Palmeira (? -?) e pelo Studio Rembrandt. Por sua participação Preising recebeu um diploma conferido pela direção do evento entregue pela Secretaria de Governo de São Paulo (Correio Paulistano, 3 de novembro de 1940, quinta coluna).

Ainda em 1939, foi criado do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) e, pouco depois, cada estado possuía um Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda (DEIP). Em São Paulo, o DEIP incorporou o Departamento de Publicidade e Propaganda, onde Preising trabalhava. Ele atuou na Divisão de Turismo e Diversões Públicas e na Divisão de Divulgação para o serviço de reportagem da Agência Nacional.

Em 1940, produziu esse belo registro do Parque do Anhangabaú e do Viaduto do Chá.

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Theodor Preising. Parque Anhangabaú e o novo Viaduto do Chá, 1940. São Paulo, SP / Publicado na Revista Zum, 27 de fevereiro de 2018

Naturalizou-se brasileiro em janeiro de 1941. Certamente o fato de ser um servidor público e o envio de uma carta de Menotti del Picchia, em papel timbrado da Diretoria de Propaganda e Publicidade do Palácio do Governo de São Paulo , a qual dirigia na ocasião, ao ministro da Justiça e Negócios Interiores, Francisco Campos (1891 – 1968), em 5 de agosto de 1939, influenciaram na obtenção de sua naturalização (A Batalha, 7 de janeiro de 1941, penúltima coluna).

“Tenho a honra de enviar a Vossa Excelência, para os devido fins, o requerimento em que THEODOR PREISING, de nacionalidade alemã, fotógrafo desta Diretoria de Propaganda e Publicidade do Palácio do Governo de São Paulo, nomeado por ato de 6 de Novembro de 1938, solicita de Vossa Excelência a sua naturalização como cidadão brasileiro, nos termos do artigo 40, parágrafo 3º, do Decreto-lei 1.202, de 8 de Abril de 1939 e de conformidade com a portaria 2.108, de 6 de Julho último, desse Ministério.

Peço vênia a Vossa Excelência para esclarecer que o interessado já tem o seu pedido de naturalização encaminhado a esse Ministério, desde 1936.

Com as minhas expressões de respeito e simpatia, subscrevo-me de Vossa Excelência, admirador obrdo.

Menotti del Picchia

DIRETOR”

Entre 1941 e 1942, diversas fotos de sua autoria foram publicadas na revista Travel in Brazil. 

 

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Revista Travel in Brazil, 1941, volume 1 do Ano I

Na primeira edição da revista, em janeiro de 1941, publicação de foto de Preising no artigo Brazil, this wonderful land, de Cecília Meirelles (1901 – 1964).

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Brazil Travels, janeiro de 1941 / Foto de Preising

Na segunda edição, de fevereiro de 1941, publicação de fotos nos artigos The jewel of plant life: the orchid e Curitiba and the Paraná railway.

 

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Brazil Travels, fevereiro de 1941 / Fotos de Preising

 

Brazil Travels, fevereiro de 1941 / Fotos de Preising

 

Brazil Travels, fevereiro de 1941 / Fotos de Preising

Brazil Travels, fevereiro de 1941 / Fotos de Preising

 

Na edição de março de 1941, registros realizados por ele foram publicados no artigo São Paulo:  city of tourists, de Menotti del Picchia (1892 – 1988) e Petrópolis: summer capital of Brazil, de Vera Kelsey (1892 – 1961); na edição de abril de 1941, 11 fotos no artigo Ouro Preto: the old Villa Rica, de Manoel Bandeira (1886 – 1968); e, na edição de janeiro de 1942, as fotos do artigo Poços de Caldas  Wings over Brazil, de Henry Albert Phillips (1880 – 1951). A revista era publicada mensalmente e editada pelo Departamento de Imprensa e Propaganda do Rio de Janeiro.

Em 6 fevereiro de 1942, esteve presente ao enterro da mãe de Cassiano Ricardo (1895 – 1974), realizado no Rio de Janeiro (A Manhã, 7 de fevereiro de 1942, penúltima coluna). Em torno deste ano, associou-se ao Foto Cine Clube Bandeirante (FCCB) – fundado em 1939 e celeiro da fotografia moderna no Brasil – e participou de vários Salões de Fotografia, nacionais e internacionais.

Em 1943, sua fotografia Força da Natureza, ganhou, na categoria Paisagem, o 4º prêmio no II Salão Paulista de Arte Fotográfica do Foto Clube Bandeirante. O fotógrafo Thomas Farkas (1924 – 2011) ganhou o primeiro lugar na categoria Arquitetura e recebeu um menção honrosa na categoria Composição. Preising foi o organizador, pelo Departamento Estadual de Imprensa e Publicidade, de  um estande de fotografias documentais do progresso de São Paulo, em um anexo ao Salão (Correio Paulistano, 31 de agosto de 1943, primeira coluna; Correio Paulistano, 28 de setembro de 1943, terceira coluna).

 

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Ainda em 1943,  participou de uma exposição na Galeria Prestes Maia com as fotos Força da NaturezaRefúgio das Almas, Silêncio, Sombra e Luz e Vida do Mar. Esta última representou o Foto Clube Bandeirante no Salão de Londres em 1944. Também em 1944, fotos de sua autoria foram publicadas na Revista Industrial de São Paulo, dirigida por Honório de Sylos (1901 – 1993) e no Observador Econômico e Financeiro do Rio de Janeiro – registros de São Paulo, do porto de Santos, de cafezal, de agricultora e de bambuzal (Observador Econômico e Financeiro, janeiro de 1944 , janeiro de 1944, maio de 1944, maio de 1944, junho de 1944, junho de 1944, junho de 1944).

Em 1945, com o fim do Estado Novo o DEIP passou a chamar-se Departamento Estadual de Informações (DEI) e a a Divisão de Turismo e Diversões Públicas passou a chamar-se Divisão de Turismo e Expansão Social. A Divisão de Divulgação manteve o nome.

Preising participou do IV Salão Paulista de Arte Fotográfica do Foto Clube Bandeirante, realizado entre novembro e dezembro de 1945, na Galeria Prestes Maia – primeira edição internacional -, com seis fotografias: Bicho de Seda, Contra Luz, Faíscas, Fornalha, Metal Líquido e Tropical. Seu ensaio fotográfico Jabaquara, com sete imagens, ficou entre os finalistas do 2º Prêmio Anchieta. (Correio Paulistano, 10 de outubro de 1945, quinta coluna).

Na publicação São Paulo, realizada pelo DEI, em 1946, fotos de sua autoria não creditadas foram publicadas.

Em 1946 e 1947, respectivamente, suas fotografias Silêncio, Sombra e LuzMinha Terra tem Palmeiras representaram o FCCB. A primeira no V Salão de Santa Fé, na Argentina; e a segunda, no VI Salão de Barcelona, na Espanha.

No livro Gente e Terra do Brasil, documentário fotográfico organizado pelo livreiro austríaco naturalizado brasileiro Erich Eichner (1906 – 1974), quinto volume da Coleção de Temas Brasileiros da Livraria Kosmos Editora, lançado, provavelmente, em 1947, com síntese histórica e econômica de John Knox (? – ?) e prefácio do jornalista, político, professor e pesquisador Carlos Rizzini (1898 – 1972), das 128 imagens publicadas, 30 eram de autoria de Preising. Havia também fotos de Carlos Moskovics (1916 – 1988), Erich Hess (1911 – 1995), Hans Gunter Flieg (1923-), Hildegard Rosenthal (1913 – 1990), José Medeiros (1921 – 1990), Peter Scheier (1908 – 1979) e Thomaz Farkas (1924 – 2011), dentre outros. Algumas imagens eram provenientes do arquivo da Panair. O livro era traduzido para o inglês, francês e espanhol (Correio da Manhã, 2 de dezembro de 1947, quinta coluna).

 

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Foram de sua autoria as fotografias dos cadernos de turismo sobre Campos do Jordão, de 1947, e sobre Itanhaem, de 1948, produzidos por intermédio da Divisão de Turismo e Expansão Cultural do Departamento de Imprensa e Propaganda de São Paulo. Os textos eram do jornalista e folclorista Helio Damante (1919 – 2002 ) e as ilustrações de Aldemir Martins (1922 – 2006), no de Campos do Jordão;  de Tarsila do Amaral (1883 – 1976), no de Itanhaem (Jornal de Notícias, 12 de novembro de 1947, quinta coluna). A reprodução desses dois álbuns está publicada entre as páginas 133 e 144 da dissertação Viajante Incansável – trajetória e obra fotográfica de Theodor Preising, de c.

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Em 1948, o DEI foi extinto e ele passou a ser o fotógrafo titular da Secretaria Estadual dos Negócios do Governo de São Paulo. Em torno deste ano começou a tirar licenças médicas devido ao Mal de Parkinson, que deu seus primeiros sinais em torno de 1945.

Foi nomeado, em maio de 1949, para trabalhar no Laboratório de Polícia Técnica da Secretaria de Estado dos Negócios da Segurança Pública. Ainda neste ano foi trabalhar como fotógrafo do Departamento de Cultura e Ação Social da Reitoria da Universidade de São Paulo. Aposentou-se do serviço público estadual em 1954.

Nos álbuns de fotografias Isto é o Rio de Janeiro Isto é a Bahia, ambos da Editora Melhoramentos e publicados em 1955, com textos em inglês, francês, português, italiano e alemão, fotos de sua autoria assim como de Alice Brill (1920 – 2013), dentre outros, foram publicadas (O Estado de São Paulo, 17 de julho de 1955; Diário de Notícias, 11 de agosto de 1955, segunda coluna).

 

O Estado de São Paulo, 17 de julho de 1955

O Estado de São Paulo, 17 de julho de 1955

 

Faleceu em 24 de julho de 1962, em sua casa, em São Paulo.

Em 2003, fotografias de sua autoria foram publicadas no livro Rio de Janeiro 1900 – 1930: uma crônica fotográfica, de George Ermakoff, G. Ermakoff Casa Editorial, Rio de Janeiro.

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No ano seguinte, integrou a exposição São Paulo 450 anos: a imagem e a memória da cidade no acervo do Instituto Moreira Salles, realizada entre 23 de janeiro e 27 de junho de 2004, no Centro Cultural da Fiesp, em São Paulo, e teve fotos de sua autoria publicadas no Cadernos de Fotografia Brasileira São Paulo 450 anos, editado pelo IMS.

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Também em 2004, integrou a Coleção Pirelli-Masp de Fotografia, 13˚ edição, com sete fotografias, que foram incorporadas ao Acervo do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, o Masp (O Estado de São Paulo, 16 de novembro de 2004).

Em Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, em 2008, realização da exposição individual Uruguaiana de 1932 de Theodor Preising, no Centro Cultural Dr. Pedro Marini, com a curadoria de Douglas Aptekmann, seu bisneto.

Em 2010, no Museu Afro Brasil, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, com curadoria de Emanoel Araújo (1940 – 2022), realização da exposição São Paulo, Terra, Alma e Memória com fotos de Preising e de Guilherme Gaesnly (1843 – 1928) em comemoração ao aniversário de São Paulo (O Estado de São Paulo, 19 de março de 2010).

Em 2011, foi o tema da Dissertação de Mestrado Viajante Incansável – trajetória e obra fotográfica de Theodor Preising, de Kariny Grativol, orientada pelo professor Boris Kossoy, na Universidade de São Paulo. Voltou, em 2016, a ser tema de uma Dissertação de Mestrado realizada na USP, Fotografia Profissional, arquivo e circulação: a produção de Theodor Preising em São Paulo (1920 – 1940), de Eric Danzi Lemos, orientado pela professora Solange Ferraz de Lima. Estes trabalhos foram importantes fontes de pesquisa para a elaboração deste artigo.

Entre 8 de outubro de 2011 e 11 de março de 2012, foi um dos fotógrafos cujos trabalhos foram exibidos na exposição Percursos e Afetos. Fotografias 1928-2011 – Coleção Rubens Fernandes Junior, na Pinacoteca do Estado de São Paulo, com a curadoria de Diógenes Moura (19?-).

No Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, em 2012, Preising foi um dos integrantes da exposição coletiva Um olhar sobre o Brasil a fotografia na construção da imagem da Nação 1833-2003 com curadoria de Boris Kossoy (1941-) e Lilia Schwarcz (1957-). Uma foto de sua autoria foi publicada no livro homônimo, editado pela Fundación Mafre, de Madrid; e pela Objetiva, do Rio de Janeiro.

 

 

Com curadoria de Paulo Herkenhoff, realização, na OCA, em São Paulo, da exposição Modos de ver o Brasil: Itaú Cultural 30 anos, entre 25 de maio e 13 de agosto de 2017, com a participação de Preising. Outros conjuntos de fotografias expostos foram de Claudio Edinger (1952-), Cristiano Mascaro (1944-) e German Lorca (1922 – 2021). Também neste ano, fotos de sua autoria foram publicadas no livro História do Brasil em 100 fotografias, organizado por Ana Cecília Impellizieri (1978-) e editado pela Bazar do Tempo.

Entre 25 de janeiro e 25 de março de 2018, realização da exposição São Paulo: sinfonia de uma metrópole, com fotos de Theodor Preising, na Galeria de Fotos do Centro Cultural da Fiesp, sob a curadoria de Rubens Fernandes Jr. (1949-). O título da exposição é homônimo ao documentário dos húngaros Adalberto Kemeny (1901 – 1969) e Rudolf Lustig (1901 – 1970), de 1929, exibido durante a mostra, sobre o processo de modernização da paisagem social e urbana da capital paulistana, que tem como referência o filme Berlim – sinfonia da metrópole (1927), de Walter Ruttman (1887 – 1941) (O Estado de São Paulo, 26 de janeiro de 2018).

Em 2021, realização de duas exposições em torno da obra de Preising, ambas curadas por Rubens Fernandes Junior: entre 27 de julho e 28 de agosto, Theodor Preising Um Olhar Moderno – São Paulo, na Unibes Cultural, em São Paulo; entre 14 de agosto e 19 de setembro, Theodor Preising Um Olhar Moderno – Santos, na Pinacoteca Benedito Calixto, em Santos.

A parte mais importante da obra de Preising, cerca de 15 mil fotografias, encontra-se sob a guarda de seu bisneto Douglas Aptekmann e Lucia Aptekmann. Um levantamento preliminar deste acervo está publicado na dissertação Viajante Incansável – trajetória e obra fotográfica de Theodor Preising, de Kariny Grativol, entre as páginas 120 e 126.

Há também fotos de sua autoria nos acervos do Museu Paulista da Universidade de São Paulo, no Museu do Café, em Santos; em arquivos públicos de Cambé e Londrina, no Paraná, e Ribeirão Preto, em São Paulo; no Masp, e na Biblioteca Nacional, no Instituto Moreira Salles e na FGV CPDOC, no Rio de Janeiro.
Acesse aqui a Cronologia de Theodor Preising (1883 – 1962).

 

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Preising no Guarujá / Viajante Incansável – trajetória e obra fotográfica de Theodor Preising

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Fontes:

Enciclopédia Itaú Cultural

FERNANDES JR, Rubens. Rubens Fernandes Jr, curador da exposição São Paulo: Sinfonia de uma metrópole, comenta a obra do fotógrafo Theodor PreisingRevista Zum, 27 de fevereiro de 2018.

GRATIVOL, Kariny. Viajante Incansável – trajetória e obra fotográfica de Theodor Preising. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

MENDES, Ricardo .A revista S. Paulo: a cidade nas bancas. IMAGENS, Unicamp, dezembro de 1994 (a partir de trabalho apresentado no V Congresso Brasileiro de História da Arte, 1993).

LEMOS, Eric Danzi. Fotografia profissional, arquivo e circulação: a produção de Theodor Preising em São Paulo (1920-1940). 2016. Dissertação (Mestrado) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016.

O Estado de São Paulo

Site Theodor Preising

No Dia dos Namorados, o álbum “Vistas de Petrópolis” e o fotógrafo alemão Pedro Hees (1841-1880)

No Dia dos Namorados, a Brasiliana Fotográfica traz para seus leitores imagens da bela e romântica Petrópolis, a cidade imperial. Nos últimos anos da década de 1860, o alemão Phillip Peter Hees, que ficou conhecido como Pedro Hees (1841 – 1880), produziu o álbum Vistas de Petrópolis, que pertence à Coleção Thereza Christina, da Biblioteca Nacional, uma das instituições fundadoras do portal. O álbum possui 15 fotografias em papel albuminado que mostram aspectos da cidade, sua ocupação e registros de suas construções e natureza. São fotos do Palácio Imperial, da Igreja da Matriz, do cemitério, da Cascata do Itamaraty, da Cascatinha do Retiro e de diversas ruas, dentre elas a rua do Imperador, que foi o tema do segundo artigo da série Avenidas e ruas do Brasil, publicada pelo portal.

 

 

Acessando o link para as fotografias do álbum Vistas de Petrópolis, de autoria de Pedro Hees disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

É de sua autoria um retrato do imperador Pedro II (1825 – 1891), destacado abaixo, que não faz parte do álbum.

 

 

Mas as belezas de Petrópolis também foram retratadas por outros importantes fotógrafos do sécculo XIX.

Entre 1864 e 1865 foi residir na cidade o francês Revert Henrique Klumb ( c.1826 – c.1886), na rua dos Artistas. Ele havia sido agraciado com o título de Fotógrafo da Casa Imperial, em 1861. Fotografou ruas como a do Imperador, a Tereza e a Joinville; o interior e o exterior do Palácio Imperial, os hotéis Beresford, Brangança e Inglês, o Retiro da Cascatinha, o rio Quitandinha, palacetes e casas, a princesa Isabel (1846 – 1921) e o conde D´Eu (1842 – 1922), além de vistas gerais.  Também fotografou a paisagem urbana de Petrópolis, acrescentando efeitos noturnos, uma importante inovação. Essa série é considerada extremamente significativa do ponto de vista estético, formal e dos limites da linguagem na época. Foi o autor do livro Doze horas em diligência. Guia do viajante de Petrópolis a Juiz de Fora, publicado em 1872, única obra do Brasil do século XIX a ser idealizada, fotografada, escrita e publicada por uma só pessoa. Foi o primeiro livro de fotografia inteiramente litografado e produzido no país. Pedro Hees era considerado seu maior concorrente.

 

 

Ainda em Petrópolis, foram contemporâneos de Klumb e de Hees, na década de 1860, João Meyer Filho e João Nogueira de Sousa (Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1865, segunda coluna).

O fotógrafo e editor suíço Georges Leuzinger (1813 – 1892) também retratou Petrópolis. Em 1865, foi aberto o ateliê de fotografia da Casa Leuzinger, no Rio de Janeiro, especializado em “vistas da cidade, Tijuca, Petrópolis, Teresópolis e rio Amazonas”, como se lê no verso de uma de suas cartes de visite.

Em 1865 montou então Georges Leuzinger um completo ateliê fotográfico, com todos os aparelhos necessários para viagens para o interior do Brasil, tendo para esse fim contratado um habilíssimo artista fotógrafo para dirigi-lo, que em companhia de vários auxiliares fizeram excursões por essa capital, Petrópolis, Teresópolis, etc., tirando fotografias de tudo o que de mais interessante se encontra na pujante natureza daquelas belíssimas regiões“.

Ernesto Senna em O Velho Comércio do Rio de Janeiro

 

 

Outro importante fotógrafo que realizou registros de Petrópolis foi Augusto Stahl (1828 – 1877), também agraciado com o título de Fotógrafo da Casa Imperial, em 21 de abril de 1862. Entre 1863 e 1870, seu estabelecimento fotográfico ficava no Rio de Janeiro.

 

 

Lembramos que, em torno de 1885, o brasileiro e filho de franceses Marc Ferrez (1843 – 1923) realizou o Álbum Vistas de Petrópolis e Rio de Janeiro, com 30 imagens de Petrópolis seus canais, casarões, escolas, estação de trem, fábricas, jardins, paisagens, palacetes e ruas, além de imagens do Palácio de Cristal, do Palácio do Grão-Pará, da avenida Koeller e da construção de uma ferrovia.

 

 

 Breve perfil de Pedro Hees (1841 – 1880)

 

Nascido na região de Hunsruek, na Alemanha, em 1841, Pedro Hees chegou em Petrópolis com 4 anos de idade, em 1845, com sua mãe, Anne Catharine Michel, e com seu pai, o colono alemão Christian Sebastian Hees, marceneiro e entalhador, que trabalhou na construção do Palácio Imperial da cidade, iniciada em 1845 e concluída em 1862. Eles integraram a primeira leva de colonos alemães que chegaram a Petrópolis.

 

 

Pedro casou-se com a alemã Maria Glasow Hees (1843 – 1928), em 22 de janeiro de 1861, e tiveram 11 filhos: Ana Catarina Hees (1861-1944), Edmundo Frederico Nicolau Hees (1862-1944), Fernando Jacob Hees (1865-1866), Fernando Mauricio Hees (1867-1893), João Batista Hees (1868-1876), Otto Hees (1870-1941), Elisa Matilde Hees (1872-1932), Maria Olga Hees (1872-1958), Joana Teresa Hees (1874-1900), Numa Augusto Hees (1877-1961) e Isabel Emma Hees (1878-1943). No site Sou Petrópolis há uma foto de Maria, realizada em 12 de setembro de 1915, com 27 netos (A Noite, 23 de junho de 1922, quarta colunaSou Petrópolis e Geneanet).

 

 

Antes de se interessar por fotografia, o que aconteceu em meados da década de 1860, Pedro trabalhou no comércio como sapateiro, na rua do Bourbon e na rua dom Affonso. Ambas foram fotografadas por ele e fazem parte do álbum Vistas de Petrópolis (Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1962, primeira coluna; Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1964, segunda coluna; Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1965, segunda coluna). Na mesma rua dom Afonso, passou a ter uma ferraria, em 1866 (Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1866, segunda coluna).

 

 

 

 

Em 1868,  já possuía um estúdio fotográfico, a Photographia Popular, na Praça Dom Afonso, atual Praça da Liberdade, que tornou-se bastante conhecido e era frequentado pela nobreza, por políticos, diplomatas e também por comerciantes e artesãos imigrantes. Petrópolis era, na época, muito frequentada pela família imperial (Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1868, segunda coluna).

 

 

Em 1870, Pedro Hees era o secretário da Sociedade Alemã de Beneficência Bruderbund (Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1868, segunda coluna).

Em março de 1876, faleceu seu filho João Baptista Numa Hees, aos 7 anos, de pleuro-pneumonia (O Mercantil, 29 de março de 1876, terceira coluna). Em 16 de agosto do mesmo ano, tornou-se Fotógrafo da Casa Imperial. Segundo Boris Kossoy, recebeu do conde e da condessa d´Eu “a graça de usar o título de Photographo de sua Imperial Caza e de collocar na porta do seu estabelecimemnto as respectivas armas”. O documento foi assinado por Benedicto Torres, mordomo do conde d’Eu e da princesa Isabel.

Faleceu jovem, aos 39 anos, de entero-mezenterite (O Mercantil, 14 de agosto de 1880, última coluna). Seu estabelecimento fotográfico foi arrendado ao fotógrafo Antonio Henrique da Silva Heitor (18?-?), que, posteriormente, recebeu o título de Fotógrafo da Casa Imperial em 2 de março de 1885, outorgado por dom Pedro II. Sob o nome de Hees & Irmãos, o estúdio foi assumido pelos filhos de Pedro Hees – Numa Augusto  e Otto -, em torno de 1890. Existiu até 1915. Otto foi o autor de uma importante fotografia que tudo indica ter sido o último registro da família imperial antes da proclamação da República, em 15 de novembro de 1889. Também fotografou a assinatura do Tratado de Petrópolis, na residência do Barão do Rio Branco, em 1903; e os netos de Pedro II.

 

 

 Acesse aqui a Cronologia de Pedro Hees (1841 – 1880).

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

CARMONA, João Sêco. Iconografia do Brasil Imperial. Génese do Museu Imperial de Petrópolis e os registos fotográficos. Anais do 5º Seminário Internacional Museografia e Arquitetura de Museus Fotografia e Memória, 2016.

Enciclopédia Itaú Cultural

FERREZ, Gilberto. A fotografia no Brasil: 1840- 1900. Prefácio Pedro Karp Vasquez. 2. ed. Rio de Janeiro: Funarte, 1985.

FERREZ, Gilberto. Um passeio a Petrópolis em companhia do fotógrafo Marc Ferrez. Separata do Anuário do Museu Imperial – 1948.

Google Arts & Culture

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002.

LAGO, Bia Corrêa do. Os fotógrafos do Império: a fotografia brasileira no Século XIX. Rio de Janeiro: Capivara, 2005.

Site Geneanet

Site Library of Congress

Site Museu Imperial de Petrópolis

Tribuna de Petrópolis, 1º de julho de 2016

VASQUEZ, Pedro Karp. Dom Pedro II e a fotografia no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Roberto Marinho, 1985.

Wikipedia

 

Outras publicações da Brasiliana Fotográfica no Dia dos Namorados:

Fotografia e namoro, de autoria de Elvia Bezerra, publicado, em 12 de junho de 2018 .

Série “O Rio de Janeiro desaparecido” X – No Dia dos Namorados, um pouco da história do Pavilhão Mourisco em Botafogo, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 12 de junho de 2020.

 

O fotógrafo, desenhista e engenheiro alemão Franz Keller-Leuzinger (1835 – 1890)

 

Franz Keller-Leuzinger /  Xilogravura de Adolf Cloß publicada no livro , em 1874

Franz Keller-Leuzinger / Xilogravura de Adolf Cloß publicada no livro Do Amazonas ao Madeira, em 1874

O  engenheiro, fotógrafo e desenhista alemão Franz (Francisco) Keller-Leuzinger nasceu em Mannhein, em 30 de agosto de 1835, e foi um dos primeiros viajantes estrangeiros a documentar a região amazônica. Chegou ao Rio de Janeiro com seu pai, o também engenheiro Joseph (José) Keller (1811 – 1877), em 27 de dezembro de 1855, vindos do Havre, na galera francesa Dom Pedro II. 

Ao longo da década de 60, Franz acompanhou o pai em levantamentos do rio Paraná, na região entre Campo Belo e Barra do Piraí; dos vales do rio Paraíba e Pomba, dos rios Iguaçu, Paranapanema e Tibagi. Dessas investigações resultaram relatórios publicados pelo Ministério da Agricultura (Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1865O Cearense, 2 de dezembro de 1865, terceira colunaDezenove de Dezembro, 20 de dezembro de 1865, última coluna). Nessas expedições, como na que participou à Amazônia, em 1867, Franz registrava em notas, desenhos e aquarelas, vistas locais da fauna e flora, aspectos arqueológicos e etnográficos das regiões por onde passava.

Em junho de 1867, ele e seu pai estudavam mapas e planos da expedição ao Paraná quando foram comissionados pelo Ministério da Agricultura, Comércio e Obras para explorar os rios Amazonas e Madeira para sondar a possibilidade da construção de uma ferrovia, a Madeira-Mamoré, costeando suas margens para contornar corredeiras que tornavam impossível a navegação a vapor em parte dos rios. A comissão da expedição pelo governo imperial foi motivada pela abertura da navegação do rio Amazonas para as nações estrangeiras, estabelecido pelo Decreto Imperial nº 3749 ,de 7 de dezembro de 1866, e pelo novo acordo sobre fronteiras e comércio com a Bolívia firmado, em 27 de março de 1867, pelo diplomata pernambucano, o Conselheiro Felipe Lopez Netto (1814 – 1895) (Publicação do Governo do Amazonas, 24 de agosto de 1868Jornal do Commercio, 15 de julho de 1872, quinta coluna).

Franz e Joseph embarcaram no Rio de Janeiro rumo ao Pará, em 15 de novembro de 1867, no paquete Paraná. O fotógrafo Christoph Albert Frisch (1840 – 1918), comissionado por seu patrão, o fotógrafo e editor suíço Georges Leuzinger (1813 – 1892), acompanhou a expedição até Manaus, levando um escravizado. Também estavam no navio a esposa de Franz, Sabine Christine Leuzinger (1842-1915), e sua irmã, Pauline.  Sabine era a filha primogênita de Leuzinger (Diário do Povo, de 15 de novembro de 1867, primeira coluna). Algumas fontes informam que Franz teria, em meados da década de 60, assumido a seção de fotografia da empresa de seu sogro, criada em 1865, e que teria, inclusive, ensinado a Marc Ferrez (1843 – 1923) a arte da fotografia. Porém, a participação de Franz Keller no ateliê fotográfico de Leuzinger é questionável e, na verdade, até hoje não foi comprovada. Lembramos que na década de 1860, como já mencionado, Franz fez diversas viagens pelo Brasil com seu pai, explorando rios do país sob contrato do governo imperial, o que tornaria difícil a possibilidade dele dirigir o estabelecimento fotográfico de seu sogro.

Voltando à expedição amazônica. Frisch acompanhou os engenheiros somente até Manaus e permaneceu na Amazônia até novembro de 1868, tendo realizado, no período, a impressionante e pioneira série de 98 fotografias na Amazônia: foram os primeiros registros que chegaram até nós de índios brasileiros da região, além de aspectos da fauna e da flora e de barqueiros de origem boliviana que atuavam como comerciantes itinerantes nos rios amazônicos. Esse trabalho começou a ser comercializado a partir de um catálogo publicado pela Casa Leuzinger, Resultat d’une expédition phographique sur le Solimões ou Alto Amazonas et Rio Negro.

 

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Acervo FBN

 

A expedição dos Keller durou até dezembro de 1868, quando voltaram ao Rio de Janeiro. Apresentaram propostas prevendo a construção de um sistema de planos inclinados capaz de permitir aos navios a superação dos declives do leito do Madeira e Mamoré, a abertura de um canal de navegação na margem direita das cachoeiras ou a construção de uma estrada de ferro entre Santo Antônio e Guajará-Mirim.

Em 1874, já de volta à Alemanha, Franz publicou o livro ilustrado Do Amazonas ao Madeira, com anotações, desenhos e aquarelas da expedição de 1867/1868. Foi editado em Londres pela Chapman & Hall e também foi feita uma edição alemã. No livro, descreveu o rio e seus afluentes, as tribos nativas que encontraram, além dos animais e vegetações da floresta virgem dos rios Amazonas e Madeira. A expedição dos Keller se expandiu até o leste da Bolívia. Franz dedicou um capítulo aos índios Mojo daquela região e à história de suas interações com as missões jesuíticas.

 

 

Na introdução a seus relatos, Franz chamava a atenção das autoridades brasileiras para a adoção de três providências que ele considerava prioritárias para o progresso do país: a abolição da escravatura, o incentivo à imigraçao de colonos da Alemanha para desenvolver a agricultura e a modernização dos meios de transportes para integrar o território nacional. Também assumia a autoria das ilustrações.

 

“As ilustrações, que considero suplementos indispensáveis à descrição de cenas que nos são tão estranhas, originam-se de esboços feitos no local e que, para preservar-lhes a mais alta fidelidade, desenhei eu mesmo”.

 

 

Franz Keller-Leuzinger esteve no Brasil na década de 1880 e faleceu em Munique, na Alemanha, em 18 de julho de 1890.

Acessando o link para as fotografias de Franz Keller-Leuzinger disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Cronologia de Franz Keller-Leuzinger (1835 – 1890)

 

 

1835 - Nascimento de Franz Keller, em Mannheim, na Alemanha, em 30 de agosto de 1835, filho do cartógrafo, desenhista e engenheiro Joseph (José) Keller (1811 – 1877), diplomado pela Universidade de Karlsruhe, que havia trabalhado como inspetor de estrada do Grão Ducado de Baden. Franz era irmão do pintor Ferdinand (Fernando) Keller (1842 – 1922).

 

 

1855 - Chegou, em 27 de dezembro, ao Rio de Janeiro com seu pai. Vieram do Havre, na galera francesa Dom Pedro II. Diversas fontes afirmam que Ferdinand, seu irmão, teria vindo com eles, mas nas notícias de jornal só constam os nomes de Joseph e Franz. Certamente Ferdinand passou um período no Brasil, mas provavelmente veio depois de seu pai e irmão (Correio da Tarde, 27 de dezembro de 1855, última colunaDiário do Rio de Janeiro, 28 de dezembro de 1855, última coluna; Correio Mercantil, 28 de dezembro de 1855, segunda coluna).

 

 

1856 - No Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro de 1856, foi mencionado que Joseph Keller poderia ser contratado para a construção da estrada de Mangaratiba ou da de Ubatuba caso o desembargador J.J. Pacheco, presidente da Companhia da Estrada de Mangaratiba, fizesse um contrato com o presidente de São Paulo para uma outra estrada de carros de Taubaté a Ubatuba.

Joseph e um ajudante trabalharam para o Governo da Província do Rio de Janeiro para a ratificação de plantas para a estrada de Petrópolis ao Parahybuna . Franz seria o ajudante? (Correio Mercantil, 21 de abril de 1856, quarta coluna).

Incitados pela lisonjeira recepção que fizemos a seus compatriotas, os engenheiros Keller, vários arquitetos da Escola Politécnica de Karslruhe, no Grão Ducado de Baden, vieram para o Brasil, dentre eles Theodore Marx (1833 – 1890), que viria a ser um dos construtores do Palácio da Quinta da Boa Vista (Correio Mercantil, 12 de junho de 1856, terceira coluna).

1857 – Seu pai, como engenheiro, e ele e Carlos Keller como ajudantes, haviam sido contratados pela Companhia União Indústria. Qual seria o parentesco de Carlos Keller com eles? Sobrinho e primo? Filho e irmão? Ou seria o filho de Johann Nepomuk Keller, o engenheiro Carlos Keller (1839 – 1928), futuro reitor do Instituto de Tecnologia de Karlsruhe? Uma coincidência: o pai do fotógrafo Chistophe Albert Frisch (1840 – 1918), tinha Nepomuk em seu sobrenome: chamava-se Johanes Nepomuk Frisch. Caso isso indique algum parentesco, Frisch e Franz Keller possivelmente já se conheciam antes de virem para o Brasil.

O diretor-presidente da Companhia União Indústria era o comendador Mariano Procópio Ferreira Lage (1821 – 1872). A capacidade de Joseph Keller já era abonada pelos trabalhos executados na Europa sob sua direção (Relatório Companhia União Indústria, 24 de agosto de 1857). Sobre o trabalho para o qual havia sido contratado, uma linha de estrada entre  Pedro do Rio e a villa da Parahyba, Três Barras e a ponte do Parahybuna, apresentou um relatório ao comendador (Relatório Companhia União Indústria, 24 de agosto de 1857; Jornal do Commercio, 31 de agosto de 1857, quarta coluna).

 

 

 

1861 / 1862 – Em 30 de abril de 1861, Joseph Keller apresentou ao comendador Mariano Procópio um relatório sobre o estado da estrada entre a ponte do Paraíba e Juiz de Fora (Relatório da Companhia União Indústria, 15 de junho de 1861). Foi expedida pelo Ministério da Agricultura a ordem para o pagamento dos engenheiros Joseph e Franz Keller pela exploração do rio Paraíba (Boletim do Expediente do Governo: Ministério do Império, novembro de 1861); Correio Mercantil, 7 de abril de 1862, terceira coluna; Boletim do Expediente do Governo: Ministério do Império, junho de 1862). Entre esse ano e 1867, Franz acompanhou o pai em levantamentos no mencionado rio, na região entre Campo Belo e Barra do Piraí; nos vales do rio Paraíba e Pomba, nos rios Iguaçu, Paranapanema e Tibagi. Dessas investigações resultam relatórios publicados pelo Ministério da Agricultura (Diário do Rio de Janeiro, 17 de junho de 1864, quaarta colunaAlmanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1865; O Cearense, 2 de dezembro de 1865, terceira coluna; Dezenove de Dezembro, 20 de dezdembro de 1865, última coluna; Dezenove de Dezembro, 13 de janeiro de 1866, primeira coluna).

1862 – Seu irmão, Ferdinand, voltou do sul do Brasil, a bordo do patacho Guasca (Jornal do Commercio, 26 de fevereiro de 1862, terceira coluna). Retornou à Alemanha e ingressou na Academia de Belas Artes de Karlsruhe, estudando sob a tutela do paisagista alemão Johann Wilhelm Schirmer (1807 – 1863).

Franz fotografou a Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão.

 

c. 1863 –  O fotógrafo carioca Marc Ferrez (1843 – 1923) retornou da Europa ao Brasil. Segundo seu neto, o historiador Gilberto Ferrez (1908 – 2000), Marc teria aprendido a arte da fotografia com Franz Keller (1835 – 1890), que em torno dessa data teria assumido a seção de fotografia da empresa de seu sogro, o fotógrafo e editor suíço Georges Leuzinger (1813 – 1892), criada em 1865. Uma carta enviada em 17 de janeiro de 1923 por um amigo de Ferrez, Luiz Carlos Franco, a seus filhos Julio e Luciano, após a a morte do fotógrafo, confirma que Ferrez havia trabalhado para Leuzinger. Porém, a participação de Franz Keller como diretor do ateliê fotográfico de Leuzinger é questionável e, na verdade, até hoje não foi comprovada. Além disso, na década de 1860, como já mencionado, Franz fez diversas viagens pelo Brasil com seu pai explorando rios do país sob contrato do governo imperial, o que tornaria difícil a possibilidade dele dirigir o estabelecimento fotográfico de seu sogro.

1864 – Franz e seu pai, Joseph, embarcaram rumo a Campos no vapor Ceres (Correio Mercantil, 1º de maio de 1864, segunda coluna).

Em ato oficial, de 24 de dezembro de 1864, do ministro de Estado dos Negócios da Agricultura Comércio e Obras Públicas, assinado pelo ministro Jesuino Marcondes de Oliveira e Sá (1827 – 1903), Franz e Joseph Keller foram encarregados de estudar o rio Ivahy (Correio Mercantil, 1º de janeiro de 1865, segunda colunaJornal do Recife, 22 de novembro de 1865, última coluna).

 

 

Franz Keller chegou a Santos na companhia de um criado, no vapor Dom Affonso, procedente de Santa Catarina com escalas (Correio Paulistano, 29 de outubro de 1865, primeira coluna).

Integrou-se à Expedição do Avaí, quando produziu aquarelas da região.

1865 – Foram publicadas notícias sobre o relatório elaborado pelos engenheiros Keller sobre a navegabilidade do rio Paraiba (Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1865).

1866 – Foram publicadas notícias sobre o relatório elaborado pelos engenheiros Keller sobre a navegabilidade do rio Ivahy (Correio Mercantil, 16 de janeiro de 1866, penúltima coluna).

Joseph e Franz foram contratados pelo governo do Paraná para a realização do levantamento e da impressão da carta corográfica do estado (Dezenove de Dezembro, 28 de março de 1966, primeira coluna).

No dia 24 de julho, Franz e Joseph Keller partiram de Curitiba para explorar o rio Iguaçu. Também faziam parte do grupo o agrimensor Julio Kalkman e o intérprete Fructuoso Antonio de Moraes Dutra, além de 24 tripulantes das oito canoas da expedição (Dezenove de Dezembro, 14 de abril de 1866, última coluna; Dezenove de Dezembro, 4 de julho de 1866, primeira colunaCorreio Mercantil, 30 de julho de 1866, última coluna).

Em 7 de dezembro, o Decreto Imperial nº 3749 autorizou a abertura da navegação do rio Amazonas para outras nações, após pressões internacionais, vindas principalmente dos Estados Unidos. Foi nesse contexto que, no ano seguinte, Franz e Joseph Keller foram encarregados pelo Império do Brasil para a exploração de rios do Norte do país.

DECRETO Nº 3.749, DE  7 DE DEZEMBRO DE 1866

 

“Abrindo os rios Amazonas, Tocantins, Tapajós, Madeira, Negro e S. Francisco á navegação dos navios mercantes de todas as nações.

No intuito de promover o engrandecimento do Imperio, facilitando cada vez mais as suas relações internacionaes, e animando a navegação e o commercio do rio Amazonas e seus affluentes, dos rios Tocantins e S. Francisco, ouvido o Meu Conselho de Estado, Hei por bem Decretar o seguinte:

    Art. 1º Ficará aberta, desde o dia 7 de Setembro de 1867, aos navios mercantes de todas as nações, a navegação do rio Amazonas até á fronteira do Brasil, do rio Tocantins até Cametá, do Tapajós até Santarem, do Madeira até Borba, e do rio Negro até Manáos.

    Art. 2º Na mesma data fixada no art. 1º ficará igualmente aberta a navegação do rio S. Francisco até á Cidade do Penedo.

    Art. 3º A navegação dos affluentes do Amazonas, na parte em que só uma das margens pertence ao Brasil, fica dependendo de prévio ajuste com os outros Estados ribeirinhos sobre os respectivos limites e regulamentos policiaes e fiscaes.

    Art. 4º As presentes disposições em nada alterão a observancia do que prescrevem os Tratados vigentes de navegação e commercio com as Republicas do Perú e de Venezuela, conforme os regulamentos já expedidos para esse fim.

    Art. 5º Os Meus Ministros e Secretarios de Estado, pelas Repartições competentes, promoveráõ os ajustes de que trata o art. 3º, e expediráõ as ordens e regulamentos necessarios para a effectiva execução deste Decreto.

    Antonio Coelho de Sá e Albuquerque, do Meu Conselho, Senador do Imperio, Ministro e Secretario de Estado dos Negocios Estrangeiros, assim o tenha entendido e faça executar.

Palacio do Rio de Janeiro em sete de Dezembro de mil oitocentos sessenta e seis, quadragesimo quinto da Independencia e do Imperio.

Com a Rubrica de Sua Magestade o Imperador.

Antonio Coelho de Sá e Albuquerque.

Este texto não substitui o original publicado no Coleção de Leis do Império do Brasil de 1866″

 

1867 – O presidente da província do Paraná mandou sustar a exploração do rio Iguassu, cujos encarregados eram Joseph e Franz Keller (Diário de São Paulo, 23 de janeiro de 1867, primeira coluna).

Foi assinado, em 27 de março, e selado, em 23 de novembro, o Tratado de Ayacucho, entre o Brasil e a Bolívia, que definia os limites entre os dois países.

Franz casou-se com Sabine Christine Leuzinger (1842-1915), filha primogênita do fotógrafo, livreiro e editor suíço Georges Leuzinger (1813-1892), adotando também o sobrenome do sogro, passando a assinar Franz Keller-Leuzinger.

Por portaria de 10 de outubro de 1867, Franz e seu pai, Joseph Keller, foram incumbidos pelo governo imperial de explorar o rio Madeira na parte encachoeirada dele, desde Santo Antonio até a barra do rio Mamoré, e de elaborar os projetos mais apropriados para o melhoramento dessa importante via de comunicação com a província de Mato Grosso e a república da Bolívia. Relatório da exploração do rio Madeira na parte compreendida ente a cachoeira de Santo Antônio e a barra do Mamoré (Diário de Belém, 10 de outubro de 1869, última coluna).

Em 15 de novembro, embarcaram no Rio de Janeiro rumo ao Pará (Diário do Povo, de 15 de novembro de 1867,  primeira coluna).

O fotógrafo Christoph Albert Frisch (1840 – 1918) seguiu com os engenheiros rumo à Amazônia, comissionado por Leuzinger, em cujo ateliê fotográfico trabalhava. Levava um escravizado. A esposa de Franz, Sabine, e sua irmã, Pauline Keller, também estavam no paquete Paraná, assim como o engenheiro José Manoel da Silva, integrante da expedição (Diário do Povo, 15 de novembro de 1867, primeira coluna; Jornal do Commercio, 16 de novembro de 1867, terceira coluna).

 

 

 

Frisch acompanhou os engenheiros somente até Manaus e … percorreu 400 léguas pelo rio Amazonas e seus afluentes durante 5 meses…, num barco acompanhado por dois remadores, desde Tabatinga até Manaus. Produziu, na ocasião, uma pioneira série de 98 fotografias com os primeiros registros que chegaram até nós de índios brasileiros da região, além de aspectos de fauna e flora e de barqueiros de origem boliviana, que atuavam como comerciantes itinerantes nos rios amazônicos. Segundo o livro de Ernesto Senna, O velho commercio do Rio de Janeiro, a expedição fotográfica de Frisch à Amazônia foi fruto de uma solicitação feita pelo suíço Louis Agassiz (1807 – 1873) a Leuzinger.

Satisfazendo ao pedido de Agassiz, fez Leuzinger tirar vistas até Tabatinga, na fronteira do Amazonas com a República do Peru, vistas que serviram não só para os trabalhos científicos daqule sábio, como também para ilustrações europeias. Quando o engenheiro Keller foi em comissão explorar os rios Madeira e Mamoré, Georges Leuzinger mandou um fotógrafo da casa acompanhar a expedição, que trouxe depois daquelas incomparáveis regiões graande cópia de clichês, da flora, da fauna, de paisagens, e fotograafias de silvícolas e de suas tabas, aldeamentos, instruentos, armas, etc. Estas coleções, de grande valor para estudos etnográficos, eram muito interessantes sob qualquer ponto de vista e muito procuradas por viajantes estrangeiros”.

Agassiz havia, entre 1865 e 1866, comandado a Comissão Thayer no Brasil, que percorreu boa parte do território brasileiro entre o Rio de Janeiro e a Amazônia, viagem que deu origem ao livro A journey in Brazil, editado em Boston, em 1868. A Comissão Thayer foi financiada pelo empresário e filantropo norte-americano Nathaniel Thayer, Jr. (1808-1883), ex-aluno de Agassiz no Museu de Zoologia Comparada, em Harvard. Vale lembrar que Charles Frederick Hartt (1840 – 1878), o futuro chefe da Comissão Geológica do Império (1875 – 1878), integrada pelo fotógrafo Marc Ferrez (1843-1923), participou da Comissão ou Expedição Thayer – foi a primeira vez que esteve no Brasil.

A expedição à Amazônia liderada pelos Keller, com 32 volumes, alcançou Belém, em 1º de dezembro, e seguiu para Manaus, onde chegou no dia 10 do mesmo mês, no vapor Belém (Jornal do Pará, 11 de dezembro de 1867,terceira coluna; Jornal do Rio Negro, 11 de dezembro de 1867, segunda coluna).

 

 

1868 – No Anexo X do Relatório do Ministro da Agricultura de 1868, Joseph e Franz Keller fizeram comentários sobre a formação geológica do solo brasileiro. Em alguns pontos concordaram com o geógrafo, naturalista e explorador alemão Barão de Humboldt (1769- 1859), que havia participado de uma expedição pela América do Sul entre 1799 e 1804.(Jornal do Recife, de 12 de agosto de 1882, primeira coluna; Jornal do Recife, 13 de janeiro de 1883, primeira coluna).

 

geologiaJornal do Recife, de 1883

Jornal do Recife, 13 de janeiro de 1883

 

O governador do Amazonas, José Coelho da Gama e Abreu (1832 – 1906), o barão de Marajó,  submeteu ao governador do Pará, Joaquim Raimundo de Lamare (1811 – 1889), um ofício sobre a comissão dos Keller, que havia sido enviado pelo ministro da Agricultura, Zacarias de Góis e Vasconcelos (1815 – 1877) (Amazonas, 25 de abril de 1868, última coluna; Amazonas, 9 de maio de 1968, última coluna).

Foram concedidas às irmãs Sabine Leuzinger-Keller e a Pauline Keller concessão de passagens de Estado em embarcação da Companhia do Amazonas, de Manaus a Belém do Pará com as despesas pagas pelo Ministério da Agricultura. Joseph e Franz Keller foram recomendados pelo governo do Amazonas ao comandante do Forte Príncipe da Beira,  no Mato Grosso, para onde iriam com o objetivo de explorar o Rio Madeira, conforme comissão do governo brasileiro (Amazonas, 30 de maio de 1868, segunda coluna).

Sabine e Pauline chegaram ao Rio de Janeiro em 19 de junho, a bordo do paquete a vapor Guará (Correio Mercantil, 20 de junho de 1868, última coluna).

O fotógrafo Frisch retornou ao sul do Brasil, a bordo do vapor Cruzeiro do Sul (Jornal Pedro II, 24 de novembro de 1868, na quarta coluna). No ano seguinte, as imagens produzidas por ele durante a expedição pela Amazônia começaram a ser comercializadas a partir de um catálogo publicado pela Casa Leuzinger, Resultat d’une expédition phographique sur le Solimões ou Alto Amazonas et Rio Negro.

 

 

Em 9 de dezembro, o tenente -coronel José Wilkens de Mattos (1822 – 1889), governador do Amazonas, respondendo a um ofício enviado pelos Keller e pelo engenheiro José Manoel da Silva, autorizou a tesouraria de Fazenda a receber objetos que estavam com os requerentes, referentes à comissão que cumpriram no rio Madeira;  tomou ciência de que uma canoa adquirida na Bolívia pelos Keller e por José Manoel seria utilizada por João Martins da Silva Coutinho na comissão de exploração do rio Branco; e informou que os Keller e José Manoel teriam seu transporte a bordo do vapor Belém, de Manaus a Belém, em 10 de dezembro de 1868, custeado pelo Ministério da Agricultura. Poderiam utilizar o espaço de bagagem, duas toneladas, destinado ao governo. O trabalho comissionado pelo governo imperial havia sido concluído e eles voltariam para o Rio de Janeiro no mesmo vapor (Diário de Belém, 28 de dezembro de 1868, quarta colunaAmazonas, 5 de janeiro de 1869, primeira coluna).

 

 

 

1869 No dia 4 de janeiro de 1869, Joseph e Franz Keller e o ajudante José Manuel da Silva chegaram ao Rio de Janeiro a bordo do paquete Paraná. Franz estava enfraquecido pelas febres e queimado pelo sol. Segundo o pesquisador Frank Kohl, ele havia contraido malária (Diário do Rio de Janeiro, 5 de janeiro de 1869, quinta coluna).

Fez o retrato da filha de Leuzinger, Gabrielle Marie (1853 – 1869), que faleceu em 23 de abril de 1869 (Jornal do Commercio, 29 de abril de 1869, última coluna).

Após sua morte, ela estava quase sorridente, uma figura de anjo e tão branca quanto os lençóis de seu leito. Franz Keller fez seu retrato de perfil para nosso espanto o perfil perfeito de Mathilde quando tinha sua idade, 16 anos, 6 dias e 21 horas e meia” (Carta de Georges Leuzinger para seu filho Paul, que estava vivendo na França, de 2 de junho de 1969).

Esteve algumas vezes no Paço Imperial cumprimentando o imperador Pedro II (1825 – 1891) (Diário de Rio de Janeiro, 14 de setembro; 19 de outubro29 de novembro6 de dezembro e 21 de dezembro de 1869, primeiras colunas).

Na seção de 14 de setembro do Instituto Politécnico Brasileiro, fez um discurso agradecendo sua nomeação para sócio correspondente da instituição. Além dele, discursaram Luiz Filipe de Saldanha da Gama (1846 – 1895) e Antônio Augusto Fernandes Pinheiro (18? – ?). Augusto Teixeira Coimbra (18? – ?) também foi, na ocasião, nomeado sócio correspondente (Jornal do Commercio, 24 de setembro de 1869, segunda colunaRevista do Instituto Politécnico Brasileiro, 1869).

1870 – Na seção de 14 de junho de 1870 do Instituto Politécnico Brasileiro, sob a presidência do conde d´Eu (1842 – 1922), J.M. da Silva anunciou que Franz Keller havia viajado para a Europa (Revista do Instituto Politécnico Brasileiro, 1874).

Foi autorizada a venda em hasta pública dos objetos comprados para a exploração dos rios Iguaçu, Ivahy, Paranapanema e Tibagi, entregues por Joseph e Franz Keller a Serafim Carvalho Baptista e José Feliciano da Silva (Dezenove de Dezembro, 12 de outubro de 1870, última coluna).

1872 – Joseph Keller ainda se encontrava no Brasil (Jornal do Commercio, 7 de abril de 1872, sétima coluna).

Em julho, Franz Keller (1835-1890) estava na Suíça.

1873 – Retornou à Alemanha para tratar da saúde, fixando residência na cidade alemã de Karlsruhe. Conforme hjá mencionado, segundo o pesquisador Frank Kohl, Franz havia contraído malária no Amazonas e justamente por isto não pode aceitar o convite do coronel americano George Earl Church (1835-1910) para participar da construção da ferrovia Madeira-Mamoré, que utilizou os dados levantados pelos Keller naquela região. Church havia recebido do governo brasileiro a concessão para a construção da ferrovia. Porém, por diversos motivos, Church não concluiu o empreendimento (Revista do Instituto Politécnico Brasileiro, fevereiro de 1874).

“A magnitude e a expectativa que despertaram os projetos de Church provocaram o acre zelo e a oposição daqueles que detinham o monopólio comercial da área, os comerciantes da Costa do Pacífico, na medida em que se propunha a abrir rota concorrente de comércio. De repente descobriram que uma companhia americana detinha um empreendimento que prometia penetrar pelo centro da América do Sul e transformar seu comércio. Ao utilizar a rede fluvial, afetaria poderosamente as relações políticas e inter comerciais de vários Estados hispano-americanos. Ferozes interesses contrariados se aliaram amplamente. A English Construction Company denunciou o contrato e aliou-se aos seus acionistas em um ataque ao fundo fiduciário ferroviário, que eles vincularam por liminar ao Tribunal de Chancelaria. O governo boliviano tentou apreender o fundo. O coronel Church lutou contra esses pesados ataques, defendendo o terreno a cada polegada que houvesse para sustentar ganhou batalha após batalha entre 1873 a 1878. O comitê dos detentores de títulos subornou o presidente boliviano Daza com £ 20.000 para tomar partido ao seu favor e instaurou um novo processo para revogação da concessão boliviana. Mesmo neste novo processo, o coronel Church ganhou no Tribunal de Primeira Instância. A Câmara dos Lordes finalmente resolveu a questão declarando impraticável o empreendimento, embora meses antes o governo brasileiro tivesse dado seu apoio inabalável ao coronel Church. A seu pedido foi decretado um complemento ao fundo existente com o montante necessário para concluir as obras ferroviárias. Na época em que a empresa faliu havia 1.200 homens trabalhando na linha férrea e uma locomotiva em tráfego no primeiro trecho inaugurado”.

A Madeira-Mamoré e a notícia biográfica de George Earl Church feita por Clements Markham,

por  Dante Ribeiro da Fonseca

 

1874 –  Franz Keller (1835-1890) publicou o livro ilustrado Do Amazonas ao Madeira (Jornal do Commercio, de 31 de janeiro de 1874, na última coluna). Na edição alemã, ficou registrado na folha de rosto que as ilustrações da obra, reconstruídas com base nos esboços de Franz, foram gravadas em madeira na oficina gráfica de Adolf Clob (1840 – 1894). Franz, no prefácio do livro, agradece a seu pai, “meu fiel companheiro e colega de ciência nessa cansativa jornada, além de também agradecer ao meu irmão, professor Ferdinand Keller, especialista em pinturas históricas, cuja consultoria quanto às ilustrações me foram de inestimável valor”. O livro também foi editado em Londres pela Chapman & Hall, no mesmo ano, e possuia 68 ilustrações.

 

 

Com uma carta enviada de Karslruhe, datada de 1º de maio de 1874, Franz respondeu ao opúsculo intitulado Estudo sobre o Rio Madeira (1873), do engenheiro baiano Eduardo José de Moraes (1830 – 1895). O autor afirmava que a expedição para a exploração do rio Madeira não havia atendido às instruções do governo imperial, o que Franz rebateu (Jornal do Commercio, 15 de julho de 1874, quinta coluna).

1876 – Gravuras do livro Do Amazonas ao Madeira foram publicadas na revista Illustração Brasileira, fundada pelo litógrafo alemão Henrique Fleuiss (1823-1882) e muito importante na história da imprensa no Brasil. Seu modelo eram as revistas francesa L´Illustration e a inglesa The Illustrated London News. Para Joaquim Marçal Ferreira de Andrade, um dos curadores do portal Brasiliana Fotográfica e coordenador da BN Digital, as páginas do artigo de Franz Keller-Leuzinger foram um marco na história do projeto gráfico das páginas das revistas ilustradas do Brasil, “mesmo considerando-se que as matrizes eram alemãs”(Illustração Brasileira, 1º de julho e 15 de julho de 1876).

 

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Em Karlsruhe, na Alemanha, dom Pedro II (1825 – 1891), durante sua segunda viagem à Europa, encontrou-se com Franz  Keller (Novo e completo Índice Cronológico da História do Brasil). Na ocasião, Franz, que vivia na época de seus trabalhos artísticos, escreveu uma carta ao monarca, na qual expunha seus planos para o futuro em um possível retorno ao Brasil. Dentre seus projetos, pedia o monopólio para explorar o sal no Paraná e se voluntariava para intermediar a venda da pólvora da Alemanha para o Brasil.

Voltando desse modo outra vez as belas praias da Terra de Santa Cruz, isto é, acompanhando em pessoa um carregamento de pólvora e se necessário fosse de armamento ao Rio de Janeiro. V. M. I. dignasse talvez de encarregar-me outra vez com trabalhos técnicos como antigamente. Me seja permitido, afora os trabalhos de exploração dos rios, alinhamento de estradas e caminhos de ferro e o levantamento de mapas geográficos, citar a elaboração de projetos de abastecimento da capital com água potável, que dia a dia fica mais urgente“.

Carta de Franz Keller-Leuzinger a D. Pedro II, 29 de julho de 1876.

Seção de Manuscritos da Biblioteca Nacional

 

Parece que esses projetos nunca se realizaram.

Tanto ele como seu pai eram sócios correspondentes do Instituto Politécnico Brasileiro (Revista do Instituto Politécnico Brasileiro, outubro de 1876).

1877 – Foi publicado, no primeiro número do jornal O Vulgarisador, a imagem do encontro de Franz com os índios Caripunas, do livro Do Amazonas ao Madeira (O Vulgarisador, 1ª edição, 1877).

 

 

 “Eram criaturas fortes, bem conformadas e de estatura mediana; traziam pendentes comprimidos cabelos pretos; um dos homens apenas usava-os enrolados em trança. Um dente de anta atravessava-lhes as pontas das orelhas, e tinha, além disto, em outro buraco na separação de nariz, um pequeno molho de penas encarnadas de tucano. Não traziam armas, a esta circunstancia junto à presença de uma de suas mulheres na embarcação, respondia-nos pela benevolência de suas intenções” (O Vulgarisador, 1ª edição, 1877).

 

 

Sobre o livro, o editor de O Vulgarisador, o poeta, escritor e jornalista português Augusto Emilio Zaluar (1826 – 1882), comentou: “deve interessar a todos que ligam a verdadeiro apreço aos trabalhos desta natureza, que, infelizmente, ainda tanto escasseiam entre nós”. Ele emigrou para o Brasil, em 1849, e, sete anos depois, naturalizou-se cidadão brasileiro. Em 1876, recebeu a comenda da Ordem da Rosa e era amigo de escritores como Machado de Assis (1839 – 1908) e José de Alencar (1829 – 1877). Colaborou em diversos periódicos como A Época, Espelho e Álbum SemanalO Vulgarizador circulou entre 1877 e 1881, no Rio de Janeiro. Seus livros mais conhecidos são Peregrinações pela Província de São Paulo (1860-1861) (1862) e Doutor Benignus (1875). Este último é considerado a primeira ficção científica brasileira.

 

 

Falecimento de Joseph (José) Keller (1811 – 1877).

Década de 1880 - Durante essa década, Franz Keller, esteve no Brasil, mas voltou à Alemanha.

1881 - Aquarelas de Joseph Keller fizeram parte da exposição História do Brasil, da Biblioteca Nacional.

1889 – Franz Keller continuava sendo sócio correspondente do Instituto Politécnico Brasileiro (Revista do Instituto Politécnico Brasileiro, 1889).

1890 - Franz Keller-Leuzinger faleceu em Munique, na Alemanha, em 18 de julho de 1890.

 

Roteiro da Expedição à Amazônia segundo o Relatório da exploração do rio Madeira na parte compreendida entre a cachoeira de Santo Antônio e a barra do Mamoré

 

Mapa desenhado por Franz Keller-Leuzinger reproduzindo o percurso de sua viagem, no livro Do Amazonas ao Madeira

Mapa desenhado por Franz Keller-Leuzinger reproduzindo o percurso de sua viagem, no
livro Do Amazonas ao Madeira

 

1967

10 de outubro – Foi assinada pelo governo imperial uma portaria incumbindo os engenheiros Franz e Joseph Keller em de explorar o rio Madeira na parte encachoeirada dele, desde Santo Antonio até a barra do rio Mamoré, e de elaborar os projetos mais apropriados para o melhoramento dessa importante via de comunicação com a província de Mato Grosso e a república da Bolívia.

15 de novembro – A expedição parte do Rio de Janeiro. Além dos Keller, embarcaram no paquete Paraná o fotógrafo Christoph Albert Frisch (1840 – 1918), a esposa e a irmã de Franz, repectivamente, Sabine Christine Leuzinger (1842-1915), filha do fotógrafo e editor suíço Georges Leuzinger (1813 – 1892); e Pauline.

1º de dezembro – Chegada em Belém.

10 de dezembro – Chegada em Manaus, a bordo do vapor Belém. A expedição levava 32 volumes. O governador do Amazonas, José Coelho da Gama e Abreu, o barão de Marajó (1832 – 1906), os avisou que a subida das cachoeiras e o estudo do rio das enchentes difícil e penoso. Fizeram então o levantamento. O governador os encarregou de fazer um levantamento de parte da planta do Rio Negro e da cidade de Manaus. O ajudante José Manoel da Silva fez o levantamento da planta de Manaus. Devido à falta de remeiros, o trabalho do Rio Negro não pode ser realizado. Foi feito então um projeto e orçamento para a reconstrução de uma ponte manauara que estava em ruínas.

 

 1868

 

9 de fevereiro – José Coelho da Gama e Abreu, o barão de Marajó (1832 – 1906) foi sucedido no governo do Amazonas por Jacinto Pereira do Rego que não atendeu às solicitações necessárias para a expedição: nem forneceu o número de guardas nem o vapor Jurupensen que poderia ter levado o pessoal e o trem da expedição até Santo Antônio.

fevereiro / maio – Com o propósito de levar a cabo a missão, procuraram o vice-cônsul da Bolívia, Ignacio Araus, que encontrava-se em Manaus. Ele ofereceu toda a ajuda necessária e falou de um comerciante boliviano que iria para o Pará e, de lá, para a Bolívia. Dessa forma uma comissão ao mando do governo imperial seguiu viagem sob os auspícios de um particular.

Compraram, em Serpa, uma canoa de lotação de 300 arrobas mal construída e em mal estado por não haver outra, do major Dalmazo de Souza Barriga.

30 de maio – A comissão Keller partiu de Serpa, no Amazonas, atrás do comerciante boliviano, com sete tripulantes quando a canoa demandava ao menos 12. A embarcação levava mantimentos para 4 meses, ferramentas para a construção e conserto de canoa, instrumentos de medição, armamentos, toldos e barracas.

9 de junho – Chegada à Borba com menos dois remeiros, que haviam fugido.

10 a 13 de junho – Passaram por Sapucaia-oroca, dos índios Mura; a Ilha das Araras e pela barra do rio Aripuanã.

madrugada de 14 para 15 de junho – Conserto de uma canoa, que perigava afundar.

15 de junho – Passaram pelas pedras de Aruá.

18 de junho – Chegaram ao engenho de Ignacio Araus, onde o comerciante boliviano os aguardava com impaciência. Transferiram a carga para uma canoa mais apropriada.

21 de junho – Continuaram a viagem. A comitiva tinha 70 índios bolivianos das missões do Mamoré como remeiros e pilotos de sete canoas e de oito brancos.

30 de junho – Encontraram uma família de índios Mura. Por alguns dias, seguiram a expedição. Compraram tartarugas dos índios.

início de julho – Acima de um lugar denominado Três Casas visitaram a barraca de alguns seringueiros bolivianos que com os índios Moxos exploravam a resina.

5 de julho – Chegaram ao Crato, uma estância para a criação de gado. Lá se encontrava o destacamento de Santo Antônio que, nessa época do ano, princípio da estação de chuvas, se retirava de Santo Antônio para um lugar mais salubre. Foram recebidos com cordialidade pelo comandante do destacamento que os apresentou ao dono do lugar, o capitão Tenório.

10 a 15 de julho – Passaram à Ilha das Abelhas, à barra do Pirapitanga e a do Jamary, muito rica em peixes mas infestada pelas febres de caráter maligno.

16 de julho – Chegaram à Ilha dos Mutuns e à praia dos Tamanduás, onde, no mês de setembro, milhares de tartarugas vêm desovar. Na mesma época, seringueiros e pescadores vêm para o local, onde juntam os ovos das tartarugas para a fabricação de manteiga e levam tartarugas, causando grande destruição.

Chegada à Cachoeira de Santo Antônio. Foi necessário descarregar as canoas e transportar tudo para 450 metros acima dos rochedos da margem esquerda..

18 de julho – Chegaram na correnteza dos Macacos da qual já se descobre a fumaça que levanta o salto do Theotônio.

22 de julho – Chegaram à Cachoeira dos Morrinhos, que tinha dois saltos distintos.

25 de julho – Entre Morrinhos e o Caldeirão do Inferno encontraram canoas construídas com cascas de Jatubá pelo índios Caripunas, que habitavam aquela altura do rio. Foram convidados por eles para visitarem suas malocas e foram presenteados com raízes de mandioca e milhos em espiga. Ofertaram aos índios facas, tesouras e anzóis. Dias depois, encontraram outros Caripunas, de quem compraram uma anta e um porco do mato. Esses encontros transcorreram, segundo o relatório da expedição, sempre em um clima de amizade e harmonia.

26 de julho – Chegaram à parte inferior da perigosa Cachoeira do Caldeirão do Inferno. Muitas cruzes rodeavam o local, onde diversos barcos haviam naufragado e pessoas morrido de febres malignas. O engenheiro peruano Maldonado foi uma das vítimas de um naufrágio na região. Um dos índios remeiros da comissão Keller faleceu no local devido a uma inflamação intestinal.

27 de julho – Avistaram os morros ao pé do Salto do Girão. Durante quatro dias foi feito o transporte das cargas e a varação das canoas.

31 de julho e 1º de agosto – Continuaram a viagem e chegaram a Pedras de Amolar, nome dado ao local por navegantes devido às camadas de gres argiloso (arenito). À tarde, chegaram à correnteza mais forte dos Três Irmãos, com uma  queda de menos de um metro.

3 e 4 de agosto – Chegada à Cachoeira do Paredão, com uma queda divida em duas partes.

5 de agosto – Chegada à Cachoeira Pederneira, assim chamada devido a presença de veias de quartzo nas fendas do rochedo. Rio acima, a cacheira mais próxima era a das Araras. Pouco acima da Pederneira, se acha à margem esquerda a barra do rio Abuná.

9 a 15 de agosto – Chegaram à Cachoeira do Ribeirão onde ficaram até dia 15. Ela é formada por cinco saltos. Foi observado que os riscos das pedras em um dos saltos formam uma paralela interessante com a representação tosca de objetos celestes e de animais nos rochedos do Orenoco, descritos por Humboldt.

15 a 18 de agosto – Chegaram à Cachoeira do Madeira e à Cachoeira das Lages.

19 de agosto – Chegada ao Salto das Bananeiras. A passagem do salto durou dois dias, as canoas tiveram que ser descarregadas e transportadas por cima dos rochedos.

21 a 22 de agosto – Após uma seca extraordinária, chuva forte e queda da temperatura para 11º.

23 de agosto – Chegada à Cachoeira do Guajará-Guassu. As cargas foram transportadas por terra e as canoas por água a sirga (puxadas por cordas).

24 de agosto – Chegada à Cachoeira Guajará-Mirim. Encontraram 10 canoas bolivianas carregadas com couros e sebo, Por seu dono, de Santa Cruz de la Sierra, enviaram ofícios e cartas para o Rio de Janeiro e para o Pará. No mesmo dia, chegaram à barra do Ribeirão da Paca Nova, ao pé da serra homônima. As canoas estavam quase todas defeituosas. Foram tiradas da água e calafetadas.

1º de setembro – A expedição chegou na junção do rio Mamoré com o Guaporé, onde habitava uma tribo indígena. Seguiram para o Serrito, sítio do brasileiro Antônio de Barros Cardoso, que morava na Bolívia há cerca de 15 anos e recebeu a expedição com a maior afabilidade. Ele já havia ajudado anteriormente, no início da década de 1850, o explorador Lardner Gibbon (1820 – 1910), tenente da Marinha dos Estados Unidos. Ele acompanhou a expedição até Exaltacion de la Santa Cruz, na Bolívia, uma antiga missão dos jesuitas.

10 de setembro – Chegada a Exaltacion de la Santa Cruz, onde Franz foi recebido pelas autoridades bolivianas. Com o prefeito da cidade, A. Morant, conversou sobre a o engajamento de índios remeiros para integrar a expedição. A essa altura já havia sido feita a aquisição de canoas e mantimentos.

15 de outubro – Partida para o sítio do Serrito, onde permaneceram até dia 19 de outubro. O comboio era formado por cinco embarcações de diferentes tamanhos – uma galeota, duas ubás, uma montaria e uma igarité – com uma tripulação total de 32  remeiros.

21 de outubro – Chegada à barra do Mamoré, onde ficaram dois dias medindo o volume cúbico das águas dos rios Mamoré e Guaporé.

24 de outubro – Estavam nas Ilhas Cavalo Marinho onde iniciaram uma medição detalhada com o micrômetro. À noite, houve uma tempestade.

25 de outubro – Realização da exploração e sondagem do rio Guajará-Mirim.

27 de outubro –  Passaram o Salto das Bananeiras e, devido ao mau tempo, as embarcações chegaram a encostar e um rochedo. Alguns dos índios assim como um dos engenheiros da expedição tiveram uma febre intermitente e foram tratados com sulfato de quinino. Terá sido Franz o engenheiro já que se sabe que ele provavelmente contraiu malária durante a expedição? Fazia muito calor e à noite houve um temporal.

30 de outubro – Haviam chegado com a medição até a Cachoeira do Pao-Grande.

2 a 7 de novembro – Estavam na barra do rio Beni, onde entraram para realizar a medição de suas águas. Passaram pela Cachoeira do Madeira, pela passagem do Ribeirão, pelos Periquitos e pelas Araras. No dia 7, devido às chuvas, foram obrigados a parar e armar os toldos e as barracas.

8 de novembro – Chegada ao Paredão.

11 e 12 de novembro – Passaram por Três Irmãos e pelo Salto do Girão.

13 a 15 de novembro – Passaram pelo Caldeirão do Inferno e reencontraram os índios Carapunas. Encontram também outra tribo indígena. Uma das canoas da expedição quase naufragou.

16 de novembro – Passaram pela barra do Jassiparaná e chegaram, à tarde, à Cachoeira dos Morrinhos.

17 e 18 de novembro – Chegaram ao Salto do Theotônio.

19 e 20 de novembro – Passaram pela correnteza dos Macacos e pela Cachoeira de Santo Antônio.

21 de novembro – Chegada ao Crato, primeiro ponto onde se encontram alguns recursos. Deixaram com o comandante do destacamento de Santo Antônio uma das ubás para ser devolvida ao brasileiro Antônio de Barros Cardoso, a quem pertencia.

25 de novembro – Passaram o Manicoré e chegaram ao sítio de J. Arans, onde deixaram uma das embarcações e parte da tripulação. Seguiram viagem com três canoas. Na aldeia dos Muras fizeram uma medição do volume cúbico das águas do rio Madeira.

26 de novembro – Chegaram à vila de Borba.

30 de novembro – Chegada a Serpa. Remeteram as canoas ao major Damazo de Souza Barriga e deram conhecimento desse ato ao presidente da província.

Passaram em Manaus onde entregaram no depósito do trem bélico armamentos e utensílios. Encontraram-se com o presidente da província.

14 de dezembro – Chegada no Pará.

 

1969

4 de janeiro – Chegada ao Rio de Janeiro.

 

 

Andrea C.T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Acervo do IMS- Cartas de Georges Leuzinger

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Dicionário de Verbetes AGCRJ

Enciclopédia Itaú Cultural

FERREZ, Gilberto. A fotografia no Brasil: 1840-1900. 2ª edição. Rio de Janeiro: FUNARTE, 1985.

FASOLATO, Jorge Douglas Alves. Estrada União e Indústria: paisagem, intervenção e fotografias de Revert Henry Klumb na perspectiva de uma rota cultural. Fundação Casa de Rui Barbosa Programa de Pós-Graduação em Memória e Acervos Mestrado Profissional em Memória e Acervos, 2020.

FONSECA, Dante Ribeiro da. A Madeira-Mamoré e a notícia biográfica de George Earl Church feita por Clements Markham. Gente de Opinião, 29 de outubro de 2019.

Biblioteca de jornais digitais da Biblioteca Nacional

KELLER-LEUZINGER, Franz. Os rios Amazonas e Madeira : esboços e descrições do caderno de um explorador . Londres: Chapman & Hall, 1874.

KELLER-LEUZINGER, Franz (1835-1890). Os Rios Amazonas e Madeira: esboços e relatos de um explorador / Franz Keller-Leuzinger; tradução, apresentação e notas de Adriano Gonçalves Feitosa – Belo Horizonte : Editora Dialética, 2021.

KOHL, Frank Stephan. Um jovem mestre da fotografia na Casa LeuzingerCadernos de Fotografia Brasileira/IMS, n.3, p.185-214, 2006.

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002.

PESSOA, Ana; SANTOS, Ana Lucia Vieira dos. Th. Marx, um arquiteto na corte de D. Pedro II. 3° Congresso Internacional de História da Construção Luso-Brasileira (CIHCLB), realizado em Salvador (BA) nos dias 3 a 6 de setembro de 2019

Relatório da exploração do rio Madeira na parte compreendida entre a cachoeira de Santo Antônio e a barra do Mamoré (Diário de Belém, 10 de outubro de 1869, última coluna; 12 de outubro de 1869, primeira coluna; 13 de outubro, terceira coluna; 14 de outubro de 1869, primeira coluna; 15 de outubro, segunda coluna; 16 de outubro de 1869, terceira coluna).

SENNA, Ernesto. O Velho Comércio do Rio de Janeiro. 2ª edição. Rio de Janeiro: G Ermakoff, 2006.

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Stolberg-Wernigerode, Otto: New German Biography . Berlim: Editor Fritz Wagner, 1997.

VASQUEZ, Pedro Karp. Fotógrafos Alemães no Brasil do século XIX. São Paulo: Metalivros, 2000. p.77.

VERGARA, Moema de Rezende. A Exploração dos rios Amazonas e Madeira no Império Brasileiro por Franz Keller-Leuzinger: imprensa e nação. Almanack. Guarulhos, n.06, p.81-94, 2º semestre de 2013.

Autorretratos de fotógrafos – Uma homenagem no Dia Internacional da Fotografia

A Brasiliana Fotográfica homenageia o Dia Internacional da Fotografia com a publicação de quatro autorretratos de importantes fotógrafos que atuaram no Brasil entre os séculos XIX e XX: o alemão Christoph Albert Frisch (1840 – 1918), o carioca Marc Ferrez (1843 – 1923), o francês Revert Henrique Klumb (c.1826 – c.1886) e o italiano Vincenzo Pastore (1865 – 1918). Interessante observar que o único autorretrato produzido fora de um estúdio fotográfico foi o de Frisch, que se fotografou, entre 1967 e 1868, em um barco em um rio na Amazônia, quando produziu os primeiros registros que chegaram até nós de índios brasileiros da região, além de aspectos de fauna e flora e de barqueiros de origem boliviana que atuavam como comerciantes itinerantes nos rios amazônicos. Os quatro fotógrafos já foram temas de artigos publicados no portal.

 

Acessando o link para os autorretratos de fotógrafos disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

A data escolhida para a comemoração do Dia Internacional da Fotografia tem sua origem no ano de 1839, quando, em 7 de janeiro, na Academia de Ciências da França, foi anunciada a descoberta da daguerreotipia, um processo fotográfico desenvolvido por Joseph Nicèphore Niépce (1765-1833) e Louis Jacques Mandé Daguerre (1787-1851). Cerca de sete meses depois, em 19 de agosto, durante um encontro realizado no Instituto da França, em Paris, com a presença de membros da Academia de Ciências e da Academia de Belas-Artes, o cientista François Arago (1786 – 1853), secretário da Academia de Ciências, explicou o processo e comunicou que o governo francês havia adquirido o invento, colocando-o em domínio público e, dessa forma, fazendo com que o “mundo inteiro” tivesse acesso à invenção. Em troca, Louis Daguerre e o filho de Joseph Niépce, Isidore, passaram a receber uma pensão anual vitalícia do governo da França, de seis mil e quatro mil francos, respectivamente.

A velocidade com que a notícia do invento do daguerreótipo chegou ao Brasil é curiosa: cerca de 4 meses depois do anúncio da descoberta, foi publicado no Jornal do Commercio, de 1º de maio de 1839, sob o título “Miscellanea”, na segunda coluna, um artigo sobre o assunto – apenas 10 dias após de ter sido o tema de uma carta do inventor norte-americano Samuel F. B. Morse (1791 – 1872), escrita em Paris em 9 de março de 1839 para o editor do New York Observer, que a publicou em 20 de abril de 1839.

 

Vincenzo Pastore (1865 – 1918)

 

 

A obra do fotógrafo italiano Vincenzo Pastore, importante cronista visual de São Paulo da segunda metade do século XIX e do início do século XX, ficou, durante décadas, em uma caixa de charutos, sem negativos. As ampliações foram produzidas pela própria mulher do fotógrafo, Elvira, que o ajudava no estúdio. Com sua câmara Pastore capturava tipos e costumes de um cotidiano ainda pacato de São Paulo, uma cidade que logo, com o desenvolvimento econômico, mudaria de perfil. Captava as transformações urbanas e humanas da cidade, que passava a ser a metrópole do café. Com seu olhar sensível, o bem sucedido imigrante italiano flagrava trabalhadores de rua como, por exemplo, feirantes, engraxates, vassoureiros e jornaleiros, além de conversas entre mulheres e brincadeiras de crianças. Pastore, ao retratar pessoas simples do povo, realizou, na época, um trabalho inédito na história da fotografia paulistana.

Acessando o link para as fotografias de Vincenzo Pastore disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Marc Ferrez (1843 – 1923)

 

 

Marc Ferrez (1843 – 1923) foi um brilhante cronista visual das paisagens e dos costumes cariocas da segunda metade do século XIX e do início do século XX. Sua vasta e abrangente obra iconográfica se equipara a dos maiores nomes da fotografia do mundo. Estabeleceu-se como fotógrafo com a firma Marc Ferrez & Cia, em 1867, na rua São José, nº 96, e logo se tornou o mais importante profissional da área no Rio de Janeiro. Cerca de metade da produção fotográfica de Ferrez foi realizada na cidade e em seus arredores, onde registrou, além do patrimônio construído, a exuberância das paisagens naturais.

Acessando o link para as fotografias de Marc Ferrez disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Christoph Albert Frisch (1840 – 1918)

  

 

Christoph Albert Frisch (1840 – 1918) foi o fotógrafo responsável pela impressionante e pioneira série de 98 fotografias realizadas em 1867 na Amazônia: foram os primeiros registros que chegaram até nós de índios brasileiros da região, além de aspectos de fauna e flora e de barqueiros de origem boliviana que atuavam como comerciantes itinerantes nos rios amazônicos. Ele foi o fotógrafo que acompanhou a expedição pela Amazônia liderada pelo engenheiro alemão Joseph Keller e pelo fotógrafo, desenhista e pintor Franz Keller (1835 – 1890). Este último era genro de Georges Leuzinger ( 1813 – 1892), considerado um dos mais importantes fotógrafos e difusores para o mundo da fotografia sobre o Brasil no século XIX, além de pioneiro das artes gráficas no país.

Acessando o link para as fotografias de Christoph Albert Frisch disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Revert Henrique Klumb (c. 1826 – c. 1886)

 

Um dos primeiros fotógrafos estrangeiros a se estabelecer no Brasil, o francês Revert Henrique Klumb (c. 1826 – c. 1886) foi o fotógrafo preferido da família imperial brasileira, tendo sido agraciado com o título de “Fotógrafo da Casa Imperial”, em 1861. Um dos pioneiros na produção comercial de imagens sobre papel fotográfico e uso de negativo de vidro em colódio no Brasil, inaugurou seu estabelecimento fotográfico em 1855 ( Correio Mercantil , de 4 de novembro de 1855, na última coluna ). Foi professor de fotografia da princesa Isabel e, provavelmente, o introdutor da técnica estereoscópica no Brasil, com a qual entre os anos de 1855 e 1862 produziu ampla documentação sobre o Rio de Janeiro.

Foi também o autor do livro Doze horas em diligência. Guia do viajante de Petrópolis a Juiz de Fora, única obra do Brasil do século XIX a ser idealizada, fotografada, escrita e publicada por uma só pessoa. Também foi o primeiro livro de fotografia inteiramente litografado e produzido no país. Dois exemplares estão conservados na Divisão de Obras Raras da Biblioteca Nacional.

Acessando o link para as fotografias de Revert Henrique Klumb disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Leia aqui os artigos já publicados na Brasiliana Fotográfica sobre o Dia Internacional da Fotografia:

 

Dia Internacional da Fotografia – 19 de agosto, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 19 de agosto de 2015

Os 180 anos da invenção do daguerreótipo – Pequeno histórico e sua chegada no Brasil, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 19 de agosto de 2019

Os 180 anos da invenção do daguerreótipo – Os álbuns da Comissão Geológica do Império com fotografias de Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 19 de agosto de 2019

No Dia Internacional da Fotografia, fotógrafas pioneiras no Brasil, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 19 de agosto de 2022

Dia Internacional da Fotografia, uma retrospectiva de artigos,  de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 19 de agosto de 2023

O fotógrafo, botânico e naturalista alemão George Huebner (1862 – 1935)

O fotógrafo, botânico e naturalista alemão George Huebner (1862 – 1935) foi um dos estrangeiros atraídos a Manaus quando a cidade, com o ciclo da borracha, tornou-se um importante pólo econômico. Estabeleceu-se comercialmente em Belém, onde, em 1897, colaborou com o fotógrafo português Felipe Augusto Fidanza (c. 1847 – 1903). Em novembro do mesmo ano, apresentando-se como membro correspondente da Sociedade Geográfica de Dresden, informava a abertura de um ateliê fotográfico em Manaus, a Photographia Allemã, no antigo Hotel Cassina, junto ao palácio do governo. O ateliê mudou algumas vezes de endereço. Como fotógrafo registrou a chegada da modernidade em Belém e em Manaus, etnias indígenas, retratos de personalidades importantes de sua época, a sociedade que surgiu a partir do apogeu da economia da borracha e paisagens da floresta amazônica.

Acessando o link para as fotografias de George Huebner disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

Ao longo de vinte anos, entre 1903 e 1924, Huebner manteve um relacionamento de trabalho e de amizade com o etnólogo alemão Theodor Koch-Grünberg (1872 – 1924). Essa parceria refletiu-se na produção profissional – fotográfica e etnográfica – de ambos. Fotografias e traduções de vocabulários indígenas colhidos por Huebner foram usados por Koch-Grünberg  na ilustração e composição de vários de seus artigos.

Em 1906, Huebner e o professor de Belas-Artes Libânio do Amaral (? – 1920), com quem já estava associado desde 1902, adquiriram, em Belém, o ateliê fotográfico Fidanza, que havia sido o mais tradicional do Pará. Dois anos depois, em 1908, Huebner foi pela primeira vez ao Rio de Janeiro, onde ele e Libânio do Amaral ganharam a medalha de prata e a medalha de ouro pelo Amazonas e o Grande Prêmio pelo Pará, na Exposição Nacional de 1908 (Almanak Laemmert, 1909). Em 1911, foi publicada uma propaganda da Photografia G. Huebner & Amaral informando que seria aberta e estaria à disposição do público para executar qualquer trabalho fotográfico a partir do dia 1º de janeiro de 1911, no Rio de Janeiro. Situava-se no edifício de O Paiz, na esquina da avenida Central com Sete de Setembro (A Notícia, 2 de janeiro de 1911, última coluna).

 

 

Antes, na década de 1880, Huebner veio pela primeira vez para a América do Sul e, em 1888, estabeleceu-se no Peru, onde conheceu o fotógrafo alemão Charles Kroehle (c. 1876 – c. 1902). Durante cerca de três anos e meio, percorreram o território peruano, desde os altiplanos andinos até a costa do Pacífico e a região amazônica. Nessa expedição foram registradas centenas de fotos assinadas pelos dois. Essas imagens são as primeiras de etnias peruanas como os campa, caxibo, cunivo, mayonisha, pito, xipibo, muitas já extintas, de que se tem notícia.

Retornou a Dresden e, em 1894, voltou à Amazônia e fez duas expedições: a primeira, à nascente do rio Orinoco, já na Venezuela, e a outra por um longo trecho do rio Branco, afluente do rio Negro. Nos oito meses em que permaneceu na floresta amazônica, Huebner também aprofundou seus conhecimentos de botânica amazônica, ao coletar e documentar espécimes da flora, especialmente de orquídeas. Dois anos depois, em 1896, ele e o fotógrafo José Gomes Leite (18? – 19?) seguiram no vapor Tabatinga para o Rio Madeira, comissionados pela casa artística do sr, Antonio Luciani, a serviço de suas profissões (Diário Oficial(AM), 25 de janeiro de 1896, última coluna).

 

 

Sobre os registros de indígenas produzidos por Huebner, segundo o site O índio na fotografia brasileira, o fotógrafo tinha uma preocupação em manter preservadas em suas imagens tanto as características que os tornavam indígenas “exóticos” quanto fotografá-los em situações e posições diferentes das habituais. Nos retratos realizados durante suas expedições, o fotógrafo primava pelas expressões de descontração e espontaneidade que extraía de seus retratos, em técnicas e linguagens que evoluíram junto com seu desenvolvimento profissional. Foi dessa forma que, ao fotografar índios Apurinã, Wapixana, Makuxi, Taurepang (ou Menon), Marqueritare e Bindiapá, entre outras, Huebner extraía semblantes que transpareciam as relações de negociação que permeavam os bastidores da captura de imagens de seus modelos.

Além do Instituto Moreira Salles, também possuem fotografias de George Huener em seus acervos o Museu Histórico Nacional, o Musée d´Ethnographie, o Museum Völkerkunde, o Verein für Erdkunde, a Oliveira Lima Library e Boris Kossoy.

 

Breve cronologia do fotógrafo George Huebner (1862 – 1935)

 

George Huebner (na cabeceira) com amigos / Revista Studium da Unicamp.

 

1862 – Nascimento de Georg Hübner, em Dresden, na época, uma das mais importantes cidades da Alemanha. Posteriormente seu nome foi latinizado para George Huebner.

1885 – Huebner realizou sua primeira viagem à América do Sul. Já mantinha contato com sociedades científicas, para as quais iria coletar dados e imagens sobre os povos nativos da região.

1888 - Huebner fez viagens pelo Peru e, estabelecido em Lima, conheceu Charles Kroehle, um fotógrafo alemão. Durante cerca de três anos e meio, percorreram o território peruano, desde os altiplanos andinos até a costa do Pacífico e a região amazônica.

1892 – Huebner retornou a Dresden, publicou textos ilustrados em revistas de ciência popular e de viagens como Globus e Deutsche Rundschau für Geographie und Statistik. Fez palestras em sociedades científicas e forneceu imagens para artigos científicos. Foi sua primeira incursão no meio científico.

1894 – Voltou à Amazônia e fez duas expedições: a primeira, à nascente do Orinoco, já na Venezuela, e a outra por um longo trecho do rio Branco, afluente do rio Negro. Nos oito meses em que permaneceu na Floresta Amazônica, Huebner também aprofundou seus conhecimentos de botânica amazônica, ao coletar e documentar espécimes da flora, especialmente de orquídeas.

1894 /1895 / 1896 – Ao longo desses anos, retornou a Dresden e voltou para o Brasil.

c. 1895 - Coletou o holótipo do lagarto do verme do rio Inirida, que foi posteriormente batizado em sua homenagem como Mesobaena huebneri .

1896 - Foi admitido como naturalista, sócio-correspondente do Verein für Erdkunde (Sociedade de Geografia) de Dresden.

Huebner e o também fotógrafo Gomes Leite seguiram no vapor Tabatinga para o Rio Madeira, comissionados pela casa artística do sr. Antonio Luciani, a serviço de suas profissões (Diário Oficial(AM), 25 de janeiro de 1896, última coluna).

1897 – Em Belém, colaborou com o fotográfo português Felipe Augusto Fidanza (c. 1847 – 1903).

Em novembro, George Huebner, apresentando-se como membro correspondente da Sociedade Geográfica de Dresden, informava a abertura de um ateliê fotográfico em Manaus, a Photographia Allemã, no antigo Hotel Cassina, junto ao palácio do governo (Jornal do Rio Negro, 7 de novembro de 1897).

1899 – Huebner anunciou que seguiria para o rio Juruá e que, durante sua ausência, a Photographia Allemã seria gerenciada por José Gomes Leite (Commercio do Amazonas, 4 de fevereiro de 1899, sexta coluna).

1900 – Huebner anunciou seu estabelecimento fotográfico na rua São Vicente, 23, onde fazia retratos de todos os gêneros e em platinotipia e crayon, diversas vezes ao longo de 1900 (Commercio do Amazonas, 25 de abril de 1900).

 

 

Huebner fotografou a sessão extraordinária do Congresso do Estado do Amazonas (A Federação, orgam do Partido Republicano Federal (AM), 10 de julho de 1900, terceira coluna).

Foi noticiado uma grande afluência de curiosos ao escritório da redação do Commercio do Amazonas para apreciarem as fotografias do sahimento do dr. Eduardo Ribeiro, trabalho do conceituado “atelier” do sr George Huebner . Sahimento é a procissão de condução do cadáver (Commercio do Amazonas, 23 de outubro de 1900, sexta coluna).

Em torno desse ano, foram produzidas as fotografias do Álbum de Vistas de Manaus.

 

 

1902 – Associou-se a Libânio do Amaral (? – 1920), professor de Belas Artes. A Photographia Allemã ficava na rua Eduardo Ribeiro (O Palito, 1º de junho de 1902).

Lindos leques em que se aprecia o primor artístico do exímio desenhista Libânio Amaral da acreditada Photographia Allemã de Huebner & Amaral seriam os mimos para a barraca amazonense (Quo vadis?, 21 de novembro de 1902, última coluna).

Huebner & Amaral fizeram vistas da festa de Natal de 1902 e realizaram uma estereotipia da festa do Christo, em Manaus (Quo vadis?, 28 de dezembro de 1902, quinta coluna).

Huebner forneceu 8 retratos para o Ginásio Amazonense (Mensagens do governador do amazonas para a Assembleia, 1902).

1903 – A delegacia fiscal do Amazonas comprou um retrato do presidente da República, Rodrigues Alves, realizado por Huebner & Amaral (Quo vadis?, 28 de janeiro de 1903, quinta coluna).

O etnólogo alemão Theodor Koch-Grünberg chegou a Manaus para iniciar sua expedição ao alto Rio Negro, patrocinado pelo Museu de Berlim. Dois anos antes havia se apresentado como voluntário do Museu Etnográfico de Berlim e, em 1902, foi contratado como pesquisador assistente trabalhando sob a tutela do pesquisador Karl von den Steinen. Nesse mesmo ano, obteve seu doutoramento na Universidade de Würzburg.

Theodor conheceu Huebner, com quem estabeleceu laços de amizade e uma colaboração profissional de quase 22 anos, que só terminaria com sua morte prematura por malária, em 1924, em Vista Alegre, no atual estado de Roraima. Segundo Andreas Valentin, a parceria entre os dois já se transformara em cumplicidade, que transparecia nas suas cartas. É importante, no entanto, lembrar que Huebner não tivera formação superior de qualquer espécie. Era de se esperar que um homem das ciências, para ser reconhecido como tal, fosse treinado e passasse por todos os trajetos e rituais da Academia. Não foi este o caso de Huebner. A confiança que ele conquistou não só de Koch Grünberg como também de outros cientistas e instituições, principalmente após abandonar o negócio fotográfico, se deve aos seus próprios méritos, como profissional dedicado não apenas à sua atividade-fim, mas também como investigador meticuloso, preciso e sempre em busca do desconhecido. Acrescenta-se, ainda, a postura humanista que eles compartilhavam em sua preocupação com a rápida extinção dos índios.

1904 – O folheto Kautschukgewinnung am Amazonen – Strome, de 15 páginas, sem data, fazia parte da bibliografia do artigo “Chelonios do Brasil”. Foi publicado como texto explicativo de 8 grandes fotografias publicadas pelos srs. G. Huebner & Amaral, de Manaus. Contém uma breve resenha da indústria de borracha no amazonas, com indicações originais sobre as árvores de borracha, os seringais, os processos de extração e preparação e a exportação (Boletim do Museu Paraense de História Natural e Etnografia, 1904 )

Huebner e Amaral ofereceram  à redação do jornal Quo Vadis? duas lindas coleções de bilhetes postais, com fotografias de Manaus e do interior do Amazonas (Quo vadis?, 11 de fevereiro de 1904, segunda coluna). Ao Jornal do Commercio(AM), ofereceram fotografias do edifício do jornal onde funcionavam seus escritórios e oficinas (Jornal do Commercio (AM), 13 de abril de 1904, segunda coluna).

Huebner & Amaral realizaram quadros de 110 cm sobre 86, ampliações de fotografias, em moldura de madeira da terra, das diversas fases do cultivo e do beneficiamento da borracha (Jornal do Commercio, 17 de abril de 1904, segunda coluna).

Huebner chegou em Manaus, vindo de Belém, no vapor Campos Salles (Jornal do Commercio (AM), 14 de junho de 1904, quarta coluna).

O monsenhor Luis Gonzaga de Oliveira e um grupo de seus ex-discípulos foram fotografados no ateliê de Huebner & Amaral. Durante a reunião, o compositor Caetano Briones executou ao piano a música Rio Negro, de sua autoria (Jornal do Commercio (AM), 19 de junho de 1904, quarta coluna).

Huebner estava em Dresden, na Alemanha (Jornal do Commercio (AM), 23 de setembro de 1904, terceira coluna). Em 29 de outubro, já estava de volta em Manaus (Jornal do Commercio (AM), 29 de outubro de 1904, segunda coluna).

O governador do Amazonas, coronel  Constantino Neri (1859 – 1926), foi presenteado com uma fotografia dele produzida por Huebner & Amaral (Jornal do Commercio (AM), 9 de dezembro de 1904, segunda coluna).

O ateliê de Huebner & Amaral é elogiado como o preferido do público devido às incontestáveis provas de competência (Jornal do Commercio (AM), 15 de dezembro de 1904, quarta coluna).

1905 - Exposição de retratos produzidos por Huebner & Amaral dos cinco presidentes do Brasil até então: Deodoro da Fonseca (1827 – 1892), Floriano Peixoto (1839 – 1895), Prudente de Morais (1841 – 1902), Campos Salles (1841 – 1913) e Rodrigues Alves (1848 – 1919) (Jornal do Commercio (AM), 11 de fevereiro de 1905, segunda coluna).

Huebner foi um dos fiscais do carnaval realizado na primeira avenida de Manaus (Jornal do Commercio (AM), 7 de março de 1905, primeira coluna).

Huebner importou artigos fotográficos da Europa (Jornal do Commercio (AM), 9 de junho de 1905, quarta coluna).

Durante uma sessão na Academia de Letras, em Manaus, Huebner teve uma discussão com o fotógrafo italiano Panigal. Amobos fotografavam a ocasião (Jornal do Commercio, 6 de agosto de 1905, última coluna).

1906 – Huebner e Libânio do Amaral adquiriram, em Belém, o ateliê fotográfico Fidanza, que havia sido o mais tradicional do Pará – pertencia ao fotógrafo português Felipe Augusto Fidanza (c. 1847 – 1903), que havia se suicidado três anos antes. O ateliê ficava na rua Conselheiro João Alfredo, 23.

Huebner encontrava-se em Funchal, cidade portuguesa na Ilha da Madeira (Jornal do Commercio, 5 de junho de 1906, quarta coluna). Seguiu para Hamburgo (Jornal do Commercio (AM), 21 de junho de 1906, quarta coluna).

Foi editado durante o governo do coronel Constantino Neri (1859 – 1926) no Amazonas, o álbum Vale do Rio Branco com fotografias produzidas por Huebner. Foi coordenado pelo engenheiro militar Alfredo Ernesto Jacques Ourique (1848 – 1932). Ele e Huebner faziam parte da comitiva da viagem que o governador Neri fez pelo rio Branco, em 1904, a  bordo do Vapor Mararyr. Eles documentaram a vida ribeirinha, as paisagens, as fazendas, as ruínas do Forte São Joaquim, a fronteira do Brasil com a Guiana Inglesa e a população indígena. O álbum Vale do Rio Branco foi editado em Dresden, na Alemanha, ficou pronto, em 1906. Só foi divulgado na Exposição Nacional de 1908, no Rio de Janeiro: todas as gravuras são magníficas, sendo o trabalho do álbum verdadeiramente artístico, feito no estrangeiro (Jornal do Brasil, 24 de junho de 1908, segunda coluna).

Huebner & Amaral fotografaram os assassinos da família Pacoty (Jornal do Commercio (AM), 22 de setembro de 1906, quarta coluna).

1907 – Ao longo desse ano, Huebner importou material fotográfico da Europa.

Na opulenta vitrine da acreditada fotografia de Huebner & Amaral, exposição de retratos do governador Constantino Neri e dos coronéis Antonio Bittencourt e Afonso de Carvalho (Jornal do Commercio (AM), 15 de dezembro de 1907, terceira coluna).

1908 – Um funcionário da Photographia Allemã foi preso, acusado de roubar dinheiro de Huebner (Jornal do Commercio (AM), 10 de janeiro de 1908, última coluna).

A Photographia Allemã inaugurou uma exposição de quadros do artista plástico Ernest Vollbehr (1876 – 1960) (Jornal do Commercio (AM), 18 de fevereiro de 1908, última coluna).

Huebner fotografou o grupo Club Cabocolin, de foliões que se fantasiavam de índios (Jornal do Commercio (AM), 3 de março de 1908, terceira coluna).

Exposição de um retrato da sra. Zuleide de Barros, executado por Huebner, que seria mostrado na Exposição Nacional de 1908, no Rio de Janeiro (Jornal do Commercio (AM), 5 de março de 1908, quinta coluna).

Pela primeira vez, Huebner viajou para o Rio de Janeiro, onde ele e Libânio do Amaral ganharam a medalha de prata e a medalha de ouro pelo Amazonas e o Grande Prêmio pelo Pará, na Exposição Nacional de 1908 (Almanak Laemmert, 1909).

Na gerência do Jornal do Commercio de Manaus, exposição de fotografias de autoria de Huebner realizadas na seção amazonense da Exposição Nacional (Jornal do Commercio (AM), 10 de setembro de 1908, primeira coluna).

Realização de um trabalho sobre os índios Macuchi e Wapishana, por Huebner e pelo etnologista e explorador alemão Theodor Koch Grumberg (1872 – 1924) sobre aspectos dessas tribos, por exemplo, seus vocabulários (Boletim do Museu Paranaense de História Natural e de Etnografia, 1909).

1909 – Exposição de uma fotografia produzida pela casa Huebner & Amaral da passeata da Sociedade do Tiro Brasileiro do Amazonas (Jornal do Commercio (AM), 7 de janeiro de 1909, primeira coluna).

Huebner & Amaral ofereceram ao Jornal do Commercio fotografias da inauguração do Cristo no Tribunal do Juri (Jornal do Commercio (AM), 23 de junho de 1909, segunda coluna)

Huebner participou da expedição para prestar socorro às vítimas da enchente do rio Amazonas. As fotografias foram expostas mostrando a desolação causada pela enchente (Jornal do Commercio (AM), 4 de julho de 1909, quinta coluna, e 5 de julho, quarta coluna).

1910 – Huebner e Libânio do Amaral eram credores do estado do Amazonas pela realização de trabalhos fotográficos para a Comissão de Saneamento e para a Polícia, e também pela publicação da obra Vale do Rio Branco (Relatório dos presidentes dos estados brasileiros (AM), 1910, página 525, página 559 e página 580).

No salão nobre da Photographia Allemã, exposição de um excelente retrato em nítida fotogravura do fundador do Jornal do Commercio de Manaus, o português Joaquim Rocha dos Santos (Jornal do Commercio (AM), 4 de janeiro de 1910, última coluna).

George Huebner e Libânio Amaral estão na Alemanha (Jornal do Commercio (AM), 15 de agosto de 1910, quinta coluna).

1911 – Foi publicada uma propaganda da Photografia G. Huebner & Amaral que estaria à disposição do público para executar qualquer trabalho fotográfico a partir do dia 1º de janeiro de 1911, no Rio de Janeiro. Ficava no edifício de O Paiz, com entrada pela rua Sete de Setembro. O prédio ficava na esquina da avenida Central com Sete de Setembro (A Notícia, 2 de janeiro de 1911, última coluna e  Jornal do Commercio (AM), 27 de janeiro de 1911, penúltima coluna).

Fotografias da extração da borracha e de seu beneficiamento realizadas por Huebner & Amaral ganharam a medalha de ouro na exposição de borracha anexa ao Congresso Comercial, Industrial e Agrícola realizada em Manaus em fevereiro de 1911 (Jornal do Commercio (AM), 18 de março de 1911, terceira coluna e 19 de março de 1911, última coluna).

A revista Fon Fon publica uma matéria elogiando o ateliê de Huebner & Amaral. A fotografia junta patenteará aos nosso leitores o conforto e a sóbria elegância desse atelier, cujos trabalhos são verdadeiras maravilhas (Fon-Fon, 22 de abril de 1911).

 

 

Reputado estabelecimento de arte, a Photographia Allemã passou por várias reformas (Jornal do Commercio (AM), 24 de dezembro de 1911, segunda coluna e 25 de dezembro, primeira coluna).

1912 – Huebner e Libânio do Amaral ofereceram ao Centro Cívico Sete de Setembro uma fotografia do barão do Rio Branco (A Imprensa, 20 de março de 1912, terceira coluna).

O endereço do estabelecimento dos fotógrafos passou a ser avenida Rio Branco, 128 – com a morte do barão do Rio Branco, a avenida Central passou a se chamar avenida Rio Branco.

Huebner chegou ao Maranhão, vindo do Rio de Janeiro (Jornal do Commercio (AM), 20 de abril de 1912, pen~ultima coluna).

Huebner e Libânio do Amaral e outros proprietários e empregados de estabelecimentos fotográficos requerem que o governo decrete uma lei que determine o fechamento de suas casas comerciais aos domingos (A Imprensa, 13 de abril de 1912, primeira coluna). O pedido foi indeferido (A Imprensa, 8 de junho de 1912, última coluna).

Notícia de que Huebner e dona Maria Ângela pagaram imposto de transmissão de propriedade. Será ela esposa de Huebner? (Jornal do Commercio (AM), 30 de junho de 1912, segunda coluna).

Huebner & Amaral cobraram do senhor Carlos Simas, empregado do Banco do Brasil, o pagamento de uma encomenda de fotografias (Jornal do Commercio (AM), 8 de julho de 1912, penúltima coluna).

Publicação de uma carta enviada do rio Orinoco do etnólogo alemão Theodor Koch-Grünberg (1872 – 1924) a Huebner na qual ele narra seu encontro com indígenas em dezembro de 1911 (Jornal do Commercio (AM), 11 de julho de 1912, quinta coluna).

Denúncia de tráfico de índios no interior do Amazonas feita Koch-Grünberg, que encaminhou dois indígenas escravizados para a residência de Huebner e Amaral (Jornal do Commercio (AM), 17 de julho de 1912, terceira coluna).

A Photographia Huebner & Amaral reabriu em 11 de setembro, na rua da Assembleia, 100, antigo endereço da Photographia Guimarães, do fotógrafo português José Ferreira Guimarães (1841 – 1924) (Jornal do Commercio, 9 de setembro de 1917).

 

 

1917 – A Photographia Huebner & Amaral reabriu em 11 de setembro, na rua da Assembleia, 100, antigo endereço da Photographia Guimarães, do fotógrafo português José Ferreira Guimarães (1841 – 1924) (Jornal do Commercio, 9 de setembro de 1917).

A Photographia Huebner & Amaral foi apedrejada por populares em revolta contra a pirataria alemã. Os mostruários do estabelecimento fotográfico foram destruídos (Diário de Pernambuco, 15 de novembro de 1917, quinta coluna).

 

 

1918 – O Almanak Laemmert anunciou o estabelecimento fotográfico G. Huebner, Amaral & Cia, na rua da Assembleia, 100, no Rio de Janeiro.

O estabelecimento fotográfico G. Huebner & Amaral, em Manaus, na avenida Eduardo Ribeiro, foi anunciado pela última vez no Almanak Laemmert.

1919 – O estabelecimento fotográfico G. Huebner & Amaral, de Belém, na rua Conselheiro João Alfredo, foi anunciado pela última vez no Almanak Laemmert.

Foi anunciada a dissolução da sociedade entre George Huebner, Libânio do Amaral e Paulo Erbe, sócio-gerente da firma desde 1912, que passou a ser o único dono do estabelecimento fotográfico G. Huebner, Amaral & Cia (Jornal do Commercio, 23 de novembro de 1919, oitava coluna). Erbe se estabeleceu, posteriormente, na rua República do Peru, nº 100.

 

 

1928 - Foi introduzida no Jardim Botânico do Rio de Janeiro a palmeira Leopoldinia piassaba Wallace, da região do rio Negro, no Amazonas, adquirida de George Huebner, em Manaus (Rodriguésia, junho / setembro de 1936).

1929 – O estabelecimento fotográfico G. Huebner & Amaral, do Rio de Janeiro, na rua República do Peru, 100, foi anunciado pela última vez no Almanak Laemmert.

1930 -  Huebner foi identificado como um incansável estudioso, abrigado infelizmente na mais severa, verídica modéstia, quem primeiramente (da sua chácara perdida num obscuro arrabalde de Manaus) revelou aos meios científicos esse bizarro exemplar da família das palmaceas…a sohnregia excelsa… (Eu sei tudo, maio de 1930).

Foi publicado o artigo As nossas plameiras como elemento de decoração, de autoria de Huebner (O Campo, fevereiro de 1930).

1935 – George Huebner, que em seus últimos anos de vida, vivia em um sítio nos arredores de Manaus coletando espécies vegetais, sobretudo orquídeas, faleceu.

1944 – Apesar de ter sido rebatizado com o nome de Fotografia Artística, o estúdio Photographia Allemã foi depredado devido aos acontecimentos relacionados à Segunda Guerra Mundial, destruindo parte do acervo fotográfico de Huebner.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Beolens, Bo; GRAYSON, Michael; WATKINS, Michael. The Eponym Dictionary of Reptil. Baltimore: The John Hopkins University Press, 2011.

ERMAKOFF , George. Rio de Janeiro 1900 – 1930 – Uma crônica fotográfica. Rio de Janeiro: G. Ermakoff Casa Editorial, 2006.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002.

SCHOEPF, Daniel. George Huebner 1862-1935: um fotógrafo em Manaus. São Paulo: Metalivros, 2005.

Site O índio na fotografia brasileira

TACCA, Fernando de. O índio na fotografia brasileira: incursões sobre a imagem e o meio. História, ciências, saúde – Manguinhos – Vol. 18, nº 1, p.191-223. Rio de Janeiro., 2011.

VALENTIM, Andreas. A fotografia amazônica de George Huebner. Rio de Janeiro: Nau Editora, 2012.

VALENTIM, Andreas. George Huebner e Theodor Koch-Grünberg: diálogos na Amazônia, 1905-1924. Trabalho apresentado na 26ª. Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 1 e 4 de junho de 2008, Porto Seguro, Bahia, Brasil. 

VALENTIM, Andreas. O índio na fotografia de George Huebner.

“Sete de Setembro: uma ponte entre dois maurícios”, por Pedro Vasquez

Sete de Setembro: uma ponte entre dois maurícios

Pedro Karp Vasquez*

 

Esta magnífica fotografia ilustra a importância de dois maurícios para o Recife, ambos alemães: Moritz Lamberg, que tão bem a focalizou em fins do século XIX, e Johan Maurits van Nassau-Singen, que a fez edificar na primeira metade do século XVII, durante o domínio holandês no Brasil.

Do ponto de vista estritamente fotográfico é uma imagem irretocável, como quase todas aquelas produzidas por Lamberg desde que assumiu o comando da Photographia Allemã pernambucana, criada por seu compatriota Alberto Henschel, em 1867. Atuando de início como assistente de Henschel, Lamberg o sucedeu quando ele seguiu para o Rio de Janeiro, em 1870, para abrir outra casa fotográfica de idêntica denominação, depois de ter feito o mesmo em Salvador. Rivalizando com o mestre na prática do retrato fotográfico, sustentáculo do estúdio, Lamberg o ultrapassou amplamente na fotografia paisagística, demonstrando um talento capaz de ombrear com os melhores cultores do gênero no Brasil oitocentista, tais como Revert Henry Klumb, Augusto Stahl , Marc Ferrez e Juan Gutierrez. Lamberg foi sob todos os aspectos um fotógrafo completo, conforme comprova o imponente álbum de sua autoria conservado na Coleção Dona Thereza Christina Maria, da Biblioteca Nacional. Todavia, por um destes misteriosos caprichos do destino, ainda não mereceu a devida consagração póstuma, como a edição de um moderno livro de fotografia de caráter monográfico.

Acessando o link para as fotografias de autoria de Moritz (Maurício) Lamberg disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

A atribuição de intenções aos fotógrafos oitocentistas é sempre arbitrária, pois com frequência eles eram mobilizados por intenções e preocupações diferentes daquelas de seus colegas da atualidade. É lícito especular, no entanto, que Lamberg tenha optado pelo enquadramento frontal para destacar os lampadários da entrada e os arcos metálicos da ponte, que não ficariam claramente visíveis em uma tomada lateral ou em diagonal, como as empregadas por outros fotógrafos de seu tempo, como João Ferreira Villela, por exemplo. Esta frontalidade – antecipatória daquela que seria preconizada por Walker Evans em meados do século seguinte –, também fez sobressair os trilhos de bonde no primeiro plano, que conduzem o olhar para o ponto de fuga da imagem como se convidassem o observador a atravessar a ponte rumo ao bairro de Santo Antônio, passando sob o arco de mesmo nome visível no centro da composição. Existia outro, à sombra do qual Lamberg deve ter instalado sua câmara, o arco da Conceição, situado no bairro do Recife, no limiar da antiga Cidade Maurícia. Ambos persistiram até o século seguinte, sendo demolidos, respectivamente, em 1913 e 1917, por medida de segurança já que estavam bastante corroídos, apresentando risco de desabamento.

A presença de populares observando a faina de Moritz Lamberg comprova o fato de que ainda na década de 1880 um fotógrafo paisagista era figura rara e merecedora de atenção nas ruas brasileiras.

Toda fotografia de época é um convite para uma viagem no tempo. Portanto, para melhor evocar o Recife retratado por Lamberg vale a pena acompanhar um ilustre visitante paulista, que percorreu a cidade exatamente na época em que o mestre alemão a perenizava com sua técnica requintada. Joaquim de Almeida Leite de Moraes, que foi presidente da província de Goiás, registrou suas impressões no livro Apontamentos de viagem, publicado em 1883 e relançado em 2011, por iniciativa do Prof. Antonio Candido de Mello e Souza. Assim viu a capital pernambucana aquele que viria a ser mais tarde avô de Mário de Andrade:

‘Recife, essa Veneza brasileira, é talvez a segunda cidade do Império, não em sua extensão, senão em beleza e sob o ponto de vista comercial.

Percorri todas as suas linhas de bondes; vi de passagem alguns de seus principais edifícios, palácio do governo, da assembleia, teatro, igrejas, etc. O teatro é um grande edifício e de custosa arquitetura. Ruas largas e estreitas; em geral bem calçadas; cidade nova e cidade velha; becos imundos, casas altas e baixas, mercado animado e sofrível: grande agitação comercial: o fluxo e refluxo popular em todas as ruas: suas pontes magníficas ligando as duas cidades, separadas pelo rio, coalhado de navios’.[1]

Por trás do véu argênteo 

Somente o esteta impenitente pode apreciar uma fotografia de época apenas pelo prisma de sua beleza, sem se preocupar em erguer o véu argênteo para contemplar o que se esconde sob a fina e ofuscante superfície dos sais de prata. Isto porque uma imagem antiga esconde mais do que desvela, concentrando numerosas informações a respeito do tema retratado ao mesmo tempo em que antecipa sua vida futura, de modo que só é plenamente compreendida quando a ela são adicionadas as informações invisíveis que mascara.

Cumpre lembrar, portanto, ter sido esta a primeira grande ponte do Brasil, nascida com o nome de Ponte do Recife, interligando os bairros do Recife e de Santo Antonio por sobre o rio Capibaribe. Distingue-se hoje como a mais antiga ponte em funcionamento contínuo do país, sob a denominação de ponte Maurício de Nassau. Isto porque foi Nassau quem a mandou construir e a inaugurou em 28 de fevereiro de 1644 com uma festa que pode ser considerada a fundadora da propaganda política no Brasil. Com efeito, o sagaz administrador do Brasil holandês havia prometido à população pernambucana que faria um boi voar para festejar a abertura da ponte ao tráfego. Prometeu e cumpriu! De tal forma que a multidão acumulada na ponte de fato viu, com deslumbre e estupor, um boi cruzar os céus sobre suas cabeças. Este episódio entrou na história como o caso do “Boi voador”, consolidado no folclore recifense e cantado em prosa e verso até hoje por repentistas e cordelistas. O príncipe Johan Maurits van Nassau-Singen foi, inegavelmente, um dos mais competentes administradores a atuar no Brasil colonial e um homem verdadeiramente prodigioso, mas não era mágico nem feiticeiro, de modo que seu boi celeste tem explicação bem terra-a-terra: era um animal empalhado suspenso em cabos que, graças a um engenhoso sistema de roldanas, parecia voar de moto próprio.

Pernambuco recuperado pelos portugueses, o período colonial encerrado, assim como o Primeiro Império, a ponte do Recife permaneceu em plena atividade, sofrendo naturalmente ao longo do tempo reparos e melhorias, até que em 7 de setembro de 1865 adquiriu a nova denominação de ponte Sete de Setembro, evocadora da Independência do Brasil.

Os trilhos e os lampiões visíveis na imagem sublinham o fato de o Recife ser uma das mais modernas e importantes cidades brasileiras ao ser fotografada por Maurício Lamberg na década de 1880, quando sua população de mais de 100 mil habitantes era superada apenas por Salvador e Rio de Janeiro. Os lampadários a gás carbônico, percebidos no primeiro plano, foram implantados na década de 1860, destronando progressivamente os velhos lampiões que funcionavam desde 1822 com azeite de carrapateira e de cachalote e, a partir de 1856, com óleo de peixe. Pernambuco conheceu a estrada de ferro quatro anos apenas após a sede da Corte Imperial, com a implantação da ferrovia ligando as cidades de Recife e do Cabo, a Recife and S. Francisco Railway, documentada por Augusto Stahl, em 1858. Ao passo que a Brazilian Street Railway Limited instalou o serviço de trens urbanos em 1867. Não tardou para que suas locomotivas fossem apelidadas de Maxambombas, corruptela de machinepump. Para reiterar a modernidade recifense, este foi o primeiro serviço de trens urbanos da América Latina.

* Pedro Karp Vasquez é escritor, fotógrafo e membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

 

Pequeno perfil de Moritz Lamberg (18? – 19-?)

Andrea C. T. Wanderley**

Em 1880, o gerente da Photographia Allemã de Recife, Constantino Barza, anunciou a chegada do fotógrafo europeu Moritz (Mauricio) Lamberg(1), para cuidar da parte técnica e artística do ateliê do berlinense Alberto Henschel (1827 – 1882). Lamberg foi apresentado como celebridade europeia e insigne artista, que havia dirigido estabelecimentos em Berlim e em Viena e obtido prêmios em Paris e em Viena nas exposições de 1868 e 1873. Porém, como um de seus  filhos, o pianista Emilio Lamberg, nasceu em Pernambuco, em torno de 1863, e teria ido para para Viena, com a família, aos 3 anos, é provável que Lamberg tenha estado no Brasil, nessa época, antes de trabalhar para Henschel.

Em 1885, foi concedida a ele a carta de naturalização. Ora identificado como austríaco ora como alemão, em artigo escrito por ele, em 1899, declarou-se teuto-brasileiro. Além de fotógrafo, foi referido pela imprensa como homem de ciência, professor de alemão, ilustre explorador e sócio correspondente de várias agremiações e revistas de ciência do estrangeiro.

 

 

Provavelmente nesse período, entre 1880 e 1885, produziu diversos registros de Recife, capital de Pernambuco. Vinte dessas fotografias foram reunidas no  álbum Ansichten Pernambuco’ s Recife Photographia Allemã, dedicado a d. Pedro II, que faz parte do acervo da Biblioteca Nacional. Outras 48 imagens estão no álbum Vistas de Pernambuco, pertencente ao acervo do Instituto Moreira Salles.

Lamberg produziu também imagens de núcleos coloniais, tipos populares, casas coloniais, espécies do reino vegetal e das principais cidades do Brasil. Fotografou a família imperial no Palácio Itamaraty, no Rio de Janeiro, em 1887.  Em suas fotografias, Lamberg já usava as placas secas de gelatina, inventadas em 1871, o que conferia a elas, segundo Pedro Vasquez, uma invulgar mobilidade.

 

 

Sobre seu talento para a realização de fotografias do mar e de embarcações, Pedro Vasquez comentou que ele poderia ser classificado sem dúvida alguma como um fotógrafo de marinhas, com tanto talento para o gênero quanto Marc Ferrez (1843 – 1923), o único no Brasil a se ter especializado nesse campo, a ponto de se tornar Fotógrafo da Marinha Imperial.

 

 

Provavelmente Lamberg foi morar no Rio de Janeiro em 1887 e, em 1890, tornou-se professor de alemão do Instituto Nacional de Instrução Secundária, atual Colégio Pedro II. Em 1892, Maurício Lamberg embarcou para a Europa, a bordo do paquete inglês Clyde, rumo a Southampton e outras escalas. Em 1894, já se encontrava no Rio de Janeiro. Em 1902, Lamberg estava na Áustria comissionado em propaganda de imigração.

Entusiasta da imigração de europeus para o Brasil, Maurício Lamberg publicou, em 1896, o livro O Brazil, sobre o qual o historiador Sacramento Blake (1827 – 1903) comentou:  “[…] trata da natureza do Brazil e das diversas raças que contém; de sua lavoura, do solo, da imigração e colonização; de suas florestas…”. Para escrever o livro, Lamberg viajou durante anos pelo norte e por parte do sul do país. Escrita originariamente em alemão, a obra, que abrange assuntos como história, geografia, fontes de renda e costumes, foi vertida para o português pelo jornalista e crítico musical Luiz de Castro (1863 – 1920), editado pela Casa Lombaerts e impresso na Tipografia Nunes, com 381 páginas distribuídos em 15 capítulos.

 

 

indice

 

Possuía heliografias executadas e impressas por Dontor F. Albert & Cia, em Munique, e por Verlag von Hermann Zieger, em Leipzig, na Alemanha, além de registros produzidos por ele e por fotógrafos como Marc Ferrez (1843 – 1923), dentre outros. As duas imagens abaixo estão na obra.

 

 

 

Segundo Lamberg, por se preocuparem em demasia com a África e com a Ásia, os países europeus negligenciavam as vantagens econômicas e climáticas que o Brasil oferecia para os europeus do norte. Aconselhava que os recém-chegados ao Brasil evitassem o consumo de frutas em excesso e também tivessem cuidado com a exposição ao sol. Mencionava também o perigo da febre amarela.

Seu filho, o pianista e organista Emilio Lamberg (c.1863 – 1919), fez bastante sucesso, tendo se apresentado com os mais destacados músicos de sua época. Porém, morreu paupérrimo (Correio da Manhã, 18 de agosto de 1919, na sexta coluna). Seu outro filho, Manfredo Carlos Lamberg (18? – 1921), que ele chamava de Fred e o acompanhou em algumas de suas viagens ao norte do Brasil, foi major, professor de alemão, telegrafista, agrimensor e engenheiro (O Cearense, 25 de dezembro de 1890, na primeira colunaJornal do Brasil, 15 de junho de 1891, na segunda colunaDiário de Notícias, 5 de janeiro de 1895, na sexta coluna, O Pará, 31 de março de 1900, na primeira coluna, A Época, 23 de dezembro de 1912O Paiz, 24 de julho de 1914, na primeira coluna).

 

Cronologia de Moritz (Maurício) Lamberg 

 

 

1863 – De acordo com a dissertação de Regina Beatriz Quariguasy Schlochauer, A presença do piano na vida carioca no século passadoapresentada ao Departamento de Música da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, sob orientação do Prof. Dr. Amilcar Zani Netto, o pianista Emílio Lamberg, filho de Maurício Lamberg, teria nascido em Pernambuco, em 1863, e ido para para Viena, com a família, aos 3 anos. Segundo noticiado pelo jornal O Paiz, de 18 de agosto de 1919, ele teria falecido com 52 anos em 1919, ou seja, teria nascido em 1867 ou 1868. Com essas informações, pode-se deduzir que, possivelmente, nessa época Maurício Lamberg estava vivendo no Brasil.

1880 – O gerente da Photographia Allemã de Recife, Constantino Barza, anunciou a chegada do fotógrafo europeu Maurício Lamberg para cuidar da parte técnica e artística do ateliê do berlinense Alberto Henschel (1827 – 1882). Lamberg foi apresentado como celebridade europeia e insigne artista, que havia dirigido estabelecimentos em Berlim e Viena e obtido prêmios em Paris e em Viena nas exposições de 1868 e 1873 (Diário de Pernambuco, 30 de janeiro de 1880).

O Instituto Moreira Salles possui o álbum Vistas de Pernambuco, com 48 fotografias da cidade de Recife, produzidas por Lamberg em torno desse ano.

 

 

1880 – 1885 – O álbum de sua autoria, Ansichten Pernambuco’ s Recife Photographia Allemã, foi provavelmente produzido nesse período. Dedicado a d. Pedro II, faz parte do acervo da Biblioteca Nacional, e possui 2o fotografias de Recife.

 

 

1881 – Lamberg fez uma petição à Associação Comercial da cidade do Recife para que se ordenasse o registro da escritura da compra que fez do estabelecimento denominado Photographia Allemã, que era de propriedade de Alberto Henschel (1827 – 1882) (Diário de Pernambuco, 19 de setembro de 1881, na quarta coluna).

Alberto Henschel e Lamberg convidavam o público para apreciar os trabalhos de nossa casa, que vão ser exibidos na próxima exposição que terá lugar no Rio de Janeiro (Diário de Pernambuco, 14 de novembro de 1881).

 

 

1884 – Após uma longa temporada de estudo na Europa, o filho de Lamberg, o pianista e organista Emilio Lamberg (1860 – 1919), chegou ao Brasil, no vapor Niger, que havia partido da França (Diário de Pernambuco, 6 de março de 1884, na primeira coluna; e Diário de Pernambuco, de 13 de março de 1884, na primeira coluna). Dias depois, Emilio fez uma apresentação no primeiro andar do sobrado onde ficava a Photographia Allemã, na rua Barão da Vitória, nº 52 (Diário de Pernambuco, 29 de março de 1884, na penúltima coluna). Maurício Lamberg convidou o público para a apresentação de seu filho, no Teatro deSanta Isabel, inicialmente agendada para o dia 19 de abril e depois transferida para o dia 24 do mesmo mês. O recital foi um sucesso e Emilio se apresentou várias outras vezes (Diário de Pernambuco, 9 de abril de 1884, na quarta colunaDiário de Pernambuco, 18 de abril de 1884, na segunda coluna; e Diário de Pernambuco, 27 de abril de 1884, na quinta coluna).

1885 – Foi concedida a Maurício Lamberg, identificado como um súdito austríaco, a carta de naturalização (Diário de Pernambuco, 12 de abril de 1885, na primeira coluna e 29 de abril, na quarta coluna).

Em uma notícia sobre o suicídio de um empregado no estabelecimento Photographia Allemã, localizada na rua Barão da Vitória, em Recife, Lamberg foi identificado como proprietário da casa fotográfica (Jornal do Commercio, 27 de maio de 1885, na quarta coluna; e Diário de Pernambuco, 15 de maio de 1885, na primeira coluna).

1887 – Representando a casa fotográfica Alberto Henschel, seu sócio viajante Lamberg esteve de janeiro a março de 1887, em Vitória, no estabelecimento fotográfico de Ayres, provavelmente Joaquim Ayres, que iniciou sua carreira como funcionário do fotógrafo Joaquim Insley Pacheco (c. 1830 – 1912), no Rio de Janeiro. O estabelecimento seria a Photographia Artística Vitoriense (O Espírito-Santense, 1º de janeiro de 1887, e A Província do Espírito Santo, 26 de fevereiro de 1887, na última coluna, e O Espírito Santense, 2 de março de 1887, na última coluna). Dias depois, Lamberg anunciou a exposição das fotografias produzidas em sua estadia em Vitória (A Província do Espírito Santo, 13 de março de 1887, na primeira coluna). Na época, a Photographia Artística Vitoriense ficava no Largo do dr. João Clímaco, nº 6.

No estabelecimento fotográfico de Alberto Henschel, a Photographia Allemã, na rua dos Ourives, nº 40, atual rua Miguel Couto, no Rio de Janeiro, foi inaugurada uma exposição de vistas fotográficas de pontos do norte do país, produzidas por Lamberg, na época, um dos sócios do ateliê (The Rio News, 5 de maio de 1887, na primeira colunaDiário de Notícias, 20 de maio de 1887, na penúltima coluna sob o título “Vistas fotográficas”; e Novidades, 21 de maio de 1887, na segunda coluna). As fotografias serviriam de modelos para as gravuras em madeira que viriam a ilustrar o livro, na época intitulado “Esquissos sobre o norte do Brasil em relação à colonização”, que estava sendo escrito, em alemão, por Lamberg. Eram imagens de núcleos coloniais, tipos populares, casas coloniais, espécies do reino vegetal, entre outras. Sobre o conjunto de imagens, escreveu-se: é uma coleção curiosa mesmo para quem a vir desacompanhada de texto explicativo (Jornal do Commercio, 22 de maio de 1887, na sexta colunaO Cearense, 20 de julho de 1887, na quarta coluna).

 

 

Em 1º de junho, Lamberg fotografou a família imperial no Palácio Itamaraty. Ficou assim o grupo: ao centro o imperador e a imperatriz; à direita do imperador, a princesa imperial com seu filho o príncipe d. Luiz e junto a si o príncipe d. Antonio e o príncipe do Grão-Pará, o conde d´Eu e o príncipe d. Augusto, ficando estes no segundo plano. À esquerda da imperatriz, figurou sentado o príncipe d. Pedro (O Paiz, 20 de junho de 1887, na quarta coluna, sob o título “Noticiário” e A Federação, 28 de junho de 1887, na primeira coluna).

Na reunião da diretoria da Sociedade Central de Imigração, presidida pelo senador Escragnolle Taunay, após a leitura do expediente, apresentou-se Lamberg, austríaco, que faz sentir a facilidade com que poderiam instalar-se no Brasil vários compatriotas seus, trabalhadores de primeira ordem que na Europa já não podem conseguir certas condições de bem estar. Devido à complexidade da questão, foi pedido para que Lamberg comparecesse na reunião seguinte da diretoria, no dia 5 de maio (A Immigração, 30 de junho de 1887, na segunda coluna).

A visita que Lamberg fez à redação do Correio Paulistano foi registrada pelo jornal com a publicação da matéria “Um estrangeiro amigo no Brasil”(Correio Paulistano, 29 de julho de 1887, na primeira coluna).

 

 

Foi veiculada uma propaganda da Photographia Allemã: Alberto Henschel & Co – Retratos em fotografia e a óleo, sendo estes feitos pelo artista E. Paft e aqueles pelo artista sr. Lamberg. Rua dos Ourives, 40, das 9 horas da manhã às 4 da tarde (Jornal do Commercio, 2 de outubro de 1887, na segunda coluna).

Seu filho, o pianista Emilio Lamberg chegou ao Rio de Janeiro.

1888 – Lamberg e seu filho, o pianista e organista Emilio Lamberg, visitaram a redação do jornal Diário de Notícias. Foi anunciado que Emilio se apresentaria no dia 19 de junho no Club Beethoven, inaugurado em 1882, que abrigava saraus com os principais nomes da música clássica. De acordo com o jornal, Emilio Lamberg havia estudado na Academia de Música de Berlim e nos conservatórios de Viena e de Paris, tendo sido aluno do músico francês Camille Saint-Saens (1835 – 1921). Nesta matéria Lamberg foi identificado como escritor e viajante austríaco (Diário de Notícias, 9 de novembro de 1888, na última coluna, sob o título “Echos e Notas”).

1889 – Seu filho, Manfredo Carlos Lamberg, prestou exames para a Escola Normal, no Rio de Janeiro (Jornal do Commercio, 28 de janeiro e 12 de fevereiro de 1889, ambos na segunda coluna).

1890 – Mauricio Lamberg foi nomeado professor substituto da cadeira de alemão do Instituto Nacional de Instrução Secundária, atual Colégio Pedro II (Diário de Notícias, 7 de fevereiro de 1890, na penúltima coluna). Inscreveu-se para a vaga de professor efetivo (Jornal do Commercio, 15 de junho de 1890, na terceira coluna).

Foi noticiado que um parecer sobre a obra de Lamberg, um estudo sobre o Brasil sob uma ótica econômica e social, seria apresentado ao presidente do Brasil, marechal Deodoro da Fonseca (1827 – 1892). Para escrever o livro, Lamberg teria viajado durante anos pelo norte e por parte do sul do país (Diário de Notícias, 5 de março de 1890, na penúltima coluna). Uma curiosidade: quando esteve em Santa Catarina, conheceu o fotógrafo e agente consular Albert Richard Dietze (1839 – 1906), que o hospedou. Na ocasião, houve um sarau com dança na casa do anfitrião (O Brazil, pág. 256).

Emilio Lamberg era professor de piano da Academia de Música, fundada em 1885 pelo Club Beethoven. Funcionava na Escola de São José (Gazeta de Notícias, 26 de abril de 1890, no centro da página). Foi admitido como professor de órgão no Instituto Nacional de Música (Jornal do Commercio, 30 de agosto de 1890, na última coluna). Pouco depois viajou para a Europa onde foi acompanhar a construção do órgão encomendado pelo Instituto à casa Wilhelm Sauer, em Frankfurt, na Alemanha (Jornal do Commercio, 17 de novembro de 1890, na sétima coluna). Ficou na Europa até 9 de junho de 1894 (Jornal do Commercio , 20 de agosto de 1904, na sexta coluna).

1892 – Maurício Lamberg embarcou no dia 19 de abril para a Europa a bordo do paquete inglês Clyde, rumo a Southampton e outras escalas (O Paiz, 20 de abril de 1892, na penúltima coluna).

Emilio Lamberg foi demitido do cargo de professor de órgão no Instituto Nacional de Música, a bem do serviço público. Posteriormente, tornou-se um professor particular de sucesso (Diário de Notícias, 26 de agosto de 1892, na terceira coluna e Jornal do Brasil, 26 de agosto de 1892, na primeira coluna).

1894 – Maurício Lamberg estava inscrito para o concurso para amanuense da Diretoria do Interior e Estatísticas, da Prefeitura do Rio de Janeiro (O Paiz, 16 de setembro de 1894, na quinta coluna). Amanuense era o funcionário de repartições públicas que faziam cópias, registros e cuidavam da correspondência.

Foi anunciado que Moritz Lamberg, depois de ter viajado pelo nosso país oito anos, escreveu um importante trabalho – O Brazil, que vai ser editado pela casa H. Lombaerts & C, desta capital. O livro, que será luxuosamente impresso, contém um estudo sobre a nossa história, geografia, fontes de renda, costumes, caráter do povo e 50 fotografias representando trechos de nossas matas virgens e seculares e vistas das cidades mais importantes (O Paiz, 30 de dezembro de 1894, na sexta coluna).

1895 – Transcrição do capítulo  “As classes baixas do Brasil –  caboclos, mulatos, cabras, negros e antigos escravos”, do livro de Lamberg, O Brasil, que ainda não havia sido lançado. O trecho foi traduzido pelo professor Cândido Jucá (1865 – 1929) (Diário de Pernambuco, 13 de fevereiro de 1895, na primeira coluna).

Notícia sobre o livro O Brazil, identificado como um estudo completo da história sociológica do país (A Semana, 16 de fevereiro de 1895, na segunda coluna).

Maurício Lamberg estava relacionado em uma lista da Secretaria do Interior e Justiça do Estado do Rio de Janeiro para completar o sello dos respectivos requerimentos (Jornal do Commercio, 20 de junho de 1895, na terceira coluna).

Na Câmara dos Deputados, era pleiteada uma verba para ajudar a publicação do livro de Lamberg em quatro línguas, como reforço do fomento que o Governo fazia à imigração, estabelecendo superintendências na Europa (O Paiz, 8 de junho de 1895, na quinta coluna, e Jornal do Commercio, 9 de novembro de 1895, na terceira coluna).

1896 – Emilio Lamberg e sua mulher, professores de música, comunicaram sua mudança para Petrópolis (Jornal do Commercio, 2 de fevereiro de 1896, na penúltima coluna).

Maurício Lamberg apresentou à Câmara de Deputados uma petição pedindo isenção de direito para as gravuras e capas que ilustrariam o livro sobre o Brasil que ele estava prestes a publicar (Jornal do Commercio, 4 de dezembro de 1896, na segunda coluna, e The Rio News, 8 de dezembro de 1896, na terceira coluna). O pedido foi indeferido (Liberdade, 2 de dezembro de 1896, na última coluna).

Foi publicado seu livro, O Brazil, editado pela Casa Lombaerts e impresso na Tipografia Nunes, com 381 páginas (Diário do Rio, 2 de abril de 1897, na quarta coluna).

1897 – Maurício Lamberg, identificado como professor, tinha estado no Palácio Itamaraty (O Paiz, 19 de janeiro de 1897, na quinta coluna).

Foi enviado um exemplar do livro O Brazil para a redação do Jornal do Brasil (Jornal do Brasil, 31 de março de 1897, na terceira coluna).

Foi publicado um comentário sobre O Brazil, referido como um importantíssimo livro, cuja edição era primorosa e as gravuras admiráveis de nitidez (Revista Illustrada, abril de 1897, na segunda coluna).

Publicação de uma crítica ao livro O Brazil (A Notícia, 8 de abril de 1897, na penúltima coluna, na coluna “Semana Literária”). Outra crítica foi publicada descrevendo os temas do livro, com a transcrição do trecho em que se refere aos jornalistas atuais (Gazeta de Notícias, 27 de abril de 1897, na primeira coluna). O livro estava à venda na Livraria Laemmert, na rua do Ouvidor, 66 (A Notícia, 26 e 27 de abril, na última coluna).

Em comentário do dr. Figueiredo Magalhães, transcrição de um trecho do livro O Brazil, de autoria de Moritz Lamberg, sobre a pretensa descoberta da vacina amarela pelo dr. Domingos Freire (1849 – 1899), professor da Academia de Medicina no Brasil. Lamberg afirmava que conhecidos dele haviam morrido de febre amarela depois de terem sido vacinados (Jornal do Commercio, 11 de abril de 1897, na primeira coluna). Devido a esse trecho de seu livro, Lamberg foi convidado a comparecer ao Instituto Bacteriológico dr. Domingos Freire a fim de dar esclarecimentos, certo de que se não o fizer no espaço de oito dias sua afirmação será tida como falsa e aleivosa (O Paiz, 13 de abril de 1897, na quinta coluna).

 

 

A Casa Garraux, na rua Quinze de Novembro, em São Paulo, onde estava à venda o livro O Brasil , enviou um exemplar para a redação do Correio Paulistano (Correio Paulistano, 29 de maio de 1897, na terceira coluna).

1898 – O livro O Brasil estava à venda na Livraria A. Lavignasse Filho & C, na rua dos Ourives, 7 (A Notícia, 12 e 13 de agosto de 1898, na última coluna).

Publicação do texto “Viagem ao Pará”, de 12 de outubro de 1898, de autoria de Lamberg. Ele descreveu sua viagem de 14 dias, a bordo do paquete Alagoas, do Lloyd Brasileiro, que partiu do Rio de Janeiro em 24 de setembro de 1898, até o Pará. Tive ocasião de ver de novo as capitais do Norte, que eu havia visitado 13 anos atrás e que descrevi no meu livro Bresilien.  Antes de chegar em Belém, o navio parou nos portos de Vitória, Salvador, Maceió, Recife, João Pessoa, Natal, Fortaleza e São Luis. Ele exaltou a opulência do Pará: O Pará! Que diferença de todas as outras cidades do Brasil – Aqui não há indústria, toda a riqueza vem da natureza (Jornal do Brasil, 25 de setembro de 1898, na primeira coluna e Gazeta de Petrópolis, 10 de novembro de 1898, na terceira coluna). Em sua passagem por São Luís, no Maranhão, e Belém, no Pará, foi identificado como engenheiro (O Pará, 9 de outubro de 1898, na penúltima coluna, e Diário do Maranhão, 15 de novembro de 1898, na terceira coluna).

Após uma longa estada no rio Acará, retornou a Belém o ilustre explorador Moritz Lamberg (O Pará, 11 de dezembro de 1898, na primeira coluna). Escreveu o artigo “Excursão ao rio Acará (O Pará, 13 de dezembro de 1898, na quarta coluna15 de dezembro de 1898, na última coluna17 de dezembro, na segunda coluna).

1899 – Lamberg regressou ao rio Acará, onde chefiava a discriminação de lotes para a fundação de um núcleo colonial ali (O Pará, 2 de janeiro de 1899, na última coluna).

Lamberg, identificado como ilustre homem de ciência, embarcou no vapor Brasil para Manaus, no Amazonas (República, 18 de maio de 1899, na última coluna).

Lamberg escreveu o artigo “Brasil-Alemanha”, publicado com a assinatura de Julio Lamberg. No dia seguinte, o jornal corrigiu o erro (A República19 de maio de 1899, na segunda coluna, e 20 de maio de 1899, na quinta coluna). O artigo foi uma resposta a uma matéria publicada no jornal A Província do Pará, publicada alguns dias antes, em dia 14 de maio, sobre uma publicação de um jornal de Bremen, na Alemanha, aconselhando o governo alemão a hastear sua bandeira n’um estado do sul do Brasil.

Seu livro, O Brasil, já estava traduzido para o italiano, para o francês e para o inglês. Embarcou para o rio Madeira no vapor Porto de Moz. Ele era sócio correspondente de várias agremiações e revistas de ciência do estrangeiro (Commercio do Amazonas, 8 de julho de 1899, na penúltima coluna).

1900 – No início de fevereiro, estava em Belém (O Pará, 5 de fevereiro de 1900, na penúltima coluna). No paquete Pernambuco, Lamberg regressou do Amazonas para o Rio de Janeiro. Esteve também na Bolívia e no Peru. Trouxe grande cópia de informações geográficas e etnográficas, notas sobre a vida prática e comercial de todas aquelas regiões, uma monografia sobre a borracha e descrição das duas capitais brasileira e da de Iquitos, no Peru, tratando nela da vida social, política e cultural, e grande quantidade de fotografias interessantíssimas dos diversos pontos que percorreu (Jornal do Commercio, 20 de março de 1900, na última coluna)

O livro O Brasil estava no catálogo do leilão da livraria de A. Pinheiro (Jornal do Commercio, 23 de novembro de 1900, na primeira coluna).

1901 – No artigo Por que me ufano de meu país, do poeta mineiro Affonso Celso (1860-1938), foi mencionado que Lamberg afirmava que o céu do Brasil era mais bonito do que o da Europa (A Cidade, 20 de julho de 1901, na primeira coluna).

1902 – Lamberg estava na Áustria comissionado em propaganda de imigração e para ele foi enviado uma via de letra em florins para Viena (O Commercio de São Paulo, 18 de maio de 1902, na sexta coluna).

Na edição de 20 de setembro de 1902 da publicação Relatórios dos Presidentes dos Estados Brasileiros foi transcrito um trecho do livro O Brasil sobre a inferioridade educacional dos fazendeiros do país: O fazendeiro possuía apenas alguns conhecimentos empíricos sobre a lavoura e era por demais fidalgo para se ocupar seriamente com ela…

Sobre a indiferença dos governos em relação à indústria agrícola, foram transcritas algumas palavras de Lamberg, na edição de 20 de setembro da publicação Mensagens do governador do Rio de Janeiro para a AssembleiaA situação lamentável da lavoura teria materialmente falando arruinado qualquer outro país; mas o Brasil assemelha-se ao gigante de Anteu que assim que tocava a terra adquiria novas forças.

1903 – Em um vibrante opúsculo escrito para a colônia italiana que emigra por Pasquale Vincenti e publicado em Nápoles, a obra O Brazil foi mencionada (Gazeta de Notícias, 3 de dezembro de 1903, na terceira coluna).

1904 – No concerto realizado em 14 de agosto, no salão do Instituto Nacional de Música, Emilio Lamberg não pode usar o órgão porque o conservador do mesmo não havia executado os consertos necessários ao instrumento. Devido à reação que teve diante do problema, foi proibido pelo ministro das Belas Artes a alugar o mesmo salão para futuros concertos. Dias depois, Emilio Lamberg afirmou, em uma nota assinada, que sua demissão do Instituto Nacional de Música, quando se encontrava na Europa, em 1892, havia sido o resultado da ação de seus desafetos. Esclareceu que, na verdade, a demissão foi declarada sem efeito, já que o contrato celebrado para que ele fosse o titular do órgão do Instituto havia sido celebrado em 18 de setembro de 1890 e só duraria um ano. Afirmou também já ter quitado sua dívida com o Tesouro Federal. Terminou a nota declarando: Depois disso – creio que posso esperar me deixem em paz os infatigáveis zoilos que tão desumana e covardemente me perseguem. Nada mais direi ainda mesmo provocado. Teve negado seu pedido de reintegração ao cargo de professor da cadeira de órgão do Instituto Nacional de Música (Correio da Manhã, 16 de agosto de 1904, na penúltima colunaJornal do Commercio , 20 de agosto de 1904, na sexta colunaCorreio da Manhã, 28 de agosto de 1904, na quinta coluna e Relatórios do Ministério da Justiça, março de 1905).

1905 – O professor Emilio Lamberg dirigiu um concerto de sucesso, no Club dos Diários, no Rio de Janeiro. Apresentou-se com Annunziata Palermini e Leopoldo Duque-Estrada Júnior (Gazeta Fluminense, 12 de abril de 1905, na terceira coluna).

1906 – Emilio Lamberg, protegido pelo pianista compositor alemão de origem polaca Moritz Moszkowski (1854 – 1925) estabeleceu-se em Paris. Foi assistente do célebre professor de canto polonês Jean Reszké (1850 – 1925). Viajou à Alemanha e à Áustria para conhecer os novos processos da arte pianística (Jornal do Commercio, 8 de dezembro de 1914, na quarta coluna).

1907 – Em abril, Emilio Lamberg deu um concerto na Sala Erard, em Paris (Jornal do Commercio, 8 de dezembro de 1914, na quarta coluna).

1908 – Em março, Emilio Lamberg deu um outro concerto na Sala Erard, em Paris, dessa vez com a participação do violoncelista catalão Pablo Casals (1876 – 1973). Repetiu a apresentação em Londres, o que lhe valeu um convite para tocar, no ano seguinte, na Sociedade Filarmônica, sob a regência de Mr Woord. (Jornal do Commercio, 8 de dezembro de 1914, na quarta coluna).

1909 – Numa apreciação do seu livro O Brasil, Lamberg foi identificado como alemão (A Província, 5 de outubro de 1909, na quarta coluna).

Em Londres, Emílio Lamberg  esteve em um recital do pianista português Vianna da Motta (1868 – 1948) (Jornal do Commercio, 8 de dezembro de 1914, na quarta coluna).

Foi publicada uma notícia sobre um drama histórico escrito por M. Lamberg, provavelmente Maurício Lamberg, identificado como alemão, sobre a proclamação da República no Brasil. O livro, Dom Pedro II von Bragança und sein Paladon, estava sendo impresso em Viena pelo editor F.B. Zelanoroski. Segundo a notícia, o autor referia-se com carinho a Saldanha da Gama (1846 – 1895) e enaltecia o Visconde de Ouro Preto (1836 – 1912) (O Commercio de São Paulo, 13 de novembro de 1909, na penúltima coluna e Diário da Tarde, Paraná, 15 de novembro de 1909, na última coluna). No ano seguinte, 1910, o Jornal do Brasil noticiou ter recebido possivelmente o mesmo drama histórico mencionado, de autoria de Moniz Lamberg, de origem polaca (Jornal do Brasil, 6 de fevereiro de 1910, na terceira coluna).

1910 – Emilio Lamberg fez uma turnê pela Europa com a violoncelista portuguesa Guilhermina Suggia (1885 – 1950), primeira mulher de Pablo Casals.

1911 e 1912 – Com Pablo Casals, Emilio fez turnês pela Áustria, Alemanha, Holanda, Hungria e Rússia.

1912 – O livro O Brazil foi identificado como uma importantíssima obra sobre o Brasil (Jornal do Commercio, 15 de abril de 1912, na quarta coluna).

1914 – Após uma permanência de oito anos na Europa, Emilio Lamberg retornou ao Brasil e comunicou que voltaria a dar aulas de piano. Nessa matéria, ele descreveu sua vida nesse período europeu (Jornal do Commercio, 8 de dezembro de 1914, na quarta coluna).

1915 – Emilio Lamberg chegou a Curitiba, onde hospedou-se na casa de Raul dos Guimarães Bonjean (Diário da Tarde, Paraná, 5 de janeiro de 1915, na última coluna). Apresentou-se no salão do Ginásio Paraná (Diário da Tarde, Paraná, 19 de janeiro de 1915, na quinta coluna).

Uma propaganda anunciava que Emilio Lamberg havia chegado recentemente da Europa e oferecia aulas de piano no Rio de Janeiro e em Petrópolis (A Notícia, 30 / 31 de janeiro de 1915, na última coluna).

1918 – Emilio Lamberg estava gravemente doente. Em seu benefício, foi realizado um concerto no salão nobre do Jornal do Commercio (O Paiz, 28 de dezembro de 1918, na primeira coluna).

1919 – Emilio Lamberg faleceu, em 16 de agosto, no Hospital Nacional de Alienados, devido a uma arteriosclerose generalizada e foi enterrado no Cemitério São João Batista. Foi rezada uma missa em sua memória na Igreja da Glória (Última Hora, 17 de agosto de 1919, na segunda colunaCorreio da Manhã, 18 de agosto de 1919, na sexta colunaO Paiz, 18 de agosto de 1919, na terceira colunaJornal do Commercio, 5 de setembro de 1919, na segunda coluna). No convite para a missa constava como sua mulher Lily Lamberg, que na ocasião estava em Paris, e, como seu irmão, Manfredo Carlos Lamberg (18? – 1921). Osmar, Olga, Elza, Oscar e José Carlos, citados no anúncio, seriam netos de Moritz (Correio da Manhã, 26 de agosto de 1919, na última coluna e O Paiz, 16 de junho de 1926, na quarta coluna).

1921 – Em Minas Gerais, falecimento do engenheiro Manfredo Carlos Lamberg, o outro filho de Moritz. Foi realizada, em sua homenagem, uma missa da igreja da Glória, no Largo do Machado (Correio da Manhã, 7 de março de 1921, na segunda coluna). Sobre ele, Lamberg escreveu no capítulo VIII de seu livro O Brazil: …tinha uma estatura de gigante, a quem a natureza dera ossos duplamente fortes e a força quíntupla de um homem comum. Não era uma grande ilustração mas todos os seus gestos indicavam coragem e energia e seus nos seus olhos refletia-se a  intrepidez.

1957 – Em seu livro, Ordem e Progresso, sobre a transição do regime monarquista ao republicano no Brasil, da abolição da escravatura à Primeira Guerra Mundial, o pernambucano Gilberto Freyre (1900 – 1987), considerado um dos mais importantes sociólogos do século XX, cita e discorda de uma passagem no capítulo “Pernambuco” do livro Brazil, de Lamberg, a quem se refere como teuto-sergipano do Recife: … A causa de não contribuírem os brasileiros do Norte e do Sul do Império com nenhum trabalho de “importância universal” para as ciências e o saber, julgou encontrá-la Lamberg – esquecido de todo de um José Bonifácio, de um Teixeira de Freitas, de um José Vieira – não “na falta de inteligência e boa vontade” mas “na natureza do habitante do trópico, incapaz de consagrar toda a sua existência ao exame de um problema científico, sacrificando muitos gozos da vida, como faz o sábio das zonas temperadas e frias…” . Lamberg fazia uma exceção a Tobias Barreto (1839 – 1889). Freyre achava significativo Lamberg reconhecer que tanto o Pará como Pernambuco estavam procurando “recuperar o tempo perdido” em relação às artes e às ciências. Em outro trecho, Freyre citou o conselho que Lamberg dava àqueles que contraíssem febre amarela: preferir se consultar com médicos brasileiros, em sua opinião, mais preparados do que os europeus para o tratamento da doença.

 

Alguns trechos do livro O Brazil, de Moritz (Maurício) Lamberg

No Preâmbulo

Sabemos, por experiência, que a grande República sul-americana é, em geral, sobre o ponto de vista de sua vida íntima, pouco ou nada conhecida e até mesmo goza injustamente de uma reputação duvidosa.

Considerando, pois, que a revolução social e política que seu deu nesse país fez com que ele tomasse parte mais saliente nos interesses cronológicos do mundo civilizado e que, além disso, a América do Norte em consequência dos embaraços que opôs ultimamente à imigração, parece querer ceder tacitamente ao Brasil o primeiro lugar nesse sentido, resolvemos reunir as notas que tomamos durante os dezesseis anos de permanência neste país e os oito anos de viagem pelo interior e oferecê-las ao público.

Na Introdução

Não se pode bem precisar qual o verdadeiro descobridor do Brasil. As primeiras notícias dessa região da América foram enviadas ao seu soberano, El-Rey d. Manoel de Portugal, pelo almirante Pedro Alvares Cabral que em derrota para as Índias ali aportara por acaso.

No capítulo I “Pernambuco”

Sobre a pouca tendência dos brasileiros à dedicação às ciências:

A causa não está na falta de inteligência ou de boa vontade, mas na natureza do habitante dos trópicos incapaz de consagrar toda a sua existência ao exame de um problema científico, sacrificando muitos gozos da vida, como faz o sábio das zonas temperadas e frias(pág. 12).

No capítulo III  “As classes baixas do Brasil –  caboclos, mulatos, cabras, negros e antigos escravos”

Quanto às baixas classes cultas do país convenceram-se longos anos de minuciosa e exata observação que os homens dessa classe acima são os mais felizes desse mundo sub-lunar. Necessidade e miséria são para eles coisas quase inteiramente desconhecidas e só em sentido científico pode-e-lhe aplicar a teoria da luta pela vida.

O que se lhes torna a vida tão leve não é pobreza de espírito ou falta de suscetibilidade e sentimento, é. ao contrário, uma qualidade ingênita, um estoicismo inato, que os faz atravessar a vida alegres e satisfeitos, e não se alteram com as paixões humanas como a cobiça, a inveja e a ambição. Somente o amor agita de vez em quando essas existências tranquilas (pág. 36).

No capítulo IV “As classes médias e altas no Brasil”

Sobre caráter, moralidade, hipocrisia e relação entre homens e mulheres brasileiros:

O caráter do brasileiro é bom, agradável, obsequiador e, no todo, amável. Falta-lhe, porém em geral uma base moral sólida. Substituem frequentemente a moralidade por dogmas sociais, elevado à altura de uma lei moral. Esses dogmas, com que se cobrem abusos, contêm muitos pontos que restringem a liberdade na vida social e proíbem a franqueza nas palavras e nos atos, mais do que em qualquer parte do mundo civilizado, resultando daí, a hipocrisia.

Este defeito torna-se sobretudo saliente nas relações entre o homem e a mulher. Ostenta-se um puritanismo como raras vezes se se nota alhures. As aparências degeneram não raro nas mulheres em afetação. Por exemplo, a nenhuma moça é permitida caminhar na rua sem ir acompanhada por um parente muito próximo. Não a pode acompanhar o próprio noivo, que, aliás, não se atreve a tomar com a noiva nenhuma das acostumadas familiaridades ou carinhos.

Se formos a considerar os fenômenos que se dão diariamente nas relações entre os dois sexos, encontraremos desde logo uma diferença capital entre os costumes brasileiros e os alemães. Enquanto na Alemanha, como aliás nos países anglo-saxônicos, o noivado dura às vezes anos, estabelecendo-se entre o rapaz e a rapariga relações que têm por base o amor ideal, aqui, pelo contrário, o noivado é a bem dizer curto, e o amor, que chega por vezes às raias da loucura, parece vir mais do sangue do que da alma. Isto observa-se, aliás, na raça latina, em geral, cujo temperamento é diverso do nosso; e para isso influi, e não pouco, o clima, particularmente no Brasil (pág. 54).

Sobre mulheres e sobre  a relação entre pais e filhos:

No Brasil, com efeito, a mulher não é considerada como um ser independente, que possui o direito de dispor de seu destino tal qual um homem qualquer, mas como um brinquedo mais ou menos brilhante, mais ou menos precioso e agradável, delicioso e frágil…A essas mulheres não falta inteligência, mas essa inteligência não é de natureza forte, sadia; degenera muitas vezes em meditações fantásticas que as impossibilitam de serem donas de casa ativas. Onde reina, ou antes, onde passa a vida em sonhos uma jovem dona de casa como essa, não é possível haver ordem, e quem mais sofre com isso é a educação das crianças.

O pai, que é quem mais gosta de lidar com elas, está todo dia fora de casa, por causa dos negócios. Em um casal assim, é também o dono de casa quem sempre toma a si, durante a noite, o papel de ama-seca e quem até certo ponto consegue por ordem na casa. O carinhos dos pais pelos filhos, enquanto pequenos, chega a não ter limites, e é principalmente o pai quem se ocupa com eles, quando têm um minuto livre. ama-os, até a fraqueza e, até certa idade, atura as suas malcriações. Não há nada que mais o moleste do que ver alguém corrigir seu filho. Quando marido e mulher saem de casa, seja para visitarem uma família, seja para irem a alguma festa, levam consigo todos os filhos, com as suas respectivas amas, e é ainda o pai quem carrega todo o trabalho, agarrando-se-lhe os pequenos ao pescoço, às mãos, às abas do casaco: enquanto a mãe raras vezes olha pra eles, e , a passos largos, coberta de jóias, caminhando orgulhosamente na frente, deixa com toda calma ao marido os cuidados da família (pág 55).

Sobre relações familiares e hospitalidade:

O filho, embora barbado, só raras vezes toma a liberdade de acender um cigarro na presença do pai, sem que este dê licença. Os pais tratam sempre os filhos e a si próprios na terceira pessoa e às vezes até por senhor e senhora e isso em todas as classes sociais, o que não impede que o sentimento de família se ache neles desenvolvido em alto grau. Quando um parente está na miséria, todos os membros da família acodem em seu auxílio…Às vezes, até o parentesco não está provado genealogicamente; isso porém, não influi sobre a hospitalidade, que é, sem dúvida alguma, a maior virtude dos brasileiros (pág.57).

Sobre a educação da mulher brasileira:

As filhas das classes médias aprendem a ler e a escrever ou em alguma escola pública, ou em algum colégio, onde se acostumam também a fazer alguns trabalhos manuais fino. (È singular que no Brasil não saibam fazer meias!) A arte culinária e os trabalhos domésticos comuns não são aqui objeto de ensino. Assim que conseguem pronunciar algumas frases em francês e arranhar piano, está terminada a sua educação. Saem da escola e são moças, que os pais, com o máximo cuidado, preservam de qualquer contato com os homens.

É verdade que, no Rio, como nas outras cidades do país, há escolas normais cujo intuito é continuarem o ensino superior; mas são, em geral, pouco frequentadas, e isso mesmo unicamente pelas filhas das famílias menos favorecidas, as quais se preparam para professoras de escola, etc (pág. 59).

No capítulo VII  “O solo, Imigração, Colonização, Agricultura, Comércio, Indústria, os relativos estabelecimentos estaduais e particulares e Finanças”

Sobre a situação da lavoura e a força vital do Brasil:

A situação lamentável da lavoura no Norte teria, materialmente falando, arruinado qualquer outro país, mas o Brasil assemelha-se ao gigante Anteu que, assim que tocava na terra, adquiria novas forças. Um país cuja fonte material de vida reside única e exclusivamente na cultura do solo, de que, porém, a parte baixa do povo se descuida por indolência, e que as classes elevadas em parte não compreendem, em parte não possuem os meios e auxílios materiais necessários para isso, fechando de mais a mais o Governo olhos e ouvidos para viver apenas segundo seus interesses políticos; um país que apesar de tudo isso satisfaz, sem dificuldades especiais, todas as necessidades que exigem uma situação política muito dispendiosa e o progresso da civilização deve possuir grandes riquezas naturais e indestrutível força vital. E aí está porque é com razão que se tem esperança no seu futuro (pág. 81).

O gigante Anteu é um personagem da mitologia grega que era extremamente forte quando estava em contato com a Terra e que ficava extremamente fraco se fosse levantado ao ar.

No capítulo XIII “Rio de Janeiro”

Sobre a beleza do Rio de Janeiro:

O Rio de Janeiro é uma cidade que não posso comparar a nenhuma outra do continente europeu. Logo ao sairmos do centro da capital, cerca-nos a mai opulenta e mais pujante natureza. Em frente dela – joga essa natureza o mar com suas reentrâncias, com suas ilhas e ilhotas, esquisitamente conformadas, com suas montanhas e rochas cônicas, entre as quais se distingue e se assinala o Pão de Açúcar, que me parece mais semelhante a um barrete de dormir quando engomado, e que serve de barômetro aos habitantes da cidade. Pela parte posterior, é ela circundada de montes e vales não menos admiravelmente configurados e soberbos de uma luxuriante e imponente vegetação (pág 259).

Sobre a febre amarela e sua suposta cura pela vacina do dr. Domingos Freire (1849 – 1899):

O professor da Academia de Medicina, dr, Freire, julgou ter descoberto, há anos, uma vacina que devia ser excelente preservativo contra a febre amarela. Abstraindo mesmo que esta ainda não foi reconhecida por nenhuma corporação científica do exterior, eu mesmo tive infelizmente ocasião de observar a influência duvidosa desse preservativo em cinco amigos meus que, apesar de vacinados, morreram todos de febre amarela. Todavia, deve-se confessar que esse sábio é um dos poucos que aqui fazem muito para o desenvolvimento e popularização da ciência em prol da higiene pública. (pág. 294)

Sobre o Observatório Astronômico do Rio de Janeiro:

O Observatório, sob direção do astrônomo belga Kruls, tornou-se vantajosamente conhecido na Europa e tem prestado bons serviços(pág. 295)

O nome completo de Kruls é Louis (Luis) Ferdinand Cruls (1848 – 1908). Dirigiu o Observatório de 1881 a 1908.

Sobre o Colégio Pedro II e sobre a mocidade brasileira:

O colégio mais importante e mais bem dirigido de todo o Brasil é o o Ginásio Nacional, outrora Colégio Pedro II, no Rio. Parece-se a um ginásio real alemão, com um internato e um externato, tendo ambos mais ou menos 40 professores. Exteriormente, ambas essas instituições têm bela aparência, mas o interior deixa ainda a desejar. Não há dúvida que ali se aprende tudo que faz parte do ensino secundário, e que o curso dura 7 anos, mas os alunos ao deixarem essa instituição não possuem os conhecimentos que têm os bacharéis das escolas austríacas, alemães e suíças; embora a mocidade brasileira não seja, como inteligência e talento, de forma alguma inferior à Europa. Posso afirmá-lo com segurança como antigo professor desse colégio. (pág. 296)

 

(1) – Todas as vezes que aparecer somente o sobrenome Lamberg, sem ser antecedido pelo prenome, o texto estará se referindo a Moritz (Maurício) Lamberg.

 

**Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

FERREZ, Gilberto. Velhas Fotografias Pernambucanas 1851 – 1890. Rio de Janeiro: Campo Visual, 1988.

FREYRE, Gilberto. Ordem e Progresso (recurso eletrônico). São Paulo: Global 2013.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002.

LAMBERG, Moritz. O Brazil. Rio de Janeiro: Casa Lombaerts, 1896.

LEITE, Míriam Lifchitz Moreira (org.). A condição feminina no Rio de Janeiro, século XIX: antologia de textos de viajantes estrangeiros. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1993.

LISBOA, Karen Macknow. Insalubridade, doenças e imigração: visões alemãs sobre o Brasil in História, ciência, saú de-Manguinhos vol.20 no.1 Rio de Janeiro Jan./Mar. 2013.

Site da Brasiliana da USP

Site do Colégio Pedro II

Site do Senado Federal

VASQUEZ, Pedro. Fotógrafos alemães no Brasil. São Paulo: Metalivros, 2000.

WOLFF, Gregor (ed). Explorers and Entrepreneurs behind the Camera. Berlin: Ibero-AmerikanischesInstitut, 2015, 168 pp.

Os índios sob as lentes de Walter Garbe, em 1909

Os registros de indígenas referidos como “botocudos” produzidos no Espírito Santo por Walter Garbe (18? – 19?), em 1909, apesar de claramente encenados, mostram os indígenas no local onde viviam realizando tarefas do cotidiano e não retratados em estúdios fotográficos como fazia boa parte dos fotógrafos da época. Por Garbe eles foram fotografados, por exemplo, caçando e fazendo fogo. Essas imagens transmitem uma certa interação entre ele e os indígenas.

“Botocudo” ou aimoré era, segundo Fernando de Tacca, uma denominação usada pelos colonizadores portugueses para se referir ao conjunto de indígenas que usavam botoques nos lábios e nas orelhas. No artigo Os botocudos do Rio Doce, de autoria do alemão Herman von Ihering (1850 – 1930), diretor do Museu Paulista entre 1894 e 1915, publicado na revista da instituição, em 1911, foi descrita e comentada a coleção de peças etnográficas dos indígenas da margem esquerda do rio Doce no estado do Espírito Santo, obtida por Walter Garbe, durante as várias excursões que fez à região entre março e maio de 1909.

Segundo o artigo de von Ihering, Walter Garbe havia produzido uma bela série de vistas fotográficas dos índios “botocudos”. Também havia trazido para o Museu Paulista o crânio de uma indígena de 22 anos por ele retratada e que havia se afogado no rio Doce, além de objetos indígenas relacionados a seus usos. Garbe fez um minucioso relato dos hábitos dos “botocudos”.

Anteriormente, em 1906, Walter, excelente auxiliar e fotógrafo artista, em companhia de seu pai, o alemão Ernst (Ernesto) Garbe (1853 – 1925), naturalista-viajante do Museu Paulista desde 26 de dezembro de 1902, explorou a região do rio Doce, desde a fronteira do estado de Minas Gerais até Linhares e na Lagoa Juparana. Obtiveram valiosas coleções zoológicas, mas, na ocasião, não se relacionaram com os indígenas.

 

 

Acessando o link para as fotografias de autoria de Walter Garbe disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 Breve Cronologia de Walter Garbe (18? – 19?) e de seu pai, Ernst Garbe (1853 – 1925)

 

1853 – Nascimento de Ernst Garbe, em 22 de novembro, em Gorlitz, na Alemanha, filho de Augusto e Henriqueta Garbe.

1882 - Ernst Garbe veio pela primeira vez ao Brasil e daqui levou grandes carregamentos de animais vivos da fauna sul-americana para Hamburgo, além de grande quantidade de couros de aves, mamíferos e peixes.

1901/1902 - Ernst Garbe explorou a região do rio Juruá, no norte do Brasil, subvencionado pelo Museu Paulista.

1902 – Ernst Garbe trouxe para o Museu Paulista os primeiros exemplares de mico-leão-preto: três espécimes, uma fêmea e dois machos, coletados em Vitoriana, município de Botucatu, em São Paulo. Foi o segundo registro histórico da espécie.

Foi contratado como naturalista-viajante do Museu Paulista em 26 de dezembro, por proposta do então diretor da instituição, o alemão Hermann von Inhering (1850 – 1930). Exerceu esse cargo até sua morte, em 1925.

1904 – Publicação de um artigo sobre a expedição feita por Ernst Garbe, entre 1901 e 1902, no rio Juruá, no norte do Brasil (Boletim do Museu Paraense, 1904).

1905 – Ernst e seu filho, Walter Garbe, partiram do Rio de Janeiro para Caravelas, na Bahia, a bordo do Guarany (Brazilian Review, 17 de outubro de 1905, primeira coluna).

1906 - Walter, excelente auxiliar e fotógrafo artista, em companhia de seu pai, o alemão Ernst (Ernesto) Garbe explorou a região do rio Doce, desde a fronteira do estado de Minas Gerais até Linhares e na Lagoa Juparanã, no Espírito Santo. Obtiveram valiosas coleções zoológicas, mas, na ocasião, não se relacionaram com os indígenas.

1907 – Walter Garbe chegou ao Rio de Janeiro a bordo do paquete Muqui, que vinha de Caravelas, na Bahia, tendo feito escala em Guarapari, no Espírito Santo (Correio da Manhã, 18 de abril de 1907, na terceira coluna).

Ernst Garbe partiu rumo a Manaus e escalas no paquete Maranhão (Gazeta de Notícias, 27 de outubro de 1907, na última coluna).

1908 - Ernst Garbe chegou a Vitória vindo de Caravelas, na Bahia, a bordo do Guanabara (O Estado do Espírito Santo, 20 de dezembro de 1908, na primeira coluna). No dia seguinte, chegou ao Rio de Janeiro (Jornal do Brasil, 21 de dezembro de 1908, na última coluna).

1909 – Entre março e maio, Walter Garbe fez diversas excursões à margem esquerda do rio Doce, no Espírito Santo, e obteve uma coleção de peças etnográficas dos índios “botocudos”.

1911 – Walter Garbe partiu para Manaus e escalas no paquete Alagoas (Gazeta de Notícias, 1º de julho de 1911, quinta coluna).

Walter Garbe chegou a Vitória, procedente do Rio de Janeiro, no paquete Bahia (Diário da Manhã, 14 de setembro de 1911, quarta coluna).

1912 – Walter Garbe embarcou no paquete Manaus, que seguiu para Manaus e escalas (O Paiz, 19 de janeiro de 1912, segunda coluna).

No Rio de Janeiro, Ernst Garbe ficou hospedado no Hotel Familiar Globo (O Paiz, 14 de maio de 1912, na quinta coluna).

1913 - Publicação na primeira página do Correio Paulistano de 23 de fevererio de 1913 da matéria Fauna e flora do Brasil – As excursões e os trabalhos de um naturalista-viajante, ilustrada com uma fotografia de Ernst Garbe.

 

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Fotografia na primeira página do Correio Paulistano de 23 de fevereiro de 1913 com a legenda O sr. Ernesto Garbe preparando sua caça para o Museu Paulista.

 

Ernst Garbe naturalizou-se brasileiro (Jornal do Commercio, 25 de julho de 1913, na sexta coluna).

Walter Garbe e família chegaram ao Brasil a bordo do paquete alemão Tucuman, vindo de Hamburgo e escalas (O Imparcial, 5 de novembro de 1913, na segunda coluna).

1915 – Foi noticiado que Ernst Garbe acabara de fazer uma excursão zoológica ao longo do rio Uruguai, no Rio Grande do Sul (Correio Paulistano, 23 de julho de 1915, primeira coluna).

1917 – Ernst Garbe tornou-se sócio da União Internacional Protetora dos Animais (Correio Paulistano, 1º de maio de 1917, na segunda coluna).

1919 - A secretaria do Interior de São Paulo fez um pagamento a Ernst Garbe (Correio Paulistano, 28 de março de 1919, na quarta coluna).

Foi publicada a matéria O resultado das recentes pesquisas realizadas pelo naturalista sr. Ernesto Garbe (Correio Paulistano, 7 de setembro de 1919, na penúltima coluna).

1920 - A secretaria do Interior solicitou do presidente do Lloyd Brasileiro no Rio de Janeiro passagem daquele porto para Belém e de Belém a Manaus para Ernst Garbe, naturalista viajante do Museu Paulista (Correio da Paulistano, 13 de abril de 1920, na terceira coluna).

Ernst Garbe seguiu para o Rio de Janeiro, vindo de São Paulo, no primeiro trem noturno (O Paiz, 28 de abril de 1920, na penúltima coluna).

No mês de abril, Ernst Garbe seguiu para a Amazônia. Essa foi a última excursão que realizou.

No trem noturno, Walter Garbe seguiu do Rio para São Paulo (Correio Paulistano, 6 de agosto de 1920, sexta coluna).

1921 – A secretaria do Interior fez um pagamento a Ernst Garbe (Correio Paulistano, 20 de janeiro de 1921, na sétima coluna).

Durante o carnaval, em Santa Thereza, no Espírito Santo, O sr Walter Garbe, conhecido fotógrafo, tirou várias fotografias inclusive a do salão principal do Governo Municipal (O Povo, 13 de fevereiro de 1921, primeira coluna).

O diretor do Museu Paulista informou que Ernst Garbe estava desde abril de 1920 explorando a Amazônia, tendo coletado mais de 300 mamíferos, cem aves, ofídios, répteis, batráquios, aracnideos, crustáceos, lepdopteros, insetos e peixes. Elogiou os trabalhos feitos por ele em outras regiões do Brasil (Correio Paulistano, 21 de maio de 1921, na sétima coluna).

A secretaria da Fazenda de São Paulo fez um pagamento a Ernst Garbe (Correio Paulistano, 25 de agosto de 1921, na quinta coluna).

1922 – Walter Garbe esteve no palácio do Governo do Espírito Santo (Diário da Manhã, 7 de janeiro de 1922, na segunda coluna).

O fotógrafo Walter Garbe residia em Santa Leopoldina, no Espírito Santo (Diário da Manhã, 8 de janeiro de 1922, na quarta coluna).

O senhor Elpidio Pimentel havia recebido da secretaria de Agricultura do Espírito Santo 76 fotografias produzidas por Walter Garbe (Diário da Manhã, 3 de agosto de 1922, na quarta coluna).

A coleção exposta na sala de ornitologia do Museu de Ciências foi ampliada com a presença de aves amazônicas trazidas pelo naturalista Ernst Garbe (Correio Paulistano, 4 de setembro de 1922).

A prefeitura de Santa Leopoldina mandou, pelo hábil fotógrafo Walter Garbe, tirar diversos filmes cinematográficos da cidade, com a sua movimentada vida comercial, das nossas vias de comunicação; das nossas quedas d´água; do transporte do café da colônia para aqui e daqui para Vitória, via fluvial, e também das imponentes festas do Centenário aqui realizadas (O Jornal, 11 de novembro de 1922, na coluna).

1923 – Walter Garbe requereu da secretaria de Agricultura o pagamento por serviços fotográficos em diversos municípios do Espírito Santo (Diário da Manhã, 31 de agosto de 1923, na quarta coluna).

1924 – Walter Garbe esteve no palácio do governo do Espírito Santo (Diário da Manhã, 18 de março de 1924, na última coluna).

Ernst Garbe foi mencionado na matéria Uma visita ao Museu do Ypiranga como o responsável pelas recentes aquisições de animais da Amazônia (Gazeta de Notícias, 23 de março de 1924).

Walter Garbe foi um dos compradores da cidade de Vitória da Empresa Territorial Nova Capital Federal (Diário da Manhã, 15 de julho de 1924).

Walter Garbe foi um dos convidados ao casamento do prefeito de Vitória, Otávio Peixoto, com Elida Avidos (Diário da Manhã, 20 de novembro de 1924, na última coluna).

Ernst Garbe foi citado no artigo Porto Seguro em princípios do século XIX, de autoria de Afonso d’Escragnolle Taunay (1876 – 1958), na época diretor do Museu Paulista (América Brasileira, novembro – dezembro de 1924).

1925 – Ernst Garbe ainda ocupava o cargo de naturalista-viajante do Museu Paulista (Almanak Laemmert, 1925).

Falecimento de Ernst Garbe em 4 de julho, em São Paulo (O Dia, 5 de julho de 1925, na segunda coluna e O Paiz, 9 de julho de 1925, na quarta coluna). Publicação de um perfil sobre ele, escrito pelo então diretor do Museu Paulista, Afonso d’Escragnolle Taunay (1876 – 1958) (Correio Paulistano, 7 de julho de 1925).

1928 – A prefeitura de São Paulo indeferiu um pagamento a Walter Garbe (Correio Paulistano, 21 de março de 1928, na segunda coluna).

1929 – A secretaria da Fazenda de São Paulo fez um pagamento a Walter Garbe (Correio Paulistano, 28 de dezembro de 1929, na segunda coluna).

1932/1933 – De outubro de 1932 a abril de 1933, Walter Garbe participou com Carlos Camargo de uma expedição comandada por Olivério Pinto. Foram coletadas aves do estado da Bahia – no vale do rio das Contas e nos arredores de Caravelas. Perto de Salvador, coletaram também na ilha da Madre de Deus.

1937 – Walter Garbe era um dos componentes da Bandeira Anhanguera que após uma temporada na região do rio das Mortes, onde teve contato com os índio xavantes, sob o comando do sertanista e escritor Hermano Ribeiro da Silva(? – 1937), retornou a São Paulo (Correio Paulistano, 5 de dezembro de 1937, na primeira coluna).

 

Breve perfil do naturalista Ernst Garbe (1853 – 1925), pai do fotógrafo Walter Garbe

 

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O naturalista Ernst Garbe (1853 – 1925), pai do fotógrafo Walter Garbe / Fotografia publicada no livro Quantos anos faz o Brasil?, sem autoria e sem data

 

O alemão Ernst Garbe nasceu em 22 de novembro de 1853, em Gorlitz, na Silesia. Durante longos anos viajou por conta do grande comerciante mundial de animais selvagens Carl Hagenbeck (1844 – 1913), de Hamburgo. Veio pela primeira vez ao Brasil, em 1882. Daqui levou grandes carregamentos de animais vivos da fauna sul-americana para Hamburgo, além de grande quantidade de couros de aves, mamíferos e peixes. Tornou-se naturalista viajante do Museu Paulista em 26 de dezembro de 1902 , por proposta do então diretor da instituição o alemão Hermann von Inhering (1850 – 1930), que esteve a frente da instituição de 1894 até 1915.  No ano anterior, 1901, Ernst Garbe já havia ido à região do rio Juruá, no norte do Brasil, subvencionado pelo museu. Em 1902, trouxe para o Museu Paulista os primeiros exemplares de mico-leão-preto, três espécimes, uma fêmea e dois machos, coletados em Vitoriana, município de Botucatu, em São Paulo. Foi o segundo registro histórico da espécie. Percorreu áreas remotas em praticamente todos os biomas brasileiros, coletando uma quantidade expressiva de material. Segundo vários pesquisadores estrangeiros que visitaram o museu, foi graças a Ernst Garbe que Ihering pode reunir a melhor coleção zoológica da América do Sul na ocasião. Naturalizou-se brasileiro, em 1913. Teve uma congestão cerebral em sua mesa de trabalho, no Museu Paulista, e faleceu em 1925. Sobre ele, Afonso d’Escragnolle Taunay (1876 – 1958), diretor do Museu Paulista de 1917 a 1945, declarou: Nasceu e viveu para levar a existência do naturalista colecionador, apaixonadamente amou a sua carreira e jamais quis saber de outro modo de vida.

 

Breve perfil de Hermann Friedrich Albrecht von Ihering (1850 – 1930), diretor do Museu Paulista de 1894 a 1915

 

 

O zoólogo alemão Herman Friedrich Albrecht von Ihering nasceu em 9 de outubro de 1850, em Kiel e era filho do destacado jurista Caspar Rudolf von Ihering (1818-1892). Frequentou as universidades de Giessen, de Leipzig, de Berlim e de Göttingen.  Passou uma temporada na Itália, onde lecionou zoologia na Universidade de Nápoles. Radicou-se no Brasil em 1880. Naturalizou-se brasileiro em 1885. Foi naturalista-viajante do Museu Imperial e Nacional, além de pesquisador da Comissão Geográfica e Geológica do Estado de São Paulo. Em 1894, sucedeu o norte-americano Orville Adelbert Derby (1851 – 1915) na direção do Museu Paulista, cargo que ocupou até 1915, quando foi substituído por Armando Prado. A exemplo do que se fazia nas instituições europeias afins, Ihering dedicou-se à parte expositiva e também ao trabalho científico. Para tal, contratou vários naturalistas que percorreram o Brasil em busca de exemplares naturais para o Museu. Dentre os contratados, estiveram Ernest e Walter Garbe. Durante sua gestão, o Museu Paulista teve o apoio de sociedades e instituições científicas como o Museu Britânico, o Museu de Paris, o Museu Nacional dos Estados Unidos e o Smithsonian Institute. Foi visitado por diversos pesquisadores estrangeiros como Franz Heger, do Museu Imperial de Viena, e John Hasemann, do Carnegie Museum. Também recebeu coleções de museus argentinos, uruguaios e chilenos. Pesquisadores brasileiros colaboraram com a classificação das coleções, entre eles  Adolph Hempel, do Instituto Agronômico de Campinas e Adolpho Ducke, do Museu Emílio Goeldi. Naturalistas contratados pelo museu foram Beniamino Bicego,  Helmuth Pinder, Francisco Leonardo de Lima e Hermann Lünderwaldt, dentre outros. Von Ihering escreveu com seu filho, Rodolpho Theodor Wilhelm Gaspar von Ihering, os Catálogos de Fauna Brazileira vol 1. As aves do Brazil, editado pelo Museu Paulista, em 1907. Voltou para a Europa em 1920 e faleceu, na Alemanha, em 24 de fevereiro de 1930.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

ABREU, Adilson Avansi de. Quantos anos faz o Brasil?. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2000. – (Uspiana Brasil 500 Anos)

Blog do IMS. Entrevista Os índios na fotografia brasileira, feita por Luiz Fernando Vianna a Leonardo Wen, em 26 de novembro de 2013.

Boletim do Instituto Paulista de Oceanografia

Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1930) Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz

EHRENREICH, Paul. Índios Botocudos do Espírito Santo no século XIX. Tradução de Sara Baldus; organização e notas de Júlio Bentivóglio. Vitória, Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, 2014. Título original: Ueber die Botocudos der brasilianischen Provizen Espiritu Santo und Minas Geraes. 1887.

IHERING, Hermann von. Os botocudos do Rio Doce. São Paulo:Revista do Museu Paulista, 1911.

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002

LOPES, Maria Margaret Lopes;PODGORNY, Irina. Entre mares e continentes: aspectos da trajetória científica de Hermann von Ihering, 1850-1930. Hist. cienc. saude-Manguinhos vol.21 no.3 Rio de Janeiro Aug./Sept. 2014

NOMURA,Hitoshi. Hermann von Ihering (1850-1930), o Naturalista. In: Cadernos de História da Ciência, vol.8 no.1 São Paulo jan./jun. 2012

OLIVEIRA, Roberto Gonçalves de. As aves-símbolos dos estados brasileiros. Porto Alegre, RS: AGE Editora, 2003.

Revista do Museu Paulista, 1911

REZENDE, Gabriela Cabral. Mico-leão-preto: A história de sucesso na conservação de uma especie ameaçada. São Paulo: Matrix Editora, 2014.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. O Museu Paulista ou Museu do Ypiranga. In: O Espetáculo das Raças: cientistas, instituições e questão nacional no Brasil – 1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993. p. 78-83.

Site O índio na fotografia brasileira

Site do Museu de Zoologia da USP

TACCA, Fernando de. O índio na fotografia brasileira: incursões sobre a imagem e o meio. História, ciências, saúde – Manguinhos – Vol. 18, nº 1, p.191-223. Rio de Janeiro., 2011

Notícia da viagem do fotógrafo Albert Frisch (31/05/1840 – 30/05/1918) à Amazônia

 

Christoph Albert Frisch (1840 – 1918) foi o fotógrafo responsável pela impressionante e pioneira série de 98 fotografias realizadas em 1867 na Amazônia: foram os primeiros registros que chegaram até nós de índios brasileiros da região, além de aspectos de fauna e flora e de barqueiros de origem boliviana que atuavam como comerciantes itinerantes nos rios amazônicos. Ele seguiu, comissionado pelo editor e fotógrafo Georges Leuzinger (1813 – 1892), considerado um dos mais importantes fotógrafos e difusores para o mundo da fotografia sobre o Brasil no século XIX, além de pioneiro das artes gráficas no país, para quem trabalhava, com os engenheiros alemães Joseph e Franz Keller (1835 – 1890), pai e filho, respectivamente. Este último casou-se, em 1867, com Sabine (1842 -1915), filha de Leuzinger ( 1813 – 1892). Partiram em 15 de novembro de 1867, a bordo do paquete Paraná. Frisch levou um escravizado, e a esposa de Franz e a filha de Joseph também estavam no navio (Diário do Povo, de 15 de novembro de 1867, primeira coluna).

Acessando o link para as fotografias de Christoph Albert Frisch disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

Albert Frisch acompanhou os engenheiros somente até Manaus … percorreu 400 léguas pelo rio Amazonas e seus afluentes durante 5 meses…, num barco acompanhado por dois remadores, desde Tabatinga até Manaus. Produziu, na ocasião, uma pioneira série de 98 fotografias com os primeiros registros que chegaram até nós de índios brasileiros da região, além de aspectos de fauna e flora e de barqueiros de origem boliviana, que atuavam como comerciantes itinerantes nos rios amazônicos.

Seu retorno ao sul do Brasil, a bordo do vapor Cruzeiro do Sul, está registrado no Jornal Pedro II, de 24 de novembro de 1868, quarta coluna.

As imagens produzidas por Frisch durante a viagem à Amzônia, copiadas em papel albuminado, foram comercializadas com sucesso pela Casa Leuzinger a partir do catálogo Resultat d’une expédition phographique sur le Solimões ou Alto Amazonas et Rio Negro.

 

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Foi Frisch o autor das primeiras fotografias dos tipos indígenas brasileiros em seu próprio habitat conhecidas até hoje e, em sua produção fotográfica, reforçava a ideia de uma Amazônia selvagem e exótica. Ele anexava às imagens informações tais como relações de parentesco e status social dos líderes indígenas fotografados. Na época, esses registros eram muito valorizados por estudiosos de etnografia europeus e por viajantes estrangeiros em geral.

Segundo Pedro Karp Vasquez (1954 – ), Frisch tinha uma grande habilidade técnica, que usou para contornar problemas impossíveis de serem solucionados com o equipamento de que dispunha na época: obter exposição e focos simultaneamente perfeitos tanto do retratado no primeiro plano quanto da paisagem ribeirinha ao fundo. Segundo Karp, empregando “… um astucioso estratagema para realizar os retratos de índios na região do Alto Solimões…”,  Frisch fotografava seus modelos diante de um fundo neutro e produzia separadamente algumas vistas para compor o segundo plano. Para produzir as cópias fotográficas, combinava os dois negativos, alcançando assim o resultado desejado.

 

 

Como mencionado anteriormente, até hoje as fotografias dos índios da região norte do Brasil produzidas por Frisch são consideradas as primeiras que se conhece, apesar de antes dele, em 1843,  o fotógrafo norte-americano Charles DeForest Fredricks (1823 – 1894) ter viajado pelos rios Orenoco e Amazonas. Nessa expedição, alguns daguerreótipos teriam sido produzidos, porém perdidos. Segundo Joaquim Marçal Ferreira de Andrade, um dos curadores da Brasiliana Fotográfica, “… houve ainda o trabalho de fotografia antropométrica, em sua maioria de mestiços da região amazônica, realizado em 1865 – 1866 por Walter Hunnewell em Manaus, a pedido de Louis Agassiz, da Expedição Thayer, hoje arquivados num museu da Universidade de Harvard. O casal Agassiz publicou sua obra A Journey in Brazil em 1868 e dela constam reproduções xilográficas de algumas fotografias de Leuzinger, duas fotos de índios feitas pelo ‘Dr. Gustavo, of Manaos’, mas nenhuma de Frisch”.

Até o final do século XX, o alemão Albert Frisch, que nasceu em Augsburgo, em 31 de maio de 1840, e faleceu em Berlim, em 30 de maio de 1918, era um personagem misterioso na história da fotografia. Segundo o site do Instituto Moreira Salles, “…o estudo dos documentos reunidos pela família Leuzinger, doados ao IMS em 2000, e a posterior localização de Klaus Frisch, neto do fotógrafo, pelo pesquisador Frank Stephan Kohl, permitiram reconstituir a trajetória de Frisch”. Antes de vir para o Rio de Janeiro, em torno de 1864, havia estado em Buenos Aires, na Argentina, e em Asunção, no Paraguai. Voltou definitivamente para a Alemanha, após passagens pela França e pelos Estados Unidos, em 1872.

 

Cronologia de Christoph Albert Frisch (1840 – 1918)

 

1840Christoph Albert Frisch nasceu em Augsburgo, na Baviera, na região sul da Alemanha, em 31 de maio, filho de Johanes Nepomuk Frisch e Auguste Korber. Seu pai possuia uma tecelagem e vários imóveis e era sócio de Eberhard Rugendas, possivelmente parente do desenhista Moritz Rugendas (1802 – 1858), também nascido em Augsburgo, que esteve no Brasil e produziu uma importante obra iconográfica do país.

Nos anos 1840, as empresas de seu pai foram à falência.

1849 – Devido à morte de sua mãe, foi criado, assim como seus irmãos homens, em um orfanato na Francônia. As irmãs foram entregues pelo pai a uma tia materna.

Final da década de 1850 – Foi trabalhar como confeiteiro.

Frisch partiu para Munique, capital da Bavária, onde começou a trabalhar no comércio de arte, na loja de Friedrich Gypen.

1861 – Com o apoio de seu empregador, trabalhou como aprendiz na litografia do impressor e editor Adolphe Goupil (1803 – 1893), em Paris.

Partiu para Buenos Aires, capital da Argentina, onde chegou por volta de 13 de dezembro. Tentou, sem sucesso, se estabelecer como comerciante de estampas de imagens religiosas, inspirado pela grande quantidade de imagens religiosas que goupil exportava para a América do Sul.

 

 

Trabalhou, então, na região dos Pampas, como professor particular e gerente de um criador de gado alsaciano.

1862 – Frisch retornou a Buenos Aires onde, aos 23 anos, começou sua carreira de fotógrafo, quando o alemão W. Raabe, que ele havia conhecido em uma taverna, o recomendou para seu empregador, o norte-americano Arthur Therry, dono de um renomado estúdio fotográfico, na calle Florida, 70,onde a alta sociedade argentina era retratada. As fotografias produzidas por Frisch nesse período não são conhecidas, mas segundo ele, teria retratado as sobrinhas do ditador argentino Juan Manuel Rozas (1793 – 1877).

1863 – Poucos meses depois, Frisch foi para o Paraguai abrir um estúdio fotográfico, em Assunção, a pedido do próprio presidente do país, Solano Lopez (1827- 1870), que havia estado em Buenos Aires, no ano anterior, com sua esposa, a irlandesa Elisa Lynch (1833 – 1866), e seus dois filhos. Na ocasião, havia visitado o estúdio de Terry, onde conheceu Frisch.

c. 1864 – Provavelmente, devido à Guerra do Paraguai, Frisch foi para o Rio de Janeiro.

1865 - Começou a trabalhar no recém-inaugurado setor de fotografia da Casa Leuzinger, no Rio de Janeiro, cujo proprietário era o editor e fotógrafo suíço Georges Leuzinger (1813 – 1892), considerado um dos mais importantes fotógrafos e difusores para o mundo da fotografia sobre o Brasil no século XIX, além de pioneiro das artes gráficas no país.

1866 - Encontrava-se na Europa.

1867 – Viajou ao Pará, comissionado por Leuzinger para acompanhar uma expedição liderada pelo engenheiro alemão Joseph Keller e por seu filho, o fotógrafo, desenhista e pintor Franz Keller (1835 – 1890) (Diário do Povo, 15 de novembro de 1867, na primeira coluna).  Este último era casado com Sabine Christine (1842 – 1915), filha de Georges Leuzinger ( 1813 – 1892). Transitaram pela região dos rios Madeira e Mamoré, onde o governo imperial pretendia construir uma estrada de ferro.

 

 

Albert Frisch acompanhou os engenheiros somente até Manaus … percorreu 400 léguas pelo rio Amazonas e seus afluentes durante 5 meses…, num barco acompanhado por dois remadores, desde Tabatinga até Manaus. Produziu, na ocasião, uma pioneira série de 98 fotografias com os primeiros registros que chegaram até nós de índios brasileiros da região, além de aspectos de fauna e flora e de barqueiros de origem boliviana, que atuavam como comerciantes itinerantes nos rios amazônicos. Segundo o livro de Ernesto Senna, O velho commercio do Rio de Janeiro, a expedição fotográfica de Frisch à Amazônia foi fruto de uma solicitação feita pelo suíço Louis Agassiz (1807 – 1873) a Leuzinger.

Satisfazendo ao pedido de Agassiz, fez Leuzinger tirar vistas até Tabatinga, na fronteira do Amazonas com a República do Peru, vistas que serviram não só para os trabalhos científicos daqule sábio, como também para ilustrações europeias. Quando o engenheiro Keller foi em comissão explorar os rios Madeira e Mamoré, Georges Leuzinger mandou um fotógrafo da casa acompanhar a expedição, que trouxe depois daquelas incomparáveis regiões graande cópia de clichês, da flora, da fauna, de paisagens, e fotograafias de silvícolas e de suas tabas, aldeamentos, instruentos, armas, etc. Estas coleções, de graande valor para estudos etnográficos, eram muito interessantes sob qualquer ponto de vista e muito procuradas por viajantes estrangeiros”.

Agassiz havia, entre 1865 e 1866, comandado a Comissão Thayer no Brasil, que percorreu boa parte do território brasileiro entre o Rio de Janeiro e a Amazônia, viagem que deu origem ao livro A journey in Brazil, editado em Boston, em 1868. A comissão foi financiada pelo empresário e filantropo norte-americano Nathaniel Thayer, Jr. (1808-1883), ex-aluno de Agassiz no Museu de Zoologia Comparada, em Harvard.

Vale lembrar que Charles Frederick Hartt (1840 – 1878), o futuro chefe da Comissão Geológica do Império (1875 – 1878), integrada pelo fotógrafo Marc Ferrez (1843-1923), participou da Comissão ou Expedição Thayer – foi a primeira vez que esteve no Brasil.

1868 – Frisch retornou ao sul do Brasil, a bordo do vapor Cruzeiro do Sul (Jornal Pedro II, de 24 de novembro de 1868, na quarta coluna).

1869 – As imagens produzidas por Frisch durante a expedição pela Amazônia começaram a ser comercializadas a partir de um catálogo publicado pela Casa Leuzinger, Resultat d’une expédition phographique sur le Solimões ou Alto Amazonas et Rio Negro.

 

 

c. 1870 – Foi para Montevidéu e depois para Paris, onde trabalhou na litografia de Lemercier & Cie. Foi expulso do país, devido à guerra entra França e Alemanha (1870-1871), e perdeu tudo.

Retornou à Alemanha e passou a trabalhar com o fotógrafo alemão Joseph Albert (1825 – 1886), que aperfeiçoou a técnica da colotipia, e com quem aprendeu as mais novas tecnologias de impressão fotomecânica da época. Verveer Den Haag, fotógrafo da corte da Holanda, e o mestre da litogravura, o francês Lemercier (1803 – 1887), também eram aprendizes de Joseph Albert.

 

 

1871 - Chegou, em 14 de março, a Nova York, onde instalou o processo de colotipia na empresa Bierstadt & Co. Trabalhando foi envenenado por cromo, tendo que ficar um tempo afastado da colotipia para cuidar da saúde.

1872 – Voltou para a Alemanha, e foi funcionário numa fábrica de água mineral em Bad Homburg vor der Hohe.

1873 – Em Bad Homburg vor der Hohe, abriu a empresa Frisch & Co, que trabalhava com albertotipia, colotipia e fotografia.

1874 – Durante esse ano, Frisch trabalhou por um curto período com o fotógrafo Johannes Nöhring (1834 – 1913), de Lübeck, na empresa Nöhring & Frisch.

1875 – Frisch mudou-se para Berlim e abriu o Kunstanstalt Albert Frisch, especializado na produção de reproduções fotomecânicas de alta qualidade. Depois de sua morte, seu filho, também Albert, continuou o negócio.

1918 – Faleceu em Berlim, em 30 de maio.

1925 – Lançamento de um livro em comemoração dos 50 anos da Casa Frisch, em Berlim, com textos escritos pelo filho do fotógrafo, Albert Frisch Junior.

1930 - Edição de um álbum raríssimo com 109 reproduções de fotografias, sendo 106 imagens de Albert Frisch Senior.

As 106 fotografias reunidas neste álbum são reproduções dos originais, feitos por Albert Frisch sênio (nascido em 13 de maiode 1840 em Augsburg) no Brasil nos anos 60. Elas restaram de um número muito maior de fotografias que foram tiradas por Albert Frisch sênior depois que ingressou na empresa Keller & Leuzinger, Rio de Janeiro. Elas foram feias durante muitos anos em diversas excursões na região do rio Amazonas e em outras regiões do Brasil.”

1942 - Impressão de uma história da família Frisch escrita por Eberhard, filho de Frisch. Nele há um esboço de uma autobiografia redigida pelo próprio Frisch, que revela que ele havia escrito uma autobiografia completa, destuída por ele mesmo no início da Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918).

Durante a Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945), o acervo da Casa Frisch, em Berlim, foi totalmente destruído.

2019 – Em outubro de 2019, o Instituto Moreira Salles, que já abrigava em seu acervo aproximadamente 40 imagens de Frisch, algumas delas pertencentes à série da Amazônia, arrematou, num leilão da Sotheby’s, em Nova York, um conjunto completo das 98 imagens, tal como editadas e comercializadas por Geroges Leuzinger*.

 

*Esse parágrafo foi acrescentado em dezembro de 2019.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Link para o artigo Os Miranhas e as fotografias de Albert Frish, de Maria Luísa Lucas, publicado no site do Instituto Moreira Salles, em 17 de dezembro de 2019

 

Fontes:

ANDRADE, Joaquim Marçal Ferreira de. As primeiras fotografias da Amazônia. BN Digital, 2013.

FERREZ, Gilberto; NAEF, Weston J.. Pioneer Photographers of Brazil, 1840-1920. New York: Center for Inter-American Relations, 1976.

FRANCESCHI, Antonio Fernando de. Um jovem mestre da fotografia na Casa Leuzinger. Christoph Albert Frisch e sua expedição pela Amazônia in Cadernos de Fotografia: Georges Leuzinger: um pioneiro do século XIX(1813-1892). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2006.

GÂMBERA, José Leonardo Homem de Mello. Fotografia na Amazônia Brasileira: considerações sobre o pioneirismo de Christoph Albert Frisch (1840-1918). Revista de Programa da Pós-Graduação em Arquitetur ae Urbanismo da FAUUSP,dez de 2013

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional 

KOHL, Frank Stephan. Albert Frisch and the first images of the Amazon to go around the world  in Explorers and Entrepreneurs behind the Camera The Stories behind the pictures and photographs from the image archive of the Ibero-American Institute. Berlim: Ibero-American Instituto, 2015.

KOHL, Frank Stephan. Um jovem mestre da fotografia na Casa Leuzinger: Christoph Albert Frisch e sua expedição pela Amazônia. In: Cadernos de fotografia brasileira, 3. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2006.

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002

MARCOLIN, Neldson. Retratos na Selva, Revista Pesquisa Fapesp, setembro de 2014.

MOURA, Carlos Eugênio Marcondes de. Estou aqui. Sempre estive. Sempre estarei. Indígenas do Brasil. Suas imagens (1505/1955). São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2012.

SENNA, Ernesto. O Velho Comércio do Rio de Janeiro. 2ª edição. Rio de Janeiro: G Ermakoff, 2006.

Site da Enciclopédia Itaú Cultural

Site do Instituto Moreira Salles

Site O Índio na Fotografia Brasileira

TACCA, Fernando de. O índio na fotografia brasileira: incursões sobre a imagem e o meio. História, ciências, saúde – Manguinhos – Vol. 18, nº 1, p.191-223. Rio de Janeiro., 2011

TURAZZI, Maria Inez. Poses e Trejeitos: a fotografia na era do espetáculo (1839 – 1889). Rio de Janeiro: Funarte/Rocco, 1995.

VASQUEZ, Pedro Karp. A. Frisch, ladrão de almas na Amazônia Imperial. Piracema – arte e cultura. Rio de Janeiro, nº1, ano 1, p.90-95, 1993

VASQUEZ, Pedro Karp. Dom Pedro II e a fotografia no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Roberto Marinho, 1985.

VASQUEZ, Pedro Karp. Fotógrafos alemães no Brasil do século XIX / Deutsche Fotografen des 19. Jahrhunderts in Brasilien. São Paulo: Metalivros, 2000

VASQUEZ, Pedro Karp. O Brasil na fotografia oitocentista. São Paulo: Metalivros, 2003

 

 

Imagens do Espírito Santo por Albert Richard Dietze (Alemanha, 1838 – Brasil, 1906)

Em 30 de junho de 1877, o alemão Albert Richard Dietze (1838-1906), considerado um dos maiores fotógrafos paisagistas que atuou no Brasil no século XIX, enviou para a imperatriz Teresa Cristina (1822-1889) uma série de 53 fotografias copiadas em papel albuminado numeradas, assinadas e datadas. Eram aspectos de Guarapari, de Vitória, da Colônia Santa Leopoldina, de Muquissaba, de Cachoeiro de Itapemirim e de outros locais, além de registros fotográficos de colonos, povoações, fazendas, sítios, casas, estabelecimentos comerciais, igrejas, escola, estação telegráfica e também de seu estúdio fotográfico. No verso dessas fotografias, Dietze solicitava a ajuda da monarca no sentido de publicar o folheto A Colônia de Santa Leopoldina, no Império do Brasil, Província do Espírito Santo, cujo objetivo era divulgar o Brasil no exterior para atrair imigrantes. Porém seu apelo não foi atendido pela imperatriz. Algumas fotografias da autoria de Dietze, intituladas Vues de l´interieur de la province de Espirito Santo, foram apresentadas na Exposição Universal de Paris de 1889 e integraram o Album de Vues du Brésil, editado por iniciativa de José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco (1845-1912).

 

 

Dietze é o autor do mais importante conjunto de imagens do Espírito Santo da segunda metade do século XIX. Suas paisagens mostram a terra trabalhada pelos colonos assim como as construções e modificações provenientes de sua ocupação. É também um dos pioneiros da cartografia no país: em 1889, organizou e editou uma série de cartões postais com fotografias de sua autoria. Além de registrar paisagens, fotografou escravos, músicos de bandas de congos e índios botocudos, o que o tornou, segundo a escritora Almerinda da Silva Lopes, ao que tudo indica, o primeiro fotógrafo a captar esse gênero de imagens capixabas.

Antes de Dietze, o fotógrafo francês Jean Victor Frond (1821 – 1881) havia produzido, em 1860,  registros fotográficos do Espírito Santo, tanto de Vitória como das colônias agrícolas de imigrantes. Acompanhou a viagem do naturalista e explorador suíço Johan Jacob von Tschudi (1818 – 1889), que, em 1860, foi nomeado embaixador da Confederação Helvética no Brasil. Tschudi estudou os problemas dos imigrantes suíços em São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Espírito Santo. De suas viagens a essas províncias, resultou o livro Viagens na América do Sul, obra publicada, em Leipzig, pela Editora Brockhaus, entre os anos de 1866 e 1869.

 

Acessando o link para as fotografias de Albert Richard Dietze disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Breve Perfil  de Albert Richard Dietze (1838-1906)

 

concertina

Albert Richard Dietze. Alberto Richard Dietze tocando concertina, c. 1879 / Acervo de Dolores Bucher

 

Nascido em Kaja, na Saxônia, em 29 de dezembro de 1838, Dietze chegou ao Brasil, em 1862. Era fotógrafo, músico e já havia cursado Agronomia em seu país. Também já havia, em 1º de outubro de 1858, se alistado para servir no 12º Regimento de soldados do rei, em Magdebourg. Veio para o Brasil, atraído, provavelmente, pelas facilidades concedidas pelo governo imperial brasileiro para imigrantes como, por exemplo, adquirir lotes de terras devolutas nas incipientes colônias de imigração do país. Passou alguns meses em Santa Catarina e depois veio para o Rio de Janeiro, onde durante cerca de quatorze meses trabalhou com o francês Auguste François Marie Glaziou (1833-1906), no Jardim Botânico da cidade. Posteriormente, abriu um estabelecimento denominado Photographia Allemã, e passou a fotografar imigrantes ilustres, aproveitando sua experiência na Alemanha como retratista de membros da elite, inclusive, segundo a pesquisadora e crítica de arte Almerinda da Silva Lopes, do próprio imperador alemão Guilherme I (1797 – 1888).

Passou a viajar pelo interior do Rio de Janeiro e pelo Espírito Santo, onde se estabeleceu, em 1869, inicialmente, em Vitória, possivelmente logo após ter sido nomeado agente consular da Alemanha. Em 1870, sua chegada em Cachoeira do Itapemirim foi noticiada (O Estandarte, de 20 de março de 1870, na terceira coluna. Foi identificado como Ricardo A. Dietz). No O Estandarte, de 3 de abril de 1870, ofereceu seus serviços de fotógrafo, e no O Estandarte, de 27 de abril de 1870, anunciou sua iminente partida e cobrou dívidas de seus clientes. No mesmo ano, leiloou várias fotos de sua autoria para ajudar feridos, irmãos, viúvas e órfãos de alemães que haviam morrido na guerra contra os franceses (O Espirito-santense, de 24 de novembro de 1870, sob o título “Aos Alemmães”).

Entre 1869 e 1878, registrou fotograficamente o início da colonização do Espírito Santo por seus compatriotas. Durante a década de 1870, fixou-se em Santa Leopoldina. Promoveu uma exposição com um “Viantoscopo”, em Vitória (Espirito-santense, de 22 de maio de 1873), e, em 12 de outubro de 1873, casou-se com Frederica Cristina Henrietta Sacht (? – 28/3/1908), com quem teve 9 filhos: Anna, Ricardo, Alberto, Maria, Gustavo, Charlotte, Otto, Pauline e Emma.

Anunciou, alguns anos depois, a abertura de seu estabelecimento fotográfico, na rua General Osório, 22, em Vitória (O Espirito-santense, 7 de março de 1876, sob o título “Photographo”). Posteriormente, diversificou suas atividades e tornou-se também comerciante de secos e molhados, brinquedos e instrumentos musicais importados da Alemanha, além de produtor e exportador de café.

Como um dos líderes de sua comunidade, foi nomeado para integrar a comissão que viria a elaborar o estatuto de uma associação auxiliar entre os colonos de Santa Leopoldina (Correio Paulista, de 17 de janeiro de 1877). Participou ativamente dos acontecimentos da cidade. Em 1º de outubro de 1885, cidadãos protestaram contra a decisão de Dietze em relação a uma mudança no trânsito (A Provincia do Espirito Santo, de 1º de outubro de 1885, primeira coluna sob o título “Santa Leopoldina”). Ele respondeu no mesmo jornal em 13 de outubro de 1885.

Envolveu-se também em assuntos relativos à educação, tendo criado e mantido uma escola para o ensino de português e alemão (O Espirito-santense,de 13 de fevereiro de 1886, na quarta coluna). Convidou um professor alemão para lecionar para os filhos dos colonos (O Espirito-santense, de 23 de janeiro de 1886, sob o título “Professor Allemão” e de 7 de abril do mesmo ano, na primeira coluna). Também foi o fundador e diretor de uma orquestra familiar e participou ativamente da vida social de Santa Leopoldina.

Dietze recebeu um prêmio, o grande diploma do mérito, em Berlim, em 1883 (O Horizonte, de 12 de maio de 1883, na primeira coluna sob o título “Exposição Brazileira em Berlim”). Enviou para a Sociedade de Geografia de Lisboa no Rio de Janeiro fotografias de paisagens e de um grupo de índios botocudos (A Provincia do Espirito Santo, de 15 de dezembro de 1883, sob o título “Offerta”, na quarta coluna). Em 30 de março de 1884, escreveu na primeira página do jornal A Provincia do Espirito Santo, sob o título “À Praça”, defendendo-se de ataques contra sua honestidade e fazendo cobranças. É noticiado que ele estava organizando um álbum fotográfico com vistas do Espírito Santo e foi mencionado o prêmio que ele havia recebido em Berlim (O Espirito-santense, de 7 de outubro de 1888). 

Ao que parece, Dietze nunca deixou de se dedicar à fotografia e à sua comunidade: fotografou e deu uma festa por ocasião da inauguração de uma ponte em Santa Leopoldina(O Estado do Espirito Santo, 24 de julho de 1897, na última coluna)anunciou a venda de fotografias e de cartões postais (O Cachoeirano, de 4 de novembro de 1900, na primeira coluna); e Estado do Espirito Santo, de 6 de junho de 1901, agradeceu a oferta de cartões postais feitas por Dietze ao periódico.

Faleceu, em Santa Leopoldina, em 24 de agosto de 1906, de parada cardíaca.

 

 

Acesse aqui a Cronologia de Albert Richard Dietze (1838-1906)

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

ANDRADE, Joaquim Marçal Ferreira de. A coleção do imperador. Fotografia brasileira e estrangeira no século XIX, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, 1997

DREHER, Martin N. O suíço Johan Jacob von Tschudi (1818-1889) e suas leituras da América do Sul, 1980.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002. 408 p., il. p&b.

LAGO, Bia Corrêa do;LAGO, Pedro Corrêa do. Os Fotógrafos do Império. Rio de Janeiro: Capivara, 2005. 240p.:il

LOPES, Almerinda Silva. Alberto Richard Dietze: um artista-fotógrafo alemão no Brasil do século XIX. Vitória: Gráfica e Editoria A1.

VASQUEZ, Pedro. Fotógrafos alemães no Brasil do século XIX. São Paulo: Metalivros, 2000.

TRIBUNA DE VITÓRIA. Mestre de fotografia no estado, 15 de março de 2015.

TSCHUDI, Johann Jakob von, 1818-1889. Viagem à província do Espírito Santo: imigração e colonização suíça 1860 / Johan Jacob von Tschudi; posfácio com fotografias inéditas de Victor Frond; [ coordenação editoral e posfácio de Cilmar Franceschetto}. – Vitória : Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, 2004. 173 p.: il. – (Coleção Canaã; v.5)

TURAZZI, Maria Inez. Poses e trejeitos. A fotografia e as exposições na era do espetáculo (1839-1889), Fundação Nacional de Arte & Rocco, Rio de Janeiro, 1995

O alemão Alberto Henschel (1827 – 1882), o empresário da fotografia

foto da Fundação Joaquim Nabuco

Photographia Allemã. Alberto Henschel (à direita) e Constantino Barza,  c. 1877. Recife, Pernambuco. Coleção de retratos Francisco Rodrigues, do acervo da Fundação Joaquim Nabuco – Ministério da Educação

No mês de junho são celebradas as datas de nascimento e de morte do berlinense Alberto Henschel, um dos mais importantes fotógrafos que atuaram no Brasil na segunda metade do século XIX. Chegou no Recife, em 1866, e, ao longo de 16 anos, teve uma intensa atividade no país. Segundo o historiador Boris Kossoy (1941 – ), Henschel pode ser considerado pioneiro no Brasil como empresário da fotografia, pois chegou a ter quatro estabelecimentos: o primeiro no Recife (1866), o segundo em Salvador (provavelmente em 1868) e os últimos no Rio de Janeiro (1870) e em São Paulo (1882). Dedicou-se com talento aos retratos, às paisagens e às imagens etnográficas, tendo se destacado nos retratos de mulheres africanas e afro-descendentes. Também fotografou vários membros da família real no Brasil.

Henschel fotografou o Rio e seus arredores, chegando até Nova Friburgo e mesmo ao Itatiaia, que naquele tempo atraía poucas pessoas. Fez paisagens, mas antes de tudo era exímio retratista. Não há quase nenhum álbum de família em que não figurem retratos de avós tirados por Alberto Henschel – afirmou Gilberto Ferrez (1908 – 2000), no livro em A Fotografia no Brasil: 1840-1900, destacando a importância de Henschel no panorama da fotografia brasileira oitocentista.

No livro Pioneers Phothographers of Brazil, Gilberto Ferrez chamou atenção especial sobre a série de vistas realizadas por Henschel em Itatiaia, em 1870, e, em Nova Friburgo, em 1875.  Considerava a escolha de Itatiaia misteriosa e, sobre as fotos de Nova Friburgo, comentou a capacidade do fotógrafo, já associado com Francisco Benque (1841 – 1921), em retratar os indivíduos e as construções numa confortável, até íntima, relação com a terra, uma relação particularmente evidente na fotografia do vale e da estação de Rio Grande, ou na da cascata do Pinel…. Essas fotos fazem parte do acervo da Biblioteca Nacional, podem ser acessadas nesse portal e estão na Galeria de Alberto Henschel ao final deste texto.

Acessando o link para as fotografias de autoria de Alberto Henschel disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Cronologia de Alberto Henschel (1827 – 1882)

cartão Albert Henschel

Identificação de Alberto Henschel / Acervo do IMS

1827 - Em 13 de junho, Alberto Henschel nasceu em Berlim, na Alemanha.

1866maio –  Chegou no Recife acompanhado de Karl Heinrich (Carlos Henrique) Gutzlaff no patacho hamburguês Catharine Jane (Diário de Pernambuco, edição de 28 de maio de 1866).

julho – Os dois fotógrafos associaram-se ao maranhense Julio dos Santos Pereira e, com ele, assumiram a direção do estabelecimento Photographia Alberto Henschel & C. , localizado na rua do Imperador, nº 38. No anúncio da abertura do negócio, os proprietários destacaram as photographias coloridas por um novo systema, que reune o brilho da pintura à óleo à pureza da aquarella (Diário de Pernambuco, edição de 7 de julho de 1866). Para atrair clientela, foi realizada no ateliê uma exposição com trabalhos feitos por Henschel na Europa. Foi neste mesmo endereço que entre 1860 e 1865 o fotógrafo A.W. Osborne tinha o estabelecimento fotográfico Galeria Americana (Diário de Pernambuco, de 7 de maio de 1860), comprado por Julio dos Santos Pereira em fevereiro de 1865  (Diário de Pernambuco, 2 de fevereiro de 1865, penúltima coluna), quando Osborne foi para o Rio de Janeiro (Jornal de Recife, 16 de fevereiro de 1865).

outubro – Henschell e Gutzlaff anunciaram o fim da associação com Julio dos Santos Pereira.

novembro – Foi anunciada a reabertura do novo ateliê fotográfico de Henschel, mas agora com o nome de Photographia Allemã e localizado no largo da matriz de Santo Antonio, nº 2 (Diário de Pernambuco, edição de 16 de novembro de 1866, primeira coluna). No anúncio, destacaram-se as qualidades do novo estabelecimento, dentre as quais o fato de possuir uma galeria envidraçada com cristais especiais capazes de atenuar os efeitos da luz forte.

1867 – Em junho, Henschel anunciou uma viagem à Europa, de onde retornou em setembro acompanhado do pintor alemão Karl Ernst (Carlos Ernesto) Papf (1833-1910), no vapor Oneida (Diário de Pernambuco, edições de 2 de junho e de 28 de setembro de 1867 – o sobrenome de Henschel está escrito errado). Já em outubro, foram publicados anúncios participando a volta de Henschel ao Recife e apresentando Papf como membro honorário da Academia Real de Pintura de Dresden (Diário de Pernambuco, edição de 26 de outubro de 1867). Nos anos que se seguiram, Papf trabalhou em todo os ateliês de Henschel, prestando serviços de fotopintura.

1868 – Henschel fez nova viagem à Europa para atualizar seus conhecimentos em fotografia e comprar novos equipamentos. Provavelmente, nesse ano terminou sua associação com Gutzlaff, que fundou em julho a Photographia Internacional, no Recife, na rua do Imperador, nº 38 (Diário de Pernambuco, 6 de junho de 1868, última coluna; e Diário de Pernambuco, 15 de julho de 1868, segunda coluna). . Henschel anunciou a técnica da marfimographia, a contratação de novos profissionais e a iminente abertura de uma filial da Photographia Allemã em Salvador, na Bahia (Jornal de Recife, edição de 21 de julho de 1868, quarta e quinta colunas, no pé da página). O ateliê da capital baiana ficava na rua da Piedade, nº 16. Posteriomente passou a funcionar no largo do Theatro.

1870 - Casou-se com Simy (1851 – 1920), filha do rabino inglês Isaac Amzalak, dono de armazéns e armador bem sucedido. Uma curiosidade: segundo o livro Salões e damas do Segundo Reinado, de Wanderley Pinho, o poeta Castro Alves se inspirou na beleza das três filhas do armador Amzalak para criar o poema Hebreia.

Henschel realizou a série de vistas em Itatiaia.

Foi anunciada a abertura da Photographia Allemã. Alberto Henschel & C., no Rio de Janeiro, sucedendo os fotógrafos Guilherme Mangeon e Van Nyvel. O novo estabelecimento localizava-se na rua dos Ourives, 40, atual rua Miguel Couto. No anúncio, foi informado que Van Nyvel continuaria a trabalhar no ateliê (Jornal do Commercio, edição de 18 de dezembro de 1870).

1871 - Nasceu no Rio de Janeiro o único filho de Henschel e Simy, Maurício, que viria a falecer em 1934.

Anunciada a contratação do  fotógrafo alemão Franz (Francisco) Benque (1841-1921), a quem Henschel foi associado até, provavelmente, 1878 (Diário do Rio de Janeiro de 10 e 11 de abril,  segunda coluna).

1872 – Henschel & Benque participaram da exposição da Academia Imperial de Belas-Artes e expuseram um retrato do poeta Castro Alves (1847 – 1871) ( Correio do Brazil, edição de 24 de junho de 1872, na coluna Folhetim). Em 23 de setembro, receberam uma visita de Suas Magestades e Altezas Imperiaes na Photographia Allemã ( Correio do Brazil, edição de 25 de setembro de 1872, na quinta coluna).

1873 – Henschel & Benque participaram da Exposição Universal de Viena. Enviaram dois retratos: de uma baiana quitandeira e da família real brasileira (Diário de Pernambuco, 10 de abril de 1873, quinta coluna).  Ganharam a medalha de mérito (A Reforma, edição de 10 de setembro de 1873).

1874 – Ao longo do segundo semestre, foram publicados vários anúncios no Jornal da Bahia anunciando a chegada de um pintor no ateliê de Salvador.

Segundo o artigo Dom Pedro II e a fotografia (2), de Ricardo Martim, pseudônimo de Guilherme Auler (1914-1965), publicado na Tribuna de Petrópolis, de 8 de abril de 1856, a dupla Henschel & Benque foi agraciada com o título de Photographos da Caza Imperial, em 7 de dezembro de 1874.

1875 – Chegada do austríaco Constantino Barza, a bordo do vapor inglês News, vindo da Europa. Ele viria a ser o gerente da Photographia Allemã de Henschel (Jornal de Recife, 26 de fevereiro de 1875, primeira coluna).

Ainda associado a Francisco Benque, Henschel fez a série de vistas de Nova Friburgo e do Jardim Botânico e ambos participaram da exposição da Academia Imperial de Belas-Artes ( Epocha, 15 de dezembro de 1875).

Na coluna “Folhetim da Gazeta de Notícias –  Bellas Artes”, o português Julio Huelva (1840 – 1904), pseudônimo do músico e arquiteto Alfredo Camarate, elogiou a fotografia produzida no Brasil e destacou os trabalhos dos ateliês de José Ferreira Guimarães  (1841 –1924), Joaquim  Insley Pacheco (c. 1830 – 1912) e de Albert Henchel (1827 – 1892) e Franz (Francisco) Benque (1841-1921). O autor cobrou também a presença de fotógrafos do Rio de Janeiro na Exposição Universal da Filadélfia, que se realizaria em 1876 (Gazeta de Notícias, 21 de dezembro de 1875).

1876 – O pintor acadêmico austríaco Ferdinand Piereck (1844 – 1925) foi contratado pela Photographia Allemã. Ele viria a ser o pai do fotógrafo Louis Piereck (1880 – 1931) (Jornal do Recife, 14 de janeiro de 1876).

1877 - No estabelecimento A La Glace Elegante, no Rio de Janeiro, exposição de uma tela com os retratos do conde e da condessa d´Eu e do príncipe do Grão Pará, de autoria de  Karl Ernst (Carlos Ernesto) Papf (1833-1910), do estabelecimento de Henschel & Benque. Teria sido uma encomenda da princesa Isabel (Diário do Rio de Janeiro, 6 de novembro de 1877, penúltima coluna).

Em novembro, a Photographia Allemã, no Recife, passou a funcionar na rua do Barão da Victoria, nº52 , devido à construção de prédios na frente da galeria. Os trabalhos do estabelecimento foram interrompidos por 15 dias (Diário de Pernambuco, edição de 26 de novembro de 1877).

1879 – Foi publicado um elogio às fotografias de crianças tiradas por Henschel (Gazeta de Notícias, 11 de março, primeira coluna).

1880 – Constantino Barza, apresentando-se como gerente da Photographia Allemã de Recife, anunciou a chegada do fotógrafo Moritz Lamberg para cuidar da parte técnica e artística do ateliê (Diário de Pernambuco, edição de 30 de janeiro de 1880). Lamberg é apresentado como celebridade europeia e insigne artista, que havia dirigido estabelecimentos em Berlim e Viena e obtido prêmios conquistados em Paris e em Viena nas exposições de 1868 e 1873. Em 1899, Lamberg publicou o livro de fotografias Brazilian.

1881- Participou da Exposição de História do Brasil promovida pela Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro com vistas urbanas, rurais e retratos.

Foi noticiado um caso envolvendo Henschel e um relojoeiro, de quem, segundo o jornal, ele achava ter sido vítima da esperteza (Gazeta da Tarde, edição de 16 de abril de 1881, terceira coluna)

O fotógrafo Moritz Lamberg fez uma petição à Associação Comercial da Cidade do Recife para que se ordenasse o registro da escritura da compra que fez do estabelecimento denominado Photographia Allemã (Diário de Pernambuco, 19 de setembro de 1881, na quarta coluna).

Vistas do Recife produzidas por Henschel foram elogiadas pela imprensa local como as melhores que conhecemos até hoje dos pontos photographados (Diário de Pernambuco, edição de 18 de outubro de 1881).

Alberto Henschel e Moritz Lamberg convidavam para apreciar os trabalhos de nossa casa, que vão ser exibidos na próxima exposição que terá lugar no Rio de Janeiro (Diário de Pernambuco, 14 de novembro de 1881).

 

 

É possível que neste ano Henschel, ou mesmo antes, Henschel tenha vendido a filial baiana de seu ateliê fotográfico para Waldemar Lange, que se anunciava como seu sucessor  no Almanak da Província da Bahia, 1881, pág. 43.

1882 – Henschel participou da Primeira Exposição Artístico-Industrial promovida pela Imperial Sociedade dos Artistas Mecânicos e Liberais de Pernambuco e conquistou uma medalha de mérito pelas vistas fotográficas que expôs (Diário de Pernambuco, 17 de janeiro de 1882, segunda coluna).

Foi aberto o ateliê de Henschel em São Paulo, na rua Direita nº 1. A imprensa noticiou que a inauguração desse importante e sumptoso estabelecimento artístico seria mais um signal do crescente desenvolvimento de São Paulo (Correio Paulistano, na edição de 1º de fevereiro de 1882). No anúncio da inauguração, apresentavam-se como fotógrafos da Casa Imperial (Correio Paulistano, edição de 7 de fevereiro de 1882). O gerente da sucursal paulista era o fotógrafo húngaro José Vollsack (1847 – 1927), que, em 1888, tornou-se dono da referida filial. Por já existir na capital paulista uma casa fotográfica com o nome de Photographia Allemã, de propriedade do fotógrafo alemão Carlos Hoenen (18? – ?), a de Henschel ficou conhecida como Photographia Imperial.

Em abril, foi publicada na Revista Illustrada, número 295, na seção Exposição de bellas-artes, uma crítica desfavorável a dois retratos de Henschel.

Morte de Albert Henschel em 30 de junho, no Rio de Janeiro ( Rio News, edição de 5 de julho de 1882 e Gazeta de Notícias, edição de 10 de julho de 1882). Faleceu em sua residência, na rua Barão de Itambi, nº 14, em Botafogo.

1884 – Foi autorizada a venda da filial do Rio de Janeiro por força de alvará judicial (Jornal do Commercio, de 7 de junho de 1884, primeira coluna).

1885 - O austríaco Constantino Barza reassumiu a gerência da  Photographia Allemã (Diário de Pernambuco, 13 de novembro de 1885). Anteriormente, em 1881, havia se associado ao dinarmarquês Niels Olsen (1843 – 1911), em Fortaleza (O Cearense, 26 de janeiro de 1881, quarta coluna) e, depois, no Pará (O Liberal do Pará, 3 de janeiro de 1882, quarta coluna e Almanak Paraense, 1883). Em Belém, o estabelecimento de Olsen e Barza começou a funcionar em 1º de janeiro de 1882 e ficava na rua da Trindade, n° 24, no antigo ateliê do fotógrafo José Thomaz Sabino, que havia falecido.

 

 

1886 - O pintor acadêmico austríaco Ferdinand Piereck (1844 – 1925) voltou a trabalhar na Photographia Allemã, onde já havia trabalhado em 1876 (Jornal do Recife, 3 de março de 1886).

 

 

1887 – Até esse ano Constantino Barza continuava a anunciar as atividades da Photographia Allemã no Recife. Em 1905, Constantino Barza trabalhava como agente de venda dos charutos Poock & C(A Província, 9 de março de 1905).

Além da Biblioteca Nacional e do Instituto Moreira Salles, as outras instituições que possuem importantes acervos de Alberto Henschel são o Arquivo Nacional, a Fundação Joaquim Nabuco e o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

 

Para a elaboração da presente cronologia de Alberto Henschel vali-me, especialmente, do Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910), de autoria de Boris Kossoy, e da Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

ERMAKOFF, George. Rio de Janeiro 1840-1900: uma crônica fotográfica, George Ermakoff [Tradução: Carlos Luís Brown Scavarda]. Rio de Janeiro: G. Ermakoff Casa Editorial, 2006

FERREZ, Gilberto. A Fotografia no Brasil: 1840-1900 / Gilberto Ferrez; [prefácio por Pedro Vasquez] – 2ª ed. – Rio de Janeiro: FUNARTE: Fundação Nacional Pró-Memória, 1985.

FERREZ, Gilberto; NAEF, Weston J. Pioneer photographers of Brazil: 1840 – 1920. New York: The Center for Inter-American Relations, 1976. 143 p., il. p&b.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002. 408 p., il. p&b.

LAGO, Bia Corrêa do;LAGO, Pedro Corrêa do. Os Fotógrafos do Império. Rio de Janeiro: Capivara, 2005. 240p.:il

LAGO, Pedro Corrêa do; JUNIOR, Rubens Fernandes. O século XIX na fotografia brasileira. Rio de Janeiro: Fundação Armando Álvares Penteado: Francisco Alves, 2000.

VASQUEZ, Pedro Karp. Dom Pedro II e a fotografia no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Roberto Marinho : Cis, [1985]. 243 p., fotos p&b.

VASQUEZ, Pedro Karp. Fotógrafos Alemães no Brasil do Século XIX: Deutsche Fotografen des 19. Jahrhunderts in Brasilien. São Paulo: Metalivros, 2000. 203 p., il. p&b.

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