Os 9 anos da Brasiliana Fotográfica

Neste mês a Brasiliana Fotográfica celebra seus nove anos de existência. Foi fundada em 17 de abril de 2015 pela Fundação Biblioteca Nacional e pelo Instituto Moreira Salles. Para marcar seu aniversário, o portal promove um seminário, no Auditório Machado de Assis, na Biblioteca Nacional, hoje, a partir das 14h. Aproveitamos para agradecer a nossos usuários e para divulgar alguns de nossos números: 72.473.810 visualizações, 11.019 imagens disponíveis em nosso acervo fotográfico, 506 artigos publicados e, além da participação das já mencionadas instituições fundadoras, a de 10 instituições parceiras: Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, Arquivo Nacional, Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha, Escola de Ciências Sociais (FGV CPDOC), Fiocruz, Fundação Joaquim Nabuco, Leibniz-Institut fuer Laenderkunde, Leipzig; Museu Aeroespacial, Museu da República e Museu Histórico Nacional. Durante o evento, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro passará a integrar o portal. Vida longa à Brasiliana Fotográfica!

 

brasiliana

O evento será aberto por Marco Lucchesi, presidente da Fundação Biblioteca Nacional, e por Marcelo Araújo, diretor do Instituto Moreira Salles. O tema da primeira mesa será “Brasiliana Fotográfica: novas parcerias”, com Paulo Knauss e Carolina Alves. O da segunda mesa, “Brasiliana Fotográfica: acervo e acesso”, será apresentado por Diana Ramos e por mim, Andrea Wanderley. Após um rápido intervalo, Ana Maria Mauad e Amanda Farah serão as palestrantes da mesa “Brasiliana Fotográfica: pesquisa e difusão”. O encerramento será realizado pelos curadores do portal, Joaquim Marçal e Sérgio Burgi.

 

A imagem escolhida para ilustrar o convite para o evento é de autoria do fotógrafo italiano Vincenzo Pastore (1865 – 1918) e foi produzida em São Paulo, em torno de 1910.

 

 

Pastore, um fotógrafo entre dois mundos, foi um importante cronista visual de São Paulo da segunda metade do século XIX e do início do século XX. Com sua câmara ele capturava tipos e costumes de um cotidiano ainda pacato de São Paulo, uma cidade que logo, com o desenvolvimento econômico, mudaria de perfil. Captava as transformações urbanas e humanas da cidade, que passava a ser a metrópole do café. Com seu olhar sensível, o bem sucedido imigrante italiano flagrava trabalhadores de rua como, por exemplo, feirantes, engraxates, vassoureiros e jornaleiros, além de conversas entre mulheres e brincadeiras de crianças. Pastore, ao retratar pessoas simples do povo, realizou, na época, um trabalho inédito na história da fotografia paulistana.

 

Os 9 anos da Brasiliana Fotográfica*

Andrea C. T. Wanderley

Boa tarde! É um prazer estar aqui com vocês, apesar do frio na barriga… Vou tentar, a partir de minha experiência como editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica fazer uma resumida radiografia da história, do funcionamento e do que já foi realizado ao longo desses nove anos no portal apresentando, também, seus dados estatísticos. Como tenho muito a contar achei melhor escrever um texto e lê-lo pra vocês.

Quando me convidaram para participar deste seminário me lembrei do dia em que neste mesmo local a Brasiliana Fotográfica foi lançada. Dia 17 de abril de 2015. Já contratada como pesquisadora do portal, estava neste auditório ouvindo os idealizadores, os criadores da plataforma, Renato Lessa, então presidente da Biblioteca Nacional e Flavio Pinheiro, então diretor do Instituto Moreira Salles, quando, pela primeira vez, vi a imagem produzida pelo fotógrafo Antonio Luis Ferreira da Missa Campal celebrada em Ação de Graças pela abolição da escravatura no Brasil, realizada em 17 de maio de 1888, no Rio de Janeiro. Fiquei fascinada pela foto. Ali surgia a minha primeira ideia de pauta para a Brasiliana Fotográfica. Mas antes de publicar o artigo sobre ela, publiquei dois – sobre o Dia do Trabalho e sobre o Dia da Abolição da Escravatura.

Comecei a pesquisar sobre a imagem da missa campal e identifiquei a presença do escritor Machado de Assis na fotografia. Chamei a Elvia Bezerra, então Coordenadora de Literatura do IMS, mostrei a foto com zoom para os curadores do portal, Joaquim Marçal e Sérgio Burgi, e todos concordaram: era mesmo o Machado de Assis. Confirmei, por sugestão de Joaquim Marçal, com Eduardo Assis Duarte, professor da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, que considerou a descoberta significativa e, a fotografia, um documento histórico da maior importância. Foi então publicado, em 17 de maio de 2015 o artigo Missa Campal de 17 de maio de 1888. Pronto! Foi o primeiro furo da Brasiliana Fotográfica! Deu primeira página da Folha de São Paulo e foi notícia no Jornal Nacional! Foram tantos os acessos ao portal que o sistema foi derrubado e, graças à eficiente ação dos profissionais da BN Digital, logo recuperado! A descoberta também foi saudada pelo imenso historiador José Murilo de Carvalho que escreveu o artigo, Machado de Assis vai à missa, publicado no portal ainda em maio de 2015.

O futuro prometia! Acho que nossa equipe, que cresceu muito desde então, tem cumprido a promessa de, ao longo desses 9 anos, aumentar o repositório on-line de imagens do portal e levar a nossos usuários artigos relevantes a partir do destaque de imagens ainda mais relevantes.

Sobre nossos leais usuários falarei um pouco adiante.

Crescemos mesmo. No início, o acervo da Brasiliana Fotográfica contava com 2.393 imagens de suas duas instituições fundadoras. Hoje temos 11.019 imagens! São fotografias do século XIX e das três primeiras décadas do século XX. E agora, além das instituições fundadoras, são nossas parceiras, vou falar aqui em ordem de chegada:

O Leibniz-Institut fuer Laenderkunde, Leipzig, na Alemanha; o Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, a Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha, que entraram em 2016.

O Arquivo Nacional, a Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz e o Museu da República que entraram em 2017.

Em 2018, foi a vez do Museu Histórico Nacional. No ano seguinte, a Fundação Joaquim Nabuco aderiu e, em 2020, o Museu Aeroespacial. Ano passado, a Escola de Ciências Sociais FGV CPDOC passou a integrar o portal.

E hoje, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro se tornou parceiro da Brasiliana Fotográfica. Uma grande alegria que dá um brilho especial à essa comemoração de aniversário! E a perspectiva é que muitas outras instituições passem a integrar o portal nos próximos anos!

O acervo da Brasiliana Fotográfica é formado por imagens destas 12, em pouco tempo, com a entrada do IHGB, de 13 instituições importantíssimas nacional e internacionalmente. Como editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica me relaciono com profissionais de todas elas e saúdo a colaboração sempre eficiente e talentosa de vocês, a troca de idéias, de conhecimento e a amizade que se criou entre nós. Acredito que este ambiente de união e respeito, sem disputas, todos trabalhando na direção da excelência, seja, certamente, um dos fatores mais importantes do sucesso do nosso portal!

E vamos aqui dar uma definição objetiva do portal: a Brasiliana Fotográfica é um espaço para dar visibilidade, fomentar o debate e a reflexão sobre os acervos deste gênero documental, abordando-os enquanto fonte primária mas também enquanto patrimônio digital a ser preservado. É uma plataforma de difusão de conhecimento imagético e textual. Um de seus principais atrativos é a ferramenta de zoom, que permite a realização de verdadeiros passeios por suas imagens. Também é possível, registrando-se no site, selecionar imagens e direcioná-las para grupos que o próprio usuário cria, compartilhando as seleções com outras pessoas. Assim sendo, a Brasiliana Fotográfica amplia as possibilidades de pesquisa, sobretudo à distância, sem que o interessado de outras cidades precise, necessariamente, deslocar-se até o Rio de Janeiro.

Ao longo destes 9 anos, publicamos 506 artigos no portal, 122 escritos pelos parceiros ou por convidados externos e 400 por mim, sendo 26 em parceria com profissionais das instituições anteriormente mencionadas. Uma média de um artigo por semana. Durante 9 anos só interrompidos entre 11 de abril e 7 de junho de 2021 por um ataque cibernético. Acredito que a regularidade nas publicações seja outro fator definitivo no alcance da Brasiliana Fotográfica. Integrantes de todas as suas instituições formadoras já tiveram seus artigos publicados no portal. Como são muitos, não vou citá-los nominalmente.

Como convidados externos, destaco aqui, além da contribuição já mencionada de José Murilo de Carvalho, as participações da antropóloga Lylia Schwartz, recém eleita para a Academia Brasileira de Letras, da historiadora Ana Maria Mauad, fã do portal e uma das palestrantes de hoje, do jornalista Cássio Loredano, da doutora em Literatura Elvia Bezerra, do fotógrafo e educador Millard Schisler e da historiadora Maria Isabella Mendonça dos Santos, dentre vários outros. Todos estão listados na aba do portal CURADORES CONVIDADOS.

Então, são centenas de artigos! E como eles surgem? Essa é uma pergunta que me fazem recorrentemente. Bem, as pautas surgem de várias formas: a partir de uma fotografia ou de um grupo delas, por exemplo. Fico navegando no acervo fotográfico e as inspirações aparecem! Às vezes, pela beleza da imagem, às vezes pela importância do que é retratado ou por remeter a algum assunto interessante. Um exemplo bem atual é o artigo No último dia do verão, o céu e o sol do Rio de Janeiro por Guilherme Santos, com a imagem produzida por Guilherme Santos. Passeando pelo acervo me deparei com essa imagem belíssima. Ah, eu tinha que dar um destaque a ela. Queria que nossos usuários a vissem…Fiquei pensando e daí surgiu a ideia de colocá-la em um artigo sobre o fim do verão.

Outra linha de pesquisa é a das efemérides: pode ser a celebração de uma data ou de um evento histórico. Temos recentemente a publicação de um artigo sobre o Dia do Bibliotecário. Cidades, bairros, ruas, monumentos, a história da fotografia e das técnicas fotográficas são frequentemente assuntos de nossos artigos. Notícias atuais também podem render idéias e publicações. Por exemplo, em fevereiro li que o choro foi declarado patrimônio cultural imaterial. Agora em abril, spoiler!!!, será publicado um artigo no Dia Nacional do Choro.

Os parceiros muitas vezes propõe as pautas ou eu as proponho a eles. Tem dado certo! Foi o que aconteceu no artigo Foto icônica do arquivo histórico da Fiocruz ilustrará exposição em Lyon, França. A jornalista Cristiane d’ Ávila, da Casa de Oswaldo Cruz propôs o tema, enviou o texto com a foto, eu editei e o artigo foi publicado.

Motivada e inspirada pelo livro Dicionário Histórico-Fotográfico Brasileiro, em que foi compilada a trajetória de fotógrafos e retratistas que documentaram o Brasil entre 1833 e 1910 e uma de minhas fontes de pesquisa mais frequentes, de autoria do professor Boris Kossoy, grande nome da fotografia e um entusiasta do portal, escrevi o perfil com cronologia de 66 fotógrafos e fotógrafas que atuaram no Brasil no século XIX até as primeiras décadas do XX. A primeira foi Militão Augusto de Azevedo (1837 – 1905) e sua obra-prima, o “Álbum comparativo da cidade de São Paulo 1862-1887″, ainda em maio de 2015 e, a última, em fevereiro deste ano sobre O fotógrafo alemão Theodor Preising (1883 – 1962), “o viajante incansável”. Por ideia do curador Joaquim Marçal, foi criada a aba do portal CRONOLOGIA DE FOTÓGRAFOS, onde todas as cronologias estão reunidas. Acredito que essa seja uma contribuição importante para a historiografia da fotografia no Brasil.

Já temos também publicações reunidas em cinco séries: Avenidas e ruas, com 18 artigos que proporcionam aos usuários verdadeiras caminhadas em cidades de todo o Brasil; Os arquitetos do Rio de Janeiro, com 5 artigos e O Rio de Janeiro desaparecido, com 27, que mostram, a partir dos registros como diversos fotógrafos viam a cidade, suas mudanças urbanas e seu desenho. Temos ainda a série Feministas, graças a Deus, com 17 artigos baseados em fotografias do acervo do Arquivo Nacional, que traz a história do começo do movimento feminista brasileiro e o perfil de várias feministas do início do século XX, dentre elas Bertha Lutz e Carmen Portinho. Finalmente, a série 1922 – Hoje, há 100 anos, com 11 artigos que pontuam alguns dos mais importantes acontecimentos ocorridos no referido ano, que foi marcante na história do Brasil. Acho, inclusive, que precisamos abrir uma nova aba reunindo todas estas séries.

Um das diversas consequências da difusão de fotografias com a produção de artigos em torno delas é a possibilidade de ampliação do conhecimento. Por exemplo, em 30 de outubro de 2017, foi publicado o artigo O fotógrafo português Francisco du Bocage (14/04/1860 – 22/10/1919). Em 2018, um de seus bisnetos, Sergio Du Bocage, entrou em contato conosco e agendamos um encontro. Ele trouxe documentos do fotógrafo que foram incorporados à nossa publicação.

Abre aspas: “Segundo um documento de identificação expedido em 10 de abril de 1918, no Recife, Bocage era português, naturalizado brasileiro, casado, tinha 1m68 de altura, olhos castanhos escuros, cabelos grisalhos, bigodes brancos, barba raspada e sua profissão era comerciante. Traz ainda uma imagem e a assinatura do fotógrafo”. Fecha aspas.

Outra contribuição interessante dos usuários surgiu de uma ideia do curador Sérgio Burgi. Convidamos os leitores a nos ajudar na identificação de outras pessoas que estavam na foto da missa campal de 1888. Desta forma, além de termos criado um vínculo mais próximo entre os usuários e o portal, conseguimos nomear vários personagens presentes no registro e dois artigos foram publicados com as novas “descobertas”.

Bem, a visão é escrever de modo claro sobre assuntos interessantes ancorados em imagens relevantes e numa pesquisa rigorosa e extensa. Aqui destaco a gloriosa Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional, uma fonte de informação absolutamente genial. Em cerca de 90 por cento do que escrevo a hemeroteca é uma das referências mais importantes.

Uma preocupação do portal é divulgar fotografias de todas as regiões do Brasil. Até hoje, no escopo do período abordado pela Brasiliana, são mais conhecidos fotógrafos que atuaram no Rio de Janeiro, em São Paulo, na Bahia e em Pernambuco, mas, nos nossos artigos, imagens de todas as regiões do país já foram destacadas.

Agora o leitor de imagens e de textos, para quem todo esse trabalho é realizado! Este usuário que não conhecemos, que pode ser uma criança, um adulto, um aluno dos graus mais variados, um professor, um curioso. Vocês são responsáveis por 72.473.810 visualizações em nosso portal!!! É uma honra, um privilégio e uma enorme responsabilidade produzir para vocês!!! Usuários, em nome de toda a equipe da Brasiliana Fotográfica, muito obrigada pela audiência e prestígio que vocês dão ao nosso portal!!! Esta é, na verdade, a grande parceria, a grande e almejada interação: a das instituições formadoras da Brasiliana Fotográfica com vocês!!! Vamos em frente!!!

Então, resumindo a Brasiliana em números nestes 9 anos: temos em nosso acervo fotográfico 11.019 imagens de 12 instituições. Já publicamos 506 artigos e tivemos 72.473.810 visualizações.

Saúdo especialmente dois colaboradores imprescindíveis no dia a dia da Brasiliana Fotográfica: os gestores de conteúdo Roberta Zanatta, do Instituto Moreira Salles, e Vinícius Martins, da Fundação Biblioteca Nacional. Colegas de trabalho que se tornaram amigos!

Me despeço, agradecendo à confiança das instituições fundadoras e parceiras do portal e de seus curadores, Sérgio Burgi e Joaquim Marçal. Podem ter certeza que trabalho com o máximo de seriedade e comprometimento. E também com muita alegria e entusiasmo!

Acredito que juntos realizamos um trabalho importante voltado ao desenvolvimento da educação e da cultura de nosso país, fazendo com que a história da fotografia, a memória e a própria História do Brasil estejam cada vez mais ao alcance da população. Viva a Brasiliana Fotográfica! Vida longa à Brasiliana Fotográfica!

Muito obrigada!

 

*Palestra realizada por Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica, durante o evento sobre os 9 anos de aniversário da Brasiliana Fotográfica, realizado, em 2 de abril de 2024, no Auditório Machado de Assis, na Biblioteca Nacional.

 

 

No último dia do verão, o céu e o sol do Rio de Janeiro por Guilherme Santos

A Brasiliana Fotográfica celebra o fim do verão, a estação do ano mais carioca, e o início do outono, destacando uma bela imagem do sol brilhando em um céu encoberto por nuvens, entre o Morro da Urca e o Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro. A estereoscopia foi produzida pelo fotógrafo amador Guilherme Santos (1871 – 1966),  em torno de 1915.

 

 

Guilherme Santos era um entusiasta da fotografia estereoscópica, tendo sido um dos pioneiros dessa técnica no Brasil, ao adquirir, em 1905, na França, o Verascope, um sistema de integração entre câmera e visor, que permitia ver imagens em 3D, produzidas a partir de duas fotos quase iguais, porém tiradas de ângulos um pouco diferentes. Eram impressas em uma placa de vidro e reproduziam a sensação de profundidade de maneira bem próxima da visão real. Antes dele, entre os anos de 1855 e 1862, o “Photographo da Casa Imperial”, Revert Henrique Klumb (1826 – c. 1886), favorito da imperatriz Teresa Christina e professor de fotografia da princesa Isabel, havia produzido vários registros utilizando a técnica da estereoscopia. A Casa Leuzinger também produziu fotografias estereoscópicas.

 

“Photographia Estereoscópica”

Por Guilherme A Santos

Photo Revista do Brasil, vol 1, maio de 1925, pg 14

“Confeccionar uma photographia é quasi sempre reconstruir uma recordação!

Nenhuma outra photographia trabalhada pelos processos conhecidos, pôde dar-nos tamanha satisfação, produzir-nos impressão tão viva  e tão nitida daquilo que quizermos recordar como a photographia estereoscopica! Seja o retracto de um ente querido, seja uma paysagem, ou ainda uma reunião de família, cujo objecto exprima um momento feliz da nossa existencia!

A sensação do relevo e da perspectiva que nos dá um positivo sobre vidro, copia de um cliche estereoscopico, introduzido no instrumento apropriado, é inegualavel! inconfundivel! incomparavel!

Ao olhar, apresentam-se as imagens das creaturas, da Natureza ou dos objectos, com a expressão a mais perfeita e verdadeira , mostrando-nos em destaque todos os planos que as objectivas colheram na extensão do angulo focal!

Como passa tempo, o que é possível de encontrar que seja mais agradável, mais divertido do que os positivos sobre vidro da photoestereoscopia!?

Reunidos em família e acompanhados de bons amigos sentados em redor de uma mesa, passa-se de mão em mão o apparelho estereoscópicos exibindo as differentes séries de positivos! Algumas, despertando recordações aos que, num afogar de saudades revêem os bons momentos que passaram, contemplando imagens de creaturas que talvez nunca mais encontrem no caminho da vida e que fizeram a delícia daqueles momentos, em uma estação de águas, em uma excursão, em cidades de verão, a bordo de um transatlântico, na convivência íntima de uma longa viagem, etc.

Outras séries apresentando o esplendor da Natureza em grandes quadros compostos com senso esthético, com observação artística que estasiam, que empolgam e que nunca cançaríamos de contemplar são photografias que provam como é impossível negar o extraordinário poder que tem a natureza, de impressionar e fazer vibrar a alma das creaturas com suas majestosas creações!

Nesse particular a nossa terra recebeu do CREADOR um dote precioso, o qual infelizmente em vez de ser transportado para as chapas da photographia por meio das objectivas dos differentes apparelhos, tem o homem esbanjado e destruido quasi inconscientemente sem considerar o grande mal que causa ao bem commum e sem reflectir no crime que pratica!

Disse PAULO MANTEGAZZA, capitulo IV no “O LIVRO DAS MELANCHOLIAS” de uma forma encantadora e com a alma amargurada: que se conhecesse DEUS, dir-khe-hia que na sua infinita misericordia, perdoasse todos os peccados dos homens e reservasse toda a sua ira, toda as suas vinganças, tododos seus raios, para o homem que destróe uma “FLORESTA”!!…

Faço minhas as palavras do primoroso escriptor, mas accrescento que o homem que dedicar-se á photographia, de preferenciaa estereoscopica, no contacto intimo e constante que ele tiver com a NATUREZA, quando a tiver estudado bem, irá lentamente habituando-se a apreciar devidamente a sua obra grandiosa, sentirá despertar em sua alma, sentimentos delicadosque até então desconhecia e difficilmente será capaz de derrubar uma arvore ou consentir que alguem o faça em sua presença!

A falta de amor e o abandono ás nossa bellezas naturaes é patente! Cito um exemplo mui recente:

Por uma destas lindas manhãs de ABRIL (era dia feriado) percorremos uma parte da estrada que liga o ALTO DA BOA VISTA ao SUMARÉ.

É uma das maravilhas da TIJUCA! A vegetação é abundante e variada e conta-se ás dezenas, arvores gigantescas cujas ramadas projectam sombras extensas sobre o caminho!

O sol imprimia uma luz de oiro sobre o verde esmeralda do arvoredo e fazia pensar que foi a NATUREZA quem inspirou os nossos antepassados sobre a escolha das cores para a nossa bandeira!

Caminhamos cerca de 6 kilometros ida e volta e gastamos cerca de 5 horas. Pois bem, nesse demorado percurso, cruzamos com 3 outros grupos de excursionistas, todos elles, compunham-se de estrangeiros!

Nem um brasileiro! nem um amador da photographia! Digo, encontramos um brasileiro, que empunhando uma vara que tinha um sacco de gaze preso a uma das extremidades, caçava as lindas borboletas azues de grandes azas que faziam o encanto daquellas paragens! aquelle rapaz de 20 annos presumives, de bella estaturaphysica, fazia-o como meio de vida! Contamos estendidas sobre um jornal, 20 daquellas borboletas, apanhadas em menos de uma hora! Pobrezinhas! a  NATUREZA limitou-lhes curtíssima existência, nem mesmo a essas deixam viver!

Creio ser o momento de ser transformada essa situação. A Photo-Revista vem preencher uma lacuna e acreditamos que uma campanha sustentada com perseverança por todos os seus collaboradores, daria bom resultado, no sentido de desenvolver o gosto dos brasileiros pela arte photographica: talvez conseguíssemos convence-los de trocar uma ou outra vez (às horas de ócio) os encantos do lar doméstico, pelos encantos naturaes, lembrando-lhes que em companhia de nossa família e em contacto com a floresta, também construímos lares provisorios sob a benção da mãe de tudo e de todos que é a NATUREZA!

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Novos acervos: Escola de Ciências Sociais FGV CPDOC

Com muito entusiasmo a Brasiliana Fotográfica em seu oitavo ano de existência – foi criada em 17 de abril de 2015 pela Fundação Biblioteca Nacional e pelo Instituto Moreira Salles – anuncia a entrada em seu acervo fotográfico de uma nova instituição parceira: a Escola de Ciências Sociais FGV CPDOC. É mais um passo importante para a preservação da memória da história do Brasil e da fotografia. Com imagens de diversos arquivos pessoais, dentre eles os de Getulio Vargas e de Oswaldo Aranha, o artigo de estreia da Escola de Ciências Sociais FGV CPDOC foi escrito por sua Equipe de Documentação e é sobre a Revolução de 1930, marco inicial da Segunda República no Brasil. A FGV CPDOC completa hoje 50 anos. Feliz aniversário e parabéns por todas as valiosas realizações! Seja muito bem-vinda à Brasiliana Fotográfica!

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Além das já mencionadas instituições fundadoras e da nova parceira, integram também o portal o Acervo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, o Arquivo Nacional, a Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha, a Fiocruz, a Fundação Joaquim Nabuco, o Leibniz-Institut fuer Laenderkunde, o Museu Aeroespacial, o Museu da República e o Museu Histórico Nacional.

 

CPDOC 50 ANOS integra-se à Brasiliana Fotográfica

Equipe de Documentação da Escola de Ciências Sociais FGV CPDOC

 

No ano em que comemora 50 anos de criação, o CPDOC se integra à Brasiliana Fotográfica, participando de uma rede de instituições parceiras, relevantes para a preservação da memória histórica brasileira. Ao longo dos anos, o Centro sempre priorizou o tratamento, a preservação e a consulta a seu acervo – textual, visual, sonoro e audiovisual. Participar da Brasiliana potencializa a visualização e o acesso público a seus registros visuais. Para essa primeira postagem, foram eleitas as fotografias que retratam a Revolução de 1930. A escolha desse conjunto de imagens foi definida por corresponder ao recorte histórico do CPDOC – história contemporânea do Brasil.  A Revolução de 1930, comandada por Getulio Vargas, instala a nova república no país. As fotografias que compõem esse dossiê integram os arquivos pessoais de Getulio Vargas (GV), Antunes Maciel (AM), Cordeiro de Farias (CFa), Cristiano Machado (CM), Epitácio Cavalcanti Albuquerque (ECA), Geraldo Rocha (GR), Haroldo Pereira (HP), João Antonio Mesplé (JAM), João Batista Pereira (JBP), Luiz Simões Lopes (LSL), Mena Barreto (MBM), Oswaldo Aranha (OA), e Pedro Ernesto Batista (PEB). 

 

 

Acessando o link para as fotografias acerca da Revolução de 1930 pertencentes à Escola de Ciências Sociais FGV CPDOC disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá visualizar e magnificar as imagens.

 

A Revolução de 1930

 

Movimento armado, iniciado em 3 de outubro de 1930, com o objetivo imediato de derrubar o governo Washington Luís e impedir a posse de Júlio Prestes, eleito presidente da República em 1º de março de 1930. O movimento tornou-se vitorioso em 24 de outubro e Getulio Vargas assumiu o cargo de presidente provisório no dia 3 de novembro. As mudanças políticas, sociais e econômicas que tiveram lugar na sociedade brasileira no pós-1930 fizeram com que esse movimento revolucionário fosse considerado o marco inicial da Segunda República no Brasil.

 

 

As origens do movimento revolucionário 

 

A oposição dos jovens oficiais do Exército — os “tenentes” — ao sistema político manifestou-se desde a década de 1920. Nas revoltas dos 18 do Forte (1922), de São Paulo e Rio Grande do Sul (1924), e na Coluna Prestes (1925-1927), os “tenentes” defendiam o equilíbrio entre os três poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário -, pleiteavam um nacionalismo econômico e a modernização da sociedade.

 

A Aliança Liberal

 

Rompendo com a política do Café com leite, segunda a qual Minas Gerais e São Paulo se revezavam no governo da República, a partir de 1928, o presidente Washington Luís passou a apoiar ostensivamente a candidatura de outro paulista – Júlio Prestes – à sua sucessão. Os presidentes dos estados de Minas Gerais e Rio Grande do Sul opunham-se à candidatura de Júlio Prestes e lançaram os nomes de Getulio Vargas, presidente do Rio Grande do Sul, e João Pessoa, presidente da Paraíba, respectivamente à presidência e à vice-presidência da República.

 

 

No início de agosto de 1929, formou-se a Aliança Liberal. Em 12 de setembro, uma convenção dos partidos dominantes de 17 estados, liderados por São Paulo, homologou as candidaturas de Júlio Prestes e Vital Soares à presidência e vice-presidência da República. Pouco depois, em 20 de setembro, a Aliança Liberal aprovou a chapa Vargas-João Pessoa.

 

 

 

Ainda em 1929, a corrente mais radical da Aliança Liberal passou a admitir a hipótese de um movimento armado em caso de derrota nas urnas. Buscou a colaboração dos “tenentes” pelo passado revolucionário, a experiência militar e o prestígio no interior do Exército. Entretanto, os “tenentes” não tinham uma posição homogênea. Juarez Távora, João Alberto Lins de Barros e Antônio de Siqueira Campos aderiram à ideia de colaborar com a Aliança Liberal, enquanto Luís Carlos Prestes mostrava reservas quanto ao movimento.

 

 

Com a campanha eleitoral em andamento, Getulio Vargas, pouco seguro da vitória, estabeleceu um acordo com o presidente Washington Luís estabelecendo, entre outros entendimentos, que, caso derrotado nas eleições, acataria o resultado e passaria a apoiar o governo constituído. Em contrapartida, Washington Luís e Júlio Prestes se comprometiam a não apoiar elementos divergentes da situação no Rio Grande do Sul. Vargas munia-se assim de um instrumento que lhe permitiria uma saída, qualquer que fosse o resultado eleitoral. Em 2 de janeiro de 1930, ao lado de João Pessoa, Vargas lançou sua plataforma de governo, para uma grande multidão concentrada na Esplanada do Castelo, no Rio de Janeiro.

 

 

 

 

O resultado das eleições em 1º de março de 1930 deu a vitória a Júlio Prestes e Vital Soares, eleitos com 57,7% dos votos, e foi contestado por suspeita de fraude.

 

O movimento eclode

 

Em 19 de março de 1930, o gaúcho Borges de Medeiros, em entrevista publicada no jornal A Noite, reconheceu enfaticamente a vitória de Júlio Prestes. A entrevista provocou forte reação e as articulações para um movimento revolucionário foram retomadas.

 

 

O movimento deveria contar com o apoio de três estados – Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraíba – e eclodir simultaneamente em todo o Brasil. Em fins de maio, o Congresso aprovou os resultados das eleições, declarando Júlio Prestes presidente eleito. Três momentos impulsionaram o ânimo revolucionário – ainda em maio, a morte em acidente aéreo do ‘tenente’ Siqueira Campos; em junho, o manifesto de Vargas pelos jornais condenando as fraudes eleitorais e as violências pelo governo federal e pelos governos estaduais contra os aliancistas, e o assassinato de João Pessoa em Recife por João Dantas, apoiador do governo federal. Os preparativos militares se aceleraram e a pressão sobre os chefes do movimento.

 

 

 

 

A posição de Vargas, de aparente alheamento ao movimento e muitas vezes contrária à sua deflagração, pode ser interpretada como uma tentativa de não despertar a desconfiança do governo federal. Foi isso exatamente o que ocorreu. O Rio Grande teve condições de preparar o movimento com a quase ignorância do governo federal. Em 25 de setembro, Vargas e Oswaldo Aranha decidiram desencadear a revolução no dia 3 de outubro. Segundo o plano adotado, o movimento deveria irromper simultaneamente no Rio Grande do Sul, Minas e estados do Nordeste. A ação deveria ter início, por escolha de Osvaldo Aranha, às 17h30, no fim do expediente nos quartéis, o que facilitaria a ação militar e a prisão dos oficiais em suas casas.

 

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Bilhete marcando dia e hora da eclosão do movimento revolucionário, assinado por Lindolfo Collor e Oswaldo Aranha. Porto Alegre (RS), 25 de setembro de 1930 / Acervo FGV CPDOC

 

Efetivamente, a revolução eclodiu nesse horário no Rio Grande do Sul com ataque a posições militares de Porto Alegre e avançando pelos demais estados do Sul.

 

 

Em Belo Horizonte, a revolução eclodiu, no mesmo dia e na mesma hora, e boa parte de sua população aderiu aos batalhões de voluntários que logo se formaram em diversas cidades mineiras. O Norte e o Nordeste do país tiveram a Paraíba como sede do movimento revolucionário, mas o movimento eclodiu na madrugada do dia 4 e se alastrou, pelos outros estados, madrugada adentro.

 

 

 

A 11 de outubro, acompanhados de todo o estado-maior civil e militar da revolução, Getulio Vargas e Góis Monteiro seguiram de trem com destino ao norte do Paraná, prevendo choques violentos com as tropas legalistas. O comboio revolucionário estacionou em Ponta Grossa. Vargas e sua comitiva permaneceram em um dos vagões da composição ferroviária.

 

 

Góis montou seu quartel-general numa das dependências do grupo escolar da cidade, planejou o ataque a ser desfechado sobre São Paulo e foi informado sobre as ações exigindo a renúncia do presidente Washington Luís. Ante a negativa deste, no dia 24 de outubro, os militares determinaram o cerco ao Palácio Guanabara e sua prisão.

 

 

Movimento vitorioso

 

Deposto Washington Luis, assume o governo uma Junta Governativa Provisória composta pelos generais Tasso Fragoso e João de Deus Mena Barreto, e pelo almirante Isaías de Noronha. Com a situação na capital sob controle, a Junta enviou telegramas a Vargas propondo a suspensão total das hostilidades em todo o país. Em 28 de outubro, em proclamação ao país, a Junta Governativa comunicou a decisão de transmitir o poder a Vargas.

 

 

Em 31 de outubro, precedido por três mil soldados gaúchos, Vargas desembarcou no Rio de Janeiro (Distrito Federal), sendo recebido por uma manifestação apoteótica de apoio.

 

 

Finalmente, em 3 de novembro de 1930, Vargas tomou posse como chefe do Governo Provisório e governou o país por 15 anos até ser deposto em 1945.

 

 

 

 

(1) Nota da Editora: Esta mesma foto foi publicada no Correio da Manhã, em 1º de novembro de 1930.

 

 

Acesse aqui o vídeo da Sessão Solene em homenagem aos 50 anos do CPDOC, realizada em 21 de junho de 202, no plenário da Câmara dos Deputados, em Brasília.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica

Novidade na Brasiliana Fotográfica – Cronologia de fotógrafos

A Brasiliana Fotográfica traz em sua primeira publicação de 2021 uma novidade: a criação da seção “Cronologia de fotógrafos”, onde estão reunidas todas as cronologias já publicadas no portal. A nova seção encontra-se no canto superior da página inicial. Assim, se o leitor quiser saber se determinado fotógrafo já tem uma cronologia e desejar pesquisar somente nela, pode ir direto na “Cronologia de fotógrafos” onde, em ordem alfabética, eles estão listados. Já são 45! Dentre eles, Augusto Malta (1864 – 1957), José Christiano Junior (1832 – 1902, Juan Gutierrez (c. 1860 – 1897) e Marc Ferrez (1843 – 1923). Todos os fotógrafos que possuem cronologia já foram temas de artigos da Brasiliana Fotográfica, nos quais há também um perfil e um link para as imagens de autoria de cada um deles. Feliz Ano Novo! E vamos em 2021 continuar a cumprir nossa missão de difundir a fotografia brasileira!

 

Link para a página “Cronologia de fotógrafos”

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

 

Nova seção do portal – Como pesquisar na Brasiliana Fotográfica

Nesse ano em que a Brasiliana Fotográfica completa cinco anos, a editora e pesquisadora do portal, a jornalista Andrea Wanderley; e seus gestores, a cientista social Roberta Mocciaro Zanatta, da equipe do Instituto Moreira Salles (IMS); e o historiador Vinícius Martins, da equipe da Biblioteca Nacional (FBN), gravaram um vídeo, há muito demandado por diversos de nossos leitores, mostrando a melhor forma de pesquisar e navegar no portal. Está, a partir de hoje, disponível na aba O Portal, localizada na página de abertura da Brasiliana Fotográfica, no item Como pesquisar na Brasiliana Fotográfica.

 

 

A Brasiliana Fotográfica foi inaugurada em 17 de abril de 2015, fundada pela Biblioteca Nacional e pelo Instituto Moreira Sales, e seus curadores são Joaquim Marçal (FBN) e Sérgio Burgi (IMS). Ao longo de sua existência, mais nove importantes instituições culturais passaram a integrar seu acervo fotográfico: o Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, o Arquivo Nacional, a Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha, a Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz, a Fundação Joaquim Nabuco, o Leibniz-Institut fuer Laenderkunde, o Museu Aeroespacial, o Museu da República e o Museu Histórico Nacional. Assim, o usuário do portal pode ter acesso a fotografias dos acervos de todas essas instituições numa mesma plataforma.

Semanalmente é publicado um artigo sobre temas variados – perfil de fotógrafos, história de cidades, monumentos, efemérides, eventos históricos, beleza ou importância de uma fotografia – sempre contemplados em imagens do acervo fotográfico do portal. Até maio de 2020, a Brasiliana Fotográfica teve 40.255.169 milhões de visualizações, publicou 253 artigos e possuia em seu cervo fotográfico 6.892 imagens!

Boa navegação e boas pesquisas!

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

ERRATA: no vídeo, o Museu da República não foi, lamentavelmente, mencionado como instituição parceira do portal Brasiliana Fotográfica.

Debate pelos cinco anos da Brasiliana Fotográfica – link de acesso e para fotografias mostradas durante o encontro

 

O debate que a Brasiliana Fotográfica promoveu para celebrar o seu aniversário de cinco anos, dentro do contexto da atual pandemia do coronavírus, foi muito bem sucedido, tendo sido assistido por centenas de pessoas numa live transmitida no dia 17 de abril de 2020, às 17h30m. Pode ser acessado no link https://www.facebook.com/institutomoreirasalles/videos/547559385897022/ . Os debatedores foram o historiador Jaime Benchimol, a pneumologista Margareth Dalcolmo e o urbanista e arquiteto Guilherme Wisnik.

O portal mais uma vez agradece a seus leitores pela audiência e entusiasmo! Também destacamos nessa publicação todas as fotografias mostradas durante o encontro, além de outras que se relacionam com os temas abordados.

 

 

Grupos de imagens: 

 

1 - Avenida Central

2 – Gripe Espanhola, links do arquivo do dr. Moncorvo Filho, do arquivo da Fiocruz

Doutor Maurity Santos examinando paciente com pneumonia durate a epidemia de gripe espanhola de 1918

Dr. Maurity e enfermeiras atendendo enfermo no Morro do Salgueiro

Doutores Moncorvo Filho e Orlando de Goes atendendo pacientes no surto de gripe espanhola de 1918

Moncorvo Filho consultando criança durante a epidemia de gripe espanhola de 1918

Moncorvo Filho consultando um bebê

Moncorvo Filho e auxiliares no Posto de Assistência à Infância durante o surto de gripe espanhola

Prédio que serviu para socorrer vítimas da gripe espanhola em 1918

Socorro a um homem enfermo no Morro da Mangueira

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Os cinco anos da Brasiliana Fotográfica

A Brasiliana Fotográfica, fundada pela Biblioteca Nacional e pelo Instituto Moreira Salles, em 17 de abril de 2015, completa cinco anos de existência buscando contribuir para uma escrita da história do Brasil onde as fotografias deixam de ser mera ilustração. A data seria comemorada com a realização do Seminário Brasiliana Fotográfica 5 anos – A imagem e a escrita da história, no auditório da Biblioteca Nacional que, devido à situação pela qual atravessa o Brasil e o mundo, foi adiado.

Decidimos então promover no contexto atual da pandemia de coronavírus um debate relacionando urbanismo, saúde pública e a história da cidade do Rio de Janeiro e das grandes metrópoles brasileiras, temas frequentes dos artigos semanais publicados no portal, dando visibilidade aos arquivos de imagem das instituições parceiras, ora disponibilizados na Brasiliana Fotográfica e também às pesquisas existentes sobre estes temas – elementos de reflexão sobre o momento presente. O encontro virtual será disponibilizado on-line ao vivo para o público, gratuitamente, no canal de facebook do Instituto Moreira Salles -  https://www.facebook.com/pg/institutomoreirasalles, no dia 17 de abril de 2020, às 17h30m.

 

 

Convidamos para este encontro e debate o historiador Jaime Benchimol, a pneumologista Margareth Dalcolmo – ambos pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz, instituição integrante do portal Brasiliana Fotográfica – e o arquiteto e urbanista Guilherme Wisnik, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. O debate será mediado pelos dois curadores da Brasiliana Fotográfica – Sérgio Burgi, Coordenador de Fotografia do Instituto Moreira Salles, e Joaquim Marçal, Coordenador da BN Digital -, e pela historiadora Aline Lopes de Lacerda, pesquisadora do Departamento de Arquivo da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz.

 

logo

 

Queremos também celebrar o aniversário do portal agracedendo a você, nosso leitor, que percorre nosso acervo fotográfico que, até o momento, possui 6.709 imagens de 11 instituições, e também lê nossas publicações semanais: já são 249! Ao longo desses cinco anos já tivemos 38.437.165 acessos!

Com uma rigorosa seleção e indexação das imagens que integram nosso acervo fotográfico, com o uso de uma linguagem simples e com a realização de uma pesquisa minuciosa, um dos objetivos da Brasiliana Fotográfica é atrair o interesse do maior número de leitores possível, de todas as faixas etárias e níveis de formação acadêmica, para assuntos relativos à história da fotografia, do Brasil e do mundo. Os artigos, semanais, são escritos por profissionais ligados às instituições integrantes do portal,  por curadores convidados como Cassio LoredanoElvia BezerraEucanaã FerrazLilia Moritz SchwarczMaria Isabela Mendonça dos SantosMillard SchislerPedro Karp Vasquez e Rubens Ribeiro Gonçalves da Silva e também pelos curadores do portal Sérgio Burgi (IMS) e Joaquim Marçal (FBN).

 

Acessando o link para as 6.709 fotografias publicadas ao longo desses cinco anos na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

A escolha dos temas é variado: pode ser baseada tanto em uma efeméride como em uma reflexão mais teórica, na beleza ou na importância histórica de uma imagem ou de um grupo delas ou pode, também, se relacionar com algum fato da atualidade como foi, por exemplo, a publicação do artigo E o ex e futuro presidente do Brasil morreu de gripe…a Gripe Espanhola de 1918, em 20 de março de 2020, quando o mundo e o Brasil enfrentavam (ainda enfrentam) a pandemia do coronavírus. O presidente em questão foi Rodrigues Alves (1848 – 1919), uma das milhões de vítimas da gripe espanhola.

 

 

A elaboração de perfis de fotógrafos acompanhados por galerias de suas fotografias disponíveis no acervo do portal e por cronologias é uma das marcas da Brasiliana Fotográfica. E uma das estrelas das pesquisas realizadas para esses artigos é, além da bibliografia disponível sobre os temas, a Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional, com os links para as notícias da época em que os fatos ocorreram. De abril de 2015 a março de 2020, foram publicados 44 perfis, o primeiro, Militão Augusto de Azevedo (1837 – 1905) e sua obra-prima, o “Álbum comparativo da cidade de São Paulo 1862-1887″, em 24 de maio de 2015; e o último, As Camélias Japonesas no carnaval de Alagoas pelas lentes do fotógrafo amador Luiz Lavenère Wanderley (1868 – 1966), em 21 de fevereiro de 2020.

 

 

Lista de todos os perfis de fotógrafos publicados na Brasiliana Fotográfica de abril de 2015 a março de 2020 

2015

 1 – Militão Augusto de Azevedo (1837 – 1905) e sua obra-prima, o “Álbum comparativo da cidade de São Paulo 1862-1887″

2 – O alemão Alberto Henschel (1827 – 1882), o empresário da fotografia

3 O alagoano Augusto Malta, fotógrafo oficial do Rio de Janeiro entre 1903 e 1936

4Vincenzo Pastore (Casamassima, Itália 5 de agosto de 1865 – São Paulo, Brasil 15 de janeiro de 1918)

5 - Alagoas, Bahia, Minas Gerais e Sergipe por Augusto Riedel (1836 -?)

6 – Guerra de Canudos pelo fotógrafo Flavio de Barros

7 – O editor e fotógrafo suíço Georges Leuzinger (1813 – 1892)

8 – Imagens do Espírito Santo por Albert Richard Dietze (Alemanha, 1838 – Brasil, 1906)

2016

9 – O fotógrafo francês Jean Victor Frond (1821 – 1881) e o “Brasil Pitoresco”

10 – O suicídio do fotógrafo Felipe Augusto Fidanza (c. 1847 – 1903)

11 – Ipanema, que completa 122 anos, pelas lentes de José Baptista Barreira Vianna (1860 – 1925)

12 - Notícia da viagem do fotógrafo Albert Frisch (31/05/1840 – 30/05/1918) à Amazônia

13 - O fotógrafo Juan Gutierrez de Padilla (c.1860 – 28/6/1897)

14 – O fotógrafo paisagista Camillo Vedani (18?, Itália – c. 1888, Brasil)

15 - O fotógrafo amador Guilherme Santos (1871 – 1966)

16 – Revert Henrique Klumb, o fotógrafo da família real do Brasil

17 – O retratista português Joaquim Insley Pacheco (c. 1830 – 14 de outubro de 1912)

18 – O fotógrafo Augusto Stahl (Itália 23/05/1828 – França, 30/10/1877)

19 – O brilhante cronista visual Marc Ferrez (RJ, 07/12/1843 – RJ, 12/01/1923)

2017

20- São Paulo sob as lentes do fotógrafo Guilherme Gaensly (1843 – 1928)

21 – Os trinta Valérios, uma fotografia bem-humorada de Valério Vieira (1862 – 1941) 

22- Os índios sob as lentes de Walter Garbe, em 1909 

23 - Abram-Louis Buvelot (Suíça, 03/03/1814 – Austrália, 30/05/1888) 

24 – Um fotógrafo inglês na Bahia: Benjamin Robert Mulock (18/06/1829 – 17/06/1863) 

25 - “Sete de Setembro: uma ponte entre dois maurícios”, por Pedro Vasquez

26 – Lampião e outros cangaceiros sob as lentes de Benjamin Abrahão 

27 – O cronista visual de Diamantina: Chichico Alkmim, fotógrafo (1886 – 1978)

28 - O fotógrafo austríaco Otto Rudolf Quaas e o construtor Ramos de Azevedo

29 –  O fotógrafo português Francisco du Bocage (14/04/1860 – 22/10/1919)

30- O fotógrafo Joaquim Pinto da Silva, o J. Pinto (1884-1951) e a Fundação Oswaldo Cruz

31 – O fotógrafo português José Ferreira Guimarães (1841 – 30/01/1924)

 2018

 32 – A construção Madeira-Mamoré, a ferrovia da Morte”, pelas lentes de Dana B. Merrill (c. 1887 – 19?)

33- O fotógrafo, botânico e naturalista alemão George Huebner (1862 – 1935)

34 - O francês Hercule Florence (1804 – 1877), inventor de um dos primeiros métodos de fotografia do mundo

35 - Lunara (1864 – 1937), um fotógrafo amador e fotoclubista de Porto Alegre

36 - O fotógrafo açoriano Christiano Junior (1832 – 1902) e sua importante atuação no Brasil e na Argentina

37 - A prisão do fotógrafo e aviador britânico S.H. Holland (1883 – 1936) no Rio de Janeiro, em 1930

2019

38 - Carlos Bippus e as paisagens cariocas

39 - Nudez na Galeria Ducasble causa polêmica no Recife do século XIX

40 - João Ferreira Villela, um dos primeiros fotógrafos pernambucanos

41 - Imagens de Blumenau: por Bernardo Scheidemantel e em álbum do início do século XX

42 - A Colônia Dona Francisca, Joinville, por Louis Niemeyer

43 – Jorge Kfuri (1893 – 1965), autor das primeiras fotografias aéreas do Rio de Janeiro

2020

44 - As Camélias Japonesas no carnaval de Alagoas pelas lentes do fotógrafo amador Luiz Lavenère Wanderley (1868 – 1966)

 

 

Dentre esses perfis está o do fotógrafo Marc Ferrez, O brilhante cronista visual Marc Ferrez (7/12/1843 – 12/01/1923), publicada em 7 de dezembro de 2016.

 

 

Sobre a obra de Ferrez, que é por muitos considerado o mais importante fotógrafo que atuou no Brasil no século XIX, foram escritos mais 13 artigos na Brasiliana Fotográfica: O Rio de Janeiro de Marc Ferrez, Obras para o abastecimento no Rio de Janeiro por Marc Ferrez , Do natural ao construído: O Rio de Janeiro na fotografia de Marc Ferrez, de Sérgio BurgiNo primeiro dia da primavera, as cores de Marc Ferrez (1843 – 1923)Marc Ferrez , a Comissão Geológica do Império (1875 – 1878) e a Exposição Antropológica Brasileira no Museu Nacional (1882)O quiosque Chopp Berrante no Passeio Público, Ferrez, Malta e Charles DunlopUma homenagem aos 175 anos de Marc Ferrez (7 de dezembro de 1843 – 12 de janeiro de 1923)Pereira Passos e Marc Ferrez: engenharia e fotografia para o desenvolvimento das ferrovias, Fotografia e ciência: eclipse solar, Marc Ferrez e Albert Einstein, Uma homenagem da Casa Granado ao imperial sob as lentes de Marc Ferrez, Ressaca no Rio de Janeiro invade o porão da casa do fotógrafo Marc Ferrez, em 1913 e Petrópolis, a Cidade Imperial, pelos fotógrafos Marc Ferrez e Revert Henrique Klumb.

Outro objetivo do portal é divulgar mais questões ligadas à preservação digital, um assunto que toca não apenas às instituições de memória, mas a todos aqueles que produzem imagens digitais em seu dia a dia sem, no entanto, cuidar de sua preservação. Nesse sentido, já publicamos alguns artigos mas ainda temos muito a percorrer. Também desejamos ampliar a abrangência do portal com a adesão de instituições de todos os estados do Brasil.

Ainda em seu primeiro ano, no blog do portal, tivemos uma publicação de relevância histórica: a presença de Machado de Assis (1839 – 1908) na fotografia da Missa Campal pela comemoração da abolição da escravatura (de autoria de Antonio Luiz Ferreira), realizada em 17 de maio de 1888, no Campo de São Cristóvão, com a presença da princesa Isabel. A descoberta, realizada pela editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, Andrea Wanderley, foi saudada em outra publicação do blog pelo historiador José Murilo de Carvalho.

 

 

Os registros mais acessados pelos leitores nesses cinco anos foram as fotografias Missa campal celebrada em ação de graças pela Abolição da escravatura no Brasil, de Antonio Luiz Ferreira; Índios Botocudos, de Walter Garbe; Escola pública em Curytiba, de Marcos A. de Mello; A Família Imperial reunida, de Alberto Henschel; e Índios da Tribo Carajás, de autoria desconhecida.

 

 

Além das instituições fundadoras do portal, FBN e IMS, integram a Brasiliana Fotográfica o Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, o Arquivo Nacional, a Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha, a Fiocruz, a Fundação Joaquim Nabuco, o Leibniz-Institut fuer Laenderkunde, o Museu Aeroespacial, o Museu da República e o Museu Histórico Nacional. A gestão do portal é realizada por Roberta Zanatta (IMS) e por Vinicius Martins (FBN).

 

Mais uma vez, muito obrigada e vamos em frente!

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Novos acervos: Museu da República

A Reforma Urbana do Rio de Janeiro na Coleção Família Passos

Magaly Cabral*

No município do Rio de Janeiro, o primeiro grande projeto de intervenção na configuração espacial e funcional da cidade, após a instauração da República, em 1889, se deu na gestão de Francisco Pereira Passos (1836-1913) como prefeito do Distrito Federal (1902-1906). Passos era um engenheiro experiente e foi nomeado para este cargo pelo presidente Rodrigues Alves (1848 – 1919), que governou o Brasil de 1902 a 1906. Sua missão como prefeito era bem definida: transformar o Rio em uma cidade moderna, cosmopolita e civilizada, digna de ser a capital da jovem república brasileira e atrair para cá visitantes, mão-de-obra imigrante e negócios.

A reforma urbana executada por Passos aconteceu em associação com as obras de modernização do porto do Rio de Janeiro e da construção da Avenida Central (atual Rio Branco), promovidas pelo governo federal, visando à melhoria na capacidade de escoamento e circulação de produtos, principalmente os importados. Como a capital federal era a principal consumidora desse tipo de produto e como a União tinha competência exclusiva sobre os impostos de importação, as reformas na cidade eram fundamentais para o equilíbrio orçamentário da federação.

Acessando o link para as fotografias do acervo do Museu da República disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

Além das alterações no traçado viário, das melhorias de infraestrutura e das novidades urbanísticas e arquitetônicas na cidade, a “Reforma Passos” também alterou costumes do carioca e suas relações com o espaço. Novas posturas municipais buscaram implementar hábitos de higiene e comportamento na população. O centro da cidade, onde até então moravam muitas pessoas de baixa renda, teve seus cortiços e estreitas vielas coloniais arrasados para se transformar num espaço de cultura, comércio, negócios e governo. A falta de moradia, por sua vez, levou ao processo de favelização dos morros. O grave problema das epidemias foi neutralizado através da vacinação obrigatória, resultando na “Revolta da Vacina” de 1904. O caráter modernizador, mas também excludente, da Reforma Passos (lembrada como “bota-abaixo”) gerou questões que até hoje se impõem quando pensamos nos processos de transformação urbana acontecidos ao longo do século XX e das primeiras décadas do XXI.

 

 

Aqui, iremos apresentar um recorte temático de 118 fotografias pertencentes à Coleção Família Pereira Passos, uma das mais importantes sob guarda do Arquivo Histórico e Institucional do Museu da República. Ela é formada por cerca de 5.592 documentos textuais e 1.147 fotografias, produzidos entre 1806 e 1960, pelo titular e seus familiares. A coleção faz parte do acervo do Museu da República desde 1965, quando a primeira e maior leva de documentos foi doada pela família de Pereira Passos. Em 1966, foi acrescida através de novas doações de sua neta, Maria Passos, e pela transferência de fotos até então pertencentes ao Museu Histórico Nacional, já em 1980. Essa nova contribuição do Arquivo Histórico e Institucional do Museu da República ao projeto Brasiliana Fotográfica soma-se à Coleção Canudos, registrada pela Unesco, em 2009, na categoria Memória do Mundo e já disponível ao público.

O autor da maioria das fotos aqui apresentadas é o alagoano Augusto Malta (1864 – 1957), contratado por Pereira Passos para documentar a reforma urbana. Essas fotos mostram as obras de mudança no centro da cidade e também em bairros próximos, como Tijuca, Estácio, Cidade Nova, Glória, Catete, Laranjeiras e Botafogo. As fotografias de Luis Musso, sobre a maquete do Teatro Municipal, e finalização de sua construção, também merecem destaque. Musso prestava serviços de documentação para a firma Antônio Januzzi Irmãos e cia, pertencente ao engenheiro italiano de mesmo nome, responsável pela construção da maioria dos prédios da Avenida Central, símbolo das reformas urbanas dos governos Pereira Passos e Rodrigues Alves.

 

Nesse conjunto de fotos, a maioria dos documentos destaca a região central da cidade, a principal área afetada pelas reformas de Pereira Passos. As imagens mostram uma época de tapumes, andaimes e restos de demolições pelas ruas, resgatam a memória de cenários que tiveram que desaparecer para dar lugar a novas ruas e prédios, como é o caso da Igreja de São Joaquim e do chafariz do Largo da Carioca. São lembrados também os elementos da paisagem urbana surgidos naquele momento, mas que já não existem, parcial ou inteiramente, como é o caso dos prédios neoclássicos da Avenida Central e da Avenida Beira-Mar, antes do Aterro do Flamengo.

Embora ruas e prédios pareçam ser as estrelas das fotos, podemos ver nelas a presença do carioca de então. Os operários, os elegantes passeadores das ruas, os homens que se reúnem num quiosque pra conversar e beber e as pessoas que tentam se proteger do calor com sombrinhas em meio a uma inauguração de início de obras. Por falar em pessoas, o próprio Pereira Passos aparece em várias fotos, cortando fitas, sendo homenageado ou em visita à Câmara Municipal, a mesma que permaneceu fechada nos seis primeiros meses de seu mandato, para que ele pudesse, sem obstáculos legislativos, tomar as medidas para a execução de seu ambicioso projeto.

*Magaly Cabral é diretora do Museu da República

Novos acervos: Arquivo Nacional

 

O Arquivo Nacional e a Brasiliana Fotográfica: primeiro encontro

 Claudia Beatriz Heynemann e Maria do Carmo Rainho*

Participar da Brasiliana Fotográfica representa para o Arquivo Nacional sua integração em rede a grandes acervos públicos ou privados, com os quais necessariamente sempre dialogou no campo da história da fotografia e das instituições de guarda.

 

 

Em diferentes mídias, a imagem fotográfica conservada pela instituição atingiu um público vasto e variado por meio da pesquisa realizada por seus usuários e pelos projetos de difusão como livros, mostras, exposições virtuais, sites e peças gráficas. Transformadas pelo uso e pelas intervenções realizadas existe, por outro lado, algo que é próprio a cada fotografia ou às séries, sempre sujeitas a renovadas interpretações.

Com alguns poucos daguerreótipos provenientes dos fundos Família Werneck e Família Bicalho, a fotografia oitocentista no Arquivo Nacional adquire vulto com os retratos de estúdio que inundaram o mundo todo, produzidos no Brasil por nomes como Joaquim Insley Pacheco, Joaquim Feliciano Alves Carneiro, Alberto Henschel, Guilherme Gaensly e Rodolfo Lindemann reunidos em diversos arquivos privados e na coleção Fotografias Avulsas. Esta inclui formatos como panorama, carte de visite, carte cabinet e estereogramas, numa cronologia que se estende de 1860 a 1964. Encontramos também, nesse conjunto, vistas e cenas urbanas do Brasil, como as paisagens do Rio de Janeiro por Juan Gutierrez, Marc Ferrez, Bippus e Lopes; ruas e prédios históricos da cidade de Ouro Preto, em fotos de J. Brandi; Salvador por Antônio da Silva Lopes Cardoso; e Santa Catarina por Augusto Schmidt. Somam-se ainda álbuns referentes às missões religiosas e à participação brasileira na Exposição Internacional de Filadélfia, em 1876; na Exposição Continental de 1882, em Buenos Aires; e na Exposição Universal de Paris, de 1889, aqui apresentadas.

Acessando o link para as fotografias do acervo do Arquivo Nacional disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

Se os próprios álbuns eram dispositivos óticos que integravam o fenômeno das exposições universais, nas últimas décadas do século XIX, evidencia-se a estreita conexão entre os estereogramas e esses eventos, quando a estereoscopia se torna um dos principais meios de propagação da fotografia: em 1851, a técnica cai no gosto popular ao ser apresentada na Exposição Universal de Londres. O estereograma proporcionava ao espectador uma experiência em três dimensões, aproximando-o do real. Vidro e ferro, vitrines, produtos, países, culturas, uma sincronia que alinhava fenômenos análogos em seu esforço de síntese, como os catálogos, enciclopédias, e mesmo as viagens.

As mais antigas estereoscopias a circular no país são da década de 1850, de autoria de Revert Henrique Klumb. Depois de um período de declínio em quase todos os países, entre 1870 e 1880, ela voltou a despertar grande interesse, conhecendo seu apogeu na virada do século XIX para o XX. No Brasil este fomento teve como responsável, entre outros, o conde de Agrolongo que montou, no Rio de Janeiro, a Grande Manufatura de Fumos e Cigarros Marca Veado que distribuía figurinhas com fotografias estereoscópicas de tamanho reduzido (2,5 x 7 cm) em seus maços.

A série de estereogramas selecionadas inclui vistas do Rio de Janeiro retomando perspectivas consagradas em gravuras e aquarelas, mas que comportavam novas tomadas que começavam a desenhar outra cidade. Lembrando o caráter de grande circulação deste gênero de imagem, temos as séries produzidas para difundir a reforma do centro do Rio de Janeiro, particularmente a abertura da Avenida Central e, finalmente, retornando a uma dada origem, os estereogramas da Exposição Nacional de 1908 que destacavam o progresso dos transportes, da iluminação, dos grandes pavilhões e do elegante público afluente.

 

 

Entre os arquivos privados de homens públicos, apresentamos parte do fundo Afonso Pena que contém 445 imagens, dentre elas vistas de localidades brasileiras, em álbuns ou molduras, como Santa Bárbara, em Minas Gerais; Maceió, em Alagoas e Floresta dos Leões, em Pernambuco, estradas de ferro, obras federais, áreas assistidas pela Comissão de Açudes e Irrigação e registros de Afonso Pena com autoridades e em visita a estados brasileiros, como o Amazonas.

Um outro país, que se desenhava nos anos 1920 e 1930 com as lutas femininas pelos direitos civis, se dá a ver no acervo da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, fundada em 1922, por Berta Lutz, no Rio de Janeiro. Seus documentos fotográficos registram as ações para a conquista do voto e da emancipação das mulheres; eventos, congressos, assembleias e conferências feministas nacionais e internacionais; a atuação de Berta Lutz na defesa dos direitos da mulher; seu trabalho como pesquisadora do Museu Nacional; as sufragistas brasileiras e estrangeiras, além de homens públicos envolvidos com a causa do movimento.

Com a inserção das fotografias do Arquivo Nacional, esperamos contribuir para uma nova configuração do universo de pesquisa que a Brasiliana Fotográfica proporciona, permitindo o estabelecimento de conexões entre diferentes acervos e a análise das ocorrências de temas, fotógrafos e técnicas, entre tantos aspectos que permitem uma escrita da história da fotografia.

*Claudia Beatriz Heynemann – Doutora em História | Supervisora de Pesquisa do Arquivo Nacional

* Maria do Carmo Rainho – Doutora em História | Pesquisadora do Arquivo Nacional

Brasiliana Fotográfica: dois anos

 

O portal Brasiliana Fotográfica, uma iniciativa da Fundação Biblioteca Nacional e do Instituto Moreira Salles, completa hoje dois anos com mais de 10 milhões de visualizações e mais de 6 milhões de pesquisas realizadas. Nesse período, foram publicados 90 artigos, que fornecem um panorama da fotografia no Brasil desde as suas origens no século XIX até as primeiras décadas do século XX.

Ainda em seu primeiro ano, no blog do portal, tivemos uma publicação de relevância histórica: a presença de Machado de Assis (1839 – 1908) na fotografia da Missa Campal pela comemoração da abolição da escravatura (de autoria de Antonio Luiz Ferreira), realizada em 17 de maio de 1888, no Campo de São Cristóvão, com a presença da princesa Isabel. A descoberta foi saudada em outra publicação do blog pelo historiador José Murilo de Carvalho.

Os curadores Sergio Burgi, do Instituto Moreira Salles, e Joaquim Marçal, da Fundação Biblioteca Nacional, contribuíram ao longo desses dois anos com artigos sobre acontecimentos históricos como a Guerra de Canudos e a história da fotografia médica no Brasil, e também trabalharam no sentido de viabilizar, juntamente com a equipe da BN Digital, a participação de instituições nacionais e internacionais no portal, quais sejam: o Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, a Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha e o Leibniz-Institut fuer Laenderkunde, de Leipzig, Alemanha.

As próximas instituições que vão aderir a essa plataforma colaborativa são o Arquivo Nacional (ainda esta semana), o Museu da República e a Casa de Oswaldo Cruz – Fiocruz. Mais à frente, esperamos trazer o Museu Histórico Nacional e a Fundação Casa de Rui Barbosa – entre outras instituições que já manifestaram interesse.

Acessando o link para uma seleção de fotografias publicadas ao longo desses dois anos na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

Vários fotógrafos, alguns já muito conhecidos pelo público e outros menos explorados, foram temas de nossas publicações, dentre eles Augusto Malta  (1864 – 1957)Georges Leuzinger (1813 – 1892)Jean Victor Frond (1821 – 1881)José Augusto Fidanza (c. 1847 – 1903)José Baptista Barreira Vianna (1860-1925)Marc Ferrez (1843 – 1923)Militão Augusto de Azevedo (1837 – 1905) e Valério Vieira (1862 – 1941). Seus perfis são sempre acompanhados por galerias de suas fotografias disponíveis no acervo da Brasiliana Fotográfica e por cronologias biográficas. Essas cronologias são elaboradas a partir de uma extensa pesquisa na bibliografia disponível e também na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional – com os links para as notícias da época em que os fatos ocorreram. A Brasiliana Fotográfica também abordou assuntos como os teatros, as praias, as igrejas, as salas de cinema e os carnavais de antigamente.

Um dos objetivos do portal é divulgar mais questões ligadas à preservação digital, um assunto que toca não apenas às instituições de memória, mas a todos aqueles que produzem imagens digitais em seu dia a dia sem, no entanto, cuidar de sua preservação. Uma iniciativa já tomada nesse sentido foi a publicação do artigo Desafios e alternativas para a preservação digital, de autoria do professor Rubens Ribeiro Gonçalves da Silva, doutor em Ciência da Informação, pesquisador e professor titular do Instituto de Ciência da Informação, da Universidade Federal da Bahia. Embora esta seção ainda não tenha sido devidamente implementada, esperamos que isto ocorra ainda este ano.

Os itens mais acessados pelos leitores nesses dois anos foram as fotografias Missa campal celebrada em ação de graças pela Abolição da escravatura no Brasil, de Antonio Luiz Ferreira; Índios Botocudos, de Walter Garbe; A Família Imperial reunida, de Alberto Henschel; Índios da Tribo Carajás, de autoria desconhecida; e Avenida Central, atual avenida Rio Branco, de Marc Ferrez.

A Brasiliana Fotográfica convida todos para acessar o portal, que ora conta com cerca de 3 mil e 700 fotografias, e publica semanalmente novos artigos em seu blog, além de ser periodicamente atualizado com novos registros. O endereço é https://brasilianafotografica.bn.gov.br