Novos acervos: Escola de Ciências Sociais FGV CPDOC

Com muito entusiasmo a Brasiliana Fotográfica em seu oitavo ano de existência – foi criada em 17 de abril de 2015 pela Fundação Biblioteca Nacional e pelo Instituto Moreira Salles – anuncia a entrada em seu acervo fotográfico de uma nova instituição parceira: a Escola de Ciências Sociais FGV CPDOC. É mais um passo importante para a preservação da memória da história do Brasil e da fotografia. Com imagens de diversos arquivos pessoais, dentre eles os de Getulio Vargas e de Oswaldo Aranha, o artigo de estreia da Escola de Ciências Sociais FGV CPDOC foi escrito por sua Equipe de Documentação e é sobre a Revolução de 1930, marco inicial da Segunda República no Brasil. A FGV CPDOC completa hoje 50 anos. Feliz aniversário e parabéns por todas as valiosas realizações! Seja muito bem-vinda à Brasiliana Fotográfica!

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Além das já mencionadas instituições fundadoras e da nova parceira, integram também o portal o Acervo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, o Arquivo Nacional, a Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha, a Fiocruz, a Fundação Joaquim Nabuco, o Leibniz-Institut fuer Laenderkunde, o Museu Aeroespacial, o Museu da República e o Museu Histórico Nacional.

 

CPDOC 50 ANOS integra-se à Brasiliana Fotográfica

Equipe de Documentação da Escola de Ciências Sociais FGV CPDOC

 

No ano em que comemora 50 anos de criação, o CPDOC se integra à Brasiliana Fotográfica, participando de uma rede de instituições parceiras, relevantes para a preservação da memória histórica brasileira. Ao longo dos anos, o Centro sempre priorizou o tratamento, a preservação e a consulta a seu acervo – textual, visual, sonoro e audiovisual. Participar da Brasiliana potencializa a visualização e o acesso público a seus registros visuais. Para essa primeira postagem, foram eleitas as fotografias que retratam a Revolução de 1930. A escolha desse conjunto de imagens foi definida por corresponder ao recorte histórico do CPDOC – história contemporânea do Brasil.  A Revolução de 1930, comandada por Getulio Vargas, instala a nova república no país. As fotografias que compõem esse dossiê integram os arquivos pessoais de Getulio Vargas (GV), Antunes Maciel (AM), Cordeiro de Farias (CFa), Cristiano Machado (CM), Epitácio Cavalcanti Albuquerque (ECA), Geraldo Rocha (GR), Haroldo Pereira (HP), João Antonio Mesplé (JAM), João Batista Pereira (JBP), Luiz Simões Lopes (LSL), Mena Barreto (MBM), Oswaldo Aranha (OA), e Pedro Ernesto Batista (PEB). 

 

 

Acessando o link para as fotografias acerca da Revolução de 1930 pertencentes à Escola de Ciências Sociais FGV CPDOC disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá visualizar e magnificar as imagens.

 

A Revolução de 1930

 

Movimento armado, iniciado em 3 de outubro de 1930, com o objetivo imediato de derrubar o governo Washington Luís e impedir a posse de Júlio Prestes, eleito presidente da República em 1º de março de 1930. O movimento tornou-se vitorioso em 24 de outubro e Getulio Vargas assumiu o cargo de presidente provisório no dia 3 de novembro. As mudanças políticas, sociais e econômicas que tiveram lugar na sociedade brasileira no pós-1930 fizeram com que esse movimento revolucionário fosse considerado o marco inicial da Segunda República no Brasil.

 

 

As origens do movimento revolucionário 

 

A oposição dos jovens oficiais do Exército — os “tenentes” — ao sistema político manifestou-se desde a década de 1920. Nas revoltas dos 18 do Forte (1922), de São Paulo e Rio Grande do Sul (1924), e na Coluna Prestes (1925-1927), os “tenentes” defendiam o equilíbrio entre os três poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário -, pleiteavam um nacionalismo econômico e a modernização da sociedade.

 

A Aliança Liberal

 

Rompendo com a política do Café com leite, segunda a qual Minas Gerais e São Paulo se revezavam no governo da República, a partir de 1928, o presidente Washington Luís passou a apoiar ostensivamente a candidatura de outro paulista – Júlio Prestes – à sua sucessão. Os presidentes dos estados de Minas Gerais e Rio Grande do Sul opunham-se à candidatura de Júlio Prestes e lançaram os nomes de Getulio Vargas, presidente do Rio Grande do Sul, e João Pessoa, presidente da Paraíba, respectivamente à presidência e à vice-presidência da República.

 

 

No início de agosto de 1929, formou-se a Aliança Liberal. Em 12 de setembro, uma convenção dos partidos dominantes de 17 estados, liderados por São Paulo, homologou as candidaturas de Júlio Prestes e Vital Soares à presidência e vice-presidência da República. Pouco depois, em 20 de setembro, a Aliança Liberal aprovou a chapa Vargas-João Pessoa.

 

 

 

Ainda em 1929, a corrente mais radical da Aliança Liberal passou a admitir a hipótese de um movimento armado em caso de derrota nas urnas. Buscou a colaboração dos “tenentes” pelo passado revolucionário, a experiência militar e o prestígio no interior do Exército. Entretanto, os “tenentes” não tinham uma posição homogênea. Juarez Távora, João Alberto Lins de Barros e Antônio de Siqueira Campos aderiram à ideia de colaborar com a Aliança Liberal, enquanto Luís Carlos Prestes mostrava reservas quanto ao movimento.

 

 

Com a campanha eleitoral em andamento, Getulio Vargas, pouco seguro da vitória, estabeleceu um acordo com o presidente Washington Luís estabelecendo, entre outros entendimentos, que, caso derrotado nas eleições, acataria o resultado e passaria a apoiar o governo constituído. Em contrapartida, Washington Luís e Júlio Prestes se comprometiam a não apoiar elementos divergentes da situação no Rio Grande do Sul. Vargas munia-se assim de um instrumento que lhe permitiria uma saída, qualquer que fosse o resultado eleitoral. Em 2 de janeiro de 1930, ao lado de João Pessoa, Vargas lançou sua plataforma de governo, para uma grande multidão concentrada na Esplanada do Castelo, no Rio de Janeiro.

 

 

 

 

O resultado das eleições em 1º de março de 1930 deu a vitória a Júlio Prestes e Vital Soares, eleitos com 57,7% dos votos, e foi contestado por suspeita de fraude.

 

O movimento eclode

 

Em 19 de março de 1930, o gaúcho Borges de Medeiros, em entrevista publicada no jornal A Noite, reconheceu enfaticamente a vitória de Júlio Prestes. A entrevista provocou forte reação e as articulações para um movimento revolucionário foram retomadas.

 

 

O movimento deveria contar com o apoio de três estados – Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraíba – e eclodir simultaneamente em todo o Brasil. Em fins de maio, o Congresso aprovou os resultados das eleições, declarando Júlio Prestes presidente eleito. Três momentos impulsionaram o ânimo revolucionário – ainda em maio, a morte em acidente aéreo do ‘tenente’ Siqueira Campos; em junho, o manifesto de Vargas pelos jornais condenando as fraudes eleitorais e as violências pelo governo federal e pelos governos estaduais contra os aliancistas, e o assassinato de João Pessoa em Recife por João Dantas, apoiador do governo federal. Os preparativos militares se aceleraram e a pressão sobre os chefes do movimento.

 

 

 

 

A posição de Vargas, de aparente alheamento ao movimento e muitas vezes contrária à sua deflagração, pode ser interpretada como uma tentativa de não despertar a desconfiança do governo federal. Foi isso exatamente o que ocorreu. O Rio Grande teve condições de preparar o movimento com a quase ignorância do governo federal. Em 25 de setembro, Vargas e Oswaldo Aranha decidiram desencadear a revolução no dia 3 de outubro. Segundo o plano adotado, o movimento deveria irromper simultaneamente no Rio Grande do Sul, Minas e estados do Nordeste. A ação deveria ter início, por escolha de Osvaldo Aranha, às 17h30, no fim do expediente nos quartéis, o que facilitaria a ação militar e a prisão dos oficiais em suas casas.

 

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Bilhete marcando dia e hora da eclosão do movimento revolucionário, assinado por Lindolfo Collor e Oswaldo Aranha. Porto Alegre (RS), 25 de setembro de 1930 / Acervo FGV CPDOC

 

Efetivamente, a revolução eclodiu nesse horário no Rio Grande do Sul com ataque a posições militares de Porto Alegre e avançando pelos demais estados do Sul.

 

 

Em Belo Horizonte, a revolução eclodiu, no mesmo dia e na mesma hora, e boa parte de sua população aderiu aos batalhões de voluntários que logo se formaram em diversas cidades mineiras. O Norte e o Nordeste do país tiveram a Paraíba como sede do movimento revolucionário, mas o movimento eclodiu na madrugada do dia 4 e se alastrou, pelos outros estados, madrugada adentro.

 

 

 

A 11 de outubro, acompanhados de todo o estado-maior civil e militar da revolução, Getulio Vargas e Góis Monteiro seguiram de trem com destino ao norte do Paraná, prevendo choques violentos com as tropas legalistas. O comboio revolucionário estacionou em Ponta Grossa. Vargas e sua comitiva permaneceram em um dos vagões da composição ferroviária.

 

 

Góis montou seu quartel-general numa das dependências do grupo escolar da cidade, planejou o ataque a ser desfechado sobre São Paulo e foi informado sobre as ações exigindo a renúncia do presidente Washington Luís. Ante a negativa deste, no dia 24 de outubro, os militares determinaram o cerco ao Palácio Guanabara e sua prisão.

 

 

Movimento vitorioso

 

Deposto Washington Luis, assume o governo uma Junta Governativa Provisória composta pelos generais Tasso Fragoso e João de Deus Mena Barreto, e pelo almirante Isaías de Noronha. Com a situação na capital sob controle, a Junta enviou telegramas a Vargas propondo a suspensão total das hostilidades em todo o país. Em 28 de outubro, em proclamação ao país, a Junta Governativa comunicou a decisão de transmitir o poder a Vargas.

 

 

Em 31 de outubro, precedido por três mil soldados gaúchos, Vargas desembarcou no Rio de Janeiro (Distrito Federal), sendo recebido por uma manifestação apoteótica de apoio.

 

 

Finalmente, em 3 de novembro de 1930, Vargas tomou posse como chefe do Governo Provisório e governou o país por 15 anos até ser deposto em 1945.

 

 

 

 

(1) Nota da Editora: Esta mesma foto foi publicada no Correio da Manhã, em 1º de novembro de 1930.

 

 

Acesse aqui o vídeo da Sessão Solene em homenagem aos 50 anos do CPDOC, realizada em 21 de junho de 202, no plenário da Câmara dos Deputados, em Brasília.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica

Novos acervos: Museu Aeroespacial

A Brasiliana Fotográfica abre o ano de 2020, quando completará cinco anos, trazendo para seus leitores seu décimo-primeiro parceiro, o Museu Aeroespacial (Musal), uma organização do Comando da Aeronáutica. Quem faz a apresentação da instituição é o historiador Jefferson Eduardo dos Santos Machado com o artigo “Correio Aéreo Militar e os registros de um “Brasil Distante”. Com mais essa importante adesão, a Brasiliana Fotográfica segue cumprindo um de seus objetivos, o de abordar todos os usos e funções da fotografia brasileira, expandindo seu acervo e possibilitando a seus leitores o acesso a um número cada vez maior de imagens. Seus outros parceiros são o Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, o Arquivo Nacional, a Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz, a Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha, a Fundação Joaquim Nabuco, o Leibniz-Institut fuer Laenderkunde, o Museu Histórico Nacional e o Museu da República, além do Instituto Moreira Salles e da Fundação Biblioteca Nacional, fundadores da Brasiliana Fotográfica.

 

 

Acessando o link para as fotografias do acervo do Museu Aerospacial disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Correio Aéreo Militar e os registros de um “Brasil Distante”

 Jefferson Eduardo dos Santos Machado*

 

No acervo do Arquivo Histórico do Museu Aeroespacial (Musal) encontramos vários álbuns que possuem imagens aéreas das décadas de 1920, 1930 e 1940. Estas fotografias estão ligadas, inicialmente, ao curso de Pilotos e Observadores, que eram ministrados na Escola de Aviação Militar e depois Escola de Aeronáutica. Em relação a seu uso na Aeronáutica, a fotografia aérea possibilitava obter subsídios seguros sobre campos e sobre rotas em geral, ajudando a determinar onde seriam instaladas novas bases de unidades aéreas e a observar eventuais atividades de forças oponentes. Sendo assim, tornavam-se importantes, pois propiciavam o conhecimento, tanto para defesa quanto para o ataque, das bases, de instalações orgânicas e energéticas vitais e de equipamentos aéreos importantes para o poderio inimigo.

Inicialmente, a Escola de Aviação Militar treinava seus profissionais em uma área pré-determinada pelos instrutores da Missão Francesa de Aviação, chamada cilindro. Esta extensão possuía cerca de 10 quilômetros de diâmetro em torno do Campo dos Afonsos. Apesar de já ter havido alguns reides aéreos, esta norma só foi extinta em 12 de junho de 1931. Este fato deu-se devido à inadequação de tal prática à realidade brasileira, por ser um país com uma grande extensão. Com o intuito de terminar com esta limitação, criou-se o Grupo Misto de Aviação que, de certa forma, foi a primeira unidade de combate aéreo do Brasil. Dentro da estrutura deste grupo foi inserida a Esquadrilha de Treinamento, para onde eram alocados os pilotos recém-saídos da Escola de Aviação Militar. Nesse grupamento estavam as aeronaves que possuíam maior autonomia de voo.

No mesmo dia 12 de junho de 1931, os tenentes Casimiro Montenegro Filho (1904 – 2000) e Nelson Freire Lavenère-Wanderley (1909 – 1985) realizaram o primeiro voo do Correio Aéreo Militar. Saíram do Rio de Janeiro com destino a São Paulo, em uma viagem que durou cinco horas e vinte cinco minutos, a bordo de uma aeronave Curtiss Fledgling, matrícula K 263. Esta empreitada fez toda a diferença para a Arma da Aviação, criada em 1927. Com o objetivo de criar novas rotas de correio, a fim de integrar o país e construir novas pistas de voo e unidades da Aviação Militar, os pilotos passaram a voar por todo o Brasil em missões que eram verdadeiras aventuras.

Após sua primeira viagem, o Correio Aéreo Militar, entre os anos de 1931 e 1939, criou rotas que passavam por várias cidades brasileiras tais como Abaeté, Alegrete, Baião, Barra, Belém, Belo Horizonte, Campanário, Carinhanha, Chique-Chique, Conceição do Araguaia, Corinto, Cruz Alta, Curitiba, Curvelo, Fortaleza, Foz do Iguaçu, Goiás, Guaíra, Guarapuava, Iguatu, Ilhéus, Januarinha, Londrina, Mossoró, Natal, Oiapoque, Petrolina, Pirapora, Porto Alegre, Recife, Remanso, Rio Branco, Santa Maria, Santiago do Boqueirão, Santo Ângelo, São Luiz, São Matheus, São Paulo, São Salvador, Teófilo Otoni, Terezina e Uruguaiana. Posteriormente, duas rotas chegaram a países vizinhos, uma que para Concepción, no Paraguai; e outra que chegava a Caiena, na Guiana Francesa. Estes nomes de cidades demonstram quão importante foi a iniciativa da criação do Correio Aéreo para um encurtamento das distâncias que dificultavam o desenvolvimento de várias regiões brasileiras. Com a criação do  Ministério da Aeronáutica, em 20 de janeiro de 1941, o Correio Aéreo Militar juntou-se ao Correio Aéreo Naval, criado pela Marinha, em 1934, formando um novo órgão que passou a ser chamado de Correio Aéreo Nacional.

Uma das grandes rotas foi a Rio de Janeiro – Fortaleza, que seguia pelo Vale do São Francisco. Ela teve início em 1934 e enveredou pelo interior do nordeste criando várias pistas de pouso e possibilitando uma maior comunicação com as cidades mais importantes do país. Esta rota era formada pelas cidades de Belo Horizonte, Curvelo, Corinto, Pirapora, Januarinha, Carinhanha, Rio Branco, Barra, Chique-Chique, Remanso, Petrolina, Juazeiro e Iguatu. Em nosso Arquivo temos imagens de várias destas rotas do CAM. Porém, uma das  mais bem documentadas é esta que ia da Cidade Maravilhosa até a Terra de Iracema.

Acessando o link para as fotografias da rota Rio de Janeiro – Fortaleza do Correio Aéreo Nacional disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

*Jefferson Eduardo dos Santos Machado é historiador do Musal

 

Fontes:

ARAGÃO, Isabel L.. O Correio Aéreo Militar (CAM): uma história de pioneirismo. Rev. UNIFA, Rio de Janeiro, v. 25, n. 31, p. , dez. 2012.

DIAS, Fabiana Costa; MACHADO, Jefferson Eduardo dos Santos. As Transformações Arquitetônicas no Campo dos Afonsos no Período De 1930-1940: A Fotogrametria Como Fonte Para A História Da Arquitetura… In: Anais do 5º Seminário Ibero-americano Arquitetura e Documentação. Anais…Belo Horizonte(MG) UFMG, 2018. Disponível em: <https//www.even3.com.br/anais/arqdoc/71129-AS-TRANSFORMACOES-ARQUITETONICAS-NO-CAMPO-DOS-AFONSOS-NO-PERIODO-DE-1930-1940–A-FOTOGRAMETRIA-COMO-FONTE-PARA-A-H>. Acesso em: 14/11/2019 16:18

INCAER. História Geral da Aeronáutica Brasileira. Rio de Janeiro/Belo Horizonte: INCAER/Itatiaia, 1988, vol.1 e 1990, vol.2

WANDERLEY, Nelson Freire Lavenére. História da Força Aérea Brasileira. MAER, 1975.

Novos acervos: Fundação Joaquim Nabuco

A Brasiliana Fotográfica traz para seus leitores seu décimo parceiro, a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj). Quem faz a apresentação é  Albertina Malta,  historiadora da instituição e responsável pela Coordenação de Documentação e Pesquisa, vinculada ao Centro de Documentação e de Estudos da História Brasileira Rodrigo Mello Franco de Andrade – Cehibra. Nesse primeiro momento, estão sendo disponibilizadas imagens de autoria do fotógrafo Manoel Tondella (1861 – 1921) com a publicação do artigo O fotógrafo pernambucano Manoel Tondella: breve perfil e cronologia, escrito por Andrea Wanderley, editora e pesquisadora do portal. Com mais essa importante adesão, a Brasiliana Fotográfica segue cumprindo um de seus objetivos, o de abordar todos os usos e funções da fotografia brasileira, expandindo seu acervo e possibilitando a seus leitores o acesso a um número cada vez maior de imagens.  Seus outros parceiros são o Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, o Arquivo Nacional, a Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz, a Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha, o Leibniz-Institut fuer Laenderkunde, o Museu Histórico Nacional e o Museu da República, além do Instituto Moreira Salles e da Fundação Biblioteca Nacional, criadores da Brasiliana Fotográfica.

 

 

Novos acervos: Fundação Joaquim Nabuco

Albertina Malta*

A Fundação Joaquim Nabuco passa a integrar, com alegria, o projeto Brasiliana Fotográfica desenvolvido pelo Instituto Moreira Sales e pela Fundação Biblioteca Nacional. Essa parceria possibilita a ampliação dos canais de divulgação de acervos fotográficos brasileiros que contém informações preciosas para a recuperação visual do passado, além de revelarem a produção de artistas muitas vezes desconhecidos.

A Fundação Joaquim Nabuco apresenta, inicialmente, um conjunto de imagens originais de reconhecido valor documental, em bom estado de conservação, de autoria do fotógrafo Manoel Tondella. Trata-se de vistas do Recife produzidas entre 1890 e 1905, em papel fotográfico num tom violeta. Oferecido à Fundação, o conjunto foi adquirido em 1985. Segundo o historiador Fernando Ponce de Leon, então coordenador da Fototeca e responsável pelo processo de aquisição das imagens de Tondella, as vistas “são valiosas por representar intensamente e com boa qualidade os bairros centrais do Recife (o do Recife, o de Santo Antônio, o de São José, o da Boa Vista), além dos arrabaldes e subúrbios quase rurais da cidade… as imagens registram o Recife intacto, antes das demolições e obras de reurbanizações”.

Foi também neste momento da aquisição que dois renomados especialistas – Gilberto Ferrez e Boriz Kossoy – consultados por Ponce de Leon, avaliaram a pertinência da Fundação em adquirir a coleção de Manoel Tondella, especialmente por se tratar de conjunto documental original. E, por serem vistas antigas da cidade, tornavam-se ainda mais raras, paisagens com riscos de se perderem para sempre.

 

 

Acessando o link para as fotografias de autoria de Manoel Tondella disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

*Albertina Malta é historiadora e responsável pela Coordenação de Documentação e Pesquisa, vinculada ao Centro de Documentação e de Estudos da História Brasileira Rodrigo Mello Franco de Andrade – Cehibra.

 

O fotógrafo pernambucano Manoel Tondella: breve perfil e cronologia

Andrea C. T. Wanderley**

 

 

Breve perfil

 

Manoel Tondella é um dos mais importantes fotógrafos de Pernambuco da segunda metade dos século XIX, período a partir do qual Recife tornou-se referência histórica para a fotografia no Brasil. Nascido em 3 de outubro de 1861, de ascendência portuguesa, Tondella dedicou-se à fotografia da paisagem urbana, documentando em imagens as transformações da cidade, entre os anos 1890 e as duas primeiras décadas do século XX. Foi contemporâneo dos fotógrafos Alfredo Ducasble (18? – 19?)Francisco du Bocage (1860 – 1919), Hermina de Carvalho Menna da Costa (18? – 19?) , considerada a primeira mulher fotógrafa do Recife, Louis Piereck (18? – 1931) e Ludgero Jardim da Costa (18? – 19?) , dentre outros.

Tondella registrou, predominantemente no Recife e em Olinda, as ruas, a estação de trem, os prédios, o Mercado Público de São José, os casebres, as pontes, as igrejas, os ancoradouros, o teatro de Santa Isabel, as praças, a Assembleia Legislativa, o Ginásio Pernambucano, as praias, cemitérios, locomotivas, engenhos, quiosques, feiras, estradas, os bairros centrais e também os subúrbios, com suas casas de taipa, além de vendedores, de pessoas se banhando no rio Beberibe e até um grupo de ciclistas à beira de um açude. São imagens muito ricas em detalhes que se destacam pela beleza, pela qualidade técnica e nos ajudam a entender a vida em Pernambuco no início do século XX. Alguns registros foram inspirados nas antigas litografias que desenhavam o perfil do litoral do Recife, da tradição holandesa ou portuguesa. Muitas imagens foram editadas em cartões-postais.

 

 

Não se sabe, até o momento, quando exatamente Tondella começou a trabalhar como fotógrafo, mas tudo indica não ter sido antes da década de 1890. Em 1895, presenteou o Jornal do Recife com duas fotografias de sua autoria e, nessa época, seu estabelecimento fotográfico ficava na rua da Concórdia, nº 13. Em 1897, já era associado a João José de Oliveira (18? – 19?) no ateliê fotográfico Photographia Popular Oliveira & Tondella, e, em 1889, o estabelecimento ficava, na rua da Imperatriz, 79. Ficaram juntos até 1904 quando a sociedade foi desfeita e Tondella abriu um ateliê na então rua Velha, posteriormente, rua Antônio Carneiro. Oliveira continuou no mesmo endereço. Tondella seguiu trabalhando como fotógrafo até, pelo menos, 1919, tendo falecido em 1921.

 

 

Filho de Manoel Pereira de Figueiredo Tondella, provavelmente português, e de Marcionilla Francisca Soares, o fotógrafo Tondella teve três irmãos: Francisco (18? – 1913), Antônio (18? – 1898) e Maria  (c. 1860 – 1905). Francisco foi proprietário da tipografia Acadêmica e do periódico mensal O Filatelista. Na ocasião do falecimento de uma tia dos Tondella, em 1902, a família foi adjetivada como ilustre e Francisco e Manoel Tondella referidos como seus dignos sobrinhos. Manoel Tondella casou-se com Anna Amelia Celestina Ramos (18? – 19?), em 1892, e não tiveram filhos.

 

 

 Cronologia

 

1854 – O pai do do fotógrafo Tondella, Manoel Pereira de Figueiredo Tondella, provavelmente português, e José Barros Veiga dissolveram amigavelmente a sociedade comercial que possuíam denominada Veiga & Tondella (Diário de Pernambuco, 26 de setembro de 1854, última coluna).

1855 – O Gabinete Português de Leitura decidiu promover uma subscrição em favor da construção de um hospital para atender os portugueses indigentes que não pudessem receber tratamento adequado contra a epidemia que se alastrava por algumas províncias do Brasil e que eles acreditavam que chegaria no Recife. No Bairro do Recife, Manoel Pereira de Figueiredo Tondella era o encarregado pelas subscrições (Diário de Pernambuco, 25 de agosto de 1855, primeira coluna). Fez parte da comissão responsável pela instalação do Hospital Português em Pernambuco para o qual contribuiu com 50 mil reis (Diário de Pernambuco,  7 de setembro de 1855, segunda coluna; e Diário de Pernambuco, 15 de novembro de 1855, penúltima coluna).

1861 / 1862 – O fotógrafo Manoel Tondella, nasceu em 3 de outubro de 1861, filho de Manoel Pereira de Figueiredo Tondella e Marcionilla Francisca Soares, e foi batizado em 1º de janeiro do ano seguinte, na freguesia de Boa Vista, no Recife. A família morava no bairro Capunga, no Recife (Diário de Pernambuco, 3 de outubro de 1862, segunda colunaDiário de Pernambuco, 17 de abril de 1862, segunda coluna; e Diário de Pernambuco, 22 de julho de 1899, segunda coluna).

1863 – José Carneiro de Faria Lins informava ter feitos as pazes com Manoel Pereira de Figueiredo Tondella, a quem teria ofendido em momentos de delírio (Diário de Pernambuco, 22 de abril de 1863, última coluna).

1881 – O irmão de Manoel, Francisco Tondella (18? – 1913), era proprietário da tipografia Acadêmica (Diário de Pernambuco, 12 de abril de 1881, penúltima coluna).

1884 – Casamento de seu irmão Francisco com Francisca Olympia Rodrigues (? – 1891) (Jornal do Recife, 22 de setembro de 1884, última coluna).

1885 - Francisco era sócio da Biblioteca do Club Dramático Familiar (Jornal do Recife, 19 de março de 1885, quinta coluna).

Anúncio do casamento do irmão de Manoel, Antônio Pereira de Figueiredo Tondella com Francelina Maria de França Caldas (Diário de Pernambuco, 5 de novembro de 1895, última coluna).

1886 - Falecimento de uma das avós de Manoel Tondella, Maria Monteiro da Silva, cuja missa de sétimo dia foi celebrada na matriz de Santo Antônio do dia 8 de novembro de 1886 (Jornal do Recife, 5 de novembro de 1886, última coluna). Manoel era irmão de Francisco (18? – 1913), Antônio (18? – 1898) e Maria Tondella (c. 1860 – 1905), que também convidavam para a missa, além da mulher de Francisco, Francisca Olympia Rodrigues (? – 1891) e da tia dos Tondellas, Antônia Monteiro da Silva (1826 – 1902), filha da falecida.

1890 - Era um dos subscritores para os festejos do aniversário de Deodoro da Fonseca contribuindo com 5 mil réis (Jornal do Recife, 7 de agosto de 1890, quarta coluna).

Publicação do primeiro número do periódico mensal O Filatelista, de propriedade de Francisco Tondella, seu irmão, direcionado para os colecionadores de selos  (Jornal do Recife, 17 de outubro de 1890, penúltima coluna)

1891 Falecimento de sua cunhada, Francisca Olympia Rodrigues Tondella, casada com seu irmão Francisco (Jornal do Recife, 10 de abril de 1891, última coluna).

1892 Anúncio de seu casamento com Anna Amelia Celestina Ramos (18? – 19?) (Jornal do Recife, 9 de fevereiro de 1892, última coluna).

Anna Amelia Tondella foi eleita juíza da Sociedade Beneficente Nossa Senhora do Carmo no período de 1892 a 1893 (Jornal do Recife, 20 de julho de 1892, primeira coluna).

1894 – Anunciou com sua mulher e outros parentes a missa pelo 1º ano de falecimento de Lesbina Celestina Ramos (? – 1893), mulher de seu compadre Caetano Ferreira Ramos (? – 1919) e irmã de sua esposa, Anna Amelia (Diário de Pernambuco, 6 de julho de 1894, segunda coluna).

1895 – Presenteou o Jornal do Recife com duas fotografias de sua autoria: uma da estação da Estrada de Ferro Central de Pernambuco e outra da rua Larga do Rosário por ocasião da procissão das Chagas. “Um correto trabalho que muito recomenda o seu autor” (Jornal do Recife, 28 de maio de 1895, quinta coluna). Nessa época, provavelmente seu estabelecimento fotográfico ficava na rua da Concórdia, nº 13.

Seu irmão Antônio casou-se com Francelina Maria de França Caldas (Diário de Pernambuco, 5 de novembro de 1895, última coluna).

1897 - Manoel Tondella enviou ao Diário de Pernambuco 2 exemplares de lindíssimas fotografias em ponto pequeno. É no gênero um trabalho de grande perfeição e cuja apreciação recomendamos ao público (Diário de Pernambuco, 13 de janeiro de 1897, quarta coluna).

Presenteou o Jornal do Recife com três fotografias de quadros de pintores célebres (Jornal do Recife, 14 de janeiro de 1897, sexta coluna).

Estava à venda na Livraria Francesa fotografias de autoria de Tondella do préstito que havia acompanhado o general Artur Oscar no dia 15 de novembro (Jornal do Recife, 23 de novembro de 1897, sexta coluna).

Já existia a sociedade Oliveira & Tondella, entre Manoel e João José de Oliveira (18? – 19?). Tornaram-se devedores de impostos do período entre 1897 e 1898 (Diário de Pernambuco, 3 de junho de 1899, terceira coluna).

1898 - Ele e o sócio importaram uma caixa com objetos de fotografia (Diário de Pernambuco, 20 de fevereiro de 1898, segunda coluna).

Chegou uma caixa de mercadorias para Oliveira & Tondella , do vapor inglês Ile, que vinha de potos da Europa (Diário de Pernambuco, 18 de março de 1898, terceira coluna).

Falecimento do irmão de Manoel Tondella, Antônio (? – 1898). Ele, seu irmão Francisco (? – 1913) e filhos, sua irmã Maria (1860 – 1905), sua tia Antônia Maria Monteiro da Silva  (1826 – 1902) e sua esposa Anna Amelia convidaram para a missa de Sétimo Dia, na matriz de Santo Antônio. Pelo anúncio, Maria não era casada e Manoel e Anna Amélia não tinham filhos. Na missa de trigésimo dia, quem convida é a mulher de Antônio, Francelina França Caldas (Diário de Pernambuco, 27 de agosto de 1898, terceira colunaDiário de Pernambuco, 21 de setembro de 1898, penúltima coluna; e Jornal do Recife, 23 de fevereiro de 1899, quarta coluna).

Anna Amelia era uma das paraninfas da bênção solene da imagem do Santíssimo Coração de Jesus, na Matriz de São José. A solenidade contou com a presença do governador de Pernambuco (Jornal do Recife, 4 de novembro de 1898, segunda coluna).

Oliveira & Tondella importaram álbuns e papel albuminado (Diário de Pernambuco, 30 de novembro de 1898, segunda coluna).

1899 – O estabelecimento dos fotógrafos ficava na rua da Imperatriz, nº 79 (Almanach de Pernambuco, 1900).

Oliveira & Tondella importaram artigos para fotografia (Diário de Pernambuco, 8 de março de 1899, segunda coluna).

Como era assinante da America Illustrada, Revista Nacional de Letras e Artes, a firma Oliveira & Tondella ganhou de brinde um Livro de Ouro do Brasil  na Exposição de 1900 em Paris (Jornal do Recife, 23 de julho de 1899, penúltima coluna).

1900 – Ao longo do ano, Oliveira & Tondella importaram diversas vezes materiais fotográficos, envelopes e cartões.

Tondella foi o fotógrafo responsável pela realização de uma imagem que a Celestial Confraria da Santíssima Trindade ofereceria à Sociedade Musical Charanga do Recife (A Província (PE), 17 de julho de 1900, penúltima coluna).

Encontrava-se exposto no ateliê  Photographia Popular Oliveira & Tondella, na rua da Imperatriz, nº 79, um quadro dos bacharéis da Faculdade de Direito do Recife de 1900 (Jornal do Recife, 22 de novembro de 1900, última coluna)

A firma Oliveira & Tondella realizou um retrato em busto do professor Gaspar Regueira Costa na ocasião de seu aniversário, com o qual o magistério municipal o presentearia (Jornal Pequeno, 20 de dezembro de 1900).

1901 – Ao longo do ano, Oliveira & Tondella importaram diversas vezes materiais fotográficos, cartões, papel para desenho.

 

 

Encontrava-se exposto no ateliê  Photographia Popular Oliveira & Tondella, na rua da Imperatriz, nº 79, um quadro dos bacharéis da Faculdade de Direito do Recife de 1901 (Jornal do Recife, 26 de novembro de 1901, última coluna).

 

 

1902 – Ao longo do ano, Oliveira & Tondella importaram diversas vezes materiais fotográficos.

Na Travessa da Concórdia, nº 13, falecimento da tia de Tondella, Antônia Maria Monteiro da Silva (1826 – 1902). A família foi adjetivada como ilustre e Francisco e Manoel Tondella foram referidos como seus dignos sobrinhos (Jornal do Recife, 18 de junho de 1902, segunda coluna; A Província, 24 de junho, quinta coluna; e Diário de Pernambuco, 18 de junho de 1902, quarta coluna).

Oliveira & Tondella realizaram um retrato em tamanho natural do tenente-coronel Miranda Curio, delegado de saúde do Exército junto ao comando do 2º Distrito Militar, que lhe seria dado como presente de aniversário pelos farmacêuticos do corpo de saúde de Pernambuco (A Província (PE), 22 de agosto de 1902, quarta coluna).

Jornalistas do Diário de Pernambuco fizeram uma visita ao ateliê fotográfico de Oliveira & Tondella e elogiaram os retratos e as vistas expostas e também a amabilidade dos dignos artistas. “Mostraram-nos os mesmos srs. os estereoscópios que acabam de receber, novidade que expõem à venda…” (Diário de Pernambuco, 22 de outubro de 1902, quinta coluna).

 

 

A firma Oliveira & Tondella ofereceu uma fotografia de presente ao Jornal do Recife: uma imagem do general Marinho da Silva passando em revista as tropas federais na Campina do Bode (Jornal do Recife, 28 de novembro de 1902, quarta coluna).

Oliveira & Tondella enviaram ao Jornal do Recife um cartão de boas festas com uma imagem de um trecho do rio Capibaribe próximo aos arrecifes. Além disso, enviaram a fotografia de uma paisagem (Jornal do Recife, 23 de dezembro de 1902, sétima coluna). Enviaram para o periódico A Província uma fotografia do farol de Olinda e uma de uma lancha (A Província (PE), 23 de dezembro de 1902, quarta coluna). E enviaram para o Jornal Pequeno uma fotografia dos bairros do Recife e de Santo Antônio como votos de boas festas (Jornal Pequeno, 23 de dezembro de 1902, primeira coluna).

1903 – Ao longo do ano, Oliveira & Tondella importaram diversas vezes materiais fotográficos.

Um retrato a óleo feito no ateliê de Oliveira & Tondella foi oferecido ao alferes Virgílio Antônio Borba (Diário de Pernambuco, 8 de janeiro de 1903, sexta coluna).

Foi noticiado o novo endereço do ateliê fotográfico de Oliveira & Tondella, devido à mudança do nome da rua da Imperatriz para rua Rosa e Silva. O número, 79, continuou o mesmo. Eles haviam produzido um retrato do conselheiro Rosa e Silva durante um banqueteExpuseram as vistas do salão do banquete, que deveriam ser apreciadas com um estereoscópio (Diário de Pernambuco, 12 de fevereiro de 1903, sexta coluna; e 13 de fevereiro de 1903, última coluna). Expuseram as vistas do salão do banquete, que deveriam ser apreciadas com um estereoscópio (Diário de Pernambuco, 20 de fevereiro de 1903, última coluna).

Os hábeis artistas Oliveira & Tondella produziram uma fotografia da Igreja de Santa Cruz na ocasião da festa do Bom Jesus da Via Sacra, realizada em 3 de maio, e a enviaram de presente para o Jornal do Recife, para o Jornal Pequeno e para o periódico A Província (Jornal Pequeno, 16 de maio de 1903, segunda colunaJornal do Recife, 17 de maio de 1903, terceira coluna; e A Província (PE), 17 de maio de 1903, última coluna).

Casamento de Amália de Oliveira, filha de José Joaquim Oliveira, com Tacito Altino Correia de Araújo (Diário de Pernambuco, 5 de setembro de 1903, sexta coluna).

Leonilla Lusetta de Oliveira, esposa de Joaquim José de Oliveira, sócio de Tondella, faleceu (Jornal Pequeno, 31 de outubro de 1903, terceira coluna).

Oliveira & Tondella presentearam o Jornal Pequeno com fotografias em miniatura da primeira página edição de 28 de junho de 1902 do periódico (Jornal Pequeno, 4 de dezembro de 1903, terceira coluna).

Oliveira & Tondella presentearam o Diário de Pernambuco com fotografias do edifício do referido jornal na rua Duque de Caxias esquina com a Praça da Independência (Diário de Pernambuco, 25 de dezembro de 1903, quarta coluna)

1904 – Oliveira & Tondella enviaram votos de um feliz ano novo para o Jornal do Recife (Jornal do Recife, 1º de janeiro de 1904, quinta coluna).

Chegada, da Inglaterra, de papel fotográfico, de câmaras escuras, de cartões cortados e obras impressas para Oliveira & Tondella (Província (PE), 16 de janeiro de 1904, segunda coluna21 de maio de 1904, terceira coluna, 15 de junho, segunda coluna29 de julho de 1904, terceira coluna; e 31 de agosto de 1904, terceira coluna).

Oliveira & Tondella foram citados pela Diretoria de Contabilidades e Rendas Municipais do Recife. O endereço era av. Rosa e Silva, 79 (Diário de Pernambuco, 4 de fevereiro de 1904, sexta coluna).

A firma Oliveira & Tondella produziu uma fotografia da Companhia dos Bombeiros (Diário de Pernambuco, 6 de março de 1904, sexta coluna).

Tondella abriu, sem sócios, um estabelecimento fotográfico na rua da Velha, 137, no primeiro andar, onde também residia. Anos depois essa rua passou a chamar-se Antônio Carneiro. Na época, oferecia cartões postais da procissão Encontro, que havia saído da Igreja de Santa Cruz, no Recife (Jornal do Recife, 22 de abril de 1904, penúltima coluna; A Província, 13 de setembro de 1904, penúltima coluna). A recente abertura do ateliê do hábil e conhecido fotógrafo foi anunciada. Provisoriamente a entrada seria feita a partir da rua da Alegria (Jornal do Recife, 13 de setembro de 1904, última coluna; e A Província,(PE), 13 de setembro de 1904, penúltima coluna).

 

 

Tondella produziu de uma janela da Igreja de Santa Cruz uma fotografia da Charanga do Recife (A Província, 20 de setembro de 1904, última coluna).

1905 – Com cerca de 45 anos, falecimento de Maria Tondella, irmã de Manoel (A Província, 26 de abril de 1905, primeira colunaJornal do Recife, 6 de maio de 1905, sexta coluna).

Publicação de uma propaganda da Photographia Tondella anunciando o desligamento de Tondella da firma Oliveira & Tondella, realizado no ano anterior (A Província, 16 de julho de 1905, primeira coluna). No mesmo ano, publicação de uma propaganda da Photographia Popular apenas com o nome de Joaquim José de Oliveira no mesmo endereço, na rua da Imperatriz, 79 (Almanach de Pernambuco, 1905).

 

 

Ofertou ao Jornal do Recife a fotografia da canhoneira Pátria e seu trabalho foi considerado perfeitíssimo. Uma fotografia ampliada da mesma canhoneira estava exposta na Livraria Francesa, na rua Primeiro de Março, nº 9 (Jornal do Recife, 21 de setembro de 1905, oitava coluna).

O Jornal Pequeno homenageou Anna Amélia no dia de seu aniversário, 5 de dezembro (Jornal Pequeno, 5 de dezembro de 1905, primeira coluna).

1910 - O nome da rua de seu estabelecimento mudou de rua da Velha para rua Antônio Carneiro (Diário de Pernambuco, 11 de agosto de 1910, quarta coluna).

1913 - Falecimento de sue irmão Francisco, que havia sido livreiro no Recife, proprietário da antiga casa Bolitreau, a Livraria Tondella, Cockles & Co, desde 1897, na rua do Imperador, 46 (Diário de Pernambuco, 13 de fevereiro de 1898, penúltima coluna; e Diário de Pernambuco, 19 de março de 1898, terceira coluna) e que ultimamente trabalhava como contador na Papelaria Brasil. Era pai de Marcionila e de Francisco Tondella Junior (Diário de Pernambuco, 21 de setembro de 1897, penúltima coluna; e Jornal Pequeno, 19 de novembro de 1913, última coluna)

1917 -Morte de sua sobrinha, Marcionila Tondella, filha de seu irmão e comerciante Francisco (já falecido), que também era pai do poeta Tondella Junior (Diário de Pernambuco, 20 de maio de 1917, segunda coluna).

1919 - Falecimento do compadre e cunhado de Tondella, Caetano Ferreira Ramos (? – 1919) (Jornal do Recife, 20 de abril de 1919, última coluna).

Morte de seu sobrinho, o poeta Francisco Tondella Junior, aos 28 anos, filho de seu irmão já falecido, Francisco (Diário de Pernambuco, 15 de junho de 1919, segunda coluna).

Foi publicado um anúncio do estabelecimento fotográfico de Tondella, na rua Antônio Carneiro, 403 (antiga Velha) no qual eram oferecidos retratos Mignon, Visita, Elisabeth, Gabinete, Boudoir, Salão, cartões postais, e fotos de edifícios, de grupos ao ar livre em papel platina ou brilhante, retratos em tamanho natural em preto ou em cor pelo novo sistema americano. Oferecia também uma grande coleção de vistas de Pernambuco. Além disso, consertava máquinas e obturadores e fazia revelação, impressão e retoque em chapas de amador. O mesmo anúncio foi publicado diversas vezes ao longo de 1919 e 1920.

 

 

Foi anunciado que o artista e fotógrafo Manoel Tondella estava diariamente, na rua Velha, 103, à disposição dos assinantes e dos anunciantes de La Revue de revues de l´Amerique du Sud, de Daniel Valenford & C sobre Recife (A Província (PE), 8 de fevereiro de 1920, segunda coluna; e Jornal do Recife, 17 de outubro de 1919, penúltima coluna).

1921 - Foi realizada uma missa fúnebre pela alma de Manoel Tondella, na Igreja de Santa Cruz (A Província (PE), 22 de fevereiro de 1921, primeira coluna).

1922 -Pela última vez foi anunciado o estabelecimento fotográfico de Tondella, na rua Antônio Carneiro, nº 137 (Almanak Laemmert, 1922).

 

 

 

**Andrea C. T. Wanderley é editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

FERREZ, Gilberto. Velhas fotografias pernambucanas: 1851-1890. Rio de Janeiro: Campo Visual, 1988.

GASPAR, Lúcia. As ruas do Recife. Site da Fundaj, 2009

GASPAR, Lúcia; BARBOSA, Virginia. O Recife: uma bibliografia. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2008. 360 p.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002.

MALTA, Albertina – Memória em sais de prata: fotografias do Recife em instituições memoriais. Dissertação para Universidade Federal de Pernambuco, fevereiro de 2013.

MEDEIROS, R. M. H. (Orgs.). Arquivos e coleções fotográficas da Fundação Joaquim Nabuco. Recife: Massangana, 1995.

MENDES, Luciana Cavalcanti. O campo fotográfico em Pernambuco: um resumo do final do XIX até 1930. XXIX Simpósio Nacional de História – Anpuh, 2017.

SILVA, Fabiana Bruce. Entre fotógrafos, modernidade e fotografia no Recife do século XX, uma pesquisa. Apresentado durante XI Encontro Regional Sudeste de História Oral, realizado na Universidade Federal Fluminense, em Niteroi, em julho de 2015

Site da Fundação Joaquim Nabuco

Novos acervos: Museu Histórico Nacional

A Brasiliana Fotográfica apresenta a seus leitores seu nono parceiro, o Museu Histórico Nacional (MHN), com o artigo “Os salesianos, os Bororos e a banda de crianças indígenas que mudou a história”, da historiadora da instituição, Maria Isabel Ribeiro Lenzi, e com a disponibilização das imagens do álbum “Missão em Mato Grosso”que pertence à Coleção Miguel Calmon, ministro da Viação e Obras Públicas no governo do presidente Afonso Pena. Com a adesão desse importante museu, o portal segue cumprindo um de seus objetivos, o de abordar todos os usos e funções da fotografia brasileira. Seus outros parceiros são o Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, o Arquivo Nacional, a Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz, a Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha, o Leibniz-Institut fuer Laenderkunde e o Museu da República, além do Instituto Moreira Salles e da Fundação Biblioteca Nacional, criadores da Brasiliana Fotográfica.

Os salesianos, os Bororos e a banda de crianças indígenas que mudou a história

Maria Isabel Ribeiro Lenzi*

 

O álbum “Missão em Mato Grosso”, de 1908, retrata os trabalhos dos salesianos e das irmãs de Nossa Senhora Auxiliadora com os índios Bororos. São 69 fotografias do início do século XX que documentam o trabalho de educação desenvolvido pelos missionários pelo qual ensinavam música, português, matemática, prática agrícola e ciências, além de promoverem a evangelização. Infelizmente, a autoria das fotografias é desconhecida.

Em missão de paz, os irmãos salesianos chegaram à terra dos Bororos, em Mato Grosso, em 1895. Anteriormente, já havia sido tentado contato com os índios, mas o conflito pela terra provocou muitas mortes, resultando na fuga dos índios, que não aceitavam se submeter, nem abandonar seus costumes. O bispo dom Luiz Lasagna foi o responsável pela implantação dos projetos salesianos em Mato Grosso, porém, com o seu falecimento, coube ao padre Antônio Malan dar continuidade às propostas de dom Luiz Lasagna. Padre Malan foi, então, o primeiro Inspetor da Missão Salesiana em Mato Grosso, tendo fundado colégios em Cuiabá e Corumbá, além das missões do Sagrado Coração do Rio Barreiro, da Imaculada no Rio das Garças e de São José no Sangradouro.

O método salesiano se distinguia das outras abordagens de contato por evitar uma postura de repressão, preferindo se basear na razão, na religião e na bondade. Foram criadas a Colônia Sagrado Coração, num local conhecido como Tachos, e a Colônia Imaculada Conceição, próxima ao Rio das Garças. O padre Antônio Malan, percebendo os aspectos de confluência da religiosidade bororo com o cristianismo, não menosprezou o papel que a cultura daqueles índios poderia exercer no processo de evangelização. A aptidão que demonstravam para a música foi canalizada para a formação de uma banda com os meninos bororos, que acabou tendo importância estratégica para a sobrevivência das sociedades indígenas no Brasil(1).

Acessando o link para as fotografias do álbum “Missão em Mato Grosso” do acervo do Museu Histórico Nacional disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

Naquele momento, em 1908, cedendo à pressão social, o presidente Afonso Pena estava prestes a assinar um decreto que avalizava o extermínio dos povos indígenas (2). O padre Antônio Malan encontrou uma maneira inédita de mudar a opinião brasileira a respeito dos índios, valendo-se da vocação musical dos Bororos. Ele levou vinte e um Bororos integrantes da banda de música para tocar no Rio de Janeiro, no Pavilhão de São Paulo no âmbito da Exposição Nacional de 1908, que comemorava o centenário da Abertura dos Portos. A banda tocou ainda no Teatro João Caetano (3), na Câmara dos Deputados, no Senado e, diante do presidente Afonso Pena, no Palácio do Catete, então sede da Presidência da República. Na ocasião, eles interpretaram com primor temas clássicos, inclusive o Hino Nacional. Os jornais de então exaltaram o talento artístico dos Bororos e também abriram suas páginas para o discurso do padre Malan, pedindo a restituição aos índios “de uma pátria que lhes foi roubada em nome de uma falsa civilização conquistadora, liberticida. Pátria, senhores, de que são eles os verdadeiros donos, e que saberão amar, defender e ilustrar, se isso os ensinarmos com nosso esforço e nosso exemplo” (4).

 

 

O presente álbum pertence à Coleção Miguel Calmon, que foi ministro da Viação e Obras Públicas no governo Afonso Pena. De acordo com o jornal O Paiz, o padre Malan projetou fotografias (provavelmente deste álbum) em palestra que proferiu no Museu Comercial (5).

Ainda segundo O Paiz, no dia 10 de outubro de 1908, o padre Malan foi despedir-se do Ministro da Viação (6). Acreditamos que o álbum tenha sido oferecido a Miguel Calmon nesta ocasião, para demonstrar às autoridades os trabalhos que estavam sendo desenvolvidos entre os Bororos, e, sobretudo, comprovar a humanidade dos mesmos. Segundo Nelson Gil Tolentino, “a ação corajosa do padre Malan no Rio de Janeiro foi determinante para a sobrevivência dos índios. Depois disso, o debate sobre o extermínio dos índios, em nível nacional e internacional, foi perdendo a força, e seu respectivo decreto nunca foi promulgado”(7).

 

(1 )TOLENTINO, Nelson Gil.

(2)Idem

(3) O Teatro João Caetano ao qual esse texto se refere é o teatro que existiu na Exposição Nacionalde 1908. O atual Teatro João Caetano, que se localiza na Praça Tiradentes no Rio de Janeiro, só foi assim denominado em 1923. Anteriormente, se chamava Teatro São Pedro de Alcântara**.

(4) NOVAES, Sylvia Caiuby. Jogos de Espelhos. São Paulo: Edusp, 1993. p.171

(5 ) Museu Comercial era uma entidade ligada à propaganda dos produtos, incentivando o comércio entrepaíses. No Brasil, foi criado em 1905 e encampado pelo Departamento Nacional de Comércio em 1931.

(6) O PAIZ. Rio de Janeiro, p. 02, 10/10/1908. Disponível em http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=178691_03&pasta=ano%20190&pesq=padre%20m
alan. Acesso em 28/09/2017

(7 ) TOLENTINO, Nelson Gil.

 

*Maria Isabel Ribeiro Lenzi é Doutora em História pela UFF e historiadora do Arquivo Histórico do Museu Histórico Nacional (IBRAM/MinC)

**Esta nota foi acrescentada em 10 de abril de 2023.

 

BIBLIOGRAFIA:

CAVALHEIRO, Elisangela. Exposição conta a história dos Salesianos de Dom Bosco em estados do Centro-Oeste. In Redação A12.

NOVAES, Sylvia Caiuby. Jogos de Espelhos. São Paulo: Edusp, 1993, p. 171

TOLENTINO, Nelson Gil. Ética Bororo: a sobrevivência de um povo. In: Interações, vol. 10, no 2. Campo Grande, jul/dez. 2009.

 

Notícias sobre a participação da banda dos bororos na Exposição Nacional de 1908

 em comemoração ao centenário da Abertura dos Portos às Nações Amigas 

Andrea C. T. Wanderley**

 

Em 11 de agosto de 1908, foi inaugurada a Exposição Nacional de 1908, na região da Urca, no Rio de Janeiro, em comemoração ao centenário da Abertura dos Portos às Nações Amigas, decretada em 28 de janeiro de 1808, pelo então príncipe regente de Portugal, dom João de Bragança, futuro dom João VI (1767 – 1926)(O Paiz, 11 de agosto de 1908). A exposição exibiu um “inventário” do Brasil através de seus produtos industriais, agrícolas, pastoris e artísticos. Promovida pelo governo federal, apresentou a cidade do Rio de Janeiro, recém urbanizada e saneada pelo então prefeito Francisco Pereira Passos (1936 – 1913) e  pelo cientista Oswaldo Cruz (1872 – 1917), respectivamente. O evento foi encerrado em 15 de novembro de 1908 (O Paiz, 16 de novembro de 1908, sexta coluna).

Iminente embarque do padre Toledo, inspetor das missões salesianas em Mato Grosso, com a banda dos bororos para o Rio de Janeiro, onde a banda tocaria no Pavilhão de São Paulo da Exposição Nacional do Rio de Janeiro. O religioso pretendia apresentar o grupo ao presidente Afonso Pena (1847 – 1909). A banda havia estado em Corumbá, Assunção, Buenos Aires, cidades do sul do Brasil, Santos, São Paulo e Lorena, dentre outras (O Paiz, 24 de setembro de 1908, quarta coluna).

Chegada da banda dos bororos ao Rio de Janeiro (O Paiz, 27 de setembro de 1908, quinta coluna).

Apresentação da banda dos bororos no Palácio do Catete, onde foram recebidos pelo presidente da República, Afonso Pena (Gazeta de Notícias, 23, quarta coluna28 de setembro de 1908, quarta coluna e Matto-Grosso – Revista Mensal de Sciencias, Lettras, Artes e Variedades, outubro de 1908).

Com o padre Toledo, os índios bororos assistiram à inauguração do Pavilhão de São Paulo na Exposição Nacional (Diário de Notícias, 29 de setembro de 1908, segunda coluna). Também fizeram uma visita ao ministro da Viação, Miguel Calmon (O Paiz, 29 de setembro de 1908, última coluna).

A banda dos bororos se apresentou no Colégio São Vicente, em Petrópolis (O Paiz, 1º de outubro de 1908, última coluna).

Publicação do programa que a banda apresentaria na Exposição de 1908 (O Paiz, 3 de outubro de 1908, segunda coluna).

Publicação do programa da apresentação dos bororos no Teatro João Caetano (Jornal do Brasil, 4 de outubro de 1908, terceira coluna).

Anúncio da conferência sobre os bororos que o padre Malan faria no dia seguinte no salão da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro. Antes e depois da conferência, haveria apresentação da banda. A conferência seria ilustrada com projeções luminosas (O Paiz, 5 de outubro de 1908, segunda coluna).

Apresentação da banda dos bororos na Exposição de 1908 com a presença do ministro da Indústria, Miguel Calmon (O Paiz, 5 de outubro de 1908, quinta coluna).

 

Realização de uma festa em benefício dos bororos, no Teatro João Caetano. Foram identificados como recém nascidos na vida civilizada (O Paiz, 8 de outubro de 1908, penúltima coluna).

Notícia da realização da conferência sobre os bororos realizada pelo padre Malan no salão da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro (O Paiz, 8 de outubro de 1908, quinta coluna e Jornal do Brasil, 11 de outubro de 1908, segunda coluna).

Os bororos visitaram a Câmara dos Deputados e o Senado e a frente dos edifícios das duas instituições executou o Hino Nacional (O Paiz, 9 de outubro de 1908, segunda coluna).

Acompanhado por um bororo, o padre Malan foi despedir-se do ministro da Viação, Miguel Calmon. Acredita-se que nessa ocasião o padre teria presenteado o ministro com o álbum “Missão em Mato Grosso” (O Paiz, 10 de outubro de 1908, segunda coluna).

Publicação de uma fotografia da banda dos bororos no Colégio dos Salesianos de Niterói (Fon-Fon, 10 de outubro de 1908).

bandaniteroi

 

Publicação de diversas notícias relativas à temporada dos bororos no Rio de Janeiro (Matto-Grosso – Revista Mensal de Sciencias, Lettras, Artes e Variedades, dezembro de 1908).

 

**Andrea C.T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica

 

Fonte:

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

Novos acervos: Museu da República

A Reforma Urbana do Rio de Janeiro na Coleção Família Passos

Magaly Cabral*

No município do Rio de Janeiro, o primeiro grande projeto de intervenção na configuração espacial e funcional da cidade, após a instauração da República, em 1889, se deu na gestão de Francisco Pereira Passos (1836-1913) como prefeito do Distrito Federal (1902-1906). Passos era um engenheiro experiente e foi nomeado para este cargo pelo presidente Rodrigues Alves (1848 – 1919), que governou o Brasil de 1902 a 1906. Sua missão como prefeito era bem definida: transformar o Rio em uma cidade moderna, cosmopolita e civilizada, digna de ser a capital da jovem república brasileira e atrair para cá visitantes, mão-de-obra imigrante e negócios.

A reforma urbana executada por Passos aconteceu em associação com as obras de modernização do porto do Rio de Janeiro e da construção da Avenida Central (atual Rio Branco), promovidas pelo governo federal, visando à melhoria na capacidade de escoamento e circulação de produtos, principalmente os importados. Como a capital federal era a principal consumidora desse tipo de produto e como a União tinha competência exclusiva sobre os impostos de importação, as reformas na cidade eram fundamentais para o equilíbrio orçamentário da federação.

Acessando o link para as fotografias do acervo do Museu da República disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

Além das alterações no traçado viário, das melhorias de infraestrutura e das novidades urbanísticas e arquitetônicas na cidade, a “Reforma Passos” também alterou costumes do carioca e suas relações com o espaço. Novas posturas municipais buscaram implementar hábitos de higiene e comportamento na população. O centro da cidade, onde até então moravam muitas pessoas de baixa renda, teve seus cortiços e estreitas vielas coloniais arrasados para se transformar num espaço de cultura, comércio, negócios e governo. A falta de moradia, por sua vez, levou ao processo de favelização dos morros. O grave problema das epidemias foi neutralizado através da vacinação obrigatória, resultando na “Revolta da Vacina” de 1904. O caráter modernizador, mas também excludente, da Reforma Passos (lembrada como “bota-abaixo”) gerou questões que até hoje se impõem quando pensamos nos processos de transformação urbana acontecidos ao longo do século XX e das primeiras décadas do XXI.

 

 

Aqui, iremos apresentar um recorte temático de 118 fotografias pertencentes à Coleção Família Pereira Passos, uma das mais importantes sob guarda do Arquivo Histórico e Institucional do Museu da República. Ela é formada por cerca de 5.592 documentos textuais e 1.147 fotografias, produzidos entre 1806 e 1960, pelo titular e seus familiares. A coleção faz parte do acervo do Museu da República desde 1965, quando a primeira e maior leva de documentos foi doada pela família de Pereira Passos. Em 1966, foi acrescida através de novas doações de sua neta, Maria Passos, e pela transferência de fotos até então pertencentes ao Museu Histórico Nacional, já em 1980. Essa nova contribuição do Arquivo Histórico e Institucional do Museu da República ao projeto Brasiliana Fotográfica soma-se à Coleção Canudos, registrada pela Unesco, em 2009, na categoria Memória do Mundo e já disponível ao público.

O autor da maioria das fotos aqui apresentadas é o alagoano Augusto Malta (1864 – 1957), contratado por Pereira Passos para documentar a reforma urbana. Essas fotos mostram as obras de mudança no centro da cidade e também em bairros próximos, como Tijuca, Estácio, Cidade Nova, Glória, Catete, Laranjeiras e Botafogo. As fotografias de Luis Musso, sobre a maquete do Teatro Municipal, e finalização de sua construção, também merecem destaque. Musso prestava serviços de documentação para a firma Antônio Januzzi Irmãos e cia, pertencente ao engenheiro italiano de mesmo nome, responsável pela construção da maioria dos prédios da Avenida Central, símbolo das reformas urbanas dos governos Pereira Passos e Rodrigues Alves.

 

Nesse conjunto de fotos, a maioria dos documentos destaca a região central da cidade, a principal área afetada pelas reformas de Pereira Passos. As imagens mostram uma época de tapumes, andaimes e restos de demolições pelas ruas, resgatam a memória de cenários que tiveram que desaparecer para dar lugar a novas ruas e prédios, como é o caso da Igreja de São Joaquim e do chafariz do Largo da Carioca. São lembrados também os elementos da paisagem urbana surgidos naquele momento, mas que já não existem, parcial ou inteiramente, como é o caso dos prédios neoclássicos da Avenida Central e da Avenida Beira-Mar, antes do Aterro do Flamengo.

Embora ruas e prédios pareçam ser as estrelas das fotos, podemos ver nelas a presença do carioca de então. Os operários, os elegantes passeadores das ruas, os homens que se reúnem num quiosque pra conversar e beber e as pessoas que tentam se proteger do calor com sombrinhas em meio a uma inauguração de início de obras. Por falar em pessoas, o próprio Pereira Passos aparece em várias fotos, cortando fitas, sendo homenageado ou em visita à Câmara Municipal, a mesma que permaneceu fechada nos seis primeiros meses de seu mandato, para que ele pudesse, sem obstáculos legislativos, tomar as medidas para a execução de seu ambicioso projeto.

*Magaly Cabral é diretora do Museu da República

Novos acervos: Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz

Fotografia, Ciência e Saúde Pública 

 

 

As imagens aqui apresentadas integram o acervo histórico da Fundação Oswaldo Cruz, instituição de referência internacional na área das ciências biomédicas e cuja trajetória encontra-se intrinsecamente relacionada à formulação, planejamento e execução de políticas públicas de saúde no Brasil. Este acervo encontra-se sob a guarda da Casa de Oswaldo Cruz, unidade da Fiocruz e centro de pesquisa e documentação dedicado à memória, à história das ciências biomédicas e da saúde pública e à educação e divulgação em ciência e saúde.

As origens da Fundação Oswaldo Cruz remetem ao Instituto Soroterápico Federal, criado em 1900, no bairro de Manguinhos, no Rio de Janeiro, com o objetivo de produzir soros e vacinas contra a peste bubônica e que, em curto espaço de tempo, já como Instituto Oswaldo Cruz (IOC) em homenagem ao seu primeiro diretor Oswaldo Cruz (1872 – 1917) -, transformou-se no maior centro de medicina experimental da América Latina. O IOC – considerado o primeiro instituto de pesquisa da história do Brasil a trazer contribuições científicas durante um período constante, e o primeiro a dar ao país uma reputação científica internacional -, proporcionou os fundamentos para o desenvolvimento contínuo das ciências biomédicas no Brasil na primeira metade do século XX.

 

Acessando o link para as fotografias do acervo da Fiocruz disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Desde os primeiros anos de atividade, o IOC já contava com laboratório fotográfico próprio, e integrava em seus quadros funcionais o fotógrafo Joaquim Pinto da Silva, contratado ainda na primeira década do século XX. Desde a origem do Instituto, a produção de registros fotográficos, entre outros suportes de informação tais como plantas arquitetônicas, correspondências, impressos etc, se firmou como uma das mais prolíficas, sendo instituída, formalmente, como um dos setores de produção institucional. A existência de um laboratório próprio no Instituto Oswaldo Cruz denota o interesse e a importância da produção de registros fotográficos para os trabalhos que ali seriam desenvolvidos.

As fotografias foram originadas durante o processo de constituição, institucionalização, crescimento e legitimação do IOC desde sua origem até meados do século passado. Esse período é caracterizado pela expansão e fortalecimento do Instituto Soroterápico Federal a partir de alguns sucessos obtidos. O primeiro deles diz respeito às bem sucedidas campanhas de Oswaldo Cruz contra a febre amarela, a peste bubônica e a varíola na capital da República. Na época, Oswaldo Cruz encontrava-se à frente da Diretoria de Saúde Pública, cargo que acumulou juntamente com a direção do Instituto até 1909. Outra vitória acumulada refere-se ao reconhecimento científico internacional das atividades desenvolvidas no IOC, através da premiação com a medalha de ouro na Exposição de Higiene de Berlim, em 1907, e do anúncio da descoberta de uma nova doença – a doença de Chagas – na Exposição Internacional de Higiene de Dresden, em 1911.

Após a morte de Oswaldo Cruz, seu trabalho à frente do IOC teve continuidade com o médico sanitarista Carlos Chagas (1879 – 1934) que, coincidentemente, também acumulou por um período (1920-1926) a direção do Instituto e da recém-criada Diretoria Nacional de Saúde Pública, restabelecendo mais uma vez uma ligação direta entre aquela instituição e o Estado brasileiro naquilo que se refere à saúde pública. Na gestão de Chagas (1917 – 1934), o IOC já era uma instituição consolidada, com autonomia financeira e administrativa suficientes para garantir uma expansão considerável das atividades de pesquisa, ensino e produção ali desenvolvidas.

 

 

A conformação institucional do IOC nos primeiros anos do século XX teve como consequência uma expansão de seu quadro de funcionários e a contratação de um fotógrafo reforça esse fato. A importância dada aos registros visuais pode ser também aferida pelo espaço que a atividade vai ganhando institucionalmente, seja na ocupação de ambientes considerados “nobres” no principal espaço edificado para abrigar o IOC – o castelo mourisco -, onde ocupou gabinetes específicos destinados à fotografia e à cinematografia, seja pela importância da atividade na hierarquia interna, consubstanciada pela obrigatoriedade de apresentação de um relatório anual de atividades à direção do IOC contendo informações veiculadas na forma de textos e imagens.

Hoje, o acervo fotográfico remanescente desse período inicial de consolidação do Instituto – embora tenha sofrido perdas importantes causadas por crises pelas quais passou o IOC –, é marcante e minucioso na sua potência de registro de uma memória do período. Assim, a série fotográfica ora apresentada diz respeito a três dimensões dos impactos da atuação do IOC no contexto sócio, político e científico do período que compreende as primeiras décadas do século XX: a construção de suas instalações na então pouco conhecida região de Manguinhos e suas articulações com o entorno; a era das expedições científicas ao interior do país visando mapear as condições de vida e saúde da população rural e que originou um importante debate político sobre os males da nova república e seus obstáculos ao “progresso”; e flagrantes do cotidiano da instituição, representados por registros de visitantes ilustres, dos professores e alunos dos cursos que o IOC promovia, de algumas atividades de laboratório e, sobretudo, a vida intramuros da instituição.

 

 

Fontes:

BENCHIMOL, Jaime Larry. Manguinhos, do sonho à vida: a ciência na Belle Epoque. Rio de Janeiro: Fiocruz/COC, 1990.

Fundação Oswaldo Cruz. Casa de Oswaldo Cruz. A ciência a caminho da roça. Imagens das expedições científicas do Instituto Oswaldo Cruz ao interior do Brasil entre 1911 e 1913. Rio de Janeiro: Fiocruz/Casa de Oswaldo Cruz, 1991.

LACERDA, Aline Lopes de; Mello, Maria Teresa Villela Bandeira de. Imágenes de la salud pública: la institucionalización del Instituto Oswaldo Cruz em Brasil. Dymanis. Acta Hispanica ad Medicinae Scientiarumque Historiam Illustrandam. Vol. 25, 2005, p. 179-198.

THIELEN, Eduardo Vilela. Imagens da saúde pública do Brasil: a fotografia na institucionalização da saúde pública. Dissertação de mestrado, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 1992, p.158.

Fotografia, Ciência e Saúde Pública 

 

 

As imagens aqui apresentadas integram o acervo histórico da Fundação Oswaldo Cruz, instituição de referência internacional na área das ciências biomédicas e cuja trajetória encontra-se intrinsecamente relacionada à formulação, planejamento e execução de políticas públicas de saúde no Brasil. Este acervo encontra-se sob a guarda da Casa de Oswaldo Cruz, unidade da Fiocruz e centro de pesquisa e documentação dedicado à memória, à história das ciências biomédicas e da saúde pública e à educação e divulgação em ciência e saúde.

As origens da Fundação Oswaldo Cruz remetem ao Instituto Soroterápico Federal, criado em 1900, no bairro de Manguinhos, no Rio de Janeiro, com o objetivo de produzir soros e vacinas contra a peste bubônica e que, em curto espaço de tempo, já como Instituto Oswaldo Cruz (IOC) em homenagem ao seu primeiro diretor Oswaldo Cruz (1872 – 1917) -, transformou-se no maior centro de medicina experimental da América Latina. O IOC – considerado o primeiro instituto de pesquisa da história do Brasil a trazer contribuições científicas durante um período constante, e o primeiro a dar ao país uma reputação científica internacional -, proporcionou os fundamentos para o desenvolvimento contínuo das ciências biomédicas no Brasil na primeira metade do século XX.

Acessando o link para as fotografias do acervo da Fiocruz disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

Desde os primeiros anos de atividade, o IOC já contava com laboratório fotográfico próprio, e integrava em seus quadros funcionais o fotógrafo Joaquim Pinto da Silva, contratado ainda na primeira década do século XX. Desde a origem do Instituto, a produção de registros fotográficos, entre outros suportes de informação tais como plantas arquitetônicas, correspondências, impressos etc, se firmou como uma das mais prolíficas, sendo instituída, formalmente, como um dos setores de produção institucional. A existência de um laboratório próprio no Instituto Oswaldo Cruz denota o interesse e a importância da produção de registros fotográficos para os trabalhos que ali seriam desenvolvidos.

As fotografias foram originadas durante o processo de constituição, institucionalização, crescimento e legitimação do IOC desde sua origem até meados do século passado. Esse período é caracterizado pela expansão e fortalecimento do Instituto Soroterápico Federal a partir de alguns sucessos obtidos. O primeiro deles diz respeito às bem sucedidas campanhas de Oswaldo Cruz contra a febre amarela, a peste bubônica e a varíola na capital da República. Na época, Oswaldo Cruz encontrava-se à frente da Diretoria de Saúde Pública, cargo que acumulou juntamente com a direção do Instituto até 1909. Outra vitória acumulada refere-se ao reconhecimento científico internacional das atividades desenvolvidas no IOC, através da premiação com a medalha de ouro na Exposição de Higiene de Berlim, em 1907, e do anúncio da descoberta de uma nova doença – a doença de Chagas – na Exposição Internacional de Higiene de Dresden, em 1911.

Após a morte de Oswaldo Cruz, seu trabalho à frente do IOC teve continuidade com o médico sanitarista Carlos Chagas (1879 – 1934) que, coincidentemente, também acumulou por um período (1920-1926) a direção do Instituto e da recém-criada Diretoria Nacional de Saúde Pública, restabelecendo mais uma vez uma ligação direta entre aquela instituição e o Estado brasileiro naquilo que se refere à saúde pública. Na gestão de Chagas (1917 – 1934), o IOC já era uma instituição consolidada, com autonomia financeira e administrativa suficientes para garantir uma expansão considerável das atividades de pesquisa, ensino e produção ali desenvolvidas.

 

 

A conformação institucional do IOC nos primeiros anos do século XX teve como consequência uma expansão de seu quadro de funcionários e a contratação de um fotógrafo reforça esse fato. A importância dada aos registros visuais pode ser também aferida pelo espaço que a atividade vai ganhando institucionalmente, seja na ocupação de ambientes considerados “nobres” no principal espaço edificado para abrigar o IOC – o castelo mourisco -, onde ocupou gabinetes específicos destinados à fotografia e à cinematografia, seja pela importância da atividade na hierarquia interna, consubstanciada pela obrigatoriedade de apresentação de um relatório anual de atividades à direção do IOC contendo informações veiculadas na forma de textos e imagens.

Hoje, o acervo fotográfico remanescente desse período inicial de consolidação do Instituto – embora tenha sofrido perdas importantes causadas por crises pelas quais passou o IOC –, é marcante e minucioso na sua potência de registro de uma memória do período. Assim, a série fotográfica ora apresentada diz respeito a três dimensões dos impactos da atuação do IOC no contexto sócio, político e científico do período que compreende as primeiras décadas do século XX: a construção de suas instalações na então pouco conhecida região de Manguinhos e suas articulações com o entorno; a era das expedições científicas ao interior do país visando mapear as condições de vida e saúde da população rural e que originou um importante debate político sobre os males da nova república e seus obstáculos ao “progresso”; e flagrantes do cotidiano da instituição, representados por registros de visitantes ilustres, dos professores e alunos dos cursos que o IOC promovia, de algumas atividades de laboratório e, sobretudo, a vida intramuros da instituição.

 

 

Fontes:

BENCHIMOL, Jaime Larry. Manguinhos, do sonho à vida: a ciência na Belle Epoque. Rio de Janeiro: Fiocruz/COC, 1990.

Fundação Oswaldo Cruz. Casa de Oswaldo Cruz. A ciência a caminho da roça. Imagens das expedições científicas do Instituto Oswaldo Cruz ao interior do Brasil entre 1911 e 1913. Rio de Janeiro: Fiocruz/Casa de Oswaldo Cruz, 1991.

LACERDA, Aline Lopes de; Mello, Maria Teresa Villela Bandeira de. Imágenes de la salud pública: la institucionalización del Instituto Oswaldo Cruz em Brasil. Dymanis. Acta Hispanica ad Medicinae Scientiarumque Historiam Illustrandam. Vol. 25, 2005, p. 179-198.

THIELEN, Eduardo Vilela. Imagens da saúde pública do Brasil: a fotografia na institucionalização da saúde pública. Dissertação de mestrado, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 1992, p.158.

Novos acervos: Arquivo Nacional

 

O Arquivo Nacional e a Brasiliana Fotográfica: primeiro encontro

 Claudia Beatriz Heynemann e Maria do Carmo Rainho*

Participar da Brasiliana Fotográfica representa para o Arquivo Nacional sua integração em rede a grandes acervos públicos ou privados, com os quais necessariamente sempre dialogou no campo da história da fotografia e das instituições de guarda.

 

 

Em diferentes mídias, a imagem fotográfica conservada pela instituição atingiu um público vasto e variado por meio da pesquisa realizada por seus usuários e pelos projetos de difusão como livros, mostras, exposições virtuais, sites e peças gráficas. Transformadas pelo uso e pelas intervenções realizadas existe, por outro lado, algo que é próprio a cada fotografia ou às séries, sempre sujeitas a renovadas interpretações.

Com alguns poucos daguerreótipos provenientes dos fundos Família Werneck e Família Bicalho, a fotografia oitocentista no Arquivo Nacional adquire vulto com os retratos de estúdio que inundaram o mundo todo, produzidos no Brasil por nomes como Joaquim Insley Pacheco, Joaquim Feliciano Alves Carneiro, Alberto Henschel, Guilherme Gaensly e Rodolfo Lindemann reunidos em diversos arquivos privados e na coleção Fotografias Avulsas. Esta inclui formatos como panorama, carte de visite, carte cabinet e estereogramas, numa cronologia que se estende de 1860 a 1964. Encontramos também, nesse conjunto, vistas e cenas urbanas do Brasil, como as paisagens do Rio de Janeiro por Juan Gutierrez, Marc Ferrez, Bippus e Lopes; ruas e prédios históricos da cidade de Ouro Preto, em fotos de J. Brandi; Salvador por Antônio da Silva Lopes Cardoso; e Santa Catarina por Augusto Schmidt. Somam-se ainda álbuns referentes às missões religiosas e à participação brasileira na Exposição Internacional de Filadélfia, em 1876; na Exposição Continental de 1882, em Buenos Aires; e na Exposição Universal de Paris, de 1889, aqui apresentadas.

Acessando o link para as fotografias do acervo do Arquivo Nacional disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

Se os próprios álbuns eram dispositivos óticos que integravam o fenômeno das exposições universais, nas últimas décadas do século XIX, evidencia-se a estreita conexão entre os estereogramas e esses eventos, quando a estereoscopia se torna um dos principais meios de propagação da fotografia: em 1851, a técnica cai no gosto popular ao ser apresentada na Exposição Universal de Londres. O estereograma proporcionava ao espectador uma experiência em três dimensões, aproximando-o do real. Vidro e ferro, vitrines, produtos, países, culturas, uma sincronia que alinhava fenômenos análogos em seu esforço de síntese, como os catálogos, enciclopédias, e mesmo as viagens.

As mais antigas estereoscopias a circular no país são da década de 1850, de autoria de Revert Henrique Klumb. Depois de um período de declínio em quase todos os países, entre 1870 e 1880, ela voltou a despertar grande interesse, conhecendo seu apogeu na virada do século XIX para o XX. No Brasil este fomento teve como responsável, entre outros, o conde de Agrolongo que montou, no Rio de Janeiro, a Grande Manufatura de Fumos e Cigarros Marca Veado que distribuía figurinhas com fotografias estereoscópicas de tamanho reduzido (2,5 x 7 cm) em seus maços.

A série de estereogramas selecionadas inclui vistas do Rio de Janeiro retomando perspectivas consagradas em gravuras e aquarelas, mas que comportavam novas tomadas que começavam a desenhar outra cidade. Lembrando o caráter de grande circulação deste gênero de imagem, temos as séries produzidas para difundir a reforma do centro do Rio de Janeiro, particularmente a abertura da Avenida Central e, finalmente, retornando a uma dada origem, os estereogramas da Exposição Nacional de 1908 que destacavam o progresso dos transportes, da iluminação, dos grandes pavilhões e do elegante público afluente.

 

 

Entre os arquivos privados de homens públicos, apresentamos parte do fundo Afonso Pena que contém 445 imagens, dentre elas vistas de localidades brasileiras, em álbuns ou molduras, como Santa Bárbara, em Minas Gerais; Maceió, em Alagoas e Floresta dos Leões, em Pernambuco, estradas de ferro, obras federais, áreas assistidas pela Comissão de Açudes e Irrigação e registros de Afonso Pena com autoridades e em visita a estados brasileiros, como o Amazonas.

Um outro país, que se desenhava nos anos 1920 e 1930 com as lutas femininas pelos direitos civis, se dá a ver no acervo da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, fundada em 1922, por Berta Lutz, no Rio de Janeiro. Seus documentos fotográficos registram as ações para a conquista do voto e da emancipação das mulheres; eventos, congressos, assembleias e conferências feministas nacionais e internacionais; a atuação de Berta Lutz na defesa dos direitos da mulher; seu trabalho como pesquisadora do Museu Nacional; as sufragistas brasileiras e estrangeiras, além de homens públicos envolvidos com a causa do movimento.

Com a inserção das fotografias do Arquivo Nacional, esperamos contribuir para uma nova configuração do universo de pesquisa que a Brasiliana Fotográfica proporciona, permitindo o estabelecimento de conexões entre diferentes acervos e a análise das ocorrências de temas, fotógrafos e técnicas, entre tantos aspectos que permitem uma escrita da história da fotografia.

*Claudia Beatriz Heynemann – Doutora em História | Supervisora de Pesquisa do Arquivo Nacional

* Maria do Carmo Rainho – Doutora em História | Pesquisadora do Arquivo Nacional

Novos acervos: Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha

A Marinha do Brasil e os primórdios da fotografia aérea

A Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha (DPHDM) tem o propósito de preservar e divulgar o patrimônio histórico e cultural da Marinha, contribuindo para a conservação de sua memória e para o desenvolvimento da consciência marítima brasileira. Além disso, cabe ainda à DPHDM a administração do Arquivo da Marinha, localizado na Praça Barão de Ladário s/n°, Ilha das Cobras, dentro do complexo do Comando do 1º Distrito Naval.

O Arquivo da Marinha é integrante do Sistema Nacional de Arquivos (SINAR) e reconhecido como Instituição Arquivística Pública, com o acervo tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (INEPAC). No acervo fotográfico, há imagens do século XIX até os dias atuais. A partir deste mês, passa a integrar o portal Brasiliana Fotográfica, compartilhando valiosas imagens.

Centro da Cidade: Praça Mauá e arredores

A imagem capturada na primeira metade da década de 1920 mostra a atual avenida Rio Branco em toda a sua extensão, da Praça Mauá (em primeiro plano) até a então Praia de Santa Luzia. Ao longo da avenida aparece a arborização, entre as pistas, que resistiu desde a sua inauguração até 1948. Na parte central da imagem, à direita da Avenida Rio Branco, está o Morro da Conceição com seu casario que persiste, até hoje. No lado oposto, junto ao mar, o Armazém do Sal, edificação construída pelos monges beneditinos em meados do século XVIII e hoje preservada como a sede do Comando do Primeiro Distrito Naval.

No canto superior esquerdo está a Igreja da Candelária, ainda cercada de sobrados, antes da abertura da Avenida Presidente Vargas, na primeira metade da década de 1940. Neste mesmo canto, na margem da imagem, vê-se o que parece uma mancha, mas é parte da aeronave da Aviação Naval da Marinha do Brasil onde o fotógrafo Jorge Kfuri registrou diversos locais da então Capital Federal.

Kfuri, como um dos primeiros especialistas na fotografia aérea, até então a serviço do jornal A Noite, foi contratado pela Marinha do Brasil para adestrar as tripulações das aeronaves da Aviação Naval no seu ofício – quando recebeu a patente honorária de Segundo-Tenente.

Acessando o link para as fotografias do acervo da Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

 

 

Novos acervos: Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro

No mês de seu aniversário de um ano, a Brasiliana Fotográfica está apresentando ao longo de abril os acervos das novas instituições que se integraram ao portal. Dessa vez, apresentamos o Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro com um artigo de sua diretora, Beatriz Kushnir.

 

Esforços de resgate: a recuperação da informação de parte das fotografias furtadas do arquivo Malta

Beatriz Kushnir*

O Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro (AGCRJ) aceitou com entusiamo o convite para integrar a iniciativa pioneira desenvolvida pela Fundação Biblioteca Nacional (FBN) e pelo Instituto Moreira Salles (IMS), que resultou no portal Brasiliana Fotográfica. Para tal, selecionamos, neste primeiro momento, 112 imagens, que foram gentilmente digitalizadas pelo IMS. Setenta já estão disponíveis na Brasiliana Fotográfica e as demais poderão ser acessadas até o fim de abril.

Esse conjunto espelha alguns critérios de escolha. Um deles é o estético: os eventos e locais registrados, como o Largo da Carioca, as ressacas na Praia de Copacabana, a Ilha de Paquetá e as obras em Bonsucesso. Outro é a autoria: as imagens são dos Malta – Augusto e seus filhos Aristógiton e Uriel. Este segundo critério de escolha refere-se ao olhar que as capturam, apontando para o seu contratante: o Poder Público.

Acessando o link para as fotografias do acervo do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

Enquanto fotógrafo oficial da então Prefeitura do Distrito Federal, Augusto Malta (1864 – 1957) exerceu a função entre 1903 e 25 de agosto de 1936, sendo nomeado para um cargo até então não existente, pelo prefeito Francisco Pereira Passos (30/12/1902 – 14/11/1906). Suas atividades ficaram subordinadas à Diretoria Geral de Obras e Viação da Prefeitura.  Aristógiton Malta veio auxiliar o pai a partir de 1925 e substituiu-o quando ele se aposentou, convocando o irmão Uriel Malta, a partir de 1937, para ajudá-lo.

Durante a gestão do interventor Adolpho Bergamini (24/09/ 1930 a 21/09/1931), mais precisamente a partir de 13 de abril de 1931, conforme o Decreto nº 3.489, a Diretoria Geral de Obras e Viação transformou-se na Diretoria Geral de Engenharia, de modo que Augusto Malta foi igualmente  incumbido de organizar todo o arquivo fotográfico, incluindo os serviços por ele executados. Isto acarretou a transferência do acervo para o então Arquivo Geral do Distrito Federal(1).

A escolha destas 112 fotografias levou em consideração ainda outro componente, certamente o principal aqui: elas foram pinçadas de um universo de 1.500 negativos identificados a partir de 2013 e cujas imagens podem corresponder a uma parcela dos originais furtados em junho de 2006. Isto só foi possível a partir de diversas iniciativas de mapeamento, controle, tratamento técnico e arquivístico do extenso acervo custodiado, do qual destacamos os negativos do Fundo Secretaria Geral de Educação e Cultura, ora em tratamento.

Infelizmente, o AGCRJ foi vítima daquele furto, em junho de 2006. Assim como ocorreu em diversas outras instituições do país,  segundo a Polícia Federal, é possível que a subtração de imagens já ocorresse há muito mais tempo. A ausência de instrumentos de controle do acervo em depósito, como constatei ao assumir a Direção-Geral desta instituição, em abril de 2005, e as iniciativas para empreendê-los – como o Portal Augusto Malta, no ar desde 2008 -, podem apontar para o que tenha ocorrido. Se não existia controle e o estávamos construindo, uma última investida ousada foi realizada para retirar itens “desejados” no âmbito privado. Tema sempre doloroso para as instituições, os furtos devem ser publicizados e enfrentados para serem solucionados (2).

Em sua maioria, as fotografias aqui selecionadas são oriundas de negativos, alguns de segunda geração, e que nos permitiram reaver parte das informações furtadas, tendo por marco final o ano de 2006. O empenho para localizar vestígios do que se perdeu, permitiu esses primeiros achados. E a partir deles, se desencadeou a prospecção em outros conjuntos documentais em depósito no AGCRJ. Neste sentido, a mensagem que a Instituição quer afirmar é a demonstração do compromisso do Arquivo da Cidade em reconquistar os registros ora considerados perdidos, em virtude da ação privatizadora e destruidora de acervos públicos e, por consequência, da memória da eterna cidade-capital  do Brasil.

Assim, este conjunto incial de imagens do AGCRJ que você poderá consultar no portal Brasiliana Fotográfica é a demonstração de uma equipe engajada em dar um sinal positivo a esta instituição, após uma fatalidade. Imagens que se acreditavam perdidas, porque furtadas, podem ser novamente admiradas e consultadas por retornarem ao lugar de patrimônio de todos nós!

Notas:

(1) Refiro-me a seguinte obra: ARQUIVO GERAL DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. Administração Pública Municipal: a estrutura e os titulares: da Comissão de Intendência à Prefeitura do Rio (1889-2012). Idealização de Beatriz Kushnir e Coordenação de Sandra Horta. Rio de Janeiro: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro/ Secretaria Municipal da Casa Civil/ Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, 2014, p. 45. Publicação eletrônica em e-book: <http://www.rio.rj.gov.br/ebooks/revista/>.

(2) KUSHNIR, Beatriz. “Da manchete à notinha de canto: os furtos do patrimônio público, a privatização dos acervos do cidadão”. Museologia e Patrimônio, vol.II, nº1, jan.-jun./2009, pp. 9-21. Disponível em http://revistamuseologiaepatrimonio.mast.br/index.php/ppgpmus/article/viewFile/42/22>.

 * Beatriz Kushnir é a Diretora-Geral do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro.
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Augusto Malta. Praia do Russell, 1904. Rio de Janeiro / Acervo do AGCRJ

Novos acervos: Leibniz-Institut fuer Laenderkunde, Leipzig

A Brasiliana Fotográfica completa um ano e, ao longo do mês de abril, vai divulgar os novos acervos que passam a integrar o portal. O primeiro deles reúne um conjunto de 460 imagens do Brasil produzidas até 1900, que pertence ao acervo do Leibniz-Institut für Länderkunde.  Mediante convênio, o conjunto foi incorporado ao acervo do Instituto Moreira Salles por meio da digitalização das fotos em alta resolução. Já estão disponíveis na Brasiliana Fotográfica 216 fotografias do conjunto, as restantes estarão no portal até o final do ano. O Leibniz-Institut für Länderkunde, sediado na cidade de Leipzig, reúne o mais importante acervo de fotografia brasileira do século XIX  na Alemanha, em especial pelas imagens reunidas na coleção Stübel.

 

 

São imagens da fauna, da flora, de paisagens, de cidades, de índios, de igrejas, de escravos e de vários outros temas produzidas por diversos fotógrafos, dentre eles Alberto FrischAlberto Henschel, Carlos Dhein, Felipe Augusto Fidanza, Franz Keller, Georges Leuzinger, Joaquim Insley Pacheco, Marc Ferrez e também de fotógrafos ainda não identificados.

 

 

O geólogo alemão Moritz Alphons Stübel (1835 – 1904) viajou, entre 1868 e 1877, pela América do Sul com o também geólogo Wilhelm Reiss (1838 – 1908), que retornou um ano antes para a Alemanha. Stübel formou uma importante coleção de fotografias, composta originalmente por quase duas mil imagens. A Collection Alphons Stübel, a maior coleção de fotografias sul-americanas do século XIX, até agora conhecida, da Alemanha – e provavelmente da Europa – está preservada no Leibniz-Institut für Länderkunde.

 

 

Acessando o link para as fotografias do acervo do Leibniz-Institut für Länderkunde disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Uma breve história do Leibniz-Institut für Länderkunde

 

O Leibniz-Institut für Länderkunde foi fundado em sua forma atual em 1992, mas seu início remonta ao ano de 1896, quando o Museu de Etnologia de Leipzig fez uma exposição da coleção do geólogo Alphons Stübel. Em 1907, esse museu tornou-se o Museu Regional de Geografia. A partir de 1930, o museu também passou a ser um instituto de pesquisa. Sob a direção do geógrafo e cartógrafo Edgar Lehman, o Instituto Alemão Regional de Geografia passou a ser o Instituto de Pesquisa de Geografia da República Democrática da Alemanha. Em 1976, passou a se chamar Instituto de Geografia e Geoecologia. Foi extinto e reinaugurado em 1º de janeiro de 1992 como o Instituto Leibniz Regional de Geografia.