Uma homenagem aos médicos

Hoje é Dia do Médico e a Brasiliana Fotográfica presta uma homenagem a esses imprescindíveis profissionais, destacando artigos já publicados no portal relativos à medicina  – como vacinação, criação de instituições, realização de expedições, de congressos – e a importantíssimos médicos brasileiros como Arthur Neiva (1880 – 1943), Belisário Penna (1868 – 1939), Carlos Chagas (1879 – 1934), Evandro Chagas (1905 – 1940), João Pedroso Barreto de Albuquerque (1869 – 1936), João Pedro de Albuquerque (1874 – 1934) e Oswaldo Cruz (1872 – 1917). A maioria dos artigos foi escrito por pesquisadores da Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz, uma das instituições parceiras do portal. A data escolhida para celebrar o Dia do Médico é referente a São Lucas, padroeiro da medicina. Viva os médicos e as médicas! Viva a ciência!

 

 

Artigos publicados na Brasiliana Fotográfica relativo à medicina 

 

O cientista Oswaldo Cruz (1872 – 1917), prefeito de Petrópolis – 18/12/2017 – Cristiane d’Avila com a colaboração de Ana Luce Girão,  Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz, em parceria com Andrea C. T. Wanderley

Manguinhos e a cidade do Rio de Janeiro – 19/01/2018 - Equipe da Fiocruz – Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz.

100 anos do Castelo da Fiocruz: a ocupação da Fazenda de Manguinhos – 28/02/2018 - Cristiane d´Avila, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz.

Febre amarela: imagens da produção da vacina no início do século XX – 23/03/2018 - Aline Lopes de Lacerda, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

100 anos do Castelo da Fiocruz: os pedreiros do castelo da avenida Brasil – 12/04/2018 - Ricardo Augusto dos Santos, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz.

Os 100 anos do Castelo da Fiocruz: criador e criatura – 15 /05/ 2018 - Renato da Gama-Rosa Costa, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz.

Vacinação no Brasil, uma história centenária – 17/08/2018 – Cristiane d´Avila, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz.

O sanitarista Belisário Penna (1868-1939), um dos protagonistas da história da saúde pública no Brasil, 28/09/2018 – Ricardo Augusto dos Santos, da Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz.

Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas: 100 anos de pesquisa clínica – 26/10/2018 – Cristiane d´Avila, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz.

Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas 100 anos: Carlos e Evandro Chagas em retratos de família,  – 27/11/2018 – Aline Lopes de Lacerda, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas: centenário da construção da pesquisa clínica em Manguinho – 21/12/2018 – Dilene Raimundo do Nascimento, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz.

João Pedro ou João Pedroso? – 11/01/2019 – Ricardo Augusto dos Santos e Francisco dos Santos Lourenço, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

As expedições do Instituto Oswaldo Cruz entre 1911 e 1913 – 14/03/2019 – Cristiane d´Avila, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz.

A descoberta da doença de Chagas – 14/06/2019 – Simone Petraglia Kropf, Casa de Oswaldo Cruz , Fiocruz, em parceria com Andrea C. T. Wanderley

E o ex e futuro presidente do Brasil morreu de gripe…a Gripe Espanhola de 1918 – 23/03/2020 – Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica.

As doenças do Rio de Janeiro no início do século XX e a Revolta da Vacina em 1904 – 05/04/2020 – Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica.

A apresentação do Departamento Nacional de Saúde Pública na Exposição Internacional do Centenário da Independência – 13/04/2020 – Ricardo Augusto dos Santos, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz.

Nos passos de Oswaldo: imagens das expedições do IOC aos portos do Brasil em entre 1911 e 1913 – 25/05/2020 –  Cristiane d’Avila, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

Curso de Aplicação no Instituto Oswaldo Cruz, 08/10/2020 – Ricardo Augusto dos Santos, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz.

Porto D´Ave e a moderna arquitetura hospitalar, 14/01/2021 – Cristiane d´Avila, Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz

À mesa, os pioneiros da ciência brasileira, 07/06/2021 – Cristiane d´Avila, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

Os “Instântaneos Cruéis” de Monteiro Lobato, 26/11/2021 – Ricardo Augustos dos Santos, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz.

A Exposição Internacional de Higiene de Dresden, na Alemanha, em 1911, 05/01/2022 – Cristiane d´Avila, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz.

Fotografias da Gripe Espanhola do fundo Moncorvo Filho, da Casa de Oswaldo Cruz, 11/03/2022 – Ricardo Augusto dos Santos, Felipe Almeida Vieira e Francisco dos Santos Lourenço,  Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz.

 

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

A Exposição Internacional de Higiene de Dresden, na Alemanha, em 1911

A Brasiliana Fotográfica inaugura 2022 com um artigo sobre a participação do Brasil na Exposição Internacional de Higiene de Dresden, em 1911, no qual foi o único país das Américas a ter um pavilhão. O Instituto Oswaldo Cruz, o Instituto Butantã e o Instituto Vacinogênico de São Paulo participaram do evento. O pavilhão brasileiro foi projetado por Luiz Moraes Junior (1872 – 1955), responsável pela construção do castelo de Manguinhos, prédio principal da Fiocruz, em estilo mourisco. Cristiane d´Avila, jornalista do Departamento de Arquivo e Documentação Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, uma das instituições parceiras da Brasiliana Fotográfica, nos conta um pouco desta história. Não deixem de ver o filme Cinematógrafo brasileiro em Dresden, cujo link está no final do artigo!

 

 

A Exposição Internacional de Higiene de Dresden 

Cristiane d´Avila*

 

Sala repleta, público de pé, palmas ao final da sessão. Na tela do cinematógrafo, imagens das ações de combate à febre amarela no Rio de Janeiro e do médico Carlos Chagas em Lassance, Minas Gerais, onde pesquisava a doença que levaria seu nome. Era o ano de 1911, e um longínquo país chamado Brasil, como também os achados de seus cientistas, causavam espanto e admiração em mulheres, homens e crianças que visitavam a Exposição Internacional de Higiene de Dresden, Alemanha. Organizado para celebrar o progresso e a modernidade ocidental, o evento temático representava a oportunidade de os participantes exibirem produtos, pesquisas e inovações para um público diverso e ampliado.

 

 

 

Nos salões e espaços de convivência distribuídos pelos 320 mil metros quadrados de área, mais de cinco milhões de visitantes conheceram, ao longo dos seis meses de duração do megaevento, o que de mais avançado havia sobre higiene e cuidados com o corpo, obras sanitárias, ciência e saúde pública. Nos pavilhões eram exibidos, entre inúmeros artefatos, microscópios, modelos em gesso e cera de partes do corpo humano, fotografias e também filmes relacionados às descobertas da medicina e da microbiologia.

 

Acessando o link para as imagens relativas à Exposição Internacional de Higiene de Dresden, em 1911, disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Em artigo sobre essa exposição, a pesquisadora Alice Ferry de Moraes detalhou a composição dos pavilhões do evento internacional: doenças infecciosas, saúde da mulher, nutrição, cidades e habitações, esportes. No amplo terreno ocupado – onde havia praça e jardim, pavilhão de música e restaurante, pista de dança, cervejaria e casa de chá – circulavam não apenas cientistas, mas um público curioso e atento às descobertas da época. Além da Alemanha, anfitriã, havia pavilhões de mais 12 países: Áustria, China, Espanha, França, Holanda (Amsterdã), Hungria, Inglaterra, Itália, Japão, Rússia, Suíça e Brasil, única nação das Américas presente à mostra.

 

 

Um dos destaques, o pavilhão do Brasil foi projetado por Luiz Moraes Junior, responsável pela construção do castelo de Manguinhos (prédio principal da Fiocruz, em estilo mourisco).

 

 

Dentro do pavilhão havia uma casa que representava o sistema de isolamento criado para evitar a contaminação das pessoas saudáveis por pacientes vítimas da febre amarela. Também estavam expostos uniformes dos “mata-mosquitos” e material de desinfecção das ruas e casas. O pavilhão contava ainda com a exibição de soros e vacinas, uma coleção de mosquitos e outros insetos brasileiros”, detalha a pesquisadora.

 

 

Segundo Ferry, havia imensa expectativa sobre o que o Brasil exibiria em Dresden, pois já se sabia das descobertas de Chagas em Lassance. O sucesso de Oswaldo Cruz e do Instituto de Manguinhos no XIV Congresso Internacional de Higiene e Demografia de Berlim e na Exposição de Higiene contígua ao evento, realizados em 1907, concorriam para uma nova consagração.

De acordo com o historiador Jaime Benchimol, no evento berlinense o Brasil ocupou três salas: uma exibia a profilaxia da febre amarela no Rio de Janeiro; outra, as estatísticas demográficas da cidade; a terceira, projetos e fotografias dos prédios do Instituto e produtos biológicos fabricados em Manguinhos. A exibição dos materiais das doenças tropicais, segundo ele, causou sensação em Berlim: peças anatomopatológicas das lesões provocadas pela febre amarela e peste bubônica e a coleção de insetos brasileiros. Ao final, o reconhecimento: o país foi laureado com medalha de ouro, entregue a Oswaldo Cruz pela imperatriz da Alemanha. No ano seguinte, 1908, o instituto foi rebatizado como Instituto Oswaldo Cruz (IOC).

Não à toa, o sucesso da campanha em Berlim elevou a expectativa sobre a presença do Brasil em Dresden: de três salas, o país ganhou um pavilhão inteiro para exibir seus avanços científicos e sanitários. Agraciado com o prêmio máximo na capital alemã, o Instituto, principalmente pelas descobertas de Chagas e a campanha de combate à febre amarela no Rio, tornou o país reconhecido por suas pesquisas na medicina tropical e microbiologia.

 

 

 

 

Além do IOC, o Instituto Butantã e o Instituto Vacinogênico de São Paulo também se fizeram presentes na Exposição de Dresden: o primeiro, com exibição de ofídios, fotografias e filme sobre a produção da vacina contra mordida de cobra; o segundo, com fotos e filme sobre pesquisas experimentais e fabricação da vacina contra tuberculose bovina. No cinematógrafo brasileiro de Dresden foram exibidos quatro filmes: dois do IOC (Chagas em Lassance e o combate à febre amarela no Rio de Janeiro); um do Instituto Butantã e um do Instituto Vacinogênico de São Paulo.

 

 

“O cinematógrafo brasileiro lotava todos os dias, mantendo uma parte do público em pé e terminando suas sessões sob aplausos”, destaca Ferry no artigo, lembrando que os dois filmes paulistas se perderam. Utilizando a ferramenta zoom, pode-se ver, na fotografia abaixo, a entrada do cinematógrafo e outros detalhes da imagem.

 

 

Felizmente, os filmes sobre a campanha de febre amarela e Chagas em Lassance foram recuperados e podem ser vistos no documentário Cinematógrafo brasileiro em Dresden, roteirizado e dirigido pelos pesquisadores da Fiocruz Eduardo Thielen e Stella Oswaldo Cruz Penido.

 

 

*Cristiane d´Avila é jornalista do Departamento de Arquivo e Documentação Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz

 

O comparecimento do Brasil à nossa Exposição tem uma importância capital. Aqui estão as principais nações do mundo. Grande é a nossa satisfação e o nosso reconhecimento ao governo brasileiro por ter sido o único país das Américas a participar e construir pavilhão especial”

Karl Lingner (1861 – 1916), presidente da Exposição Internacional de Higiene de Dresden

 

 

Fontes:

 

ALMEIDA, Marta de. Entre balões, carrosséis e ciências: a exposição internacional de higiene na capital federal. ‘Usos do Passado’ — XII Encontro Regional de História ANPUH-RJ, 2006.

BENCHIMOL, Jaime Larry (coord.). Manguinhos do sonho à vidaa ciência na Belle Époque. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2020.

MONTEIRO, José Carlos. Imagens de paradoxosRECIIS – R. Eletr. de Com. Inf. Inov. Saúde. Rio de Janeiro, v.6, n.4 – Suplemento, Fev., 2013.

MORAES, Alice Ferry de. O Cinematógrafo e os Filmes Brasileiros na Exposição Internacional de Higiene De Dresden, em 1911. Revista Livre de Cinema, v.2, n. 2, mai/ago, 2015.

SANJAD, Nelson. Exposições internacionais: uma abordagem historiográfica a partir da América LatinaHistória, Ciências, Saúde-Manguinhos, vol. 24, núm. 3, pp. 785-826, 2017.

 

 

 

 

 

 

 

 

Links para os artigos sobre exposições nacionais ou internacionais publicados na Brasiliana Fotográfica

O pintor Victor Meirelles e a fotografia na II Exposição Nacional de 1866, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 17 de agosto de 2017.

A festa do progresso: o Brasil na Exposição Continental, Buenos Aires, 1882, de autoria de Maria do Carmo Rainho, Arquivo Nacional, publicado em 29 de março de 2018.

Série “O Rio de Janeiro desaparecido” II – A Exposição Nacional de 1908 na Coleção Família Passos, de autoria de Carla Costa, Museu da República, publicado em 5 de abril de 2018.

Marc Ferrez, a Comissão Geológica do Império (1875 – 1878) e a Exposição Antropológica Brasileira no Museu Nacional (1882), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 29 de junho de 2018.

Paris, 1889: o álbum da exposição universal, de autoria de Claudia B. Heynemann, Arquivo Nacional,publicado em 27 de julho de 2018.

Café Brasil: o Império na Exposição Internacional de Filadélfiade autoria de Claudia B. Heynemann, Arquivo Nacional, publicada em 4 de dezembro de 2019.

Festa das Artes e da Indústria Segunda Exposição Nacional, 1866, de autoria de Claudia Beatriz Heynemann e Maria Elizabeth Brêa Monteiro, Arquivo Nacional, em 5 de abril de 2020.

A apresentação do Departamento Nacional de Saúde Pública na Exposição Internacional do Centenário da Independência, de Ricardo Augusto dos Santos, Fiocruz, publicado em 13 de abril de 2020.

Série 1922 – Hoje, há 100 anos VIII – A abertura da Exposição Internacional do Centenário da Independência do Brasil e o centenário da primeira grande transmissão pública de rádio no país, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 7 de setembro de 2022, na Brasiliana Fotográfica.

 

Visitantes Ilustres em Manguinhos

A partir de uma informação errada sobre uma imagem da visita do célebre cientista alemão Albert Einstein (1879 – 1955), publicada no Facebook durante a pandemia da Covid, o pesquisador Ricardo Augusto dos Santos, da Fiocruz, uma das instituições parceiras da Brasiliana Fotográfica, escreveu um artigo com os dados corretos do acontecimento e também sobre outras visitas ilustres ao Castelo Mourisco, dentre elas o presidente Getúlio Vargas (1882 – 1954) e o governador de São Paulo, Adhemar de Barros (1901 – 1969). O registro de Einstein no Instituto Oswaldo Cruz, em 8 de maio de 1925, foi produzido pelo fotógrafo J. Pinto (1884 – 1951).

 

Visitantes Ilustres em Manguinhos

  Ricardo Augusto dos Santos*  

 

 

Em plena pandemia de COVID uma fotografia de Albert Einstein (1879 – 1955) circulou nas redes sociais (originalmente num post no Facebook) com informações erradas. O texto estava repleto de equívocos, com a legenda mencionando uma visita do cientista ao Instituto Butantã, em São Paulo. Além disso, a postagem comentava a presença de Oswaldo Cruz entre os homens. Seria cômico, se não fosse trágico. A primeira falha cometida é a ausência de informação sobre a origem do documento fotográfico pertencente ao acervo da Casa de Oswaldo Cruz, a COC, que é a unidade da Fundação Oswaldo Cruz responsável pela memória e história da instituição e de temas ligados ao campo da medicina e da saúde pública.

Vamos aos fatos. Em 1925, Einstein conheceu o Brasil, o Uruguai e a Argentina. Na foto aparece o cientista em visita ao Instituto Oswaldo Cruz. Em nosso país, entre compromissos profissionais e passeios, ficaram registradas visitas ao Observatório Nacional, Escola Politécnica, Museu Nacional, Instituto Oswaldo Cruz, Jardim Botânico e ao Clube de Engenharia. Não há dados sobre uma ida ao Butantã. No momento eternizado, na ampla varanda do belo prédio, o Pavilhão Mourisco, famoso Castelo da Avenida Brasil, estão fazendo companhia ao autor da Teoria Geral da Relatividade, Carlos Chagas, Alcides Godoy, Astrogildo Machado, Leocádio Chaves e demais pesquisadores. O principal equívoco que o autor do post no Facebook cometeu é que Oswaldo Cruz não poderia estar nessa foto, pois ele falecera em 1917. Oito anos, portanto, antes da visita de Einstein a Manguinhos.

 

 

Ao longo de seus 121 anos de história, a instituição de vanguarda na saúde pública e na ciência recebeu inúmeros visitantes. Personagens da história republicana, políticos, cientistas e intelectuais andaram pelos corredores, varandas, laboratórios e conheceram a ampla biblioteca. O acervo da Casa de Oswaldo Cruz guarda as imagens dessas visitas. Na foto acima, aparece Getúlio Vargas (1882 – 1954); no grupo estão o ministro Gustavo Capanema (1900 – 1985), titular da pasta da Educação e Saúde Pública, e os cientistas Souza Araújo e Artur Neiva. Inúmeros cientistas nacionais e estrangeiros frequentaram Manguinhos, estudando, trabalhando ou visitando. Em outra fotografia, foi documentada a visita do médico francês León Bernard (1872 – 1934), especialista em tuberculose, membro do Comitê de Higiene da Liga das Nações e diretor dos Annales de Médecine.

 

 

Curiosamente, dentre as visitas registradas, encontramos duas fotos comprovando a presença inusitada do governador de São Paulo, Adhemar Pereira de Barros (1901 – 1969), que ficou famoso pelo modo condenável de administrar a coisa pública. Suspeito de angariar recursos financeiros em benefício próprio, Adhemar de Barros foi retratado junto aos pesquisadores do IOC. O que estaria fazendo Adhemar no Instituto? Adhemar era médico. E estudou no Curso de Aplicação do Instituto Oswaldo Cruz entre 1919 e 1920. Contudo, na imagem feita nos anos 1940, Adhemar de Barros havia abandonado a medicina e ingressado na vida política.

 

 

rei Alberto da Bélgica (1875 – 1934), em 25 de setembro de 1920, durante sua viagem ao Brasil, visitou Manguinhos, na companhia do presidente Epitácio Pessoa (1865 – 1942). Foram recebidos pelo cientista Carlos Chagas (1878 – 1934), diretor da instituição (O Paiz, 26 de setembro de 1920; Careta de 2 de outubro de 1920).

 

 

Dias depois, em 27 de setembro de 1920, a rainha Elizabeth da Bélgica (1876 – 1965) também visitou o instituto (O Paiz, 28 de setembro de 1920). Foi recepcionada por Carlos Chagas (1879 – 1934) e por seus assistente. O fotógrafo J. Pinto (1884 – 1951) registrou o evento quando, segundo o jornal A Noite:

A rainha trocou idéias com o Dr. Carlos Chagas sobre a profilaxia da doença do ‘barbeiro’, e ficou bastante impressionada com as notícias das doenças rurais do país, procurando informar-se da organização sanitária que visa à respectiva profilaxia. O diretor expôs-lhe em traços gerais o novo regulamento destinado ao combate das moléstias que dizimam a população dos nossos campos e, ao retirar-se a rainha, a quem fora oferecido um delicado ‘lunch’, S.S. fez-lhe oferta de um lindo ramalhete de cravos, presos por fitas com as cores brasileiras e belgas“.

A Noite, 28 de setembro de 1920

 

 

 

Finalmente, destaca-se a homenagem prestada por Carlos Chagas (1879 – 1934) ao ministro da Agricultura, Juarez Távora (1898 – 1975); ao interventor de Pernambuco, Carlos de Lima Cavalcanti (1892 – 1967); ao interventor do Rio de Janeiro, Pedro Ernesto (1884 – 1942); e a Washington Pires (1892 – 1970), ministro da Educação, em 26 de julho de 1933.

 

 

 

*Ricardo Augusto dos Santos é Pesquisador Titular da Fundação Oswaldo Cruz

 

Pesquisa complementar: Andrea C. T. Wanderley – Editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica

À mesa, os pioneiros da ciência brasileira

A fotografia destacada pela jornalista Cristiane d´Avila, da Fiocruz, uma das instituições parceiras do portal, representa bem mais do que o registro de um momento de descontração de pesquisadores, na Casa de Chá, em Manguinhos, em torno de 1908. Ali estava parte do grupo que alçaria o Instituto Oswaldo Cruz a ícone da medicina experimental no Brasil. A participação no Congresso Internacional de Higiene e Demografia realizado em Berlim, em 1907, onde o país foi laureado com medalha de ouro, deu condições para que uma instituição científica de estado, dedicada à pesquisa e ao ensino, se perpetuasse e fizesse de um sonho a concretização de seu projeto original, pautado até o presente na valorização da vida.

 

À mesa, os pioneiros da ciência brasileira

Cristiane d´Avila*

 

 

Pausa para a foto e o café. Pequenas mesas dispostas em semicírculo rondam a figueira, fincada na área central do caramanchão. À mesa, talvez o mesmo cardápio das refeições de alguns anos antes, quando o almoço era servido em um barracão: “galinha ensopada com batatas, arroz, pão”[1]. No primeiro plano, o químico alemão Gustav Giemsa (1867 – 1948) e o médico Henrique Aragão (1879 – 1956) posam ao lado do garçom, anônimo, de pé; no segundo, o protozoologista e também alemão Stanislas Von Prowazek (1875 – 1915) conversa com Oswaldo Cruz (1872 – 1917), a câmera como testemunha do suposto diálogo entre ambos.

A fotografia do almoço na bucólica casa de chá (inaugurada em 1905 e, desde então, instalada no campus da Fiocruz em Manguinhos) data de 1908. Naquele ano, os dois professores da Escola de Medicina Tropical de Hamburgo receberam autorização do governo alemão para uma visita técnica ao Instituto Oswaldo Cruz, por seis meses. Realizada às expensas do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), incluía bolsa de dois mil marcos por mês, para cada um, e passagens. Objetivos: ministrar cursos sobre suas especialidades aos profissionais do IOC e publicar em primeira mão, na recém-lançada revista científica Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, os resultados das pesquisas realizadas durante o intercâmbio no instituto.

A visita dos cientistas alemães foi impulsionada pela participação do Instituto de Patologia Experimental (denominação anterior do IOC)[2] no Congresso Internacional de Higiene e Demografia realizado em Berlim, em 1907. Único representante da América do Sul no evento, o Brasil ocupou três salas de exposições: uma dedicada à profilaxia da febre amarela, fruto da bem-sucedida campanha de Oswaldo Cruz no combate à doença no Rio, em 1904; outra, a estatísticas demográfico-sanitárias da cidade, então capital do país; e a terceira a projetos, fotografias dos prédios projetados para o campus de Manguinhos e produtos biológicos fabricados no instituto.

Os estrangeiros ficaram impressionados com a coleção de insetos e os materiais representativos das doenças tropicais exibidas pelos cientistas brasileiros, principalmente as peças ilustrando as lesões provocadas pela febre amarela e a peste bubônica. “A participação do país no congresso internacional se dava, sobretudo, aos vínculos que Oswaldo Cruz criara com os mais importantes institutos europeus de medicina experimental. Tais relações tornaram Manguinhos mais conhecido na Europa que no Brasil”, explica o historiador Jaime Benchimol no livro Manguinhos do sonho à vida.

Até então, segundo Benchimol, o IOC contava com parcos recursos e com quadro de pessoal que se resumia ao diretor, Oswaldo Cruz, a dois bacteriologistas e a dois estudantes, além de pesquisadores voluntários. Com o sucesso da campanha de Berlim, o IOC recebeu novo regulamento e arcabouço institucional, ganhando maior autonomia orçamentária e administrativa.

Foi justamente esse profícuo intercâmbio que levou, em 1908, os professores de Hamburgo a Manguinhos. “Os trunfos colhidos em Berlim e a nova realidade institucional de Manguinhos permitiram a Oswaldo Cruz incorporar novos pesquisadores e deslanchar uma política de intercâmbio com os institutos estrangeiros, visando ao aperfeiçoamento de seu quadro de cientistas e ao amadurecimento de suas linhas de pesquisa”, continua Benchimol na detalhada obra sobre a história da Fiocruz e mesmo da própria ciência no país.

O intercâmbio com centros de pesquisa internacionais como Instituto Pasteur, Museu Britânico, Instituto de Higiene de Heidelberg e de Moléstias Infecciosas de Berlim, escolas de Medicina Tropical de Hamburgo, Londres e Liverpool, etc., foi fundamental nesse processo de enfrentamento de resistências ao investimento em ciência e à autonomia do IOC. Igual relevância teve o papel dos pesquisadores e de suas inúmeras investigações, que levaram ao desenvolvimento de produtos biológicos de uso veterinário e humano. “A pauta industrial de Manguinhos evoluiu de 11 produtos em 1907 para 26 em 1918, entre soros, vacinas e outras substâncias biológicas para fins terapêuticos, para diagnóstico ou utilizados como matéria-prima em processos laboratoriais”[3].

A fotografia, portanto, representa mais do que o registro de um momento de descontração, após a refeição dos pesquisadores, na bucólica Casa de Chá. Ali estava parte do grupo que alçaria o Instituto Oswaldo Cruz (assim nomeado a partir de 1908) a ícone da medicina experimental no Brasil. De certa forma, a participação no congresso em Berlim, onde o Brasil foi laureado com medalha de ouro, deu condições, ao longo dos anos, para que uma instituição científica de estado dedicada à pesquisa e ao ensino pudesse trilhar caminhos que a permitiram fazer de um sonho, seu objetivo maior: a valorização da vida.

[1] ARAGÃO apud FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, 1947.

[2] A Fundação Oswaldo Cruz foi inaugurada em 1900 como Instituto Soroterápico Federal, passou a Instituto de Patologia Experimental e, a partir de 1908, ganhou o nome do patrono.

[3] Benchimol, 2020, p. 84

 

*Cristiane d´Avila é jornalista do Departamento de Arquivo e Documentação Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz

Fontes:

BENCHIMOL, Jaime Larry (coord.). Manguinhos do sonho à vida: a ciência na Belle Époque. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2020.

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. CASA DE OSWALDO CRUZ. Resumo histórico da fundação do Instituto Soroterápico Federal, hoje Instituto Oswaldo Cruz. Coletânea organizada pelo arquivista Albino Taveira. Rio de Janeiro, COC, 1947.

 

 

alemães

Os cientistas Gustav Giemsa (1867 – 1948) e Stanislas Von Prowazek (1875 – 1915) / Wikipedia e Fiocruz

 

  

Nos passos de Oswaldo: imagens das expedições do IOC aos portos do Brasil entre 1911 e 1913

Hoje a Fundação Oswaldo Cruz completa 120 anos e a Brasiliana Fotográfica homenageia a instituição com a publicação de um artigo e de imagens das expedições realizadas por pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz aos portos do Brasil, entre os anos de 1911 e 1913. As fotos estão sob a guarda do Departamento de Arquivo e Documentação da Casa de Oswaldo Cruz, unidade da Fiocruz parceira do portal e responsável pela preservação do patrimônio histórico da Fundação. Hoje, se os aeroportos são as principais vias de entrada de vírus como o Sars-Cov-2, no passado o controle para evitar epidemias começava nos portos marítimos e fluviais. Quem nos conta essa história é Cristiane d’Avila, jornalista do DAD/COC. No final do artigo, estão listados, com links, todos os 25 artigos produzidos pelo Departamento de Arquivo e Documentação da Casa de Oswaldo Cruz para a Brasiliana Fotográfica.

 

Nos passos de Oswaldo: imagens das expedições do IOC aos portos do Brasil em entre 1911 e 1913

   Cristiane d’Avila*

 

 

“Os meios de defesa dos portos da extensa costa brasileira são totalmente ineficientes contra a penetração de moléstias contagiosas vindas do estrangeiro. O serviço sanitário dos portos é verdadeiramente vergonhoso. É imprescindível instalar estações de desinfecção nos portos principais, bem como hospitais de isolamento com laboratórios, indispensáveis para o diagnóstico das moléstias”[1].

As rigorosas medidas sanitárias citadas acima foram pinçadas de uma carta de Oswaldo Cruz escrita em 1905, quando o cientista chefiava a Diretoria Geral de Saúde Pública (DGSP). Em inédita e pioneira expedição científica a portos marítimos e fluviais de Norte a Sul do Brasil, Cruz escreveu, diariamente, dezenas de cartas à esposa Emília da Fonseca Cruz e telegramas a autoridades da época. Em suas missivas, o cientista relatava o que via nos “sertões”[2] e localidades até então quase inabitadas do país.

 

Acessando o link para as 21 fotografias selecionadas sobre as expedições do IOC aos portos do Brasil em entre 1911 e 1913 para esse artigo disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Nessa expedição, que durou mais de 100 dias entre os meses de setembro de 1905 a fevereiro de 1906, Oswaldo Cruz constatou o risco a que estava sujeita a população nas “portas de entrada” do país, os portos marítimos e fluviais. Seu objetivo era combater, principalmente, doenças como malária, peste bubônica e febre amarela, entre outras enfermidades. Era preciso sanear aquelas localidades e também responder positivamente a tratados internacionais. Signatário da 11ª Conferência Sanitária Internacional, assinada em Paris, em 1903, e da Convenção Sanitária entre as Repúblicas Platinas, assinada no Rio de Janeiro, em 1904, o país tinha o compromisso de promover a reforma da organização sanitária das zonas portuárias brasileiras.

A bordo do navio República, Oswaldo Cruz fez o seguinte percurso de inspeção aos portos, partindo do porto do Rio de Janeiro: Cabo Frio (RJ), Vitória (ES); Caravelas, Porto Seguro, Santa Cruz e Salvador (BA); Aracaju (SE); Penedo e Maceió (AL); Tamandaré e Recife (PE), Cabedelo e João Pessoa (PB); Natal, Mossoró e Assu (RN); Camocim e Fortaleza (CE); Amarração (PI), São Luís (MA); Belém, Santarém e Óbidos (PA); e Parintins e Manaus (AM). O propósito foi estabelecer nessas localidades estações de desinfecção e hospitais de isolamento, para debelar moléstias que mortificavam o povo empobrecido do interior.

 

 

“A série não está completa. A última carta disponível foi enviada de São Luís do Maranhão, mas sabemos que Oswaldo Cruz prosseguiu viagem até Manaus e, depois, aos portos do Sul”, explica a pesquisadora do Departamento de Arquivo e Documentação da Casa de Oswaldo Cruz (DAD/COC) Ana Luce Girão, no artigo “A bordo do República: diário pessoal da expedição de Oswaldo Cruz aos portos marítimos e fluviais do Brasil”.

Em segunda etapa da viagem iniciada em janeiro de 1906, o cientista rumou para o Sul a bordo do paquete Santos. Foi quando visitou os portos de Santos, Paranaguá, São Francisco e Rio Grande. Estendeu o itinerário até as capitais do Uruguai, da Argentina e do Paraguai e, em seguida, a Corumbá (MT). Em 28 de fevereiro, depois de passar novamente por Buenos Aires e Assunção, retornou ao Rio de Janeiro[3].

 

 

Infelizmente, não há registro fotográfico sobre essa expedição aos portos marítimos e fluviais do Brasil pela DGSP [4], mas o DAD/COC guarda 29 documentos textuais de Oswaldo sobre a experiência. Além de representarem um minucioso e praticamente único relato da viagem, neles o cientista registra impressões sobre as condições de saúde, arquitetura e topografia das cidades visitadas. Tal qual um etnógrafo, tece observações sobre hábitos e costumes, comportamentos e modos de vestir e falar das elites locais e da população em geral[5].

Esse conjunto documental faz parte da série Correspondência do Fundo Oswaldo Cruz, a qual possui cerca de dois mil itens documentais de tipo textual, iconográfico e cartográfico, com datas-limite situadas entre 1885 e 1953. Para Ana Luce Girão, aí está registrada, com considerável detalhe, a trajetória profissional, intelectual e administrativa do titular.

 

 

As 21 fotos selecionadas para ilustrar este artigo abrangem as expedições científicas de pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) realizadas entre 1911 e 1913. Seguindo os passos do mentor Oswaldo Cruz, Arthur Neiva e Belisário Penna percorreram o norte da Bahia, o sudeste de Pernambuco, o sul do Piauí e Goiás de norte a sul. João Pedro de Albuquerque e José Gomes de Faria dirigiram-se para o Ceará e o norte do Piauí. Adolpho Lutz e Astrogildo Machado desceram o rio São Francisco, de Pirapora a Juazeiro, cruzando também alguns de seus afluentes. Carlos Chagas, Pacheco Leão e  João Pedro Albuquerque inspecionaram boa parte da bacia do rio Amazonas através dos rios Solimões, Juruá, Purus, Acre, Iaco, Negro e o baixo rio Branco.

“Os temas de maior ocorrência no conjunto fotográfico de 1913 são as paisagens rurais e fluviais e os transportes. Rios, barrancos e vegetações emolduram vultos de vapores, gaiolas e embarcações menores, denotando a vastidão do território, a dificuldade de percorrê-lo e a escassa presença humana”[6].

 

 

A partir de documentos da viagem de Oswaldo Cruz em 1905 e das expedições do IOC de 1911 a 1913, pesquisadores da COC produziram os documentários Chagas na Amazônia (1991)[7]Chagas nos rios Negro e Branco (1994)[8]Chagas no Acre e Purus (1997)[9] e Oswaldo Cruz na Amazônia (2002)[10], refazendo as mencionadas viagens e reexaminando questões relativas às condições sanitárias da região amazônica.

 

[1] Trecho extraído de carta de Oswaldo Cruz reproduzida em áudio no documentário Oswaldo Cruz na Amazônia, de Stella Oswaldo Cruz Penido e Eduardo Thielen, produzido pela VideoSaúde Distribuidora da Fiocruz.

[2] Para compreender melhor a expressão ver LIMA, 1998.

[3] Para saber mais, acesse www.oswaldocruz.fiocruz.br

[4] PENIDO, 2007.

[5] Ver em http://basearch.coc.fiocruz.br/index.php/expedicao-aos-portos-maritimos-e-fluviais-do-brasil-pela-dgsp

[6] SANTOS, THIELEN, 1996.

[7] Ver em https://youtu.be/LzYdhNO2EQw

[8] Ver em https://youtu.be/-ungTgViUBw

[9] Ver em https://youtu.be/OCB-wuyX194

[10] Ver em https://portal.fiocruz.br/video-oswaldo-cruz-na-amazonia-revolta-da-vacina

 

*Cristiane d’Avila é jornalista do Departamento de Arquivo e Documentação Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz

 

Fontes:

LIMA, Ana Luce Girão Soares de. “A bordo do República: diário pessoal da expedição de Oswaldo Cruz aos portos marítimos a fluviais do Brasil”. Hist. cienc. saúde-Manguinhos,  Rio de Janeiro ,  v. 4, n. 1, p. 158-167,  June  1997 .   Disponível em https://bit.ly/3d3ZSt8.

LIMA, Nísia Trindade. Missões civilizatórias da República e interpretação do Brasil. Hist. cienc. saude-Manguinhos,  Rio de Janeiro ,  v. 5, supl. p. 163-193,  jul.  1998 .   Disponível em https://bit.ly/2WosQNK.

PENIDO, Stella Oswaldo Cruz. “Carta do editor”. Hist. cienc. saúde-Manguinhos,  Rio de Janeiro ,  v. 14, supl. p. 7-9,  dez.  2007 .   Disponível em https://bit.ly/2yeuzNC.

REBELO, Fernanda. “Entre o Carlo R. e o Orleannais: a saúde pública e a profilaxia marítima no relato de dois casos de navios de imigrantes no porto do Rio de Janeiro, 1893-1907”. Hist. ciênc. saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.20, n.3, jul.-set. 2013, p.765-796.

SANTOS, Fernando Dumas dos; THIELEN, Eduardo. “Revisitando a Amazônia de Carlos Chagas”. Hist. cienc. saúde-Manguinhos,  Rio de Janeiro ,  v. 3, n. 3, p. 523-534,  Nov.  1996 .   Disponível em  https://bit.ly/2YrZd0R.

 

 

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Lista dos 25 artigos produzidos pela Casa de Oswaldo Cruz para publicação na Brasiliana Fotográfica

(agosto de 2017 a maio de 2020)

A apresentação do Departamento Nacional de Saúde Pública na Exposição Internacional do Centenário da Independência – 13/04/2020 – Ricardo Augusto dos Santos, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

 

Cenas da folia em Manaus em 1913 – 28/02/2020 – Cristiane d´Avila, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

 

Trilhos sobre a floresta: imagens da construção da E.F. Madeira-Mamoré – 14/10/2019 – Cristiane d´Avila, Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz

 

As ruínas de Brás de Pina – 30/09/2019 – Ricardo Augusto dos Santos, Pesquisador Titular da Fundação Oswaldo Cruz, Fiocruz

 

O funeral de Teixeira Mendes pela lente de Augusto Malta – 02/08/2019 – Ricardo Augusto dos Santos, Pesquisador Titular da Fundação Oswaldo Cruz, e Marcus Vinícius Rubim Gomes é estagiário na Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

 

A descoberta da doença de Chagas – 14/06/2019 – Simone Petraglia Kropf, historiadora da Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

 

O cotidiano da Manguinhos – 24/04/2019 – Equipe da Fiocruz 

 

As expedições do Instituto Oswaldo Cruz entre 1911 e 1913 – 14/03/2019 – Cristiane d´Avila, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

 

Morro de Santo Antônio – 05/02/2019 – Ricardo Augusto dos Santos, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

 

João Pedro ou João Pedroso? – 11/01/2019 – Ricardo Augusto dos Santos e Francisco dos Santos Lourenço, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

 

Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas: centenário da construção da pesquisa clínica em Manguinho – 21/12/2018 – Dilene Raimundo do Nascimento, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

 

Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas 100 anos: Carlos e Evandro Chagas em retratos de família,  – 27/11/2018 – Aline Lopes de Lacerda, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

 

Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas: 100 anos de pesquisa clínica – 26/10/2018 – Cristiane d´Avila, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

 

O sanitarista Belisário Penna (1868 – 1939, um dos protagonistas da história da saúde pública no Brasil – 28/09/2018 – Ricardo Augusto dos Santos, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

 

Vacinação no Brasil, uma história centenária – 17/08/2018 – Cristiane d´Avila, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

 

A criação de uma vacina para a peste da manqueira, um marco na história da veterinária brasileira e mundial – 21/06/2018 – Cristiane d´Avila, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

 

100 anos do Castelo da Fiocruz: criador e criatura – Renato da Gama-Rosa Costa – 15 /05/ 2018, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

 

100 anos do Castelo da Fiocruz: os pedreiros do castelo da avenida Brasil – Ricardo Augusto dos Santos – 12/04/2018, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

 

Febre amarela: imagens da produção da vacina no início do século XX – Aline Lopes de Lacerda – 23/03/2018, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

 

100 anos do Castelo da Fiocruz: a ocupação da Fazenda de Manguinhos – Cristiane d´Avila – 28/02/2018, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

 

Manguinhos e a cidade do Rio de Janeiro – Equipe da Fiocruz – 19/01/2018, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

 

O cientista Oswaldo Cruz (1872 – 1917), prefeito de Petrópolis – Cristiane d’Avila com a colaboração de Ana Luce Girão, 28/12/2017, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

 

O fotógrafo Joaquim Pinto da Silva, o J. Pinto (1884-1951) e a Fundação Oswaldo Cruz – Ricardo Augusto dos Santos, 16/11/2017, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

 

Manguinhos e os sertões – Equipe da Fiocruz, 09/10/2017 , Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

 

Novos acervos: Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz – Fotografia, Ciência e Saúde Pública – Equipe da Fiocruz, 30/08/2017, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

E o ex e futuro presidente do Brasil morreu de gripe…a Gripe Espanhola de 1918

 

 

E o ex e futuro presidente do Brasil, Francisco de Paula Rodrigues Alves (1848 – 1919), faleceu de Gripe Espanhola! Logo ele que em seu mandato como o quinto presidente da República do Brasil, exercido entre 1902 e 1906 (Gazeta de Notícias, 16 de novembro de 1902, sexta colunaGazeta de Notícias, 16 de novembro de 1906, segunda coluna), designou o médico e sanitarista Oswaldo Cruz (1872 – 1917) para a chefia do Departamento Nacional de Saúde Pública, justamente para melhorar as condições sanitárias do Rio de Janeiro deflagrando a reforma sanitária da capital, combatendo primordialmente a febre amarela, a peste bubônica e a varíola.

Além de Oswaldo Cruz, os engenheiros Francisco Pereira Passos (1836 – 1913), nomeado por Alves prefeito do Rio de Janeiro, em dezembro de 1902 (Gazeta de Notícias, 31 de dezembro de 1902, na sexta coluna), e Paulo de Frontin  (1860 – 1933) foram fundamentais durante o governo de Rodrigues Alves: Passos foi o prefeito do “bota-abaixo” e Frontin, presidente do Clube de Engenharia, o engenheiro-chefe da construção da Avenida Central.

 

Acessando o link para as fotografias de Rodrigues Alves disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

Rodrigues Alves foi eleito presidente do Brasil, pela segunda vez, em 1º de março de 1918. Acometido pela doença, não pode tomar posse no dia 15 de novembro de 1918, tendo seu vice, Delfim Moreira (1868 – 1920), assumido o cargo em seu lugar. Rodrigues Alves faleceu meses depois, em janeiro de 1919, confinado em sua casa na rua Senador Vergueiro, no Flamengo, bairro do Rio de Janeiro (Gazeta de Notícias, 16 de janeiro de 1919Gazeta de Notícias, 17 de janeiro de 1919O Malho , 25 de janeiro de 1919). Foi enterrado em Guaratinguetá, cidade paulista onde nasceu (O Paiz, 18 de janeiro de 1919).

 

“Depois da morte do Barão do Rio Branco, nenhuma outra poderia, sob o ponto de vista nacional, representar prejuízo maior para o Brasil do que a do conselheiro Rodrigues Alves”.

 

 

Ele foi a mais notória vítima brasileira da Gripe Espanhola, que matou cerca de 300 mil pessoas no país. Novas eleições foram convocadas para 13 de abril de 1919 e o paraibano Epitácio Pessoa (1865 – 1942) foi eleito.

 

 

Mas depois da tragédia veio a esbórnia! O que seguiu no Rio de Janeiro, em março, foi um carnaval animadíssimo, como uma vingança contra a terrível doença que havia atingido intensamente a cidade. Foi publicado no Correio da Manhã de 20 de janeiro de 1919:

 

 

 

No 12º capítulo das “Memórias de Nelson Rodrigues” foi publicado, em 10 de março de 1967, no Correio da Manhã: 

“Estou aqui reunindo as minhas lembranças. Aquele Carnaval foi, também, e sobretudo, uma vingança dos mortos mal vestidos, mal chorados e, por fim, mal enterrados. Ora, um defunto que não teve o seu bom terno, a sua boa camisa, a sua boa gravata é mais cruel e mais ressentido do que um Nero ultrajado. E o Zé de S. Januário está me dizendo que enterrou sujeitos em ceroulas, e outros nus como santos. A morte vingou-se, repito, no Carnaval… E tudo explodiu no sábado de Carnaval. Vejam bem: até sexta-feira, isto aqui era o Rio de Machado de Assis; e, na manhã seguinte, virou o Rio de Benjamim Costallat […] Desde as primeiras horas de sábado, houve uma obscenidade súbita, nunca vista, e que contaminou toda a cidade. Eram os mortos da espanhola e tão humilhados e tão ofendidos que cavalgavam os telhados, os muros, as famílias… Nada mais arcaico do que o pudor da véspera. Mocinhas, rapazes, senhoras, velhos cantavam uma modinha tremenda. Eis alguns versos: ‘Na minha casa não se racha lenha,/ Na minha racha, na minha racha./ Na minha casa não há falta d’água,/ Na minha abunda, na minha abunda’”.

 

 

Anos depois, Carlos Heitor Cony (1926 – 2018) escreveu, na Folha de São Paulo de 19 de fevereiro de 1996, um artigo sobre a Gripe Espanhola e o carnaval de 1919:

“No Rio, o sujeito ia atravessar a rua, botava o pé no meio-fio com plena saúde e chegava morto ao meio-fio do outro lado. Era fulminante a gripe, os parentes deixavam os mortos nos bondes, pagavam a passagem deles, como se passageiros fossem. Não havia tempo nem lugar para o enterro. Natural que, depois da fase mortuária, viesse a fase libertária, ou libertina, basta dizer que as delegacias da cidade registraram a queixa de 4.315 defloramentos e outros tantos casos de abandono do lar, adultério e até incesto.”

 

 

Um pouco sobre a Gripe Espanhola, a primeira e mais letal pandemia do século XX 

 

 

A Gripe Espanhola aconteceu, entre 1918 e 1920, em três ondas . Aparentemente, a primeira ocorreu entre março e abril de 1918 ainda durante a Primeira Guerra Mundial. Sua origem é até hoje uma dúvida: teria surgido na Ásia ou em campos militares no interior dos Estados Unidos? O nome Gripe Espanhola é atribuído ao fato de que a Espanha, neutra durante a Primeira Guerra Mundial, ter reconhecido a gripe como problema e ter permitido a divulgação de informações epidemiológicas sobre a doença.

O fato é que a gripe rapidamente se espalhou pela Europa Ocidental e, em julho, já havia chegado à Polônia. Durante o verão do mesmo ano, durante o mês de agosto, em sua segunda onda, uma forma mais letal da doença surgiu – causava pneumonia e, usualmente, dois dias depois do primeiro sintoma, o paciente falecia. A terceira onda ocorreu no inverno de 1919. A pandemia acometeu cerca de 50 % da população mundial e a Organização Mundial de Saúde estima que tenha causando entre 20 e 40 milhões de mortes.

Inicialmente, a repercussão no Brasil da disseminação da doença na Europa foi de despreocupação por parte das autoridades de saúde do país. Imaginaram que a distância entre os continentes, com um oceano os separando, não permitiria a chegada da epidemia em nosso país. Uma nota sem destaque no jornal O Paiz, de 1º de agosto de 1918, referia-se a doença como intensa porém sem gravidade. Em outra nota, também publicada em O País, cinco dias depois, noticiava-se, de novo sem nenhum destaque, a relação entre a gripe infecciosa e o preço do limões.

 

 

Supõe-se que a Gripe Espanhola tenha chegado no Brasil em 9 de setembro de 1918, no navio inglês SS Demerara, que partiu de Liverpool, na Inglaterra e fez escalas em Lisboa, no Recife, em Salvador e no Rio de Janeiro (Jornal do Recife, 10 de setembro de 1918, primeira colunaGazeta de Notícias, 16 de setembro de 1918).

 

 

“A seu bordo, durante a travessia, grassou com caráter epidêmico a tal “hespanhola” ou “dançarina”, influenza há pouco aparecida na Espanha e que tem grassado em uutras cidades da Europa”

Nesse mesmo mês foi noticiado que marinheiros brasileiros que prestavam serviço militar em Dakar, no Senegal, e oficiais da missão médica militar que havia partido no navio Plata tinham contraido a Gripe Espanhola (Jornal do Brasil, 22 de setembro de 1918, A Noite, 23 de setebmro de 1918Jornal do Brasil, 24 de setembro de 1918Revista da Semana, 28 de setembro de 1918Gazeta de Notícias, 5 de outubro de 1918, segunda coluna; e Folha de São Paulo, 1º de abril de 2012).

 

 

Entre os meses de setembro e novembro de 1918, a epidemia assolou o Brasil.  Em outubro, foram diagnosticados casos em Niterói e as primeiras mortes no Estado do Rio foram reportadas em 14 de outubro, quando o número de pacientes chegava já a 20 mil.

 

 

 

O quinino, a canja de galinha, preparados a base de limão, cachaça e outros eram usados contra a doença. A Bayer oferecia a aspirina Fenacetina (O Paiz, 30 de outubro de 1918, quarta coluna) e um laboratório produziu o remédio homeopático Grippina, fórmula do médico Alberto Seabra (A Noite, 10 de outubro de 1918). Balas peitoraes também e gargarejos com Diogexen eram oferecidos como cura para a doença (Careta, 26 de outubro de 1918; e Fon-Fon, 2 de novembro de 1918).

 

 

A essa altura o pânico já tomava conta do Rio de Janeiro, na época capital do Brasil. São Paulo começava também a registrar seus primeiros casos (Correio Paulistano, 17 de outubro de 1918). Outras cidades do Brasil foram atingidas mas nenhuma como o Rio.

 

 

 

O então Diretor Geral de Saúde Pública, Carlos Seidl (1867 – 1929), renunciou.

 

 

Foi substituído por Theóphilo Torres (1863 – 1928) (Gazeta de Notícia, 19 de outubro de 1918, penúltima coluna), que convidou o pesquisador Carlos Chagas (1879 – 1934), que havia assumido a direção do Instituto Oswaldo Cruz em 1917, para atuar no controle da epidemia. Chagas liderou a campanha de combate à doença, implementando cinco hospitais emergenciais e 27 postos de atendimento à população em diferentes pontos do Rio de Janeiro (Gazeta de Notícias, 22 de outubro de 1918). Chagas e sua família adoeceram, mas todos sobreviveram.

 

 

Mas mesmo no auge da tragédia, o humor esteve presente na imprensa carioca.

 

 

Houve um aumento no preço dos alimentos, alguns escassearam e muitos estabelecimentos, dentre eles fábricas, teatros, escolas, restaurantes e bares fecharam suas portas. Atividades básicas foram praticamente suspensas e saques começaram a ocorrer pela cidade. A polícia passou então a garantir que em cada bairro houvesse uma farmácia e uma padaria aberta.

 

 

Em 19 de outubro foi decretado um feriado de três dias e o governo tomou providências como a abertura de novos postos de assistência e de pavilhões com leitos para receber doentes, a divisão da cidade em zonas com médicos autorizados a ordenar tudo quanto o doente precisar. Também determinou a publicação de “conselhos ao povo” e um apelo foi feito para que médicos, farmacêuticos e estudantes colaborassem com a Saúde Pública (Jornal do Brasil, 20 de outubro de 1918 e O Paiz, 20 de outubro de 1918).

 

 

Da cartilha Previna-se contra a gripe, distribuída pelas campanhas do Serviço Nacional de Educação Sanitária:

 

“Perdigotos – Que perigo!
Se estás resfriado amigo,
Não chegues perto de mim.
Sou fraco, digo o que penso.
Quando tossir use o lenço
E, também se der atchim.
Corrimãos, trincos, dinheiro
São de germes um viveiro
E o da gripe mais freqüente.
Não pegá-los, impossível.
Mas há remédio infalível,
Lave as mãos constantemente.
Se da gripe quer livrar-se
Arranje um jeito e disfarce,
Evite o aperto de mão.
Mas se vexado consente,
Lave as mãos freqüentemente.
Com bastante água e sabão.
Da gripe já está curado?
Bem, mas não queira, apressado,
Voltar à vida normal.
Consolide bem a cura,
Senão você, criatura,
Recai e propaga o mal”.

 

“O número de casos declinou drasticamente no final de outubro, retornando a cidade pouco a pouco às suas rotinas diárias, ficando no ar por muitos meses a pergunta se haveria uma volta da epidemia, o que afinal não ocorreu.” (1)

 

 

Estima-se que cerca de 65% da população brasileira tenha sido infectada pela Gripe Espanhola e por volta de 35.240 pessoas tenham morrido em São Paulo e no Rio de Janeiro e 300 mil em todo o Brasil. Esses números variam e diversas fontes os consideram abaixo das estatísticas reais.

 

 

Famílias inteiras foram dizimadas, principalmente as que viviam em condições mais vulneráveis. Os corpos acabavam sendo deixados na rua, onde permaneciam alguns dias até serem recolhidos, ampliando o cenário de devastação. Houve falta de serviço de transporte, alta dos preços e escassez de alimentos. Por volta de 19 de outubro, a doença já havia atingido metade da população do Rio, estimada em 700 mil pessoas, deixando a cidade vazia e silenciosa … este cenário crítico perdurou até o final do mês, quando houve um declínio drástico no número de casos e a cidade começou a retornar às suas rotinas diárias. Estima-se a epidemia tenha causado a morte de cerca de 15 mil pessoas no Rio.(2)

Além de Rodrigues Alves, outros brasileiros famosos foram vítimas da gripe, dentre eles a educadora Anália Franco (1853 – 1919), provavelmente, o poeta de literatura de cordel Leandro Gomes de Barros (1865 – 1918).

O empresário e jornalista tcheco Frederico (Fred) Figner (1866 – 1947), dono da Casa Edison e primeiro produtor fonográfico do Brasil, contraiu e sobreviveu à gripe espanhola e utilizou sua casa, hoje conhecida como Mansão Figner, na rua Marquês de Abrantes, no Flamengo, no Rio de Janeiro, para acolher doentes.

Personalidades internacionais como os pintores austríacos Egon Schiele (1890 – 1918) e Gustav Klimt (1862 – 1918), os escritores franceses Edmond Rostand (1868 – 1918) e Guillaume Appolinaire (1880 – 1918), as crianças portuguesas Francisco (1908 – 1919) e Jacinta (1910 – 1920) do famoso Milagre de Fátima, os irmãos John (1864 – 1920) e Horace Dodge (1868 – 1920), empresários da indústria automobilística; o pianista Henry Hagas (1891 – 1919), da Original  Dixieland Jazz Band, o sociólogo alemão Max Weber (1864 – 1920) e Sophie (1893- 1920),  filha de Sigmund Freud, também foram vitimados pela doença.

Outros que foram infectados mas sobreviveram à gripe foram o pintor Edvard Munch (1863 – 1944), o então futuro presidente dos Estados Unidos, Franklin Delano Roosevelt (1882 – 1945);  o escritor Franz Kafka (1883 – 1924), a pintora Georgia O’Keeffe (1887 – 1986),  a escritora Katherine Anne Porter (1890 – 1980), as estrelas do cinema mudo Mary Pickford (1892 – 1979) e Lillian Gish (1893 – 1993); o cineasta Walt Disney (1901 – 1966), e além do então presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson (1856 – 1924).

Link para fotografias de aspectos da Gripe Espanhola no site Getty Images

A escritora inglesa Virginia Woolf (1882 – 1941), testemunha do impacto da Gripe Espanhola, registrou em seu diário em outubro de 1918: “Estamos … no meio de uma praga só comparável à Peste Negra“. Em seu ensaio “Doença: uma mina inexplorada“, de 1926, escreveu:

Se considerarmos o quão comum é a doença, quão terrível é a mudança espiritual que ela acarreta, quão medonhos, quando as luzes da saúde se apagam, são os países virgens que se descerram, as ruínas e desertos d’alma que um leve ataque da influenza traz à tona, os precipícios e relvas regadas de resplandecentes flores que um pequeno aumento de temperatura revela, os carvalhos antigos e obdurados que se nos desenraizam no ato da doença, como adentro o abismo da morte descemos e sentimos as águas da aniquilação bem acima de nossas cabeças e despertamos jurando nos encontrar na presença de anjos e querubins quando temos um dente extraído e, voltando à superfície da cadeira do dentista, confundimos o seu “Abra a boca – abra a boca” com as boas-vindas da Divindade a se inclinar do chão do Céu para nos acolher – quando pensamos nisto e numa infinidade mais, como tão frequentemente somos forçados a pensá-lo, parece deveras estranho que a doença não tenha, junto com o amor, a batalha, a inveja, tomado seu posto entre os temas primordiais da literatura. Romances, pensar-se-ia, teriam sido dedicados à Influenza; poemas épicos à Tifóide; odes à Pneumonia, Apendicites e Câncer; cânticos à Dor de Dente. Mas não: com algumas poucas exceções – de Quincey arriscou algo do tipo em Confissões de um comedor de ópio; deve haver um volume ou dois sobre doença espalhados pelas páginas de Proust – a literatura se esforça ao máximo para sustentar que sua preocupação é com o espírito; que o corpo é uma camada de vidro límpido através da qual a alma enxerga clara e distintamente e que, salvo uma ou duas paixões tais como o desejo e a cobiça, ele é nulo, insignificante e inexistente“.

Aqui no Brasil, o futuro escritor e médico Pedro Nava (1903 – 1984), então com 15 anos, testemunha da Gripe Espanhola no Rio de Janeiro, escreveu muitas décadas depois:

“Era apavorante a rapidez com que ela ia da invasão ao apogeu, em poucas horas, levando a vítima às sufocações, às diarréias, às dores lancinantes, ao letargo, ao coma, à uremia, à síncope e à morte em algumas horas ou poucos dias. Aterravam a velocidade do contágio e o número de pessoas que estavam sendo acometidas. Nenhuma de nossas calamidades chegara aos pés da moléstia reinante: o terrível não era o número de casualidades mas não haver quem fabricasse caixões, quem os levasse ao cemitério, quem abrisse covas e enterrasse os mortos. O espantoso já não era a quantidade de doentes, mas o fato de estarem quase todos doentes, a impossibilidade de ajudar, tratar, transportar comida, vender gêneros, aviar receitas, exercer, em suma, os misteres indispensáveis à vida coletiva…”.

Última curiosidade envolvendo literatura e doença: o escritor e poeta florentino Giovanni Boccaccio (1313 – 1375) foi pessoalmente afetado pela pandemia que ficou conhecida como peste negra, que atingiu Florença em 1348. Seu pai e madrasta morreram e ele fugiu da cidade indo para a zona rural da Toscana. Foi durante esse período que escreveu  O Decamerão, 100 contos narrados por personagens que fugiam justamente da peste negra. Já no início do século XVII, em Londres, surtos de peste bubônica ocasionavam muitas mortes e quarentenas eram ordenadas pelas autoridades. O grande poeta e dramaturgo William Shakespeare (1564 – 1616) escreveu nesse período, entre 1605 e 1606, Rei Lear, Macbeth e Antônio e Cleópatra. Segundo James Shapiro, professor da Universidade Columbia e autor de O ano de Lear: Shakespeare em 1606, depois de 1603, Shakespeare não produziu mais comédias românticas e, sim, peças mais sombrias, que expressavam o desespero que tomava a população naqueles dias.

Voltando ao século XX: o mundo ainda sofreu com mais duas pandemias, a Gripe Asiática, em 1957; e a Gripe de Hong Kong, em 1968. No século XXI, foi identificado um novo vírus da influenza do tipo A pandêmico que desencadeou a Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional, decretada pela Organização Mundial da Saúde(OMS), em 2009. Cerca de 11 anos depois, em 11 de abril de 2020, a OMS declarou uma pandemia do novo coronavírus, chamado de Sars-Cov-2, causador da Covid-19, surgido na cidade de Wuhan, na China, em fins de 2019.

 

(1) A virologia no Estado do Rio de Janeiro: uma visão global.

(2) Pandemias de influenza e a estrutura sanitária brasileira: breve histórico e caracterização dos cenários. 

 

 

brasiliana fotográfica rodrigues alves

Foto oficial de Rodrigues Alves, presidente do Brasil entre 1902 e 1906.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Atlas Histórico do Brasil

BRITO, Nara Azevedo de. La dansarina: a gripe espanhola e o cotidiano na cidade do Rio de Janeiro. Hist. cienc. saude-Manguinhos [online]. 1997, vol.4, n.1, pp.11-30.

CABRAL, Maulori C.; SCHATZMAYR, Hermann G. A virologia no Estado do Rio de Janeiro: uma visão globalRio de Janeiro : Fiocruz, 2012

CASTRO, Ruy. Metrópole à beira-mar: o Rio moderno dos anos 20. São Paulo : Companhia das Letras, 2019.

CONY, Carlos Heitor. O Canaval da peste. Folha de São Paulo, 19 de fevereiro de 1996.

COSTA, Ligia Maria Cantarino da;MERCHAN-HAMANN, Edgar. Pandemias de influenza e a estrutura sanitária brasileira: breve histórico e caracterização dos cenários. Rev Pan-Amaz Saude v.7 n.1 Ananindeua, mar. 2016.

Folha de São Paulo

GOULART, Adriana da Costa. Revisitando a espanhola: a gripe pandêmica de 1918 no Rio de JaneiroHist. cienc. saude-Manguinhos v.12 n.1 Rio de Janeiro jan./abr. 2005

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

Incrível História

KOLATA, Gina. Gripea história da pandemia de 1918. Rio de Janeiro : Record, 2002.

NAVA, Pedro. Chão de ferro. Memórias/3. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1976.

O Estado de São Paulo

O Globo

OUTKA, Elizabeth. Viral Modernism: The Influenza Pandemic and Interwar Literature. New York : Columbia University Press, 2020.

Rádio Senado

RODRIGUES, Nelson. A menina sem estrela. São Paulo : Companhia das Letras, 1993.

SANTANA, Rosemeire Siqueira de. Tecendo os fios da memória: um breve ensaio biográfico sobre as educadoras Anália Franco, Neide Mesquita e Laura Amazonas.

SANTOS, Ricardo Augusto dos. O Carnaval, a peste e a espanhola. Hist. cienc. saude-Manguinhos vol.13 no.1 Rio de Janeiro Jan./Mar. 2006

SECCHIN, Antonio Carlos. Melancólico em livro de Bandeira, Carnaval em 1919 foi pura libertinagem. Folha de São Paulo, 22 de junho de 2019.

Site Casa de Rui Barbosa

Site CPDOC

Site Enciclopédia Britânica

Site Fiocruz

Site Gripenet

Site Hipercultura

Site Pixinguinha

Site Standford University

Site WelcomeCollection

Smithsonion Magazine

Suplemento Ofical do Diário Oficial do Estado de Pernambuco

WOOLF, Virginia. Illness: an unexploited mine. In: Forum, abril de 1926, pp.582-590.

Ressaca no Rio de Janeiro invade o porão da casa do fotógrafo Marc Ferrez, em 1913

Há muito tempo as águas de março castigam o Rio de Janeiro. Nas primeiras décadas do século XX, ocorreram várias ressacas na cidade e a Brasiliana Fotográfica destaca duas fotografias produzidas por Augusto Malta (1864 – 1957) e Carlos Bippus (18? – 19?), em 1913, quando, em março, aconteceu uma delas. Um dos bairros mais afetados foi o Flamengo e o porão da casa onde a família de Marc Ferrez (1843 – 1921) morava, na rua Dois de Dezembro – antiga rua Christovão Colombo -, foi inundado destruindo boa parte da tiragem do Álbum da Avenida Central*, um dos mais ambiciosos projetos da carreira do fotógrafo, monumental como a obra de engenharia que representava (O Paiz, 9 de março de 1913; Correio da Manhã, 9 de março de 1913). Cerca de um mês depois da enchente, Ferrez e sua mulher, a francesa Marie Lefebvre (c. 1849 – 1914), embarcaram para a Europa no paquete holandês Zeelandia (O Paiz, 17 de abril de 1913, na quarta coluna) e, no primeiro semestre de 1914, quando retornaram ao Rio de Janeiro, alugaram uma casa na rua Voluntários da Pátria 50, em Botafogo. Terá sido para fugir de possíveis novas ressacas?

 

 

Acessando o link para as fotografias de ressacas ocorridas no Rio de Janeiro no início do século XX disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

 

 

 *O Álbum da Avenida Central

 

capa1

 

Ferrez iniciou pouco antes da inauguração da avenida Central, em 15 de novembro de 1905 (Jornal do Brasil, 16 de novembro de 1905, última coluna), a produção do Álbum da Avenida Central importante registro da reforma da principal via da então capital federal, onde ele contrapôs reproduções das plantas às fotografias das fachadas de cada edifício documentado. Esse tipo de fotografia foi fundamental para a construção e para a difusão de uma nova imagem do Rio de Janeiro, uma imagem associada aos ideais de civilização e progressoEle havia sido contratado pela Comissão Construtora da Avenida Central, que era coordenada por Paulo de Frontin (1860 – 1933), presidente do Clube de Engenharia. O álbum original foi lançado em 1907. As fotos foram realizadas em negativos de grande formato. As dos projetos arquitetônicos foram impressas em zincografia e, as das fachadas de todos os edifícios, em colotipia.

Na época de sua inauguração, a avenida Central tinha 1.800 metros de extensão e 33 metros de largura. Cerca de 300 casas coloniais foram demolidas para a construção dos novos edifícios, cujas fachadas foram escolhidas por concurso. Alguns dos jurados foram o prefeito Pereira Passos (1836 – 1913), responsável pela significativa reforma urbana carioca – o “bota-abaixo” -, que contribuiu para o surgimento do Rio de Janeiro da Belle Époque; o engenheiro Paulo de Frontin (1860 – 1933), Lauro Muller (1863 – 1926), ministro da Viação e Obras Públicas; e Oswaldo Cruz (1872 – 1917), diretor-geral da Saúde Pública. Além de edifícios do governo, ergueram-se, na avenida, jornais, clubes, hotéis e sedes de empresas. O calçamento, em mosaico português, foi feito por artesãos vindos de Portugal. Passear pela avenida Central era passear pela espinha dorsal do mundo das compras e do lazer dos elegantes, dos negócios e da cultura. Alguns remanescentes da primeira geração de prédios da avenida são o Teatro Municipal, o Clube Naval, a Biblioteca Nacional, o Museu Nacional de Belas Artes e o Centro Cultural da Justiça Federal.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

BARROS, Mariana Gonçalves Monteiro de. Marc Ferrez e o Rio de Janeiro do seu tempo. Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-graduação em História Social da Cultura do Departamento de História da PUC-Rio, Rio de Janeiro, setembro de 2006.

CERON, Ileana Pradilla Ceron. Marc Ferrez – uma cronologia da vida e da obra. São Paulo : Instituto Moreira Salles, 2018.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

ERMAKOFF, George. Rio de Janeiro 1840 – 1900 Uma crônica fotográfica. Rio de Janeiro: G. Ermakoff Casa Editorial, 2006.

FERREZ, Gilberto. O Rio Antigo do fotógrafo Marc Ferrez: paisagens e tipos humanos do Rio de Janeiro, 1865-1918. Rio de Janeiro: João Fortes Engenharia/Editora Ex-Libris, 1984.

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002. 408 p., il. p&b.

Rio / Marc Ferrez – São Paulo : IMS; Göttingen: Steidl, 2015

TURAZZI, Maria Inez. Cronologia. In O Brasil de Marc Ferrez – São Paulo : Instituto Moreira Salles, 2005.

 

Publicações da Brasiliana Fotográfica em torno da obra do fotógrafo Marc Ferrez 

 

O Rio de Janeiro de Marc Ferrez, publicada em 30 de junho de 2015

Obras para o abastecimento no Rio de Janeiro por Marc Ferrez , publicada em 25 de janeiro de 2016

O brilhante cronista visual Marc Ferrez (7/12/1843 – 12/01/1923), publicada em 7 de dezembro de 2016

Do natural ao construído: O Rio de Janeiro na fotografia de Marc Ferrez, de Sérgio Burgi, publicada em 19 de dezembro de 2016

No primeiro dia da primavera, as cores de Marc Ferrez (1843 – 1923), publicada em 22 de setembro de 2017

Marc Ferrez , a Comissão Geológica do Império (1875 – 1878) e a Exposição Antropológica Brasileira no Museu Nacional (1882), publicada em 29 de junho de 2018

O quiosque Chopp Berrante no Passeio Público, Ferrez, Malta e Charles Dunlop, publicada em 20 de julho de 2018

Uma homenagem aos 175 anos de Marc Ferrez (7 de dezembro de 1843 – 12 de janeiro de 1923), publicada em 7 de dezembro de 2018 

Pereira Passos e Marc Ferrez: engenharia e fotografia para o desenvolvimento das ferrovias, publicado em 5 de abril de 2019

Fotografia e ciência: eclipse solar, Marc Ferrez e Albert Einstein, publicado em 

Celebrando o fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), publicado em 4 de dezembro de 2019

Uma homenagem da Casa Granado ao casal imperial sob as lentes de Marc Ferrez, publicada em 7 de fevereiro de 2020

Petrópolis, a Cidade Imperial, pelos fotógrafos Marc Ferrez e Revert Henrique Klumb, publicado em 16 de março de 2020

Bambus, por Marc Ferrez, publicado em 5 de junho de 2020

O Baile da Ilha Fiscal: registro raro realizado por Marc Ferrez e retrato de Aurélio de Figueiredo diante de sua obra, publicado em 9 de novembro de 2020

O Palácio de Cristal fotografado por Marc Ferrez, publicado em 2 de fevereiro de 2021

A Estrada de Ferro do Paraná, de Paranaguá a Curitiba, pelos fotógrafos Arthur Wischral e Marc Ferrez, publicado em 22 de março de 2021

Dia dos Pais – Julio e Luciano, os filhos do fotógrafo Marc Ferrez, e outras famílias, publicada em 6 de agosto de 2021

No Dia da Árvore, mangueiras fotografadas por Ferrez e Leuzinger, publicado em 21 de setembro de 2021

Retratos de Pauline Caroline Lefebvre, sogra do fotógrafo Marc Ferrez, publicado em 28 de abril de 2022

O centenário da morte do fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), publicado em 12 de janeiro de 2023

 

Cenas da folia em Manaus em 1913

Com o artigo Cenas da folia em Manaus em 1913, da jornalista Cristiane d´Avila, da Casa de Osvaldo Cruz, uma das instituições parceiras da Brasiliana Fotográfica, o portal destaca fotografias do carnaval na capital do Amazonas no início do século XX. Além da documentação fotográfica das expedições que o Instituto Oswaldo Cruz realizou entre 1910 e 1913 ao Norte, Nordeste e Centro Oeste do Brasil, os fotógrafos que acompanhavam os  cientistas também registraram muitas imagens em cidades e lugarejos por onde passavam, a exemplo das imagens sobre o Carnaval em Manaus, em fevereiro de 1913, realizadas dias antes da partida dos médicos Carlos Chagas (1879 – 1934), Antônio Pacheco Leão (1872 – 1931) e João Pedro de Albuquerque (1874 – 1934) para sua a última viagem ao rio Negro e seu afluente, o Branco, até a fronteira com a Venezuela.

 

Cenas da folia em Manaus em 1913

 Cristiane d’Avila*

 

 

Era um domingo de Carnaval, 2 de fevereiro de 1913. Dali a quatro dias, 6 de fevereiro, os médicos Carlos Chagas, do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), Antônio Pacheco Leão, da Escola de Medicina do Rio de Janeiro, e João Pedro de Albuquerque, da Diretoria Geral de Saúde Pública (DGSP), partiriam para sua a última viagem ao rio Negro e seu afluente, o Branco, até a fronteira com a Venezuela. A rota encerrava a expedição organizada a partir de contrato firmado entre a Superintendência da Defesa da Borracha e Oswaldo Cruz, então diretor do IOC, para avaliar as condições sanitárias dos seringais às margens dos rios Solimões, Tarauacá, Iaco, Negro, Branco, Purus e afluentes.

 

Acessando o link para as fotografias do carnaval em Manaus em 1913 disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Para o governo federal, as endemias que assolavam as populações na Amazônia, em especial a malária, eram o principal obstáculo ao desenvolvimento da economia da borracha. O enfrentamento dessas condições sanitárias seria capaz de fazer frente à concorrência asiática no Ceilão e na Malásia, iniciada após o contrabando de sementes de Hevea brasiliensis realizado, com sucesso, em 1876, sob a liderança do botânico Henry Wickham com patrocínio da Grã-Bretanha. Por essa razão, o Instituto Oswaldo Cruz foi designado para coordenar a comissão, que gerou o Relatório sobre as condições médico-sanitárias do vale do Amazonas, cuja versão final foi assinada por Oswaldo Cruz.

Iniciada em outubro de 1912, a missão científica levou os sanitaristas a percorrerem a geografia fluvial a bordo de um pequeno vapor, equipado com instrumentos e material necessários a seus estudos. Os sanitaristas enviados pelo governo atracavam nos seringais e povoados recolhendo amostras para exames, realizados no precário laboratório a bordo da embarcação. No trajeto, observavam casos clínicos de doenças comuns e até então completamente desconhecidas, anotavam práticas medicinais e modos de habitar das populações daquelas regiões, coletavam insetos suspeitos de transmitir doenças, recolhiam plantas de valor medicinal, entre outras ações de investigação científica. O objetivo era propor medidas de saneamento.

A missão partia sempre de Manaus, então um centro urbano pujante e moderno, enriquecido com a extração e comércio da borracha, exportada em grande escala para fábricas da Europa. A descoberta de processos de impermeabilização e vulcanização (1844) para a transformação industrial da matéria-prima dos seringais numa grande variedade de produtos, e a invenção do pneumático (1890), elevaram a cotação da borracha brasileira no mercado internacional.

Desde a segunda metade do século XIX até a década de 1910, a produção brasileira de borracha representava 61% da produção mundial (dado de 1892) e 50% em 1910. “Estas duas décadas demarcam a época áurea do ciclo da borracha, das grandes fortunas acumuladas por seringalistas, pelos negociantes que controlavam o comércio e a navegação do Amazonas e por toda espécie de aventureiro que pôde tirar proveito da opulência que se instalou em Manaus e em Belém”.

 

 

As fotografias aqui apresentadas foram registradas pelos fotógrafos que acompanhavam os cientistas. Incumbidos de registrar as expedições do IOC de 1910 a 1913 ao Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país, esses profissionais não se atinham ao registro das condições de vida da população interiorana. A serviço da ciência, também produziram muitas imagens sobre as cidades e lugarejos por onde passavam, a exemplo dos registros sobre o Carnaval em Manaus. Os corsos – carros de luxo ornamentados, de onde os foliões jogavam confetes e flores nos passantes e em outros corsos – denotam a elitização da folia na cidade.

 

 

* Cristiane d’Avila é jornalista do Departamento de Arquivo e Documentação Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz

 

Fontes:

 

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. CASA DE OSWALDO CRUZ. A ciência a caminho da roça: imagens das expedições científicas do Instituto Oswaldo Cruz ao interior do Brasil entre 1911 e 1913. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 1992.

VITAL, André Vasques. Carlos Chagas na “guerra dos rios”: a passagem da comissão do Instituto Oswaldo Cruz pelo rio Iaco (Alto Purus, território federal do Acre, 1913). História, Ciências, Saúde-Manguinhos, vol. 25, núm. 1, 20

 

 

Links para artigos sobre carnaval já publicados na Brasiliana Fotográfica

 

Imagem relacionada

O carnaval nas primeiras décadas do século XX, publicado em 5 de fevereiro de 2016

 

 

O carnaval do Cordão da Bola Preta, publicado em 9 de fevereiro de 2018

 

 

As Camélias Japonesas no carnaval de Alagoas pelas lentes do fotógrafo amador Luiz Lavenère Wanderley (1868 – 1966) publicada em 21 de fevereiro de 2020

 

Baile de Carnaval em Santa Teresa – Di Cavalcanti, Klixto e Helios Seelinger, na casa de Raul Pederneiras, publicado em 25 de fevereiro de 2022

 

 

O Rei Momo por Jean Manzon e por outros fotógrafos dos Diários Associados, publicado em 3 de fevereiro de 2023

 

 

Acessando o link para as fotografias de Carnaval disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

Trilhos sobre a floresta: imagens da construção da E.F. Madeira-Mamoré

Fotografias do dossiê “Madeira-Mamoré” do arquivo do sanitarista Belisário Penna (1868 – 1939), sob a guarda da Casa de Oswaldo Cruz, uma das instituições parceiras da Brasiliana Fotográfica, são o tema do artigo da jornalista Cristiane d’Avila. As fotos registram a obra de construção da estrada de ferro, iniciada em 1907 para ligar Porto Velho à Guajará-Mirim, do hospital e do cemitério da Candelária. O conjunto fotográfico aponta uma questão que inquieta arquivistas e pesquisadores: a autoria de fotos históricas. A partir do álbum fotográfico de Dana B. Merril, View of reviews or scenes as seen by Engineers, Tropical tourist, Global Trotters, Knights of fortune and Tramps: Madeira-Mamoré Ry. Brazil, South America, pertencente à Biblioteca Nacional, e da publicação aqui no portal do artigo A construção da Madeira-Mamoré, a “Ferrovia da Morte”, pelas lentes de Dana B. Merrill (c. 1887 – 19?), de autoria de Andrea Wanderley, é possível indagar: seria Dana Merril o autor das fotografias em papel do arquivo de Belisário Penna?

 

Trilhos sobre a floresta: imagens da construção da E.F. Madeira-Mamoré

Cristiane d’Avila*

 

O arquivo de Belisário Augusto de Oliveira Penna (1868-1939), sob a guarda do Departamento de Arquivo e Documentação da Casa de Oswaldo Cruz, reúne cartas, relatórios, artigos e mapas, entre outros documentos referentes à vida pessoal e à trajetória profissional do sanitarista. O material inclui itens de tipologias distintas sobre as campanhas de saneamento rural empreendidas por ele e suas investigações científicas sobre eugenia. Dentre esses itens, dois em especial ganham destaque no arquivo: a série “Fotografias” e o dossiê “Madeira-Mamoré”, com 70 imagens sobre a construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, no início do século XX (séries, subséries e dossiês compõem a nomenclatura da Arquivologia para a organização de arquivos históricos).
A relevância do material se justifica. As fotos registram a monumental obra de construção da estrada de ferro, iniciada em 1907 para ligar Porto Velho à Guajará-Mirim, cortando a floresta amazônica no estado de Rondônia. Para além da qualidade estética das imagens e dos modos de ocupação da floresta ali revelados, o conjunto fotográfico aponta uma questão que inquieta arquivistas e pesquisadores: a autoria de fotos históricas.

 

 

Acessando o link para as fotografias do dossiê Madeira-Mamoré do acervo da Fiocruz disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

As imagens do arquivo de Penna sobre a Ferrovia do Diabo – como ficou conhecida a estrada, em razão dos milhares de mortos por malária, beribéri e outras doenças tropicais durante a sua construção -, estão nesse rol de fotografias históricas de autoria não-identificada. Contudo, um arquivo sob a guarda da Biblioteca Nacional pode elucidar o mistério.

No artigo A construção da Madeira-Mamoré, a “Ferrovia da Morte”, pelas lentes de Dana B. Merrill (c. 1887 – 19?) (1), a editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, Andrea Wanderley, destaca o álbum fotográfico de Merril, View of reviews or scenes as seen by Engineers, Tropical tourist, Global Trotters, Knights of fortune and Tramps: Madeira-Mamoré Ry. Brazil, South America(2). A obra, totalmente digitalizada, revela cenas impressionantes da ocupação da floresta e da construção da Madeira-Mamoré. Segundo Wanderley, especula-se que ele produziu, aproximadamente, dois mil negativos de vidro sobre a ferrovia. A partir dessa informação, é possível indagar: seria Dana Merril o autor das fotografias em papel do arquivo de Belisário Penna?

 

 

Para o pesquisador do Departamento de Arquivo e Documentação da COC, Ricardo Augusto dos Santos, especialista em Belisário Penna (3), provavelmente sim. “Não podemos afirmar categoricamente, mas que outro fotógrafo iria estar naquele momento, naquela região?”. Faz sentido. Afinal, Merril havia sido contratado pelo empresário (também norte-americano) Percival Farquhar (1964-1953), para registrar a construção da ferrovia desde o início dos trabalhos, em 1907.

Acessando o link para as fotografias de autoria de Dana B. Merrill disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

Aqui vale destacar a trajetória de Farquhar no Brasil, em fase de intensa presença do capital norte-americano e europeu no país. Segundo o Centro de Pesquisa e Documentação da Fundação Getúlio Vargas (CPDOC), Farquhar iniciou suas atividades empresariais no Brasil em 1904, fundando a Rio de Janeiro Light & Power, companhia que assumiu concessões de serviços públicos de bondes, iluminação a gás e energia hidrelétrica.

Em 1905, começou a investir na Amazônia. Fundou a Brazil Railway Company (1906), a fim de construir um sistema ferroviário interligando a América do Sul. Em 1907, obteve a concessão para construir a Madeira-Mamoré. Para melhorar a navegação no rio Amazonas e, assim, aumentar a lucratividade do porto de Belém, administrado pela Port of Pará, da qual era proprietário, constituiu a Companhia de Navegação da Amazônia. Seu império no Brasil incluiu, além de ferrovias e portos, exploração de madeira, criação de gado e mineração, nos estados do Sul, Minas Gerais, São Paulo e região Norte (4).

 

 

Voltando ao arquivo fotográfico, Penna e Oswaldo Cruz prestaram consultoria a Farquhar para combater a malária na Madeira-Mamoré. Durante um mês, no ano de 1910, permaneceram em Porto Velho estudando as condições sanitárias na região e propuseram um plano para o combate à doença, que prescrevia o uso diário e compulsório de quinina, plano este plenamente aplicado por Farquhar. Inaugurada em 1912 com 364 quilômetros de extensão, a Ferrovia do Diabo ceifou a vida de um operário a cada dormente assentado, conforme se propagou na época, e foi sucateada até sua final desativação, em 1972.

Cruz e Belisário não testemunharam o fracasso do empreendimento majestoso, mas as 14 imagens selecionadas e disponibilizadas na Brasiliana Fotográfica registram o que provavelmente os olhos dos sanitaristas observaram: o avanço da engenharia humana sobre a opulenta floresta e os danos devastadores causados pelas doenças, como também as conquistas da ciência e das pesquisas biomédicas no processo de modernização do Brasil na Primeira República (1889-1930).

 

Mais sobre a ferrovia:

Com 364 quilômetros de extensão entre Porto Velho e Guarajá-Mirim, a Madeira-Mamoré foi inaugurada em 30 de abril de 1912. Sua rentabilidade logo seria abalada pela crise do principal produto de exportação da Amazônia, a borracha. Os seringais de Ceilão, Malásia, Sumatra, Java e Bornéus, organizados de maneira mais produtiva e racional pelos ingleses e holandeses, logo alcançaram o patamar brasileiro de produção. A ferrovia foi inaugurada no último ano em que a exportação brasileira de borracha superou a do Oriente. No mesmo ano a Madeira Mamoré Railway apresentou ao governo os custos finais da construção da ferrovia, em dinheiro e vidas. Dos 21.817 trabalhadores contratados, 1.552 morreram no Hospital da Candelária, excluindo-se dessa cifra os que tombaram ao longo da linha, os não contratados (tarefeiros) e aqueles que faleceram nos hospitais de Belém, Manaus ou mesmo em seus países de origem. Ferreira (2005, p.301, 302) estimou o total de mortos em 6.208 pessoas (5).

 

Notas:

1 – WANDERLEY, Andrea. A construção da Madeira-Mamoré, a “Ferrovia da Morte”, pelas lentes de Dana B. Merrill (c. 1887 – 19?)publicado na Brasiliana Fotográfica em 16 de janeiro de 2018 - https://brasilianafotografica.bn.gov.br/?p=10460

2 – View of reviews or scenes as seen by Engineers, Tropical tourist, Global Trotters, Knights of fortune and Tramps: Madeira-Mamoré Ry. Brazil, South America – http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_iconografia/icon596245/icon596245.pdf – Acervo da Biblioteca Nacional, uma das fundadoras da Brasiliana Fotográfica

3 – SANTOS, Ricardo Augusto dos. O sanitarista Belisário Penna (1868-1939), um dos protagonistas da história da saúde pública no Brasil, publicado na Brasiliana Fotográfica em 28 de setembro de 2018 – https://brasilianafotografica.bn.gov.br/?p=12777. Sobre Penna, ver também SANTOS,Ricardo Augusto dos. O Plano de Educação Higiênica de Belisário Santos – 1900 -1930Dynamis, 2012, vol. 32, nº 1 – pag 45-68. http://scielo.isciii.es/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0211-95362012000100003

4 – https://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/FARQUHAR,%20Percival.pdf

5 – BENCHIMOL, Jaime Larry; SILVA. André Filipe Cândido da. Ferrovias, doenças e medicina tropical no Brasil da Primeira República. História, Ciências, Saúde – Manguinhos,  vol.15,  no.3, pág 719 – 762, julho/setembro de 2008 – http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-59702008000300009

 

*Cristiane d’Avila  é jornalista do Departamento de Arquivo e Documentação Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz

 

Fotografias idênticas no álbum de Dana Merril, do acervo da Biblioteca Nacional, e no arquivo de Belisário Penna,

do acervo da Casa de Oswaldo Cruz, disponíveis na Brasiliana Fotográfica

Andrea C. T. Wanderley**

 

Cemitério da Candelária

 

 

Farmácia

Thumbnail

Dana B. Merrill. [Construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré] : boticário, 1907/1912. Amazônia / Acervo Fundação Biblioteca Nacional

**Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica

A descoberta da doença de Chagas

No último mês de maio, a Organização Mundial da Saúde instituiu o dia 14 de abril como Dia Internacional da Doença de Chagas. É a história de sua descoberta pelo médico e jovem pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz, Carlos Chagas, contada por Simone Petraglia Kropf, historiadora e pesquisadora da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, uma das instituições parceiras da Brasiliana Fotográfica, que o portal publica hoje. Segundo Simone: Carlos Chagas expressou de modo exemplar um projeto de ciência e de nação cujos princípios balizam até hoje a Fundação Oswaldo Cruz: a aliança entre excelência acadêmica e compromisso social.

 

A descoberta da doença de Chagas 

Simone Petraglia Kropf *

 

 

Em abril de 1909, os jornais da recém-reformada capital federal anunciavam com orgulho um “grande feito” da ciência brasileira: a descrição, por um mesmo pesquisador, de uma nova doença tropical, do parasito que a causava e do inseto que a transmitia. Na jovem república brasileira, a descoberta foi celebrada como emblema das contribuições inovadoras que o país era capaz de proporcionar à chamada “época de ouro” da medicina tropical européia, marcada por estudos que vinham mudando substancialmente a compreensão das doenças parasitárias transmitidas por vetores.

O autor da “tripla descoberta” era um médico e jovem pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), criado em 1900 como Instituto Soroterápico Federal para produzir soros e vacinas contra uma epidemia de peste bubônica que ameaçava atingir a cidade do Rio de Janeiro. Sob a liderança de Oswaldo Cruz (que havia se notabilizado por comandar as campanhas de saneamento da capital federal no governo de Rodrigues Alves), o também chamado Instituto de Manguinhos vinha ampliando suas atividades de modo a se tornar um centro de excelência na pesquisa e no ensino em microbiologia e medicina tropical.

Acessando o link para as fotografias relativas a Carlos Chagas e à doença de Chagas disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

Carlos Chagas, formado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1903, era um especialista em malária, tema de sua tese de doutoramento (para a conclusão do curso médico) que desenvolveu sob a orientação de Oswaldo Cruz em Manguinhos. O caminho que o levou à descoberta da doença que leva seu nome está diretamente ligado à sua trajetória como pesquisador no campo da medicina tropical. Em junho de 1907, ele foi designado por Oswaldo Cruz, diretor da saúde pública federal, para combater uma epidemia de malária que paralisava as obras de prolongamento da Estrada de Ferro Central do Brasil em Minas Gerais, na região do rio das Velhas, entre Corinto e Pirapora. Aquela era uma obra emblemática do projeto de modernização republicana. Enquanto coordenava a campanha de profilaxia na pequena cidade de Lassance, onde se construía uma estação da ferrovia, Chagas costumava coletar espécies da fauna brasileira, motivado por seu crescente interesse pela entomologia e pela protozoologia. Por intermédio do chefe da comissão de engenheiros, Cornélio Homem Cantarino Mota, tomou conhecimento de um percevejo hematófago muito comum na região, conhecido vulgarmente como barbeiro pelo hábito de picar o rosto de suas vítimas enquanto dormiam. Esses triatomíneos eram abundantes nas casas de pau-a-pique da região típicas da população pobre das áreas rurais.

 

 

Sabendo da importância dos insetos sugadores de sangue como transmissores de doenças parasitárias, Chagas examinou alguns barbeiros e encontrou neles um protozoário. Por não dispor em Lassance de condições experimentais para avançar neste estudo, enviou alguns insetos a Oswaldo Cruz, em Manguinhos. Depois de experiências com saguis criados em laboratório, Chagas concluiu que se tratava de uma nova espécie de tripanossoma, que batizou então de Trypanosoma cruzi, em homenagem ao mestre. As doenças causadas por tripanossomas (como a tripanossomíase africana ou doença do sono) eram temas de grande interesse na medicina tropical européia, impulsionada pelo empreendimento colonialista.

De volta a Lassance, Chagas realizou exames de sangue nos moradores e, no dia 14 de abril de 1909, encontrou o Trypanosoma cruzi no sangue de uma criança febril, chamada Berenice. Em nota enviada ao Brasil Médico, uma das principais revistas médicas do país, anunciou a descoberta, que seria também comunicada mediante publicações em revistas estrangeiras. A imprensa daria destaque ao episódio e o próprio Oswaldo Cruz apresentaria a descoberta na Academia Nacional de Medicina.

 

 

Os estudos sobre a nova doença ganharam centralidade na pauta de pesquisa do Instituto Oswaldo Cruz e mobilizaram vários cientistas, sob a condução de Chagas, que passou a assumir posições importantes na instituição, da qual viria a tornar-se diretor em 1917 por ocasião do falecimento de Oswaldo Cruz. Chagas se tornaria igualmente reconhecido pela comunidade científica internacional, recebendo inúmeros prêmios e sendo indicado ao Nobel de medicina em 1913 e 1921.

Além de sua importância para a agenda científica, a doença de Chagas tornou-se, desde o início, um tema de destaque nos debates políticos sobre os problemas e rumos da nação brasileira. Carlos Chagas afirmava que aquela era uma descoberta que descortinava não apenas uma nova enfermidade e um novo problema de saúde pública, mas um Brasil até então desconhecido e abandonado: o Brasil dos sertões. Segundo ele, o tão propalado “atraso” do país era consequência não do clima tropical ou da composição racial de sua população, como muitos defendiam, mas das doenças endêmicas que assolavam as populações rurais. Nesse sentido, a “nova doença” se fazia um emblema da capacidade da ciência de, ao identificar e estudar tais problemas, indicar os caminhos concretos para superá-los e promover o tão ansiado ingresso do país no “rol das nações civilizadas”.

Chagas se tornou uma liderança do movimento em prol do saneamento rural do Brasil, que, a partir de meados da década de 1910, reuniria médicos, cientistas, intelectuais e políticos em torno da reivindicação de que o Estado ampliasse sua capacidade de implementar políticas e serviços de saúde pública, tendo em vista sobretudo atender as populações das áreas rurais. Tal bandeira seria empunhada por Chagas tanto como diretor do Departamento Nacional de Saúde Pública quanto em sua atuação com professor da cadeira de medicina tropical, no âmbito da qual defendia com veemência a importância do estudo e do enfrentamento das endemias ruais, que chamava de as “doenças do Brasil”.

 

 

Como cientista, gestor e professor, Carlos Chagas expressou de modo exemplar um projeto de ciência e de nação cujos princípios balizam até hoje a Fundação Oswaldo Cruz: a aliança entre excelência acadêmica e compromisso social.

Em maio de 2019, a Organização Mundial da Saúde instituiu o dia 14 de abril como Dia Internacional da Doença de Chagas. Ao dar visibilidade e chamar a atenção para a importância das chamadas doenças negligenciadas (e, sobretudo, das pessoas por elas afetadas), esta é uma homenagem que nos leva a refletir sobre a atualização do legado deste cientista, expresso na própria Constituição Federal de 1988: “saúde como direito de todos e dever do Estado”. Ao celebrarmos os 110 anos da descoberta da doença de Chagas, a defesa veemente da ciência, da saúde pública, da educação e da democracia é o que deve nos unir em nome da memória e das lutas dos que construíram esta história.

 

Para saber mais:

 

BENCHIMOL, Jaime L. Manguinhos do sonho à vida: a ciência na Belle Époque. Rio de Janeiro: Casa de Oswaldo Cruz, 1990.

KROPF, Simone P. Carlos Chagas e as doenças do Brasil. In: HOCHMAN, Gilberto; LIMA, Nísia Trindade. Médicos intérpretes do Brasil. São Paulo: Hucitec, 2015, p. 194-222.

KROPF, Simone P. Doença de Chagas, doença do Brasil: ciência, saúde e nação (1909-1962). Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2009.

KROPF, Simone P.; LACERDA, Aline. Carlos Chagas, um cientista do Brasil. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2009 (edição bilíngue).

KROPF, Simone P. SÁ, Magali R. The discovery of Trypanosoma cruzi and Chagas disease (1908-1909): tropical medicine in Brazil. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, v.16, suplemento, p.13 -34, 2009.

KROPF, Simone P. Carlos Chagas e os debates e controvérsias sobre a doença do Brasil (1909-1923). História, Ciências, Saúde-Manguinhos, v.16, suplemento 1, p.205-227, 2009.

 

*Simone Petraglia Kropf é historiadora e pesquisadora da Casa de Oswaldo Cruz e professora do Programa de Pós-graduação em História das Ciências e da Saúde da COC.

 

Breve cronologia de Carlos Chagas (1878 – 1934)

Andrea C. T. Wanderley

 

 

1878 - Nascimento de Carlos Justiniano Ribeiro Chagas, em 9 de julho, na Fazenda do Bom Retiro, a cerca de 20 quilômetros de Oliveira, cidade mineira. Era filho de José Justiniano Chagas e Mariana Candida Ribeiro de Castro.

 

 

1883 - Ficou órfão de pai.

1887 – Foi matriculado no Colégio São Luís, um dos mais importantes estabelecimentos de ensino do Brasil no século XIX, dirigido por jesuítas em Itu, interior de São Paulo.

1888 – Em maio, informado que escravos recém-libertados estariam depredando fazendas, Carlos Chagas fugiu do colégio e foi ao encontro de sua mãe. A indisciplina causou sua expulsão do São Luís. Foi então transferido para o Ginásio São Francisco, em São João del-Rei, Minas Gerais.

1895 / 1897 - Sua mãe decidiu que ele deveria estudar Engenharia e Chagas ingressou no curso preparatório da Escola de Minas de Ouro Preto. Foi reprovado e voltou para Oliveira. Com a ajuda de seu tio médico, o tio Calito, conseguiu convencer sua mãe, e mudou-se para o Rio de Janeiro para estudar Medicina.

1897 – Em 13 de abril, ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Dois professores foram muito importantes durante sua formação acadêmica: Miguel Couto (1865-1934), de quem se tornou amigo pessoal; e Francisco Fajardo (1864-1906), pioneiro da microbiologia no Brasil, em cujo laboratório, na Santa Casa de Misericórdia, Chagas iniciou-se nas pesquisas sobre a malária.

1901 – Íris Lobo (1882 – 1950), futura esposa de Carlos Chagas, foi uma das portadoras de listas para arrecadação de fundos para a celebração de uma missa – iniciativa dos alunos da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro –  em memória das vítimas de um episódio de violência policial na cidade durante manifestação popular contra o aumento de preço de passagens de bondes (Jornal do Brasil, 20 de junho de 1901, quinta coluna; e Jornal do Brasil, 21 de junho de 1901, primeira coluna).

Chagas foi um dos estudantes de Medicina que se envolveu na campanha de obtenção de recursos para a construção de uma estátua em homenagem ao recém-falecido médico baiano Francisco de Castro (1857 – 1901) (O Paiz, 22 de outubro, quarta coluna).

1902 – Para elaborar sua tese de doutoramento, indispensável para a conclusão do curso médico, passou a frequentar a Instituto Soroterápico Federal – também conhecido como Instituto de Manguinhos -, sob a orientação de seu diretor, o médico Oswaldo Cruz (1872 – 1917).

Como presidente do Grêmio dos Internos dos Hospitais do Rio de Janeiro fez a apresentação da primeira revista da associação (Brazil-Medico, 1º de agosto de 1902O Paiz, 12 de setembro de 1902, penúltima coluna).

Com frases entusiásticas, Carlos Chagas fez uma apologia aos méritos do professor e médico alemão Rudolf Virchow (1821 -1902), recém-falecido, durante uma sessão solene promovida pelo Grêmio dos Internos dos Hospitais do Rio de Janeiro, na biblioteca do Hospital de Misericórdia (Brazil-Medico, 1º de setembro de 1902).

Era um dos doutorandos de 1902 da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Uma curiosidade: havia apenas uma mulher entre os doutorandos, Evarista de Sá Peixoto (O Malho, 10 de janeiro de 1903).

 

 

1903 - Defendeu, em 12 de maio, a tese Estudos hematológicos no impaludismo. Foi aprovado e, dois dias depois, colou grau de doutor em Medicina na Faculdade do Rio de Janeiro.

Oswaldo Cruz o convidou para trabalhar em Manguinhos, mas por sentir-se atraído pela prática da clínica médica, Chagas recusou o convite.

1904 - Em crítica publicada sobre a tese Estudos hematológicos no impaludismo, considerada brilhante, Chagas foi referido como um cientista a que o futuro não negará as glórias a que vem fazendo direito (Brazil-Medico, 1º de janeiro de 1904).

Em março, foi nomeado médico da Diretoria Geral de Saúde Pública e foi trabalhar no Hospital de Jurujuba, em Niterói (RJ), onde pacientes com suspeita de peste bubônica que chegavam em navios eram colocados em quarentena e sob cuidados médicos (Almanak Laemmert, 1905).

Trabalhava no Instituto Soroterápico Federal com Antônio Cardoso Fontes (1879 – 1943), Ezequiel Dias (1880 – 1922), Henrique de Figueiredo Vasconcellos (1873 – 1948) e Henrique da Rocha Lima (1879 – 1956) (Almanak Laemmert, 1905).

Seu nome constava na lista de médicos do Hospital São Sebastião, dirigido por Carlos Pinto Seidl e localizado na Praia do Retiro Saudoso, nº 27, Ponta do Caju (Almanak Lammert de 1905).

Instalação de seu consultório particular na rua da Assembléia, no centro do Rio de Janeiro.

Casou-se com Íris Lobo (1882 – 1950 ), filha do senador mineiro e presidente do Banco de Crédito Real de Minas, Fernando Lobo Leite Pereira (1851-1918), que conheceu por intermédio de seu antigo professor e amigo Miguel Couto que, assim como seu grande amigo, o médico Luiz Almada Horta, foi seu padrinho de casamento (O Pharol, 23 de julho de 1904, quarta coluna).

 

 

1905 - Em 10 de agosto, nascimento do primeiro filho de Chagas e Íris, o futuro cientista e médico Evandro Chagas (1905 – 1940). Na edição de 7 de outubro da revista O Malho, foi publicado o poema Mãe que Violeta Carneiro de Melo dedicou a Íris.

A Companhia Docas de Santos solicitou a Oswaldo Cruz, diretor geral de Saúde Pública, providências para combater uma epidemia de malária entre os trabalhadores que construíam uma hidrelétrica em Itatinga, São Paulo. Carlos Chagas foi comissionado para coordenar a campanha.

1906 - Viajou para Juiz de Fora, em Minas Gerais, com o médico Alcides Godoy (1880 – 1950) e com outros para executar os testes finais da vacina da manqueira.

1907 - Ele e o sanitarista e médico baiano Arthur Neiva (1880 – 1943) foram enviados por Oswaldo Cruz a Xerém, na Baixada Fluminense, para combater uma epidemia de malária (O Paiz, 14 de maio de 1907, terceira coluna; O Paiz, 1º de julho de 1908).

O primeiro busto oficial de Pasteur, há bem pouco chegado ao Brasil, é hoje propriedade do dr. Carlos Chagas, ilustrado e esperançoso bacteriologista da diretoria de saúde, por delicada e significativa oferta eminente e operosíssimo dr Sampaio Correia, atual inspetor geral de Obras Públicas…gratidão que traduz pelos inestimáveis serviços prestados por Carlos Chagas (O Paiz, 17 de junho de 1907. segunda coluna).

Carlos Chagas estava presente à inauguração do Instituto Soroterápico de Belo Horizonte, filial de Manguinhos, sob a direção de Ezequiel Dias (1880 – 1922), seu colega de turma na Faculdade de Medicina (1880 – 1922) (O Paiz, 4 de agosto de 1907, segunda coluna).

1907/1908 – Em 6 de junho de 1907, Chagas partiu para o norte de Minas Gerais, em uma terceira campanha contra a malária com o médico Belisário Penna (1868-1939), também da Diretoria Geral de Saúde Pública, para combater uma epidemia de malária que paralisava as obras de prolongamento da Estrada de Ferro Central do Brasil em Minas Gerais, na região do rio das Velhas, entre Corinto e Pirapora (O Paiz, 7 de junho de 1907, quinta coluna).

 

 

Aquela era uma obra emblemática do projeto de modernização republicana. Chagas costumava coletar espécies da fauna brasileira e, pelo chefe da comissão de engenheiros, Cornélio Homem Cantarino Mota, tomou conhecimento de um percevejo hematófago muito comum na região, conhecido como barbeiro pelo hábito de picar o rosto de suas vítimas enquanto dormiam. Esses percevejos eram muito comuns nas casas de pau-a-pique da região – habitações típicas da população pobre das áreas rurais. Chagas examinou alguns barbeiros e encontrou neles um protozoário. Por não dispor em Lassance de condições experimentais para avançar neste estudo, enviou alguns insetos a Oswaldo Cruz, em Manguinhos. Depois de experiências com saguis criados em laboratório, Chagas concluiu que se tratava de uma nova espécie de tripanossoma, que batizou então de Trypanosoma cruzi, em homenagem ao mestre.

 

 

1908 - Nomeação de Carlos Chagas como pesquisador assistente do Instituto Oswaldo Cruz, em 20 de março. Eram também assistentes Alcides Godoy  (1880 – 1950), Antônio Cardoso Fontes (1879 – 1943), Arthur Neiva (1880 – 1943), Ezequiel Dias (1880 – 1922) e Henrique Aragão (1879 – 1956). Os chefes de serviço eram Henrique de Figueiredo Vasconcellos (1873 – 1948) e Henrique da Rocha Lima (1879 – 1956) (Almanak Laemmert, 1909).

Em 17 de dezembro, redigiu a nota-prévia anunciando a descoberta do Trypanosoma cruzi, publicada na revista alemã Archiv für Schiffs-und Tropen-Hygiene, em 1909.

1909 – De volta a Lassance, Chagas realizou exames de sangue nos moradores e, no dia 14 de abril de 1909, encontrou o Trypanosoma cruzi no sangue de uma criança febril, chamada Berenice. Anunciou a descoberta em nota publicada em uma das principais revistas médicas do Brasil, o Brazil-Medico, de 22 de abril de 1909 (O Paiz, 22 de maio de 1909, segunda coluna).

 

 

Em 22 de abril, Oswaldo Cruz anunciou formalmente à Academia Nacional de Medicina a descoberta por Carlos Chagas da doença de Chagas. Estavam presentes à sessão, concorridísima, o marechal Hermes da Fonseca (1855 – 1923), futuro presidente do Brasil; e os generais Luiz Mendes de Morais (1850 – 1914) e Antônio Geraldo de Souza Aguiar (? – 1915) (O Paiz, 23 de abril de 1908, quarta coluna; e O Paiz, 3 de maio de 1909).

Na Revista Syniatica, publicação de um artigo de Carlos Chagas sobre sua descoberta do Trypanosoma cruzi (O Paiz, 26 de maio de 1909, última coluna).

Tornou-se membro da Sociedade de Medicina da Bahia e da Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro.

1910 - Em 1º de junho, foi nomeado chefe de serviço do Instituto Oswaldo Cruz.

Em 12 de setembro, nascimento do segundo filho de Chagas e Íris, o futuro médico, cientista e membro da Academia Brasileira de Letras, Carlos Chagas Filho (1910 – 2000).

Foi nomeado membro titular da Academia Brasileira de Medicina (ABM), em 26 de outubro, quando fez uma conferência sobre o Trypanosoma cruzi. Como não havia vagas na época, sua admissão foi aceita em caráter de excepcionalidade (O Paiz, 27 de outubro de 1910, terceira coluna; e O Paiz, 31 de outubro de 1910, quarta coluna). É o patrono da cadeira nº 86 e foi saudado por Miguel da Silva Perreira (1897 – 1918), na ocasião, presidente da ABM.

 

 

1911 – A Doença de Chagas despertou grande interesse durante a Exposição Internacional de Higiene e Demografia, em Dresden, na Alemanha. O filme Chagas em Lassance, de 9 minutos, foi exibido por Oswaldo Cruz durante o evento. O pavilhão do Brasil, único país das Américas a construir um estande próprio no evento, foi inaugurado em 15 de junho (O Paiz, 16 de junho de 1911, quinta coluna). Segundo o historiador Eduardo Thielen, que escreveu a dissertação Imagens da saúde no Brasil – A fotografia na institucionalização da saúde pública, o fotógrafo Joaquim Pinto da Silva, conhecido como J. Pinto (1884 – 1951) teria sido possivelmente o autor do primeiro filme científico feito no Brasil, justamente Chagas em Lassance (Agência Fiocruz, 15 de agosto de 2008). J. Pinto produziu um expressivo número de fotografias do acervo da Fundação Oswaldo Cruz : milhares de imagens, documentando os trabalhos científicos, os primeiros prédios e as transformações urbanas da região onde seria construído o centro de pesquisa, ensino e produção de medicamentos.

Na Academia Brasileira de Medicina, realização de uma palestra de Chagas sobre a doença de Chagas (O Século, 5 de agosto de 1911, segunda coluna; e O Malho, 12 de agosto de 1911).

 

 

Na mesma edição de O Malho em que foi publicada a foto acima, a revista fez uma sátira aos políticos usando a descoberta de Chagas (O Malho, 12 de agosto de 1911).

 

 

Publicação de um retrato do cientista Carlos Chagas (1878 – 1934), produzido na Photographia Guimarães, do fotógrafo português José Ferreira Guimarães (1841 – 1924) (A Noite, 8 de agosto de 1911).

1912 – Recebeu o Prêmio Schaudinn, pelo Instituto de Doenças Marítimas e Tropicais de Hamburgo, na Alemanha (O Século, 29 de junho de 1912, quarta coluna).

1912 / 1913 -  Carlos Chagas, Pacheco Leão (1872 – 1931) e João Pedro de Albuquerque (1874 – 1934) realizaram uma expedição para avaliar as condições sanitárias e de vida dos principais centros de produção da borracha através dos rios Solimões, Juruá, Purus, Acre, Iaco, Negro e o baixo rio Branco, em expedição requisitada pela Superintendência da Defesa da Borracha. Em relatório ao Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, foi ressaltada a situação de abandono médico e social em que viviam as populações amazônicas e enfatizada a necessidade de medidas sanitárias para a viabilização do desenvolvimento econômico da região (O Paiz, 5 de maio de 1913, última coluna).

 

 

1913 - Carlos Chagas foi, pela primeira vez, indicado ao Nobel de Medicina. O vencedor foi o francês Charles Robert Richet (1850 – 1935), que descreveu a anafilaxia. A indicação foi feita pelo médico baiano Manuel Augusto Pirajá da Silva (1873 – 1961), professor de parasitologia na Faculdade de Medicina da Universidade da Bahia e responsável por ter identificado, em 1908, o verme adulto do Schistosoma mansoni.

No Palácio Monroe, durante a Exposição Nacional da Borracha, Carlos Chagas fez uma conferência sobre as condições médico-sanitárias na Amazônia (O Paiz, 13 de outubro de 1913O Paiz, 25 de outubro de 1913).

O governador de Minas Gerais, Júlio Bueno Brandão (1858 – 1931), e sua comitiva visitaram o Hospital de Lassance para conhecer os estudos do mal de Chagas e foram recebido por Carlos Chagas e seus auxiliares (O Paiz, 10 de novembro de 1913, segunda coluna).

1915 – Publicação no periódico La Prensa Médica Argentina de um trabalho do microbiologista austríaco e diretor do Instituto Bacteriológico de Buenos Aires, Rudolf Kraus (1868-1932), de Carlos F. Maggio e de Francisco Rosenbusch (1887 – 1969) questionando os enunciados de Chagas sobre a correlação entre o bócio e a doença de Chagas.

1916 – Carlos Chagas participou do  Primeiro Congresso Médico Argentino, realizado em Buenos Aires, inaugurado em 17 de  setembro e encerrado em 24 de setembro (A Época, 11 de setembro de 1916, terceira coluna; A Época, 18 de setembro de 1916, quinta coluna; e O Paiz, 25 de setembro de 1916, segunda coluna). Poucos dias antes da abertura do congresso, esteve no Instituto Bacteriológico de Buenos Aires, onde foi recebido por Rudolf Kraus (O Paiz, 13 de setembro de 1916, última coluna). Esteve presente também à inauguração da Sociedade de Higiene, Microbiologia e Patologia, no Instituto Bacteriológico de Buenos Aires (O Paiz, 20 de setembro de 1916, última coluna). Na Universidade de Medicina de Buenos Aires, Chagas fez uma conferência sobre a doença de Chagas (O Paiz, 21 de setembro de 1916, quarta coluna).

Tornou-se membro da Sociedade Brasileira de Ciências, posteriormente denominada Academia Brasileira de Ciências.

1917 - Com o falecimento de Oswaldo Cruz (O Paiz, 13 de fevereiro de 1917), Chagas foi nomeado diretor de Manguinhos, em 14 de fevereiro (O Paiz, 15 de fevereiro de 1917, quinta coluna). No campo da pesquisa, sua administração privilegiou a investigação das causas e dos aspectos epidemiológicos e clínicos das endemias rurais. Foi responsável também pela criação de seções científicas, definidas por áreas de conhecimento, com as quais pretendia estabelecer uma divisão de trabalho mais nítida no Instituto. Na área de ensino, ampliou o programa dos Cursos de Aplicação do Instituto. Quanto à área de produção, Chagas diversificou a pauta de medicamentos e produtos biológicos fabricados em Manguinhos – alguns desenvolvidos pelos próprios pesquisadores – e estimulou a sua comercialização, fortalecendo a renda da instituição. A partir de 1920, o Instituto assumiu também a responsabilidade pelo controle da qualidade dos produtos utilizados na medicina humana no país, nacionais ou importados.

1918 – Em Manguinhos, organizou o Serviço de Medicamentos Oficiais, criado por decreto federal com o objetivo de produzir e fornecer, gratuitamente ou a preços subsidiados, a quinina (profilático e terapêutico para a malária) e outros medicamentos.

Inaugurou, em outubro, o Hospital Oswaldo Cruz, nas dependências do Instituto Oswaldo Cruz,  destinado à internação de portadores de doenças infecciosas e também à pesquisa clínica sobre tais enfermidades (A Noite, 15 de agosto de 1918, quarta colunaJornal do Brasil, 9 de outubro de 1918, última coluna; e Gazeta de Notícias, 28 de março de 1919). Em 1942, passaria a ser chamado de Hospital Evandro Chagas (Diário de Notícias, 13 de novembro de 1942, quinta coluna).

Foi o responsável pela coordenação dos serviços de atendimento hospitalar e de socorro domiciliar durante a epidemia de gripe espanhola no Rio de Janeiro. Ele e o médico Fernando de Magalhães (1878 – 1944) recusaram qualquer tipo de remuneração pelo trabalho realizado (O Paiz, 20 de outubro de 1918, quinta coluna, O Paiz, 22 de outubro de 1918, última coluna; O Paiz, 23 de outubroO Paiz, 15 de novembro de 1918, primeira colunaO Paiz, 17 de novembro de 1918, terceira coluna).

1919 – Em 4 de outubro, tomou posse, tendo sido nomeado pelo presidente Epitácio Pessoa (1865 – 1942), na Diretoria Geral de Saúde Pública, que passou a chamar-se, em janeiro do ano seguinte, Departamento Nacional de Saúde Pública. Durante sua gestão, até 1926, o novo órgão foi responsável, mediante convênio com os estados, pela ampliação e criação de serviços de saúde no interior do país, com especial foco na profilaxia e no combate às endemias rurais. Implementou também medidas relativas à higiene pública criando um extenso Código Sanitário, responsável pela organização e modernização da legislação sanitária no Brasil (O Paiz, 5 de outubro de 1919, primeira coluna).

Alguns médicos brasileiros questionaram a definição clínica da doença de Chagas e, sobretudo, a importância social da tripanossomíase americana.

Carlos Chagas tornou-se membro da Sociedade Americana de Medicina Tropical.

1920 - Tornou-se Membro do Conselho Médico da Liga das Sociedades da Cruz Vermelha e Cavaleiro da Ordem da Coroa da Itália.

Carlos Chagas e seus assistentes receberam os reis da Bélgica, Alberto I (1875 – 1934) e Elizabeth (1876 – 1965), e o presidente Epitácio Pessoa (1865 – 1942), no Instituto Oswaldo Cruz (O Paiz, 26 de setembro de 1920).

 

 

1921 - Na Biblioteca Nacional, Chagas proferiu a conferência sobre A nova orientação dos serviços sanitários no Brasil (Jornal do Commercio, 5 de fevereiro de 1921, sexta coluna).

Em 23 de junho, tornou-se o primeiro brasileiro nomeado Doutor Honoris Causa, da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.

Nesse ano não houve vencedor na categoria Medicina do Prêmio Nobel. Chagas havia sido indicado à láurea por Hilário de Gouvêia (1843-1923), professor de oftalmologia e otorrinolaringologia na Faculdade de Medicina da Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro.

1922 – Tornou-se Doutor Honoris Causa da Universidade Nacional de Buenos Aires.

Teve início, na Academia Nacional de Medicina uma acirrada polêmica em torno da definição clínica da doença de Chagas e, sobretudo, da importância social da tripanossomíase americana Os críticos de Chagas, liderados por Julio Afrânio Peixoto (1876-1947), catedrático de higiene da Faculdade de Medicina da Universidade do Rio de Janeiro, afirmavam que a doença não seria um flagelo nacional já que, segundo eles, sua ocorrência era restrita à região de Lassance. Também questionaram a patogenicidade do Trypanosoma cruzi e a autoria de sua descoberta, que, segundo alguns, caberia não a Chagas mas a Oswaldo Cruz (O Paiz, 21 de dezembro de 1922, primeira coluna).

1923 – Tornou-se presidente da Sociedade Brasileira de Higiene, fundada no ano anterior (O Jornal, 29 de setembro de 1921, quinta coluna; O Jornal, 22 de dezembro de 1922, quarta coluna; e O Jornal, 11 de janeiro de 1923, segunda coluna).

Na Europa participou da sessão de abertura dos trabalhos do Comitê de Saúde das Nações Unidas, do qual era membro. Na ocasião, foi convidado para integrar a equipe encarregada pela elaboração das bases da Organização Permanente de Higiene Internacional.  Posteriormente, participou como chefe da comissão brasileira na Conferência Comemorativa sobre o Centenário de Louis Pasteur, realizado em Paris e em Estrasburgo. Ganhou o Prêmio Hors-Concours (O Jornal, 31 de maio de 1923, segunda coluna; e Correio da Manhã, 21 de agosto de 1923).

Foi agraciado com os títulos de Comendador da Coroa da Bélgica e de Cavaleiro da Ordem Nacional da Legião de Honra da França.

Promoveu a criação do Instituto Franco-Brasileiro de Alta Cultura e a fundação da Sociedade de Biologia do Rio de Janeiro, filiada à Sociedade de Biologia de Paris.

Carlos Chagas solicitou ao Ministério da Justiça a renovação da Patente da vacina da manqueira por mais 15 anos. Foi o segundo produto que obteve no Brasil a renovação da Patente, fato só ocorrido anteriormente pela Fornicída Matarazzo.

Com discursos dos médicos Clementino Fraga (1880 – 1971) e Parreiras Horta (1884 – 1961), realização de uma sessão em torno da Moléstia de Chagas (O Paiz, 23 de novembro de 1923, quarta coluna). O parecer oficial da Academia Nacional de Medicina em relação à polêmica envolvendo a Doença de Chagas reiterou os méritos de Carlos Chagas porém não se posicionou quanto à questão da definição clínica e da extensão geográfica da enfermidade. Em 6 de dezembro, Chagas proferiu uma conferência na Academia, quando defendeu suas convicções e rebateu o falso nacionalismo que pretendia encobrir o mal e impedir seu estudo. Foi ovacionado (O Paiz, 1º de dezembro de 1923, quinta colunaO Jornal, 7 de dezembro de 1923; O Paiz, 7 de dezembro de 1923, sexta coluna).

 

 

Pelo Decreto nº 16.300 de 31 de dezembro de 1923 e por iniciativa de Carlos Chagas, foi criada a Escola de Enfermagem Anna Nery, desdobramento do Serviço de Enfermagem Sanitária, que ele havia criado com o apoio da Fundação Rockefeller. Assim foi introduzido o ensino profissionalizante de enfermagem no Brasil.

1924 - Participou do 2º Congresso Brasileiro de Higiene, em Belo Horizonte (O Jornal, 27 de novembro de 1924, quinta coluna).

Tornou-se membro da Societas ad Artes Medicas in India Orientali Neerlandica e membro correspondente da Academia Médica de Roma.

1925 – Tornou-se membro correspondente da Real Academia Nacional de Medicina da Espanha e também Comendador da Ordem Civil de Alfonso XII, rei de Espanha.

Recebeu o Prêmio Kümmel, conferido pela Faculdade de Medicina da Universidade de Hamburgo.

Foi nomeado professor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, para a então criada cátedra de Medicina Tropical, estabelecendo as bases para o estudo desta área no Brasil (O Jornal, 26 de abril de 1925, última coluna).

Recebeu o cientista alemão Albert Einstein (1879 – 1955) durante sua visita ao Rio de Janeiro (O Paiz, 9 de maio de 1925, primeira coluna).

 

 

Sua contribuição para os estudos e a profilaxia da malária foi reconhecida no I Congresso Internacional de Paludismo, realizado em Roma (Jornal do Brasil, 9 de setembro de 1925, quarta coluna). Passou alguns dias em Paris onde foi homenageado pelo diretor do Instituto Pasteur, Albert Calmette (1863 – 1933), e pelo embaixador do Brasil, Luiz Martins de Souza Dantas (1876 – 1954) (Jornal do Brasil, 3 de novembro, sexta coluna).

1926 - Organizou o Curso Especial de Higiene e Saúde Pública, ministrado por pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz como especialização na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro (Jornal do Commercio, 3 de maio de 1926, quarta coluna).

Proferiu a aula inaugural da cadeira de Medicina Tropical na Faculdade de Medicina da Universidade do Rio de Janeiro, em 14 de setembro, na qual destacou a importância do estudo das doenças tropicais na formação médica, tendo em vista o enfrentamento dos problemas da saúde pública brasileira, sobretudo as endemias rurais.

Recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade de Paris (O Paiz, 7 de novembro, quarta coluna).

Deixou a direção do Departamento Nacional de Saúde Pública, em novembro, quando terminou o mandato do presidente Arthur Bernardes (1875-1955). Seu sucessor no cargo foi Clementino Fraga (1880-1971) (O Paiz, 20 de novembro de 1926, segunda coluna).

Foi agraciado com o título de Comendador da Ordem de Isabel, a Católica, Espanha

Tornou-se membro da Academia Imperial Alemã de Pesquisas Naturais de Halle e membro honorário da Academia de Medicina de Nova York.

1928 – Em 30 de maio, foi eleito membro titular da Sociedade Real de Medicina Tropical e Higiene de Londres.

Abaixo, na cabeceira da esquerda, Carlos Chagas presidindo uma ssessão da Sociedade de Biologia do Rio de Janeiro.

 

 

 

1929 – Tornou-se Doutor Honoris Causa da Faculdade de Medicina de Lima e Cavaleiro da Ordem da Coroa da Romênia.

Presidiu a IV Conferência Pan-americana de Higiene, Microbiologia e Patologia, realizada no Rio de Janeiro entre 30 de junho e 30 de julho.

Chagas recepcionou em Manguinhos um grupo de cirurgiões norte-americanos.

 

 

 

1930 - Tornou-se membro da Sociedade de Biologia de Buenos Aires

1931 – Tornou-se membro correspondente da Academia de Medicina de Paris.

1934 – Tornou-se Doutor Honoris Causa da Universidade Livre de Bruxelas.

Inauguração do Centro Internacional de Leprologia, com sede no Instituto de Manguinhos, idealizado e dirigido por ele (Correio da Manhã, 4 de fevereiro de 1934 e O Jornal, 14 de junho de 1934, terceira coluna).

Carlos Chagas faleceu em 8 de novembro, no Rio de Janeiro, de infarto (Jornal do Brasil, 9 de novembro de 1934). Na direção de Manguinhos, foi sucedido por Antonio Cardoso Fontes (1879-1943), que havia sido seu colega na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro (O Jornal, 6 de janeiro de 1935, terceira coluna).

 

 

Realização na Academia de Medicina de uma sessão em sua homenagem (O Jornal, 15 de dezembro de 1934).

 

Assista aqui: Carlos Chagas – Ciência em gotas, realizado pela Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz, com a consultoria de Simone Kropf

 

A elaboração dessa cronologia foi baseada principalmente na Biblioteca Virtual Carlos Chagas, da Fundação Oswaldo Cruz, e na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional. Contou com a colaboração da historiadora e pesquisadora Simone Petraglia Kropf e da jornalista Cristiane d´Avila, ambas da Casa de Oswaldo Cruz.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

CAVALCANTI, Juliana Manzoni. A Trajetória Científica de Rudolf Kraus (1894-1932) entre Europa e América do Sul: Elaboração, produção e circulação de produtos biológicos. Tese (Doutorado em História das Ciências e da Saúde) – Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz, Rio de Janeiro, 2013. 284 f.

CHAGAS, Carlos, Filho. Meu pai. Rio de Janeiro: Casa de Oswaldo Cruz, Fundação Oswaldo Cruz, 1993

Fundação Oswaldo Cruz – Biblioteca Virtual Carlos Chagas

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KROPF, Simone P. Carlos Chagas e as doenças do Brasil. In: HOCHMAN, Gilberto; LIMA, Nísia Trindade. Médicos intérpretes do Brasil. São Paulo: Hucitec, 2015, p. 194-222.

KROPF, Simone P. Doença de Chagas, doença do Brasil: ciência, saúde e nação (1909-1962). Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2009.

KROPF, Simone P.; LACERDA, Aline. Carlos Chagas, um cientista do Brasil. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2009 (edição bilíngue).

KROPF, Simone P. SÁ, Magali R. The discovery of Trypanosoma cruzi and Chagas disease (1908-1909): tropical medicine in BrazilHistória, Ciências, Saúde-Manguinhos, v.16, suplemento, p.13 -34, 2009.

KROPF, Simone P. Carlos Chagas e os debates e controvérsias sobre a doença do Brasil (1909-1923). História, Ciências, Saúde-Manguinhos, v.16, suplemento 1, p.205-227, 2009.

LEWINSOHN, Rachel. Carlos Chagas (1879-1934): a descoberta do tripanossoma cruzi e da tripanossomíase americana (notas da história da doença de Chagas)Transactions of The Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene, Volume 73, Edição 5, págs 513-523, 1979.

PITELLA, José Eymard Homem. O processo de avaliação em ciência e a indicação de Carlos Chagas ao prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, vol 42. nº 1, Uberaba, fevereiro de 2009.

SCLIAR, Moacyr . Oswaldo Cruz & Carlos Chagas: o nascimento de ciência no Brasil. São Paulo: Odysseus, 2002

Site da Academia Brasileira de Ciências

Site da Academia Nacional de Medicina

Site da Escola de Enfermagem Ana Nery

Site da Fiocruz Paraná – Instituto Carlos Chagas

Site do CPDOC