Fotografias da Gripe Espanhola do fundo Moncorvo Filho, da Casa de Oswaldo Cruz

Hoje, data que marca os dois anos da caracterização da Covid-19 como uma pandemia, pela Organização Mundial da Saúde, a Brasiliana Fotográfica traz para seus leitores fotografias da pandemia de Gripe Espanhola, em 1918, descobertas, em meados de março de 2020, no arquivo do médico Moncorvo Filho. Os autores do artigo Fotografias da Gripe Espanhola são Ricardo Augusto dos Santos, Felipe Almeida Vieira e Francisco dos Santos Lourenço, pesquisadores Departamento de Arquivo e Documentação da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, uma das instituições parceiras do portal.

Fotografias da Gripe Espanhola 

Ricardo Augusto dos Santos, Felipe Almeida Vieira e Francisco dos Santos Lourenço*

 

“Grande vozerio, gritos e gemidos de repente ouvi que partiam do saguão da entrada e contiguo à minha sala. Corro a ver o que era. Uma onda humana invadia o prédio de nossa sede: eram homens, mulheres e crianças, em sua maioria andrajosos, comprimindo-se para entrar e agasalhar-se em todas as salas do nosso estabelecimento. Havia gente de todas as classes sociais, indivíduos brancos e de cor, velhos, moços e crianças, carregados uns pelos outros, alguns que entravam a cambalear, esquálidos, ardendo em febre, outros a vomitar e finalmente alguns encontrados já a expirar na via pública…” (Moncorvo Filho, 1924:49)

 

Em meados de março de 2020, durante o início da quarentena imposta pela epidemia de Covid-19, encontramos imagens inéditas da Gripe Espanhola no arquivo do médico Moncorvo Filho. Sabíamos da importância deste acervo, entretanto, não possuíamos a real dimensão do inestimável patrimônio que estava em nossas mãos. Apresentamos algumas das imagens neste breve trabalho.

 

Acessando o link para as fotografias inéditas da Gripe Espanhola no arquivo do médico Moncorvo Filho disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

Em setembro de 1918, no Rio de Janeiro, os habitantes começaram a apresentar febre alta. Era a Gripe Espanhola, doença que vinha da Europa pelos navios que ancoravam nos portos brasileiros. Numa cidade com um milhão de habitantes, morreram, segundo os registros oficiais, quase 15 mil pessoas. Os médicos receitavam canja e limão. Não que o Brasil não estivesse avisado. A gripe estava dizimando na Europa e mataria, de acordo com as estimativas mais cautelosas, trinta milhões de pessoas em todo o mundo.

Médicos e autoridades não sabiam como proceder e que atitudes tomar diante da pandemia. As instituições governamentais de saúde concentraram sua atuação no atendimento aos doentes. O que melhorou um pouco a trágica situação foram as ações isoladas. Hospitais e enfermarias provisórias foram montadas. Toda ajuda era bem-vinda, mas era pouca. Alguns círculos operários também contribuíram fornecendo auxílio.

 

“Morrer na cama era um privilégio abusivo e aristocrático. O sujeito morria nos lugares mais impróprios, insuspeitados: – na varanda, na janela, na calçada, na esquina, no botequim… Muitos caíam, rente ao meio-fio, com a cara enfiada no ralo. E ficavam, lá, estendidos, não como mortos, mas como bêbados. Ninguém os chorava, ninguém. Nem um vira-latas vinha lambê-los. Era como se o cadáver não tivesse nem mãe, nem pai, nem amigo, nem vizinho e, nem ao menos, inimigo.” (, 1967:72)

 

Os cariocas morriam em casa, na rua, no trabalho, sendo recolhidos pelos funcionários da Prefeitura. Estes jogavam os corpos nas carroças da companhia de limpeza pública. Conta-se que quando descobriam alguém dado como morto e ainda vivo, acabavam de matá-lo com as pás. Nos cemitérios, coveiros abriram valas, onde eram despejadas dezenas de mortos. E, quanto mais corpos acumulados, mais a situação piorava.

Frente ao desconhecimento ou ineficácia das medidas que pudessem impedir o contágio ou cuidar dos doentes, as autoridades públicas inicialmente restringiram-se a orientar a população a evitar aglomeração. A cidade transformou-se num caos, faltavam alimentos e ocorriam saques aos armazéns. Para completar este quadro tenebroso ainda havia o problema dos cadáveres insepultos. Não havendo pessoal suficiente para enterrar os mortos, foram utilizados os presidiários. O cenário de corpos amontoados pelos cemitérios ou abandonados pelas ruas era desolador.

 

 

Com o desenrolar dos fatos, aumentava o temor coletivo. No período mais crítico, a população ficou desesperada. A divulgação pela imprensa do número de óbitos, da ausência de assistência médica e das atrocidades cometidas intensificava o clima de medo. A todo esse cenário podemos acrescentar o ar fétido, emanado das covas, casas e ruas, onde os corpos permaneciam à espera de sepultamento. Outro aspecto que deve ser considerado diz respeito às atitudes desencadeadas a partir do terror instalado com a gripe. Narrativas terríveis falam de atos insensatos cometidos por pessoas transtornadas com a situação.

A interrupção das atividades econômicas e outras adversidades inerentes aos fenômenos epidêmicos não foram evitadas e tampouco houve planejamento para aplacar os efeitos da espanhola. A doença inicialmente apresentou-se aos habitantes do país como um mal distante. Tanto órgãos da imprensa quanto os responsáveis pelos serviços de saúde pública colocavam em dúvida a existência da espanhola no Brasil. Os casos observados poderiam ser moléstias ainda não identificadas. Para além da discussão científica, um fator deve ser observado: a aceitação de que a epidemia havia invadido o país evidenciaria a fragilidade das políticas públicas de saúde.

A gripe é transmitida por contágio direto, tendo como sintomas principais febre, prostração e dores musculares. Embora não seja incorreta a ideia do caráter “democrático” das doenças contagiosas, que atacam de forma indiferenciada as classes sociais, as observações mostram que enfermidades epidêmicas podem ser fulminantes em organismos debilitados por condições de sobrevivência precárias.

Embora os políticos e administradores do Rio de Janeiro não acreditassem, ou não quisessem aceitar, a epidemia foi dominando a cidade. Em outubro, a imprensa noticiou a existência de doentes em quartéis, fábricas e escolas. Por volta da segunda semana era enorme a quantidade de casos. Nesse momento, o número de pessoas atingidas havia crescido, deixando a população apavorada. A violência da gripe transformava a cidade, paralisando vários setores das atividades urbanas.

“Nas habitações coletivas, em estado grave caiam quase fulminados pelo terrível morbo inúmeros de seus moradores. A população estava muito justamente alarmadíssima e todos os serviços públicos já se mostravam em 10 de outubro sensivelmente desfalcados do seu pessoal, por doença afastado de seus misteres, sendo em número assaz elevado as guias extraídas pelas Delegacias de Polícia para o internamento de gripantes no Hospital da Misericórdia. Os miseráveis e mendigos, como sempre sucede, eram os que primeiro caiam vítimas do devastador morbo e nos quais a doença de maior gravidade era desde logo emprestada.” (Moncorvo Filho, 1924:52)

 

 

Nos primeiros dias de novembro, a situação era alarmante. A epidemia forçara o fechamento do comércio e indústrias, bem como a interrupção dos serviços públicos. A cidade estava paralisada. O governo passou a distribuir quinino. Sem esclarecer o valor terapêutico dessa substância no combate à gripe ou o perigo da sua ingestão sem controle. Surgiam na imprensa receitas peculiares, que prometiam curar a doença. Além disso, os produtos – galinhas, ovos e limão – supostamente eficazes no combate ao mal, sofreram intensa especulação comercial.

A desorganização das atividades comerciais provocou uma grave crise de abastecimento. Se nas áreas próximas do centro urbano havia dificuldade em conseguir alimentos, nas áreas suburbanas eles eram extremamente escassos. Para amenizar a situação, o governo passou a distribuir leite, sopa e pão para a população. Entretanto, noticiadas pela imprensa, as reclamações de moradores dos subúrbios deixam evidente que essa medida foi inoperante.

 

“Era apavorante a rapidez com que ela ia da invasão ao apogeu, em poucas horas, levando a vítima às sufocações, às diarréias, às dores lancinantes, ao letargo, ao coma, à uremia, à síncope e à morte em algumas horas ou poucos dias. Aterravam a velocidade do contágio e o número de pessoas que estavam sendo acometidas. Nenhuma de nossas calamidades chegara aos pés da moléstia reinante: o terrível não era o número de casualidades, mas não haver quem fabricasse caixões, quem os levasse ao cemitério, quem abrisse covas e enterrasse os mortos. O espantoso já não era a quantidade de doentes, mas o fato de estarem quase todos doentes, a impossibilidade de ajudar, tratar, transportar comida, vender gêneros, aviar receitas, exercer, em suma, os misteres indispensáveis à vida coletiva.” (Pedro Nava, 1976:201)

 

 

Acreditava-se que um corpo bem alimentado resistiria melhor à doença. Até galinhas foram distribuídas à população. Para auxiliar o atendimento dos cariocas acometidos pela gripe, associações filantrópicas tomaram providências para tratar os doentes. Uma das instituições que participaram dessa mobilização foi o Instituto de Proteção e Assistência à Infância do Rio de Janeiro (IPAI). Em suas dependências, funcionou um dos postos de socorros criados.

 

 

 

O instituto fora criado pelo médico Arthur Moncorvo Filho (1871-1944), em 1899. Dedicava-se ao auxílio de crianças, mas, durante a epidemia, transformou-se num local de assistência emergencial, onde as pessoas atingidas pela espanhola, recebiam atendimento médico. Suas dependências ficaram lotadas e formaram-se filas para a distribuição de produtos alimentícios. Além disto, grupos de médicos e enfermeiras eram enviados aos bairros mais populares. Chamadas de Caravanas do Bem, saíam do IPAI em direção ao Morro do Salgueiro, Morro do Andaraí, Morro do Telégrafo (Mangueira), Engenho de Dentro, Cascadura e Ramos.

As imagens que retratam o cotidiano do IPAI durante a pandemia de Gripe de 1918 podem ser encontradas no acervo da Casa de Oswaldo Cruz. São registros originais que documentam o período da Gripe Espanhola no Rio de Janeiro. Elas pertencem ao Arquivo Arthur Moncorvo Filho. Além destas imagens documentando a pandemia, este arquivo reúne mais de mil itens, entre fotografias, cartas, relatórios, publicações e recortes de jornais acumulados pelo médico, gestor e membro de associações científicas, tanto no Brasil quanto no exterior.

Nascido em 13 de setembro de 1871, na cidade do Rio de Janeiro, Arthur Moncorvo Filho viveu na Europa, onde Carlos Arthur Moncorvo de Figueiredo (1846-1901) estagiava em Paris com os professores Eugène Bouchut (1818-1891) e Henri-Louis Roger (1809-1891). Retornando ao Brasil, seu pai o convenceu a estudar medicina. Terminou o curso em 1897 na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, diplomando-se com a tese Das linfangites na infância e suas consequências. Durante o curso, trabalhou na Policlínica Geral do Rio de Janeiro, instituição fundada por Carlos Arthur Moncorvo em 1881. Com seu falecimento, em 1901, o filho ocuparia seu lugar no serviço de moléstias de crianças da policlínica.

 

  

Criado em 1899, o IPAI funcionava na casa da família, localizada na rua da Lapa. Neste mesmo local, seu pai criara, em 1881, a Policlínica Geral. Dois anos depois, o instituto foi instalado em prédio alugado, à rua Visconde do Rio Branco. Em 1914, o presidente da República, Hermes da Fonseca, doou o terreno onde foi construída a sede do instituto, na rua do Areal, atual rua Moncorvo Filho. Hoje, funciona no local o Hospital Moncorvo Filho, nomeado em sua homenagem.

Moncorvo Filho foi membro de várias sociedades médicas. Em 1919 foi eleito membro honorário da Academia Nacional de Medicina. Em 1921 tornou-se sócio da Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro. Em 1933 veio a ser presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria. Publicou obras de referência para a história da pediatria no Brasil: Hygiene infantil (1917), Formulário de doenças das creanças (1923) e Histórico da protecção à infância no Brasil (1926).

As muitas atividades associativas contribuíram para a influência de Moncorvo Filho. Reconhecido como um pioneiro pelos membros do campo da pediatria, participou de encontros científicos nacionais e internacionais em cargos de coordenação. Por exemplo, foi encarregado da organização do 1º Congresso Americano da Criança, realizado em julho de 1916 na cidade de Buenos Aires. No 1º Congresso Brasileiro de Proteção à Infância, em 1922, ocupou o cargo de presidente. Nesses eventos defendia ideias de proteção à saúde das crianças, como a proibição da fabricação de chupetas, até ações de saneamento das cidades. Desde o início de sua carreira, Moncorvo Filho fazia críticas às instituições de amparo à infância. Para ele, a saúde das crianças dependia de condições de higiene, da exposição a luz solar, além de boa alimentação. Seus pronunciamentos nos congressos médicos eram publicados na imprensa, alimentando o debate político do período.

 

 

 

* Ricardo Augusto dos Santos, Felipe Almeida Vieira e Francisco dos Santos Lourenço são pesquisadores do Departamento de Arquivo e Documentação da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz.

 

Fontes:

MONCORVO FILHO, Arthur. O Pandemônio de 1918: subsídio ao histórico da epidemia de grippe que em 1918 assolou o território do Brasil. Rio de Janeiro: Departamento da Criança no Brasil, 1924.

NAVA, Pedro. Chão de ferro. Memórias/3. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1976.

RODRIGUES, Nelson. Memórias. Rio de Janeiro: Ed. Correio da Manhã, 1967.

SANTOS, Ricardo Augusto dos. O Carnaval, a Peste e a Espanhola.  História, Ciências, Saúde-Manguinhos. vol.13, no.1. Rio de Janeiro, 2006.https://www.scielo.br/j/hcsm/a/Z9Lr5HqtjXzFsTD5FFvGFBQ/?lang=pt

FREIRE, Maria Martha de Luna; LEONY, Vinícius da Silva. A caridade científica: Moncorvo Filho e o Instituto de Proteção e Assistência à Infância do Rio de Janeiro (1899-1930). História, Ciências, Saúde-Manguinhos. vol.18, supl. 1. Rio de Janeiro, 2011.https://www.scielo.br/j/hcsm/a/pMzXR6Xv9xBJgG9gyc4ZrZv/?lang=pt

VENANCIO JUNIOR, André Luiz & MIGNOT, Ana Chrystina. O Pandemônio de 1918: Testemunho de um médico para a posteridade. Revista Educação em Questão, Natal, v. 58 n. 58, out./dez. 2020. https://periodicos.ufrn.br/educacaoemquestao/article/view/21540/13358

 

Link para o artigo E o ex e futuro presidente do Brasil morreu de gripe…a Gripe Espanhola de 1918, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 23 de março de 2020, na Brasiliana Fotográfica.

 

 

E o ex e futuro presidente do Brasil morreu de gripe…a Gripe Espanhola de 1918

 

 

E o ex e futuro presidente do Brasil, Francisco de Paula Rodrigues Alves (1848 – 1919), faleceu de Gripe Espanhola! Logo ele que em seu mandato como o quinto presidente da República do Brasil, exercido entre 1902 e 1906 (Gazeta de Notícias, 16 de novembro de 1902, sexta colunaGazeta de Notícias, 16 de novembro de 1906, segunda coluna), designou o médico e sanitarista Oswaldo Cruz (1872 – 1917) para a chefia do Departamento Nacional de Saúde Pública, justamente para melhorar as condições sanitárias do Rio de Janeiro deflagrando a reforma sanitária da capital, combatendo primordialmente a febre amarela, a peste bubônica e a varíola.

Além de Oswaldo Cruz, os engenheiros Francisco Pereira Passos (1836 – 1913), nomeado por Alves prefeito do Rio de Janeiro, em dezembro de 1902 (Gazeta de Notícias, 31 de dezembro de 1902, na sexta coluna), e Paulo de Frontin  (1860 – 1933) foram fundamentais durante o governo de Rodrigues Alves: Passos foi o prefeito do “bota-abaixo” e Frontin, presidente do Clube de Engenharia, o engenheiro-chefe da construção da Avenida Central.

 

Acessando o link para as fotografias de Rodrigues Alves disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

Rodrigues Alves foi eleito presidente do Brasil, pela segunda vez, em 1º de março de 1918. Acometido pela doença, não pode tomar posse no dia 15 de novembro de 1918, tendo seu vice, Delfim Moreira (1868 – 1920), assumido o cargo em seu lugar. Rodrigues Alves faleceu meses depois, em janeiro de 1919, confinado em sua casa na rua Senador Vergueiro, no Flamengo, bairro do Rio de Janeiro (Gazeta de Notícias, 16 de janeiro de 1919Gazeta de Notícias, 17 de janeiro de 1919O Malho , 25 de janeiro de 1919). Foi enterrado em Guaratinguetá, cidade paulista onde nasceu (O Paiz, 18 de janeiro de 1919).

 

“Depois da morte do Barão do Rio Branco, nenhuma outra poderia, sob o ponto de vista nacional, representar prejuízo maior para o Brasil do que a do conselheiro Rodrigues Alves”.

 

 

Ele foi a mais notória vítima brasileira da Gripe Espanhola, que matou cerca de 300 mil pessoas no país. Novas eleições foram convocadas para 13 de abril de 1919 e o paraibano Epitácio Pessoa (1865 – 1942) foi eleito.

 

 

Mas depois da tragédia veio a esbórnia! O que seguiu no Rio de Janeiro, em março, foi um carnaval animadíssimo, como uma vingança contra a terrível doença que havia atingido intensamente a cidade. Foi publicado no Correio da Manhã de 20 de janeiro de 1919:

 

 

 

No 12º capítulo das “Memórias de Nelson Rodrigues” foi publicado, em 10 de março de 1967, no Correio da Manhã: 

“Estou aqui reunindo as minhas lembranças. Aquele Carnaval foi, também, e sobretudo, uma vingança dos mortos mal vestidos, mal chorados e, por fim, mal enterrados. Ora, um defunto que não teve o seu bom terno, a sua boa camisa, a sua boa gravata é mais cruel e mais ressentido do que um Nero ultrajado. E o Zé de S. Januário está me dizendo que enterrou sujeitos em ceroulas, e outros nus como santos. A morte vingou-se, repito, no Carnaval… E tudo explodiu no sábado de Carnaval. Vejam bem: até sexta-feira, isto aqui era o Rio de Machado de Assis; e, na manhã seguinte, virou o Rio de Benjamim Costallat […] Desde as primeiras horas de sábado, houve uma obscenidade súbita, nunca vista, e que contaminou toda a cidade. Eram os mortos da espanhola e tão humilhados e tão ofendidos que cavalgavam os telhados, os muros, as famílias… Nada mais arcaico do que o pudor da véspera. Mocinhas, rapazes, senhoras, velhos cantavam uma modinha tremenda. Eis alguns versos: ‘Na minha casa não se racha lenha,/ Na minha racha, na minha racha./ Na minha casa não há falta d’água,/ Na minha abunda, na minha abunda’”.

 

 

Anos depois, Carlos Heitor Cony (1926 – 2018) escreveu, na Folha de São Paulo de 19 de fevereiro de 1996, um artigo sobre a Gripe Espanhola e o carnaval de 1919:

“No Rio, o sujeito ia atravessar a rua, botava o pé no meio-fio com plena saúde e chegava morto ao meio-fio do outro lado. Era fulminante a gripe, os parentes deixavam os mortos nos bondes, pagavam a passagem deles, como se passageiros fossem. Não havia tempo nem lugar para o enterro. Natural que, depois da fase mortuária, viesse a fase libertária, ou libertina, basta dizer que as delegacias da cidade registraram a queixa de 4.315 defloramentos e outros tantos casos de abandono do lar, adultério e até incesto.”

 

 

Um pouco sobre a Gripe Espanhola, a primeira e mais letal pandemia do século XX 

 

 

A Gripe Espanhola aconteceu, entre 1918 e 1920, em três ondas . Aparentemente, a primeira ocorreu entre março e abril de 1918 ainda durante a Primeira Guerra Mundial. Sua origem é até hoje uma dúvida: teria surgido na Ásia ou em campos militares no interior dos Estados Unidos? O nome Gripe Espanhola é atribuído ao fato de que a Espanha, neutra durante a Primeira Guerra Mundial, ter reconhecido a gripe como problema e ter permitido a divulgação de informações epidemiológicas sobre a doença.

O fato é que a gripe rapidamente se espalhou pela Europa Ocidental e, em julho, já havia chegado à Polônia. Durante o verão do mesmo ano, durante o mês de agosto, em sua segunda onda, uma forma mais letal da doença surgiu – causava pneumonia e, usualmente, dois dias depois do primeiro sintoma, o paciente falecia. A terceira onda ocorreu no inverno de 1919. A pandemia acometeu cerca de 50 % da população mundial e a Organização Mundial de Saúde estima que tenha causando entre 20 e 40 milhões de mortes.

Inicialmente, a repercussão no Brasil da disseminação da doença na Europa foi de despreocupação por parte das autoridades de saúde do país. Imaginaram que a distância entre os continentes, com um oceano os separando, não permitiria a chegada da epidemia em nosso país. Uma nota sem destaque no jornal O Paiz, de 1º de agosto de 1918, referia-se a doença como intensa porém sem gravidade. Em outra nota, também publicada em O País, cinco dias depois, noticiava-se, de novo sem nenhum destaque, a relação entre a gripe infecciosa e o preço do limões.

 

 

Supõe-se que a Gripe Espanhola tenha chegado no Brasil em 9 de setembro de 1918, no navio inglês SS Demerara, que partiu de Liverpool, na Inglaterra e fez escalas em Lisboa, no Recife, em Salvador e no Rio de Janeiro (Jornal do Recife, 10 de setembro de 1918, primeira colunaGazeta de Notícias, 16 de setembro de 1918).

 

 

“A seu bordo, durante a travessia, grassou com caráter epidêmico a tal “hespanhola” ou “dançarina”, influenza há pouco aparecida na Espanha e que tem grassado em uutras cidades da Europa”

Nesse mesmo mês foi noticiado que marinheiros brasileiros que prestavam serviço militar em Dakar, no Senegal, e oficiais da missão médica militar que havia partido no navio Plata tinham contraido a Gripe Espanhola (Jornal do Brasil, 22 de setembro de 1918, A Noite, 23 de setebmro de 1918Jornal do Brasil, 24 de setembro de 1918Revista da Semana, 28 de setembro de 1918Gazeta de Notícias, 5 de outubro de 1918, segunda coluna; e Folha de São Paulo, 1º de abril de 2012).

 

 

Entre os meses de setembro e novembro de 1918, a epidemia assolou o Brasil.  Em outubro, foram diagnosticados casos em Niterói e as primeiras mortes no Estado do Rio foram reportadas em 14 de outubro, quando o número de pacientes chegava já a 20 mil.

 

 

 

O quinino, a canja de galinha, preparados a base de limão, cachaça e outros eram usados contra a doença. A Bayer oferecia a aspirina Fenacetina (O Paiz, 30 de outubro de 1918, quarta coluna) e um laboratório produziu o remédio homeopático Grippina, fórmula do médico Alberto Seabra (A Noite, 10 de outubro de 1918). Balas peitoraes também e gargarejos com Diogexen eram oferecidos como cura para a doença (Careta, 26 de outubro de 1918; e Fon-Fon, 2 de novembro de 1918).

 

 

A essa altura o pânico já tomava conta do Rio de Janeiro, na época capital do Brasil. São Paulo começava também a registrar seus primeiros casos (Correio Paulistano, 17 de outubro de 1918). Outras cidades do Brasil foram atingidas mas nenhuma como o Rio.

 

 

 

O então Diretor Geral de Saúde Pública, Carlos Seidl (1867 – 1929), renunciou.

 

 

Foi substituído por Theóphilo Torres (1863 – 1928) (Gazeta de Notícia, 19 de outubro de 1918, penúltima coluna), que convidou o pesquisador Carlos Chagas (1879 – 1934), que havia assumido a direção do Instituto Oswaldo Cruz em 1917, para atuar no controle da epidemia. Chagas liderou a campanha de combate à doença, implementando cinco hospitais emergenciais e 27 postos de atendimento à população em diferentes pontos do Rio de Janeiro (Gazeta de Notícias, 22 de outubro de 1918). Chagas e sua família adoeceram, mas todos sobreviveram.

 

 

Mas mesmo no auge da tragédia, o humor esteve presente na imprensa carioca.

 

 

Houve um aumento no preço dos alimentos, alguns escassearam e muitos estabelecimentos, dentre eles fábricas, teatros, escolas, restaurantes e bares fecharam suas portas. Atividades básicas foram praticamente suspensas e saques começaram a ocorrer pela cidade. A polícia passou então a garantir que em cada bairro houvesse uma farmácia e uma padaria aberta.

 

 

Em 19 de outubro foi decretado um feriado de três dias e o governo tomou providências como a abertura de novos postos de assistência e de pavilhões com leitos para receber doentes, a divisão da cidade em zonas com médicos autorizados a ordenar tudo quanto o doente precisar. Também determinou a publicação de “conselhos ao povo” e um apelo foi feito para que médicos, farmacêuticos e estudantes colaborassem com a Saúde Pública (Jornal do Brasil, 20 de outubro de 1918 e O Paiz, 20 de outubro de 1918).

 

 

Da cartilha Previna-se contra a gripe, distribuída pelas campanhas do Serviço Nacional de Educação Sanitária:

 

“Perdigotos – Que perigo!
Se estás resfriado amigo,
Não chegues perto de mim.
Sou fraco, digo o que penso.
Quando tossir use o lenço
E, também se der atchim.
Corrimãos, trincos, dinheiro
São de germes um viveiro
E o da gripe mais freqüente.
Não pegá-los, impossível.
Mas há remédio infalível,
Lave as mãos constantemente.
Se da gripe quer livrar-se
Arranje um jeito e disfarce,
Evite o aperto de mão.
Mas se vexado consente,
Lave as mãos freqüentemente.
Com bastante água e sabão.
Da gripe já está curado?
Bem, mas não queira, apressado,
Voltar à vida normal.
Consolide bem a cura,
Senão você, criatura,
Recai e propaga o mal”.

 

“O número de casos declinou drasticamente no final de outubro, retornando a cidade pouco a pouco às suas rotinas diárias, ficando no ar por muitos meses a pergunta se haveria uma volta da epidemia, o que afinal não ocorreu.” (1)

 

 

Estima-se que cerca de 65% da população brasileira tenha sido infectada pela Gripe Espanhola e por volta de 35.240 pessoas tenham morrido em São Paulo e no Rio de Janeiro e 300 mil em todo o Brasil. Esses números variam e diversas fontes os consideram abaixo das estatísticas reais.

 

 

Famílias inteiras foram dizimadas, principalmente as que viviam em condições mais vulneráveis. Os corpos acabavam sendo deixados na rua, onde permaneciam alguns dias até serem recolhidos, ampliando o cenário de devastação. Houve falta de serviço de transporte, alta dos preços e escassez de alimentos. Por volta de 19 de outubro, a doença já havia atingido metade da população do Rio, estimada em 700 mil pessoas, deixando a cidade vazia e silenciosa … este cenário crítico perdurou até o final do mês, quando houve um declínio drástico no número de casos e a cidade começou a retornar às suas rotinas diárias. Estima-se a epidemia tenha causado a morte de cerca de 15 mil pessoas no Rio.(2)

Além de Rodrigues Alves, outros brasileiros famosos foram vítimas da gripe, dentre eles a educadora Anália Franco (1853 – 1919), provavelmente, o poeta de literatura de cordel Leandro Gomes de Barros (1865 – 1918).

O empresário e jornalista tcheco Frederico (Fred) Figner (1866 – 1947), dono da Casa Edison e primeiro produtor fonográfico do Brasil, contraiu e sobreviveu à gripe espanhola e utilizou sua casa, hoje conhecida como Mansão Figner, na rua Marquês de Abrantes, no Flamengo, no Rio de Janeiro, para acolher doentes.

Personalidades internacionais como os pintores austríacos Egon Schiele (1890 – 1918) e Gustav Klimt (1862 – 1918), os escritores franceses Edmond Rostand (1868 – 1918) e Guillaume Appolinaire (1880 – 1918), as crianças portuguesas Francisco (1908 – 1919) e Jacinta (1910 – 1920) do famoso Milagre de Fátima, os irmãos John (1864 – 1920) e Horace Dodge (1868 – 1920), empresários da indústria automobilística; o pianista Henry Hagas (1891 – 1919), da Original  Dixieland Jazz Band, o sociólogo alemão Max Weber (1864 – 1920) e Sophie (1893- 1920),  filha de Sigmund Freud, também foram vitimados pela doença.

Outros que foram infectados mas sobreviveram à gripe foram o pintor Edvard Munch (1863 – 1944), o então futuro presidente dos Estados Unidos, Franklin Delano Roosevelt (1882 – 1945);  o escritor Franz Kafka (1883 – 1924), a pintora Georgia O’Keeffe (1887 – 1986),  a escritora Katherine Anne Porter (1890 – 1980), as estrelas do cinema mudo Mary Pickford (1892 – 1979) e Lillian Gish (1893 – 1993); o cineasta Walt Disney (1901 – 1966), e além do então presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson (1856 – 1924).

Link para fotografias de aspectos da Gripe Espanhola no site Getty Images

A escritora inglesa Virginia Woolf (1882 – 1941), testemunha do impacto da Gripe Espanhola, registrou em seu diário em outubro de 1918: “Estamos … no meio de uma praga só comparável à Peste Negra“. Em seu ensaio “Doença: uma mina inexplorada“, de 1926, escreveu:

Se considerarmos o quão comum é a doença, quão terrível é a mudança espiritual que ela acarreta, quão medonhos, quando as luzes da saúde se apagam, são os países virgens que se descerram, as ruínas e desertos d’alma que um leve ataque da influenza traz à tona, os precipícios e relvas regadas de resplandecentes flores que um pequeno aumento de temperatura revela, os carvalhos antigos e obdurados que se nos desenraizam no ato da doença, como adentro o abismo da morte descemos e sentimos as águas da aniquilação bem acima de nossas cabeças e despertamos jurando nos encontrar na presença de anjos e querubins quando temos um dente extraído e, voltando à superfície da cadeira do dentista, confundimos o seu “Abra a boca – abra a boca” com as boas-vindas da Divindade a se inclinar do chão do Céu para nos acolher – quando pensamos nisto e numa infinidade mais, como tão frequentemente somos forçados a pensá-lo, parece deveras estranho que a doença não tenha, junto com o amor, a batalha, a inveja, tomado seu posto entre os temas primordiais da literatura. Romances, pensar-se-ia, teriam sido dedicados à Influenza; poemas épicos à Tifóide; odes à Pneumonia, Apendicites e Câncer; cânticos à Dor de Dente. Mas não: com algumas poucas exceções – de Quincey arriscou algo do tipo em Confissões de um comedor de ópio; deve haver um volume ou dois sobre doença espalhados pelas páginas de Proust – a literatura se esforça ao máximo para sustentar que sua preocupação é com o espírito; que o corpo é uma camada de vidro límpido através da qual a alma enxerga clara e distintamente e que, salvo uma ou duas paixões tais como o desejo e a cobiça, ele é nulo, insignificante e inexistente“.

Aqui no Brasil, o futuro escritor e médico Pedro Nava (1903 – 1984), então com 15 anos, testemunha da Gripe Espanhola no Rio de Janeiro, escreveu muitas décadas depois:

“Era apavorante a rapidez com que ela ia da invasão ao apogeu, em poucas horas, levando a vítima às sufocações, às diarréias, às dores lancinantes, ao letargo, ao coma, à uremia, à síncope e à morte em algumas horas ou poucos dias. Aterravam a velocidade do contágio e o número de pessoas que estavam sendo acometidas. Nenhuma de nossas calamidades chegara aos pés da moléstia reinante: o terrível não era o número de casualidades mas não haver quem fabricasse caixões, quem os levasse ao cemitério, quem abrisse covas e enterrasse os mortos. O espantoso já não era a quantidade de doentes, mas o fato de estarem quase todos doentes, a impossibilidade de ajudar, tratar, transportar comida, vender gêneros, aviar receitas, exercer, em suma, os misteres indispensáveis à vida coletiva…”.

Última curiosidade envolvendo literatura e doença: o escritor e poeta florentino Giovanni Boccaccio (1313 – 1375) foi pessoalmente afetado pela pandemia que ficou conhecida como peste negra, que atingiu Florença em 1348. Seu pai e madrasta morreram e ele fugiu da cidade indo para a zona rural da Toscana. Foi durante esse período que escreveu  O Decamerão, 100 contos narrados por personagens que fugiam justamente da peste negra. Já no início do século XVII, em Londres, surtos de peste bubônica ocasionavam muitas mortes e quarentenas eram ordenadas pelas autoridades. O grande poeta e dramaturgo William Shakespeare (1564 – 1616) escreveu nesse período, entre 1605 e 1606, Rei Lear, Macbeth e Antônio e Cleópatra. Segundo James Shapiro, professor da Universidade Columbia e autor de O ano de Lear: Shakespeare em 1606, depois de 1603, Shakespeare não produziu mais comédias românticas e, sim, peças mais sombrias, que expressavam o desespero que tomava a população naqueles dias.

Voltando ao século XX: o mundo ainda sofreu com mais duas pandemias, a Gripe Asiática, em 1957; e a Gripe de Hong Kong, em 1968. No século XXI, foi identificado um novo vírus da influenza do tipo A pandêmico que desencadeou a Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional, decretada pela Organização Mundial da Saúde(OMS), em 2009. Cerca de 11 anos depois, em 11 de abril de 2020, a OMS declarou uma pandemia do novo coronavírus, chamado de Sars-Cov-2, causador da Covid-19, surgido na cidade de Wuhan, na China, em fins de 2019.

 

(1) A virologia no Estado do Rio de Janeiro: uma visão global.

(2) Pandemias de influenza e a estrutura sanitária brasileira: breve histórico e caracterização dos cenários. 

 

 

brasiliana fotográfica rodrigues alves

Foto oficial de Rodrigues Alves, presidente do Brasil entre 1902 e 1906.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Atlas Histórico do Brasil

BRITO, Nara Azevedo de. La dansarina: a gripe espanhola e o cotidiano na cidade do Rio de Janeiro. Hist. cienc. saude-Manguinhos [online]. 1997, vol.4, n.1, pp.11-30.

CABRAL, Maulori C.; SCHATZMAYR, Hermann G. A virologia no Estado do Rio de Janeiro: uma visão globalRio de Janeiro : Fiocruz, 2012

CASTRO, Ruy. Metrópole à beira-mar: o Rio moderno dos anos 20. São Paulo : Companhia das Letras, 2019.

CONY, Carlos Heitor. O Canaval da peste. Folha de São Paulo, 19 de fevereiro de 1996.

COSTA, Ligia Maria Cantarino da;MERCHAN-HAMANN, Edgar. Pandemias de influenza e a estrutura sanitária brasileira: breve histórico e caracterização dos cenários. Rev Pan-Amaz Saude v.7 n.1 Ananindeua, mar. 2016.

Folha de São Paulo

GOULART, Adriana da Costa. Revisitando a espanhola: a gripe pandêmica de 1918 no Rio de JaneiroHist. cienc. saude-Manguinhos v.12 n.1 Rio de Janeiro jan./abr. 2005

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

Incrível História

KOLATA, Gina. Gripea história da pandemia de 1918. Rio de Janeiro : Record, 2002.

NAVA, Pedro. Chão de ferro. Memórias/3. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1976.

O Estado de São Paulo

O Globo

OUTKA, Elizabeth. Viral Modernism: The Influenza Pandemic and Interwar Literature. New York : Columbia University Press, 2020.

Rádio Senado

RODRIGUES, Nelson. A menina sem estrela. São Paulo : Companhia das Letras, 1993.

SANTANA, Rosemeire Siqueira de. Tecendo os fios da memória: um breve ensaio biográfico sobre as educadoras Anália Franco, Neide Mesquita e Laura Amazonas.

SANTOS, Ricardo Augusto dos. O Carnaval, a peste e a espanhola. Hist. cienc. saude-Manguinhos vol.13 no.1 Rio de Janeiro Jan./Mar. 2006

SECCHIN, Antonio Carlos. Melancólico em livro de Bandeira, Carnaval em 1919 foi pura libertinagem. Folha de São Paulo, 22 de junho de 2019.

Site Casa de Rui Barbosa

Site CPDOC

Site Enciclopédia Britânica

Site Fiocruz

Site Gripenet

Site Hipercultura

Site Pixinguinha

Site Standford University

Site WelcomeCollection

Smithsonion Magazine

Suplemento Ofical do Diário Oficial do Estado de Pernambuco

WOOLF, Virginia. Illness: an unexploited mine. In: Forum, abril de 1926, pp.582-590.