A Estrada de Ferro do Paraná, de Paranaguá a Curitiba, pelos fotógrafos Arthur Wischral e Marc Ferrez

 

 

Arthur Júlio Wischral (1894 – 1982) foi um importante fotógrafo do Paraná, tendo realizado trabalhos para a imprensa e também para o governo do estado onde atuou. Em 1928, foi contratado pela Rede Viação Paraná – Santa Catarina e registrou o dia a dia das obras de manutenção da estrada de ferro Curitiba-Paranaguá assim como as dificuldades enfrentadas por seus trabalhadores. Um álbum, editado pelo próprio fotógrafo e por J. J. Wischral, foi produzido com esses registros.

 

 

 

Acessando o link para o Álbum de Photografias da Ferrovia de Curytiba a Paranaguá, de autoria de Arthur Wischral, disponível na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

No final do artigo, há uma cronologia da vida de Wischral.

 

Um pouco da história da ferrovia Curitiba-Paranaguá, cuja construção foi registrada pelo fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923)

 

 

O surgimento dos trens de ferro e a expansão das ferrovias eram no século XIX um evidente sinal de modernidade. Significavam a vitória, o triunfo do homem a partir da tecnologia e tinham como uma de suas consequências o desenvolvimento econômico. A ideia da construção da Ferrovia do Paraná surgiu após a emancipação do estado do Paraná, em 29 de agosto de 1853, a partir da Lei Imperial nº 704, assinada por dom Pedro II(1825 – 1891). Era um desafio escoar a erva-mate, importante produto para a economia do estado, para os portos do litoral. Por essa razão, foi autorizada a contratação de uma via férrea a partir da Lei Provincial nº 11, de 30 de abril de 1856 (Dezenove de Dezembro, 22 de outubro de 1856).

 

Acessando o link das imagens do Álbum da Estrada de Ferro do Paraná, de autoria de Marc Ferrez, disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Porém, só no início da década de 1870, os engenheiros Francisco Monteiro Tourinho (1837 – 1885), Antônio Pereira Rebouças (1839 – 1874) e Maurício Schwartz (18? -?) solicitaram ao Império um pedido de concessão para a construção da ferrovia. Eles já haviam construído a Estrada da Graciosa, também no Paraná. A estrada de ferro do Paraná sairia, a princípio, da cidade de Antonina. Após muita polêmica, o Decreto Imperial de 1.º de maio de 1875 decidiu que o trem partiria de Paranaguá. O argumento foi que a profundidade da baía de Antonina não comportaria navios de grande porte.

O projeto da ferrovia, arrojado e muito avançado para a época, foi dos irmãos e engenheiros André Rebouças (1838 – 1898) – também abolicionista – e Antônio Pereira Rebouças (1839 – 1874), considerados, até hoje, os primeiros afrodescendentes formados em Engenharia no Brasil. Para realizá-lo, os irmãos fizeram um estudo detalhado da Serra do Mar e elaboraram um traçado cheio de pontes, túneis e viadutos.

 

 

Em 1873, por não conseguir cumprir os prazos estabelecidos para o início das obras, Antônio Rebouças cedeu seus direitos ao Barão de Mauá (1813 – 1889), que também não cumpriu as exigências do contrato. Em 1877, foi aprovado um novo traçado baseado nos originais de Rebouças e com adaptações dos engenheiros Rodolpho Alexandre Helh e Luiz da Rocha Dias. Pelo Decreto n° 7420 de 12 de agosto de 1879, assinado por João Lins Vieira Cansanção de Sinimbu, o Visconde de Sinimbu (1810 – 1906), foi autorizada a transferência de todos os direitos e obrigações dos, desde 1875, concessionários da ferrovia, José Gonçalves Pecego Junior e José Maria da Silva Lemos, à companhia francesa Compagnie Général de Chemins de Fer Brésiliens, que não tinha expertise em relação à construção de estradas de ferro, o que sua companhia associada, a empreiteira belga Société Anonyme de Travaux Dyle et Bacalan, tinha. Ficou, então, encarregada das obras.

 

 

O diretor dos novos serviços para a construção, um marco da engenharia do Brasil, foi o comendador Antônio Ferrucci (c. 1830 – ?), um dos principais chefes de seu planejamento que, com outros membros da comissão de engenharia da estrada, chegou ao Rio de Janeiro, em 8 de fevereiro de 1880, no paquete francês Gironde (Gazeta de Notícias, 10 de fevereiro de 1880, sétima coluna). Ferrucci comandou as obras até fins de 1881. A partir de 20 de janeiro de 1882, o representante no Brasil da Société Anonyme des Travaux Dyle et Bacalan, o engenheiro Francisco Pereira Passos (1836 – 1913), futuro prefeito do Rio de Janeiro, entregou a chefia das obras ao engenheiro brasileiro João Teixeira Soares (1848 – 1927), que concluiu a construção da ferrovia, sendo o seu primeiro diretor.

 

 

A construção da ferrovia para a qual, entre brasileiros e estrangeiros – franceses, italianos, belgas, suíços, suecos e poloneses -, foram empregados cerca de nove mil trabalhadores, alavancou o desenvolvimento de Curitiba assim como a história da economia do Paraná.

Em 5 de junho de 1880, com a presença de dom Pedro II (1825 – 1891), em sua primeira e única visita ao Paraná, foi lançada a pedra fundamental das obras da ferrovia (Dezenove de Dezembro, 24 de maio de 1880Dezenove de Dezembro, 9 de junho de 1880, segunda coluna). A inauguração do tráfego regular da primeira seção, o trecho de Paranaguá a Morretes, ocorreu em 17 de novembro de 1883. O da segunda seção, entre Morretes e Borda do Campo ou Roça Nova, em 1884.

 

 

Em 13 de dezembro de 1884, a princesa Isabel (1846 – 1921), seus filhos, o governador do Paraná, Brasílio Augusto de Machado Oliveira (1848 – 1919); além de outras autoridades viajaram na ferrovia do Paraná, entre Curitiba e Paranaguá, onde a princesa embarcaria para Antonina e depois para Santa Catarina, onde encontraria seu marido, o conde d´Eu (1842 – 1922), em Joinville (Gazeta de Notícias, 14 de dezembro de 1884, primeira colunaDezenove de Dezembro, 14 de dezembro de 1884, primeira colunaO Paiz, 14 de dezembro de 1884, segunda coluna).

 

 

No dia 1º de fevereiro de 1885,  partiu da cidade de Curitiba um trem especial com destino à Paranaguá. Nele viajaram o dr. Brasilio Machado (1848 – 1919), presidente da Província; o chefe da Polícia, o senador Pedro Leão Veloso (1828 – 1902), o engenheiro João Teixeira Soares (1848 – 1927), dentre outras autoridades. Em Paranaguá, pelo vapor América, fretado pela Compagnie Général de Chemins de Fer Brésiliens, chegaram da Corte, no dia seguinte pela manhã, entre outros, o ministro da Agricultura, Manoel Pinto de Souza Dantas (1831 – 1894);  os ministros da Bélgica, da Rússia e da França; o Visconde de Paranaguá (1821 – 1912) e o Conselheiro Sinimbu (1810 – 1906) (Dezenove de Dezembro, 4 de fevereiro de 1885).

 

O vapor do mar, em galas, saudava a locomotiva, vapor de terra. Fulton abraçava Stephenson.

 

O fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), que fotografou a ferrovia na época de sua construção, estava presente no evento (Dezenove de Dezembro, 4 de fevereiro de 1885, terceira coluna).

 

 

Ainda na manhã de 2 de fevereiro, às 10h, o trem inaugural da Ferrovia do Paraná partiu de Paranaguá, fez uma parada em Morretes e, às 14h, em Cadeado, onde os convidados almoçaram. Houve uma série de saudações, uma delas feita pelo engenheiro Pereira Passos (1836 – 1913).

 

 

Depois de mais uma parada, na estação de Piraquara, o comboio chegou, às 19h, à Curitiba, tendo sido recepcionado por cerca de cinco mil pessoas que o aguardavam. Às 20:20, a Compagnie Général de Chemins de Fer Brésiliens ofereceu um banquete aos convidados da Corte, em um dos armazéns da estação, ornamentada com as bandeiras belga, brasileira, francesa, italiana e russa. Havia também uma exposição de utensílios dos operários que haviam trabalhado na construção da ferrovia.

 

 

 

 

 

 

Pereira Passos (1836 – 1913) presenteou dom Pedro II (1825 – 1891) com 14 fotografias e um álbum de autoria de Ferrez das obras da ferrovia, Estrada de Ferro do Paraná. O álbum integra a coleção Thereza Christina Maria, mantida na Biblioteca Nacional do Brasil, uma das instituições fundadoras da Brasiliana Fotográfica.

 

 

Em 1886, em uma reunião da Sociedade Central de Immigração, da qual faziam parte, entre outros, o astrônomo belga Louis Ferdinand Cruls (1848 – 1908), o pintor italiano Nicolau Facchinetti (1824 – 1900), e o político Alfredo d´Escragnolle Taunay (1843 – 1899), foram apresentadas por esse último, presidente da associação, fotografias da ferrovia do Paraná, de autoria de Ferrez (A Immigração, agosto de 1886).

 

álbum

 

Acesse aqui o pdf do Álbum da Estrada de Ferro do Paraná, de autoria de Marc Ferrez, com 33 imagens.

Sobre o viaduto São João, considerado o mais importante de toda a linha, inaugurado em 26 de junho de 1884 e registrado na fotografia abaixo, o engenheiro Teixeira Soares (1848 – 1927) comentou:

 

 

“Os três vãos pequenos são vencidos com vigas de alma cheia. Só o vão central é de treliça. Assenta sobre pilares de ferro batido, apoiados em base de alvenaria de pedra. A estrutura metálica é fabricada na Bélgica. Fornecemos os perfis do terreno natural e do greide. Eles projetam cada ponte ou viaduto de acordo com o trem de carga especificado. Aqui fazemos a montagem, que não é fácil. Para muita gente pode parecer desperdício pilares metálicos, se estamos rodeados de granito e de gnaisse em abundância. Acontece que a experiência europeia concluiu que, a partir de 30 metros, o ferro torna-se mais econômico do que a alvenaria de pedra. O alojamento e a manutenção do numeroso pessoal necessário à execução de importantes maciços de alvenaria acarretam dificuldades. Embora isso, os pilares metálicos devem ser embutidos em bases de alvenaria, com certa altura. Não só impedem que a unidade provoque a corrosão do metal, como evitam que suba até a estrutura metálica. Para vãos inferiores a 15 metros, os europeus recomendam vigas de alma cheia. Mais afoitos, os americanos as empregam até vãos de 35 metros. Seu inconveniente é a rebitagem. Trabalho insano. Como estamos sujeitos ao mercado europeu, acima de 15 metros usamos vigas em treliça, a exemplo do vão central. As treliças simples são três. Em “V”, conhecidas por vigas ‘Warren’, do nome do engenheiro inglês que primeiro as usou no seu país. Em “N”, ou Monier, nome do engenheiro belga que as patenteou em 1858, na Alemanha. Finalmente as Neville, nome tirado do engenheiro americano que as inventou, mas que não passam de um tipo misto das anteriores. Aqui, dada a extensão do vão, os belgas projetaram uma treliça múltipla dupla.”

 

Pequena cronologia da carreira de Marc Ferrez como fotógrafo no setor ferroviário

 

 

1880 – Entre 1880 e 1890,  fotografou as construções ferroviárias no Brasil, quando produziu um grande panorama da paisagem brasileira de sua época.

1882 – Fotografou as obras da ferrovia Dom Pedro II, em São Paulo e em Minas Gerais, tendo registrado a presença do imperador Pedro II e de sua comitiva na entrada do túnel da Serra da Mantiqueira (Gazeta de Notícias, 27 de junho de 1882, na quarta coluna).

 

1883 – O Club de Engenharia ofereceu uma recepção ao engenheiro hidráulico holandês J. Dirks, o grande especialista da época em portos e canais, que estava de passagem pelo Rio de Janeiro e seguiria para Valparaíso, no Chile. Na ocasião, foi realizada uma exposição de fotografias das estradas de ferro, de autoria de Marc Ferrez (Revista de Engenharia, 14 de abril de 1883).

c. 1884 – Fotografou as obras da ferrovia do Paraná (Paranaguá – Curitiba. O gerente da firma Société Anonyme des Travaux Dyle et Bacalan, empreiteira belga encarregada pelas obras, o futuro prefeito do Rio de Janeiro, o engenheiro Francisco Pereira Passos (1836 – 1913), presenteou dom Pedro II com 14 fotografias e um álbum de autoria de Ferrez com registros da ferrovia e da província do Paraná.

1884 - Exposição de fotografias da estrada de ferro Teresa Cristina, na A la Glacê Elegante (Gazeta da Tarde, 11 de novembro de 1884, na quinta coluna).

1885 – Ferrez participou da inauguração da ferrovia do Paraná, a estrada de ferro Paranaguá – Curitiba (Dezenove de Dezembro, 4 de fevereiro de 1885, na terceira coluna).

1886 – Em uma reunião da Sociedade Central de Immigração, da qual faziam parte, entre outros, o astrônomo belga Louis Ferdinand Cruls (1848 – 1908), o pintor italiano Nicolau Facchinetti (1824 – 1900), e o político Alfredo d´Escragnolle Taunay (1843 – 1899), foram apresentadas por esse último, presidente da associação, fotografias da ferrovia do Paraná, de autoria de Ferrez (A Immigração, agosto de 1886).

O Club de Engenharia aprovou a proposta de Marc Ferrez e de E. de Mascheuk para a execução de “diversos trabalhos concernentes à exposição dos caminhos de ferro” (Revista de Engenharia, 14 de dezembro de 1886, na primeira coluna).

Ferrez fotografou a ferrovia Dom Pedro II, em Juiz de Fora.

1887 - Entre 2 de julho e 2 de agosto, nos salões do Liceu de Artes e Ofícios, por uma iniciativa do Club de Engenharia, realizou-se a Exposição dos Caminhos de Ferro Brasileiros, com a exibição de fotografias de Ferrez (Revista de Engenharia, 14 de agosto de 1887). Estiveram presentes no encerramento da exposição, no dia 2 de agosto, a princesa Isabel(1845 – 1921) e o conde d´Eu (1842 – 1922), além de outras autoridades. O conselheiro Sinimbu (1810 – 1906) leu o relatório do júri da exposição, do qual também fazia parte o visconde de Mauá (1813 – 1889), Pedro Betim Paes Leme (1846 – 1918), Christiano Benedicto Ottoni (1811 – 1896), Carlos Peixoto de Mello (1871 – 1917), Álvaro Joaquim de Oliveira (1840 – 1922) e Manoel José Alves Barbosa (1845 – 1907). Ferrez foi contemplado com uma menção honrosa pelas “magníficas fotografias de importantes trechos de nossas vias férreas, com que concorreu não só para abrilhantar a Exposição como até para suprir algumas lacunas sensíveis de estradas que se não fizeram representar” (Jornal do Commercio, 3 de agosto de 1887, na terceira coluna e Revista de Estradas de Ferro, 31 de agosto de 1887, na primeira coluna).

1888 – Em 25 de novembro, foi inaugurado o tráfego entre as estações de Alcântara e Rio do Ouro da estrada de ferro de Maricá. Marc Ferrez fotografou “instantaneamente ” um grupo de convidados da diretoria das estradas na estação Santa Izabel (Revista de Engenharia, 28 de dezembro de 1888, na primeira coluna).

1890 – Em setembro, Ferrez integrou a comitiva convidada para a  inauguração das obras da ferrovia Benevente -Minas, de Carangola a Benevente, atual Anchieta, no Espírito Santo (Diário de Notícias, 28 de setembro de 1890, quinta coluna).

1891 – Na Revista de Engenharia, 28 de dezembro de 1890, foi publicado um anúncio: “Marc Ferrez – Fotógrafo da Marinha Nacional. Especialista de vistas de estradas de ferro e em geral das grandes obras públicas. Reprodução de plantas com traços pretos sobre fundo branco. Rua São José 8″. O mesmo anúncio voltou a ser veiculado na edição de 14 de agosto de 1891.

1892 – Foi determinado que nas estradas de ferro subvencionadas pelo governo federal fossem liberados passes de ida e volta para Marc Ferrez e um ajudante para que pudessem “levantar fotografias em diversas localidades para o serviço da Exposição Universal Colombiana de Chicago”, que aconteceu entre 1º de maio e 30 de outubro de 1893 para celebrar os 400 anos da chegada do navegador genovês Cristóvão Colombo (1451 – 1506) ao Novo Mundo, em 1492 (Jornal do Brasil, 21 de agosto de 1892, na quinta coluna).

1895 – Em novembro, Ferrez fotografou, em Búzios, os convidados e a comissão responsável pela construção da Estrada de Ferro Rio de Janeiro-Minas, que uniria o povoado de Búzios a Paquequer, no estado de Minas Gerais (A Notícia, 11 de novembro de 1895, segunda coluna).

1900 – Revista da Semana de 21 de outubro de 1900, publicou uma litogravura da Estação Central da Estrada de Ferro da Central do Brasil baseada em uma fotografia de autoria de Marc Ferrez.

 

 

1904 - Exposição de fotografias da estrada de ferro Central do Brasil de autoria de Ferrez, no Club de Engenharia (O Commentario, março de 1904).

1908 – A Casa Marc Ferrez produziu filmes sobre obras em estradas de ferro do Brasil.

 

Cronologia do fotógrafo Arthur Júlio Wischral

 

 

1894 - Em Curitiba, nascimento de Arthur Júlio Wischral, descendente de alemães.

c. 1910 - Com uma máquina fotográfica emprestada de um amigo, Arthur Wischral procurou orientação do fotógrafo alemão Germano Fleury (1873 – 1945), estabelecido em Curitiba, durante a década de 1900. Além de fotografar, Fleury comercializava artigos fotográficos. Na cidade havia, na época, estúdios fotográficos utilizando as últimas técnicas trazidas da Europa e aonde também eram vendidos cartões postais e materiais fotográficos. Com Fleury, Wischral teve as primeiras noções de fotografia profissional. Segundo ele, quando começou a fotografar gostava de registrar cenas incomuns das reuniões familiares (Diário do Paraná, 28 de junho de 1975).

1912 – Fotografou o primeiro bonde elétrico de Curitiba, que saiu da praça Ouvidor Pardinho com destino ao Portão (Diário do Paraná, 28 de junho de 1975).

1913 - Ganhou de seu pai uma máquina fotográfica com todas as inovações que as indústrias de Dresden haviam conquistado até então. Custando 120 mil réis, a câmara apresentava fole, movas dimensões 13 x 18 cm – e vários outros recursos que possibilitavam um trabalho ainda mais sensível e de qualidade (Diário do Paraná, 21 de junho de 1975). Antes, seu pai havia tentado demovê-lo da ideia de ser fotógrafo. Queria que o filho se dedicasse ao violino.

O amador fotográfico Arthur Wischral fotografou os enterros de Mário de Castro e de Francisco de Luccas, em Curitiba (Diário da Tarde (PR), 14 de maio de 1913, quinta coluna).

Trabalhava como repórter fotográfico do jornal A República, do Paraná, e produziu registros de manobras militares realizadas pelo Regimento de Segurança na invernada do Campo Comprido (A República (PR), 26 de maio de 1913, sexta coluna).

Fotografou uma horrível catástrofe quando 26 tamboretes de explosivos de guerra explodiram nos armazéns da Rede Ferroviária, na praça Eufrásio Correia, causando a morte de 8 soldados, 3 operários e uma criança, deixando vários feridos e produzindo grandes danos materiais. As fotos foram vendidas para jornais do Rio de Janeiro e de São Paulo (A República (PR), 2 de julho de 1913, primeira coluna; Diário do Paraná, 28 de junho de 1975).

Pelo jornal A República (PR), ele e Seraphin França acompanharam o governador do Paraná,  Carlos Cavalcanti (1864 – 1935), em uma viagem a cidades do litoral do estado (A República (PR), 14 de julho de 1913, terceira coluna; A República (PR), 22 de julho de 1913, sexta coluna).

Wischral era o repórter fotográfico da revista ilustrada, humorística e literária A Bomba (PR), publicada nos dias 10, 20 e 30 de cada mês. Era de propriedade de Marcello Bittencourt (A Bomba, 30 de julho de 1913, primeira coluna).

Além de Wischral, a Photographia Volk passou a integrar a equipe de reportagem fotográfica da revista A Bomba (PR) (A Bomba (PR), 10 de setembro de 1913, segunda coluna).

 

 

1914 – Estava presente à inauguração do ramal Serrinha – Nova Restinga, da Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande (A República (PR), 19 de fevereiro de 1914, última coluna).

Em 5 de abril, fotografou o primeiro voo de avião realizado em Curitiba. O piloto foi Cícero Martins (Diário do Paraná, 28 de junho de 1975).

Já estava na Alemanha e não era repórter fotográfico de A República (PR) (A República (PR), 30 de outubro de 1914, última coluna). A conselho de seu pai, havia viajado para aprender novas técnicas fotográficas. Ficou no país até depois do fim da Primeira Guerra Mundial. Empregou-se num estabelecimento que prestava serviços fotográficos para amadores. Fez um estágio no laboratório na Universidade de Würzburg e aprendeu a técnica do retoque com um fotógrafo da cidade, dominada por poucos profissionais em Curitiba. Em Würburg, encontrou-se uma vez com o futuro papa Pio XII a quem perguntou onde poderia encontrar pessoas que falassem português e ele lhe indicou uma escola onde estavam alguns feridos de guerra. Eram portugueses e estranharam o sotaque dele.  Durante sua estada na Alemanha, trabalhou durante seis anos no jornal Franken Warte. No período em que ficou na Europa viajou para diversos países do continente (Diário do Paraná, 28 de junho de 1975).

1921 – Voltou a Curitiba e por volta dessa época começou a prestar serviços para o governo e para empresas. Fotografou o interior do Paraná, realizando uma série de imagens que integrariam o estande do estado na exposição comemorativa do Centenário da Independência do Brasil, no Rio de Janeiro.

1922 – Fotografou a exposição comemorativa do Centenário da Independência do Brasil, no Rio de Janeiro.

Voltou ao Rio de Janeiro, onde fotografou os primeiros prédios da orla carioca e também os arredores de Petrópolis.

1924 - Esteve no Palácio do governador do Paraná, Caetano Munhoz da Rocha (1879 – 1944) (O Dia, 13 de fevereiro de 1924, terceira coluna).

O hábil fotógrafo Arthur Wischral realizou na Villa Olga uma sessão de projeção de fotografias (O Dia (PR), 30 de março de 1924).

 

 

1926 – No artigo Uma audaciosa excursão ao Marumby, escrito por Affonso Wischral, de 9 de julho de 1926, foi mencionado que o autor e Arthur Wischral haviam fotografado aspectos do passeio que poderiam ser vistos na loja “O Pequeno Paris“, na rua 15, nº 58 (O Dia (PR), 26 de julho de 1926, última coluna).

1928 – Foi contratado pela Rede Viação Paraná – Santa Catarina e registrou o dia a dia das obras, as dificuldades dos trabalhadores e as obras de manutenção da estrada de ferro Curitiba – Paranaguá, inaugurada em 1885 e considerada um marco na história da engenharia no Brasil. Um álbum, editado pelo próprio fotógrafo e por J. J. Wischral, foi produzido com esses registros. O endereço deles era avenida Silva Jardim, nº 175.

 

 

Acessando o link para o Álbum de Fotografias da Ferrovia de Curitiba a Paranaguá, de autoria de Arthur Wischral, disponível na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

1929/1931 - Durante cerca de um ano e meio, Wischral permaneceu na Bahia onde documentou, contratado pelas Empresas Elétricas Brasileiras S.A, a construção da Barragem Jerry O´Connell, em Bananeiras. Uma das fotografias da barragem foi publicada no Estado de Florianópolis, 26 de julho de 1930.

 

O contrato previa também a produção de uma série de imagens de Salvador e do interior da Bahia que foram, posteriormente, reunidas em uma publicação de quatro volumes intitulada Desenvolvimento, Geologia e Produtos Agrícolas, Indústria do Cacau, feita pelas Empresas Elétricas Brasileiras S.A.

Wischral montou, com imagens de sua estada na Bahia, um álbum pessoal com cerca de 500 fotografias.

1934 - Registrou-se para receber algum pagamento da prefeitura de Curitiba (Correio do Paraná, 21 de fevereiro de 1934, quinta coluna).

1935 – Na ocasião do cinquentenário da Estrada de Ferro do Paraná, Wischral, identificado como veterano dessas empreitadas estéticas e artista da Kodak, deu um depoimento, publicado no jornal O Dia (PR), 9 de janeiro de 1935.

Foi contratado para acompanhar e documentar a expedição do coronel Raul Bandeira de Mello ao sudoeste do Paraná. As fotos e o relatório deram origem ao livro de mais de 400 páginas Ensaios de Geobélica Brasileira, editado pela Imprensa Nacional em 1938. O nome do fotógrafo não foi citado. A expedição registrou fatos e imagens desde Palmas até 7 Quedas e é um documento formidável da vida naquelas paragens nos anos 30. Eles documentaram os lugares das batalhas da revolução de 1924 e a situação de pontes, estradas e as defesas militares brasileiras na região. Também indígenas e até um chocante registro de uma família de deficientes físicos gerados por um casal de irmãos, imagens que correram o Brasil à época. Ao final uma cena bucólica com o comandante da expedição em meio aos hóspedes do hotel argentino das cataratas, constando do acervo até uma carta de “vinos” e menu, com a assinatura de todos os presentes. São mais de 90 fotos e mapas que mereciam uma exposição e uma edição fac-símile da obra, ou pelo menos das suas fotografias. Os originais encontram-se com Paulo José da Costa, proprietário da Fígaro Loja de Cultura Sebo e Antiquário, de Curitiba (Página Arthur Wischral no Facebook).

 

geobélia

 

1936 - A matéria Capricho ou punição da natureza, sobre as consequências da sífilis, trazia uma fotografia de uma família com 4 filhos portadores de deficiência física , produzida por Wischral quando esteve no sertão de Guarapuava (O Estado (SC), 2 de setembro de 1936, primeira coluna).

1937 – Uma fotografia de sua autoria foi publicada no artigo A Floresta Brasileira (O Observador Econômico e Financeiro, agosto de 1937). 

 

 

Década de 1940 – No início dessa década, Wischral foi contratado pela prefeitura de Curitiba e documentou detalhadamente as obras do Plano Agache. Ao longo de três décadas fotografou a transformação da cidade, a urbanização dos bairros, o alargamento das ruas, a construção de praças ajardinadas e dos primeiros grandes edifícios.

Seu laboratório ficava na rua Desembargador Westphalen.

1950 – A mesma fotografia publicada na edição de agosto de 1937 da revista Observador Econômico e Financeiro foi de novo publicada na edição de julho de 1950 da mesma revista. No ano seguinte, um leitor da revista, Martim Zipperer, de Curitiba, curioso acerca da autoria da fotografia que, segundo ele, foi produzida no rio dos Bugres, no município de São Bento do Sul, em Santa Catarina, a pedido de um de seus parentes, procurou a revista. Havia fotografado o mesmo local e a imagem foi publicada em Observador Econômico e Financeiro, abril de 1951. Segundo a reportagem “o confronto dessas fotografias, representando duas épocas, é um dos mais impressionantes documentos que se poderia divulgar sobre os males causados pela economia predatória que vem sido exercida sobre as nossas reservas florestais!”

 

 

1964 - Uma fotografia de 1912 ou 1914, de autoria de Wischral foi publicada (Correio do Paraná, 23 de fevereiro de 1964, penúltima coluna).

 

 

1967 - Com texto de Sérgio Augusto e fotografias de Arthur Wischral, publicação do artigo A maravilhosa Curitiba-Paranaguá (Diário do Paraná, 15 de julho de 1967).

Publicação da matéria Era uma vez um vapor chamado Pery, com texto de Sérgio Augusto e fotos cedidas por Wischral (Diário do Paraná, 6 de agosto de 1967).

Com fotografias dos arquivos de César Pinto e de Arthur Wischral, publicação da matéria Prefeitura -Século XX (I – Parte Primeira – Do aluguel de 200 mil réis à casa própria (Diário do Paraná, 10 de setembro de 1967).

1975 – Publicação da matéria Curitiba em dois tempos, com fotos antigas produzidas por Wischral e com atuais do fotógrafo Mário Nunes do Nascimento (Diário do Paraná, 21 de junho de 1975). Dias depois, publicação de uma matéria sobre sua vida (Diário do Paraná, 28 de junho de 1975).

1978 - Publicação de um artigo com fotografias de carnavais antigos sob as lentes de Wischral (Diário do Paraná, 3 de fevereiro de 1978).

1979 - Na Casa Romário Martins, em Curitiba, realização da exposição Imagens e paisagens que Curitiba perdeu, com registros de Wischral e de outros fotógrafos (Diário do Paraná, 10 de junho de 1979, primeira coluna).

 

 

1982 – Na Sala Funarte, em Curitiba, realização da exposição Paraná de ontem com fotografias de Wischral e de Alberto Weiss, dentre outros (Diário do Paraná, 4 de maio de 1982, terceira coluna).

O fotógrafo Arthur Wischral faleceu, em setembro.

Década de 1990 – Em fins dessa década, A Universidade Federal da Bahia comprou da família do fotógrafo o álbum montado por ele com cerca de 500 imagens de sua estada na Bahia em torno de 1930.

1994 – Foi um dos fotógrafos com obras expostas no evento Curitiba Capital Nacional de Fotografia, entre 14 e 21 de agosto (Jornal do Brasil, 27 de julho de 1994).

2020 – O Instituto Moreira Salles adquiriu em leilão 91 imagens de um conjunto de registros de Salvador e de outras localidades, realizadas em 1931, por ocasião das obras da construção da usina hidrelétrica de Bananeiras, todas de autoria de Wischral. Complementam o trabalho do fotógrafo presente no acervo do IMS, que já possuía o álbum Estrada de Ferro Curitiba-Paranaguá, de 1928.

 

Link para um pequeno filme realizado pelo Paraná Portal sobre Arthur Wischral

Link para o filme Ferrovia Curitiba Paranaguá vista por Arthur Wischral

Link para a cronologia de Marc Ferrez, publicada na Brasiliana Fotográfica, em 7 de dezembro de 2016

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

A construção do trem da Serra do Mar entre Curitiba e o Litoral em 1885, TV Bandeirantes, Youtube

Blog de Paulo José da Costa

Boletim Casa Romário Martins. O acervo Wischral: documentos de um olhar / pesquisa e texto por Maria Luiza Baracho e Marcelo Saldanha Sutil; apresentação por João Urban. Curitiba : Fundação Cultural de Curitiba, vol 31, n. 134, abril de 2007.

CERON, Ileana Pradilla Ceron. Marc Ferrez – uma cronologia da vida e da obra. São Paulo : Instituto Moreira Salles, 2018.

Estrada de Ferro Paranaguá Curitiba, Youtube

Facebook

Ferrovia Paranaguá-Curitiba 130 Anos – Documentário, Youtube

Gazeta do Povo

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002.

Site Artes na Web

Site Biblioteca Digital Mundial

Site Clube dos Amantes da Ferrovia

Site Inbec-Pós-graduação

Site Paraná Portal

Site Patrimônio belga no Brasil

Site Prefeitura de Curitiba

TURAZZI, Maria Inez. Cronologia. In O Brasil de Marc Ferrez – São Paulo : Instituto Moreira Salles, 2005.

 

Publicações da Brasiliana Fotográfica em torno da obra do fotógrafo Marc Ferrez 

 

O Rio de Janeiro de Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 30 de junho de 2015

Obras para o abastecimento no Rio de Janeiro por Marc Ferrez , de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 25 de janeiro de 2016

O brilhante cronista visual Marc Ferrez (7/12/1843 – 12/01/1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 7 de dezembro de 2016

Do natural ao construído: O Rio de Janeiro na fotografia de Marc Ferrez, de autoria de Sérgio Burgi, um dos curadores da Brasiliana Fotográfica, publicada em 19 de dezembro de 2016

No primeiro dia da primavera, as cores de Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 22 de setembro de 2017

Marc Ferrez , a Comissão Geológica do Império (1875 – 1878) e a Exposição Antropológica Brasileira no Museu Nacional (1882), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica,  publicada em 29 de junho de 2018

Série “O Rio de Janeiro desaparecido” V – O quiosque Chopp Berrante no Passeio Público, Ferrez, Malta e Charles Dunlop, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 20 de julho de 2018

Uma homenagem aos 175 anos de Marc Ferrez (7 de dezembro de 1843 – 12 de janeiro de 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 7 de dezembro de 2018 

Pereira Passos e Marc Ferrez: engenharia e fotografia para o desenvolvimento das ferrovias, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 5 de abril de 2019

Fotografia e ciência: eclipse solar, Marc Ferrez e Albert Einstein, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 

Os 180 anos da invenção do daguerreótipo – Os álbuns da Comissão Geológica do Império com fotografias de Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 19 de agosto de 2019

Celebrando o fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 4 de dezembro de 2019

Uma homenagem da Casa Granado ao imperial sob as lentes de Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 7 de fevereiro de 2020

Ressaca no Rio de Janeiro invade o porão da casa do fotógrafo Marc Ferrez, em 1913, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado 6 de março de 2020

Petrópolis, a Cidade Imperial, pelos fotógrafos Marc Ferrez e Revert Henrique Klumb, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 16 de março de 2020

Bambus, por Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 5 de junho de 2020

O Baile da Ilha Fiscal: registro raro realizado por Marc Ferrez e retrato de Aurélio de Figueiredo diante de sua obra, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 9 de novembro de 2020

O Palácio de Cristal fotografado por Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 2 de fevereiro de 2021

Dia dos Pais – Julio e Luciano, os filhos do fotógrafo Marc Ferrez, e outras famílias, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 6 de agosto de 2021

No Dia da Árvore, mangueiras fotografadas por Ferrez e Leuzinger, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 21 de setembro de 2021

Retratos de Pauline Caroline Lefebvre, sogra do fotógrafo Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 28 de abril de 2022

A Serra dos Órgãos: uma foto aérea e imagens realizadas pelos mestres Ferrez, Leuzinger e Klumb, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 30 de junho de 2022

O centenário da morte do fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 12 de janeiro de 2023

O Observatório Nacional pelas lentes de Marc Ferrez, amigo de vários cientistas, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 29 de maio de 2023

No Dia Mundial do Meio Ambiente, a potente imagem da Cachoeira de Paulo Afonso, por Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 5 de junho de 2023

A Fonte Adriano Ramos Pinto por Guilherme Santos e Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 18 de julho de 2023

Os 180 anos de nascimento do fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 7 de dezembro de 2023

 

 

As doenças do Rio de Janeiro no início do século XX e a Revolta da Vacina em 1904

No início do século XX, no Rio de Janeiro, providências em torno do combate de diversas doenças já provocavam grandes polêmicas. A campanha de combate à varíola resultou, em novembro de 1904, em uma revolta popular e militar, a Revolta da Vacina ou Quebra-Lampiões – um protesto contra a lei que tornava obrigatória a vacinação em massa contra a doença, instituída pelo prefeito Pereira Passos e colocada em prática pelo então Diretor Geral de Saúde Pública, Oswaldo Cruz, contratado para o cargo para combater a varíola, assim como a peste bubônica e a febre amarela, que grassavam na cidade. Vamos contar um pouco dessa história.

 

 

Em 30 de dezembro de 1902, por decreto, Francisco Pereira Passos (1836 – 1913) foi nomeado prefeito do então Distrito Federal, o Rio de Janeiro, pelo presidente Rodrigues Alves (1848 – 1919), que prometia marcar seu governo pela modernização e pelo saneamento. Assumiu no mesmo dia (Gazeta de Notícias, 31 de dezembro de 1902, na sexta coluna), sucedendo Carlos Leite Ribeiro (1858 – 1945). Ocupou o cargo até 16 de novembro de 1906, quando foi sucedido por Francisco Marcelino de Sousa Aguiar (1855 – 1935) (O Paiz, 17 de novembro de 1906, na sexta coluna). Durante seu mandato, o prefeito Pereira Passos realizou uma significativa reforma urbana na cidade.

Para saneá-la e modernizá-la realizou diversas demolições, conhecidas popularmente como a política do “bota-abaixo”, que contribuiu fortemente para o surgimento do Rio de Janeiro da Belle Époque, sendo a abertura da Avenida Central dos seus maiores símbolos, festejada em uma crônica de Olavo Bilac (1865 – 1918) (Kosmos, março de 1904) . Essas transformações foram definidas por Alberto Figueiredo Pimentel (1869-1914), autor da seção “Binóculo”, da Gazeta de Notícias, com a máxima “O Rio civiliza-se”, que se tornou o slogan da reforma urbana carioca. Foi também Pereira Passos que contratou, em 1903, o primeiro fotógrafo oficial da prefeitura, Augusto Malta (1864 – 1957), justamente para documentar todas essas inúmeras e radicais mudanças na cidade.

 

 

Mas as reformas urbanas não eram o bastante para mudar o perfil do Rio de Janeiro, na época uma cidade bastante insalubre, assolada por doenças e sem saneamento básico, certamente obstáculos para o estabelecimento de uma sociedade moderna e cosmopolita nos moldes das capitais europeias. Lembramos do caso do cruzador italiano Lombardia que aportou na cidade, em novembro de 1895, e teve grande parte de sua tripulação infectada pela febre amarela. O capitão-de-fragata e comandante do navio, Olivari, e outros tripulantes, faleceram da doença (O Paiz, 28 de novembro de 1895, quinta coluna; O Paiz, 15 de fevereiro de 1896, quarta coluna; O Paiz, 17 de fevereiro de 1896, quinta coluna; O Paiz, 25 de fevereiro, sexta coluna; O Paiz, 29 de fevereiro de 1896, sexta colunaO Paiz, 1º de março de 1896, penúltima coluna; O Paiz, 9 de março de 1896, quarta colunaO Paiz, 10 de abril de 1896, penúltima coluna).

O Rio de Janeiro era inclusive conhecido internacionalmente como “túmulo dos estrangeiros”, possivelmente devido a versos sobre o verão carioca atribuídos ao escritor suíço Ludwig Ferdinand Schmid (1823-1888), que havia sido cônsul no Rio de Janeiro na década de 1860:

Oh! sombra, sobre a imagem encantada / Cores escuras pousam sobre os campos e florestas / O mal da natureza paira, poderoso / Sobre a florida superfície tropical /O poder supremo/ Deste Império não é de nenhum Herodes / No entanto é a terra da morte diária / Túmulo insaciável do estrangeiro”.

Pereira Passos assumiu a prefeitura de uma cidade que no fim do Império tinha uma população de cerca de 500 mil habitantes e que atingira cerca de 700 mil pessoas em 1904. Ele aliou a reforma urbanística e arquitetônica da cidade – que incluiria a construção de um novo porto, de novas avenidas, o aterramento de praias, o desmonte de morros, a derrubada de casas e cortiços e o embelezamento de praças e jardins, que não deixou de ter seu lado excludente e criticado, deslocando parte da população do centro para o subúrbio e também contribuindo para o surgimento das favelas – a uma nova política higienista. Para implementar medidas sanitárias arrojadas foi nomeado pelo presidente Rodrigues Alves para a direção geral de Saúde Pública o jovem médico Oswaldo Cruz (1872 – 1917), que tomou posse em 23 de março de 1903. Ficou no cargo até 1909.

 

Oswaldo Cruz havia estudado microbiologia, soroterapia e imunologia no Instituto Pasteur, e medicina legal no Instituto de Toxicologia, na França, entre 1897 e 1898. Quando voltou ao Brasil, tomou posse, em 24 de agosto de 1899, na Academia Nacional de Medicina, e, em 1900, assumiu a direção técnica do Instituto Soroterápico Federal, o qual passou a dirigir em 1902.

 

 

Os principais problemas que Oswaldo Cruz teve que enfrentar como Diretor Geral de Saúde Pública foram a febre amarela, a peste bubônica e a varíola. Um de seus colaboradores foi o sanitarista Belisário Penna (1868 – 1939).

 

 

A febre amarela

 

 

Em 1902, a febre amarela havia sido responsável pela morte de cerca de mil pessoas no Rio de Janeiro. Oswaldo Cruz era adepto da teoria do médico cubano Carlos Finlay (1833 – 1915) sobre a transmissão da febre amarela pelos mosquitos Stegomyia fasciata. Para exterminá-los, em abril de 1903, iniciou a campanha de combate à doença. Em 15 de abril, foi criado o Serviço de Profilaxia Específica da Febre Amarela (O Paiz, 18 de abril de 1903, sexta coluna; 22 de abril de 1903, quarta coluna; 25 de abril, quinta coluna; e 29 de abril, quarta coluna).

 

 

 

A execução dessa profilaxia foi regulamentada pelas “Instruções para o Serviço de Profilaxia Específica de Febre-Amarela” nos primeiros dias de maio de 1903, do ministro da Justiça e Negócios Interiores, J.J. Seabra (1855 – 1942) (O Paiz, 7 de maio de 1903, penúltima coluna).

 

 

Foram criadas as brigadas sanitárias, que “eram constituídas por 1 inspetor do serviço, responsável por toda a execução das atividades e nomeado por decreto; 10 médicos que o auxiliam, destacados dentre os inspetores sanitários pelo diretor geral de saúde pública, mediante indicação do inspetor do serviço; 70 auxiliares acadêmicos e 9 chefes de turma, nomeados pelo diretor geral de saúde pública; 1 administrador do serviço, 1 almoxarife e 1 escrituario-arquivista, nomeados por portaria do Ministro; 200 capatazes, 18 guardas de saúde de primeira classe e 18 de segunda classe, 18 carpinteiros e pedreiros, bombeiros, cocheiros, nomeados pelo inspetor do serviço; e quantos mais trabalhadores fossem necessários” (BRASIL, 1905).

 

 

Guardas “mata-mosquitos” visitavam casas nas diversas regiões da cidade, muitas vezes acompanhados por soldados da polícia. A cidade foi dividida em distritos sanitários, sob jurisdição das delegacias de Saúde, que recebiam notificações dos enfermos, aplicavam multas e intimavam os donos de imóveis considerados insalubres a reformá-los ou até mesmo a demoli-los. Providenciava-se a remoção de pessoas infectadas para hospitais, o isolamento domiciliar dos enfermos assim como a desinfecção dos ambientes. Ao mesmo tempo, Oswaldo Cruz fazia circular na imprensa os folhetos Conselhos ao Povo, de divulgação das medidas adotadas.

 

 

A doença foi perdendo a força e, em 1907, Oswaldo Cruz escreveu ao presidente Afonso Pena (1847 – 1909): “graças à firmeza e vontade do governo, a febre amarela já não mais devasta sob a forma epidêmica a capital da República”. Nesse mesmo ano, a delegação brasileira de cientistas de Maguinhos, liderada por Oswaldo Cruz, recebeu a medalha de ouro no XIV Congresso Internacional de Higiene e Demografia de Berlim.

 

 

Acessando o link para as fotografias relativas à febre amarela disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

Aline Lopes de Lacerda, historiadora e chefe do Departamento de Arquivo e Documentação da COC/Fiocruz,  escreveu o artigo Febre amarela: imagens da produção da vacina no início do século XX, publicado na Brasiliana Fotográfica, em 25 de março de 2018. Cristiane d’Avila, jornalista do Departamento de Arquivo e Documentação da Casa de Oswaldo Cruz, escreveu Vacinação no Brasil, uma história centenária, publicado em 17 de agosto de 2018. Ricardo Augusto dos Santos, pesquisador titular da Fundação Oswaldo Cruz, escreveu o artigo O sanitarista Belisário Penna (1868-1939), um dos protagonistas da história da saúde pública no Brasil, também publicado no portal, em 28 de setembro de 2018. A Fiocruz é uma das instituições parceiras da Brasiliana Fotográfica.

 

A peste bubônica

 

 

A peste bubônica, doença transmitida pela picada de pulgas infectadas por ratos contaminados pela bactéria Yersinia pestis, o bacilo descoberto pelo suíço Alexandre Yersin (1863 – 1943) e pelo japonês Shibasaburo Sato (1852 – 1931), em 1894, chegou ao Brasil, pelo porto de Santos, em 1900. Foi combatida por Oswaldo Cruz e as medidas contra a peste bubônica não encontraram resistência da população. Foi intensificada a limpeza urbana e a notificação dos doentes era compulsória, o que ajudava no isolamento e no tratamento dos mesmos com o soro fabricado no Instituto Soroterápico Federal. Foi também promovida a vacinação de pessoas residentes nas áreas mais atingidas e uma abrangente campanha de desratização foi realizada: os funcionários destacados para a função tinham que recolher 150 ratos por mês, pelos quais recebiam 60 mil-réis.

A Diretoria Geral de Saúde Pública (DGSP) passou a comprar ratos: para cada animal morto apresentado, pagava-se a quantia de duzentos réis, o que ocasionou o surgimento da profissão de “ratoeiro” – compravam ratos a baixo preço ou até mesmo os criavam em casa e os revendiam para a DGSP. A “guerra aos ratos” virou motivo de piada, de críticas (Revista da Semana, 21 de agosto de 1904Kosmos, outubro 1904) e até uma música sobre o tema, a polca Rato, rato, composta por Casemiro da Rocha (1880 – 1912), integrante da banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, com letra de Claudino Costa, foi um grande sucesso no carnaval de 1904. Foi gravada na Casa Edison.

 

 

O fato é que as mortes por peste bubônica que, em 1903, atingiram o índice de 48,74 mortes para cada 100 mil habitantes, caíram vertiginosamente e quando Oswaldo Cruz deixou a Diretoria Geral de Saúde Pública, em 1909, esse índice chegou ao seu mais baixo patamar: 1,73.

 

A varíola e a Guerra da Vacina

 

 

Até meados de 1904, as internações causadas pela varíola já chegavam a 1800 no Hospital São Sebastião. Oswaldo Cruz pretendeu controlar a doença com a vacinação em massa da população. Pediu que fosse enviado ao Congresso Nacional um projeto de lei para resgatar a obrigatoriedade da vacinação e revacinação antivariólica. A vacinação já estava contemplada em uma lei em vigor desde 1837, mas que nunca havia sido cumprida.

 

 

 

A medida enfrentou a oposição liderada pelo senador paraense Lauro Sodré (1858 – 1944), líder do Partido Republicano Federal, e pelos deputados pernambucano Barbosa Lima (1862 – 1931) e gaúcho Alfredo Varela (1864 – 1943), todos contra o governo do presidente Rodrigues Alves, do Partido Conservador. O Apostolado Positivista do Brasil, liderado por Raimundo Teixeira Mendes (1855 – 1927), também se opôs à lei.

 

 

 

 

Jornais e políticos lançaram uma campanha contra a medida, incitando a desobediência à lei, que eles classificavam como despótica e ameaçadora, já que estranhos tocariam nas pessoas no caso da vacinação, além de entrarem nas casas para desinfecção. Além disso, a vacina, que consistia no líquido de pústulas de vacas doentes, era rejeitada pelas camadas populares – havia um boato de que os vacinados adquiriam feições bovinas…

 

 

 

Finalmente, foi promulgada, em 31 de outubro de 1904, uma lei que tornou a vacinação e a revacinação contra a varíola obrigatória.

 

Lei n° 1.261, de 31 de outubro de 1904

 

Torna obrigatorias, em toda a Republica, a vaccinação e a revaccinação contra a variola.

O Presidente da Republica dos Estados Unidos do Brazil:
Faço saber que o Congresso Nacional decretou e eu sancciono a lei seguinte:

     Art. 1º A vaccinação e revaccinação contra a variola são obrigatorias em toda a Republica.

     Art. 2º Fica o Governo autorizado a regulamental-a sob as seguintes bases:

     a) A vaccinação será praticada até o sexto mez de idade, excepto nos casos provados de molestia, em que poderá ser feita mais tarde;

     b) A revaccinação terá logar sete annos após a vaccinação e será repetida por septennios;

     c) As pessoas que tiverem mais de seis mezes de idade serão vaccinadas, excepto si provarem de modo cabal terem soffrido esta operação com proveito dentro dos ultimos seis annos;

     d) Todos os officiaes e soldados das classes armadas da Republica deverão ser vaccinados e revaccinados, ficando os commandantes responsaveis pelo cumprimento desta;

     e) O Governo lançara mão, afim de que sejam fielmente cumpridas as disposições desta lei, da medida estabelecida na primeira parte da lettra f do § 3º do art. 1º do decreto n. 1151, de 5 de janeiro de 1904;

     f) Todos os serviços que se relacionem com a presente lei serão postos em pratica no Districto Federal e fiscalizados pelo Ministerio da Justiça e Negocios Interiores, por intermedio da Directoria Geral de Saude Publica.

     Art. 3º Revogam-se as disposições em contrario.

Rio de Janeiro, 31 de outubro de 1904, 16º da Republica.

FRANCISCO DE PAULA RODRIGUES ALVES.
J. J. Seabra.

 

 

 

 

Em um encontro presidido pelo senador Lauro Sodré, no Centro das Classes Operárias, em 5 de novembro de 1904, foi fundada a Liga Contra a Vacina Obrigatória (O Paiz, 6 de novembro de 1904, penúltima coluna). O descontentamento popular se agravou quando, no dia 9 de novembro de 1904, o governo divulgou seu plano de regulamentação da aplicação da vacina obrigatória contra a varíola (Gazeta de Notícias, 10 de novembro de 1904, quinta coluna). Nos dias 10 e 11, no Largo de São Francisco, estudantes contrários à lei se reuniram e, no dia 13 de novembro, acirrou-se a rebelião popular, que ficou conhecida como Revolta da Vacina, marcada por diversos distúrbios urbanos em várias regiões da cidade, embates com a polícia e prisões. Mais de 20 bondes da Companhia Carris Urbanos e muitos lampiões da iluminação pública foram destruídos, daí o apelido Quebra Lampiões atribuído ao movimento (Gazeta de Notícias, 14 de novembro de 1904; e Jornal do Brasil, 14 de novembro de 1904).

 

 

 

Paralelamente à revolta popular, aconteceu um movimento militar orquestrado pelos generais Silvestre Travassos (? – 1904) e Olímpio da Silveira (1887 – 1935), Lauro Sodré, Barbosa Lima, o major Gomes de Castro e o capitão Augusto Mendes de Moraes, que se reuniram no dia 14 de novembro de 1904, no Clube Militar. Tinham por objetivo derrubar o governo de Rodrigues Alves, que foi aconselhado a ir para um navio de guerra, onde teria mais segurança – ele recusou.

Houve no mesmo dia uma tentativa fracassada de levante na Escola de Tática do Realengo, sufocada pelo então diretor da instituição, general Hermes da Fonseca (1855 – 1923), futuro presidente do Brasil. O comandante da Escola Militar de Realengo, o general Alípio Costallat (c. 1853 – 1933), foi deposto pelo general Travassos que liderou, durante a noite, a marcha dos alunos em direção ao Palácio do Catete. Os revoltosos trocaram tiros com uma brigada de ataque enviada pelo governo, na rua da Passagem, em Botafogo. O tiroteio, de cerca de meia hora, matou um aluno da Escola Militar, Silvestre Cavalcanti, e um sargento da tropa legalista, chamado Camargo. O general Travassos ficou gravemente ferido e faleceu oito dias depois. A Escola Militar, bombardeada durante a noite por navios de guerra posicionados na baía de Guanabara, foi ocupada pelo ministro da Guerra, o marechal Francisco de Paula Argollo (1847 – 1930) e pelo ministro da Indústria, Viação e Obras Públicas, Lauro Müller (1863 – 1926). Seus alunos foram presos, expulsos da Escola e levados para portos na região Sul do país. Obviamente, o desfile comemorativo dos 15 anos da Proclamação da República foi cancelado (Gazeta de Notícias, 15 de novembro de 1904Jornal do Brasil, 15 de novembro de 1904; Gazeta de Notícias, 16 de novembro de 1904; Jornal do Brasil, 16 de novembro de 1904).

No dia 16 de novembro, foi decretado o estado de sítio e revogada a obrigatoriedade da vacinação. Com isso, o movimento popular arrefeceu, os serviços voltaram a funcionar e a cidade se apazigou. Saldo do movimento: 945 prisões, 461 deportações, 110 feridos e 30 mortos (Gazeta de Notícias, 17 de novembro de 1904 e 18 de novembro de 1904).

 

 

Segundo o historiador Jaime Larry Benchimol: Todos saíram perdendo. Os revoltosos foram castigados pelo governo e pela varíola. A vacinação vinha crescendo e despencou, depois da tentativa de torná-la obrigatória. A ação do governo foi desastrada e desastrosa, porque interrompeu um movimento ascendente de adesão à vacina”.

Apenas nove pessoas morreram por varíola em 1906 no Rio de Janeiro. Porém, dois anos depois, em 1908, uma violenta epidemia da doença ocorreu na cidade, causando mais de 6.500 casos.

 

 

Link para músicas sobre Oswaldo Cruz e também sobre as campanhas de combate à febre amarela, à peste bubônica e à vacinação obrigatória contra a varíola, publicadas na Biblioteca Virtual Oswaldo Cruz

 

Retrospectiva das pandemias do século XX e XXI

 

O mundo, ao longo dos séculos XX e XXI, enfrentou cinco pandemias: a Gripe Espanhola, em 1918, tema de uma recente publicação da Brasiliana Fotográfica, E o ex e futuro presidente do Brasil morreu de gripe…a Gripe Espanhola de 1918; a Gripe Asiática, em 1957; a Gripe de Hong Kong, em 1968, a identificação de um novo vírus da influenza do tipo A pandêmico que desencadeou a Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional, decretada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2009; e cerca de 11 anos depois, em 11 de abril de 2020, a OMS declarou uma pandemia do novo coronavírus, chamado de Sars-Cov-2, causador da Covid-19, surgido na cidade de Wuhan, na China, em fins de 2019.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

 

BENCHIMOL, Jaime Larry. Pereira Passos: um Haussmann Tropical. A renovação urbana na cidade do Rio de Janeiro no início do século XX. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, Departamento Geral de Documentação e Informação Cultural, 1992.

BENCHIMOL, Jaime Larry. Reforma urbana e Revolta da Vacina na cidade do Rio de Janeiro. In: Jorge Ferreira e Lucilia de Almeida Neves Delgado (org.) O Brasil Republicano. O tempo do liberalismo excludente. Da proclamação da República à Revolução de 1930. 3. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008.

BIBEL, David J.; CHEN, T.H. Diagnosis of Plague: an Analysis of the Yersin-Kitasato Controversy. American Society for Microbiology, 1976.

Biblioteca Virtual Oswaldo Cruz

BRASIL. Ministério da Justiça. Relatório 1904 – 1905. Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, 1905.

CARVALHO, José Murilo de: Os Bestializados – O Rio de Janeiro e a República que não foi. São Paulo : Companhia das Letras, 1987.

COSTA, Zouraide; ELKHOURY, Ana; FLANNERY, Brendan; ROMANO, Alessandro. Evolução histórica da vigilância epidemiológica e do controle da febre amarela no Brasil, 2011.

CURY, Bruno da Silva Mussa. Combatendo ratos, mosquitos e pessoas: Oswaldo Cruz e a saúde pública na reforma da capital do Brasil (1902-1904). / Bruno da Silva Mussa Curry. – 2012. 160 f. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Programa de Pós-graduação em História, Rio de Janeiro, 2012.

Dicionário Cravo Alvim

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

Ministério da Saúde

MOURELLE, Thiago. A revolta da vacina. Arquivo Nacional: Que República é essa?, 21 de janeiro de 2020.

Nosso Século. São Paulo : Abril Cultural, 1980.

Portal Fiocruz – A trajetória do médico dedicado à ciência

Portal Fiocruz  – A Revolta da Vacina

Projeto Memória – Fundação Banco do Brasil

ROCHA, Oswaldo; CARVALHO, Lia de Aquino. A era das demolições Habitações Populares. Rio de Janeiro : Biblioteca Carioca, 1986

SEVCENKO, Nicolau. A Revolta da Vacina: mentes insanas em corpos rebeldes. São Paulo: Cosac Naify, 2010.

Site CPDOC

Site Multirio

E o ex e futuro presidente do Brasil morreu de gripe…a Gripe Espanhola de 1918

 

 

E o ex e futuro presidente do Brasil, Francisco de Paula Rodrigues Alves (1848 – 1919), faleceu de Gripe Espanhola! Logo ele que em seu mandato como o quinto presidente da República do Brasil, exercido entre 1902 e 1906 (Gazeta de Notícias, 16 de novembro de 1902, sexta colunaGazeta de Notícias, 16 de novembro de 1906, segunda coluna), designou o médico e sanitarista Oswaldo Cruz (1872 – 1917) para a chefia do Departamento Nacional de Saúde Pública, justamente para melhorar as condições sanitárias do Rio de Janeiro deflagrando a reforma sanitária da capital, combatendo primordialmente a febre amarela, a peste bubônica e a varíola.

Além de Oswaldo Cruz, os engenheiros Francisco Pereira Passos (1836 – 1913), nomeado por Alves prefeito do Rio de Janeiro, em dezembro de 1902 (Gazeta de Notícias, 31 de dezembro de 1902, na sexta coluna), e Paulo de Frontin  (1860 – 1933) foram fundamentais durante o governo de Rodrigues Alves: Passos foi o prefeito do “bota-abaixo” e Frontin, presidente do Clube de Engenharia, o engenheiro-chefe da construção da Avenida Central.

 

Acessando o link para as fotografias de Rodrigues Alves disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

Rodrigues Alves foi eleito presidente do Brasil, pela segunda vez, em 1º de março de 1918. Acometido pela doença, não pode tomar posse no dia 15 de novembro de 1918, tendo seu vice, Delfim Moreira (1868 – 1920), assumido o cargo em seu lugar. Rodrigues Alves faleceu meses depois, em janeiro de 1919, confinado em sua casa na rua Senador Vergueiro, no Flamengo, bairro do Rio de Janeiro (Gazeta de Notícias, 16 de janeiro de 1919Gazeta de Notícias, 17 de janeiro de 1919O Malho , 25 de janeiro de 1919). Foi enterrado em Guaratinguetá, cidade paulista onde nasceu (O Paiz, 18 de janeiro de 1919).

 

“Depois da morte do Barão do Rio Branco, nenhuma outra poderia, sob o ponto de vista nacional, representar prejuízo maior para o Brasil do que a do conselheiro Rodrigues Alves”.

 

 

Ele foi a mais notória vítima brasileira da Gripe Espanhola, que matou cerca de 300 mil pessoas no país. Novas eleições foram convocadas para 13 de abril de 1919 e o paraibano Epitácio Pessoa (1865 – 1942) foi eleito.

 

 

Mas depois da tragédia veio a esbórnia! O que seguiu no Rio de Janeiro, em março, foi um carnaval animadíssimo, como uma vingança contra a terrível doença que havia atingido intensamente a cidade. Foi publicado no Correio da Manhã de 20 de janeiro de 1919:

 

 

 

No 12º capítulo das “Memórias de Nelson Rodrigues” foi publicado, em 10 de março de 1967, no Correio da Manhã: 

“Estou aqui reunindo as minhas lembranças. Aquele Carnaval foi, também, e sobretudo, uma vingança dos mortos mal vestidos, mal chorados e, por fim, mal enterrados. Ora, um defunto que não teve o seu bom terno, a sua boa camisa, a sua boa gravata é mais cruel e mais ressentido do que um Nero ultrajado. E o Zé de S. Januário está me dizendo que enterrou sujeitos em ceroulas, e outros nus como santos. A morte vingou-se, repito, no Carnaval… E tudo explodiu no sábado de Carnaval. Vejam bem: até sexta-feira, isto aqui era o Rio de Machado de Assis; e, na manhã seguinte, virou o Rio de Benjamim Costallat […] Desde as primeiras horas de sábado, houve uma obscenidade súbita, nunca vista, e que contaminou toda a cidade. Eram os mortos da espanhola e tão humilhados e tão ofendidos que cavalgavam os telhados, os muros, as famílias… Nada mais arcaico do que o pudor da véspera. Mocinhas, rapazes, senhoras, velhos cantavam uma modinha tremenda. Eis alguns versos: ‘Na minha casa não se racha lenha,/ Na minha racha, na minha racha./ Na minha casa não há falta d’água,/ Na minha abunda, na minha abunda’”.

 

 

Anos depois, Carlos Heitor Cony (1926 – 2018) escreveu, na Folha de São Paulo de 19 de fevereiro de 1996, um artigo sobre a Gripe Espanhola e o carnaval de 1919:

“No Rio, o sujeito ia atravessar a rua, botava o pé no meio-fio com plena saúde e chegava morto ao meio-fio do outro lado. Era fulminante a gripe, os parentes deixavam os mortos nos bondes, pagavam a passagem deles, como se passageiros fossem. Não havia tempo nem lugar para o enterro. Natural que, depois da fase mortuária, viesse a fase libertária, ou libertina, basta dizer que as delegacias da cidade registraram a queixa de 4.315 defloramentos e outros tantos casos de abandono do lar, adultério e até incesto.”

 

 

Um pouco sobre a Gripe Espanhola, a primeira e mais letal pandemia do século XX 

 

 

A Gripe Espanhola aconteceu, entre 1918 e 1920, em três ondas . Aparentemente, a primeira ocorreu entre março e abril de 1918 ainda durante a Primeira Guerra Mundial. Sua origem é até hoje uma dúvida: teria surgido na Ásia ou em campos militares no interior dos Estados Unidos? O nome Gripe Espanhola é atribuído ao fato de que a Espanha, neutra durante a Primeira Guerra Mundial, ter reconhecido a gripe como problema e ter permitido a divulgação de informações epidemiológicas sobre a doença.

O fato é que a gripe rapidamente se espalhou pela Europa Ocidental e, em julho, já havia chegado à Polônia. Durante o verão do mesmo ano, durante o mês de agosto, em sua segunda onda, uma forma mais letal da doença surgiu – causava pneumonia e, usualmente, dois dias depois do primeiro sintoma, o paciente falecia. A terceira onda ocorreu no inverno de 1919. A pandemia acometeu cerca de 50 % da população mundial e a Organização Mundial de Saúde estima que tenha causando entre 20 e 40 milhões de mortes.

Inicialmente, a repercussão no Brasil da disseminação da doença na Europa foi de despreocupação por parte das autoridades de saúde do país. Imaginaram que a distância entre os continentes, com um oceano os separando, não permitiria a chegada da epidemia em nosso país. Uma nota sem destaque no jornal O Paiz, de 1º de agosto de 1918, referia-se a doença como intensa porém sem gravidade. Em outra nota, também publicada em O País, cinco dias depois, noticiava-se, de novo sem nenhum destaque, a relação entre a gripe infecciosa e o preço do limões.

 

 

Supõe-se que a Gripe Espanhola tenha chegado no Brasil em 9 de setembro de 1918, no navio inglês SS Demerara, que partiu de Liverpool, na Inglaterra e fez escalas em Lisboa, no Recife, em Salvador e no Rio de Janeiro (Jornal do Recife, 10 de setembro de 1918, primeira colunaGazeta de Notícias, 16 de setembro de 1918).

 

 

“A seu bordo, durante a travessia, grassou com caráter epidêmico a tal “hespanhola” ou “dançarina”, influenza há pouco aparecida na Espanha e que tem grassado em uutras cidades da Europa”

Nesse mesmo mês foi noticiado que marinheiros brasileiros que prestavam serviço militar em Dakar, no Senegal, e oficiais da missão médica militar que havia partido no navio Plata tinham contraido a Gripe Espanhola (Jornal do Brasil, 22 de setembro de 1918, A Noite, 23 de setebmro de 1918Jornal do Brasil, 24 de setembro de 1918Revista da Semana, 28 de setembro de 1918Gazeta de Notícias, 5 de outubro de 1918, segunda coluna; e Folha de São Paulo, 1º de abril de 2012).

 

 

Entre os meses de setembro e novembro de 1918, a epidemia assolou o Brasil.  Em outubro, foram diagnosticados casos em Niterói e as primeiras mortes no Estado do Rio foram reportadas em 14 de outubro, quando o número de pacientes chegava já a 20 mil.

 

 

 

O quinino, a canja de galinha, preparados a base de limão, cachaça e outros eram usados contra a doença. A Bayer oferecia a aspirina Fenacetina (O Paiz, 30 de outubro de 1918, quarta coluna) e um laboratório produziu o remédio homeopático Grippina, fórmula do médico Alberto Seabra (A Noite, 10 de outubro de 1918). Balas peitoraes também e gargarejos com Diogexen eram oferecidos como cura para a doença (Careta, 26 de outubro de 1918; e Fon-Fon, 2 de novembro de 1918).

 

 

A essa altura o pânico já tomava conta do Rio de Janeiro, na época capital do Brasil. São Paulo começava também a registrar seus primeiros casos (Correio Paulistano, 17 de outubro de 1918). Outras cidades do Brasil foram atingidas mas nenhuma como o Rio.

 

 

 

O então Diretor Geral de Saúde Pública, Carlos Seidl (1867 – 1929), renunciou.

 

 

Foi substituído por Theóphilo Torres (1863 – 1928) (Gazeta de Notícia, 19 de outubro de 1918, penúltima coluna), que convidou o pesquisador Carlos Chagas (1879 – 1934), que havia assumido a direção do Instituto Oswaldo Cruz em 1917, para atuar no controle da epidemia. Chagas liderou a campanha de combate à doença, implementando cinco hospitais emergenciais e 27 postos de atendimento à população em diferentes pontos do Rio de Janeiro (Gazeta de Notícias, 22 de outubro de 1918). Chagas e sua família adoeceram, mas todos sobreviveram.

 

 

Mas mesmo no auge da tragédia, o humor esteve presente na imprensa carioca.

 

 

Houve um aumento no preço dos alimentos, alguns escassearam e muitos estabelecimentos, dentre eles fábricas, teatros, escolas, restaurantes e bares fecharam suas portas. Atividades básicas foram praticamente suspensas e saques começaram a ocorrer pela cidade. A polícia passou então a garantir que em cada bairro houvesse uma farmácia e uma padaria aberta.

 

 

Em 19 de outubro foi decretado um feriado de três dias e o governo tomou providências como a abertura de novos postos de assistência e de pavilhões com leitos para receber doentes, a divisão da cidade em zonas com médicos autorizados a ordenar tudo quanto o doente precisar. Também determinou a publicação de “conselhos ao povo” e um apelo foi feito para que médicos, farmacêuticos e estudantes colaborassem com a Saúde Pública (Jornal do Brasil, 20 de outubro de 1918 e O Paiz, 20 de outubro de 1918).

 

 

Da cartilha Previna-se contra a gripe, distribuída pelas campanhas do Serviço Nacional de Educação Sanitária:

 

“Perdigotos – Que perigo!
Se estás resfriado amigo,
Não chegues perto de mim.
Sou fraco, digo o que penso.
Quando tossir use o lenço
E, também se der atchim.
Corrimãos, trincos, dinheiro
São de germes um viveiro
E o da gripe mais freqüente.
Não pegá-los, impossível.
Mas há remédio infalível,
Lave as mãos constantemente.
Se da gripe quer livrar-se
Arranje um jeito e disfarce,
Evite o aperto de mão.
Mas se vexado consente,
Lave as mãos freqüentemente.
Com bastante água e sabão.
Da gripe já está curado?
Bem, mas não queira, apressado,
Voltar à vida normal.
Consolide bem a cura,
Senão você, criatura,
Recai e propaga o mal”.

 

“O número de casos declinou drasticamente no final de outubro, retornando a cidade pouco a pouco às suas rotinas diárias, ficando no ar por muitos meses a pergunta se haveria uma volta da epidemia, o que afinal não ocorreu.” (1)

 

 

Estima-se que cerca de 65% da população brasileira tenha sido infectada pela Gripe Espanhola e por volta de 35.240 pessoas tenham morrido em São Paulo e no Rio de Janeiro e 300 mil em todo o Brasil. Esses números variam e diversas fontes os consideram abaixo das estatísticas reais.

 

 

Famílias inteiras foram dizimadas, principalmente as que viviam em condições mais vulneráveis. Os corpos acabavam sendo deixados na rua, onde permaneciam alguns dias até serem recolhidos, ampliando o cenário de devastação. Houve falta de serviço de transporte, alta dos preços e escassez de alimentos. Por volta de 19 de outubro, a doença já havia atingido metade da população do Rio, estimada em 700 mil pessoas, deixando a cidade vazia e silenciosa … este cenário crítico perdurou até o final do mês, quando houve um declínio drástico no número de casos e a cidade começou a retornar às suas rotinas diárias. Estima-se a epidemia tenha causado a morte de cerca de 15 mil pessoas no Rio.(2)

Além de Rodrigues Alves, outros brasileiros famosos foram vítimas da gripe, dentre eles a educadora Anália Franco (1853 – 1919), provavelmente, o poeta de literatura de cordel Leandro Gomes de Barros (1865 – 1918).

O empresário e jornalista tcheco Frederico (Fred) Figner (1866 – 1947), dono da Casa Edison e primeiro produtor fonográfico do Brasil, contraiu e sobreviveu à gripe espanhola e utilizou sua casa, hoje conhecida como Mansão Figner, na rua Marquês de Abrantes, no Flamengo, no Rio de Janeiro, para acolher doentes.

Personalidades internacionais como os pintores austríacos Egon Schiele (1890 – 1918) e Gustav Klimt (1862 – 1918), os escritores franceses Edmond Rostand (1868 – 1918) e Guillaume Appolinaire (1880 – 1918), as crianças portuguesas Francisco (1908 – 1919) e Jacinta (1910 – 1920) do famoso Milagre de Fátima, os irmãos John (1864 – 1920) e Horace Dodge (1868 – 1920), empresários da indústria automobilística; o pianista Henry Hagas (1891 – 1919), da Original  Dixieland Jazz Band, o sociólogo alemão Max Weber (1864 – 1920) e Sophie (1893- 1920),  filha de Sigmund Freud, também foram vitimados pela doença.

Outros que foram infectados mas sobreviveram à gripe foram o pintor Edvard Munch (1863 – 1944), o então futuro presidente dos Estados Unidos, Franklin Delano Roosevelt (1882 – 1945);  o escritor Franz Kafka (1883 – 1924), a pintora Georgia O’Keeffe (1887 – 1986),  a escritora Katherine Anne Porter (1890 – 1980), as estrelas do cinema mudo Mary Pickford (1892 – 1979) e Lillian Gish (1893 – 1993); o cineasta Walt Disney (1901 – 1966), e além do então presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson (1856 – 1924).

Link para fotografias de aspectos da Gripe Espanhola no site Getty Images

A escritora inglesa Virginia Woolf (1882 – 1941), testemunha do impacto da Gripe Espanhola, registrou em seu diário em outubro de 1918: “Estamos … no meio de uma praga só comparável à Peste Negra“. Em seu ensaio “Doença: uma mina inexplorada“, de 1926, escreveu:

Se considerarmos o quão comum é a doença, quão terrível é a mudança espiritual que ela acarreta, quão medonhos, quando as luzes da saúde se apagam, são os países virgens que se descerram, as ruínas e desertos d’alma que um leve ataque da influenza traz à tona, os precipícios e relvas regadas de resplandecentes flores que um pequeno aumento de temperatura revela, os carvalhos antigos e obdurados que se nos desenraizam no ato da doença, como adentro o abismo da morte descemos e sentimos as águas da aniquilação bem acima de nossas cabeças e despertamos jurando nos encontrar na presença de anjos e querubins quando temos um dente extraído e, voltando à superfície da cadeira do dentista, confundimos o seu “Abra a boca – abra a boca” com as boas-vindas da Divindade a se inclinar do chão do Céu para nos acolher – quando pensamos nisto e numa infinidade mais, como tão frequentemente somos forçados a pensá-lo, parece deveras estranho que a doença não tenha, junto com o amor, a batalha, a inveja, tomado seu posto entre os temas primordiais da literatura. Romances, pensar-se-ia, teriam sido dedicados à Influenza; poemas épicos à Tifóide; odes à Pneumonia, Apendicites e Câncer; cânticos à Dor de Dente. Mas não: com algumas poucas exceções – de Quincey arriscou algo do tipo em Confissões de um comedor de ópio; deve haver um volume ou dois sobre doença espalhados pelas páginas de Proust – a literatura se esforça ao máximo para sustentar que sua preocupação é com o espírito; que o corpo é uma camada de vidro límpido através da qual a alma enxerga clara e distintamente e que, salvo uma ou duas paixões tais como o desejo e a cobiça, ele é nulo, insignificante e inexistente“.

Aqui no Brasil, o futuro escritor e médico Pedro Nava (1903 – 1984), então com 15 anos, testemunha da Gripe Espanhola no Rio de Janeiro, escreveu muitas décadas depois:

“Era apavorante a rapidez com que ela ia da invasão ao apogeu, em poucas horas, levando a vítima às sufocações, às diarréias, às dores lancinantes, ao letargo, ao coma, à uremia, à síncope e à morte em algumas horas ou poucos dias. Aterravam a velocidade do contágio e o número de pessoas que estavam sendo acometidas. Nenhuma de nossas calamidades chegara aos pés da moléstia reinante: o terrível não era o número de casualidades mas não haver quem fabricasse caixões, quem os levasse ao cemitério, quem abrisse covas e enterrasse os mortos. O espantoso já não era a quantidade de doentes, mas o fato de estarem quase todos doentes, a impossibilidade de ajudar, tratar, transportar comida, vender gêneros, aviar receitas, exercer, em suma, os misteres indispensáveis à vida coletiva…”.

Última curiosidade envolvendo literatura e doença: o escritor e poeta florentino Giovanni Boccaccio (1313 – 1375) foi pessoalmente afetado pela pandemia que ficou conhecida como peste negra, que atingiu Florença em 1348. Seu pai e madrasta morreram e ele fugiu da cidade indo para a zona rural da Toscana. Foi durante esse período que escreveu  O Decamerão, 100 contos narrados por personagens que fugiam justamente da peste negra. Já no início do século XVII, em Londres, surtos de peste bubônica ocasionavam muitas mortes e quarentenas eram ordenadas pelas autoridades. O grande poeta e dramaturgo William Shakespeare (1564 – 1616) escreveu nesse período, entre 1605 e 1606, Rei Lear, Macbeth e Antônio e Cleópatra. Segundo James Shapiro, professor da Universidade Columbia e autor de O ano de Lear: Shakespeare em 1606, depois de 1603, Shakespeare não produziu mais comédias românticas e, sim, peças mais sombrias, que expressavam o desespero que tomava a população naqueles dias.

Voltando ao século XX: o mundo ainda sofreu com mais duas pandemias, a Gripe Asiática, em 1957; e a Gripe de Hong Kong, em 1968. No século XXI, foi identificado um novo vírus da influenza do tipo A pandêmico que desencadeou a Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional, decretada pela Organização Mundial da Saúde(OMS), em 2009. Cerca de 11 anos depois, em 11 de abril de 2020, a OMS declarou uma pandemia do novo coronavírus, chamado de Sars-Cov-2, causador da Covid-19, surgido na cidade de Wuhan, na China, em fins de 2019.

 

(1) A virologia no Estado do Rio de Janeiro: uma visão global.

(2) Pandemias de influenza e a estrutura sanitária brasileira: breve histórico e caracterização dos cenários. 

 

 

brasiliana fotográfica rodrigues alves

Foto oficial de Rodrigues Alves, presidente do Brasil entre 1902 e 1906.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Atlas Histórico do Brasil

BRITO, Nara Azevedo de. La dansarina: a gripe espanhola e o cotidiano na cidade do Rio de Janeiro. Hist. cienc. saude-Manguinhos [online]. 1997, vol.4, n.1, pp.11-30.

CABRAL, Maulori C.; SCHATZMAYR, Hermann G. A virologia no Estado do Rio de Janeiro: uma visão globalRio de Janeiro : Fiocruz, 2012

CASTRO, Ruy. Metrópole à beira-mar: o Rio moderno dos anos 20. São Paulo : Companhia das Letras, 2019.

CONY, Carlos Heitor. O Canaval da peste. Folha de São Paulo, 19 de fevereiro de 1996.

COSTA, Ligia Maria Cantarino da;MERCHAN-HAMANN, Edgar. Pandemias de influenza e a estrutura sanitária brasileira: breve histórico e caracterização dos cenários. Rev Pan-Amaz Saude v.7 n.1 Ananindeua, mar. 2016.

Folha de São Paulo

GOULART, Adriana da Costa. Revisitando a espanhola: a gripe pandêmica de 1918 no Rio de JaneiroHist. cienc. saude-Manguinhos v.12 n.1 Rio de Janeiro jan./abr. 2005

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

Incrível História

KOLATA, Gina. Gripea história da pandemia de 1918. Rio de Janeiro : Record, 2002.

NAVA, Pedro. Chão de ferro. Memórias/3. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1976.

O Estado de São Paulo

O Globo

OUTKA, Elizabeth. Viral Modernism: The Influenza Pandemic and Interwar Literature. New York : Columbia University Press, 2020.

Rádio Senado

RODRIGUES, Nelson. A menina sem estrela. São Paulo : Companhia das Letras, 1993.

SANTANA, Rosemeire Siqueira de. Tecendo os fios da memória: um breve ensaio biográfico sobre as educadoras Anália Franco, Neide Mesquita e Laura Amazonas.

SANTOS, Ricardo Augusto dos. O Carnaval, a peste e a espanhola. Hist. cienc. saude-Manguinhos vol.13 no.1 Rio de Janeiro Jan./Mar. 2006

SECCHIN, Antonio Carlos. Melancólico em livro de Bandeira, Carnaval em 1919 foi pura libertinagem. Folha de São Paulo, 22 de junho de 2019.

Site Casa de Rui Barbosa

Site CPDOC

Site Enciclopédia Britânica

Site Fiocruz

Site Gripenet

Site Hipercultura

Site Pixinguinha

Site Standford University

Site WelcomeCollection

Smithsonion Magazine

Suplemento Ofical do Diário Oficial do Estado de Pernambuco

WOOLF, Virginia. Illness: an unexploited mine. In: Forum, abril de 1926, pp.582-590.

Série “O Rio de Janeiro desaparecido” IX – Estrada de Ferro Central do Brasil: estação e trilhos

A Brasiliana Fotográfica apresenta imagens da Estação da Estrada de Ferro Central do Brasil produzidas nos séculos XIX e XX: uma fotografia de Marc Ferrez (1843 – 1923), uma estereoscopia realizada pela firma Rodrigues & Co. e registros aéreos realizados pelo fotógrafo sírio naturalizado brasileiro Jorge Kfuri (1893 – 1965), autor das primeiras fotografias aéreas do Rio de Janeiro, realizadas em 1916; e pelo piloto britânico S. H. Holland (1883- 1936), que atuou no Brasil, entre 1928 e 1932, tendo sido, inclusive, acusado por espionagem. Além disso, há imagens dos trilhos da ferrovia produzidas por Joaquim Insley Pacheco (c. 1830 – 1912) e do Túnel Ottoni, de autoria de Ferrez.

 

 

Acessando o link para as fotografias de trilhos e da Estação da Estrada de Ferro Central do Brasil disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

Pelo decreto 1.598, de 9 de maio de 1855, foram aprovados os estatutos da Companhia de Estrada de Ferro d. Pedro II e foi determinada sua organização no Rio de Janeiro com um capital de 38 mil contos, cumprindo o decreto 641, assinado em Londres, em 26 de junho de 1852 (Jornal do Commercio, 15 de maio de 1855, primeira coluna). Pouco tempo depois, em 29 de julho de 1855, quando a princesa Isabel completava 9 anos, foi realizada na quinta de dona Januária a cerimônia de lançamento da pedra fundamental da Estrada de Ferro Pedro II com a presença do imperador  (Diário do Rio de Janeiro, 30 de julho de 1855, primeira coluna).  Foi a terceira ferrovia brasileira – as anteriores foram a Estrada de Ferro Mauá (1854) e a Estrada de Ferro do Recife ao Cabo (1858) – e sua construção está ligada às famílias Teixeira Leite e Ottoni, grandes produtoras de café da região de Vassouras, no estado do Rio.

A Igreja de Nossa Senhora de Santana foi demolida para a construção da Estação do Campo de Santana, mas a imagem da santa, em madeira, vinda de Portugal, encontra-se até hoje numa capela na gare da Central (Jornal do Commercio, 15 de maio de 1855, quarta colunaDiário do Rio de Janeiro, 19 de julho de 1857, quarta coluna; Revista da Semana, 20 de setembro de 1941). Foi de lá, na ocasião a principal estação ferroviária do novo meio de transporte que ligaria o Rio de Janeiro ao cafeeiro Vale do Paraíba, que saíram as três locomotivas que inauguraram a primeira sessão da Estrada de Ferro Pedro II, em 29 de março de 1858, pela manhã, quando a locomotiva Imperador levou dom Pedro II (1825 – 1891), sua corte e ministério até Pouso dos Queimados. As outras  chamavam-se Brazil e Imperatriz (Correio Mercantil, 24 de março de 1858, terceira coluna; Correio Mercantil, 30 de março de 1858, segunda coluna; e Diário do Rio de Janeiro, 30 de março de 1858, segunda coluna). Antes das partidas das locomotivas, houve as bênçãos do bispo, a saudação de Christiano Benedicto Ottoni (1811 – 1896), diretor da Companhia da Estrada de Ferro Dom Pedro II, e a resposta do imperador:

 

 

 

Em pouco tempo passou a ser conhecida como Estação da Corte e mais tarde foi denominada Estação Dom Pedro II. Com a República, a ferrovia foi rebatizada como Estrada de Ferro Central do Brasil  e com isso a estação foi imediatamente chamada de Estação Central do Brasil. Foi reformada anos mais tarde e finalmente demolida nos anos 30 para a construção da avenida Presidente Vargas (Revista da Semana, 4 de abril de 1936 e 31 de julho de 1937).  A comemoração dos 85 anos da Estrada de Ferro Central do Brasil, em 1943, foi realizado no hall do atual edifício da estação, em estilo art déco, com um almoço com diversas autoridades e com a abertura de uma exposição, além das inaugurações do trecho eletrificado entre Nova Iguaçu e Morro Agudo e do relógio da torre da Central, que se tornou um ponto de referência dos cariocas (Jornal do Brasil, 30 de março de 1943Careta, 10 de abril de 1943; e Revista da Semana, 10 de abril de 1943). O relógio fica entre o 21º e o 26º andares da estação ferroviária e é um dos maiores relógios de quatro faces do mundo – cada uma é um quadrado com dez metros de altura por dez metros de largura. Está montado a 110 metros de altura e pode ser visto de diversos pontos da cidade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O título deste artigo foi alterado de Estrada de Ferro Central do Brasil: estação e trilhos para Série O Rio de Janeiro desaparecido IX – Estrada de Ferro Central do Brasil: estação e trilhos, em 16 de setembro de 2021.

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

BEM, Sueli Ferreira de. Contribuição para estudos das estações ferroviárias paulistas. Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, 1998

COARACY, Vivaldo. Coleção Rio 4 séculos, volume 3. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1965.

DUNLOP, Charles. Rio Antigo, vol 2. Rio de Janeiro : Cia. Editora e Comercial F. Lemos, 1956.

GUIMARÃES, Ino Venerotti. Campo de Santana: de charco a palco privilegiado de manifestações populares e oficiais. Revista do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, 2011.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

MATOS, Odilon Nogueira de. Café e ferrovias: a evolução ferroviária de São Paulo e o desenvolvimento da cultura cafeeira. São Paulo : Editora Alfa-Ômega, 1974.

O Globo

PESSOA, Vicente Alves de Paula. Guia da Estrada de Ferro Central do Brasil. Rio de Janeiro : Imprensa Nacional, 1902.

Site da Supervia

TELLES, Pedro Carlos da Silva. História da Engenharia no Brasil. Rio de Janeiro : Editora Livros Técnicos e Científicos, 1984.

 

Links para os outros artigos da Série O Rio de Janeiro Desaparecido

 

Série O Rio de Janeiro desaparecido I Salas de cinema do Rio de Janeiro do início do século XXde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 26 de fevereiro de 2016.

Série O Rio de Janeiro desaparecido II – A Exposição Nacional de 1908 na Coleção Família Passos, de autoria de Carla Costa, historiadora do Museu da República, publicado na Brasiliana Fotográfica, em 5 de abril de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido III – O Palácio Monroe, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica, em 9 de novembro de 2016.

Série O Rio de Janeiro desaparecido IV - A via elevada da Perimetral, de autoria da historiadora Beatriz Kushnir, publicado na Brasiliana Fotográfica em 23 de junho de 2017.

Série O Rio de Janeiro desaparecido V – O quiosque Chopp Berrante no Passeio Público, Ferrez, Malta e Charles Dunlopde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portalpublicado na Brasiliana Fotográfica em 20 de julho de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VI – O primeiro Palácio da Prefeitura Municipal do Rio de Janeirode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de setembro de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VII – O Morro de Santo Antônio na Casa de Oswaldo Cruzde autoria de historiador Ricardo Augusto dos Santos da Casa de Oswaldo Cruzpublicado na Brasiliana Fotográfica em 5 de fevereiro de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VIII – A demolição do Morro do Castelode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portalpublicado na Brasiliana Fotográfica em 30 de abril de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido X – No Dia dos Namorados, um pouco da história do Pavilhão Mourisco em Botafogode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de junho de 2020.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XI – A Estrada de Ferro do Corcovado e o mirante Chapéu de Sol, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 22 de julho de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XII – o Teatro Lírico (Theatro Lyrico), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 15 de setembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIII – O Convento da Ajuda, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de outubro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIV – O Conselho Municipal, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 19 de novembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XV – A Praia de Santa Luzia no primeiro dia do verão, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 21 de dezembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVI – O prédio da Academia Imperial de Belas Artes, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, publicado na Brasiliana Fotográfica em 13 de janeiro de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVII – Igreja São Pedro dos Clérigos, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 18 de março de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVIII – A Praça Onze, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 20 de abril de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIX – A Igrejinha de Copacabana, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 23 de junho de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XX – O Pavilhão dos Estados, futuro prédio do Ministério da Agricultura, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 26 de julho de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXI – O Chafariz do Largo da Carioca, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 19 de setembro de 2022. 

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXII – A Cadeia Velha que deu lugar ao Palácio Tiradentes, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 11 de abril de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXIII e Avenidas e ruas do Brasil XVII A Praia e a Rua do Russel, na Glória, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 15 de maio de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXIV – O luxuoso Palace Hotel, na Avenida Rio Branco, uma referência da vanguarda artística no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 4 de julho de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXV – O Theatro Phenix, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 5 de setembro de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXVI – Conclusão do arrasamento do Morro do Castelo por Augusto Malta, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 14 de dezembro de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXVII e Série Os arquitetos do Rio de Janeiro V – O Jockey Club e o Derby Club, na Avenida Rio Branco e o arquiteto Heitor de Mello (1875 – 1920), de autoria de Andrea c. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, em 15 de janeiro de 2024

 

Novos acervos: Fundação Joaquim Nabuco

A Brasiliana Fotográfica traz para seus leitores seu décimo parceiro, a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj). Quem faz a apresentação é  Albertina Malta,  historiadora da instituição e responsável pela Coordenação de Documentação e Pesquisa, vinculada ao Centro de Documentação e de Estudos da História Brasileira Rodrigo Mello Franco de Andrade – Cehibra. Nesse primeiro momento, estão sendo disponibilizadas imagens de autoria do fotógrafo Manoel Tondella (1861 – 1921) com a publicação do artigo O fotógrafo pernambucano Manoel Tondella: breve perfil e cronologia, escrito por Andrea Wanderley, editora e pesquisadora do portal. Com mais essa importante adesão, a Brasiliana Fotográfica segue cumprindo um de seus objetivos, o de abordar todos os usos e funções da fotografia brasileira, expandindo seu acervo e possibilitando a seus leitores o acesso a um número cada vez maior de imagens.  Seus outros parceiros são o Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, o Arquivo Nacional, a Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz, a Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha, o Leibniz-Institut fuer Laenderkunde, o Museu Histórico Nacional e o Museu da República, além do Instituto Moreira Salles e da Fundação Biblioteca Nacional, criadores da Brasiliana Fotográfica.

 

 

Novos acervos: Fundação Joaquim Nabuco

Albertina Malta*

A Fundação Joaquim Nabuco passa a integrar, com alegria, o projeto Brasiliana Fotográfica desenvolvido pelo Instituto Moreira Sales e pela Fundação Biblioteca Nacional. Essa parceria possibilita a ampliação dos canais de divulgação de acervos fotográficos brasileiros que contém informações preciosas para a recuperação visual do passado, além de revelarem a produção de artistas muitas vezes desconhecidos.

A Fundação Joaquim Nabuco apresenta, inicialmente, um conjunto de imagens originais de reconhecido valor documental, em bom estado de conservação, de autoria do fotógrafo Manoel Tondella. Trata-se de vistas do Recife produzidas entre 1890 e 1905, em papel fotográfico num tom violeta. Oferecido à Fundação, o conjunto foi adquirido em 1985. Segundo o historiador Fernando Ponce de Leon, então coordenador da Fototeca e responsável pelo processo de aquisição das imagens de Tondella, as vistas “são valiosas por representar intensamente e com boa qualidade os bairros centrais do Recife (o do Recife, o de Santo Antônio, o de São José, o da Boa Vista), além dos arrabaldes e subúrbios quase rurais da cidade… as imagens registram o Recife intacto, antes das demolições e obras de reurbanizações”.

Foi também neste momento da aquisição que dois renomados especialistas – Gilberto Ferrez e Boriz Kossoy – consultados por Ponce de Leon, avaliaram a pertinência da Fundação em adquirir a coleção de Manoel Tondella, especialmente por se tratar de conjunto documental original. E, por serem vistas antigas da cidade, tornavam-se ainda mais raras, paisagens com riscos de se perderem para sempre.

 

 

Acessando o link para as fotografias de autoria de Manoel Tondella disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

*Albertina Malta é historiadora e responsável pela Coordenação de Documentação e Pesquisa, vinculada ao Centro de Documentação e de Estudos da História Brasileira Rodrigo Mello Franco de Andrade – Cehibra.

 

O fotógrafo pernambucano Manoel Tondella: breve perfil e cronologia

Andrea C. T. Wanderley**

 

 

Breve perfil

 

Manoel Tondella é um dos mais importantes fotógrafos de Pernambuco da segunda metade dos século XIX, período a partir do qual Recife tornou-se referência histórica para a fotografia no Brasil. Nascido em 3 de outubro de 1861, de ascendência portuguesa, Tondella dedicou-se à fotografia da paisagem urbana, documentando em imagens as transformações da cidade, entre os anos 1890 e as duas primeiras décadas do século XX. Foi contemporâneo dos fotógrafos Alfredo Ducasble (18? – 19?)Francisco du Bocage (1860 – 1919), Hermina de Carvalho Menna da Costa (18? – 19?) , considerada a primeira mulher fotógrafa do Recife, Louis Piereck (18? – 1931) e Ludgero Jardim da Costa (18? – 19?) , dentre outros.

Tondella registrou, predominantemente no Recife e em Olinda, as ruas, a estação de trem, os prédios, o Mercado Público de São José, os casebres, as pontes, as igrejas, os ancoradouros, o teatro de Santa Isabel, as praças, a Assembleia Legislativa, o Ginásio Pernambucano, as praias, cemitérios, locomotivas, engenhos, quiosques, feiras, estradas, os bairros centrais e também os subúrbios, com suas casas de taipa, além de vendedores, de pessoas se banhando no rio Beberibe e até um grupo de ciclistas à beira de um açude. São imagens muito ricas em detalhes que se destacam pela beleza, pela qualidade técnica e nos ajudam a entender a vida em Pernambuco no início do século XX. Alguns registros foram inspirados nas antigas litografias que desenhavam o perfil do litoral do Recife, da tradição holandesa ou portuguesa. Muitas imagens foram editadas em cartões-postais.

 

 

Não se sabe, até o momento, quando exatamente Tondella começou a trabalhar como fotógrafo, mas tudo indica não ter sido antes da década de 1890. Em 1895, presenteou o Jornal do Recife com duas fotografias de sua autoria e, nessa época, seu estabelecimento fotográfico ficava na rua da Concórdia, nº 13. Em 1897, já era associado a João José de Oliveira (18? – 19?) no ateliê fotográfico Photographia Popular Oliveira & Tondella, e, em 1889, o estabelecimento ficava, na rua da Imperatriz, 79. Ficaram juntos até 1904 quando a sociedade foi desfeita e Tondella abriu um ateliê na então rua Velha, posteriormente, rua Antônio Carneiro. Oliveira continuou no mesmo endereço. Tondella seguiu trabalhando como fotógrafo até, pelo menos, 1919, tendo falecido em 1921.

 

 

Filho de Manoel Pereira de Figueiredo Tondella, provavelmente português, e de Marcionilla Francisca Soares, o fotógrafo Tondella teve três irmãos: Francisco (18? – 1913), Antônio (18? – 1898) e Maria  (c. 1860 – 1905). Francisco foi proprietário da tipografia Acadêmica e do periódico mensal O Filatelista. Na ocasião do falecimento de uma tia dos Tondella, em 1902, a família foi adjetivada como ilustre e Francisco e Manoel Tondella referidos como seus dignos sobrinhos. Manoel Tondella casou-se com Anna Amelia Celestina Ramos (18? – 19?), em 1892, e não tiveram filhos.

 

 

 Cronologia

 

1854 – O pai do do fotógrafo Tondella, Manoel Pereira de Figueiredo Tondella, provavelmente português, e José Barros Veiga dissolveram amigavelmente a sociedade comercial que possuíam denominada Veiga & Tondella (Diário de Pernambuco, 26 de setembro de 1854, última coluna).

1855 – O Gabinete Português de Leitura decidiu promover uma subscrição em favor da construção de um hospital para atender os portugueses indigentes que não pudessem receber tratamento adequado contra a epidemia que se alastrava por algumas províncias do Brasil e que eles acreditavam que chegaria no Recife. No Bairro do Recife, Manoel Pereira de Figueiredo Tondella era o encarregado pelas subscrições (Diário de Pernambuco, 25 de agosto de 1855, primeira coluna). Fez parte da comissão responsável pela instalação do Hospital Português em Pernambuco para o qual contribuiu com 50 mil reis (Diário de Pernambuco,  7 de setembro de 1855, segunda coluna; e Diário de Pernambuco, 15 de novembro de 1855, penúltima coluna).

1861 / 1862 – O fotógrafo Manoel Tondella, nasceu em 3 de outubro de 1861, filho de Manoel Pereira de Figueiredo Tondella e Marcionilla Francisca Soares, e foi batizado em 1º de janeiro do ano seguinte, na freguesia de Boa Vista, no Recife. A família morava no bairro Capunga, no Recife (Diário de Pernambuco, 3 de outubro de 1862, segunda colunaDiário de Pernambuco, 17 de abril de 1862, segunda coluna; e Diário de Pernambuco, 22 de julho de 1899, segunda coluna).

1863 – José Carneiro de Faria Lins informava ter feitos as pazes com Manoel Pereira de Figueiredo Tondella, a quem teria ofendido em momentos de delírio (Diário de Pernambuco, 22 de abril de 1863, última coluna).

1881 – O irmão de Manoel, Francisco Tondella (18? – 1913), era proprietário da tipografia Acadêmica (Diário de Pernambuco, 12 de abril de 1881, penúltima coluna).

1884 – Casamento de seu irmão Francisco com Francisca Olympia Rodrigues (? – 1891) (Jornal do Recife, 22 de setembro de 1884, última coluna).

1885 - Francisco era sócio da Biblioteca do Club Dramático Familiar (Jornal do Recife, 19 de março de 1885, quinta coluna).

Anúncio do casamento do irmão de Manoel, Antônio Pereira de Figueiredo Tondella com Francelina Maria de França Caldas (Diário de Pernambuco, 5 de novembro de 1895, última coluna).

1886 - Falecimento de uma das avós de Manoel Tondella, Maria Monteiro da Silva, cuja missa de sétimo dia foi celebrada na matriz de Santo Antônio do dia 8 de novembro de 1886 (Jornal do Recife, 5 de novembro de 1886, última coluna). Manoel era irmão de Francisco (18? – 1913), Antônio (18? – 1898) e Maria Tondella (c. 1860 – 1905), que também convidavam para a missa, além da mulher de Francisco, Francisca Olympia Rodrigues (? – 1891) e da tia dos Tondellas, Antônia Monteiro da Silva (1826 – 1902), filha da falecida.

1890 - Era um dos subscritores para os festejos do aniversário de Deodoro da Fonseca contribuindo com 5 mil réis (Jornal do Recife, 7 de agosto de 1890, quarta coluna).

Publicação do primeiro número do periódico mensal O Filatelista, de propriedade de Francisco Tondella, seu irmão, direcionado para os colecionadores de selos  (Jornal do Recife, 17 de outubro de 1890, penúltima coluna)

1891 Falecimento de sua cunhada, Francisca Olympia Rodrigues Tondella, casada com seu irmão Francisco (Jornal do Recife, 10 de abril de 1891, última coluna).

1892 Anúncio de seu casamento com Anna Amelia Celestina Ramos (18? – 19?) (Jornal do Recife, 9 de fevereiro de 1892, última coluna).

Anna Amelia Tondella foi eleita juíza da Sociedade Beneficente Nossa Senhora do Carmo no período de 1892 a 1893 (Jornal do Recife, 20 de julho de 1892, primeira coluna).

1894 – Anunciou com sua mulher e outros parentes a missa pelo 1º ano de falecimento de Lesbina Celestina Ramos (? – 1893), mulher de seu compadre Caetano Ferreira Ramos (? – 1919) e irmã de sua esposa, Anna Amelia (Diário de Pernambuco, 6 de julho de 1894, segunda coluna).

1895 – Presenteou o Jornal do Recife com duas fotografias de sua autoria: uma da estação da Estrada de Ferro Central de Pernambuco e outra da rua Larga do Rosário por ocasião da procissão das Chagas. “Um correto trabalho que muito recomenda o seu autor” (Jornal do Recife, 28 de maio de 1895, quinta coluna). Nessa época, provavelmente seu estabelecimento fotográfico ficava na rua da Concórdia, nº 13.

Seu irmão Antônio casou-se com Francelina Maria de França Caldas (Diário de Pernambuco, 5 de novembro de 1895, última coluna).

1897 - Manoel Tondella enviou ao Diário de Pernambuco 2 exemplares de lindíssimas fotografias em ponto pequeno. É no gênero um trabalho de grande perfeição e cuja apreciação recomendamos ao público (Diário de Pernambuco, 13 de janeiro de 1897, quarta coluna).

Presenteou o Jornal do Recife com três fotografias de quadros de pintores célebres (Jornal do Recife, 14 de janeiro de 1897, sexta coluna).

Estava à venda na Livraria Francesa fotografias de autoria de Tondella do préstito que havia acompanhado o general Artur Oscar no dia 15 de novembro (Jornal do Recife, 23 de novembro de 1897, sexta coluna).

Já existia a sociedade Oliveira & Tondella, entre Manoel e João José de Oliveira (18? – 19?). Tornaram-se devedores de impostos do período entre 1897 e 1898 (Diário de Pernambuco, 3 de junho de 1899, terceira coluna).

1898 - Ele e o sócio importaram uma caixa com objetos de fotografia (Diário de Pernambuco, 20 de fevereiro de 1898, segunda coluna).

Chegou uma caixa de mercadorias para Oliveira & Tondella , do vapor inglês Ile, que vinha de potos da Europa (Diário de Pernambuco, 18 de março de 1898, terceira coluna).

Falecimento do irmão de Manoel Tondella, Antônio (? – 1898). Ele, seu irmão Francisco (? – 1913) e filhos, sua irmã Maria (1860 – 1905), sua tia Antônia Maria Monteiro da Silva  (1826 – 1902) e sua esposa Anna Amelia convidaram para a missa de Sétimo Dia, na matriz de Santo Antônio. Pelo anúncio, Maria não era casada e Manoel e Anna Amélia não tinham filhos. Na missa de trigésimo dia, quem convida é a mulher de Antônio, Francelina França Caldas (Diário de Pernambuco, 27 de agosto de 1898, terceira colunaDiário de Pernambuco, 21 de setembro de 1898, penúltima coluna; e Jornal do Recife, 23 de fevereiro de 1899, quarta coluna).

Anna Amelia era uma das paraninfas da bênção solene da imagem do Santíssimo Coração de Jesus, na Matriz de São José. A solenidade contou com a presença do governador de Pernambuco (Jornal do Recife, 4 de novembro de 1898, segunda coluna).

Oliveira & Tondella importaram álbuns e papel albuminado (Diário de Pernambuco, 30 de novembro de 1898, segunda coluna).

1899 – O estabelecimento dos fotógrafos ficava na rua da Imperatriz, nº 79 (Almanach de Pernambuco, 1900).

Oliveira & Tondella importaram artigos para fotografia (Diário de Pernambuco, 8 de março de 1899, segunda coluna).

Como era assinante da America Illustrada, Revista Nacional de Letras e Artes, a firma Oliveira & Tondella ganhou de brinde um Livro de Ouro do Brasil  na Exposição de 1900 em Paris (Jornal do Recife, 23 de julho de 1899, penúltima coluna).

1900 – Ao longo do ano, Oliveira & Tondella importaram diversas vezes materiais fotográficos, envelopes e cartões.

Tondella foi o fotógrafo responsável pela realização de uma imagem que a Celestial Confraria da Santíssima Trindade ofereceria à Sociedade Musical Charanga do Recife (A Província (PE), 17 de julho de 1900, penúltima coluna).

Encontrava-se exposto no ateliê  Photographia Popular Oliveira & Tondella, na rua da Imperatriz, nº 79, um quadro dos bacharéis da Faculdade de Direito do Recife de 1900 (Jornal do Recife, 22 de novembro de 1900, última coluna)

A firma Oliveira & Tondella realizou um retrato em busto do professor Gaspar Regueira Costa na ocasião de seu aniversário, com o qual o magistério municipal o presentearia (Jornal Pequeno, 20 de dezembro de 1900).

1901 – Ao longo do ano, Oliveira & Tondella importaram diversas vezes materiais fotográficos, cartões, papel para desenho.

 

 

Encontrava-se exposto no ateliê  Photographia Popular Oliveira & Tondella, na rua da Imperatriz, nº 79, um quadro dos bacharéis da Faculdade de Direito do Recife de 1901 (Jornal do Recife, 26 de novembro de 1901, última coluna).

 

 

1902 – Ao longo do ano, Oliveira & Tondella importaram diversas vezes materiais fotográficos.

Na Travessa da Concórdia, nº 13, falecimento da tia de Tondella, Antônia Maria Monteiro da Silva (1826 – 1902). A família foi adjetivada como ilustre e Francisco e Manoel Tondella foram referidos como seus dignos sobrinhos (Jornal do Recife, 18 de junho de 1902, segunda coluna; A Província, 24 de junho, quinta coluna; e Diário de Pernambuco, 18 de junho de 1902, quarta coluna).

Oliveira & Tondella realizaram um retrato em tamanho natural do tenente-coronel Miranda Curio, delegado de saúde do Exército junto ao comando do 2º Distrito Militar, que lhe seria dado como presente de aniversário pelos farmacêuticos do corpo de saúde de Pernambuco (A Província (PE), 22 de agosto de 1902, quarta coluna).

Jornalistas do Diário de Pernambuco fizeram uma visita ao ateliê fotográfico de Oliveira & Tondella e elogiaram os retratos e as vistas expostas e também a amabilidade dos dignos artistas. “Mostraram-nos os mesmos srs. os estereoscópios que acabam de receber, novidade que expõem à venda…” (Diário de Pernambuco, 22 de outubro de 1902, quinta coluna).

 

 

A firma Oliveira & Tondella ofereceu uma fotografia de presente ao Jornal do Recife: uma imagem do general Marinho da Silva passando em revista as tropas federais na Campina do Bode (Jornal do Recife, 28 de novembro de 1902, quarta coluna).

Oliveira & Tondella enviaram ao Jornal do Recife um cartão de boas festas com uma imagem de um trecho do rio Capibaribe próximo aos arrecifes. Além disso, enviaram a fotografia de uma paisagem (Jornal do Recife, 23 de dezembro de 1902, sétima coluna). Enviaram para o periódico A Província uma fotografia do farol de Olinda e uma de uma lancha (A Província (PE), 23 de dezembro de 1902, quarta coluna). E enviaram para o Jornal Pequeno uma fotografia dos bairros do Recife e de Santo Antônio como votos de boas festas (Jornal Pequeno, 23 de dezembro de 1902, primeira coluna).

1903 – Ao longo do ano, Oliveira & Tondella importaram diversas vezes materiais fotográficos.

Um retrato a óleo feito no ateliê de Oliveira & Tondella foi oferecido ao alferes Virgílio Antônio Borba (Diário de Pernambuco, 8 de janeiro de 1903, sexta coluna).

Foi noticiado o novo endereço do ateliê fotográfico de Oliveira & Tondella, devido à mudança do nome da rua da Imperatriz para rua Rosa e Silva. O número, 79, continuou o mesmo. Eles haviam produzido um retrato do conselheiro Rosa e Silva durante um banqueteExpuseram as vistas do salão do banquete, que deveriam ser apreciadas com um estereoscópio (Diário de Pernambuco, 12 de fevereiro de 1903, sexta coluna; e 13 de fevereiro de 1903, última coluna). Expuseram as vistas do salão do banquete, que deveriam ser apreciadas com um estereoscópio (Diário de Pernambuco, 20 de fevereiro de 1903, última coluna).

Os hábeis artistas Oliveira & Tondella produziram uma fotografia da Igreja de Santa Cruz na ocasião da festa do Bom Jesus da Via Sacra, realizada em 3 de maio, e a enviaram de presente para o Jornal do Recife, para o Jornal Pequeno e para o periódico A Província (Jornal Pequeno, 16 de maio de 1903, segunda colunaJornal do Recife, 17 de maio de 1903, terceira coluna; e A Província (PE), 17 de maio de 1903, última coluna).

Casamento de Amália de Oliveira, filha de José Joaquim Oliveira, com Tacito Altino Correia de Araújo (Diário de Pernambuco, 5 de setembro de 1903, sexta coluna).

Leonilla Lusetta de Oliveira, esposa de Joaquim José de Oliveira, sócio de Tondella, faleceu (Jornal Pequeno, 31 de outubro de 1903, terceira coluna).

Oliveira & Tondella presentearam o Jornal Pequeno com fotografias em miniatura da primeira página edição de 28 de junho de 1902 do periódico (Jornal Pequeno, 4 de dezembro de 1903, terceira coluna).

Oliveira & Tondella presentearam o Diário de Pernambuco com fotografias do edifício do referido jornal na rua Duque de Caxias esquina com a Praça da Independência (Diário de Pernambuco, 25 de dezembro de 1903, quarta coluna)

1904 – Oliveira & Tondella enviaram votos de um feliz ano novo para o Jornal do Recife (Jornal do Recife, 1º de janeiro de 1904, quinta coluna).

Chegada, da Inglaterra, de papel fotográfico, de câmaras escuras, de cartões cortados e obras impressas para Oliveira & Tondella (Província (PE), 16 de janeiro de 1904, segunda coluna21 de maio de 1904, terceira coluna, 15 de junho, segunda coluna29 de julho de 1904, terceira coluna; e 31 de agosto de 1904, terceira coluna).

Oliveira & Tondella foram citados pela Diretoria de Contabilidades e Rendas Municipais do Recife. O endereço era av. Rosa e Silva, 79 (Diário de Pernambuco, 4 de fevereiro de 1904, sexta coluna).

A firma Oliveira & Tondella produziu uma fotografia da Companhia dos Bombeiros (Diário de Pernambuco, 6 de março de 1904, sexta coluna).

Tondella abriu, sem sócios, um estabelecimento fotográfico na rua da Velha, 137, no primeiro andar, onde também residia. Anos depois essa rua passou a chamar-se Antônio Carneiro. Na época, oferecia cartões postais da procissão Encontro, que havia saído da Igreja de Santa Cruz, no Recife (Jornal do Recife, 22 de abril de 1904, penúltima coluna; A Província, 13 de setembro de 1904, penúltima coluna). A recente abertura do ateliê do hábil e conhecido fotógrafo foi anunciada. Provisoriamente a entrada seria feita a partir da rua da Alegria (Jornal do Recife, 13 de setembro de 1904, última coluna; e A Província,(PE), 13 de setembro de 1904, penúltima coluna).

 

 

Tondella produziu de uma janela da Igreja de Santa Cruz uma fotografia da Charanga do Recife (A Província, 20 de setembro de 1904, última coluna).

1905 – Com cerca de 45 anos, falecimento de Maria Tondella, irmã de Manoel (A Província, 26 de abril de 1905, primeira colunaJornal do Recife, 6 de maio de 1905, sexta coluna).

Publicação de uma propaganda da Photographia Tondella anunciando o desligamento de Tondella da firma Oliveira & Tondella, realizado no ano anterior (A Província, 16 de julho de 1905, primeira coluna). No mesmo ano, publicação de uma propaganda da Photographia Popular apenas com o nome de Joaquim José de Oliveira no mesmo endereço, na rua da Imperatriz, 79 (Almanach de Pernambuco, 1905).

 

 

Ofertou ao Jornal do Recife a fotografia da canhoneira Pátria e seu trabalho foi considerado perfeitíssimo. Uma fotografia ampliada da mesma canhoneira estava exposta na Livraria Francesa, na rua Primeiro de Março, nº 9 (Jornal do Recife, 21 de setembro de 1905, oitava coluna).

O Jornal Pequeno homenageou Anna Amélia no dia de seu aniversário, 5 de dezembro (Jornal Pequeno, 5 de dezembro de 1905, primeira coluna).

1910 - O nome da rua de seu estabelecimento mudou de rua da Velha para rua Antônio Carneiro (Diário de Pernambuco, 11 de agosto de 1910, quarta coluna).

1913 - Falecimento de sue irmão Francisco, que havia sido livreiro no Recife, proprietário da antiga casa Bolitreau, a Livraria Tondella, Cockles & Co, desde 1897, na rua do Imperador, 46 (Diário de Pernambuco, 13 de fevereiro de 1898, penúltima coluna; e Diário de Pernambuco, 19 de março de 1898, terceira coluna) e que ultimamente trabalhava como contador na Papelaria Brasil. Era pai de Marcionila e de Francisco Tondella Junior (Diário de Pernambuco, 21 de setembro de 1897, penúltima coluna; e Jornal Pequeno, 19 de novembro de 1913, última coluna)

1917 -Morte de sua sobrinha, Marcionila Tondella, filha de seu irmão e comerciante Francisco (já falecido), que também era pai do poeta Tondella Junior (Diário de Pernambuco, 20 de maio de 1917, segunda coluna).

1919 - Falecimento do compadre e cunhado de Tondella, Caetano Ferreira Ramos (? – 1919) (Jornal do Recife, 20 de abril de 1919, última coluna).

Morte de seu sobrinho, o poeta Francisco Tondella Junior, aos 28 anos, filho de seu irmão já falecido, Francisco (Diário de Pernambuco, 15 de junho de 1919, segunda coluna).

Foi publicado um anúncio do estabelecimento fotográfico de Tondella, na rua Antônio Carneiro, 403 (antiga Velha) no qual eram oferecidos retratos Mignon, Visita, Elisabeth, Gabinete, Boudoir, Salão, cartões postais, e fotos de edifícios, de grupos ao ar livre em papel platina ou brilhante, retratos em tamanho natural em preto ou em cor pelo novo sistema americano. Oferecia também uma grande coleção de vistas de Pernambuco. Além disso, consertava máquinas e obturadores e fazia revelação, impressão e retoque em chapas de amador. O mesmo anúncio foi publicado diversas vezes ao longo de 1919 e 1920.

 

 

Foi anunciado que o artista e fotógrafo Manoel Tondella estava diariamente, na rua Velha, 103, à disposição dos assinantes e dos anunciantes de La Revue de revues de l´Amerique du Sud, de Daniel Valenford & C sobre Recife (A Província (PE), 8 de fevereiro de 1920, segunda coluna; e Jornal do Recife, 17 de outubro de 1919, penúltima coluna).

1921 - Foi realizada uma missa fúnebre pela alma de Manoel Tondella, na Igreja de Santa Cruz (A Província (PE), 22 de fevereiro de 1921, primeira coluna).

1922 -Pela última vez foi anunciado o estabelecimento fotográfico de Tondella, na rua Antônio Carneiro, nº 137 (Almanak Laemmert, 1922).

 

 

 

**Andrea C. T. Wanderley é editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

FERREZ, Gilberto. Velhas fotografias pernambucanas: 1851-1890. Rio de Janeiro: Campo Visual, 1988.

GASPAR, Lúcia. As ruas do Recife. Site da Fundaj, 2009

GASPAR, Lúcia; BARBOSA, Virginia. O Recife: uma bibliografia. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2008. 360 p.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002.

MALTA, Albertina – Memória em sais de prata: fotografias do Recife em instituições memoriais. Dissertação para Universidade Federal de Pernambuco, fevereiro de 2013.

MEDEIROS, R. M. H. (Orgs.). Arquivos e coleções fotográficas da Fundação Joaquim Nabuco. Recife: Massangana, 1995.

MENDES, Luciana Cavalcanti. O campo fotográfico em Pernambuco: um resumo do final do XIX até 1930. XXIX Simpósio Nacional de História – Anpuh, 2017.

SILVA, Fabiana Bruce. Entre fotógrafos, modernidade e fotografia no Recife do século XX, uma pesquisa. Apresentado durante XI Encontro Regional Sudeste de História Oral, realizado na Universidade Federal Fluminense, em Niteroi, em julho de 2015

Site da Fundação Joaquim Nabuco

O café sob a lente de vários fotógrafos

Com uma seleção de imagens a Brasiliana Fotográfica lembra o Dia Nacional do Café, data incorporada em 2005 ao Calendário Brasileiro de Eventos. O produto chegou ao Brasil no século XVIII e desde então é um importante gerador de riquezas, muito significativo na história da economia e da cultura do país. Por sua relevância, vários aspectos de seu cultivo, colheita e comercialização foram registrados por importantes fotógrafos, dentre eles Georges Leuzinger (1813 – 1892), Guilherme Gaensly (1843 – 1928) e Marc Ferrez (1843 – 1923). O café foi também tema de fotógrafos ainda desconhecidos, do Instituto de Expansão Comercial e da Centennial Photographic Co. Convidamos nossos leitores a utilizarem a ferramenta zoom para uma melhor apreciação das fotografias.

 

 

Acessando o link para as fotografias relacionadas ao café disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

 

O café chegou ao Brasil, por Belém no Pará, em 1727, trazido pelo sargento-mor Francisco de Melo Palheta (1670 -1750) que, sob as ordens do governador do Maranhão e Grão Pará, o português João da Maia Gama, foi à Guiana Francesa para resolver problemas de fronteira. Lá conseguiu sementes de café que, na época, já tinham grande valor comercial. Seu cultivo espalhou-se da região Norte para outros estados e em meados do século XIX estabeleceu-se fortemente no Vale do Rio Paraíba, nos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro, gerando um novo ciclo econômico no país. Tornou-se o principal produto das exportações nacionais. Foi também muito cultivado em Minas Gerais e no Espírito Santo.

 

 

Sua produção e comercialização fomentaram o desenvolvimento e a criação de cidades, a construção de ferrovias para seu escoamento e São Paulo tornou-se a metrópole do café enquanto o Porto de Santos tornava-se seu principal ponto de saída. Após a abolição da escravatura, em 1888, aconteceu uma grande onda de imigração, principalmente de italianos, que vinham para o Brasil e se empregavam nos cafezais de São Paulo. A riqueza produzida nas lavouras de café gerou o crescimento do comércio, da oferta de serviços e da indústria nacional. O Brasil ainda é o maior exportador da bebida e o segundo maior país consumidor, atrás apenas dos Estados Unidos.

 

 

“As plantações de café no Brasil, entre meados do Século XIX até o final do século XX, além das divisas econômicas, gerou também um rico patrimônio cultural, envolvendo as edificações, os costumes regionais e a paisagem marcante, especialmente nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Para resgatar, preservar e valorizar toda essa riqueza, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) criou o Grupo Interinstitucional sobre o Patrimônio Cultural do Café da região sudeste do Brasil que, entre outras iniciativas, deverá estreitar a parceria entre órgãos de proteção do patrimônio cultural, universidades, sociedade civil organizada e iniciativa privada, buscando desenvolver a melhor estratégia para a preservação e a valorização do patrimônio cultural referente ao café no Brasil” (Iphan, 2011).

 

Nas fazendas de café eram comuns as jornadas de trabalho de quinze a dezoito horas diárias, iniciadas, ainda de madrugada, ao som do sino que despertava os escravos para que eles se apresentassem ao feitor, para receber as tarefas. Se as atividades fossem próximas à sede da fazenda, iam a pé; se mais distantes, um carro de boi os transportava.
No eito, distribuíam-se em grupos e trabalhavam horas sob as vistas do feitor e embalados pela música que cantavam. Num português misturado com suas línguas maternas, essas canções falavam do trabalho, de suas origens, dos patrões e de si mesmos, num ritmo monótono e constante, repetindo dezenas, centenas de vezes a mesma melodia. 
O almoço era servido lá pelas dez horas da manhã. O cardápio constava de feijão, angu de milho, abóbora, farinha de mandioca, eventualmente toucinho ou partes desprezadas do porco, rabo, orelha, pé etc. e frutas da estação como bananas, laranjas e goiabas. Embora houvesse interesse em se manter o negro saudável e apto para o trabalho, não havia a preocupação com sua longevidade. Em fazendas mais pobres, a comida com frequência se resumia ao feijão com gordura e um pouco de farinha de mandioca, o que acabava provocando seu definhamento precoce. Qualquer que fosse a comida, era preparada em enormes panelas e servida em cuias nas quais os escravos usavam as mãos ou, mais raramente, colheres de pau. A refeição deveria ser feita rapidamente, para não se perder tempo, e de cócoras; os negros tinham que engolir tudo porque logo em seguida a faina continuava. Por volta de uma hora da tarde, um café com rapadura era servido substituído nos dias frios por cachaça, e às quatro horas jantava-se. Aí, comia-se o mesmo que no almoço, descansava-se alguns minutos e retomava-se o batente até escurecer.
Cumpria-se, então, o ritual da manhã, todos se apresentando ao administrador ou dono, conforme o caso da fazenda. Era quando, após uma breve oração, iniciava-se o serão que constava, geralmente, da produção ou beneciamento de bens deconsumo. Os escravos debulhavam e moíam o milho, preparavam a farinha de mandioca e o fubá, pilavam e torravam o café. Com frequência, cortavam lenha e selecionavam o café apanhado no período de colheita. Só lá pelas nove ou dez horas da noite é que o escravo podia se recolher. Isso para alguém que, no verão, levantava por volta das quatro horas da madrugada. Antes de se deitar, fazia uma refeição rápida e, extenuado, descansava até a jornada do dia seguinte”.
Jaime Pinsky, em A Escravidão no Brasil

 

Fontes:

Embrapa

Iphan

PINSKY, Jaime. A Escravidão no Brasil. São Paulo : Contexto, 2000.

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Observatório Eco -Direito Ambiental

Revista Cafeicultura

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Carlos Bippus e as paisagens cariocas

 

 

A Brasiliana Fotográfica homenageia o Rio de Janeiro destacando as imagens produzidas pelo fotógrafo Carlos Bippus (18? – 19?), que atuou na cidade nas primeiras décadas do século XX. Bippus fez diversos registros do Rio de Janeiro e muitos deles tornaram-se cartões-postais e ilustraram álbuns de fotografia que eram vendidos, sobretudo, a turistas que visitavam a cidade.  Até o momento, pouco se sabe sobre a vida deste fotógrafo. Ele teve um ateliê fotográfico, o Photographia Bippus, na rua Vista Alegre, nº 20, e posteriormente foi sócio de Hurt Brand na Photo Brasil, na avenida Rio Branco, nº 144. A sociedade foi desfeita em 1923 e Bippus passou a ser o único proprietário do estabelecimento, tendo permanecido no mesmo endereço. Em uma notícia publicada em O Jornal, em 23 de novembro de 1923, sua arte fotográfica foi elogiada como proficiente e caprichosa. Além de suas qualidades como fotógrafo paisagista, foi também destacada sua habilidade como retratista. Houve na Photographia Brasil, um incêndio em 1929 (Gazeta de Notícias, 17 de novembro de 1929, sexta coluna).

 

 

Acessando o link para as fotografias de Carlos Bippus disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas. 

 

 Breve cronologia do fotógrafo Carlos Bippus

 bippus

1915 – Carlos Bippus  estava hospedado no Hotel Globo, no Rio de Janeiro (O Paiz, 31 de dezembro de 1915, terceira coluna).

1916 – Voltou a hospedar-se no Hotel Globo (O Paiz, 22 de junho de 1916, quarta coluna).

1917 – Carlos Bippus chegou no Rio de Janeiro, no paquete Itaituba, vindo de Porto Alegre e escalas (O Imparcial, Diário Illustrado do Rio de Janeiro, 19 de junho de 1917, penúltima coluna).

1918 – Bippus, de quem o remetente de um anúncio não sabia a direção, estava sendo procurado para receber proposta de negócio. No anúncio estava disponível o número de uma Caixa Postal de São Paulo (Correio da Manhã, 13 de agosto de 1918, primeira coluna).

Foi noticiado que C. Bippus, provavelmente Carlos Bippus, havia perdido um caderno azul com documentos e quem o encontrasse seria recompensado. O endereço fornecido para contato era rua do Catete, 98, 2º andar (A Noite, 28 de setembro de 1918, terceira coluna).

1921 – O ateliê Photographia Bippus ficava na rua Vista Alegre, nº 20 (Almanak Lammert, 1922).

O estabelecimento fotográfico Photo Lopes anunciou que acabava de substituir com vantagem a Photo Bippus que até então se dizia único no fabrico de vistas de noite (Jornal do Brasil, 5 de março de 1921, quinta coluna).

1922 – Os aviadores portugueses Sacadura Cabral (1881 – 1924) e Gago Coutinho (1869 – 1959) visitaram o ateliê Foto Brasil, de Bippus e Brand. Na ocasião, os aviadores, que haviam realizado a primeira travessia aérea do Atlântico Sul, entre Lisboa e Rio de Janeiro, posaram para diferentes clichês (O Jornal, 24 de junho de 1922, terceira coluna).

Fotografou a Exposição Internacional do Centenário da Independência do Brasil, realizada entre 7 de setembro de 1922 e o dia 24 de julho de 1923 no Rio de Janeiro.

 

 

1923 – A Photo Brasil e uma tipografia, dos sócios Carlos Bippus e Hurt Brand, ficavam na na avenida Rio Branco, nº 144. A Photo Bippus continuava funcionando na rua Vista Alegre, nº 20 (Almanak Laemmert, 1924).

Fotografias do ateliê de Bippus, de belíssimas vistas e panoramas do Rio de Janeiro, Petrópolis, Teresópolis, etc, eram anunciadas como verdadeiros trabalhos artísticos e de uma perfeição absoluta (A União, 21 de outubro de 1923 e O Beija-Flor, segunda quinzena de outubro de 1923).

 

 

Foi desfeita a sociedade de Bippus com Hurt Brand na Foto Brasil. Bippus ficou com o ativo e o passivo do estabelecimento (Jornal do Commercio, 27 de outubro de 1923, sexta coluna; e Correio da Manhã, 3 de novembro de 1923, na antepenúltima coluna).

Na notícia, abaixo, publicada em O Jornal, em 23 de novembro de 1923, a arte fotográfica de Bippus foi elogiada como proficiente e caprichosa. Além de suas qualidades como fotógrafo paisagista, foi também destacada sua habilidade como retratista.

 

 

1924 - Foi noticiada a perda de uma cadela nas proximidades do Cinema Odeon e pedido para quem a encontrasse entrasse em contato com Carlos Bippus (Correio da Manhã, 7 de fevereiro, terceira coluna).

As fotografias de Bippus continuavam sendo anunciadas como verdadeiros trabalhos artísticos e de uma perfeição absoluta (O Beija-Flor, 2ª quinzena de março de de 1924).

1925 – Foi publicada uma fotografia de Margot Felix, que se casaria com Bippus (Revista da Semana, 10 de janeiro de 1925).

 

 

1926 – O diretor da Recebedoria do Distrito Federal respondeu a uma consulta de Carlos Bippus relativa à interpretação do decreto nº 16041 sobre vendas de trabalhos fotográficos (Jornal do Commercio, 15 de junho de 1926, quarta coluna e O Globo, 15 de junho de 1926).

Carlos Bippus era credor e foi nomeado um dos comissários da concordata preventiva requerida por Alzira dos Santos Affonso (O Paiz, 6 de agosto de 1926, última coluna). Foi anunciado que os comissários estariam entre 16 e 17h no estabelecimento da concordatária na avenida Rio Branco, nº 90 (O Paiz, 7 de agosto de 1926, última coluna).

Com Flexa Ribeiro e A. Perrin, Bippus foi um dos jurados da 3º Exposição Anual de Fotografia do Photo Club Brasileiro, inaugurada em 26 de agosto de 1926, no saguão do edifício do Liceu de Artes e Ofícios. O concurso foi encerrado em 8 de setembro e contou com 284 provas de 16 concorrentes, todos eles sócios do Photo Club (O Paiz, 29 de agosto de 1926, última coluna). Os vencedores das três categorias – Retratos, Cenas de Gênero e Paisagens – foram, Guerra Duval, Del Vecchio e Hermínia de Mello Nogueira, Santos Leitão, respectivamente (O Paiz, 5 de setembro de 1926).

 

 

Bippus adquiriu dois lotes no Jardim Guanabara, bairro em construção na Ilha do Governador (Jornal do Brasil, 29 de setembro de 1926, penúltima coluna).

1929 – Bippus fez uma requerimento de certidão comercial para a prefeitura do Rio de Janeiro (Jornal do Brasil, 6 de fevereiro de 1929, primeira coluna e  24 de março de 1929, primeira coluna).

Houve na Photo Brasil, um incêndio em 1929, causado pela distração do assistente de Bippus.  Ele trabalhava com uma lâmpada de reproduções e colocou o cigarro que fumava perto de uma lata de magnésio, causando uma explosão. O acidente não teve graves consequências (Gazeta de Notícias, 17 de novembro de 1929, sexta coluna; e O Globo, 16 de novembro de 1929).

Foi aceito o pedido de despejo feito por Antônio Fernandes e Cia contra Carlos Bippus (Jornal do Commercio, 15 de abril de 1931, na penúltima coluna).

1931 – Foi aceito o pedido de despejo feito por Antônio Fernandes e Cia contra Carlos Bippus (Jornal do Commercio, 15 de abril de 1931, na penúltima coluna).

A Photo Brasil foi anunciada pela última vez no Almanak Laemmert, 1931.

Tramitava na Sexta Vara Cível um processo de Carlos Bippus (A esquerda, 8 de julho de 1931, terceira coluna).

1932 – Na Quinta Vara Cível, ação de despejo contra Bippus requerida por José Maria Parames Domingos (Correio da Manhã, 29 de setembro de 1932, terceira coluna).

1933 –  Na Sexta Vara Cível, em assunto relativo a falência, Bippus foi intimado a satisfazer o parecer do Curador de massas (A Batalha, 11 de agosto de 1933, última coluna)

1937 – Tramitava na 3ª Pretoria uma ação sumária feita por Leopoldo Neuss contra Carlos Bippus (Jornal do Commercio, 30 de janeiro de 1937).

1987 - O álbum A Exposição do Centenário da Independência, de 1922, com fotos de Bippus, Thiele Kollien e Lopes, foi apresentado ao Conselho Deliberativo do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, durante uma homenagem ao presidente da White Martins, Félix de Bulhões, que havia feito uma doação à instituição (Jornal do Brasil, 23 de outubro de 1987, última coluna).

1988 - Fotografias de Bippus foram a leilão, em Copacabana, no Rio de Janeiro (Jornal do Commercio, 21 de agosto de 1988, última coluna).

2002 - Publicação de propaganda sobre leilão de fotografias, manuscritos e livros, dentre outros itens, na Livraria Universal, no Rio de Janeiro. Fotografias de Bippus, Marc Ferrez (1843 – 1923) e Augusto Malta (1864 – 1957) fizeram parte do leilão (Jornal do Commercio, 20 de outubro de 2002).

2003 – Fotos noturnas produzidas por Bippus foram leiloadas na livraria e antiquário Sebo fino, em Petrópolis (O Globo, 2 de outubro de 2003)

Carlos Bippus foi um dos fotógrafos homenageados no livro Rio de Janeiro 1900 – 1930 – Uma crônica fotográfica, de George Ermakoff.

2008Lançamento do livro Só existe um Rio com imagens produzidas por Carlos Bippus e outros fotógrafos:

‘O Rio de Janeiro renovado das décadas de 1910 e 1920 foi imortalizado por um grupo de fotógrafos que produzia álbuns fotográficos para a venda a visitantes e colecionadores. Lopes, Braz, Tiele, W. Kollien e Carlos Bippus nos deixaram um legado de imagens de grande sensibilidade e técnica primorosa, com viragem em verde à base de sais de ferro e urânio que permitiu uma excelente preservação ao longo do tempo.’

2015 - Fotografias de Bippus fizeram parte das exposições Rio: primeiras poses – Visões da cidade a partir da chegada da fotografia (1840-1930),  no Instituto Moreira Salles; e Uma história do futuro, na Biblioteca Nacional (O Globo, 12 de agosto de 2015).

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

ERMAKOFF , George. Rio de Janeiro 1900 – 1930 – Uma crônica fotográfica. Rio de Janeiro: G. Ermakoff Casa Editorial, 2003.

JAGUARIBE, Beatriz;MELLO, Marcia; L.Mauricio. Só existe um Rio. Rio de Janeiro: Editora Andrea Jakobson, 2008.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

 

Uma homenagem aos 175 anos de Marc Ferrez (7 de dezembro de 1843 – 12 de janeiro de 1923)

A Brasiliana Fotográfica homenageia os 175 anos de nascimento do brilhante cronista visual Marc Ferrez (1843 – 1923), destacando as publicações do portal relativas ao fotógrafo e disponibilizando um artigo sobre ele de autoria de Sérgio Burgi, Coordenador de Fotografia do Instituto Moreira Salles, uma das instituições fundadoras do portal. A vasta e abrangente obra iconográfica de Ferrez se equipara a dos maiores nomes da fotografia do mundo. Foi o principal fotógrafo das paisagens e dos costumes cariocas da segunda metade do século XIX e do início do século XX.  Outro segmento de sua obra iconográfica registrou as várias regiões do Brasil – ele foi o único fotógrafo do século XIX que percorreu todas as regiões do país, tendo sido, no referido século, o principal responsável pela divulgação da imagem do país no exterior. Em meados dos anos 1870, integrou a Comissão Geológica do Império. Era Fotógrafo da Marinha Imperial. Faleceu em 12 de janeiro de 1923.

 

 

Acessando o link para as fotografias de Marc Ferrez disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

 

MARC FERREZ

Sergio Burgi*

 

 

Mais conhecido por suas imagens icônicas da cidade do Rio de Janeiro e de seu exuberante entorno, Marc Ferrez foi também o primeiro fotógrafo a percorrer extensivamente o território brasileiro, primeiramente como fotógrafo da Comissão Geológica do Império do Brasil (1875-1878), e posteriormente, como fotógrafo da construção e modernização das principais ferrovias, registrando localidades e paisagens em diversos estados e regiões do país. Permanentemente associado ao campo das artes, da engenharia, da técnica e da ciência e em constante interação com os principais nomes de seu tempo nestas áreas, Marc Ferrez documentou grandes projetos de engenharia, de arquitetura e de urbanismo no Império e na República. Estes diversos trabalhos comissionados realizados ao longo de sua carreira o colocaram em associação direta com as principais inovações tecnológicas e científicas de seu tempo, tendo por conseguinte buscado também expandir as fronteiras de sua própria produção de imagem em fotografia, através, por exemplo, do desenvolvimento de câmeras especiais e do estudo e domínio de novos processos fotográficos.

A partir da sociedade formada com seus filhos, em 1907, Marc Ferrez investiu na expansão de suas atividades nas áreas de comercialização de equipamentos e produtos fotográficos e cinematográficos, na produção e comercialização de impressões fotomecânicas, na distribuição de novos produtos para o mercado amador, como os autocromos e estereoscopias, e, especialmente, na distribuição e exibição de filmes cinematográficos, sendo estes os principais campos que viriam a consolidar, a partir do início do século XX, a era da comunicação visual de massa baseada na circulação intensiva da imagem fotográfica e cinematográfica, profissional e amadora. Este processo foi somente possível pelos avanços tecnológicos originados na interseção da ciência com a técnica e pela intensa atividade de comercialização de processos e produtos, que no Brasil teve em Marc Ferrez seu principal ator e agente. A carreira fotográfica de Marc Ferrez percorre, assim, mais de cinco décadas de profundas transformações no campo da imagem, e, nesse sentido, sua trajetória e seu legado constituem, sem dúvida, uma plataforma única para a compreensão do país e de sua representação ao longo do século XIX e primeiras décadas do século XX.

Por esses motivos, que evidenciam a importância do legado de Marc Ferrez, o Instituto Moreira Salles, que tem sob sua guarda o acervo do fotógrafo, realizará ao longo dos próximos cinco anos um trabalho sistemático de documentação e pesquisa da obra completa de Marc Ferrez, buscando referenciar de maneira abrangente e exaustiva seu trabalho, reunido tanto no IMS como em outras instituições no país e no exterior.

 

*Sergio Burgi é Coordenador de Fotografia do Instituto Moreira Salles

 

Publicações da Brasiliana Fotográfica em torno da obra do fotógrafo Marc Ferrez 

 

O Rio de Janeiro de Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 30 de junho de 2015

Obras para o abastecimento no Rio de Janeiro por Marc Ferrez , de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 25 de janeiro de 2016

O brilhante cronista visual Marc Ferrez (7/12/1843 – 12/01/1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 7 de dezembro de 2016

Do natural ao construído: O Rio de Janeiro na fotografia de Marc Ferrez, de autoria de Sérgio Burgi, um dos curadores da Brasiliana Fotográfica, publicada em 19 de dezembro de 2016

No primeiro dia da primavera, as cores de Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 22 de setembro de 2017

Marc Ferrez , a Comissão Geológica do Império (1875 – 1878) e a Exposição Antropológica Brasileira no Museu Nacional (1882), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica,  publicada em 29 de junho de 2018

Série “O Rio de Janeiro desaparecido” V – O quiosque Chopp Berrante no Passeio Público, Ferrez, Malta e Charles Dunlop, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 20 de julho de 2018

Uma homenagem aos 175 anos de Marc Ferrez (7 de dezembro de 1843 – 12 de janeiro de 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 7 de dezembro de 2018 

Pereira Passos e Marc Ferrez: engenharia e fotografia para o desenvolvimento das ferrovias, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 5 de abril de 2019

Fotografia e ciência: eclipse solar, Marc Ferrez e Albert Einstein, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 

Os 180 anos da invenção do daguerreótipo – Os álbuns da Comissão Geológica do Império com fotografias de Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 19 de agosto de 2019

Celebrando o fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 4 de dezembro de 2019

Uma homenagem da Casa Granado ao imperial sob as lentes de Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 7 de fevereiro de 2020

Ressaca no Rio de Janeiro invade o porão da casa do fotógrafo Marc Ferrez, em 1913, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado 6 de março de 2020

Petrópolis, a Cidade Imperial, pelos fotógrafos Marc Ferrez e Revert Henrique Klumb, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 16 de março de 2020

Bambus, por Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 5 de junho de 2020

O Baile da Ilha Fiscal: registro raro realizado por Marc Ferrez e retrato de Aurélio de Figueiredo diante de sua obra, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 9 de novembro de 2020

O Palácio de Cristal fotografado por Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 2 de fevereiro de 2021

A Estrada de Ferro do Paraná, de Paranaguá a Curitiba, pelos fotógrafos Arthur Wischral (1894 – 1982) e Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 22 de março de 2021

Dia dos Pais – Julio e Luciano, os filhos do fotógrafo Marc Ferrez, e outras famílias, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 6 de agosto de 2021

No Dia da Árvore, mangueiras fotografadas por Ferrez e Leuzinger, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 21 de setembro de 2021

Retratos de Pauline Caroline Lefebvre, sogra do fotógrafo Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 28 de abril de 2022

A Serra dos Órgãos: uma foto aérea e imagens realizadas pelos mestres Ferrez, Leuzinger e Klumb, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 30 de junho de 2022

O centenário da morte do fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 12 de janeiro de 2023

O Observatório Nacional pelas lentes de Marc Ferrez, amigo de vários cientistas, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 29 de maio de 2023

No Dia Mundial do Meio Ambiente, a potente imagem da Cachoeira de Paulo Afonso, por Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 5 de junho de 2023

A Fonte Adriano Ramos Pinto por Guilherme Santos e Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 18 de julho de 2023

Os 180 anos de nascimento do fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 7 de dezembro de 2023

 

Registros raros da participação militar brasileira na I Guerra Mundial

 

Registros raros da participação militar brasileira na I Guerra Mundial

 

“Na Coleção Cristóvão Barcellos, do Arquivo Histórico e Institucional do Museu da República, é possível encontrar alguns raros registros fotográficos da participação militar brasileira na I Guerra Mundial. Cristóvão de Castro Barcellos (1883-1946) foi um militar do Exército brasileiro nascido em Campos, norte do estado do Rio de Janeiro. Quando 1º tenente, ele foi chamado a integrar a Comissão Brasileira de Estudos, Operação de Guerra e Compra de Material, criada em dezembro de 1917 e enviada à França em janeiro de 1918″. O cientista político Paulo Celso Corrêa, do Museu da República, uma das instituições parceiras do portal, é o autor do artigo que hoje a Brasiliana Fotográfica publica sobre “A participação militar brasileira na I Guerra Mundial – Comissão Brasileira de Estudos, Operação de Guerra e Compra de Material (1918)”.

 

A participação militar brasileira na I Guerra Mundial – Comissão Brasileira de Estudos, Operação de Guerra e Compra de Material (1918)

Paulo Celso Corrêa*

 

No dia 11 de novembro de 2018 se comemora o centenário da assinatura do armistício que deu fim à Primeira Guerra Mundial (1914-1918), com a rendição da Alemanha. Esse foi o primeiro conflito militar em escala global da história da humanidade, envolvendo países de todos os continentes.  Representou o desfecho dramático de um longo período de disputas por territórios, mercados e áreas de influência geopolítica, que dividia as principais potências capitalistas da época (Inglaterra, França, Alemanha e Estados Unidos) desde meados do século XIX. Os avanços tecnológicos da ciência e da indústria dos últimos séculos, que muitos acreditavam levar a humanidade ao progresso e à paz, foram aplicados em armamentos que elevaram a destruição material e as taxas de mortalidade civil e militar a níveis inéditos. Ao todo, estima-se que a guerra matou cerca de 20 milhões de pessoas, entre militares e civis.

Na Coleção Cristóvão Barcellos, do Arquivo Histórico e Institucional do Museu da República, é possível encontrar alguns raros registros fotográficos da participação militar brasileira na I Guerra Mundial. Cristóvão de Castro Barcellos (1883-1946) foi um militar do Exército brasileiro nascido em Campos, norte do estado do Rio de Janeiro. Quando 1º tenente, ele foi chamado a integrar a Comissão Brasileira de Estudos, Operação de Guerra e Compra de Material, criada em dezembro de 1917 e enviada à França em janeiro de 1918.

 

 

O compromisso de criá-la surgiu na reunião da Comissão Interaliada acontecida em Paris, entre 30 de novembro e 3 de dezembro de 1917, na qual o Brasil foi representado pelo seu ministro plenipotenciário (embaixador) na França, Olinto Magalhães. Desde 26 de outubro daquele ano, o Brasil estava em guerra contra a Alemanha, integrando assim o bloco dos países Aliados liderado pela França, Inglaterra e Estados Unidos. Além da Comissão de Estudos e Compras, na mesma reunião interaliada se decidiu que o Brasil enviaria uma missão médica militar para a França, um grupo de aviadores navais para treinamento na Europa e nos EUA  e uma divisão naval para o patrulhamento da costa atlântica da África.

 

Acessando o link para as fotografias relativas à participação do Brasil na I Guerra Mundial disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

A comissão de estudos e compras, conhecida como “Missão Aché” por causa de seu comandante, o general Napoleão Felipe Aché, tinha o objetivo de estudar a doutrina militar francesa e conhecer armamentos franceses que pudessem ser comprados para uso pelo exército brasileiro. Além de visitarem instalações militares, os 24 oficiais brasileiros que a compunham foram arregimentados na primeira linha do Exército francês, que lutava na frente ocidental da guerra (França e Bélgica). Cristóvão Barcellos, por exemplo, comandou um pelotão do 17º regimento de Dragões (infantaria a cavalo) do exército francês, participando da perseguição a tropas alemãs que se retiravam da Bélgica. Ele continuou na França após o fim da guerra, onde cursou a Escola Militar de Saint-Cyr até 1919, ano em que retornou ao Brasil.

 

 

A Missão Aché continuou suas atividades na França após o armistício. Outra função por ela desempenhada foi a de familiarizar os oficiais brasileiros com o exército francês, de modo que eles pudessem trabalhar com a Missão Francesa de treinamento contratada pelo governo brasileiro em 1919. Ficou definido pelo contrato que os franceses comandariam por quatro anos as escolas brasileiras de Estado-Maior, Aperfeiçoamento de Oficiais, Intendência e Veterinária e, em troca, o Brasil daria preferência à compra de armas e equipamentos bélicos franceses. Chefiados pelo marechal Maurice Gamelin, os primeiros oficiais instrutores franceses chegaram ao Brasil em 1919. O contrato da missão foi renovado sucessivas vezes até a extinção da missão militar em 1940, após a capitulação da França na Segunda Guerra Mundial.

 

 

 

*Paulo Celso Corrêa é cientista político do Arquivo Histórico e Institucional do Museu da República

 

Fontes:

ARAUJO, Rodrigo Nabuco de. Missão militar francesa; FAGUNDES, Luciana. Participação brasileira na Primeira Guerra Mundial; LEMOS, Renato. Cristóvão Barcellos. In: ABREU, Alzira Alves de (org.). Dicionário histórico-biográfico da Primeira República (1889-1930). Rio de Janeiro, Editora FGV, 2015.

DARÓZ, Carlos. O Brasil na Primeira Guerra Mundial: a longa travessia. São Paulo, Editora Contexto, 2017.

 

Notícias sobre a Missão Aché na década de 1910

Andrea C. T. Wanderley**

 

Anúncio da criação de uma missão militar brasileira na Europa chefiada pelo general Napoleão Felipe Aché com o objetivo de colher “in loco” as lições novas que a presente guerra proporciona (O Jornal (MA), 23 de novembro de 1917, quarta coluna).

No anfiteatro da Sorbonne, realização de grande manifestação em honra do Brasil com a presença do general Aché e de membros da missão militar brasileira (O Paiz, 16 de março de 1918, terceira coluna).

O ministro do Brasil em Paris, Olinto de Magalhães (1866 – 1948), apresentou o general Aché a Stephen Pichon (1857 – 1933), ministro das Relações Exteriores da França (O Paiz, 9 de abril de 1918, quarta coluna).

Visita da Missão Aché a Verdun e encontro de Olinto Magalhães e do general Aché com Georges Clemenceau (1841 – 1929), presidente do Conselho da França (A Rua, 1º de maio de 1918, última coluna e O Paiz, 2 de maio de 1918, primeira coluna).

Olinto Magalhães apresentou o general Aché e o chefe da missão naval brasileira, o almirante Francisco de Mattos, ao presidente da França, Raymond Poincaré (1860 – 1934)(O Paiz, 21 de junho de 1918, segunda coluna).

Em 28 de julho, a missão brasileira foi recebida no front de guerra belga pelo general Gillain, chefe do Estado Maior (Fon Fon, 5 de outubro de 1918).

O ministro da Guerra do Brasil, o marechal Caetano de Faria (1855 – 1936) fez um elogio ao general Aché (A Noite, 26 de agosto de 1918, última coluna),

Incorporação de oficiais da Missão Aché a regimentos franceses e condecoração do general Aché com a medalha militar francesa (Correio da Manhã, 3 de setembro de 1918, primeira coluna; O Paiz, 3 de setembro, quarta coluna;  Jornal do Brasil, 5 de setembro de 1918, última coluna; e O Malho, 7 de setembro de 1918, última coluna).

Matéria sobre a participação do Brasil na guerra (O Paiz, 3 de setembro de 1918, última coluna).

Inserção na ata da Câmara de Deputados de uma nota de contentamento relativa à incorporação de oficiais da Missão Aché a regimentos franceses (Gazeta de Notícias, 5 de setembro de 1918, primeira coluna).

Falecimento de um membro da Missão Aché, o tenente Andrade Neves, vítima da gripe espanhola (Gazeta de Notícias, 11 de outubro de 1918, penúltima coluna,  A República, 21 de outubro de 1918, quarta coluna; e O Malho, 9 de novembro de 1918).

Em entrevista, o ministro da Guerra do Brasil, o marechal Caetano de Faria (1855 – 1936), mencionou as missões militares do Brasil na Europa (O Paiz, 11 de outubro de 1918, penúltima coluna).

Pronunciamento do deputado do Pará, Abel Chermont, na Câmara de Deputados, quando afirmou que oficiais brasileiros da Missão Aché estavam chefiando soldados e até mesmo oficias franceses (O Paiz, 13 de outubro de 1918, quarta coluna).

Participação da Missão Aché no front da guerra (A Noite, 15 de outubro de 1918, segunda coluna).

Entrevista com o general Aché (A Época, 30 de outubro de 1918).

Condecoração do 1º tenente José Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, integrante da Missão Aché (Gazeta de Notícias, 5 de novembro de 1918, quarta coluna e O Paiz, 13 de novembro de 1918, penúltima coluna).

Citação de dois oficiais da Missão Aché, dentre eles Castro Barcellos, na ordem do dia (Gazeta de Notícias, 25 de novembro de 1918, quarta coluna).

Volta do aviador brasileiro Bento Ribeiro do front da guerra. Ele revelou que os oficias brasileiros da Missão Aché gozam de muitas simpatias na França (Jornal do Commercio (AM), 20 de dezembro de 1918, sexta coluna).

O general Aché visitou o hospital brasileiro em Paris (O Paiz, 27 de dezembro de 1918, segunda coluna).

Condecoração pelo governo francês do coronel Leite de Castro , membro da Missão Aché (A Época, 5 de janeiro de 1919, sétima coluna).

Nomeação do 1º tenente Ildebrando Escobar como membro da Missão Aché (Gazeta de Notícias, 14 de fevereiro de 1919, terceira coluna).

Sobre a participação do tenente Onofre Moniz Gomes de Almeida, professor da Escola de Aperfeiçoamento do Exército, na Missão Aché (O Imparcial, 22 de fevereiro de 1919, primeira coluna).

O ministro da Fazenda, João Ribeiro de Oliveira Souza (1863 – 1933), confirmou a isenção da cobrança de impostos sobre os vencimento dos membros da missão militar na Europa sob o comando do general Aché (O Paiz, 5 e 6 de março de 1919, última coluna).

O capitão Regueira, ex-membro da Missão Aché, foi destacado para acompanhar a visita do general francês Maurice Gamelin (1872 – 1958) ao Brasil (A Razão, 27 de março de 1919, segunda coluna).

Volta de Castro Barcellos ao Brasil, a bordo do paquete Gelria, do Lloyd Royal Hollandez (Pequeno Jornal, 2 de abril de 1919, última coluna).

Notícia do nascimento de um filho do 1° tenente Ildebrando Escobar, membro da Missão Aché (O Paiz, 25 de abril de 1919, quinta coluna).

Sobre a autorização para a participação do major João Clomenes de Siqueira, da Missão Aché, no Congresso da Cruz Vermelha,em Berna, na Suíça (A Noite, 28 de abril de 1919, última coluna).

Polêmica em torno de uma suposta compra de material de artilharia francesa envolvendo membros da Missão Aché( A Noite, 5 de maio de 1919, quarta colunaA Época, 6 de maio de 1919, sexta colunaGazeta de Notícias, 6 de maio de 1919, terceira colunaCorreio da Manhã, 6 de maio de 1919, quarta colunaCorreio Paulistano, 6 de maio de 1919, quarta colunaA Época, 6 de maio de 1919, penúltima coluna; e Jornal do Commercio, 6 de maio de 1919, segunda coluna)

O presidente do Tiro da Imprensa, Miguel Calmon, estava na Missão Aché, assim como seu instrutor, o Segundo Tenente Ildefonso Escobar (O Imparcial, 13 de maio de 1919, última coluna).

Apresentação dos membros da Missão Aché ao novo ministro do Brasil junto ao governo da França (Jornal do Commercio, 11 de junho de 1919, quarta coluna).

O general Aché foi condecorado comendador da Legião de Honra da França (O Paiz, 15 de junho de 1919, penúltima coluna).

Artigo sobre a Missão Aché (Jornal do Commercio, 5 de julho de 1919, terceira coluna).

Sobre o raid entre Rio e Lisboa projetado pelo tenente Alziro Lima, que havia sido membro da Missão Aché (A República, 9 de julho de 1919, primeira coluna; A Noite, 8 de julho de 1919, última colunaA Razão, 9 de julho de 1919, segunda coluna).

Sobre a Missão Médica e a Missão Aché (Correio Paulistano, 7 de setembro de 1919, última coluna).

O general Aché comunicou ao ministro da Guerra do Brasil, Alfredo Pinto Vieira de Melo (1863 – 1923), que o governo francês havia autorizado o envio de uma missão militar para a instrução do Exército brasileiro sob a chefia do general Gamelin (A Época, 11 de setembro de 1919, penúltima coluna).

Sobre a comissão que substituiria a Missão Aché na Europa (Gazeta de Notícias, 3 de outubro de 1919, primeira coluna).

Sobre o fornecimento de material bélico do governo francês ao Exército brasileiro (A Época, 11 de outubro de 1919, quarta coluna).

“O general Gamelin conferencia, em Paris, com o general Napoleão Aché” (O Paiz, 8 de novembro de 1919).

Dissolução da Missão Aché (O Pharol, 23 de novembro de 1919, última coluna).

Regresso ao Brasil e ida para outros países dos oficiais da Missão Aché (A Noite, 19 de dezembro de 1919, primeira coluna; e A Razão, 19 de janeiro de 1920, terceira coluna).

 

**Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica

 

Fonte:

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

A prisão do fotógrafo e aviador britânico S.H. Holland (1883 – 1936) no Rio de Janeiro, em 1930

Até o momento, as informações sobre o fotógrafo e piloto britânico Sidney Henry Holland (1883 – 1936) são esparsas. Conforme anunciado, a Brasiliana Fotográfica, a partir de uma pesquisa realizada, principalmente, na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional, importante ferramente de difusão de conhecimento, conta um pouco da trajetória de Holland no período em que atuou no Brasil, entre 1928 e 1932. Pilotando seu avião, era constantemente visto nos céus do Rio de Janeiro fazendo propaganda de peças teatrais, de lojas, de filmes cinematográficos e de candidaturas políticas. Além disso, comercializava imagens aéreas que produzia de paisagens e de aspectos da cidade, principalmente, no formato de cartões-postais, e também lecionava aviação. Combateu como piloto na Primeira Guerra Mundial e esteve na Argentina antes de chegar ao Brasil, em 1928, como chefe da seção de aviação da Aircraft Operating Co, contratada para fazer o levantamento da planta cadastral do Rio de Janeiro. No período em que morou no Brasil, produziu fotos aéreas de ilhas, de diversos bairros cariocas, dentre eles Botafogo, Copacabana, Ipanema, Leblon, Leme, Urca. Também fotografou outras cidades como Petrópolis e Friburgo.

 

 

Acessando o link para as fotografias de autoria do fotógrafo britânico S.H. Holland disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

Em 1930, Holland tinha uma empresa de reclames comerciais no Edifício Portella, na rua Rio Branco, 111, sala 511, e tinha dois representantes comerciais, os irmãos James Cecil Cotton e Cecil Howard Cotton. Seu ateliê fotográfico ficava na rua Capitão Salomão, anexo à Empresa Brasileira de Aviação Limitada. A partir de uma denúncia de que S.H. Holland havia produzido fotografias de pontos estratégicos da cidade e por requisição dos ministros da Guerra e da Marinha, a 4ª Delegacia Auxiliar do Rio de Janeiro prendeu Holland e os Cotton em seu escritório. Foram apreendidos seus arquivos de escrituração e fotografias e, em seu ateliê na rua Capitão Salomão, 30, anexo à Empresa Brasileira de Aviação Limitada, de sua propriedade, foi apreendido cerca de 40 contos de material fotográfico. A prisão e as apreensões foram baseadas nas determinações do Decreto 16983, de 22 de julho de 1925, que proibia fotografar pontos estratégicos da cidade, fortalezas e quartéis. A ação integrava a forte ação de repressão que a polícia estava realizando contra a fotografia aérea. Além disso, o avião de Holland não estava registrado na Aeronáutica. Holland e seus funcionários foram soltos pouco depois (Diário Carioca, 20 de abril de 1930, primeira coluna; Correio da Manhã, 20 de abril de 1930, penúltima coluna; Diário da Noite, 22 de abril de 1930, quinta coluna; O Jornal, 22 de abril de 1930 e Jornal do Brasil, 23 de abril de 1930, quinta coluna).

 

Transcrição da declaração de S.H. Holland em matéria de capa de O Jornal, 26 de abril de 1930, onde identificado foi como antigo capitão-aviador do Exército Britânico:

 

‘_ Fui preso por quatro agentes de polícia às 14h e meia do sábado passado – disse-nos o aviador quando jogava uma partida de “golf” no Gávea Golf Club. Levado para a 4ª delegacia auxiliar, fui recolhido incomunicável ao xadrez, onde hora depois entretanto, foram também recolhidos os srs. Cotton, meus agentes comerciais. À meia-noite daquele dia, chamado à presença do dr. Pedro de Oliveira Sobrinho, 4º delegado auxiliar, fui cientificado das razões de nossas prisões. Disse-me o delegado que, por denúncia recebida, sabia que eu, possuindo dois aviões, empregava-os para obter fotografias dos pontos estratégicos e por consequência incorria em grande crime. A propósito dos aviões, provei-lhe que só possuía um da marca “De Havilland Moth”, guardado no hangar existente em Manguinhos, onde também está depositado um outro do mesmo tipo e que vendi logo depois de minha chegada ao Rio há um ano ao dr. Raphael d´Chysosthomo de Oliveira, conhecido usineiro de Campos. Com relação às fotografias, prosseguiu o capitão – afirmei que a denúncia também não era verdadeira. Sempre empreguei o meu avião com finalidades comerciais, não só para anúncios como também para fotografar aspectos da cidade. É certo que em um panorama parcial do Rio, aparece, a um canto, a Fortaleza de Santa Cruz, mas ainda tão ao longe e tão reduzida que não passa de mero acidente da paisagem, sem relevo de mínima importância.

AS APREENSÕES

_ E perguntamos, as apreensões que a polícia efetuou em sua residência e aqui no escritório?

_ Foram as de papéis que nos guia e do arquivo de “negativos” que tinha em parte aqui  e em parte no meu laboratório, à rua Capitão Salomão, nº 30, onde, aliás, resido. Foi por ele examinando-o rigorosamente que a polícia verificou não haver eu dado motivos para a denúncia recebida. O número de “negativos” que possuo é superior a três mil e disso tiro a renda de que vivo. As diligências da polícia, apreendendo esse arquivo e levando-o para a 4ª delegacia, dão-me um prejuízo superior a cinquenta contos devido às “chapas” inutilizadas e à paralisação dos meus trabalhos. Felizmente estou de novo em liberdade, após cinco dias e duas hors de prisão juntamente com os meus companheiros srs. Cotton e assim poderemos recomeçar os trabalhos’.

 

 

 

Em uma matéria publicada sobre sua morte, no Correio da Manhã, 16 de dezembro de 1936, foi mencionado que S.H. Holland havia deixado o Brasil logo depois da Revolução de 1932, na qual teria se envolvido. Teria também se envolvido na Revolução de 30. O piloto faleceu quando combatia na Guerra Civil Espanhola em um avião vermelho de bombardeio ao lado das tropas governamentais da Espanha. Na primeira patrulha contra os americanos, Holland foi abatido dentro das linhas do general Franco. Integrava a primeira esquadrilha yankee, formada por 4 aviadores norte-americanos e por diversos pilotos voluntários ingleses, cuja base ficava perto da cidade espanhola de Bilbao (O Jornal, 20 de dezembro de 1936, sexta coluna).

 

 

Breve cronologia do fotógrafo e aviador britânico S.H. Holland (1883 – 1936)

 

 

1883 – Em Petworth, na Inglaterra, em 17 de março de 1883, nascimento de Sydney Henry Holland, filho de Arthur Charles Holland (1850 – 1936) e Amy Louisa Katherine Stratton (1857 – 1936).

1914 – 1918 – Combateu como piloto na Primeira Guerra Mundial.

1920 - Na Argentina, Holland sofreu um desastre de avião e ficou gravemente ferido. Ele estava pilotando um avião Avro, pertencente ao Aeroclube de Buenos Aires. Estava com o presidente da entidade, Nicanor Posse, e com o instrutor Gregorio Sandoval (O Paiz, 15 de abril de 1920, na penúltima coluna).

Holland sofreu outro acidente de avião, também na Argentina, e fraturou a perna (O Paiz, 26 de maio de 1920, penúltima coluna).

1923 - Ficou em terceiro lugar na Copa Wilbur Wright organizada pelo Aeroclube Argentino, em 5 de agosto de 1923, no circuito San Isidor, San Fernando e el Palomar com a participação de quinze pilotos.

 

 

 

Também na Argentina, em 9 de dezembro, Holland ficou em 2º lugar na Copa 19 de Novembro, competição de regularidade conhecida como Carrera Aérea de la Plata. Vinte e quatro pilotos participaram da prova.

 

 

1928 – Chegada de S. H. Holland ao Rio de Janeiro vindo da Europa no paquete Arandora. Veio com os engenheiros contratados pela prefeitura do Rio de Janeiro para fazer o levantamento da planta cadastral da cidade. Holland era o chefe da seção de aviação da comissão e o chefe da delegação da Aircraft Operating era o coronel do corpo de engenharia do exército inglês, T.T. Behrens Foi noticiado que Holland já conhecia o Rio de Janeiro de passagem e que dessa vez teria que ficar na cidade por pelo menos 3 anos para concluir o trabalho para o qual havia sido contatado (A Noite, 21 de junho de 1928, segunda colunaO Paiz, 22 de junho de 1928, segunda coluna e Correio da Manhã, 22 de junho de 1928, sétima coluna).

Foi aprovado no exame para motorista (Correio da Manhã, 7 de julho de 1928, primeira coluna).

O ministro da Viação, Vítor Konder (1886 – 1941), autorizou a revalidação da carta de piloto de Holland (Correio Paulistano, 18 de julho de 1928, na sexta coluna).

1929 – Na Exposição Ferroviária, os pilotos Charles Astor e S.H. Holland fizeram uma exibição de acrobacia aérea (Jornal do Brasil, 17 de agosto de 1929, terceira coluna).

1930 – Foi noticiado que as famosas artistas Margarida Max (c. 1890 – c.1960), estrela do teatro de revista, e Josephine Baker (1906 – 1975) já haviam voado com o capitão Holland.

A partir de uma denúncia de que S.H. Holland havia produzido fotografias de pontos estratégicos da cidade e por requisição dos ministros da Guerra e da Marinha, a 4ª Delegacia Auxiliar do Rio de Janeiro o prendeu em seu escritório no Edifício Portella, na avenida Rio Branco, nº 111., onde localizava-se sua empresa de reclames aéreos. Seus representante comerciais James Cecil Cotton e Cecil Howard Cotton também foram presos. No escritório, foram apreendidos seus arquivos de escrituração e fotografias. Em seu ateliê na rua Capitão Salomão, 30, anexo à Empresa Brasileira de Aviação Limitada, foi apreendido cerca de 40 contas de material fotográfico. A prisão e as apreensões foram baseadas nas determinações do Decreto 16983, de 22 de julho de 1925, que proibia fotografar pontos estratégicos da cidade, fortalezas e quartéis. A ação integrava a forte ação de repressão que a polícia estava realizando contra a fotografia aérea. Além disso, o avião de Holland não estava registrado na Aeronáutica (Diário Carioca, 20 de abril de 1930, primeira coluna; Diário da Noite, 22 de abril de 1930, quinta coluna; O Jornal, 22 de abril de 1930). e Jornal do Brasil, 23 de abril de 1930, quinta coluna). Pouco depois, foi apreendido na Alfândega uma aeroplano procedente do exterior para Holland (Correio da Manhã, 24 de abril de 1930, última coluna). Holland foi solto e seus funcionários foram soltos em 24 de abril (Correio da Manhã, 25 de abril de 1930).

Publicação de uma fotografia aérea de Petrópolis, a linda cidade de verão, de autoria de Holland e produzida especialmente para a revista O Cruzeiro (O Cruzeiro, 26 de abril de 1930).

Publicação de fotografias aéreas produzidas por Holland de diversos bairros do Rio de Janeiro, dentre eles Leme, Copacabana, Ipanema e Leblon, todos dentro da zona da recém instalada estação de telefonia automática “7”, localizada na rua Visconde de Pirajá, 44, em Ipanema (Sino Azul, junho de 1930).

O capitão Holland envolveu-se na Revolução de 30.

1931 – Na Feira Internacional de Amostras, o paraquedista Genaro Maddalun pulou de paraquedas de um avião cedido por Holland (A Esquerda, 14 de agosto de 1931, segunda colunaDiário de Notícias, 14 de agosto de 1931, última coluna, e Jornal do Commercio, 23 de agosto de 1931, quarta coluna).

Na página central da edição de O Cruzeiro, de 10 de outubro de 1931, publicação de uma fotografia aérea do Cristo Redentor, pouco antes de sua inauguração oficial, em 12 de outubro, produzida por Holland especialmente para a revista.

1932-  Holland envolveu-se na Revolução de 1932 e pouco depois deixou o Brasil.

1936 – Holland faleceu, em dezembro, quando combatia na Guerra Civil Espanhola em um avião vermelho de bombardeio ao lado das tropas governamentais da Espanha. Na primeira patrulha contra os americanos, Holland foi abatido dentro das linhas do general Franco. Também morreram os dois outros tripulantes do avião: um russo que o pilotava e um observador espanhol. Com Holland foram encontradas duas cartas, um cheque de 15 libras e duas notas de 100 pesetas. Em uma das cartas, escrita na véspera de sua morte, o aviador comentou que pilotava um aparelho não muito bom, e reclamou da desorganização vermelha, do atraso de seu pagamento, que havia sido acertado com o embaixador da Espanha em Londres na ocasião de seu alistamento; e também da falta de aquecimento no campo de aviação em que servia. Os documentos do piloto foram remetidos para a sua esposa em Londres inclusive as promessas dos vermelhos espanhóis de pagar aos seus herdeiros a importância de 1.500 libras, no caso em que ele morresse. Holland integrava a primeira esquadrilha yankee, formada por 4 aviadores norte-americanos e por diversos pilotos voluntários ingleses, cuja base ficava perto da cidade espanhola de Bilbao (Correio da Manhã, 16 de dezembro de 1936, terceira coluna; e O Jornal, 20 de dezembro de 1936 )

‘O chefe de três ataques simultâneos estava no setor de Bondilla, noroeste de Madri. Mouros e recém chegados alemães atacaram com tanques e aviões. Os legalistas venceram após 5 horas, matando 200 e ferindo vários. Sydney Henry Holland, que recentemente havia ido para a Espanha com outros aviadores britânicos, foi morto no front Vittoria quando os rebeldes revidaram um ataque no aeródromo contra 11 máquinas legalistas. O avião de Holland, pilotado por um russo, com um observador espanhol, foi derrubado por rajadas de metralhadoras. Os ocupantes morreram queimados. O correspondente do Daily Mail de Salamanca revelou que os documentos encontrados com Holland mostravam que o governo o havia empregado em 27 de novembro de 1936 com um salário de 220 libras por mês, subsídios de 24 libras, passagem de primeira-classe, um prêmio de 300 libras por cada máquina rebelde abatida, compensação por incapacitação por ferimentos, e 1500 libras para seu parente mais próximo em caso de morte… (Trove Advocate, 18 de dezembro de 1936).

 

 

 

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Dicionário Cravo Albim

ERMAKOFF , George. Rio de Janeiro 1900 – 1930 – Uma crônica fotográfica. Rio de Janeiro: G. Ermakoff Casa Editorial, 2006.

Ernst Udet y sus aviones en Argentina

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

Site Air History

Site The Kings Candlesticks – families trees