Com registros dos fotógrafos Augusto Malta (1864 – 1957), Guilherme Santos (1871 – 1966) e Marc Ferrez (1843 – 1923), o Chafariz do Largo da Carioca é o tema do 21º artigo da Série O Rio de Janeiro desaparecido. Teve sua pedra fundamental lançada em 5 de fevereiro de 1832 e começou a funcionar em 7 abril de 1834 (Brasil, Ministério do Império, 1833 e 1834; Jornal do Commercio, 8 de abril de 1834, última coluna). Seu projeto é quase sempre atribuido exclusivamente ao arquiteto francês Grandjean de Montigny (1776 – 1850), membro da Missão Artística Francesa. Porém, segundo Brasil Gerson, o autor principal do projeto do chafariz teria sido o coronel e engenheiro lisboeta Joaquim Cândido Guilhobel (1787 – 1859), que havia sido aluno de Montigny no curso de Arquitetura da Academia Imperial de Belas Artes e que, em 1831, tornou-se professor de Desenho da Academia Militar (Império do Brasil: Diário Fluminense, 31 de maio de 1931, última coluna).
Tinha 35 bicas para o abastecimento de água da população, tanques para as lavadeiras e um bebedouro de animais. Foi demolido entre 1925 e 1926, na administração do prefeito Alaor Prata (1882 – 1964) (O Imparcial, 19 de agosto de 1925, terceira coluna).
Foi o terceiro chafariz do Largo da Carioca: o primeiro, com 12 bicas de bronze, foi inaugurado, em 1723, durante o governo de Aires de Saldanha e Albuquerque (1681 – 1756); e, o segundo, provisório e de madeira, com 40 bicas, em 1830 (Jornal do Commercio, 24 de maio de 1830, primeira coluna).
Sob a alegação de motivos de trânsito que determinariam a necessidade de alargamento do Largo da Carioca, foi realizada a demolição do Chafariz de Grandjean de Montigny, iniciada em 11 de setembro de 1925. Foi informado que o chafariz seria rearmado em um recanto da Quinta da Boa Vista de acordo com suas disposições antigas (O Imparcial, 12 de setembro de 1925, última coluna). A demolição começou sob a supervisão do engenheiro Ângelo Barata, da Prefeitura do Rio de Janeiro. Segundo artigo da advogada e jornalista feminista Orminda Ribeiro Bastos (1899 – 1971), publicado em O Paiz, de 28 de outubro de 1927, a demolição foi dirigida por Maria Esther Correia Ramalho, uma das primeiras engenheiras do Brasil, da turma de 1922 da Escola Politécnica da Universidade do Brasil.
Houve reações contrárias como a do escritor e crítico de arte e arquitetura, José Marianno Filho (1881 – 1946), na época presidente da Associação Nacional de Belas Artes; e dos escritores Coelho Netto (1864 – 1934) e Escragnolle Doria (1869 – 1948). A demolição chegou a ser suspensa devido a uma ação impetrada pelos padres do Convento de Santo Antônio (O Imparcial, 20 de agosto, 21 de agosto, 26 de setembro, 9 de outubro de 1925; 2 de abril de 1926; O Paiz, 25 de outubro de 1925, sexta coluna; Correio da Manhã, 15 de janeiro de 1926, quarta coluna; Revista da Semana, 26 de setembro de 1925; Universal, 26 de agosto de 1925).
“O passado é o pesadelo do presente. Os artistas de hoje temem-lhe o confronto”.
José Marianno Filho sobre a demolição do Chafariz do Largo da Carioca
Já o professor Raul Lessa de Saldanha da Gama (1882 – 1945), da Escola Nacional de Belas Artes, foi a favor da decisão do prefeito Alaor Prata (Gazeta de Notícias, 24 de novembro de 1925).
Segundo editorial de O Imparcial, a demolição do chafariz não melhorou o trânsito no local e deixou uma área sem calçamento, inútil e horrivelmente feia (O Imparcial, 2 de abril de 1926).
Sua demolição causou falta de água para os trabalhadores (O Imparcial, 6 de março de 1927).
Andrea C.T. Wanderley
Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica
Fontes:
Blog As Histórias dos Monumentos do Rio
Dunlop, Charles Julius. Rio Antigo. Rio de Janeiro: Editora Rio Antigo, 1963.
GERSON, Brasil. História das Ruas do Rio. Rio de Janeiro: Bem-Te-Vi, 2013.
Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional
ROSA, Francisco Ferreira da. Rio de Janeiro em 1922-1924. Rio de Janeiro: Typographia do Annuario do Brasil (Almanak Laemmert), 1924. 222 p. (Coleção Memória do Rio 3 – Reprodução).
Site Enciclopédia Itaú Cultural
Site Mulher 500 anos atrás dos panos
Links para os outros artigos da Série O Rio de Janeiro desaparecido
Série O Rio de Janeiro desaparecido I - Salas de cinema do Rio de Janeiro do início do século XX, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 26 de fevereiro de 2016.
Série O Rio de Janeiro desaparecido II – A Exposição Nacional de 1908 na Coleção Família Passos, de autoria de Carla Costa, historiadora do Museu da República, publicado na Brasiliana Fotográfica, em 5 de abril de 2018.
Série O Rio de Janeiro desaparecido V – O quiosque Chopp Berrante no Passeio Público, Ferrez, Malta e Charles Dunlop, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 20 de julho de 2018.
Série O Rio de Janeiro desaparecido VI – O primeiro Palácio da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de setembro de 2018.
Série O Rio de Janeiro desaparecido VII – O Morro de Santo Antônio na Casa de Oswaldo Cruz, de autoria de historiador Ricardo Augusto dos Santos da Casa de Oswaldo Cruz, publicado na Brasiliana Fotográfica em 5 de fevereiro de 2019.
Série O Rio de Janeiro desaparecido VIII – A demolição do Morro do Castelo, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 30 de abril de 2019.
Série O Rio de Janeiro desaparecido IX – Estrada de Ferro Central do Brasil: estação e trilhos, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de novembro de 2019.
Série O Rio de Janeiro desaparecido X – No Dia dos Namorados, um pouco da história do Pavilhão Mourisco em Botafogo, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de junho de 2020.
Série O Rio de Janeiro desaparecido XI – A Estrada de Ferro do Corcovado e o mirante Chapéu de Sol, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 22 de julho de 2021.
Série O Rio de Janeiro desaparecido XXIII e Avenidas e ruas do Brasil XVII - A Praia e a Rua do Russel, na Glória, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 15 de maio de 2023