Foto icônica do arquivo histórico da Fiocruz ilustrará exposição em Lyon, França

 

Foto icônica do arquivo histórico da Fiocruz ilustrará exposição em Lyon, França

Cristiane d’Avila e Ana Luce Girão*

 

No dia 12 de abril, o Museu das Confluências, em Lyon, França, abrirá a exposição Epidemias, cuidando dos vivos. Segundo o texto de abertura do evento, as epidemias são fenômenos biológicos e sociais derivados da inter-relação entre a saúde humana, animal e ambiental. Além de chamar a atenção para a convergência de fatores que podem ocasionar crises sanitárias complexas, a exposição destaca a relevância do passado como fonte de aprendizados para emergências futuras. Ao menos essa parece a mensagem dos curadores com a escolha da imagem que ilustrará o catálogo do evento: uma fotografia de Oswaldo Cruz (1872 – 1917), seu filho Bento Oswaldo Cruz (1895 – 1941) e o pesquisador Carlos Burle de Figueiredo (18? – 1960), em Manguinhos, no ano de 1910.

 

 

A exposição Epidemias, cuidando dos vivos, exibirá coleções de medicina, etnografia, espécimes de história natural e obras contemporâneas sobre as epidemias de peste bubônica, varíola, cólera, gripe de 1918 (gripe “espanhola”), aids e covid-19. O objetivo é percorrer a história da microbiologia para explicar como a humanidade tem enfrentado esses eventos ao longo do tempo. Nessa perspectiva, parece apropriado homenagear o microbiologista que enfrentou doenças cujos surtos ceifaram milhares de vidas, entre o final do século XIX e o início do século XX, no Brasil.

Desde muito jovem, o médico voltou sua carreira para a experimentação, sendo o laboratório seu lugar de pesquisa por excelência. Em sua tese de doutoramento em medicina no Rio de Janeiro, intitulada “A veiculação microbiana pelas águas”, Oswaldo Cruz mergulhou no universo dos micróbios para investigar a qualidade da água que abastecia a cidade.

Recém-formado, instalou um laboratório de análises clínicas em sua casa, no Jardim Botânico, então Freguesia da Gávea, zona sul do Rio. Nesse laboratório particular e no do médico e cientista Chapot Prévost (1864 – 1907), examinou amostras de doentes de cólera, durante o surto da doença no Vale do Paraíba, em 1894. Nesse mesmo período, a convite do médico Egydio Salles Guerra (1858 – 1945), chefe da Policlínica Geral do Rio de Janeiro, montou um laboratório de análises clínicas no Serviço de Moléstias Internas da Policlínica.

Pouco depois, Oswaldo foi a Paris se capacitar em microbiologia no Instituto Pasteur, onde teve o privilégio de estudar com Émile Roux (1853 – 1933), Elie Metchnikoff (1845 – 1916) e outros cientistas da primeira geração de pasteurianos. No Instituto de Toxicologia de Paris participou de experiências no campo da medicina legal, com Charles Vibert (1854 – 1918) e Jules Ogier (1853 – 1913), também cientistas de renome. A fim de ter uma especialidade clínica, buscou nova especialização em moléstias das vias urinárias com o prof. Félix Guyon (1831 – 1920). Para além da formação científica e clínica, encontrou tempo para aprender a fazer vidraria de laboratório em uma fábrica de vidros local, técnica que seria futuramente adotada no Instituto que levaria seu nome.

Em 1899, pouco tempo depois de seu retorno de Paris, Oswaldo Cruz foi para Santos, onde ocorria um surto de peste bubônica, já diagnosticado pelos médicos Adolpho Lutz (1855 – 1940) e Vital Brazil (1865 – 1950), do Instituto Bacteriológico de São Paulo. Para combater a doença era necessária uma grande quantidade de soro antipestoso. A criação do Instituto Soroterápico Federal, no qual Oswaldo Cruz assumiria inicialmente a direção técnica e posteriormente a direção geral, e do Instituto Butantan, em São Paulo, são uma consequência direta deste evento.

Situado no bairro de Manguinhos, então freguesia de Inhaúma, distante da malha urbana, mas acessível pela Estrada de Ferro Leopoldina e pelo porto de Inhaúma, o Instituto Soroterápico Federal foi instalado em uma antiga fazenda que pertencia à municipalidade do Rio de Janeiro. Ao assumir a direção geral, Oswaldo Cruz começa a implantar seu projeto de um centro de pesquisas, produção e ensino, aos moldes do Instituto Pasteur. Em 1908, o instituto recebe um novo estatuto e passa a se chamar Instituto Oswaldo Cruz (IOC), em homenagem ao seu diretor.

Em 1903, Oswaldo Cruz passa a acumular também a função de diretor da Diretoria Geral de Saúde Pública (DGSP), órgão responsável pelos serviços sanitários da Capital Federal e dos portos. Sua principal tarefa era implementar campanhas sanitárias para combater os surtos de febre amarela, varíola e peste bubônica. Em 1907, a cidade do Rio de Janeiro é declarada livre de febre amarela e os casos de peste bubônica estavam em franco declínio. O combate à varíola, feito através da vacina, não obteve o mesmo sucesso, e em 1908 a cidade seria atingida por um novo surto desta doença.

Em 1909, quando deixa a DGSP e passa a se dedicar exclusivamente ao IOC, as obras das novas instalações estavam a todo vapor. Do que hoje chamamos de Núcleo Arquitetônico Histórico de Manguinhos (NAHM), já estavam concluídos o Pavilhão da Peste e a Cavalariça, onde se produzia o soro antipestoso, e o Pombal, dedicado à criação de animais de laboratório e de pombos correio, que faziam a comunicação entre o IOC e a DGSP.

O Pavilhão Mourisco, cuja construção só se concluiria em 1918, já contava com dois andares finalizados. Nestes funcionavam vários laboratórios, dentre os quais o de Oswaldo Cruz, que, assim como os demais, apresentava “paredes lisas, sem ornamentação, revestidas com azulejos brancos e com cantos arredondados nas junções entre as paredes e o piso”, detalham os arquitetos Renato da Gama-Rosa Costa e Alexandre Jose de Souza Pessoas no livro Um lugar para a ciência: a formação do campus de Manguinhos (2003, p.59). Atualmente, esses espaços abrigam exposições e atividades culturais e de divulgação científica voltadas para o público que trabalha e visita o Pavilhão Mourisco.

 

 

 

* Cristiane  d’Avila é jornalista e Ana Luce Girão é historiadora do Departamento de Arquivo e Documentação da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz)

 

 

 

Referências:

COSTA, R. G. R., PESSOA, A. J. S. Um lugar para a ciência: a formação do campus de Manguinhos [online]. Coord. Benedito Tadeu de Oliveira. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2003, 264 p. Coleção História e saúde. ISBN: 978-65-5708-113-6. https://doi.org/10.7476/9786557081136.

CRUZ, Oswaldo Gonçalves. A vehiculação microbiana pelas águas. These apresentada à Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Typographia da Papelaria e Impressora (S.A), 1893.

GUERRA, Egydio Salles. Oswaldo Cruz. Rio de Janeiro, Vecchi, 1940.

Site: Biblioteca Virtual Oswaldo Cruz. Disponível em https://oswaldocruz.fiocruz.br/. Acesso em 19/03/2024.

Documento: Diário de laboratório de Oswaldo Cruz. Arquivo Pessoal Oswaldo Cruz. Acervo Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz.

 

Acesse aqui o artigo O cientista Oswaldo Cruz (1872 – 1917), prefeito de Petrópolis, escrito por Cristiane d’Avila e Ana Luce Girão em parceria com Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica. Foi publicado no portal em 28 de dezembro de 2017.

 

No último dia do verão, o céu e o sol do Rio de Janeiro por Guilherme Santos

A Brasiliana Fotográfica celebra o fim do verão, a estação do ano mais carioca, e o início do outono, destacando uma bela imagem do sol brilhando em um céu encoberto por nuvens, entre o Morro da Urca e o Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro. A estereoscopia foi produzida pelo fotógrafo amador Guilherme Santos (1871 – 1966),  em torno de 1915.

 

 

Guilherme Santos era um entusiasta da fotografia estereoscópica, tendo sido um dos pioneiros dessa técnica no Brasil, ao adquirir, em 1905, na França, o Verascope, um sistema de integração entre câmera e visor, que permitia ver imagens em 3D, produzidas a partir de duas fotos quase iguais, porém tiradas de ângulos um pouco diferentes. Eram impressas em uma placa de vidro e reproduziam a sensação de profundidade de maneira bem próxima da visão real. Antes dele, entre os anos de 1855 e 1862, o “Photographo da Casa Imperial”, Revert Henrique Klumb (1826 – c. 1886), favorito da imperatriz Teresa Christina e professor de fotografia da princesa Isabel, havia produzido vários registros utilizando a técnica da estereoscopia. A Casa Leuzinger também produziu fotografias estereoscópicas.

 

“Photographia Estereoscópica”

Por Guilherme A Santos

Photo Revista do Brasil, vol 1, maio de 1925, pg 14

“Confeccionar uma photographia é quasi sempre reconstruir uma recordação!

Nenhuma outra photographia trabalhada pelos processos conhecidos, pôde dar-nos tamanha satisfação, produzir-nos impressão tão viva  e tão nitida daquilo que quizermos recordar como a photographia estereoscopica! Seja o retracto de um ente querido, seja uma paysagem, ou ainda uma reunião de família, cujo objecto exprima um momento feliz da nossa existencia!

A sensação do relevo e da perspectiva que nos dá um positivo sobre vidro, copia de um cliche estereoscopico, introduzido no instrumento apropriado, é inegualavel! inconfundivel! incomparavel!

Ao olhar, apresentam-se as imagens das creaturas, da Natureza ou dos objectos, com a expressão a mais perfeita e verdadeira , mostrando-nos em destaque todos os planos que as objectivas colheram na extensão do angulo focal!

Como passa tempo, o que é possível de encontrar que seja mais agradável, mais divertido do que os positivos sobre vidro da photoestereoscopia!?

Reunidos em família e acompanhados de bons amigos sentados em redor de uma mesa, passa-se de mão em mão o apparelho estereoscópicos exibindo as differentes séries de positivos! Algumas, despertando recordações aos que, num afogar de saudades revêem os bons momentos que passaram, contemplando imagens de creaturas que talvez nunca mais encontrem no caminho da vida e que fizeram a delícia daqueles momentos, em uma estação de águas, em uma excursão, em cidades de verão, a bordo de um transatlântico, na convivência íntima de uma longa viagem, etc.

Outras séries apresentando o esplendor da Natureza em grandes quadros compostos com senso esthético, com observação artística que estasiam, que empolgam e que nunca cançaríamos de contemplar são photografias que provam como é impossível negar o extraordinário poder que tem a natureza, de impressionar e fazer vibrar a alma das creaturas com suas majestosas creações!

Nesse particular a nossa terra recebeu do CREADOR um dote precioso, o qual infelizmente em vez de ser transportado para as chapas da photographia por meio das objectivas dos differentes apparelhos, tem o homem esbanjado e destruido quasi inconscientemente sem considerar o grande mal que causa ao bem commum e sem reflectir no crime que pratica!

Disse PAULO MANTEGAZZA, capitulo IV no “O LIVRO DAS MELANCHOLIAS” de uma forma encantadora e com a alma amargurada: que se conhecesse DEUS, dir-khe-hia que na sua infinita misericordia, perdoasse todos os peccados dos homens e reservasse toda a sua ira, toda as suas vinganças, tododos seus raios, para o homem que destróe uma “FLORESTA”!!…

Faço minhas as palavras do primoroso escriptor, mas accrescento que o homem que dedicar-se á photographia, de preferenciaa estereoscopica, no contacto intimo e constante que ele tiver com a NATUREZA, quando a tiver estudado bem, irá lentamente habituando-se a apreciar devidamente a sua obra grandiosa, sentirá despertar em sua alma, sentimentos delicadosque até então desconhecia e difficilmente será capaz de derrubar uma arvore ou consentir que alguem o faça em sua presença!

A falta de amor e o abandono ás nossa bellezas naturaes é patente! Cito um exemplo mui recente:

Por uma destas lindas manhãs de ABRIL (era dia feriado) percorremos uma parte da estrada que liga o ALTO DA BOA VISTA ao SUMARÉ.

É uma das maravilhas da TIJUCA! A vegetação é abundante e variada e conta-se ás dezenas, arvores gigantescas cujas ramadas projectam sombras extensas sobre o caminho!

O sol imprimia uma luz de oiro sobre o verde esmeralda do arvoredo e fazia pensar que foi a NATUREZA quem inspirou os nossos antepassados sobre a escolha das cores para a nossa bandeira!

Caminhamos cerca de 6 kilometros ida e volta e gastamos cerca de 5 horas. Pois bem, nesse demorado percurso, cruzamos com 3 outros grupos de excursionistas, todos elles, compunham-se de estrangeiros!

Nem um brasileiro! nem um amador da photographia! Digo, encontramos um brasileiro, que empunhando uma vara que tinha um sacco de gaze preso a uma das extremidades, caçava as lindas borboletas azues de grandes azas que faziam o encanto daquellas paragens! aquelle rapaz de 20 annos presumives, de bella estaturaphysica, fazia-o como meio de vida! Contamos estendidas sobre um jornal, 20 daquellas borboletas, apanhadas em menos de uma hora! Pobrezinhas! a  NATUREZA limitou-lhes curtíssima existência, nem mesmo a essas deixam viver!

Creio ser o momento de ser transformada essa situação. A Photo-Revista vem preencher uma lacuna e acreditamos que uma campanha sustentada com perseverança por todos os seus collaboradores, daria bom resultado, no sentido de desenvolver o gosto dos brasileiros pela arte photographica: talvez conseguíssemos convence-los de trocar uma ou outra vez (às horas de ócio) os encantos do lar doméstico, pelos encantos naturaes, lembrando-lhes que em companhia de nossa família e em contacto com a floresta, também construímos lares provisorios sob a benção da mãe de tudo e de todos que é a NATUREZA!

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Dia do Bibliotecário

Com quatro imagens do acervo fotográfico da Fundação Biblioteca Nacional, uma das instituições fundadoras da Brasiliana Fotográfica, o portal celebra o Dia do Bibliotecário. Dois registros são do prédio na Rua do Passeio que sediou a Biblioteca Nacional, entre 1858 e 1910, e foram produzidos por um fotógrafo ainda não identificado e por Antonio Luiz Ferreira (18? – 19?). A foto de autoria de Ferreira faz parte do Album de vistas da Bibliotheca Nacional, de 1902.

 

 

As imagens do prédio atual da Biblioteca Nacional, na Avenida Rio Branco, foram produzidas por um fotógrafo ainda não identificado e por Marc Ferrez (1843 – 1923). A de autoria de Ferrez é uma estereografia colorida.

 

 

Acessando o link para as fotografias da Biblioteca Nacional selecionadas e disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá visualizar e magnificar as imagens.

 

Manuel Bastos Tigre e a origem do Dia do Bibliotecário

 

“Como bibliotecário, Bastos Tigre se preocupou não só em fomentar positivamente a profissão, como contribuiu intelectualmente para área com sua principal preocupação: a organização do conhecimento”.

Débora Melo in A importância do discurso da ética na biblioteconomia:

Bastos Tigre, um exemplo de ética profissional, 2012

 

Foi em homenagem à data de nascimento do bibliotecário, engenheiro, jornalista, poeta, publicitário e teatrólogo pernambucano Manuel Bastos Tigre (1882 – 1957), 12 de março, que foi instituído, pelo Decreto nº 84.631, de 9 de abril de 1980 com efeitos em todo o território nacional, o Dia do Bibliotecário. Bastos Tigre era filho do negociante Delfino Tigre (18? – 1932) e de Maria Leontina Bastos Tigre (18? – 1926); e irmão de Hermínia Bastos Tigre, que foi casada com o fotógrafo Louis Piereck (1880 – 1931).

 

“Bastos Tigre foi um espírito alegre, que soube representar a pleno a alma do brasileiro cosmopolita do seu tempo, introduzido que fora, bem moço ainda, no mais significativo da boemia do seu tempo (…) folião poeta (…) sempre jovial, o Bastos Tigre, poeta satírico, irrefreável”.

Otacílio Colares in Bastos Tigre: bibliotecário e poeta da Belle Époque, 1982

 

Boêmio e dono de um humor fino, Bastos Tigre veio para o Rio de Janeiro com cerca de 17 anos e tornou-se uma figura conhecida da Belle Époque carioca. Em 1915, passou em primeiro lugar no primeiro concurso público para o cargo de bibliotecário – do Museu Nacional -, apresentando a tese Sobre a aplicação do Sistema de Classificação Decimal, na organização lógica dos conhecimentos, em trabalhos de bibliografia e Biblioteconomia. Ele havia conhecido esta técnica a partir de um contato com o bibliotecário Melvim Dewey, criador do sistema, que conheceu quando esteve nos Estados Unidos, entre 1906 e 1909, estudando Engenharia, na Bliss School, em Washington. Sua tese foi um marco importante na biblioteconomia brasileira, tendo sido a primeira sobre o assunto elaborada no país.

Foi bibliotecário por 40 anos, tendo trabalhado no Museu Nacional, na Biblioteca Nacional, na Biblioteca da Associação Brasileira de Imprensa e na Biblioteca Central da Universidade do Brasil, aonde foi homenageado após sua morte com uma placa (Diário de Notícias, 12 de março de 1958, penúltima coluna).

 

“É o livro amigo mudo que, calado, nos diz tudo.”

 

  

“A leitura de um bom livro afasta o tédio e estimula o pensamento.” 

 

Bastos Tigre foi o responsável pelo slogan da Bayer que se tornou famoso em todo o mundo: “Se é Bayer é bom“. É também o autor da letra da música Chopp em Garrafa, com música de Ary Barroso (1903 – 1964), que foi interpretada por Orlando Silva (1915 – 1978). Foi inspirada no produto que a Brahma passou a engarrafar. Sucesso do carnaval de 1934, é considerado o primeiro jingle publicitário do Brasil. Foi também o autor do livro Meu Bebê: livro das mamães para anotações sobre o bebê desde seu nascimento. Escreveu 17 livros, o primeiro, Saguão da Posteridade, editado pela Tipografia Altina, em 1902; além de 12 peças de teatro – a primeira, a revista musical Maxixe, estreou em 30 de março de 1906, no Teatro Carlos Gomes (Gazeta de Notícias, 30 de março de 1906, última coluna). Em 1917, fundou a Sociedade Brasileira de Autores Teatrais, a SBAT.

Cronista e articulista, trabalhou em inúmeros jornais como Correio da Manhã, onde por anos assinou a seção humorística “Pingos & Respingos” com o pseudônimo Cyrano & Cia, onde com humor comentava a vida cotidiana carioca, alcançando grande popularidade. Colaborou também com A ÉpocaA Gazeta, A NotíciaGazeta de Notícias, Lanterna, O Filhote da Gazeta, O GloboO Jornal,  O Malho e Rua. Em 1917, fundou a revista humorística Dom Quixote. Ele usava o pseudônimo “D. Xicote”. A revista circulou até 1927.

Faleceu em agosto de 1957, em sua casa, à rua Senador Vergueiro, 192, apartamento 12.

 

 

O primeiro curso de Biblioteconomia da América Latina, na Biblioteca Nacional

 

 

Foi instituído, em 11 de julho de 1911, por iniciativa de seu então diretor, o pernambucano Manuel Cícero Peregrino da Silva (18 – 1956), nos moldes da École de Chartres, o primeiro curso de Biblioteconomia da América Latina e o terceiro no mundo – os dois primeiros foram os da Universidade de Göttingen, na Alemanha, criado em 1886; e o do Columbia College, nos Estados Unidos, criado por iniciativa do bibliotecário norte-americano Melvin Dewey  (1851 – 1931), em 1887 (Anais da Biblioteca Nacional, 1916). Já existia desde 1821, a École des Chartes, na França, criada com a missão de formar futuros curadores patrimoniais, especialmente para bibliotecas, sem, entretanto, se constituir em curso de Biblioteconomia (Origens do ensino de biblioteconomia no Brasil, 2021).

O objetivo de Peregrino da Silva foi dar uma formação ao quadro de funcionários da instituição, que dirigiu entre 1900 e 1924. As matérias do curso eram Bibliografia, que abrangia História do Livro, Administração de Bibliotecas e Catalogação; Iconografia e Numismática; e Paleografia e Diplomática. O ensino era teórico e prático e este último era realizado na própria Biblioteca Nacional, usando seus serviços, considerados padrão.

A primeira turma foi formada em 1915 e o curso regular começou em 12 de abril com 27 alunos, sendo 12 funcionários da casa. Dois dias antes, em 10 de abril foi proferida a aula inaugural com a conferência A função do bibliotecário, realizada por Constâncio Antonio Alves (Correio da Manhã, 10 de abril de 1915, segunda colunaAnais da Biblioteca Nacional, 1916). Ao longo dos anos, foram professores do curso Afrânio Coutinho (1911 – 2000), Cecília Meireles (1901 – 1964) e Sérgio Buarque de Hollanda (1902 – 1982), dentre vários outros. O curso, uma referência na formação em biblioteconomia, funcionou na Biblioteca Nacional até 1969, quando foi transferido para a Unirio.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

ANDRADE, Joaquim Marçal Ferreira de. Complemento indispensável…in Brasiliana Fotográfica, 29 de outubro de 2015.

BALABAN, Marcelo. Estilo Moderno: Humor, Literatura e Publicidade em Bastos Tigre. São Paulo : Editora da Unicamp, 2017.

BNDigital

FERNANDES, Daniel. BIBLIOTECONOMIA | MANUEL BASTOS TIGRE, UM BIBLIOTECÁRIO CHEIO DE HUMOR. BNDigital, 31 de março de 2022

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

Hubner, M. L. F., Silva, J. F. M., & Atti, A. (2021). Origens do ensino de biblioteconomia no Brasil. BIBLOS35(1). https://doi.org/10.14295/biblos.v35i1.12105

TIGRE, Sylvia Bastos (Org.). Bastos Tigre: notas biográficas. Brasília, 1982

Site Biblioo

WANDERLEY, Andrea C. T. O “artista fotógrafo”Louis Piereck (1880 – 1931) in Brasiliana Fotográfica, 15 de dezembro de 2020.

O Rio de Janeiro nos cartões-postais da Papelaria e Typographia Botelho

Em comemoração aos 459 anos do Rio de Janeiro, a Brasiliana Fotográfica destaca cinco cartões-postais editados pela Papelaria e Typographia Botelho. São registros coloridos da Avenida Rio Branco, do Palácio Monroe, do Passeio Público e do Theatro Municipal. Foram produzidos, em torno de 1912, e pertencem ao Instituto Moreira Salles, uma das instituições fundadoras do portal. Em seu livro Alhos e bugalhos: ensaios sobre temas contraditórios, de Joyce à cachaça; de José Lins do Rego ao cartão postal (1978), o sociólogo pernambucano Gilberto Freyre (1900 – 1987) escreveu que o cartão-postal “às vezes ilustrado a cores – brilhante de cores até – correspondeu a uma época de euforia e de extroversão na vida nacional”, o início do século XX. Populares desde fins do século XIX, eram usados tanto para o envio de correspondência como para viajar sem sair de casa. Apesar de seu formato pequeno, os cartões-postais acendem, iluminam, valorizam as imagens neles impressas. Bom passeio pelas imagens do Rio de Janeiro, aniversariante do dia!

 

 

 

Acessando o link para as fotografias da Papelaria e Typographia Botelho disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas. 

 

A invenção do cartão-postal relaciona-se com inovações em processos gráficos de reprodução de imagens ocasionadas pelo desenvolvimento da fotografia, descoberta anunciada em 7 de janeiro de 1839, na Academia de Ciências da França. Cerca de sete meses depois, em 19 de agosto, no Instituto da França, em Paris, o cientista François Arago (1786 -1853), secretário da Academia de Ciências, explicou o processo e comunicou que o governo francês havia adquirido o invento, colocando-o em domínio público. A notícia da invenção do daguerreótipo chegou ao Brasil muito rapidamente com a publicação de um artigo no “Jornal do Commercio”, de 1º de maio de 1839, sob o título “Miscellanea”. A invenção do daguerreótipo, desde sua descoberta, transformou de forma definitiva e radical a linguagem e a cultura visual.

 

 

 

Voltando aos cartões-postais. Com o fim do monopólio do Império, gráficas particulares passaram a produzir postais e foram elas que introduziram a impressão em uma das faces. Os cartões-postais tornaram-se objetos de colecionismo e a cartofilia incrementou os negócios de fotógrafos, de gráficas e de editores, como a Papelaria e Typographia Botelho, localizada na Rua do Ouvidor, 65, esquina com Rua do Carmo, que pertencia a Botelho & C.. Produziam cartões de visita, participações de casamento, convites, menus, álbuns e quadros com vistas do Rio de Janeiro; e cartões-postais (Gazeta de Notícias , 15 de maio de 1911, sexta colunaAlmanak Laemmert, 1915, primeira coluna).

 

 

Em 1913, a Papelaria e Typographia Botelho anunciava a chegada de uma grande e variada coleção de cartões-postais. Será que os publicados neste artigo estariam entre eles? (Jornal do Commercio Edição da Tarde, 16 de dezembro de 1913).

 

 

O último registro da Papelaria e Typographia Botelho no Almanak Laemmert é de 1935. Pertencia, então, a Heitor Coupé & C. e anunciava livros para escrituração e artigos para escritório (Almanak Laemmert, 1935,  segunda coluna).

 

 

Andrea C.T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

FREYRE, Gilberto. Informação, comunicação e cartão postal. In: Freyre, Gilberto. Alhos e bugalhos: ensaios sobre temas contraditórios, de Joyce à cachaça; de José Lins do Rego ao cartão postal. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 1978.

RAMOS, Clarice. Postais para ver: cartofilia no Brasil na primeira metade do século XX na coleção de Estella Bustamante. Dissertação de Mestrado – Instituto de História, Universidade Federal Fluminense, Niterói. 2018.

KOSSOY, Boris. Origens e expansão da fotografia no Brasil. Rio de Janeiro: Funarte. 1980.

NEGRO, Antonio Luigi. O cartão-postal no Brasil do início do século XX: suporte para o encontro entre imagem e ação. Hist. cienc. saúde-Manguinhos 27 (3). Jul-Sep 2020.

SCHAPOCHNIK, Nelson. Cartões-postais, álbuns de família e ícones de intimidade. História da vida privada no Brasil: República: da Belle Époque à Era do Rádio. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

VASQUEZ, Pedro Karp. Postais do Brasil (1893-1930). São Paulo: Metalivros, 2002.

 

Outros artigos publicados na Brasiliana Fotográfica em comemoração ao aniversário do Rio de Janeiro

A fundação do Rio de Janeiro, publicado em 1º de março de 2016, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Uma homenagem aos 452 anos do Rio de Janeiro: o Corcovado e o Pão de Açúcar, publicado em 1º de março de 2017, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

O Rio de Janeiro de Juan Gutierrez, publicado em 1º de março de 2019, de autoria de Maria Isabel Ribeiro Lenzi, Doutora em História pela UFF e historiadora do Arquivo Histórico do Museu Histórico Nacional ; e de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

A Praça Paris no aniversário do Rio de Janeiro, publicado em 1° de março de 2023, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica