No Dia da Amazônia, fotos da expedição de 1901 realizada pela Comissão de Limites entre o Brasil e a Bolívia

Hoje é comemorado o Dia da Amazônia em homenagem à criação da Província do Amazonas por dom Pedro II (1825 – 1891), em 5 de setembro de 1850. A Amazônia é um bioma que possui 4,196.943 milhões de km2 – a maior floresta tropical do planeta – e abrange nove países: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana Francesa, Paraguai, Peru, Suriname e Venezuela. Este ecossistema tem uma biodiversidade incomparável e influencia o equilíbrio ecológico global, o ciclo da água e o clima da Terra. Sua preservação é uma questão de urgência mundial.

Para lembrar o Dia da Amazônia, a Brasiliana Fotográfica destaca um grupo de 15 fotografias do acervo da Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha, uma das instituições parceiras do portal, sobre a expedição realizada, em 1901, à Amazônia com o objetivo de demarcar o limite entre Brasil e Bolívia. Foram realizadas três expedições e as comissões instituídas pelo governo brasileiro objetivavam traçar o limite na região amazônica e verificar a localização da principal nascente do rio Javari, cujo desconhecimento gerava controvérsias.

 

 

Acessando o link para as fotografias da Comissão de Limites entre o Brasil e a Bolívia disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá visualizar e magnificar as imagens.

 

 

A primeira e segunda expedições foram realizadas em 1895 e 1897 e foram chefiadas por Gregório Thaumaturgo de Azevedo (1853 – 1921) e Augusto Cunha Gomes (18? – ?), respectivamente. A terceira, assunto de nosso artigo, foi chefiada pelo astrônomo belga Luis Cruls (1848 – 1908), que havia sido fotografado por seu amigo Marc Ferrez (1843 – 1923), em torno de 1884. Cruls foi diretor do Observatório Astronômico do Rio de Janeiro entre 1891 e 1908. O retrato (abaixo) foi exposto, em 1884, na Notre Dame de Paris, e referido como um “trabalho artístico obtido pelo novo sistema de gelatino-bromureto, especialidade do sr. Marc Ferrez, clichê do sr. Insley Pacheco”(Jornal do Commercio, 4 de julho de 1884, na última coluna).

 

 

Voltando à expedição de 1901. O ministro das Relações Exteriores, Olyntho de Magalhães (1866 – 1948), deu a Cruls instruções para subir o rio Javari até as nascentes e determinar sua verdadeira posição geográfica.

 

 

Na época, Cruls já era um cientista renomado. Já havia sido membro da comissão da Carta Geral do Império, de 1875, na seção de geodésia, sua primeira atuação profissional no Brasil; e, em 1892, viajado e explorado o Planalto Central, trabalho pelo qual é atualmente mais conhecido. Era professor de Geodésia da Escola Militar.

Cruls e integrantes da comissão embarcaram no Alagoas, no Rio de Janeiro, rumo ao norte, em 4 de janeiro de 1901 (O Paiz, 4 de janeiro de 1901, segunda coluna). Desembarcaram em Belém, em 20 de janeiro. Os integrantes da comissão brasileira eram o capitão de fragata Carlos Accioli, o capitão do Estado-Maior Augusto Tasso Fragoso, o médico Leovigildo Honorário de Carvalho, o capitão farmacêutico Alfredo José Abrantes, o capitão honorário Eduardo Chartier, o secretário Ricardo Veríssimo Vieira, o encarregado do material Arthur Nogueira; e um contingente militar de 50 praças, comandados pelo alferes Arthur Cantalice. A comissão boliviana era chefiada por Adolpho Ballivian (Jornal do Commercio, 4 de março de 1901, sexta coluna).

Cruls montou o seu observatório no interior do Forte do Castelo.

 

 

 

 

 

A expedição de 1901 é referida na historiografia da ciência como sendo a que contribuiu para o Tratado de Petrópolis, firmado em 17 de novembro de 1903 em Petrópolis, que pôs fim à disputa territorial entre Brasil e Bolívia pelo território do Acre. Porém, de acordo com Moema de Rezende Vergara, a solução para o problema se deu puramente no plano político, sem levar em consideração os trabalhos técnicos então realizados, o que invalida a relação de causalidade entre a expedição chefiada por Cruls e o fim do litígio com a Bolívia…na Exposição de Motivos sobre o Tratado de 1903, é possível ver que o Barão de Rio Branco optou por uma condução política para a crise, fazendo tabula rasa das viagens de demarcação do período republicano. Os acontecimentos políticos, precipitando-se, haviam tornado sem efeito os esforços técnicos de localização precisa das nascentes do Javari. Cabe a ressalva de que, apesar dos trabalhos de Luiz Cruls não terem sido utilizados no Tratado de Petrópolis, isto não os invalida. As coordenadas que sua comissão determinou para as nascentes do rio Javari, consideradas a parte mais ocidental do Brasil, foram as mesmas utilizadas em importantes obras que tinham por objetivo apresentar a geografia do país, como o “Dicionário Histórico, Geográfico e Etnográfico do Brasil”, publicado para as comemorações do Centenário da Independência de 1922 (IHGB, 1922).

O Tratado de Petrópolis foi assinado pelo Barão do Rio Branco (1845 – 1912), ministro das Relações Exteriores, e pelo diplomata Joaquim Francisco Assis Brasil (1857 – 1938), do lado brasileiro; e pelos diplomatas Fernando Guachalla (1853 – 1908) e Claudio Pinilla (1859 – 1928), do lado boliviano.

 

Os signatários do Tratado de Petrópolis

 

 

 

 

 

No Tratado de Petrópolis foi estipulada a venda do território do Acre da Bolívia para o Brasil. Em compensação, o Brasil cedeu para a Bolívia territórios na Bacia do Rio Paraguai e o governo brasileiro se comprometeu a construir a Estrada de Ferro Madeira-Mamorée pagou à Bolívia a quantia de 2 milhões de libras esterlinas.

 

 

 

Andrea C.T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

El Aparapita, cargador de la memoria cultural de Bolivia, 7 de julho de 1922

G-1

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

Site CPDOC-FGV

VERGARA, Moema de Rezende. Ciência, fronteiras e nação: comissões brasileiras na demarcação dos limites territoriais entre Brasil e Bolívia, 1895-1901Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, agosto de 2010.

WANDERLEY, Andrea C.T. O Observatório Nacional pelas lentes de Marc Ferrez, amigo de vários cientistas in Brasiliana Fotográfica, 29 de maio de 2023.

 

Getúlio Vargas: da vida para a memória

Getúlio Vargas: da vida para a memória

 Maria de Fátima Morado*

 

 

Nos 70 anos da morte de Getúlio Vargas, o Arquivo Histórico e Institucional do Museu da República divulga as fotos de seu velório no Palácio do Catete, sede da Presidência da República naquele período, e de seu enterro em São Borja, no Rio Grande do Sul, sua cidade natal.

 

 

As fotos do velório de Getúlio Vargas pertencem à coleção Enê Garcez, militar que, em 1951, ocupou o cargo de Chefe de Pessoal da Presidência da República no segundo governo Vargas (1951-1954).

 

 

Por sua vez, as fotos do enterro fazem parte da coleção Getúlio Vargas, formada a partir da reunião de transferências de documentos do Museu Histórico Nacional para o Museu da República e de doações avulsas diversas. Há relatos de que, entre os documentos vindos do MHN, estariam itens doados diretamente por Getúlio àquela instituição, enquanto exercia a Presidência da República.

Acessando o link para as imagens de relativas a esse artigo, que pertencem ao acevo do Museu da República e estão disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

O suicídio de Getúlio Vargas, em 24 de agosto de 1954, foi o ápice de uma grave crise política que o país atravessava. Com um tiro no coração, Getúlio interrompeu o processo turbulento provocado pelos opositores que visavam à sua deposição.

O segundo governo Vargas foi alvo de constantes acusações de corrupção, levando Getúlio a declarar que estava em um “mar de lama”. Esse clima de instabilidade foi alimentado por políticos rivais, militares e imprensa até que o atentado da rua Tonelero, em 5 de agosto de 1954, desencadeou uma grande pressão para a renúncia de Getúlio. Nessa ação foram disparados tiros que mataram o major Rubens Florentino Vaz e que feriram Carlos Lacerda, principal opositor de Getúlio. Dois anos depois, o chefe da guarda pessoal do presidente Getúlio Vargas, Gregório Fortunato, foi condenado como mandante da tentativa de assassinato de Lacerda.

Na madrugada de 24 de agosto, Getúlio reuniu seu ministério que o aconselhou a se licenciar ou renunciar à presidência. Sem garantia de apoio para resistir, Getúlio cometeu seu último ato político, o suicídio, na manhã desse mesmo dia.

O quarto que ocupava no Palácio do Catete foi palco desse trágico evento, deixando de ser um espaço íntimo para se tornar o lugar de sua memória. Contudo, não só o quarto, mas o próprio Palácio do Catete, atual Museu da República, segue como um espaço marcado pela imagem de Getúlio, considerando que ali ele viveu grande parte de sua trajetória política, durante os 19 anos em que presidiu o país.

 

 

O corpo de Getúlio foi velado em outro ambiente do Palácio do Catete, o Salão Ministerial. Os registros desse momento demonstram a comoção da população diante do impacto de sua morte, com imagens de pessoas debruçadas sobre o caixão ou amparadas pelos guardas. Em São Borja, as fotografias expõem o cortejo fúnebre até o cemitério e em meio à multidão destaca-se a presença de João Goulart, herdeiro político de Vargas.

 

 

As intensas homenagens prestadas após sua morte, bem como os intensos protestos do povo revoltado com o desfecho de Getúlio demonstram que o líder controverso não poderia jamais ser esquecido.

 

*Maria de Fátima Morado é Historiadora do Arquivo Histórico e Institucional do Museu da República

O embaixador Oswaldo Aranha (1894-1960)

O embaixador Oswaldo Aranha (1894-1960) 

Pedro Quinteiro Uberti sob a supervisão de Adelina Novaes e Cruz* 

 

Gaúcho da fronteira, nascido em Alegrete, em 1894, Oswaldo Aranha teve ascendente trajetória na política local até se consolidar como uma das lideranças da Aliança Liberal e do movimento que levou Getulio Vargas ao Catete. Como ministro da Justiça e Assuntos Internos e ministro da Fazenda, contribuiu ativamente na reconfiguração institucional do Estado brasileiro, iniciada com o governo provisório de Vargas.

Notabilizou-se como personagem vinculado à condução da política externa brasileira. A historiografia destaca dois grandes momentos da vida política de Aranha, para além de seu envolvimento com a Revolução de 1930. O primeiro, entre 1938 e 1944, diz respeito ao período em que serviu como chanceler do Estado Novo, sendo apontado como um dos principais responsáveis pelo apoio prestado pelo Brasil ao esforço de guerra dos Aliados. O segundo, entre 1947 e 1948, marca o momento em que Aranha presidiu a Assembleia Geral das Nações Unidas, tendo seu nome vinculado à criação do Estado de Israel e à tradição, segundo a qual, o discurso brasileiro deve ser aquele que inaugura os encontros da Assembleia.

Antes disso, no entanto, Aranha já havia deixado sua marca na diplomacia brasileira. Entre 1934, quando se desvincula do Ministério da Fazenda, e 1937, quando é decretado o Estado Novo, o político gaúcho serviu como embaixador do Brasil nos Estados Unidos.

 

Acessando o link para as imagens de Oswaldo Cruz do acervo do FGV-CPDOC e disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Primeiras Impressões

 

A missão de Aranha começa a bordo do Augustus, navio que o levou a Gênova. A escala na Europa, antes de seguir viagem aos Estados Unidos, marcou a percepção de Aranha em relação ao futuro das relações internacionais. Em carta escrita a Getulio, em setembro de 1934, aborda criticamente o militarismo de governantes como Benito Mussolini, indicando a iminência de um novo conflito entre as potências europeias. Pondera que:

a Europa está, meu caro, em estado potencial de guerra. Os exércitos e as esquadras não se defrontam, mas ameaçam-se. […] Os instintos estão arrepiados, como o de feras ameaçadas ou agressivas. […] Ninguém sabe como e de onde virá. Mas creio, não há ninguém que não sinta a sua proximidade. […] A Europa está dominada por uma tropilha de grandes loucos que encerram em seus punhos a sorte do mundo” (GV c 1934.09.07).

 

 

É notável o contraste das perspectivas de Aranha em relação à Europa e aos Estados Unidos. Já em solo estadunidense, exulta o progresso material do país. Em outra carta a Vargas, de novembro de 1934, ameniza os efeitos da crise financeira de 1929, apontando que “este país tem mais riquezas do que todo o resto do mundo. O orçamento de uma cidade como Chicago é maior que o da Itália. O de Nova York várias vezes o nosso. O número de automóveis numa cidade média aqui é maior do que o de todo o Brasil!” (GV c 1934.11.02).

 

Primeiras Movimentações

 

As primeiras movimentações diplomáticas de Aranha demonstram a preocupação do novo embaixador em melhorar as relações entre Brasil e Estados Unidos. O pessimismo em relação à Europa e o fascínio em relação à economia estadunidense foram acompanhados por uma calorosa recepção nos círculos políticos de Washington. Aranha percebia uma boa vontade das autoridades de Washington em relação ao Brasil. “Só posso atribuir essa amabilidade ao desejo que notei no presidente Roosevelt, durante a conversa de alguns minutos que se seguiu à apresentação de credenciais, de estreitar sempre as íntimas relações com o Brasil”, relataria Aranha ao Itamaraty após a apresentação de suas credenciais como embaixador a Roosevelt, em outubro de 1934 (ARAÚJO, 1996, p. 113).

 

 

O andamento da missão seria, portanto, facilitada, na visão de Aranha, pela situação internacional. Com a Europa na iminência de um conflito e com o recrudescimento das disputas imperialistas entre as potências, incluindo a expansão japonesa no sudeste asiático e no Pacífico, os Estados Unidos, segundo Aranha, se voltariam cada vez mais para a América Latina, em especial para o Brasil. Deveria o governo Vargas, portanto, aproveitar essa oportunidade para atingir os objetivos da política externa brasileira.

Condição necessária ao estreitamento de relações entre os dois países era, no entanto, a restruturação da representação brasileira nos Estados Unidos. Isso significou o envolvimento de Aranha na instalação da embaixada em uma mansão comprada, em agosto de 1934, por Ciro Freitas-Valle, seu primo e diplomata, a mando do Itamaraty. Segundo o embaixador “encontramos, aqui, no país onde está metade do nosso comércio, todos os funcionários amontoados em três salinhas, sem mobiliário, sem nada. Vamos ficar, hoje, com uma instalação perfeita e capaz de atender às nossas fatais necessidades futuras” (GV c 1935.03.25).

 

 

 

Uma Atuação Multifacetada 

 

É possível encontrar no triênio em que Aranha serviu como embaixador, uma série de episódios que demonstra uma atuação diplomática multifacetada, conduzida por um diplomata muito bem conectado com diferentes setores da sociedade estadunidense. Logo nos primeiros meses de missão, Aranha conduziria em Washington as negociações em torno do tratado comercial que estava sendo costurado entre Brasil e Estados Unidos enquanto, constantemente, protestava a Vargas contra o estreitamento dos laços comerciais entre Brasil e Alemanha sob a modalidade que ficou conhecida como comércio compensado. Aranha acompanharia o ministro da Fazenda, Artur de Sousa Costa, na assinatura do tratado junto a Roosevelt, firmado em 2 de fevereiro de 1935.

 

 

 

 

 

Aranha ainda receberia outro ministro brasileiro em Washington. João Marques dos Reis, ministro da Viação e Obras Públicas havia sido designado por Getulio para participar da 3ª  Conferência Mundial de Energia, entre setembro e outubro de 1936. Segundo o embaixador, a visita do ministro seria facilitada pela boa vontade do governo estadunidense em procurar “favorecer negócios no Brasil” (GV c 1936.10.21).

 

 

O estabelecimento de boas relações com autoridades do governo estadunidense foi um dos maiores sucessos da missão de Aranha. Não à toa, durante o triênio em que serviu em Washington, Aranha foi o embaixador estrangeiro mais recebido por Roosevelt (OLIVEIRA, in LIMA; ALMEIDA; FARIAS, 2017, p. 103). Antes mesmo de Aranha embarcar para os Estados Unidos, Roosevelt já havia sido informado que Aranha era “o iniciador do atual movimento do Brasil de se afastar um pouco da Europa e se aliar com os Estados Unidos” (HILTON, 1994, p. 202). Destaca-se, ainda, a figura de Sumner Welles, referência no Departamento de Estado em assuntos relacionados à América Latina, com quem Aranha estabeleceu íntimas relações.

 

 

 

 

Para além dos círculos oficiais de poder, Aranha empreendeu esforços no sentido de fazer o Brasil ser ouvido por distintas camadas da sociedade estadunidense. Seja viajando pelo país, como na ocasião da Feira Mundial de Chicago, em outubro de 1935, seja em contato constante com jornalistas e empresários, Aranha defendia a ideia de que “devemos procurar ser conhecidos do povo para melhor contarmos com o governo dos Estados Unidos” (GV c 1937.09.09).

 

 

 

 

 

 

 

Essa aproximação, advogada por Aranha, não se restringia apenas ao âmbito bilateral. Logo no início da missão, alertou Vargas sobre a ascensão da Política da Boa Vizinhança. Segundo o embaixador, a busca dos Estados Unidos em melhorar suas relações com os demais países americanos poderia colocar em xeque o tratamento especial que era dispensado ao Brasil. Nesse sentido, as conferências e encontros multilaterais deveriam servir de palco para o Brasil reafirmar sua posição como parceiro estratégico dos Estados Unidos no continente.

Foi exatamente o que o embaixador buscou alcançar na Conferência Interamericana para a Manutenção da Paz, realizada em Buenos Aires, em 1936. Desde o momento em que Roosevelt veiculou a ideia da realização da Conferência, Aranha buscou costurar a posição entre Brasil e Estados Unidos a partir da coordenação de demandas entre a Casa Branca e o Catete, mesmo que isso significasse o desgaste na relação com Macedo Soares, seu superior na hierarquia institucional do Itamaraty. Sua atuação na Conferência lhe rendeu editoriais dos mais favoráveis na imprensa estadunidense, ao buscar o consenso entre as partes a despeito da oposição argentina aos termos do Projeto de Convenção Sobre Manutenção, Garantia e Restabelecimento da Paz.

 

 

 

 

 

 

Aranha buscava nutrir nos Estados Unidos a simpatia pelo Brasil, mas suas constantes súplicas não convenceram Getulio de visitar o país norte-americano. Conseguiu, entretanto, influenciar na visita de dois de seus filhos, Getulio e Alzira, e sua esposa, Darcy. Alzira permaneceu mais de um semestre com a família Aranha nos Estados Unidos, entre o final de 1935 e meados de 1936, período durante o qual realizou longas viagens na companhia de Luiza Zilda Aranha (Zazi) e Delminda Gudolle Aranha (Dedei) – filhas do embaixador – e Delminda Gudolle Aranha (Vindinha) – esposa do embaixador. Getulinho, como era chamado por Aranha, e Darcy encontraram Alzira e família Aranha em março de 1936. Após insistência de Aranha, Getulinho permaneceu nos Estados Unidos pelo resto do ano desenvolvendo seus estudos de inglês e química. O périplo da família Vargas nos Estados Unidos, na companhia de Aranha, serviu como ferramenta diplomática, na medida em que foram organizados encontros com empresários e jornalistas estadunidenses, além de uma conferência com Roosevelt e a primeira-dama, Eleanor.

 

 

 

 

 

 

O Fim da Missão

 

Decretado o Estado Novo em novembro de 1937, Oswaldo Aranha abdica do cargo de embaixador, alegando ter perdido sua credibilidade junto ao governo estadunidense por ter sido pego de surpresa pelo golpe. Permaneceria nos Estados Unidos até dezembro, num esforço de amenizar as críticas da imprensa sobre a ruptura institucional em curso no Brasil. Seus relatórios a Vargas demonstram como o governo estadunidense não alterou sua posição em relação à parceria que vinha sido construída entre os dois países. Em dezembro de 1937, o navio Western Prince atracaria em águas brasileiras trazendo o embaixador e sua família, pondo fim à experiência diplomática inaugural daquele que viria ser chanceler em um dos períodos mais conturbados da política externa brasileira.

 

 

 

*Pedro Quinteiro Uberti é aluno do Mestrado Acadêmico em História, Política e Bens Culturais FGV/CPDOC e Adelina Novaes e Cruz é Pesquisadora do FGV CPDOC.

 

FONTES:

Arquivo Pessoal de Alzira Vargas do Amaral Peixoto (FGV CPDOC). Disponível em: <https://www18.fgv.br/CPDOC/acervo/arquivo-pessoal?fun=AVAP&tud=AVI&tit=&ftit=2&de=1934&ate=1937&assun=&fassun=0&aut=&faut=0&ser=&loc=&tav=8+9+10&itens=30>.

Arquivo Pessoal de Getulio Vargas (FGV CPDOC). Disponível em: <https://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=CorrespGV2>.

Arquivo Pessoal de Oswaldo Aranha (FGV CPDOC). Disponível em: <https://www18.fgv.br/CPDOC/acervo/arquivo-pessoal?fun=OA&tud=AVI&tit=&ftit=2&de=1934&ate=1937&assun=&fassun=0&aut=&faut=0&ser=&loc=&tav=8+9+10&itens=30>.

CAMARGO, Aspásia; ARAÚJO, João Hermes Pereira de; SIMONSEN, Mário Henrique. Oswaldo Aranha: a estrela da revolução. São Paulo: Mandarim, 1996.

HILTON, Stanley. Oswaldo Aranha: uma biografia. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 1994.

LIMA, Sérgio Eduardo Moreira; ALMEIDA, Paulo Roberto de; FARIAS, Rogério de Souza (org.). Oswaldo Aranha: um estadista brasileiro. Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2017. 2 v. (Coleção Política Externa Brasileira).

 

O Túnel Velho por Gutierrez e Malta

Com duas imagens produzidas por Juan Gutierrez de Padilla (c. 1860 – 1897), na década de 1890, quando ainda estava em construção; e com outra de autoria de Augusto Malta (1864 – 1957), de 1927, a Brasiliana Fotográfica conta um pouco da história do Túnel Real Grandeza. Há ainda uma fotografia de autoria de Rodrigues & C°. Editores e Proprietários mostrando a abertura do Túnel do Leme, ou Túnel Novo.

O Túnel Real Grandeza foi rebatizado de Túnel Alaor Prata, em 1927, em homenagem a Alaor Prata Leme Soares (1882 – 1964), que foi prefeito do Rio de Janeiro entre 1922 e 1926. Foi inaugurado em 6 de julho de 1892 e ligou a Rua Real Grandeza, em Botafogo, à Rua do Matoso, atual Rua Siqueira Campos, em Copacabana. Sua construção foi realizada pelo engenheiro José de Cupertino Coelho Cintra (1843 – 1939), gerente da Companhia Ferro-Carril Jardim Botânico. Com essa ligação, o bairro de Copacabana começou a se integrar ao resto da cidade. Com a presença do presidente da República, marechal Floriano Peixoto (1839 – 1895), quando foi inaugurado, foi lavrada uma ata que marcou, oficialmente, o nascimento de Copacabana (O Paiz, 7 de julho de 1892, na sexta coluna). Antes disso, Copacabana não era um local de fácil acesso, viviam ali alguns pescadores, havia algumas chácaras e sítios, além da Igrejinha de Copacabana e do Forte Reduto do Leme.

 

 

 

 

 

Abaixo, uma imagem realizada por Gutierrez na década de 1890:  em primeiro plano, no centro, a estação de bondes instalada na Praça Malvino Reis (atual Serzedelo Corrêa). Essa estação foi colocada em uso no ano de 1893, quando os trilhos chegaram até o bairro, e depois de demolida, deu lugar ao Centro Comercial de Copacabana. No fundo, à direita, o Morro do Cantagalo; à esquerda, a ponta do Arpoador.

 

 

Da data de sua inauguração até 1901, quando foi entregue ao livre trânsito público, só podiam passar pelo Túnel Velho bondes da Companhia Jardim Botânico.

Ficou mais conhecido como Túnel Velho porque, em 4 de março de 1906, foi inaugurado pela companhia Jardim Botânico sua nova linha elétrica pelo Túnel do Leme, indo o ramal até o ponto terminal da praça do Vigia, onde foi construída a estação de bonds (O Paiz, 4 de março de 1906, quarta colunaA Notícia, 6 e 7 de março de 1906, quinta coluna). O Túnel do Leme, inaugurado com a denominação de Túnel Carioca, teve seu nome mudado para Túnel Coelho Cintra, em 1937. Mas ficou conhecido como Túnel Novo.

 

 

 

Brevíssimos perfis de Juan Gutierrez de Padilla (c. 1860 – 1897) e de Augusto Malta (1864 – 1957),

fotógrafos das imagens do Túnel Velho publicadas neste artigo

 

Juan Gutierrez de Padilla (c. 1860 – 1957)

 

 

Juan Gutierrez de Padilla foi um dos mais importantes fotógrafos paisagistas dos oitocentos, no Brasil. Foi, ao lado de Marc Ferrez (1843 – 1923) e George Leuzinger (1813 – 1892), ambos do século XIX, e de Augusto Malta (1864 – 1957), já no século XX, um dos maiores cronistas visuais do Rio de Janeiro. Foi um dos fotógrafos principais da transição da cidade imperial para a cidade republicana. Gutierrez registrou a Revolta da Armada ( 1893 – 1894), tornando-se um dos pioneiros da fotografia dos conflitos armados no Brasil. Em 1896, eclodiu o conflito de Canudos e foi por seu entusiamo republicano que, após a derrota da expedição comandada pelo coronel Moreira César (1850 – 1897), decidiu incorporar-se como ajudante de ordens do general João da Silva Barbosa. Foi ferido mortalmente, em 28 de junho de 1897. Sua trágica morte o tornou, talvez, o primeiro repórter fotográfico morto durante um trabalho de campo, no Brasil, apesar de, até hoje, não se conhecer nenhum registro fotográfico que ele tenha feito do conflito. Nasceu, provavelmente, nas Antilhas, na época, uma colônia espanhola. Porém, outras fontes afirmam que ele teria nascido em Cuba ou na África.

 

Augusto Malta (1864 – 1957)

 

Foto do Arquivo recortada

Anônimo. Augusto Malta. Rio de Janeiro. Acervo Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro.

 

O alagoano Augusto Malta foi o mais  importante cronista fotográfico do Rio de Janeiro das primeiras décadas do século XX. Em 1903, foi contratado pela Prefeitura do Rio de Janeiro como fotógrafo oficial, cargo criado para ele. Passou a documentar a radical mudança urbanística promovida pelo então prefeito da cidade, Francisco Pereira Passos (1836-1913), período que ficou conhecido como o “bota-abaixo”. Augusto Malta trabalhou na Prefeitura até 1936, quando se aposentou. Além de ter documentado as transformações urbanas e os grandes eventos da cidade como a Exposição Nacional de 1908, a construção do Teatro Municipal, em 1909; a Revolta da Chibata, em 1910; e a inauguração do Cristo Redentor, em 1931; fotografou personalidades políticas, intelectuais e artísticas; paisagens, monumentos, lojas, o casario decadente e as ressacas. Registrou também aspectos da vida carioca como, por exemplo, o carnaval de rua, o movimento dos quiosques, os eventos sociais, os moradores de cortiços, os vendedores ambulantes, as prostitutas, os marinheiros e cenas de praia. Faleceu em Em 30 de junho de 1957,  no Hospital da Ordem Terceira da Penitência, devido a uma insuficiência cardíaca. Foi sepultado no dia seguinte, no Cemitério do Caju (Correio da Manhã, 2 de julho de 1957, na seção “Prefeitura”).

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Biblioteca Nacional

DUNLOP, Charles. Rio Antigo, vol 1. Rio de Janeiro: Editora Rio Antigo Ltda, 1958.

GERSON, Brasil. História das Ruas do Rio. Rio de Janeiro: Bem-Te-Vi, 2013.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

Site Diário do Rio

Site Prefeitura do Rio de Janeiro

Site Trilhos do Rio

WANDERLEY, Andrea C. T. A fundação de Copacabana in Brasiliana Fotográfica, 6 de julho de 2016.

WANDERLEY, Andrea C. T. O alagoano Augusto Malta, fotógrafo oficial do Rio de Janeiro entre 1903 e 1936 in Brasiliana Fotográfica, 10 de julho de 2015.

WANDERLEY, Andrea C. T. O fotógrafo Juan Gutierrez de Padilla (c. 1860 – 28/6/1897) in Brasiliana Fotográfica, 28 de junho de 2016.

Youtube – Memória Carioca

 

 

Série “O Rio de Janeiro desaparecido” XXVIII – O Jardim Zoológico de Vila Isabel, o primeiro do Brasil, origem do Jogo do Bicho

Para contar a história do Jardim Zoológico de Vila Isabel, publicamos o 28º artigo da série O Rio de Janeiro desaparecido, destacando três imagens – uma estereoscopia realizada pelo fotógrafo amador Guilherme Santos (1871 – 1966), em maio de 1913; uma fotografia realizada por Augusto Malta (1864-1957), em torno de 1920; e um registro feito, por volta de 1915, por um fotógrafo ainda não identificado.

 

 

Vamos também contar um pouco da história de seu criador, o empresário e abolicionista mineiro João Batista Viana Drummond (1825 – 1897), primeiro e único Barão de Drummond, nascido em 1º de maio de 1825, em Itabira. Era primo do poeta Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1987), que escreveu uma crônica a seu respeito, publicada no Jornal do Brasil, de 1º de maio de 1975, transcrita ao final deste artigo.

 

 

O Barão de Drummond foi para o Rio de Janeiro com cerca de 20 anos e foi o administrador da Estrada de Ferro Dom Pedro II . Em 29 de julho de 1855, quando a princesa Isabel (1846 – 1921) completava 9 anos, foi realizada na quinta de dona Januária (1822 – 1901), irmã de dom Pedro II, a cerimônia de lançamento da pedra fundamental da Estrada de Ferro Pedro II com a presença do imperador (Diário do Rio de Janeiro, 30 de julho de 1855, primeira coluna). Foi a terceira ferrovia brasileira – as anteriores foram a Estrada de Ferro Mauá (1854) e a Estrada de Ferro do Recife ao Cabo (1858) – e sua construção está ligada às famílias Teixeira Leite e Ottoni, grandes produtoras de café da região de Vassouras, no estado do Rio. Foi da Estação da Estrada de Ferro Central do Brasil que saíram as três locomotivas que inauguraram a primeira sessão da Estrada de Ferro Pedro II, em 29 de março de 1858, pela manhã, quando a locomotiva Imperador levou dom Pedro II (1825 – 1891), sua corte e ministério até Pouso dos Queimados. As outras  chamavam-se Brazil e Imperatriz (Correio Mercantil, 24 de março de 1858, terceira colunaCorreio Mercantil, 30 de março de 1858, segunda coluna; e Diário do Rio de Janeiro, 30 de março de 1858, segunda coluna). Antes das partidas das locomotivas, houve as bênçãos do bispo, a saudação de Christiano Benedicto Ottoni (1811 – 1896), diretor da Companhia da Estrada de Ferro Dom Pedro II, e uma resposta do imperador (Diário do Rio de Janeiro, 30 de março de 1858).

Drummond tornou-se amigo de dom Pedro II (1825 – 1891)  e adquiriu, por 120 contos de réis, as terras da Imperial Quinta do Macaco, vale adjacente ao Morro dos Macacos, da Princesa Isabel. Em uma viagem a Paris, impressionou-se com a arquitetura da cidade e decidiu urbanizar a área, tendo inclusive aberto um boulevard. Fundou o bairro de Vila Isabel, em 3 de janeiro de 1872. Criou também o serviço de bonde que ligava a região de Vila Isabel à Praça da Constituição, atual Praça Tiradentes. Em 1874, foi presidente do Jockey Club.

 

 

Ele gostava muito de animais, tinha permissão para importá-los e decidiu criar um zoológico. Ao longo de 1887, foi noticiado o oferecimento de diversos animais para o futuro zoológico: um peixe elétrico do Pará; uma gralha, uma onça sussurana; capivaras, pacas, porquinhos da Índia, cachorros de mata virgem, uma tartaruga, corvos , macaco, cágados da Amazônia, e vários outros bichos (Jornal do Commercio, 25 de janeiro de 1887, penúltima coluna13 de fevereiro de 1887, quinta coluna17 de fevereiro de 1887, quinta coluna; 1º de março de 1887, sétima coluna20 de março de 1887, primeira coluna; 7 de abril, sexta coluna; 17 de abril, segunda coluna; 31 de maio de 1887, quinta coluna).

Foi organizada uma sociedade anônima para criar e manter o jardim zoológico semelhante aos que possuem todas as grandes capitais que solicitou ao governo ajuda no sentido de que os delegados nas províncias enviassem exemplares de nossa fauna, uma das mais ricas do mundo (Jornal do Commercio, 17 de setembro de 1887, terceira coluna; Cidade do Rio, 18 de novembro de 1887).

 

 

O Jardim Zoológico de Vila Isabel foi aberto em 6 de janeiro de 1888, mas sua inauguração oficial ocorreu em julho do mesmo ano.

 

 

 

 

No dia de sua abertura, o zoológico recebeu a visita de “809 pessoas a pé e 15 a cavalo”, um sucesso, tanto que a Companhia Ferro Carril Vila Isabel em vista da grande concurrência para o jardim passou a ter carros extraordinários todos os domingos (Gazeta de Notícias, 7 de janeiro de 1888, segunda coluna; 14 de janeiro de 1888, última coluna). Em 29 de janeiro, foi anunciado que estaria aberto todos os dias das 6 horas da manhã às 7 da tarde (Gazeta de Notícias, 29 de janeiro de 1888, quinta coluna). Dentre as atrações apresentadas, estavam duas seriemas doadas por Rui Barbosa (1849 – 1923) e uma lhama doada pela  princesa Isabel (1846 – 1921), além de elefantes, girafas, tigres e outros animais. Havia também, no zoológico, muitas apresentações de bandas de música. Os filhos da princesa Isabel fizeram uma visita ao zoológico acompanhados de seu preceptor, Ramiz Galvão (1846 – 1938), em 8 de julho de 1888 (Gazeta de Notícias, 9 de julho de 1888, quarta coluna).

 

 

No dia 1° de julho de 1888, foi inaugurado o restaurante do Zoológico.

 

 

Neste mesmo ano, 1888, em 19 de agosto, Drummond recebeu o título de Barão.

O barão criou e inaugurou, em 3 de julho de 1892, um jogo para financiar suas atividades: o Jogo do Bicho (Jornal do Brasil, 4 de julho de 1892).

 

 

“Ao comprar o ingresso de entrada para o Jardim Zoológico, o visitante passaria a receber um ticket. No bilhete estaria impressa a figura de um animal. Pendurada num poste a cerca de três metros de altura, próxima ao portão de entrada do parque, havia uma caixa de madeira. Dentro desta ficava escondida a gravura de um animal, escolhida pelo barão em uma lista de 25 bichos que ia de avestruz a vaca, passando por borboleta e jacaré. Nesse domingo, às cinco horas da tarde, a caixa seria aberta pela primeira vez, e o público presente poderia, afinal, descobrir o animal encaixotado e saber se teria direito ao prometido prêmio de 20$000, 20 vezes o valor gasto com a entrada para o zoo. Na hora marcada, o barão dirigiu-se até o poste, revelou a avestruz e fez a alegria de 23 sortudos visitantes”.

Felipe Magalhães,

 

 

A maior parte das versões sobre a motivação do Barão de Drummond para criar o jogo do bicho se refere ao corte da subvenção anual de dez contos de réis que o Governo Imperial fazia ao Jardim Zoológico. A República havia sido proclamada em 1889. Segundo Felipe Magalhães, a partir de uma pesquisa em documentos do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro:

“Numa petição enviada à Intendência Municipal da Capital Federal em 18 de setembro de 1890, o Barão de Drummond tinha a pretensão de transformar o Jardim zoológico em “Jardim de Aclimação não só de animais como de plantas exóticas e indígenas”… o Barão, argumentava que:

“Esta empresa (…) tem sido julgada por homens do país, eminentes na ciência como necessidade agradável e útil à Capital Federal, já pela concorrência à distração dos seus habitantes, como fonte indispensável de estudos para a mocidade; e que em outros países é largamente subvencionada pelos respectivos governos ou por eles criada e mantida, é apenas entre nós auxiliada com a diminuta soma de dez contos de réis anual.26 Apelando para o espírito público da Intendência Municipal, Drummond afirmava que o valor da subvenção anual não era suficiente para fazer face às despesas do zoológico. Afirmava ainda a incapacidade dos acionistas do empreendimento em reaver seus investimentos, pois o dinheiro percebido com as entradas somado aos dez contos de réis, não seria suficiente para sustentar os animais. Deste modo se dirigia mais uma vez aos representantes do povo no sentido de pedir um auxílio, não em forma de mais dinheiro público, mas na forma da exploração de jogos lícitos dentro do Jardim. Na parte final da petição, tem-se que: para consecução de tamanhos benefícios públicos a diretoria [do Jardim zoológico] recorre à ilustre Intendência Municipal da capital federal e pede:

I – Direito de estabelecer, pelo prazo de seu privilégio, jogos públicos, mediante módica contribuição, a fim de poder manter-se a empresa e grandemente desenvolver o estabelecimento Jardim Zoológico tornando-o um dos melhores do mundo.

II – Estes divertimentos, como existem em outros países, sob a imediata fiscalização da polícia, tornar-se-ão atrativos para o público.

III – Auxiliará o público o desenvolvimento de tão útil instituição, tendo como recreio jogos que, bem fiscalizados e moralizados resultaram em proveito da comunidade sem os incovenientes tão nefastos que acarretam, por exemplo, as loterias, os jogos de corridas, onde ele é tão defraudado, e a multiplicidade de casas de tavolagem que empestam esta cidade. […] Em um país novo como o nosso faz-se preciso que empresas como esta encontrem na pública administração a coragem para que possam vingar. Nestes termos a peticionária pede benévolo deferimento.

Rio, 18 de setembro de 1890 Barão de Drummond Diretor do Jardim”

O Jogo do Bicho fez muito sucesso, os bilhetes começaram a ser comercializados fora do zoológico e pessoas de todas as classes sociais participavam da disputa, cujo resultado passou a ser divulgado pelos jornais. O Jogo do  Bicho é uma contravenção no Brasil (Decreto-lei 3.688, de 3 de outubro de 1941, artigo  58 da Lei de Contravenções Penais)

 

 

 

 

Ainda na década de 1890, o empreendimento enfrentou uma nova crise e o Barão de Drummond decidiu passar o negócio adiante. Após sua morte, em 7 de agosto de 1897 (Jornal do Commercio, 9 de agosto de 1897, sétima coluna), o zoológico foi assumido por seu sobrinho, Carlos Drummond Franklin, que investiu em infraestrutura para a realização de torneios atléticos. Em dezembro de 1939, após inúmeras crises, o Zoológico de Vila Isabel foi fechado (A Noite, 20 de dezembro de 1939; 23 de dezembro de 1939Correio da Manhã, 23 de dezembro de 1939, primeira colunaDiário de Notícias, 22 de março de 1940, terceira coluna).

 

Aniversário do Barão

Carlos Drummond de Andrade

“Na íngreme Rua de Santana, de Itabira, onde nasceu em primeiro de maio de 1825, o garoto João Batista, filho. De João Batista e de Maria do Carmo, ficou sendo, para toda gente, o Batistinha. Mas o diminutivo não lhe conviria no decorrer do tempo, e ao morrer no Rio de Janeiro em sete de Agosto de 1897, era Barão.

Entre uma data ou outra, João Batista fez coisas, muitas e determinadas de outras coisas, que influíram na vida de uma cidade, do Rio, e até no país. Não foi à toa que se ligou ao Mauá, em empreendimento como a estrada de ferro hoje chamada Central do Brasil. Seu espírito ávido de criação afastou-o cedo da Rua Santana e do pequeno meio paroquial, levando-o a Capital do Império. Na Corte, João Batista sentiu-se a vontade para planejar, fazer e acontecer.

Fez um bairro inteiro, onde havia o matagal da Fazenda do Macaco e onde hoje se refugiam os últimos traços do espírito genuinamente carioca: Vila Isabel. Abriu nele uma larga avenida, antecipadora das modernas vias de circulação urbana. E para que a vida nesse bairro não fosse uma sucessão escura de bocejos, presenteou-o com um parque de 300 mil metros quadrados, onde plantas e animais nativos e exóticos poderiam ser apreciados e se fariam estudos práticos de zoologia e zootécnica.

A certa altura, o jardim zoológico dava prejuízo. Teve que requer a ilustríssima Câmara Municipal (por que não são mais ilustríssimas é uma pena?) licença para estabelecer lá dentro jogos públicos sob fiscalização policial, a fim de honrar as despesas com a manutenção e desenvolvimento da iniciativa, nasceu ai o jogo do bicho, instituição nacional, trazida por um mexicano um tal Zevada, a principio mero atrativo para a freqüência do Zôo. Mas a coisa era tão bem bolada que acabou se espalhando fora dos portões do estabelecimento, e hoje cobre o país inteiro. João Batista não tem culpa nisso. Talvez seja mais correto dizer: Não tem glória nisso. Pois enfim, o jogo do bicho, rotulado de contravenção penal, é tão querido do povo e tão radicado como habito brasileiro, que o Governo se apresenta para oficializá-lo, sob o título de Zooteca. (Tirando-lhe possivelmente o encanto do jogo espontâneo, livre, baseado na confiança que inspirem banqueiros e bicheiros).

Todos os biógrafos de João Batista fazem questão de lembrar que ele não foi banqueiro de bicho nem inventor desse jogo imaginoso. Certíssimo. Mas se fosse o inventor, que mal haveria nisso? A inteligência criadora não precisa arrepender-se de uma concepção que dá alegria, dinheiro, e esperança a muita gente, e que não é responsável pelos crimes derivados pela sua prática. Vamos amaldiçoar o vinho, vamos proibir a uva porque muitos bêbados se arruinaram e às suas famílias? Crimes e erros cometem-se à margem de qualquer instituição, respeitáveis ou anódinas, e não bastam para condená-las; elas devem ser julgadas em si. O jogo inocente, que conquistou a simpatia de toda população, merece pelo menos indulgência, em vez de ser julgado por um moralismo hipócrita, cuja defesa se associam veladamente à sua exploração.

Mas deixamos de lado os bichos do Barão, hoje espalhados sobre o território pátrio. João foi também partidário da Abolição, e deu exemplo em casa, alforriando os seus escravos.

Desculpem-me a modéstia de lembrar que hoje o meu ilustre primo-longe João Batista Viana Drummond, fundador da Vila Isabel de Noel Rosa e Marque Rabelo, está completando, lá no sem fim, 150 anos de nascimento. Ter um primo Barão cutuca a vaidade do clã. Os velhinhos da Rua de Santana se fossem eternos, esta hora estariam exclamando, embevecidos:

-Sim Senhor Batistinha, hein? Como subiu!”

Jornal do Brasil, 1º de maio de 1975

 

Andrea C. T. Wanderley

Pesquisadora e editora da Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

MAGALHÃES, Felipe. E O RIO NÃO CIVILIZA-SE… O JARDIM ZOOLÓGICO E O JOGO DO BICHO NO RIO DE JANEIRO, 2009.

MAGALHÃES, Felipe. Ganhou, leva, o Jogo do Bicho no Rio de Janeiro (1890 – 1960), 2011. Rio de Janeiro : Editora FGV

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

Site Diário do Rio

Site Rio Memórias

WANDERLEY, Andrea C. T. Série “O Rio de Janeiro desaparecido” IX – Estrada de Ferro Central do Brasil: estação e trilhos in Brasiliana Fotográfica, 12 de novembro de 2019.

 

Links para os outros artigos da Série O Rio de Janeiro desaparecido

 

Série O Rio de Janeiro desaparecido I Salas de cinema do Rio de Janeiro do início do século XXde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 26 de fevereiro de 2016.

Série O Rio de Janeiro desaparecido II – A Exposição Nacional de 1908 na Coleção Família Passos, de autoria de Carla Costa, historiadora do Museu da República, publicado na Brasiliana Fotográfica, em 5 de abril de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido III – O Palácio Monroe, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica, em 9 de novembro de 2016.

Série O Rio de Janeiro desaparecido IV - A via elevada da Perimetral, de autoria da historiadora Beatriz Kushnir, publicado na Brasiliana Fotográfica em 23 de junho de 2017.

Série O Rio de Janeiro desaparecido V – O quiosque Chopp Berrante no Passeio Público, Ferrez, Malta e Charles Dunlopde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portalpublicado na Brasiliana Fotográfica em 20 de julho de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VI – O primeiro Palácio da Prefeitura Municipal do Rio de Janeirode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de setembro de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VII – O Morro de Santo Antônio na Casa de Oswaldo Cruzde autoria de historiador Ricardo Augusto dos Santos da Casa de Oswaldo Cruzpublicado na Brasiliana Fotográfica em 5 de fevereiro de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VIII – A demolição do Morro do Castelode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portalpublicado na Brasiliana Fotográfica em 30 de abril de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido IX – Estrada de Ferro Central do Brasil: estação e trilhosde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de novembro de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido X – No Dia dos Namorados, um pouco da história do Pavilhão Mourisco em Botafogode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de junho de 2020.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XI – A Estrada de Ferro do Corcovado e o mirante Chapéu de Sol, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 22 de julho de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XII – o Teatro Lírico (Theatro Lyrico), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 15 de setembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIII – O Convento da Ajuda, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de outubro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIV – O Conselho Municipal, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 19 de novembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XV – A Praia de Santa Luzia no primeiro dia do verão, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 21 de dezembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVI – O prédio da Academia Imperial de Belas Artes, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, publicado na Brasiliana Fotográfica em 13 de janeiro de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVII – Igreja São Pedro dos Clérigos, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 18 de março de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVIII – A Praça Onze, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 20 de abril de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIX – A Igrejinha de Copacabana, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 23 de junho de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XX – O Pavilhão dos Estados, futuro prédio do Ministério da Agricultura, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 26 de julho de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXI – O Chafariz do Largo da Carioca, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 19 de setembro de 2022. 

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXII – A Cadeia Velha que deu lugar ao Palácio Tiradentes, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 11 de abril de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXIII e Avenidas e ruas do Brasil XVII A Praia e a Rua do Russel, na Glória, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 15 de maio de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXIV – O luxuoso Palace Hotel, na Avenida Rio Branco, uma referência da vanguarda artística no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 4 de julho de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXV – O Theatro Phenix, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 5 de setembro de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXVI – Conclusão do arrasamento do Morro do Castelo por Augusto Malta, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 14 de dezembro de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXVII e Série Os arquitetos do Rio de Janeiro V – O Jockey Club e o Derby Club, na Avenida Rio Branco e o arquiteto Heitor de Mello (1875 – 1920), de autoria de Andrea c. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, em 15 de janeiro de 2024

Fotografia e medicina na Bahia dos anos 1900

Fotografia e medicina na Bahia dos anos 1900

 Claudia Beatriz Heynemann e Maria Elizabeth Brêa Monteiro*

 

 

Da Escola de Cirurgia à Escola Tropicalista

Com a vinda da corte portuguesa para o Brasil, em 1808, algumas restrições impostas à colônia foram sustadas, a exemplo da proibição de cursos superiores para a formação de profissionais liberais. A carta régia de 18 de fevereiro de 1808 facultou a criação da Escola de Cirurgia da Bahia, por orientação do médico pernambucano José Corrêa Picanço. A escola foi instalada nas dependências do antigo Colégio dos Jesuítas, localizado no Terreiro de Jesus, em Salvador, onde, à época, funcionava o Hospital Real Militar da Bahia.

A princípio, a escola oferecia duas cadeiras básicas: cirurgia especulativa e prática, a cargo do cirurgião Manuel José Estrela, e anatomia e operações cirúrgicas, pelo cirurgião José Soares de Castro. O ensino dessas disciplinas, que seguia orientação francesa do compêndio de M. de la Fay, obrigando o conhecimento de francês pelos alunos inscritos, limitava-se a lições teóricas de anatomia humana e a elementos de fisiologia, patologia e clínica para a cadeira de cirurgia, refletindo a escassez de laboratórios e a falta de recursos para pesquisa e experimentação. 

O aluno aprovado estava apto a “sangrar, sarjar, aplicar bichas e ventosas, curar feridas, tratar de luxações, fraturas e contusões”, mas não podia administrar medicamentos nem tratar moléstias internas, funções exclusivas dos médicos. Para sanar as deficiências do curso de medicina, parte dos alunos egressos da Escola de Cirurgia da Bahia fazia formação complementar em Portugal e na França.(1)

Reformas de ensino foram empreendidas aumentando a duração do curso, que, inicialmente, era de quatro anos, e ampliando o número de cadeiras oferecidas. Segundo o médico infectologista Rodolfo Teixeira, a Academia Médico-Cirúrgica, criada pela carta régia de dezembro de 1815, que sucedeu a Escola de Cirurgia da Bahia, teve suas atividades transferidas para o Hospital da Santa Casa, na rua da Misericórdia (2). O retorno ao Terreiro de Jesus só se deu em decorrência da lei de 3 de outubro de 1832, que oferecia nova organização às academias médico-cirúrgicas do Rio de Janeiro e da Bahia e nova denominação. A Faculdade de Medicina da Bahia voltava para o prédio do antigo Colégio dos Jesuítas, ocupando também o espaço de 12 casas que formavam o lado esquerdo da rua das Portas do Carmo, onde eram ministrados os cursos de Medicina, Farmácia e Obstetrícia, concedendo aos candidatos os títulos de grão-doutor, farmacêutico e obstetra. O curso médico passou a ser ministrado em seis anos, com 16 cadeiras; o farmacêutico em três anos e, o de parteiro, em dois. Ao longo da segunda metade do século XIX, foram instaladas a biblioteca, a botica, os laboratórios de física e química, e os gabinetes, a enfermaria e a sala de operação, ou seja, a infraestrutura para ampliação e melhoria das instalações do hospital, tendo em vista o desenvolvimento das ciências naturais.(3)

Durante a direção interina do médico Antônio Pacífico Pereira, foram iniciadas reformas de ampliação no antigo prédio dos jesuítas que previam a desapropriação de cinco edifícios na rua das Portas do Carmo, para a criação do horto botânico, o que não se concretizou, dos laboratórios de química orgânica e biologia, fisiologia experimental, física médica e terapêutica experimental, e histologia, além de um museu de anatomia e de um museu patológico. Todos esses laboratórios e museu tornaram-se realidade entre os anos de 1880 e 1890. Em 1903, foi conectado o serviço de eletricidade, que propiciou iluminação interna e externa e ventilação artificial.

Contudo, as reformas não pouparam de crítica as instalações da Faculdade de Medicina. O médico Alfredo Tomé de Brito, lente de clínica propedêutica, em sua memória do ano letivo de 1900 a 1901, condena o aproveitamento do velho Colégio dos Jesuítas para ser transformado em faculdade de medicina:

 

 

Um edifício colocado num sítio pouco espaçoso, minimamente acanhado e sem a possibilidade de ser aumentado, salvo à custa de dispendiosas desapropriações e de demolições prévias; que não tem as dimensões necessárias para aquartelar os dezesseis laboratórios que devem funcionar em compartimentos distintos, diversos anfiteatros, uma enorme biblioteca e um museu, um edifício composto de duas secções, que se unem formando um ângulo reentrante e das quais uma está alguns metros fora do alinhamento do lado da praça em que demora e que irregulariza e desfeia; um edifício, cuja arquitetura é literalmente monstruosa, pois que se deram uns ares de modernidade e de elegância ao velho Convento, cuja construção pesada e cuja forma obsoleta foi necessário conservar e seguir na seção nova; um edifício, em cujo vestíbulo acaçapado em relação a suas dimensões se penetra por uma porta aberta num recanto e em que não se vê a escada conducente ao pavimento superior, a qual procede da extremidade de um corredor paralelo ao plano da entrada, — escada que, sendo de liso mármore e de forma conchoide, merece a qualificação de anti-higiênica; finalmente, um edifício interiormente mal-dividido, desproporcionado, e cujo soalho se acha era níveis diferentes.(4) 

Alexandre Evangelista de Castro Cerqueira, regente da cadeira de dermatologia e sifiligrafia da faculdade, também reconhece a inadequação dos espaços, apesar das modificações realizadas no “vetusto casarão do Terreiro”. Em sua memória histórica, Cerqueira registra:

o que se não a colocam em pé de paridade com os congêneres dos países adiantados, todavia pode apesar dos defeitos insanáveis prestar-se a regular orientação e marca do ensino, ao menos até que as condições mais prósperas da nação permitam a construção de um outro edifício obedecendo às regras da arte e da ciência. Sem dúvida, muito melhor teria sido abandonar em tempo a infeliz ideia de aproveitar o Convento dos Jesuítas, porque com o que tem-se gasto e com o que se há de ainda despender, ter-se-ia hoje um estabelecimento no qual a simplicidade não excluiria as proporções agradáveis, nem o bom gosto mais adequado à dignidade e às necessidades da ciência. (5)

Em 2 de março de 1905, durante o Carnaval, um incêndio atingiu a parte antiga do prédio em que estava sediada a faculdade. Os laboratórios de química, de histologia, de medicina legal, de bacteriologia e de anatomia e fisiologia patológica, além da biblioteca e seus 22 mil volumes e da capela dos jesuítas, ficaram inutilizados. O salão nobre, a sala das congregações, o antigo arquivo, os corredores e as escadas também foram seriamente danificados. 

 

 

O sinistro obrigou um projeto para a nova faculdade, encomendado ao arquiteto Victor Dubugras. As obras ficaram a cargo do engenheiro Teodoro Sampaio. O novo prédio foi oficialmente inaugurado no dia 3 de outubro de 1908, data do 1° centenário da Faculdade de Medicina da Bahia.

O processo de institucionalização da medicina no Brasil teve início nas primeiras décadas do século XIX com a fundação das academias médico-cirúrgicas do Rio de Janeiro (1813) e da Bahia (1815), da Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro (1829) e da transformação das academias em faculdades de medicina (1832). 

Munida desses propósitos, a Faculdade de Medicina da Bahia esteve envolvida nos principais movimentos sociais, a exemplo da Guerra do Paraguai (1864-1870), dando assistência aos soldados feridos e doentes, e da revolta de Canudos (1896-1897), quando estudantes dos cursos médico, farmacêutico e odontológico estiveram em campo apoiando os médicos militares responsáveis pelos hospitais de campanha. Durante o movimento de Canudos, a faculdade de medicina abrigou o hospital Vischow, um dos muitos instalados na cidade de Salvador que prestaram assistência às forças legalistas. Foi nessa ocasião que os sistemas de radioscopia e radiografia, trazidos da Europa pelo médico Alfredo Tomé de Brito, foram utilizados, pela primeira vez no Brasil, para localizar os projéteis nos ferimentos e proceder às cirurgias. Seus professores também tiveram atuação de destaque nas epidemias de febre amarela (1850) e de cólera-morbo (1855) que acometeram a província da Bahia.

A segunda metade do século XIX inaugurou a penetração da medicina na sociedade, incorporando o meio urbano como alvo de reflexão e prática médica, e a colocação da medicina como apoio científico ao exercício de poder do Estado. A Faculdade de Medicina da Bahia torna-se um espaço para as discussões científicas, bem como para ideias políticas e filosóficas que chegavam do Velho Mundo e, por sua vez, “impulsionavam o progresso da ciência” e as transformações sociais no contexto de um Estado escravocrata e aristocrático. Durante muito tempo, foi a única instituição de curso superior nessa província. Uma elite profissional foi se formando ao longo do Oitocentos com a missão de, por meio de seu saber, contribuir para melhorar as condições de saúde da população.(6)

Os médicos procuravam mostrar que seu campo de conhecimento poderia servir como instrumento do progresso da civilização, promovendo os meios para combater as causas das más condições de saúde do país e situando seu saber nas mais diversas esferas da vida cotidiana. A aula inaugural da disciplina de terapêutica, proferida pelo médico Antônio Januário de Faria, publicada na Gazeta Médica da Bahia, em 25 de março de 1867, deixa clara a proposta da edificação do saber médico como forma de auferir maior poder de intervenção na cidade e nos costumes de seus habitantes: “A nossa missão”, destinada a “um fim santo, nobre e humanitário”, é “aliviar o infeliz enfermo das angústias da dor”, o que só poderia ser bem cumprido com o “labor incessante dos operários da ciência em favor da humanidade”.(7)

A elite médica, ao tornar o conhecimento um instrumento de aperfeiçoamento do gênero humano, procurou colocar a medicina ao alcance dos desafios que a saúde pública enfrentava, numa época em que as epidemias provocavam cada vez mais estragos em uma população em franco crescimento. (8)

Nesse contexto, emerge uma nova política científica, baseada, em grande medida, nas pesquisas experimentais e rejeitando o determinismo racial e climatológico e a ideia de que os habitantes dos trópicos degeneravam irreversivelmente. Uma medicina de cunho social associava os males que acometiam a população baiana à falta de higiene urbana e à péssima qualidade de vida nas habitações coletivas. A interdição de cortiços, por exemplo, não disciplinava os pobres, mas sim provocava o seu deslocamento para áreas sem valor imobiliário. Construíam suas habitações próximo aos locais em que tinham facilidade maior para trabalhar, principalmente nas imediações das feiras e casas de famílias mais abastadas. A circulação desse contingente de pobres no centro da cidade preocupava as autoridades e era motivo de críticas diárias nos jornais, vocalizando o incômodo das elites e direcionando o debate para a criação de políticas de controle social que visavam estabelecer novos costumes. (9)

Um grupo de médicos acabava, assim, por desafiar a tradição do ensino e da prática médica baseada na reprodução do saber médico europeu, principalmente de origem francesa, dando início a um exercício da medicina que ficou conhecido na Bahia como Escola Tropicalista. Desenvolveram trabalhos sobre as descobertas relacionadas à ancilostomíase, à filariose (elefantíase), ao ainhum (alteração nos dedos do pé), o que contribuiu para a promoção de debates sobre parasitologia e algumas doenças como beribéri, tuberculose, lepra, dracunculose e maculo.(10)

Da Faculdade de Medicina da Bahia, identificavam-se com as linhas de pensamento tropicalistas Antônio José Alves (pai do poeta Castro Alves e professor de cirurgia), Antônio Januário de Faria (professor de clínica médica), Antônio Pacífico Pereira, seu irmão Manuel Vitorino Pereira e Raimundo Nina Rodrigues. Otto Edward Henry Wucherer, John Ligertwood Paterson e José Francisco da Silva Lima, apontados como fundadores da Escola Tropicalista Baiana, costumam ser considerados os introdutores da medicina experimental no Brasil.(11) Em vez da nosologia (classificação das doenças) abstrata feita da combinação de vários sintomas, classificados em ordens e gêneros como o faziam os naturalistas, os “tropicalistas” observavam a própria moléstia com a sua etiologia esclarecida, acompanhada do seu conjunto de sintomas.

 

 

 

Nina Rodrigues desenvolveu estudos anatomopatológicos, dedicando-se à pesquisa sobre o beribéri. Publicou artigos na Gazeta Médica da Bahia sobre a incidência de doenças que mais afligiam os brasileiros e a necessidade da reforma do sistema de saúde naquele estado. (12) Considerando inviável a realização do exercício da medicina segundo aquele modelo médico “tropicalista”, Raimundo Nina Rodrigues afastou-se do grupo em 1897, dirigindo seus estudos para a biossociologia brasileira, na qual o aspecto biológico era entendido como determinante do social. Introduziu em suas pesquisas médicas elementos e categorias das ciências sociais, em particular da antropologia. Sua produção científica foi reconhecida e respeitada devido, em parte, ao pioneirismo nos estudos dedicados à cultura afro-brasileira. De acordo com Julyan Peard, ao enfatizar o estudo sobre os africanos no Brasil, considerando-o central para a melhor compreensão das disciplinas de medicina e de direito, Nina Rodrigues focalizou uma realidade que a intelectualidade baiana preferia ignorar.

 

Os álbuns fotográficos da Faculdade de Medicina da Bahia

 

Acessando o link para as imagens do Álbum da Faculdade de Medicina da Bahia com fotos de Lindemann & C disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

Acessando o link para as imagens do álbum Faculdade de Medicina da Bahia sem autoria disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

É Nina Rodrigues que figura em ao menos três fotografias do álbum assinado por Lindemann & C. Duas delas o colocam no centro da cena, em atividade, em meio a ossos e órgãos que examina e manipula, enquanto, na sala de dissecções, senta-se a um canto do vasto salão organizado em torno de cinco bancadas ocupadas com cadáveres. Os corpos e órgãos dispostos nos laboratórios de anatomia médico-cirúrgica e de anatomia descritiva davam seguimento à prática da “medicina empírico-racional”, afirmada como disciplina desde a reforma da Universidade de Coimbra e incorporada na fundação da Escola de Cirurgia do Hospital Militar, em 1808. Poucos anos depois, uma série de fascículos publicados trazia descrições anatômicas e é com o professor inglês Johannes Abbot que a prática de dissecação de cadáveres humanos é introduzida de fato no ensino médico no país.(13)

 

 

Mais do que a existência dos laboratórios, vale refletir sobre a sua exposição em álbum, a composição da cena, o direcionamento do olhar. Em contraste com uma série de ambientes, a exemplo da biblioteca ou da sala da congregação, ausentes de pessoas vivas, os laboratórios exibem cadáveres, órgãos em planos e enquadramentos que os privilegiam sem qualquer mediação visual para o receptor porventura leigo. Ainda que as instalações dos primeiros anos do século XX permanecessem insuficientes para muitos, e certamente para Nina Rodrigues, o álbum respondia às avaliações sobre a faculdade e às necessárias reformas, desde o final do século XIX, quando Rodrigues ingressa no curso de medicina. Um relatório do diretor da instituição, de 31 de janeiro de 1903, admitia a “deficiência com que estão montados os laboratórios”, passível de ser mitigada mediante recursos financeiros, e destacava a instalação elétrica como instrumento de transformação decisiva para o ensino nos laboratórios. Quanto ao ensino prático, dependente de cadáveres, elevou-se a quantidade disponível para 215, em vez dos 187 do ano anterior, “longamente aproveitados por meio de injeções conservadoras”, sendo estes um dos elementos distintivos da modernização da Faculdade de Medicina naquele ano, o que concorre também para reforçar a datação do álbum em 1903. (14)

Outras áreas da faculdade, enquadradas na tarefa de documentar fotograficamente o ensino e a pesquisa ali desempenhados, reforçam a pesquisa anatômica e os estudos em medicina legal, com a análise de corpos, a exposição dos “desvios da natureza”, os usos da craniometria. Reservado à “medicina legal e toxicologia”, disciplina ministrada por Nina Rodrigues, um lombrosiano, e introdutor da antropologia criminal, o salão, tal como fotografado, concentrava sobre uma mesa meia dúzia de crânios, enquanto no interior de um armário envidraçado, um esqueleto completo mantém-se na vertical, remetendo-nos à obra, de 1555, do médico André Vesale. Professor da Universidade de Pádua, na Itália, Vesale ficou conhecido como o reformador da anatomia, dissecando com as próprias mãos, utilizando o corpo humano para demonstrações, valendo-se de modelos vivos, animais, desenhos e esqueletos, uma referência nos séculos subsequentes.

Ao fundo desse gabinete, as palavras de Alfred Swaine Taylor (15), autor de um manual de jurisprudência médica publicado na Inglaterra, em 1844, advertem que um médico poderia ser subitamente confrontado em um tribunal com perguntas as quais ele, sentindo-se seguro, “no canto mais isolado do reino”, e durante um longo período de sua prática, nunca considerou importantes. A citação convoca à empiria, à investigação, como exigências para o exercício desse campo da medicina, encimando os crânios enfileirados e o esqueleto humano. Pode-se reconhecer aqui algo da “visão determinista biológica, com vínculos estreitos com a antropologia física do século XIX”, e de expressiva influência no campo da medicina legal, “particularmente nos trabalhos do ‘médico antropólogo” Nina Rodrigues e seus “discípulos”, como destaca Marcos Chor Maio.(16)

As duas pranchas do museu da faculdade mostram salas despovoadas com vitrines nas quais podemos distinguir corpos – meio tronco e cabeça, pernas. Diferentes mobiliários destinados ao museu guardam partes de cadáveres humanos, aqui, diferentemente, não são esqueletos, conduzindo-nos de volta às salas de anatomia ou ao anfiteatro, imagem em si recorrente na área das ciências da vida. No “anfiteatro 1”, sem nenhuma audiência, sugerindo que uma demonstração irá começar, o olhar é atraído para o corpo exposto sobre uma mesa. A série de corpos, crânios e esqueletos, central nessas fotografias, qualifica esses espaços e nos conduz aos fundamentos da Escola Tropicalista Baiana, presidida pela ideia de experimentação.

Inseridos na coleção denominada Fotografias Avulsas, os álbuns têm procedência desconhecida, não se tendo registro da trajetória desses dois artefatos, sua história arquivística. Encapado em vermelho, com uma etiqueta em vermelho escuro e letras douradas, o Álbum da Faculdade de Medicina da Bahia (BR RJANRIO O2.0.FOT.491) é composto de 31 fotografias, acompanhadas, em cada página, da marca “Ph. Lindemann & Cº. Largo do Theatro 92. Bahia” e sem indicação da data de produção. Já o conjunto em capa vermelha e letras douradas intitulado “1ª Faculdade de Medicina da Bahia” (BR RJANRIO O2.0.FOT.492) compõe-se de oito fotografias e oito desenhos de fachadas e plantas. Na capa, a data de 3 de outubro 1903, e, da mesma forma, ignora-se sua história arquivística, além de não haver a indicação do fotógrafo ou estúdio responsável. O dia 3 de outubro, data de fundação da Faculdade de Medicina, vinha ao encontro do ano de 1903, quando, como foi dito, a faculdade passa a contar com o sistema de eletricidade, e são apresentados o salão nobre, a sala dos professores e o gabinete do diretor com nova decoração e “embelezamento”, justificando, assim, a edição do álbum que não contém a data, podendo-se, afinal, arriscar que os dois conjuntos possuam o mesmo ano de edição.(17)

 

 

O conjunto mais extenso e não datado traz a assinatura de Lindemann & Co, ateliê fotográfico de Rodolpho Lindemann, funcionando no largo Castro Alves, 92, em Salvador, anteriormente largo do Teatro, no século XIX. Lindemann, então associado de Guilherme Gaensly, mudou-se para esse endereço em 1894, e esse foi o local e o nome da casa comercial por muitos anos, mesmo após ter passado a outros proprietários. Como indica Boris Kossoy (18), a sociedade com Gaensly dissolveu-se em 1900 e foi admitido no lugar o “seu antigo empregado, sr. Alfredo Borges, constituindo-se a firma social Lindemann & C.” Em 1903, a Lindemann & Co é assim relacionada no Almanak do Estado da Bahia: Administrativo, Indicador e Noticioso (19) e, no ano seguinte, o Correio do Brasil já se refere ao “Sr. Alfredo Leitão Borges, estimado proprietário da photographia Lindemann”(20). Deve-se considerar que as informações obtidas nesses periódicos são instáveis. No mesmo ano, o Almanak Laemmert do estado da Bahia elenca entre “fotógrafos e retratistas” a firma Gaensly & Lindermann na praça Castro Alves, o que perdura por mais quatro anos no mínimo, sabendo-se que a empresa, com tal razão social, não existia mais. Em 1903, ano chave para os álbuns referidos, o Diário de Notícias, publicado na Bahia, traz matéria sobre a Photographia Lindemann & C. situada no número 92 da Praça Castro Alves. Tratado como “o mais antigo da capital”, o estabelecimento teria um sócio residente na Europa encarregado de remeter por todos os vapores “as mais minuciosas notícias de tudo que de novidade vai aparecendo na arte fotográfica”, além de enviar material, garantindo a adoção dos melhoramentos em voga nas capitais europeias. O estúdio oferecia a fototipia, fotogravura, fotogalvanoplastia, platinotipia, e estava apto a “trabalhos fora do ateliê como retratos ou grupos ao ar livre, de colégios, escolas, regatas, festas de igrejas ou profanas, cadáveres e tudo o mais que desejar-se possa”.(21)

Pode-se presumir que em 1903 o ateliê já estivesse aos cuidados de Alfredo Borges. Ainda que sua direção seja incerta nesse período, tudo indica que contava com equipamentos condizentes e era respeitado, oferecendo uma gama de serviços, entre os quais a fotografia de cadáveres, que continuava a ser uma prática, desde o século XIX, de registro de mortos, por vezes simulando estarem vivos. Dois anos antes, o Diário do Maranhão trazia a notícia de que Gaensly e Lindemann haviam fotografado “uma criança natimorta e hermafrodita, que estava despertando a curiosidade da população e de médicos, dentre eles o professor de medicina legal, o maranhense Nina Rodrigues”.(22)

Entre os laboratórios mantidos na faculdade, a sala repleta de armários com aves taxidermizadas, algumas ornamentando o topo do mobiliário, como dois pavões e uma ave de rapina, conduzem-nos à origem das coleções de história natural, às viagens e expedições iniciadas no setecentos, aos sistemas de classificação e de nomenclatura em disputa a partir da época moderna. Um dos primeiros fins da botânica foi a medicina que, conjugada à observação e dissecação de seres vivos, tornou frequente a figura do médico naturalista, muitas vezes à frente de gabinetes e coleções de história natural. A partir dessas práticas desejaram responder a questões como a reprodução dos seres vivos, os desvios da natureza, bem como a sua imutabilidade, entre outros dilemas que se impuseram à ciência dos séculos XVIII e XIX. Inseparáveis de tais coleções, as viagens configuram uma das etapas da sua formação, nas quais se previa uma série de procedimentos, do diário aos desenhos, a conservação dos espécimes recolhidos e, tão importante quanto, a identificação, classificação e atribuição dos nomes científicos e vulgares, bem como dos usos possíveis. O acervo reunido no laboratório da Faculdade de Medicina da Bahia continha, muito provavelmente, peças doadas pelo viajante francês Jean-Baptiste Douville, em 1835. O destino do “Gabinete Douville” era o Liceu Provincial, um projeto da administração do governo da cidade do Salvador, em funcionamento efetivo em 1837, mas sempre em contraponto às coleções e aos projetos da faculdade. Embora tendo conhecido um período de progresso, o liceu passaria por um esfacelamento nos anos 1870, abrindo caminho para o intercâmbio de coleções com a Faculdade de Medicina.(23)

Na segunda metade do século XIX, as coleções de história natural vinculam-se especialmente à medicina tropical, retraçando o eixo entre as doenças e o meio natural do Novo Mundo. O processo deflagrado pela descoberta de animais invertebrados, “principalmente insetos, como hospedeiros intermediários de vermes, protozoários e outros microrganismos causadores de doenças em homens e animais passou a direcionar o olhar dos coletores para grupos de animais até então negligenciados pelos museus de história natural”(24). Assim, a natureza, a partir de seus vetores, começa a ser encarada como um depósito de doenças tipicamente tropicais, sendo exemplares sob esse aspecto as trajetórias do Instituto Oswaldo Cruz e do Museu Nacional na construção da disciplina medicina tropical, como estabelece Magali R. Sá. Qualquer que fosse o lugar ocupado pelo Laboratório de História Natural nos debates em torno da relação entre natureza e doença, com seus armários e vultos que guardavam a memória dos séculos XVIII e XIX, sua representação no conjunto analisado impõe o debate que atravessou a medicina nos anos 1900 no Brasil.

Um dispositivo ótico em si, o álbum documenta a própria relação entre a fotografia e a medicina, seja pelos registros obtidos ou, mais especificamente, pela utilização dessa técnica no campo da medicina. Em seus primórdios, sobretudo a partir do daguerreótipo, foram muitas as dificuldades para aplicação do registro fotográfico à pesquisa científica de modo geral, visto que suas limitações, como manejo da aparelhagem, sensibilização das placas, tempo de exposição etc., afetavam a produção desses formatos. Ainda assim, lembra James Roberto Silva, a invenção foi acolhida com entusiasmo, possibilitando maior exatidão, superior à do desenho: “ela preenchia uma espécie de vácuo epistemológico das ciências, representado pelos preceitos de objetividade que elas impunham a si mesmas”(25). A incorporação da técnica fotográfica no ensino e na prática médica consolida-se na edificação, cujo letreiro “Ateliê Fotográfico”, identifica a casa, datada com o ano de 1903. O ateliê foi tema da coluna dedicada à Faculdade de Medicina, no Correio do Brasil de 1º de setembro de 1903, sobre o contrato para sua construção, e, no mesmo ano, em matéria sobre a comemoração, do 71° aniversário da instituição. O jornal descreveu, além das solenidades e da demonstração da eletricidade e outros equipamentos, o advento de um estúdio “de primeira ordem, para o qual recebeu já uma excelente máquina e profusão de chapas, papéis sensíveis, substâncias químicas, etc., etc.”(26)

 

 

A descoberta, revolucionária, de raios que atravessavam objetos e deixavam impressões em chapas fotográficas – o raio X, em 1895, pelo cientista alemão Wilhelm Conrad Röentgen (27)– promovia a técnica fotográfica em mais uma aplicação científica. Em julho de 1903, a Gazeta da Bahia, órgão editado pelos professores da Faculdade da Bahia fundado em 1866, publica o “Estudo sintético da exploração da clínica radiológica” pelo dr. João A. G. Froes. Nesse artigo são listados os principais aparelhos empregados, sendo interessante anotar a “câmara escura para os trabalhos de radioscopia […] indispensável para o desenvolvimento das provas radiográficas, devendo ser modelada pelas câmaras escuras da fotografia comum e provida de reveladores, fixadores, etc.”, e o item dedicado ao “material necessário para revelar e fixar as placas, bem como papéis sensíveis para obtenção das fotocópias, de que estão aqui diversos exemplares inteiramente originais, alguns dos quais representam casos autênticos da luta de Canudos em 1897”.(28)

A rápida assimilação do raio X na medicina pode ser atestada pela existência do Gabinete Rotgens, espaço de uma das fotografias que formam o álbum anônimo de 1903. A sala, que comporta uma estrutura aparentemente dedicada à câmara obscura, exibe diversos aparelhos e medidores. Dois homens, possivelmente médicos, encaram a objetiva, sentados a uma mesa repleta de objetos, como microscópios, e acoplada a bobinas e outros dispositivos. É de se notar a imagem emoldurada na parede, dos ossos da mão, obtida pelo raio X – o mesmo teste que Rotgens fez com a mão de sua esposa, confirmando suas hipóteses.

 

 

No início do século XX, o estabelecimento de novos padrões de comportamento e hábitos de higiene incluiu em seu escopo a prática do parto hospitalar ou a medicalização do parto, concorrendo para a construção da Maternidade Climério de Oliveira, prevista desde a reforma do ensino médico de 1854, a maternidade-escola da Faculdade de Medicina da Bahia. Grande parte das mulheres continuava a preferir a assistência de parteiras, uma vez que permitir que uma mulher fosse cuidada por um médico em um lugar fora da esfera doméstica era visto com desconfiança e certa reprovação. Apenas mulheres mais pobres, indigentes, prostitutas e mães solteiras recorriam às santas casas.(29) Na tentativa de romper o ceticismo, estabelecer novos padrões para a prática de partos em hospitais e diminuir a distância entre médicos e parteiras na atividade da obstetrícia, com frequência se permitia a presença de parteiras no centro cirúrgico acompanhando os procedimentos médicos. (30) A maternidade Climério Cardoso de Oliveira, em homenagem ao professor de clínica obstétrica e ginecológica, só se concretizou em 30 de outubro de 1910, inaugurada em terreno doado pela Santa Casa de Misericórdia, no atual bairro de Nazaré, ao lado do Hospital Santa Isabel. Sua edificação sensibilizou as camadas mais abastadas, que adotaram a causa como um benefício social. Em 1903, ano em que tiveram início as obras, fundou-se um comitê de senhoras, que reunia mulheres da sociedade, para montar estratégias de arrecadação de fundos. Dentre as iniciativas destacou-se a exibição de uma série de peças teatrais, no Teatro Politeama, cujo tema era “A Maternidade”, de autoria do próprio dr. Climério de Oliveira.

Entre ambientes que remetem aos espaços privilegiados da ciência moderna, como o museu, o anfiteatro, laboratórios, gabinetes e a biblioteca, os álbuns da Faculdade de Medicina abrem também portas e janelas para a cidade. Assim, na entrada da biblioteca, a Fotografia Lindemann incluiu um homem negro e três meninos, um deles descalço, que posam para as lentes. No mesmo álbum, na imagem de abertura, “Faculdade de Medicina e Praça XV de Novembro”, no entorno da praça gradeada, temos vultos da gente que passa carregando volumes, outros conversando nas calçadas, um pouco indiscerníveis, pontuando o sítio histórico do antigo Colégio dos Jesuítas. 

Em “Colocação da pedra da maternidade”, a fotografia dá a ver uma imagem sobre a qual podemos pensar se constitui contraste ou complemento. No terreno destinado, alinham-se os convidados para a solenidade, em trajes formais. Um homem carrega o estandarte e a faixa da Faculdade de Medicina da Bahia, enquanto a única mulher presente interrompe a homogênea linha masculina. À esquerda, quebrando a unidade do evento, poucos homens (que podem ser trabalhadores da obra) e crianças, todos negros, roupas claras e gastas. Apenas quinze anos depois da abolição formal da escravidão, as ruas e a população pobre de Salvador dos primeiros anos do século XX confrontam o saber médico e a República.

 

 

 

(1) Cf. Escola de Cirurgia da Bahia. Disponível em:

https://dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/wiki_dicionario/index.php/ESCOLA_DE_CIRURGIA_DA_BAHIA.

(2) Teixeira, Rodolfo. Memória histórica da faculdade de medicina do Terreiro de Jesus (1943-1995). 3. ed. Salvador: EDUFBA, 2001. Disponível em: https://repositoriodev.ufba.br/bitstream/ri/16773/1/memoria-historica-faculdade-medicina.pdf.

(3) Santos, Adailton Ferreira dos. A Faculdade de Medicina Bahia: percurso e reforma do ensino no século XIX. Disponível em:

https://histedbrantigo.fe.unicamp.br/acer_histedbr/seminario/seminario8/_files/YOZZeNJy.pdf.

(4) Brito, Alfredo. Memória histórica da Faculdade de Medicina da Bahia no ano lectivo de 1900 a 1901. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1904, p. 35. Disponível em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/595776/000134488_Memoria_historica_Faculdade_Medicina_Bahia.pdf?sequence=1&amp;isAllowed=y.

(5) Cerqueira, Alexandre. Memória histórica da Faculdade de Medicina da Bahia, 1904, p. 44. Disponível em: https://repositoriodev.ufba.br/handle/ri/26537?locale=pt_BR.

(6) Pela Faculdade de Medicina da Bahia passaram nomes de reconhecimento internacional, entre eles Juliano Moreira (1886-1891), introdutor do pensamento de Freud no Brasil, e Nise da Silveira (1921-1926), discípula de Jung e que contribuiu para a humanização de métodos psiquiátricos. Em 1887, agaúcha Rita Lobato Velho Lopes (1866-1954) tornou-se a primeira mulher brasileira e a segunda latino-americana a obter diploma de médica, após defender a tese Paralelo entre os métodos preconizados na operação cesariana nessa faculdade.

(7 ) Em seu primeiro número, em 10 de julho de 1866, foram publicados os objetivos desse periódico: “O nosso propósito é simplesmente o seguinte: concentrar, quanto for possível, os elementos ativos da classe médica, a fim de que, mais unidos e fortificando-se mutuamente, concorram para aumentar-lhe os créditos, e a consideração pública; difundir todos os conhecimentos que a observação própria ou alheia nos possa revelar; acompanhar o progresso da ciência nos países mais cultos; estudar as questões que mais particularmente interessam ao nosso país; e pugnar pela união, dignidade e independência da nossa profissão.” Escola Tropicalista Baiana. Disponível em: https://dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/wiki_dicionario/index.php/ESCOLA_TROPICALISTA_BAIANA.

(8) Eugênio, Alisson. A medicina ilustrada e sua recepção pelos médicos que atuavam no Brasil do século XIX. Revista de História, Juiz de Fora, v. 20, n. 2, p. 163-190, 2015.

(9) Amaral, Marivaldo Cruz do. Mulheres, imprensa e higiene: a medicalização do parto na Bahia (1910-1927). História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 15, n. 4, p. 927-944, out.-dez. 2008. Disponível em: https://www.scielo.br/j/hcsm/a/ky5LR4DM8d9MsCQJ3rvnfJq/?format=pdf&amp;lang=pt.

(10) Cf. Escola Tropicalista Baiana. Disponível em:

https://dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/wiki_dicionario/index.php/ESCOLA_TROPICALISTA_BAIANA.

(11) Para dados biográficos sobre esses médicos, acessar https://dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/.

(12) Raimundo Nina Rodrigues foi diretor da Gazeta Médica da Bahia de 1890 a 1893.

(13) Talamoni, Ana Carolina Biscalquini; Bertolli Filho, Claudio. A anatomia e o ensino de anatomia no Brasil: a escola boveriana. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 21, n. 4, out.-dez. 2014, p. 1.301-1.322. Disponível em: https://www.scielo.br/j/hcsm/a/VQ7BzLwXSrcbjpsCyzKmb9L/.

(14) Apud Britto, Antonio Carlos Nogueira. Nota histórica: a Faculdade de Medicina da Bahia na época de Nina Rodrigues. Gazeta Médica da Bahia, 76, 2006, Suplemento 2:S63-S79. Disponível em: http://gmbahia.ufba.br/index.php/gmbahia/article/view/310/300.

(15)“A medical practitioner who thinks himself secure in the most retired corner of the kingdom is liable to find himself suddenly summoned as a witness on a trial to answer questions which pehaps during a long period of practice he had been led to regard as unimportant.”

(16) Maio, Marcos Chor. Raça, doença e saúde pública no Brasil: um debate sobre o pensamento higienista do século XIX. In: Monteiro, S.; Sansone, L. (org.). Etnicidade na América Latina: um debate sobre raça, saúde e direitos reprodutivos [online]. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2004, p. 14-44. Disponível em: http://books.scielo.org/id/dcc7q/epub/monteiro-9788575416150.epub.

(17) Martin, Adriana Monica; Righi, Roberto. Memórias da Faculdade de Medicina da Bahia para o patrimônio das Ciências Médicas no Brasil. Cadernos de História da Ciência, v. 12, n. 2, p. 74-108, 2016.

(18)Kossoy, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002, p.208.

(19) Photographias. Disponível em:

https://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=829536&pesq=%22Lindemann&hf=memoria.b

n.br&amp;pagfis=1843.

(20) Necrologia. Disponível em:

https://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=721069&pesq=%22Lindemann&hf=memoria.b

n.br&amp;pagfis=561.

(21) Cf. Photographia Lindemann &amp; C. Disponível em:

https://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=098167&pesq=%22Lindemann%22&pasta=ano

%20190&amp;hf=memoria.bn.br&amp;pagfis=105.

(22) Apud Wanderley, Andrea. Cronologia de Guilherme Gaensly (1843-1928). In: Brasiliana Fotográfica.
Disponível em: https://brasilianafotografica.bn.gov.br/?tag=guilherme-gaensly.

(23) Cf. Cerávolo, Suely Moraes; Rodriguez, Mariana Cerqueira. Colecionismo na Bahia oitocentista: o Gabinete de História Natural (1835-1889). Revista Brasileira de História da Ciência, Rio de Janeiro, v. 11, n. 2, p. 197-212, jul.-dez. 2018. Disponível em: https://rbhciencia.emnuvens.com.br/revista/article/view/87/60 .

(24) Sá, Magali Romero. A ciência, as viagens de coleta e as coleções: medicina tropical e o inventário da história natural na Primeira República. In: Heizer, Alda; Videira, Antônio Augusto P. (org.). Ciência, civilização e república nos trópicos. Rio de Janeiro: Mauad X; Faperj, 2010, p. 213.

(25) Silva, James Roberto. Doença, fotografia e representação: revistas médicas em São Paulo e Paris, 1869-1925. São Paulo: Edusp, 2009, p. 111.

(26) Correio do Brasil, Bahia, 5 de outubro de 1903. Disponível em:

https://memoria.bn.gov.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=721069&pesq=Atelier%20Photographico&

pasta=ano%20190&amp;hf=memoria.bn.gov.br&amp;pagfis=137.

(27) Nossa capa: Wilhelm Röntgen e a criação dos raios X. Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina
Laboratorial, v. 45, n. 1, fev. 2009. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1676-24442009000100001.

(28) Lição professada na Faculdade de Medicina da Bahia pelo dr. João A. G. Froes, substituto da seção médica. Gazeta Médica da Bahia, julho 1903, v. XXXV, n. 1. Disponível em:
https://memoria.bn.gov.br/DocReader/docreader.aspx?bib=165646&amp;pesq=R%C3%B6entgen&amp;pagfis=17572. Coincide com o artigo publicado a versão contemporânea sobre o uso da radiologia, em 1897, pelo professor Alfredo Brito (1863-1909), da Faculdade de Medicina da Bahia, que realizou na província “a primeira radiografia no campo de batalha, durante a Guerra de Canudos, para localizar projéteis de arma de fogo nos combatentes. Foram realizadas 98 radiografias e radioscopias em 70 feridos”. Cf. A origem da radiologia no Brasil, segundo Aristides Negretti. Conter, 28 de outubro de 2014. Disponível em: https://conter.gov.br/site/noticia/01-nossa-historia#:~:text=%E2%80%9CEm%201897%2C%20o%20professor%20Alfredo,arma%20de%20fogo%20nos%20combatentes.

(29)Mott, Maria Lúcia. Assistência ao parto do domicílio ao hospital (1830-1960). Projeto História, v. 25, 2002, p. 198. Disponível em https://revistas.pucsp.br/index.php/revph/article/view/10588/7878.

(30) Amaral, M. C., op. cit., p. 932.

 

*Claudia Beatriz Heynemann é historiadora do Arquivo Nacional

 Maria Elizabeth Brêa Monteiro é antropóloga do Arquivo Nacional

A Fundação Rockefeller no Brasil

A Fundação Rockfeller no Brasil

 Ricardo Augusto dos Santos*

Em 2022, a Casa de Oswaldo Cruz (COC) recebeu o certificado da incorporação do Fundo Fundação Rockefeller ao Programa Memória do Mundo da Unesco. O organismo internacional reconheceu o acervo como patrimônio documental inestimável. Sob a guarda do Departamento de Arquivo e Documentação da COC, este conjunto retrata as ações do Serviço Nacional de Febre Amarela e do Serviço Nacional de Malária e contém 4.209 fotografias e 633 negativos. Algumas são imagens raras de cidades e pequenas comunidades.

 

Acessando o link para as imagens do Fundo Fundação Rockfeller da Casa de Oswaldo Cruz disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

O arquivo abrange as ações realizadas pela Fundação Rockefeller no Brasil. Com milhares de fotos dos estados brasileiros Rio de Janeiro, Bahia e Ceará, mostra os serviços executados pela instituição em conjunto com o governo brasileiro na eliminação do mosquito Aedes aegypti, vetor da febre amarela, e do mosquito Anopheles gambiae, vetor da malária.

 

 

O arquivo das Séries do Fundo Fundação Rockefeller está dividido em séries documentais: a Série Serviço de Febre Amarela, a Série Serviço de Malária do Nordeste, a Série Exposições do Serviço de Febre Amarela e do Serviço de Malária do Nordeste; além da Série Fotografias Aéreas.

Neste artigo, apresentamos imagens da Série Serviço de Febre Amarela. Com fotos sobre a campanha de erradicação do mosquito Aedes aegypti nos estados brasileiros, além de imagens das pesquisas sobre a forma silvestre da febre amarela e o processo de produção da vacina contra a doença. Uma outra série, Serviço de Malária do Nordeste, contém os registros da eliminação do mosquito Anopheles gambiae, vetor da malária, durante a epidemia da doença ocorrida no Nordeste do país, em 1939. As fotografias também documentam o processo de produção da vacina contra a febre amarela, produzida em Manguinhos.

 

 

Inúmeras expedições percorreram o Brasil em busca de informações que pudessem explicar a diversidade natural e social do imenso país. Cientistas e aventureiros viajaram por várias regiões realizando pesquisas e colhendo amostras. Durante o século XIX e nas décadas iniciais do século passado, várias missões científicas ocorreram no país. Entusiasmados pelas conquistas técnicas, especialistas em ciências naturais excursionaram pela imensidão do território brasileiro. Muitas viagens foram documentadas através de pinturas, desenhos e fotografias.

No início do século XX, a Fundação Rockefeller iniciou uma série de projetos médicos e científicos no Brasil. Nesta época, várias iniciativas semelhantes estavam sendo criadas nas áreas da saúde pública internacional. Na origem, esse projeto assistencial da Fundação Rockefeller se restringia ao sul dos Estados Unidos. No entanto, suas atividades foram ampliadas para países que possuíam graves problemas sanitários, necessitando derrotar doenças como a ancilostomíase, a febre amarela e a malária.

Através de convênios com o governo brasileiro, o grupo industrial e financeiro norte-americano, liderado pelo bilionário John Davison Rockefeller (1839-1937), entrou em contato com cientistas e médicos nacionais. Assim, a Rockefeller chegou ao país. Após a criação de um acordo de cooperação com o estado brasileiro, começou um planejamento para controle das doenças endêmicas. Essas moléstias eram devastadoras, sobretudo nas regiões mais afastadas das capitais. As tarefas se concentravam na erradicação da febre amarela e da malária.

 

 

 

A partir de 1930, ocorreu um progresso da conduta da empresa norte-americana. Atuando ao lado de organismos estatais, especialmente criados para dominar a febre amarela e a malária, doenças que causavam muitas mortes, a Rockfeller auxiliou na elaboração do Serviço Nacional de Febre Amarela e do Serviço de Malária do Nordeste. Desta maneira, ampliando o alcance dos trabalhos, também proporcionava uma troca de conhecimentos e experiências entre o governo brasileiro e a instituição estrangeira.

Nesta campanha de Saneamento do Brasil, as equipes de trabalhos procuravam combater o mosquito vetor da febre amarela, mas também desenvolviam pesquisas em laboratórios, aprofundando análises sobre a doença, além da produção da vacina antiamarílica. A partir de 1940, a Fundação Rockefeller foi transferindo a direção do projeto para o Serviço Nacional de Febre Amarela. Na década de 1950, o laboratório de pesquisas e de produção da vacina passou para o comando do Instituto Oswaldo Cruz.

Apresentamos, neste artigo, algumas fotografias do Fundo Fundação Rockefeller. O arquivo fotográfico é resultado das atividades da Fundação Rockefeller no Brasil. Há uma concentração de imagens a partir de 1930, quando ocorre a institucionalização de suas atividades em nível federal.

 

 

 

*Ricardo Augusto dos Santos é  Pesquisador Titular da Fundação Oswaldo Cruz

 

 

Dia Nacional da Ciência e o Dia Nacional do Pesquisador Científico

Em homenagem ao dia da criação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em 8 de julho de 1948, hoje são comemorados o Dia Nacional da Ciência e o Dia Nacional do Pesquisador Científico. A primeira data foi sancionada, em 18 de abril de 2001, pela Lei nº 10.221; e, a segunda, em 13 de novembro de 2008, através da Lei nº 11.807. Para celebrar as duas datas a Brasiliana Fotográfica destaca imagens de cientistas e de laboratórios. Todas pertencem ao acervo da Casa de Oswaldo Cruz, o centro de história, memória e divulgação científica da Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz, uma das instituições parceiras do portal. As imagens foram produzidas por fotógrafos ainda não identificados, por Silvio Cunha (?-19?) e por Joaquim Pinto da Silva, o J. Pinto (1884-1951). Viva a ciência e os cientistas!

 

 

Acessando o link para a seleção de imagens de cientistas e laboratórios pertencentes à Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

A Casa de Oswaldo Cruz possui o mais expressivo acervo do Brasil sobre os processos políticos, sociais e culturais da saúde, com fotografias, filmes, documentos textuais, livros, objetos, coleções museológicas e depoimentos orais que remontam ao fim do século 19.  Preserva e dá acesso ao arquivo permanente da Fiocruz e aos arquivos pessoais de cientistas, médicos e sanitaristas, como Oswaldo Cruz e Carlos Chagas; estes dois nominados no Programa Memória do Mundo da Unesco.

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica

 

Lista dos artigos produzidos por profissionais da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz para a Brasiliana Fotográfica até a data desta publicação (40)

 

Os efeitos da Revolta Paulista de 1924 pelas lentes de Gustavo Prugner (1884 – 1931)

Para marcar o centenário da Revolta Paulista de 1924, a Brasiliana Fotográfica destaca registros produzidos pelo fotógrafo Gustavo Prugner (1884 – 1931) sobre os efeitos da rebelião na cidade. Pertencem ao acervo fotográfico do Instituto Moreira Salles (IMS), uma das instituições fundadoras do portal. Também conhecida como a Revolução Esquecida, foi a segunda revolta tenentista e o mais grave conflito bélico ocorrido, até hoje, na cidade de São Paulo. Também publicamos hoje a Cronologia de Gustavo Prugner, a 68ª produzida pelo portal.

É possível conferir algumas destas fotografias de Prugner na base de dados do Acervo IMS online: https://acervos.ims.com.br. Lá estão disponíveis mais de 9.200 imagens em domínio público, com download liberado e gratuito. Ao usá-las para qualquer finalidade, basta citar o nome do fotógrafo e o acervo de origem.

 

 

Pouco de sabe sobre o fotógrafo Prugner. Ele nasceu em 5 de julho de 1884, em São Bernardo do Campo, e, no início do século XX, ganhou uma das câmeras fotográficas distribuídas em uma ação promocional da loja de artigos fotográficos de Guilherme Wessel (1862 – 1940), pai do empreendedor Conrado Wessel (1891 – 1993). Prugner havia estudado na Escola Alemã com Guilherme. Curiosamente, a vida de Conrado Wessel foi fortemente impactada pela rebelião de 1924: devido ao violento conflito urbano, faltou papel importado para os fotógrafos que atuavam, principalmente, no Jardim da Luz, e eles passaram a comprar de Wessel. Quando a rebelião terminou, o fornecimento de papel importado foi restabelecido, mas Conrado já havia conquistado uma clientela fiel. Sua empresa começou a prosperar.

 

Acessando o link para as imagens produzidas por Gustavo Prugner sobre os efeitos da Revolução de 1924 em São Paulo disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

Voltando a Prugner. Com a obtenção da câmera, passou a trabalhar como fotógrafo e laboratorista. Foi também, em São Paulo, assim como o alemão Theodor Preising (1883 – 1962) e o suíço Guilherme Gaensly (1843 – 1928), um importante editor de cartões-postais, uma forma de circulação de imagens que, desde meados do século XIX, contribuiu para popularizar a fotografia. Prugner organizava álbuns a partir de fotos de sua autoria e de outros fotógrafos. Suas imagens eram marcadas pelas iniciais GP. Foram publicadas em revistas ilustradas como a Careta e a Revista da Semana e também em jornais, porém nem sempre sua autoria era identificada.

Gustavo Prugner foi o autor de um dos mais importantes conjuntos de fotografias sobre o conflito de 1924. Fotografou a destruição causada pelos bombardeios terrificantes realizados pelas tropas leais ao presidente da República, Artur Bernardes  (1875 – 1955), sobre São Paulo – única cidade brasileira já bombardeada por um ataque aéreo.

“As vítimas civis passaram de dois milheiros, quase todas estraçalhadas de modo horroroso por estilhaços de granada. O  número de prédios destruídos ou simplesmente estragados subiu aos milhares. Dia e noite os canhões legalistas despejavam metralha às tontas, sem o menor objetivo militar […]. Havia lá dentro 3 mil rebeldes disseminados no seio de uma massa de 800 mil civis. O mais rudimentar cálculo faria ver que, por força do bombardeiro às tontas, seria mister massacrar 270 civis para dar cabo de um revoltoso”

Monteiro Lobato (1882 – 1948), trecho de O bombardeio de São Paulo

 

 

As fotos de Prugner mostravam trincheiras improvisadas, prédios arruinados, ruas, fachadas de casas, animais mortos e incêndios. Os bairros mais atingidos foram Belenzinho, Brás, Cambuci, Centro, Ipiranga, Mooca e Vila Mariana. Os registros de Prugner, focados nos efeitos da revolta no cotidiano dos moradores dos bairros mais afetados pela guerra, tiveram grande sucesso comercial.

 

 

Faleceu, em 4 de dezembro de 1931, em São Paulo.  Seus filhos com Lina Hagemann (1889 – 1981), com quem foi casado, Edgar (1911 – 1984) e Mário (1912 – 1993), continuaram a editar cartões-postais até 1936, quando passaram a trabalhar em tempo integral na primeira fábrica de papel fotográfico da América Latina, a Fábrica Privilegiada de Papéis Fotográficos Wessel, criada, em 1921, e que utilizava tecnologia e patente próprias, cujo proprietário era o já mencionado pioneiro Conrado Wessel (1891 – 1993). Prugner foi casado com Lina Hagemann (1889 – 1981).

Acesse aqui a Cronologia de Gustavo Prugner (1884 – 1931).

 

Brevíssimo resumo da Revolta Paulista de 1924

 

A Revolta Paulista de 1924 foi motivada pelo descontentamento dos militares com a crise econômica e a concentração de poder nas mãos de políticos de Minas Gerais e de São Paulo. Os rebeldes, sob a liderança do general Isidoro Dias Lopes (1865 – 1949), pretendiam derrubar o governo de Artur Bernardes (1875 – 1955), instituir o voto secreto, fazer mudanças no ensino público e realizar reformas sociais. A rebelião eclodiu, em 5 de julho de 1924, justamente dois anos após a primeira revolta tenentista, a Revolta do Forte de Copacabana, ocorrida no Rio de Janeiro.

Os 23 dias da Revolta Paulista de 1924, que contou com a participação de vários tenentes, dentre eles Juarez Távora (1898 – 1975) e Eduardo Gomes (1896 – 1981), tiveram como saldo 503 mortos e cerca de 5 mil feridos. O número de desabrigados passou de 20 mil e, aproximadamente, dois mil edifícios foram destruídos. Os rebeldes, derrotados pelas tropas legalistas do governo federal, fugiram de São Paulo e foram para Santa Catarina e para o Paraná. Os tenentistas juntaram-se à Coluna Prestes, sob a liderança de Luís Carlos Prestes (1898 – 1990), e começaram a marcha que seguiu pelo interior do Brasil propondo reformas e atacando a República Velha.

 

 

Veja outras fotos da Revolta de 1924, em São Paulo, publicadas da página 15 a 22 da Revista da Semana de 9 de agosto de 1924 e da página 19 a 27 da Revista da Semana de 16 de agosto de 1924 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Blog da BBM

GERODETTI, João Emílio; CORNEJO, Carlos. Lembranças de São Paulo: a capital paulista nos cartões postais e nos álbuns de lembranças. São Paulo : Estúdios Flash Produções Gráficas, 1999.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOSSOY, Boris. Luzes e sobras da metrópole: um século de fotografia em São Paulo (1850 – 1950) in PORTA, Paula (org) História da Cidade de São Paulo: A cidade no Império. São Paulo : Paz e Terra, 2004.

LEMOS, Eric Danzil. Fotografia profissional, arquivo e circulação: a produção de Theodor Preising em São Paulo (1920 – 1940). Universidade de São Paulo, 2016.

LOBATO, Monteiro. O bombardeio de São Paulo. Obras Completas, vol. 6. São Paulo : Editora Brasiliense, 1946.

O Estado de São Paulo

Schiavinatto, Iara. Séries Fotográficas narram um evento: 1924/São Paulo. Revista Stadium, número 8, 2002.

Site Enciclopédia Itaú Cultural 

Site Family Search

Site IMS

Site Itú

WANDERLEY, Andrea C. T. Aspectos de Poços de Caldas impressos no papel fotográfico fabricado pelo pioneiro Conrado Wessel (1891 – 1993) in Brasiliana Fotográfica, 7 de abril de 2022

ZERWES, Erica. Suvenires da destruição: a Revolução de 1924 por Barros Lobo e Gustavo Prugner in Conflitos: fotografia e violência política no Brasil, 1889 -1964. Rio de Janeiro : Instituto Moreira Salles, 2017.

 

Cronologia de Gustavo Prugner (1884 – 1931)

Cronologia de Gustavo Prugner (1884 – 1931)

 

 

1884 – Gustavo Prugner nasceu em 5 de julho de 1884, em São Bernardo do Campo, em São Paulo.

1889 –  Em Joinville, Santa Catarina, em 18 de outubro de 1889, nascimento de Lina Hagemann (1889 – 1981), sua futura esposa.

Início do século XX – Prugner tornou-se fotógrafo e laboratorista quando ganhou uma das câmeras 13 x 18 cm distribuídas em uma ação promocional da loja de artigos fotográficos de Guilherme Wessel (1862 -1940), pai do inventor e empreendedor Conrado Wessel (1891 – 1993). Guilherme foi colega de Prugner na Escola Alemã.

Em São Paulo, Prugner foi, assim como o alemão Theodor Preising (1883 – 1962) e o suíço Guilherme Gaensly (1843 – 1928), um importante editor de cartões-postais, uma forma de circulação de imagens que, desde meados do século XIX, contribuiu para popularizar a fotografia. Organizava álbuns a partir de fotos de sua autoria e de outros fotógrafos. Suas imagens eram marcadas pelas iniciais GP. Foram publicadas em revistas ilustradas como a Careta e a Revista da Semana e também em jornais, porém nem sempre com sua autoria identificada.

1906 – Foi eleito segundo tesoureiro da primeira diretoria do Club Quatro de Agosto, fundado em São Bernardo do Campo (Correio Paulistano, 15 de agosto de 1906, segunda coluna).

1911 – Em 7 de fevereiro,  nascimento de Edgar (1911 – 1984), seu primeiro filho com Lina Hagemann (1889 – 1981).

1912 -  Em 26 de abril, nascimento de seu segundo filho com Lina Hagemann, Mário (1912 – 1993).

1924 – Foi o autor de um dos mais importantes conjuntos de fotografias sobre a Revolta Paulista de 1924, iniciada em 5 de julho de 1924, dia em que ele completava 40 anos. Fotografou a destruição causada pelos bombardeios terrificantes realizados pelas tropas leais ao presidente da República, Artur Bernardes  (1875 – 1955), sobre São Paulo – única cidade brasileira já bombardeada por um ataque aéreo. Os bairros mais atingidos foram Belenzinho, Brás, Cambuci, Centro, Ipiranga, Mooca e Vila Mariana. As fotos de Prugner mostravam trincheiras improvisadas, prédios arruinados, ruas, fachadas de casas e incêndios. Seus registros, focados nos efeitos da revolta no cotidiano dos moradores dos bairros mais afetados pela guerra, tiveram grande sucesso comercial.

1925/1928 – Entre esses anos, Prugner produziu um álbum de fotografias, que se encontra na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, retratando o centro de São Paulo e seus bairros limítrofes.

1931 - Gustavo Prugner faleceu, em 4 de dezembro de 1931, em São Paulo.

1936 - Edgar e Mário, seus filhos, continuaram a editar cartões-postais até 1936, quando passaram a trabalhar em tempo integral na primeira fábrica de papel fotográfico da América Latina, a Fábrica Privilegiada de Papéis Fotográficos Wessel, criada em 1921, e que utilizava tecnologia e patente próprias, cujo proprietário era o pioneiro Conrado Wessel (1891 – 1993). 

1981 – Falecimento de Lina Hagemann (1889 – 1981), em 22 de julho de 1981, em Joinville, Santa Catarina.

1984 – Falecimento de seu primogênito, Edgar, em 20 de março de 1984, em Joinville, Santa Catarina.

1993 - No Palácio dos Campos Elíseos, em São Paulo, realização da exposição Memórias Paulistanas – Postais, com trabalhos de Prugner e de Guilherme Gaensly (1843 – 1928), dentre outros fotógrafos (Folha de São Paulo, 8 de julho de 1993). O suíço Gaensly foi, como já mencionado, um dos maiores criadores de cartões-postais de São Paulo entre fins do século XIX e a década de 20.

Em 11 de novembro de 1993, falecimento do segundo filho de Gustavo, Mário, em Joinville, Santa Catarina.

2004 –  Fotos de sua autoria integraram a exposição São Paulo 450 Anos: a imagem e a memória da cidade no acervo do Instituto Moreira Salles, realizada entre 23 de janeiro e 27 de junho de 2004, no Centro Cultural Fiesp (Enciclopédia Itaú Cultural).

2010 – Entre 25 de janeiro e 21 de março de 2010, fotos de sua autoria foram expostas na mostra São Paulo, terra, alma e memória, em comemoração ao aniversário de São Paulo, no Museu Afro Brasil, no Parque do Ibirapuera, sob a curadoria de Emanuel Araújo (1940 – 2022). Outros fotógrafos que integraram a mostra foram Guilherme Gaensly (1843 – 1928), Theodor Preising (1883 – 1962) e Valério Vieira (1862 – 1941)  (O Estado de São Paulo, 19 de março de 2010).

2017 /2018 – Fotos produzidas por Prugner sobre a Revolta Paulista de 1924 fizeram parte da exposição Conflitos: fotografia e violência política no Brasil 1889-1964, realizada no Instituto Moreira Salles do Rio de Janeiro, entre 25 de novembro de 2017 e 25 de fevereiro de 2018; e, no IMS-SP, entre 8 de maio e 29 de julho de 2018e do livro homônimo, lançado em 14 de dezembro de 2017, no auditório do IMS-Rio.

“Com um panorama de imagens de guerras civis, revoltas e outros episódios de confronto envolvendo o Estado brasileiro, “Conflitos” aborda o papel das imagens fotográficas nesses eventos, seu uso político e suas formas de circulação. São trabalhos de autores conhecidos, como Juan Gutierrez e Flávio de Barros, e de inúmeros anônimos, amadores ou profissionais, nos mais diversos suportes, montando um painel heterogêneo sobre as práticas fotográficas no Brasil ” (IMS).

2019 -  Entre 26 de outubro de 2019 e 15 de março de 2020, realização, na Casa da Imagem, em São Paulo, da exposição Sob ataque, idealizada pelo Coletivo Garapa, realizada com apoio do Edital de Apoio à Criação e Exposição Fotográfica da Secretaria Municipal de Cultura que reuniu 24 imagens de diferentes acervos. Uma das imagens de destaque da mostra foi a dos estragos que uma explosão havia feito em uma casa na rua Helvetia, n°2 , de autoria de Prugner (Guia das Artes).

 

 

“O trabalho explora as tensões históricas que se acumulam e transformam a paisagem da zona central de São Paulo a partir de uma fotografia feita por Gustavo Prugner por ocasião da Revolução de 1924″  (Site Garapa).

2022 - Entre 18 de março e 18 de maio de 2022, realização da exposição Sob Ataque, no Instituto Pavão Cultural em Campinas (campinas.com.br).

Em 3 de junho de 2022, a mostra foi inaugurada no Centro Cultural da Vila, em Ilhabela (SP) (Tribuna do Povo, 30de maio de 2022).