“Complemento indispensável…

 

 

 

 

…a toda biblioteca bem organizada”. Assim o bibliotecário João de Saldanha da Gama (desde 1822, designava-se assim a autoridade maior da Biblioteca Nacional) qualificou a antiga Seção de Estampas da instituição, em seu prefácio ao Catálogo da Exposição Permanente dos Cimélios da Biblioteca Nacional, publicado sob a sua direção em 1885.

Nesse catálogo, a parte referente às estampas ficou a cargo de José Zephyrino de Menezes Brum, chefe daquela seção desde 1876, quando foi posto em execução um plano de reforma da instituição a partir do qual “a Seção de Estampas […] começa a ter existência e história próprias […].”

Estamos no ano de 1885 e a Biblioteca Nacional já estava instalada no endereço da rua do Passeio desde 1858, quando se concluiu a mudança,“sem estrago nem perda”, desde seu primeiro endereço, no edifício do antigo Hospital do Carmo. Em 1881, abrira-se a grandiosa e inesquecível Exposição de História do Brasil, produzida sob a batuta do dirigente anterior, o barão de Ramiz Galvão e o pensamento curatorial de outro barão, Homem de Mello.

 

 

Desenvolvia-se então, no acervo de imagens, um trabalho apaixonado, apesar de todas as dificuldades impostas pela conjuntura – atividades estas, em certa sintonia com as que ocorriam nas bibliotecas nacionais da França e da Áustria e no Museu Britânico. Menezes Brum lamentava que “as acanhadas proporções do edifício em que funciona a Biblioteca Nacional não permitiram que a Seção de Estampas fosse melhor acomodada, pois que lhe couberam em partilha apenas duas pequenas salas do 3o andar, mal mobiliadas e insuficientes para as suas necessidades e serviços.” E “as riquezas da nossa coleção iconográfica continuavam desconhecidas, tanta era a quantidade que delas havia”, ele observava.

Mas a exposição permanente das estampas, um sonho antigo de Ramiz Galvão, haveria de acontecer, sob a direção geral de Saldanha da Gama. O chefe das estampas era um obstinado: “era preciso escolher, escolher sempre, examinar, comparar, tornar a comparar, até que as jóias, por seu pequeno número, e por mais preciosas, se pudessem acomodar nas caixas que lhes estavam destinadas.”

 

 

Depois de pronta a exposição permanente, o fotógrafo Antonio Luiz Ferreira, o mesmo que realizou as memoráveis fotografias das manifestações populares havidas após a assinatura da Lei Áurea – como aquela em que Machado de Assis aparece na missa celebrada no campo de São Cristóvão – foi contratado para documentar o edifício sede da Biblioteca Nacional, onde a instituição permaneceu até 1910.

O resultado está em dois álbuns; um, com as cópias em papel albuminado e outro, com as cópias produzidas em platina, que apresentam melhores atributos de estabilidade e permanência e figuram nesta galeria. As capas estão sofridas – ainda que o miolo, sua essência, resista bravamente – e refletem uma história. Muito nos revelam as suas imagens, admirável exemplo da fotografia de arquitetura praticada na época e – por que não dizê-lo – da fotografia museográfica, gênero proposto por Fox Talbot e inaugurado possivelmente no British Museum, por Roger Fenton.

O dia 29 de outubro é data a ser sempre lembrada. Hoje, quando a nossa Biblioteca Nacional comemora 205 anos de existência, essa instituição e o Instituto Moreira Salles, criadores deste portal, trabalham no sentido de acolher as primeiras das novas instituições que passarão a integrar a Brasiliana Fotográfica – cujo modelo de gestão pretende-se inclusivo, democrático e em dia com as principais questões referentes aos acervos de fotografia brasileira.

Menezes Brum concluiu assim o seu texto sobre as estampas no catálogo da célebre exposição: “Praza a Deus que curiosos e entendidos acolham este tentame da Biblioteca Nacional com benevolência e tirem dele o gozo e proveito que da sua realização possam advir.” Pois assim seguimos neste esforço coletivo para fazer da Brasiliana Fotográfica um espaço que suscite o aprendizado, a reflexão e o debate. E que seja, também, um espelho da Nação Brasileira.

Rio de Janeiro, 29 de outubro de 2015.

Joaquim Marçal Ferreira de Andrade
Curador, pela Biblioteca Nacional, do portal Brasiliana Fotográfica

 

 

Explore mais fotos da Biblioteca Nacional na Brasiliana Fotográfica

O editor e fotógrafo suíço Georges Leuzinger (1813 – 1892)

Retrato de George Leuzinger por Insley Pacheco, c. 1863

Retrato de Georges Leuzinger por Insley Pacheco, c. 1863 / Acervo IMS

Georges Leuzinger (1813-1892) nasceu em Mollis, cidade do cantão de Glarus, na Suíça, e foi um dos mais importantes fotógrafos e difusores para o mundo da fotografia sobre o Brasil no século XIX, além de pioneiro das artes gráficas no país. Grande empreendedor, montou um sofisticado e diversificado complexo editorial, a Casa Leuzinger, que se tornaria um polo de publicações e de produções fotográficas, alçando o Brasil ao mesmo nível da produção europeia do setor.

A Casa Leuzinger era formada por oficinas de litografia, encadernação e fotografia, além de papelaria, tipografia e estamparia de livros e gravuras. Foi referência em artes gráficas, impressão e divulgação de gravuras e fotografias.  Além de produzir suas próprias imagens, o estabelecimento comercializava obras de fotógrafos como Marc Ferrez (1843 – 1923) e Albert Frisch (1840 – 1918) , entre outros.

Como fotógrafo, Leuzinger realizou, durante a década de 1860, apenas cerca de 20 anos após a invenção da daguerreotipia, um importante e pioneiro trabalho de documentação do Rio de Janeiro, incluindo cenas urbanas, vistas de Niterói, da Serra dos Órgãos e de Teresópolis.

Georges Leuzinger chegou ao Rio de Janeiro, em 1832, aos 19 anos, falando apenas alemão, para trabalhar na firma de comissões e exportações de seu tio Jean-Jacques Leuzinger. Foi, em 1840, quando a firma de seu tio faliu, que ele iniciou seu próprio negócio. Nesse mesmo ano, em 27 de novembro, casou-se com Anne Antoinette du Authier (1822-1898), conhecida como Eleonore, na igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro. O casal teve 13 filhos.

Em 1845, a Casa Leuzinger publicou o Panorama circular da baía de Guanabara, em 6 partes, com litografias do francês Alfred Martinet (1821 – 1875). São as primeiras estampas por ele editadas. Leuzinger editou também vários jornais em alemão redigidos, segundo Ernesto Senna (1858 – 1913) em O velho commercio do Rio de Janeiro, de 1908, “por alguns revolucionários e socialistas que a revolução de 1848 havia feito fugir da Europa”. Ainda, segundo este autor, encarregou alguns desses forasteiros, que muitas vezes eram também artistas, de produzir imagens do Brasil e de seus costumes populares. Essas imagens eram adquiridas pelos estrangeiros que passavam pelo Brasil.

 

Ernesto Senna / O Rio de Janeiro do meu tempo, de Luiz Edmundo

Ernesto Senna / O Rio de Janeiro do meu tempo, de Luiz Edmundo

 

Na década de 1860, a Casa Leuzinger criou uma seção de fotografia, provavelmente dirigida por Franz Keller-Leuzinger (1835-1890), que era casado com uma das filhas de Leuzinger, Sabine Christine. Segundo Pedro Vasquez, Leuzinger foi “o primeiro marchand de fotografias do Brasil. Isso no sentido de distribuidor de fotografias e não no sentido moderno que damos ao termo, de galerista”. Possivelmente, o jovem Marc Ferrez (1843-1923) recebeu seus primeiros ensinamentos de fotografia de Franz Keller, na Casa Leuzinger. Em 1867, o trabalho do ateliê fotográfico de Leuzinger ganhou uma Menção Honrosa na Exposição Universal de Paris, com um panorama tomado da ilha das Cobras. Foi a primeira premiação internacional do Brasil em fotografia. No mesmo ano, Franz Keller, seu genro, e Joseph Keller, pai de Franz, foram encarregados pelo governo brasileiro para fazer os estudos preparatórios para a construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré. Leuzinger enviou, com eles, o fotógrafo alemão Christoph Albert Frisch (1840 – 1918), que trabalhava em seu ateliê. Dois anos depois, a Casa Leuzinger publicou o catálogo Resultat d’une expédition phographique sur le Solimões ou Alto Amazonas et Rio Negro, com as fotografias produzidas pelo fotógrafo alemão Christoph Albert Frisch (1840 – 1918) durante essa viagem à Amazônia.

O Catálogo da Exposição de História do Brasil, especialmente editado por Leuzinger para o evento realizado entre 1881 e 1882 pela Biblioteca Nacional, foi considerado pelo historiador José Honório Rodrigues (1913-1987) “o maior monumento bibliográfico da história do Brasil até hoje erguido”. Outros importantes trabalhos que editou foram uma série de fotografias da Amazônia de autoria do fotógrafo alemão Albert Frisch, o álbum Rio de Janeiro et ses environs, c. 1868, Caminho de Ferro de D. Isabel, 1875, dentre dezenas de outros.

 

 

 

Acessando o link para as fotografias de Georges Leuzinger disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Cronologia de Georges Leuzinger (1813 – 1892)

 

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Georges Leuzinger. Folha de rosto do Álbum Rio de Janeiro e seus Arredores, c. 1868 / Acervo IMS

 

1813 – Georg Leuzinger nasceu, em 31 de outubro, no cantão de Glarus, na cidade suíça de Mollis, filho de Georg Leuzinger e Sabine Laager. Posteriormente, já no Brasil, adotou para seu nome a grafia francesa Georges.

1817 - Nasceu o único irmão de Leuzinger, Johannes, em 31 de dezembro.

1822 – Nasceu em Saint-Léonard, na França, a futura esposa de Georges Leuzinger, Anne Antoinette du Authier (1822-1898), filha do visconde Du Authier e de Marie-Anne Mounier. Curiosamente, era chamada de Eleonore pela família.

1832 – Em 30 de dezembro, sozinho, falando apenas alemão e com 19 anos, Leuzinger desembarca no Rio de Janeiro, após uma viagem de 54 dias desde o porto de Havre. No Diário do Rio de Janeiro, 2 de janeiro de 1833, terceira coluna, foi noticiada a chegada Bergantim Francez Les Drigas, que trouxe ao Brasil 56 suíços e oito franceses. Vem para trabalhar na Leuzinger & Cia, firma de exportação e importação que pertencia a seu tio, Jean-Jacques Leuzinger. Links para notícias de negócios realizados pela firma do tio: Diário de Rio de Janeiro, 3 de fevereiro de 1837, na primeira coluna, sob o título “Entradas no dia 31″; O Paquete do Rio, de 27 de maio de 1837, terceira coluna, sob o título “Entradas do dia 26 de maio”; Pharol do Imperio, de 20 e julho de 1837, sob o título “18 de julho – De portos estrangeiros”; O Sete d´abril, de 14 de março de 1839, na primeira coluna).

1839 – Eleonore, futura esposa de Leuzinger, veio morar no Brasil com a irmã, a baronesa de Geslin, dona  do Colégio de Meninas Francês, Português, no Rio de Janeiro. Posteriormente, Eleonore lecionou e dirigiu o estabelecimento.

1840  A firma do tio de Leuzinger foi liquidada.

Leuzinger comprou do também suíço Jean Charles Bouvier a papelaria e encadernação “Ao Livro Encarnado”, na rua do Ouvidor, 36, e abriu seu próprio negócio, em 1º de julho (Jornal do Commercio, 22 de julho de 1840, na terceira coluna). Ao longo das décadas seguintes, com a ampliação de seus negócios, tornou-se proprietário das seguintes firmas: Estamparia de G.Leuzinger, Litografia de G. Leuzinger e Officina Photographica de G.Leuzinger. Reunidas sob a marca G. Leuzinger, eram conhecidas como Casa Leuzinger.

Em 24 de novembro, Leuzinger e Eleonore se casaram, na igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro. O casal, entre 1842 e 1862, teve 13 filhos: Sabine Christine (1842-1915), Anne Marie (1843-1911), Georges Henri (1845 -1908), Mathilde (1846-?), Eugenie (1847-?), Jean Edmond (1848-1916). Victor Ulrich (1849-1877), Léonie Emilie (1851-?), Gabrielle Marie (1853-1869), Paul Alphonse (1855-1927), Elise Georgianne (1856-1927), Georges (1858-1905), e Jules Adolf (1862-1889).

Anunciou a venda de “álbuns, pastas e carteiras de veludo e marroquim dourado, do gosto mais moderno de Paris; caixinhas ricas, contendo papéis diversos com cercaduras pintadas, para bilhetes de convites e cartas para senhoras, com todos os pertences de escrever e outros para pintura e desenho” (Jornal do Commercio, de 28 de dezembro de 1840, na terceira coluna).

1841- Anúncio da Leuzinger, com o endereço da rua do Ouvidor, 36, sobre a venda da Galeria Contemporânea Brasileira ou Colecção de Trinta Retratos de Brasileiros Célebres, desenhados e publicados pelo pintor e fotógrafo francês radicado no Rio de Janeiro, François-René Moreau (1807-1860) (O Despertador, 7 de outubro de 1841, na segunda coluna, sob o título “Annuncios”).

1842 - Leopoldo de Geslin, provavelmente o barão de Geslin, casado com a irmã de Leuzinger, tornou-se seu sócio (Jornal do Commercio, de 10 de maio de 1942, na primeira coluna sob o título “Objectos diversos”). Poucos meses depois, a sociedade terminou (Jornal do Commercio, de 5 de agosto de 1842, na terceira coluna).

1845 – Com litografias do francês Alfred Martinet (1821 – 1875), foram  publicadas as primeiras estampas editadas por Leuzinger, o Panorama circular da baía de Guanabara ( Jornal do Commercio, de 5 de março de 1845, na terceira coluna).

1846 – Leuzinger comprou a estamparia que pertencia a Eduardo Hulsemann (Jornal do Commercio, de 16 de janeiro de 1846, na primeira coluna).

1849 - O único irmão de Leuzinger, Johanes, mudou-se para Muscatine, no estado de Iowa, nos Estados Unidos.

Em parceria com o gravador (abridor) alemão R. Bollenberg, Leuzinger inaugurou uma oficina de estamparia. Oferecia, assim, dois serviços: o da “abrição”, que é a gravação da chapa em metal, e a sua impressão, função da estamparia (Jornal do Commercio, de 12 de julho de 1849, na segunda coluna).

Leuzinger publicou três projetos editoriais: um panorama da cidade, tomado do Corcovado em três partes; um conjunto de paisagem natural e outro de vistas da cidade. Este último foi impresso pela Maison Lemercier, em Paris.

1852 – Leuzinger comprou do francês Jean-Sébastian Saint-Amand uma tipografia, que ficava na rua São José, 64 (Jornal do Commercio, de 3 de novembro de 1852, na primeira coluna).

1853 - Leuzinger comprou uma oficina de litografia.

A Casa Leuzinger publicou o periódico semanal O Emigrado Alemão – Órgão para a colonização, Literatura, Ciências e Política  (Jornal do Commercio, de 18 de junho de 1853, na última coluna). 

A partir de daguerreótipos, Leuzinger publicou um conjunto de litografias da cidade do Rio de Janeiro. Anunciou no Jornal do Commercio, de 24 de dezembro de 1853, que as imagens poderiam ser “entregues em Paris, Londres, Hamburgo e Lisboa, conforme a vontade dos subscritores” (no topo da última coluna).

1854 - Imprimiu o periódico Courrier du Brésil, 5 de novembro de 1854..

1855 – Nasceu o décimo filho de Leuzinger, Paul, que teve como padrinho o pintor, escritor e jornalista dinamarquês Paul Harro-Harring (1798–1870)*, que foi um dos maiores ativistas e revolucionários europeus do século XIX. Era amigo de Leuzinger e esteve várias vezes no Brasil: em 1840, para denunciar a violência da escravidão; em 1842 e entre os anos de 1854 e 1855 como refugiado político (Correio Mercantil, de 21 de outubro de 1855, na terceira coluna, sob o título “Saíram ontem desse porto”) .

1856 - Foi aberta a oficina para escrituração da Casa Leuzinger.

1857 – Em dezembro, passou a imprimir o periódico Rio Commercial Journal.

1858 – Segundo registrado no volume XI dos Anais da Biblioteca Nacional, nesse ano, Leuzinger importou dos Estados Unidos “os primeiros prelos e tipos americanos, com que operou uma completa transformação na indústria tipográfica brasileira” (Annaes da Biblioteca Nacional, volume XI, de 1883).

1861 - Seus filhos Edmond e Victor foram estudar na Basiléia, na Suíça.

Leuzinger participou da Exposição Nacional com dois trabalhos na classe “Impressão, encadernação e objetos de escritório”. Recebeu a medalha de prata referente a “Livros grandes de encadernação”.

1862 – Leuzinger participou, pela primeira vez, de uma mostra internacional, a Exposição Universal de Londres.

Após  temporada de estudo, seu filho mais velho, Georges Henri, retornou da Europa e foi trabalhar na empresa do pai. Seria o gerente da Casa Leuzinger por mais de 40 anos.

Leuzinger ganhou a medalha de prata na categoria “Indústria fabril e manual”, da Exposição Nacional (Correio da Tarde, de 16 de março de 1862, na quinta coluna, sob o título “Collaboração”).

1865 – Foi aberto o ateliê de fotografia da Casa Leuzinger, especializado em “vistas da cidade, Tijuca, Petrópolis, Teresópolis e rio Amazonas”, como se lê no verso de uma de suas cartes de visite.

Em 1865 montou então Georges Leuzinger um completo ateliê fotográfico, com todos os aparelhos necessários para viagens para o interior do Brasil, tendo para esse fim contratado um habilíssimo artista fotógrafo para dirigi-lo, que em companhia de vários auxiliares fizeram excursões por essa capital, Petrópolis, Teresópolis, etc., tirando fotografias de tudo o que de mais interessante se encontra na pujante natureza daquelas blíssimas regiões“.

Ernesto Senna em O Velho Comércio do Rio de Janeiro

Algumas obras apontam que seu futuro genro, Franz Keller, trabalharia em seu ateliê fotográfico e que teria sido professor, no ateliê, do fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), recém chegado da França. Mas esses fatos nunca foram comprovados. Na verdade, durante a década de 1860, Keller ficou bastante ocupado com trabalhos na área de engenharia que realizou com seu pai, o também engenhero Joseph Keller.

1865 a 1875 – Nesse período, Leuzinger realizou a maior e mais importante parte de sua produção fotográfica, que pode ser dividida em cinco séries principais: panoramas e paisagens da cidade do Rio de Janeiro e de seu entorno imediato, vistas de Niterói, vistas da Serra dos Órgãos de Teresópolis e Petrópolis, documentação botânica e documentação etnográfica, botânica e paisagística da região amazônica.

1866 – Seus filhos, Victor e Edmond, já estavam no Brasil trabalhando em seu ateliê fotográfico.

De 19 de outubro a 16 de dezembro de 1866, realizou-se a II Exposição Nacional. A fotografia apareceu pela primeira vez como categoria específica, separando-se do grupo destinado às Belas Artes. Leuzinger ganhou a medalha de prata na categoria “Paisagem”, com nove vistas da cidade e arredores (Semana Illustrada, de 18 de novembro de 1866). Seu trabalho chamou a atenção do pintor Victor Meirelles (1833-1903) que comentou:

“Os trabalhos fotográficos desse senhor primam pela nitidez, vigor e fineza dos tons e também por uma cor muito agradável. Pode-se dizer desses trabalho, que são perfeitos, pois que representam fielmente com todas as minudências os diversos lugares pitorescos de nosso característico país. Algumas provas são obtidas com tanta felicidade que parece antes um trabalho artisticamente estudado e que neste ponto rivalizam com a mais perfeita gravura em talhe doce; direi que estas provas poderiam perfeitamente servir de estudo aos artistas que se dedicam a arte bela da pintura de paisagens. As formas são ali reproduzidas com toda a fidelidade da perspectiva linear, e o que sobretudo torna-se ainda mais digno de atenção é a perspectiva aérea, tão difícil de obter-se na fotografia sem grande alteração.

Aquela gradação dos planos que tão bem se destacam entre si e vão gradualmente desaparecendo no horizonte até o último é obtida de modo a não ter-se mais que desejar, sendo nesta parte notáveis as seguintes vistas:

Gavia do lado da Tijuca, Vale do Andarahy, Montanha dos Órgãos vista da barreira, Vista da Praia Grande, A planície abaixo da cascata na Tijuca, O rochedo de Quebra Cangalhas, Panorama da cidade do Rio de Janeiro, Montanha dos Órgãos do lado de Teresópolis, O Garrafão, e muitas outras que deixaremos de mencionar”.

1867 -Sua filha Sabine Christine  (1842-1915) casou-se com Franz Keller (1835-1890), que passou a assinar Franz Keller-Leuzinger.

Franz e seu pai, o também engenheiro Joseph Keller, foram encarregados pelo governo brasileiro de fazer os estudos preparatórios para a construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré. Leuzinger enviou, com eles, o fotógrafo alemão Christoph Albert Frisch (1840 – 1918), que trabalhava em seu ateliê. Partiram em 15 de novembro (Diário do Povo, de 15 de novembro de 1867, na primeira coluna).

Albert Frisch acompanhou os engenheiros somente até Manaus … percorreu 400 léguas pelo rio Amazonas e seus afluentes durante 5 meses…, num barco acompanhado por dois remadores, desde Tabatinga até Manaus. Produziu, na ocasião, uma pioneira série de 98 fotografias com os primeiros registros que chegaram até nós de índios brasileiros da região, além de aspectos de fauna e flora e de barqueiros de origem boliviana, que atuavam como comerciantes itinerantes nos rios amazônicos. Segundo o livro de Ernesto Senna, O velho commercio do Rio de Janeiro, a expedição fotográfica de Frisch à Amazônia foi fruto de uma solicitação feita pelo suíço Louis Agassiz (1807 – 1873) a Leuzinger.

Satisfazendo ao pedido de Agassiz, fez Leuzinger tirar vistas até Tabatinga, na fronteira do Amazonas com a República do Peru, vistas que serviram não só para os trabalhos científicos daqule sábio, como também para ilustrações europeias. Quando o engenheiro Keller foi em comissão explorar os rios Madeira e Mamoré, Georges Leuzinger mandou um fotógrafo d casa acompanhar a expedição, que trouxe depois daquelas incomparáveis regiões graande cópia de clichês, da flora, da fauna, de paisagens, e fotograafias de silvícolas e de suas tabas, aldeamentos, instruentos, armas, etc. Estas coleções, de graande valor para estudos etnográficos, eram muito interessantes sob qualquer ponto de vista e muito procuradas por viajantes estrangeiros”.

Agassiz havia, entre 1865 e 1866, comandado a Comissão Thayer no Brasil, que percorreu boa parte do território brasileiro entre o Rio de Janeiro e a Amazônia, viagem que deu origem ao livro A journey in Brazil, editado em Boston, em 1868. A comissão foi financiada pelo empresário e filantropo norte-americano Nathaniel Thayer, Jr. (1808-1883), ex-aluno de Agassiz no Museu de Zoologia Comparada, em Harvard.

Vale lembrar que Charles Frederick Hartt (1840 – 1878), o futuro chefe da Comissão Geológica do Império (1875 – 1878), integrada pelo fotógrafo Marc Ferrez (1843-1923), participou da Comissão ou Expedição Thayer – foi a primeira vez que esteve no Brasil.

Leuzinger adquiriu a loja número 33 da rua do Ouvidor, posteriormente renumerada para 31, onde passou a funcionar sua papelaria.

O trabalho do ateliê fotográfico de Leuzinger ganhou uma Menção Honrosa na Exposição Universal de Paris, com um panorama tomado da ilha das Cobras. Foi a primeira premiação internacional do Brasil em fotografia.

O imperador Pedro II (1825 – 1891) pediu a Leuzinger que fotografasse o quadro Os funerais de Atahualpa, do pintor peruano Luiz Montero (1826-1869), que estava fazendo uma exposição no Rio de Janeiro (Jornal do Commercio, de 1º de setembro de 1867, sob o título “Gazetilha”, na sexta coluna).

1869 – A filha de Leuzinger, Gabrielle Marie (1853 – 1869), faleceu em 23 de abril de 1869 (Jornal do Commercio, 29 de abril de 1869, última coluna).

Após sua morte, ela estava quase sorridente, uma figura de anjo e tão branca quanto os lençóis de seu leito. Franz Keller fez seu retrato de perfil para nosso espanto o perfil perfeito de Mathilde quando tinha sua idade, 16 anos, 6 dias e 21 horas e meia” (Carta de Georges Leuzinger para seu filho Paul, que estava vivendo na França, de 2 de junho de 1969).

A obra Flora Brasiliensis, iniciada por Carl Friedrich Phillip von Martius (Erlanger, Alemanha, 1794 – Munique, Alemanha, 1868), renomado naturalista do século XIX, e concluída pelos também alemães August Wilhelm Eichler (1839 – 1887) e Ignatz Urban (1848 – 1931), com a ajuda de 65 especialistas de vários países, foi publicada entre 1840 e 1906. A imagem Silva Montium Serra dos Orgâos Declivia Obumbrans, in Prov. Rio de Janeiro, publicada no fascículo de 1869, foi baseada em uma fotografia de Leuzinger.

 

 

Publicação do catálogo Resultat d’une expédition phographique sur le Solimões ou Alto Amazonas et Rio Negro, com as fotografias produzidas pelo fotógrafo alemão Christoph Albert Frisch (1840 – 1918) durante sua viagem pela Amazônia, em 1867.

 

 

1872 – A Casa Leuzinger estava em seu auge. Já tinha recursos como 19 mil quilos de tipos americanos para impressão, um motor a gás com potência de quatro cavalos e dez prelos mecânicos, além de empregar 50 funcionários (Annaes da Biblioteca Nacional, volume XI de 1883).

Em julho, Franz Keller (1835-1890) estava na Suíça.

Em 1º de novembro, concedeu aos três filhos mais velhos a sociedade na Casa Leuzinger, passando a firma a se chamar G. Leuzinger & Filhos (Jornal do Commercio, de 8 de maio de 1873, na segunda coluna).

1873 – Leuzinger voltou pela primeira vez à Europa.

A Casa Leuzinger  ocupava um prédio de três andares da rua Sete de Setembro, 35, além do segundo andar do número 37 da mesma rua. Nesses endereços funcionavam as oficinas de pautação, encadernação, douração, e livros para escrituração. A tipografia continuava na rua do Ouvidor, 36.

Com dois panoramas litografados do Rio de Janeiro, Leuzinger participou da Exposição Nacional. Ganhou Menção Honrosa na Exposição Universal de Viena nas duas categorias em que enviou trabalhos: “Fotografia” e “Livros de contabilidade e encadernação”.

1874 – Seu genro e funcionário, Franz Keller (1835-1890) que já havia retornado à Alemanha, publicou o livro ilustrado Do Amazonas ao Madeira (Jornal do Commercio, de 31 de janeiro de 1874, na última coluna).

 

 

Polêmica em torno da vitória de Leuzinger em uma concorrência para a impressão de trabalhos da repartição geral de estatística (Jornal do Commércio, 1º de setembro, na última coluna; dois artigos no dia 2 de setembro, na quinta coluna da primeira página e na terceira coluna da segunda página; de 3 de setembro, na última coluna; de 4 de setembro, na sexta coluna; e de 5 de setembro, na terceira coluna).

Provavelmente nesse ano, Leuzinger imprimiu o Censo Geral do Império, de 1872, o primeiro da história do Brasil.

1875 – Seu filho Edmond casou-se com Leocádia de Faria e passou a trabalhar na firma do sogro, a Faria, Cunha e Cia.

A Casa Leuzinger participou da IV Exposição Nacional com um álbum composto de quatro fotogravuras impressas pela Casa Goupil, de Paris, e com fotografias de índios e paisagens da Amazônia.

1876 – A Casa Leuzinger participa da Exposição Universal da Filadélfia com material de encadernação. Imprime o primeiro volume dos Anais da Bibliotheca Nacional .

1878 a 1879 - Publicou O Besouro, jornal que trazia litografias impressas a vapor por Ângelo Agostini (1843 – 1910) e Paul Théodore Robin (? – 1897), a maioria de autoria do português Bordalo Pinheiro(1846 – 1905).

1881 – Para preservar seu trabalho como editor de estampas, Leuzinger doou para a Seção de Iconografia da Biblioteca Nacional um conjunto de 114 imagens de gravuras e desenhos.

No Rio Grande do Sul, a Casa Leuzinger participou da Exposição Provincial Brasileira-Alemã.

1882 – Foi realizada a Exposição Continental de Buenos Aires, com a participação da Casa Leuzinger.

1885 - Leuzinger participou da Exposição Internacional de Antuérpia. Foi fundada, em 23 de novembro, a Sociedade Beneficente dos Empregados da Casa Leuzinger.

1889 – A Casa Leuzinger participou da Exposição Universal de Paris.

1892 – Georges Leuzinger morreu em 24 de outubro (Gazeta de Notícias, 25 de outubro de 1892, na quinta coluna e Revista Illustrada, novembro de 1892, na terceira coluna). A família agradeceu às manifestações de pesar (O Tempo, 27 de outubro de 1892, no topo da quarta coluna).

1898 – Morte de Eleonore Leuzinger (Gazeta de Notícias, de 18 de outubro de 1898, no topo da quinta coluna).

Para a elaboração dessa cronologia, a Brasiliana Fotográfica pesquisou em várias fontes, principalmente no Cadernos de Fotografia Brasileira – Georges Leuzinger, do Instituto Moreira Salles, e em diversos jornais da Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

*Para conhecer mais sobre Paul Harro-Harring, acesse o artigo Paul Harro-Harring, um viajante abolicionista, publicado em 18 de outubro de 2013, na Brasiliana Iconográfica.

 

Bibliografia

Cadernos de Fotografia Brasileira – Georges Leuzinger, IMS. Rio de Janeiro: Bei Comunicação, junho de 2006.

COSTA FERREIRA, Orlando da. Imagem e letra: introdução à bibliologia brasileira: a imagem gravada. São Paulo: Edusp, 1994.

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002. 408 p., il. p&b.

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LAGO, Bia Corrêa do;LAGO, Pedro Corrêa do. Os Fotógrafos do Império. Rio de Janeiro: Capivara, 2005. 240p.:il

MEIRELLES, Victor. “Photographia” In BRASIL. Exposição Nacional. Relatório da Segunda Exposição Nacional de 1866, publicado […] pelo Dr. Antonio José de Souza Rego, 1o secretário da Commissão Directora. Rio de Janeiro: Typ. Nacional, 1869, 2ª parte, pp. 158-170

SANSON, Maria Lucia David de; AIZEN, Mario; VASQUEZ, Pedro. O Rio de Janeiro do fotógrafo Leuzinger 1860-1870. Rio de Janeiro: Editora Sextante Artes, 1998.

SENNA, Ernesto. O Velho Comércio do Rio de Janeiro. 2ª edição. Rio de Janeiro: G Ermakoff, 2006.

TURAZZI, Maria Inez. Poses e trejeitos: a fotografia e as exposições na era do espetáculo – 1839/1889 / Maria Inez Turazzi – Rio de Janeiro: Rocco, 1995. 309p. : il

VASQUEZ, Pedro. O Brasil na fotografia oitocentista/ [pesquisa e texto]Pedro Karp Vasquez; [reproduções fotográficas Cesar Barreto, Rosa Gauditano].–São Paulo: Metalivros, 2003.

O pintor Antonio Parreiras (20/01/1860, Niterói, RJ – 17/10/1937, Niterói, RJ)

 

A Brasiliana Fotográfica oferece a seus leitores algumas fotos do niteroiense Antonio Parreiras ( 1860 -1937), um dos maiores pintores brasileiros do final do século XIX e das primeiras décadas do século XX.  Foi justamente em um estabelecimento fotográfico, do português Joaquim Insley Pacheco (c. 1830-1912), um dos mais importantes retratistas do século XIX no Brasil e fotógrafo da Casa Imperial, que Parreiras realizou a sua primeira grande mostra artística, em 27 de maio de 1886 (O Paiz, 28 de maio de 1886, na sétima coluna). Não raramente havia uma colaboração próxima entre pintores e fotógrafos: foi justamento no ateliê de um fotógrafo, Félix Nadar (1820-1910), que foi realizada a primeira exposição dos impressionistas em Paris, entre 15 de abril e 15 de maio de 1874. Na época, os pintores impressionistas, dentre eles Claude Monet, Pierre-Auguste Renoir, Camille Pissarro, Alfred Sisley, Paul Cézanne, Berthe Morisot e Edgar Degas, eram rejeitados pela crítica.

>Antonio Parreiras foi eleito, em 1925, o maior artista do país no Grande Concurso Nacional realizado entre os leitores da revista Fon-Fon (Revista Fon-Fon, 28 de março de 1925). Os segundo e terceiro lugares ficaram para Rodolfo Bernardelli e Baptista da Costa, respectivamente. Em outras categorias, brasileiros ilustres também se destacaram: Epitácio Pessoa, maior estadista; Guiomar Novaes, maior musicista; Coelho Netto, maior escritor; e Leopoldo Froes, maior ator; dentre outros. Mas não foi sempre uma uninimidade: o escritor Lima Barreto (1881 – 1922) o criticou duramente no artigo publicado Os pintores (Correio da Noite,  5 de março de 1915, última coluna).

Em seu ateliê, que hoje faz parte do Museu Antonio Parreiras, em Niterói, inaugurado em 21 de janeiro de 1942,  mandou esculpir em seu pórtico a epígrafe “Trabalhar é viver”. Segundo o próprio Parreiras, ao longo de uma carreira de cerca de 55 anos, realizou 850 pinturas, das quais 720 em solo brasileiro. Inicialmente, dedica-se à paisagem, mas após uma temporada de cerca de dois anos na Europa, entre 1888 e 1890, começa a se interessar pela figura humana. A partir de 1899, executa painéis em alguns palácios e prédios públicos. O renomado pintor Victor Meirelles (1832-1903) o estimula a pintar cenas históricas para o governo. Dentre elas, destacam-se Morte de Estácio de Sá”, “Prisão de Tiradentes” e “Proclamação da República”. Foi também o decorador do Instituto Nacional de Música e do Conservatório de Belo Horizonte.

 

Acessando o link para as fotografias de autoria de Antonio Parreiras disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Cronologia da vida de Antonio Parreiras

 

1860 – Em 20 de janeiro, nascimento de Antonio Diogo da Silva Parreiras, em Niterói. Seu pai era o ourives Jacinto Antonio Diogo Parreiras, e sua mãe era Maria Rosa da Silva Parreiras. Quando criança estudou no Liceu Tintori e no Colégio Guilherme Briggs.

1875 – Com a morte do pai, em 12 de dezembro de 1874, interrompeu seus estudos e começou a trabalhar como balconista no comércio.

1878 – Solicitou inscrição no curso noturno de desenho da Academia Imperial de Belas Artes.

1881- Casou-se com Quirina Ramalho da Silva. Nessa época, empregou-se como escriturário na Estrada de Ferro de Cantagalo, em Nova Friburgo. Tornou-se sócio do sogro em uma sapataria.

1882 - Nascimento de Egídio, primeiro filho do casal, que faleceu 4 meses depois.

1883- Matriculou-se  como aluno amador na Academia Imperial de Belas Artes e estudou com o paisagista Georg Grimm (1846-1887). Realizou sua primeira pintura a óleo: “Meu primeiro estudo a óleo”. Fez duas exposições: uma em sua casa, em Niterói, na rua Santa Rosa, 12; e outra na Casa Moncada, no Rio de Janeiro.

1884 – Executou com Frederico de Barros e Orestes Coliva a pintura do pano de boca do Teatro Santa Teresa, atual Teatro Municipal João Caetano, em Niterói.

Tornou-se aluno efetivo da Academia Imperial de Belas Artes.

Recebeu uma crítica positiva por seus trabalhos expostos em Teresópolis (Gazeta de Notícias, de 15 de dezembro de 1884, na sexta coluna sob o título “Um túmulo no alto da serra de Theresópolis”).

1884 / 1885 - Em decorrência da proibição imposta ao professor Grimm para que não ministrasse suas aulas ao ar livre, Parreiras abandonou a academia com os pintores Giovanni Castagneto (1851 – 1900), Hipólito Boaventura Caron (1862 – 1892), Domingos Garcia y Vasquez (1859 – 1912), Joaquim José de França Junior (1838 – 1890), Francisco Joaquim Gomes Ribeiro (c. 1855 – c. 1900) e Thomas Driendl (1849 – 1919). Formaram então o Grupo Grimm, que representou uma renovação na pintura da paisagem no Brasil.

Nascimento de sua filha, Olga, em 19 de maio.

Parreiras realizou exposições individuais na loja “A Photografia”, em Niterói, e na “Casa de Wilde” e na “Casa Katele”, no Rio de Janeiro. Seus quadros, “Maruhy Pequeno”, “Um lago em S. Vicente” e “Foz do Icarahy’ são elogiados (O Fluminense, 7 de junho de 1885). Também expôs em sua casa, em Niterói.

1886 - Em 27 de maio, inaugurou  sua maior mostra artística, até então, no estabelecimento fotográfico de Joaquim Insley Pacheco, fotógrafo da Casa Imperial, na Rua do Ouvidor, no Rio de Janeiro (O Paiz, 28 de maio de 1886, na sétima coluna) e recebeu a visita do imperador Dom Pedro II. A exposição rendeu-lhe uma crítica do colega França Júnior (O Paiz, 1º de junho de 1886, sob o título “O Paisagista Parreiras”, na quinta coluna). O imperador Dom Pedro II comprou o quadro “Foz do Icarahy”.

Expôs também em Angra dos Reis e em Rezende.

1887 – Encontrou-se pela última vez com Georg Grimm, que retornou à Europa, e faleceu em Palermo, na Itália, em 24 de dezembro.

As obras de Parreiras “A Tarde” e “Efeitos da Tempestade” foram adquiridas pela Academia Imperial de Belas Artes, o que possibilita sua primeira viagem à Europa.

Foi noticiado que seria publicado o primeiro livro de versos de Olavo Bilac, “Via-Láctea”, e que traria na capa um desenho de Parreiras (Novidades, 27 de março de 1887).

A Semana, de 18 de junho de 1887 , publicou uma matéria elogiosa à carreira do pintor.

1888 - Em 27 de janeiro, uma nova exposição na Casa Insley Pacheco, na Rua do Ouvidor, foi inaugurada com 22 estudos de paisagem. Duas foram adquiridas pela própria princesa Isabel: “Ocaso no Arraial” e “Aldeia do Pontal” ( O Paiz, 29 de janeiro de 1888, sob o título “Noticiário“, e Revista Illustrada, 4 de fevereiro de 1888).

Nascimento de sua segunda filha.

Viajou para a Itália (Revista Illustrada, 10 de março de 1888, terceira coluna, última notícia) e durante dois anos frequentou a Academia de Belas Artes de Veneza, tornando-se discípulo de Filippo Carcano (1840-1910).

Em 17 de março, foi publicado na Pacotilha, uma poesia de Rodrigo Otávio dedicada a Parreiras. Expõs, com sucesso, um quadro que retratava um campo romano, no Salão Permanente de Belas Artes em Veneza.

Foi noticiado que uma fotografia da referida obra seria exposta em breve na galeria Leite Ribeiro, na rua do Ouvidor (Gazeta de Notícias, 19 de agosto de 1888, na sexta coluna).

Um artigo da Gazeta de Notícias elogiava fotografias de obras de Parreiras, que ainda estava em Veneza, e citou críticas favoráveis ao artista feitas por jornais italianos (Gazeta de Notícias, 27 de dezembro de 1888).

1889 – Nos salões do sr. Narciso e Artur Napoleão, com sucesso, foram expostos dez pinturas enviadas por Antonio Parreiras, de Veneza (Gazeta de Notícias, 20 de fevereiro de 1889, na sétima coluna, e Gazeta de Notícias, de 24 de fevereiro de 1889, quarta coluna), que foi visitada pelo conde d´Eu, marido da princesa Isabel (Gazeta de Notícias, 10 de março de 1889, última notícia da terceira coluna).

1890 – Em 5 de janeiro, retornou ao Brasil.

Foi nomeado professor interino na cadeira de Paisagem na Academia de Belas Artes e adotou o método de ensino do professor Grimm (Novidades, 7 de junho de 1890, sexta coluna, última notícia).

Ganhou medalha de ouro na Exposição Geral de Belas Artes (Cidade do Rio, 10 de outubro de 1890, quarta coluna, última notícia).

1891- Rompeu com a Academia Imperial de Belas Artes, quando a cadeira de Paisagem foi extinta, devido à reforma curricular proposta por Rodolfo Bernardelli (1852-1931) e Rodolfo Amoedo (1857-1941). Escreveu sobre sua demissão e foi apoiado (Novidades, 27 de janeiro de 1891 e Novidades, 30 de janeiro de 1891). O nome da instituição foi alterado para Escola Nacional de Belas Artes – Enba.

Parreiras foi para Teresópolis e Friburgo.

Fundou, em 6 de julho, em Niterói, a Escola de Pintura ao Ar Livre, seguindo os ensinamentos de Grimm.

1892 - Em maio, comandou uma exposição dos membros da Escola ao Ar Livre, no salão do jornal Cidade do Rio, de José do Patrocínio (1853 – 1905). Das 92 obras exposta, 68 foram vendidas. A mostra foi um sucesso, tendo sido visitada por cerca de 10 mil pessoas, dentre elas os pintores Victor Meirelles (1832 – 1903) e Eliseu Visconti (1866 – 1944) (O Paiz, 30 de maio de 1892, na primeira coluna).

Em agosto, morte de sua filha caçula.

1893 – Em seu ateliê, exposição da pintura Panorama de Niterói.

Realizou outra exposição com os discípulos com o qual formou a Escola de Pintura ao Ar Livre, no salão do jornal Cidade do Rio (Cidade do Rio, 5 de fevereiro de 1893, na quarta coluna).

Em junho, realizou no Salão do Banco União, sua primeira exposição em São Paulo, um grande sucesso de vendas, público e crítica. Foi visitada por cerca de 4 mil pessoas e teve 24, dos 43 quadros expostos, vendidos (Cidade do Rio, 19 de junho de 1893, primeira coluna).

Conheceu o engenheiro e arquiteto Francisco de Paula Ramos de Azevedo (1851-1928), de quem encomenda o projeto de sua residência, atualmente, parte do Museu Antônio Parreiras. Ramos de Azevedo foi o grande construtor da cidade de São Paulo em fins do século XIX e nas primeiras décadas do século XX.

Realizou várias obras encomendadas por fazendeiros paulistas.

1894 –  O general Argollo, comandante-chefe da guarnição de Niterói  visitou o ateliê de Parreiras e admira o quadro Viva a República!, que retratava a esquadra legal, no dia 13 de março de 1894, durante a Revolta da Armada (O Paiz, 6 de abril de 1894).

Parreira terminou o segundo quadro de sua autoria sobre a Revolta da Armada, Bons dias a Villegaignon ( O Paiz, 19 de abril de 1894, na primeira coluna).

Entre 15 e 29 de agosto, realização de outra exposição de sucesso de Parreiras, em São Paulo, desta vez no Club dos Tenentes de Plutão.

No dia 24 de novembro, nascimento de seu filho e pupilo, Dakir (1894 – 1967).

Expôs em São Paulo, na Casa Steidel e no Salão Paulicéia.

As pinturas Panorama de NiteróiPaisagem e Noite foram apresentadas no Pavilhão Brasileiro da Exposição Universal de Chicago ( O Paiz, 11 de janeiro de 1895, penúltima notícia da quinta coluna). Em dezembro, Parreiras, Aurélio Figueiredo (1856 – 1916), Pedro Américo (1843 – 1905) e Victor Meirelles publicaram um manifesto e retiraram suas obras do julgamento do evento.

1894 / 1895 - Como correspondente do Estado de São Paulo escreveu textos críticos sobre diversos pintores, dentre eles Pedro Alexandrino (1856 – 1942) e Berthe Worms (1868 – 1937), e também sobre a reforma de ensino da Escola Nacional de Belas Artes.

1895 – Inaugurou em 11 de agosto sua residência-ateliê, projeto de Ramos de Azevddo, na rua Tiradentes, em Niterói, com a exposição de 45 trabalhos.

Publicou no Jornal do Commercio, um artigo contra a orientação da Escola Nacional de Belas Artes (Jornal do Commercio, 23 de dezembro de 1895, quarta e quinta colunas).

1896 – Após dois anos, terminou a pintura “Sertanejas” (O Paiz, 22 de setembro de 1896, na quinta coluna).

Em novembro, fez uma exposição em seu ateliê com seus alunos Alberto Silva, Cândido de Souza Campos e Álvaro Castanheda no Pavilhão da Lapa, dedicada a Georg Grimm. A mostra foi um sucesso e no seu catálogo constavam poesias e textos de Olavo Bilac (1865-1918) e Coelho Neto (184-1934), dentre outros. Crítica de Oscar Guanabarino ( O Paiz, 6 de novembro de 1896).

1897 – Sua obra Sertanejas foi adquirida pelo governo federal para ser colocada no Palácio do Catete, inaugurado em 22 de fevereiro, no Rio de Janeiro. Três anos depois, a pintura, danificada, foi transferida para a Escola Nacional de Belas Artes.

1898 – Foi contratado pelo presidente da República, Campos Salles (1841 – 1913), para produzir obras para oo Supremo Tribunal Federal.

Realizou suas duas primeiras pinturas históricas: Os Desterrados e Suplício de Tiradentes.

1902 – Expôs 23 telas em Santos.

Criou o estandarte para o jornal O Fluminense.

1903 - Realizou uma exposição de trabalhos de suas alunas, que frequentavam um curso feminino de pintura que criou em seu ateliê no ano anterior ( O Fluminense, 11 de janeiro de 1903).

1905 - Contratado pelo governador do Pará, Augusto Montenegro, Parreiras visitou Belém para executar A conquista do Amazonas (O Paiz, 6 de junho de 1905, na terceira colunaO Paiz, 13 de julho de 1905, segunda coluna). Expôs em Belém, no Teatro da Paz, e, em Manaus, no Palácio do Rio Negro.

Contraiu malária.

1906 - Em fevereiro, segunda viagem à Europa. Permaneceu em Lisboa por cerca de um mês, onde conheceu o pintor José Malhôa (1855-1933). Seguiu para Paris, onde instalou seu ateliê na rue Boissonade, 30 (O Paiz, 19 de junho de 1906). Encontrava-se frequentemente com o casal de artistas plásticos Lucílio de Georgina de Albuquerque, dentre outros. Posteriormente, transferiu seu ateliê para a Rue Le Goff (1908) e, depois, para a Rue Val de Grace (1913).

1907 - Retornou ao Brasil a bordo do navio Magellan (O Paiz, 8 de julho de 1907, terceira coluna).

1908 – Foi para Belém (Gazeta de Notícias, 3 de janeiro de 1908) e, de lá, com seu filho Dakir e sobrinho Edgard, seguiu para Paris, onde os iniciou na pintura.

1909 -  Sua pintura de nu, Fantasia, foi muito elogiada pela imprensa parisiense e foi noticiada sua iminente volta ao Brasil (Gazeta de Notícias, 21 de junho de 1909, sob o título “Notas e Notícias). Devido ao sucesso da obra, tornou-se associado da Societé Nationale de Beaux Arts et Lettres de Paris (Gazeta de Notícias, 21 de junho de 1909, na última coluna).

Retornou ao Brasil (Gazeta de Notícias, 5 de julho de 1909, sob o título “Notas e Notícias“).

Década de 10 - Vai várias vezes a Paris, onde tem um ateliê.

1910 - Inscreveu no Salon de la Societé Nationale de Beaux Arts a pintura Frineia. Apresentou posteriormente Dolorida (1911), Flor Brasileira(1913), Nonchalance (1914), e Modelo em Repouso (1920).

1911 – Seu sobrinho, Edgard, voltou de Paris.

Parreiras participou da exposição de Turim (O Paiz, 22 de junho de 1911).

Com a presença do presidente da República, marechal Hermes da Fonseca, inauguração da exposição do quadro Morte de Estácio de Sá, no edifício da Associação dos Empregados do Comércio (O Paiz, 2 de julho de 1911). Crítica à exposição de Parreiras (O Paiz, 31 de agosto de 1911, na segunda coluna).

1913 – Terminou de pintar o quadro Flor brasileira.

 

 

 

1915 – Na Escola de Belas Artes, exposição de Antônio Parreiras, e de seu filho, Dakir (Revista da Semana, 27 de fevereiro de 1915).

Década de 20 – Prosseguiu na realização de pinturas históricas, mas é menor o número de paisagens.

1922 – Após a morte de sua primeira esposa, Parreiras casou-se com Laurence Palmire Martignet e retornou ao Brasil. Laurence foi a guardiã da obra de Parreiras. Ela foi a modelo dos quadros Dolorida e Flor Brasileira.

1923 – Recebeu a medalha de honra de ouro na 30ª Exposição Geral de Belas Artes, quando apresentou 79 trabalhos.

1925 – No concurso nacional Os maiores brasileiros vivos, promovido pela revista Fon-Fon, foi eleito o maior artista, com cerca de 19.827 mil votos, seguido por Rodolfo Bernardelli e Baptista da Costa (Fon-Fon, 14 de março de 1925, na segunda coluna, Fon-Fon, 28 de março de 1925, e Fon-Fon, 4 de abril de 1925).

1927 - Notícia sobre a publicação de seu livro de memórias, História de um pintor contada por ele mesmo (1926), que o conduziu à Academia Fluminense de Letras (Revista da Semana, de 8 de janeiro de 1927, na seção “Novos Livros”).

Esculpido em Paris por Marc Robert (1875 – ?), foi inaugurado um busto de Parreiras na Praça Getulio Vargas, em Niterói (O Fluminense, 25 de janeiro de 1927).

 

 

 

1929 – Em outubro, fundou o Salão Fluminense de Belas Artes.

No Salão Ibero-Americano de Sevilha e na Exposição Universal de Barcelona foi premiado com medalha de ouro.

1936 – Parreiras realizou com dificuldades, pois já estava doente e debilitado, a sua última grande obra, o tríptico Fundação da Cidade do Rio de Janeiro, encomendado pelo prefeito Pedro Ernesto (1884-1942).

1937 - Suas últimas telas foram “A Tarde” e “O Fogo”.

Em 17 de outubro, faleceu, aos 77 anos, em Niterói (Correio da Manhã, de 19 de outubro de 1937).

1942 - Inauguração, em 21 de janeiro, do Museu Antonio Parreiras, em Niterói. Instituído pelo Decreto-Lei nº 219, de 24 de janeiro de 1941, foi o primeiro museu brasileiro dedicado a um só artista (O Fluminense, de 22 de janeiro de 1942). O conjunto arquitetônico e paisagístico é tombado pelo Instituto do Patrimônio Artístico Nacional.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Antonio Parreiras, pinturas e desenhos / curadoria Ana Paula Nascimento; textos de Ana Paula Nascimento e Telma Mösken; apresentação Ivo Mesquita et al. São Paulo: Pinacoteca de Estado, 1913

Enciclopédia Itau Cultural

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

NASCIMENTO, Ana Paula; TARASANTCHI, Ruth Sprung. Família Parreiras: Antonio, Edgar e Dakir. José Oswaldo de Paula Santos e Fundação Maria Luisa e Oscar Americano (Apresentação); Ana Paula Nascimento e Ruth Sprung Tarasantchi (Curadoria). São Paulo: SOCIARTE, 2013. 100p.:il.

PARREIRAS, Antonio. História de um pintor contada por ele mesmo. Brasil-França/1881-1939. 3.ed. Niterói (RJ): Niterói Livros, 1999. (1.ed.1926)

PONTUAL, Roberto. Dicionário de Artes Plásticas no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1969.

Site da Associação Brasileira dos Críticos de Arte

Site do Museu Antônio Parreiras

A inauguração do Cristo Redentor, em 12 de outubro de 1931

Um dos mais importantes símbolos e pontos turísticos do Rio de Janeiro e do Brasil, o Cristo Redentor é um dos maiores e mais famosos monumentos em estilo art déco do mundo. Localizado no morro do Corcovado, a 710 metros de altitude, a estátua tem 38 metros de altura e pesa 1.145 toneladas. Foi inaugurada pelo presidente Getulio Vargas (1882-1954) e por Pedro Ernesto (1884-1942), interventor do Distrito Federal (Diário de Notícias, 13 de outubro de 1931 e O Cruzeiro, 17 de outubro de 1931).

Mas foi no século XIX, que o padre Pedro Maria Boss (?-1916), capelão do Colégio Imaculada Conceição,em Botafogo, que chegou ao Rio de Janeiro, em 1859, teve a ideia de erigir na capital do Império do Brasil um monumento que exaltasse a fé cristã. A obra, contudo, só começou em 1926, com dinheiro arrecadado junto à população em eventos esportivos, culturais e sociais.

Porém, ainda no século XIX, pouco depois da Princesa Isabel (1846 – 1921) ter assinado a Lei Áurea, que aboliu a escravidão no Brasil, em 13 de maio de 1888, um grupo de abolicionistas queria homenageá-la com uma estátua no alto do Morro do Corcovado. Ela declinou, em um documento de 2 de agosto de 1888:

“Manda Sua Alteza a Princesa Imperial Regente em Nome de Sua Magestade o Imperador agradecer a oferta da Commição Organizadora constituída da Sociedade Brazileira de Beneficência de Paris, da Cia. Estrada de Ferro do Cosme Velho ao Corcovado e do Jornal O Paiz, para erguer huma estátua em sua honra pela extinção da escravidão no Brasil, e faz mudar a dita homenagem e o projecto, pelo officio de 22 de julho do corrente anno, por huma estátua do Sagrado Coração de Nosso Senhor Jezus Christo, verdadeiro redentor dos homens, que se fará erguer no alto do morro do Corcovado”.

 

 

Os viscondes de Mauá, Irineu Evangelisa de Souza  (1813 – 1889), e de Santa Vitória, Manuel Afonso de Freitas Amorim (1831 – 1906), viajaram a Paris encomendando o projeto e a execução de uma estátua de bronze do Sagrado Coração de Jesus, com 15 metros de altura, mas o monumento nunca foi construído.

Voltando ao século XX. A autorização para a construção do monumento no morro do Corcovado foi concedida em 1º de junho de 1922 por Homero Baptista (1861-1924), ministro da Fazenda (O Paiz, 2 de junho de 1922, na terceira coluna). Em setembro, foi realizada uma cerimônia no local onde o Cristo seria construído, com a presença de várias autoridades (O Paiz, 12 de setembro de 1922, na terceira coluna) e, em outubro, foi lançada a pedra fundamental da obra (O Paiz, 5 de outubro de 1922). No ano seguinte, teve início uma grande campanha de arrecadação de recursos para a construção do monumento (O Paiz, 16 de março de 1923, na sexta coluna). Em setembro de 1923, as comissões já estavam formadas e O Paiz publica uma extensa matéria sobre a realização de uma semana de coleta de doações para a construção do monumento (O Paiz, 2 de setembro de 1923).

Em 21 de setembro de 1923, o Jornal do Brasil publica uma matéria noticiando que, em 22 maio de 1923, o projeto do engenheiro Heitor da Silva Costa (1873-1947) para o monumento havia sido escolhido em assembleia geral da Comissão Executiva do Monumento Nacional ao Cristo Redentor, com a presença do monsenhor Macedo Costa, representando o cardeal Arcoverde, e de Cesario Alvim, representando o ministro da Viação. Os outros concorrentes foram José Agostinho dos Reis e Adolfo Morales de Los Rios. A reportagem também conta toda a história do empreendimento. A mobilização popular em torno da construção do Cristo foi grande (Revista da Semana, 8 de setembro de 1923) e um filme sobre o assunto, “O monumento do Christo Redemptor”, uma produção da Botelho Film, foi exibido no cinema Odeon ( O Paiz, 16 de outubro de 1923, na quinta coluna sob o título “Cinemas e fitas”).

A concepção inicial para o monumento foi modificada: no projeto original, a figura de Jesus Cristo empunharia em sua mão direita um globo e na esquerda uma cruz. 

 

 

Mas o responsável pelo desenho final do monumento foi o italiano Carlos Oswald (1882 – 1971), na época professor de gravura e desenho do Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro.

Para colaborar no trabalho, Heitor da Silva Costa escolheu um especialista em estatuária, o artista francês, de origem polonesa, Paul Landowsky (1875-1961).  Silva Costa trouxe da Europa uma maquete e algumas peças do monumento (Lar Catholico, 14 de agosto de 1927, primeira coluna). Uma exposição com os modelos de gesso das mãos do Cristo, modeladas por Landowsky, foi realizada no Corcovado (Diário Carioca, 24 de janeiro de 1929, na sexta coluna). Autoridades fizeram uma visita às obras, assunto de uma matéria no Correio da Manhã, de 29 de junho de 1929. Em 25 de abril de 1931, foi publicada uma notícia interessante sobre a construção do Cristo Redentor, na revista A Semana.

No dia da inauguração, foi o físico Guglielmo Marconi (1874-1937), inventor do telégrafo, que, da Itália, ligou os refletores da estátua. Assis Chateaubriand, diretor dos Diários Associados, enviou um telegrama a ele dizendo “No instante em que iluminais o monumento de Jesus Cristo, os católicos brasileiros saúdam em vós a faísca do gênio latino que descobriu e construiu o novo mundo”O Cruzeiro, 17 de outubro de 1931). Segundo o site do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Iphan, “o sistema não funcionou como o esperado, mas o Cristo foi iluminado graças à habilidade do engenheiro Gustavo Corção e sua equipe, atribui-se a Rinaldo Franco o ato de ter acionado o interruptor responsável pela iluminação”.

 

 

 

Em 1990, o monumento foi restaurado. Em 7 de julho de 2007, o Cristo Redentor foi eleito uma das sete maravilhas do mundo moderno (Jornal do Brasil, 8 de julho de 2007). Ficou em terceiro lugar, atrás da Muralha da China e da Cidade de Petra, na Jordânia. O resultado foi divulgado pela empresa suíça promotora do concurso, a Fundação New  7 Wonders e o título foi recebido pelo técnico de futebol Luiz Felipe Scolari e pelo embaixador do Brasil em Portugal, Celso de Souza, no Estádio da Luz, sede do clube Benfica, em Lisboa, Portugal.

 

Acessando o link para as fotografias do Cristo Redentor disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.  

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente  e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Guerra de Canudos pelo fotógrafo Flavio de Barros

 

400 jagunços prisioneiros

Sergio Burgi*

 

Esta fotografia de Flavio de Barros, feita no dia 2 de outubro de 1897, é uma dos registros mais emblemáticos dos conflitos e contradições da sociedade brasileira na passagem do Império para a República. Talvez uma das nossas mais expressivas fotografias de guerra, ela diverge radicalmente da maior parte dos registros realizados pelo fotógrafo, que estava em Canudos a serviço do Exército, durante a última expedição que, em 5 de outubro daquele ano, aniquilou definitivamente a resistência dos conselheiristas. A imagem registra o momento em que mulheres, feridos, velhos e crianças se entregam ao Exército, numa provável estratégia de resistência final dos poucos conselheiristas restantes, os quais permaneceram entrincheirados e em combate até o fim da guerra, como indica Euclides da Cunha no magistral Os Sertões. 

Ao contrário das imagens oficiais e posadas de diversos destacamentos do Exército e de algumas cenas reencenadas de batalhas e confrontos entre soldados e jagunços, essa imagem é o registro de um evento não antecipado nem pelo Exército nem pelo fotógrafo Flavio de Barros. Sua força decorre de seu caráter essencialmente frontal e direto e seu valor histórico e documental se amplifica também em função do trágico desfecho desse momento da Guerra de Canudos: a chacina dessas mulheres, homens e crianças pelas forças regulares.

O título “400 jagunços prisioneiros”, tal como figura nos álbuns de Flavio de Barros, busca atribuir àqueles desvalidos e indefesos uma ferocidade que a própria imagem desmente e que mesmo Euclides fez questão de corrigir, reintitulando-a As prisioneirasbuscando coerência com seu testemunho do eventoFoi uma das três imagens publicadas na primeira edição de Os Sertões.

Do ponto de vista da história da fotografia no Brasil, esta imagem, suas circunstâncias e os diversos textos e relatos de época sobre o evento, constituem referências germinais para uma melhor compreensão do que viria a se constituir ao longo do século XX  no país como um fotojornalismo e uma fotografia de autor socialmente engajados e de forte vertente humanista.

Artigo escrito por Favila Nunes na Gazeta de Notícias, de 17 de outubro de 1897, na segunda coluna, onde descreve a “procissão enorme da jagunçada…esqueletos humanos, com as mãos decepadas, ferimentos horríveis e asquerosos, alguns apodrecidos…”

Impressão do tenente-coronel Dantas Barreto sobre os prisioneiros de Canudos, na página 66, da dissertação de mestrado de Vanessa Monteiro, intitulada “Canudos: as crianças do sertão como butim de guerra, de abril de 2007

 

*Sergio Burgi é curador da Brasiliana Fotográfica e coordenador da área de Fotografia do Instituto Moreira Salles.

 

Acessando o link para as fotografias de Flavio de Barros disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

Todas as imagens de Flavio de Barros sobre a Guerra de Canudos disponibilizadas na Brasiliana Fotográfica são fruto de um projeto realizado pelo Instituto Moreira Salles, em 2002, de recuperação digital dos originais existentes nos acervos do Museu da República, no Rio de Janeiro, do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, em Salvador, e da Casa de Cultura Euclides da Cunha, em São José do Rio Pardo. Com a colaboração dessas instituições foi possível constituir um álbum canônico virtual gerado a partir do exemplar em melhor estado de conservação existente em cada uma das apenas setenta imagens conhecidas do evento. Um panorama formado digitalmente a partir da junção de duas imagens também integra o conjunto das fotografias de Canudos disponíveis no portal Brasiliana Fotográfica.

 

Pequeno perfil de Flavio de Barros

Andrea C.T. Wanderley**

 

 

O fotógrafo Augusto Flavio de Barros notabilizou-se pela documentação que fez da Guerra de Canudos. Foi o autor dos únicos registros até hoje conhecidos do dia a dia das tropas, da rendição e destruição do arraial organizado por Antônio Conselheiro. Flavio de Barros criou um álbum de 70 fotografias do confronto, tendo registrado a paisagem árida do sertão baiano, a destruição do Arraial de Canudos, a imagem do corpo exumado de Conselheiro, grupos de oficiais e além de, segundo Boris Kossoy, “uma pretensa cena de ação montada onde se vê um grupo de jagunços sendo dominado pela cavalaria do Exército”. O fotógrafo havia sido contratado pelo Exército para registrar as ações militares, acompanhando a Divisão de Artilharia Canet, sob o comando do general Carlos Eugênio de Andrade Guimarães. Partiu de Salvador, em 30 de agosto de 1897, passou por Alagoinhas, Queimadas, Tanquinho, Cansanção, Quirinquinquá e Monte Santo. Chegou em Canudos, em 26 de setembro, onde ficou até, provavelmente, 12 de outubro.

 

 

Sobre a exumação de Antônio Conselheiro, ocorrida em 6 de outubro de 1897, e a fotografia tirada por Barros, há interessantes informações no jornal Gutemberg, de 24 de outubro de 1897, sob o título “Canudos”. No Paiz, de 30 de outubro do mesmo ano, sob o título “Vitória”, informava que o presidente da República, Prudente de Morais, havia felicitado o ministro da Guerra, marechal Carlos Machado de Bittencourt, pela vitória em Canudos. Em seguida, noticiava que Flávio de Barros tinha a intenção de fazer uma exposição com os registros fotográficos do conflito. Veio para o Rio de Janeiro, a bordo do vapor S. Salvador em 1897, trazendo nada menos que 65 clichês de fotografias tiradas em Canudos (Jornal do Brasil, 27 de outubro de 1897, quinta coluna). Em fins de 1897 e início de 1898, era noticiada a exibição por projeção elétrica das fotografias, na rua Gonçalves Dias, nº 46 (Jornal do Brasil, 24 de dezembro de 1897Gazeta de Notícias, de 2 de fevereiro de 1898).

 

 

São poucos os dados biográficos sobre Flavio de Barros, mas se sabe que na última década do século XIX ele possuía um estúdio de retratos na cidade de Salvador na Rua do Lyceu, 3. No início do século XX, era proprietário do estabelecimento Photografia Americana, na rua da Misericórdia. Segundo o pesquisador Claude Santos, no artigo “A fotografia e Canudos”, de 1997, antes de ser fotógrafo, Flavio de Barros havia sido pintor.

A fotografia “400 jagunços prisioneiros” destacada nesse post pode ser melhor investigada no portal a partir de sua magnificação, que destaca a tragédia dos fotografados, o que já foi feito no Cadernos de Fotografia Brasileira – Canudos, editado pelo Instituto Moreira Salles, em 2002.

Uma curiosidade: o fotógrafo Juan Gutierrez de Padilla (c. 1860 – 1897), um dos fotógrafos da Revolta da Armada, que havia chegado em Canudos em abril de 1897, foi mortalmente ferido em 28 de junho do mesmo ano. Até hoje, não se conhece nenhum registro fotográfico que ele tenha feito do conflito. No livro Os Sertões, Euclides da Cunha referiu-se a ele como um “Oficial honorário, um artista que fora até lá atraído pela estética sombria das batalhas”. Sua morte foi noticiada no O Paiz, de 14 de julho de 1897, com fotografia na primeira página e um artigo de Luiz Murat.

 

Pequeno resumo da Guerra de Canudos

 

A Guerra de Canudos, no interior da Bahia, foi um conflito entre seguidores do carismático Antônio Vicente Mendes Maciel (1830 – 1897), que passou para a história como Antônio Conselheiro , “o peregrino”, e o Exército brasileiro, entre 21 de novembro de 1896 e 5 de outubro de 1897. O beato Conselheiro liderava um movimento messiânico de cunho social e religioso em uma região caracterizada por secas, desemprego e pela forte presença de latifúndios improdutivos. É assim que Euclides da Cunha o descreve no livro Os Sertões: “Espécie de grande homem pelo avesso, Antônio Conselheiro reunia no misticismo doentio todos os erros e superstições que formam o coeficiente doentio da nossa nacionalidade. Arrastava o povo sertanejo não porque dominasse, mas porque o dominavam as aberrações daquele. Favorecia-o o meio e ele realizava, às vezes, como vimos, o absurdo de ser útil”

Sertanejos e ex-escravos foram para a cidadela de Canudos, erguida às margens do rio Vaza-Barris, ou Belo Monte, como o arraial era chamada por Antônio Conselheiro e  seus seguidores, sob a crença de que seriam poupados do clima e da miséria, além de salvarem suas almas. Conselheiro conseguiu implantar em Canudos um sistema de vida comunitária com autonomia econômica. Além disso, recusava-se a a respeitar as regras impostas pelo Estado e pelo clero. A República havia sido recém proclamada e os fazendeiros da região e a Igreja convenceram o governo de que Canudos se armava para reinstaurar a monarquia. Na coluna “A Semana”, Machado de Assis colocava em dúvida os temores em relação a Canudos (Gazeta de Notícias, de 22 de julho de 1894). Voltou a escrever sobre o assunto, protestando contra a perseguição ao grupo de Antônio Conselheiro: na Gazeta  de Notícias, de 13 de setembro de 1896, de 6 de dezembro de 1896 e de 31 de janeiro de 1897, sempre na coluna “A Semana”.

 

 

Por ordem do arcebispo da Bahia, d. Jerônimo Tomé, em 1895, os freis capuchinhos italianos Caetano de Leo e João Evangelista de Monte Marciano vão a Canudos e, com o padre Vicente Sabino dos Santos, da cidade de Cumbe, atualmente Euclides da Cunha, tentam, sem sucesso, dispersar a comunidade. Um relatório elaborado pelo frei Marciano recomenda a intervenção do governo ( O Apóstolo, de 14 de julho de 1895,  de 17 de julho de 1895 de 19 de julho de 1895de 21 de julho de 1895 e de 24 de julho de 1895, sempre sob o título “Uma história curiosa”). Em 1896, estima-se que Canudos já contava com uma população entre 10 mil e 25 mil  habitantes. Nesse mesmo ano, Conselheiro encomenda uma remessa de madeira em Juazeiro para a construção de uma igreja. O juiz da cidade, Arlindo Leoni, alegando que a comunidade de Canudos estaria se preparando para invadir Juazeiro para retirar a madeira, pede ao governo o envio de tropas (Gazeta de Notícias, de 6 de novembro de 1896, na segunda coluna, sob o título “Bahia”).

A partir daí, o Exército faz quatro expedições contra Canudos. Sai derrotado nas primeiras três. A primeira expedição, sob o comando do tenente Manuel da Silva Pires Ferreira, contava com três oficiais, 113 soldados, um médico, uma ambulância e dois guias. É atacada em 21 de novembro de 1896, em Uauá, a 50 quilômetros de Canudos, e recua (Gazeta de Notícias, de 4 de dezembro de 1896Gazeta de Notícias, de 23 de abril de 1897, na segunda coluna, sob o título “Sucessos da Bahia”). A segunda expedição começa em 25 de novembro de 1896 sob o comando do major Febrônio de Brito, que pede reforços e comenta que os bandidos de Canudos brigam fanaticamente (Gazeta de Notícias, de 28 de novembro de 1896, na segunda coluna, sob o título “Bahia”). Termina em 20 de janeiro de 1897 com a retirada das tropas do governo.

 

 

Em fevereiro de 1897, o coronel Antônio Moreira César embarca do Rio de Janeiro para comandar a terceira expedição, com 1.300 homens (Don Quixote, de 13 de fevereiro de 1897).  O primeiro assalto acontece em 2 de março, quando Moreira César é ferido, vindo a falecer no dia seguinte. As tropas legais começam a dispersar e o novo comandante, o coronel Pedro Nunes Tamarindo, também morre no dia 3 (O Paiz, de 8 de março de 1897, sob o título “Moreira César”, e Don Quixote, de 21 de março de 1897). É um dos maiores fracassos da história militar do Brasil e a opinião pública fica apavorada. Conselheiro e seus seguidores passam a ser considerados inimigos da República.

 

 

Na quarta e última expedição, comandada pelo general Artur Oscar de Andrade Guimarães, havia seis brigadas, distribuídas em duas colunas, sob a liderança dos generais João da Silva Barbosa e Claudio do Amaral Savaget. Parte em junho de 1897.  Em 31 de julho, uma outra brigada com 68 oficiais e 1042 praças é formada, sob o comando do general Miguel Maria Girard. Até o ministro da Guerra, Carlos Machado de Bittencourt, vai a Canudos.

A cidadela que, segundo o Exército, tinha 5.200 casebres, é incendiada e totalmente destruída. Cerca de 20 mil sertanejos são massacrados e prisioneiros de guerra, degolados. Além disso, estima-se que cerca de cinco mil militares morreram durante o conflito, que termina em 5 de outubro. O presidente Prudente de Morais elogia a campanha do Exército (Gazeta de Notícias, de 9 de outubro de 1897, na quarta coluna).

 

 

Sobre o fim da guerra, Euclides da Cunha escreve no livro Os Sertões (1902):

 

‘Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até ao esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente 5 mil soldados’.

No dia seguinte, o cadáver de Antônio Conselheiro, que havia morrido, em 22 de setembro, de disenteria, foi exumado. A Gazeta de Notícias, de 7 de outubro de 1897, noticia, na primeira página e com uma ilustração de Antônio Conselheiro, a vitória das forças do governo.

 

Sobre o escritor Euclides da Cunha e a Guerra de Canudos

 

O escritor Euclides da Cunha (1866-1909), após a derrota da terceira expedição do Exército, escreve para o jornal O Estado de São Paulo, na época Província de São Paulo, em 14 de março de 1897, o artigo “A nossa Vendéia”, no qual demonstra seu apoio à República e compara o conflito em Canudos com a sublevação católica, camponesa e monarquista, ocorrida durante a Revolução Francesa, no final do século XVIII.  Passa três semanas na Bahia como correspondente do citado jornal, durante a quarta expedição. Ali escreve também s2ua Caderneta de Campo, com o registro dos acontecimentos , anos depois transcrita por Olímpio de Souza Andrade e publicada pela Editora Cultrix (1975) e pela Biblioteca Nacional (2009). Euclides chega em Canudos em 16 de setembro de 1897, onde fica até 3 de outubro (íntegra de todos os artigos enviados pelo escritor e publicados na Província de São Paulo, no período de julho a outubro de 1897). Decepciona-se com o Exército e passa a ver o conflito de forma diferente. Escreve Os Sertões (1902), que imortalizou a Guerra de Canudos e é considerado uma obra-prima da literatura brasileira. O livro, que teve repercussão mundial, chamou a atenção para a dor e a miséria do sertão brasileiro. Na primeira edição, que chegou às livrarias, em 2 de dezembro de 1902, foram utilizadas três fotografias produzidas por Flavio de Barros: “Divisão Canet”, “7º Batalhão de Infantaria nas trincheiras” e “400 jagunços prisioneiros”, renomeadas por Euclides como “Monte Santo: Base das operações”, “Acampamento dentro de Canudos” e “As prisioneiras”, respectivamente.

 

Link para Cadernos de Literatura Brasileira – Euclides da Cunha, publicado pelo Instituto Moreira Salles, em dezembro de 2002, em comemoração ao centenário de Os Sertões.

 

Os Sertões livro 1902.jpg

Primeira edição do livro Os Sertões (1902), de Euclides da Cunha

 

 

Links para outras publicações da Brasiliana Fotográfica sobre conflitos:

A Revolta da Armada

Lampião e outros cangaceiros sob as lentes de Benjamin Abrahão

Registros da Guerra do Paraguai (1864 – 1870)

 

Link para a cronologia da Guerra de Canudos publicada no site do Museu da República:

Cronologia Resumida da Guerra de Canudos, pela historiadora Carla Costa, outubro de 2017

 

Ouça aqui o podcast Sertões: história de Canudos, uma produção da Rádio Batuta, do Instituto Moreira Salles.

 

**Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

ALMEIDA, Cícero F. de Almeida. Canudos: imagens da guerra. Os últimos dias da Guerra de Canudos pelo fotógrafo expedicionário Flávio de Barros, Rio de Janeiro, Museu da República/Lacerda, 1997.

Cadernos de Literatura Brasileira – Euclides da Cunha. Instituto Moreira Salles, 2002

Cadernos de fotografia brasileira – Canudos. Instituto Moreira Salles, 2002

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

GALVÃO, Walnice Nogueira. Euclidiana – Ensaios sobre Euclides da Cunha. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002. 408 p., il. p&b.

MONTEIRO, Vanessa Sattamini Varão. Canudos: as crianças do sertão como butim de guerra. Dissertação (Mestrado em História Social da Cultura) — Programa de Pós-graduação em História Social da Cultura, Departamento de História, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 2007.

O Cruzeiro, 19 de julho de 1947.

Homens errados, por Patricia de Queiroz

Canudos, por Austregésilo de Athayde

O princípio de Euclides, por Franklin de Oliveira

Roteiro de Canudos I – O reduto de Antônio Conselheiro – Fotos de Pierre Verger Texto de Odorico Tavares

Roteiro de Canudos II – O repórter Euclides da Cunha – Fotos de Pierre Verger Texto de Odorico Tavares

Roteiro de Canudos III – Depoimento dos sobreviventes – Fotos de Pierre Verger e Texto de Odorico Tavares

Jagunço, por Rachel de Queiroz

Site da Enciclopédia do Itaú Cultural 

Site Euclides da Cunha

VENTURA, Roberto. Retrato Interrompido da Vida de Euclides da Cunha. São Paulo : Companhia das Letras, 2003.

ZILLY, Berthold. Artigo Flavio de Barros, o ilustre cronista anônimo da guerra de Canudos, disponível na Revista da USP, volume 13, nº 36, de 1999