Série “Feministas, graças a Deus!” X – Maria Luiza Dória Bittencourt (1910 – 2001), a primeira deputada da Bahia

 

Série “Feministas, graças a Deus!” X – Maria Luiza Dória Bittencourt (1910 – 2001), a eloquente primeira deputada da Bahia

“Quando a fina silhueta de Maria Luiza Doria Bittencourt assomou à tribuna para os dez minuros da prova de eloquência, todo o auditório sentiu que se achava ali diante de um especimen novo de individualidade feminina, o expoente de uma nova concepção de Eva moderna: a mulher valor-intelectual”.

Maria Eugênia Celso Caneiro de Mendonça

sobre Maria Luiza Dória Bittencourt

Jornal do Brasil, 16 de outubro de 1929

 

A imagem abaixo pertence ao acervo fotográfico do Arquivo Nacional, uma das instituições parceiras da Brasiliana Fotográfica.

 

 

A advogada e feminista Maria Luiza Dória Bittencourt nasceu em Paripe, subúrbio de Salvador, em 1910, filha de Luiz de Lima Bittencourt e Isaura Dória Bittencourt. Estudou no Rio de Janeiro, para onde se mudou com sua família e residia em um palacete na Praia Vermelha. Na década de 20, já era filiada à Federação Brasileira para o Progresso Feminino e à União Universitária Feminina, presididas por Bertha Lutz (1894 – 1976) e Carmen Portinho (1903 – 2001), respectivamente.

Em 1929, venceu a etapa do Rio de Janeiro de um concurso de oratória promovido pelo Instituto dos Advogados, cujo tema foi a Constituição Federal. Foi a única mulher entre os seis finalistas da etapa nacional, e ficou em segundo lugar no concurso, cujo vencedor foi o acadêmico mineiro Jovert de Souza Lima.

Foi uma das fundadoras, com a feminista e poetisa Anna Amélia Carneiro de Mendonça (1896 – 1971), presidente da associação, e o teatrólogo Paschoal Carlos Magno  (1906 – 1980), dentre outros, da Casa do Estudante do Brasil, em 13 de agosto de 1929.

Participou do Congresso Penal Penitenciário Brasileiro, realizado, no Rio de Janeiro, entre 15 e 22 de junho de 1930, quando apresentou a tese Reformatório de Mulheres Criminosas. A mesma tese foi apresentada no 10º Congresso Penitenciário e Penal Internacional, em Praga, em agosto do mesmo ano.

Formou-se, em 1931, na Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro, onde havia ingressado, em 1927, e foi, anos depois, em 1942, a primeira colocada no concurso para a livre-docência em Legislação do Trabalho e Direito Industrial da instituição, tornando-se a primeira mulher docente da história da referida faculdade.

Apoiada pelo grupo do então interventor da Bahia, Juracy Magalhães (1905 – 2001), concorreu a uma vaga de deputada estadual, em 14 de outubro de 1934. Pouco antes, em agosto, havia sido realizada, em Salvador, a Segunda Convenção Feminista, promovida pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino. Durante o evento foi recomendado aos partidos nomes de mulheres a candidatas às constituintes estaduais e dado apoio a candidatos comprometidos com os interesses femininos.

 

 

Elegeu-se como primeira suplente de Humberto Pacheco Miranda, que havia sido prefeito de Cachoeira, município baiano. Em 6 maio de 1935, assumiu o mandato, tornando-se a primeira deputada estadual baiana e uma das primeiras do Brasil, após o Decreto nº 21.076, de 24 de fevereiro de 1932, que instituiu o Código Eleitoral Provisório e reconheceu o direito de voto às mulheres. Outras pioneiras foram Carlota Pereira de Queiróz (1892 – 1992), em São Paulo; Bertha Lutz (1894 – 1976), no Rio de Janeiro; Lili Lages (1907 – 2003), em Alagoas; Quintina Diniz de Oliveira (1878 – 1942), em Sergipe; e Maria de Miranda Leão (1887 – 1976), no Amazonas. Todas as citadas foram eleitas em 1934, exceto Carlota Pereira de Queiróz, eleita em 1933.

Em janeiro de 1936, Maria Luiza seguiu para os Estados Unidos por ter ganho o prêmio Fellowship da Universidade Radcliffe. Retornou ao Brasil em julho do mesmo ano e, em dezembro, integrou a delegação brasileira que foi à Conferência Interamericana de Consolidação da Paz, em Buenos Aires. Durante o evento, proferiu um discurso e sua participação foi muito festejada e elogiada pela imprensa.

Durante seu mandato como deputada estadual da Bahia, Maria Luiza integrou o grupo responsável pela elaboração do texto constitucional e foi a relatora dos capítulos da Educação e Ordem Econômica e Social. Em 1937, apoiou a candidatura de José Américo de Almeida (1887 – 1980) à Presidência da República, tendo participado da Convenção dos delegados apoiadores do governo, no Palácio Monroe. Recepcionou o candidato em sua viagem à Bahia.

Segundo o Dicionário Mulheres do Brasil, foi de Maria Luiza a última voz que se manifestou na Assembléia Legislativa do Estado da Bahia em um discurso na defesa da democracia, antes do fechamento do legislativo determinado pela instauração do Estado Novo, pelo presidente Getulio Vargas (1882 – 1954), em 10 de novembro de 1937.

Em 1938, tinha um escritório de advocacia, na rua da Quitanda, no centro do Rio de Janeiro, com a feminista sergipana Maria Rita Soares Andrade (1904 – 1998), que se tornaria, em 1967, a primeira juíza federal do Brasil. Continuava ligada às atividades da Federação Brasileira pelo Progresso da Mulher, da União Universitária Feminina e da Casa do Estudante do Brasil.

Provavelmente, casou-se em torno de 1943, pois em uma reportagem de janeiro de 1944 foi identificada como Maria Luiza Dória Bittencourt Mello Neto.

Em 1945, com Natércia da Cunha Silveira (1903 – 1993)Carmen Portinho  e Maria Rita Soares de Andrade, foi uma das organizadoras de uma coligação democrática para apoiar a candidatura do brigadeiro Eduardo Gomes (1896 – 1981) à presidência da República, tendo sido uma das fundadoras da UDN – União Democrática Nacional.

Em 19 de janeiro de 1947, concorreu a uma vaga de vereadora do Distrito Federal pela Esquerda Democrática, mas não se elegeu. No ano seguinte, foi noticiado que o Curso de Geografia Econômica, ministrado gratuitamente por ela, na sede do Partido Socialista Brasileiro, na rua Buenos Aires, 57, seria reiniciado.

Em 1954, morava em São Paulo e foi identificada em uma matéria do Jornal do Brasil como advogada, esposa e mãe exemplar. Em fins da década de 60, como integrante do Conselho Patrimonial da Casa do Estudante do Brasil, foi uma das oradoras na comemoração dos 40 anos da entidade, marcada pela reinauguração da Biblioteca Artur Ramos e pela realização de um Almoço de Confraternização Universitária.

Em 1979, no auditório do MEC, Maria Luiza e o engenheiro L.A. Falcão Bauer fizeram palestras sobre o entrosamento profissional entre homens e mulheres dentro da programação da Segunda Reunião Latino-Americana de Mulheres Universitárias. Nove anos depois, em 1988, recebeu, na Associação Brasileira de Mulheres Universitárias, o diploma do Mérito Ruy Barbosa por ter sido a primeira mulher constituinte da Bahia.

Faleceu em 2001.

 

Cronologia de Maria Luiza Dória Bittencourt

 

 

1910 – Nascimento de Maria Luiza Dória Bittencourt, em Paripe, subúrbio de Salvador, capital da Bahia. Era filha de Isaura Dória Bittencourt e Luiz de Lima Bittencourt.  

1923 - Estudava na Escola Leitão da Cunha, no Rio de Janeiro, e participou do concurso Esther Pereira de Mello, promovido pela Escola Deodoro para a escolha, dentre as alunas que se destacaram em seus exames finais, da mais inteligente (Jornal do Commercio, 16 de dezembro de 1923, segunda coluna; e A Noite, 24 de dezembro de 1923, terceira coluna).

No final do ano, foi chamada para prestar exames de preparatório no Colégio Pedro II (Jornal do Brasil, 6 de dezembro de 1923, terceira coluna; e 24 de dezembro,primeira coluna de 1923).

1925 - Foi reprovada no exame de preparatória de Aritmética, no Colégio Pedro II (Jornal do Brasil, 19 de março de 1925, quinta coluna).

1926 – Na Bahia, falecimento de seu avô paterno, Valentim Antônio da Rocha Bittencourt (Jornal do Brasil, 9 de fevereiro de 1926, terceira coluna).

1927 – Ingressou na Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro (Correio da Manhã, 30 de novembro de 1927, quarta coluna).

Na Seção Acadêmica da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, Maria Luiza proferiu uma palestra sobre assuntos jurídicos (Jornal do Brasil, 23 de setembro de 1927, quarta coluna).

A escritora Rosalina Coelho Lisboa (1900 – 1975) foi coroada como Rainha dos Estudantes, no Teatro João Caetano. Maria Luiza foi uma das oradoras do evento, onde se encontrava todo o escol social do Rio de Janeiro, dentre eles o escritor Coelho Neto (1864 – 1934), considerado o Príncipe dos Prosadores Brasileiros, numa votação realizada no ano seguinte pela revista O Malho; e o teatrólogo, ator e poeta Paschoal Carlos Magno (1906 – 1980)(O Paiz, 24 de setembro de 1927, segunda coluna).

 

 

1928 - Foi um dos acadêmicos de Direito que assinaram uma mensagem enviada ao Congresso da Mocidade Católica de São Paulo (A Cruz, 26 de setembro de 1928, quinta coluna).

1929 - Ainda como estudante, foi secretária da União Universitária Feminina, fundada por Carmen Portinho (1903 – 2001), no Rio de Janeiro, em 13 de janeiro de 1929 (O Paiz, 14 de janeiro de 1929, terceira colunaO Imparcial, 15 de janeiro de 1929, primeira colunaGazeta de Notícias, 15 de janeiro de 1929, quarta colunaO Jornal, 3 de outubro de 1929, quinta coluna).

Era filiada à Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF), fundada por Bertha Lutz (1894 – 1976), em 1922.

Com a tese As liberdades e as garantias constitucionais venceu o concurso de oratória realizado entre os alunos da Faculdade de Direito do Rio de Janeiro. Concorreu com os acadêmicos Alvim Horcades Filho e Deocleciano Martins de Oliveira (Jornal do Brasil, 1º de setembro de 1929, quinta coluna; O Paiz, 31 de agosto de 1929, quarta coluna).

Integrando a celebração da Independência do Brasil promovida pela FBPF e pela a União Universitária Feminina, Maria Luiza proferiu o discurso Independência política, independência moral, na Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, representando a União Universitária Feminina. Pela FBPF, proferiram discursos as duas vencedoras norte-americanas de um concurso de oratória realizado nos Estados Unidos. Participou do chá de despedida oferecido pela FBPF, no Pão de Açúcar, a essas estudantes (O Paiz, 7 de setembro, sexta coluna; 14 de setembro de 1929, penúltima coluna, de 1929).

Na casa de seu pai, dr. Lima Bittencourt, descrito como um palacete na Praia Vermelha, também ofereceu um chá ao grupo (Revista da Semana, 21 de setembro de 1929).

 

 

Por seu intermédio, o Instituto Histórico e Geográfico enviou vários livros para a Feira dos Livros. Foi fotografada participando do evento, em benefício da Casa do Estudante do Brasil, criada em 13 de agosto de 1929, da qual foi uma das fundadoras, assim como a importante poetisa e feminista Anna Amélia Carneiro de Mendonça (1896 – 1971), presidente da associação, e o ator, poeta e teatrólogo Paschoal Carlos Magno  (1906 – 1980), dentre outros (Correio da Manhã, 24 de setembro de 1929, sétima coluna; Revista da Semana, 28 de setembro de 1929; Diário de Notícias, 2 de junho de 1940, quarta coluna; Annuario Brasileiro de Literatura, 1943; Tribuna da Imprensa, 9 de março de 1956Correio da Manhã, 14 de agosto de 1969, quarta coluna).

 

 

Uma curiosidade: Anna Amélia de Queiroz Carneiro de Mendonça foi casada com Marcos Carneiro de Mendonça (1894 – 1988), goleiro do Fluminense e o primeiro goleiro da seleção brasileira. O casal teve quatro filhos e um deles foi Bárbara Heliodora (1923 – 2015), crítica teatral e uma das maiores especialistas em Shakespeare do Brasil.

 

 

Maria Luiza participou da Festa dos Balões, em prol da construção da Casa do Estudante do Brasil (Revista da Semana, 5 de outubro de 1929).

 

 

Maria Luiza foi uma das promotoras e discursou durante a programação da Festa da Primavera, organizada pela mocidade feminina carioca, realizada no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. O presidente Washington Luis (1869 – 1957) foi homenageado (O Paiz, 28 de setembro de 1929, terceira coluna; A Manhã, 28 de setembro de 1928, primeira coluna).

Publicação de um artigo da escritora e feminista Maria Eugênia Celso Carneiro de Mendonça (1886 – 1963), filha do historiador, político e poeta conde de Afonso Celso (1860 – 1938),  elogiando as qualidades intelectuais e pessoais de Maria Luiza (Jornal do Brasil, 16 de outubro de 1929, primeira coluna).

 

 

Na reunião mensal da União Universitária Feminina, presidida por Carmen Portinho (1903 – 2001), solicitou que a associação apoiasse a construção da Casa do Estudante do Brasil, ajudando na venda de entradas para a peça Orpheu, no estádio do Fluminense. Na mesma ocasião, foi nomeada com Luiza Sapienza e Esther Corrêa Ramalho, uma das primeiras engenheiras brasileiras, para integrar a comissão do desenvolvimento da biblioteca da União Universitária Feminina (O Jornal, 3 de outubro de 1929, quinta coluna; e O Paiz, 20 de outubro de 1929, última coluna).

Foi uma das finalistas, a única mulher, representando o Rio de Janeiro, no concurso nacional de oratória promovido pela Instituto dos Advogados entre estudantes de Direito do Brasil, cujo tema foi a Constituição Federal. Realizado no Salão da Associação dos Empregados do Comércio, foi vencido pelo acadêmico mineiro Jovert de Souza Lima. Maria Luiza conquistou o segundo lugar, seguida por Hermes Barroso, representante do Ceará (O Jornal 11 de outubro, quarta coluna13 de outubro e 18 de outubro de 1929; A Gazeta (SP), 16 de outubro de 1929, quarta coluna; Revista da Semana, 19 de outubro de 1929; Fon-Fon, 19 de outubro de 1929Excelsior, novembro de 1929).

 

 

 

Sob os auspícios da Federação Brasileira para o Progresso Feminino, na Rádio Club do Brasil, apresentação de Maria Luiza, oradora e acadêmica de Direito, falando sobre Os direitos políticos femininos em face das leis do Brasil (Jornal do Brasil, 8 de novembro de 1929, quinta coluna).

Foi citada, elogiosamente, no artigo Oratória Feminina, do conde de Afonso Celso (1860 – 1938) (Jornal Pequeno, 16 de dezembro de 1929, segunda coluna).

“Na senhorita Maria Luiza Dória Bittencourt fulge, porém, deveras, um dos mais auspiciosos talentos verbais da presente geração acadêmica”. 

1930 – Participou do Congresso Penal Penitenciário Brasileiro, realizado, no Rio de Janeiro, entre 15 e 22 de junho. Apresentou a tese Reformatório de Mulheres Criminosas. A mesma tese foi apresentada no 10º Congresso Penitenciário e Penal Internacional, em Praga, em agosto (O Jornal, 30 de março, sexta coluna; 11 de abril, quinta coluna; e 2 de setembro, sexta coluna, de 1930;  Jornal do Commercio, 24 de maio, primeira coluna; 16 e 17 de junho, quinta coluna, de 1930; Correio da Manhã, 5 de julho de 1931, terceira coluna).

 

 

Participou de um almoço em homenagem à advogada sergipana Maria Rita Soares de Andrade (1904 – 1998), que se tornaria, em 1967, a primeira juíza federal do Brasil. Na foto abaixo, além de Maria Luiza e Maria Rita, a bibliotecária Luiza Sapienza, a escritora Maria Eugênia Celso Carneiro de Mendonça (1886 – 1963), a bióloga Bertha Lutz (1894 – 1976), Mary Corbett, Marianna Gurjão, a advogada Maria Alexandrina Ferreira Chaves, a maestrina Joanidia Sodré (1903 – 1975) e Anna Guttrie (Vida Doméstica, agosto de 1930).

 

 

Na Aliança Internacional pelo Sufrágio Feminino, que reunia associações femininas de 44 países, representou a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino no assunto de Igualdade de Condições de Trabalho do Homem e da Mulher (Correio da Manhã, 15 de agosto de 1930, última coluna).

Integrava a comissão formada pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino para recepcionar a escritora portuguesa Maria Amélia Teixeira, diretora da revista Portugal Feminino (A Gazeta (SP), 27 de agosto de 1930, quarta coluna).

Participou, no Hotel Glória, da Festa da Primavera promovida por Anna Amélia Carneiro de Mendonça (1896 – 1971), fundadora da Casa do Estudante do Brasil, com a presença da Miss Universo, Yolanda Pereira (1910 – 2001) (Revista da Semana, 20 de setembro de 1930Correio da Manhã, 23 de setembro de 1930, sétima coluna).

 

 

Fazia parte da comissão de recepção da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino nas homenagens ao cardeal Sebastião Leme (1882 – 1942) (Correio da Manhã, 19 de outubro de 1930, penúltima coluna).

No Teatro João Caetano, a Casa do Estudante do Brasil promoveu uma homenagem aos estudantes soldados da revolução hospedados no Rio de Janeiro. Maria Luiza, Olegário Mariano (1889 – 1958), Paschoal Carlos Magno (1906 – 1980) e Eugênia Alvaro Moreyra (1898 – 1948), dentre outros, faziam parte da programação da noite (Correio da Manhã, 14 de novembro de 1930, sétima coluna).

1931 – Criação da Federação Baiana pelo Progresso Feminino (A Noite, 9 de abril de 1932, quinta coluna).

Publicação do artigo O feminismo na Bahia, de sua autoria, em que apresenta a Federação Baiana pelo Progresso Feminino e a União Universitária Feminina (Diário de Notícias (BA), 26 de março de 1931).

Após uma temporada na Bahia, retornou ao Rio de Janeiro (Correio da Manhã, 12 de abril de 1931, primeira coluna).

Ela, Bertha Lutz e a advogada e jornalista Orminda Ribeiro Bastos (1899 – 1971) foram as autoras da mensagem da FBPF à subcomissão de direitos eleitorais, encarregada pela redação do ante-projeto da Legislação Eleitoral (Correio da Manhã, 24 de maio de 1931, primeira coluna).

 

 

 

Participou do Segundo Congresso Feminista Internacional, realizado entre 20 e 30 de junho, no Automóvel Club, no Rio de Janeiro, apresentando uma tese sobre o regime de família no Direito Civil Brasileiro. Foi a relatora da Comissão de Polícia Feminina. Na ocasião declarou que a mulher aceita a participação na vida pública, não como um direito a fruir, mas como um dever a desempenhar conscienciosamente. Fez um eloquente discurso sobre as futuras diretrizes do movimento feminista. Em um documento elaborado pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino pleiteando a criação de uma Polícia Feminina, seu nome foi sugerido para integrar a Comissão de Polícia Feminina, que seria presidida por Eunice Weavers (1902 – 1969 (Jornal do Brasil, 20 de junho de 1931, primeira colunaCorreio da Manhã, 20 de junho de 1931A Batalha, 24 de junho de 1931, penúltima coluna; Jornal das Moças, 25 de junho de 1931Para Todos, 27 de junho de 1931;Correio da Manhã, 1º de julho de 1931, sexta coluna; A Noite, 1º de julho de 1931Correio da Manhã, 11 de julho de 1931, última colunaVida Doméstica, agosto de 1931).

 

 

 

 

 

A sessão de Educação e Instrução ficou sob a responsabilidade da União Universitária Feminina, composta por Carmen Portinho, Orminda Ribeiro Bastos, Luiza Sapienza, Maria Luiza Doria Bittencourt e Maria Werneck de Castro. Entre as conclusões da comissão: promoção junto aos poderes competentes a propaganda das ideias modernas sobre a organização do ensino normal, considerando que da sua eficiência depende o progresso da educação popular no Brasil e apelar para a Associação de Educação para que organizem campanha tenaz, persistente e eminentemente patriótica, com determinação precisa de objetivos e métodos em torno da educação moral e cívica da criança e do adolescente.

Participou de um almoço de adesões em homenagem ao advogado e escritor Gilberto Amado (1887 – 1969)(Correio da Manhã, 28 de junho de 1931, quarta coluna).

Em nome da União Universitária Feminina, discursou durante uma homenagem a Assis Brasil (1857 – 1938), realizada no Cassino Beira-Mar (Correio da Manhã, 2 de agosto de 1931, quarta coluna; Fon-Fon, 8 de agosto de 1931).

 

 

Integrava com Carmen Portinho (1903 – 2001), Ignez Mathiessen e Carmen de Carvalho a comissão da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino que foi ao Ministério da Viação e Obras solicitar ao ministro José Américo de Almeida (1887 – 1980) a readmissão das mulheres nas repartições dos Correios (Diário Nacional, 15 de agosto de 1931, primeira coluna; Correio da Manhã, 15 de agosto de 1931, última coluna).

 

 

Foi roubada no ateliê fotográfico Annunciato, que ficava no Edifício Guinle, e aonde havia ido com sua amiga, a engenheira civil Nidia Moura, buscar algumas fotografias que ahvai encomendado (A Noite, 25 de agosto de 1931, quarta coluna).

Formou-se na Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro. Era a única bacharelanda (Correio da Manhã, 10 de setembro de 1931, terceira coluna; Revista da Semana, 12 de setembro de 1931).

 

 

Foi homenageada na reunião mensal da União Universitária Feminina, da qual era secretária-geral, e também em uma reunião da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (Correio da Manhã, 4 de setembro de 1931, penúltima coluna; Correio da Manhã, 10 de setembro de 1931, terceira coluna; Correio da Manhã, 24 de setembro de 1931, quinta coluna; Para Todos, 19 de setembro de 1931).

 

 

Durante o curso de Direito, tentou ingressar no Centro de Estudos Jurídicos e Socias, o CAJU, do qual faziam parte, entre outros, Américo Lacombe (1909 – 1974), Antonio Galloti (1908 – 1986), Gilson Amado (1908 – 1979), Otávio de Faria (1908 – 1980), Plínio Doyle (1906 – 2000), San Tiago Dantas (1911 – 1964) e Vinícius de Morais (1913 – 1980). Para ser membro desse grupo era necessário defender uma tese. Ela apresentou um trabalho sobre extradição. Sua tese foi discutida em várias sessões, mas ela não foi aceita. Conforme depoimento de Vicente Chermont de Miranda (1909 – 2000), também aluno e membro do CAJU, foi discriminada por ser mulher.

Apresentou-se na Rádio Educadora dentro da programação em homenagem à inauguração do Cristo Redentor (Correio da Manhã, 6 de outubro de 1931, segunda coluna).

Compareceu ao enterro de Francisca Praguer Fróes (1872 – 1931), presidente da diretoria da União Universitária Feminina da Bahia (Correio da Manhã, 24 de novembro de 1931, terceira coluna).

 

 

1932 – Na conferência que realizou na reunião da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, Adelaide da Silva Cortes, primeira titular da comissão de imprensa da FBPF, mencionou a palestra Conceitos Feministas, proferida por Maria Luiza, na qual ela atacou os anti-feministas classificando-os de materialistas (Correio da Manhã, 3 de janeiro de 1932, última coluna).

Fazia parte da diretoria da União Universitária Feminina (Correio da Manhã, 13 de janeiro de 1932, terceira coluna; A Noite, 14 de janeiro de 1932, quarta coluna).

Em 24 de fevereiro de 1932, foi sancionado o Código Eleitoral pelo Decreto nº 21.076, que garantiu oficialmente às mulheres acima de 21 anos os direitos de votar e serem votadas no Brasil.

Em Salvador, Maria Luiza realizou uma palestra durante a comemoração de um ano da criação da Federação Baiana pelo Progresso Feminino (A Noite, 9 de abril de 1932, quinta coluna).

Na Rádio Sociedade, proferiu uma palestra em prol da Sociedade de Assistência aos Lázaros (Correio da Manhã, 6 de junho de 1932, sexta coluna).

Foi convidada para votar no concurso Qual o maior poeta moço do Brasil? Na ocasião era segunda vice-presidente da União Universitária Feminina (Brasil Feminino, julho de 1932; Revista da Semana, 9 de julho de 1932).

Bertha Lutz (1894 – 1976) havia viajado para os Estados Unidos para usufruir o prêmio de viagem que lhe concedeu a Carnegie Endowment for International Peace, por intermédio da União Pan Americana e da Associação Americana de Museus, para estudar o papel educativo dos museus americanos. Em dois meses e meio, ela percorreu vinte cidades e visitou 58 museus, saindo de Nova York em direção a St. Louis e dali para Chicago, gradualmente retornando a Nova York. Após três meses de viagem, voltou para o Brasil, em julho, e foi saudada por Maria Luisa (Correio da Manhã, 22 de julho, penúltima coluna, e 31 de julho de 1932).

Participou da II Conferência Nacional de Educação, quando expôs um trabalho sobre o ensino primário com a proposta de regulamentação da divisão de competência entre União e os estados.

Já como bacharel, fez uma prova de Direito Internacional Privado, na Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro (Correio da Manhã, 10 de agosto de 1932, segunda coluna).

Ela, Orminda Ribeiro Bastos (1899 – 1971) e Maria de Lourdes Pinto Ribeiro integravam o escritório jurídico da União Universitária Feminina (Jornal do Commercio, 18 de setembro de 1932, segunda coluna).

Participou da Quinzena de Estudos Práticos da Constituição Futura, evento que comemorou os 10 anos de existência da Federação Brasileira para o Progresso Feminino (Correio da Manhã, 18 de outubro de 1932).

Presidiu a conferência de encerramento do primeiro curso de educação política promovido pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino. O conde de Afonso Celso (1860 – 1938) proferiu a palestra Vida internacional, arbitramento internacional e interno, A Guerra fora da lei, Autorização para firmar convênios e tratados internacionais, Direitos do estrangeiro naturalizado e do estrangeiro no Brasil (Correio da Manhã, 1º de novembro de 1932, segunda coluna).

Foi uma das secretárias da primeira reunião realizada na sede da FBPF, presidida por Bertha Lutz, para receber sugestões da mulher brasileira para a nova Constituição. Apesar de ser a favor do divórcio, esclareceu que esta não seria uma matéria constitucional e sim pertinente ao Direito Civil (Correio da Manhã, 25 de novembro de 1932, sexta coluna).

1933 - Esteve em São Paulo trabalhando em prol de uma cruzada de educação política (A Cigarra, janeiro de 1933).

 

 

Estava presente à instalação do posto eleitoral da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (A Noite, 13 de fevereiro de 1933, quarta coluna).

Seguiu participando de reuniões pertinentes a sugestões à nova Constituição. Ela, Maria Eugênia Celso Carneiro de Mendonça (1886 – 1963) e a educadora Alba Canizares do Nascimento (1893 – 1944) propuseram o nome de Bertha Lutz como candidata mulher única à Assembléia Nacional Constituinte, nas eleições de 3 de maio (Diário de Notícias, 23 de abril de 1933, penúltima colunaCorreio da Manhã, 4 de abril de 1933, primeira coluna; Diário Carioca, 26 de abril de 1933, última coluna).

 

 

 

Maria Luiza foi eleita primeira vice-presidente da União Universitária Feminina (Correio da Manhã, 26 de abril de 1933, terceira coluna).

Além de Bertha, foram candidatas para deputadas constituintes pelo Rio de Janeiro a advogada Natércia Cunha Silveira (1905 – 1993), a escritora Anna César Vieira, a escritora socialista Ilka Labarthe e Georgina de Azevedo Lima de quem, segundo a reportagem publicada na Revista da Semana, não se sabia de trabalhos feministas. Na matéria da Revista da Semana, a professora baiana Leolinda Daltro (1859 – 1935), também candidata e uma das precursoras do feminismo no Brasil, declarou-se satisfeita por testemunhar a candidatura de mulheres a cargos políticos no país (Brasil Feminino, abril de 1933; O Malho, 15 de abril de 1933Correio da Manhã, 26 de abril de 1933, terceira colunaRevista da Semana, 20 de maio de 1933). Nenhuma delas foi eleita. Bertha obteve 15.756 votos, Natércia obteve 3.22o votos, Georgina Azevedo Lima, 14.093; e Ilka Labarthe, 3.869. Neste pleito, a médica paulista Carlota Pereira de Queiroz (1892 – 1982) foi eleita a primeira mulher constituinte.

 

 

Era uma das professoras do Curso de Educação Feminina, inaugurado na Universidade Livre da Capital Federal (Correio da Manhã, 26 de maio de 1933, quarta coluna).

Colaborou com a consultora jurídica da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, Orminda Ribeiro Bastos (1899 – 1971), na redação do programa da FBPF de reivindicações femininas da nova Constituição (Correio da Manhã, 22 de julho de 1933, sexta coluna).

 

 

Defendeu, no Tribunal Superior de Justiça Eleitoral, a causa de Bertha Lutz que pleiteava a suplência geral, pelo critério majoritário, por ter ficado em 11º lugar, e não apenas a diplomação como suplente do Partido Autonomista. Bertha assumiu o mandato em julho de 1936 (A Noite, 5 de setembro de 1933, última coluna).

 

 

Foi uma das signatárias de um manifesto de autoria de Bertha Lutz (1894 – 1976),  apresentado à seção de Legislação da Conferência Nacional de Proteção à Infância. Além dela, assinaram o manifesto a advogada Almerinda Farias Gama (1899 – 1999), a engenheira e urbanista  Carmen Portinho (1903 – 2001) e a tradutora Lina Hirsh (Jornal do Brasil, 23 de setembro de 1933, penúltima colunaCorreio da Manhã, 23 de setembro de 1933, quinta coluna).

Foi eleita consultora jurídica da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (A Noite, 18 de outubro de 1933, quinta coluna).

1934 – Presidia a Liga Eleitoral Independente da Bahia.

A presidente da Federação Alagoana para o Progresso Feminino, Hilda Calheiros, enviou uma carta ao então presidente da República, Getulio Vargas, pedindo a nomeação de Maria Luiza Doria Bittencourt como representante feminina do Instituto de Amparo Social.

Foi uma das organizadoras da comemoração do Dia Pan-Americano, no restaurante da Casa do Estudante do Brasil, na rua da Carioca 11, 1º andar (A Noite, 10 de abril de 1934, terceira coluna).

No Automóvel Clube do Brasil, a Federação Brasileira para o Progresso Feminino promoveu a Festa da Vitória, celebrando a s conquistas femininas na nova Constituição Brasileira. Representando a União Universitária Feminina, Maria Luiza fez um discurso (Correio da Manhã, 9 de junho de 1934, terceira coluna; Correio da Manhã, 27 de junho de 1934, sétima colunaAs Walkyrias, agosto de 1934; Correio da Manhã, 26 de setembro de 1936, quarta coluna).

 

 

 

discurso

discurso1

 

Participava da Cruzada Nacional de Educação, sob a presidência de Gustavo Ambrust (1879 – 1953) (Correio da Manhã, 17 de junho de 1934, quarta coluna).

Foi eleita primeira secretária do diretório do Partido Autonomista da Paróquia de São José, filiado ao Partido Autonomista do Distrito Federal (Jornal do Brasil, 24 de junho de 1934, quinta coluna).

Criação do Conselho de Previdência e Cultura do Distrito Federal, pleiteado por Bertha Lutz e por Maria Luiza à Assembléia Nacional Constituinte. Em setembro, Maria Luiza foi eleita secretária do Conselho, presidido por Maria Eugênia Celso Carneiro de Mendonça (A Noite, 12 de julho de 1934, quinta colunaCorreio da Manhã, 18 de setembro de 1934, penúltima coluna; Jornal do Brasil, 23 de setembro de 1934, segunda coluna).

 

 

Representando várias associações femininas,  participou da posse do novo ministro das Relações Exteriores, José Carlos de Macedo Soares (1883 – 1968) (A Noite, 27 de julho de 1934).

Era uma das feministas empenhadas na campanha para interessar a mocidade feminina para o voto (Correio da Manhã, 16 de agosto de 1934, segunda coluna).

Em Salvador, foi promovida, pela Fundação Brasileira pelo Progresso Feminino, a Segunda Convenção Feminista, entre 27 de agosto e 1º de setembro. Na época, Edith Mendes da Gama e Abreu (1903 – 1982) era a presidente da filial baiana da FBPF.

 

 

 

 

Maria Luiza participou elaborando a programação do evento, cujo objetivo foi organizar o programa post-constitucional de reivindicações de pautas do interesse das mulheres e articular as federações femininas existentes no sentido de apontar as candidatas para as eleições de outubro. Foi decidido que a federação promoveria a organização de filiais nos estados, que qualquer cerimônia da federação seria precedida pela execução de um hino cuja letra foi composta por Maria Eugênia Celso Carneiro de Mendonça (1886 – 1963) e a música, pela maestrina Joanídia Sodré (1903 – 1975). Foi também formulado o Decálogo Feminista com 10 princípios básicos (Correio da Manhã, 15 de agosto de 1934, última colunaJornal do Brasil, 19 de agosto de 1934, sexta colunaA Nação, 1º de setembro de 1934, penúltima coluna; Correio da Manhã, 1º de setembro de 1934, sexta colunaCorreio da Manhã, 4 de setembro de 1934, sexta coluna; Jornal do Brasil, 8 de setembro de 1934, quarta coluna).

 

decalogo

 

Seu nome foi incluído na chapa à Constituinte Estadual do Partido Social Democrático da Bahia, ligado ao interventor do estado Juracy Magalhães (1905 – 2001). Aloisio de Castro afirmou que seu nome foi substituido pelo de Maria Luiza devido a uma recomendação do presidente Getulio Vargas, fato negado por Juracy (O Jornal, 10 de maio de 1946, quarta coluna). Outras mulheres foram candidatas em outros estados do Brasil (Correio da Manhã, 8 de setembro de 1934, penúltima colunaGazeta de Notícias, 3 de outubro de 1934, segunda coluna).

Maria Luiza embarcou para Salvador em um hidroavião da Panair (Correio da Manhã, 8 de setembro de 1934, oitava coluna; e 25 de setembro e 1934, sexta coluna, de 1934; A Noite, 10 de setembro de 1934, quinta coluna).

 

 

Foi duramente criticada no artigo Feminismo ou burla?, do poeta e advogado Heitor Lima (1887 – 1945), que a chamou de prodigioso papagaio de quitanda, capaz de falar cinco horas a fio sem dizer nada que se aproveite (Correio da Manhã, 29 de setembro de 1934, primeira coluna).

Fez campanha pelo interior da Bahia acompanhada por Juracy Magalhães e, nas eleições de 14 de outubro, Maria Luiza elegeu-se como primeira suplente do deputado estadual e engenheiro Humberto Pacheco Miranda (Correio da Manhã, 4 de outubro de 1934, terceira coluna; Jornal do Commercio, 3 de outubro, terceira coluna; e 8 e 9 de outubro, quarta coluna, de 1934; Correio da Manhã, 22 de novembro de 1934, sétima coluna; Jornal do Commércio, 11 e 12 de fevereiro, terceira coluna, de 1935).

 

 

Foi a advogada de acusação no ruidoso processo de cassação do mandato do deputado Ernesto Pereira Carneiro (1877 – 1954) (A Noite, 9 de novembro de 1934, penúltima coluna).

Na Casa do Estudante do Brasil, instalação dos conselhos patrimoniais e consultivos. Na ocasião, Maria Luiza, membro do conselho consultivo, leu os nomes dos empossados nos conselhos (Correio da Manhã, 29 de dezembro de 1934).

 

 

1935 - Foi uma das assinantes de um manifesto em defesa de Bertha Lutz, acusada de fraude nas eleições de outubro de 1934. Foi cassado o mandato do deputado Ernesto Pereira Carneiro (1877 – 1954) e ordenada a posse de Bertha Lutz, como suplente do Partido Autonomista (Gazeta de Notícias, 29 de dezembro de 1934, primeira coluna; A Noite, 11 de janeiro de 1935, terceira coluna; A Noite, 19 de janeiro de 1935).

 

 

Em maio, com o afastamento de Humberto Pacheco Miranda, nomeado superintendente da Viação Bahiana de São Francisco, Maria Luiza Bittencourt tomou posse como deputada estadual (Correio da Manhã, 9 de maio de 1935, última coluna).

Integrou a Assembleia Constituinte da Bahia e foi uma das responsáveis pela elaboração de seu texto, tendo sido a relatora dos capítulos sobre ordem econômica e social, e também sobre educação (Gazeta de Notícias, 17 de maio de 1935, quarta coluna; Gazeta de Notícias, 14 de agosto de 1935, quinta coluna).

Na Assembleia Legislativa da Bahia, foi uma das nomeadas para integrar a comissão para dar o parecer sobre o orçamento do estado (Gazeta de Notícias, 3 de setembro de 1935, terceira coluna).

O Tribunal Superior de Justiça Eleitoral julgou os últimos recursos e o relatório final sobre o pleito baiano com as alterações decorrentes das eleições suplementares. Os deputados estaduais Waldomiro Lins de Albuquerque  e João Mendes da Costa Filho foram substituidos por Maria Luiza e Gilberto Valente (A Noite, 20 de setembro de 1935, terceira coluna).

Conquistou o prêmio Fellowship da Universidade de Radcliffe, nos Estados Unidos, onde cursou uma especialização em economia social , finanças e racionalização (Diário de Notícias, 10 de setembro de 1935, terceira colunaCorreio da Manhã, 12 de setembro de 1935, primeira coluna).

 

 

Foi homenageada na Casa do Estudante do Brasil (Diário de Notícias, 12 de setembro de 1935).

 

 

1936 - Foi recebida no Itamaraty pelo ministro das Relações Exteriores,  José Carlos de Macedo Soares (1883 – 1968), e embarcou para os Estados Unidos para a Universidade de Radcliffe (Correio da Manhã, 16 de janeiro de 1936, terceira coluna; A Noite, 16 de janeiro de 1935, penúltima coluna).

 

 

Foi elogiada em uma reportagem do New York Sun (Gazeta de Notícias, 6 de fevereiro de 1936, última coluna; Gazeta de Notícias, 18 de fevereiro de 1936, terceira coluna).

 

 

Regressou ao Brasil, em julho (A Noite, 3 de julho de 1936, quarta coluna).

Integrou uma comissão da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino que visitou o presidente da República, Getulio Vargas (1882 – 1954), no Palácio do Catete. Na pauta, o III Congresso Nacional Feminista, que se realizaria, no Rio de Janeiro, em outubro (Correio da Manhã, 18 de agosto de 1936, terceira coluna).

Por sua indicação, Nair Guimarães Lacerda foi nomeada pelo governador Juracy Magalhães para o cargo de prefeita do município baiano Urandi.

Foi uma das mulheres cujo nome foi cogitado para ingressar na Academia Brasileira de Letras. A primeira mulher imortal foi Rachel de Queiroz (1910 – 2003), eleita 41 anos depois, em 1977 (Fon-Fon, 12 de setembro de 1936).

No Rio de Janeiro, participou do III Congresso Nacional Feminista, realizado entre 20 de setembro e 9 de outubro e, como membro da FBPF, defendeu a proposta de reformulação do estatuto jurídico da mulher brasileira que havia redigido. O documento, que ficou conhecido como o Estatuto da Mulher, foi a base para o projeto de lei apresentado, no ano seguinte, por Bertha Lutz no Legislativo Federal. Foi também decidido, por ideia de Alba Canizares do Nascimento (1893 – 1944), delegada do Distrito Federal, que a FBPF organizaria o movimento panamericano pelo progresso feminino (Correio da Manhã, 4 de outubro, última coluna; 6 de outubro, terceira coluna; 8 de outubro, sétima coluna;  9 de outubro, sexta coluna11 de outubro, sexta coluna, 15 de outubro, quarta coluna, de 1936; A Noite, 9 de outubro de 1936, segunda coluna; Gazeta de Notícias, 15 de setembro de 1936, primeira colunaGazeta de Notícias, 11 de outubro de 1936, sexta coluna).

Integrou a delegação brasileira que foi à Conferência Interamericana de Consolidação da Paz, em Buenos Aires, realizada em dezembro. Antes de partir, foi homenageada pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino. Durante a conferência, após o discurso do embaixador Oswaldo Aranha, Maria Luiza falou, em nome das Associações Feministas Americanas Pró-Paz. Sua atuação foi elogiada pela imprensa e por seus companheiros de trabalho. Regressou ao Brasil, em 29 de dezembro (A Noite, 9 de novembro de 1936, terceira colunaCorreio da Manhã, 21 de novembro de 1936, terceira coluna; e 27 de novembro, quarta coluna, 6 de dezembro, quarta coluna, 30 de dezembro, sétima coluna, de 1936; A Noite, 19 de dezembro de 1936, primeira colunaA Noite, 24 de dezembro de 1936, segunda coluna; Jornal do Brasil, 16 de dezembro, quinta coluna; Jornal do Brasil, 1º de janeiro de 1937, penúltima coluna).

 

 

1937 - Fez uma palestra sobre A Conferência de Buenos Aires, no Studio Nicolas, promovida pelo Club Universitário do Rio de Janeiro (A Noite, 8 de janeiro de 1937, terceira coluna).

Como um dos membros fundadores, fazia parte do conselho consultivo da Casa do Estudante do Brasil (A Noite, 27 de janeiro de 1937, penúltima coluna).

 

 

Apoiou a candidatura de José Américo de Almeida (1887 – 1980) à Presidência da República, tendo participado da Convenção dos delegados apoiadores do governo, no Palácio Monroe. Recepcionou o candidato em sua viagem à Bahia, durante a qual, no interior do estado, ela e outros integrantes do grupo que o acompanhava tiveram suas carteiras roubadas (A Noite, 25 de maio de 1937, primeira coluna; A Noite, 26 de maio de 1937Correio da Manhã, 26 de maio de 1937, segunda coluna; 25 de agosto, quinta coluna, de 1937; Jornal do Brasil, 29 de agosto de 1937, sexta colunaA Noite, 30 de agosto de 1937, primeira coluna).

 

 

Segundo o Dicionário Mulheres do Brasil, foi dela o último discurso proferido na Assembleia Legislativa da Bahia, cujo tema era a defesa da democracia, antes da instauração do Estado Novo, em 10 de novembro, pelo presidente Getulio Vargas (1882- 1954), fato que interrompeu sua carreira parlamentar (Correio da Manhã, 11 de novembro de 1937).

Em uma reportagem da Revista da Semana, 11 de janeiro de 1947, foi noticiado que após o golpe do Estado Novo, ela teria sido presa por suas tendências socialistas.

 

 

1938 - Lançamento do livro Trabalho Feminino, de sua autoria.

Participou de um ciclo de palestras no departamento intelectual da União Universária Feminina (Correio da Manhã, 6 de maio de 1938, primeira coluna).

Em um escritório na rua da Quitanda, no centro do Rio de Janeiro, trabalhava como advogada com a feminista sergipana Maria Rita Soares Andrade (1904 – 1998) (Correio da Manhã, 6 de agosto de 1938, sexta coluna).

 

 

Ela e Mrs Stevens, Diretora da União Inter-Americana de Mulheres foram as entrevistadas da reportagem Privilégios para a mulher ou a mulher igual ao homem? (A Noite, 13 de outubro de 1938).

1939 - Foi entrevistada sobre o imposto sobre os solteiros. Na ocasião, estava estudando para dois concursos: ao de livre docência da cadeira de Legislação do Trabalho da Faculdade Nacional de Direito e à cátedra da mesma matéria na Faculdade da Bahia (A Noite, 2 de janeiro de 1939).

 

 

Participou do ciclo de palestras O Brasil visto pelas brasileiras, promovido pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, realizando uma conferência sobre Riqueza e Trabalho, no Palace Hotel (Correio da Manhã, 28 de novembro de 1939, segunda coluna).

 

 

1940 - Presidiu uma sessão do Conselho Consultivo da Casa do Estudante do Brasil (Diário de Notícias, 2 de junho de 1940, quarta coluna).

Durante a festa do Grêmio Literário do Colégio Batista Brasileiro, Maria Luiza, paraninfa do grupo, foi homenageada (A Noite, 13 de setembro de 1940, terceira coluna).

1941 - Foi uma das entrevistadas, a única mulher, sobre a possibilidade de uma paralisação completa das atividades forenses, proposta classificada como necessária por advogados mineiros. Na opinião de Maria Luiza, as férias coletivas seriam contraproducentes: “que cada advogado escolha, todo ano, a época que lhe parecer mais propícia para um repouso” (Diário de Notícias, 22 de julho de 1941, quinta coluna).

Presidiu a comissão julgadora do Concurso de Literatura de 1940, do Colégio Universitário, propriedade de Lelio Gomes. Compunham a comissão o poeta Murilo Araújo (1894 – 1980) e a escritora Maria Sabina de Albuquerque (1898 – 1991). Os prêmios foram ofertados pela Editora José Olympio (Diário de Notícias, 14 de setembro de 1941, terceira coluna).

1942 - Por ocasião da realização da Conferência Continental, no Rio de Janeiro, a União Universitária Feminina, da qual Maria Luiza fazia parte, entregou à delegação americana uma moção de apoio aos princípios que orientavam a solidariedade continental (Jornal do Brasil, 20 de janeiro de 1942, quinta coluna).

Foi a única mulher na lista dos candidatos a professor no concurso que seria realizado na Escola de Comércio do Rio de Janeiro (Diário de Notícias, 10 de julho de 1942, sexta coluna).

Foi uma das oradoras da sessão realizada no Gabinete Português de Leitura. Em pauta, o envolvimento do Brasil na Segunda Guerra Mundial (Jornal do Brasil, 28 de agosto de 1942).

Foi a primeira colocada no concurso para a livre-docência em Legislação do Trabalho e Direito Industrial na Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro, tornando-se a primeira mulher docente da história da referida faculdade. Pela conquista foi homenageada, no Cineac Trianon, com Maria Luisa Castelo Branco e Leda de Albuquerque, que haviam vencido o primeiro prêmio de Peças Teatrais, promovido pelo Ministério do Trabalho (Jornal do Brasil, 25 de novembro de 1942, quinta colunaO Jornal, 28 de novembro de 1942, primeira coluna; Correio da Manhã, 11 de dezembro de 1942; A Noite, 12 de dezembro de 1942, terceira coluna).

 

 

“Porque é principalmente através do Direito que podemos preparar os homens para fazer justiça àqueles que até hoje não têm sido senão párias sociais e só atravé do Direito bem compreendido e bem aplicado se poderá evitar a revolta e a explosão de sentimento de consequências lastimais para a sociedade”

Correio da Manhã de 11 de dezembro de 1942

1943 – Na sede da União Universitária Feminina, foi uma das sócias que recepcionaram Mary Cannon, da Divisão Feminina do Departamento de Trabalho dos Estados Unidos (A Manhã, 8 de janeiro de 1943, penúltima coluna).

Maria Luiza posicionou-se a favor do ensino misto (O Radical, 20 de março de 1943, primeira coluna).

 

 

Na Escola Nacional de Música, participou da Festa Pan-americana, comemorativa do Dia do Juramento Feminino de Lealdade Americana, promovida pela representação brasileira da Confederação Feminina dre Paz Americana, presidida pela escritora Iveta Ribeiro (1886 – 1962) (Correio da Manhã, 21 de abril de 1943, primeira coluna).

Provavelmente, casou-se neste ano, pois em uma reportagem de janeiro de 1944 foi identificada como Maria Luiza Dória Bittencourt Mello Neto (Gazeta de Notícias, 28 de janeiro de 1944, quarta coluna).

1944 - Participou da homenagem póstuma a Rachel Prado (1891 – 1943), pseudônimo da feminista curitibana Virgília Stella da Silva Cruz, fundadora do Clube das Mulheres Jornalistas, realizada no Conservatório de Música (Gazeta de Notícias, 28 de janeiro de 1944, quarta coluna).

 

Rachel Prado (1891 - 1943) / Brasil Feminino, 1933

Rachel Prado (1891 – 1943) / Brasil Feminino, 1933

 

1945 – Foi uma das professoras homenageadas durante a colação de grau dos bacharelandos da Faculdade de Economia e Finanças, realizada no Palácio Tiradentes (Correio da Manhã, 16 de janeiro de 1945, quinta coluna).

Com Natércia da Cunha Silveira (1903 – 1993), Carmen Portinho (1903 – 2001) e Maria Rita Soares de Andrade (1904 – 1998, foi uma das organizadoras de uma coligação democrática para apoiar a candidatura do brigadeiro Eduardo Gomes (1896 – 1981) à presidência da República (Diário de Notícias, 24 de fevereiro de 1945, quinta coluna).

Seu nome estava na lista dos fundadores da UDN – União Democrática Nacional  (O Jornal, 8 de abril de 1945, última coluna; Diário de Pernambuco, 10 de abril de 1945, primeira coluna).

Foi uma das signatárias de um manifesto de apoio de advogados à candidatura de Eduardo Gomes (Diário Carioca, 28 de junho de 1945, última coluna).

Foi uma das oradoras do comício do candidato Eduardo Gomes, em Salvador, na Bahia (Correio da Manhã, 24 de agosto de 1945, quarta coluna; 25 de agosto, primeira coluna; 28 de agosto, terceira coluna; de 1945; Diário de Notícias, 28 de agosto de 1945, quarta coluna).

1946 - Fazia parte da Comissão Pró-Constituição Democrática assim como Evandro Lins e Silva (1912 – 2002), Orígenes Lessa (1903 – 1986) e Oscar Niemeyer (1907 – 2012), dentre outros(Correio da Manhã, 29 de março de 1946, terceira coluna).

Foi uma das mulheres que entregou ao Comitê Parlamentar da Sociedade de Amigos da Democracia Portuguesa uma mensagem endereçada ao presidente de Portugal, Oscar Carmona (1869 – 1951), no sentido de libertar mulheres portuguesas detidas por motivos políticos (Diário Carioca, 11 de maio de 1946, primeira coluna).

Foi escolhida para integrar, como secretária, a comissão executiva da II Convenção Nacional da União Democrátia Nacional, UDN (Correio da Manhã, 15 de maio de 1946, penúltima coluna; O Jornal, 15 de maio de 1946, primeira coluna).

Participou de um comício da Esquerda Democrática no Campo de São Cristóvão e no Largo do Humaitá, em Botafogo; e foi, pelo partido, candidata a vereadora no Distrito Federal. Era, na época, livre docente da Faculdade Nacional de Direito e professora da Faculdade de Administração e Finanças (Diário de Notícias, 20 de novembro, quinta coluna; e 29 de dezembro, penúltima coluna, de 1946; Diário Carioca, 13 de dezembro de 1946, quinta coluna).

 

 

1947 - Participou, com outros candidatos da Esquerda Democrática, de um comício, no Jardim de Marechal Hermes. As eleições gerais foram realizadas em 19 de janeiro, mas Maria Luiza não foi eleita, tendo recebido 55 votos (Revista da Semana, 11 de janeiro de 1947Diário de Notícias, 14 de janeiro de 1947, última coluna; Correio da Manhã, 6 de fevereiro de 1947, quarta coluna).

Participou com várias outras feministas de uma reunião realizada na Casa do Estudante do Brasil. Em pauta, a realização do Congreso Internacional de Mulheres, entre setembro e outubro, em Paris. Foi uma das integrantes do Comitê Brasileiro do Congresso (Diário de Notícias, 18 de julho, quinta coluna; 17 de agosto, terceira coluna, de 1947).

Foi uma das oradoras da comemoração dos 18 anos da Casa do Estudante do Brasil (Diário de Notícias, 9 de agosto de 1947, segunda coluna; Tribuna Popular, 12 de agosto de 1947, sexta coluna; Revista da Semana, 23 de agosto de 1947).

1948 – O escritor pernambucano Mario Sette (1886 – 1950) realizou na Casa do Estudante do Brasil a palestra Velhas estampas que contam as histórias de uma cidade. A sessão foi presidida pelo acadêmico Mucio Leão (1898 – 1969), que foi saudado por Maria Luiza, então diretora da entidade (Diário de Pernambuco, 21 de março de 1948, segunda coluna).

O Curso de Geografia Econômica, ministrado gratuitamente por Maria Luiza, na sede do Partido Socialista Brasileiro, na rua Buenos Aires, 57, seria reiniciado (Correio da Manhã, 15 de maio de 1948, sétima coluna).

1950 – Foi noticiado que Maria Luiza seria uma das candidatas do Partido Socialista Brasileiro para a Câmara Municipal do Rio de Janeiro (Revista da Semana, 11 de março de 1950, segunda coluna).

1951 – Como presidente em exercício da Casa do Estudante do Brasil assinou uma saudação à Embaixada Universitária de Coimbra e ofereceu uma feijoada aos estudantes portugueses (Tribuna da Imprensa, 28 de agosto de 1951, primeira colunaDiário Carioca, 28 de agosto de 1951, sexta colunaA Manhã, 1º de setembro de 1951, antepenúltima coluna).

1952 – Foi noticiado na coluna de Gilberto Trompovski que Maria Luiza havia sido uma das convidadas de uma recepção oferecida por Anna Amélia e Marcos Carneiro de Mendonça (O Jornal, 13 de abril de 1952, segunda coluna).

1954 – Morava em São Paulo e foi identificada em uma matéria do Jornal do Brasil como advogada, esposa e mãe exemplar (Jornal do Brasil, 29 de outubro de 1954, sexta coluna).

1956 – Em uma entrevista, a advogada Maria Rita Soares de Andrade (1904 – 1998), perguntada sobre a possibilidade da mulher exercer uma profissão e ser uma boa mãe de família, declarou: “Não conheço esposa e mãe mais abnegada e heróica do que Maria Luiza Bittencourt, advogada e ex-deputada estadual na Bahia” (Jornal do Brasil, 4 de novembro de 1956).

1961 - Foi a tradutora Introdução à Eloquência, do professor Charles Brown (Jornal do Brasil, 18 de maio de 1961, quinta coluna).

Diretoras da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino disseram ao professor Orlando Gomes, encarregado da reforma do Código Civil que era “uma pena que o presidente da República não tenha constituido um Grupo de Trabalho de advogados mulheres como Maria Luiza Bittencourt e Esther Figueiredo Ferraz para redigir o direito de família” (Tribuna da Imprensa, 9 de agosto de 1961, última coluna).

1964 – Foi noticiado que ela e Maria Rita Soares de Andrade (1904 – 1998) haviam sido as inventariantes de Cecilia Meireles (1901 – 1964) após a morte do primeiro marido da escritora, o artista plástico Fernando Correia Dias (1892 – 1935) (Jornal do Brasil, 11 de novembro de 1964, quarta coluna).

1969 - Integrante do Conselho Patrimonial da Casa do Estudante do Brasil, foi uma das oradoras na comemoração dos 40 anos da entidade, marcada pela reinauguração da Biblioteca Artur Ramos e pela realização de um Almoço de Confraternização Universitária (Correio da Manhã, 14 de agosto de 1969, quarta coluna; O Jornal, 14 de agosto de 1969, segunda coluna; O Jornal, 17 de agosto de 1969, penúltima coluna).

1970 – Escreveu um artigo para a revista Rumo, cuja edição foi dedicada à Casa do Estudante do Brasil (O Jornal, 24 de maio de 1970, quarta coluna).

1979 - No auditório do MEC, Maria Luiza e o engenheiro L.A. Falcão Bauer fizeram palestras sobre o entrosamento profissional entre homens e mulheres dentro da programação da Segunda Reunião Latino-Americana de Mulheres Universitárias (Jornal do Brasil, 11 de dezembro de 1979, quinta coluna).

1981 – Foi entrevistada quando estava, na véspera do Dia de Finados, visitando o Cemitério São João Batista (Jornal do Brasil, 2 de novembro de 1981, terceira coluna).

1983 – Foi citada como uma personalidade importante na conquista dos direitos femininos no Brasil em duas colunas de Alfio Ponzi (1914 – 1985) (Jornal do Commercio, 29 de março, última coluna; e 11 e 12 de setembro, segunda coluna, de 1983).

1988 – Recebeu, na Associação Brasileira de Mulheres Universitárias, o diploma do Mérito Ruy Barbosa da diretoria da Casa da Bahia por ter sido a primeira mulher constituinte da Bahia (Jornal do Brasil, 29 de abril de 1988, segunda coluna).

2001 – Falecimento de Maria Luiza.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

ALVES, Branca Moreira, Ideologia e feminismo: a luta das mulheres pelo voto no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1980.

Arquivo Nacional. Série Mulheres e o Arquivo: Maria Luiza Bittencourt, 28 de outubro de 2020.

BONATO, Nailda Marinho da Costa; COELHO, Ligia Martha Coimbra da Costa. CONCEPÇÕES DE EDUCAÇÃO INTEGRAL NA DÉCADA DE 30: AS TESES DO II CONGRESSO INTERNACIONAL FEMINISTA SECOND CONGRESS FEMINIST INTERNATIONAL – 1931 

COSTA, Ana Alice Alcântara. As donas do poder. Mulher e política na Bahia. Salvador: NEIM/UFBa – Assembléia Legislativa da Bahia. 1998 – (Coleção Bahianas; 02)

Faculdade Nacional de Direito – UFRJ

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KARAWEJCZYK, Monica. As filhas de Eva querem votar: uma história da conquista do sufrágio feminino no Brasil. Tese (Doutorado em História), Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2013.

LIMA, Thais de Souza. Federação Alagoana pelo Progresso Feminino: a luta pela ampliação da democracia e pelo direito ao voto feminino (1927-1932). 

MARQUES, Teresa Cristina de Novaes. Bertha Lutz – Perfil parlamentar. Brasília : Editora da Câmara

Mulher: 500 anos atrás dos pano

Portal Academia Brasileira de Letras

REGIS, Caren Victorino. A Casa do Estudante do Brasil – O Pavilhão Feminino: uma reivindicação de 1931. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, dezembro de 2008.

REGIS, Caren Victorino. Relatório científico do subprojeto O ensino superior para as mulheres: concepções da União Universitária Feminina. Rio de Janeiro : UNIRIO, 2008.

SCHUMAHER, Schuma; BRAZIL, Erico Vital (organizadores). Dicionário Mulheres do Brasil: de 1500 até a atualidade biográfico e ilustrado. Rio de Janeiro : Jorge Zahar Ed., 2000.

Site do Senado Federal

VANIN, Iole Macedo. A produção intelectual das médicas formadas na Bahia: o feminismo na tese de Ítala Oliveira. Diásporas, Diversidades, Deslocamentos, 23 a 26 de agosto de 2010.

 

Acesse aqui os outros artigos da Série “Feministas, graças a Deus!

Série “Feministas, graças a Deus!” I – Elvira Komel, a feminista mineira que passou como um meteoro, publicado em 25 de julho de 2020, de autoria da historiadora Maria Silvia Pereira Lavieri Gomes, do Instituto Moreira Salles, em parceria com Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” II  – Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993), o jequitibá da floresta, publicado em 20 de agosto de 2020, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” III  – Bertha Lutz e a campanha pelo voto feminino: Rio Grande do Norte, 1928, publicado em 29 de setembro de 2020, de autoria de Maria do Carmo Rainha, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” IV  – Uma sufragista na metrópole: Maria Prestia (? – 1988), publicado em 29 de outubro de 2020, de autoria de Claudia Heynemann, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” V – Feminista do Amazonas: Maria de Miranda Leão (1887 – 1976), publicado em 26 de novembro de 2020, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, mestre em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” VI – Júlia Augusta de Medeiros (1896 – 1972) fotografada por Louis Piereck (1880 – 1931), publicado em 9 de dezembro de 2020, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” VII – Almerinda Farias Gama (1899 – 1999), uma das pioneiras do feminismo no Brasil, publicado em 26 de fevereiro de 2021, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” VIII – A engenheira e urbanista Carmen Portinho (1903 – 2001), publicado em 6 de abril de 2021, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” IX – Mariana Coelho (1857 – 1954), a “Beauvoir tupiniquim”, publicado em 15 de junho de 2021, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XI e série “1922 – Hoje, há 100 anos” VI – A fundação da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, publicado em 9 de agosto de 2022, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XII e série “1922 – Hoje, há 100 anos” XI – A 1ª Conferência para o Progresso Feminino, publicado em 19 de dezembro de 2022, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, historiadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” XIII – E as mulheres conquistam o direito do voto no Brasil!, publicado em 24 de fevereiro de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XIV – No Dia Internacional da Mulher, Alzira Soriano, a primeira prefeita do Brasil e da América Latina, publicado em 8 de março de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XV – No Dia dos Povos Índígenas, Leolinda Daltro,”a precursora do feminismo indígena” e a “nossa Pankhurst, publicado em 19 de abril de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XVI – O I Salão Feminino de Arte, em 1931, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica, publicado em 30 de junho de 2023

Série “Feministas, graças a Deus!” XVII – Anna Amélia Carneiro de Mendonça e o Zeppelin, equipe de Documentação da Escola de Ciências Sociais FGV CPDOC, em parceira com Andrea C.T. Wanderley, publicado em 5 de janeiro de 2024

Série “O Rio de Janeiro desaparecido” XVII – Igreja São Pedro dos Clérigos

No 17º artigo da Série O Rio de Janeiro desaparecido o tema é a Igreja São Pedro dos Clérigos. As fotografias são de Marc Ferrez (1843 – 1923), o mais importante cronista visual das paisagens e dos costumes cariocas da segunda metade do século XIX e do início do século XX; e do alagoano Augusto Malta (1864 – 1957), que foi o fotógrafo oficial da prefeitura do Rio de Janeiro de 1903 a 1936. O cargo foi criado para ele pelo prefeito Francisco Pereira Passos (1836 – 1913).

Foi em 1733 que a Igreja São Pedro dos Clérigos começou a ser construída na região central do Rio de Janeiro, na esquina das ruas São Pedro, que na época chamava-se rua dos Carneiro, e dos Ourives, atual rua Miguel Couto. Utilizando a ferramenta zoom, o leitor poderá magnificar a imagem abaixo e ver claramente as placas indicando a rua do Ourives e a Drogaria Araújo Freitas & Cia, além do calçamento e dos detalhes arquitetônicos da igreja. Há ainda pedestres na rua e uma charrete.

 

 

O terreno onde foi construída a Igreja São Pedro dos Clérigos ou Igreja do Príncipe dos Apóstolos foi doado pelo irmão Franciso Barreto de Menezes, em 9 de outubro de 1732. Foi edificada pelo bispo dom Antonio Guadalupe, que também realizou uma doação particular. Ficou pronta em 1738 e era considerada uma jóia do barroco. Seu interior era decorado por um rico trabalho do mineiro Mestre Valentim (1745 – 1813), um dos principais artistas do Brasil colonial. Era propriedade da Venerável Irmandade do Príncipe dos Apóstolos de São Pedro.

 

 

 

A autoria de seu projeto é controversa. Segundo a tese de doutorado de Luís Alberto Ribeiro Freire, A Talha Neoclássica na Bahia, Universidade do Porto, 2001:

O livro de tombo não nos informa, assim como nenhum outro documento encontrado nos arquivos da irmandade, da autoria do projeto da igreja. No entanto, Moreira de Azevedo cita o engenheiro militar Tenente-Coronel José Cardoso Ramalho como o autor do risco, baseando-se, para tanto, na tradição oral e numa informação que teria recebido diretamente de descendentes do referido militar, que teriam afirmado ser dele a autoria da igreja de São Pedro, assim como também a de Nossa Senhora da Glória do Outeiro. Souza Viterbo contestou esta autoria comprovando que o Tenente-Coronel somente teria se instalado na capitania do Rio de janeiro em 1738, portanto ao final já da construção. Apesar disso, constatou-se posteriormente que o tenente-coronel poderia, ainda assim, ter sido o autor do risco, pois durante dez anos antes de ter tomado posse de seu posto no Rio de Janeiro, a serviço do rei, escoltava constantemente as frotas que da metrópole vinham ao Brasil.”  

A igreja tinha uma planta elíptica, hoje só encontrada na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, em Ouro Preto, Minas Gerais. É também uma das igrejas brasileiras que se enquadram na tipologia curvilínea barroca, assim como a da Lapa dos Mercadores, no Rio de Janeiro, e outras igrejas em Minas Gerais, dentre elas a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, em Ouro Preto; e a de São Pedro dos Clérigos, em Mariana.

 

 

 

 

 

O mineiro Manoel Vieira dos Santos tornou-se o benfeitor da igreja quando doou, em 1764, 42,000 cruzados para o estabelecimento de um coro de seis sacerdotes na igreja. No mesmo ano, o bispo Antonio do Desterro (1694 – 1773) concedeu a licença, declarando que a irmandade jamais poderia dispor do patrimônio e do rendimento para despesas estranhas àquela instituição.

Foi uma das primeiras igrejas tombadas pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – SPHAN -, criado em  em 13 de janeiro de 1937. O SPHAN é o atual Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN. O tombamento deveria ser a garantia para sua conservação e permanência, porém a Igreja São Pedro dos Clérigos foi demolida, em 1944, durante o Estado Novo, devido à construção da avenida Presidente Vargas, um projeto de modernidade do governo de Getulio Vargas (1882 – 1954) que promulgou, em 29 de novembro de 1941, o Decreto-Lei 3866 de destombamento de bens do patrimônio histórico. Havia, na época, um pensamento segundo o qual resolver os problemas da cidade era solucionar seus problemas de tráfego.

 

 

DECRETO-LEI Nº 3.866, DE 29 DE NOVEMBRO DE 1941

Dispõe sobre o tombamento de bens no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional      

O Presidente da República, usando da atribuição que lhe confere o art. 180 da Constituição,

       DECRETA:

       Artigo único. O Presidente da República, atendendo a motivos de interesse público, poderá determinar, de ofício ou em grau de recurso, interposto pôr qualquer legítimo interessado, seja cancelado o tombamento de bens pertencentes à União, aos Estados, aos municípios ou a pessoas naturais ou jurídicas de direito privado, feito no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, de acordo com o decreto-lei nº 25, de 30 de novembro de 1937.

       Rio de Janeiro, 29 de novembro de 1941, 120º da Independência e 53º da República.

Getulio Vargas
Gustavo Capanema

Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 31.12.1941

Foi publicada a reportagem Vestígios da arte grega nos templos cariocas, com uma breve história e uma descrição da Igreja de São Pedro dos Clérigos e de suas raridades artísticas (Diário da Noite, 23 de julho de 1943).

 

 

Rodrigo de Melo Franco Andrade (1898–1969), diretor do SPHAN, tentou evitar a demolição. Houve uma grande polêmica, protestos de fiéis, de engenheiros, de historiadores e de arquitetos. O então prefeito do Rio de Janeiro, Henrique Dodsworth (1895 – 1975), pensou na possibilidade de deslocar o prédio da igreja para a lateral da avenida Presidente Vargas, utilizando-se, para este fim, rolos de concreto de 60 cm de diâmetro (Illustração Brasileira, agosto de 1943A Noite, 21 de setembro de 1943).

 

 

 

“O projeto consistia em substituir a parte inferior das paredes da igreja por concreto. Sob o concreto seriam colocados rolos que serviriam para deslocar a igreja até o outro lado da avenida. A Franki, uma empresa de fundações e infra-estrutural tinha tido sucesso na Europa no transporte de construções sobre rolos de aço. Mas aqui no Brasil surgiu a idéia de usar rolos de concreto, cujos estudos foram realizados pelo Prof. Fernando Lobo Carneiro”. 

Coisas da Arquitetura

 

 

 

 

Foi publicada uma matéria sobre as demolições já concluídas e as que ainda seriam realizadas para a abertura da avenida Presidente Vargas, dentre elas a da Igreja de São Pedro dos Clérigos (A Noite, 5 de novembro de 1943, primeira página, penúltima coluna página 3, sexta coluna). Instalou-se uma polêmica em torno da remoção (Diário da Noite, 1º de dezembro de 1943).

 

 

Dodsworth (1895 – 1975), começou a ser ridicularizado devido a esse projeto de deslocamento da igreja. Consultou a Franki, empresa de fundações e infra-estruturas, que tinha tido sucesso na Europa no transporte de construções sobre rolos de aço, sobre a garantia do transporte do prédio da igreja e o diretor da empresa disse que não poderia dar essa garantia devido à  heterogeneidade das paredes. Havia a possibilidade de um acidente que poderia causar o desmoronamento do igreja. Diante disso, Dodsworth optou pela demolição (Diário da Noite, 11 de fevereiro de 1944).

 

 

 

O nascimento da avenida condenou ao desaparecimento de outras três igrejas que estavam em seu caminho: a de São Domingos, de 1791, que ficava no largo de mesmo nome, na altura da Avenida Passos; a de Bom Jesus do Calvário, de 1719, na esquina da Rua Bom Jesus do Calvário com a da Vala, onde hoje é a Rua Uruguaiana; e a de de Nossa Senhora da Conceição, de 1757, na altura da atual Rua da Conceição. Uma curiosidade: o grande músico brasileiro, padre José Maurício Nunes Garcia (1767 – 1830), considerado o mais importante compositor brasileiro do fim do século XVIII e início do XIX; e o poeta Manuel Ignácio Silva Alvarenga (1749 – 1814) foram sepultados na Igreja São Pedro dos Clérigos.

“Antes da demolição, foram retirados todo o mobiliário, o altar e as talhas de Mestre Valentim, além de portas, janelas e partes da construção que poderiam ser usadas numa futura recomposição do templo, o que nunca aconteceu. Por esse motivo, pedaços da bela São Pedro dos Clérigos foram distribuídos por museus, fundações e outras paróquias. A imagem do altar-mor e a portada principal foram reutilizadas na nova Igreja de São Pedro, na Avenida Paulo de Frontin, no Rio Comprido. Duas cabeças de anjos e uma parte do retábulo estão no Museu de Arte Sacra da Arquidiocese do Rio de Janeiro. E uma das portas foi parar no Palácio Assunção, no Sumaré”.

O GLOBO, 7 de setembro de 2014

 

 

O desmonte da igreja e a dispersão das suas peças por acervos públicos e coleções particulares alimentou durante anos o mercado de artes. A imagem venerada no altar-mor de São Pedro, representado em trajes pontificiais e assentado em sua cátedra; e a portada principal da capela se encontram na Igreja de São Pedro, construída no Rio Comprido.

A rua de São Pedro, onde ficava a igreja e que havia sido aberta antes de 1620, também desapareceu para dar passagem à avenida Presidente Vargas. Havia se chamado rua Antônio Vaz Viçoso e rua do Carneiro, mas durante a construção da igreja passou a ser conhecida como rua de São Pedro. Em 1817, passou a ser, oficialmente denominada rua Desembargador Antonio Cardoso, mas permaneceu sendo designada São Pedro.

Todas as peças históricas da Igreja de São Pedro dos Clérigos foram fotografadas pelo SPHAN, atual IPHAN, para facilitar os trabalhos de uma futura reconstrução, que nunca aconteceu. Foram divulgadas no livro Réquiem pela Igreja de São Pedro: um patrimônio perdido e exibidas durante a exposição homônima, comemorativa do cinquentenário da SPHAN, em 1987, realizada pelo SPHAN e pela Casa de Rui Barbosa. Algumas estão publicadas no Ensaio de Compressão Diametral Prof. Fernando Lobo Carneiro, com notas de aula de Eduardo C.S Thomas, entre as páginas 73 e 91.

 

 

Igreja de São Pedro dos Clérigos (1733 – demolida em 1944) *

Cássio Loredano

Com que dor escreveria Sandra Alvim a palavra demolida – tantas dezenas de vezes em sua monumental Arquitetura religiosa colonial no Rio de Janeiro -, toda vez que trata da igreja de São Pedro dos Clérigos. “Traçado primoroso”, diz ela, formado pela interseção de arcos de circunferência, resultado de “elevado grau de elaboração formal”; inestimável documento da incipiente independência e formação da identidade do mestre-de-obras brasileiro em relação à Metrópole, superando as “rígidas limitações estéticas lusas”; primeira igreja da colônia a ter cobertura em cúpula coroada por zimbório com lanternim. Demolida em 1944. Ficava na velha rua de São Pedro, igualmente atropelada pela abertura da avenida Presidente Vargas.

Dois anos antes, já tinham sido postas abaixo a pequenina ermida de São Domingos (1706, reconstruída em 1791) e a igreja do Bom Jesus do Calvário, de 1796, todas no caminho da violência poluente, inclemente, que vai da Candelária à Praça da Bandeira. “Demolidas em 1942″, escreve a professora Sandra. Demolidas. As fotos são de cortar o coração.

*Esse texto, acompanhado de fotografias do acervo dos Diários Associados do Rio de Janeiro, adquirido pelo Instituto Moreira Salles, foi publicado em 13 de setembro de 2018 na seção Por dentro dos acervos, do site do IMS

 

 

 

Link para o samba Bom dia Avenida!, sobre a avenida Presidente Vargas, composição de Herivelto Martns e Grande Otelo, interpretada pelo Trio de Ouro, formado por Dalva de Oliveira, Herivelto Martins e Nilo Chagas.

 

“Lá vem a nova avenida 

Remodelando a cidade

Rompendo prédios e ruas

Os nossos patrimônios de saudade

É o progresso!

E o progresso é natural

Lá vem a nova avenida

Dizer à sua rival

Bom dia Avenida Central!

A União das Escolas de Samba

Respeitosamente fez o seu apelo

Três e duzentos de selo!

Requereu e quer saber

Se quem viu Praça Onze acabar

Tem direito à Avenida

Em primeiro lugar

Nem que seja depois de inaugurar!

Nem que seja depois de inaugurar!”

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

ALVIM, Sandra. Arquitetura Religiosa Colonial no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: UFRJ; IPHAN, Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. 1999.

AZEVEDO, Moreira de. A Igreja de São Pedro  in O Rio de Janeiro: Sua História, Monumentos, Homens Notáveis, Usos e Curiosidades. Rio de Janeiro: B. L. Garnier, 1877. 2 v.

BARATA, Cau. Rio Antigo - Igreja de São Pedro dos Clérigos. Youtube, 2010.

Blog Rio Curioso

BURY, John. Arquitetura e Arte no Brasil Colonial. IPHAN/Monumenta. Brasília, 2006.

Coisas da Arquitetura

FREIRE, Luiz Alberto Ribeiro. A Talha Neoclássica na Bahia. Rio de Janeiro : Versal Editores, 2006.

GERSON, Brasil. História das Ruas do Rio. Rio de Janeiro: Bem-Te-Vi, 2013.

HOLLANDA, Daniela Maria Cunha de. A barbárie legitimada: A demolição da Igreja de São Pedro dos Clérigos do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro : EDUERJ, 2014.

Música Brasilis

OLIVEIRA, Myriam A. R.; JUSTINIANO, Fátima. Barroco e Rococó nas Igrejas do Rio de Janeiro. Roteiros do Patrimônio, IPHAN/Monumenta. Brasília,2006.

PEREIRA, André Luiz T. Notas Sobre o Patrimônio Artístico das Irmandades de São Pedro dos Clérigos. I Encontro de História da Arte, São Paulo, 2005.

O Globo, 7 de setembro de 2014

Rio de Antigamente

Rio Memórias

Secretária das Culturas/ Arquivo da Cidade. Memória da Destruição: Rio – Uma história que se perdeu. Prefeitura do Rio de Janeiro, 2002.

Site José Maurício Nuno Garcia

THOMAS, Eduardo C.S. Ensaio de Compressão Diametral Prof. Fernando Lobo Carneiro

 

Links para os outros artigos da Série O Rio de Janeiro desaparecido

 

Série O Rio de Janeiro desaparecido I Salas de cinema do Rio de Janeiro do início do século XXde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 26 de fevereiro de 2016.

Série O Rio de Janeiro desaparecido II – A Exposição Nacional de 1908 na Coleção Família Passos, de autoria de Carla Costa, historiadora do Museu da República, publicado na Brasiliana Fotográfica, em 5 de abril de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido III – O Palácio Monroe, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica, em 9 de novembro de 2016.

Série O Rio de Janeiro desaparecido IV - A via elevada da Perimetral, de autoria da historiadora Beatriz Kushnir, publicado na Brasiliana Fotográfica em 23 de junho de 2017.

Série O Rio de Janeiro desaparecido V – O quiosque Chopp Berrante no Passeio Público, Ferrez, Malta e Charles Dunlopde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portalpublicado na Brasiliana Fotográfica em 20 de julho de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VI – O primeiro Palácio da Prefeitura Municipal do Rio de Janeirode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de setembro de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VII – O Morro de Santo Antônio na Casa de Oswaldo Cruzde autoria de historiador Ricardo Augusto dos Santos da Casa de Oswaldo Cruzpublicado na Brasiliana Fotográfica em 5 de fevereiro de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VIII – A demolição do Morro do Castelode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portalpublicado na Brasiliana Fotográfica em 30 de abril de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido IX – Estrada de Ferro Central do Brasil: estação e trilhosde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de novembro de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido X – No Dia dos Namorados, um pouco da história do Pavilhão Mourisco em Botafogode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de junho de 2020.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XI – A Estrada de Ferro do Corcovado e o mirante Chapéu de Sol, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 22 de julho de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XII – o Teatro Lírico (Theatro Lyrico), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 15 de setembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIII – O Convento da Ajuda, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de outubro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIV – O Conselho Municipal, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 19 de novembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XV – A Praia de Santa Luzia no primeiro dia do verão, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 21 de dezembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVI – O prédio da Academia Imperial de Belas Artes, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, publicado na Brasiliana Fotográfica em 13 de janeiro de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVIII – A Praça Onze, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 20 de abril de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIX – A Igrejinha de Copacabana, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 23 de junho de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XX – O Pavilhão dos Estados, futuro prédio do Ministério da Agricultura, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 26 de julho de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXI – O Chafariz do Largo da Carioca, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 19 de setembro de 2022. 

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXII – A Cadeia Velha que deu lugar ao Palácio Tiradentes, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 11 de abril de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXIII e Avenidas e ruas do Brasil XVII - A Praia e a Rua do Russel, na Glória, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 15 de maio de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXIV – O luxuoso Palace Hotel, na Avenida Rio Branco, uma referência da vanguarda artística no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 4 de julho de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXV – O Theatro Phenix, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 5 de setembro de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXVI – Conclusão do arrasamento do Morro do Castelo por Augusto Malta, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 14 de dezembro de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXVII e Série Os arquitetos do Rio de Janeiro V – O Jockey Club e o Derby Club, na Avenida Rio Branco e o arquiteto Heitor de Mello (1875 – 1920), de autoria de Andrea c. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, em 15 de janeiro de 2024

 

 

 

 

Fotografias da Gripe Espanhola do fundo Moncorvo Filho, da Casa de Oswaldo Cruz

Hoje, data que marca os dois anos da caracterização da Covid-19 como uma pandemia, pela Organização Mundial da Saúde, a Brasiliana Fotográfica traz para seus leitores fotografias da pandemia de Gripe Espanhola, em 1918, descobertas, em meados de março de 2020, no arquivo do médico Moncorvo Filho. Os autores do artigo Fotografias da Gripe Espanhola são Ricardo Augusto dos Santos, Felipe Almeida Vieira e Francisco dos Santos Lourenço, pesquisadores Departamento de Arquivo e Documentação da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, uma das instituições parceiras do portal.

Fotografias da Gripe Espanhola 

Ricardo Augusto dos Santos, Felipe Almeida Vieira e Francisco dos Santos Lourenço*

 

“Grande vozerio, gritos e gemidos de repente ouvi que partiam do saguão da entrada e contiguo à minha sala. Corro a ver o que era. Uma onda humana invadia o prédio de nossa sede: eram homens, mulheres e crianças, em sua maioria andrajosos, comprimindo-se para entrar e agasalhar-se em todas as salas do nosso estabelecimento. Havia gente de todas as classes sociais, indivíduos brancos e de cor, velhos, moços e crianças, carregados uns pelos outros, alguns que entravam a cambalear, esquálidos, ardendo em febre, outros a vomitar e finalmente alguns encontrados já a expirar na via pública…” (Moncorvo Filho, 1924:49)

 

Em meados de março de 2020, durante o início da quarentena imposta pela epidemia de Covid-19, encontramos imagens inéditas da Gripe Espanhola no arquivo do médico Moncorvo Filho. Sabíamos da importância deste acervo, entretanto, não possuíamos a real dimensão do inestimável patrimônio que estava em nossas mãos. Apresentamos algumas das imagens neste breve trabalho.

 

Acessando o link para as fotografias inéditas da Gripe Espanhola no arquivo do médico Moncorvo Filho disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

Em setembro de 1918, no Rio de Janeiro, os habitantes começaram a apresentar febre alta. Era a Gripe Espanhola, doença que vinha da Europa pelos navios que ancoravam nos portos brasileiros. Numa cidade com um milhão de habitantes, morreram, segundo os registros oficiais, quase 15 mil pessoas. Os médicos receitavam canja e limão. Não que o Brasil não estivesse avisado. A gripe estava dizimando na Europa e mataria, de acordo com as estimativas mais cautelosas, trinta milhões de pessoas em todo o mundo.

Médicos e autoridades não sabiam como proceder e que atitudes tomar diante da pandemia. As instituições governamentais de saúde concentraram sua atuação no atendimento aos doentes. O que melhorou um pouco a trágica situação foram as ações isoladas. Hospitais e enfermarias provisórias foram montadas. Toda ajuda era bem-vinda, mas era pouca. Alguns círculos operários também contribuíram fornecendo auxílio.

 

“Morrer na cama era um privilégio abusivo e aristocrático. O sujeito morria nos lugares mais impróprios, insuspeitados: – na varanda, na janela, na calçada, na esquina, no botequim… Muitos caíam, rente ao meio-fio, com a cara enfiada no ralo. E ficavam, lá, estendidos, não como mortos, mas como bêbados. Ninguém os chorava, ninguém. Nem um vira-latas vinha lambê-los. Era como se o cadáver não tivesse nem mãe, nem pai, nem amigo, nem vizinho e, nem ao menos, inimigo.” (, 1967:72)

 

Os cariocas morriam em casa, na rua, no trabalho, sendo recolhidos pelos funcionários da Prefeitura. Estes jogavam os corpos nas carroças da companhia de limpeza pública. Conta-se que quando descobriam alguém dado como morto e ainda vivo, acabavam de matá-lo com as pás. Nos cemitérios, coveiros abriram valas, onde eram despejadas dezenas de mortos. E, quanto mais corpos acumulados, mais a situação piorava.

Frente ao desconhecimento ou ineficácia das medidas que pudessem impedir o contágio ou cuidar dos doentes, as autoridades públicas inicialmente restringiram-se a orientar a população a evitar aglomeração. A cidade transformou-se num caos, faltavam alimentos e ocorriam saques aos armazéns. Para completar este quadro tenebroso ainda havia o problema dos cadáveres insepultos. Não havendo pessoal suficiente para enterrar os mortos, foram utilizados os presidiários. O cenário de corpos amontoados pelos cemitérios ou abandonados pelas ruas era desolador.

 

 

Com o desenrolar dos fatos, aumentava o temor coletivo. No período mais crítico, a população ficou desesperada. A divulgação pela imprensa do número de óbitos, da ausência de assistência médica e das atrocidades cometidas intensificava o clima de medo. A todo esse cenário podemos acrescentar o ar fétido, emanado das covas, casas e ruas, onde os corpos permaneciam à espera de sepultamento. Outro aspecto que deve ser considerado diz respeito às atitudes desencadeadas a partir do terror instalado com a gripe. Narrativas terríveis falam de atos insensatos cometidos por pessoas transtornadas com a situação.

A interrupção das atividades econômicas e outras adversidades inerentes aos fenômenos epidêmicos não foram evitadas e tampouco houve planejamento para aplacar os efeitos da espanhola. A doença inicialmente apresentou-se aos habitantes do país como um mal distante. Tanto órgãos da imprensa quanto os responsáveis pelos serviços de saúde pública colocavam em dúvida a existência da espanhola no Brasil. Os casos observados poderiam ser moléstias ainda não identificadas. Para além da discussão científica, um fator deve ser observado: a aceitação de que a epidemia havia invadido o país evidenciaria a fragilidade das políticas públicas de saúde.

A gripe é transmitida por contágio direto, tendo como sintomas principais febre, prostração e dores musculares. Embora não seja incorreta a ideia do caráter “democrático” das doenças contagiosas, que atacam de forma indiferenciada as classes sociais, as observações mostram que enfermidades epidêmicas podem ser fulminantes em organismos debilitados por condições de sobrevivência precárias.

Embora os políticos e administradores do Rio de Janeiro não acreditassem, ou não quisessem aceitar, a epidemia foi dominando a cidade. Em outubro, a imprensa noticiou a existência de doentes em quartéis, fábricas e escolas. Por volta da segunda semana era enorme a quantidade de casos. Nesse momento, o número de pessoas atingidas havia crescido, deixando a população apavorada. A violência da gripe transformava a cidade, paralisando vários setores das atividades urbanas.

“Nas habitações coletivas, em estado grave caiam quase fulminados pelo terrível morbo inúmeros de seus moradores. A população estava muito justamente alarmadíssima e todos os serviços públicos já se mostravam em 10 de outubro sensivelmente desfalcados do seu pessoal, por doença afastado de seus misteres, sendo em número assaz elevado as guias extraídas pelas Delegacias de Polícia para o internamento de gripantes no Hospital da Misericórdia. Os miseráveis e mendigos, como sempre sucede, eram os que primeiro caiam vítimas do devastador morbo e nos quais a doença de maior gravidade era desde logo emprestada.” (Moncorvo Filho, 1924:52)

 

 

Nos primeiros dias de novembro, a situação era alarmante. A epidemia forçara o fechamento do comércio e indústrias, bem como a interrupção dos serviços públicos. A cidade estava paralisada. O governo passou a distribuir quinino. Sem esclarecer o valor terapêutico dessa substância no combate à gripe ou o perigo da sua ingestão sem controle. Surgiam na imprensa receitas peculiares, que prometiam curar a doença. Além disso, os produtos – galinhas, ovos e limão – supostamente eficazes no combate ao mal, sofreram intensa especulação comercial.

A desorganização das atividades comerciais provocou uma grave crise de abastecimento. Se nas áreas próximas do centro urbano havia dificuldade em conseguir alimentos, nas áreas suburbanas eles eram extremamente escassos. Para amenizar a situação, o governo passou a distribuir leite, sopa e pão para a população. Entretanto, noticiadas pela imprensa, as reclamações de moradores dos subúrbios deixam evidente que essa medida foi inoperante.

 

“Era apavorante a rapidez com que ela ia da invasão ao apogeu, em poucas horas, levando a vítima às sufocações, às diarréias, às dores lancinantes, ao letargo, ao coma, à uremia, à síncope e à morte em algumas horas ou poucos dias. Aterravam a velocidade do contágio e o número de pessoas que estavam sendo acometidas. Nenhuma de nossas calamidades chegara aos pés da moléstia reinante: o terrível não era o número de casualidades, mas não haver quem fabricasse caixões, quem os levasse ao cemitério, quem abrisse covas e enterrasse os mortos. O espantoso já não era a quantidade de doentes, mas o fato de estarem quase todos doentes, a impossibilidade de ajudar, tratar, transportar comida, vender gêneros, aviar receitas, exercer, em suma, os misteres indispensáveis à vida coletiva.” (Pedro Nava, 1976:201)

 

 

Acreditava-se que um corpo bem alimentado resistiria melhor à doença. Até galinhas foram distribuídas à população. Para auxiliar o atendimento dos cariocas acometidos pela gripe, associações filantrópicas tomaram providências para tratar os doentes. Uma das instituições que participaram dessa mobilização foi o Instituto de Proteção e Assistência à Infância do Rio de Janeiro (IPAI). Em suas dependências, funcionou um dos postos de socorros criados.

 

 

 

O instituto fora criado pelo médico Arthur Moncorvo Filho (1871-1944), em 1899. Dedicava-se ao auxílio de crianças, mas, durante a epidemia, transformou-se num local de assistência emergencial, onde as pessoas atingidas pela espanhola, recebiam atendimento médico. Suas dependências ficaram lotadas e formaram-se filas para a distribuição de produtos alimentícios. Além disto, grupos de médicos e enfermeiras eram enviados aos bairros mais populares. Chamadas de Caravanas do Bem, saíam do IPAI em direção ao Morro do Salgueiro, Morro do Andaraí, Morro do Telégrafo (Mangueira), Engenho de Dentro, Cascadura e Ramos.

As imagens que retratam o cotidiano do IPAI durante a pandemia de Gripe de 1918 podem ser encontradas no acervo da Casa de Oswaldo Cruz. São registros originais que documentam o período da Gripe Espanhola no Rio de Janeiro. Elas pertencem ao Arquivo Arthur Moncorvo Filho. Além destas imagens documentando a pandemia, este arquivo reúne mais de mil itens, entre fotografias, cartas, relatórios, publicações e recortes de jornais acumulados pelo médico, gestor e membro de associações científicas, tanto no Brasil quanto no exterior.

Nascido em 13 de setembro de 1871, na cidade do Rio de Janeiro, Arthur Moncorvo Filho viveu na Europa, onde Carlos Arthur Moncorvo de Figueiredo (1846-1901) estagiava em Paris com os professores Eugène Bouchut (1818-1891) e Henri-Louis Roger (1809-1891). Retornando ao Brasil, seu pai o convenceu a estudar medicina. Terminou o curso em 1897 na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, diplomando-se com a tese Das linfangites na infância e suas consequências. Durante o curso, trabalhou na Policlínica Geral do Rio de Janeiro, instituição fundada por Carlos Arthur Moncorvo em 1881. Com seu falecimento, em 1901, o filho ocuparia seu lugar no serviço de moléstias de crianças da policlínica.

 

  

Criado em 1899, o IPAI funcionava na casa da família, localizada na rua da Lapa. Neste mesmo local, seu pai criara, em 1881, a Policlínica Geral. Dois anos depois, o instituto foi instalado em prédio alugado, à rua Visconde do Rio Branco. Em 1914, o presidente da República, Hermes da Fonseca, doou o terreno onde foi construída a sede do instituto, na rua do Areal, atual rua Moncorvo Filho. Hoje, funciona no local o Hospital Moncorvo Filho, nomeado em sua homenagem.

Moncorvo Filho foi membro de várias sociedades médicas. Em 1919 foi eleito membro honorário da Academia Nacional de Medicina. Em 1921 tornou-se sócio da Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro. Em 1933 veio a ser presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria. Publicou obras de referência para a história da pediatria no Brasil: Hygiene infantil (1917), Formulário de doenças das creanças (1923) e Histórico da protecção à infância no Brasil (1926).

As muitas atividades associativas contribuíram para a influência de Moncorvo Filho. Reconhecido como um pioneiro pelos membros do campo da pediatria, participou de encontros científicos nacionais e internacionais em cargos de coordenação. Por exemplo, foi encarregado da organização do 1º Congresso Americano da Criança, realizado em julho de 1916 na cidade de Buenos Aires. No 1º Congresso Brasileiro de Proteção à Infância, em 1922, ocupou o cargo de presidente. Nesses eventos defendia ideias de proteção à saúde das crianças, como a proibição da fabricação de chupetas, até ações de saneamento das cidades. Desde o início de sua carreira, Moncorvo Filho fazia críticas às instituições de amparo à infância. Para ele, a saúde das crianças dependia de condições de higiene, da exposição a luz solar, além de boa alimentação. Seus pronunciamentos nos congressos médicos eram publicados na imprensa, alimentando o debate político do período.

 

 

 

* Ricardo Augusto dos Santos, Felipe Almeida Vieira e Francisco dos Santos Lourenço são pesquisadores do Departamento de Arquivo e Documentação da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz.

 

Fontes:

MONCORVO FILHO, Arthur. O Pandemônio de 1918: subsídio ao histórico da epidemia de grippe que em 1918 assolou o território do Brasil. Rio de Janeiro: Departamento da Criança no Brasil, 1924.

NAVA, Pedro. Chão de ferro. Memórias/3. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1976.

RODRIGUES, Nelson. Memórias. Rio de Janeiro: Ed. Correio da Manhã, 1967.

SANTOS, Ricardo Augusto dos. O Carnaval, a Peste e a Espanhola.  História, Ciências, Saúde-Manguinhos. vol.13, no.1. Rio de Janeiro, 2006.https://www.scielo.br/j/hcsm/a/Z9Lr5HqtjXzFsTD5FFvGFBQ/?lang=pt

FREIRE, Maria Martha de Luna; LEONY, Vinícius da Silva. A caridade científica: Moncorvo Filho e o Instituto de Proteção e Assistência à Infância do Rio de Janeiro (1899-1930). História, Ciências, Saúde-Manguinhos. vol.18, supl. 1. Rio de Janeiro, 2011.https://www.scielo.br/j/hcsm/a/pMzXR6Xv9xBJgG9gyc4ZrZv/?lang=pt

VENANCIO JUNIOR, André Luiz & MIGNOT, Ana Chrystina. O Pandemônio de 1918: Testemunho de um médico para a posteridade. Revista Educação em Questão, Natal, v. 58 n. 58, out./dez. 2020. https://periodicos.ufrn.br/educacaoemquestao/article/view/21540/13358

 

Link para o artigo E o ex e futuro presidente do Brasil morreu de gripe…a Gripe Espanhola de 1918, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 23 de março de 2020, na Brasiliana Fotográfica.

 

 

O Dia Internacional das Mulheres

A Brasiliana Fotográfica celebra o Dia Internacional das Mulheres, 8 de março, data instituida, em 1975, pela Nações Unidas, elencando os artigos da Série Feministas, Graças a Deus, publicados no portal, sobre mulheres que se destacaram na luta pela emancipação feminina com a conquista do direito ao voto, de maiores oportunidades de trabalho e de maior acesso à educação. São elas: Almerinda Farias Gama, Bertha Lutz, Carmen Portinho, Elvira Komel, Júlia Augusta de Medeiros, Maria de Miranda Leão, Maria Prestia, Mariana Coelho e Natércia da Cunha Silveira.

As fotografias são do acervo do Arquivo Nacional, uma das instituições parceiras do portal e seus autores foram J. Bonfioti, a Photo Skarke, a Fotografia Alemã, Louis Piereck (1880 – 1931), o Serviço Photographico de Vida Doméstica, além de fotógrafos ainda não identificados.

Os artigos foram escritos pelas historiadoras e pesquisadoras do Arquivo Nacional Claudia Heynemann, Maria do Carmo Rainho e Maria Elizabeth Brêa Monteiro; e também por Maria Silvia Lavieri Gomes, historiadora do Instituto Moreira Salles, e por Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica. No final deste mês, será publicado o décimo artigo da série, sobre Maria Luisa Dória Bittencourt, a primeira deputada baiana.

 

Série “Feministas, graças a Deus!”

 

Série “Feministas, graças a Deus!” I – Elvira Komel, a feminista mineira que passou como um meteoro, publicado em 25 de julho de 2020, de autoria da historiadora Maria Silvia Pereira Lavieri Gomes, do Instituto Moreira Salles, em parceria com Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

 

 

Série “Feministas, graças a Deus!” II  – Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993), o jequitibá da floresta, publicado em 20 de agosto de 2020, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

 

 

 

Série “Feministas, graças a Deus!” III  – Bertha Lutz e a campanha pelo voto feminino: Rio Grande do Norte, 1928, publicado em 29 de setembro de 2020, de autoria de Maria do Carmo Rainha, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

 

 

 

Série “Feministas, graças a Deus!” IV  – Uma sufragista na metrópole: Maria Prestia (? – 1988), publicado em 29 de outubro de 2020, de autoria de Claudia Heynemann, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

 

 

 

Série “Feministas, graças a Deus!” V – Feminista do Amazonas: Maria de Miranda Leão (1887 – 1976), publicado em 26 de novembro de 2020, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, mestre em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

 

 

 

Série “Feministas, graças a Deus!” VI – Júlia Augusta de Medeiros (1896 – 1972) fotografada por Louis Piereck (1880 – 1931), publicado em 9 de dezembro de 2020, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

 

 

 

Série “Feministas, graças a Deus!” VII – Almerinda Farias Gama (1899 – 1999), uma das pioneiras do feminismo no Brasil, publicado em 26 de fevereiro de 2021, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

 

 

 

Série “Feministas, graças a Deus!” VIII – A engenheira e urbanista Carmen Portinho (1903 – 2001), publicado em 6 de abril de 2021, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

 

 

 

Série “Feministas, graças a Deus!” IX – Mariana Coelho (1857 – 1954), a “Beauvoir tupiniquim”, publicado em 15 de junho de 2021, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Série “1922 – Hoje, há 100 anos” III – A eleição de Artur Bernardes e a derrota de Nilo Peçanha

No 3º artigo da Série 1922 – Hoje, há 100 anos, A eleição de Artur Bernardes e a derrota de Nilo Peçanha, a Brasiliana Fotográfica traz três fotografias de Artur Bernardes (1875 – 1955), da Coleção Presidentes da República, e oito de Nilo Peçanha (1867 – 1924), todas do acervo do Museu da República, uma das instituições parceiras do portal. Uma das imagens de Bernardes foi produzida pela Annunciato Photo e as outras duas são de autoria de fotógrafos ainda não identificados. Um dos registros de Nilo Peçanha, o candidato derrotado, é de autoria de Juan Gutierrez (c. 1860 -1897). Há também a imagem do verso de um estojo de madeira que protege o álbum fotográfico da Escola de Aprendizes e Artífices do Estado de Alagoas, que já foi tema de um artigo do portal, onde Nilo aparece desenhado entre as bandeiras do Brasil e de Alagoas.

 

O candidato vitorioso, Artur Bernardes (1875 – 1955)

 

 

Acessando o link para as fotografias de Artur Bernardes disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Mineiro de Viçosa, Artur Bernardes foi eleito pelo Partido Republicano Mineiro, em 1º de março de 1922, quando derrotou Nilo Peçanha, candidato do Movimento Reação Republicana, tornando-se o 12º presidente do Brasil (O Jornal, 2 de março de 1922).

No mesmo mês de março, foi fundado o Partido Comunista do Brasil, por iniciativa do Grupo Comunista de Porto Alegre, que realizou, no Rio e em Niterói, nos dias 25, 26 e 27 de março, um congresso. Abílio de Nequete (1888 – 1960) foi eleito secretário geral.

 

 De pé, da esquerda para a direita: Manuel Cendon, Joaquim Barbosa, Astrogildo Pereira, João da Costa Pimenta, Luís Peres e José Elias da Silva; sentados, da esquerda para a direita: Hermogênio Silva, Abílio de Nequete e Cristiano Cordeiro / Nosso Século

De pé, da esquerda para a direita: Manuel Cendon, Joaquim Barbosa, Astrogildo Pereira, João da Costa Pimenta, Luís Peres e José Elias da Silva; sentados, da esquerda para a direita: Hermogênio Silva, Abílio de Nequete e Cristiano Cordeiro / Nosso Século

 

Voltando às eleições: foram 466.877 votos contra 317.714 e o pleito dividiu o país: Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul deram apoio a Nilo Peçanha enquanto Minas Gerais e São Paulo apoiaram a candidatura de Bernardes, que tomou posse em 15 de novembro de 1922 e ficou no cargo até 15 de novembro de 1926. Governou grande parte de seu mandato sob estado de sítio, decretado por ele.

 

 

Formado em Direito, Bernardes foi vereador, deputado, secretário das Finanças e governador de Minas Gerais antes de chegar à presidência da República. Sua eleição para o governo de Minas representou a ascensão de uma nova geração de políticos no estado e durante seu mandato fez grande oposição às atividades do proprietário da Itabira Iron Ore Company, o empresário norte-americano Percival Farquhar (1865–1953).

Era o representante da política que ficou conhecida como Café com Leite, que alternava candidatos das oligarquias de São Paulo e Minas Gerais. Durante a campanha presidencial houve o episódio das cartas falsas: ele foi acusado de ter escrito cartas ao senador Raul Soares (1877 – 1924), publicadas no jornal Correio da Manhã, atacando seu opositor, Nilo Peçanha, chamado de moleque, e o marechal Hermes da Fonseca (1855 – 1923) referido como um sargentão sem compostura, o que acirrou os ânimos dos militares contra sua candidatura. Bernardes chegou ao Rio de Janeiro, em 15 de outubro de 1921, para apresentar sua plataforma de governo e foi recebido por uma multidão raivosa na avenida Rio Branco. Houve um quebra-quebra na cidade e seus retratos foram arrancados das vitrines das lojas e queimados (Correio da Manhã, 9 de outubro, última coluna13 de outubro16 de outubro de 1921).

 

 

Os reponsáveis pelas cartas foram Jacinto Cardoso de Oliveira Guimarães, Oldemar Lacerda e Pedro Burlamaqui e, ainda durante a campanha, foi provado que haviam sido forjadas, mas a contestação a Bernardes nos meios militares já era irreversível. Apesar da importante crise política, Artur Bernardes se elegeu, mas, durante seu governo, enfrentou o movimento tenentista, que deu início a um processo de ruptura política que teria como consequência a Revolução de 1930. Seu governo foi fortemente marcado pela dura repressão a seus oposiocionistas e pela censura à imprensa.

 

 

Curiosidades: Freire Júnior (1881 – 1956) e Luiz Nunes Sampaio (1886 – 1953) compuseram a marcha carnavalesca conhecida como “Ai, Seu Mé”, em 1922. Seu Mé era um apelido dado pela oposição a Bernardes. Versos como O queijo de Minas está bichado, seu Zé Não seu porquê é, não sei porquê é Aí, seu Mé! Aí Mé, Mé Lá no Palácio das Águias, Olé Não hás de pôr o pé ironizavam o candidato. Apesar de nas gravações da música não aparecer o nome dis compositores e sim o nome do conjunto A Canalha das Ruas, com a eleição de Bernardes, eles foram presos. Ouça aqui a músicas.

O compositor José Barbosa da Silva, conhecido pelo pseudônimo Sinhô (1888 – 1930), também compôs uma música alfinetando Artur Bernardes. Foi a marcha carnavalesca Fala baixo, cujo título denunciava a censura policial da época. Nos versos, as invocações de uma “rolinha”, que era o apelido injurioso dado a Artur Bernardes pelos jornais do Rio, complicaram a vida do artista que foi perseguido e teve que sumir por uns tempos.

 

 Fala baixo (1919-1921)
Quero te ouvir cantar 
Vem cá, rolinha, vem cá 
Vem para nos salvar 
Vem cá, rolinha, vem cá 
Não é assim 
Não é assim 
Não é assim 
Que se maltrata uma mulher 
És a minha paixão 
Vem cá, rolinha, vem cá 
És o meu coração 
Vem cá, rolinha, vem cá 
Não é assim…

 

Um pouco sobre o candidato derrotado, Nilo Peçanha (1867 – 1924) 

 

 

O candidato derrotado nas eleições presidenciais de 1922, Nilo Peçanha, era fluminense, de Campos de Goytacazes. Sua candidatura iniciou o movimento chamado de Reação Republicana que protestava contra as oligarquias de São Paulo e Minas Gerais. Inaugurava-se, então, o nilismo – uma nova forma de fazer política.

 

 

 

Acessando o link para as fotografias de Nilo Peçanha disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Já havia sido presidente, o primeiro com um perfil popular, entre junho de 1909 e novembro de 1910, quando Afonso Pena (1847 – 1909) faleceu no exercício do cargo (Gazeta de Notícias, 15 de junho de 1909, sétima coluna). Quando assumiu a presidência, Peçanha declarou que as bases de seu governo seriam a paz e o amorEra formado em Direito e antes de chegar à presidência participou das campanhas abolicionista e republicana e havia sido deputado, governador do Rio de Janeiro e vice-presidente da República. Depois foi ministro das Relações Exteriores e senador. Era um excelente orador, fazia frequentemente discursos em praças do Rio de Janeiro, então capital do Brasil. Gostava de andar pelas ruas da cidade, parando em bares e lojas para conversar.

Foi, muitas vezes, vítima de racismo. Segundo o diplomata e membro da Academia Brasileira de Letras, Alberto Costa e Silva:

“Nilo Peçanha era mulato escuro, assim como diversos outros presidentes da república, a começar por Rodrigues Alves, que era mulato, e também Washington Luís. A questão é que nenhum desses políticos brasileiros era considerado mulato ou negro. Eles eram tidos como brancos, por terem uma posição social elevada. Faziam parte do “mundo dos brancos”, e não de uma minoria. A população dita “branca” no Brasil na realidade era composta por muitos mestiços”.

Revista Época, 22 de novembro de 2008

 

 

Conforme já abordado pelo artigo publicado na Brasiliana Fotográfica, em 26 de março de 2020, Escola de Aprendizes e Artífices de Alagoas, 1910, de Paulo Celso Corrêa, cientista político do Arquivo Histórico e Institucional do Museu da República, as Escolas de Aprendizes e Artífices foram criadas durante o governo do presidente Nilo Peçanha, em 1909. Sob a responsabilidade do recém-criado Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, elas ofereciam ensino primário e profissional para menores de idade pobres, com a finalidade de formá-los em operários e contramestres para a indústria. Com o texto, estão disponibilizadas as 14 fotos de um álbum da Coleção Nilo Peçanha referentes ao tema. São cenas dos cinco primeiros meses de funcionamento da escola, com as crianças tendo aulas e participando de oficinas de marcenaria, funilaria, sapataria, entre outras. Em 1937, as Escolas de Aprendizes e Artífices foram transformadas em Liceus de Artes e Ofícios. Estas instituições de ensino técnico e profissionalizante deram origem às posteriores Escolas Técnicas, Centros Federais de Educação Tecnológica e Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia.

 

 

Também criou o Serviço de Proteção ao Índio (SPI), precursor da Funai, em 1910. O primeiro diretor do órgão foi o marechal Cândido Rondon (1865 – 1958).

 

 

Andrea C.T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Atlas Histórico do Brasil

BARTZ, Frederico Duarte. Abílio de Nequete (1888-1960): os múltiplos caminhs de uma militância operária. Dossiês Mundo do Trabalho, 14 de janeiro de 2011 in História Social, uma publicação semestral dos alunos do Programa de Pós-Graduação em História da Unicamp.

Blog do Luis Nassif

Casa do Choro

CPDOC – Artur BernardesNilo Peçanha, PCB e Raul Soares

FRANZINI, Fábio. No campo das ideias – Gilberto Freyre e a invenção da brasilidade futebolística. Departamento de História da Unesp

Folha de São Paulo, 18 de outubro de 2019

GGN – O jornal de todos os Brasis

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional 

Nosso Século

 

Links para os artigos já publicados da Série 1922 – Hoje, há 100 anos

Série 1922 – Hoje, há 100 anos I – Os Batutas embarcam para Paris, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, publicado em 29 de janeiro de 2022

Série 1922 – Hoje, há 100 anos II- A Semana de Arte Moderna, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, publicado em 13 de fevereiro de 2022, na Brasiliana Fotográfica

Série 1922 – Hoje, há 100 anos IV – A primeira travessia aérea do Atlântico Sul, realizada pelos aeronautas portugueses Gago Coutinho e Sacadura Cabral, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicada em 17 de junho de 2022, na Brasiliana Fotográfica

Série 1922 – Hoje, há 100 anos V – A Revolta do Forte de Copacabana, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicada em 5 de julho de 2022, na Brasiliana Fotográfica

Série 1922 – Hoje, há 100 anos VI e série Feministas, graças a Deus XI – A fundação da Federação Brasileira para o Progresso Feminino, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 9 de agosto de 2022, na Brasiliana Fotográfica

Série 1922 – Hoje, há 100 anos VII – A morte de Gastão de Orleáns, o conde d´Eu (Neuilly-sur-Seine, 28/04/1842 – Oceano Atlântico 28/08/1922), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 28 de agosto de 2022, na Brasiliana Fotográfica.

Série 1922 – Hoje, há 100 anos VIII – A abertura da Exposição Internacional do Centenário da Independência do Brasil e o centenário da primeira grande transmissão pública de rádio no país, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 7 de setembro de 2022, na Brasiliana Fotográfica.

Série 1922 – Hoje, há 100 anos IX – O centenário do Museu Histórico Nacional, de autoria de Maria Isabel Lenzi, historiadora do Musseu Histórico Nacional, publicado em 12 de outubro de 2022, na Brasiliana Fotográfica.

Série 1922 – Hoje, há 100 anos X –  A morte do escritor Lima Barreto (1881 – 1922), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 1º denovembro de 2022, na Brasiliana Fotográfica

Série 1922 – Hoje, há 100 anos XI e série Feministas, graças a Deus XII 1ª Conferência pelo Progresso Feminino e o “bom” feminismo, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, antropóloga do Arquivo Nacional, publicado em 19 de dezembro de 2022, na Brasiliana Fotográfica.