Fotografias da Gripe Espanhola do fundo Moncorvo Filho, da Casa de Oswaldo Cruz

Hoje, data que marca os dois anos da caracterização da Covid-19 como uma pandemia, pela Organização Mundial da Saúde, a Brasiliana Fotográfica traz para seus leitores fotografias da pandemia de Gripe Espanhola, em 1918, descobertas, em meados de março de 2020, no arquivo do médico Moncorvo Filho. Os autores do artigo Fotografias da Gripe Espanhola são Ricardo Augusto dos Santos, Felipe Almeida Vieira e Francisco dos Santos Lourenço, pesquisadores Departamento de Arquivo e Documentação da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, uma das instituições parceiras do portal.

Fotografias da Gripe Espanhola 

Ricardo Augusto dos Santos, Felipe Almeida Vieira e Francisco dos Santos Lourenço*

 

“Grande vozerio, gritos e gemidos de repente ouvi que partiam do saguão da entrada e contiguo à minha sala. Corro a ver o que era. Uma onda humana invadia o prédio de nossa sede: eram homens, mulheres e crianças, em sua maioria andrajosos, comprimindo-se para entrar e agasalhar-se em todas as salas do nosso estabelecimento. Havia gente de todas as classes sociais, indivíduos brancos e de cor, velhos, moços e crianças, carregados uns pelos outros, alguns que entravam a cambalear, esquálidos, ardendo em febre, outros a vomitar e finalmente alguns encontrados já a expirar na via pública…” (Moncorvo Filho, 1924:49)

 

Em meados de março de 2020, durante o início da quarentena imposta pela epidemia de Covid-19, encontramos imagens inéditas da Gripe Espanhola no arquivo do médico Moncorvo Filho. Sabíamos da importância deste acervo, entretanto, não possuíamos a real dimensão do inestimável patrimônio que estava em nossas mãos. Apresentamos algumas das imagens neste breve trabalho.

 

Acessando o link para as fotografias inéditas da Gripe Espanhola no arquivo do médico Moncorvo Filho disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

Em setembro de 1918, no Rio de Janeiro, os habitantes começaram a apresentar febre alta. Era a Gripe Espanhola, doença que vinha da Europa pelos navios que ancoravam nos portos brasileiros. Numa cidade com um milhão de habitantes, morreram, segundo os registros oficiais, quase 15 mil pessoas. Os médicos receitavam canja e limão. Não que o Brasil não estivesse avisado. A gripe estava dizimando na Europa e mataria, de acordo com as estimativas mais cautelosas, trinta milhões de pessoas em todo o mundo.

Médicos e autoridades não sabiam como proceder e que atitudes tomar diante da pandemia. As instituições governamentais de saúde concentraram sua atuação no atendimento aos doentes. O que melhorou um pouco a trágica situação foram as ações isoladas. Hospitais e enfermarias provisórias foram montadas. Toda ajuda era bem-vinda, mas era pouca. Alguns círculos operários também contribuíram fornecendo auxílio.

 

“Morrer na cama era um privilégio abusivo e aristocrático. O sujeito morria nos lugares mais impróprios, insuspeitados: – na varanda, na janela, na calçada, na esquina, no botequim… Muitos caíam, rente ao meio-fio, com a cara enfiada no ralo. E ficavam, lá, estendidos, não como mortos, mas como bêbados. Ninguém os chorava, ninguém. Nem um vira-latas vinha lambê-los. Era como se o cadáver não tivesse nem mãe, nem pai, nem amigo, nem vizinho e, nem ao menos, inimigo.” (, 1967:72)

 

Os cariocas morriam em casa, na rua, no trabalho, sendo recolhidos pelos funcionários da Prefeitura. Estes jogavam os corpos nas carroças da companhia de limpeza pública. Conta-se que quando descobriam alguém dado como morto e ainda vivo, acabavam de matá-lo com as pás. Nos cemitérios, coveiros abriram valas, onde eram despejadas dezenas de mortos. E, quanto mais corpos acumulados, mais a situação piorava.

Frente ao desconhecimento ou ineficácia das medidas que pudessem impedir o contágio ou cuidar dos doentes, as autoridades públicas inicialmente restringiram-se a orientar a população a evitar aglomeração. A cidade transformou-se num caos, faltavam alimentos e ocorriam saques aos armazéns. Para completar este quadro tenebroso ainda havia o problema dos cadáveres insepultos. Não havendo pessoal suficiente para enterrar os mortos, foram utilizados os presidiários. O cenário de corpos amontoados pelos cemitérios ou abandonados pelas ruas era desolador.

 

 

Com o desenrolar dos fatos, aumentava o temor coletivo. No período mais crítico, a população ficou desesperada. A divulgação pela imprensa do número de óbitos, da ausência de assistência médica e das atrocidades cometidas intensificava o clima de medo. A todo esse cenário podemos acrescentar o ar fétido, emanado das covas, casas e ruas, onde os corpos permaneciam à espera de sepultamento. Outro aspecto que deve ser considerado diz respeito às atitudes desencadeadas a partir do terror instalado com a gripe. Narrativas terríveis falam de atos insensatos cometidos por pessoas transtornadas com a situação.

A interrupção das atividades econômicas e outras adversidades inerentes aos fenômenos epidêmicos não foram evitadas e tampouco houve planejamento para aplacar os efeitos da espanhola. A doença inicialmente apresentou-se aos habitantes do país como um mal distante. Tanto órgãos da imprensa quanto os responsáveis pelos serviços de saúde pública colocavam em dúvida a existência da espanhola no Brasil. Os casos observados poderiam ser moléstias ainda não identificadas. Para além da discussão científica, um fator deve ser observado: a aceitação de que a epidemia havia invadido o país evidenciaria a fragilidade das políticas públicas de saúde.

A gripe é transmitida por contágio direto, tendo como sintomas principais febre, prostração e dores musculares. Embora não seja incorreta a ideia do caráter “democrático” das doenças contagiosas, que atacam de forma indiferenciada as classes sociais, as observações mostram que enfermidades epidêmicas podem ser fulminantes em organismos debilitados por condições de sobrevivência precárias.

Embora os políticos e administradores do Rio de Janeiro não acreditassem, ou não quisessem aceitar, a epidemia foi dominando a cidade. Em outubro, a imprensa noticiou a existência de doentes em quartéis, fábricas e escolas. Por volta da segunda semana era enorme a quantidade de casos. Nesse momento, o número de pessoas atingidas havia crescido, deixando a população apavorada. A violência da gripe transformava a cidade, paralisando vários setores das atividades urbanas.

“Nas habitações coletivas, em estado grave caiam quase fulminados pelo terrível morbo inúmeros de seus moradores. A população estava muito justamente alarmadíssima e todos os serviços públicos já se mostravam em 10 de outubro sensivelmente desfalcados do seu pessoal, por doença afastado de seus misteres, sendo em número assaz elevado as guias extraídas pelas Delegacias de Polícia para o internamento de gripantes no Hospital da Misericórdia. Os miseráveis e mendigos, como sempre sucede, eram os que primeiro caiam vítimas do devastador morbo e nos quais a doença de maior gravidade era desde logo emprestada.” (Moncorvo Filho, 1924:52)

 

 

Nos primeiros dias de novembro, a situação era alarmante. A epidemia forçara o fechamento do comércio e indústrias, bem como a interrupção dos serviços públicos. A cidade estava paralisada. O governo passou a distribuir quinino. Sem esclarecer o valor terapêutico dessa substância no combate à gripe ou o perigo da sua ingestão sem controle. Surgiam na imprensa receitas peculiares, que prometiam curar a doença. Além disso, os produtos – galinhas, ovos e limão – supostamente eficazes no combate ao mal, sofreram intensa especulação comercial.

A desorganização das atividades comerciais provocou uma grave crise de abastecimento. Se nas áreas próximas do centro urbano havia dificuldade em conseguir alimentos, nas áreas suburbanas eles eram extremamente escassos. Para amenizar a situação, o governo passou a distribuir leite, sopa e pão para a população. Entretanto, noticiadas pela imprensa, as reclamações de moradores dos subúrbios deixam evidente que essa medida foi inoperante.

 

“Era apavorante a rapidez com que ela ia da invasão ao apogeu, em poucas horas, levando a vítima às sufocações, às diarréias, às dores lancinantes, ao letargo, ao coma, à uremia, à síncope e à morte em algumas horas ou poucos dias. Aterravam a velocidade do contágio e o número de pessoas que estavam sendo acometidas. Nenhuma de nossas calamidades chegara aos pés da moléstia reinante: o terrível não era o número de casualidades, mas não haver quem fabricasse caixões, quem os levasse ao cemitério, quem abrisse covas e enterrasse os mortos. O espantoso já não era a quantidade de doentes, mas o fato de estarem quase todos doentes, a impossibilidade de ajudar, tratar, transportar comida, vender gêneros, aviar receitas, exercer, em suma, os misteres indispensáveis à vida coletiva.” (Pedro Nava, 1976:201)

 

 

Acreditava-se que um corpo bem alimentado resistiria melhor à doença. Até galinhas foram distribuídas à população. Para auxiliar o atendimento dos cariocas acometidos pela gripe, associações filantrópicas tomaram providências para tratar os doentes. Uma das instituições que participaram dessa mobilização foi o Instituto de Proteção e Assistência à Infância do Rio de Janeiro (IPAI). Em suas dependências, funcionou um dos postos de socorros criados.

 

 

 

O instituto fora criado pelo médico Arthur Moncorvo Filho (1871-1944), em 1899. Dedicava-se ao auxílio de crianças, mas, durante a epidemia, transformou-se num local de assistência emergencial, onde as pessoas atingidas pela espanhola, recebiam atendimento médico. Suas dependências ficaram lotadas e formaram-se filas para a distribuição de produtos alimentícios. Além disto, grupos de médicos e enfermeiras eram enviados aos bairros mais populares. Chamadas de Caravanas do Bem, saíam do IPAI em direção ao Morro do Salgueiro, Morro do Andaraí, Morro do Telégrafo (Mangueira), Engenho de Dentro, Cascadura e Ramos.

As imagens que retratam o cotidiano do IPAI durante a pandemia de Gripe de 1918 podem ser encontradas no acervo da Casa de Oswaldo Cruz. São registros originais que documentam o período da Gripe Espanhola no Rio de Janeiro. Elas pertencem ao Arquivo Arthur Moncorvo Filho. Além destas imagens documentando a pandemia, este arquivo reúne mais de mil itens, entre fotografias, cartas, relatórios, publicações e recortes de jornais acumulados pelo médico, gestor e membro de associações científicas, tanto no Brasil quanto no exterior.

Nascido em 13 de setembro de 1871, na cidade do Rio de Janeiro, Arthur Moncorvo Filho viveu na Europa, onde Carlos Arthur Moncorvo de Figueiredo (1846-1901) estagiava em Paris com os professores Eugène Bouchut (1818-1891) e Henri-Louis Roger (1809-1891). Retornando ao Brasil, seu pai o convenceu a estudar medicina. Terminou o curso em 1897 na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, diplomando-se com a tese Das linfangites na infância e suas consequências. Durante o curso, trabalhou na Policlínica Geral do Rio de Janeiro, instituição fundada por Carlos Arthur Moncorvo em 1881. Com seu falecimento, em 1901, o filho ocuparia seu lugar no serviço de moléstias de crianças da policlínica.

 

  

Criado em 1899, o IPAI funcionava na casa da família, localizada na rua da Lapa. Neste mesmo local, seu pai criara, em 1881, a Policlínica Geral. Dois anos depois, o instituto foi instalado em prédio alugado, à rua Visconde do Rio Branco. Em 1914, o presidente da República, Hermes da Fonseca, doou o terreno onde foi construída a sede do instituto, na rua do Areal, atual rua Moncorvo Filho. Hoje, funciona no local o Hospital Moncorvo Filho, nomeado em sua homenagem.

Moncorvo Filho foi membro de várias sociedades médicas. Em 1919 foi eleito membro honorário da Academia Nacional de Medicina. Em 1921 tornou-se sócio da Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro. Em 1933 veio a ser presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria. Publicou obras de referência para a história da pediatria no Brasil: Hygiene infantil (1917), Formulário de doenças das creanças (1923) e Histórico da protecção à infância no Brasil (1926).

As muitas atividades associativas contribuíram para a influência de Moncorvo Filho. Reconhecido como um pioneiro pelos membros do campo da pediatria, participou de encontros científicos nacionais e internacionais em cargos de coordenação. Por exemplo, foi encarregado da organização do 1º Congresso Americano da Criança, realizado em julho de 1916 na cidade de Buenos Aires. No 1º Congresso Brasileiro de Proteção à Infância, em 1922, ocupou o cargo de presidente. Nesses eventos defendia ideias de proteção à saúde das crianças, como a proibição da fabricação de chupetas, até ações de saneamento das cidades. Desde o início de sua carreira, Moncorvo Filho fazia críticas às instituições de amparo à infância. Para ele, a saúde das crianças dependia de condições de higiene, da exposição a luz solar, além de boa alimentação. Seus pronunciamentos nos congressos médicos eram publicados na imprensa, alimentando o debate político do período.

 

 

 

* Ricardo Augusto dos Santos, Felipe Almeida Vieira e Francisco dos Santos Lourenço são pesquisadores do Departamento de Arquivo e Documentação da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz.

 

Fontes:

MONCORVO FILHO, Arthur. O Pandemônio de 1918: subsídio ao histórico da epidemia de grippe que em 1918 assolou o território do Brasil. Rio de Janeiro: Departamento da Criança no Brasil, 1924.

NAVA, Pedro. Chão de ferro. Memórias/3. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1976.

RODRIGUES, Nelson. Memórias. Rio de Janeiro: Ed. Correio da Manhã, 1967.

SANTOS, Ricardo Augusto dos. O Carnaval, a Peste e a Espanhola.  História, Ciências, Saúde-Manguinhos. vol.13, no.1. Rio de Janeiro, 2006.https://www.scielo.br/j/hcsm/a/Z9Lr5HqtjXzFsTD5FFvGFBQ/?lang=pt

FREIRE, Maria Martha de Luna; LEONY, Vinícius da Silva. A caridade científica: Moncorvo Filho e o Instituto de Proteção e Assistência à Infância do Rio de Janeiro (1899-1930). História, Ciências, Saúde-Manguinhos. vol.18, supl. 1. Rio de Janeiro, 2011.https://www.scielo.br/j/hcsm/a/pMzXR6Xv9xBJgG9gyc4ZrZv/?lang=pt

VENANCIO JUNIOR, André Luiz & MIGNOT, Ana Chrystina. O Pandemônio de 1918: Testemunho de um médico para a posteridade. Revista Educação em Questão, Natal, v. 58 n. 58, out./dez. 2020. https://periodicos.ufrn.br/educacaoemquestao/article/view/21540/13358

 

Link para o artigo E o ex e futuro presidente do Brasil morreu de gripe…a Gripe Espanhola de 1918, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 23 de março de 2020, na Brasiliana Fotográfica.

 

 

Série “Avenidas e ruas do Brasil” VII – A Avenida Atlântica, em Copacabana, no Rio de Janeiro

Série “Avenidas e ruas do Brasil” VII – A Avenida Atlântica, em Copacabana, no Rio de Janeiro

Cenário de um dos maiores e mais belos réveillons do mundo que, devido à pandemia do cononavírus não será realizado como nos anos anteriores quando chegava a reunir cerca de dois milhões de pessoas, e de diversos eventos esportivos, culturais, politicos e de lazer, a Avenida Atlântica, via litorânea da praia de Copacabana, é uma das paisagens mais bonitas e famosas do Rio de Janeiro, uma das que justificam a celebrada fotogenia da cidade. Foi também o local de diversos palacetes, onde a vida social do Rio de Janeiro acontecia,  da realização de footings, quando a cidade passeava na avenida, de eventos esportivos e culturais. Ela é o tema do último artigo da Brasiliana Fotográfica de 2020 e o sétimo da série “Avenidas e ruas do Brasil”. Estão destacadas fotografias das primeiras décadas do século XX produzidas por anônimos, por Augusto Malta (1864 – 1957), fotógrafo oficial da prefeitura do Rio de Janeiro entre 1903 e 1936; e por Jorge Kfuri (1893 – 1965), autor das primeiras fotografias aéreas da cidade. Pertecem aos acervos do Instituto Moreira Salles, uma das instituições fundadoras do portal, e às instituições parceiras Acervo Geral da Cidade do Rio de Janeiro e Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha. Feliz Ano Novo e muito obrigada pela audiência!

 

Acessando o link para as fotografias da avenida Atlântica disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

A Avenida Atlântica tem atualmente, cerca de quatro quilômetros de orla marítima, começa na Praça Almirante Júlio de Noronha e termina na Praça Coronel Eugênio Franco, no Posto 6. Algumas de suas construções mais famosas são o Hotel Copacabana Palace (1923), os edifícios Chopin, Machado de Assis, Regina Feigl, Sayonara, Tancredo  Neves e o neoclássico Edifício Lellis, mais antigo prédio residencial que ainda está na avenida, inaugurado em 1931, na esquina da rua Barão de Ipanema. Segundo o historiador Milton Teixeira, a primeira edificação da orla foi a Clínica Conde Figueiredo Magalhães, de hidroterapia, de 1872, muitos anos antes da construção da Avenida Atlântica. Alguns dos moradores mais famosos da avenida foram o arquiteto Oscar Niemeyer (1907 – 2012), o jornalista Assis Chateaubriand (1892 – 1968), os artistas e irmãos Bernardelli, dona Guilhermina Guinle (1852 – 1925) e a cantora Elza Soares (1930 – ).

 

 

Durante a gestão de Francisco Pereira Passos (1836 – 1913), como prefeito do Rio de Janeiro entre 30 de dezembro de 1902 a a 16 de novembro de 1906 foi realizada uma significativa reforma urbana na cidade. Para saneá-la e modernizá-la, ele realizou diversas demolições, conhecidas popularmente como a política do “bota-abaixo”, que contribuiu fortemente para o surgimento do Rio de Janeiro da Belle Époque. Foi em consonância com essa política que Avenida Atlântica foi concebida, pelo Decreto Municipal nº 561, de 04 de novembro de 1905.

 

 

Poucos meses antes, Pereira Passos expôs seus planos ao presidente Rodrigues Alves (1848 – 1919) durante uma visita à Exposição Geral de Belas-Artes de 1905, diante de um quadro de um trecho da praia Copacabana ao nascer do sol, de autoria de João Baptista da Costa (1865 – 1926) (O Paiz, 28 de setembro de 1905, terceira colunaCorreio da Manhã, 2 de outubro de 1905, quinta colunaJornal do Brasil, 5 de novembro de 1905, quinta colunaA Notícia, 3 de agosto de 1906, primeira coluna; A Notícia, 19 de setembro de 1906 coluna). Em 4 de março de 1906, foi inaugurado o Restaurante Avenida Atlântica, do sr. Gomes da Silva, e a companhia Jardim Botânico inaugurou sua nova linha elétrica pelo Túnel do Leme, indo o ramal até o ponto terminal da praça do Vigia, onde foi construída a estação de bonds  (O Paiz, 4 de março de 1906, quarta colunaA Notícia, 6 e 7 de março de 1906, quinta coluna).

 

 

A construção da Avenida Atlântica começou em 31 de janeiro de 1906 – as obras tiveram início no lugar denominado Murungu para a rua do Barroso (Jornal do Brasil, 1º de fevereiro de 1906, sexta coluna) –  e, os trabalhos de aterro, em 5 de abril de 1906. Sua construção foi incluida na Carta Cadastral como um dos grandes melhoramentos urbanos realizados na cidade (O Paiz, 5 de abril de 1906, quarta coluna; O Paiz, 8 de maio de 1906, quarta coluna; O Paiz, 14 de setembro de 1906, quinta coluna). O autor do projeto e responsável pela construção da Avenida Atlântica foi o engenheiro Augusto Américo de Souza Rangel (1865 – 1924), que trabalhava na comissão da Carta Cadastral tendo, inclusive, sido seu chefe durante um período *.

 

 

Seu calçadão foi feito com pedras pretas de basalto e pedras brancas de calcita, trazidas de Portugal, o que lhes rendeu o apelido de pedras portuguesas. O padrão de ondas é do século XIX e foi criado para a Praça do Rossio, em Lisboa – uma homenagem ao encontro das águas do rio Tejo com o Oceano Atlântico.

As obras foram suspensas em 15 de dezembro de 1906, um mês após o início do mandato do novo prefeito da cidade,  Francisco Marcelino de Souza Aguiar (1855 – 1935). A avenida tinha 485 metros de meios fios em ambos os lados e estava pronto o aterro em toda a extensão entre a praça Malvino Reis, atual praça Serzedelo Correia, e a rua padre Antonio Vieira.

 

 

Em 1907,  terrenos na avenida foram anunciados para venda (O Copacabana, 1º de agosto de 1907). O prefeito Souza Aguiar era acusado pelo abandono lamentável da avenida Atlântica e perguntado sobre o porquê de não mandar continuar as obras da avenida Atlântica (O Copacabana, 1º de novembro de 1907, primeira colunaO Copacabana, 1º de janeiro de 1908, segunda coluna).

 

 

Ainda neste ano, 1907, na esquina da rua da Igrejinha, atual Francisco Otaviano, com a Avenida Atlântica, na recém inaugurada casa da francesa Mme. Louise Chabas, que se tornou um dos cabarés mais famosos do Brasil, o Mère Louise, houve uma festa para comemorar o 14 de julho, data nacional da França. “Tem pois agora o Rio um cabaré à maneira do de Montmartre, em Paris, onde quem saiba fazer algo sobe ao palco e… faz o que sabe!”  (Jornal do Brasil, 23 de abril de 1907, segunda colunaJornal do Brasil, 15 de julho de 1907, oitava coluna). Mme. Chabas vendeu o estabelecimento à Cervejaria em 1910. Posteriormente, tornou-se um hotel que foi fechado, em 1931, pela polícia do 30º Distrito Policial.

Durante a década de 1910, 0 aumento da quantidade de automóveis e a crescente popularização da prática do banho de mar tornou a avenida pequena. Além disso, as chuvas de março de 1911 causaram vários danos na Avenida Atlântica e providências eram cobradas ao prefeito Bento Ribeiro (1856 – 1921) (O Copacabana, 16 de julho de 1911, primeira colunaO Copacabana, 13 de agosto de 1911, primeira coluna). Ocorriam vários na avenida (O Copacabana, 10 de dezembro de 1911, última colunaO Copacabana, 14 de janeiro de 1912, primeira coluna).

Na gestão de Amaro Cavalcanti (1849 – 1922) foram realizadas na Avenida Atlântica obras para proteção contra a fúria atlântica da esplêndida avenida beira-mar e também seu alargamento. O diretor de Obras Públicas era Cupertino Durão (1861 – 1929) (A Rua, 13 de março de 1918, primeira coluna; A Rua, de 18 de maio de 1918, quarta coluna). Ainda em 1918, uma ressaca deixou a avenida esburacada e o então prefeito do Rio de Janeiro, o engenheiro Paulo de Frontin (1860 -1933), a percorreu para inspecionar seu estado e a incluiu em seu projeto de melhoramentos da cidade (A Rua, 5 de novembro de 1918, quarta coluna; A Rua, 4 de fevereiro de 1919, quinta coluna; A Rua, 24 de março de 1919; A Rua, 3 de abril de 1919, penúltima coluna). Vale lembrar que 1918 foi o ano da pandemia da Gripe Espanhola, uma tragédia mundial que deixou milhares de mortos no Rio de Janeiro – cerca de 300 mil pessoas no Brasil -, tendo sido o presidente eleito, Rodrigues Alves (1848 – 1919), sua mais notória vítima no Brasil.

 

 

Construiu a nova e soberba avenida Atlântica com 17 metros de largura total em substituição à antiga rua marginal (Arquitetura no Brasil, janeiro de 1922). A nova Avenida Atlântica foi inaugurada em 22 de julho de 1919 com pista dupla e iluminação no canteiro central(A Época, 23 de julho de 1919).

 

 

O anúncio da reparação do calçamento da avenida foi feito, em 1920, durante a gestão de Carlos Sampaio (1861 – 1930) (A Rua, 12 de agosto de 1920, quinta coluna). O rei Alberto da Bélgica (1875 – 1934) e sua mulher, a rainha Elizabeth (1876 – 1965), visitaram o Brasil entre setembro e outubro de 1920, e na ocasião foram várias vezes tomar banho de mar no posto 5 da Avenida Atlântica.

Em 1921, uma nova ressaca atingiu a avenida cuja resistência da muralha, honra à engenharia do sr. Frontin, resistia valentemente a todos os embates (A Rua, 14 de julho de 1921, terceira coluna). Mas a violência da ressaca acabou destruindo a muralha (Revista da Semana, 23 de julho de 1921, primeira coluna). O prefeito Sampaio decidiu então realizar obras de consolidação dos cais e das muralhas da Guanabara em defesa da avenida Beira-Mar e da avenida Atlântica. Foram contratados para o projeto, cuja quantia prevista causou polêmica, os engenheiros Adhemar de Melo Franco, Edgar Raja Gabaglia (1896 – 1953) e Azevedo Amaral (A Rua, 23 de julho de 1921A Rua, 29 de outubro de 1921A Rua, 31 de outubro de 1921Arquitetura no Brasil, novembro de 1921). Sobre a obra de reconstrução os engenheiros civis J. Le Cocq de Oliveira e Alfredo Lisboa publicaram artigos na revista Arquitetura no Brasilde dezembro de 1921 e de janeiro de 1922.

 

 

Em 1922, ano do centenário da independência no Brasil, os postos de salvamento, que eram de madeira, estavam em péssimas condições. Então o prefeito Carlos Sampaio os renovou e transferiu o posto de socorros para um novo prédio no Lido. O serviço de salvamento, agora subordinado à Assistência Municipal, passou a oferecer serviço médico à população do bairro e também o arrendamento de cabines para banhistas que quisessem trocar de roupa (A Noite, 8 de março de 1922, terceira coluna; A Noite, 24 de março de 1922, terceira coluna; Beira-Mar, 22 de abril de 1928, primeira coluna). Ainda nesse ano, a Avenida Atlântica foi o cenário da marcha realizada pelos militares da Revolta dos 18 do Forte (O Paiz, 7 de julho de 1922; Beira-Mar, 3 de julho de 1927). Na edição da Beira-Mar, de 29 de junho de 1940, foi publicado um interessante relato de um repórter que presenciou o acontecimento.

 

 

O proprietário da Empresa Balneária, que explorava as barracas para banho na praia de Copacabana, Luiz Dante Torre, teve a ideia de colocar bancos de 10 em 10 metros ao longo de toda a Avenida Atlântica, mas em 1926 a falta de bancos era cobrada à Prefeitura, já sob a gestão de Antônio da Silva Prado Junior (1880 – 1955) (Beira-Mar,  21 de janeiro de 1923, terceira coluna; Beira-Mar, 7 de fevereiro de 1926, quarta coluna; Beira-Mar, 5 de dezembro de 1926, última coluna). Começava também a construção de um prédio na esquina da avenida com a então denominada rua do Barroso, atual Siqueira Campos, projeto do engenheiro Eduardo Pederneiras e de propriedade dos srs. Rocha Miranda Filhos & Companhia Limitada (Beira-Mar, 28 de outubro de 1923). Mas o mais marcante fato de 1923 na avenida foi a inauguração do Hotel Copacabana Palace, ícone da arquitetura do Rio de Janeiro, que se tornaria um símbolo do glamour carioca. Na época de sua inauguração,era o maior hotel da América Latina e representava a modernidade da cidade.

Em 1924, a praia tinha seis postos de salvamentos com guarda-vidas no topo de postes de concreto. Na ocasião, o prefeito do Rio era Alaor Prata (1882 – 1964) (Fon Fon, 19 de janeiro de 1924). Nesta época, a alegria e a graça de Copacabana já faziam parte da nossa “urbs” estupenda (Revista da Semana, 12 de janeiro de 1924). Um corso de automóveis aconteceu na avenida e em frente ao Copacabana Palace foi tirada uma fita cinematográfica do movimento extraordinário da praia… (Beira-Mar, 20 de janeiro de 1924). Também houve, em março, uma Batalha de Confetes, que se repetiu em outros anos, assim como banhos de mar e outros festejos durante o carnaval (Beira-Mar, 2 de março de 1924, terceira coluna; Beira-Mar, 6 de março de 1927, segunda coluna; Beira-Mar, 19 de fevereiro de 1928; Beira-Mar, 16 de fevereiro de 1930; Beira-Mar, 23 de janeiro de 1937; Beira-Mar, 19 de fevereiro de 1938; Beira-Mar, 11 de fevereiro de 1939). Em 7 de março de 1924, foi inaugurado o Bar e Restaurante Lido-Antarctica, na esquina da rua Belfort Roxo, com um rinque de patinação e um dancing room (Beira-Mar, 22 de junho de 1924, última coluna). Porém, em outubro, mais uma vez a fúria do mar destruiu o trabalho de engenharia realizado na Avenida Atlântica (Revista da Semana, 18 de outubro de 1924). As obras de reconstrução foram realizadas sob a chefia e fiscalização de Ângelo Barata, chefe da 1ª circunscrição da viação municipal (Beira-Mar, 16 de novembro de 1924, segunda coluna; Beira-Mar, 7 de junho de 1925, primeira coluna).

 

 

As obras de reconstrução ainda não estavam concluidas quando, em 1925, de novo, a avenida foi atingida por nova ressaca, ficando bastante esburacada. A muralha foi reconstruída ainda durante a gestão de Alaor Prata (Revista da Semana, 18 de julho de 1925; Beira-Mar, 19 de julho de 1925; Beira-Mar, 6 de setembro de 1925; Beira-Mar, 8 de novembro de 1925; Beira-Mar, 6 de dezembro de 1925Revista da Semana, 2 de outubro de 1926). Dias antes da ressaca, havia sido realizada na Avenida Atlântica, a festa dos pescadores em homenagem a São Pedro (Beira-Mar, 19 de julho de 1925, segunda coluna).

 

 

 

Na edição do períódico Beira-Mar, de 7 de junho de 1926, na quarta coluna, foi feito um balanço dos danos causados nas últimas ressacas e também uma análise das obras em andamento e na edição de 4 de julho de 1926 uma retrospectiva das obras de calçamento e reconstrução da avenida desde 1923. As escadinhas que davam aceso à praia também havia sido destruídas e àquela altura, não foram recolocadas (Beira-Mar, 18 de julho de 1926, segunda coluna). As obras foram concluídas em agosto de 1926. De sua fundação até 1926, a Avenida Atlântica havia sofrido as consequências de cinco ressacas (Beira-Mar, 8 de agosto de 1926).

 

 

 

O hábito do footing, quando a sociedade carioca passeava na avenida, era frequente tanto nos anos 20 como nos anos 30 e 40 (Beira-Mar, 26 de dezembro de 1926, primeira coluna; Beira-Mar, 23 de janeiro de 1927, quarta coluna; Beira-Mar, 28 de outubro de 1939; Beira-Mar, 9 de novembro de 1940; Beira-Mar, 29 de agosto de 1942, primeira coluna; Beira-Mar, fevereiro de 1945). Ainda em 1927, reclamava-se da ausência de bancos e escadinhas na avenida (Beira-Mar, 3 de julho de 1927).

 

 

 

Em 1927, uma nova ressaca deixava suas marcas na Avenida Atlântica… (Beira-Mar, 7 de agosto de 1927).

 

 

Foi inaugurado em 1928, a sede do Praia-Club – fundado em 25 de setembro de 1927 por um grupo de moradores de Copacabana -, na altura do Posto 4 da avenida, que promovia eventos que integravam a programação do Rio chic, além de disputas esportivas (Beira-Mar, 5 de maio de 1928, última coluna; Beira-Mar, 22 de julho de 1929, segunda coluna; Beira-Mar, 8 de dezembro de 1929).

 

 

 

Também havia o Hotel Londres, prédio no melhor ponto de banhos da encantadora Avenida Atlântica. Lá eram realizados elegantes eventos sociais (Beira-Mar, 21 de outubro de 1928, última coluna; Beira-Mar, 21 de abril de 1929, primeira coluna).

 

 

O periódico Beira-Mar de 12 de maio de 1929, chamava atenção para a falta de arborização da Avenida Atlântica. Na década de 30, palacetes como o da família Duvivier e onde ficava a sede do Atlântico Club povoavam a avenida (Beira-Mar, 15 de junho de 1930).

 

 

 

Em 1930, foi pela primeira promovida a Tarde das Flores, na Avenida Atlântica, para celebrar a chegada do inverno Cada posto escolheu flores para simbolizá-los: Posto 1 – amor-perfeito, Posto 2 – magnólia, Poto 3 – violeta, Posto 4 – hortênsia, Posto 5 – dália e Posto 6 – margarida (Beira-Mar, 13 de abril de 1930, quarta coluna).

Novamente a Avenida Atlântica foi castigada por uma ressaca, diversas casas foram inundadas, a água foi até a porta principal do Hotel Copacabana Palace mas suas muralhas de proteção não foram destruídas (Beira-Mar, 20 de julho de 1930, primeira coluna; Beira-Mar, 27 de julho de 1930, primeira coluna). Em dezembro, foram inaugurados pavilhões praianos ao longo da avenida (Beira-Mar, 7 de dezembro de 1930, penúltima coluna).

 

 

Em 1931, foi inaugurado, na Avenida Atlântica com a rua Haritoff, atual rua Ronald de Carvalho, com pistas originalíssimas, o  Natural Pi Wi Golf (Beira-Mar, 3 de maio de 1931, terceira coluna). Foi inaugurado, logo no início de 1932, um rinque de patinação entre os postos 3 e 4, no nº 628 (Beira-Mar, 9 de janeiro de 1932, segunda coluna). O carnaval deste ano contou com uma Batalha de Flores e de um corso na Avenida Atlântica (Beira-Mar, 6 de fevereiro de 1932) e, em 7 de março, foi inaugurada uma filial do Colégio Anglo-Americano, no número 458, na avenida (Beira-Mar, 20 de fevereiro de 1932). Havia ainda na Avenida Atlântica, nº 952, o Instituto Anglo-Francês (Beira-Mar, 2 de julho de 1932, terceira coluna).

 

 

O Bar Alpino era um dos points da Avenida Atlântica, ficava no nº 142, no Leme, e em uma propaganda se identificava como o maior e mais confortável bar da América do Sul (Beira-Mar, 27 de outubro de 1934). Apesar da beleza da avenida, seus bancos continuava a ser espatifados. 

 

 

Em 1934, parte do morro do Inhangá, que ainda chegava à Avenida Atlântica foi cortado para a construção da piscina do Copacabana Palace. Então a linha imaginária entre as praias de Copacabana e do Leme passou a ser a atual Avenida Princesa Isabel. Em 1951, o que havia restado dessa pedra junto ao hotel foi retirado para a construção do grupo de edifícios Chopin, Balada e Prelúdio

 

 

 

Foi inaugurado, em 20 de março de 1935, na Avenida Atlântica, na altura do Posto 6, onde antes havia a já mencionada casa da francesa Mère Louise, o Cassino Balneário Atlântico (Beira-Mar, 16 de fevereiro de 1935; Beira-Mar, 30 de março de 1935).

 

 

Logo no início de 1935, foi anunciada pela Diretoria Geral de Turismo a reposição de 48 dos bancos espatifados (Beira-Mar, 22 de dezembro de 1934Beira-Mar, 12 de janeiro de 1935, primeira coluna). Em setembro, foram de novo depredados (Beira-Mar, 28 de setembro de 1935, penúltima colunaBeira-Mar, 26 de outubro de 1935).

Neste mesmo ano, o Cine-Varieté, no Cassino Balneário Atlântico, passou a receber o público, tornando-se um dos mais chiques e elegantes locais da Avenida Atlântica. Apresentava produções internacionais e nacionais e realizava matinés infantis. Aos domingos eram distribuídos brinquedos para as crianças. (Beira-Mar, 9 de novembro de 1935).

 

 

Em 1936, foram inauguradas as primeiras torres dos postos de salvamento, nos Postos  2 e 6, com a presença de Pedro Ernesto Baptista (1884 – 1942), primeiro prefeito eleito do Distrito Federal (Beira-Mar, 28 de março de 1936, primeira página e página 10). Nesta época, os focos do mundanismo no Posto 2, então o mais concorrido da Avenida Atlântica, eram a Confeitaria Alvear, esquina com a República do Peru, o restaurante Lido e o Bar e Restaurante OK, esquina com a então rua Haritoff, atual Ronald de Carvalho (Beira-Mar, 2 de maio de 1936).

 

 

Em maio de 1936, uma nova ressaca atingiu a Avenida Atlântica, cujo tráfego ficou impedido porque a água e a areia invadiram a rua (Beira-Mar, 29 de agosto de 1936, primeira coluna). Seu calçamento foi parcialmente consertado e em 1937 as reclamações em relação ao estado da avenida continuava (Beira-Mar, 10 de outubro de 1936, primeira coluna; Beira-Mar, 4 de setembro de 1937, quarta coluna). No ano seguinte, foi publicado um artigo afirmando que a avenida havia sido mal projetada, tendo sido traçada muito próxima ao mar (Correio da Manhã, 30 de março de 1937, quinta colunaBeira-Mar, 10 de abril de 1937).

 

 

No final do ano, foi inaugurado mais um point no Posto 2, o Citro Bar Expresso (Beira-Mar, de 7 de novembro de 1936).

 

 

O Clube dos Marimbás, fundado em 5 de abril de 1932 por 36 rapazes, dentre eles o proprietário das Organizações Globo, Roberto Marinho (1904 – 2003), e inicialmente sediado ao lado do Edifício Olinda, já se localizava no final da praia de Copacabana, junto ao Forte de Copacabana. Seu anteprojeto, inspirado em um navio ancorado, é dos renomados arquitetos Lucio Costa (1902 – 1998) e do russo Gregori Warchavchik (1896 – 1972), expoentes da arquitetura modernista no Brasil. O projeto, no entanto, foi concluído pelo arquiteto Paulo Antunes Ribeiro (1905 – 1973), um dos sócio fundadores do clube, da onde descortina-se uma das mais belas vistas da Avenida Atlântica (Beira-Mar, 7 de novembro de 1936).

 

 

O moderníssimo Luxor Hotel foi inaugurado na avenida, no Posto 4, (Beira-Mar, 12 de junho de 1937, primeira coluna) e no Posto 2, inauguração do Wonder Bar, novo ponto de reunião para a elegância copacabanense (Beira Mar, 9 de outubro de 1937). Ainda nesse ano, foi inaugurada a Casa Arthur Hermanny, o estabelecimento mais distinto a serviço do bairro mais elegante, especializada em artigos de luxo, na esquina com a rua Bolivar (Beira-Mar, 4 de dezembro de 1937; Beira-Mar, 1º de julho de 1939). Na década de 30, outro hotel de destaque na avenida eram o Hotel Atlântico, no número 654. Também ficava na avenida o Lar da Creança, orfanato para meninas, no número 842 (Beira-Mar, 25 de maio de 1935).

 

 

De acordo com um artigo publicado na Beira-Mar, de 29 de janeiro de 1938, o tráfego intenso na Atlântica, artéria principal de Copacabana, colocava em perigo a vida das pessoas que praticavam o footing na avenida. Em entrevista, o prefeito Henrique Dodsworth (1895 – 1975) informou que a avenida seria alargada (Diário da Noite, 7 de março de 1938Beira-Mar, 12 de março de 1938, primeira coluna).

No carnaval de 1938, as escolas de samba desfilaram na avenida Atlântica e as vencedoras foram a Portela e a Unidos da Tijuca (Beira-Mar, 26 de fevereiro de 1938). Meses depois, a iluminação da avenida começou a ser trocada e foi inaugurado o Internacional Bridge Club, no primeiro andar do Edifício Continental (Beira-Mar, 2 de abril de 1938, página 5 e página 7). O restaurante Carlton ficava no Posto 3 (Beira-Mar, 23 de abril de 1938, segunda coluna) e a casa de modas Longchamps, no número 822 (Beira-Mar, 4 de junho de 1938, primeira coluna). Havia também o Hotel Cosmópolis (Beira-Mar, 2 de julho de 1938, primeira coluna) e o Hotel Rivera. Mas a ocupação da avenida por apartamentos “cabeças de porco” já era uma preocupação (Beira-Mar, 24 de setembro de 1938).

Já no início de 1939, foi inaugurada uma nova iluminação na avenida, iniciativa do prefeito Henrique Dodsworth (1895 – 1975) (Beira-Mar, 4 de fevereiro de 1939, quarta coluna; Beira-Mar, 4 de março de 1939; Beira-Mar, 18 de março de 1939; Beira-Mar, 20 de maio de 1939; Beira-Mar, 9 de novembro de 1940).

 

 

O alargamento da avenida e a construção de groynes para afastar o mar foi anunciada (Beira-Mar, 4 de março de 1939, primeira coluna). Mas na ressaca de junho, os groynes do sr Maurício Joppert foram por…água abaixo (Gazeta de Notícias, 13 de junho de 1939, terceira colunaBeira-Mar, 17 de junho de 1939, primeira coluna; Beira-Mar, 15 de julho de 1939). Os problemas de trânsito persistiam e acidentes com mortes aconteciam (Beira-Mar, 1º de abril de 1939, primeira colunaBeira-Mar, 15 de abril de 1939). Também 17 bancos da avenida foram destruídos por vândalos (Beira-Mar, 15 de abril de 1939). Existia na avenida um solarium da Seção de Convalescentes da Secretaria de Saúde e Assistência Social (Beira-Mar, 13 de maio de 1939). Ainda nesse ano, foi publicada a matéria Os praianos reclamam sobre os ratos que infestavam a praia e o número de prisão de mulheres que faziam “troittoir” na Avenida Atlântica (Beira-Mar, 8 de julho de 1939).

 

 

Foi na década de 40, que Copacabana se firmou como bairro chique e sua vida noturna era dividida entre seus os cassinos do Hotel Copacabana Palace e o Cassino Atlântico, que ficava na avenida esquina com Francisco Otaviano.

Ao lado do Hotel Londres, no início dos ano 40, era ministrado o Curso de Ginástica da Sociedade Brasileira de Cultura Física e Eugenia, sob a orientação do drs. David Madeira e Paulo Rolim (Beira-Mar, 3 de fevereiro de 1940). Já o Colégio Paula Freitas ficava no número 762 da avenida (Beira-Mar, 27 de abril de 1940).

 

 

 

O trânsito e a velocidade com que os carros trafegavam na avenida, além da falta de sinalização e o barulho das buzinas, continuavam a ser um problema (Beira-Mar, 8 de junho de 1940, terceira coluna; Beira-Mar, 12 de outubro de 1940; Beira-Mar, 8 de março de 1941; Beira-Mar, 21 de junho de 1941; Beira-Mar, 2 de agosto de 1941). Também havia reclamações em relação ao calcamento da avenida (Beira-Mar, 16 de agosto de 1941).

Na fotografia destacada abaixo, vê-se a grande diferença do mesmo trecho da Avenida Atlântica fotografada em 1912 e em 1940. Em 1930, a nossa avenida Atlântica não tinha um único arranha-céu; hoje é quase toda cheia de imensos palácios que são um orgulho de nosso progresso (Beira-Mar, 14 de março de 1942).

 

 

Uma grande parada de elegância e automobilística foi patrocinada pela Rádio Ipanema. Houve um desfile de carros pela Avenida Atlântica que culminou com uma festa no Luxor Hotel (Beira-Mar, 1º de fevereiro de 1941). O Ginásio Brasileiro funcionava no número 996 da avenida (Beira-Mar, 8 de março de 1941).

Foi publicada uma crônica sobre o popular cachorro Faísca que era muito popular em Copacabana e acabou morrendo, atropelado na Avenida Atlântica: Faísca, filho do prazer, Nascido no Mère Louise e criado no OK, de Nelson Nascimento (Beira-Mar, 22 de março de 1941; Beira-Mar, 5 de abril de 1941).

No artigo Copacabana, a cidade mais moça e mais bela do Brasil era mencionado que “Em 1930, a nossa Avenida Atlântica não possuia um único arranha-céu; hoje é quase toda cheia de imensos palácios que são um orgulho de nosso progresso” (Beira-Mar, 14 de março de 1942, última coluna). Na mesma edição do periódico, havia uma propaganda da loja Dr.Scholl, inaugurada na avenida Atlantica, número 766, esquina com a rua Bolívar (Beira-Mar, 28 de março de 1942).

Charretes e bicicletas passaram a ser usadas no Rio de Janeiro devido ao racionamento de gasolina e consequente suspensão da circulação de automóveis na cidade. Aos domingos, essa substituição dava um novo movimento à nossa Avenida Atlântica. É o divertimento do dia (Beira-Mar, 15 de agosto de 1942). A sede provisória da Associação Atlética de Copacabana ficava na Avenida Atlântica número (Beira-Mar, 15 de agosto de 1942, segunda coluna).

Houve três dias de black-out em Copacabana, Ipanema, Leme e Leblon que alterou o “footing” colorido de outras noites na Avenida Atlântica (Beira-Mar, 19 de setembro de 1942).

Foi anunciada a inauguração do Cinema Rian, na Avenida Atlântica (Beira-Mar, 10 de outubro de 1942). Em sua abertura foi exibido o filme Aconteceu Em Havana, com Carmen Miranda e o Bando da Lua, Alice Faye, John Payne e Cesar Romero. O cinema funcionou no prédio de mesmo nome construído Nair de Teffé, caricaturista e viúva do ex-presidente Hermes da Fonseca, com a herança deixada por seu pai, o Barão de Teffé, morto em 1931. Rian é o seu nome escrito de trás para frente. Em 1940, o edifício foi vendido, mas manteve seu nome como uma homenagem a ela.

 

 

O Repousário do Hospital Jesus, na Avenida Atlântica, que havia passado por vários melhoramentos foi, em 27 de novembro, visitado pelo prefeito Henrique Dodsworth. Na mesma data, o prefeito inaugurou, com a presença de Assis Chateaubriand, os novos postos de salvamento da Praia de Copacabana (Beira-Mar, 1º de janeiro de 1943, primeira coluna).

E os novos estúdios da Rádio Ipanema ficavam na Avenida Atlântica, número 24, no Leme (Beira-Mar, 19 de dezembro de 1942, primeira coluna).

Foi realizada a primeira procissão de Nossa Senhora de Copacabana com um cortejo pela Avenida Atlântica (Beira-Mar, 9 de outubro de 1943, primeira coluna). Ainda em outubro, foi reaberto o Wonder Bar, primeiro estabelecimento do Rio adaptado ao “black-out” (Beira-Mar, 30 de outubro de 1943).

 

 

Mais uma vez, os bancos da Avenida Atlântica foram depredados (Beira-Mar, 29 de abril de 1944, quarta coluna). Em outubro do mesmo ano, foi publicada uma propaganda da Confeitaria Alvear, que ficava no número 444 na avenida, esquina com República do Peru (Beira-Mar, 28 de outubro de 1944).

Em 27 de junho 1945, foi inaugurado no número 546 da Avenida Atlântica, esquina com Siqueira Campos, o Bar e  Restaurante Albatros (Beira-Mar, julho de 1945). Também havia na avenida, no número 730-A, a Bombonière Rian (Beira-Mar, setembro de 1945).

As festas de carnaval na Boate Bolero, na Avenida Atlântica, 434, eram um sucesso, e o melhor chopp do Rio era servido na Taberna Atlântica, no número 186 (Beira-Mar, março de 1946). No mesmo ano, no número 980, foi inaugrada a Casa 980, de acessórios de automóveis (Beira-Mar, abril de 1946).

Na década de 50, de muito movimento social na Avenida Atlântica e no bairro como um todo (Correio da Manhã, 28 de julho de 1957), a sede da Associação Atlética do Banco do Brasil (AABB), no Posto Seis, no edifício da avenida esquina com a Rua Francisco Otaviano continuava mantendo a tradição de baluarte da alegria carnavalesca. Há duas semanas vêm realizando em sua boate os movimentados bailes “Sassaricadas” (das 14h às 20h), os quais terão prosseguimento, todos os sábados, até o carnaval (O Globo, 29 de janeiro de 1954).

Na mesma década, foi na Confeitaria Alvear, na Avenida Atlântica,  que um grupo de rapazes, bem nascidos e bem sucedidos, se encontrava para beber e conversar. Formaram o Grupo dos Cafajestes, que na época de Carnaval dali partiam para os bailes de Copacabana. Seu fundador foi o comandante da Panair do Brasil, Edu, Eduardo Henrique Martins de Oliveira, botafoguense fanático. Outros integrantes do grupo foram o jogador de futebol Heleno de Freitas, Baby Pignatari, Carlos Niemeyer, Carlos Peixoto, Celmar Padilha, Ermelindo Matarazzo, Fernando Aguinaga, Ibrahim Sued, Jorginho Guinle, Mário Saladini, Mariozinho de Oliveira, Sérgio Pettezzoni, Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta), dentre vários outros.

Em março de 1954, no Bife de Ouro, restaurante do Copacabana Palace, ocorreu uma briga entre o jornalista Carlos Lacerda (1914 – 1977) e Euclides Aranha, filho do então ministro da Fazenda, Oswaldo Aranha (1894 – 1960), noticiada no jornal O Globo:

Lacerda e filho de Aranha trocam socos

Principiando por uma altercação seguida de luta corporal entre o Sr. Euclides Aranha e o jornalista Carlos Lacerda, um incidente que se prolongaria até a meia-noite, resultando, inclusive, em congestionamento do tráfego da Avenida Atlântica e interdição do local por autoridades policiais, perturbou na noite de ontem o jantar no Bife de Ouro, o restaurante do Copacabana palace Hotel. Achavam-se reunidos na mesma mesa o ministro João Cleophas, o deputado Edilberto Ribeiro, o Sr. Manuel Ferreira e Carlos Lacerda, diretor da “Tribuna da Imprensa”, num jantar promovido pelo deputado. De outra mesa, o Sr. Euclides Aranha, filho do ministro Oswaldo Aranha, jantava com a esposa, levantou-se, fisionomia transtornada, dirigiu-se à mesa onde se encontrava o referido grupo, deteve-se junto à cadeira do jornalista e interpelou-o sobre ataques dirigidos a seu pai na “Tribuna da Imprensa”. À interpelação seguiu-se áspera troca de palavras, tendo o jornalista se levantado, entrando em luta com o filho do ministro da Fazenda. Segundo as testemunhas, os dois trocaram socos por algum tempo, até que amigos comuns se interpuseram e os separaram. Às 23h, o próprio ministro Oswaldo Aranha compareceu ao restaurante para ver o que ocorrera. Pouco depois, simultâneamente, por portas diferentes, os Srs. Euclides Aranha e Carlos Lacerda abandonaram o Bife de Ouro (O Globo, 24 de março de 1954).

E foi também na década de 50, que a Bossa Nova nasceu: na casa dos pais da cantora Nara Leão (1942 – 1989), na avenida Atlântica, no Posto 4, que jovens como Roberto Menescal (1937 – ), Ronaldo Boscoli (1928 – 1994), Carlinhos Lyra (1933 – ) e outros se reuniam para cantar e compor. Mas o fato que marcou o aparecimento do movimento musical foi o disco gravado por Elizete Cardoso (1920 – 1990), em 1958, Canção do amor demais, cujo acompanhamento era feito pelo violonista João Gilberto (1931 – 2019). Outro gênero musical sacudiu a Avenida Atlântica: o rock and roll. Em 1957, estreou o filme Ao balanço das horas, com Bill Haley e seus cometas, no Cinema Rian, e suas sessões foram muitas vezes tumutuadas pelos jovens que dançavam durante o filme (O Jornal, 15 de janeiro de 1957, última coluna).

 

Já em fins da década de 60, sob a gestão do governador Francisco Negrão de Lima (1901 – 1981) e por sugestão do arquiteto Lúcio Costa (1902 – 1998), entre 1969 e 1971, uma grande obra, projeto do engenheiro gaúcho Raimundo de Paula Soares (1926 – 1992), foi realizada na Avenida Atlântica. Com bombeamento de areia, a distância entre a fachada dos prédios e a praia passou de 21 para 73 metros e a área ganhou estacionamentos, seis pistas de automóveis, calçadões e um interceptor oceânico para captar o esgoto do bairro.

“Sobre a areia foram construídas duas pistas de rolamento com um calçadão central sob o qual instalou-se o Interceptor Oceânico da Zona Sul, a maior obra de esgotamento sanitário até então feita na cidade. Todo o espaço até então usado pela antiga avenida e suas duas calçadas transformou-se em largo calçadão junto aos prédios; o atual estacionamento fica sobre o que era a areia da praia. Esta teve sua largura ampliada, com areia retirada do fundo do mar por dragas. Os mosaicos dos calçadões foram desenhados por Roberto Burle Marx (1909 – 1994), utilizando pedras de três cores, representando os povos que formaram a população brasileira. O calçadão junto à areia manteve o antigo desenho, oriundo de Portugal, uniformizando a orientação e ampliando o tamanho das ondas, fazendo-as condizentes com a largura da nova calçada. Em 1975, foram construídos novos postos de salvamento, projetados pelo arquiteto Sérgio Bernardes (1919 – 2002) (IBGE).

Foi em meados da década de 70, que o Hotel Méridien, então localizado na avenida Atlântica esquina com avenida Princesa Isabel, no Leme, promoveu uma queima de fogos espetacular do alto de seu prédio (Jornal do Brasil, 2 de janeiro de 1978, última coluna). A partir daí, a queima de fogos foi crescendo na Praia de Copacabana e passou a integrar o calendário do Rio de Janeiro.

 

 

Na administração do Prefeito Saturnino Braga (1986-1988) foram plantados grupos de coqueiros na areia e, na de Marcelo Alencar (1983-1986), construídos quiosques fixos e uma ciclovia” (IBGE).

Em 1984, por designação do Comitê Olímpico Brasileiro, foi realizada a Maratona do Rio como prova seletiva dos Jogos Olímpicos de Los Angeles. A Avenida Atlântica fazia parte do percurso do evento esportivo.

 

 

Na década de 90, começaram a ser promovidos pela prefeitura da cidade, durante a gestão de César Maia, shows nas areias da Praia de Copacabana com diversos artistas durante a passagem do fim do ano. A estreia, no réveillon de 1993 / 1994, foi com Jorge Benjor (Jornal do Brasil, 2 de janeiro de 1994). No ano seguinte, a atração foi o roqueiro inglês Rod Stewart (Jornal do Brasil, 1º de janeiro de 1995). O réveillon na Avenida Atlântica ficava cada vez mais animado e concorrido!

Em 18 de fevereiro de 2006, 1 milhão e meio de pessoas assistiram das areias de Copacabana e da Avenida Atlântica ao show da lendária banda britânicca The Rolling Stones.

Para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro de 2016, foi  montada na Praia de Copacabana uma arena para a disputa de vôlei de praia com capacidade para 12 mil lugares, 21 metros de altura no ponto mais alto – equivalente a um prédio de sete andares – e 62 mil metros quadrados. Mais uma vez, a Avenida Atlântica aparecia para o mundo todo!

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Acervo O Globo

Biblioteca do IBGE

CASTRO, Ruy. A noite do meu bem. São Paulo : Companhia das Letras, 2015.

CASTRO, Ruy. A onda que se ergueu no mar. Novíssimo mergulhos na Bossa Nova. São Paulo : Companhia das Letras, 2017.

CASTRO, Ruy. Chega de saudade. São Paulo : Companhia das Letras, 2016.

CASTRO, Ruy. Metrópole à beira-mar: O Rio moderno dos anos 20. São Paulo : Companhia das Letras, 2019.

Diário do Rio

Dicionário de verbetes do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro

GARSON, Marcelo. Roquianos, suburbanos e dançarinos: rock and roll carioca (55-60). Música Popular em Revista. Campinas, ano 1, vol 2, jan-junho 2013.

GERSON, Brasil. História das Ruas do Rio. Rio de Janeiro: Bem-Te-Vi, 2013.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

Jornal O Globo

Site Câmara Municipal do Rio de Janeiro

Site Copacabana.com

Site Copacabana em foco

Site Clube dos Marimbás

Site Curiosidades cariocas

Site Editora Posto 6

Site Escritório de Arte

Site Rio que passou

*Inicialmente, estava escrito José Américo de Souza Rangel,, nome que consta em várias fontes de pesquisa. Porém, uma bisneta de Augusto Américo de Souza Rangel entrou em contato com a Brasiliana Fotográfica e, de fato, quem trabalhava na época na Comissão da Carta Cadastral e era, inclusive, muitíssimo amigo de Pereira Passos era o engenheiro Augusto Américo. Ele assumiu diversos cargos na comissão da Carta Cadastral, tendo sido seu chefe entre 1901 e 1903. O órgão teve grande relevância para o plano de reforma urbana realizado durante a gestão do prefeito Pereira Passos. Uma curiosidade: Souza Rangel e Pereira Passos eram muito próximos e as cartas trocadas entre eles, quando, após o término de sua gestão, Passos viajou para a Europa e para o Oriente Médio, ficaram famosas e foram compiladas no livro Notas de viagens, cartas a um amigo, publicado em 1913. a correção foi realizada em 5 de janeiro de 2020.

 

 

Links para as outras publicações da série “Avenidas e ruas do Brasil”

 Série “Avenidas e ruas do Brasil” I – Avenida Central, atual Rio Branco, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 7 de setembro de 2016

Série “Avenidas e ruas do Brasil” II – A Rua do Imperador em Petrópolis por Klumb, Leuzinger e Stahl, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 26 de junho de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” III – A Rua do Bom Jesus, no Recife, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 6 de agosto de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IV – A Rua 25 de Março, em São Paulo, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 1º de setembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” V – A Rua Direita, a Rua das Mercês e a Rua Macau do Meio, em Diamantina, Minas Gerais, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 22 de outubro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” VI  – Rua Augusto Ribas e outras, em Ponta Grossa, no Paraná, pelo fotógrafo Luiz Bianchi, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 16 de novembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil VIII – A Rua da Carioca por Cássio Loredano, de autoria de Cássio Loredano, publicada em 20 de janeiro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IX – Ruas e panoramas do bairro do Catete, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 14 de julho de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” X – A Rua da Ajuda, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 9 de novembro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XI – A Rua da Esperança, em São Paulo, por Vincenzo Pastore, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 14 de dezembro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XII – A Avenida Paulista, o coração pulsante da metrópole, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 21 de janeiro de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XIII – A Rua Buenos Aires no Centro do Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 19 de julho de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XIV – A Avenida Presidente Vargas,, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 31 de agosto de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XV – Misericórdia: rua, largo e ladeira, no Rio de Janeiro, por Cássio Loredano, de autoria de Cássio Loredano, publicada em 8 de dezembro de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVI – “Alguma coisa acontece no meu coração”, a Avenida São João nos 469 anos de São Paulo, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 25 de janeiro de 2023

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVII  e série “O Rio de Janeiro desaparecido” XXIII – A Praia e a Rua do Russel, na Glória, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 15 de maio de 2023

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVIII – Avenida Beira-Mar, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 22 de janeiro de 2024

 

O centenário da Universidade Federal do Rio de Janeiro

Com registros de Marc Ferrez (1843 – 1923) e de Revert Henrique Klumb (c. 1826 – c. 1886), a Brasiliana Fotográfica celebra o centenário da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a maior universidde federal do Brasil. Por coincidência, a comemoração de seus 100 anos acontece, como na época de sua criação, sob os impactos de uma pandemia. Em 1920, era a gripe espanhola, cujo auge aconteceu em 1918, e, atualmente, o coronavírus. É reconhecida como um dos maiores centros de produção acadêmica e científica do Brasil.

A imagem de Ferrez é do atual Palácio Universitário, antigo Hospital dos Alienados ou Hospício Pedro II, inaugurado em 18 de julho de 1841. O prédio, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em 1971, localiza-se na Urca e foi doado à universidade na década de 40 (Correio da Manhã, 9 de dezembro de de 1944, primeira coluna; e Correio da Manhã, 14 de novembro de 1944). É ocupado  pelo Fórum de Ciência e Cultura, pela Escola de Comunicação, pela Faculdade de Educação, pelo Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas, pela Faculdade de Administração e Ciências Contábeis e pelo Instituto de Economia e Sistema de Bibliotecas e Informação da UFRJ.

 

 

As outras imagens, de autoria de Klumb, são da Escola Militar, desde 1969 local onde funciona o Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS), no Largo de São Francisco no Centro da cidade. O prédio foi construído originalmente para ser a Sé do Rio de Janeiro. A partir de 1812 abrigou a Academia Real Militar, futura Escola Militar que, em 1858, foi denominada Escola Central. Em 1874, passou a chamar-se Escola Politécnica. Em 1937, teve seu nome mais uma vez mudado, dessa vez para  Escola Nacional de Engenharia e, em meados da década de 60, já na Cidade Universitária, passou a se chamar Escola de Engenharia. Voltou a se intitular Escola Politécnica, em 2003, por ter sido esse o nome em que ela atingiu o apogeu de sua fama e prestígio, em que se tornou reconhecida no âmbito nacional e internacional. O edifício no Largo de São Francisco é a sede do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais desde 1969.

 

 

A UFRJ  foi a primeira universidade federal do Brasil e seu primeiro reitor foi Ramiz Galvão (1846 – 1938). A atual reitora é a biofísica Denise Pires de Carvalho, primeira mulher a assumir esse cargo, em 2 de julho de 2019. A UFRJ é um centro de excelência tanto em ensino como em pesquisa no país e na América Latina e, nos últimos anos, tornou-se mais diversa, democrática e inclusiva: a entrada de estudantes negrou dobrou na última década e em 2016 passaram a ser mais da metade dos ingressantes. Além disto, o ingresso de estudantes originários da rede pública aumentou 64%.

A UFRJ tem 176 cursos de graduação e 232 de pós-graduação, cerca de 65 mil estudantes e quatro mil docentes, três mil servidores em hospitais e cinco mil técnicos administrativos, nove hospitais e 1.456 laboratóriso, 13 museus, 14 prédios tombados e 45 bibliotecas, 1.863 projetos de extensão e um parque tecnológico de 350 mil metros quadrados.

 

 

Acessando o link para as fotografias de prédios integrantes da Universidade Federal do Rio de Janeiro disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Foi criada no governo do presidente Epitácio Pessoa (1865 – 1942), com a denominação de Universidade do Rio de Janeiro, em 7 de setembro de 1920 pelo Decreto 14 343, que reuniu a Escola Politécnica do Rio de Janeiro, originária da Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho, fundada em 1792da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro criada por dom João VI, em 2 de abril de 1808 como Academia de Medicina e Cirurgia; e a Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, fusão da Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais com a Faculdade Livre de Direito, ambas reconhecidas pelo Decreto 639, de 31 de outubro de 1891 (O Paiz, 7 de setembro de 1920, terceira coluna). Uma curiosidade: pouco depois da fundação da Universidade do Rio de Janeiro, a congregação da Faculdade de Direito do Rio de Janeiro decidiu dar o título de doutor honoris causa para o rei Alberto da Bélgica, em visita ao Brasil (O Paiz, 2 de outubro de 1920).

 

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O ministro da Educação, Gustavo Capanema (1900 – 1985), promoveu, em 1937, durante o governo de Getulio Vargas (1882 – 1954), uma grande reestruturação na Universidade do Rio de Janeiro que passou a ser chamada de Universidade do Brasil, cujo primeiro reitor foi Raul Leitão da Cunha (1881 – 1947) (O Jornal, 26 de janeiro de 1937, sexta coluna; O Jornal, 6 de julho de 1937). Em 1946, incorporou o Museu Nacional (Decreto-lei de 16 de janeiro de 1946) e teve seu estatuto aprovado pelo Decreto nº 21.321, de 18 de junho de 1946. Era então contituída pelas Faculdade Nacional de Medicina, Faculdade Nacional de Direito, Faculdade Nacional de Odontologia, Faculdade Nacional de Filosofia, Faculdade Nacional de Arquitetura, Faculdade Nacional de Ciências Econômicas, Faculdade Nacional de Farmácia, Escola Nacional de Engenharia, Escola Nacional de Belas Artes, Escola Nacional de Músicas, Escola Nacional de Minas e Metalurgia, Escola Nacional de Educação Física e Desportos e pela Escola Ana Néri, além do já mencionado Museu Nacional.

Sob o governo do general Humberto de Alencar Castelo Branco (1897 – 1967), com a sanção da Lei nº 4831, de 5 de novembro de 1965, a universidade ganhou seu nome atual, Universidade Federal do Rio de Janeiro. A Ilha do Fundão havia sido escolhida para sediar a Cidade Universitária, onde se concentra uma boa parte de seus cursos, departamentos e unidades (Revista Shell, abril/maio/junho de 1954). Foi oficialmente inaugurada em 7 de setembro de 1972.

Atualmente, a Universidade Federal do Rio de Janeiro possui quatro campi: a Cidade Universitária, na Ilha do Fundão; Praia Vermelha, na Urca; Macaé, o mais novo campus, na cidade de Macaé; e o Complexo Avançado de Xerém, em Duque Caxias. Existem faculdades, institutos e unidades da UFRJ fora dos campi mencionados, dentre eles o Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, o Instituto de História, a Faculdade Nacional de Direito e a Escola de Música, localizados no centro do Rio de Janeiro; o Museu Nacional e o Observatório do Valongo, situados no bairro de São Cristóvão; e o Colégio de Aplicação da UFRJ, na Lagoa Rodrigo de Freitas.

 

Link para a galeria de reitores da UFRJ

Link para edificações que fazem parte da UFRJ e foram tombadas

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Agência Brasil

CUNHA, Luiz Antônio. A Universidade Temporã: o ensino superior da Colônia à Era Vargas. São Paulo: UNESP, 2007.

Dicionários de verbetes AGCRJ

Documentário Centenária: a universidade do Brasil entre duas pandemias

FÁVERO, Maria de Lourdes. Universidade do Brasil: das origens à construção. Rio de Janeiro: UFRJ, 2010.

Folha de São Paulo, 6 de setembro de 2020

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

Portal da Câmara dos Deputados

Site 100 anos UFRJ

Site Escola Politécnica

Site IFCS

Site Museu Nacional

Site SiBI – Memória Institucional da UFRJ

Site UFRJ

 

 

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IV – Rua 25 de março em São Paulo

 

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IV – Rua 25 de Março

 

No quarto artigo da série “Avenidas e ruas do Brasil”, a Rua 25 de Março, atualmente uma das mais movimentadas de São Paulo é a destacada. Popularmente conhecida como “a 25″, é o maior centro comercial da América Latina, localiza-se no Centro da cidade e sua história é fortemente identificada com a própria história da cidade e marcada pela presença da imigração para a metrópole, principalmente de sírios e libaneses. Foi batizada, em 1865, em homenagem à data da assinatura da primeira constituição brasileira, em 25 de março de 1824. As fotografias deste artigo muito contrastam com a região nos dias de hoje, conhecida como “o maior shopping céu aberto da América Latina”. São do fim do século XIX e início do XX, de autoria de Guilherme Gaensly (1843 – 1928) e de Vincenzo Pastore (1865 – 1918).

Um das 10 fotografias da Rua 25 de Março destacadas nesse artigo é de autoria do fotógrafo suíço Guilherme Gaensly, autor de importantes registros de São Paulo, vendidos como fotografias em papel albuminado e colotipias impressas na Suíça e comercializadas em álbuns. Ao lado de seu contemporâneo Marc Ferrez (1843 – 1923), foi provavelmente o fotógrafo mais publicado em postais no Brasil.

 

 

Acessando o link para as fotografias da Rua 25 de março, em São Paulo, disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas. 

 

As outras nove foram produzidas pelo italiano Vincenzo Pastore (1865 – 1918), por volta de 1910. Com sua câmara de pequeno formato, Pastore capturava tipos e costumes de um cotidiano ainda pacato de São Paulo, uma cidade que logo, com o desenvolvimento econômico, mudaria de perfil. Captava as transformações urbanas e humanas da cidade, que passava a ser a metrópole do café. Com seu olhar sensível, o bem sucedido imigrante italiano flagrava trabalhadores de rua como, por exemplo, feirantes, engraxates, vassoureiros e jornaleiros, além de conversas entre mulheres e brincadeiras de crianças. Pastore, ao retratar pessoas simples do povo, realizou, na época, um trabalho inédito na história da fotografia paulistana. Registrou cenas de ruas de São Paulo, como estas na Rua 25 de março, produzindo imagens diferentes das realizadas, durante o século XIX, com câmeras de grande formato sobre tripés, tendo sido um dos pioneiros da nova linguagem da fotografia do século XX.

 

 

Um pouco da história da Rua 25 de Março, o “maior shopping a céu aberto da América Latina”

 

O Pátio do Colégio, reconhecido como o berço da cidade de São Paulo, está localizado próximo a área da rua 25 de Março, e o rio Tamanduateí, além de se relacionar com a fundação da cidade, tem ligação com a origem da referida rua, por ter sido a porta de entrada mais importante dos fundadores e dos desbravadores da cidade.

 

 

A colina do Pátio do Colégio, próxima ao rio Tamanduateí, abrigava o Porto Geral, que era usado para o descarregamento de mercadorias importadas que chegavam do Porto de Santos. Desde o século XVI, era utilizado como rota alternativa às trilhas no trajeto entre Santo André e São Paulo. Também por ele eram transportados da fazenda São Caetano, dos beneditinos, gêneros alimentícios para o Mosteiro de São Bento. A atual Rua 25 de Março era chamada, no século XVIII, de rua ou beco das Sete Voltas por margear o rio Tamanduateí que era sinuoso e que, até meados do século XIX, abrigou quatro portos: o já citado Geral, o Tabatinguera, o Figueira e o Coronel Paulo Gomes. O rio foi retificado em duas etapas – em 1848 e entre 1896 e 1914.

 

 

Acessando o link para as fotografias do rio Tamanduateí, em São Paulo, disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas. 

 

Nesse século a rua recebeu a denominação popular de Rua de Baixo, por ficar na parte baixa da cidade em realação à colina do Pátio do Colégio. Em 28 de novembro de 1865, foi apresentado pelo vereador Malaquias (ou Malachias) Rogério de Salles Guerra (18? – 19?) um ofício sugerindo a alteração do nome de várias ruas, sendo uma delas a alteração do nome da Rua de Baixo para Rua 25 de Março, até a projetada Praça do Mercado (atual praça Fernando Costa), e desse ponto em diante, até a Ladeira do Carmo, atual avenida Rangel Pestana (Correio Paulistano, 22 de dezembro de 1865, última coluna). Uma curiosidade: foi para a casa de São Paulo de Malaquias, primo de seu pai, que o futuro governador de São Paulo e presidente do Brasil, Manuel Ferraz de Campos Salles (1841 – 1913), nascido em Campinas, se mudou, aos 15 anos, para estudar na capital.

 

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Por volta de 1870, a migração de sírios e libaneses aumentou devido à ocupação desses dois países pelo Império Turco-Otomano, razão pela qual eles chegavam ao Brasil com passaportes fornecidos pelo governo turco. Daí terem ficado conhecidos como “turcos”, apesar de não sê-los. Uma ironia e até uma crueldade histórica já que os turcos eram, na verdade, seus opressores. Enfim, foram os sírios e os libaneses os responsáveis pela ocupação e pela colonização da área da Rua 25 de Março. Vieram “fazer a América”. Em 1887 ou 1890 (as fontes variam em relação a essa data), foi aberta a primeira loja na rua de que se tem notícia até hoje. Era de propriedade do imigrante libanês Benjamin Jafet (1864 – 1940), que se mudou para o Brasil, em 1887, e tornou-se um grande empresário do ramo têxtil (Correio Paulistano, 25 de fevereiro de 1940, quinta coluna).

 

 

A maioria desses imigrantes sírios e libaneses era cristãos ortodoxos e foi em janeiro de 1897 que, após a celebração de uma missa, em uma salão situado na Rua 25 de Março, que o padre Mussa Abi Haidar realizou a primeira procissão ortodoxa da América do Sul. Nas proximidades da Rua 25 de Março, na antiga Rua Itobi, atual Rua Cavalheiro Basílio Jafet, foi construída, nos primeiros anos do século XX, a primeira igreja ortodoxa do Brasil, a Igreja Ortodoxa Antioquina da Anunciação à Nossa Senhora, consagrada em 1904.

Além dos sírios e libaneses, comerciantes alemães, franceses e italianos – como vendedores de tecidos e estes últimos também como maiores vendedores de sapatos e principais agentes das atividades de funilaria e ferragem -, ingleses e norte-americanos no setor de metalurgia, e brasileiros e portugueses em trabalhos de carpintaria, se instalaram na região. Nos últimos anos, a presença de orientais vem se intensificando.

A área, cuja origem é a Rua 25 de Março, constitui-se de um conglomerado de lojas e galerias que vai desde o Mosteiro de São Bento até o Mercado Municipal. Desde o início de sua história, a rua foi identificada com a possibilidade de oportunidade de negócios em atividades comerciais e em sua região estão instaladas lojas tanto atacadistas como varejistas de produtos variados: de armarinhos a papelarias, roupas de cama e mesa, bijuterias e brinquedos, dentre vários outros. É, como já mencionado, apesar das grandes mudanças ocorridas na estrutura de comércio da capital paulistana, uma região comercialmente muito movimentada e ativa, o “maior shopping a céu aberto da América Latina“.

Em 2007, , “a 25″ foi o tema do enredo da Associação Cultural e Social Escola de Samba Mocidade Camisa Verde e Branco intitulado Das sete curvas de um rio nasce a Rua da Cultura, religião, comércio e festas populares: 25 de Março, Isso é Brasil!

Devido à pandemia do Covid-19, o comércio da rua ficou fechado de março de 2020 ao dia 10 de junho do mesmo ano. Recebe cerca de quatrocentas mil pessoas por dia e, perto de datas comemorativas, esse número sobe para um milhão.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

CESARINO, G. K.; CALDANA JUNIOR, V. L. (2017). Adaptação e resiliência do espaço comercial de rua: a 25 de marçoRUA23 (1), 117-139.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002. 408 p., il. p&b.

OLIVEIRA, Lineu Francisco de; GIL Antonio Carlos. O conglomerado comercial da rua 25 de março, em São Paulo: uma região socialmente construída. Revista de Estudos Sociais, 2011, nº 25, vol. 13

PONCIANO, Levino. Todos os centros da Paulicéia. São Paulo: Editora Senac, 2007.

PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAUL, Departamento do Patrimônio Histórico. A enchente de 1º de janeiro de 1850. São Paulo, 2009.

Site Brasil Econômico

Site Casas Históricas Paulistanas

Site Dicionário de ruas da Prefeitura de São Paulo

Site Guiada25

Site Igreja Ortodoxa Antioquina

Site Loja Maçônica Campos Salles 2654

Site São Paulo in Foco

Site Viagens e Caminhos

Links para as outras publicações da série “Avenidas e ruas do Brasil”

 Série “Avenidas e ruas do Brasil” I – Avenida Central, atual Rio Branco, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 7 de setembro de 2016

Série “Avenidas e ruas do Brasil” II – A Rua do Imperador em Petrópolis por Klumb, Leuzinger e Stahl, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 26 de junho de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” III – A Rua do Bom Jesus, no Recife, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 6 de agosto de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” V – A Rua Direita, a Rua das Mercês e a Rua Macau do Meio, em Diamantina, Minas Gerais, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 22 de outubro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” VI  – Rua Augusto Ribas e outras, em Ponta Grossa, no Paraná, pelo fotógrafo Luiz Bianchi, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 16 de novembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” VII – A Avenida Atlântica, em Copacabana, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 23 de dezembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil VIII – A Rua da Carioca por Cássio Loredano, de autoria de Cássio Loredano, publicada em 20 de janeiro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IX – Ruas e panoramas do bairro do Catete, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 14 de julho de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” X – A Rua da Ajuda, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 9 de novembro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XI – A Rua da Esperança, em São Paulo, por Vincenzo Pastore, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 14 de dezembro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XII – A Avenida Paulista, o coração pulsante da metrópole, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 21 de janeiro de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XIII – A Rua Buenos Aires no Centro do Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 19 de julho de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XIV – A Avenida Presidente Vargas,, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 31 de agosto de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XV – Misericórdia: rua, largo e ladeira, no Rio de Janeiro, por Cássio Loredano, de autoria de Cássio Loredano, publicada em 8 de dezembro de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVI – “Alguma coisa acontece no meu coração”, a Avenida São João nos 469 anos de São Paulo, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 25 de janeiro de 2023

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVII  e série “O Rio de Janeiro desaparecido” XXIII – A Praia e a Rua do Russel, na Glória, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 15 de maio de 2023

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVIII – Avenida Beira-Mar, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 22 de janeiro de 2024

 

 

Copacabana Palace, símbolo do “glamour” carioca

O Copacabana Palace, símbolo do glamour carioca e considerado um ícone da arquitetura do Rio de Janeiro era, na época de sua inauguração, o maior hotel da América Latina e representava a modernidade da cidade. A Brasiliana Fotográfica destaca registros do hotel produzidos por Augusto Malta (1864 – 1957) que, entre 1903 e 1936, foi o fotógrafo oficial da Prefeitura do então Distrito Federal, e imagens aéreas realizadas por um fotógrafo ainda não identificado. Estas últimas pertencem à Coleção Particular Oliveira Reis, do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, uma das instituições parceiras do portal.

 

 

A construção de um hotel de luxo na avenida Atlântica, recém duplicada e iluminada pelo prefeito Paulo de Frontin (1860 – 1933), em Copacabana, bairro que concentrava a aristocracia moderna do Rio de Janeiro, fazia parte dos preparativos  para a celebração do centenário da independência do Brasil, em 1922. O presidente Epitácio Pessoa (1865 – 1942) submeteu o projeto ao empresário Octávio Guinle (1886 – 1968), membro de uma das mais ricas e tradicionais famílias do Brasil e dono do Palace Hotel, no Rio de Janeiro, e do Hotel Esplanada, em São Paulo. Ele aceitou o desafio, porém o Copacabana Palace só ficou pronto em 1923 quando a Exposição Internacional do Centenário da Independência, aberta em 7 de setembro de 1922, já havia sido encerrada, em 24 de julho de 1923.

Ao longo de sua existência o hotel foi visitado ou hospedou reis, artistas, intelectuais e políticos como Ava Gardner (1922 – 1990), Janis Joplin (1943 – 1970), Hebe Camargo (1929 – 2012), Lady Di (1961 – 1997) e Príncipe Charles (1948 – ), Mick Jagger (1943 – ), Orson Welles (1915 – 1985), Paul McCartney (1942 – ), Santos Dumont (1873 – 1932), Washington Luís (1869 – 1957) e os futuros reis Edward VIII (1894 – 1972) e George VI (1895 – 1952).

 

 

Acessando o link para as fotografias do Hotel Copacabana Palace disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

O Copa, apelido pelo qual ficou conhecido, teve seu batismo oficial realizado em 13 de agosto de 1923 com a visita do presidente da República, Artur Bernardes (1875 – 1955), em companhia de outras autoridades, dentre elas o prefeito do Rio de Janeiro, Alaor Prata (1882 – 1964). Foram recebidos por Octávio Guinle. No dia seguinte o hotel começou a receber hóspedes, distintos turistas e brasileiros da melhor sociedade (Gazeta de Notícias, 8 de agosto de 1923O Paiz, 14 de agosto de 1923, segunda coluna; e Beira-Mar, 19 de agosto de 1923).

 

 

Inspirado nos hotéis Negresco, em Nice, e no Carlton, em Cannes – ambos na França – e situado na avenida Atlântica 1.702, o Copacabana Palace é um marco na ocupação e na paisagem de Copacabana e contribuiu para a projeção internacional do Rio de Janeiro. Seu arquiteto foi o francês Joseph Gire (1872 – 1933), responsável por outras obras como a do Hotel Glória e a do Edifício Joseph Gire, que ficou conhecido como Edifício A Noite. Gire, formado pela École Nationale Supérieure des Beaux-Arts de Paris, desembarcou no Rio de Janeiro em 1916. O engenheiro responsável pela obra do Copa foi Cesar de Mello e Cunha (1898 – 1991). O hotel  foi construído com cimento alemão, mármore de Carrara, e adornado com vidros e lustres da Tchecoslováquia, móveis franceses, tapetes ingleses e cristais da Boêmia. Suas porcelanas eram Limoges.

 

 

A principal atração de seu baile de inauguração, que contou com figuras importantes da República, era a dançarina francesa Mistinguett (1875 – 1956), mas o show foi cancelado na véspera por seus empresários. Mesmo assim o evento foi um sucesso (Gazeta de Notícias, 1º de setembro de 1923, quarta coluna; e O Paiz, 31 de agosto de 1923, primeira coluna; O Paiz, 1º de setembro de 1923, primeira coluna).

 

 

Foi ambientado no Copa o filme Voando para o Rio (1933), estrelado por Fred Astaire (1899 – 1987) e Ginger Rogers (1911 – 1995) – que pela primeira vez apareceram dançando juntos em um filme -, Dolores del Rio (1904 – 1983)e Gene Raymond (1908 – 1998).

 

CARTAZ

Cartaz do filme Voando para o Rio

 

De 1924 a 1946, o Copa abrigou o Cassino Copacabana – nesse período ficou um tempo fechado e foi reaberto em maio de 1933 (Fon-Fon, 26 de janeiro de 1924; Beira-Mar, 13 de maio de 1933, primeira coluna). Diversos artistas nacionais e internacionais apresentaram-se em seu lendário Golden Room, inaugurado em 26 de dezembro de 1940 (Diário Carioca, 28 de dezembro de 1940), dentre eles Carmen Miranda (1909 – 1955), Charles Aznavour (1924 – 2018), Edith Piaf(1915 – 1963), Ella Fitzgerald (1917 – 1996), Josephine Baker (1906 – 1975), Marlene Dietrich (1901 – 1992), Maurice Chevalier (1888 – 1972), Nat King Cole (1919 – 1965), Ray Charles (1930 – 2004) e Yves Montand (1921 – 1991).

 

 

Em 1989, a família Guinle vendeu o Copacabana Palace para o grupo Orient-Express, posteriormente, Belmond, que foi vendido para o grupo francês LVMH, em dezembro de 2018. O hotel é tombado em nível federal, estadual e municipal.

Devido à pandemia do coronavírus, pela primeira vez desde sua inauguração o hotel foi fechado, em 10 de abril de 2020. Andrea Natal, diretora geral do Grupo Belmond do Brasil, que administra o estabelecimento, e o cantor e compositor Jorge Ben Jor (1945 -), que vive lá desde 2018, foram os únicos que continuaram no hotel. Foi anunciado que seria reaberto no dia 20 de agosto de 2020.

 

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

BOECHAT, Ricardo. Copacabana Palace: um hotel e sua história. São Paulo: DBA, 1998.

Folha de São Paulo, 16 de setembro de 2015

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

IstoÉ, 17 de dezembro de 2018

O’DONNELL, Julia. A invenção de Copacabana: culturas urbanas e estilos de vida no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.

O Globo, 13 de agosto de 2008

Site I-Patrimônio

UOL Notícias, 30 de outubro de 2008

Uol Notícias, 2 de julho de 2020

 

 

 

 

Rio de Janeiro, Capital Mundial da Arquitetura

 

 

A Unesco anunciou, em 18 de janeiro de 2019, o Rio de Janeiro como a primeira cidade a se tornar capital mundial da arquitetura, título que teria até a realização do Congresso Mundial de Arquitetura, que ocorreria na cidade entre 19 e 23 de julho de 2020, evento adiado, segundo a União Internacional dos Arquitetos, para acontecer entre 18 e 22 de julho de 2021, devido à pandemia do coronavírus. A escolha do Rio de Janeiro deveu-se, naturalmente, à sua arquitetura, a suas belezas naturais, à herança cultural e à sua importância histórica. A Brasiliana Fotográfica já publicou vários artigos sobre monumentos, prédios e aspectos da natureza carioca como os Arcos da Lapa, a Avenida Central, o Castelo da Fiocruz, Copacabana, o Corcovado, o Cristo Redentor, o Hotel Glória, a Igreja da Glória, Ipanema e outros bairros, o Jardim Botânico, o Paço, o Palácio Real de São Cristóvão, o Pão de Açúcar, a Praça XV, o Real Gabinete Português de Leitura e o Theatro Municipal. Em tempos de isolamento social, convidamos nossos leitores a revisitarem essas publicações, fazendo um passeio virtual pelas belezas do Rio de Janeiro. Não se esqueçam de usar o zoom! Bom domingo!

 

 

 

100 anos do Castelo da Fiocruz: a ocupação da Fazenda de Manguinhos

A criação do Jardim Botânico do Rio de Janeiro

A fundação de Copacabana

A fundação do Rio de Janeiro

A Igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro por Cássio Loredano

A inauguração do Theatro Municipal do Rio de Janeiro

A Praça XV na coleção Pereira Passos

Avenida Central, atual Rio Branco

Bairros do Rio

Becos cariocas

Carlos Bippus e as paisagens cariocas

Inauguração do Cristo Redentor, 12/10/1931

Ipanema pelas lentes de José Baptista Barreira Vianna (1860 – 1925)

Manguinhos e a cidade do Rio de Janeiro

O Hotel Glória: antes e depois

O Paço, a praça e o morro

O Palácio Real de São Cristóvão

O Passeio Público do Rio de Janeiro

O Rio de Janeiro de Marc Ferrez

Os Arcos da Lapa e os bondes de Santa Teresa

Real Gabinete Português de Leitura

Uma homenagem aos 452 anos do Rio de Janeiro: o Corcovado e o Pão de Açúcar

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Praias do Rio na memória, na história e na fotografia

E é sobre as praias cariocas, das quais, devido ao atual contexto da pandemia de coronavírus temos que nos manter afastados, o artigo “Praias do Rio na memória, na história e na fotografia”, escrito pela historiadora Ana Maria Mauad. Segundo a autora, nas últimas décadas do século XX, a renovação historiográfica deslocou a praia do foco da história urbana para os espaços das práticas e representações de uma história cultural”. Sobre o portal, comentou: “Temos de saudar e incentivar iniciativas como a da Brasiliana Fotográfica, pois ao disponibilizar de forma organizada e de fácil acesso arquivos fotográficos de grande valor, contribui para incrementar as pesquisas com e sobre a prática fotográfica como experiência histórica incontornável ao sujeito moderno”.

 

Praias do Rio na memória, na história e na fotografia

Ana Maria Mauad*

 

As idas à praia de Ipanema povoam as minhas lembranças de infância. Até hoje sinto na pele o calor de deitar na areia quente, depois de um mergulho no mar geladinho do verão carioca; os grãos finíssimos escorrendo pelos dedos depois de amassar um torrão de areia, daqueles que ficavam na faixa mais seca no caminho do mar, ou ainda, do ‘jacaré” com prancha de isopor encapada de tecido para não irritar a barriga. Poderia desfiar aqui o fio da memória em cenas que teriam a praia como o cenário de prazer e alegria. Não sem motivo, em 2015, a coletânea Fotograficamente Rio: a cidade e seus temas, que organizei como resultado do edital FAPERJ Rio 450 anos, apresentava o mar como um dos seus fios condutores e as praias da cidade como tema de vários artigos (http://www.labhoi.uff.br/fotograficamente-rio).

A renovação historiográfica, dos anos 1980 e 1990, deslocou a praia do foco da história urbana e da geografia histórica para os espaços de sociabilidade, das práticas e representações de uma história cultural que se consolidava em sintonia com os debates sobre novas fontes, novos objetos e novas abordagens. Esse ambiente abrigou um movimento quase arqueológico de escavação em arquivos, em busca de documentos que iluminassem experiências cotidianas e vivências sociais, por meio de diferentes formas de as representar. Nesse movimento, as imagens invadem os domínios da história, alçando a visualidade como princípio para estudar as sociedades passadas.

 

Acessando o link para as fotografias das praias brasileiras disponíveis na Brasiliana Fotográfica e que foram selecionadas e enviadas a Ana Maria Mauad, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas. 

 

Do mundo das imagens, as fotografias ganharam a minha atenção desde os anos 1980, na minha pesquisa de doutorado. Fotografias do álbum de família ganhavam ressonância nas páginas das revistas ilustradas descortinando um mundo de consumo, aparências e desigualdades. As praias ocupavam um lugar central nas narrativas visuais, tanto privadas quanto públicas. Em uma charge de 1904, publicada no Jornal do Brasil, edição de 11 de setembro, logo na primeira página, observa-se uma cena de praia, em que todos os banhistas portam câmeras fotográficas. Identificamos entre os usuários,  a Kodak Pocket, câmera lançada pela Eastman Kodak, em 1895, ou a mais recente Brownie, comercializada pela mesma fábrica a partir de 1900, ambas espalharam a febre da democratização da imagem no início do século XX. Essa ilustração apresenta uma dupla qualidade: primeiro por apontar a presença da prática fotográfica no cotidiano dos ‘batedores de chapa’ com expansão do mercado de cameras e produtos fotográficos; mas também por evidenciar a praia como espaço de sociabilidade de um grupo variado de personagens.

 

 

No Rio de Janeiro, os banhos de mar já foram recomendados como tratamento de saúde para governantes, logo no início do século XIX, e continuariam a ser prescritos por médicos sanitaristas até o início do século XX. As praias eram consideradas lugares de ares frescos que pouco a pouco se tornariam espaço para vilegiatura dos mais abastados, sobretudo, nas praias oceânicas. Uma nova geografia cultural se desenhava pela frequência social e urbana das praias. Ir à Praia das Virtudes para o morador da Lapa, não era o mesmo que um morador de Botafogo frequentar o Balneário da Urca. Para os primeiros, o importante era a farra; para os outros, o que valia era ver o ser visto. Na crônica Da praia do Flamengo ao Balneário da Urca, assinada por Leão Padilha, essa distinção fica clara:

“PRAIA DO FLAMENGO: Domingo de manhã, os banhistas do Flamengo chegam mais tarde do que os da Lapa e saem mais cedo do que os de Copacabana. Às 10 horas, aquele pedacinho de areia fica que nem formigueiro, cheio, muito cheio (…) uma pequena faz maravilhas acrobáticas nos braços de um sportsman! Bóiam pares abraçados dentro de pneumáticos de automóveis … Na calçada vendem água doce para tirar o sal, o guarda-civil passeia para lá e para cá medindo a moralidade das roupas. PRAIA DE BOTAFOGO: Pouca gente. Criadas e funcionários das quitandas de bairro aficionados do sport. O pessoal chic vai mostrar suas toilletes no Balneário da Urca, e deixa a Enseada tranqüila para a criadagem que não teve tempo para tirar o pó do Flô do Abacate. BALNEÁRIO DA URCA: Supra sumo do chic. Fora ficam os carros esquentando ao sol. Lá dentro aqueles 50 palmos de areia regurgitam… Em cima, dança, flirt e cocktail (…) uma ‘jazz-band’ comunica tremura coreográficas aos corpos quentes (…) Lá embaixo há cubículos para trocar de roupa e outros misteres mais íntimos (…) a empresa não fiscaliza nem tampouco a polícia. Na areia senhoras respeitáveis, a julgar pela pintura e pelo volume, conversam coisas graves e fumando cigarros turcos. Rapazes ensinam ginástica a seco e dentro d’água. Mais tarde, o balneário perde esse aspecto familiar da manhã, o jazz-band ataca músicas mais frenéticas, os cocktails ganham ingredientes mais fortes e o ‘flirt’ é mais íntimo. Dentro da água ensina-se a nadar com menos inocência (…) fala-se alto (…) onde os rr franceses arrastam na gíria da moda, as exclamações das revistas alegres do Carlos Gomes e do Recreio (…) Não se ouve falar em cocaína, morfina ou ópio (…) PRAIA DAS VIRTUDES: No lencinho de areia perdido no mar (…) a promiscuidade é estonteante. A salada tem gosto de tudo – laranja de turco, cebola de português, macarrão de italiano, banana de brasileiro. Freqüentam essa praia moradores da Lapa, Sta. Luzia e todas as pensões do Centro. E por fim. A praia do Caju: todos vão à praia e tomam o seu banho de areia, de sol e de água suja…” (Rio Ilustrado, Ano I, out-dez, 1928)

 

Acessando o link para todas as fotografias das praias brasileiras disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.  

 

As crônicas escritas ao sabor de quem andava pela cidade e a observava, guardavam a marca da visualidade de época, em estreito diálogo com as caricaturas, as ilustrações e, sobretudo, com as fotografias. Imagens que redefinem a experiência histórica com o mundo visível instituindo novas formas de olhar.

É interessante acompanhar as mudanças no enquadramento da paisagem praiana que a Brasliana Fotográfica nos apresenta. É possível, pelas lentes de José Baptista Barreira Vianna, visualizar uma Copacabana que, de um grande areal vai aos poucos sendo povoada, com as primeiras linhas de bonde ainda a tração animal.

 

 

Em uma delas, parece que nos debruçamos no muro da residência dos Barreira Vianna, para olhar como se vivia então. Dos fundos da casa, se vislumbra a varanda de frente para o mar de Ipanema.

 

 

Já as vistas aéreas de Jorge Kfuri nos lança em uma nova experiência visual: o Zepelim  que nos visitou causando sensação, sobrevoando as praias da zona sul; o forte de Copacabana na ponta que une Arpoador ao Posto Seis e a belíssima vista da Praia de Copacabana com sua primeira geração de casas, arruamento definido, pista de rolamento de mão dupla com carros de último tipo circulando, calçada com as tradicionais pedras portuguesas em ondas, dá até para ver uma parte do calçadão destruída por uma das famosas ressacas. Esse tipo de escrutínio, vale lembrar, só se tornou possível ao público que hoje tem o privilégio, de forma remota, conhecer essas verdadeiras preciosidades que o acesso irrestrito às imagens nos oferece.

 

 

Temos de saudar e incentivar iniciativas como a da Brasiliana Fotográfica, pois ao disponibilizar de forma organizada e de fácil acesso arquivos fotográficos de grande valor, contribui para incrementar as pesquisas com e sobre a prática fotográfica como experiência histórica incontornável ao sujeito moderno.

 

 

*Ana Maria Mauad é Doutora em História e professora titular do Departamento de História, pesquisadora do Laboratório de História Oral e Imagem da UFF

 

Acesse outros artigos sobre praias do Rio de Janeiro e do Brasil publicados na Brasiliana Fotográfica:

 

Início do verão – as praias do Brasil, publicado em 22 de dezembro de 2015

Ipanema, que completa 122 anos, pelas lentes de José Baptista Barreira Vianna (1860 – 1925, publicado em 26 de abril de 2016

A fundação de Copacabana, publicado em 6 de julho de 2016

 

“Doze horas em diligência”, o primeiro guia turístico do Brasil, por Revert Henrique Klumb (c. 1826 – c. 1886)

Hoje a Brasiliana Fotográfica homenageia o Dia Nacional do Turismo, atividade muitíssimo atingida pela pandemia do coronavírus publicando um artigo sobre o Primeiro guia turístico do Brasil. Esse era o título da matéria que o criador e primeiro diretor do Museu Histórico Nacional, Gustavo Barroso (1888 – 1959), publicou na revista O Cruzeiro, de 1º de novembro de 1952, sobre o livro Doze horas em diligência. Guia do viajante de Petrópolis a Juiz de Forado fotógrafo francês Revert Henrique Klumb (c. 1826 – c. 1886), lançado em 1872. Além do artigo, publicamos um interessante comentário da historiadora Maria Isabel Ribeiro Lenzi sobre o original manuscrito do livro de Klumb que integra, desde 1924, as coleções do Museu Histórico Nacional.

 

 

A obra, escrita em português e em francês, descrevia o trajeto entre Petrópolis e Juiz de Fora, realizado entre seis horas da manhã e seis horas da tarde – duração padrão do percurso nas diligências da Companhia União e Indústria – e foi ilustrada com 31 estampas sendo: 1 retrato, 29 vistas em litografia e uma planta perfil e longitudinal da Estrada União Indústria.

O livro foi a única obra do Brasil do século XIX a ser idealizada, fotografada, escrita e publicada por uma só pessoa, Klumb, e também foi o primeiro livro de fotografia inteiramente produzido, litografado e produzido no país. Segundo o próprio autor, a ideia de realizar um trabalho sobre a estrada União Indústria foi concebida em 1861, e, de 1863 a 1866, ele trabalhou no projeto. Entre 1867 e 1868, terminou de produzir as vistas e, em 1870, tratou da publicação que, finalmente, aconteceu dois anos depois.

 

livro

 

O fotógrafo dedicou o livro a sua protetora, a imperatriz Teresa Cristina (1822 – 1889):

Quando concebi o projeto de escrever esse pequeno livro, meu primeiro pensamento foi que só a Vossa Majestade me era permitido dedicar este simples ensaio descritivo de uma das mais belas estradas do Império. Sou talvez muito presunçoso ousando oferecer a Vossa Majestade a dedicatória deste opusculo; no entanto ouso esperar que Vossa Majestade me fará a graça insigne de aceital-o, ainda que não fosse mais senão para servir ao sentimento que me inspirou“.

No prefácio, Klumb comentou:

…Num trabalho feito a galope, não se pode esperar encontrar estilo elegante e florido, mas sim uma ligeira descrição dos lugares notáveis, atravessados por uma estrada magnífica. Essa obra não tem o merecimento senão o de ser: o primeiro guia do viajante, feito no país, guia ilustrado de desenhos copiados da fotografia …

 

Último parágrafo do prefácio escrito por Klumb para o livro

Último parágrafo do prefácio escrito por Klumb para o livro Doze Horas em diligência

 

Klumb, um dos primeiros fotógrafos estrangeiros a se estabelecer no Brasil e conhecido como o preferido da família imperial brasileira, foi um dos pioneiros na produção comercial de imagens sobre papel fotográfico e uso de negativo de vidro em colódio no Brasil, tendo inaugurado seu estabelecimento fotográfico em 1855, na rua dos Ourives, 64 – atual rua Miguel Couto, no centro do Rio de Janeiro (Correio Mercantil , de 4 de novembro de 1855, na última coluna).

 

 

Em 1872, ano da publicação de Doze horas em diligência, foi anunciada a abertura da Photographia Franceza, de Klumb e de outros fotógrafos, na residência do sr. Figueira de Melo, na rua do Ouvidor, nº 49 ( Jornal do Commercio, 22 de maio de 1872, na última coluna ).

 

 

Foi professor de fotografia da princesa Isabel e, provavelmente, o introdutor da técnica estereoscópica no Brasil, com a qual entre os anos de 1855 e 1862 produziu ampla documentação sobre o Rio de Janeiro. Em 1874, foi publicado o livro Petrópolis e seus arrabaldes, com fotografias produzidas por Klumb. Um ano depois houve uma exposição de suas fotografias em Petrópolis e o casal imperial visitou a mostra (O Mercantil, de 10 de janeiro de 1875, na terceira coluna). Entre 1875 e 1886, não há, até hoje, notícias sobre o fotógrafo. O que se sabe, até o momento, é que em 1886 ele estava em Paris e de lá escreveu para a imperatriz Teresa Cristina pedindo que ela financiasse a volta dele e de sua família para o Brasil. O pedido foi deferido, e ele e sua família deveriam embarcar para o Brasil em outubro de 1886. Porém, não se sabe se ele chegou a vir para o Brasil.

 

Acessando o link para as fotografias de Revert Henrique Klumb disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a ela. 

 

 

Sobre o Dia Nacional do Turismo 

Oficialmente, o Dia Nacional do Turismo passou a ser comemorado em 8 de maio pela Lei nº 12.625, de 9 de maio de 2012. A escolha desta data para celebrar a efeméride é uma homenagem ao pedido que o estado do Paraná fez em 8 de maio de 1916 para que as terras próximas às Cataratas do Iguaçu fossem desapropriadas, com o intuito de transformar a área numa zona pública para turismo.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

BRITTO PEREIRA, Cecilia Duprat. Revert Henrique Klumb – Fotógrafo da Família Imperial BrasileiraRio de Janeiro: Anais da Biblioteca Nacional, 1982.

ERMAKOFF , George. Rio de Janeiro 1840 – 1900 – Uma crônica fotográfica. Rio de Janeiro: G. Ermakoff Casa Editorial, 2006.

FERREZ, Gilberto; NAEF, Weston J.. Pioneer Photographers of Brazil, 1840-1920. New York: Center for Inter-American Relations, 1976.

GUIMARÃES, Elione Silva Guimarães. Múltiplos viveres de afrodescendentes na escravidão e no pós-emancipação: Família, trabalho, terra de conflito.São Paulo ; Annablume Editora, 2006.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOSSOY, Boris. Dicionário Histórico-Fotográfico Brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil(1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002. ISBN 85-86707-07-4

LAGO, Bia Corrêa do;LAGO, Pedro Corrêa do. Coleção Princesa Isabel: fotografia do século XIX. Rio de Janeiro: Capivara, 2008.432p.:il., retrs.

LAGO, Bia Corrêa do;LAGO, Pedro Corrêa do. Os Fotógrafos do Império. Rio de Janeiro: Capivara, 2005. 240p.:il

MORAES FILHO, Alexandre de Mello. Artistas do meu tempo. Rio de Janeiro: Garnier, 1905.

SCARRONE, Marcelo. Doze horas numa diligência. Rio de Janeiro: Revista de História, 14/06/2008.

Site da Enciclopédia Itaú Cultural

Site do Instituto Moreira Salles

Site do Ministério do Turismo

TURAZZI, Maria Inez. Poses e trejeitos: a fotografia e as exposições na era do espetáculo: 1839/1889. Prefácio Pedro Karp Vasquez. Rio de Janeiro: Funarte. Rocco, 1995. 309 p., il. p&b. (Coleção Luz & Reflexão, 4). ISBN 85-85781-08-4.

VASQUEZ, Pedro Karp. Revert Henrique Klumb: um alemão na Corte Imperial brasileira. Apresentação Joaquim Marçal, Demosthenes Madureira de Pinho Filho; coordenação de coleção Pedro Corrêa do Lago; coordenação editorial Pedro Corrêa do Lago, Luiz Eduardo Meira de Vasconcellos; design Victor Burton; fotografia César Barreot, Miguel Pacheco e Chaves; pesquisa Pedro Karp Vasquez; tradução Carlos Luís Brown Scavarda. Rio de Janeiro: Capivara, 2001 229p., il. p&b. (Visões do Brasil, 4). ISBN 85-86011-49-5.

 

 

O original manuscrito do primeiro guia de viagem impresso no Brasil (1)

Maria Isabel Ribeiro Lenzi*

 

Capa do original do livro, sob a guarda do Museu Histórico Nacional

Capa do original do livro Doze Horas em diligência, sob a guarda do Museu Histórico Nacional

 

O Museu Histórico Nacional preserva em seu Arquivo Histórico um documento que é uma jóia rara. A encadernação com a capa de couro com decoração dourada mostra o brasão e a coroa do Império do Brasil além da guardar o original do que viria a ser, dois anos depois, o primeiro guia de viagem impresso no Brasil, o famoso Doze horas em diligência – Guia de viajante de Petrópolis a Juiz de Fora, publicação com fotografias litografadas, editado pelo fotógrafo franco-alemão Revert Henry Klumb.

O documento é todo manuscrito. Foi dedicado e presenteado à Imperatriz Tereza Cristina em 1870. O texto é em português e francês e as imagens são 20 fotografias em albumina coladas.

O guia, que foi impresso dois anos depois, é muito parecido com esse, porém traz algumas modificações: das fotografias que estão no original, dezessete foram litografadas para a edição de 1872, a qual apresenta 29 litografias. Nas paisagens litografadas nessa segunda versão, Klumb inseriu personagens desenhados – sugerindo figuras de possíveis turistas – que não aparecem nas fotografias originais. Nesta edição impressa, encontra-se referência ao Hotel Inglês e ao Palácio Imperial em Petrópolis, bem como são apresentados aos viajantes o Bosque da Imperatriz e a Colônia Pedro II, em Juiz de Fora.

Este precioso documento que pertenceu a Dona Teresa Cristina passou a integrar as coleções do Museu Histórico Nacional em 1924, vindo do Paço da Quinta de São Cristóvão.

 

*Maria Isabel Ribeiro Lenzi é Doutora em História pela UFF e historiadora do Arquivo Histórico do Museu Histórico Nacional (IBRAM/Secretaria de Cultura/Ministério do Turismo)

 

Acesse nos seguintes documentos na Biblioteca Virtual do Museu Histórico Nacional:

 

Primeiro guia turístico do Brasil, de Gustavo Barroso, publicado na revista O Cruzeiro, de 1º de novembro de 1952

O original manuscrito de Doze horas em Diligência, de Revert Henrique Klumb

 

(1) O comentário O original manuscrito do primeiro guia de viagem impresso no Brasil, de autoria da historiadora Maria Isabel Ribeiro Lenzi foi acrescido ao texto original em 14 de maio de 2020.

 

Outros artigos publicados na Brasiliana Fotográfica em torno da obra de Revert Henrique Klumb:

Revert Henrique Klumb, o fotógrafo da família real do Brasil, publicado em 31 de agosto de 2016

As versões diurna e noturna na fotografia de Revert Henrique Klumb, 28 de dezembro de 2018

Petrópolis, a Cidade Imperial, pelos fotógrafos Marc Ferrez e Revert Henrique Klumb, 16 de março de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” II – A rua do Imperador em Petrópolis por Klumb, Leuzinger e Stahl, 16 de junho de 2020.

O Hotel Pharoux por Revert Henrique Klumb, em 15 de junho de 2022

 

 

Os cinco anos da Brasiliana Fotográfica

A Brasiliana Fotográfica, fundada pela Biblioteca Nacional e pelo Instituto Moreira Salles, em 17 de abril de 2015, completa cinco anos de existência buscando contribuir para uma escrita da história do Brasil onde as fotografias deixam de ser mera ilustração. A data seria comemorada com a realização do Seminário Brasiliana Fotográfica 5 anos – A imagem e a escrita da história, no auditório da Biblioteca Nacional que, devido à situação pela qual atravessa o Brasil e o mundo, foi adiado.

Decidimos então promover no contexto atual da pandemia de coronavírus um debate relacionando urbanismo, saúde pública e a história da cidade do Rio de Janeiro e das grandes metrópoles brasileiras, temas frequentes dos artigos semanais publicados no portal, dando visibilidade aos arquivos de imagem das instituições parceiras, ora disponibilizados na Brasiliana Fotográfica e também às pesquisas existentes sobre estes temas – elementos de reflexão sobre o momento presente. O encontro virtual será disponibilizado on-line ao vivo para o público, gratuitamente, no canal de facebook do Instituto Moreira Salles -  https://www.facebook.com/pg/institutomoreirasalles, no dia 17 de abril de 2020, às 17h30m.

 

 

Convidamos para este encontro e debate o historiador Jaime Benchimol, a pneumologista Margareth Dalcolmo – ambos pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz, instituição integrante do portal Brasiliana Fotográfica – e o arquiteto e urbanista Guilherme Wisnik, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. O debate será mediado pelos dois curadores da Brasiliana Fotográfica – Sérgio Burgi, Coordenador de Fotografia do Instituto Moreira Salles, e Joaquim Marçal, Coordenador da BN Digital -, e pela historiadora Aline Lopes de Lacerda, pesquisadora do Departamento de Arquivo da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz.

 

logo

 

Queremos também celebrar o aniversário do portal agracedendo a você, nosso leitor, que percorre nosso acervo fotográfico que, até o momento, possui 6.709 imagens de 11 instituições, e também lê nossas publicações semanais: já são 249! Ao longo desses cinco anos já tivemos 38.437.165 acessos!

Com uma rigorosa seleção e indexação das imagens que integram nosso acervo fotográfico, com o uso de uma linguagem simples e com a realização de uma pesquisa minuciosa, um dos objetivos da Brasiliana Fotográfica é atrair o interesse do maior número de leitores possível, de todas as faixas etárias e níveis de formação acadêmica, para assuntos relativos à história da fotografia, do Brasil e do mundo. Os artigos, semanais, são escritos por profissionais ligados às instituições integrantes do portal,  por curadores convidados como Cassio LoredanoElvia BezerraEucanaã FerrazLilia Moritz SchwarczMaria Isabela Mendonça dos SantosMillard SchislerPedro Karp Vasquez e Rubens Ribeiro Gonçalves da Silva e também pelos curadores do portal Sérgio Burgi (IMS) e Joaquim Marçal (FBN).

 

Acessando o link para as 6.709 fotografias publicadas ao longo desses cinco anos na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

A escolha dos temas é variado: pode ser baseada tanto em uma efeméride como em uma reflexão mais teórica, na beleza ou na importância histórica de uma imagem ou de um grupo delas ou pode, também, se relacionar com algum fato da atualidade como foi, por exemplo, a publicação do artigo E o ex e futuro presidente do Brasil morreu de gripe…a Gripe Espanhola de 1918, em 20 de março de 2020, quando o mundo e o Brasil enfrentavam (ainda enfrentam) a pandemia do coronavírus. O presidente em questão foi Rodrigues Alves (1848 – 1919), uma das milhões de vítimas da gripe espanhola.

 

 

A elaboração de perfis de fotógrafos acompanhados por galerias de suas fotografias disponíveis no acervo do portal e por cronologias é uma das marcas da Brasiliana Fotográfica. E uma das estrelas das pesquisas realizadas para esses artigos é, além da bibliografia disponível sobre os temas, a Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional, com os links para as notícias da época em que os fatos ocorreram. De abril de 2015 a março de 2020, foram publicados 44 perfis, o primeiro, Militão Augusto de Azevedo (1837 – 1905) e sua obra-prima, o “Álbum comparativo da cidade de São Paulo 1862-1887″, em 24 de maio de 2015; e o último, As Camélias Japonesas no carnaval de Alagoas pelas lentes do fotógrafo amador Luiz Lavenère Wanderley (1868 – 1966), em 21 de fevereiro de 2020.

 

 

Lista de todos os perfis de fotógrafos publicados na Brasiliana Fotográfica de abril de 2015 a março de 2020 

2015

 1 – Militão Augusto de Azevedo (1837 – 1905) e sua obra-prima, o “Álbum comparativo da cidade de São Paulo 1862-1887″

2 – O alemão Alberto Henschel (1827 – 1882), o empresário da fotografia

3 O alagoano Augusto Malta, fotógrafo oficial do Rio de Janeiro entre 1903 e 1936

4Vincenzo Pastore (Casamassima, Itália 5 de agosto de 1865 – São Paulo, Brasil 15 de janeiro de 1918)

5 - Alagoas, Bahia, Minas Gerais e Sergipe por Augusto Riedel (1836 -?)

6 – Guerra de Canudos pelo fotógrafo Flavio de Barros

7 – O editor e fotógrafo suíço Georges Leuzinger (1813 – 1892)

8 – Imagens do Espírito Santo por Albert Richard Dietze (Alemanha, 1838 – Brasil, 1906)

2016

9 – O fotógrafo francês Jean Victor Frond (1821 – 1881) e o “Brasil Pitoresco”

10 – O suicídio do fotógrafo Felipe Augusto Fidanza (c. 1847 – 1903)

11 – Ipanema, que completa 122 anos, pelas lentes de José Baptista Barreira Vianna (1860 – 1925)

12 - Notícia da viagem do fotógrafo Albert Frisch (31/05/1840 – 30/05/1918) à Amazônia

13 - O fotógrafo Juan Gutierrez de Padilla (c.1860 – 28/6/1897)

14 – O fotógrafo paisagista Camillo Vedani (18?, Itália – c. 1888, Brasil)

15 - O fotógrafo amador Guilherme Santos (1871 – 1966)

16 – Revert Henrique Klumb, o fotógrafo da família real do Brasil

17 – O retratista português Joaquim Insley Pacheco (c. 1830 – 14 de outubro de 1912)

18 – O fotógrafo Augusto Stahl (Itália 23/05/1828 – França, 30/10/1877)

19 – O brilhante cronista visual Marc Ferrez (RJ, 07/12/1843 – RJ, 12/01/1923)

2017

20- São Paulo sob as lentes do fotógrafo Guilherme Gaensly (1843 – 1928)

21 – Os trinta Valérios, uma fotografia bem-humorada de Valério Vieira (1862 – 1941) 

22- Os índios sob as lentes de Walter Garbe, em 1909 

23 - Abram-Louis Buvelot (Suíça, 03/03/1814 – Austrália, 30/05/1888) 

24 – Um fotógrafo inglês na Bahia: Benjamin Robert Mulock (18/06/1829 – 17/06/1863) 

25 - “Sete de Setembro: uma ponte entre dois maurícios”, por Pedro Vasquez

26 – Lampião e outros cangaceiros sob as lentes de Benjamin Abrahão 

27 – O cronista visual de Diamantina: Chichico Alkmim, fotógrafo (1886 – 1978)

28 - O fotógrafo austríaco Otto Rudolf Quaas e o construtor Ramos de Azevedo

29 –  O fotógrafo português Francisco du Bocage (14/04/1860 – 22/10/1919)

30- O fotógrafo Joaquim Pinto da Silva, o J. Pinto (1884-1951) e a Fundação Oswaldo Cruz

31 – O fotógrafo português José Ferreira Guimarães (1841 – 30/01/1924)

 2018

 32 – A construção Madeira-Mamoré, a ferrovia da Morte”, pelas lentes de Dana B. Merrill (c. 1887 – 19?)

33- O fotógrafo, botânico e naturalista alemão George Huebner (1862 – 1935)

34 - O francês Hercule Florence (1804 – 1877), inventor de um dos primeiros métodos de fotografia do mundo

35 - Lunara (1864 – 1937), um fotógrafo amador e fotoclubista de Porto Alegre

36 - O fotógrafo açoriano Christiano Junior (1832 – 1902) e sua importante atuação no Brasil e na Argentina

37 - A prisão do fotógrafo e aviador britânico S.H. Holland (1883 – 1936) no Rio de Janeiro, em 1930

2019

38 - Carlos Bippus e as paisagens cariocas

39 - Nudez na Galeria Ducasble causa polêmica no Recife do século XIX

40 - João Ferreira Villela, um dos primeiros fotógrafos pernambucanos

41 - Imagens de Blumenau: por Bernardo Scheidemantel e em álbum do início do século XX

42 - A Colônia Dona Francisca, Joinville, por Louis Niemeyer

43 – Jorge Kfuri (1893 – 1965), autor das primeiras fotografias aéreas do Rio de Janeiro

2020

44 - As Camélias Japonesas no carnaval de Alagoas pelas lentes do fotógrafo amador Luiz Lavenère Wanderley (1868 – 1966)

 

 

Dentre esses perfis está o do fotógrafo Marc Ferrez, O brilhante cronista visual Marc Ferrez (7/12/1843 – 12/01/1923), publicada em 7 de dezembro de 2016.

 

 

Sobre a obra de Ferrez, que é por muitos considerado o mais importante fotógrafo que atuou no Brasil no século XIX, foram escritos mais 13 artigos na Brasiliana Fotográfica: O Rio de Janeiro de Marc Ferrez, Obras para o abastecimento no Rio de Janeiro por Marc Ferrez , Do natural ao construído: O Rio de Janeiro na fotografia de Marc Ferrez, de Sérgio BurgiNo primeiro dia da primavera, as cores de Marc Ferrez (1843 – 1923)Marc Ferrez , a Comissão Geológica do Império (1875 – 1878) e a Exposição Antropológica Brasileira no Museu Nacional (1882)O quiosque Chopp Berrante no Passeio Público, Ferrez, Malta e Charles DunlopUma homenagem aos 175 anos de Marc Ferrez (7 de dezembro de 1843 – 12 de janeiro de 1923)Pereira Passos e Marc Ferrez: engenharia e fotografia para o desenvolvimento das ferrovias, Fotografia e ciência: eclipse solar, Marc Ferrez e Albert Einstein, Uma homenagem da Casa Granado ao imperial sob as lentes de Marc Ferrez, Ressaca no Rio de Janeiro invade o porão da casa do fotógrafo Marc Ferrez, em 1913 e Petrópolis, a Cidade Imperial, pelos fotógrafos Marc Ferrez e Revert Henrique Klumb.

Outro objetivo do portal é divulgar mais questões ligadas à preservação digital, um assunto que toca não apenas às instituições de memória, mas a todos aqueles que produzem imagens digitais em seu dia a dia sem, no entanto, cuidar de sua preservação. Nesse sentido, já publicamos alguns artigos mas ainda temos muito a percorrer. Também desejamos ampliar a abrangência do portal com a adesão de instituições de todos os estados do Brasil.

Ainda em seu primeiro ano, no blog do portal, tivemos uma publicação de relevância histórica: a presença de Machado de Assis (1839 – 1908) na fotografia da Missa Campal pela comemoração da abolição da escravatura (de autoria de Antonio Luiz Ferreira), realizada em 17 de maio de 1888, no Campo de São Cristóvão, com a presença da princesa Isabel. A descoberta, realizada pela editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, Andrea Wanderley, foi saudada em outra publicação do blog pelo historiador José Murilo de Carvalho.

 

 

Os registros mais acessados pelos leitores nesses cinco anos foram as fotografias Missa campal celebrada em ação de graças pela Abolição da escravatura no Brasil, de Antonio Luiz Ferreira; Índios Botocudos, de Walter Garbe; Escola pública em Curytiba, de Marcos A. de Mello; A Família Imperial reunida, de Alberto Henschel; e Índios da Tribo Carajás, de autoria desconhecida.

 

 

Além das instituições fundadoras do portal, FBN e IMS, integram a Brasiliana Fotográfica o Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, o Arquivo Nacional, a Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha, a Fiocruz, a Fundação Joaquim Nabuco, o Leibniz-Institut fuer Laenderkunde, o Museu Aeroespacial, o Museu da República e o Museu Histórico Nacional. A gestão do portal é realizada por Roberta Zanatta (IMS) e por Vinicius Martins (FBN).

 

Mais uma vez, muito obrigada e vamos em frente!

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

A apresentação do Departamento Nacional de Saúde Pública na Exposição Internacional do Centenário da Independência

Uma das apresentações realizada durante a Exposição Internacional do Centenário da Independência em 1922 foi montada pelo então recém-criado Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP). Esse órgão administrativo da saúde pública era uma antiga reivindicação dos intelectuais sanitaristas, que acreditavam que somente uma organização estatal e nacional resolveria os graves problemas de saúde no Brasil. A instalação dessa exposição obteve grande repercussão, sendo saudada pela imprensa como obra vital para a salvação do país. É essa história que o pesquisador Ricardo Augusto dos Santos, da Fiocruz, instituição parceira da Brasiliana Fotográfica desde agosto de 2017, traz para os leitores do portal com a publicação do artigo A apresentação do Departamento Nacional de Saúde Pública na Exposição Internacional do Centenário da Independência e de 14 fotografias do evento.

Nesse momento dramático da história do Brasil e do mundo, publicamos, no final desse artigo, a lista dos 24 artigos, além deste, produzidos por profissionais da Casa de Oswaldo Cruz para o portal. A Fiocruz contribui significativamente no combate ao coronavírus, seja na pesquisa de medicamentos, na elaboração de um plano de contingência diante da pandemia ou na disseminação de informações importantes para a população.

A Organização Mundial da Saúde oficializou no dia 8 de abril de 2020 a indicação do Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo da Fiocruz (Instituto Oswaldo Cruz) como laboratório de referência para o combate ao novo coronavírus nas Américas. O laboratório, que já era referência junto à OMS para vírus do tipo Influenza, poderá receber amostras de COVID- 19 de outros países do continente para a realização de sequenciamento genético, localização de mutações, aprofundamento de estudos que possam levar ao desenvolvimento de uma vacina e ao aperfeiçoamento de diagnósticos, além de testes de medicamentos.

 

A apresentação do Departamento Nacional de Saúde Pública na

 Exposição Internacional do Centenário da Independência 

 Ricardo Augusto dos Santos*

 

 

Realizada no Rio de Janeiro em 1922, a Exposição Internacional do Centenário da Independência do Brasil ficou marcada pela derrubada do Morro do Castelo, arrasado durante a administração do prefeito Carlos Sampaio (1861-1930). Com a utilização de mangueiras hidráulicas e auxiliado por vagões que levavam o entulho, o monte foi demolido. Desta maneira, a Esplanada do Castelo foi cenário para a construção dos pavilhões da Exposição, projeto dos arquitetos Adolfo Morales de Los Rios (1858 – 1928) e Archimedes Memória (1893-1960). Após a festa, a área valorizada foi ocupada atendendo a necessidades, não somente de ordem higienista, motivo declarado à época, mas, sobretudo, da reprodução do capital imobiliário. A Exposição Internacional de 1922 foi um grande evento, onde não faltaram os principais países. Em seus monumentais prédios estavam presentes, estilos arquitetônicos, aspectos culturais e produtos que a transformaram numa vitrine das nações. Da imensa mostra restaram poucas construções, hoje ocupadas pelo Museu da Imagem e do Som, Academia Brasileira de Letras e Centro Cultural da Saúde.

 

Acessando o link para as fotografias dos Aspectos da Mostra de Saúde Pública do DNSP na Exposição do Centenário em 1922 disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Os preparativos para o centenário começaram assim que o aterro foi surgindo na praia de Santa Luzia. Ocupando o terreno obtido com a destruição do morro, a exposição foi montada numa reta, chamada de Avenida das Nações, onde ficavam os edifícios. A publicação oficial da comissão organizadora informa como foi conduzido o trabalho. O objetivo era apresentar a vitória do homem sobre a natureza. Enquanto os países estrangeiros apresentavam aparelhos inovadores, os projetos brasileiros procuravam apagar as marcas do país doente, pobre e analfabeto. No pavilhão da indústria nacional, destacava-se a máquina que produzia energia a partir da queda d’água. A beleza tropical estava sendo dominada e a ciência transformaria o meio selvagem, abandonando a perene condição inferior da nação. Pedagogicamente, se alardeava a possibilidade de transformação da floresta em riqueza econômica, através da exploração dos recursos naturais. Com a ciência, o país alcançaria a civilização.

Uma das apresentações foi montada pelo então recém-criado Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP). Esse órgão administrativo da saúde pública era uma antiga reivindicação dos intelectuais sanitaristas, que acreditavam que somente uma organização estatal e nacional resolveria os graves problemas de saúde no Brasil. A instalação dessa exposição realizada pelo DNSP obteve grande repercussão, sendo saudada pela imprensa como obra vital para a salvação do país, como podemos averiguar através da entrevista concedida pelo médico Renato Kehl (1889 – 1974) que, como funcionário do DNSP, trabalhou na produção.

 

 

Ao jornal A Noite, o eugenista faz relevantes declarações sobre a função da educação higiênica:

Jornal A Noite – Há justo motivo para se acreditar, diz o Dr. Renato Kehl, que estamos em plena fase de higienização nacional, completando a memorável obra de reabilitação sanitária iniciada no nosso país pelo grande patrício Oswaldo Cruz. Dia a dia multiplicam-se as providências de ataque às epidemias e endemias que assolam o território pátrio e são freqüentes as manifestações de aplausos a essa auspiciosa campanha de saneamento que se vai disseminando por quase todos os estados da União. O magno problema está, pois, em foco. Congressos médicos, mensagens, plataformas, discursos e conferências, tratam das medidas profiláticas em execução ou em projeto, mantendo-se unânime a opinião pública de que a política sanitária é a verdadeira política de salvação nacional. O povo, apercebido dos benefícios que estão surgindo com as medidas de saneamento e dos que advirão futuramente, compreende, enfim, que o nosso grande mal não está ligado ao clima nem à gente que habita esta face da terra, mas sim às endemias e epidemias que infelicitam grande parte dos nossos patrícios, principalmente dos que habitam a zonas rurais.

Kehl – A exposição, que vai fazer o Departamento Nacional de Saúde Pública, nas alas laterais do Pavilhão das Festas, vale por uma demonstração do que se tem feito e do que se tem a fazer em matéria de propaganda. Presta-se ainda, para demonstrar ao público, de um modo simples e evidente, a importância da execução dos preceitos ditados pela higiene.

Jornal A Noite – Tem esperanças nessa propaganda com o analfabetismo reinante?

Kehl – Naturalmente. Ao lado da campanha escrita, faz-se a falada, que será compreendida pelos “iletrados”. Ninguém ignora que a propaganda é o elemento mais importante para a vitória de uma campanha, seja ela comercial, política ou sanitária. Antes de tudo, é preciso convencer o público, para depois se lhe pedir ou exigir a colaboração”.[1]

 

 

Em seu arquivo pessoal, Renato Kehl guardou algumas imagens fotográficas desta apresentação. Podemos averiguar que o objetivo era colaborar para a educação higiênica das populações rurais e urbanas. Os objetos e fotografias, reunidas no trabalho, realçavam o valor dos ensinamentos da higiene. As imagens são um fragmento da campanha educativa e sanitária que deveria ser instalada no Brasil. São imagens das habitações típicas das áreas rurais, infestadas de insetos transmissores de doenças. Também eram apresentados os modelos corretos de casas rurais que os camponeses deveriam construir.

 

 

 

 

[1] Entrevista com Renato Kehl. Jornal A Noite, 30/10/1922.

 

*Ricardo Augusto dos Santos é Pesquisador Titular da Fundação Oswaldo Cruz

 

 

Lista dos 24 artigos, além deste, produzidos pela Casa de Oswaldo Cruz para publicação na Brasiliana Fotográfica

(agosto de 2017 a fevereiro de 2020)

casa

Cenas da folia em Manaus em 1913 – 28/02/2020 – Cristiane d´Avila, Casa de Oswaldo Cruz

Trilhos sobre a floresta: imagens da construção da E.F. Madeira-Mamoré – 14/10/2019 – Cristiane d´Avila, Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz

As ruínas de Brás de Pina – 30/09/2019 – Ricardo Augusto dos Santos, Pesquisador Titular da Fundação Oswaldo Cruz / Fiocruz

O funeral de Teixeira Mendes pela lente de Augusto Malta – 02/08/2019 – Ricardo Augusto dos Santos, Pesquisador Titular da Fundação Oswaldo Cruz, e Marcus Vinícius Rubim Gomes é estagiário na Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz

A descoberta da doença de Chagas – 14/06/2019 – Simone Petraglia Kropf, historiadora da Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz

O cotidiano da Manguinhos – 24/04/2019 – Equipe da Fiocruz 

As expedições do Instituto Oswaldo Cruz entre 1911 e 1913 – 14/03/2019 – Cristiane d´Avila, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

Morro de Santo Antônio – 05/02/2019 – Ricardo Augusto dos Santos, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

João Pedro ou João Pedroso? – 11/01/2019 – Ricardo Augusto dos Santos e Francisco dos Santos Lourenço, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas: centenário da construção da pesquisa clínica em Manguinho – 21/12/2018 – Dilene Raimundo do Nascimento, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas 100 anos: Carlos e Evandro Chagas em retratos de família,  – 27/11/2018 – Aline Lopes de Lacerda, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas: 100 anos de pesquisa clínica – 26/10/2018 – Cristiane d´Avila, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

O sanitarista Belisário Penna (1868 – 1939, um dos protagonistas da história da saúde pública no Brasil – 28/09/2018 – Ricardo Augusto dos Santos, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

Vacinação no Brasil, uma história centenária – 17/08/2018 – Cristiane d´Avila, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

A criação de uma vacina para a peste da manqueira, um marco na história da veterinária brasileira e mundial – 21/06/2018 – Cristiane d´Avila, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

100 anos do Castelo da Fiocruz: criador e criatura – Renato da Gama-Rosa Costa – 15 /05/ 2018, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

100 anos do Castelo da Fiocruz: os pedreiros do castelo da avenida Brasil – Ricardo Augusto dos Santos – 12/04/2018, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

Febre amarela: imagens da produção da vacina no início do século XX – Aline Lopes de Lacerda – 23/03/2018, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

100 anos do Castelo da Fiocruz: a ocupação da Fazenda de Manguinhos – Cristiane d´Avila – 28/02/2018, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

Manguinhos e a cidade do Rio de Janeiro – Equipe da Fiocruz – 19/01/2018, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

O cientista Oswaldo Cruz (1872 – 1917), prefeito de Petrópolis – Cristiane d’Avila com a colaboração de Ana Luce Girão, 28/12/2017, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

O fotógrafo Joaquim Pinto da Silva, o J. Pinto (1884-1951) e a Fundação Oswaldo Cruz – Ricardo Augusto dos Santos, 16/11/2017, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

Manguinhos e os sertões – Equipe da Fiocruz, 09/10/2017 , Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

Novos acervos: Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz – Fotografia, Ciência e Saúde Pública – Equipe da Fiocruz, 30/08/2017, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

 

Links para os artigos sobre exposições nacionais ou internacionais publicados na Brasiliana Fotográfica

O pintor Victor Meirelles e a fotografia na II Exposição Nacional de 1866, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 17 de agosto de 2017.

A festa do progresso: o Brasil na Exposição Continental, Buenos Aires, 1882, de autoria de Maria do Carmo Rainho, Arquivo Nacional, publicado em 29 de março de 2018.

Série “O Rio de Janeiro desaparecido” II – A Exposição Nacional de 1908 na Coleção Família Passos, de autoria de Carla Costa, Museu da República, publicado em 5 de abril de 2018.

Marc Ferrez, a Comissão Geológica do Império (1875 – 1878) e a Exposição Antropológica Brasileira no Museu Nacional (1882), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 29 de junho de 2018.

Paris, 1889: o álbum da exposição universal, de autoria de Claudia B. Heynemann, Arquivo Nacional,publicado em 27 de julho de 2018.

Café Brasil: o Império na Exposição Internacional de Filadélfiade autoria de Claudia B. Heynemann, Arquivo Nacional, publicada em 4 de dezembro de 2019.

Festa das Artes e da Indústria Segunda Exposição Nacional, 1866, de autoria de Claudia Beatriz Heynemann e Maria Elizabeth Brêa Monteiro, Arquivo Nacional, em 5 de abril de 2020.

A Exposição Internacional de Higiene de Dresden, de Cristiane d´Avila, Fiocruz, publicado em 5 de janeiro de 2022.

Série 1922 – Hoje, há 100 anos VIII – A abertura da Exposição Internacional do Centenário da Independência do Brasil e o centenário da primeira grande transmissão pública de rádio no país, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 7 de setembro de 2022, na Brasiliana Fotográfica.

Três álbuns fotográficos da Exposição Nacional de 1908 no Museu Histórico Nacional: Boscagli, Malta e Musso, de autoria de Maria Isabel Ribeiro Lenzi, historiadora do Museu Histórico Nacional, publicado em 25 de agosto de 2023, na Brasiliana Fotográfica.