Série “Feministas, graças a Deus!” XIV – No Dia Internacional da Mulher, Alzira Soriano, a primeira prefeita do Brasil e da América Latina

No Dia Internacional da Mulher, a Brasiliana Fotográfica destaca, no 14º artigo da série Feministas, graças a Deus!, a eleição da potiguar Alzira Soriano (1897 – 1963), que se tornou, em 1928, a primeira prefeita do Brasil e da América Latina.  A conquista foi tema de uma das colunas “Turista Aprendiz”, do escritor Mário de Andrade (1893 – 1945). O portal também selecionou fotografias de feministas presentes em seu acervo fotográfico. A ideia da criação de um dia para celebrar a mulher remonta ao século XIX, mas foi, em 1975, que o dia 8 de março foi instituído pelas Nações Unidas como o Dia Internacional das Mulheres.

Apesar dos avanços relativos à emancipação feminina, infelizmente, conforme pesquisa realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e divulgada há alguns dias, o Brasil está diante de um aumento de violência contra a mulher. De acordo com Samira Bueno, diretora executiva do Fórum: Foram mais de 18 milhões de mulheres vítimas de violência no último ano. São mais de 50 mil vítimas por dia, um estádio de futebol lotado. O estudo revela também que uma a cada três mulheres brasileiras (33,4%) com mais de 16 anos já sofreu violência física e/ou sexual de parceiros ou ex-parceiros.

Acessando o link para fotografias de feministas selecionadas e disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Alzira Soriano (1897 – 1963) , a primeira prefeita do Brasil e da América Latina

 

 

Foi no Rio Grande de Norte que Alzira Soriano (1897 – 1963) foi eleita, em 2 de setembro de 1928, para comandar a cidade de Lajes, com 60% dos votos, tornando-se a primeira prefeita do Brasil e da América do Sul, tendo tomado posse no cargo em 1º de janeiro de 1929 (O Paiz, 1º e 2 de outubro de 1928). Lembramos aqui que, justamente no estado referido, a Lei Estadual nº 660, com a emenda Regular o Serviço Eleitoral do Estado, que estabelecia a não distinção de sexo para o exercício do sufrágio e, tampouco, como condição básica de elegibilidade, passou a vigorar em 25 de outubro de 1927, durante o governo de  José Augusto Bezerra de Medeiros (1884 – 1971).

Na edição de O Paiz, de 2 de dezembro de 1927, foi publicada uma pequena matéria com uma mensagem de Alzira:

“Estão se mostrando animadores os primeiros resultados da instituição do voto feminino, no Rio Grande do Norte. Não obstante ser tão recente a introdução desta medida, já vem chegando as novas dos primeiros alistamentos. Há breves dias anunciava-se que a senhorita Julia Barbosa, catedrática de matemática na capital daquele estado, requerera alistamento eleitoral. Agora telegrama do anuncio de Mossoró afirma a inclusão do nome de uma senhora na lista eleitoral. Trata-se da Sra. Celina Vianna, casada, professora, com economia própria, que poderá vangloriar-se de ser a primeira eleitora do Brasil. Outro despacho telegráfico, de Jardim Angicos, vem assegurar ao senador Juvenal Lamartine, propulsor da ideia, e presidente eleito do Estado, o apreço e a solidariedade do futuro eleitorado feminino da sua terra. Transcrevemos a mensagem a seguir: “Orgulhosa pelo gesto da Assembleia Legislativa do nosso querido Estado, concedendo o direito ao voto feminino, em nome das mulheres de Lages, felicito V. EX. pela brilhante vitória e asseguro solidariedade política ao futuro governo. – Alzira Soriano”

As eleições para a escolha de um novo senador para o Rio Grande do Norte foram realizadas no dia 5 de abril de 1928, mas os votos das eleitoras foram anulados porque o Senado não reconheceu o direito de voto das mulheres. Mas o voto feminino valeria nas eleições já mencionadas, de 2 de setembro de 1928, quando Alzira tornou-se a primeira prefeita do Brasil e da América do Sul. Ela enfrentou forte resistência de seus opositores, correligionários ao seu concorrente, Sérvulo Pires Neto Galvão, que não se conformavam em disputar a eleição com uma mulher (SOUZA, 1993). A notícia de sua eleição foi publicada na edição do dia 8 de setembro do jornal norte-americano New York Times com o título ’Americanized’ Town Elects Brazil’s First Woman Mayor – Cidade americanizada elege primeira prefeita mulher do Brasil. O artigo atribuia o fato à influência do movimento sufragista norte-americano no Brasil (Gazeta de Notícias, 7 de setembro de 1928, quarta coluna).

Luiza Alzira Teixeira de Vasconcelos nasceu, em 29 de abril de 1897, em Jardim de Angicos, no Rio Grande do Norte, filha do coronel Miguel Teixeira de Vasconcelos e da dona Margarida Teixeira de Vasconcelos. Antes dela, haviam nascido duas meninas e um menino, que não sobreviveram às doenças da infância. O casal Miguel e Margarida teve 22 filhos, dos quais apenas sete mulheres e um homem se criaram. Seu pai detinha o poder político da região, que incluía os municípios de Lajes e Pedra Preta; e era o maior comerciante da cidade.

Em 29 de abril de 1914, Alzira casou-se com Thomaz Soriano de Souza Filho (1889 – 1919), de uma tradicional família de Pernambuco. Foram morar em Ceará-Mirim, no Rio Grande do Norte, onde o marido trabalhava como promotor. Tiveram quatro filhas: Sonia, que nasceu em 25 de setembro de 1915; Ismênia, nascida em 4 de outubro de 1917; Maria do Céu, que nasceu em 1918, mas morreu de sarampo antes de completar um mês de vida; e Ivonilde, nascida em 25 de março de 1919. Meses antes, em 9 de janeiro de 1919, Thomaz faleceu de gripe espanhola (Diário de Pernambuco, 11 de janeiro de 1919, quinta coluna). Alzira voltou a morar em Jardim de Angicos, depois passou uma pequena temporada no Recife e, finalmente retornou à Jardim de Angicos, onde voltou à administração da Fazenda Primavera, de seu pai. A cidade passara a ser um distrito de Lajes.

Voltando à carreira política de Alzira. A responsável pela indicação de Alzira como candidata à Prefeitura de Lajes pelo Partido Republicano foi Bertha Lutz (1894 – 1996), cuja atuação foi fundamental na luta pela emancipação da mulher no Brasil. Foi a fundadora da Federação Brasileira para o Progresso Feminino e foi uma figura central na luta pelo voto feminino no país, entidade da qual Alzira tornou-se conselheira (O Paiz, 8 de maio de 1930, última coluna). Bertha viajou ao Rio Grande do Norte, em 1928, em campanha pelo alistamento das mulheres. Na ocasião, foi almoçar com o então  governador do estado, Juvenal Lamartine  (1874 – 1956), na Fazenda Primavera, ocasião em que conheceu Alzira e se impressionou com sua determinação. Na época, Alzira participava ativamente da administração dos trabalhos na lavoura e pasto.

 

 

Enfrentou uma grande resistência de seus opositores, dos correligionários do outro candidato à prefeitura, Sérvulo Pires Neto Galvão. Eles não se conformavam com a candidatura de uma mulher. Alguns chegavam a afirmar que mulher pública era prostituta. O candidato derrotado, por ter se sentido humilhado por ter perdido para uma mulher, saiu da cidade.

Enfim, sua eleição foi festejada na edição de A Noite, de 10 de setembro de 1928, primeira coluna; e em O Paiz, de 1º e 2 de outubro de 1928 com a publicação de um pequeno perfil da recém eleita prefeita e também de uma entrevista realizada por Amphiloquio Câmara, representante de O Paiz no Rio Grande do Norte.

 

 

 

A declaração abaixo e outras feitas por Alzira na entrevista publicada na mesma edição de O Paiz deixa claro que ela seguia uma linha do feminismo, adotada pela grande maioria das mulheres que participavam da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, que não contestava a ordem patriarcal: as mulheres se colocavam como colaboradoras dos homens.

 

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Foi entrevistada pelo jornal A Noite, de 28 de setembro de 1928.

Em dezembro de 1928, foi publicada uma mensagem enviada por ela a Bertha Lutz, cuja atuação considerava brilhante e decisiva (O Paiz, 16 de dezembro de 1928).

 

 

Alzira tomou posse em 1º de janeiro de 1929 e, dias depois, em uma entrevista para o jornal A República (RN) declarou que sua gestão se alinharia a do governador Juvenal Lamartine (1874 – 1956), incansável em promover o bem estar coletivo. Ela já havia renovado o contrato de luz elétrica, começado a limpeza total e a edificação da cadeia de Lajes e que, em breve, as obras de construção de um campo de aviação na cidade se iniciariam (O Paiz, 21 e 22 de janeiro de 1929, quinta coluna).

 

 

Trecho de seu dircurso de posse:

…determinaram acontecimentos sociais do nosso querido Rio Grande do Norte, na sua constante evolução da democracia, que a mulher, esta doce colaboradora do lar, se voltasse também para colaborar com outra feição na sua obra políticoadministrativa. De outro modo não poderia se ser. As conquistas atuais, a evolução que ora se opera, abre uma clareira no convencionalismo, fazendo ressurgir nova faceta dos sagrados direitos da mulher.

Sua eleição foi tema de uma das colunas “Turista Aprendiz”, do escritor Mário de Andrade (1893 – 1945), datada de 4 de janeiro de 1929, e publicada no Diário Nacional: a democracia em marcha (SP), de 2 de fevereiro do mesmo ano. Mário de Andrade foi uma das figuras centrais do movimento modernista no Brasil. Ele e Oswald de Andrade (1890 – 1954) foram importantes participantes da Semana de Arte Moderna de 1922, mesmo ano em que Mário publicou Paulicéia Desvairada (1922), que introduziu, na poesia brasileira, temas e técnicas modernistas.

 

 

Foi publicado um relatório com um balanço do governo de Alzira na Prefeitura de Lajes (O Paiz, 26 de março de 1930, quarta coluna; O Jornal, 4 de abril de 1930, penúltima coluna; O Malho, 27 de abril de 1930O Paiz, 28 e 29 de abril de 1930, penúltima coluna). No artigo A mulher e o Estado, a gestão de Alzira foi elogiada (A Gazeta (SP), 23 de abril de 1930, última coluna).

 

 

Com a Revolução de 30, que ocorreu em outubro de 1930, por não concordar com o governo de Getúlio Vargas (1882 – 1954) – havia apoiado Júlio Prestes (1882 – 1946) à presidência da República – Alzira, apesar de convidada a permanecer no cargo como interventora, não aceitou (O Paiz, 29 de agosto de 1929, quinta coluna). Segunda uma de suas filhas, no último dia de sua gestão foi visitar seus correligionários e também seus opositores. Tendo sido insultada por um deles, Miguel da Silveira, reagiu cobrindo-0 de tapas.

Mudou-se para Natal, onde permaneceu com as filhas até fins da década de 30, quando retornou ao comando da fazenda, com seus irmãos mais novos, devido ao falecimento de seu pai. Voltou à vida política somente em 1947, desta vez como vereadora da cidade de Lajes pela União Democrática Nacional – UDN. Reelegeu mais algumas vezes.

Faleceu, de câncer, no dia 28 de maio de 1963, após cerca de dois anos do diagnóstico da doença, na casa da filha Ivonilde, em Natal, um dia depois de retornar do Rio e de São Paulo, onde esteve se tratando. Na ocasião, além de três filhas, tinha oito netos (Diário de Notícias, 31 de maio de 1963, segunda coluna).

 

 

Em sua homenagem, foi realizada, entre 24 e 29 de abril de 2018, no município de Lajes, a Semana Alzira Soriano, com a realização de atividades educacionais e culturais.

 

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Em Jardim de Angicos há um museu municipal em memória de Alzira Soriano. Guarda em seu acervo fotos e móveis antigos, reportagens de jornais e de revistas.

 

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Sua imagem está presente na bandeira de Jardim de Angicos, juntamente com a representação de alguns pontos turísticos naturais da cidade. Foi sancionada uma lei, em 28 de dezembro de 2018, instituindo o dia e mês do nascimento de Alzira Soriano, 29 de abril, como feriado municipal na cidade.

 

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Ainda em 2018, Alzira Soriano foi postumamente homenageada com o Diploma Mulher-Cidadã Carlota Pereira de Queirós, da Câmara dos Deputados. A homenagem, segundo a Câmara, é concedida a mulheres que tenham contribuído para o pleno exercício da cidadania e para a defesa dos direitos da mulher e das questões de gênero no Brasil.

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Centro de Memória do Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Norte

ENGLER, Isabel. A primeira prefeira brasileira Alzira Soriano: o poder político coronelístico, Lages/RN, 1928. Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Licenciatura em História da Universidade Federal da Fronteira Sul, como requisito para obtenção do título de licenciada em História. Universidade Federal da Frontiera Sul Campus Chapecó, 2019.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

MARQUES, Teresa Cristina de Novaes. O voto feminino do Brasil. Brasília : Edições Câmara, 2019.

Mulheres de Luta

O GLOBO

Portal BBC News Brasil

Portal Câmara dos Deputados

Portal UOL

SCHUMAHER, Schuma; BRAZIL, Erico Vital (organizadores). Dicionário mulheres do Brasil: de 1500 até a atualidade biográfico e ilustrado. Rio de Janeiro : Jorge Zahar Ed., 2000.

SOUZA, Heloísa Maria Galvão Pinheiro de. Luísa Alzira Teixeira Soriano: primeira mulher eleita prefeita na América do Sul. Natal: CCHLA, 1993.

 

Outros artigos da Série “Feministas, graças a Deus!

Série “Feministas, graças a Deus!” I – Elvira Komel, a feminista mineira que passou como um meteoro, publicado em 25 de julho de 2020, de autoria da historiadora Maria Silvia Pereira Lavieri Gomes, do Instituto Moreira Salles, em parceria com Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” II  – Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993), o jequitibá da floresta, publicado em 20 de agosto de 2020, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” III  – Bertha Lutz e a campanha pelo voto feminino: Rio Grande do Norte, 1928, publicado em 29 de setembro de 2020, de autoria de Maria do Carmo Rainha, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” IV  – Uma sufragista na metrópole: Maria Prestia (? – 1988), publicado em 29 de outubro de 2020, de autoria de Claudia Heynemann, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” V – Feminista do Amazonas: Maria de Miranda Leão (1887 – 1976), publicado em 26 de novembro de 2020, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, mestre em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” VI – Júlia Augusta de Medeiros (1896 – 1972) fotografada por Louis Piereck (1880 – 1931), publicado em 9 de dezembro de 2020, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” VII – Almerinda Farias Gama (1899 – 1999), uma das pioneiras do feminismo no Brasil, publicado em 26 de fevereiro de 2021, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” VIII – A engenheira e urbanista Carmen Portinho (1903 – 2001), publicado em 6 de abril de 2021, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” IX – Mariana Coelho (1857 – 1954), a “Beauvoir tupiniquim”, publicado em 15 de junho de 2021, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” X – Maria Luiza Dória Bittencourt (1910 – 2001), a eloquente primeira deputada da Bahia, publicado em 25 de março de 2022, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XI e série “1922 – Hoje, há 100 anos” VI – A fundação da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, publicado em 9 de agosto de 2022, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XII e série “1922 – Hoje, há 100 anos” XI – A 1ª Conferência para o Progresso Feminino, publicado em 19 de dezembro de 2022, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, historiadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” XIII – E as mulheres conquistam o direito do voto no Brasil!, publicado em 24 de fevereiro de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XIII – E as mulheres conquistam o direito do voto no Brasil!

Com a publicação do 13º artigo da Série Feministas, graças a Deus!, a Brasiliana Fotográfica celebra a conquista do voto feminino no Brasil, a partir do Decreto nº 21.076, de 24 de fevereiro de 1932, que instituiu o Código Eleitoral Provisório, assinado pelo presidente Getúlio Vargas (1882 – 1954), reconhecendo o direito de voto das mulheres.

 

“Art. 2º É eleitor o cidadão maior de 21 anos, sem distinção de sexo, alistado na forma deste código”.

Decreto nº 21.076, 24 de fevereiro de 1932

 

A Constituição promulgada em 16 de julho de 1934 aprovou a igualdade de direitos políticos entre homens e mulheres, desde que maiores de 18 anos e alfabetizados:

 

Art. 108. São eleitores os brasileiros de um e de outro sexo, maiores de 18 anos, que se alistarem na forma da lei.

Parágrafo único. Não se podem alistar eleitores:

a) os que não saibam ler e escrever;

b) os praças-de-pré, salvo os sargentos, do Exército e da Armada e das forças auxiliares do Exército, bem como os alunos das escolas militares de ensino superior e os aspirantes a oficial;

c) os mendigos;

d) os que estiverem, temporária ou definitivamente, privados dos direitos políticos. 

Art. 109. O alistamento e o voto são obrigatórios para os homens e para as mulheres, quando estas exerçam função pública remunerada, sob as sanções e salvas as exceções que a lei determinar.

 

Era a vitória de décadas de mobilização em favor do sufrágio feminino no Brasil.

 

 

No artigo de hoje, estão destacadas as imagens do acervo fotográfico do portal relativas às feministas e a suas pautas – os registros são do acervo do Arquivo Nacional, uma de nossas instituições parceiras, e seus autores foram J. Bonfioti, a Photo Skarke, a Fotografia Alemã, Louis Piereck (1880 – 1931), o Serviço Photographico de Vida Doméstica, além de fotógrafos ainda não identificados. Também publicamos breves perfis de sufragistas brasileiras importantes na luta pelo voto feminino.

 

Acessando o link para as imagens relativas ao feminismo disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

A trajetória da conquista do voto feminino no Brasil, um marco fundamental na história da democratização do país, começou ainda no século XIX e tornou-se o principal tema do feminismo nas primeiras décadas do século XX, quando a feminista Bertha Lutz (1894 – 1976), fundadora da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, foi uma das mais importantes vozes na luta pela emancipação feminina, que também teve outras defensoras dedicadas e aguerridas.

 

Nísia Floresta Brasileira Augusta (1810 – 1885), 

 precursora dos ideais de igualdade e independência da mulher brasileira

 

 

“Nísia Floresta surgiu – repita-se–como uma exceção escandalosa. Verdadeira machona entre as sinhazinhas dengosas do meado do século XIX. No meio de homens a dominarem sozinhos todas as atividades extra domésticas, as próprias baronesas e viscondessas mal sabendo escrever, as senhoras mais finas soletrando apenas livros devotos e novelas que eram quase histórias do Trancoso. causa pasmo ver uma figura como a de Nísia”.

Gilberto Freyre, Sobrados e Mocambos (1936)

 

Ainda no Brasil Império, a escritora e educadora potiguar Nísia Floresta Brasileira Augusta (1810 – 1885), pseudônimo de Dionísia Gonçalves Pinto, foi a primeira mulher brasileira a defender o direito à educação científica para as meninas. A explicação do pseudônimo que criou para ela é a seguinte: “Nísia”, uma referência ao seu nome de batismo; depois, ao sítio Floresta onde nasceu; em seguida, ao seu país; e, finalmente, a Augusto, o nome do marido de quem ficou viúva. 

Nasceu, em 12 de outubro de 1810, em Papari, no Rio Grande do Norte, onde casou-se com Manuel Alexandre Seabra de Melo. Tinha apenas 13 anos, mas ainda no primeiro ano do casamento voltou para a casa dos pais, o advogado português Dionísio Gonçalves Pinto (17? – 1828) e a brasileira Antônia Clara Freire (17? – 1855). Seus irmãos eram Clara e Joaquim. Mudou-se com a família para  Pernambuco, onde morou em Goiana, Recife e Olinda. 

Em 1828, seu pai foi assassinado (Diário de Pernambuco, 22 de setembro de 1830, segunda coluna). No mesmo ano, Nísia passou a viver com Manoel Augusto de Faria Rocha, estudante de Direito da Faculdade de Olinda, natural de Goiana (Diário de Pernambuco, 16 de abril de 1829, segunda coluna), com quem teve três filhos na década de 1830: Lívia (1930-?), um filho, que viveu poucos meses (1831 – 1831 ou 1832); e Augusto Américo (1933-?). Era acusada de adúltera pelo ex-marido. 

Iniciou sua carreira literária, em 1931, publicando, com o pseudônimo de Brasileira Livre, artigos sobre a condição feminina no jornal pernambucano Espelho das Brasileiras, que pertencia ao francês Adolphe Emile de Bois Garin (Espelho das Brasileiras, 13 de maio de 1931). A defesa dos direitos das mulheres e dos indígenas no Brasil, e a crítica à escravidão foram temas recorrentes em sua produção literária.

 

“Esta foi, com certeza, uma das primeiras mulheres no Brasil a romper os limites do espaço privado e a publicar textos na grande imprensa, pois, desde 1830, seu nome era uma presença constante em periódicos nacionais, comentando questões polêmicas, como o direito das mulheres – e, também, dos índios e dos escravos – a uma vida digna e respeitável. Aliás, nesse gosto pela polêmica e no fato de viver sempre à frente de seu tempo, estariam, a nosso ver, também, traços de modernidade da autora”.

 Constância Lima Duarte sobre Nísia em Feminismo e literatura no Brasil (2003)

 

Em 1832, publicou, no Recife, o livro Direito das Mulheres e a Injustiça dos Homens, primeiro texto de uma brasileira a falar em direitos das mulheres. Existe uma polêmica em torno da autoria deste livro: alguns pesquisadores consideram o livro como uma tradução livre de A Vindication of the Rights of Woman, de Mary Wollstonecraft (1759-1797), e outros como a tradução de Woman not Inferior to Man, de Mary Wortley (1689-1762), que teria sido infuenciada pelo livro De l´egalité des deux sexes, de François Poullain de La Barre, publicado em 1673

 

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Em novembro de 1832, foi para o Rio Grande do Sul, com Lívia, sua filha; sua mãe viúva e com seu companheiro, Manoel Augusto, que, em agosto de 1833, poucos meses após o nascimento de Augusto Américo, em janeiro de 1833, faleceu. Manoel Augusto havia ocupado o cargo de juiz municipal de São Pedro do Rio Grande do Sul (Correio Official, 25 de outubro de 1833, primeira coluna). Ainda em 1833, Nísia publicou a segunda edição de Direito das Mulheres e a Injustiça dos Homens, em Porto Alegre, pela Typographia de V. F. Andrade. Escreveu para alguns jornais de Porto Alegre, dentre eles o Belano, que circulou entre 1832 e 1833. Entre 1834 e 1837, manteve uma escola. Segundo o professor Luis Carlos Freire, professor de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e um dos maiores pesquisadores de Nísia, provavelmente ela ensinava em casa, como era costume na época. 

Em 1837, foi para o Rio de Janeiro. Provavelmente, a tensão causada pela Guerra dos Farrapos contribuiu para essa mudança. Em 1838, fundou o Colégio Augusto, para meninas, que dirigiu com algumas interrupções até 1856. Posteriormente, o colégio, que existiu até 1894, foi dirigido por seu filho (Jornal do Commercio, 31 de janeiro de 1838, segunda coluna). Nísia tinha uma proposta de educação inclusiva para meninos e meninas, tanto na esfera pública, quanto na privada, e era influenciada pelo pensamento positivista do francês Auguste Comte (1798 – 1857), de quem era amiga. Em 1839, foi publicada, já no Rio de Janeiro, a terceira edição de Direito das Mulheres e a Injustiça dos Homens, pela Casa do Livro Azul.

 

 

 

Por ensinar Caligrafia, Dança, Desenho e Costura, Francês, Geografia, História, Inglês, Italiano, Latim, Matemática, Música, Português, Piano e Religião a suas alunas e não a fazer vestidos e camisas foi criticada (O Mercantil (MG), 17 de janeiro de 1947, primeira coluna).

 

 

Publicou, em 1847, três obras de caráter pedagógico: Fany ou o modelo das donzelasDiscurso que às suas educandas dirigiu Nísia Floresta Brasileira Augusta, um breve texto de seis páginas; e Daciz ou a jovem completa. 

Em 2 de novembro de 1849, acompanhada dos dois filhos, Nísia viajou pela primeira vez à Europa. Embarcaram, rumo a Havre, na galera francesa Ville de Paris. Ficou em Paris e em Lisboa, retornando ao Brasil em 1852 (Diário do Rio de Janeiro, 3 de novembro de 1849, última coluna). Nesse período, ela frequentou as conferências de Auguste Comte sobre História Geral da Humanidade no Palais Cardinal, em Paris. 

Em 1853, lançou o Opúsculo Humanitário, que dedicou a seu irmão, Joaquim Pinto Brasil. Nele a autora nos conta a história do papel das mulheres nas sociedades ocidentais, dando exemplos e refletindo sobre a condição feminina. Antes da primeira impressão reunida, parte dos textos foi publicada nos jornais Diário do Rio de Janeiro, sob  pseudônimo B.A.

“Dê-se ao sexo uma educação religiosamente moral, desvie-se dele todos os perniciosos exemplos que tendem a corromper-lhe, desde a infância, o espírito, em vez de formá-lo á virtude, adornem-lhe a inteligência de úteis conhecimentos, e a mulher será não somente o que ela deve ser — o modelo de família — mas ainda saberá conservar dignidade, em qualquer posição que porventura a sorte a colocar.”

Nísia Floresta em O Opúsculo Humanitário, 1853

 

Trabalhou como voluntária no combate a uma epidemia de cólera no Rio de Janeiro, em 1855 (Correio Mercantil, 4 de outubro de 1955, segunda coluna). Também entre este ano e 1856 publicou alguns artigos no Brasil Illustrado: Passeio ao Aqueduto Carioca, Páginas de Uma Vida Obscura, Um Improviso, na manhã de 1º do corrente, ao distinto literato e grande porta Antônio Castilho e O pranto Filial.

O último registro do Almanak Laemmert de Nísia como diretora do Colégio Augusto é de 1855 (Almanak Laemmert, 1855). Em 10 de abril de 1856, Nísia viajou no paquete a vapor Cadix com sua filha para a Europa, onde permaneceu até 1871.  Em 1872, um retrato e um pequeno perfil dela foi publicado no jornal ilustrado brasileiro publicado em Nova York, O Novo Mundo, fundado por José Carlos Rodrigues (Diário do Rio de Janeiro, 10 de abril de 1856, quarta colunaO Novo Mundo, 23 de maio de 1872)

 

 

Entre 1872 e 1875, Nísia esteve no Brasil. Retornou à Europa em 24 de março de 1875, rumo à Inglaterra, onde encontrou sua filha. Passaram um tempo em Londres e em Lisboa (Jornal do Commercio, 24 de março de 1875, terceira coluna). Em 1878, já morando na França, publicou seu último trabalho, Fragments d’un ouvrage inédit: Notes biographiques. Entre idas e vindas, Nísia morou na França e na Itália, visitando a Alemanha, Bélgica, Grécia, Inglaterra e Suíça. Enviava artigos para publicação em jornais cariocas (Correio do Brazil, 7 de janeiro de 1872, quinta coluna; Diário de S. Paulo, 11 de dezembro de 1875, última colunaA Reforma, 31 de dezembro de 1875, última coluna). 

Faleceu em 24 de abril de 1885, em Rouen, na França, de pneumonia. Foi enterrada no cemitério de Bonsecours (Jornal do Commercio, 26 de maio de 1885, quinta colunaNovo e Completo Indice Chronologico da Historia do Brasil (RJ) – 1842 a 1889, 1885; Jornal do Commercio, 31 de maio de 1885, quinta coluna).

 

 

 

Sua cidade natal, Papari, foi rebatizada com a aprovação da Lei n° 146, de 23 de dezembro de 1948, como Nísia Floresta. Em 1954, o Estado do Rio Grande do Norte repatriou seus restos mortais para a cidade (O Poti (RN), 22 de agosto de 1954).

 

 

A quarta edição do livro Direito das Mulheres e a Injustiça dos Homens saiu apenas em 1989, pela Cortez, com introdução posfácio de Constância Lima Duarte. Em 2012, foi inaugurado o Museu Nísia Floresta, em sua cidade natal.

Alguns de seus livros que não foram mencionados ao longo deste artigo são Conselhos a minha filha (1842), Lágrimas de um Caeté (1849) Itinerário de uma viagem à Alemanha (1857), Três anos na Itália, seguidos de uma viagem à Grécia (vol 1, em 1864, e vl 2, em 1872); e Cintilações de uma Alma Brasileira (1859). Publicou, ao todo, 15 livros.

 

 Izabel de Souza Matos ou Izabel de Mattos Dillon (1861 – 1920)

 

 

A sufragista Izabel de Souza Matos ou Izabel de Mattos Dillon (1861 – 1920) nasceu na Bahia, em 20 de janeiro de 1861 e concluiu o  curso de Cirurgia Dentária e Prótese pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em maio de 1883 (Gazeta de Notícias, 1º de maio de 1883, sexta coluna). Exerceu a profissão de cirurgiã dentista na cidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul, e participou de atividades abolicionistas no Rio Grande (Diário do Brazil, 21 de fevereiro de 1884, última colunaA Federação, 4 de dezembro de 1884, última coluna). Casou-se, em fevereiro de 1885, com o também cirurgião-dentista Thomas Cantrell Dillon (1861 – 1933), futuro cônsul da Grã-Bretanha no Rio Grande do Sul (Almanak Laemmert, 1926). 

 

 

Em 1886, quando ainda residia no Rio Grande do Sul, exigiu na Justiça o registro de eleitora, garantido pela Lei Saraiva a todos os brasileiros com título científico. Porém, José Vieira da Cunha, juiz municipal de Rio Grande, negou o pedido (Correio Paulistano, 21 de dezembro de 1886, terceira coluna). Segundo ela, posteriormente teve o título concedido e votou no candidato republicano Julio Mendonça Moreira (1853 -?), em São José do Norte, no Rio Grande do Sul. Ele havia sido promotor na comarca de Rio Grande e não foi eleito na ocasião – foi eleito deputado estadual de 1891 a 1895. O fato foi citado por Izabel em um artigo publicado no jornal A Rua, de 20 de janeiro de 1917; e também pelo deputado Mauricio de Lacerda (1888 – 1959), este último na sessão da Câmara de 22 de dezembro de 1916 e algumas outras vezes na imprensa (Diário Carioca, 18 de setembro de 1928, terceira coluna). Terá sido então Izabel Dillon, na verdade, a primeira eleitora do Brasil, ainda no século XIX?

 

 

Em 1888, anunciou que abriria um consultório de dentista no Rio de Janeiro, onde foi colaboradora das revistas O Corymbo e  A Família (A Verdade, 29 de novembro de 1888, segunda coluna).

Em 1890, Izabel solicitou a transferência de seu título de eleitor para o Rio de Janeiro, onde voltara a residir, mas José Cesário de Faria Alvim (1839 – 1903), ministro do Interior, julgou improcedente seu pleito e assim como o de outras mulheres (A Ordem (MG), 2 de abril de 1890, última coluna).

 

 

Ainda em 1890, Izabel concorreu a deputada pela Bahia, mas não se elegeu ( Gazeta de Notícias, 25 de agosto de 1890, terceira colunaPequeno Jornal (BA), 17 de setembro de 1890, segunda colunaA Família, 18 de setembro de 1890, última colunaA Lanterna, 22 de dezembro de 1916, segunda coluna; A Rua, 20 de janeiro de 1917).

 

 

 

Era opositora de Floriano Peixoto (1839 – 1895), participou da Revolta da Armada e foi presa (A Rua, 20 de janeiro de 1917). Foi membro do Centro do Partido Operário, criado em 1890 por José Augusto Vinhais (1858 – 1941); e do Partido Republicano Feminino, fundado em 1910, por Leolinda Daltro (c. 1858 – 1935).

 

 

Em 1913, sua única filha, Niobe Elisabeth Gonçalves (1893 – 1913) morreu, grávida de seu quarto filho com o cirurgião-dentista Basílio Gonçalves, seu marido. Houve uma investigação policial por suspeitas de aborto autoinduzido por medicamentos ingeridos por Niobe e também de imperícia médica. O caso repercutiu na imprensa do Rio de Janeiro e ficou conhecido como o Caso da Rua Paraná (O Século, 11 de fevereiro de 1913, quarta colunaCorreio da Manhã, 12 de fevereiro de 1913, quinta colunaO Paiz, 25 de janeiro de 1913, quinta coluna). 

 

 

Izabel faleceu em 19 de junho de 1920 e foi enterrada como indigente no Cemitério de Inhaúma, no Rio de Janeiro. A educadora Mariana Coelho (1857 – 1854) mencionou tanto Nísia Floresta como Izabel Dillon em seu artigo O feminismo no Brasil, publicado no Correio da Manhã, 3 de janeiro de 1937.

 

Josephina Alvares de Azevedo (1851 – 1913),  fundadora do jornal A Família

 

 

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“O fundamento universal de todos os que opinam contra a nossa emancipação é esse — que a mulher não tem capacidade política. Porque? perguntamos nós, e a essa pergunta não nos dão resposta cabal. Em geral, os casos de incapacidade politica são estes — menoridade, demência, inhabilitações, restriccão de liberdade por pena cominada, etc. etc. A esses addusem os legisladores a «diferença de sexo». Mas em que essa diferença pode constituir razão de incapacidade eleitoral? A mulher educada, instruída, em perfeito uso de suas faculdades mentaes, exercendo com critério as suas funcções na sociedade, é uma personalidade equilibrada, apta para discernir e competente para escolher entre duas idéas aquella que melhor convém. Não pude por conseguinte estar em pé de igualdade com os dementes, com os menores, com os imbecis. Assim sendo, é absurdo o principio de sua incapacidade electiva.” 

Josephina Alvares de Azevedo

A Família, 21 de dezembro de 1889

 

Também no século XIX, destacou-se na luta pela emancipação feminina a jornalista e literata pernambucana Josephina Alvares de Azevedo (1851 – 1913), nascida em 5 de maio de 1851, no Recife. Existem até hoje várias lacunas e dúvidas em relação a sua vida pessoal. O local e a data de seu nascimento – pode ter sido Paraíba, Recife, em Pernambuco, ou Itaboraí, no Rio de Janeiro – assim como seu grau de parentesco com o do poeta Manoel Antônio Alvares de Azevedo (1831-1852), ainda são incertos. De acordo com Augusto Victorino Blake, autor do Dicionário Bibliográfico Brasileiro, ela seria filha de Ignácio Manoel Alvares de Azevedo (?-1873) e, portanto, irmã, pelo lado paterno, do referido poeta. Porém em um artigo em A Família, de 23 de fevereiro de 1889, Josephina se refere ao poeta como primo. Sua mãe era Amália Alvares de Azevedo Cunha (? – 1896) e, sua avó materna, Emília Amália de Azevedo Coutinho (? – 1892) (Gazeta de Notícias, 29 de fevereiro de 1892, penúltima colunaO Paiz, 16 de maio de 1896, quarta coluna).

O dia, mês e ano de seu nascimento aqui publicados baseiam-se em uma noticia referente a seu aniversário e nas notícias de seu falecimento, em 1913, onde está indicado que ela tinha 62 anos na ocasião (Gazeta da Tarde, 5 de maio de 1890, quinta colunaDiário de Notícias, 5 de maio de 1890, primeira coluna; A Família, 9 de maio de 1891, primeira colunaA Época, 3 de setembro de 1913, segunda colunaO Paiz, 5 de setembro de 1913, última coluna). Em relação ao local, acredito que ela tenha nascido no Recife, conforme seu próprio depoimento em A Família, 7 de dezembro de 1889, descrevendo seu retorno à sua terra natal em julho de 1889. Na ocasião foi à Photographia Ducasble, onde foi retratada. Ainda na cidade, publicou um número especial de A Família (Diário de Pernambuco, 23 de julho de 1889, penúltima coluna. De lá, seguiu para o Ceará, onde permaneceu cerca de 10 dias (A Família, 7 de dezembro de 1889, A Constituição (CE), 11 de agosto e 1891, segunda coluna).

Josephina viveu até 1877, no Recife. Foi fundadora do jornal semanal A Família, em 1888 (A Família, 18 de novembro de 1888), cuja atuação na imprensa brasileira foi importante no período de transição entre o regime monárquico e a República no país. 

 

 

Inicialmente editado em São Paulo e impresso pela tipografia União- São Paulo, o periódico mudou-se para o Rio de Janeiro, em maio de 1889, e circulou ininterruptamente até 1897 – ficava na Travessa do Barbosa, nº 12 (A Família, 18 de maio de 1889; O Jacobino, 5 de junho de 1897, primeira coluna; Almanak Laemmert, 1898). Provavelmente, voltou a circular em 1898, mas logo deixou de existir (A Mensageira, 15 de maio de 1898). Entre as colaboradoras do jornal estavam a escritora baiana Ignez Sabino (1853 – 1911) e Izabel Dillon (1861 – 1920), além de estrangeiras como as feministas Guiomar Torrezão (1844-1898), escritora portuguesa; e a francesa Eugénie Potonié Pierre (1844 -1898), fundadora da Federação Francesa das Sociedades Feministas; que enviavam seus textos de seus respectivos países.

 

 

Josephina escreveu para A Família diversos artigos em defesa da emancipação feminina a partir da educação, do trabalho, do voto feminino e pelo direito ao divórcio. Desde o início enfrentou resistência, inclusive de mulheres e de instituições católicas, como fica exemplificado na edição do periódico de 12 de janeiro de 1889; e também na notícia publicada pelo jornal O Apóstolo, 28 de março de 1890, primeira coluna.

 

 

Destacamos os artigos O Direito ao Voto, publicado em 7 de dezembro de 1889, O Divórcio, de 2 de outubro de 1890Emancipação da Mulher, de 18 de julho de 1891 e A Questão das Mulheres, de 30 de janeiro de 1892. Às vezes, os assinava como Zefa.

 

 

Com a Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, as mulheres vislumbraram a possibilidade de terem mais participação política. A própria Josephina escreveu no editorial de A Família, de 30 de novembro de 1889:

“No fundo escuro e triste do quadro de provações a que votaram a mulher na sociedade, brilhará, com a fulgente aurora da República Brasileira, a luz deslumbradora da nossa emancipação?…Queremos o direito de intervir nas eleições, de eleger e ser eleitas, como os homens, em igualdade de condições. Ou estaremos fora do regime das leis criadas pelos homens, ou teremos também o direito de legislar para todas. Fora disso, a igualdade é uma utopia, senão um sarcasmo atirado a todas nós…”

Porém, em 1891, criticou muito o fato de que na primeira Constituição da República, promulgada em 24 de fevereiro de 1891, as mulheres continuarem sendo espectadoras da vida política do país (A Família, 5 de março de 1891), circunstância retratada no quadro Compromisso Constitucional de 1891 (1896), de Aurélio de Figueiredo (1854 – 1916), onde um grupo de mulheres aparece justamente nesta condição.

 

 

Em 1891, o jornal A Família passou a pertencer à Companhia Imprensa Familiar, mas Josephina permaneceu como sua diretora mental e redatora (A Família, 25 de abril de 1891; O Paiz, 11 de maio de 1891, penúltima coluna; Diário de Notícias, 19 de julho de 1891, última coluna).

Foi homenageada com a publicação de seu retrato na primeira página de A Família, de 9 de maio de 1891.

 

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Foi autora da comédia O Voto Feminino, que estreou no Rio de Janeiro, em 26 de maio de 1890, no Theatro Recreio Dramático, enérgica e vibrante peça de combate em favor dos direitos políticos do bello sexo. Foi encenada pelos atores Antonio Pereira Fontana e Castro, português radicado no Brasil; Germano, Bragança e Pinto; e pelas atrizes Elisa de Castro, Isolina Monclar e Luisa. A peça foi inspirada pelas constantes recusas de alistamento eleitoral feminino, já exemplificado neste artigo pelo caso de Izabel Dillon (A Família, 31 de maio de 1890, primeira coluna).  O Voto Feminino é uma peça emblemática do sufragismo brasileiro em fins do século XIX.

 

 

Também em 1890, foi encenada sua tradução livre da peça Os Companheiros do Sol, de Paul Jay (Gazeta de Notícias, 6 de agosto de 1890, penúltima coluna).

A partir de 1892, o número de colaboradoras de A Família e os artigos escritos por Josephina diminuíram muito. Em 1893, foi noticiado que ela estava doente, vitimada pela terrível influenza (A Família, 17 de maio de 1893). Ela residia na rua da Quitanda (Almanak Laemmert, 1893).

Em 1896, ofertou à biblioteca do Grêmio Dramático Arthur Azevedo, de São Paulo, 20 obras  (A Arte, 12 de outubro de 1896, segunda coluna).

Em 1904, foi citada como uma distintíssima escritora brasileira em uma carta aberta da escritora espanhola Eva Canel (1857 – 1932), Em defesa da mulher brasileira, uma resposta a um artigo da escritora e jornalista argentina Conception Gimeno del Flaquer (1850 – 1919) (Il Bersagliere, 5 de maio de 1904, segunda coluna).

Ao longo de sua vida, Josephina publicou três livros: Retalhos (1890), A Mulher Moderna: trabalhos de propaganda (1891), que dedicou em signal de admiração e respeito à Viscondessa de Leopoldina e à D. Maria José Paranhos Mayrink; Galleria illustre (Mulheres célebres) (1897) (O Paiz, 2 de fevereiro de 1890, sexta coluna; Diário do Commercio, 9 de fevereiro de 1891, penúltima coluna).

 

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Josephina faleceu em 1º de setembro de 1913, viúva, de acordo com as notícias veiculadas na época, no Rio de Janeiro, e foi enterrada no Cemitério de São Francisco Xavier, em 2 de setembro de 1913. Sua irmã, Maria Amelia de Azevedo Costa, e seus filhos, Alfredo e Moacyr Alvares de Azevedo, convidaram para a missa de Sétimo Dia, realizada na Igreja de Nossa Senhora da Conceição e Dores, em São Cristóvão. Residia na rua Luiz Barbosa, número 102 (A Época, 3 de setembro de 1913, segunda colunaO Paiz, 5 de setembro de 1913, última coluna).

 

 

Comentando sobre a conquista do direito ao voto pelas mulheres inglesas, Antenor Thibau lembrou, em um artigo no Jornal do Brasil, a atuação de Josephina em prol da emancipação feminina no Brasil (Jornal do Brasil, 27 de fevereiro de 1918, segunda coluna).

 

 

Leolinda Daltro (c. 1858 – 1935), Mariana de Noronha Horta (18? – 19?) e Mietta Santiago (1903 – 1995)

 

Outra sufragista importante foi a professora, feminista e indigenista baiana Leolinda Daltro (c. 1858 – 1935), fundadora do Partido Republicano Feminino, em 1910. Ela será tema de um artigo futuro da Brasiliana Fotográfica.

 

 

A professora de Belo Horizonte Mariana de Noronha Horta (18? – 19?) também teve um atuação relevante na luta pelo voto feminino: em agosto de 1916, encaminhou um requerimento pedindo aos deputados que aprovassem o sufrágio feminino. No acervo de documentos da Câmara Federal, esta é a primeira manifestação formal de uma mulher solicitando direitos políticos (Correio Paulistano, 17 de agosto de 1916; Site da Câmara dos Deputados).

 

 

Eleitora pioneira em Minas Gerais, a escritora e advogada Mietta Santiago (1903 – 1995), como ficou conhecida Maria Ernestina Carneiro Santiago Manso Pereira, nasceu em Varginha, em 1903, e, aos 11 anos, foi viver na capital mineira, onde estudou na Escola Normal de Belo Horizonte. Casou-se, em 1923, após passar cerca de seis meses na Europa, com o médico João Manso Pereira.

Com apenas 25 anos, em 1928, impetrou um mandado de segurança alegando que o veto ao voto das mulheres seria contrário ao artigo 70 da Constituição Brasileira de 24 de fevereiro 1891, então em vigor (O Paiz, 16 de setembro de 1928, quarta coluna; (Diário Carioca, 18 de setembro de 1928, terceira colunaO Paiz, 23 de setembro de 1928).

 

 

Tornou-se eleitora e candidatou-se a deputada federal, mas não conseguiu se eleger. O fato, uma verdadeira audácia para a época, mereceu versos do poeta, também mineiro, Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1987):

 

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Além disso, Mietta fundou a Liga de Eleitoras Mineiras. Era amiga de políticos como Getúlio Vargas (1882 – 1954) e Tancredo Neves (1910 – 1985) e de escritores como o memorialista Pedro Nava (1903 – 1984) e o poeta Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1987). Como escritora, publicou as obras Namorada da Deus (1936), Maria Ausência (1940); e, em 1981, Uma consciência unitária para a humanidade e As 7 poesias. Faleceu, em 1995, no Rio de Janeiro.

Em 2017, foi instituída a Medalha Mietta Santiago, condecoração concedida anualmente pela Secretaria da Mulher e pela Presidência da Câmara de Deputados (Site da Câmara de Deputados).

 

Outras sufragistas brasileiras de destaque

 

Outras feministas destacadas na luta pelo voto feminino foram a urbanista, arquiteta e engenheira mato-grossense Carmen Portinho (1903 – 2001), a sindicalista alagoana Almerinda Farias Gama (1899 – 1999), a advogada mineira Elvira Komel (1906 – 1932)Maria Prestia (? – 1988), líder de um minoritário grupo de feministas de São Paulo; Júlia Augusta de Medeiros (1896 – 1972), uma das pioneiras no jornalismo, na educação e no feminismo no Rio Grande do Norte; e a advogada gaúcha Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993). Todas já foram temas de artigos publicados na Brasiliana Fotográfica.

 

 

 

 

 

Meses após à conquista do voto das mulheres no Brasil, ainda em 1932, Natércia e Bertha foram nomeadas para integrar a comissão para elaborar o anteprojeto da nova Constituição (Correio da Manhã, 14 de julho de 1932, terceira colunaCorreio da Manhã, 19 de julho de 1932, primeira colunaBrasil Feminino, dezembro de 1932). Em 1934, o sufrágio feminino estava contemplado na Constituição Federal.

 

 

Sobre a importância da conquista do sufrágio feminino, em entrevista, Carmen Portinho declarou que ela deveria ser um estímulo para outros avanços: “Obtivemos a nossa emancipação política, mas esse direito assim isolado, de que nos serve?” (A Noite, 17 de agosto de 1933, última coluna).

Cerca de seis meses antes da assinatura do Decreto nº 21.076, o jornal A Batalha, de 13 de setembro de 1931, publicou uma reportagem intitulada A nova legislação eleitoral e o voto feminino, com a história do movimento feminista no Brasil, onde a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, dirigido por Bertha, a União Universitária Feminina, sob a direção de Carmen Portinho (1903 – 2001); e a Aliança Nacional de Mulheres, liderado por Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993), foram citadas como importantes iniciativas para a emancipação da mulher no país. Na matéria foi publicada também a lista dos países onde as mulheres já possuíam direito ao voto e comentada a liderança do Rio Grande do Norte na concessão de direitos políticos às mulheres, por intermédio do governador Juvenal Lamartine de Faria (1874 – 1956). Foi transcrito também o discurso proferido por Ruy Barbosa (1849 – 1923) no Teatro Lyrico em apoio à causa feminina (A Batalha, 13 de setembro de 1931).

 

 

Em 1933, houve eleição para a Assembleia Nacional Constituinte, e as mulheres puderam votar e terem seus votos reconhecidos pela primeira vez. A primeira mulher eleita foi Carlota Pereira de Queiróz (1892 – 1992), em São Paulo.

 

 

Outra pioneiras, eleitas um ano depois, em 1934, foram Bertha Lutz (1894 – 1976), no Rio de Janeiro; Lili Lages (1907 – 2003), em Alagoas; Maria Luiza Bittencourt Dória (1910 – 2001), na Bahia; Quintina Diniz de Oliveira (1878 – 1942), em Sergipe; e Maria de Miranda Leão (1887 – 1976), no Amazonas.

 

 

 

 

 

 

Nas eleições de outubro de 2022 no Brasil, o número de mulheres que tiveram suas candidaturas registradas junto à Justiça Eleitoral foi de 9.415, 33,28% do total de políticos elegíveis – 91 mulheres foram eleitas a deputadas federais e quatro para o Senado. As mulheres representavam 53% do eleitorado do país – 82 milhões de votantes. Há ainda um longo caminho a percorrer.

 

 

 

O Rio Grande do Norte e a vanguarda do voto feminino

 

 

Em 1927, houve uma eleição no Rio Grande do Norte e Juvenal Lamartine de Faria (1874 – 1956), que havia renunciado ao Senado, concorreu ao governo de seu estado e venceu o pleito. Tomou posse em 1º de janeiro de 1928. Foi necessário realizar eleições complementares para a escolha de um novo senador. Juvenal apoiava a causa do voto das mulheres. Em 25 de outubro de 1927, ainda durante o governo de José Augusto Bezerra de Medeiros, passou a vigorar a Lei Estadual nº 660, com a emenda Regular o Serviço Eleitoral do Estado, que estabelecia a não distinção de sexo para o exercício do sufrágio e, tampouco, como condição básica de elegibilidade.

Há uma polêmica em torno da primeira eleitora do Brasil na historiografia do feminismo no Brasil no século XX: a natalense e professora Júlia Alves Barbosa Cavalcanti (1898 – 1943) requereu seu alistamento eleitoral no dia 22 de novembro de 1927, porém, dada à sua condição de solteira, o juiz da 1ª vara da Capital retardou o deferimento de seu pleito, que só foi publicado, no Diário Oficial do Estado, no dia 1º de dezembro do mesmo ano. Em 25 de novembro de 1927, a professora Celina Guimarães Viana (1890 – 1972), de Mossoró, deu entrada em uma petição, requerendo sua inclusão na lista de eleitores, que foi aprovada rapidamente, pelo fato de ser casada com um advogado e professor (O Paiz, 2 de dezembro de 1927, primeira coluna). As eleições municipais foram realizadas no dia 5 de abril de 1928, mas os votos das eleitoras foram anulados porque o Senado não reconheceu o direito de voto das mulheres.

 

Júlia Alves Barbosa Cavalcanti foi eleita para a Câmara Municipal de Natal.

 

 

Apesar de, do ponto de vista eleitoral, o estado do Rio Grande do Norte ter reconhecido esta igualdade, faltava, porém, a concretização do “voto de saias”, o que ocorreu nas eleições municipais realizadas no dia 05 de abril de 1928. Em Natal votaram Antônia Fontoura, Carolina Wanderley, Júlia Barbosa e Lourdes Lamartine. Em Mossoró, além de Celina Guimarães, votaram Beatriz Leite e Eliza da Rocha Gurgel. Em Apodi as primeiras eleitoras foram Maria Salomé Diógenes e Hilda Lopes de Oliveira. Em Pau dos Ferros, Carolina Fernandes Negreiros, Clotilde Ramalho, Francisca Dantas e Joana Cacilda Bessa. Ainda em Caicó e Acari, respectivamente, Júlia Medeiros e Martha Medeiros. Além de votar, algumas mulheres, a exemplo de Júlia Alves Barbosa em Natal e Joana Cacilda de Bessa em Pau dos Ferros,  foram também eleitas para o cargo de intendente municipal, equivalente a vereador atualmente.

Centro de Memória do Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Norte

 

 

 

Acesse aqui a linha do tempo da conquista do voto feminino publicada no portal da Câmara dos Deputados

 

 

Alguns países e o ano da aprovação do voto feminino

 

1893 – Nova Zelândia

1902 – Austrália

1906 – Finlândia

1907 –  Noruega

1915 - Dinamarca e Islândia

1917 - Rússia

1918 – Áustria, Alemanha, Polônia, Lituânia, Reino Unido e Irlanda

1920 - Estados Unidos

1929 – Equador

1931 – Espanha e Portugal (com limitações). Na Espanha, o direito foi suspenso em 1936 e só voltou a vigorar em 1977.

1932 – Brasil e Uruguai

1934 - Turquia

1944 - França

1945 – Itália e Japão

1947 - Argentina e Índia

1952 – Grécia

1953 - China e México

1955 – Honduras

1956 - Egito

1962 - Bahamas e Mônaco

1970 – Andorra

1971 – Suíça

1980 – Iraque

1994 – Omã

2015 – Arábia Saudita

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

BARBOSA, Lia Pinheiro; MAIA, Vinicius Madureira. Nísia Floresta e ainda a controvérsia da tradução de Direitos das mulheres e injustiça dos homens. Revista Estudos Feministas, 28 (2), 2020.

BARP, Guilherme. A luta de Josefina Álvares de Azevedo pelos direitos das mulheres em A mulher moderna (1891). Nau Literária, Vol. 18, n. 01 (2022) – Dossiê: Racismo, sexismo e Direitos Humanos. Organizado pela Profa. Dra. Regina Zilberman (UFRGS), 5 de setembro de 2022.

CAMPOI, Isabela Candeloro. O livro “Direitos das mulheres e injustiça dos homens” de Nísia Floresta: literatura, mulheres e o Brasil do século XIX. História (São Paulo) v.30, n.2, p. 196-213, ago/dez 2011.

Centro de Referências em Educação Integral

COELHO, Catarina Alves. Direito das Mulheres e Injustiça dos Homens: a tradução utópico-feminista de Nísia Floresta. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de filosifia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 2019.

CORREA E SILVA, Laila. O direito ao voto feminino no século XIX brasileiro: a atuação política de Josephina Álvares de Azevedo (1851-1913). Aedos, Porto Alegre, v. 10, n. 23, p. 114-131, Dez. 2018

DUARTE, Constância Lima. As viagens e o discurso autobiográfico de Nísia Floresta. Matraga, Rio de Janeiro, v.16, n.25, jul./dez. 2009.

DUARTE, Constância Lima. Imprensa feminina e feminista no Brasil: século XIX . Belo Horizonte: Autêntica, 2016.

DUARTE, Constância Lima. Narrativas de viagem de Nísia Floresta. Via Atlântica, n. 2 jul. 1999.

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Site Superior Tribunal Eleitoral

Site Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Norte

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Wikipedia

 

Outros artigos da Série “Feministas, graças a Deus!

Série “Feministas, graças a Deus!” I – Elvira Komel, a feminista mineira que passou como um meteoro, publicado em 25 de julho de 2020, de autoria da historiadora Maria Silvia Pereira Lavieri Gomes, do Instituto Moreira Salles, em parceria com Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” II  – Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993), o jequitibá da floresta, publicado em 20 de agosto de 2020, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” III  – Bertha Lutz e a campanha pelo voto feminino: Rio Grande do Norte, 1928, publicado em 29 de setembro de 2020, de autoria de Maria do Carmo Rainha, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” IV  – Uma sufragista na metrópole: Maria Prestia (? – 1988), publicado em 29 de outubro de 2020, de autoria de Claudia Heynemann, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” V – Feminista do Amazonas: Maria de Miranda Leão (1887 – 1976), publicado em 26 de novembro de 2020, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, mestre em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” VI – Júlia Augusta de Medeiros (1896 – 1972) fotografada por Louis Piereck (1880 – 1931), publicado em 9 de dezembro de 2020, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” VII – Almerinda Farias Gama (1899 – 1999), uma das pioneiras do feminismo no Brasil, publicado em 26 de fevereiro de 2021, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” VIII – A engenheira e urbanista Carmen Portinho (1903 – 2001), publicado em 6 de abril de 2021, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” IX – Mariana Coelho (1857 – 1954), a “Beauvoir tupiniquim”, publicado em 15 de junho de 2021, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” X – Maria Luiza Dória Bittencourt (1910 – 2001), a eloquente primeira deputada da Bahia, publicado em 25 de março de 2022, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XI e série “1922 – Hoje, há 100 anos” VI – A fundação da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, publicado em 9 de agosto de 2022, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XII e série “1922 – Hoje, há 100 anos” XI – A 1ª Conferência para o Progresso Feminino, publicado em 19 de dezembro de 2022, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, historiadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” XIV – No Dia Internacional da Mulher, Alzira Soriano, a primeira prefeita do Brasil e da América Latina, publicado em 8 de março de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

 

 

No Dia do Imigrante Italiano, a trajetória do fotógrafo Nicola Maria Parente (1847 – 1911) no Brasil

Inspirada pela celebração do Dia Nacional do Imigrante Italiano e pela recente publicação do livro Italianos detrás da câmara: trajetórias e olhares marcantes no florescer da fotografia no Brasil, de autoria de Livia Raponi e Joaquim Marçal, um dos curadores da Brasiliana Fotográfica, escrevo sobre mais um importante fotógrafo italiano que atuou no Brasil no século XIX: Nicola Maria Parente (1847 – 1911), introdutor do cinematógrafo na Paraíba. Em destaque, imagens de sua autoria que pertencem à Fundação Biblioteca Nacional, uma das fundadoras da Brasiliana Fotográfica; e à Fundação Joaquim Nabuco e ao Museu Histórico Nacional, às instituições parceiras do portal.

 

 

Nicola Maria Parente se junta aos também italianos Camillo Vedani (18? – 1888)João Firpo (1839 – 1899) e Elvira (1876 – 1972) e Vincenzo Pastore (1930 – 1918), que já foram temas de artigos publicados no portal.

 

 

Acessando o link para as fotografias de autoria de Nicola Maria Parente disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Pela importância que a comunidade italiana tem na história do Brasil, a lei nº 11.687, de 2 de junho de 2008 instituiu oficialmente o Dia Nacional do Imigrante Italiano no calendário de todo o território nacional. O dia 21 de fevereiro foi escolhido devido à expedição que Pietro Tabacchi fez ao Espírito Santo, em 1874, marco do início do processo da migração em massa dos italianos para o Brasil. Estima-se que atualmente aproximadamente 30 milhões de descendentes de italianos vivam em terras brasileiras.

 

Bandeira da Itália

Bandeira da Itália

 

Breve perfil do fotógrafo italiano Nicola Maria Parente (1847 – 1911)

 

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A biografia de Nicola Maria Parente ainda tem diversas lacunas. Ele nasceu em Marsico Nuovo, província de Potenza, na região de Basilicata, em 13 de março de 1847, filho de Giovannantonio Parente e Maria Carmela Perci (Site Cápsula do Tempo). Relatos de seus familiares informam que ele teria participado nas lutas de Giuseppe Garibaldi (1807-1882) pela unificação da Itália, mas este fato ainda não foi confirmado.

 

 

Provavelmente veio para o Brasil, em 1865. Também de acordo com relatos de familiares, chegou com seu irmão Carmino, seus primos João, Georgina e Luigi; e com sua esposa Carolina Rotunda e seus filhos Galileu e Margarida. Durante a viagem Carolina teria dado à luz a Garibaldi e teria falecido logo depois do parto. No Porto de Santos, Nicola teria conhecido a italiana Giusephina Calliari, que viajava com dois filhos, Marcella e Giulio. Casaram-se e, posteriormente, tiveram uma filha, Carmelita. Há informações de que teriam se estabelecido em Taquari, no Rio Grande do Sul. Quanto à nacionalidade dos filhos há uma divergência ainda não resolvida pela pesquisa da vida de Nicola: no anúncio de sua morte é dito que todos nasceram no Brasil.

Percorreu alguns estados do Brasil e, o que se sabe, é que, na década de 1880, estabeleceu-se em João Pessoa, que na época chamava-se Parahyba do Norte, onde abriu a Photographia Vesúvio, na rua d´Areia, 73.

 

 

Na Paraíba, foi contemporâneo do italiano João Firpo (1839 – 1899) e do alemão Bruno Bourgard (18? – 19?), dentre outros fotógrafos itinerantes, e da pioneira Roza Augusta (18? -19?).

 

 

 

Também trabalhou como dentista.

 

 

Gênio de artista investigador, Nicola foi, além de fotógrafo e dentista, comerciante e inventor. Foi também ele que apresentou o cinematógrafo aos moradores de João Pessoa, na Paraíba, entre julho e agosto de 1897, durante a Festa das Neves, que homenageia a padroeira da cidade, Nossa Senhora das Neves, e que, na época, era o maior acontecimento social e religioso do estado. Em frente à Photographia Vesúvio, na rua Nova, nº 2, foi colocado um grande cartaz com frases em francês anunciando o espetáculo. Segundo anotações do fotógrafo, cineasta, diretor e pesquisador paraibano Walfredo Rodriguez (1893 – 1973), que estava presente ao acontecimento, em seu Roteiro Sentimental de uma Cidade:

“O autor destas desativadas evocações, recorda-se, ainda, envoltas em névoas das imagens remotas, das fitas ali exibidas, numa Festa das Neves de 1897 – “Chegada de um trem a Gare de Lion”, Um macaco pulando um arco” e “Crianças jogando bolas de neve em Biarritz”.

Parece que Nicola Parente conhecia os irmãos Louis e Auguste Lumière, franceses responsáveis pelo invento do cinematógrafo, cuja primeira exibição pública aconteceu em Paris, em 28 de dezembro de 1895. Em 1896, Parente viajou para a Europa e de lá trouxe a novidade. Segundo o bisneto de Nicola, o jornalista Pedro Parente, seu bisavô teria ido aFrança, em 1900, quando teria sido convidado pelos irmãos Lumière para a Exposição Universal de Paris.

 

 

Nicola itinerou com o cinematógrafo por diversos estados do Nordeste, como Bahia, Ceará, Pará e Rio Grande do Norte; e pelo interior de São Paulo. O organizador do livro A crítica de cinema em Belém, Pedro Veriano, aventa a possibilidade de Nicola ter sido o responsável  pelas primeiras filmagens no Pará, “mas não deixou provas concretas do trabalho” .

 

Em 1899,  transferiu-se para Abaeté, atual Abaetetuba, no Pará, onde criou o estabelecimento comercial Casa Italiana, da firma Nicola Parente & Filhos. Também colaborou com o Jornal da Mata.

Em 19 de maio de 1911, faleceu, vítima da explosão de um novo aparelho gerador de gás oxigênio que pretendia inventar em seu laboratório em Abaeté. De acordo com a notícia veiculada pelo Estado do Pará, era sócio de seu filho Garibaldi na firma comercial Parente & Cia.  Seu outro filho, Galileu, era jornalista, poeta e fotógrafo. Como já mencionado, tinha também duas filhas, Margarida e Carmelita. Foi identificado como muito estimado, honesto e caridoso (Estado do Pará, 29 de maio de 1911, última coluna).

 

Acesse aqui a Cronologia de Nicola Maria Parente (1847 – 1911) 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

ALIPRANDI, E.; MARTINI, V. (orgs.). Gli italiani nel nord del Brasile. Rassegna delle vite e delle opere della stirpe italica negli stati del nord brasiliano. Belém: Tip. da Livraria Gilet, 1932.

BARRO, Máximo. Participação italiana no cinema brasileiro. São Paulo : SESI-SP Editora.

Fotografia Paraibana Revista, 2012, pág 73

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

GOLZIO, Derval Gomes. Utilização Político-Ideológica da Fotografia: estudo das imagens publicadas no jornal A União durante a disputa política no Estado da Paraíba-1930. Dissertação de Mestrado em Multimedios, Unicamp, 1997.

Italianos detrás das câmeras: trajetórias e olhares marcantes no florescer da fotografia no Brasil / Organizado por Joaquim Marçal, Livia Raponi, traduzido por Livia Raponi, Vittorio Cappelli. – São Paulo : Editora Unesp, 2022.

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002.

LAPA, José Roberto do Amaral. A cidade: os cantos e os antros : Campinas, 1850-1900. São Paulo : Editora da Universidade de São Paulo, 1996.

LEAL, Wills. O Discurso Cinematográfico dos Paraibanos: a história do cinema na/da Paraíba. João Pessoa: Ed. A União, 1989.

LEITE, Ary Bezerra. Cidade de Fortaleza: 1897-1945: do Cinematógrafo aos Anos de Guerra.

LEITE, Ari Bezerra. História da fotografia no Ceará do século XIX. Edição do autor, 2019.

LEITE, Ary Bezerra. Memória do cinema: os ambulantes do Brasil (Cinema itinerante no Brasil: 1895 – 1914). Fortaleza : Premius, 2011.

PETIT, Pere. Filmes, Cinemas e Documentários no fim da Belle Époque no Pará (1911-1914). Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São Paulo, julho 2011,

VERIANO, Pedro (coord.). A crítica de cinema em Belém. Belém: Secult/PA, 1983.

SANTOS, Alex. Cinema e Revisionismo. João Pessoa, SEC/PB, 1982.

Site Cápsula do Tempo

Site Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro

Site Crônicas Taipuenses

Site Fatos e Fotos de Natal Antiga

Site Fortaleza Nobre

Site Italian Genealogy

Site Paraíba Criativa

Site Pró-Memória de Campinas – SP

O Rei Momo por Jean Manzon e por outros fotógrafos dos Diários Associados

Neste artigo a Brasiliana Fotográfica vai contar um pouco da história do Rei Momo do carnaval carioca a partir de uma imagem produzida pelo importante fotógrafo francês Jean Manzon (1915 – 1990), responsável pela renovação do fotojornalismo brasileiro na década de 1940. A foto destacada foi publicada no Diário da Noite, de 31 de dezembro de 1948, na ocasião do falecimento do primeiro Rei Momo, Francisco de Moraes Cardoso (1893 – 1948). No registro, de 28 de fevereiro de 1946, ele está na coroação realizada, no Teatro João Caetano, da vedete Mara Rubia (1918 – 1991), eleita dias antes Rainha do Baile do Carnaval das Atrizes de 1946 (Diário da Noite, 21 de fevereiro de 1946, sétima coluna). Vamos também traçar um pequeno perfil de Manzon. Foi em 3 de fevereiro de 1934 que o carnaval carioca foi aberto pela primeira vez por um Rei Momo de carne e osso.

 

 

 

momo

 

 

Os Diários Associados e a importância da preservação de um arquivo fotográfico de imprensa

 

Pela terceira vez uma imagem dos Diários Associados – Rio de Janeiro -, que foi incorporado, em 2016, ao acervo fotográfico de uma das instituições fundadoras da Brasiliana Fotográfica, o Instituto Moreira Salles (IMS), é o destaque de uma publicação do portal. Esse conjunto de fotos dos Diários Associados, que já foram o maior conglomerado de mídia do Brasil, possui cerca de 700 mil fotografias e 300 mil negativos com imagens produzidas para O Jornal, primeiro órgão dos Diários, comprado por Assis Chateaubriand (1892 – 1968), em 1924; para o Diário da Noite, fundado por ele, em 1929; e para o Jornal do Commercio, fundado, em 1827, e adquirido pelo grupo em 1959.

Mais uma vez destacamos a relevância da preservação de um arquivo fotográfico de imprensa mesmo que as imagens estejam disponíveis em plataformas como a Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional, uma das mais importantes fontes de pesquisa do portal. Com a preservação, as fotografias podem, a partir de recursos tecnológicos, como a digitalização e o zoom, terem outra visibilidade e serem acessadas em sua qualidade plena.

 

Acessando o link para as fotografias do Rei Momo publicados em jornais cariocas dos Diários Associados e disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Pequeno perfil de Jean Manzon (1915 – 1990)

 

O fotógrafo e cineasta Jean Manzon nasceu em Paris, em 2 de fevereiro de 1915. Começou sua carreira, aos 16 anos, no jornal L´Intransigeant. Depois trabalhou nas revistas ilustradas Vu e Match e no vespertino Paris Soir. Também trabalhou para o serviço cinematográfico da Marinha Francesa durante a Segunda Guerra Mundial. Veio para o Brasil, em agosto de 1940, e fixou-se no Rio de Janeiro.

Nos primeiros anos da década de 1940, foi o encarregado pela organização do Setor de Fotografia do Departamento de Imprensa e Propaganda do Estado Novo do presidente Getúlio Vargas (1882 – 1954). Manzon tinha a função de produzir material para a divulgação da imagem do Brasil no país e no exterior. Editou pela Força Expedicionária Brasileira a revista Brasil na Guerra.

Atuou em diversas publicações dos Diários Associados, principalmente na revista O Cruzeiro, onde começou a trabalhar em 1943, a convite de Frederico Chateubriand (O Cruzeiro, 10 de julho de 1943), onde permanceu até 1951. Neste período produziu mais de 300 fotorreportagens cujos temas a professora e arquiteta Helouise Costa separou em quatro tópicos: política, personalidades, religião e realidade brasileira. Justamente nas décadas de 40 e 50 as matérias da revista tiveram um forte impacto na formação do imaginário brasileiro abordando, muitas vezes, pela primeira vez, alguns assuntos. Formou com David Nasser (1917 – 1980) uma das duplas mais importantes do jornalismo brasileiro. Juntos percorreram o Brasil de norte a sul e é deles, por exemplo, a matéria Enfrentando os chavantes, reportagem pioneira sobre índios brasileiros (O Cruzeiro, 24 de junho de 1944).

Manzon foi o responsável pela renovação do fotojornalismo no Brasil, implantando em O Cruzeiro, a partir de sua experiência europeia, uma linguagem fotográfica que usava ângulos de baixo para cima e vice-versa, tomadas oblíquas, enfatizando detalhes expressivos e utilizando intencionalmente a cenografia, onde a imagem era meticulosamente arquitetada pelo fotógrafo que, desta forma, construia a imagem. Introduzia assim a fotorreportagem, onde a foto não se limitava a ilustrar o texto, mas transmitia um ponto de vista especificamente visual sobre os fatos e resultava, com o texto, uma narrativa estruturada.

Manzon formou em O Cruzeiro uma equipe de fotógrafos que tornou-se pioneira do fotojornalismo moderno no país. Alguns deles foram Luciano Carneiro (1926 – 1959),  José Medeiros (1921- 1990) e Peter Scheier (1908 – 1979).

Na década de 1950, passou a colaborar com a revista Paris Match. Colaborou também com o jornal Última Hora e com a revista Manchete, em cuja capa do primeiro exemplar, de 26 de agosto de 1952, há uma chamada para Uma grande reportagem de Jean Manzon, intitulada Nem tudo é sombra e água fresca, também se trabalha na Câmara dos Deputados.

Ainda nos anos 50, fundou a empresa cinematográfica Jean Manzon Produções, que realizou mais de 900 documentários. Um deles, L´Amazone, foi premiado com o Leão de Ouro do Festival de Cinema de Veneza, Itália, em 1966. Retornou a Paris e, entre 1968 e 1972, assumiu a direção da Paris Match. É de sua autoria os livros Flagrantes do Brasil (1950) e Mergulho na Aventura (1950), este último em parceria com David Nasser; Brasil (1952) e Féerie Brésilienne (1957), entre outros.

Ele se orgulhava de ser o maior propagandista brasileiro no exterior e acusado, muitas vezes, de não mostrar a realidade do Brasil em seus documentários, declarou, em entrevista no artigo de Sérgio Gomes, Profissão otimista, publicado na Folha de São Paulo de 17 de novembro de 1977:

Folha de São Paulo, 17 de novembro de 1977

Folha de São Paulo, 17 de novembro de 1977

Segundo o poeta Manuel Bandeira (1886 – 1968), na apresentação da segunda edição de Flagrantes do Brasil, a obra de Manzon seria como um retrato de “nossa terra, nossos homens e nossos costumes”. Seu acervo é um dos maiores patrimônios cinematográficos de preservação da história e da memória no Brasil e em toda América Latina produzido por um só artista.

Em junho de 1990, em São Paulo, recebeu a Cruz de Oficial da Legião de Honra da França. Jean Manzon faleceu em Reguengos de Monsaraz, em Portugal, em 1º de julho de 1990, devido a um traumatismo craniano ocasionado por uma queda de uma escada (Jornal do Brasil, 5 de junho de 1990; e 3 de julho de 1990).

 

Um pouco da história do Rei Momo I e Único do carnaval carioca

 

 

Na Mitologia Grega, Momo era o deus da festividade, filho do Sono e da Noite. Por sua irreverência e sarcasmo foi expulso do Olimpo. Na Grécia, registros históricos revelam que os primeiros reis Momos até hoje conhecidos desfilavam em festas de orgia por volta dos séculos 5 ou 4 a.C. Já nas bacanais romanas, os participantes selecionavam um Rei Momo entre os soldados mais bonitos do exército e, ao final da festa, ele era sacrificado em honra do deus Saturno.

A primeira representação do Rei Momo de que se tem notícia no Brasil foi feita pelo caricaturista alemão radicado no Brasil, Henrique Fleiuss (1824 – 1882), e publicada na Semana Illustrada, em 2 de março de 1862, primeira publicação humorística ilustrada da imprensa brasileira. Fundada por Fleiuss, existiu entre 1860 e 1876, e teve como colaboradores Joaquim Nabuco (1849 – 1910) e Machado de Assis (1839 – 1908), dentre outros.

 

 

Até hoje, acredita-se que a primeira representação física do Rei Momo no país tenha acontecido em 21 de junho de 1910 durante a encenação da opereta Cupido no Oriente apresentada no Circo Spinelli. O famoso Benjamim de Oliveira (1870 – 1954), um dos autores da peça ao lado de David Carlos (18?-19?) e o primeiro palhaço negro do Brasil, interpretou Momo. O espetáculo contava com 28 músicas de autoria do maestro Paulino do Sacramento (1880 – 1926) e quatro atos.

 

 

 

 

Em 1933, a Federação das Sociedades Carnavalescas do Rio de Janeiro, a Casa dos Artistas e a Empresa Beira-Mar Cassino organizaram a entrada triunfal do Rei Momo no Rio de Janeiro, que seria uma nota interessantíssima do carnaval. A programação foi apresentada por Cerqueira Lima, representante do Touring Club (A Noite, 20 de dezembro de 1932, penúltima colunaA Noite, 28 de janeiro de 1933, quarta coluna; e 14 de fevereiro de 1933, terceira coluna).

 

“Foi uma ideia feliz essa de se dar, assim, como uma apoteose ao deus da folia, abertura oficial aos folguedos de carnaval”.

A Noite, 15 de fevereiro de 1933

 

 

 

E, em 18 de fevereiro de 1933, desembarcou na cidade um Rei Momo, porém de papelão. Foi esculpido pelo cenógrafo Hipólito Colomb que, com o decorador Jayme Silva, o vestiu. Momo chegou à Praça Mauá a bordo do Mocanguê. A alegoria media 13 metros e era iluminada por 800 lâmpadas elétricas. Houve um desfile na avenida Rio Branco e o rei da folia instalou-se no Cassino Beira-Mar. Foi a diretoria do Lloyd Club que promoveu a luxuosa cerimônia de chegada (A Noite, 15 de fevereiro18 de fevereiro, primeira coluna; 18 de fevereiro, quarta coluna; e 19 de fevereiro, de 1933; Diário da Noite, 18 de fevereiro; e 20 de fevereiro de 1933).

 

 

Como provado por fotos publicadas no jornal A Noite, de 21 de fevereiro de 1933, e na mesma data 3ª edição; e de 23 de fevereiro de 1933, já existia um  Rei Momo de carne e osso em 1933, criado por iniciativa dos jornalistas de A Noite Vasco Lima, Raymundo Magalhães Junior, Edgard Pilar Drummond, pseudônimo Palamenta, que integrava o Centro dos Cronistas Carnavalescos; e do caricaturista Fritz, pseudônimo de Anisio Mota. O escolhido para encarnar o soberano do carnaval carioca foi o cronista de turfe, que também trabalhava no jornal, o carioca Francisco Moraes de Cardoso (1893 – 1948), um tipo bonachão, alegre e com cara de glutão.

 

 

Mas foi no ano seguinte, em 3 de fevereiro de 1934, que o Rei Momo de carne e osso abriu o carnaval do Rio de Janeiro. Chegou na Praça Mauá e seguiu pela Avenida Rio Branco até o Palácio das Festas, onde houve um baile em sua homenagem (A Noite, 13 de dezembro de 1933, terceira colunaA Noite, 19 de fevereiro de 1934, primeira coluna; A Noite, 30 de janeiro de 1934, penúltima coluna; A Noite, 3 de fevereiro de 1934; A Noite, 4 de fevererio de 1934).

 

momo10A Noite, 3 de fevereiro de 1934

 A Noite, 3 de fevereiro de 1934

 

Foi vestido, por sugestão do maestro Silvio Piergilli (c.1888 – 1962), que trabalhava no Teatro Municipal e era amigo de Raymundo Magalhães Junior, com a roupa do duque de Mântua, personagem da ópera Rigoletto, de Giuseppe Verdi. Há uma outra versão na qual o caricaturista Fritz teria sido o desenhista da roupa, que teria sido executada por uma costureira do Teatro Municipal. Provavelmente, em 1933, Momo usou a fantasia do duque e, no ano seguinte, 1934, desfilou com a roupa desenhada por Fritz.

 

 

 

O jornal A Noite, de 9 de dezembro de 1948, resumiu assim a história do Rei Momo no carnaval do Rio de Janeiro:

 

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O fato é que durante 15 anos, de 1934 até sua morte, em 9 de dezembro de 1948, Moraes de Cardoso reinou no carnaval carioca (A Noite, 9 de dezembro de 1948; O Jornal, 10 de dezembro de 1948, primera coluna). Havia ingressado em A Noite em fins da década de 20, a convite de Adauto de Assis, que chefiava a seção esportiva do jornal. Antes, Moraes Cardoso trabalhava na papelaria Casa Cruz. Quando faleceu, além de repórter esportivo e comentarista de turfe, era Chefe da Seção de Circulação de A Noite.

 

 

 

Retrospectiva do Rei Momo do carnaval carioca desde 1934

 

 

1934 a 1948 – Francisco Moraes Cardoso

1949 – Gustavo Matos

1950 – Jaime de Moraes

1951 a 1957 – Nelson Nobre

1958 a 1971 – Abrahão Reis

1972 – Edson Seraphin de Santana

1973 – Elson Macula

1974 a 1982 – Edson Seraphin de Santana

1983 – Paolo Vicente Paccelli

1984 – Robertão

1985 e 1986 – Elson Macula

1987 a 1995 – Reynaldo Bola

1996 – Paulo Cesar Braga

1997 a 2003 –   Alex de Oliveira

2004 – Wagner Monteiro

2005 – Marcelo Reis

2006 a 2008 – Alex de Oliveira

2009 a 2013 – Milton Junior

2014 a 2016– Wilson Dias da Costa Neto

2017 – Fabio Damião

2018 – Milton Junior

2019 – Wilson Dias da Costa Neto

2020 a 2021– Djeferson Mendes da Silva

2022 – Wilson Dias da Costa Neto

2023 – Djferson Mendes da Silva,

 

Andrea C.T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

ABI – Boletim Informativo, 1990

BURGI, Sérgio; COSTA, Helouise (org.). As origens do fotojornalismo no Brasil: um olhar sobre O Cruzeiro. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2012.

CARDENUTO FILHO, Reinaldo. Discursos de intervenção: o cinema de propaganda ideológica para o CPC e o Ipês às vésperas do Golpe de 1964 São Paulo, 2008. Tese (Mestrado) – Universidade de São Paulo. Escola de Comunicação e Artes.

COELHO, M. Beatriz Ramos de Vasconcelos. A Construção da imagem da nação Brasileira pela fotodocumentação: 1940-1999. São Paulo, 2000. Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas.

COSTA, Haroldo. 100 anos de carnaval no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro : Irmãos Vitale, 2001.

COSTA, Helouise. Palco de uma história desejada: o retrato do Brasil por Jean Manzon em: Revista do Patrimônio, nº 27, 1998. Maria Inez Turazzi (org.). Brasília: IPHAN, 1998.

COSTA, Helouise. Um olho que pensa: estética moderna e fotojornalismo. Tese de doutoramento. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, 1998.

Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira

GOMES, Sérgio. Jean Manzon. Profissão: otimista, artigo publicado na Folha de São Paulo de 17 de novembro de 1977.

Figuras e Coisas do Carnaval Carioca / Jota Efegê: apresentação de Artur da Távola. —2. ed. — Rio de Janeiro: Funarte, 2007.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

MANZON, Jean. Flagrantes do Brasil. Rio de Janeiro: Ed. Bloch, 1950.

MANZON, Jean. Memórias do Brasil. São Paulo: Cepar Consultoria e Participações, 2007.

MANZON, Jean. Retrato vivo da grande aventura. São Paulo: Cepar Consultoria e Participações, 2006/2007.

PEREGRINO, Nadja. O Cruzeiro: a revolução da fotoreportagem. Rio de Janeiro, Dazibao, 1991.

PINHEIRO, Marlene M. Soares (1996), A Travessia do avesso: sob o signo do carnaval. São Paulo : Annablume, 1995.

Memória do carnaval, Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, 1991.

Revista Superinteressante, 14 de fevereio de 2020

Site Enciclopédia Itaú Cultural

Site Fundaj

Site MultiRio

TACCA, Fernando de. O índio na fotografia brasileira: incursões sobre a imagem e o meio. História, ciências, saúde – Manguinhos – Vol. 18, nº 1, p.191-223. Rio de Janeiro., 2011

TeatroBR Blogspot 

 

Artigos publicados na Brasiliana Fotográfica com fotografias do acervo dos Diários Associados

Os Diários Associados na Brasiliana Fotográfica, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 30 de maio de 2018.

A Casa dos Artistas nos Diários Associados, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 26 de agosto de 2019.

 

Links para artigos sobre carnaval já publicados na Brasiliana Fotográfica

 

Imagem relacionada

O carnaval nas primeiras décadas do século XX, publicado em 5 de fevereiro de 2016

 

 

O carnaval do Cordão da Bola Preta, publicado em 9 de fevereiro de 2018

 

 

As Camélias Japonesas no carnaval de Alagoas pelas lentes do fotógrafo amador Luiz Lavenère Wanderley (1868 – 1966, publicado em 21 de fevereiro de 2020

 

Cenas da folia em Manaus em 1913, publicado em 28 de fevereiro de 2020

 

 

Baile de Carnaval em Santa Teresa – Di Cavalcanti, Klixto e Helios Seelinger, na casa de Raul Pederneiras, publicado em 25 de fevereiro de 2022

 

Foliões do Carnaval de Diamantina por Chichico Alkmi, publicado em 17 de fevereiro de 2023

 

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVI – “Alguma coisa acontece no meu coração”, a Avenida São João nos 469 anos de São Paulo

“Alguma coisa acontece no meu coração que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João”. Assim começa Sampa, do compositor Caetano Veloso, uma das mais belas canções sobre a São Paulo – foi lançada no álbum Muito – Dentro da Estrela Azulada, em 1978. Então, para homenagear os 469 anos de fundação da cidade, a Brasiliana Fotográfica destaca uma foto aérea da Avenida São João, do acervo do Museu Aeroespacial, uma de suas instituições parceiras, além de registros da cidade realizados por Militão Augusto de Azevedo (1837 – 1905) e Guilherme Gaensly (1843 – 1948) na publicação do 16º artigo da Série “Avenidas e ruas do Brasil”.

Destacamos também artigos já publicados no portal sobre a cidade, que foi fundada em 25 de janeiro 1554 com a celebração de uma missa que oficializou a criação de um colégio jesuíta, no alto de uma colina entre os rios Anhangabaú e Tamanduateí, por 12 padres, dentre eles José de Anchieta (1834 – 1597) e Manoel da Nóbrega (1517 – 1590). É onde fica o Pátio do Colégio.

 

 

São Paulo é o principal centro corporativo, financeiro e mercantil da América do Sul assim como a cidade mais populosa do Brasil.

 

 

Muitos fotógrafos registraram diversos aspectos da cidade de São Paulo desde o século XIX, dentre eles Alfredo Krausz (18? – 19?), Claude Lévi-Strauss (1908 – 2009), Edgard Egydio de Souza (1867 – 1956), Frédéric Manuel (18? – 19?), Guilherme Gaensly (1843 – 1928), Marc Ferrez (1843 – 1923), Militão Augusto de Azevedo (1837 – 1905), Otto Rudolf Quaas (c. 1862 – c. 1930), Valério Vieira (1862 – 1941), Vincenzo Pastore (1865 – 1918) e fotógrafos ainda não identificados, cujas imagens podem ser apreciadas nos artigos listados a final desta publicação.

Militão e Gaensly são considerados os fotógrafos que mais cultuaram São Paulo. Militão produziu o Álbum comparativo da cidade de São Paulo 1862-1887, sua obra-prima, que foi o primeiro realizado com o objetivo de mostrar as mudanças ocorridas na capital paulista, devido ao progresso. O álbum evidencia o valor que Militão dava à fotografia como documento de época inserido em projeto artístico que sugere um passeio pela cidade no período de 1862 a 1887. O trabalho do fotógrafo muito contribuiu para a formação da imagem moderna de São Paulo.

 

 

Gaensly fotografou a cidade em plena transição para a modernidade, tendo registrado todos os aspectos urbanos da nova metrópole que surgia, como a inauguração dos bondes elétricos que substituíram as carroças, o Jardim da Luz, a agitação do comércio na região do entorno da Praça da Sé, o crescimento da Avenida Paulista, além de palacetes, chácaras, edifícios públicos, igrejas, escolas, teatros e hospitais. Essas vistas de São Paulo foram comercializadas em álbuns impressos na Suíça a partir de fotografias em papel albuminado e de colotipias. Fotografou também a chegada de imigrantes italianos em Santos e em São Paulo. Dentre os prêmios que recebeu, está uma medalha de prata conquistada na Exposição Universal de Saint Louis, em 1904.

 

 

Artigos sobre a cidade de São Paulo já publicados na Brasiliana Fotográfica

 

 

Militão Augusto de Azevedo (1837 – 1905) e sua obra-prima, o “Álbum comparativo da cidade de São Paulo 1862-1887″, publicado em 24 de maio de 2015

Vincenzo Pastore, um fotógrafo entre dois mundos (Casamassima, Itália 5 de agosto de 1865 – São Paulo, Brasil 15 de janeiro de 1918), publicado em 5 de agosto de 2015

São Paulo sob as lentes do fotógrafo Guilherme Gaensly (1843 – 1928), publicado em 25 de janeiro de 2017

Os trinta Valérios, uma fotografia bem-humorada de Valério Vieira (1862 – 1941), publicado em 21 de março de 2017

O fotógrafo austríaco Otto Rudolf Quaas e o construtor Ramos de Azevedo, publicado em 28 de setembro de 2017

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IV – Rua 25 de março em São Paulo, publicado em 1º de setembro de 2020

A cidade de São Paulo e Tebas (1721 – 1811), reconhecido como arquiteto, em 2018, mais de 100 anos após sua morte, pubicado em 25 de janeiro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XI – A Rua da Esperança, em São Paulo, por Vincenzo Pastore, publicado em 14 de dezembro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XII – A Avenida Paulista, o coração pulsante da metrópole, publicado em 21 de janeiro de 2022.

Série “1922 – Hoje, há 100 anos” II – A Semana de Arte Moderna, publicado em 13 de fevereiro de 2022.

O Edifício Martinelli, antigo referencial e símbolo de São Paulo, publicado em 16 de maio de 2022

 

 

Assinaturas dos membros do 1º Governo de São Paulo, 1555

Assinaturas dos membros do 1º Governo de São Paulo, 1555 / São Paulo Antigo e São Paulo Moderno

Sampa

Caetano Veloso

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Brasiliana Fotográfica

São Paulo Antigo e São Paulo Moderno – 1554-1904. São Paulo : Editores Vanorden & Cia, 1905.

 

Links para as outras publicações da série “Avenidas e ruas do Brasil”

 Série “Avenidas e ruas do Brasil” I – Avenida Central, atual Rio Branco, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 7 de setembro de 2016

Série “Avenidas e ruas do Brasil” II – A Rua do Imperador em Petrópolis por Klumb, Leuzinger e Stahl, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 26 de junho de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” III – A Rua do Bom Jesus, no Recife, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 6 de agosto de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IV – A Rua 25 de Março, em São Paulo, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 1º de setembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” V – A Rua Direita, a Rua das Mercês e a Rua Macau do Meio, em Diamantina, Minas Gerais, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 22 de outubro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” VI  – Rua Augusto Ribas e outras, em Ponta Grossa, no Paraná, pelo fotógrafo Luiz Bianchi, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 16 de novembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” VII – A Avenida Atlântica, em Copacabana, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 23 de dezembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil VIII – A Rua da Carioca por Cássio Loredano, de autoria de Cássio Loredano, publicada em 20 de janeiro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IX – Ruas e panoramas do bairro do Catete, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 14 de julho de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” X – A Rua da Ajuda, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 9 de novembro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XI – A Rua da Esperança, em São Paulo, por Vincenzo Pastore, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 14 de dezembro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XII – A Avenida Paulista, o coração pulsante da metrópole, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 21 de janeiro de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XIII – A Rua Buenos Aires no Centro do Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 19 de julho de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XIV – A Avenida Presidente Vargas,, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 31 de agosto de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XV – Misericórdia: rua, largo e ladeira, no Rio de Janeiro, por Cássio Loredano, de autoria de Cássio Loredano, publicada em 8 de dezembro de 2022

 

São Sebastião, o santo padroeiro do Rio de Janeiro

 

 

Com uma seleção de registros realizados por Augusto Malta (1864 – 1957), Guilherme Santos (1871 – 1966), Juan Gutierrez (c. 1860 – 1897), Revert Henrique Klumb (c. 1826 – c. 1886) e também por fotógrafos ainda não identificados, a Brasiliana Fotográfica celebra o Dia de São Sebastião, o padroeiro da cidade do Rio de Janeiro. São fotos de uma imagem do próprio santo, de procissões, e do Largo, da Igreja e do Convento de São Sebastião ou Capuchinhos, no Morro do Castelo – a mais antiga, da década de 1860 e, a mais recente, de ruínas da igreja, demolida em 1922.  A maior parte das fotos selecionadas são de autoria do alagoano Augusto Malta, fotógrafo oficial da prefeitura do Rio de Janeiro entre 1903 e 1936, testemunha ocular da transformação urbana carioca nas primeiras décadas do século XX, período de grandes mudanças na cidade.

 

Acessando o link para fotografias referentes a São Sebastião selecionadas e disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.  

 

 

A Igreja de Sebastião foi a primeira catedral do Rio de Janeiro e começou a ser construída, em 1568, apenas três anos após a fundação da cidade, ocorrida em 1º de março de 1565.

“Com a fundação da Cidade sob o Titulo de S, Sebastião do Rio de Janeiro, teve origem a do primeiro Templo dedicado ao mesmo Santo Mártir por Estacio de Sá, construindo-lhe na Villa Velha uma Casa de páo à pique, e coberta de palha, que Salvador Corrêa de Sá substituiu, levantando num monte da nova Cidade outro edifício mais decente, e de grossa taipa [“parede feita de terra piçarrenta, ou barro de certa qualidade calcado à piloens de ponta acunhada entre dous tabooens. parallelos, à cuja distancia he proporcionada a grossura da parede”], como permittiam as circunstancias do tempo, para se adorar alli o Supremo Autor das Conquistas, e ministrar os tantos Sacramentos aos povoadores portuguezes, cujo numero, à maneira de plantas novas, e bem cultivadas, crescia cada dia, e pulava com o dos Cathecumenos.” 

José de Souza Azevedo Pizarro e Araújo (1820)

 

Foi inaugurada, em 1583, e no mesmo ano os restos mortais de Estácio de Sá (1520 – 1567), fundador do Rio de Janeiro, foram trasladados para lá. Formava com o Convento dos Capuchinhos, o Colégio dos Jesuítas e outros prédios um importante conjunto arquitetônico, destruído, entre 1920 e 1922, com o arrasamento do Morro do Castelo. A última missa na Igreja de São Sebastião foi celebrada em 1º de novembro de 1921. Os restos mortais de Estácio de Sá foram transferidos para a Capela da Ajuda, residência provisória dos monges capuchinhos, na rua Conde de Bonfim, na Tijuca, em 20 de janeiro de 1922 e, desde 1931, estão na Igreja de São Sebastião dos Capuchinhos, na rua Haddock Lobo, também na Tijuca (Jornal, 21 de janeiro de 1922; O Jornal, 18 de agosto de 1931).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Thumbnail

Morro do Castelo – Igreja de São Sebastião dos Capuchinhos; transladação dos restos mortais de Estácio de Sá, 20 de janeiro de 1922. Rio de Janeiro, RJ / Acervo IMS

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

ARAÚJO. José de Souza Azevedo Pizarro e. Memórias Históricas do Rio de Janeiro e das Províncias anexas à Jurisdição do Vice-Rei do Estado do Brasil.  Imprensa Régia, 1820.

BARROS, Paulo Cezar de. Onde nasceu a cidade do Rio de Janeiro? ( um pouco da história do Morro do Castelo)Revista geo-paisagem (online ) Vol. 1, número 2, julho/dezembro de 2002

Arquivo Nacional

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

Histórias e Monumentos

MENEZ, Alexssandro. Civilização versus barbárie: a destruição do Morro do Castelo no Rio de Janeiro (1905-1922). Revista Historiador Número 06. Ano 06. Janeiro de 2014.

NONATO, José Antônio Era uma vez o Morro do Castelo. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2000.

Site MultiRio

 

Hanseníase em Jacarepaguá

Ricardo Augusto dos Santos, pesquisador da Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz, uma das instituições parceiras da Brasiliana Fotográfica, é o autor do artigo Hanseníase em Jacarepaguá, no qual nos conta um pouco da história do Hospital Colônia de Curupaiti, inaugurado, em 1928, em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Lá os portadores da doença conhecida popularmente como lepra, que era considerada um castigo divino, viviam afastados da sociedade. Na época, essa era considerada uma medida de obstáculo à propagação da doença e também um tratamento. O isolamento compulsório foi abolido em meados dos anos 1980.

 

 

Hanseníase em Jacarepaguá

Ricardo Augusto dos Santos*

 A doença conhecida popularmente como lepra, era considerada um castigo divino. Temida pelas populações, a hanseníase não inspirava nenhuma solidariedade. A internação compulsória e o isolamento foram práticas obrigatórias durante décadas. Encarcerados em hospitais, os doentes eram separados de suas famílias e amigos; o afastamento social era considerado tratamento e obstáculo à propagação da doença.

Durante o século XX, hospitais colônias espalharam-se pelo Brasil, segregando as pessoas contaminadas. Era característico destes espaços o longo período de internação, resultando em separação perpétua da vida social. Estigmatizados, milhares de enfermos passaram vidas inteiras nos leprosários. Assim, aqueles que porventura saíam das colônias de hansenianos tornavam-se eternamente excluídos da sociedade.

 

 

No Brasil, inúmeros fugiram da hospitalização, mas muitos permaneceram confinados. Alguns ficaram enclausurados por mais de 60 anos. Mesmo após o término do isolamento compulsório, abolido em meados dos anos 1980, os pacientes – por vários motivos – continuaram nesses hospitais.

Neste texto, apresentamos imagens do Hospital Colônia de Curupaiti. A pedra fundamental foi lançada em 1922 e a inauguração ocorreu somente em 1928. Localizado em Jacarepaguá, bairro da zona oeste da cidade do Rio de Janeiro, seus prédios foram projetados para o isolamento obrigatório dos portadores de hanseníase.

 

Acessando o link para as imagens do Hospital Colônia de Curupaiti disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

Desde meados do século XIX, a cidade do Rio de Janeiro vinha passando por uma série de transformações urbanísticas. Habitações coletivas dos pobres, os cortiços foram sendo demolidos, levando os habitantes a viverem em favelas próximas ao centro da cidade ou em zonas suburbanas afastadas do núcleo citadino. Funcionários públicos, comerciantes e militares começaram a construir suas residências na zona sul, distante das “classes perigosas” e suas doenças. Procurava-se produzir uma cidade organizada de acordo com as ideias hegemônicas no pensamento médico e social.

No auge das demolições dos velhos prédios coloniais, intelectuais, políticos e médicos pensavam a futura “Cidade Maravilhosa” como um corpo doente que necessitava ser alvo de intervenção sanitarista/urbanística.

Tratar as doenças em locais distantes dos bairros populosos fazia parte de uma estratégia sanitária. Logo, diversos argumentos foram utilizados para implantar um determinado modelo de cuidado clínico. Ao retirar os doentes do convívio social, a ciência pretendia proteger os sãos e os doentes, impedindo a circulação das pessoas. Construídos como conjuntos independentes dentro das cidades, os hospitais de isolamento possuíam cinemas, lojas e espaços para recreação. Havia acomodações para solteiros e habitações para casais doentes sem dificuldades de locomoção.

 

 

No Rio de Janeiro, Jacarepaguá, situado na zona rural do município e cercado por fazendas produtoras de alimentos, foi o local escolhido para a criação dos hospitais de isolamento para tratamento das doenças. Nesta região da cidade, foram erguidos hospitais para apartar da sociedade os atingidos pela tuberculose, lepra e doença mental.

Nas primeiras décadas do século XX, a estação de trem mais próxima localizava-se em Cascadura, bairro da zona norte da cidade. Pensava-se que o exílio e o clima seriam adequados para a assistência necessária.

Entre as décadas de 1920 e 1950, a construção dos prédios obedeceu a este critério: segregação para tratamento das doenças. As instituições de atendimento aos portadores de lepra, doença mental e tuberculose – Hospital Colônia de Curupaiti, Colônia Juliano Moreira e o Sanatório de Curicica – estavam de acordo com as premissas do conceito de Hospital-Colônia: terrenos de grande extensão territorial e afastados dos centros urbanos. Comércio, entretenimento e práticas de esportes faziam parte das atividades recomendadas. Além das terapias medicamentosas, deveria existir um espaço de sociabilidade controlado pela equipe médica.

As fotografias que ilustram o presente artigo pertencem ao acervo do médico Heráclides César de Souza Araújo. Nascido em 24 de junho de 1886, em Imbituva (PR), era filho de Júlio César de Souza Araújo e Manoela Alves de Souza Araújo. Em 1912, concluiu o curso de farmácia pela Escola de Farmácia de Ouro Preto. No ano seguinte, transferiu-se e ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e, depois, no Curso de Aplicação do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), quando foi aluno de Adolpho Lutz (1855-1940) e trabalhou com doenças sexualmente transmissíveis.

 

 

Nesse período, por indicação de Lutz, especializou-se em dermatologia na Universidade de Berlim, onde apresentou um trabalho sobre a lepra no Brasil. Em 1924, retornou ao IOC e ao grupo de pesquisa coordenado por Lutz, e no mesmo ano iniciou sua viagem de três anos por vários países. Na época, inaugurou o Laboratório de Leprologia, que dirigiu até sua aposentadoria em 1956.

 

 

Após a criação do Serviço Nacional de Lepra, em 1941, ministrou cursos para leprologistas pelo Departamento Nacional de Saúde. Entre 1941 e 1956, foi editor das Memórias do Instituto Oswaldo Cruz e exerceu a chefia da Seção de Bacteriologia e da Divisão de Microbiologia e Imunologia do IOC. No ano seguinte e até sua morte, foi perito da Organização Mundial da Saúde em leprologia. Participou de associações acadêmicas e profissionais em todo o mundo, tendo contribuído para a criação da Sociedade Internacional de Leprologia, em que ocupou o cargo de vice-presidente no período compreendido entre 1932 e 1956. Após a aposentadoria, continuou seu trabalho no IOC. Morreu em 10 de agosto de 1962, no Rio de Janeiro.

 

 

 

 

 

*Ricardo Augusto dos Santos é Pesquisador Titular da Fundação Oswaldo Cruz

A inauguração da rotunda de Victor Meirelles no Rio de Janeiro, em 3 de janeiro de 1891

A Brasiliana Fotográfica destaca quatro imagens da rotunda na Praça XV onde Victor Meirelles (1832 – 1903) expôs, no Rio de Janeiro, dois panoramas ao longo da década de 1890. Expôs um terceiro panorama, em 1900, porém em outra rotunda. São dois registros do fotógrafo Juan Gutierrez (c. 1860 – 1897), um dos Editores & propriedade de Rodrigues & Co. e um de Marc Ferrez (1843 – 1923). Victor Meirelles é considerado um dos mais importantes pintores brasileiros do século XIX (Jornal do Commercio, 23 de fevereiro de 1903, na terceira coluna). São de sua autoria quadros icônicos da história das artes plásticas no Brasil como A Primeira Missa no Brasil (1861),  Moema (1866)Juramento de Princesa Isabel (1875), Passagem do Humaitá (1869)A Batalha dos Guararapes (1879).

 

Um pouco sobre os fotógrafos que registraram a rotunda da Praça XV

O espanhol Juan Gutierrez de Padilla nasceu, provavelmente, nas Antilhas, em torno de 1860, e foi um dos mais importantes fotógrafos paisagistas do século XIX, um dos maiores cronistas visuais do Rio de Janeiro, tendo registrado a transição da cidade imperial para a cidade republicana. Entre 1892 e 1896, a maior parte de suas fotografias foi de paisagens cariocas, que eram vendidas para estrangeiros que visitavam a cidade. Também registrou a a Revolta da Armada ( 1893 – 1894), tornando-se um dos pioneiros da fotografia dos conflitos armados no Brasil. Partiu para Canudos, em 1897, onde, em 28 de junho, foi mortalmente ferido. Sua trágica morte o tornou, talvez, o primeiro repórter fotográfico morto durante um trabalho de campo, no Brasil, apesar de, até hoje, não se conhecer nenhum registro fotográfico que ele tenha feito do conflito.

 

 

O carioca Marc Ferrez (1843 – 1923) foi um brilhante cronista visual das paisagens e dos costumes cariocas da segunda metade do século XIX e do início do século XX. Sua vasta e abrangente obra iconográfica se equipara a dos maiores nomes da fotografia do mundo. Estabeleceu-se como fotógrafo com a firma Marc Ferrez & Cia, em 1867, na rua São José, nº 96, e logo se tornou o mais importante profissional da área no Rio de Janeiro. Cerca de metade da produção fotográfica de Ferrez foi realizada na cidade e em seus arredores, onde registrou, além do patrimônio construído, a exuberância das paisagens naturais.

 

 

A empresa Rodrigues & Co., estabelecida, em 1890, na rua dos Ourives, nº57,  produziu coleções significativas sobre o Rio de Janeiro, tendo realizado várias fotografias estereoscópicas.

 

Acessando o link para as fotografias da rotunda de Victor Meirelles disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá visualizar e magnificar as imagens.

 

Os Panoramas e Victor Meirelles

 

 

Foi Victor Meirelles que introduziu no Brasil o panorama, uma das primeiras formas de difusão, para multidões, de entretenimento ligado à cultura. Havia sido inventado no final do século XVIII pelo pintor irlandês Robert Barker (1739 – 1806), que o patenteou em 19 de junho de 1787. Inicialmente, chamava-se la nature a coup d´oeil ou a natureza num golpe de vista. Foi Barker que cunhou a palavra panorama: do grego pan (“tudo”) horama (“vista”), para descrever suas pinturas.

 

A primeira rotunda de Baker

A primeira rotunda de Robert Barker / O Panorama: da representação pictórico-espaciais às experiências digitais, pág. 8, de Thomaz Leitão de Souza.

 

“O cerne do espetáculo consistia nos efeitos ópticos provocados pela luz natural (ou artificial, conforme o caso), que atravessava a tela. As linhas de delimitação superior e inferior,na junção da tela com o edifício, eram mascaradas para dar a ilusão de uma paisagem real. Este era o objetivo. A confusão entre ilusão e realidade é a base do espetáculo…”

Heloisa Barbuy (1994)

 

Os panoramas ofereciam, para além da apreciação de uma pintura, uma nova experimentação espacial, uma fruição plástica numa espécie de imersão do observador. Era, segundo Eliane Considera, um novo meio de se representação da realidade, que utilizava uma nova visualidade. O gênero fez sucesso até 1830, saiu de moda, e foi mantido, principalmente pelo trabalho de Jean-Charles Langlois (1789 – 1870), um ex-combatente e pintor que retratava cenas de batalhas

 

 

Os panoramas voltaram a ter popularidade, a partir da década de 1880, principalmente na França, tendo-se espalhado por países europeus como a Alemanha e a Bélgica. O sucesso culminou na Exposição Universal em 1889, em Paris, quando foram grandes atrações. As exposições universais – a primeira foi realizada em Londres, em 1851 -, eram eventos disseminadores da modernidade, dos avanços da indústria, do comércio e do cosmopolitismo.

Os temas mais recorrentes dos panoramas eram batalhas, paisagens urbanas e temas religiosos. As rotundas foram especialmente projetadas para abrigá-los. Tinham uma arquitetura de interior redondo que possibilitava um tipo de observação onde o espectador podia se movimentar em várias direções, olhando do alto, a partir de um ponto central. O observador instalava-se no interior da pintura, ficando imerso na obra. Segundo o historiador Mario Cesar Coelho: Pintura e arquitetura faziam parte de um conjunto que associava ainda fotografia, figuras de cera e uma economia voltada para o entretenimento do público cada vez mais numeroso das grandes cidades. Porém, devido à invenção do cinema, o panorama entrou em decadência, em fins do século XIX, perdendo tanto o seu apelo comercial como sua atração como espetáculo.

 

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Fonte: Os Panoramas perdidos de Victor Meirelles: aventuras de um pintor acadêmico nos caminhos da modernidade, de Mario Cesar Coelho, página 30

 

“O espectador é como um convidado a fruir, com seu olhar, essa variedade de sensações e passagens. Com sua técnica que tende a uma sensibilidade impressionista, Victor Meirelles pretendeu contestar o realismo visual da crescente fotografia”.

Anna Maria Fausto Monteiro de Carvalho em O panorama no Brasil

 

“…as imagens são mais vivas que no cinema, porque elas permitem ao olhar o repouso que (ela) tem na reaidade. O cinema empresta aos objetos que ele mostra a inquietude de seu movimento, a imobilidade do olhar me parece mais importante.”

Franz Kafka (1883 – 1924), escritor tcheco, sobre o Kaiserpanorama,

um meio de entretenimento estereoscópico,em Journal d´un Voyage a Friedland et Reichenberg (jan/fev 1911)

 

Foi construída no centro do Rio de Janeiro, no antigo Largo do Paço Imperial, Praça XV de Novembro, perto do cais do porto, uma rotunda para a exibição dos panoramas de Victor Meirelles, com 36,66 metros de diâmetro, uma tela de de 115 metros de comprimento e 14,5 metros de altura.

 

Mapa do Rio de Janeiro com a localização da rotund na Praça XV

Mapa do Rio de Janeiro com a localização da rotunda na Praça XV, 1896 / Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro

 

Foi aberta à imprensa, em 2 de janeiro, e inaugurada para o público, com a presença do presidente Deodoro da Fonseca (1827 – 1892), em 3 de janeiro de 1891, com a exibição do Panorama do Rio de Janeiro e, no primeiro ano, foi visitada por cerca de 80 mil pessoas, o que correspondia, aproximadamente, a 17 por cento da população carioca na época (Novidades, 3 de janeiro de 1891, penúltima coluna; Diário do Commercio, 4 de janeiro de 1891, segunda colunaGazeta de Notícias, 5 de janeiro de 1891, quarta coluna).

 

 

Posteriormente, foram mostrados, no Rio de Janeiro, mais dois panoramas de autoria de Meirelles: em 1896, o Panorama da Entrada da Esquadra Legal na Revolta da Armada: Ruínas da Fortaleza de Villegaignon; e, em 1900, o Panorama do Descobrimento do Brasil. Este último foi exibido em outra rotunda, na Rua de Santa Luzia, nº 60, já que a Municipalidade da cidade ordenou que a rotunda original fosse retirada da Praça XV, em 1898 (Gazeta de Notícias19 de agosto de 1898, sexta coluna; e 12 de junho de 1900, última coluna).

 

 

O Panorama do Rio de Janeiro (1888 – 1896)

Victor Meirelles e Henri Langerock

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Victor Meirelles conheceu o pintor belga Henri Charles Langerock (1830 – 1915) durante uma exposição do artista estrangeiro, no Rio de Janeiro, em 1885.

 

 

Em abril, foi noticiada a chegada de Langerock à cidade e também a exposição de dois quadros de sua autoria, O jogo de bola e A Pesca ou A Pescaria, na Casa Martins. Em junho, a exposição de três vistas da Europa e três do Rio de Janeiro realizadas pelo belga, na Academia Imperial de Belas Artes, foi visitada por Dom Pedro II (1825 – 1891). Pouco depois, na Glace Elegant, Langerock expôs dois quadros retratando os príncipes filhos da Princesa Isabel (1846 – 1921) e do Conde d´Eu (1842 – 1922), feitos a partir de fotografias de Marc Ferrez (1843 – 1923). Em 1886, deu aulas de pinturas, desenhos e aquarelas, na rua do Passeio, nº 36 (Gazeta de Notícias, 29 de abril de 1885, última coluna; Gazeta de Notícias, 5 de maio de 1885, segunda colunaJornal do Commercio, 20 de junho de 1885, última coluna; Jornal do Commercio, 24 de junho de 1885, quinta colunaO Paiz, 4 de agosto de 1885, quarta colunaJornal do Commercio, 20 de agosto de 1885, primeira coluna; Jornal do Commercio, 19 de fevereiro de 1886, última coluna).

Os estudos iniciais do Panorama do Rio de Janeiro foram feitos por Meirelles, entre 1885 e 1886 com a colaboração de Langerock, que se encantou com a natureza carioca. Dom Pedro II (1825 – 1891) chegou a apreciar os referidos estudos durante uma exposição no ateliê de Meirelles, na Rua do Sacramento.

 

“Isto é o paraíso dos paisagistas”

Henri Langerock, 1885

Artigo do pintor e jornalista Joaquim José de França Júnior (1838 – 1890)

O Paiz, 27 de julho de 1885, sexta coluna

 

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Victor Meirelles. Estudo para Panorama do Rio de Janeiro: Entrada da Barra , c. 1885 / Acervo Museu Nacional de Belas Artes

 

Segundo Meirelles:“A vista foi tirada do morro de Santo Antônio…A cidade e a baía são representadas no panorama à hora do crepúsculo, o sol poente, em uma tarde do mês de Julho…”. 

Fundaram a empresa Meirelles & Langerock, a Empreza do Panorama da Cidade do Rio de Janeiro, estabelecida, em torno de junho de 1886. Em 15 de junho de 1886, Meirelles encaminhou à Junta Comercial da Corte do Rio de Janeiro um documento para fundá-la com o objetivo de angariar fundos para a realização do Panorama da Cidade do Rio de Janeiro(Revista Illustrada, 11 de abril de 1885, primeira coluna; e 17 de outubro de 1885, primeira coluna; Jornal do Commercio, 20 de junho de 1885, última colunaJornal do Commercio, 24 de junho de 1885, quinta colunaO Paiz, 21 de junho de 1885, quinta colunaO Paiz, 4 de julho de 1886, antepenúltima coluna; Jornal do Commercio, 10 de julho de 1886, quinta coluna).

 

 

Langerock voltou para a Europa com sua mulher e dois filhos, em 6 de outubro de 1886, no paquete francês Gironde (Jornal do Commercio, 6 outubro de 1886, última coluna). Meirelles partiu para a Europa, em 24 de dezembro de 1886, um dia após seu casamento com Rosália Cândida Ferreira França (? – 1903) (Jornal do Commercio, 24 de dezembro de 1886, penúltima colunaDiário de Notícias, 24 de dezembro de 1886, primeira coluna).

 

 

O Panorama do Rio de Janeiro na Bélgica e na França (1888 – 1889)

Meirelles e Langerock executaram a pintura do panorama, provavelmente, entre 1887 e 1888, no ateliê do belga, em Ostende, na Bélgica. Tentaram expô-lo em Londres e Victor Meirelles tinha, inclusive, o dia 2 de dezembro de 1887 como possível data de inauguração do panorama na Inglaterra, mas não havia rotundas disponíveis na ocasião (Jornal do Commercio, 26 de julho de 1887, terceira coluna).

Segundo uma Notícia explicativa, de março de 1888, que está na Biblioteca de Bruxelas, sobre o Panorama do Rio de Janeiro:

O Panorama é obra de dois artistas; o lado oriental é pintado pelo Sr, Langerock; o lado ocidental é pintado pelo Sr. Meirelles, a partir da grande palmeira até o aqueduto. 

 

 

Panorama do Rio de Janeiro foi exibido em Bruxelas, entre abril e outubro de 1888, com uma visitação de aproximadamente 50 mil pessoas em uma rotunda localizada no antigo Boulevard du Hainault, atual Boulevard Lemmonier, no edifício da Sociedade Internacional dos Panoramas. Na inauguração, contou com a presença dos reis da Bélgica, Leopoldo II (1835 – 1909) e Maria Henriqueta Ana da Áustria (1836 – 1902).

 

 

O panorama “pode ser um grande elemento de propaganda em favor do Brasil, mais proveitoso do que os dinheiros que o governo imperial despende auxiliando agentes mais ou menos ostensivos, tendo quase sempre mais em vista os sentimentos filantrópicos dos seus ministros, do que os interesses nacionais” (Gazeta de Notícias, 14 de abril de 1888, sexta colunaJornal do Commercio, 26 de abril de 1888, última coluna).

 

 

 

Panorama do Rio de Janeiroapós sua exibição na capital belga, seguiu para Paris, ficou depositado em uma contrução na Avenue de la Motte-Picquet e foi inaugurad0, em 14 de março de 1889, na Avenida Suffren, nº 80, próxima ao Campo de Marte, em frente ao Palácio de Máquinas. A data foi escolhida em homenagem ao aniversário da imperatriz Teresa Cristina (1822 – 1889). O panorama integrou a Exposição Universal de 1889, realizada entre 5 de maio e 31 de outubro de 1889. Nesta ocasião, Meirelles já havia desfeito sua sociedade com Langerock na Empresa Meirelles & Langerock. Segundo o pintor brasileiro, o belga queria receber mais do que havia sido especificado no contrato (Jornal do Commercio, 15 de março de 1889, terceira coluna).

 

A seta aponta para a rotunda onde o Panorama do Rio de Janeiro foi exposto em Paris / Fonte: Mario Cesar Coelho

A seta aponta para a rotunda onde o Panorama do Rio de Janeiro foi exposto em Paris, em 1889 / Fonte: Mario Cesar Coelho

 

Nos primeiros meses, a exposição do Panorama do Rio de Janeiro atingiu uma média de 200 a 500 pessoas por dia, mas, após a abertura oficial da Exposição Universal, a média de frequentadores caiu para cerca de 50 a 60 pessoas por dia. Lembramos que a rotunda onde era exibido o Panorama do Rio de Janeiro ficava perto, mas não dentro do espaço da exposição, fato que provavelmente prejudicou sua visitação.

 

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                                                     Jornal do Commercio, 14 de abril de 1889

 

A Exposição Universal de 1889 foi realizada em uma superfície de 96 hectares envolvendo as regiões da Esplanada dos Inválidos e do Trocadero, além do Campo de Marte. Trinta e cinco países participaram da festa do progresso, que reuniu 61.722 expositores, atraindo aproximadamente 32 milhões de visitantes. Outros panoramas foram exibidos no evento, dentre eles o Panorama Transatlantique, do francês Théophile Poilpot (1848 – 1915), onde os visitantes eram recebidos por atores fantasiados de tripulantes de um navio; o Panorama a História do Século, do belga Alfred Stevens (1823 – 1906) e do francês Henri Gerveux (1852 – 1929), que narrava um século da história da França a partir da Revolução Francesa de 1789, o mais visitado da exposição; e o Panorama de Tout Paris, do belga Charles Castellani (1838 – 1913).

Pelo Panorama do Rio de Janeiro, Meirelles e Langerock conquistaram a Medalha de Ouro na Exposição Universal de 1889.

 

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Fonte: Os Panoramas perdidos de Victor Meirelles: aventuras de um pintor acadêmico nos caminhos da modernidade, de Mario Cesar Coelho, página 118

 

O jornalista, escritor e diplomata Domício da Gama (1862 – 1925) publicou um artigo sobre a exibição do Panorama do Rio de Janeiro na capital francesa (Gazeta de Notícias, 19 de abril de 1889, penúltima coluna).

Tanto na Bélgica como na França o Panorama do Rio de Janeiro fez sucesso: era como se um pedaço da cidade, celebrada por sua beleza, estivesse ao alcance daqueles que o visitassem.

Foi também na exposição universal de 1889 que foi apresentado o Album de vues du Brésil, considerada a última peça para a promoção do Brasil imperial, representando um resumo iconográfico do país e de suas riquezas. Foi um dos livros que inaugurou a ilustração fotográfica do Brasil e é considerado por muitos uma espécie de balanço final do período imperial. Nas palavras do Barão do Rio Branco (1845 – 1912), responsável pela publicação, o álbum pretendia mostrar a fisionomia atual das principais cidades do Brasil e seus arredores. Sob esse aspecto, a presente coleção é a mais completa publicada até hoje. Trazia fotografias produzidas por Augusto Riedel (1836 -?)Joaquim Insley Pacheco (c.1830 – 1912)Marc Ferrez (1843 – 1923) e Rodolpho Lindemann (c. 1852 – 19?), dentre outros. A Primeira Missa no Brasil, de Meirelles, integrava a obra. Fazia parte da segunda edição de Le Brésil, extrato da Grande Enciclopédia, trabalho dirigido pelo geógrafo Émile Levasseur  (1828-1911), para o qual o Rio Branco havia colaborado (Jornal do Commercio, 17 de março de 1889, segunda colunaGazeta de Notícias, 19 de março de 1889, quinta colunaJornal do Commercio, 22 de novembro de 1889, antepenúltima coluna).

Os fotógrafos brasileiros ou que atuavam no Brasil Albert Richard Dietze (1838 – 1906)Alfredo Ducasble (18? – 19?)Felipe Augusto Fidanza (c. 1847 – 1903)Marc Ferrez (1843 – 1923), Rodolpho Lindemann (c. 1852 – ?), Nicholson & Ferreira (18? -?), José Thomaz Sabino (18? -?), Joaquim Insley Pacheco (c. 1830 – 1912) e José Ferreira Guimarães (1841 – 1924) participaram da Exposição de 1889. Ducasble foi premiado com uma Medalha de Prata; Ferrez e Fidanza, com medalhas de bronze. Georges Leuzinger (1813 – 1892) esteve presente com impressos e livros e Paulo Robin & Cia com gravuras e litogravuras.

 

 O Panorama no Rio de Janeiro (1890 – 1896)

Victor Meirelles retornou ao Brasil com sua mulher, em 22 de agosto de 1889, no vapor francês Ville de Pernambuco (Gazeta de Notícias, 23 de agosto de 1889, última coluna) e em 10 de outubro requereu à prefeitura do Rio de Janeiro autorização para contruir uma rotunda. Voltou à Europa, em novembro, de onde viria com o Panorama do Rio de Janeiro (Gazeta de Noticias, 10 de novembro de 1889, terceira coluna; Novidades, 21 de março de 1890, terceira coluna).

Em 1890, foi jubilado de seu cargo de pintor de paisagens da antiga Academia Imperial de Belas Artes, que, com a proclamação da República, passou a se chamar Escola Nacional de Belas Artes. Na época estava sob a direção do escultor Rodolfo Bernardelli (1852 – 1931). Meirelles era muito identificado com o Império tanto por suas bolsas de estudos e viagens assim como por encomendas feitas a ele pelo antigo regime.

Panorama do Rio de Janeiro ficou depositado no Arsenal de Guerra, onde sofreu avarias, tendo que ser novamente pintada nos pontos onde havia se deteriorado (O Paiz, 4 de setembro de 1890, quarta coluna).

 

 

A rotunda da Praça XV foi inaugurada com o Panorama do Rio de Janeiro, em 3 de janeiro de 1891. Foi exibido até 1896 (Gazeta de Notícias, 5 de janeiro de 1896, terceira coluna).

 

 

 

Nele a exuberância da paisagem urbana do Rio de Janeiro era devolvida para seus habitantes como num espelho, porém sem os  problemas da cidade como as condições precárias de habitação, saúde e saneamento. O panorama propiciava ao espectador um passeio por um Rio de Janeiro bonito e civilizado, flanando seu olhar, por exemplo, pelo Pão de Açúcar, pela Baía de Guanabara, pela Candelária, pelo Teatro São Pedro de Alcântara, pelo Real Gabinete Português de Leitura e também pela Tijuca (Gazeta de Notícias, 5 de janeiro de 1891Diário do Commercio, 17 de maio de 1891, última coluna).

 

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 Gazeta de Notícias, 5 de janeiro de 1891

 

A popularidade da rotunda e de seu panorama era tão grande que nela foi ambientada a peça do importante dramaturgo Arthur Azevedo (1855 – 1908), O Tribofe, que estreou no Theatro Appolo, em 16 de junho de 1892 (O Paiz, 16 de junho de 1892, última coluna). Sob o pseudônimo de Elói, o herói, Arthur Azevedo deixou claro ser um entusiasta da realização do Panorama do Rio de Janeiro em um artigo publicado na Gazeta de Notícias, do dia 23 de outubro de 1885.

 

 

ATO PRIMEIRO 

QUADRO PRIMEIRO 

O interior da rotunda em que se acha o panorama do Rio de Janeiro, na Praça 15 de Novembro. No centro, um duplo alçapão por onde os visitantes entram e saem. Um álbum, folhetos e binóculos. Cadeiras.

 CENA PRIMEIRA 

O Comendador, Eusébio, Dona Fortunata, Quinota, Benvinda, Juca, 1º visitante, 2º visitante, visitantes. 

(Uns apreciam o panorama, outros conversam, outros escrevem as suas impressões no álbum dos visitantes. Cena muito animada.)

 CORO

 Oh! que belo panorama!

Que trabalho! que primor!

Ganhará dinheiro e fama

O senhor comendador!

Comendador

Venham ver uma obra-prima

Que louvores mil desperta!

Ninguém dela se aproxima

Sem ficar de boca aberta!

 CORO

 Vejam, vejam como é bela!

Desde França, está provado

Que defronte desta tela

Fica tudo estatelado!

 

Victor Meirelles franqueou a entrada de alunos de escolas municipais ao Panorama do Rio de Janeiro e reverteu a renda de dois dias de sua visitação para os familiares das vítimas do naugrágio do Solimões (Diário do Commercio, 31 de maio de 1892, quarta coluna).

O maestro Electo Tavares (? – 1892) compôs a valsa Panorama do Rio de Janeiro, provavelmente em homenagem à obra de Meirelles. (O Paiz, 16 de fevereiro de 1894, segunda coluna).

Sobre o Panorama do Rio de Janeiro:

 

 

Do Panorama do Rio de Janeiro existem somente seis estudos originais e eles representam seis pontos de vistas diferentes do Morro de Santo Antônio.

Uma curiosidade: o Panorama do Rio de Janeiro de Victor Meirelles foi o terceiro de quatro panoramas cujo tema era a paisagem carioca. Em 1824, o primeiro foi exibido numa rotunda de Pierre Prévost (1764 – 1823), em Paris, realizado a partir de um desenho original de Félix Émile Taunay (1795 – 1881) (O Spectador Brasileiro23 de agosto de 1824, primeira coluna; e 29 de outubro de 1824, primeira coluna).

 

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Fonte: Os Panoramas perdidos de Victor Meirelles: aventuras de um pintor acadêmico nos caminhos da modernidade, de Mario Cesar Coelho, página 34

 

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As duas rotundas de Prévosta na Boulevard Montmartre, em Paris / O Panorama: da representação pictórico-espaciais às experiências digitais, pág. 10, de Thomaz Leitão de Souza.

 

Em 1828, o segundo, chamado Panorama da Cidade de São Sebastião e a baía do Rio de Janeiro, do pintor inglês Robert Burford (1791 – 1861), foi apresentado em Leicester Square, em Londres, na dupla rotunda do já mencionado pintor irlandês Robert Barker (1739 – 1806). A Leicester Square Panorama foi a primeira construção com o objetivo de ser um panorama – foi inaugurada em 14 de maio de 1793  e exibiu, até seu encerramento, em 1864, 126 panoramas.

 

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Description of a view of the city of St. Sebastian, and the Bay of Rio Janeiro: now exhibiting in the Panorama, Leicester-Square; painted by the proprietor, Robert Burford, from drawings taken in the year 1823, London, Printed by J. and C. Adlard, 1828. Evening Mail. June 25th, 1827

 

 

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Dupla rotunda de Barker, em Londres / O Panorama: da representação pictórico-espaciais às experiências digitais, pág. 10, de Thomaz Leitão de Souza.

 

O quarto, denominado Panorama da cidade e baía do Rio de Janeiro em 1910, de autoria do pintor francês Louis Jules Dumoulin (1860 – 1924), foi apresentado na Exposição Universal de Bruxelas, que ocorreu entre 23 de abril e 1º de novembro de 1910.

 

 

Panorama da Entrada da Esquadra Legal na Revolta da Armada: Ruínas da Fortaleza de Villegaignon ou Panorama da Revolta da Armada (1896 – 1898)

 

 

No segundo panorama de Victor Meirelles exibido na rotunda carioca da Praça XV, o pintor retratou a Revolta da Armada, ocorrida entre 1892 e 1895, mais especificamente o episódio da entrada das Forças Legais na Baía de Guanabara, em 23 de junho de 1894. Registrava-se, então, um evento contemporâneo, ocorrido já durante a vigência da então jovem República brasileira.

 

 

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 Panorama da Entrada das Forças Legais na Revolta da Armada: ruínas da Fortaleza de Villegaignon foi inaugurado em 20 de setembro de 1896 (Jornal do Commercio, 17 de setembro de 1896, quinta colunaO Paiz, 21 de setembro de 1896, primeira coluna). 

 

 

Note-se a semelhança de um dos estudos para a realização do panorama e de uma fotografia de autoria de Juan Gutierrez, evidenciando o uso de fotos para atingir-se o realismo nos panoramas. A fotografia era, de fato, um recurso explícito na elaboração dos panoramas.

 

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Victor Meirelles. Estudo para o Parnorama da Entrada a Esquadra Legal, c. 1894/1895

 

 

Este segundo panorama de Victor Meirelles ficou em exposição até 12 de setembro de 1898. Ele tentou que a obra fosse exibida na Exposição Universal de 1900, mas não teve sucesso.

 

 

O Panorama do Descobrimento do Brasil (1900- 1902)

 

O decreto nº 646, de 12 de dezembro de 1898 assinado pelo presidente do Conselho Municipal do Rio de Janeiro isentou de impostos o panorama que representaria a Descoberta do Brasil que integraria as comemorações do 4º centenário do evento histórico.

 

 

A inspiração para o Panorama do Descobrimento do Brasil foi o quadro A Primeira Missa no Brasil, realizado por Meirelles em 1861, e considerado sua obra-prima.

 

A Primeira Missa do Brasil (1861), óleo de Victor Meirelles / Acervo do Museu Nacional de Belas Artes

 

A celebração religiosa fica no centro do panorama e a faixa de areia é cercada por mar dos dois lados. Assim como no quadro que inspirou o panorama, os índios aparecem contemplando a celebração como se aprovassem a integração entre os portugueses e os habitantes originais do Brasil. Meirelles relaciona, desta forma, a descoberta do Brasil a um ato religioso.

 

 

 

 

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Foto da fachada de entrada para o Panorama do Descobrimento do Brasil / Fonte: Os Panoramas perdidos de Victor Meirelles: aventuras de um pintor acadêmico nos caminhos da modernidade, de Mario Cesar Coelho

 

Com a presença do presidente Campos Salles (1841 – 1913), o Panorama do Descobrimento do Brasil foi inaugurado, em 11 de junho de 1900, dentro das comemorações do IV Centenário do Descobrimento do Brasil, em uma nova rotunda, também no centro da cidade, na Rua Santa Luzia, nº 60, perto do Morro do Castelo, com os fundos para o Convento do Carmo (Gazeta de Notícias, 12 de junho de 1900, última coluna). Lembramos que a Municipalidade havia ordenado, em 1898, a demolição da rotunda da Praça XV (Gazeta de Notícias, 19 de agosto de 1898, sexta coluna).

 

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Este último panorama de Victor Meirelles ficou exposto até 4 de maio de 1902, sem obter muito sucesso como evidencia o artigo Abandonado!, de Carlos Nunes, que se referia tanto à pouca frenquência de visitantes ao panorama como à situação do pintor (Cidade do Rio, 8 de outubto de 1900Jornal do Brasil, 4 de maio de 1902, sexta coluna).

O Congresso Nacional concedeu ao artista 50 mil réis como auxílio a seu trabalho do Panorama do Descobrimento do Brasil (Jornal do Brasil, 7 de outubro de 1902, segunda coluna).

 

 

Meirelles doou os três panoramas ao governo, em 1902, com a promessa de que seriam eventualmente reexibidos, porém eles foram vistos, em 1910, pela última vez, abandonados no pátio do Museu Nacional, na Quinta da Boavista. Duarte Homem de Mattos pediu para expô-los por um período de cinco anos mas teve seu pedido indeferido pelo ministro do Interior (Jornal do Brasil, 18 de julho de 1902, terceira colunaO Paiz, 24 de julho de 1910, quarta coluna).

Há algumas cartas trocadas entre 26 de março e 31 de outubro de 1910 entre os diretores da Escola de Belas Artes e do Museu Nacional, o restaurador João José da Silva, o inspetor sanitário Luna Freire, Rodolpho Miranda, do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio; e Esmeraldino Olympio de Tores Bandeira, ministro da Justiça e Negócios Interiores; em que por acaso os panoramas voltaram a ser assunto porque durante as obras de embelezamento e reforma do Palácio e dos Jardins da Quinta da Boa Vista foram encontrados encaixotados e em péssimo estado. Atrapalhavam as obras!

Segundo o pintor Manoel Santiago (1897 – 1987), apodreceram nos porões da Escola de Belas Artes (A Nação, 27 de agosto de 1933, quarta coluna). Não se sabe ao certo o que aconteceu aos panoramas, mas o fato é que foram perdidos (A Noticia (RJ), 29 e 30 de outubro de 1912, segunda coluna).

Victor Meirelles faleceu, em 22 de fevereiro de 1903, num domingo de carnaval. Morreu na miséria, esquecido e marginalizado pela arte oficial. Foi um fim indigno para um dos maiores pintores brasileiros de todos os tempos (Jornal do Commercio, 23 de fevereiro, terceira coluna).

 

 

Victor Meirelles e a fotografia

 

 

‘A descoberta da fotografia, importante auxiliar das artes e ciências, e que há mais de meio século preocupava o espírito de doutos tornando-se objeto de estudo de alguns sábios da Inglaterra e da França, só nesses últimos tempos atingiu ao grande aperfeiçoamento que apresenta e que bem pouco deixa a desejar’.

Foi com essas palavras que o pintor Victor Meirelles iniciou o capítulo “Fotografia”, que constou no Relatório sobre a II Exposição Nacional de 1866, realizada no Palácio da Moeda do Rio de Janeiro entre 19 de outubro e 16 de dezembro de 1866. Segundo o professor Tadeu Chiarelli, com esse texto, o pintor traçou …aquela que talvez seja a primeira história da fotografia escrita no Brasil (talvez a primeira em língua portuguesa)…

Victor Meirelles, jurado da seção “Fotografia”, da referida exposição, deixou claro seu amplo conhecimento sobre o assunto, desde sua história até as peculiaridades dos processos fotográficos já desenvolvidos. Mostrou-se também entusiasmado com as aplicações da fotografia. Seu julgamento das obras expostas expressava rigor crítico e admiração. Usou em sua avaliação valores e parâmetros que eram, tradicionalmente, utilizados na crítica de pinturas como, por exemplo, os efeitos de luz e a nitidez das imagens. Com sua apreciação, Meirelles incentivou o diálogo entre a fotografia e a pintura.

 

Assista aqui Os Panoramas perdidos de Victor Meirelles – Por Mário César Coelho, programa realizado pelo Panorama Escola de Artes, em 26 de abril de 2022.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

BARBUY, Heloisa. O Brasil vai a Paris em 1889: um lugar na Exposição Universal.

BURGI, Sérgio; KOVENSKY, Julia; MARTINS, Carlos. Panoramas – A paisagem brasileira no acervo do Instituto Moreira Salles. IMS, 2012.

CARVALHO, Anna Maria Fausto Monteiro de. O panorama no Brasil in O Brasil Redescoberto. Curador geral Carlos Martins. Rio de Janeiro : Paço Imperial / Minc IPHAN, 1999. Catálogo da exposição.

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Série “Avenidas e ruas do Brasil” XV – Misericórdia: rua, largo e ladeira, no Rio de Janeiro, por Cássio Loredano

Série Avenidas e ruas do Brasil  XV – Misericórdia, rua, largo e ladeira, no Rio de Janeiro, por Cássio Loredano

Na décima quinta publicação da série Avenidas e ruas do Brasil a Brasiliana Fotográfica traz para seus leitores o artigo Misericórdia: rua, largo e ladeira, escrito pelo caricaturista Cássio Loredano. É a terceira contribuição de Cássio no portal – já escreveu sobre a Igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro e sobre a Rua da Carioca.

 

 

Acessando o link para as imagens da rua da Misericórdia disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Misericórdia: rua, largo e ladeira, no Rio de Janeiro

Cássio Loredano*

 

 

No Guia Rex de 1993, um dos últimos guias de ruas do Rio de Janeiro a serem impressos em papel, a Rua da Misericórdia ainda é apenas um trecho mínimo, de uns trinta metros, entre a lateral esquerda do Forum e o Largo da Misericórdia. Quem hoje a procure caminhará sobre a bonita restauração ajardinada da Praça do Expedicionário, ao fundo da qual – e muito próximo de onde esteve a velha rua – está o imponente obelisco-monumento ao Barão do Rio Branco. Fazia de fato pena ver o herói durante anos em vergonhoso estado de abandono na praça cercada de horrendos tabiques de lata amarrotados e emporcalhados.

 

 

A rua. (Esqueçamos régua e esquadro no traçado de ruas de cidades orgânicas.) A tirar do rabicho de rua do plano do guia um caminho mais ou menos direito rumo ao Paço Imperial, temos que chegaríamos, rasgando o prédio do Forum de fora a fora em diagonal, à esquina das atuais Rua Erasmo Braga e Avenida Presidente Antônio Carlos. Por ali cerca se dava o que Brasil Gerson, em sua História das Ruas do Rio, chama “o encontro” das ruas Direita e da Misericórdia. Esta, aberta para facilitar o acesso do cada vez mais importante centro administrativo e comercial da cidade a seu hospital, a Santa Casa da Misericórdia, na Praia de Santa Luzia, embrião da primeira faculdade de Medicina do Rio.

 

 

Da Misericórdia foi chamada por causa da Santa Casa e por passar, entre seu início no Paço e o hospital, pelo Largo da Misericórdia, com seu pequenino, lindo templo de Nossa Senhora do Bonsucesso, nos fundos da Santa Casa. E pelo início, aqui também à esquerda, da primeira rua da cidade, a Ladeira da Misericórdia.

 

Ladeira e Rua da Misericórdia / História das ruas do Rio por Brasil Gerson, página 13 da 6ª edição

Ladeira e Rua da Misericórdia, s/d. Rio de Janeiro, RJ / História das ruas do Rio, por Brasil Gerson, página 13 da 6ª edição

 

Este, a Ladeira, foi muito provavelmente o caminho que tomaram Natividade e Perpétua para subir ao Morro do Castelo na primeira cena de Esaú e Jacó, penúltimo romance de Machado de Assis.

“Era a primeira vez que as duas iam ao Morro do Castelo. Começaram de subir pelo lado da rua do Carmo. Muita gente há no Rio de Janeiro que nunca lá foi, muita haverá morrido, muita mais nascerá e morrerá sem lá pôr os pés. Nem todos podem dizer que conhecem uma cidade inteira. Um velho inglês, que aliás andara terras e terras, confiavame há muitos anos em Londres que de Londres só conhecia bem o seu clube, e era o que lhe bastava da metrópole e do mundo. Natividade e Perpétua conheciam outras partes, além de Botafogo, mas o Morro do  Castelo, por mais que ouvissem falar dele e da cabocla que lá reinava em 1871, era-lhes tão estranho e remoto como o clube. O íngreme, o desigual, o mal calçado da ladeira mortificavam os pés às duas pobres donas. “

O morro teve três ou quatro subidas. O escritor Gastão Cruls fala nessa quarta, uma Calçada da Sé, a partir do meio da Rua da Misericórdia, mas que nenhum outro historiador conhece e ela não está em nenhum dos mapas que às dezenas esquadrinharam aquele quadrilátero ao longo das décadas. Tais caminhos se fizeram necessários para dar à cidade que paulatinamente descia à várzea acesso ao que continuava no alto, a Catedral, que, com seu amplo adro de terra batida, atraía multidões para as grandes festas de São Sebastião, o Colégio dos Jesuítas, depois um quartel, um hospital militar e o observatório.

 

 

O que faz supor que foi a Misericórdia que Natividade tomou com a irmã para o morro é Machado indicar que as duas “começaram a subir pelo lado da Rua do Carmo“, isto é, o lado da velha ladeira. E terem deixado o coupé esperando-as meio escondido também daquele lado, no espaço entre a Igreja de São José e a Assembleia, de onde saiu para apanhá-las na esquina de São José com a Rua da Misericórdia e levá-las de volta a Botafogo.

E agora? Se já então constatava Machado que muito carioca nunca tinha estado no morro… E vaticinava, sem poder calcular o alcance do que dizia: “muita [gente] mais nascerá e morrerá sem lá por os pés.

Agora, só guiados pela magia de um Gastão Cruls, de um Brasil Gerson, um Noronha Santos, um Vieira Fazenda, um Lima Barreto, um João do Rio; ou pela magia dele próprio, o “Bruxo do Cosme Velho”, como Machado de Assis ficou conhecido.

 

 

 

 

* Cássio Loredano é jornalista e caricaturista. E, sobretudo, um apaixonado pelo Rio de Janeiro e suas histórias.

 

Links para as outras publicações da série “Avenidas e ruas do Brasil”

 Série “Avenidas e ruas do Brasil” I – Avenida Central, atual Rio Branco, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 7 de setembro de 2016

Série “Avenidas e ruas do Brasil” II – A Rua do Imperador em Petrópolis por Klumb, Leuzinger e Stahl, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 26 de junho de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” III – A Rua do Bom Jesus, no Recife, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 6 de agosto de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IV – A Rua 25 de Março, em São Paulo, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 1º de setembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” V – A Rua Direita, a Rua das Mercês e a Rua Macau do Meio, em Diamantina, Minas Gerais, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 22 de outubro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” VI  – Rua Augusto Ribas e outras, em Ponta Grossa, no Paraná, pelo fotógrafo Luiz Bianchi, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 16 de novembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” VII – A Avenida Atlântica, em Copacabana, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 23 de dezembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil VIII – A Rua da Carioca por Cássio Loredano, de autoria de Cássio Loredano, publicada em 20 de janeiro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IX – Ruas e panoramas do bairro do Catete, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 14 de julho de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” X – A Rua da Ajuda, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 9 de novembro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XI – A Rua da Esperança, em São Paulo, por Vincenzo Pastore, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 14 de dezembro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XII – A Avenida Paulista, o coração pulsante da metrópole, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 21 de janeiro de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XIII – A Rua Buenos Aires no Centro do Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 19 de julho de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XIV – A Avenida Presidente Vargas,, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 31 de agosto de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVI – “Alguma coisa acontece no meu coração”, a Avenida São João nos 469 anos de São Paulo, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 25 de janeiro de 2023

 

 

O Brasil do futebol, uma paixão nacional

Hoje a seleção brasileira de futebol estreia na Copa do Mundo do Catar jogando contra a Sérvia em busca do hexacampeonato e a Brasiliana Fotográfica traz para seus leitores fotografias dos estádios de futebol dos clubes cariocas Botafogo e Fluminense. Diversos jogadores que fizeram a glória do Brasil em copas do mundo e em outros campeonatos internacionais vieram destes dois times de futebol, dentre eles Amarildo (1939-), Castilho (1927 – 1987), Didi (1928 – 2001), Félix (1937 – 2012), Garrincha (1933 – 1983), Jairzinho (1944-), Marcos Carneiro de Mendonça (1894 – 1988), Nilton Santos (1925 – 2013), Paulo César (1949-) e Zagallo (1931-).

A imagem do estádio do Botafogo foi produzida, em 1º de abril de 1941, por Uriel Malta (1910 – 1994), filho do alagoano Augusto Malta (1864 – 1957), que foi fotógrafo da prefeitura do Rio de Janeiro entre 1903 e 1936.

 

 

Uma das fotos do Fluminense Football Club foi produzida, em torno de 1921, pelo sírio naturalizado brasileiro e autor das primeiras fotografias aéreas do Rio de Janeiro, Jorge Kfuri (1893 – 1965).

 

 

A outra, de 19 de julho de 1935, foi produzida pela Escola de Aviação Militar, cujo setor responsável pela atividade de fotografar era a Seção Foto e estava vinculada às escolas de aviação que formavam pilotos e observadores aéreos, além de funcionar como uma “escola técnica de aviação” que formava também militares especializados em fotografia e em toda a técnica envolvida.

 

 

Breve história da chegada do futebol no Brasil

 

 

Foi o paulista Charles Miller (1874 – 1953) que trouxe o futebol para o Brasil. Filho de britânicos, após uma estadia na Inglaterra, de 1884 a 1894, retornou ao Brasil trazendo duas bolas de futebol, um livro de regras e dois jogos de uniformes. A primeira partida aconteceu em 14 de abril de 1895: uma disputa entre os funcionários da Companhia de Gás e da São Paulo Railway, na Várzea do Carmo, em São Paulo. A equipe de Miller, a São Paulo Railway, derrotou a adversária por 4 x 2. O pioneirismo de Miller é contestado por alguns historiadores que afirmam que o futebol já era praticado no Brasil na década de 1870.

 

Retrospectiva dos campeões e da classificação do Brasil em Copas do Mundo

 

Faltam poucos meses: expectativas do Brasil para a Copa do Mundo do Catar

 

O Brasil é o único país que participou de todas as edições de copas do mundo e já sediou duas delas, em 1950 e em 2014. Além disso é o maior vencedor da competição, com cinco títulos: 1958, 1962, 1970, 1994 e 2002.

1930 – Copa do Mundo do Uruguai. Campeão: Uruguai. Brasil: 6º lugar

1934 – Copa do Mundo da Itália. Campeão: Itália. Brasil: 14º lugar

1938 – Copa do Mundo da França. Campeão: Itália. Brasil: 3º lugar

1950 – Copa do Mundo do Brasil. Campeão: Uruguai. Brasil: vice-campeão

1954 – Copa do Mundo da Suíça. Campeão: Alemanha. Brasil: 5º lugar

1958 – Copa do Mundo da Suécia. Campeão: Brasil

1962 - Copa do Mundo do Chile. Campeão: Brasil

1966 - Copa do Mundo da Inglaterra. Campeão: Inglaterra. Brasil: 11º lugar

1970 - Copa do Mundo do México. Campeão: Brasil.

1974 - Copa do Mundo da Alemanha Ocidental. Campeão: Alemanha. Brasil: 4º lugar

1978 – Copa do Mundo da Argentina. Campeão: Argentina. Brasil: 3º lugar

1982 - Copa do Mundo da Espanha. Campeão: Itália. Brasil: 5º lugar

1986 - Copa do Mundo do México. Campeão: Argentina. Brasil: 5º lugar

1990 - Copa do Mundo da Itália. Campeão: Alemanha. Brasil: 9º lugar

1994 - Copa do Mundo dos Estados Unidos. Campeão: Brasil

1998 - Copa do Mundo da França. Campeão: França. Brasil: vice-campeão

2002 - Copa do Mundo da Coreia do Sul e Japão. Campeão: Brasil

2006 - Copa do Mundo da Alemanha. Campeão: Itália. Brasil: 5º lugar

2010 - Copa do Mundo da África do Sul. Campeão: Espanha. Brasil: 6º lugar

2014 – Copa do Mundo do Brasil. Campeão: Alemanha. Brasil: 4º lugar

2018 -  Copa do Mundo da Rússia. Campeão: França. Brasil: 6º lugar

2022 - Copa do Mundo do Catar. Campeão: ? Brasil: ?

 

 fifa

 

 

A Brasiliana Fotográfica agradece à colaboração do talentoso caricaturista Cássio Loredano, uma enciclopédia do futebol, para elencar os jogadores do Botafogo e do Fluminense.

 

Andrea C.T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Link para o artigo Dia Nacional do Futebol, publicado na Brasiliana Fotográfica, em 19 de julho de 2016.