Cronologia de Izabel Jacintha Cunha Reeckell, a Madame Reeckell (1837 – 19?)

Cronologia de Izabel Jacintha Cunha Reeckell, a Madame Reeckell (1837 – 19?)

 

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Izabel Jacintha Reeckell; Photographia Allemã; Madame Reeckell. Retrato de homem não identificado, c. 1876. Porto Alegre, RS / Acervo IMS

 

Acima, uma carte de visite produzida na Photographia Allemã de Mme Reeckell. Por cima do endereço do ateliê, em Porto Alegre, está escrito outro endereço, Praia (?) de Santa Izabel, nº 86, Lisboa. Terá sido o endereço do primeiro ateliê de Madame Reeckell na cidade?

1837 – Madame Reeckel, cujo nome de solteira era Izabel Jacintha da Cunha, nasceu no Arquipélago dos Açores, na Ilha de São Jorge, na Vila de Velas, em 23 de outubro de 1837, filha de Antônio Machado da Cunha (1799 – 18?) e Ana Jacintha Emília. Foi batizada dias depois, em 29 de outubro, e seu nome homenageava sua mãe, e sua madrinha, Izabel.

1863 – O fotógrafo prussiano Carlos Frederico Johann Reeckel (18? – c. 189?), protestante luterano e futuro marido de Jacintha, chegou ao Rio de Janeiro no paquete Navarre, em 19 de março de 1863 (Diário Oficial do Império do Brasil, 20 de março de 1863).

1865 Carlos F. J. Reeckell tornou-se sócio de Bernardo Lopes Guimarães, o Lopes, em um estabelecimento na Rua do Hospício, futura Rua Buenos Aires, nº 104, no Rio de Janeiro, sob a firma Frederico & Lopes (Correio Mercantil, 11 de julho de 1865, sétima coluna).

1867 / 1870 - Em julho de 1867, Reeckell anunciava-se como retratista em Vassouras e participava ao respeitável público, aos Srs. fazendeiros da regiaõ que havia aberto uma photographia volante na cidade. Já havia trabalhado em Valença e em Santa Teresa (Jornal do Commercio, 19 de julho de 1867, última coluna).

 

 

Carlos e Izabel Jacintha se casaram, no Rio de Janeiro, em setembro de 1867. Ainda não se sabe, mas Izabel Jacintha havia migrado para o Brasil, possivemente com seus pais (O Apóstolo, 20 de outubro de 1867, terceira coluna).

Provisão de casamento – 20 de setembro:

 

 

Partiram para a os Açores, rumo à Ilha Terceira, no patacho português Terceirense, em 22 de setembro do mesmo ano (Jornal do Commercio, 23 de setembro de 1867, última coluna).

Carlos Reeckell trabalhou e teve ateliês fotográficos montados em três ilhas do arquipélago: São Miguel, Terceira e Faial. Anunciava-se como fotógrafo volante. Transmitiu seus conhecimentos a diversos fotográfos, dentre eles Antônio José Raposo (1848 – 19?), que adquiriu o ateliê e os clichês de Reeckell.

1870 –  O casal veio para o Brasil e chegou ao Ceará, em 15 de julho de 1870, a bordo da barca portuguesa Amisade (A Constituição, 4 de agosto de 1870, primeira colunaPedro II, 2 de agosto de 1870, primeira coluna).

 

 

 

Estabeleceram-se, em Fortaleza, na Praça Municipal, nº 40 (A Constituição, 20 de setembro de 1870, primeira coluna).

 

 

1872 – Em julho, Carlos Reeckell voltou de uma temporada no sul do Brasil (Pedro II (CE), 12 de julho de 1872, terceira coluna). Em novembro do mesmo ano, seu ateliê fotográfico ficava na Rua do Cajueiro, nº 25, e ele anunciava sua sociedade com Francisco Cândido Pereira Lins.

 

 

Foi noticiado que iria ao Rio de Janeiro (Pedro II, 10 de novembro de 1872, última coluna). Não foi mencionado se a senhora Reeckell o acompanhou nessa viagem.

1873 / 1874- O casal encontrava-se em Porto Alegre e o estabelecimento fotográfico de Carlos ficava na Rua dos Andradas, 14. Seu nome constava no Registro de Contribuintes de Imposto de Porto Alegre dos anos 1873-1874. Em torno desta época ele estava muito doente. Foi então que Madame Reeckell teria tomado a frente do negócio como administradora e fotógrafa no ateliê das Rua dos Andradas, 80 (Álbum do Domingo, 7 de abril de 1878, última  coluna).

Em dezembro de 1874, foi anunciado que a Fotografia Alemã, de Madame Reeeckell havia sido reformada (Jornal do Commercio (RS), de 12 de dezembro de 1874).

Fotografia Alemã

A abaixo assinada participa ao público que tendo feito reforma no atelier que se achava muito devassado, de hoje em diante preta-se a tirar retratos em que nada incomode, em qualquer hra do dia, anda mesmo que chova.

Chama a atenção do público para os retratos em porcelana de alto relevo (sic), abrilhantados, coloridos e também a óleo.

Uma dúzia de retratos por 4$ooors. simples, iguais ou melhores aos vindos da Europa, assim como dá amostras.

Rua dos Andradas, 80

Mme REECKELL

No Registro de Contribuintes de Imposto de Porto Alegre dos anos 1874-1875, o nome de Carlos foi lançado acompanhado com a observação que não mais existia.

1875 – Em abril de 1875, foi inaugurada  a segunda Exposição Provincial do Rio Grande do Sul ou Exposição Commercial e Industrial, uma exposição de agricultura, indústria e comércio, realizada no Edifício do Atheneo Rio Grandense, em Porto Alegre. Segundo o historiador Athos Damasceno (1902 – 1975), foi Carlos von Koseritz (1830 – 1890), jornalista, poeta e importante personalidade da colônia alemã no sul do Brasil durante o Segundo Império, quem sugeriu a inclusão na exposição “de uma seção especial destinada a exibição de obras de arte, assim imprimindo no parque um cunho de sensibilidade e cultura…”(Relatórios dos Presidentes das Províncias Brasileiras: Império (RS), 11 de março de 1875).

Dois fotógrafos apresentaram seus trabalhos nessa mostra: Madame Reeckell e o tradicional Luiz Terragno (c. 1831 – 1891), Fotógrafo da Casa Imperial, que possuía estabelecimentos fotográficos no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina (O Despertador, 19 de novembro de 1875, primeira coluna). Na  Exposição Nacional de 1875, inaugurada em 12 de dezembro e finda em 16 de janeiro de 1876, Terragno recebeu uma Medalha de Mérito (Jornal do Commercio, 4 de fevereiro de 1876, segunda coluna).

No estabelecimento de Mme. Reeckell, ela desenvolvia sua técnica da “luz tangente para fazer retratos nos dias sombrios (…) e mesmo nos chuvosos” (A Reforma, 30 de julho de 1875).

Houve uma polêmica em torno deste sistema fotográfico entre Terragno e Madame Reeckell que no jornal A Reforma, de 4 de agosto de 1870, publicou:

“Luz Tangente. O sr. Terragno, em a pedido inserto no Riograndense, tratando dos retratos à luz tangente, diz que os não tiro pelo mesmo sistema dos seus. Os retratos chamados pelo sr. Terragno de à luz tangente –  são na minha opinião iguais aos que tiro e tenho anunciado. Quem quiser convencer disso venha à minha casa para ver os retratos que tenho tirado e outros de fotógrafos do Rio de Janeiro, também do mesmo sistema, isto é, preferindo-se os dias escuros para o trabalho dessa qualidade de fotografias. O sr. Terragno é injusto quando atribui-me querer imitá-lo, dando o nome de retratos – à luz tangente – que só s.s. pode tirar, quando é certo que os tiro há muito tempo. Desafia-me a apresentar os aparelhos e ingredientes que são precisos. Poderá vê-los  quem quiser. O sistema é simples e não faço mistério para com as pessoas que, visitando a minha galeria, pedem par ver os aparelhos de que me sirvo. Quanto a supor que usei do emblema seu no meu anúncio publicado na Reforma, declaro que nada tenho com isso. E o sr. Terragno com aquela empresa deve entender-se a respeito. M Reeckell”.

Na IV Exposição Nacional de 1875, inaugurada em 12 de dezembro e finda em 16

Madame Reeckell, alegando estado de pobreza, requereu à Câmara Municipal de Porto Alegre ser aliviada do pagamento de imposto de sua casa de retratista (Atas da Câmara, 4ª sessão, 21 de outubro de 1875). Parece que seu pedido foi atendido já que o nome de Carlos deixou de aparecer no Registro de Contribuintes de Imposto de Porto Alegre de 1875-1876.

1878 – A família de artistas Riosa, a quem Carlos Reeckell já havia ajudado no Ceará, reverteu à família Reeckell o valor que arrecadou em um dos espetáculos que realizou em Porto Alegre (Álbum do Domingo, 7 de abril de 1878, segunda coluna). A família Riosa, procedente da Ilha de São Miguel, nos Açores, composta por Bonifacio Riosa e seus filhos menores, esteve com o casal Reeckell em 1870, no Ceará. Eles haviam chegado em Fortaleza, em agosto de 1870, na embarcação Íris, cerca e um mês após à chegada dos Reeckell na cidade. Segundo Ary Bezerra Leite, autor do livro História da Fotografia no Ceará do século XIX (2019), eles já se conheciam dos Açores.

 

 

Neste ano, a família Reeckell mudou-se para Portugal e inaugurou um ateliê em Lisboa conforme anunciado em uma propaganda do estabelecimento de 1897.

1892 – Segundo a tese de Paula Cristina Viegas, segundo anuários portugueses, Carlos Reeckell havia se instalado em Lisboa, com um novo negócio, na Rua Saraiva de Carvalho, 86.

1896 - Entre esse ano e 1898, a Photographia Allemã, situava-se na Rua Saraiva de Carvalho, sob a administração de Madame Reeckell, já viúva.

1897 – A partir desse ano, o estabelecimento passou a existir em outros endereços, conforme anunciado:

“Photographia Allemã 158, avenida da Liberdade 211, rua de S. José. Este atelier fundado em 1878, executa todos os trabalhos com a maior seriedade. Retratos até ao tamanho natural. Instantaneos de creanças. Incumbe-se trabalhos de photographos amadores”. 

Mulheres Fotógrafas em Portugal (1844 – 1918)

Maria E. R. Campos 1.ª Photographa Portugueza

c. 1900 – Parece que a Viúva Reeckell ficou à frente da Photographia Allemã até os primeiros anos do século XX.

 

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

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