Série “O Rio de Janeiro desaparecido” XXIII e Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVII – A Praia e a Rua do Russel, na Glória

A Brasiliana Fotográfica publica o 23º artigo da Série O Rio de Janeiro desaparecido e o 17º da série Avenidas e ruas do Brasil, com o tema Praia e Rua do Russel, na Glória. Grande parte da Praia do Russel foi aterrada, em meados da década de 1900, para a construção da Avenida Beira-Mar, inaugurada, em 1906, cuja abertura foi, assim como a execução da Avenida Central, uma das grandes obras realizadas durante a gestão do prefeito Francisco Pereira Passos (1836 – 1913) (Gazeta de Notícias, 13 de novembro de 1906). A Praia do Russel desapareceu completamente com a criação do Aterro do Flamengo, na década de 1960. A Rua do Russel será durante os próximos quatro anos o local da sede carioca do Instituto Moreira Salles, uma das instituições fundadoras do portal.

 

 

A publicação traz imagens produzidas pelos fotógrafos amadores Archanjo Sobrinho (18? – 19?) e Guilherme Santos (1871 – 1966), por Juan Gutierrez (c. 1860 – 1897), um dos mais importantes fotógrafos paisagistas dos oitocentos, no Brasil; pelo alagoano Augusto Malta (1864 – 1957), fotógrafo da Prefeitura do Rio de Janeiro entre 1903 e 1937; por Jorge Kfuri (1893 – 1965), autor das primeiras fotografias aéreas do Rio de Janeiro, por Georges Leuzinger (1813 – 1892), um dos mais importantes difusores para o mundo da fotografia sobre o Brasil no século XIX, além de pioneiro das artes gráficas no país; por Antônio Caetano da Costa Ribeiro (18? – 19?) e por Marc Ferrez (1843 – 1923), cuja vasta e abrangente obra iconográfica se equipara a dos maiores nomes da fotografia do mundo.

 

“Russel, a praia é do Russel em nome, porque propriamente falando ela é de El-Rei, do seu povo e dos poetas que ali vão inspirar-se. é uma praia parnaso”.

Diário do Rio de Janeiro, de 12 de setembro de 1871

 

 

O prefeito Pereira Passos promoveu uma significativa reforma urbana no Rio de Janeiro, realizando diversas demolições, conhecidas popularmente como a política do “bota-abaixo”, que contribuiu fortemente para o surgimento do Rio de Janeiro da Belle Époque. Essas transformações foram definidas por Alberto Figueiredo Pimentel (1869-1914), autor da seção “Binóculo”, da Gazeta de Notícias, com a máxima “O Rio civiliza-se”, que se tornou o slogan da reforma urbana carioca.

 

 

Acessando o link para as fotografias da Praia do Russel selecionadas e disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá visualizar e magnificar as imagens.

 

 

 

Voltando à Praia do Russel. Até os primeiros anos da década de 1860, chamava-se Praia de Pedro I, mas com o início das operações da primeira empresa responsável pelo tratamento do esgoto da cidade, a Rio de Janeiro City Improvements Limited, mudou de nome (Correio Mercantil, 30 de janeiro de 1863, terceira colunaDiário do Rio de Janeiro, 13 de setembro de 1869, terceira coluna).

 

“O leitor conhece a formosa praia que circunda a pitoresca colina da Glória; chamam-na praia do Russel. Aí se vai banhar crescido número de pessoas”. 

Diário do Rio de Janeiro, 6 de abril de 1871

 

A lei n. 719, de 28 de setembro de 1853, aprovada pelo decreto n. 1.929, de 29 de abril de 1857, autorizou o contrato estabelecido entre o governo imperial e os empresários Joaquim Pereira Viana de Lima Júnior e João Frederico Russell (18? – 1888), cujo sobrenome acabou dando nome à praia e a um pequeno bairro entre a Glória e o Flamengo. Ele era engenheiro, filho de ingleses, e morava numa casa, na Praia do Russel, demolida em 1920 para a construção do Hotel Glória, inaugurado em 15 de agosto de 1922. Russel foi o presidente da Companhia Melhoramentos da Cidade de Santos (Correio Mercantil, 30 de janeiro de 1863, terceira coluna).

 

 

 

 

Segundo o contrato, os empresários teriam a exclusividade, durante noventa anos, sobre o serviço de limpeza das casas e do esgoto das águas pluviais da cidade do Rio de Janeiro. A obras começaram em 1862, ano em que o Decreto n. 3.004, de 21 de novembro estabeleceu as condições para a execução de itens presentes no mencionado contrato de 1857, que admitiu a constituição de uma empresa fora do país para realizar as obras de implantação do sistema de esgotamento sanitário. Coube ao membro do Instituto de Engenheiros Civis de Londres, Eduardo Gotto, a elaboração do projeto do sistema contratado, bem como a constituição de uma empresa de capital inglês, a The Rio de Janeiro City Improvements Company Limited, conhecida depois como City, para a qual o contrato de Russel e Lima Junior foi transferido, em maio de 1863 (Correio da Manhã, 15 de novembro de 1940).

 

 

A Rua do Russel teve aprovada essa denominação em 1868. Ficava no prolongamento da Praia do Flamengo e terminava junto às obras do esgoto (Correio Mercantil, 29 de janeiro de 1868, sexta coluna).

 

 

 

 

Uma das primeiras casas construídas no local foi a do hotel-balneário Grand Chalet, do comendador Domingos Moitinho, importante industrial brasileiro (c. 1825 – 1895), que morava num casarão ao lado que foi, posteriorente, transformado no Hotel Russel.

 

 

Também moraram no Russel o poeta Francisco Otaviano (1825 – 1899) e Hugo A. Gruber, autor do livro Método de Ahn, ensino prático de aprender com facilidade a língua francesa (O Sexo Feminino, 6 de junho de 1874).

 

 

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Agenda Bafafá

Arquivo Nacional

GERSON, Brasil. História das Ruas do Rio. Rio de Janeiro: Bem-Te-Vi, 2013.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

Portal da Cedae

Revista de Engenharia, 14 de março de 1888

 

Links para os outros artigos da Série O Rio de Janeiro desaparecido

 

Série O Rio de Janeiro desaparecido I Salas de cinema do Rio de Janeiro do início do século XXde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 26 de fevereiro de 2016.

Série O Rio de Janeiro desaparecido II – A Exposição Nacional de 1908 na Coleção Família Passos, de autoria de Carla Costa, historiadora do Museu da República, publicado na Brasiliana Fotográfica, em 5 de abril de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido III – O Palácio Monroe, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica, em 9 de novembro de 2016.

Série O Rio de Janeiro desaparecido IV - A via elevada da Perimetral, de autoria da historiadora Beatriz Kushnir, publicado na Brasiliana Fotográfica em 23 de junho de 2017.

Série O Rio de Janeiro desaparecido V – O quiosque Chopp Berrante no Passeio Público, Ferrez, Malta e Charles Dunlopde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portalpublicado na Brasiliana Fotográfica em 20 de julho de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VI – O primeiro Palácio da Prefeitura Municipal do Rio de Janeirode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de setembro de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VII – O Morro de Santo Antônio na Casa de Oswaldo Cruzde autoria de historiador Ricardo Augusto dos Santos da Casa de Oswaldo Cruzpublicado na Brasiliana Fotográfica em 5 de fevereiro de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VIII – A demolição do Morro do Castelode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portalpublicado na Brasiliana Fotográfica em 30 de abril de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido IX – Estrada de Ferro Central do Brasil: estação e trilhosde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de novembro de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido X – No Dia dos Namorados, um pouco da história do Pavilhão Mourisco em Botafogode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de junho de 2020.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XI – A Estrada de Ferro do Corcovado e o mirante Chapéu de Sol, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 22 de julho de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XII – o Teatro Lírico (Theatro Lyrico), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 15 de setembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIII – O Convento da Ajuda, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de outubro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIV – O Conselho Municipal, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 19 de novembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XV – A Praia de Santa Luzia no primeiro dia do verão, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 21 de dezembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVI – O prédio da Academia Imperial de Belas Artes, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, publicado na Brasiliana Fotográfica em 13 de janeiro de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVII – Igreja São Pedro dos Clérigos, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 18 de março de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVIII – A Praça Onze, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 20 de abril de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIX – A Igrejinha de Copacabana, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 23 de junho de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XX – O Pavilhão dos Estados, futuro prédio do Ministério da Agricultura, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 26 de julho de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXI – O Chafariz do Largo da Carioca, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 19 de setembro de 2022. 

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXII – A Cadeia Velha que deu lugar ao Palácio Tiradentes, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 11 de abril de 2023.

 

Links para as outras publicações da série “Avenidas e ruas do Brasil”

 Série “Avenidas e ruas do Brasil” I – Avenida Central, atual Rio Branco, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 7 de setembro de 2016

Série “Avenidas e ruas do Brasil” II – A Rua do Imperador em Petrópolis por Klumb, Leuzinger e Stahl, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 26 de junho de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” III – A Rua do Bom Jesus, no Recife, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 6 de agosto de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IV – A Rua 25 de Março, em São Paulo, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 1º de setembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” V – A Rua Direita, a Rua das Mercês e a Rua Macau do Meio, em Diamantina, Minas Gerais, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 22 de outubro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” VI  – Rua Augusto Ribas e outras, em Ponta Grossa, no Paraná, pelo fotógrafo Luiz Bianchi, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 16 de novembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” VII – A Avenida Atlântica, em Copacabana, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 23 de dezembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil VIII – A Rua da Carioca por Cássio Loredano, de autoria de Cássio Loredano, publicada em 20 de janeiro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IX – Ruas e panoramas do bairro do Catete, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 14 de julho de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” X – A Rua da Ajuda, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 9 de novembro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XI – A Rua da Esperança, em São Paulo, por Vincenzo Pastore, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 14 de dezembro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XII – A Avenida Paulista, o coração pulsante da metrópole, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 21 de janeiro de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XIII – A Rua Buenos Aires no Centro do Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 19 de julho de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XIV – A Avenida Presidente Vargas, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 31 de agosto de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XV – Misericórdia: rua, largo e ladeira, no Rio de Janeiro, por Cássio Loredano, de autoria de Cássio Loredano, publicada em 8 de dezembro de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVI – Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVI – Alguma coisa acontece no meu coração, a Avenida São João nos 469 anos de São Paulo, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 25 de janeiro de 2023

 

 

 

 

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVI – “Alguma coisa acontece no meu coração”, a Avenida São João nos 469 anos de São Paulo

“Alguma coisa acontece no meu coração que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João”. Assim começa Sampa, do compositor Caetano Veloso, uma das mais belas canções sobre a São Paulo – foi lançada no álbum Muito – Dentro da Estrela Azulada, em 1978. Então, para homenagear os 469 anos de fundação da cidade, a Brasiliana Fotográfica destaca uma foto aérea da Avenida São João, do acervo do Museu Aeroespacial, uma de suas instituições parceiras, além de registros da cidade realizados por Militão Augusto de Azevedo (1837 – 1905) e Guilherme Gaensly (1843 – 1948) na publicação do 16º artigo da Série “Avenidas e ruas do Brasil”.

Destacamos também artigos já publicados no portal sobre a cidade, que foi fundada em 25 de janeiro 1554 com a celebração de uma missa que oficializou a criação de um colégio jesuíta, no alto de uma colina entre os rios Anhangabaú e Tamanduateí, por 12 padres, dentre eles José de Anchieta (1834 – 1597) e Manoel da Nóbrega (1517 – 1590). É onde fica o Pátio do Colégio.

 

 

São Paulo é o principal centro corporativo, financeiro e mercantil da América do Sul assim como a cidade mais populosa do Brasil.

 

 

Muitos fotógrafos registraram diversos aspectos da cidade de São Paulo desde o século XIX, dentre eles Alfredo Krausz (18? – 19?), Claude Lévi-Strauss (1908 – 2009), Edgard Egydio de Souza (1867 – 1956), Frédéric Manuel (18? – 19?), Guilherme Gaensly (1843 – 1928), Marc Ferrez (1843 – 1923), Militão Augusto de Azevedo (1837 – 1905), Otto Rudolf Quaas (c. 1862 – c. 1930), Valério Vieira (1862 – 1941), Vincenzo Pastore (1865 – 1918) e fotógrafos ainda não identificados, cujas imagens podem ser apreciadas nos artigos listados a final desta publicação.

Militão e Gaensly são considerados os fotógrafos que mais cultuaram São Paulo. Militão produziu o Álbum comparativo da cidade de São Paulo 1862-1887, sua obra-prima, que foi o primeiro realizado com o objetivo de mostrar as mudanças ocorridas na capital paulista, devido ao progresso. O álbum evidencia o valor que Militão dava à fotografia como documento de época inserido em projeto artístico que sugere um passeio pela cidade no período de 1862 a 1887. O trabalho do fotógrafo muito contribuiu para a formação da imagem moderna de São Paulo.

 

 

Gaensly fotografou a cidade em plena transição para a modernidade, tendo registrado todos os aspectos urbanos da nova metrópole que surgia, como a inauguração dos bondes elétricos que substituíram as carroças, o Jardim da Luz, a agitação do comércio na região do entorno da Praça da Sé, o crescimento da Avenida Paulista, além de palacetes, chácaras, edifícios públicos, igrejas, escolas, teatros e hospitais. Essas vistas de São Paulo foram comercializadas em álbuns impressos na Suíça a partir de fotografias em papel albuminado e de colotipias. Fotografou também a chegada de imigrantes italianos em Santos e em São Paulo. Dentre os prêmios que recebeu, está uma medalha de prata conquistada na Exposição Universal de Saint Louis, em 1904.

 

 

Artigos sobre a cidade de São Paulo já publicados na Brasiliana Fotográfica

 

 

Militão Augusto de Azevedo (1837 – 1905) e sua obra-prima, o “Álbum comparativo da cidade de São Paulo 1862-1887″, publicado em 24 de maio de 2015

Vincenzo Pastore, um fotógrafo entre dois mundos (Casamassima, Itália 5 de agosto de 1865 – São Paulo, Brasil 15 de janeiro de 1918), publicado em 5 de agosto de 2015

São Paulo sob as lentes do fotógrafo Guilherme Gaensly (1843 – 1928), publicado em 25 de janeiro de 2017

Os trinta Valérios, uma fotografia bem-humorada de Valério Vieira (1862 – 1941), publicado em 21 de março de 2017

O fotógrafo austríaco Otto Rudolf Quaas e o construtor Ramos de Azevedo, publicado em 28 de setembro de 2017

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IV – Rua 25 de março em São Paulo, publicado em 1º de setembro de 2020

A cidade de São Paulo e Tebas (1721 – 1811), reconhecido como arquiteto, em 2018, mais de 100 anos após sua morte, pubicado em 25 de janeiro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XI – A Rua da Esperança, em São Paulo, por Vincenzo Pastore, publicado em 14 de dezembro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XII – A Avenida Paulista, o coração pulsante da metrópole, publicado em 21 de janeiro de 2022.

Série “1922 – Hoje, há 100 anos” II – A Semana de Arte Moderna, publicado em 13 de fevereiro de 2022.

O Edifício Martinelli, antigo referencial e símbolo de São Paulo, publicado em 16 de maio de 2022

 

 

Assinaturas dos membros do 1º Governo de São Paulo, 1555

Assinaturas dos membros do 1º Governo de São Paulo, 1555 / São Paulo Antigo e São Paulo Moderno

Sampa

Caetano Veloso

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Brasiliana Fotográfica

São Paulo Antigo e São Paulo Moderno – 1554-1904. São Paulo : Editores Vanorden & Cia, 1905.

 

Links para as outras publicações da série “Avenidas e ruas do Brasil”

 Série “Avenidas e ruas do Brasil” I – Avenida Central, atual Rio Branco, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 7 de setembro de 2016

Série “Avenidas e ruas do Brasil” II – A Rua do Imperador em Petrópolis por Klumb, Leuzinger e Stahl, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 26 de junho de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” III – A Rua do Bom Jesus, no Recife, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 6 de agosto de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IV – A Rua 25 de Março, em São Paulo, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 1º de setembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” V – A Rua Direita, a Rua das Mercês e a Rua Macau do Meio, em Diamantina, Minas Gerais, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 22 de outubro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” VI  – Rua Augusto Ribas e outras, em Ponta Grossa, no Paraná, pelo fotógrafo Luiz Bianchi, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 16 de novembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” VII – A Avenida Atlântica, em Copacabana, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 23 de dezembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil VIII – A Rua da Carioca por Cássio Loredano, de autoria de Cássio Loredano, publicada em 20 de janeiro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IX – Ruas e panoramas do bairro do Catete, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 14 de julho de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” X – A Rua da Ajuda, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 9 de novembro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XI – A Rua da Esperança, em São Paulo, por Vincenzo Pastore, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 14 de dezembro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XII – A Avenida Paulista, o coração pulsante da metrópole, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 21 de janeiro de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XIII – A Rua Buenos Aires no Centro do Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 19 de julho de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XIV – A Avenida Presidente Vargas,, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 31 de agosto de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XV – Misericórdia: rua, largo e ladeira, no Rio de Janeiro, por Cássio Loredano, de autoria de Cássio Loredano, publicada em 8 de dezembro de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVII  e série “O Rio de Janeiro desaparecido” XXIII – A Praia e a Rua do Russel, na Glória, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 15 de maio de 2023

 

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XV – Misericórdia: rua, largo e ladeira, no Rio de Janeiro, por Cássio Loredano

Série Avenidas e ruas do Brasil  XV – Misericórdia, rua, largo e ladeira, no Rio de Janeiro, por Cássio Loredano

Na décima quinta publicação da série Avenidas e ruas do Brasil a Brasiliana Fotográfica traz para seus leitores o artigo Misericórdia: rua, largo e ladeira, escrito pelo caricaturista Cássio Loredano. É a terceira contribuição de Cássio no portal – já escreveu sobre a Igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro e sobre a Rua da Carioca.

 

 

Acessando o link para as imagens da rua da Misericórdia disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Misericórdia: rua, largo e ladeira, no Rio de Janeiro

Cássio Loredano*

 

 

No Guia Rex de 1993, um dos últimos guias de ruas do Rio de Janeiro a serem impressos em papel, a Rua da Misericórdia ainda é apenas um trecho mínimo, de uns trinta metros, entre a lateral esquerda do Forum e o Largo da Misericórdia. Quem hoje a procure caminhará sobre a bonita restauração ajardinada da Praça do Expedicionário, ao fundo da qual – e muito próximo de onde esteve a velha rua – está o imponente obelisco-monumento ao Barão do Rio Branco. Fazia de fato pena ver o herói durante anos em vergonhoso estado de abandono na praça cercada de horrendos tabiques de lata amarrotados e emporcalhados.

 

 

A rua. (Esqueçamos régua e esquadro no traçado de ruas de cidades orgânicas.) A tirar do rabicho de rua do plano do guia um caminho mais ou menos direito rumo ao Paço Imperial, temos que chegaríamos, rasgando o prédio do Forum de fora a fora em diagonal, à esquina das atuais Rua Erasmo Braga e Avenida Presidente Antônio Carlos. Por ali cerca se dava o que Brasil Gerson, em sua História das Ruas do Rio, chama “o encontro” das ruas Direita e da Misericórdia. Esta, aberta para facilitar o acesso do cada vez mais importante centro administrativo e comercial da cidade a seu hospital, a Santa Casa da Misericórdia, na Praia de Santa Luzia, embrião da primeira faculdade de Medicina do Rio.

 

 

Da Misericórdia foi chamada por causa da Santa Casa e por passar, entre seu início no Paço e o hospital, pelo Largo da Misericórdia, com seu pequenino, lindo templo de Nossa Senhora do Bonsucesso, nos fundos da Santa Casa. E pelo início, aqui também à esquerda, da primeira rua da cidade, a Ladeira da Misericórdia.

 

Ladeira e Rua da Misericórdia / História das ruas do Rio por Brasil Gerson, página 13 da 6ª edição

Ladeira e Rua da Misericórdia, s/d. Rio de Janeiro, RJ / História das ruas do Rio, por Brasil Gerson, página 13 da 6ª edição

 

Este, a Ladeira, foi muito provavelmente o caminho que tomaram Natividade e Perpétua para subir ao Morro do Castelo na primeira cena de Esaú e Jacó, penúltimo romance de Machado de Assis.

“Era a primeira vez que as duas iam ao Morro do Castelo. Começaram de subir pelo lado da rua do Carmo. Muita gente há no Rio de Janeiro que nunca lá foi, muita haverá morrido, muita mais nascerá e morrerá sem lá pôr os pés. Nem todos podem dizer que conhecem uma cidade inteira. Um velho inglês, que aliás andara terras e terras, confiavame há muitos anos em Londres que de Londres só conhecia bem o seu clube, e era o que lhe bastava da metrópole e do mundo. Natividade e Perpétua conheciam outras partes, além de Botafogo, mas o Morro do  Castelo, por mais que ouvissem falar dele e da cabocla que lá reinava em 1871, era-lhes tão estranho e remoto como o clube. O íngreme, o desigual, o mal calçado da ladeira mortificavam os pés às duas pobres donas. “

O morro teve três ou quatro subidas. O escritor Gastão Cruls fala nessa quarta, uma Calçada da Sé, a partir do meio da Rua da Misericórdia, mas que nenhum outro historiador conhece e ela não está em nenhum dos mapas que às dezenas esquadrinharam aquele quadrilátero ao longo das décadas. Tais caminhos se fizeram necessários para dar à cidade que paulatinamente descia à várzea acesso ao que continuava no alto, a Catedral, que, com seu amplo adro de terra batida, atraía multidões para as grandes festas de São Sebastião, o Colégio dos Jesuítas, depois um quartel, um hospital militar e o observatório.

 

 

O que faz supor que foi a Misericórdia que Natividade tomou com a irmã para o morro é Machado indicar que as duas “começaram a subir pelo lado da Rua do Carmo“, isto é, o lado da velha ladeira. E terem deixado o coupé esperando-as meio escondido também daquele lado, no espaço entre a Igreja de São José e a Assembleia, de onde saiu para apanhá-las na esquina de São José com a Rua da Misericórdia e levá-las de volta a Botafogo.

E agora? Se já então constatava Machado que muito carioca nunca tinha estado no morro… E vaticinava, sem poder calcular o alcance do que dizia: “muita [gente] mais nascerá e morrerá sem lá por os pés.

Agora, só guiados pela magia de um Gastão Cruls, de um Brasil Gerson, um Noronha Santos, um Vieira Fazenda, um Lima Barreto, um João do Rio; ou pela magia dele próprio, o “Bruxo do Cosme Velho”, como Machado de Assis ficou conhecido.

 

 

 

 

* Cássio Loredano é jornalista e caricaturista. E, sobretudo, um apaixonado pelo Rio de Janeiro e suas histórias.

 

Links para as outras publicações da série “Avenidas e ruas do Brasil”

 Série “Avenidas e ruas do Brasil” I – Avenida Central, atual Rio Branco, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 7 de setembro de 2016

Série “Avenidas e ruas do Brasil” II – A Rua do Imperador em Petrópolis por Klumb, Leuzinger e Stahl, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 26 de junho de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” III – A Rua do Bom Jesus, no Recife, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 6 de agosto de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IV – A Rua 25 de Março, em São Paulo, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 1º de setembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” V – A Rua Direita, a Rua das Mercês e a Rua Macau do Meio, em Diamantina, Minas Gerais, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 22 de outubro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” VI  – Rua Augusto Ribas e outras, em Ponta Grossa, no Paraná, pelo fotógrafo Luiz Bianchi, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 16 de novembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” VII – A Avenida Atlântica, em Copacabana, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 23 de dezembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil VIII – A Rua da Carioca por Cássio Loredano, de autoria de Cássio Loredano, publicada em 20 de janeiro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IX – Ruas e panoramas do bairro do Catete, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 14 de julho de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” X – A Rua da Ajuda, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 9 de novembro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XI – A Rua da Esperança, em São Paulo, por Vincenzo Pastore, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 14 de dezembro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XII – A Avenida Paulista, o coração pulsante da metrópole, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 21 de janeiro de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XIII – A Rua Buenos Aires no Centro do Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 19 de julho de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XIV – A Avenida Presidente Vargas,, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 31 de agosto de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVI – “Alguma coisa acontece no meu coração”, a Avenida São João nos 469 anos de São Paulo, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 25 de janeiro de 2023

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVII  e série “O Rio de Janeiro desaparecido” XXIII – A Praia e a Rua do Russel, na Glória, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 15 de maio de 2023

 

 

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XIV – A Avenida Presidente Vargas

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XIV – A Avenida Presidente Vargas

O tema do 14º artigo da Série Avenidas e ruas do Brasil é a Avenida Presidente Vargas, no Centro do Rio de Janeiro. Foram selecionadas 19 fotografias da avenida em si e também de lugares que existiam antes de sua inauguração, na década de 40. São imagens produzidas por Alfredo Krausz (? – 19?), Antônio Caetano da Costa Ribeiro (18? – 19?), Augusto Malta (1864 – 1957), Guilherme Santos (1871 – 1966), Marc Ferrez (1843 – 1923), Revert Henrique Klumb (c. 1826 – c. 1886) e Uriel Malta (1910 – 1994). As mais antigas são da década de 1860, foram realizadas por Klumb e retratam o então Canal do Aterrado, o Canal do Mangue.

A avenida Presidente Vargas liga o Largo da Candelária à Praça da Bandeira e tem quatro quilômetros de extensão e 80 metros de largura. É lá que acontecem as festas de 7 de setembro. Também já foi palco de manifestações populares que fazem parte da história do Brasil como a do movimento pelas Diretas Já.

 

 

Acessando o link para as fotografias da Avenida Presidente Vargas disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá visualizar e magnificar as imagens.

 

 

Logo no início da década de 40, durante o Estado Novo, o então presidente Getúlio Vargas (1882 – 1954) decidiu construir a Avenida Presidente Vargas e, pelo projeto, um trecho do Campo de Santana, partes da Praça Onze, além de ruas inteiras, como a General Câmara, a São Pedro, a Senador Eusébio e a Visconde de Itaúna teriam que ser destruídos (O Malho, dezembro de 1941). Começaram as demolições. Inúmeras famílias foram desalojadas, mais de 500 prédios foram derrubados, dentre eles a antiga sede da prefeitura, e algumas igrejas como a Igreja de São Pedro dos Clérigos, que já foram temas de artigos da série O Rio de Janeiro desaparecido. As igrejas do Bom Jesus do Calvário, de Nossa Senhora da Conceição e a Capela de São Domingos também foram demolidas. No traçado original, nem a Candelária resistiria, mas desistiram de demoli-la e construíram a Praça Pio XI para harmonizá-la com a nova avenida.

 

 

O segundo trecho da nova avenida foi concluído em 10 de novembro de 1942; e, em 10 de novembro de 1943, foi batizada de Presidente Vargas. Finalmente, em 7 de setembro de 1944, foi inaugurada. A obra foi realizada durante a gestão dom prefeito Henrique Dodsworth (1895 – 1975) em apenas três anos (O Malhodezembro de 1942abril de 1943dezembro de 1943O País, 10 de novembro de 1943Jornal do Brasil, 8 de setembro de 1944).

 

 

 

 

Segundo o site MultiRio:

“Muito embora a Presidente Vargas tenha cumprido, de imediato, o seu papel de corredor de transportes, dotando o Centro de melhor infraestrutura rodoviária, o crescimento imobiliário da via não cumpriu o roteiro programado, à exceção do trecho próximo à Avenida Rio Branco. Aos poucos, os empreendimentos se estenderam até o Campo de Santana, tornando-se, a partir daí, cada vez mais rarefeitos, fato que contribuiu para a decadência de toda a região da Cidade Nova.

Segundo informações do Instituto Pereira Passos, a renovação dessa área só começou a acontecer na década de 1970, quando várias instituições públicas passaram a construir grandes prédios para ali se instalarem, a exemplo dos Correios, do Arquivo Público Nacional, do Centro Administrativo São Sebastião, do Centro de Convenções. O fato é que o espírito da cultura negra permanece mais vivo do que nunca no trecho da Avenida Presidente Vargas onde existia a antiga Praça Onze. É ali que fica o Monumento a Zumbi, o Terreirão do Samba, a armação do desfile das maiores escolas de samba da cidade”.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

BORDE, Andrea de Lacerda Pessôa. Avenida Presidente Vargas: narrativas históricas. Revista do Arquivo Geral do Rio de Janeiro, nº 10, 2016.

BUENO, Eduardo e TAITELBAUM, Paula. Avenida Presidente Vargas: um desfile pela história do Brasil. Rio de Janeiro: Arco, 2010.

Diário do Rio

GERSON, Brasil. História das Ruas do Rio. Rio de Janeiro: Bem-Te-Vi, 2013.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

O GLOBO, 6 de setembro de 2019

Site MultiRio

 

Links para as outras publicações da série “Avenidas e ruas do Brasil”

 Série “Avenidas e ruas do Brasil” I – Avenida Central, atual Rio Branco, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 7 de setembro de 2016

Série “Avenidas e ruas do Brasil” II – A Rua do Imperador em Petrópolis por Klumb, Leuzinger e Stahl, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 26 de junho de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” III – A Rua do Bom Jesus, no Recife, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 6 de agosto de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IV – A Rua 25 de Março, em São Paulo, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 1º de setembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” V – A Rua Direita, a Rua das Mercês e a Rua Macau do Meio, em Diamantina, Minas Gerais, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 22 de outubro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” VI  – Rua Augusto Ribas e outras, em Ponta Grossa, no Paraná, pelo fotógrafo Luiz Bianchi, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 16 de novembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” VII – A Avenida Atlântica, em Copacabana, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 23 de dezembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil VIII – A Rua da Carioca por Cássio Loredano, de autoria de Cássio Loredano, publicada em 20 de janeiro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IX – Ruas e panoramas do bairro do Catete, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 14 de julho de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” X – A Rua da Ajuda, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 9 de novembro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XI – A Rua da Esperança, em São Paulo, por Vincenzo Pastore, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 14 de dezembro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XII – A Avenida Paulista, o coração pulsante da metrópole, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 21 de janeiro de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XIII – A Rua Buenos Aires no Centro do Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 19 de julho de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XV – Misericórdia: rua, largo e ladeira, no Rio de Janeiro, por Cássio Loredano, de autoria de Cássio Loredano, publicada em 8 de dezembro de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVI – “Alguma coisa acontece no meu coração”, a Avenida São João nos 469 anos de São Paulo, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 25 de janeiro de 2023

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVII  e série “O Rio de Janeiro desaparecido” XXIII – A Praia e a Rua do Russel, na Glória, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 15 de maio de 2023

 

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XIII – A Rua Buenos Aires no Rio de Janeiro

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XIII – A Rua Buenos Aires no Rio de Janeiro

No 13º artigo da Série Avenidas e ruas do Brasil, a Brasiliana Fotográfica destaca a Rua Buenos Aires, antiga Rua do Hospício, no Centro do Rio de Janeiro. Os registros são de Augusto Malta (1864 – 1957), alagoano que foi o fotógrafo oficial da Prefeitura do Rio de Janeiro, entre 1903 e 1936, e de um fotógrafo ainda não identificado. Malta foi contratado pelo prefeito Pereira Passos (1836 – 1913) para documentar a radical mudança urbanística promovida por ele, período que ficou conhecido como o “bota-abaixo” e que contribuiu fortemente para o surgimento do Rio de Janeiro da Belle Époque.

 

Acessando o link para as fotografias da rua Buenos Aires disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

A Rua Buenos Aires liga o Campo de Santana à rua 1º de Março e fica na região conhecida como Saara, caracterizada pela forte presença de lojas especializadas em artigos populares. Lembramos a nossos leitores que a utilização da ferramenta zoom possibilita a exploração mais aproximada de aspectos interessantes das fotografias. Por exemplo, na imagem abaixo, realizada por um fotógrafo ainda não identificado, que registrou a Rua Buenos Aires na direção da Avenida Passos, podem ser observados mais detalhadamente seu antigo casario, os pedestres, as fachadas das lojas e um bonde em seus trilhos.

 

 

No século XVIII, a Rua Buenos Aires era chamada de Rua Detrás do Hospício, apesar de não ter existido um hospício nela: a parte de trás da antiga Igreja do Hospício, localizada na Rua do Rosário, que tinha uma capela e um albergue, dava para a Buenos Aires. Conforme lembrado por Brasil Gerson (1904 – 1981), no livro História das Ruas do Rio: No português antigo, hospício era o mesmo que albergue e hospital. Ainda, segundo o mesmo autor, antes de ficar conhecida como Rua do Hospício, alguns de seus trechos tiveram outras denominações como Rua da Portuguesa, certamente por causa da portuguesa Margarida Soares, que nela morava quando ela não ia além do caminho para o Morro da Conceição; Rua do Sebastião Ferrão, que foi provavelmente um tabelião; Rua do Teixeira, que nela explorava uma casa de jogo de truque; Rua do Becão, famoso cirurgião da Santa Casa; e Rua do Alecrim.

Passou a chamar-se Rua Buenos Aires, em 1915, durante a gestão do prefeiro Rivadávia da Cunha Correia (1866- 1920) (A Noite, 16 de novembro de 1915, quarta coluna; A Rua, 23 de novembro, segunda coluna).

Abrigou alguns estabelecimentos importantes da cidade como, por volta de 1860, a empresa Mesquita e Moreira, de matérias fecais, que antes da instalação do serviço de esgoto no Rio de Janeiro recolhia os urinóis caseiros e jogava sua carga no mar; a redação do jornal O Jacobino, a primeira sede do Clube Ginástico Português, a companhia Mútua de Seguros de Vida de Escravos, em 1862; em 1880, o Grêmio dos Professores; e, em 1905, a Liga Metropolitana de Futebol. Já na década de 1930, tornou-se uma Ra cheia de sedes de jornais: lá estavam instalados, no quarteirão entre o Mercado das Flores e a Rua Uruguaiana, A Manhã, O Popular e  A Tarde.

 

 

O registro abaixo, do Mercado das Flores, na Rua Buenos Aires, foi produzido por Malta. Foi inaugurado em 17 de abril de 1910 com a presença do então prefeito da cidade, Serzedelo Correia (1858 – 1932) e de Julio Furtado (1851 -1934), diretor das Matas e Jardins. Agora já pode o estrangeiro ir a um mercado de flores decente e digno de uma capital como a nossa (Correio da Manhã, 18 de abril de 1910, última coluna). Porém a construção não agradou a todos (Gazeta de Notícias, 18 de abril de 1910, segunda coluna). Foi o caso da escritora Julia Lopes de Almeida (1862 – 1934), que publicou uma crítica no jornal O Paiz, de 10 de maio de 1910. O Mercado das Flores, além de ser um polo de referência no comércio de flores, foi um ponto turístico da cidade, devido à exuberância de seus arranjos florais.

 

 

A Rua Buenos Aires, que ainda se chamava Rua do Hospício, foi mencionada na crônica Vinte Anos! Vinte Anos!, de Machado de Assis (1839 – 1908).

“…Depois de dizer o diabo do correspondente, de fazer e desfazer mil planos, Gonçalves assentou no que lhe pareceu melhor, que era ir à casa dele, na Rua do Hospício, descompô-lo, armado de bengala, e dar-lhe com ela, se ele replicasse alguma coisa. Era sumário, enérgico, um tanto fácil, e, segundo lhe dizia o coração, útil aos séculos…Eram os vinte anos que irrompiam cálidos, férvidos, incapazes de engolir a afronta e dissimular. Gonçalves foi por ali fora, Rua do Passeio, Rua da Ajuda, Rua dos Ourives, até à Rua do Ouvidor. Depois lembrou-se que a casa do correspondente, na Rua do Hospício, ficava entre as de Uruguaiana e dos Andradas; subiu, pois, a do Ouvidor para ir tomar a primeira destas. Não via ninguém, nem as moças bonitas que passavam, nem os sujeitos que lhe diziam adeus com a mão. Ia andando à maneira de touro. Antes de chegar à Rua de Uruguaiana, alguém chamou por ele.”

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Diário do Rio

GERSON, Brasil. História das Ruas do Rio. Rio de Janeiro: Bem-Te-Vi, 2013.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

 

Links para as outras publicações da série “Avenidas e ruas do Brasil”

 Série “Avenidas e ruas do Brasil” I – Avenida Central, atual Rio Branco, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 7 de setembro de 2016

Série “Avenidas e ruas do Brasil” II – A Rua do Imperador em Petrópolis por Klumb, Leuzinger e Stahl, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 26 de junho de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” III – A Rua do Bom Jesus, no Recife, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 6 de agosto de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IV – A Rua 25 de Março, em São Paulo, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 1º de setembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” V – A Rua Direita, a Rua das Mercês e a Rua Macau do Meio, em Diamantina, Minas Gerais, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 22 de outubro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” VI  – Rua Augusto Ribas e outras, em Ponta Grossa, no Paraná, pelo fotógrafo Luiz Bianchi, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 16 de novembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” VII – A Avenida Atlântica, em Copacabana, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 23 de dezembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil VIII – A Rua da Carioca por Cássio Loredano, de autoria de Cássio Loredano, publicada em 20 de janeiro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IX – Ruas e panoramas do bairro do Catete, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 14 de julho de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” X – A Rua da Ajuda, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 9 de novembro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XI – A Rua da Esperança, em São Paulo, por Vincenzo Pastore, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 14 de dezembro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XII – A Avenida Paulista, o coração pulsante da metrópole, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 21 de janeiro de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XIV – A Avenida Presidente Vargas,, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 31 de agosto de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XV – Misericórdia: rua, largo e ladeira, no Rio de Janeiro, por Cássio Loredano, de autoria de Cássio Loredano, publicada em 8 de dezembro de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVI – “Alguma coisa acontece no meu coração”, a Avenida São João nos 469 anos de São Paulo, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 25 de janeiro de 2023

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVII  e série “O Rio de Janeiro desaparecido” XXIII – A Praia e a Rua do Russel, na Glória, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 15 de maio de 2023

 

 

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XII – A Avenida Paulista, o coração pulsante da metrópole

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XII – A Avenida Paulista, o coração pulsante da metrópole

No 12º artigo da Série Avenidas e ruas do Brasil, a Brasiliana Fotográfica traz fotografias da Avenida Paulista, um dos símbolos da cidade de São Paulo e um de seus principais pontos turísticos, produzidas pelo suíço Guilherme Gaensly (1843 – 1928) e por Frédéric Manuel (18? – 19?). Há ainda duas imagens realizadas por fotógrafos ainda não identificados. A Paulista foi inaugurada, oficialmente, em 8 de dezembro de 1891. Não deixem de usar a ferramenta zoom para uma melhor apreciação de todos os detalhes dos registros da Avenida Paulista, o centro financeiro, cultural e de entretenimento de São Paulo, um de seus mais representativos cartões postais.

“As grandes ruas da Liberdade, de Santo Amaro, de Santo Antônio e da Consolação dirigem-se para o sul, dando acesso direto à célebre Avenida Paulista, sem contestação a mais bela avenida da capital, muito larga, asfaltada, composta de três pistas e orlada de habitações principescas. Uma pequena elevação que se acha na extremidade norte-oeste oferece bela perspectiva sobre o resto da cidade”.

Paul Walle (1872 – 1950), viajante e economista francês,

em Au Pays de l´Or Rouge, l´État de S. Paulo (1921)

 

Acessando o link para as fotografias da Avenida Paulista disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Muitas de suas construções foram demolidas ao longo do século XX.

“O que aconteceu na Avenida Paulista é uma tragédia nacional. São Paulo foi marginalizada, por causa de uma leitura da identidade brasileira que excluía o imigrante”.

 Paulo Garcez, professor de arquitetura da Universidade de São Paulo (USP),

sobre as demolições de construções na Avenida Paulista.

 

Sobre a avenida Paulista

“A Avenida Paulista é o arrabalde mais pitoresco dessa capital, está 64 metros mais alto do que o largo da Sé, e dista ao largo de S. Francisco 8 minutos de bonde elétrico”

Diário Popular, agosto e setembro de 1900

 

Em seus anos de existência (O Mercantil (SP), 29 de novembro de 1890, quarta coluna), a Avenida Paulista, cujo projeto inovador e realização foram da empresa Sociedade Anônima Companhia Viação Paulista, do engenheiro agrônomo e precursor do urbanismo na cidade de São Paulo, o uruguaio Joaquim Eugênio Lima (1845 – 1902), do capitalista José Borges de Figueiredo e do servidor público João Augusto Garcia, passou de zona residencial da burguesia ascendente a centro comercial, cultural e financeiro da cidade. Seu planejamento foi realizado pelo agrimensor Tarquínio Antonio Tarant, encarregado da arborização, do arruamento e da criação de suas alamedas transversais. A Avenida Paulista localiza-se no bairro Bela Vista, vai da Rua Treze de Maio à Rua da Consolação, tem uma extensão de 3 km e é considerada o coração pulsante da metrópole, a mais contemporânea via de São Paulo.

 

 

Até a década de 1880, a região onde ela se encontra, na época conhecida como o Morro do Caaguaçu, que em tupi significa mata grande, era um terreno ermo e pertencia à Chácara do Capão, propriedade de Manuel Antônio Vieira. Os já mencionados donos da Sociedade Anônima Companhia Viação Paulista adquiriram parte da chácara e lotearam a área dando origem à Avenida Paulista. Bem larga, foi a primeira rua pública asfaltada, em 1909, e arborizada de São Paulo. Tinha três vias separadas por magnólias e plátanos, com grandes lotes de cada lado. Na mesma época, chamaram o paisagista francês Paul Villon (1841 – 1905) para projetar o Parque Trianon – atualmente Parque Tenente Siqueira Campos -, que foi inaugurado pelo arquiteto e urbanista inglês Barry Parker (1867 – 1947), em 3 de abril de 1892, e se tornou a área de lazer das famílias proprietárias de casas na região.

 

 

A Avenida Paulista foi batizada em homenagem aos paulistas por decisão do engenheiro Joaquim Eugênio Lima. Segundo o livro Cidade de São Paulo: Estudos de Geografia Urbana, 1958, as denominações de Avenida das Acácias ou Prado de São Paulo foram cogitadas.  Ainda sobre seu nome: em 1927, quando José Pires do Rio (1880 -1950) era o prefeito de São Paulo, a Paulista passou a se chamar Avenida Carlos de Campos, em homenagem ao ex-governador do estado de São Paulo, mas a alteração não agradou o povo da cidade, fazendo com que voltasse ao seu nome original, em 13 de novembro de 1930, quando foi publicado, no Diário Oficial, o Ato nº 11, assinado pelo então prefeito de São Paulo, José Joaquim Cardoso de Melo (1883 – 1975), segundo o qual atendia “…finalmente, a que outras denominações há, que não deveriam jamais ter sido alteradas como a da – Avenida Paulista – que recorda, numa só palavra, todo o indefesso trabalho e honra da gente paulista” (Correio Paulistano, 6 de maio de 1927, sexta coluna; O Estado de São Paulo, 19 de novembro de 1930 e 8 de dezembro de 2021) .

 

 

Foi noticiada a inauguração a Avenida Paulista, em 1890 (O Mercantil (SP), 29 de novembro de 1890, quarta coluna) e, cerca de três meses depois, foi anunciado o início da venda de seus lotes para 12 de fevereiro de 1891 (Correio Paulistano, 8 de fevereiro de 1891, última coluna)

 

 

 

 

Foi visitada, a convite de Joaquim Eugênio de Lima, pelo presidente do Estado, Américo Brasiliense (1833 – 1896), o jornalista Francisco Rangel Pestana (1839 – 1903) e Júlio Mesquita (1862 – 1927, que era, na época, senador estadual.

 

O Estado de São Paulo, 16 de maio de 1891

O Estado de São Paulo, 16 de maio de 1891

 

Foi publicada uma notícia sobre as obras e o assentamento de uma linha de bondes na Avenida Paulista (O Estado de São Paulo, 11 de outubro, quarta coluna e 31 de outubro de 1891).

 

O Estado de São Paulo, 31 de outubro de 1891

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O Estado de São Paulo, 11 de outubro de 1891

 

Em 8 de dezembro de 1891, foi finalmente instalada a nova linha de bondes até a Avenida Paulista, da Companhia Ferro Carril de São Paulo, com grande concorrência e com a presença da imprensa. A Avenida Paulista era oficialmente entregue à população e esta é a data considerada a de sua inauguração (Jornal do Brasil, 9 de dezembro de 1891, quinta coluna).

“Hoje, ao meio-dia a Companhia Ferro Carril fará a inauguração de suas linhas da Bella Vista e da Bella Cintra. Os bonds inauguraes partirão da rua da Boa Vista esquina com a rua 15 de novembro percorrendo toda a Grande Avenida Paulista”

Nota publicada na primeira página de O Estado de São Paulo de 8 de dezembro de 1891.

 

 

 

N0 ano seguinte, no salão do jornal O Paiz foram exibidas 3 grandes fotografias da Avenida Paulista. Quem seria o autor ou os autores dessas imagens? (O Paiz, 8 de junho de 1892, terceira coluna).

Em fins do século XIX, a avenida já tinha cerca de 50 casarões. Abastados senhores do café, grandes comerciantes, banqueiros e industriais construíram imponentes mansões na nova avenida que usavam como residência ou como casa de veraneio. Dentre eles o empresário dinamarquês Adam Ditrik von Bullow (1840 – 1923), o industrial italiano Francesco Matarazzo (1854 – 1937), que foi durante muito tempo o homem mais rico do Brasil, cujo palacete foi projetado pelos arquitetos italianos Giulio Saltini e Luigi Mancini; e o farmacêutico e político Henrique Schaumann (1856 – 1922), cujo projeto de sua mansão foi do alemão Augusto Fried e de Carlos Ekman. O Shopping Cidade de São Paulo e a Torre Matarazzo localizam-se onde ficava a mansão Matarazzo.  O casarão de Schaumann foi propriedade das famílias Andraus e Lotaif. Após sua polêmica demolição, em 1982, virou um estacionamento e, posteriormente o Edifício Paulista 867.

A família Thiollier, de imigrantes franceses, também tinha um palacete na avenida, a Villa Fortunata, onde hoje se encontra o Parque Mario Covas. René Thiollier (1882 – 1968), filho do patriarca Alexandre Honoré Marie Thiollier – sócio e proprietário da primeira livraria de São Paulo, a Casa Garroux – foi um dos fundadores do Teatro Brasileiro de Comédia e frequentava o círculo de intelectuais que organizou a Semana de Arte Moderna de 1922. Foi ele que pagou o aluguel do Teatro Municipal de São Paulo para a realização do evento. Uma curiosidade sobre a Villa Fortunata: a família Burle Marx alugou entre 1909 e 1912 a mansão e foi lá que nasceu o mundialmente famoso paisagista e artista plástico brasileiro Roberto Burle Marx (1909 – 1994).

 

 

 

“O grande passeio que o citadino mostra, com o mais legítimo orgulho ao forasteiro é a Avenida Paulista, imensa rua com alguns quilômetros de comprimento, situada no ponto mais elevado da cidade, toda arborizada, cercada de casas suntuosas, cuja arquitetura e ornamentação nada ficam a dever aos mais belos edifícios europeus”.

Nicolau Fanuele (1888 – 1914), jornalista e advogado, em Il Brasile (1910).

 

O casarão von Bulow, projeto de Augusto Fried, foi contruído perto da alameda Campinas e foi, talvez, o primeiro a ser documentado. Era um dos pontos prediletos de Guilherme Gaensly (1843 – 1928) para fotografar a Avenida Paulista. O palacete era propriedade do empresário dinamarquês Adam Ditrik von Bullow (1840 – 1923), um dos acionistas da Companhia Antarctica Paulista. Hoje, no lugar que ocupava está o Edifício Paulicéia, ícone da arquitetura moderna de São Paulo, projeto de Jacques Pilon (1905 – 1962) e do italiano Gian Carlo Gasperini (1926 – 2020), construído na década de 50.

 

 

A Paulista foi o cenário de corridas de charrete, de cabriolés e dos primeiros automóveis. Também foi o palco dos grandes carnavais dos anos 10, 20 e 30. Em 1912, o corso foi transferido da Praça da República para a avenida e as famílias desfilavam em carros enfeitados (O Estado de São Paulo, 15 de janeiro de 1912).

 

 

O Belvedere Trianon, que ficava na Paulista e foi durante muito tempo o principal ponto de encontro da cidade, foi demolido para ceder espaço à 1ª Bienal de Arte Moderna da cidade, realizada, em 1951, pelo Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), sob a presidência de Ciccillo Matarazzo (1898 – 1977), em um pavilhão provisório localizado na Esplanada do Trianon.

 

 

 

Restam poucos casarões na avenida, como a Casa das Rosas (1935), último projeto do arquiteto Francisco de Paula Ramos de Azevedo (1851 – 1928), que hoje abriga o Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura; e o Palacete Franco de Mello (1905), obra do construtor português Antônio Fernandes Pinto. Algumas construções remanescentes da via são tombadas pelo Conselho de Defesa Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico de São Paulo.

Inicialmente, estabelecimentos comerciais não podiam existir na Avenida Paulista. Em 1952, durante a gestão do prefeito (1899 – 1955), a Lei nº 4313 de 29 de outubro, autorizou a construção de estabelecimentos hospitalares, educacionais, de imprensa, rádio, televisão, teatro e cinema. Quatro anos depois, foi inaugurada a primeira loja-exposição do Conjunto Nacional, que seria o primeiro shopping center da América do Sul. A inauguração da primeira etapa do Conjunto Nacional, em dezembro de 1958, contou com a presença do então presidente da República, Juscelino Kubitschek (1902 – 1976). O complexo localiza-se onde antes ficava o casarão do investidor e urbanista Horácio Sabino, cujo projeto foi o arquiteto francês Victor Dubugras (1868 – 1933), um dos precursores da arquitetura moderna na América Latina. O empreendimento foi do argentino José Tjurs (1901 – 1977), que comprou a mansão e que sonhava que a Paulista fosse a Quinta Avenida de São Paulo. O projeto foi do arquiteto paranaense David Libeskind (1928 – 2014), então com 26 anos (Correio Paulistano, 21 de outubro de 1956, quarta coluna).

Mas foi só na década de 80 que a vocação da avenida para os negócios se firmou: os apartamentos residenciais do Edifício Savoy, nº 810,  foram convertidos em escritórios. Houve então uma procura de terrenos para  instalar os novos edifícios comerciais, que deixavam o Centro da cidade rumo à Paulista.

Na Avenida Paulista, por onde diariamente passam cerca de um milhão e meio de pessoas, encontram-se diversos museus e centros culturais como o Museu de Artes de São Paulo, a Casa Japão, o Itaú Cultural e o Instituto Moreira Salles, uma das instituições fundadoras do portal Brasiliana Fotográfica. Também estão lá o Parque Trianon, atual Parque Tenente Siqueira Campos; o Parque Prefeito Mario Covas, criado em 2008 e localizado onde ficava a Villa Fortunatta; o Instituto Pasteur, dezenas de consulados, o Painel do Edifício Nações Unidas, criação de Clóvis Graciano (1907 – 1988); e a famosa antena do prédio da Fundação Cásper Líbero, a maior e mais alta da avenida. Possui uma disputada ciclovia, bancos, cinemas, colégios, feiras artesanais, hotéis, hospitais, restaurantes, teatros e, aos domingos, é aberta aos pedestres. É o endereço de prédios icônicos da cidade, dentre eles o Edifício Sul-Americano, projeto do escritório Rino Levi Arquitetos Associados, em 1966; e o Edifício Luís Eulálio Bueno Vidigal Filho, sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), construído onde ficava o palacete da família Salem.

 

“Não se pode imaginar nada de mais bem traçado e mais bem arborizado que as ruas da Liberdade e da Consolação, que levam a essa esplêndida Avenida Paulista, à qual eu não saberia comparar senão certas avenidas de Nova York, onde a fantasia dos milionários americanos encerra, no verde das grandes árvores e da policromia ds canteiros dos jardins, seus palácios de elegantes esculturas, como se encaixa o diamante de valor, com múltiplas facetas, nos engastes das esmeraldas e rubis. Citaram-me, por alto, os principais proprietários dessas luxusas residências. Aqui, um grande nome de velha cepa portuguesa; lá um protegido da fortuna, sem mérito, pequeno mercador ambulante há vinte e cinco anos e hoje um grande senhor, em que a Itália reconhecerá facilmente algum descendente desses antigos venezianos ou genoveses que traziam, de suas viagens e dos seu comércio, muito ouro inesperado, com o qual produziam muita arte em seu país e algumas obras de enemerência. É agradável saber que, em nossa época de oportunismo pecuniário, há ainda alguns homens que sabem ao menos dar, ao supérfluo de sua rápida fortuna, um emprego que enobrece suas humildes origens”.

L.A. Gafrée, padre francês, em Visions du Brésil (1912)

 

Alguns eventos se realizam na avenida anualmente: seu popular réveillon com shows e queima de fogos, a Corrida de São Silvestre, desde 1924; e a Parada do Orgulho LGBT, desde 1997. Foi o cenário da minissérie Avenida Paulista, exibida pela TV Globo, entre 10 e 28 de maio de 1982. Em 1987, foi lançado o Álbum Iconográfico da Avenida Paulista, do historiador, arquiteto e urbanista Benedito Lima de Toledo (1934-2019). Na capa, um registro de Guilherme Gaensly (1843 – 1928).

 

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“Entre as avenidas, ruas e praças que mais realçam a beleza da cidade contam-se a magnífica Praça da República, a soberba Avenida Paulista com uma esplêndida arborização e ladeada por palacetes e residências de nobre arquitetura a qual todo paulista menciona com justo orgulho…Na parte sul, as ruas principais são Liberdade, Santo Amaro e Consolação, que todas vão ter à soberba Avenida Paulista, a rua nobre da cidade, asfaltada e profusamente arborizada e iluminada”.

Impressões do Brasil no Século Vinte, editado em Londres, em 1913

Sobre os fotógrafos

Guilherme Gaensly (1843 – 1928)

Guilherme Gaensly (1843 – 1928) nasceu em Wellhausen, cantão de Thurgau, e foi para Salvador, na Bahia, aos 5 anos de idade. Em 1871, após um período de aprendizado no ateliê de Alberto Henschel (1827 – 1882) na capital baiana, estabeleceu-se como fotógrafo. Destacou-se como retratista e como fotógrafo de paisagens urbanas e rurais. Em 1882, Rodolpho Lindemann (c. 1852 – 19?) tornou-se seu sócio e, em 1894, a próspera empresa Gaensly & Lindemann abriu uma filial em São Paulo, onde Gaensly foi morar.

Foi o autor de importantes registros de São Paulo, vendidos como fotografias em papel albuminado e colotipias impressas na Suíça e comercializadas em álbuns. Ao lado de seu contemporâneo Marc Ferrez (1843 – 1923), foi provavelmente o fotógrafo mais publicado em postais no Brasil.

Apesar de nunca ter sido o fotógrafo oficial de São Paulo, como foi Augusto Malta (1864 – 1957) no Rio de Janeiro, Gaensly foi o autor de uma abrangente obra sobre a capital paulista nas primeiras décadas do século XX, o que o coloca nessa posição. Ele e Militão Augusto de Azevedo (1837 – 1905) são considerados os fotógrafos que mais cultuaram São Paulo. Gaensly fotografou a cidade em plena transição para a modernidade, tendo registrado todos os aspectos urbanos da nova metrópole que surgia. Registrou a inauguração dos bondes elétricos que substituíram as carroças, o Jardim da Luz, a agitação do comércio na região do entorno da Praça da Sé, o crescimento da Avenida Paulista, além de palacetes, chácaras, edifícios públicos, igrejas, escolas, teatros e hospitais. Essas vistas de São Paulo foram comercializadas em álbuns impressos na Suíça a partir de fotografias em papel albuminado e de colotipias. Fotografou também a chegada de imigrantes italianos em Santos e em São Paulo. Dentre os prêmios que recebeu, está uma medalha de prata conquistada na Exposição Universal de Saint Louis, em 1904.

Acessando o link para as fotografias de São Paulo produzidas por Guilherme Gaensly, disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

Frédéric Manuel (18? – 19?)

As fotografias paulistanas de Frédéric Manuel (18? – 19?), sobre quem há ainda pouquíssima informação, foram realizadas em 1906 para Menotti Levi (18? – 19?), editor do Guia Levi, publicado, em São Paulo, de 1899 a meados até 1984 (Jornal do Brasil, 19 de novembro de 1900, penúltima colunaA Notícia (RJ), 27 e 28 de agosto de 1906, segunda coluna), cuja utilidade já está comprovada pela aceitação que o público lhe dispensa (Correio Paulistano, 5 de fevereiro de 1905, penúltima coluna). O Guia Levi era uma publicação mensal de horários de trens, de bondes e outras informações úteis (Correio Paulistano, 8 de agosto de 1908, penúltima coluna), Uma curiosidade: o grande arquiteto e urbanista paulistano Rino di Menotti Levi (1901 – 1965) é filho de Menotti Levi.

 

 

 

Acessando o link para as fotografias de São Paulo produzidas por Frédéric Manuel, disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

As duas imagens abaixo foram produzidas por fotógrafos ainda não identificados.

 

 

 

 

Link para a palestra de Andrea Ronqui, doutoranda em Artes Visuais na Escola de Comunicações e Artes da USP e mestra em Estética e História da Arte, sobre a história da Avenida Paulista, no youtube do Instituto Moreira Salles, 8 de dezembro de 2021.

Link para o artigo “Os idealizadores e os realizadores da Avenida Paulista”, de Rocha Azevedo Filho, publicado em O Estado de São Paulo de 29 de novembro de 1952.

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

BURGI, Sergio;DIETRICH, Ana Maria;MENDES,Ricardo. Imagens de São Paulo – Gaensly no acervo da Light 1899 – 1925, organização Vera Maria de Barros Ferraz. São Paulo:Fundação Patrimônio Histórico da Energia de São Paulo, 2001.

COTRIM, Luciana Rossi. Série Avenida Paulista

Câmara Estadual de São Paulo

D’ALESSIO, Vito. Avenida Paulista – A síntese da metrópole. São Paulo: Dialeto Latin American Documentary, 2002.

Enciclopédia Itaú Cultural

FERNANDES JUNIOR, Rubens;KOSSOY,Boris;SEGAWA, Hugo. Guilherme Gaensly. São Paulo:Cosac Naify, 2011.

FERREZ, Gilberto; NAEF, Weston J.. Pioneer Photographers of Brazil, 1840-1920. New York: Center for Inter-American Relations, 1976.

Folha de São Paulo, 21 de janeiro de 2002.

HANNAVY, John. Encyclopedia of Nineteenth-Century Photography. New York:Taylor and Francis Group, 205.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002. 408 p., il. p&b.

KOSSOY, Boris. Origens e Expansão da fotografia no Brasil: século XIX. Rio de Janeiro:Funarte, 1980.

KOSSOY, Boris. São Paulo, 1900. Rio de Janeiro:Editora Kosmos, 1988.

KOSSOY, Boris;FERNANDES JUNIOR, Rubens;SEGAWA, Hugo. Guilherme Gaensly. São Paulo:Cosac Naify, 2011.

LAGO, Bia Corrêa do;LAGO, Pedro Corrêa do. Os Fotógrafos do Império. Rio de Janeiro: Capivara, 2005. 240p.:il

LIMA, Solange Ferraz de. São Paulo na virada do século. As imagens da razão urbana: a cidade nos álbuns fotográficos de 1887 a 1919. São Paulo:Universidade de São Paulo, 1995.

OLSZEWSKI FILHA, Sofia. A fotografia e o negro na cidade de Salvador, 1840 – 1914. Salvador:EGBA, Fundação Cultural do Estado da Bahia, 1989.

Portal Terra

Prefeitura da Cidade de São Paulo

Projeto São Paulo City

Revista Crescer

Revista Época, 8 de março de 2015

Site Bienal de São Paulo

Site Enciclopédia Itaú Cultural

Site O Estado de São Paulo

Site São Paulo Antiga

SOARES JUNIOR, Rodrigo. Jorge Tibiriçá e sua época. São Paulo : Companhia Editora Nacional, 1958.

TEIXEIRA, Cid. Professores de daguerreotipia: eles deixaram a Imagem do Senhor-de-Engenho e Sinhazinhas. Jornal da Bahia, 10 e 11 de novembro de 1963.

TOLEDO, Benedito Lima de. Álbum iconográfico da Avenida Paulista. São Paulo : Editora Ex-Libris Ltda, 1987.

TURAZZI, Maria Inez. Poses e trejeitos: a fotografia e as exposições na era do espetáculo: 1839/1889. Prefácio Pedro Karp Vasquez. Rio de Janeiro: Funarte. Rocco, 1995. 309 p., il. p&b. (Coleção Luz & Reflexão, 4). ISBN 85-85781-08-4.

VASQUEZ, Pedro. Mestres da fotografia no Brasil: Coleção Gilberto Ferrez. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 1995.

Veja São Paulo, 24 de janeiro de 2014

 

Links para as outras publicações da série “Avenidas e ruas do Brasil”

 Série “Avenidas e ruas do Brasil” I – Avenida Central, atual Rio Branco, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 7 de setembro de 2016

Série “Avenidas e ruas do Brasil” II – A Rua do Imperador em Petrópolis por Klumb, Leuzinger e Stahl, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 26 de junho de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” III – A Rua do Bom Jesus, no Recife, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 6 de agosto de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IV – A Rua 25 de Março, em São Paulo, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 1º de setembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” V – A Rua Direita, a Rua das Mercês e a Rua Macau do Meio, em Diamantina, Minas Gerais, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 22 de outubro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” VI  – Rua Augusto Ribas e outras, em Ponta Grossa, no Paraná, pelo fotógrafo Luiz Bianchi, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 16 de novembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” VII – A Avenida Atlântica, em Copacabana, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 23 de dezembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil VIII – A Rua da Carioca por Cássio Loredano, de autoria de Cássio Loredano, publicada em 20 de janeiro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IX – Ruas e panoramas do bairro do Catete, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 14 de julho de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” X – A Rua da Ajuda, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 9 de novembro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XI – A Rua da Esperança, em São Paulo, por Vincenzo Pastore, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 14 de dezembro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XIII – A Rua Buenos Aires no Centro do Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 19 de julho de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XIV – A Avenida Presidente Vargas,, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 31 de agosto de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XV – Misericórdia: rua, largo e ladeira, no Rio de Janeiro, por Cássio Loredano, de autoria de Cássio Loredano, publicada em 8 de dezembro de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVI – “Alguma coisa acontece no meu coração”, a Avenida São João nos 469 anos de São Paulo, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 25 de janeiro de 2023

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVII  e série “O Rio de Janeiro desaparecido” XXIII – A Praia e a Rua do Russel, na Glória, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 15 de maio de 2023

 

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XI – A Rua da Esperança, em São Paulo, por Vincenzo Pastore

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XI – A Rua da Esperança, em São Paulo, por Vncenzo Pastore

Na décima primeira publicação da Série “Avenidas e ruas do Brasil”, destacamos fotos do casario da Rua da Esperança, em São Paul,o em dois tempos: erguido e demolido. As imagens foram produzidas pelo fotógrafo italiano Vincenzo Pastore (1865 – 1918), que, da segunda metade do século XIX ao início do século XX, foi um importante cronista visual de São Paulo. Com sua câmara, Pastore capturava tipos e costumes de um cotidiano ainda pacato da cidade que logo, com o desenvolvimento econômico, mudaria de perfil. Captava as transformações urbanas e humanas de São Paulo, que passava a ser a metrópole do café.

Com seu olhar sensível, o imigrante italiano flagrava trabalhadores de rua como, por exemplo, feirantes, engraxates, vassoureiros e jornaleiros, além de conversas entre mulheres e brincadeiras de crianças. Pastore, ao retratar pessoas simples do povo, realizou, na época, um trabalho inédito na história da fotografia paulistana. Registrou cenas de ruas, de demolições em São Paulo com uma câmara de pequeno formato, produzindo imagens diferentes das realizadas, durante o século XIX, com câmeras de grande formato sobre tripés. Foi um dos pioneiros da nova linguagem da fotografia do século XX. Com a ferramenta zoom os leitores podem observar as imagens com detalhes.

 

 

Acessando o link para as fotografias da Rua da Esperança disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

A antiga igreja da Sé começou a ser demolida em 1912, e também em torno desse período foi realizada toda a reurbanização do local com a demolição de alguns quarteirões, sendo alguns da Rua da Esperança, necessários para se abrir uma esplanada diante do edifício religioso (Correio Paulistano, 3 de fevereiro de 1912, terceira coluna; Correio Paulistano, 22 de janeiro de 1913, penúltima coluna; Correio Paulistano, 25 de abril de 1913, terceira coluna).

 

 

Opinião de uma nonagenária sobre São Paulo

O progressão da Rua da Esperança é mencionado

O Pirralho, 25 de janeiro de 1913

 

O projeto da nova catedral foi do arquiteto alemão radicado no Brasil, Maximiliano Hehl (1861 – 1916), e, em 06 de julho de 1913, foi realizada a cerimônia de lançamento da pedra fundamental (Correio Paulistano, 7 de julho de 1913, segunda coluna). Porém a inauguração da Catedral Metropolitana de São Paulo só aconteceria em 1954 por ocasião do IV Centenário de São Paulo, porém foi simbólica, já que o prédio ainda não estava concluído (Correio Paulistano, 22 de janeiro de 1954, primeira coluna). As torres só  foram inauguradas em 15 de novembro de 1969.

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Dicionário de Ruas de São Paulo

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

 

Links para as outras publicações da série “Avenidas e ruas do Brasil”

 Série “Avenidas e ruas do Brasil” I – Avenida Central, atual Rio Branco, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 7 de setembro de 2016

Série “Avenidas e ruas do Brasil” II – A Rua do Imperador em Petrópolis por Klumb, Leuzinger e Stahl, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 26 de junho de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” III – A Rua do Bom Jesus, no Recife, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 6 de agosto de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IV – A Rua 25 de Março, em São Paulo, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 1º de setembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” V – A Rua Direita, a Rua das Mercês e a Rua Macau do Meio, em Diamantina, Minas Gerais, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 22 de outubro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” VI  – Rua Augusto Ribas e outras, em Ponta Grossa, no Paraná, pelo fotógrafo Luiz Bianchi, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 16 de novembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” VII – A Avenida Atlântica, em Copacabana, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 23 de dezembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil VIII – A Rua da Carioca por Cássio Loredano, de autoria de Cássio Loredano, publicada em 20 de janeiro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IX – Ruas e panoramas do bairro do Catete, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 14 de julho de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” X – A Rua da Ajuda, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 9 de novembro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XII – A Avenida Paulista, o coração pulsante da metrópole, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 21 de janeiro de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XIII – A Rua Buenos Aires no Centro do Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 19 de julho de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XIV – A Avenida Presidente Vargas,, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 31 de agosto de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XV – Misericórdia: rua, largo e ladeira, no Rio de Janeiro, por Cássio Loredano, de autoria de Cássio Loredano, publicada em 8 de dezembro de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVI – “Alguma coisa acontece no meu coração”, a Avenida São João nos 469 anos de São Paulo, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 25 de janeiro de 2023

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVII  e série “O Rio de Janeiro desaparecido” XXIII – A Praia e a Rua do Russel, na Glória, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 15 de maio de 2023

 

 

Série “Avenidas e ruas do Brasil” X – A Rua da Ajuda, no Rio de Janeiro, por Augusto Malta

Série “Avenidas e ruas do Brasil” X – A Rua da Ajuda, no Rio de Janeiro, por Augusto Malta

No 10º artigo da Série “Avenidas e ruas do Brasil”, o tema é a Rua da Ajuda, uma das mais antigas do Rio de Janeiro, registrada pelo alagoano Augusto Malta (1864 – 1957), fotógrafo oficial da Prefeitura do Rio de Janeiro, de 1903 a 1936. Esse cargo foi criado para ele por Francisco Pereira Passos (1836 – 1913), que o contratou meses após ter sido nomeado prefeito do então Distrito Federal, o Rio de Janeiro, pelo presidente Rodrigues Alves (1848 – 1919) em 30 de dezembro de 1902. O objetivo era o registro das obras e dos imóveis a serem desapropriados para posteriores pagamentos de indenizações. Malta passou a documentar, então, a radical mudança urbanística promovida pelo prefeito. Para realizá-la, várias demolições aconteceram e ficaram conhecidas popularmente como a política do “bota-abaixo”, que contribuíram decisivamente para o surgimento do Rio de Janeiro da Belle Époque.

 

Acessando o link para as fotografias da rua da Ajuda disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

A Rua da Ajuda, onde se encontravam o Conselho Municipal e o  Convento da Ajuda, que já foi tema de um artigo publicado na Brasiliana Fotográfica, foi drasticamente encurtada quando a Avenida Central, atual Avenida Rio Branco, foi construída e inaugurada, em 1904. Da rua restou apenas um pequeno trecho denominado Rua Chile, localizado entre a Rua São José e a Avenida Rio Branco.

 

 

Recebeu, por volta de 1630, o nome de Caminho de Nossa Senhora da Ajuda por começar em frente à Capela de Nossa Senhora da Ajuda. Mas, antes disso, em fins do século XVI, no caminho que vai para a Lagoa Grande ou do Boqueirão, levantou-se a Ermida de Nossa Senhora da Conceição da Ajuda, fato que comprova a antiguidade da Rua da Ajuda, aberta pelos primeiros povoadores do Rio de Janeiro.

“A Rua da Ajuda é quase tão antiga como as de São José e da Assembleia. Já encontramos escrituras de venda de terrenos e prédios desde 1612. Sua abertura explica-se pela comunicação, ao lado do Morro do Castelo e da rua São José, com a Ermida da Ajuda – onde está o Convento da Ajuda, demolido há poucos meses para construção de um grande hotel”.

Felisberto Freire em História da Cidade do Rio de Janeiro (1912)

 

 

Em um trecho do conto Pai Contra Mãe, publicado na antologia de contos Relíquias de Casa Velha (1906), o escritor Machado de Assis (1839 – 1908), em cuja obra a paisagem urbana do Rio de Janeiro é bastante presente, a Rua da Ajuda foi três vezes citada.

 

 

“…Saiu de manhã a ver e indagar pela Rua e Largo da Carioca, Rua do Parto e da Ajuda, onde ela parecia andar, segundo o anúncio. Não a achou; apenas um farmacêutico da Rua da Ajuda se lembrava de ter vendido uma onça de qualquer droga, três dias antes, à pessoa que tinha os sinais indicados. Cândido Neves parecia falar como dono da escrava, e agradeceu cortesmente a notícia. Não foi mais feliz com outros fugidos de gratificação incerta ou barata”.

 

 

“…Mas não sendo a rua infinita ou sequer longa, viria a acabá-la; foi então que lhe ocorreu entrar por um dos becos que ligavam aquela à Rua da Ajuda. Chegou ao fim do beco e, indo a dobrar à direita, na direção do Largo da Ajuda, viu do lado oposto um vulto de mulher; era a mulata fugida. Não dou aqui a comoção de Cândido Neves por não podê-lo fazer com a intensidade real. Um adjetivo basta; digamos enorme. Descendo a mulher, desceu ele também; a poucos passos estava a farmácia onde obtivera a informação, que referi acima. Entrou, achou o farmacêutico, pediu-lhe a fineza de guardar a criança por um instante; viria buscá-la sem falta”.

 

 

“…O fruto de algum tempo entrou sem vida neste mundo, entre os gemidos da mãe e os gestos de desespero do dono. Cândido Neves viu todo esse espetáculo. Não sabia que horas eram. Quaisquer que fossem, urgia correr à Rua da Ajuda, e foi o que ele fez sem querer conhecer as consequências do desastre…”

 

 

Andrea C.T.Wanderley

Editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

FREIRE, Felisberto. História da Cidade do Rio de Janeiro: 1564 – 1700. Rio de Janeiro, RJ; São Paulo, SP: Tipografia da Revista dos Tribunais, 1912

GERSON, Brasil. História das Ruas do Rio. Rio de Janeiro: Bem-Te-Vi, 2013.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

Rua da Ajuda. Revista do Arquivo do Distrito Federal, Volume I, pág. 356, 1950

Site O Rio de Janeiro Aqui

 

Links para as outras publicações da série “Avenidas e ruas do Brasil”

 Série “Avenidas e ruas do Brasil” I – Avenida Central, atual Rio Branco, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 7 de setembro de 2016

Série “Avenidas e ruas do Brasil” II – A Rua do Imperador em Petrópolis por Klumb, Leuzinger e Stahl, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 26 de junho de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” III – A Rua do Bom Jesus, no Recife, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 6 de agosto de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IV – A Rua 25 de Março, em São Paulo, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 1º de setembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” V – A Rua Direita, a Rua das Mercês e a Rua Macau do Meio, em Diamantina, Minas Gerais, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 22 de outubro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” VI  – Rua Augusto Ribas e outras, em Ponta Grossa, no Paraná, pelo fotógrafo Luiz Bianchi, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 16 de novembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” VII – A Avenida Atlântica, em Copacabana, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 23 de dezembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil VIII – A Rua da Carioca por Cássio Loredano, de autoria de Cássio Loredano, publicada em 20 de janeiro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IX – Ruas e panoramas do bairro do Catete, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 14 de julho de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XI – A Rua da Esperança, em São Paulo, por Vincenzo Pastore, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 14 de dezembro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XII – A Avenida Paulista, o coração pulsante da metrópole, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 21 de janeiro de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XIII – A Rua Buenos Aires no Centro do Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 19 de julho de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XIV – A Avenida Presidente Vargas,, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 31 de agosto de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XV – Misericórdia: rua, largo e ladeira, no Rio de Janeiro, por Cássio Loredano, de autoria de Cássio Loredano, publicada em 8 de dezembro de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVI – “Alguma coisa acontece no meu coração”, a Avenida São João nos 469 anos de São Paulo, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 25 de janeiro de 2023

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVII  e série “O Rio de Janeiro desaparecido” XXIII – A Praia e a Rua do Russel, na Glória, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 15 de maio de 2023

 

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IX – Ruas e panoramas do bairro do Catete

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IX – Ruas e panoramas do bairro do Catete

A Brasiliana Fotográfica publica o nono artigo da série Avenidas e ruas do Brasil e convida seus leitores a um passeio pelas ruas do Catete, a partir de fotografias de autoria de Antônio Caetano da Costa Ribeiro (18? – 19?), Augusto Malta (1864 – 1957), Augusto Stahl (1828 – 1877), Georges Leuzinger (1813 – 1892)Juan Gutierrez (c. 1860 – 1897) e Marc Ferrez (1843  1923). São vistas panorâmicas e registros das ruas Conde de Baependy, do Príncipe, da Praça José de Alencar e, finalmente, da Rua do Catete, onde localiza-se o Palácio do Catete, que já foi a residência dos presidentes da República do Brasil e o local do suicídio de Getúlio Vargas (1882-1954), em 24 de agosto de 1954, um dos fatos mais dramáticos de nossa história. Hoje abriga o Museu da República, uma das instituições parceiras da Brasiliana Fotográfica.

 

 

Acessando o link para as fotografias do Catete disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

 

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Links para as outras publicações da série “Avenidas e ruas do Brasil”

 Série “Avenidas e ruas do Brasil” I – Avenida Central, atual Rio Branco, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 7 de setembro de 2016

Série “Avenidas e ruas do Brasil” II – A Rua do Imperador em Petrópolis por Klumb, Leuzinger e Stahl, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 26 de junho de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” III – A Rua do Bom Jesus, no Recife, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 6 de agosto de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IV – A Rua 25 de Março, em São Paulo, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 1º de setembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” V – A Rua Direita, a Rua das Mercês e a Rua Macau do Meio, em Diamantina, Minas Gerais, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 22 de outubro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” VI  – Rua Augusto Ribas e outras, em Ponta Grossa, no Paraná, pelo fotógrafo Luiz Bianchi, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 16 de novembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” VII – A Avenida Atlântica, em Copacabana, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 23 de dezembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil VIII – A Rua da Carioca por Cássio Loredano, de autoria de Cássio Loredano, publicada em 20 de janeiro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” X – A Rua da Ajuda, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 9 de novembro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XI – A Rua da Esperança, em São Paulo, por Vincenzo Pastore, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 14 de dezembro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XII – A Avenida Paulista, o coração pulsante da metrópole, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 21 de janeiro de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XIII – A Rua Buenos Aires no Centro do Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 19 de julho de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XIV – A Avenida Presidente Vargas,, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 31 de agosto de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XV – Misericórdia: rua, largo e ladeira, no Rio de Janeiro, por Cássio Loredano, de autoria de Cássio Loredano, publicada em 8 de dezembro de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVI – “Alguma coisa acontece no meu coração”, a Avenida São João nos 469 anos de São Paulo, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 25 de janeiro de 2023

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVII  e série “O Rio de Janeiro desaparecido” XXIII – A Praia e a Rua do Russel, na Glória, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 15 de maio de 2023

 

Série “Avenidas e ruas do Brasil” VIII – A Rua da Carioca por Cássio Loredano

A Brasiliana Fotográfica celebra o Dia de São Sebastião, padroeiro do Rio de Janeiro, com a publicação do oitavo artigo da série “Avenidas e ruas do Brasil”. É o jornalista e caricaturista Cássio Loredano que nos conta a história de uma das ruas mais antigas e representativas da cidade, a Rua da Carioca, no Centro, que traz no seu nome, desde 1848, por deliberação da Câmara Municipal da Corte, a denominação daqueles que nascem na cidade (Diário do Rio de Janeiro, 8 de novembro de 1848, terceira coluna). Mas já foi, há séculos, chamada de Caminho do Egito e Rua do Piolho.

Acessando o link para as fotografias do largo e da Rua da Carioca disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.  

 

Série “Avenidas e ruas do Brasil” VIII – A rua da Carioca por Cássio Loredano

Cássio Loredano*

 

 

Degredar foi em Portugal, desde o século XVI, uma das penas impostas a quem tinha contas a ajustar com a lei. E foi disso que se lembraram por lá quando, no início do Setecentos, pretenderam se ver livres de uma gente incômoda que em toda a Europa e ao longo de séculos era alvo de ondas recorrentes de antipatia, segregação, preconceitos e perseguições, – os ciganos: mandar para o Brasil. E no Rio de Janeiro, como eram “intocáveis”, em grego
athígganos, isto é, que não queriam e, mais do que não quererem, eram proibidos de contato com cristãos, foram armar suas barracas fora dos estreitos limites municipais de então: lá para os lados do Rocio grande, na época Campo da Cidade, e numa rua que a partir dele se formou e se chamou Rua dos Ciganos. O próprio campo passou a ser então também chamado dos Ciganos.

 

 

Que são as atuais Rua da Constituição e praça Tiradentes. O acesso a esse campo se dava pelo que é hoje a Rua da Carioca e era um tortuoso “caminho que pelo areal passa pelo pé do outeiro de São Francisco (Santo Antônio)”.

 

 

Essa hesitação na toponímia se deve a que Santo Antônio de Lisboa era franciscano. Saiu a pé para a Itália, onde ingressou nessa ordem, se fez doutor e lecionou Teologia em Bolonha. Foi canonizado como Santo Antônio de Pádua, cidade em que morreu. Era soldado honorário do exército português e, quando o Rio foi atacado em 1710 por um pirata francês, Jean-François Duclerc, tiveram a ideia de tirar sua imagem do frontão da igreja e colocá-la em cima do muro do convento para inspirar os defensores da cidade. A isso atribuído o êxito da campanha, promoveu-se o santo a tenente-coronel e lhe outorgaram a grã-cruz da Ordem Militar de Cristo. Quando, um ano depois, outro pirata, René Duguay-Trouin, veio vingar Duclerc, que tinha morrido no Rio, não houve santo que evitasse a nódoa que ficou no brasão da cidade.

 

 

°°°

Em 1967, dois anos depois o do 4º centenário da, com nódoa ou sem nódoa, “mui heróica e leal” São Sebastião do Rio de Janeiro, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, IHGB, publicou um preciosíssimo Atlas da evolução urbana da cidade, de Eduardo Canabrava Barreiros. São vinte e duas pranchas em que nos passa sob o olhar tudo o que houve com o plano municipal ao longo de quatrocentos anos: abertura de caminhos, ruas e praças, desmontes de morros, aterros de lagoas, charcos e perfis litorâneos, etc.

 

atlas

 

A prancha 10 do atlas, que  tem por base uma planta de 1713, de José Massé, ensina que aquele “caminho do areal” passara a se chamar Caminho do Egito. Em sua História das ruas do Rio, Brasil Gerson levanta a possibilidade de ter havido em algum ponto do caminho um oratório com a imagem da fuga de Maria, José e o Menino para o Egito para escapar ao infanticídio decretado por Herodes. Muito mais plausível, embora não se conheça documento que o comprove, é que se chamasse do Egito por conduzir ao campo dos Ciganos, como está no último romance da pentalogia carioca de Alberto Mussa, A biblioteca elementar, de 2018.

 

 

Em algumas línguas, português, italiano, alemão, manteve-se a palavra grega que Bizâncio usou, athígganos, como derivação para cigano, zíngaro, Zigeuner (tsigóiner). Esses nômades originários da Índia tinham entrado na Europa com as invasões mongóis do século XIII e subido até a Boêmia pelo vale do Danúbio. Outro itinerário de entrada teria sido via Egito, e isso diziam os próprios ciganos, o que originou as palavras por que foram chamados em outras línguas. Em castelhano, gitanos, de egiptanos. Em francês, além do empréstimo tomado ao castelhano, gitans, também égyptiens ou bohémiens, dependendo de se tinham chegado pelo Mediterrâneo ou descido pelo continente, – e Victor Hugo pode numa mesma página de Notre-Dame de Paris chamar sua Esmeralda de bohémienne ou égyptienne. Em inglês, simplesmente gypsys ou gipsys.

Ora, os degredados do campo dos Ciganos diziam que tinham entrado na Europa passando pelo Egito e é mais plausível que por isso a rua tenha se chamado assim do que pelo oratório imaginado por Brasil Gerson.

 

 

º º º

 

Tom Jobim dizia que o Brasil não é para principiantes. Aqui, prostitutas se apaixonam e traficantes se viciam. E cigano se fixa, cigano se estabelece. E o mesmo Brasil Gerson nos conta como alguns deles ganharam dinheiro com o negócio negreiro no Valongo e deixaram seus acampamentos para vir morar dentro dos limites da cidade. Na Rua do Piolho, como tinha passado a se chamar o caminho do Egito, segundo o mapa de André Vaz Figueira, de 1750, base para a prancha 12 do atlas de Canabrava Barreiros.

“Piolho” era como a vizinhança chamava um solicitador da época, cujo nome a história esqueceu, apelido que se dava a gente que como ele vivia escarafunchando arquivos e cartórios em busca de questões de que pudesse tirar proveito. “Piolho das roupas”, “piolho em costura”. Algo como hoje muquirana (aliás o nome do piolho em tupi), parasita, sanguessuga.

 

 

No começo, o caminho do Egito só tinha casas do lado direito de quem vai para o campo. Do lado esquerdo, só havia uma cerca que separava da cidade os domínios dos franciscanos. Mas quando a ordem terceira de São Francisco da Penitência construiu seu hospital no sopé do morro, detrás dele ficou aberto o espaço em que se fizeram as casas do lado esquerdo e a Rua do Piolho passou a tê-las dos dois lados. O “Piolho” tinha na rua a casa em que morava e mais três que alugava.

Na Planta Régia mandada fazer em 1808 pela casa real que chegara ao Brasil naquele ano, a rua ainda se chama do Piolho, mas o campo é da Lampadosa, por causa da igreja dessa virgem que havia (e há) na Rua do Sacramento, atual Avenida Passos. Nessa igreja o Tiradentes teve licença de ouvir uma missa antes de ser  levado ao patíbulo que estava para ele armado no centro do campo.

 

º º º

 

Em 1723, tinha sido mandada aterrar uma lagoa, às vezes só charco, emanação de miasma e criadouro de mosquitos que havia embaixo, defronte ao convento de Santo Antônio (como se vê no mapa acima, diante do convento assinalado pelo quadrado preto). Naquele espaço se construiu o primeiro chafariz “da Carioca”. De suas 16 bicas despejava a água que os velhos arcos construídos pelo governador Aires Saldanha traziam da nascente do rio Carioca pelos altos de Santa Teresa. Depois, Gomes Freire, também governador, mandou subir o maravilhoso monumento que são os Arcos da Lapa, com o idêntico propósito de vencer o vale entre os morros de Santa Teresa e Santo Antônio, trazendo a água para um novo, enorme chafariz de agora 35 torneiras. E largo da Carioca passou a se chamar o espaço do antigo viveiro pestilento aterrado. (Como “da Carioca” se chamara lá atrás o caminho que levava até a foz do rio Carioca, na atual praia do Flamengo, onde se fazia a aguada, o reabastecimento de água doce a bordo das embarcações que estavam fundeadas na baía. Quando a Rua do Cano, atual Sete de Setembro, e o chafariz do Mestre Valentim puxaram a água até o largo do Paço, a aguada dos marinheiros passou a se fazer com muito maior comodidade, no cais Pharoux.)

 

 

A Rua do Piolho, que ganhou a importância de ser o acesso de quem morava lá fora à água do chafariz, passou com o tempo a ser também chamada  de Rua da Carioca, como consta na planta Garnier, de 1859, prancha 16 do atlas do IHGB. Nela, o campo da Lampadosa tinha mudado de novo de nome, praça da Constituição. Sempre se disse que o novo nome comemorava a primeira constituição do Brasil independente, de 1824. Brasil Gerson avança, porém, a informação de que isto foi porque na praça, dia 26 de fevereiro de 1821 – e apenas dois meses antes de seu embarque de volta a Portugal, a 25 de abril – d. João VI jurou “as bases da futura Constituição a ser votada pelas Cortes de Lisboa”. A República rebatizou outra vez o velho campo: praça Tiradentes.

No começo do século XX, a administração Pereira Passos tornou o velho caminho uma rua reta, alargou-a, arborizou-a e a tornou importante eixo de ligação centro-norte da cidade, com suas “colegas” lá na frente, Visconde do Rio Branco, Frei Caneca, Salvador e Estácio de Sá, Haddock Lobo e por ali adiante. Depois, ganharam a concorrência brutal da Presidente Vargas. A rua manteve um charme que foi devagar se degradando e entrou na depressão que agora está atravessando e que se comunica a seus frequentadores mais antigos.

º º º

Em 1862, instalou-se no centro da então praça da Constituição o primeiro e possivelmente o mais belo bronze da cidade, a estátua equestre de Pedro I, esculpida e fundida em Paris nas oficinas de Louis Rochet. O imperador está brandindo um calhamaço que seria a constituição de 1824, origem da tal confusão que se criou com a afirmação de Brasil Gerson.

 

 

º º º

2020

Da praça que emoldura o monumento, três quartos das portas estão arriados, a maioria – por causa da pandemia – definitivamente. Na face entre a Rua da Carioca e a Visconde do Rio Branco estão os dois hotéis da esquina da rua Silva Jardim: o decadente e o moderno da cadeia Ibis. Há depois uma loja de ferragens e “sebo” mais nenhum. O Teatro Carlos Gomes está obviamente fechado e o quartel da polícia foi abandonado. Do lado onde funcionou o lendário dancing Estudantina Musical, estão o palacete do visconde do Rio Seco, imponente e restaurado, e seu vizinho moderno, ambos abrigando agora o Centro de Referência do Artesanato Brasileiro. Depois, só mais a tradicional loja Tic-tac, sapataria nos três sentidos: indústria, comércio e reparo de sapatos e consertos gerais. O resto, até a Rua da Constituição, é deprimente, doze portas de aço fechadas, enferrujando.

Dessa Rua da Constituição, há quatro anos, saem, passam pela praça e se enfiam pela Rua Sete de Setembro os trilhos da linha 2 do VLT, tetrassílabo tolo, quando se tem bonde, delicioso brasileirismo quase monossilábico. Desse lado da praça, funciona um pequeno supermercado. A casa onde morou a cantora Bidu Sayão foi restaurada e abandonada. Na esquina da Rua da Imperatriz há um café e restaurante novo, bastante simpático. Na pequena quadra dali até a Avenida Passos funcionou no século XIX a tipografia e editora do grande Francisco de Paula Brito, aliás nascido na Rua do Piolho, primeiro empregador de um certo Quincas, jovem revisor, por extenso Joaquim Maria Machado de Assis. Hoje ali não há mais nada e o outrora imponente casarão da esquina da avenida é uma perigosa ruína. O Teatro João Caetano está também sem função. Na face entre a Rua do Teatro e a da Carioca existe uma caixa de fósforos estreita e comprida, de 31 andares, isolada e horrorosa, o Edifício Centro Paulista. Fora isso, mais nada. Uma filial da Adega do Pimenta, de Santa Teresa, está fechada.

Entremos então pela Rua da Carioca. Mais ou menos metade das portas também está fechada. Do tradicional polo de lojas de instrumentos musicais ainda resistem oito, mas não mais nem A Guitarra de Prata, nem O Bandolim de Ouro. Das de malas ainda existem quatro. De guarda-chuvas, uma só e só uma de chapéus de sol e cadeiras de praia.

Do lado esquerdo de quem está indo para o Largo da Carioca, está a metade do que foi a fachada do Cinema Ideal, com sua marquise de vidro sustentada por belo artesanato de ferro art déco. A sala tinha o luxo de um teto retrátil para noites limpas de verão. A seguir, chega-se a uma simpaticíssima servidão de passagem para a Rua Sete de Setembro, Rua do Verde, inteiramente dedicada a comércios de plantas; e uma filial do paraíso, a loja do Palácio das Ferramentas. Na esquina de Ramalho Ortigão existiu muito tempo um lindo armazém do tipo da Casa Paladino, na Rua Uruguaiana, ou o do Senado na Gomes Freire e o Gomes de Santa Teresa. Pé-direito altíssimo, mobiliário até o teto em madeira escura entalhada e portas de cristal, balcões, prateleiras e gôndolas com milhares de garrafas de toda aguardente imaginável, compotas, rapaduras envoltas em folhas de bananeira secas ou palha de milho. Bar Flora. Agora na esquina, no espaço de um terço do que era, está um bar com graça zero, tudo de fórmica, em que  pessoas engolem de pé e depressa uma fritura massuda qualquer com qualquer refresco para ajudar a descer.

No sobrado do nº 38 – magnificamente restaurado, deixando à mostra por dentro a antiga alvenaria de pedra e argamassa à base de óleo de baleia -, funcionava até a pandemia e reabrirá depois dela a Casa do Choro, iniciativa de Luciana Rabello, reduto da melhor música instrumental da cidade.

Mas atravessemos a rua. No pequeno edifício estreito do nº 59, ocupou um andar a última redação do Pasquim, em que, praticamente sozinhos, Jaguar e Reinaldo “casseta” levaram o barco até o fim. O segundo andar do 53 foi o lendário restaurante Zicartola. Os donos, Cartola e sua mulher Zica, a chefe da cozinha, moravam no andar de cima. O local tinha um espaço em que se apresentava a nata do universo do samba carioca – e onde Hermínio Bello de Carvalho concebeu o espetáculo Rosa de Ouro, de 1965. O Zicartola foi o primeiro palco de Paulinho da Viola.

Seguindo: Cinema Iris. Em 1973, o patrimônio fechou, para restaurar sua arquitetura eclética e a bela escadaria de ferro que leva ao balcão, a sala que exibia filmes pornô, – mas em que o mais picante não se passava na tela. Na reinauguração, houve uma concorridíssima festa, com público nada a ver com o que habitualmente frequentava suas poltronas. Cinema mudo a noite toda, animado pela orquestra de Nicolino Coppia, o maestro Copinha. Dali, saiu todo mundo para o Bar Luiz. No dia seguinte, o Iris já tinha voltado à velha batida. Esteve fechado desde março por causa da pandemia, mas reabriu agora em setembro. “O melhor do Rio em filmes eróticos” é o orgulhoso aviso que recebe o público: “três filmes pornô” por 20 módicos reais.

 

 

O Bar Luiz, antes de vir para a Rua da Carioca, 39, fora na Rua da Assembleia, de um alemão chamado Wendling. Quando se mudou, veio como Adolf, Bar Adolf. Óbvio, na guerra foi obrigado a mudar. Passava por ter o melhor chope da cidade, mesmo quando a cozinha já não era mais nada do outro mundo. Até que alguns anos atrás um novo dono tivesse a infeliz ideia de tirar a chopeira da Brahma e botar a da cervejaria Sol. Pronto: debandada geral. Ninguém mais ia lá – e agora, ainda por cima, veio a pandemia. O bar foi reaberto com menos mesas, mas as mesmas toalhas imaculadas dando destaque às belas cadeiras pretas tipo austríacas. O chope voltou a ser Brahma. Mas o estrago que se conseguiu num dia pode levar anos para ser reparado, – se é que será possível reparar.

Desse lado impar, do Bar Luiz até o Largo da Carioca, há ainda uma loja de roupas masculinas, outra de artigos esportivos, uma sapataria e as lojas de artigos de praia e malas, mas não mais a Mala Carioca, a Mala Inglesa ou A Mala Amada. E uma loja maluca, O Rei das Facas, cutelaria que é também armeiro – espadas decorativas, lanças, fuzis, pistolas, munição -, loja de ferramentas e ferragens, aqueles velhos moedores de carne caseiros, manuais, panelas de ferro, máquinas também manuais de esticar massa de pastel,  penicos de ágate etc.

Entre esses poucos negócios, tudo portas de aço arriadas.

E assim chegamos ao Largo da Carioca, presidido pelo Convento e a Igreja de Santo Antônio e a da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência – pequenina preciosidade inteiramente forrada de ouro -, no alto do pouco que restou do Morro de Santo Antônio.

 

 

Na área que foi desmontada, abriu-se a “esplanada das estatais”, Petrobrás, BNDES, BNH. No centro do largo continua o velho relógio, que ficou anos parado e recentemente voltou a funcionar. No subsolo, a estação Carioca do metrô, cuja obra demoliu a loja de discos Palermo, que aparece no filme Garrincha, alegria do povo, de Joaquim Pedro de Andrade: Mané consultando as bancadas de LPs. Lá no fundo, o edifício do Liceu Português, na esquina de Senador Dantas, e à esquerda, na de Bitencourt da Silva, os fundos da Caixa Econômica e do premiado edifício modernista de Henrique Mindlin, o Avenida Central.

 

Largo da Carioca, por Cássio Loredano

Largo da Carioca, por Cássio Loredano, 2015 / Acervo IMS

 

Uma banca de jornais vende mapas e painéis de anatomia daqueles de antigas salas de aula. De vez em quando aparece um vendedor de panaceias em garrafadas, um sujeito com cobras, engolidores de fogo. Um homenzinho de Bíblia em punho anuncia para a indiferença geral o final dos tempos.

 

* Cássio Loredano é jornalista e caricaturista. E, sobretudo, um apaixonado pelo Rio de Janeiro e suas histórias.

 

Links para as outras publicações da série “Avenidas e ruas do Brasil”

 Série “Avenidas e ruas do Brasil” I – Avenida Central, atual Rio Branco, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 7 de setembro de 2016

Série “Avenidas e ruas do Brasil” II – A Rua do Imperador em Petrópolis por Klumb, Leuzinger e Stahl, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 26 de junho de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” III – A Rua do Bom Jesus, no Recife, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 6 de agosto de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IV – A Rua 25 de Março, em São Paulo, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 1º de setembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” V – A Rua Direita, a Rua das Mercês e a Rua Macau do Meio, em Diamantina, Minas Gerais, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 22 de outubro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” VI  – Rua Augusto Ribas e outras, em Ponta Grossa, no Paraná, pelo fotógrafo Luiz Bianchi, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 16 de novembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” VII – A Avenida Atlântica, em Copacabana, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 23 de dezembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IX – Ruas e panoramas do bairro do Catete, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 14 de julho de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” X – A Rua da Ajuda, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 9 de novembro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XI – A Rua da Esperança, em São Paulo, por Vincenzo Pastore, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 14 de dezembro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XII – A Avenida Paulista, o coração pulsante da metrópole, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 21 de janeiro de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XIII – A Rua Buenos Aires no Centro do Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 19 de julho de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XIV – A Avenida Presidente Vargas,, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 31 de agosto de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XV – Misericórdia: rua, largo e ladeira, no Rio de Janeiro, por Cássio Loredano, de autoria de Cássio Loredano, publicada em 8 de dezembro de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVI – “Alguma coisa acontece no meu coração”, a Avenida São João nos 469 anos de São Paulo, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 25 de janeiro de 2023

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVII  e série “O Rio de Janeiro desaparecido” XXIII – A Praia e a Rua do Russel, na Glória, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 15 de maio de 2023

 

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Link para a Proposta Pedagógica: território e imagem, realizada pela equipe educativa do IMS-RJ sob inspiração da plataforma interativa ImagineRio, que ilustra a partir de fotografias, ilustrações e mapas as transformações sociais e urbanas da cidade do Rio de Janeiro.