O Hipódromo da Gávea, no Rio de Janeiro

A Brasiliana Fotográfica destaca imagens produzidas pelo alagoano Augusto Malta (1864 – 1957), em 1926, ano da inauguração do Hipódromo do Jockey Club do Brasil (Jornal do Commercio, 26 de setembro de 1926, terceira coluna). Malta foi o fotógrafo oficial da prefeitura do Rio de Janeiro, de 1903 a 1936. Há também mais dois registros do Hipódromo: uma foto aérea tomada do Cristo Redentor, de autoria de Alfredo Krausz (? – 19?) e outro, da recepção ao príncipe de Gales, Eduardo VIII (1894 – 1972), feito pelo fotógrafo amador Guilherme Santos (1871 – 1966), ambos realizados no início da década de 30.

 

 

Acessando o link para as fotografias do Jockey Club Brasileiro disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Construído às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, sua pedra fundamental foi lançada pelo presidente Epitácio Pessoa (1865 – 1942), em 12 de novembro de 1922 (O Paiz, 12 de novembro de 1922, quinta coluna). Foi projetado pelos arquitetos cearense Archimedes Memória (1893 – 1960) e o franco-suíço Francisque Cuchet (18? – 19?), responsáveis também por outros importantes projetos como o do Palácio das Festas e do Palácio das Grandes Indústrias, na Exposição Internacional do Centenário da Independência (1922) e o do Palácio Tiradentes (1926). Eles se tornaram sócios do “Escriptorio Technico Heitor de Mello – A. Memória & F. Couchet, architectos”, após a morte de Heitor de Mello (1875 – 1920), em 14 de setembro de 1920. Originalmente´, os sócios do escritório eram Heitor e Cuchet.

 

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Sobre o Hipódromo da Gávea: O complexo é composto por cinco edificações projetadas sob inspiração neoclássica da escola francesa Luís XVI, cuja rígida simetria marca tanto as plantas quanto as fachadas (ALENCAR, 2010)Está integrado a uma área de 640 mil m² e conta com clube social, escola primária, escola de profissionais do turfe, restaurantes, além de ser palco de diversos eventos. Foi inaugurado, em 11 de julho de 1926, com excepcional brilhantismo (O Paiz, 12 e 13 de julho de 1926). Na época, o presidente de honra e efetivo do Jockey Club era Linneu de Paula Machado (1880 – 1942).

 

 

 

Segundo o arquiteto e historiador Paulo Santos (1904 – 1988), diante das arrojadas marquises de concreto armado engastadas na arquibancada Luís XVI, o renomado arquiteto norte-americano Frank Loyd Wright (1867 – 1959), em viagem pelo Brasil, em 1931, teria dito: É o futuro ancorado no passado. Loyd Wright estava no Brasil integrando o juri do concurso que escolheu o projeto para a construção do Farol de Colombo na entrada do porto de São Domingos, capital da República Dominicana (Revista da Semana, 24 de outubro de 1931). Também fez uma conferência na Escola Nacional de Belas Artes (Diário de Notícias, 21 de outubro 1931, sétima coluna).

 

 

 

O Hipódromo da Gávea, uma réplica do antigo Hipódromo de Longchamps no Bois de Boulogne, é o palco mais tradicional do turfe brasileiro e sede da maior corrida de cavalo nacional, o GP Brasil, disputado pela primeira vez no primeiro domingo de agosto de 1933, no dia 6, e vencido pelo cavalo brasileiro Mossoró, montado por Justiniano Mesquita (Fon-Fon, 12 de agosto de 1933).

 

 

 

 

Veja aqui um filme sobre a inauguração do Hipódromo da Gávea

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

ALENCAR, Aurélia Tâmisa Silvestre de. Archimedes Memória: o futuro ancorado no passado. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Arquitetura, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Ciências da Arquitetura, Linha de pesquisa Teoria, História e Crítica, junho de 2010.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

JB em Folhas

Rio de Janeiro aqui

SANTOS, Paulo. Quatro séculos de arquitetura. Rio de Janeiro: Instituto de Arquitetos do Brasil, 1981.

 

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVI – “Alguma coisa acontece no meu coração”, a Avenida São João nos 469 anos de São Paulo

“Alguma coisa acontece no meu coração que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João”. Assim começa Sampa, do compositor Caetano Veloso, uma das mais belas canções sobre a São Paulo – foi lançada no álbum Muito – Dentro da Estrela Azulada, em 1978. Então, para homenagear os 469 anos de fundação da cidade, a Brasiliana Fotográfica destaca uma foto aérea da Avenida São João, do acervo do Museu Aeroespacial, uma de suas instituições parceiras, além de registros da cidade realizados por Militão Augusto de Azevedo (1837 – 1905) e Guilherme Gaensly (1843 – 1948) na publicação do 16º artigo da Série “Avenidas e ruas do Brasil”.

Destacamos também artigos já publicados no portal sobre a cidade, que foi fundada em 25 de janeiro 1554 com a celebração de uma missa que oficializou a criação de um colégio jesuíta, no alto de uma colina entre os rios Anhangabaú e Tamanduateí, por 12 padres, dentre eles José de Anchieta (1834 – 1597) e Manoel da Nóbrega (1517 – 1590). É onde fica o Pátio do Colégio.

 

 

São Paulo é o principal centro corporativo, financeiro e mercantil da América do Sul assim como a cidade mais populosa do Brasil.

 

 

Muitos fotógrafos registraram diversos aspectos da cidade de São Paulo desde o século XIX, dentre eles Alfredo Krausz (18? – 19?), Claude Lévi-Strauss (1908 – 2009), Edgard Egydio de Souza (1867 – 1956), Frédéric Manuel (18? – 19?), Guilherme Gaensly (1843 – 1928), Marc Ferrez (1843 – 1923), Militão Augusto de Azevedo (1837 – 1905), Otto Rudolf Quaas (c. 1862 – c. 1930), Valério Vieira (1862 – 1941), Vincenzo Pastore (1865 – 1918) e fotógrafos ainda não identificados, cujas imagens podem ser apreciadas nos artigos listados a final desta publicação.

Militão e Gaensly são considerados os fotógrafos que mais cultuaram São Paulo. Militão produziu o Álbum comparativo da cidade de São Paulo 1862-1887, sua obra-prima, que foi o primeiro realizado com o objetivo de mostrar as mudanças ocorridas na capital paulista, devido ao progresso. O álbum evidencia o valor que Militão dava à fotografia como documento de época inserido em projeto artístico que sugere um passeio pela cidade no período de 1862 a 1887. O trabalho do fotógrafo muito contribuiu para a formação da imagem moderna de São Paulo.

 

 

Gaensly fotografou a cidade em plena transição para a modernidade, tendo registrado todos os aspectos urbanos da nova metrópole que surgia, como a inauguração dos bondes elétricos que substituíram as carroças, o Jardim da Luz, a agitação do comércio na região do entorno da Praça da Sé, o crescimento da Avenida Paulista, além de palacetes, chácaras, edifícios públicos, igrejas, escolas, teatros e hospitais. Essas vistas de São Paulo foram comercializadas em álbuns impressos na Suíça a partir de fotografias em papel albuminado e de colotipias. Fotografou também a chegada de imigrantes italianos em Santos e em São Paulo. Dentre os prêmios que recebeu, está uma medalha de prata conquistada na Exposição Universal de Saint Louis, em 1904.

 

 

Artigos sobre a cidade de São Paulo já publicados na Brasiliana Fotográfica

 

 

Militão Augusto de Azevedo (1837 – 1905) e sua obra-prima, o “Álbum comparativo da cidade de São Paulo 1862-1887″, publicado em 24 de maio de 2015

Vincenzo Pastore, um fotógrafo entre dois mundos (Casamassima, Itália 5 de agosto de 1865 – São Paulo, Brasil 15 de janeiro de 1918), publicado em 5 de agosto de 2015

São Paulo sob as lentes do fotógrafo Guilherme Gaensly (1843 – 1928), publicado em 25 de janeiro de 2017

Os trinta Valérios, uma fotografia bem-humorada de Valério Vieira (1862 – 1941), publicado em 21 de março de 2017

O fotógrafo austríaco Otto Rudolf Quaas e o construtor Ramos de Azevedo, publicado em 28 de setembro de 2017

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IV – Rua 25 de março em São Paulo, publicado em 1º de setembro de 2020

A cidade de São Paulo e Tebas (1721 – 1811), reconhecido como arquiteto, em 2018, mais de 100 anos após sua morte, pubicado em 25 de janeiro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XI – A Rua da Esperança, em São Paulo, por Vincenzo Pastore, publicado em 14 de dezembro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XII – A Avenida Paulista, o coração pulsante da metrópole, publicado em 21 de janeiro de 2022.

Série “1922 – Hoje, há 100 anos” II – A Semana de Arte Moderna, publicado em 13 de fevereiro de 2022.

O Edifício Martinelli, antigo referencial e símbolo de São Paulo, publicado em 16 de maio de 2022

 

 

Assinaturas dos membros do 1º Governo de São Paulo, 1555

Assinaturas dos membros do 1º Governo de São Paulo, 1555 / São Paulo Antigo e São Paulo Moderno

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Caetano Veloso

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Brasiliana Fotográfica

São Paulo Antigo e São Paulo Moderno – 1554-1904. São Paulo : Editores Vanorden & Cia, 1905.

 

Links para as outras publicações da série “Avenidas e ruas do Brasil”

 Série “Avenidas e ruas do Brasil” I – Avenida Central, atual Rio Branco, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 7 de setembro de 2016

Série “Avenidas e ruas do Brasil” II – A Rua do Imperador em Petrópolis por Klumb, Leuzinger e Stahl, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 26 de junho de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” III – A Rua do Bom Jesus, no Recife, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 6 de agosto de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IV – A Rua 25 de Março, em São Paulo, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 1º de setembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” V – A Rua Direita, a Rua das Mercês e a Rua Macau do Meio, em Diamantina, Minas Gerais, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 22 de outubro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” VI  – Rua Augusto Ribas e outras, em Ponta Grossa, no Paraná, pelo fotógrafo Luiz Bianchi, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 16 de novembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” VII – A Avenida Atlântica, em Copacabana, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 23 de dezembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil VIII – A Rua da Carioca por Cássio Loredano, de autoria de Cássio Loredano, publicada em 20 de janeiro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IX – Ruas e panoramas do bairro do Catete, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 14 de julho de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” X – A Rua da Ajuda, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 9 de novembro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XI – A Rua da Esperança, em São Paulo, por Vincenzo Pastore, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 14 de dezembro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XII – A Avenida Paulista, o coração pulsante da metrópole, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 21 de janeiro de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XIII – A Rua Buenos Aires no Centro do Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 19 de julho de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XIV – A Avenida Presidente Vargas,, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 31 de agosto de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XV – Misericórdia: rua, largo e ladeira, no Rio de Janeiro, por Cássio Loredano, de autoria de Cássio Loredano, publicada em 8 de dezembro de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVII  e série “O Rio de Janeiro desaparecido” XXIII – A Praia e a Rua do Russel, na Glória, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 15 de maio de 2023

 

A estátua do Pequeno Jornaleiro por Alfredo Krausz

A Brasiliana Fotográfica, no Dia do Jornaleiro, destaca a imagem Estátua do Pequeno Jornaleiro de autoria de Alfredo Krausz (? – 19?). Pouco se sabe, até o momento, sobre este fotógrafo. Imagens produzidas por ele integraram a exposição São Paulo 450 Anos: a imagem e a memória da cidade no acervo do Instituto Moreira Salles, realizada no Centro Cultural Fiesp, entre 23 de janeiro e 27 de junho de 2004. No acervo fotográfico do portal, há 52 imagens, todas do Instituto Moreira Salles, produzidas por Krausz no Rio de Janeiro – registros da Baía de Guanabara, de avenidas e ruas, de cinemas, edifícios e monumentos, do Cristo Redentor, dos Arcos da Lapa, dentre outras – , e, em São Paulo, a de um Zepellin sobrevoando a cidade com destaque para o Edifício Martinelli.

Acessando o link para as fotografias de Alfredo Krausz disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar a imagem e verificar todos os dados referentes a ela.

 

 

A Estátua do Pequeno Jornaleiro foi inaugurada na confluência das ruas Ouvidor e Miguel Couto junto à avenida Rio Branco, durante as festas do Mês da Cidade, em 1º de junho de 1933, por iniciativa do jornal A Noite. O discurso da inauguração foi feito pelo escritor Coelho Neto (1864 – 1934) (A Noite, 2 de junho de 1933). Um dos maiores incentivadores das festas foi Anísio Teixeira (1900 – 1971), então Diretor da Instrução Municipal do Rio de Janeiro e um dos mais importantes educadores do Brasil (A Noite, 22 de maio de 1933).

A obra, do caricaturista Fritz, pseudônimo do carioca Anísio Oscar Mota (1895-1969), foi fundida em bronze na Zani Fundição Artística e Metalúrgica Ltda e foi o ponto de partida para a criação da Casa do Pequeno Jornaleiro, concretizada, em 1940, pela então primeira-dama Darcy Vargas (1895 – 1968). A estátua reproduz uma cena que era muito comum no Rio de Janeiro do início do século XX: um menino que vestindo roupas velhas e com jornais debaixo do braço gritava as últimas manchetes do dia para vender os exemplares de jornal que carregava.

 

 

A inspiração de Fritz para a criação da estátua foi um menino chamado José que vendia, durante a década de 20, jornais nas ruas do Rio de Janeiro, e vivia na redação de O Malho, onde o caricaturista trabalhava como repórter. O menino não tinha parentes e suas roupas eram quase o dobro de seu tamanho. Já havia sido, anteriomente, o inspirador do personagem Pirulito (Jornal do Brasil, 19 de setembro de 1963).

 

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Segundo o historiador da música popular brasileira Carlos Didier (1954-) que com João Máximo (1935 – ) escreveu o livro Noel Rosa – Uma biografia (1990), no dia da inauguração da estátua, no Programa Casé, o poeta e compositor Orestes Barbosa (1893 – 1966)  fez, tendo como fundo musical solos de violão de Noel Rosa (1910 – 1937), a seguinte saudação ao monumento: “Esse garoto, que está aí na avenida, é a rua. A rua é o aplauso sincero e a vaia justa“(O GLOBO, 11 de janeiro de 2016).

 

 

 

Entre 1996, durante o Projeto Rio Cidade, a estátua foi transferida para a calçada da rua Sete de Setembro. Em  janeiro de 2016, o Pequeno Jornaleiro foi para o Parque Noronha Santos, devido às  obras do VLT  (O GLOBO, 11 de janeiro de 2016). Foi reinaugurado próxima a seu local original, na esquina da rua do Ouvidor com a avenida Rio Branco, em 3 de outubro de 2019 (O GLOBO, 3 de outubro de 2019).  E assim o grito do Pequeno Jornaleiro voltou a ecoar no Centro do Rio de Janeiro.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

 

Fontes:

Enciclopédia Itaú Cultural

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

Inventário dos Monumentos do Rio de Janeiro

O GLOBO

Site Senado Federal

No Dia Mundial do Meio Ambiente, velas abertas na Baía da Guanabara

No Dia Mundial do Meio Ambiente, a Brasiliana Fotográfica destaca belíssimas imagens de barcos com suas velas abertas na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, produzidas entre as décadas de 1880 e 1930. Seu autores são os fotógrafos Alfredo Krausz (? – 19?), Guilherme Santos (1871 – 1966), Marc Ferrez (1843 – 1923) e Torres (18? -?) – provavelmente Eugenio Francisco Magarinos Torres. O portal lembra a seus leitores da ferramenta zoom. Com ela pode-se ver cada detalhe das fotografias, trazendo-as para mais perto e tendo acesso a uma diferente exploração e observação das imagens. Apreciem!

 

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Acessando o link para as fotografias de barcos com as velas abertas disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

 

 

 

 

Em dezembro de 1972, a Assembleia Geral da ONU designou o dia 5 de junho como Dia Mundial do Meio Ambiente, que foi  comemorado pela primeira vez em 1973, com o mote “Uma Só Terra”. A data foi escolhida em razão da primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, realizada em Estocolmo, na Suécia, entre 5 e 16 de junho de 1972. Seu secretário-geral foi o canadense Maurice Strong (1929 – 2015). Considerada a iniciativa mais importante tomada até então no campo da conservação do meio ambiente e da luta contra a poluição, reuniu 1.200 delegados de 114 países e cerca de três mil observadores. Entre os acordos mais importantes selados durante a reunião estão a condenação das experiências nucleares, a proibição da pesca da baleia por dez anos e a redução da produção de materiais sintéticos aumentando paralelamente a manufatura de substitutivos degradáveis não poluentes (Site World Environment Day).

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Artigos publicados na Brasiliana Fotográfica no Dia Mundial do Meio Ambiente

 

A Floresta da Tijuca no Dia Mundial do Meio Ambiente, publicado em 5 de junho de 2019

Bambus, por Marc Ferrez, publicado em 5 de junho de 2020

No Dia Mundial do Meio Ambiente, a potente imagem da Cachoeira de Paulo Afonso, por Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 5 de junho de 2023

O Edifício Martinelli, antigo referencial e símbolo de São Paulo

A Brasiliana Fotográfica destaca quatro imagens do icônico Edifício Martinelli, símbolo do apogeu e do declínio do Centro velho de São Paulo. Uma delas foi produzida pelo francês Claude Lévi-Strauss (1908 – 2009), que esteve no Brasil entre 1935 e 1938, tendo sido professor de Sociologia na Universidade de São Paulo e que, nas horas vagas, fotografava a cidade. Sobre o edifício escreveu em Saudades de São Paulo:

“Se coloquei o prédio Martinelli na abertura desta coletânea, é que em 1935 ele era ao mesmo tempo um referencial e um símbolo.

Único arranha-céu de toda a cidade, aos olhos dos paulistanos simbolizava a ambição de que esta se tornasse a Chicago do hemisfério sul. Ambição que se realizou desde então, e foi além…

O prédio Martinelli era também um referencial cuja silhueta dominava todos os outros prédios. Era visto de quase toda a parte, mesmo do fundo dos barrancos escarpados que desciam das elevações onde corria a avenida Paulista. Ainda entregues à natureza, esses barrancos abrigavam as habitações mais pobres, com os riachos, à guisa de esgotos, transformados em torrentes quando chovia.

Mas o arranha-céu impunha sua presença majestosa sobretudo no início da avenida São João, artéria nova cuja abertura não estava ainda terminada. Descendo a pé a avenida em direção ao oeste, ficava-se obsedado por sua massa rosada que se percebia toda vez que se olhava para trás. Mesmo à distância, ela obstruia o horizonte, tanto de dia como ao anoitecer, quando as ornamentações feitas para o Carnaval se iluminavam“.

 

 

Há também uma fotografia aérea de autoria de Alfredo Krausz (? – 19?), uma de autoria de um fotógrafo ainda não identificado e, finalmente, um registro realizado por Edgard Egydio de Souza (1867 – 1956). Inicialmente, o Martinelli era dividido em três partes: na rua Líbero Badaró, a parte residencial do edifício; na rua São Bento, a área comercial; e, pela entrada da São João, estava o Hotel São Bento e os salões Verde e Mourisco, alguns dos destinos preferidos da alta sociedade paulistana. A pintura rosa dos detalhes esculpidos em suas paredes é uma de suas marcas registradas.

 

 

Marco na verticalização de São Paulo, um de seus símbolos de progresso, da riqueza gerada pelo café, o Edifício Martinelli foi o primeiro arranha-céu de São Paulo e, como cenário urbano, traduzia o cosmopolitismo, que caracterizou o modernismo no Brasil. Abaixo, versos da revolucionária escritora Patrícia Galvão (1910 – 1962), a Pagu, participante do movimento modernista, onde o Edifício Martinelli é citado:

 

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O Edificio Martinelli foi idealizado pelo imigrante italiano Giuseppe Martinelli (1870-1946), que chegou ao Brasil em fins do século XIX e tornou-se um dos mais ricos empresários do país. O projeto do prédio foi de autoria do arquiteto húngaro William Fillinger (1888-1968), formado na Academia de Belas Artes de Viena, na Áustria. A fachada foi desenhada pelos Irmãos Lacombe, suas portas eram de madeira de lei, as escadas tinham mármore italiano e o cimento veio da Noruega e da Suécia. Foi inaugurado, em 1929, em um terreno entre as ruas São Bento, Libero Badaró e a Avenida São João. Era, na época, o maior prédio da América do Sul, com 105,65 metros de altura, e a maior obra de cimento armado do mundo (O Cruzeiro, 11 de maio de 1929).

 

 

Sua construção foi iniciada, em 1924, e, a princípio, o prédio teria 14 andares. Mais seis pavimentos foram adicionados à obra e, posteriormente, com a ajuda de seu sobrinho, o engenheiro calculista Ítalo Martinelli, o edifício passou para 24 andares. A obra foi embargada, sob denúncias de risco de desabamento da construção. Giuseppe revogou a decisão e ainda ergueu mais pavimentos (A Gazeta (SP), 23 de setembro de 1925, sexta colunaA Gazeta (SP), 23 de janeiro de 1928, quinta coluna; Gazeta de Notícias, 25 de maio de 1928, última coluna; Gazeta de Notícias, 1º de junho, sexta colunaCorreio da Manhã, 1º de junho de 1928, sétima coluna; Gazeta de Notícias, 17 de outubro de 1928, quinta coluna).

 

 

Em 29 de março de 1928, o embaixador italiano, Bernardo Attolico, durante sua estadia em São Paulo, foi visitar as obras do edifício (Correio Paulistano, 30 de março de 1928).

 

 

Em abril de 1929, 25 andares já estavam construídos (O Paiz, 21 de abril de 1929, quarta coluna). Foi visitado pelo governador de São Paulo, Julio Prestes (1882 – 1946).

 

 

 

Em novembro, o prédio já tinha 26 pavimentos (Jornal do Brasil, 26 de novembro de 1926, primeira coluna). No topo, foi construído um palacete, de cinco andares, onde Martinelli moraria. Mudou-se com a família para o prédio, em 1929. Porém, foi o italiano Arturo Patrizi, professor de dança, o primeiro morador do prédio. Mudou-se para lá em 1928, com o edifício ainda em obras, e abriu uma concorrida escola em uma das salas de sua casa, no quarto andar.  
Em 2 de setembro de 1929, foi inaugurado, no prédio, o luxuoso Cinema Rosário, com a exibição do filme O Pagão. O evento foi considerado o maior acontecimento social do ano (A Gazeta (SP), 4 de setembro de 1929).

 

 

 

 

 

“E o Zeppelin veio provar para São Tomé o sofisma gracioso de que uma casa dum andar pode ser mais alta que o Martinelli.” 

Mário de Andrade, 1976

 

Devido à quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929, o comendador Martinelli vendeu o prédio para o Instituto Nazionale di Credito per il Lavoro Italiano all´Estero. Os bens italianos foram confiscados pelo governo brasileiro durante a Segunda Guerra Mundial e o Edifício Martinelli passou para a administração federal, tendo sido, em seguida, leiloado. Foi comprado por Milton Pereira de Carvalho e Herbert Levy e pouco tempo depois passou a ter 103 proprietários, tornando-se o primeiro edifício do Brasil a se transformar em condomínio. Entrou em decadência até a reforma realizada durante a gestão do prefeito Olavo Setúbal (1923 – 2008), na década de 70, tendo sido reinaugurado, em 4 de maio de 1979 (Diário da Noite (SP), 1º de fevereiro de 1979).

 

martinellicartãoO Estado de São Paulo, 5 de maio de 1979

O Estado de São Paulo, 5 de maio de 1979

 

O Martinelli foi o endereço da sucursal paulista da revista O Cruzeiro (O Cruzeiro, 20 de fevereiro de 1932), assim como dos partidos políticos Comunista, Integralista e também da União Democrática Nacional (UDN); do Palmeiras e da Portuguesa, do Club Republicano, da Ordem dos Músicos, da Federação Paulista de Medicina e do Instituto Médico Dante Alignieri.

Em 2019, quando completou 90 anos, cerca de 70% do Edifício Martinelli estava ocupado por secretarias municipais e o restante estava distribuído entre a Caixa Econômica Federal, o Sindicato dos Bancários de São Paulo e 11 lojas.

Uma curiosidade: Giuseppe Martinelli é avô da artista plástica Maria Bonomi (1935-).

 

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Esquinas – Revista Digital Laboratório da Faculdade Casper Líbero, 11 de fevereiro de 2020

Folha de São Paulo, 25 de janeiro de 1998

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

HOMEM, Maria Cecília Naclério. O Prédio Martinelli – A ascensão do imigrante e a verticalização de São Paulo. São Paulo : Editora Projeto, 1984.

LEVI-STRAUSS, Claude. Saudades de São Paulo. São Paulo : Companhia das Letras, 1996.

REBECHI JUNIOR, Arlindo. Pagu: poesia, militância e condição feminina. Revista da USP. Comunicação & Educação • Ano XXIII • número 1 • jan/jun 2018.

São Paulo Antiga

Site Prefeitura de São Paulo

Site YOU, INC

UOL

Os 90 anos do Cristo Redentor, um dos mais importantes símbolos e pontos turísticos do Rio de Janeiro e do Brasil

Samba do avião

 

Cantado em prosa e verso, o Cristo Redentor completa, no próximo dia 12 de outubro, 90 anos e confunde-se com a própria identidade dos cariocas, aliás, dos brasileiros. É um dos mais importantes símbolos e pontos turísticos do Rio de Janeiro e do país, além de ser também um dos maiores e mais famosos monumentos em estilo art déco do mundo. A Brasiliana Fotográfica comemora o ícone nonagenário que, de certa forma, confirma a beleza e a vocação exibicionista do Rio de Janeiro, com a republicação de um artigo sobre ele, porém com mais informações e novas imagens. Quando o primeiro artigo sobre a inauguração do Cristo Redentor foi publicado, em 12 de outubro de 2015, o acervo fotográfico do portal possuia seis registros do monumento – um de autoria de Augusto Malta (1864 – 1957) e um de S. H. Holland (1883 – 1936), ambas do acervo do Instituto Moreira Salles (IMS); e quatro da LTM Firma, do acervo da Fundação Biblioteca Nacional (FBN).

O IMS e a FBN são as instituições fundadoras da Brasiliana Fotográfica e, até abril de 2016, as únicas representadas no acervo fotográfico do portal. Em 2021, o portal já conta com a parceria de mais nove instituições: o Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, o Arquivo Nacional, a Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha, a Fiocruz, a Fundação Joaquim Nabuco, o Leibniz-Institut fuer Laenderkunde, Leipzig; o Museu Aeroespacial, o Museu da República e o Museu Histórico Nacional.

 

Acessando o link para as fotografias do Cristo Redentor disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.  

 

Hoje a Brasiliana Fotográfica  traz para seus leitores, além das seis imagens publicadas em 2015, mais 17 fotografias do Cristo Redentor ou produzidas a partir dele: uma da Escola de Aviação Militar, uma de Mario Lucarell, sete do húngaro Alfredo Krausz (1902 – 1953), duas de fotógrafos ainda não identificados do Acervo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, e duas também realizadas por fotógrafos ainda não conhecidos, que pertencem à Coleção Sebastião Lacerda, sob a guarda do Instituto Moreira Salles; mais uma da LTM Firma e três estereoscopias de autoria do fotógrafo amador Guilherme Santos (1871 – 1966). Usem a ferramenta zoom e façam um passeio pelas imagens! Além dessas fotos, destacamos registros belíssimos publicados em revistas na época da inauguração da estátua.

 

 

 

 

Link para a música Alma Carioca, especialmente composta por Moacyr Luz para a celebração dos 90 anos do Cristo Redentor.

 

 

Localizado no Morro do Corcovado – os morros do Pão de Açúcar e o Morro de Santo Antônio foram cogitados para abrigá-lo – o Cristo Redentor fica a 710 metros de altitude, e a estátua tem 38 metros de altura, pesando 1.145 toneladas. Foi inaugurado, num dia chuvoso, pelo presidente Getulio Vargas (1882-1954) e por Pedro Ernesto (1884-1942), interventor do Distrito Federal. Várias celebrações ocorreram para marcar o acontecimento (Diário de Notícias, 13 de outubro de 1931O Cruzeiro, 17 de outubro de 1931; Excelsior, novembro de 1931).

 

 

 

Na edição da Fon-Fon, de 17 de outubro de 1931, que trouxe uma ampla cobertura das festividades da inauguração do Cristo Redentor com diversas e lindas fotos, publicação do poema Cristo Redentor do Corcovado, de autoria do alagoano Jorge de Lima (1893 – 1853).

 

 

 

 

Mas foi no século XIX, que o padre lazarista francês Pietre-Marie (Pedro Maria) Bos (c.1834-1916), capelão do Colégio Imaculada Conceição, em Botafogo, que chegou ao Rio de Janeiro em torno de 1859, teve a ideia de erigir na capital do Império do Brasil um monumento que exaltasse a fé cristã (A União, 30 de janeiro de 1916, quinta coluna). O padre Boss deixou a ideia registrada no prefácio do livro Imitação de Cristo, edição de 1903:

“O Corcovado! Lá se ergue o gigante de pedra alcantilado, altaneiro e triste, como interrogando o horizonte imenso… quando virá? Há tantos séculos espero. Sim, aqui está o pedestal único no mundo; quando vem a estátua colossal, imagem de quem me fez? Ai, Brasil amado! Acorda depressa, levanta naquele cume sublime a imagem de Jesus Salvador! Nem todos, por causas diversas, lerão o Livro, ao passo que em todas as línguas e linguagens a imagem dirá ao grande e ao pequeno, ao sábio e ao analfabeto…’”

 

 

Ainda no século XIX, pouco depois da princesa Isabel (1846 – 1921) ter assinado a Lei Áurea, que aboliu a escravidão no Brasil, em 13 de maio de 1888, um grupo de abolicionistas queria homenageá-la com uma estátua no alto do Morro do Corcovado. Ela declinou, em um documento de 2 de agosto de 1888:

“Manda Sua Alteza a Princesa Imperial Regente em Nome de Sua Magestade o Imperador agradecer a oferta da Commição Organizadora constituída da Sociedade Brazileira de Beneficência de Paris, da Cia. Estrada de Ferro do Cosme Velho ao Corcovado e do Jornal O Paiz, para erguer huma estátua em sua honra pela extinção da escravidão no Brasil, e faz mudar a dita homenagem e o projecto, pelo officio de 22 de julho do corrente anno, por huma estátua do Sagrado Coração de Nosso Senhor Jezus Christo, verdadeiro redentor dos homens, que se fará erguer no alto do morro do Corcovado”.

 

 

Os viscondes de Mauá, Irineu Evangelisa de Souza  (1813 – 1889), e de Santa Vitória, Manuel Afonso de Freitas Amorim (1831 – 1906), viajaram a Paris encomendando o projeto e a execução de uma estátua de bronze do Sagrado Coração de Jesus, com 15 metros de altura, mas o monumento nunca foi construído.

 

 

Voltando ao século XX. Em 1917, o engenheiro Eduardo Limoeiro, presidente da recém criada Associação Auxiliar dos Engenheiros e Industriais, sugeriu, como parte das comemorações do centenário da independência do Brasil, que ocorreria em 1922, a edificação de um monumento em forma de esfera, sobre o qual se elevaria uma grande cruz, homenageando Jesus Cristo, no alto do Morro de Santo Antônio. O projeto era do engenheiro Alberto Pacca, mas a ideia não foi em frente (Jornal do Brasil, 21 de setembro de 1917, segunda coluna).

Em 24 de fevereiro de 1921, numa sessão solene da Ação Social Nacionalista, presidida pelo Conde Afonso Celso (1860 -1938), o general Pedro Carolino Pinto de Almeida (1856 – 1922) sugeriu que fosse construido um monumento do Cristo Redentor para a comemoração do centenário da independência do Brasil. Em 20 de março de 1921, no Círculo Católico, foi realizada a primeira assembleia para estudar o projeto, cuja iniciativa foi aprovada pelo cardeal Arcoverde (1850 – 1930). Na ocasião, a ideia era que o monumento fosse de bronze e erigido no cume do Pão de Açúcar (Correio de Manhã, 21 de março de 1921, primeira coluna). Em 24 de abril, ocorreu outra reunião (O Jornal, 25 de abril de 1922, penúltima coluna) e, pela primeira vez, em 3 de maio, a comissão técnica do empreendimento, presidida pelo almirante José Carlos de Carvalho (1847 – 1934), se reuniu (Jornal do Brasil, 7 de maio de 1921, quinta coluna). O arquiteto Heitor da Silva Costa (1873-1947), José Agostinho dos Reis(18? – 19?) e Adolfo Morales de Los Rios (1858 – 1928), cujos projetos concorreram para a construção do monumento, participavam da comissão.

Um abaixo-assinado organizado pela escritora Laurita Lacerda solicitava ao presidente Epitácio Pessoa (1865 – 1942) que a estátua do Cristo Redentor fosse construída. A iniciativa foi uma reação ao despacho do ministro da Fazenda, Homero Baptista (1861-1924), que havia negado a licença necessária para a construção do monumento. O documento foi entregue, com cerca de 30 mil nomes, ao presidente, em uma audiência, no Palácio Rio Negro, em Petrópolis, em 18 de fevereiro de 1922 (O Paiz, 11 de novembro de 1921, quinta colunaRevista da Semana, 12 de novembro de 1921, última coluna; O Jornal, 19 de fevereiro de 1922, última coluna).

 

 

Houve manifestações de igrejas protestantes e de outras religiões contrárias ao apoio do governo à construção do monumento, um símbolo católico, já que o Estado era laico. Por exemplo, seguidores da igreja Batista declararam, em nota publicada em O Jornal Batista, órgão oficial da Convenção Batista Brasileira, em 22 de março de 1923, que a construção “será, a um tempo, um atestado eloquente de idolatria da igreja de Roma“.

Epitácio justificou a permissão por ter sido requerida em primeiro lugar: se um representante de qualquer outra religião tivesse solicitado algo semelhante antes, a ele teria sido dada igualmente a autorização. A decisão para a construção do monumento no Morro do Corcovado foi concedida em 1º de junho de 1922 por Homero Baptista, ministro da Fazenda (O Paiz, 2 de junho de 1922, terceira coluna).

Em setembro de 1922, foi realizada uma cerimônia no local onde o Cristo seria construído, com a presença de várias autoridades (O Paiz, 12 de setembro de 1922, terceira coluna) e, em 4 de outubro, foi lançada a pedra fundamental da obra (O Paiz, 5 de outubro de 1922). No ano seguinte, teve início uma grande campanha de arrecadação de recursos para a construção do monumento, sob a coordenação de dom Sebastião Leme (1882 – 1942), o cardeal do Rio de Janeiro. Em setembro de 1923, as comissões já estavam formadas e O Paiz publicou uma extensa matéria sobre a realização de uma semana de coleta de doações para a construção do monumento que, aliás, foi totalmente construído a partir de doações populares. Uma curiosidade: na época com sete anos, o futuro atleta e presidente da Fifa, João Havelange (1916 – 2016), ajudou a arrecadar dinheiro para a construção do Cristo durante a semana do monumento (O Paiz, 16 de março de 1923, sexta colunaO Paiz, 2 de setembro de 1923).

 

 

Em 21 de setembro de 1923, o Jornal do Brasil publicou uma matéria noticiando que, em 22 maio de 1923, o projeto do engenheiro Heitor da Silva Costa (1873-1947) para o monumento havia sido escolhido em assembleia geral da Comissão Executiva do Monumento Nacional ao Cristo Redentor, com a presença do monsenhor Macedo Costa, representando o cardeal Arcoverde, e de Cesario Alvim, representando o ministro da Viação. Os outros concorrentes foram José Agostinho dos Reis e Adolfo Morales de Los Rios. A reportagem também contou toda a história do empreendimento. A principal inspiração para o projeto de Silva Costa foi a estátua de São Carlos Borromeu, construída no século XVII, que ele havia examinado, em Arona, na Itália, durante uma viagem de estudos, em 1912 (Jornal do Commercio, 27 de julho de 1930).

 

 

 

 

A mobilização popular em torno da construção do Cristo foi grande e um filme sobre o assunto, “O monumento do Christo Redemptor”, uma produção da Botelho Film, foi exibido no cinema Odeon (Revista da Semana, 8 de setembro de 1923O Paiz, 16 de outubro de 1923, na quinta coluna sob o título “Cinemas e fitas”).

A concepção inicial para o monumento foi modificada: no projeto original, a figura de Jesus Cristo empunharia em sua mão direita um globo e na esquerda uma cruz. 

 

 

O responsável pelo desenho final do monumento, a figura de Cristo com os braços estendidos, com o corpo na vertical e disposto sobre o Corcovado que, olhado à distância por qualquer ângulo é visto como uma cruz plantada no granito, foi o italiano Carlos Oswald (1882 – 1971), na época professor de gravura e desenho do Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, e grande amigo de Silva Costa.

 

 

 

 

Com os croquis de Oswald e suas convicções sobre o monumento a ser construído, Silva Costa foi para a Europa , em 1924 (Eu sei tudo, janeiro 1924). Esteve na Alemanha, na Itália e na França. Para colaborar no trabalho, escolheu um especialista em estatuária, o artista francês, de origem polonesa, Paul Landowsky (1875-1961), e o engenheiro francês Albert Caquot (1881 – 1976), mestre em cálculos estruturais. Silva Costa, em texto publicado em O Cruzeiro, de 10 de outubro de 1931, justificou a escolha por Landowsky.

 

 

 

 

As duas mais famosas obras parisienses de Landowsky são a estátua de Sainte Geneviève, na Ponte de Tournelle, e a fonte da Porte de Saint-Cloud. 

 

 

 

 

Colaborador de Landowsky, o escultor italiano Lelio Landucci (? – 1954) participou do processo da evolução do projeto do Cristo. Landucci veio morar no Brasil e foi o autor do primeiro livro sobre o pintor Cândido Portinari (1903 – 1962) (Diário Carioca, 1º de outubro de 1954, terceira coluna).

 

 

A obra de instalação do Cristo Redentor começou em 1926. De execução considerada complicadíssima, durou cinco anos. As peças foram transportadas de trem, pois ainda não havia estrada de rodagem até o Corcovado, só inaugurada, em 1936. Além disso, os depósitos de material, maquinário e os barracões para abrigar o pessoal envolvido na obra ficavam em um platô bem abaixo do cume, ocupado pelos andaimes. Pela primeira vez uma estátua era construída como um monumento arquitetônico e não simplesmente como uma escultura.

Silva Costa, após passar 14 meses na Europa, chegou ao Brasil trazendo uma maquete e algumas peças do monumento (Lar Catholico, 14 de agosto de 1927, primeira coluna). Um documento, datado de 14 de fevereiro de 1925, assinado por Landowsky, delegava a Silva Costa e à comissão do monumento plenos poderes para conceder as necessárias autorizações para as reproduções da imagem da maquete desse monumento.

 

 

Uma exposição com os modelos de gesso das mãos do Cristo, modeladas por Landowsky, foi realizada no Corcovado (Diário Carioca, 24 de janeiro de 1929, sexta coluna). Reza a lenda que teria usado as mãos da poetisa, atriz e declamadora Margarida Lopes de Almeida (1896 – 1979) como modelos para as mãos da estátua. Ela sempre confirmou essa história mas perto de morrer a desmentiu, deixando uma dúvida quanto a sua veracidade.

 

 

A cabeça do Cristo foi executada pelo escultor romeno Gheorghe Leonida (1892/1893 – 1942), que estudava em Paris. O molde de gesso foi recortado em 50 partes e foi remontado e concretado no sítio do arquiteto italiano Heitor Levy, em São Gonçalo (Diário da Noite, 22 de abril de 1931, última coluna). As únicas coisas que foram construídas na França foram justamente os moldes da cabeça e das mãos, porém em gesso, em tamanho natural, que foram recortadas, trazidas ao Brasil e aqui reconstruídas em concreto armado.

 

 

 

O braço direito de Heitor da Silva, Heitor Levy, de credo judaico, que quase morreu em um acidente nos aidaimes do monumento, converteu-se ao catolicismo. Teria escrito os nomes de sua família num pergaminho guardado dentro do coração interno da estátua do Cristo Redentor.

 

 

 

As obras foram visitadas por autoridades, guiadas pelo engenheiro Heitor da Silva Costa e o monsenhor Gonzaga do Carmo foi fotografado ao lado de dedos da mão da escultura (Correio da Manhã, de 29 de junho de 1929).

 

 

A convite da Sociedade Brasileira de Engenheiro, Costa Silva proferiu uma conferência sobre os trabalhos da construção do monumento, quando palestrou sobre sua história, a observação de outros monumentos, a escolha de Landowsky, a filosofia pitagoriana e a divina geometria, a técnica utilizada e finalmente, a compara com a Estátua da Liberdade, inaugurada em 1886, em Nova York – um presente da França aos Estados Unidos, cujo projeto foi do escultor francês Frédéric Auguste Bartholdi (1834 – 1904) (Jornal do Commercio, 27 de julho de 1930, primeira coluna).

 

 

 

Foi publicada uma notícia sobre a construção do Cristo Redentor no Rio de Janeiro e de um nos Alpes, na revista A Semana, de 25 de abril de 1931, com a publicação de uma fotografia da estátua alpina e de quatro do Cristo Redentor carioca: de sua construção, de uma de suas mãos, de um de seus olhos e de sua cabeça.

 

 

A estrutura do monumento é formada por quatro pilares e 12 andares em concreto armado, o que não era muito comum na época de sua construção. Era uma técnica relativamente recente, patenteada, em 1892, pelo engenheiro francês François Hennebique (1842 – 1921).

“O Cristo, com evidente propósito figurativo, foi provavelmente a primeira obra escultórica do mundo a utilizar o concreto como material de base. O diálogo entre forma e estrutura, em concreto, aí presente, pautaria, anos depois, em outtras nuances mais próprias à arquitetura, boa parte da produção modernista brasileira”.(1)

Com exceção das mãos, a estrutura da estátua é oca, o que possibilita o acesso interno através de uma escadaria metálica. O Cristo Redentor tem um coração, localizado no oitavo andar, e, em sua cabeça e braços, encontram-se para-raios. A superfície externa foi revestida com pedras-sabão, coladas por senhoras da sociedade carioca.

 

 

 

No dia da inauguração, foi o físico Guglielmo Marconi (1874-1937), inventor do telégrafo, que, da Itália, ligou os refletores da estátua. Assis Chateaubriand, diretor dos Diários Associados, enviou um telegrama a ele dizendo: “No instante em que iluminais o monumento de Jesus Cristo, os católicos brasileiros saúdam em vós a faísca do gênio latino que descobriu e construiu o novo mundo” ( O Cruzeiro, 17 de outubro de 1931).

 

 

Segundo o site do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Iphan, “o sistema não funcionou como o esperado, mas o Cristo foi iluminado graças à habilidade do engenheiro Gustavo Corção e sua equipe, atribui-se a Rinaldo Franco o ato de ter acionado o interruptor responsável pela iluminação”.

 

 

 

 

Em 1973, o conjunto paisagístico do monumento foi tombado pelo Iphan – Instituto do Patrimônio Histórico Nacional.

O carro abre-alas da Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis, cujo samba-enredo de 1989 era Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia, traria uma reprodução do Cristo Redentor vestido como um mendigo, mas a Arquidiocese do Rio de Janeiro conseguiu uma ordem judicial proibindo a apresentação da alegoria. O carnavalesco Joãosinho Trinta (1933 – 2011) cobriu a alegoria com um plástico preto e acrescentou uma faixa com a frase “mesmo proibido, olhai por nós“.

Em 1990, a estátua foi restaurada e, em 7 de julho de 2007, o Cristo Redentor foi eleito uma das Sete Maravilhas do Mundo Moderno (Jornal do Brasil, 8 de julho de 2007). Ficou em terceiro lugar, atrás da Muralha da China e da Cidade de Petra, na Jordânia.

 

 

O resultado foi divulgado pela empresa suíça promotora do concurso, a Fundação New  7 Wonders e o título foi recebido pelo técnico de futebol Luiz Felipe Scolari (1948 -) e pelo embaixador do Brasil em Portugal, Celso de Souza, no Estádio da Luz, sede do clube Benfica, em Lisboa, Portugal.

 

 

Em 2008, a bisneta de Heitor da Silva Costa, Bel Noronha, lançou o documentário De Braços abertos, sobre a história do Cristo Redentor.

 

 

Em 30 de setembro do mesmo ano, o Cristo Redentor foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan – por sua importância histórica (Portal Iphan). Em 1º de março de 2011, aniversário da cidade do Rio de Janeiro, foi inaugurada uma nova iluminação no monumento com 300 projetores de LED de última geração que deram mais cor à estátua do Cristo Redentor, com um consumo de energia bem menor, e com a possibilidade de criar diferentes efeitos e cores.

 

O Globo, 1º de março de 2011

O Globo, 1º de março de 2011

 

Desde sua inauguração, o Cristo Redentor já recebeu diversas visitas de personalidades importantes no cenário internacional como o cientista Albert Einstein (1879 – 1955), o cantor Michael Jackson (1958 – 2009), o papa João Paulo II (1920 – 2005), o Dalai Lama (1935-), a Princesa Diana (1961 – 1997), o príncipe Charles (1948-) e o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama (1961-), com sua família. Algumas pessoas que já subiram na cabeça da estátua foram a jornalista Glória Maria (1949-), a atriz Ingrid Guimarães (1972-), a apresentadora de televisão Patrícia Abravanel (1977-), o comediante Renato Aragão (1935-), a atriz Tatá Werneck (1983-) e a bisneta de Heitor Silva Costa, Bel Noronha.

 

 

Corcovado

João Gilberto 

Um cantinho e um violão
Este amor, uma canção
Pra fazer feliz a quem se ama

Muita calma pra pensar
E ter tempo pra sonhar
Da janela vê-se o Corcovado
O Redentor, que lindo

Quero a vida sempre assim
Com você perto de mim
Até o apagar da velha chama

E eu que era triste
Descrente deste mundo
Ao encontrar você eu conheci
O que é felicidade meu amor

 

Link a revista O Cruzeiro, de 10 de outubro de 1931, edição dedicada ao Cristo Redentor, com textos do Conde de Affonso Celso, de Heitor Silva Costa, de Arrojado Lisboa, de Felipe dos Santos Reis, do padre José Natuzzi, dentre outros, abordando a história, a concepção, a construção e outros aspectos do monumento. Publicação também do Cântico ao Cristo do Corcovado, de Tasso da Silveira; da história da Estrada de Ferro do Corcovado, das cartas trocadas entre o papa Pio XI  e o cardeal Sebastião Leme, da programação oficial e da lista das autoridades eclesiásticas que participariam dos eventos relacionados à inauguração do monumento.

 

 

Para saber um pouco da história do Morro do Corcovado antes do Cristo Redentor, acesse aqui o artigo Série “O Rio de Janeiro desaparecido” (11) – A Estrada de Ferro do Corcovado e o mirante Chapéu de Sol, publicado em 22 de julho de 2021, na Brasiliana Fotográfica.

 

 

A Brasiliana Fotográfica agradece a colaboração para a realização desse artigo de Roberta Mociaro Zanatta, coordenadora do Núcleo de Catalogação e Indexação do IMS e uma das responsáveis pela gestão e atualização de conteúdos do portal Brasiliana Fotográfica., e de Guilherme Dias, Conservador de Fotografias do Núcleo de Conservação e Preservação de Acervos, do IMS.

(1) KAZ, Leonel; LODDI, Nigge. Cristo Redentor História e Arte de um Símbolo do Brasil. Rio de Janeiro : Aprazível, 2008, página 75.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Agenda do Centro de Documentação da TV Globo

ALVAREZ, Rodrigo. Redentor. Rio de Janeiro : GloboLivros, 2021.

Biblioteca da Câmara Legislativa do Distrito Federal

Blog Diário do Corcovado

CERQUEIRA, Bruno da Silva Antunes de; ARGON, Maria de Fátima Moraes. Alegrias e Tristezas: Estudos Sobre a Autobiografia de D. Isabel do Brasil. Rio de Janeiro : Linotipo Digital Editora, 2020.

Conforme está relatado no livro Alegrias e Tristezas: Estudos Sobre a Autobiografia de D. Isabel do Brasil (Linotipo Digital Editora) — escrito pelo historiador e advogado Bruno da Silva Antunes de Cerqueira, fundador do Instituto Cultural D. Isabel A Redentora, e pela historiadora e arquivista Maria de Fátima Moraes Argon, pesquisadora aposentada do Museu Imperial

Coleção Nosso Século Brasil 10 Volumes. São Paulo : Abril Cultural, 1987.

Entrevista com Bel Noronha, bisneta de Heitor da Silva Costa e diretora do documentário De braços abertos, no Programa do Jô

Folha de São Paulo

Google Arts & Culture

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KAZ, Leonel; LODDI, Nigge. Cristo Redentor História e Arte de um Símbolo do Brasil. Rio de Janeiro : Aprazível, 2008.

OSWALD, Carlos. Como me tornei pintor.  Petrópolis, RJ: Vozes, 1957.

Portal Iphan

RIBEIRO, Antônio Sérgio. Cristo Redentor: 80 anos de um símbolo. Agência de Notícias da Assembleia Legislativa de São Paulo. 

SEMENOVITCH, Jorge Scévola. Corcovado: a conquista da montanha de Deus. Rio de Janeiro : Editora Lutecia, 2010

Site Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro

Site Capital Mundial da Arquitetura – Rio 2020

Site Engenharia 360

Site Rio de Janeiro aqui

Site Riotur

Site Santuário Cristo Redentor

Site Sim São Gonçalo

Veja Rio, 5 de junho de 2017

Wikipedia

Youtube

A primeira passagem do Graf Zeppelin pelo Rio de Janeiro, em 1930, e registros de outras viagens

A chegada do Graf Zeppelin ao Rio de Janeiro foi um grande acontecimento. Sua passagem silenciosa pelo céu da cidade parecia uma visão de sonho e deslumbrou a população causando uma verdadeira comoção. O fotógrafo Jorge Kfuri (1893 – 1965) registrou o evento e a Brasiliana Fotográfica relembra o fato destacando imagens que pertencem à Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha, uma das parceiras do portal. São 10 fotografias aéreas do dirigível alemão sobrevoando diversos bairros e locais da Cidade Maravilhosa, dentre eles o Bairro Peixoto, Botafogo, Copacabana, Humaitá, a Lagoa Rodrigo de Freitas, o Pão de Açúcar e o Campo dos Afonsos, onde aterrissou. Kfuri produziu as imagens a bordo do avião Consul Dayte nº 332, da Marinha de Guerra, pilotado pelo capitão-tenente Antônio Dias Costa (? – 1930), que faleceu dois dias depois em um acidente de avião (Diário da Noite, 26 de maio, quarta coluna e 28 de maio de 1930).

A Brasiliana Fotográfica reuniu também registros de outras passagens tanto do Graf Zeppelin como do dirigível Hindenburg pelo Rio de Janeiro, que pertencem ao acervo do Instituto Moreira Salles – são de autoria do fotógrafo amador Guilherme Santos (1871 – 1966) e de fotógrafos ainda não identificados. Há também uma fotografia, de autoria do fotógrafo húngaro Alfredo Krausz (1902 – 1953), de uma passagem do Graf Zeppelin por São Paulo tendo ao fundo o Edifício Martinelli. A Brasiliana Fotográfica também resgatou a crônica O morro em polvorosa, de Manuel Bandeira (1886 – 1968), sobre o impacto da presença do zepelim nos céus do Rio de Janeiro, publicada no Diário Nacional de 31 de maio de 1930.

Sérgio Burgi, coordenador de Fotografia do Instituto Moreira Salles e um dos curadores do portal, fez uma apreciação das fotografias selecionadas para essa publicação*.

 

 

Várias fotografias creditadas ao tenente J. Kfuri, do Serviço Fotográfico da Aviação Naval, foram publicadas na revista O Cruzeiro, de 7 de junho de 1930. Acima delas, os títulos eram exuberantes e líricos: “Na escuridão da noite como um meteoro…“, “Como um pássaro maravilhoso a aeronave parece voar entre as nuvens e as neblinas matinares” e “O refulgente pássaro aéreo voa sobre os bairros da cidade“, entre outros.

 

 

Na mesma edição, como as admiráveis fotografias do tenente Kfuri pediam um texto de excepcional significação, foi publicado o artigo Palavras do Ar, do engenheiro e professor Vicente Licínio Cardoso (1889 – 1931), único passageiro brasileiro do Graf Zeppelin. Estava na Europa como delegado da Federação Nacional das Sociedades da Educação, quando foi convidado pela Companhia Zeppelin para representar o país no primeiro voo da aeronave para o Brasil.

 

 

Acessando o link para as fotografias do Graf Zeppelin no Rio de Janeiro pertencentes ao acervo da Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha que estão disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

Acessando o link para as fotografias de passagens de zepelins pelo Brasil pertencentes ao acervo do Instituto Moreira Salles que estão disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

 

 O primeiro voo do Graf Zeppelin ao Brasil

Ferdinand von Zeppelin

Batizado pela filha do pioneiro dos dirigíveis, o conde Ferdinand Graf von Zeppelin (1838 – 1917), em 8 de julho de 1928, data em que ele completaria 90 anos, o Graf Zeppelin D – LZ127  – graf significa conde – realizou seu primeiro voo em 18 de setembro do mesmo ano. O primeiro voo comercial aconteceu em 11 de outubro, também em 1928. Tinha aproximadamente 236 metros de comprimento e cerca de trinta metros de altura. Seu luxo, tamanho e velocidade encantaram seus passageiros e as populações por onde passava. Sua presença nos céus cariocas foi referido em uma crônica de Manuel Bandeira (1886 – 1968) como um acontecimento empolgante e inédito…um espetáculo…perturbantemente inédito (Diário Nacional, 31 de maio de 1930).

O Graf Zeppelin tinha 10 cabines duplas, dois lavabos, banheiros masculino e feminino, restaurante, cozinha, sala de rádio, sala de navegação e sala de controle. Foi o primeiro balão dirigível a vir ao Brasil, o primeiro a transpor a linha equatorial atravessando o oceano Atlântico no hemisfério sul. Veio em voo experimental e seu destino era o Rio de Janeiro. Prateado, partiu da base de Friedrichshafen, na Alemanha, em 18 de maio de 1930, e fez na manhã do dia seguinte uma parada em Sevilha, na Espanha. Sobrevoou os céus do Recife, primeira parada em terras brasileiras, após um voo de 59 horas conduzido pelo comandante Hugo Eckener (1868 – 1954).  Aterrissou no Aeroporto do Jiquiá, na capital pernambucana, em 22 de maio de 1930, onde era esperado por uma multidão estimada em 15 mil pessoas – a data havia sido decretada feriado pelo prefeito do Recife, Francisco da Costa Maia. A chegada da aeronave foi saudada pelo sociólogo Gilberto Freyre (1900 – 1987), então oficial de gabinete do governador Estácio Coimbra (1872 – 1937) (Diário de Pernambuco, 22 e 23 de maio de 1930). Houve tumulto entre a multidão e a polícia e o cônsul da Inglaterra e sua esposa foram atropelados pela cavalaria (Correio da Manhã, 25 de maio de 1930, terceira coluna). Fotografias sobre a passagem do dirigível por Recife foram publicadas em O Cruzeiro de 7 de junho de 1930.

 

Lista dos passageiros:

 

 

O Graf Zeppelin foi reabastecido com gás e seguiu para o Rio de Janeiro à meia-noite de 23 de maio (Diário de Pernambuco, 24 de maio de 1930).  Finalmente, a aeronave atingiu a cidade às 23:30 do dia 24 e durante toda a madrugada bordejou fora da barra com seus motores parados para não incomodar com barulho os habitantes do Rio. Seu sobrevoo à cidade, na manhã do dia 25 de maio, descrito como empolgante, como um dos mais imponentes espetáculos que poderia ser proporcionado pela aviação moderna, foi assistido por quase toda a população carioca. A espera pelo evento foi como a espera por um convidado de honra, um convidado para quem se reservam todas as atenções, todas as fidalguias, as fidalguias a que se dispensam aos grandes personagens que propositadamente se fazem aguardar com curiosidade…O prefeito Antônio da Silva Prado Junior (1880 – 1955) e outras autoridades, dentre elas o embaixador Morgan, dos Estados Unidos, foram receber o comandante Eckener ainda a bordo do zeppelin (Correio da Manhã, 26 de maio de 1930).

 

 

O conde Pereira Carneiro (1877 – 1954) e sua esposa, além do comandante Trompovsky e do capitão Fontenelle, representando o Ministro da Viação, embarcaram no dirigível (Correio da Manhã, 26 de maio de 1930, primeira coluna), que, cerca de uma hora depois da aterrissagem, voltou ao Recife, onde chegou no dia 26 (Correio da Manhã, 27 de maio de 1930). Dois dias depois, iniciou seu retorno à Alemanha. Ao sobrevoar Natal, a tripulação jogou uma coroa de flores sobre a estátua de um dos pioneiros da aviação, Augusto Severo (1864 – 1902), com a mensagem “A Alemanha ao Brasil na pessoa de seu grande filho Augusto Severo” (Correio da Manhã, 29 de maio de 1930). No fim do dia, cruzou a linha do Equador. A passagem por Havana, previamente programada, foi suspensa (Correio da Manhã, 31 de maio de 1930), e o Zeppelin chegou ao Aeroporto de Lakehurst, nos Estados Unidos, em 31 de maio (Correio da Manhã, 1º de junho de 1930). No dia 2 de junho partiu para Sevilha (Correio da Manhã, 3 de junho de 1930), onde chegou no dia 5 (Correio da Manhã, 6 de junho de 1930). Alcançou seu destino final, Friedrichshafen, em 6 de junho de 1930, após 19 dias desde o início de sua viagem tricontinental (Correio da Manhã, 7 de junho de 1930).

 

 

A história dos zeppelins foi interrompida pela explosão do dirigível Hindenburg, ocorrida, 77 horas depois da decolagem em Frankfurt, no final de uma tarde chuvosa, em Lakehurst, em Nova Jeresey, nos Estados Unidos, em 6 de maio de 1937, matando 36 pessoas – 13 passageiros, 22 tripulantes e um membro da equipe de terra (O Jornal, 7 de maio de 1937 e Revista da Semana, 15 de maio de 1937). Realizou 63 voos desde seu primeiro, em 4 de março de 1936. Segundo Claudio Lucchesi, autor do livro Loucos e heróis: fatos curiosidades da história da aviação, o Hindenburg fez 6 voos para o Brasil.

Após cerca de uma década, nenhum acidente foi registrado envolvendo o Graf  Zeppelin. Porém, após a tragédia com o Hindenburg, ainda em 1937, foi retirado de operação e ficou exposto em um hangar de Frankfurt (O Jornal, 19 de junho de 1937, quarta coluna). Foi desmanchado em março de 1940 por ordem de Hermann Goering (1893 – 1946), comandante-chefe da Luftwaffe, a força aérea alemã. Em nove anos de operação, o Graf Zeppelin realizou 590 voos transportando milhares de passageiros e centenas de quilos de carregamentos e correspondência.

 

 

A chegada do Graf Zeppelin ao Rio de Janeiro foi uma notícia de destaque em vários jornais da época:

A semana ZeppelinFon-Fon, 24 de maio de 1930

O Conde Zeppelin no Rio de Janeiro – Correio da Manhã, 26 de maio de 1930

O rápido pouso do Zeppelin – Como A Noite soube que o dirigível não aterraria no Campo dos AfonsosA Noite, 26 de maio de 1930

O Rio de Janeiro viveu momentos de intensa emoção e entusiasmo com a visita do “Graf Zeppelin”O Jornal, 26 de maio de 1930

Sob aclamação delirante, o povo carioca consagra a jornada audaz do comandante Eckner – O raid triunfante do “Graf Zeppelin’Gazeta de Notícias, 26 de maio de 1930

O entusiasmo que despertou o empolgante espetáculo da chegada do “Conde Zeppelin” – Jornal do Brasil, 27 de maio de 1930

O “Graf” Zeppelin em visita ao Brasil – Continuando a sua rota magnífica, após ter sido aclamado pela população carioca, chegou ontem, pela manhã, a Recife, o grande dirigível alemão – O Paiz, 27 e 28 de maio de 1930

O “Graf” Zeppelin no BrasilO Cruzeiro, 31 de maio de 1930

O morro em polvorosa, por Manoel Bandeira – Diário Nacional, 31 de maio de 1930

A viagem do ZeppelinO Malho, 31 de maio de 1930

De Ícaro a Zeppelin, por Escragnole Dória – Revista da Semana, 31 de maio de 1930

A viagem do “Graf” Zeppelin ao Brasil – O Cruzeiro, 7 de junho de 1930

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Airships.net

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

LAUX Paulo F. A memorável passagem do Zeppelin pelo Brasil, 2012. Aeromagazine, 3 de outubro de 2012.

LINS, Fernando Chaves. Por céus nunca d´antes navegados, 2006. Recife: Universidade Federal de Pernambuco

LUCCHESI, Claudio. Loucos e heróis: fatos curiosidades da história da aviação, 1996.

O Estado de São Paulo, 9 de junho de 2015

O Globo, 2 de julho de 2013

 

 

 

De Sérgio Burgi, coordenador de Fotografia do Instituto Moreira Salles e curador da Brasiliana Fotográfica:

Vejam as imagens, verdadeiramente oníricas, dos primeiros vôos dos dirigíveis nos céus do Brasil, fotografados do ar por Jorge Kfury e do solo, em estereoscopias, por Guilherme Santos, entre outros registros preciosos sobre o tema, que integram a Brasiliana Fotográfica. 
Somam-se nestas imagens muitos pioneirismos que marcaram o início do século XX: a aviação, vivendo ainda a convivência entre as duas grandes modalidades das quais Santos Dumont foi pioneiro, os balões dirigíveis e aviões a motor; a fotografia aérea, que concretizou e expandiu as ambições, desde as imagens pioneiras em balão de Nadar, de se realizar registros fotográficos a “olho de pássaro” de todo o território. É neste momento também que a fotografia estereoscópica se une à fotografia aérea para o início dos levantamentos aerofotogramétricos que revolucionariam toda a cartografia mundial.
E no solo, a fotografia estereoscópica era também redescoberta por uma legião de fotógrafos, amadores e profissionais, que, como o carioca Guilherme Santos, dedicaram-se a produzir verdadeiras crônicas visuais de seu tempo. Imagens de uma fotografia documental e direta, em chapas de vidro, porém já fortemente marcadas pelas inovações da época, que levariam a fotografia a novos horizontes de linguagem e representação ao longo do século XX.

*A apreciação de Sérgio Burgi foi integrada à publicação em 26 de maio de 2018.