As Séries da Brasiliana Fotográfica, uma nova seção de nosso portal

Hoje inauguramos a seção As Séries da Brasiliana Fotográfica. Ela já está no topo da página inicial do nosso portal entre as seções Cronologia de fotógrafos e Preservação digital. Seu acesso permite que vocês, nossos leitores, visualizem as listas de artigos de cada série já publicada na Brasiliana Fotográfica. São elas: Avenidas e ruas do Brasil, com 18 artigos; Feministas, graças a Deus!, também com 18 artigos; 1922 – Hoje, há 100 anos, com 11 artigos; O Rio de Janeiro desaparecido, com 28 artigos; e Os arquitetos do Rio de Janeiro, com 6 artigos. Todos os artigos estarão com seus respectivos links e as listas serão atualizadas à medida que novos artigos forem publicados. Esperamos que esta nova funcionalidade facilite a pesquisa e o passeio de vocês pela Brasiliana Fotográfica! Divirtam-se!

 

 

Andrea C.T. Wanderley
Editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica

O Automóvel Club do Brasil

 

O Automóvel Club do Brasil 

 

 

O prédio do Automóvel Club do Brasil, localizado na Rua do Passeio, nº 90, no Centro do Rio de Janeiro, foi originalmente projetado, em meados do século XIX, por Manuel de Araújo Porto-Alegre (1806 – 1879), para ser uma residência.

 

 

Em 1845, o prédio foi alugado para abrigar o recém criado Cassino Fluminense, um dos mais importantes salões da capital do Império, palco dos principais bailes de corte (Diário do Rio de Janeiro, 24 de outubro de 1845, segunda coluna; Diário do Rio de Janeiro, 27 de maio de 1846, terceira coluna). Com o sucesso do empreendimento, em 1854, o imóvel foi comprado em definitivo, passando por uma reforma realizada pelo arquiteto Luís Hoske (? – ?), que a dotou de dois pavimentos, com linhas neoclássicas (Jornal do Commercio, 30 de janeiro de 1855, sexta coluna).

 

 

O baile inaugural do Cassino Fluminense, realizado em 12 de setembro de 1860, contou com a presença de dom Pedro II (1825 – 1891).

 

 

Cerca de um ano após a Proclamação da República, ocorrida em 15 de novembro de 1889, o Congresso, durante as sessões preparatórias da Assembleia Constituinte Republicana, se instalou no Cassino Fluminense.

Em 1900, o imóvel passou a sediar o Clube dos Diários, formado pelos pouquíssimos proprietários de carros do Rio de Janeiro. Em 1910, iniciou-se uma reforma sob o comando do arquiteto francês Joseph Gire (1872 – 1933), executada pela construtora Januzzi, responsável tanto pela instalação da port-couche metálica na portada principal assim como pela ornamentação de estilo eclético.

Em 1907, foi fundado o Automóvel Club do Brasil,  instalado no antigo Clube Guanabara, na Praia de Botafogo. Era presidido por Fernando Mendes de Almeida (1845 – 1921), redator-chefe do Jornal do Brasil (Jornal do Brasil, 22 de maio de 1907, segunda coluna).

 

 

Em 1924, o Clube dos Diários se fundiu com o Automóvel Club do Brasil (O Paiz, 9 de setembro de 1924, primeira coluna). Novas reformas foram realizadas por Gire no prédio da Rua do Passeio – a construção do Jardim de Inverno e seus salões laterais (Automóvel Club – RJ, dezembro de 1925). E o edifício passou a sediar o Automóvel Club do Brasil.

O prédio foi palco do último comício do ex-presidente João Goulart (1919 – 1976), em 30 de março de 1964, considerado por historiadores como um dos estopins do golpe militar (Jornal do Brasil, 31 de março de 1964). Por sua importância arquitetônica, cultural e histórica, foi tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural, em 24 de julho de 1965.

Durante os anos 1990 ainda assumiu a função de posto do Detran-RJ. Em 1994, foi alugado para a instalação, no imóvel, do Bingo Imperial (Jornal do Brasil, 17 de dezembro de 1994). A população protestou e o imóvel e seu patrimônio móvel foram leiloados e arrematados pelo município do Rio de Janeiro que, em 2003, desativou o bingo e o imóvel voltou a ser administrado pelo Automóvel Club do Brasil. No ano seguinte, o edifício foi esvaziado e desde então encontra-se fechado.

 

 

Em 2023, foi anunciado que em parceria com a prefeitura do Rio, o Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe), da UFRJ, vai instalar no histórico Automóvel Club do Brasil, na Lapa, um projeto sobre o tema do momento: a inteligência artificial (O GLOBO, 16 de julho de 2023).

O prédio do Automóvel Club está passando por uma  reforma de revitalização de suas instalações desde 2023 e segundo o secretário municipal de Desenvolvimento Urbano e Econômico, Chicão Bulhões, há negociações avançadas para que o edifício sedie a nova Bolda de Valores do Rio de Janeiro (Diário do Rio, 3 de julho de 2024).

 

Veja aqui diversas fotos do interior do Automóvel Club do Brasil.

 

 

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Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes: 

Diário do Rio

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

Jornal Extra, 15 de julho de 2021

Site Cointelegraph Brasil

Site Governo do Rio de Janeiro – Patrimônio

Site Inepac

Site Instituto Rio Patrimônio da Humanidade

Site Urbe Carioca

No Dia da Amazônia, fotos da expedição de 1901 realizada pela Comissão de Limites entre o Brasil e a Bolívia

Hoje é comemorado o Dia da Amazônia em homenagem à criação da Província do Amazonas por dom Pedro II (1825 – 1891), em 5 de setembro de 1850. A Amazônia é um bioma que possui 4,196.943 milhões de km2 – a maior floresta tropical do planeta – e abrange nove países: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana Francesa, Paraguai, Peru, Suriname e Venezuela. Este ecossistema tem uma biodiversidade incomparável e influencia o equilíbrio ecológico global, o ciclo da água e o clima da Terra. Sua preservação é uma questão de urgência mundial.

Para lembrar o Dia da Amazônia, a Brasiliana Fotográfica destaca um grupo de 15 fotografias do acervo da Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha, uma das instituições parceiras do portal, sobre a expedição realizada, em 1901, à Amazônia com o objetivo de demarcar o limite entre Brasil e Bolívia. Foram realizadas três expedições e as comissões instituídas pelo governo brasileiro objetivavam traçar o limite na região amazônica e verificar a localização da principal nascente do rio Javari, cujo desconhecimento gerava controvérsias.

 

 

Acessando o link para as fotografias da Comissão de Limites entre o Brasil e a Bolívia disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá visualizar e magnificar as imagens.

 

 

A primeira e segunda expedições foram realizadas em 1895 e 1897 e foram chefiadas por Gregório Thaumaturgo de Azevedo (1853 – 1921) e Augusto Cunha Gomes (18? – ?), respectivamente. A terceira, assunto de nosso artigo, foi chefiada pelo astrônomo belga Luis Cruls (1848 – 1908), que havia sido fotografado por seu amigo Marc Ferrez (1843 – 1923), em torno de 1884. Cruls foi diretor do Observatório Astronômico do Rio de Janeiro entre 1891 e 1908. O retrato (abaixo) foi exposto, em 1884, na Notre Dame de Paris, e referido como um “trabalho artístico obtido pelo novo sistema de gelatino-bromureto, especialidade do sr. Marc Ferrez, clichê do sr. Insley Pacheco”(Jornal do Commercio, 4 de julho de 1884, na última coluna).

 

 

Voltando à expedição de 1901. O ministro das Relações Exteriores, Olyntho de Magalhães (1866 – 1948), deu a Cruls instruções para subir o rio Javari até as nascentes e determinar sua verdadeira posição geográfica.

 

 

Na época, Cruls já era um cientista renomado. Já havia sido membro da comissão da Carta Geral do Império, de 1875, na seção de geodésia, sua primeira atuação profissional no Brasil; e, em 1892, viajado e explorado o Planalto Central, trabalho pelo qual é atualmente mais conhecido. Era professor de Geodésia da Escola Militar.

Cruls e integrantes da comissão embarcaram no Alagoas, no Rio de Janeiro, rumo ao norte, em 4 de janeiro de 1901 (O Paiz, 4 de janeiro de 1901, segunda coluna). Desembarcaram em Belém, em 20 de janeiro. Os integrantes da comissão brasileira eram o capitão de fragata Carlos Accioli, o capitão do Estado-Maior Augusto Tasso Fragoso, o médico Leovigildo Honorário de Carvalho, o capitão farmacêutico Alfredo José Abrantes, o capitão honorário Eduardo Chartier, o secretário Ricardo Veríssimo Vieira, o encarregado do material Arthur Nogueira; e um contingente militar de 50 praças, comandados pelo alferes Arthur Cantalice. A comissão boliviana era chefiada por Adolpho Ballivian (Jornal do Commercio, 4 de março de 1901, sexta coluna).

Cruls montou o seu observatório no interior do Forte do Castelo.

 

 

 

 

 

A expedição de 1901 é referida na historiografia da ciência como sendo a que contribuiu para o Tratado de Petrópolis, firmado em 17 de novembro de 1903 em Petrópolis, que pôs fim à disputa territorial entre Brasil e Bolívia pelo território do Acre. Porém, de acordo com Moema de Rezende Vergara, a solução para o problema se deu puramente no plano político, sem levar em consideração os trabalhos técnicos então realizados, o que invalida a relação de causalidade entre a expedição chefiada por Cruls e o fim do litígio com a Bolívia…na Exposição de Motivos sobre o Tratado de 1903, é possível ver que o Barão de Rio Branco optou por uma condução política para a crise, fazendo tabula rasa das viagens de demarcação do período republicano. Os acontecimentos políticos, precipitando-se, haviam tornado sem efeito os esforços técnicos de localização precisa das nascentes do Javari. Cabe a ressalva de que, apesar dos trabalhos de Luiz Cruls não terem sido utilizados no Tratado de Petrópolis, isto não os invalida. As coordenadas que sua comissão determinou para as nascentes do rio Javari, consideradas a parte mais ocidental do Brasil, foram as mesmas utilizadas em importantes obras que tinham por objetivo apresentar a geografia do país, como o “Dicionário Histórico, Geográfico e Etnográfico do Brasil”, publicado para as comemorações do Centenário da Independência de 1922 (IHGB, 1922).

O Tratado de Petrópolis foi assinado pelo Barão do Rio Branco (1845 – 1912), ministro das Relações Exteriores, e pelo diplomata Joaquim Francisco Assis Brasil (1857 – 1938), do lado brasileiro; e pelos diplomatas Fernando Guachalla (1853 – 1908) e Claudio Pinilla (1859 – 1928), do lado boliviano.

 

Os signatários do Tratado de Petrópolis

 

 

 

 

 

No Tratado de Petrópolis foi estipulada a venda do território do Acre da Bolívia para o Brasil. Em compensação, o Brasil cedeu para a Bolívia territórios na Bacia do Rio Paraguai e o governo brasileiro se comprometeu a construir a Estrada de Ferro Madeira-Mamorée pagou à Bolívia a quantia de 2 milhões de libras esterlinas.

 

 

 

Andrea C.T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

El Aparapita, cargador de la memoria cultural de Bolivia, 7 de julho de 1922

G-1

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

Site CPDOC-FGV

VERGARA, Moema de Rezende. Ciência, fronteiras e nação: comissões brasileiras na demarcação dos limites territoriais entre Brasil e Bolívia, 1895-1901Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, agosto de 2010.

WANDERLEY, Andrea C.T. O Observatório Nacional pelas lentes de Marc Ferrez, amigo de vários cientistas in Brasiliana Fotográfica, 29 de maio de 2023.