Série “Feministas, graças a Deus!” XIII – E as mulheres conquistam o direito do voto no Brasil!

Com a publicação do 13º artigo da Série Feministas, graças a Deus!, a Brasiliana Fotográfica celebra a conquista do voto feminino no Brasil, a partir do Decreto nº 21.076, de 24 de fevereiro de 1932, que instituiu o Código Eleitoral Provisório, assinado pelo presidente Getulio Vargas (1882 – 1954), reconhecendo o direito de voto das mulheres.

 

“Art. 2º É eleitor o cidadão maior de 21 anos, sem distinção de sexo, alistado na forma deste código”.

Decreto nº 21.076, 24 de fevereiro de 1932

 

A Constituição promulgada em 16 de julho de 1934 aprovou a igualdade de direitos políticos entre homens e mulheres, desde que maiores de 18 anos e alfabetizados:

 

Art. 108. São eleitores os brasileiros de um e de outro sexo, maiores de 18 anos, que se alistarem na forma da lei.

Parágrafo único. Não se podem alistar eleitores:

a) os que não saibam ler e escrever;

b) os praças-de-pré, salvo os sargentos, do Exército e da Armada e das forças auxiliares do Exército, bem como os alunos das escolas militares de ensino superior e os aspirantes a oficial;

c) os mendigos;

d) os que estiverem, temporária ou definitivamente, privados dos direitos políticos. 

Art. 109. O alistamento e o voto são obrigatórios para os homens e para as mulheres, quando estas exerçam função pública remunerada, sob as sanções e salvas as exceções que a lei determinar.

 

Era a vitória de décadas de mobilização em favor do sufrágio feminino no Brasil.

 

 

No artigo de hoje, estão destacadas as imagens do acervo fotográfico do portal relativas às feministas e a suas pautas – os registros são do acervo do Arquivo Nacional, uma de nossas instituições parceiras, e seus autores foram J. Bonfioti, a Photo Skarke, a Fotografia Alemã, Louis Piereck (1880 – 1931), o Serviço Photographico de Vida Doméstica, além de fotógrafos ainda não identificados. Também publicamos breves perfis de sufragistas brasileiras importantes na luta pelo voto feminino.

 

Acessando o link para as imagens relativas ao feminismo disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

A trajetória da conquista do voto feminino no Brasil, um marco fundamental na história da democratização do país, começou ainda no século XIX e tornou-se o principal tema do feminismo nas primeiras décadas do século XX, quando a feminista Bertha Lutz (1894 – 1976), fundadora da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, foi uma das mais importantes vozes na luta pela emancipação feminina, que também teve outras defensoras dedicadas e aguerridas.

 

Nísia Floresta Brasileira Augusta (1810 – 1885), 

 precursora dos ideais de igualdade e independência da mulher brasileira

 

 

“Nísia Floresta surgiu – repita-se–como uma exceção escandalosa. Verdadeira machona entre as sinhazinhas dengosas do meado do século XIX. No meio de homens a dominarem sozinhos todas as atividades extra domésticas, as próprias baronesas e viscondessas mal sabendo escrever, as senhoras mais finas soletrando apenas livros devotos e novelas que eram quase histórias do Trancoso. causa pasmo ver uma figura como a de Nísia”.

Gilberto Freyre, Sobrados e Mocambos (1936)

 

Ainda no Brasil Império, a escritora e educadora potiguar Nísia Floresta Brasileira Augusta (1810 – 1885), pseudônimo de Dionísia Gonçalves Pinto, foi a primeira mulher brasileira a defender o direito à educação científica para as meninas. A explicação do pseudônimo que criou para ela é a seguinte: “Nísia”, uma referência ao seu nome de batismo; depois, ao sítio Floresta onde nasceu; em seguida, ao seu país; e, finalmente, a Augusto, o nome do marido de quem ficou viúva. 

Nasceu, em 12 de outubro de 1810, em Papari, no Rio Grande do Norte, onde casou-se com Manuel Alexandre Seabra de Melo. Tinha apenas 13 anos, mas ainda no primeiro ano do casamento voltou para a casa dos pais, o advogado português Dionísio Gonçalves Pinto (17? – 1828) e a brasileira Antônia Clara Freire (17? – 1855). Seus irmãos eram Clara e Joaquim. Mudou-se com a família para  Pernambuco, onde morou em Goiana, Recife e Olinda. 

Em 1828, seu pai foi assassinado (Diário de Pernambuco, 22 de setembro de 1830, segunda coluna). No mesmo ano, Nísia passou a viver com Manoel Augusto de Faria Rocha, estudante de Direito da Faculdade de Olinda, natural de Goiana (Diário de Pernambuco, 16 de abril de 1829, segunda coluna), com quem teve três filhos na década de 1830: Lívia (1930-?), um filho, que viveu poucos meses (1831 – 1831 ou 1832); e Augusto Américo (1933-?). Era acusada de adúltera pelo ex-marido. 

Iniciou sua carreira literária, em 1931, publicando, com o pseudônimo de Brasileira Livre, artigos sobre a condição feminina no jornal pernambucano Espelho das Brasileiras, que pertencia ao francês Adolphe Emile de Bois Garin (Espelho das Brasileiras, 13 de maio de 1931). A defesa dos direitos das mulheres e dos indígenas no Brasil, e a crítica à escravidão foram temas recorrentes em sua produção literária.

 

“Esta foi, com certeza, uma das primeiras mulheres no Brasil a romper os limites do espaço privado e a publicar textos na grande imprensa, pois, desde 1830, seu nome era uma presença constante em periódicos nacionais, comentando questões polêmicas, como o direito das mulheres – e, também, dos índios e dos escravos – a uma vida digna e respeitável. Aliás, nesse gosto pela polêmica e no fato de viver sempre à frente de seu tempo, estariam, a nosso ver, também, traços de modernidade da autora”.

 Constância Lima Duarte sobre Nísia em Feminismo e literatura no Brasil (2003)

 

Em 1832, publicou, no Recife, o livro Direito das Mulheres e a Injustiça dos Homens, primeiro texto de uma brasileira a falar em direitos das mulheres. Existe uma polêmica em torno da autoria deste livro: alguns pesquisadores consideram o livro como uma tradução livre de A Vindication of the Rights of Woman, de Mary Wollstonecraft (1759-1797), e outros como a tradução de Woman not Inferior to Man, de Mary Wortley (1689-1762), que teria sido infuenciada pelo livro De l´egalité des deux sexes, de François Poullain de La Barre, publicado em 1673

 

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Em novembro de 1832, foi para o Rio Grande do Sul, com Lívia, sua filha; sua mãe viúva e com seu companheiro, Manoel Augusto, que, em agosto de 1833, poucos meses após o nascimento de Augusto Américo, em janeiro de 1833, faleceu. Manoel Augusto havia ocupado o cargo de juiz municipal de São Pedro do Rio Grande do Sul (Correio Official, 25 de outubro de 1833, primeira coluna). Ainda em 1833, Nísia publicou a segunda edição de Direito das Mulheres e a Injustiça dos Homens, em Porto Alegre, pela Typographia de V. F. Andrade. Escreveu para alguns jornais de Porto Alegre, dentre eles o Belano, que circulou entre 1832 e 1833. Entre 1834 e 1837, manteve uma escola. Segundo o professor Luis Carlos Freire, professor de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e um dos maiores pesquisadores de Nísia, provavelmente ela ensinava em casa, como era costume na época. 

Em 1837, foi para o Rio de Janeiro. Provavelmente, a tensão causada pela Guerra dos Farrapos contribuiu para essa mudança. Em 1838, fundou o Colégio Augusto, para meninas, que dirigiu com algumas interrupções até 1856. Posteriormente, o colégio, que existiu até 1894, foi dirigido por seu filho (Jornal do Commercio, 31 de janeiro de 1838, segunda coluna). Nísia tinha uma proposta de educação inclusiva para meninos e meninas, tanto na esfera pública, quanto na privada, e era influenciada pelo pensamento positivista do francês Auguste Comte (1798 – 1857), de quem era amiga. Em 1839, foi publicada, já no Rio de Janeiro, a terceira edição de Direito das Mulheres e a Injustiça dos Homens, pela Casa do Livro Azul.

 

 

 

Por ensinar Caligrafia, Dança, Desenho e Costura, Francês, Geografia, História, Inglês, Italiano, Latim, Matemática, Música, Português, Piano e Religião a suas alunas e não a fazer vestidos e camisas foi criticada (O Mercantil (MG), 17 de janeiro de 1947, primeira coluna).

 

 

Publicou, em 1847, três obras de caráter pedagógico: Fany ou o modelo das donzelasDiscurso que às suas educandas dirigiu Nísia Floresta Brasileira Augusta, um breve texto de seis páginas; e Daciz ou a jovem completa. 

Em 2 de novembro de 1849, acompanhada dos dois filhos, Nísia viajou pela primeira vez à Europa. Embarcaram, rumo a Havre, na galera francesa Ville de Paris. Ficou em Paris e em Lisboa, retornando ao Brasil em 1852 (Diário do Rio de Janeiro, 3 de novembro de 1849, última coluna). Nesse período, ela frequentou as conferências de Auguste Comte sobre História Geral da Humanidade no Palais Cardinal, em Paris. 

Em 1853, lançou o Opúsculo Humanitário, que dedicou a seu irmão, Joaquim Pinto Brasil. Nele a autora nos conta a história do papel das mulheres nas sociedades ocidentais, dando exemplos e refletindo sobre a condição feminina. Antes da primeira impressão reunida, parte dos textos foi publicada nos jornais Diário do Rio de Janeiro, sob  pseudônimo B.A.

“Dê-se ao sexo uma educação religiosamente moral, desvie-se dele todos os perniciosos exemplos que tendem a corromper-lhe, desde a infância, o espírito, em vez de formá-lo á virtude, adornem-lhe a inteligência de úteis conhecimentos, e a mulher será não somente o que ela deve ser — o modelo de família — mas ainda saberá conservar dignidade, em qualquer posição que porventura a sorte a colocar.”

Nísia Floresta em O Opúsculo Humanitário, 1853

 

Trabalhou como voluntária no combate a uma epidemia de cólera no Rio de Janeiro, em 1855 (Correio Mercantil, 4 de outubro de 1955, segunda coluna). Também entre este ano e 1856 publicou alguns artigos no Brasil Illustrado: Passeio ao Aqueduto Carioca, Páginas de Uma Vida Obscura, Um Improviso, na manhã de 1º do corrente, ao distinto literato e grande porta Antônio Castilho e O pranto Filial.

O último registro do Almanak Laemmert de Nísia como diretora do Colégio Augusto é de 1855 (Almanak Laemmert, 1855). Em 10 de abril de 1856, Nísia viajou no paquete a vapor Cadix com sua filha para a Europa, onde permaneceu até 1871.  Em 1872, um retrato e um pequeno perfil dela foi publicado no jornal ilustrado brasileiro publicado em Nova York, O Novo Mundo, fundado por José Carlos Rodrigues (Diário do Rio de Janeiro, 10 de abril de 1856, quarta colunaO Novo Mundo, 23 de maio de 1872)

 

 

Entre 1872 e 1875, Nísia esteve no Brasil. Retornou à Europa em 24 de março de 1875, rumo à Inglaterra, onde encontrou sua filha. Passaram um tempo em Londres e em Lisboa (Jornal do Commercio, 24 de março de 1875, terceira coluna). Em 1878, já morando na França, publicou seu último trabalho, Fragments d’un ouvrage inédit: Notes biographiques. Entre idas e vindas, Nísia morou na França e na Itália, visitando a Alemanha, Bélgica, Grécia, Inglaterra e Suíça. Enviava artigos para publicação em jornais cariocas (Correio do Brazil, 7 de janeiro de 1872, quinta coluna; Diário de S. Paulo, 11 de dezembro de 1875, última colunaA Reforma, 31 de dezembro de 1875, última coluna). 

Faleceu em 24 de abril de 1885, em Rouen, na França, de pneumonia. Foi enterrada no cemitério de Bonsecours (Jornal do Commercio, 26 de maio de 1885, quinta colunaNovo e Completo Indice Chronologico da Historia do Brasil (RJ) – 1842 a 1889, 1885; Jornal do Commercio, 31 de maio de 1885, quinta coluna).

 

 

 

Sua cidade natal, Papari, foi rebatizada com a aprovação da Lei n° 146, de 23 de dezembro de 1948, como Nísia Floresta. Em 1954, o Estado do Rio Grande do Norte repatriou seus restos mortais para a cidade (O Poti (RN), 22 de agosto de 1954).

 

 

A quarta edição do livro Direito das Mulheres e a Injustiça dos Homens saiu apenas em 1989, pela Cortez, com introdução posfácio de Constância Lima Duarte. Em 2012, foi inaugurado o Museu Nísia Floresta, em sua cidade natal.

Alguns de seus livros que não foram mencionados ao longo deste artigo são Conselhos a minha filha (1842), Lágrimas de um Caeté (1849) Itinerário de uma viagem à Alemanha (1857), Três anos na Itália, seguidos de uma viagem à Grécia (vol 1, em 1864, e vl 2, em 1872); e Cintilações de uma Alma Brasileira (1859). Publicou, ao todo, 15 livros.

 

 Izabel de Souza Matos ou Izabel de Mattos Dillon (1861 – 1920)

 

 

A sufragista Izabel de Souza Matos ou Izabel de Mattos Dillon (1861 – 1920) nasceu na Bahia, em 20 de janeiro de 1861 e concluiu o  curso de Cirurgia Dentária e Prótese pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em maio de 1883 (Gazeta de Notícias, 1º de maio de 1883, sexta coluna). Exerceu a profissão de cirurgiã dentista na cidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul, e participou de atividades abolicionistas no Rio Grande (Diário do Brazil, 21 de fevereiro de 1884, última colunaA Federação, 4 de dezembro de 1884, última coluna). Casou-se, em fevereiro de 1885, com o também cirurgião-dentista Thomas Cantrell Dillon (1861 – 1933), futuro cônsul da Grã-Bretanha no Rio Grande do Sul (Almanak Laemmert, 1926). 

 

 

Em 1886, quando ainda residia no Rio Grande do Sul, exigiu na Justiça o registro de eleitora, garantido pela Lei Saraiva a todos os brasileiros com título científico. Porém, José Vieira da Cunha, juiz municipal de Rio Grande, negou o pedido (Correio Paulistano, 21 de dezembro de 1886, terceira coluna). Segundo ela, posteriormente teve o título concedido e votou no candidato republicano Julio Mendonça Moreira (1853 -?), em São José do Norte, no Rio Grande do Sul. Ele havia sido promotor na comarca de Rio Grande e não foi eleito na ocasião – foi eleito deputado estadual de 1891 a 1895. O fato foi citado por Izabel em um artigo publicado no jornal A Rua, de 20 de janeiro de 1917; e também pelo deputado Mauricio de Lacerda (1888 – 1959), este último na sessão da Câmara de 22 de dezembro de 1916 e algumas outras vezes na imprensa (Diário Carioca, 18 de setembro de 1928, terceira coluna). Terá sido então Izabel Dillon, na verdade, a primeira eleitora do Brasil, ainda no século XIX?

 

 

Em 1888, anunciou que abriria um consultório de dentista no Rio de Janeiro, onde foi colaboradora das revistas O Corymbo e  A Família (A Verdade, 29 de novembro de 1888, segunda coluna).

Em 1890, Izabel solicitou a transferência de seu título de eleitor para o Rio de Janeiro, onde voltara a residir, mas José Cesário de Faria Alvim (1839 – 1903), ministro do Interior, julgou improcedente seu pleito e assim como o de outras mulheres (A Ordem (MG), 2 de abril de 1890, última coluna).

 

 

Ainda em 1890, Izabel concorreu a deputada pela Bahia, mas não se elegeu ( Gazeta de Notícias, 25 de agosto de 1890, terceira colunaPequeno Jornal (BA), 17 de setembro de 1890, segunda colunaA Família, 18 de setembro de 1890, última colunaA Lanterna, 22 de dezembro de 1916, segunda coluna; A Rua, 20 de janeiro de 1917).

 

 

 

Era opositora de Floriano Peixoto (1839 – 1895), participou da Revolta da Armada e foi presa (A Rua, 20 de janeiro de 1917). Foi membro do Centro do Partido Operário, criado em 1890 por José Augusto Vinhais (1858 – 1941); e do Partido Republicano Feminino, fundado em 1910, por Leolinda Daltro (1859 – 1935).

 

 

Em 1913, sua única filha, Niobe Elisabeth Gonçalves (1893 – 1913) morreu, grávida de seu quarto filho com o cirurgião-dentista Basílio Gonçalves, seu marido. Houve uma investigação policial por suspeitas de aborto autoinduzido por medicamentos ingeridos por Niobe e também de imperícia médica. O caso repercutiu na imprensa do Rio de Janeiro e ficou conhecido como o Caso da Rua Paraná (O Século, 11 de fevereiro de 1913, quarta colunaCorreio da Manhã, 12 de fevereiro de 1913, quinta colunaO Paiz, 25 de janeiro de 1913, quinta coluna). 

 

 

Izabel faleceu em 19 de junho de 1920 e foi enterrada como indigente no Cemitério de Inhaúma, no Rio de Janeiro. A educadora Mariana Coelho (1857 – 1854) mencionou tanto Nísia Floresta como Izabel Dillon em seu artigo O feminismo no Brasil, publicado no Correio da Manhã, 3 de janeiro de 1937.

 

Josephina Alvares de Azevedo (1851 – 1913),  fundadora do jornal A Família

 

 

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“O fundamento universal de todos os que opinam contra a nossa emancipação é esse — que a mulher não tem capacidade política. Porque? perguntamos nós, e a essa pergunta não nos dão resposta cabal. Em geral, os casos de incapacidade politica são estes — menoridade, demência, inhabilitações, restriccão de liberdade por pena cominada, etc. etc. A esses addusem os legisladores a «diferença de sexo». Mas em que essa diferença pode constituir razão de incapacidade eleitoral? A mulher educada, instruída, em perfeito uso de suas faculdades mentaes, exercendo com critério as suas funcções na sociedade, é uma personalidade equilibrada, apta para discernir e competente para escolher entre duas idéas aquella que melhor convém. Não pude por conseguinte estar em pé de igualdade com os dementes, com os menores, com os imbecis. Assim sendo, é absurdo o principio de sua incapacidade electiva.” 

Josephina Alvares de Azevedo

A Família, 21 de dezembro de 1889

 

Também no século XIX, destacou-se na luta pela emancipação feminina a jornalista e literata pernambucana Josephina Alvares de Azevedo (1851 – 1913), nascida em 5 de maio de 1851, no Recife. Existem até hoje várias lacunas e dúvidas em relação a sua vida pessoal. O local e a data de seu nascimento – pode ter sido Paraíba, Recife, em Pernambuco, ou Itaboraí, no Rio de Janeiro – assim como seu grau de parentesco com o do poeta Manoel Antônio Alvares de Azevedo (1831-1852), ainda são incertos. De acordo com Augusto Victorino Blake, autor do Dicionário Bibliográfico Brasileiro, ela seria filha de Ignácio Manoel Alvares de Azevedo (?-1873) e, portanto, irmã, pelo lado paterno, do referido poeta. Porém em um artigo em A Família, de 23 de fevereiro de 1889, Josephina se refere ao poeta como primo. Sua mãe era Amália Alvares de Azevedo Cunha (? – 1896) e, sua avó materna, Emília Amália de Azevedo Coutinho (? – 1892) (Gazeta de Notícias, 29 de fevereiro de 1892, penúltima colunaO Paiz, 16 de maio de 1896, quarta coluna).

O dia, mês e ano de seu nascimento aqui publicados baseiam-se em uma noticia referente a seu aniversário e nas notícias de seu falecimento, em 1913, onde está indicado que ela tinha 62 anos na ocasião (Gazeta da Tarde, 5 de maio de 1890, quinta colunaDiário de Notícias, 5 de maio de 1890, primeira coluna; A Família, 9 de maio de 1891, primeira colunaA Época, 3 de setembro de 1913, segunda colunaO Paiz, 5 de setembro de 1913, última coluna). Em relação ao local, acredito que ela tenha nascido no Recife, conforme seu próprio depoimento em A Família, 7 de dezembro de 1889, descrevendo seu retorno à sua terra natal em julho de 1889. Na ocasião foi à Photographia Ducasble, onde foi retratada. Ainda na cidade, publicou um número especial de A Família (Diário de Pernambuco, 23 de julho de 1889, penúltima coluna. De lá, seguiu para o Ceará, onde permaneceu cerca de 10 dias (A Família, 7 de dezembro de 1889, A Constituição (CE), 11 de agosto e 1891, segunda coluna).

Josephina viveu até 1877, no Recife. Foi fundadora do jornal semanal A Família, em 1888 (A Família, 18 de novembro de 1888), cuja atuação na imprensa brasileira foi importante no período de transição entre o regime monárquico e a República no país. 

 

 

Inicialmente editado em São Paulo e impresso pela tipografia União- São Paulo, o periódico mudou-se para o Rio de Janeiro, em maio de 1889, e circulou ininterruptamente até 1897 – ficava na Travessa do Barbosa, nº 12 (A Família, 18 de maio de 1889; O Jacobino, 5 de junho de 1897, primeira coluna; Almanak Laemmert, 1898). Provavelmente, voltou a circular em 1898, mas logo deixou de existir (A Mensageira, 15 de maio de 1898). Entre as colaboradoras do jornal estavam a escritora baiana Ignez Sabino (1853 – 1911) e Izabel Dillon (1861 – 1920), além de estrangeiras como as feministas Guiomar Torrezão (1844-1898), escritora portuguesa; e a francesa Eugénie Potonié Pierre (1844 -1898), fundadora da Federação Francesa das Sociedades Feministas; que enviavam seus textos de seus respectivos países.

 

 

Josephina escreveu para A Família diversos artigos em defesa da emancipação feminina a partir da educação, do trabalho, do voto feminino e pelo direito ao divórcio. Desde o início enfrentou resistência, inclusive de mulheres e de instituições católicas, como fica exemplificado na edição do periódico de 12 de janeiro de 1889; e também na notícia publicada pelo jornal O Apóstolo, 28 de março de 1890, primeira coluna.

 

 

Destacamos os artigos O Direito ao Voto, publicado em 7 de dezembro de 1889, O Divórcio, de 2 de outubro de 1890Emancipação da Mulher, de 18 de julho de 1891 e A Questão das Mulheres, de 30 de janeiro de 1892. Às vezes, os assinava como Zefa.

 

 

Com a Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, as mulheres vislumbraram a possibilidade de terem mais participação política. A própria Josephina escreveu no editorial de A Família, de 30 de novembro de 1889:

“No fundo escuro e triste do quadro de provações a que votaram a mulher na sociedade, brilhará, com a fulgente aurora da República Brasileira, a luz deslumbradora da nossa emancipação?…Queremos o direito de intervir nas eleições, de eleger e ser eleitas, como os homens, em igualdade de condições. Ou estaremos fora do regime das leis criadas pelos homens, ou teremos também o direito de legislar para todas. Fora disso, a igualdade é uma utopia, senão um sarcasmo atirado a todas nós…”

Porém, em 1891, criticou muito o fato de que na primeira Constituição da República, promulgada em 24 de fevereiro de 1891, as mulheres continuarem sendo espectadoras da vida política do país (A Família, 5 de março de 1891), circunstância retratada no quadro Compromisso Constitucional de 1891 (1896), de Aurélio de Figueiredo (1854 – 1916), onde um grupo de mulheres aparece justamente nesta condição.

 

 

Em 1891, o jornal A Família passou a pertencer à Companhia Imprensa Familiar, mas Josephina permaneceu como sua diretora mental e redatora (A Família, 25 de abril de 1891; O Paiz, 11 de maio de 1891, penúltima coluna; Diário de Notícias, 19 de julho de 1891, última coluna).

Foi homenageada com a publicação de seu retrato na primeira página de A Família, de 9 de maio de 1891.

 

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Foi autora da comédia O Voto Feminino, que estreou no Rio de Janeiro, em 26 de maio de 1890, no Theatro Recreio Dramático, enérgica e vibrante peça de combate em favor dos direitos políticos do bello sexo. Foi encenada pelos atores Antonio Pereira Fontana e Castro, português radicado no Brasil; Germano, Bragança e Pinto; e pelas atrizes Elisa de Castro, Isolina Monclar e Luisa. A peça foi inspirada pelas constantes recusas de alistamento eleitoral feminino, já exemplificado neste artigo pelo caso de Izabel Dillon (A Família, 31 de maio de 1890, primeira coluna).  O Voto Feminino é uma peça emblemática do sufragismo brasileiro em fins do século XIX.

 

 

Também em 1890, foi encenada sua tradução livre da peça Os Companheiros do Sol, de Paul Jay (Gazeta de Notícias, 6 de agosto de 1890, penúltima coluna).

A partir de 1892, o número de colaboradoras de A Família e os artigos escritos por Josephina diminuíram muito. Em 1893, foi noticiado que ela estava doente, vitimada pela terrível influenza (A Família, 17 de maio de 1893). Ela residia na rua da Quitanda (Almanak Laemmert, 1893).

Em 1896, ofertou à biblioteca do Grêmio Dramático Arthur Azevedo, de São Paulo, 20 obras  (A Arte, 12 de outubro de 1896, segunda coluna).

Em 1904, foi citada como uma distintíssima escritora brasileira em uma carta aberta da escritora espanhola Eva Canel (1857 – 1932), Em defesa da mulher brasileira, uma resposta a um artigo da escritora e jornalista argentina Conception Gimeno del Flaquer (1850 – 1919) (Il Bersagliere, 5 de maio de 1904, segunda coluna).

Ao longo de sua vida, Josephina publicou três livros: Retalhos (1890), A Mulher Moderna: trabalhos de propaganda (1891), que dedicou em signal de admiração e respeito à Viscondessa de Leopoldina e à D. Maria José Paranhos Mayrink; Galleria illustre (Mulheres célebres) (1897) (O Paiz, 2 de fevereiro de 1890, sexta coluna; Diário do Commercio, 9 de fevereiro de 1891, penúltima coluna).

 

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Josephina faleceu em 1º de setembro de 1913, viúva, de acordo com as notícias veiculadas na época, no Rio de Janeiro, e foi enterrada no Cemitério de São Francisco Xavier, em 2 de setembro de 1913. Sua irmã, Maria Amelia de Azevedo Costa, e seus filhos, Alfredo e Moacyr Alvares de Azevedo, convidaram para a missa de Sétimo Dia, realizada na Igreja de Nossa Senhora da Conceição e Dores, em São Cristóvão. Residia na rua Luiz Barbosa, número 102 (A Época, 3 de setembro de 1913, segunda colunaO Paiz, 5 de setembro de 1913, última coluna).

 

 

Comentando sobre a conquista do direito ao voto pelas mulheres inglesas, Antenor Thibau lembrou, em um artigo no Jornal do Brasil, a atuação de Josephina em prol da emancipação feminina no Brasil (Jornal do Brasil, 27 de fevereiro de 1918, segunda coluna).

 

 

Leolinda Daltro (1859 – 1935), Mariana de Noronha Horta (18? – 19?) e Mietta Santiago (1903 – 1995)

 

Outra sufragista importante foi a professora, feminista e indigenista baiana Leolinda Daltro (1859 – 1935), fundadora do Partido Republicano Feminino, em 1910. Ela será tema de um artigo futuro da Brasiliana Fotográfica.

 

 

A professora de Belo Horizonte Mariana de Noronha Horta (18? – 19?) também teve um atuação relevante na luta pelo voto feminino: em agosto de 1916, encaminhou um requerimento pedindo aos deputados que aprovassem o sufrágio feminino. No acervo de documentos da Câmara Federal, esta é a primeira manifestação formal de uma mulher solicitando direitos políticos (Correio Paulistano, 17 de agosto de 1916; Site da Câmara dos Deputados).

 

 

Eleitora pioneira em Minas Gerais, a escritora e advogada Mietta Santiago (1903 – 1995), como ficou conhecida Maria Ernestina Carneiro Santiago Manso Pereira, nasceu em Varginha, em 1903, e, aos 11 anos, foi viver na capital mineira, onde estudou na Escola Normal de Belo Horizonte. Casou-se, em 1923, após passar cerca de seis meses na Europa, com o médico João Manso Pereira.

Com apenas 25 anos, em 1928, impetrou um mandado de segurança alegando que o veto ao voto das mulheres seria contrário ao artigo 70 da Constituição Brasileira de 24 de fevereiro 1891, então em vigor (O Paiz, 16 de setembro de 1928, quarta coluna; (Diário Carioca, 18 de setembro de 1928, terceira colunaO Paiz, 23 de setembro de 1928).

 

 

Tornou-se eleitora e candidatou-se a deputada federal, mas não conseguiu se eleger. O fato, uma verdadeira audácia para a época, mereceu versos do poeta, também mineiro, Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1987):

 

mietta

 

Além disso, Mietta fundou a Liga de Eleitoras Mineiras. Era amiga de políticos como Getulio Vargas (1882 – 1954) e Tancredo Neves (1910 – 1985) e de escritores como o memorialista Pedro Nava (1903 – 1984) e o poeta Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1987). Como escritora, publicou as obras Namorada da Deus (1936), Maria Ausência (1940); e, em 1981, Uma consciência unitária para a humanidade e As 7 poesias. Faleceu, em 1995, no Rio de Janeiro.

Em 2017, foi instituída a Medalha Mietta Santiago, condecoração concedida anualmente pela Secretaria da Mulher e pela Presidência da Câmara de Deputados (Site da Câmara de Deputados).

 

Outras sufragistas brasileiras de destaque

 

Outras feministas destacadas na luta pelo voto feminino foram a urbanista, arquiteta e engenheira mato-grossense Carmen Portinho (1903 – 2001), a sindicalista alagoana Almerinda Farias Gama (1899 – 1999), a advogada mineira Elvira Komel (1906 – 1932)Maria Prestia (? – 1988), líder de um minoritário grupo de feministas de São Paulo; Júlia Augusta de Medeiros (1896 – 1972), uma das pioneiras no jornalismo, na educação e no feminismo no Rio Grande do Norte; e a advogada gaúcha Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993). Todas já foram temas de artigos publicados na Brasiliana Fotográfica.

 

 

 

 

 

Meses após à conquista do voto das mulheres no Brasil, ainda em 1932, Natércia e Bertha foram nomeadas para integrar a comissão para elaborar o anteprojeto da nova Constituição (Correio da Manhã, 14 de julho de 1932, terceira colunaCorreio da Manhã, 19 de julho de 1932, primeira colunaBrasil Feminino, dezembro de 1932). Em 1934, o sufrágio feminino estava contemplado na Constituição Federal.

 

 

Sobre a importância da conquista do sufrágio feminino, em entrevista, Carmen Portinho declarou que ela deveria ser um estímulo para outros avanços: “Obtivemos a nossa emancipação política, mas esse direito assim isolado, de que nos serve?” (A Noite, 17 de agosto de 1933, última coluna).

Cerca de seis meses antes da assinatura do Decreto nº 21.076, o jornal A Batalha, de 13 de setembro de 1931, publicou uma reportagem intitulada A nova legislação eleitoral e o voto feminino, com a história do movimento feminista no Brasil, onde a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, dirigido por Bertha, a União Universitária Feminina, sob a direção de Carmen Portinho (1903 – 2001); e a Aliança Nacional de Mulheres, liderado por Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993), foram citadas como importantes iniciativas para a emancipação da mulher no país. Na matéria foi publicada também a lista dos países onde as mulheres já possuíam direito ao voto e comentada a liderança do Rio Grande do Norte na concessão de direitos políticos às mulheres, por intermédio do governador Juvenal Lamartine de Faria (1874 – 1956). Foi transcrito também o discurso proferido por Ruy Barbosa (1849 – 1923) no Teatro Lyrico em apoio à causa feminina (A Batalha, 13 de setembro de 1931).

 

 

Em 1933, houve eleição para a Assembleia Nacional Constituinte, e as mulheres puderam votar e terem seus votos reconhecidos pela primeira vez. A primeira mulher eleita foi Carlota Pereira de Queiróz (1892 – 1992), em São Paulo.

 

 

Outra pioneiras, eleitas um ano depois, em 1934, foram Bertha Lutz (1894 – 1976), no Rio de Janeiro; Lili Lages (1907 – 2003), em Alagoas; Maria Luiza Bittencourt Dória (1910 – 2001), na Bahia; Quintina Diniz de Oliveira (1878 – 1942), em Sergipe; e Maria de Miranda Leão (1887 – 1976), no Amazonas.

 

 

 

 

 

 

Nas eleições de outubro de 2022 no Brasil, o número de mulheres que tiveram suas candidaturas registradas junto à Justiça Eleitoral foi de 9.415, 33,28% do total de políticos elegíveis – 91 mulheres foram eleitas a deputadas federais e quatro para o Senado. As mulheres representavam 53% do eleitorado do país – 82 milhões de votantes. Há ainda um longo caminho a percorrer.

 

 

 

O Rio Grande do Norte e a vanguarda do voto feminino

 

 

Em 1927, houve uma eleição no Rio Grande do Norte e Juvenal Lamartine de Faria (1874 – 1956), que havia renunciado ao Senado, concorreu ao governo de seu estado e venceu o pleito. Tomou posse em 1º de janeiro de 1928. Foi necessário realizar eleições complementares para a escolha de um novo senador. Juvenal apoiava a causa do voto das mulheres. Em 25 de outubro de 1927, ainda durante o governo de José Augusto Bezerra de Medeiros, passou a vigorar a Lei Estadual nº 660, com a emenda Regular o Serviço Eleitoral do Estado, que estabelecia a não distinção de sexo para o exercício do sufrágio e, tampouco, como condição básica de elegibilidade.

Há uma polêmica em torno da primeira eleitora do Brasil na historiografia do feminismo no Brasil no século XX: a natalense e professora Júlia Alves Barbosa Cavalcanti (1898 – 1943) requereu seu alistamento eleitoral no dia 22 de novembro de 1927, porém, dada à sua condição de solteira, o juiz da 1ª vara da Capital retardou o deferimento de seu pleito, que só foi publicado, no Diário Oficial do Estado, no dia 1º de dezembro do mesmo ano. Em 25 de novembro de 1927, a professora Celina Guimarães Viana (1890 – 1972), de Mossoró, deu entrada em uma petição, requerendo sua inclusão na lista de eleitores, que foi aprovada rapidamente, pelo fato de ser casada com um advogado e professor (O Paiz, 2 de dezembro de 1927, primeira coluna). Reivindicando o voto das mulheres, a escritora cearense Rachel de Queiroz (1910 – 2003), com apenas 17 anos, escreveu o artigo Essa questão do voto feminino, publicado no jornal A Jandaia, em 14 de janeiro de 1928. As eleições municipais foram realizadas no dia 5 de abril de 1928, mas os votos das eleitoras foram anulados porque o Senado não reconheceu o direito de voto das mulheres.

 

Júlia Alves Barbosa Cavalcanti foi eleita para a Câmara Municipal de Natal.

 

 

Apesar de, do ponto de vista eleitoral, o estado do Rio Grande do Norte ter reconhecido esta igualdade, faltava, porém, a concretização do “voto de saias”, o que ocorreu nas eleições municipais realizadas no dia 05 de abril de 1928. Em Natal votaram Antônia Fontoura, Carolina Wanderley, Júlia Barbosa e Lourdes Lamartine. Em Mossoró, além de Celina Guimarães, votaram Beatriz Leite e Eliza da Rocha Gurgel. Em Apodi as primeiras eleitoras foram Maria Salomé Diógenes e Hilda Lopes de Oliveira. Em Pau dos Ferros, Carolina Fernandes Negreiros, Clotilde Ramalho, Francisca Dantas e Joana Cacilda Bessa. Ainda em Caicó e Acari, respectivamente, Júlia Medeiros e Martha Medeiros. Além de votar, algumas mulheres, a exemplo de Júlia Alves Barbosa em Natal e Joana Cacilda de Bessa em Pau dos Ferros,  foram também eleitas para o cargo de intendente municipal, equivalente a vereador atualmente.

Centro de Memória do Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Norte

 

 

 

Acesse aqui a linha do tempo da conquista do voto feminino publicada no portal da Câmara dos Deputados

 

 

Alguns países e o ano da aprovação do voto feminino

 

1893 – Nova Zelândia

1902 – Austrália

1906 – Finlândia

1907 –  Noruega

1915 - Dinamarca e Islândia

1917 - Rússia

1918 – Áustria, Alemanha, Polônia, Lituânia, Reino Unido e Irlanda

1920 - Estados Unidos

1929 – Equador

1931 – Espanha e Portugal (com limitações). Na Espanha, o direito foi suspenso em 1936 e só voltou a vigorar em 1977.

1932 – Brasil e Uruguai

1934 - Turquia

1944 - França

1945 – Itália e Japão

1947 - Argentina e Índia

1952 – Grécia

1953 - China e México

1955 – Honduras

1956 - Egito

1962 - Bahamas e Mônaco

1970 – Andorra

1971 – Suíça

1980 – Iraque

1994 – Omã

2015 – Arábia Saudita

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

BARBOSA, Lia Pinheiro; MAIA, Vinicius Madureira. Nísia Floresta e ainda a controvérsia da tradução de Direitos das mulheres e injustiça dos homens. Revista Estudos Feministas, 28 (2), 2020.

BARP, Guilherme. A luta de Josefina Álvares de Azevedo pelos direitos das mulheres em A mulher moderna (1891). Nau Literária, Vol. 18, n. 01 (2022) – Dossiê: Racismo, sexismo e Direitos Humanos. Organizado pela Profa. Dra. Regina Zilberman (UFRGS), 5 de setembro de 2022.

CAMPOI, Isabela Candeloro. O livro “Direitos das mulheres e injustiça dos homens” de Nísia Floresta: literatura, mulheres e o Brasil do século XIX. História (São Paulo) v.30, n.2, p. 196-213, ago/dez 2011.

Centro de Referências em Educação Integral

COELHO, Catarina Alves. Direito das Mulheres e Injustiça dos Homens: a tradução utópico-feminista de Nísia Floresta. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de filosifia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 2019.

CORREA E SILVA, Laila. O direito ao voto feminino no século XIX brasileiro: a atuação política de Josephina Álvares de Azevedo (1851-1913). Aedos, Porto Alegre, v. 10, n. 23, p. 114-131, Dez. 2018

DUARTE, Constância Lima. As viagens e o discurso autobiográfico de Nísia Floresta. Matraga, Rio de Janeiro, v.16, n.25, jul./dez. 2009.

DUARTE, Constância Lima. Imprensa feminina e feminista no Brasil: século XIX . Belo Horizonte: Autêntica, 2016.

DUARTE, Constância Lima. Narrativas de viagem de Nísia Floresta. Via Atlântica, n. 2 jul. 1999.

DUARTE, Constância Lima. Nísia Floresta: Incompreensão em relação à sua genialidade. Ciência & Trópico, Recife, v. 26, n. 2, p. 253-260,julho /dez, 1998. 

DUARTE, Constância Lima. Nísia Floresta: a primeira feminista do Brasil. Florianópolis: Editora Mulheres, 2005.

DUARTE, Constância Lima. Nísia Floresta: vida e obra. Natal: Editora Universitária/UFRN, 1995.  

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HALLEWELL, Laurence. (2005). O livro no Brasil: sua historia. São Paulo : Edusp, 2055.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

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MARQUES, Teresa Cristina de Novaes. O voto feminino do Brasil. Brasília : Edições Câmara, 2019.

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Site Superior Tribunal Eleitoral

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Wikipedia

 

Acesse aqui os outros artigos da Série “Feministas, graças a Deus!

Série “Feministas, graças a Deus!” I – Elvira Komel, a feminista mineira que passou como um meteoro, publicado em 25 de julho de 2020, de autoria da historiadora Maria Silvia Pereira Lavieri Gomes, do Instituto Moreira Salles, em parceria com Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” II  – Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993), o jequitibá da floresta, publicado em 20 de agosto de 2020, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” III  – Bertha Lutz e a campanha pelo voto feminino: Rio Grande do Norte, 1928, publicado em 29 de setembro de 2020, de autoria de Maria do Carmo Rainha, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” IV  – Uma sufragista na metrópole: Maria Prestia (? – 1988), publicado em 29 de outubro de 2020, de autoria de Claudia Heynemann, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” V – Feminista do Amazonas: Maria de Miranda Leão (1887 – 1976), publicado em 26 de novembro de 2020, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, mestre em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” VI – Júlia Augusta de Medeiros (1896 – 1972) fotografada por Louis Piereck (1880 – 1931), publicado em 9 de dezembro de 2020, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” VII – Almerinda Farias Gama (1899 – 1999), uma das pioneiras do feminismo no Brasil, publicado em 26 de fevereiro de 2021, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” VIII – A engenheira e urbanista Carmen Portinho (1903 – 2001), publicado em 6 de abril de 2021, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” IX – Mariana Coelho (1857 – 1954), a “Beauvoir tupiniquim”, publicado em 15 de junho de 2021, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” X – Maria Luiza Dória Bittencourt (1910 – 2001), a eloquente primeira deputada da Bahia, publicado em 25 de março de 2022, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XI e série “1922 – Hoje, há 100 anos” VI – A fundação da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, publicado em 9 de agosto de 2022, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XII e série “1922 – Hoje, há 100 anos” XI – A 1ª Conferência para o Progresso Feminino, publicado em 19 de dezembro de 2022, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, historiadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” XIV – No Dia Internacional da Mulher, Alzira Soriano, a primeira prefeita do Brasil e da América Latina, publicado em 8 de março de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XV – No Dia dos Povos Índígenas, Leolinda Daltro,”a precursora do feminismo indígena” e a “nossa Pankhurst, publicado em 19 de abril de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XVI – O I Salão Feminino de Arte, em 1931, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica, publicado em 30 de junho de 2023

Série “Feministas, graças a Deus!” XVII – Anna Amélia Carneiro de Mendonça e o Zeppelin, equipe de Documentação da Escola de Ciências Sociais FGV CPDOC, em parceira com Andrea C.T. Wanderley, publicado em 5 de janeiro de 2024

No Dia do Imigrante Italiano, a trajetória do fotógrafo Nicola Maria Parente (1847 – 1911) no Brasil

Inspirada pela celebração do Dia Nacional do Imigrante Italiano e pela recente publicação do livro Italianos detrás da câmara: trajetórias e olhares marcantes no florescer da fotografia no Brasil, de autoria de Livia Raponi e Joaquim Marçal, um dos curadores da Brasiliana Fotográfica, escrevo sobre mais um importante fotógrafo italiano que atuou no Brasil no século XIX: Nicola Maria Parente (1847 – 1911), introdutor do cinematógrafo na Paraíba. Em destaque, imagens de sua autoria que pertencem à Fundação Biblioteca Nacional, uma das fundadoras da Brasiliana Fotográfica; e à Fundação Joaquim Nabuco e ao Museu Histórico Nacional, às instituições parceiras do portal.

 

 

Nicola Maria Parente se junta aos também italianos Camillo Vedani (18? – 1888)João Firpo (1839 – 1899) e Elvira (1876 – 1972) e Vincenzo Pastore (1930 – 1918), que já foram temas de artigos publicados no portal.

 

 

Acessando o link para as fotografias de autoria de Nicola Maria Parente disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Pela importância que a comunidade italiana tem na história do Brasil, a lei nº 11.687, de 2 de junho de 2008 instituiu oficialmente o Dia Nacional do Imigrante Italiano no calendário de todo o território nacional. O dia 21 de fevereiro foi escolhido devido à expedição que Pietro Tabacchi fez ao Espírito Santo, em 1874, marco do início do processo da migração em massa dos italianos para o Brasil. Estima-se que atualmente aproximadamente 30 milhões de descendentes de italianos vivam em terras brasileiras.

 

Bandeira da Itália

Bandeira da Itália

 

Breve perfil do fotógrafo italiano Nicola Maria Parente (1847 – 1911)

 

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A biografia de Nicola Maria Parente ainda tem diversas lacunas. Ele nasceu em Marsico Nuovo, província de Potenza, na região de Basilicata, em 13 de março de 1847, filho de Giovannantonio Parente e Maria Carmela Perci (Site Cápsula do Tempo). Relatos de seus familiares informam que ele teria participado nas lutas de Giuseppe Garibaldi (1807-1882) pela unificação da Itália, mas este fato ainda não foi confirmado.

 

 

Provavelmente veio para o Brasil, em 1865. Também de acordo com relatos de familiares, chegou com seu irmão Carmino, seus primos João, Georgina e Luigi; e com sua esposa Carolina Rotunda e seus filhos Galileu e Margarida. Durante a viagem Carolina teria dado à luz a Garibaldi e teria falecido logo depois do parto. No Porto de Santos, Nicola teria conhecido a italiana Giusephina Calliari, que viajava com dois filhos, Marcella e Giulio. Casaram-se e, posteriormente, tiveram uma filha, Carmelita. Há informações de que teriam se estabelecido em Taquari, no Rio Grande do Sul. Quanto à nacionalidade dos filhos há uma divergência ainda não resolvida pela pesquisa da vida de Nicola: no anúncio de sua morte é dito que todos nasceram no Brasil.

Percorreu alguns estados do Brasil e, o que se sabe, é que, na década de 1880, estabeleceu-se em João Pessoa, que na época chamava-se Parahyba do Norte, onde abriu a Photographia Vesúvio, na rua d´Areia, 73.

 

 

Na Paraíba, foi contemporâneo do italiano João Firpo (1839 – 1899) e do alemão Bruno Bourgard (18? – 19?), dentre outros fotógrafos itinerantes, e da pioneira Roza Augusta (18? -19?).

 

 

 

Também trabalhou como dentista.

 

 

Gênio de artista investigador, Nicola foi, além de fotógrafo e dentista, comerciante e inventor. Foi também ele que apresentou o cinematógrafo aos moradores de João Pessoa, na Paraíba, entre julho e agosto de 1897, durante a Festa das Neves, que homenageia a padroeira da cidade, Nossa Senhora das Neves, e que, na época, era o maior acontecimento social e religioso do estado. Em frente à Photographia Vesúvio, na rua Nova, nº 2, foi colocado um grande cartaz com frases em francês anunciando o espetáculo. Segundo anotações do fotógrafo, cineasta, diretor e pesquisador paraibano Walfredo Rodriguez (1893 – 1973), que estava presente ao acontecimento, em seu Roteiro Sentimental de uma Cidade:

“O autor destas desativadas evocações, recorda-se, ainda, envoltas em névoas das imagens remotas, das fitas ali exibidas, numa Festa das Neves de 1897 – “Chegada de um trem a Gare de Lion”, Um macaco pulando um arco” e “Crianças jogando bolas de neve em Biarritz”.

Parece que Nicola Parente conhecia os irmãos Louis e Auguste Lumière, franceses responsáveis pelo invento do cinematógrafo, cuja primeira exibição pública aconteceu em Paris, em 28 de dezembro de 1895. Em 1896, Parente viajou para a Europa e de lá trouxe a novidade. Segundo o bisneto de Nicola, o jornalista Pedro Parente, seu bisavô teria ido aFrança, em 1900, quando teria sido convidado pelos irmãos Lumière para a Exposição Universal de Paris.

 

 

Nicola itinerou com o cinematógrafo por diversos estados do Nordeste, como Bahia, Ceará, Pará e Rio Grande do Norte; e pelo interior de São Paulo. O organizador do livro A crítica de cinema em Belém, Pedro Veriano, aventa a possibilidade de Nicola ter sido o responsável  pelas primeiras filmagens no Pará, “mas não deixou provas concretas do trabalho” .

 

Em 1899,  transferiu-se para Abaeté, atual Abaetetuba, no Pará, onde criou o estabelecimento comercial Casa Italiana, da firma Nicola Parente & Filhos. Também colaborou com o Jornal da Mata.

Em 19 de maio de 1911, faleceu, vítima da explosão de um novo aparelho gerador de gás oxigênio que pretendia inventar em seu laboratório em Abaeté. De acordo com a notícia veiculada pelo Estado do Pará, era sócio de seu filho Garibaldi na firma comercial Parente & Cia.  Seu outro filho, Galileu, era jornalista, poeta e fotógrafo. Como já mencionado, tinha também duas filhas, Margarida e Carmelita. Foi identificado como muito estimado, honesto e caridoso (Estado do Pará, 29 de maio de 1911, última coluna).

 

Acesse aqui a Cronologia de Nicola Maria Parente (1847 – 1911) 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

ALIPRANDI, E.; MARTINI, V. (orgs.). Gli italiani nel nord del Brasile. Rassegna delle vite e delle opere della stirpe italica negli stati del nord brasiliano. Belém: Tip. da Livraria Gilet, 1932.

BARRO, Máximo. Participação italiana no cinema brasileiro. São Paulo : SESI-SP Editora.

Fotografia Paraibana Revista, 2012, pág 73

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

GOLZIO, Derval Gomes. Utilização Político-Ideológica da Fotografia: estudo das imagens publicadas no jornal A União durante a disputa política no Estado da Paraíba-1930. Dissertação de Mestrado em Multimedios, Unicamp, 1997.

Italianos detrás das câmeras: trajetórias e olhares marcantes no florescer da fotografia no Brasil / Organizado por Joaquim Marçal, Livia Raponi, traduzido por Livia Raponi, Vittorio Cappelli. – São Paulo : Editora Unesp, 2022.

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002.

LAPA, José Roberto do Amaral. A cidade: os cantos e os antros : Campinas, 1850-1900. São Paulo : Editora da Universidade de São Paulo, 1996.

LEAL, Wills. O Discurso Cinematográfico dos Paraibanos: a história do cinema na/da Paraíba. João Pessoa: Ed. A União, 1989.

LEITE, Ary Bezerra. Cidade de Fortaleza: 1897-1945: do Cinematógrafo aos Anos de Guerra.

LEITE, Ari Bezerra. História da fotografia no Ceará do século XIX. Edição do autor, 2019.

LEITE, Ary Bezerra. Memória do cinema: os ambulantes do Brasil (Cinema itinerante no Brasil: 1895 – 1914). Fortaleza : Premius, 2011.

PETIT, Pere. Filmes, Cinemas e Documentários no fim da Belle Époque no Pará (1911-1914). Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São Paulo, julho 2011,

VERIANO, Pedro (coord.). A crítica de cinema em Belém. Belém: Secult/PA, 1983.

SANTOS, Alex. Cinema e Revisionismo. João Pessoa, SEC/PB, 1982.

Site Cápsula do Tempo

Site Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro

Site Crônicas Taipuenses

Site Fatos e Fotos de Natal Antiga

Site Fortaleza Nobre

Site Italian Genealogy

Site Paraíba Criativa

Site Pró-Memória de Campinas – SP

Cronologia de Nicola Maria Parente (1847 – 1911)

Cronologia de Nicola Maria Parente (1847 – 1911) 

 

 

1847 –  Nicola Maria Parente nasceu em Marsico Nuovo, província de Potenza, na região de Basilicata, em 13 de março, filho de Giovannantonio Parente e Maria Carmela Perci  (Site Cápsula do Tempo).

1865 – Provável ano de sua chegada ao Brasil com, segundo relatos de parentes, seu irmão Carmino, seus primos João, Georgina e Luigi; e com sua esposa Carolina Rotunda e seus filhos Galileu e Margarida. Durante a viagem, Carolina teve um filho, Garibaldi, e teria falecido logo depois do parto.

No Porto de Santos, Nicola teria conhecido  a italiana Giusephina Calliari, que viajava com dois filhos, Marcella e Giulio. Casaram-se e, posteriormente, tiveram uma filha, Carmelita. Quanto à nacionalidade dos filhos há uma divergência ainda não resolvida pela pesquisa da vida de Nicola: no anúncio de sua morte é dito que todos nasceram no Brasil. Há informações de que teria se estabelecido em Taquari, no Rio Grande do Sul, com sua família.

1871 – Chegou no Rio de Janeiro, no vapor italiano Expresso, que veio da Europa. Do Rio de Janeiro, seguiu para a Bahia no paquete Cruzeiro do Sul (Diário do Rio de Janeiro, 26 de março de 1871, quarta colunaDiário do Rio de Janeiro, 15 de abril de 1871, primeira coluna).

1886 - Já possuia a Photographia Vesúvio, na rua d´Areia, 73, em João Pessoa, na capital da Paraíba.

1888 – Atuava como dentista em João Pessoa. Viajou para Pedras de Fogo, também na Paraíba; e para Goiana, em Pernambuco, mas retornaria à capital da Paraíba (Gazeta da Parahyba. 12 de outubro de 1888, última coluna).

 

 

1889 – Foi anunciado que ele iria para o sul do país. Na ocasião atuava na arte dentária e na fotografia (Gazeta da Parahyba, 12 de dezembro de 1889, última coluna).

 

 

1895 - Na cidade de Goiana, em Pernambuco, fundou a Photograhia Ítalo-Brasileira, na rua Conde d´Eu, onde oferecia seus serviços como fotógrafo e também como protético.

1896 – Já de volta à Paraíba, agradeceu às pessoas que estiveram presentes ao enterro de Francisco Jorge da S. Parente e convidou para a missa de sétimo dia (A União (PB), 19 de setembro de 1896, terceira coluna).

Agradeceu às pessoas que estiveram presentes ao enterro de Anna Isabel do Sacramento e convidou para a missa de sétimo dia (A União (PB), 27 de setembro de 1896, segunda coluna).

Em novembro, estava no Recife, da onde seguiu para a Paraíba, no vapor Maranhão (Jornal de Recife, 4 de novembro de 1896, terceira coluna).

Viajou à Europa e, na França, adquiriu o cinematógrafo, inventado pelos irmãos Lumière, cuja primeira exibição pública aconteceu em Paris, em 28 de dezembro de 1895.

1897 – Foi o responsável pela apresentação ao paraibanos do cinematógrafo durante a Festa das Neves, que homenageia a padroeira da cidade, Nossa Senhora das Neves (A União (PB), 5 de agosto de 1897, penúltima coluna; e 8 de agosto de 1897, última colunaA Notícia, 9 de agosto de 1897, segunda colunaA República (CE), 20 de setembro de 1897, terceira coluna).

Em frente à Photographia Vesúvio, na rua Nova, nº 2, foi colocado um grande cartaz com frases em francês anunciando o espetáculo. Segundo anotações do fotógrafo, cineasta, diretor e pesquisador paraibano Walfredo Rodriguez (1893 – 1973), em seu Roteiro Sentimental de uma Cidade, que estava presente ao acontecimento:

“O autor destas desativadas evocações, recorda-se, ainda, envoltas em névoas das imagens remotas, das fitas ali exibidas, numa Festa das Neves de 1897 – “Chegada de um Trem a Gare de Lion”, Um macaco pulando um arco” e “Crianças jogando bolas de neve em Biarritz”.

 

 

 

Esteve em Belém, apresentando o cinematógrafo.

Em novembro, apresentou o invento em Fortaleza, no Ceará (A República, 20 de novembro de 1897, quarta coluna).

 

 

1898 – A Photographia Vesúvio foi anunciada pelo filho de Nicola, Garibaldi (A União (PB), 15 de junho de 1898).

 

 

O consultório dentário de Nocola ficava na rua General Osório, 2 (antiga rua Nova), mesmo local da Photographia Vesúvio, em João Pessoa.

 

 

Em abril, Nicola esteve em Natal, onde apresentou o cinematógrafo na rua do Comércio (A República, 19 de abril de 1898):

“Sábado à noite o Sr. Nicolau Parente fez uma excelente exibição do cinematógrafo – mais uma das grandes aplicações da eletricidade, devida ao grande gênio de Edison. O trabalho agradou bastante e é uma das melhores diversões que temos gozado nesta capital”.

Entre julho e outubro, Nicola esteve na Bahia apresentando o cinematógrafo, na rua Carlos Gomes, nº 26 (Jornal de Notícias (BA), 8 de julho de 1898, terceira coluna).

 

 

Em novembro, esteve em Bragança (SP) com o cinematógrafo.

1899 – Em Campinas, exibição regular de sessões de cinema organizadas por Nicola no Cine Teatro Rink.

 

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Propaganda veiculada em 6 de dezembro de 1899 / A cidade: os cantos e os antros : Campinas, 1850-1900, página 31.

 

Transferiu-se para Abaeté, atual Abaetetuba, no Pará, onde criou o estabelecimento comercial Casa Italiana, da firma Nicola Parente & Filhos. Também colaborou com o Jornal da Mata.

1900 – Esteve apresentando o cinematógrafo em Manaus e também em Belém.

Segundo seu bisneto, o jornalista Pedro Parente, viajou para a Europa como convidado especial dos irmãos Lumière para a Exposição Universal de Paris.

1911 – Em 19 de maio, faleceu, vítima da explosão de um novo aparelho gerador de gás oxigênio que pretendia inventar em seu laboratório em Abaeté. De acordo com a notícia veiculada pelo Estado do Pará, era sócio de seu filho Garibaldi na firma comercial Parente & Cia.  Seu outro filho, Galileu, era jornalista, poeta e fotógrafo. Como já mencionado, tinha também duas filhas, Margarida e Carmelita. Foi identificado como muito estimado, honesto e caridoso (Estado do Pará, 29 de maio de 1911, última coluna).

 

 

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Foliões do Carnaval de Diamantina por Chichico Alkmim

Para celebrar o Carnaval de 2023, a Brasiliana Fotográfica destaca uma das imagens mais líricas e belas já produzidas sobre o tema. Os personagens retratados nos seduzem com seus sorrisos, expressões, fantasias e poses, despertando nossa imaginação…É um convite para a festa, para a folia! A autoria da foto é de  Chichico Alkmim (1886 – 1978), fotógrafo mineiro, autodidata e pioneiro da fotografia de estúdio em Diamantina. Foi o primeiro cronista visual da cidade e atuou na profissão, que adotou em 1907, até 1955. Sua produção, que compreende registros da arquitetura diamantinense, sua religiosidade, costumes, ritos e retratos de seus habitantes, é uma das principais  da memória visual de Minas Gerais. A fotografia dos foliões do Carnaval de Diamantina emociona por sua poesia e beleza.

 

Tudo tão antigo e tão recente esta gente de papel convida a esquecer o tempo – até que a voz de um galo nos acorde.

Eucanaã Ferraz, poeta, sobre a obra de Chichico

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Links para artigos sobre carnaval já publicados na Brasiliana Fotográfica

 

Imagem relacionada

O carnaval nas primeiras décadas do século XX, publicado em 5 de fevereiro de 2016

 

 

O carnaval do Cordão da Bola Preta, publicado em 9 de fevereiro de 2018

 

 

As Camélias Japonesas no carnaval de Alagoas pelas lentes do fotógrafo amador Luiz Lavenère Wanderley (1868 – 1966, publicado em 21 de fevereiro de 2020

 

 

Cenas da folia em Manaus em 1913, publicado em 28 de fevereiro de 2020

 

 

Baile de Carnaval em Santa Teresa – Di Cavalcanti, Klixto e Helios Seelinger, na casa de Raul Pederneiras, publicado em 25 de fevereiro de 2022

 

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Baile de Carnaval, c. 1921. Santa Teresa, Rio de Janeiro / Acervo FBN Anotação manuscrito no verso da foto “63”: “baile de carnaval em casa de Raul no Largo dos Neves em Sta Tereza. Da esquerda: sentados (3) primeira fila: Di Cavalcanti, Amaro e Claudio Manuel da Costa – sentados (2ª fila) Luis Peixoto, Mario, Kalixto, Raul, o ator Brandão o popularíssimo, e Helios Seelinger. Em pé atraz: [sic] miranda, 3 deusas, Marques Pinheiro e outra deusa 1923″. – “mulher do Raul Pederneiras (Wanda)”

 

 O Rei Momo por Jean Manzon e por outros fotógrafos dos Diários Associados, publicado em 3 de fevereiro de 2023

 

 

Crianças no carnaval carioca de 1933 por Guilherme Santos publicado e 8 de fevereiro de 2024

 

 

Acessando o link para as fotografias de Carnaval disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

O fotógrafo amador pernambucano Henrique Martins (1864 – 1933)

O pesquisador Rodrigo Cantarelli, da equipe da Coordenação-Geral de Estudos da História Brasileira (CEHIBRA) da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), uma das instituições parceiras da Brasiliana Fotográfica, recentemente identificou a autoria de algumas imagens produzidas por Henrique Martins, que atuou como fotógrafo amador nas primeiras décadas do século XX, em Pernambuco. Sua produção fotográfica está presente em duas coleções integrantes do acervo da Fundação Joaquim Nabuco: a Coleção Franklin Santiago Poggi de Figueiredo e a Coleção Josebias Bandeira. São imagens belíssimas do Recife, de Olinda e de Jaboatão dos Guararapes.

Acessando o link para fotografias de autoria de Henrique Martins disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.  

 

O fotógrafo amador pernambucano Henrique Martins (1864 – 1933)

Rodrigo Cantarelli*

Henrique Martins (1864 – 1933) foi um fotógrafo amador com atuação em Pernambuco nas primeiras décadas do século XX, sendo encontradas menções aos seus trabalhos, na imprensa recifense, a partir de 1903. Filho mais jovem de José Izidoro Martins e Francisca Emilia de Oliveira, Henrique Martins integrou uma família de intelectuais conhecidos no estado, sendo irmão do desembargador Samuel Martins (1862 – 1930) e do jurista Martins Júnior (1860 – 1904).

Henrique Martins se graduou bacharel na Faculdade de Direito do Recife, em 1889, chegando a escrever sobre a utilização da fotografia em processos judiciais, no entanto, não seguiu uma carreira profissional nesse campo, tal qual seus irmãos, ocupando-se do cargo de Secretário da Faculdade de Direito e sócio responsável da empresa Martins & C., que comercializava material fotográfico na capital pernambucana. São encontradas algumas notícias na imprensa local relatando que a Martins & C. produziu pequenos filmes publicitários, com o intuito de serem projetados antes das sessões nos cinemas do Recife, a exemplo do Festival do Jornal do Recife, relatado na notícia de 18 de julho de 1915 do referido jornal, e o Festival d’A Província, também relatado pelo Jornal do Recife, em 17 de agosto do mesmo ano. Ainda são encontrados dois endereços, hoje não mais existentes, onde funcionou a Martins & C., sendo o primeiro na Rua Sigismundo Gonçalves (por vezes rua do Cabugá), n.º 3, 1º andar, e Rua das Laranjeiras, n.º 2, ambos logradouros situados no bairro de Santo Antônio.

 

 

A produção fotográfica de Henrique Martins está presente em duas coleções integrantes do acervo da Fundação Joaquim Nabuco. A primeira delas é a Coleção Franklin Santiago Poggi de Figueiredo, composta exclusivamente por negativos em acetato, datados do começo do século XX. Estes negativos estão quase todos identificados por um código numérico, elaborado pelo autor das imagens, bem como, em alguns casos, datados e com o título da imagem identificando o seu local. Além disso, alguns desses negativos ainda possuem as assinaturas “H.” ou “H.M.”. Não é possível afirmar que todas as imagens desta coleção, composta por 84 documentos, seja de autoria de Henrique Martins, entretanto, tanto a semelhança na caligrafia grafada nos documentos quanto a técnica e a temática dos negativos reforça essa possibilidade.

 

 

 

 

 

 

Já a segunda coleção onde encontramos os trabalho de Henrique Martins é a Josebias Bandeira, composta, quase que exclusivamente, por cartões postais. São diversas as imagens do início do século passado onde, além das assinaturas “H.” e “H.M.” presentes nos negativos que deram origem aos cartões postais, ainda percebemos um pequeno carimbo circular onde lemos “H. Martins”.

 

 

 

 

 

 

 

É importante destacar que alguns dos negativos que deram origem aos postais encontrados na Coleção Josebias Bandeira, estão presentes na Coleção Franklin Santiago Poggi de Figueiredo. Um desses postais, que mostra a igreja Matriz da Boa Vista, no Recife, autentica a autoria da imagem do negativo da Coleção Franklin Poggi, visto que, quando comparamos as duas imagens, podemos perceber que negativo foi danificado e perdeu exatamente a parte da imagem com a assinatura “H.”.

 

 

 

 

 

 

Tais imagens foram expostas e comercializadas em lugares, na cidade do Recife, frequentados por uma elite intelectual pernambucana, a exemplo da Livraria Francesa, da Livraria Universal e da Fábrica da Lafayette. A imprensa local, em diversas ocasiões, ao comentar os trabalhos de Henrique Martins, nos permite reconstituir os mais diversos temas registrados por ele, seja o desembarque de personalidades no Porto do Recife, paisagens urbanas e até mesmo os mais diversos retratos, tendo ele registrado uma imagem do cangaceiro Antônio Silvino (esta, infelizmente não presente nas coleções da Fundação Joaquim Nabuco). No entanto, estes outros temas mencionados estão presentes também nas duas coleções, que mostram desde aspectos do Porto do Recife, sobrecarregado de embarcações em função da 1ª da Guerra Mundial; aos banhos de mar na cidade de Olinda; bem como as novas e as velhas edificações da capital pernambucana, e dos seus arredores, naquele início do século XX.

 

 

 

 

 

 

 

 

Rodrigo Cantarelli é pesquisador da CEHIBRA – FUNDAJ.

 

 

Fontes:

DESEMBARGADOR Samuel Martins. Jornal Pequeno, Recife, 23 de abril 1930.

MARTINS, Henrique. Lista geral dos bacharéis e doutores que tem obtido o respectivo grao na faculdade de direito do Recife desde sua fundação em Olinda, no anno de 1828, ate o anno de 1923. Recife, 1923.

MARTINS, Henrique. Sobre a photographia judiciaria: seu historico e sua applicacao. A Cultura Academica, Recife. a.3, v.3, p.75-86, ago. 1906.

O Rei Momo por Jean Manzon e por outros fotógrafos dos Diários Associados

Neste artigo a Brasiliana Fotográfica vai contar um pouco da história do Rei Momo do carnaval carioca a partir de uma imagem produzida pelo importante fotógrafo francês Jean Manzon (1915 – 1990), responsável pela renovação do fotojornalismo brasileiro na década de 1940. A foto destacada foi publicada no Diário da Noite, de 31 de dezembro de 1948, na ocasião do falecimento do primeiro Rei Momo, Francisco de Moraes Cardoso (1893 – 1948). No registro, de 28 de fevereiro de 1946, ele está na coroação realizada, no Teatro João Caetano, da vedete Mara Rubia (1918 – 1991), eleita dias antes Rainha do Baile do Carnaval das Atrizes de 1946 (Diário da Noite, 21 de fevereiro de 1946, sétima coluna). Vamos também traçar um pequeno perfil de Manzon. Foi em 3 de fevereiro de 1934 que o carnaval carioca foi aberto pela primeira vez por um Rei Momo de carne e osso.

 

 

 

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Os Diários Associados e a importância da preservação de um arquivo fotográfico de imprensa

 

Pela terceira vez uma imagem dos Diários Associados – Rio de Janeiro -, que foi incorporado, em 2016, ao acervo fotográfico de uma das instituições fundadoras da Brasiliana Fotográfica, o Instituto Moreira Salles (IMS), é o destaque de uma publicação do portal. Esse conjunto de fotos dos Diários Associados, que já foram o maior conglomerado de mídia do Brasil, possui cerca de 700 mil fotografias e 300 mil negativos com imagens produzidas para O Jornal, primeiro órgão dos Diários, comprado por Assis Chateaubriand (1892 – 1968), em 1924; para o Diário da Noite, fundado por ele, em 1929; e para o Jornal do Commercio, fundado, em 1827, e adquirido pelo grupo em 1959.

Mais uma vez destacamos a relevância da preservação de um arquivo fotográfico de imprensa mesmo que as imagens estejam disponíveis em plataformas como a Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional, uma das mais importantes fontes de pesquisa do portal. Com a preservação, as fotografias podem, a partir de recursos tecnológicos, como a digitalização e o zoom, terem outra visibilidade e serem acessadas em sua qualidade plena.

 

Acessando o link para as fotografias do Rei Momo publicados em jornais cariocas dos Diários Associados e disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Pequeno perfil de Jean Manzon (1915 – 1990)

 

O fotógrafo e cineasta Jean Manzon nasceu em Paris, em 2 de fevereiro de 1915. Começou sua carreira, aos 16 anos, no jornal L´Intransigeant. Depois trabalhou nas revistas ilustradas Vu e Match e no vespertino Paris Soir. Também trabalhou para o serviço cinematográfico da Marinha Francesa durante a Segunda Guerra Mundial. Veio para o Brasil, em agosto de 1940, e fixou-se no Rio de Janeiro.

Nos primeiros anos da década de 1940, foi o encarregado pela organização do Setor de Fotografia do Departamento de Imprensa e Propaganda do Estado Novo do presidente Getulio Vargas (1882 – 1954). Manzon tinha a função de produzir material para a divulgação da imagem do Brasil no país e no exterior. Editou pela Força Expedicionária Brasileira a revista Brasil na Guerra.

Atuou em diversas publicações dos Diários Associados, principalmente na revista O Cruzeiro, onde começou a trabalhar em 1943, a convite de Frederico Chateubriand (O Cruzeiro, 10 de julho de 1943), onde permanceu até 1951. Neste período produziu mais de 300 fotorreportagens cujos temas a professora e arquiteta Helouise Costa separou em quatro tópicos: política, personalidades, religião e realidade brasileira. Justamente nas décadas de 40 e 50 as matérias da revista tiveram um forte impacto na formação do imaginário brasileiro abordando, muitas vezes, pela primeira vez, alguns assuntos. Formou com David Nasser (1917 – 1980) uma das duplas mais importantes do jornalismo brasileiro. Juntos percorreram o Brasil de norte a sul e é deles, por exemplo, a matéria Enfrentando os chavantes, reportagem pioneira sobre índios brasileiros (O Cruzeiro, 24 de junho de 1944).

Manzon foi o responsável pela renovação do fotojornalismo no Brasil, implantando em O Cruzeiro, a partir de sua experiência europeia, uma linguagem fotográfica que usava ângulos de baixo para cima e vice-versa, tomadas oblíquas, enfatizando detalhes expressivos e utilizando intencionalmente a cenografia, onde a imagem era meticulosamente arquitetada pelo fotógrafo que, desta forma, construia a imagem. Introduzia assim a fotorreportagem, onde a foto não se limitava a ilustrar o texto, mas transmitia um ponto de vista especificamente visual sobre os fatos e resultava, com o texto, uma narrativa estruturada.

Manzon formou em O Cruzeiro uma equipe de fotógrafos que tornou-se pioneira do fotojornalismo moderno no país. Alguns deles foram Luciano Carneiro (1926 – 1959),  José Medeiros (1921- 1990) e Peter Scheier (1908 – 1979).

Na década de 1950, passou a colaborar com a revista Paris Match. Colaborou também com o jornal Última Hora e com a revista Manchete, em cuja capa do primeiro exemplar, de 26 de agosto de 1952, há uma chamada para Uma grande reportagem de Jean Manzon, intitulada Nem tudo é sombra e água fresca, também se trabalha na Câmara dos Deputados.

Ainda nos anos 50, fundou a empresa cinematográfica Jean Manzon Produções, que realizou mais de 900 documentários. Um deles, L´Amazone, foi premiado com o Leão de Ouro do Festival de Cinema de Veneza, Itália, em 1966. Retornou a Paris e, entre 1968 e 1972, assumiu a direção da Paris Match. É de sua autoria os livros Flagrantes do Brasil (1950) e Mergulho na Aventura (1950), este último em parceria com David Nasser; Brasil (1952) e Féerie Brésilienne (1957), entre outros.

Ele se orgulhava de ser o maior propagandista brasileiro no exterior e acusado, muitas vezes, de não mostrar a realidade do Brasil em seus documentários, declarou, em entrevista no artigo de Sérgio Gomes, Profissão otimista, publicado na Folha de São Paulo de 17 de novembro de 1977:

Folha de São Paulo, 17 de novembro de 1977

Folha de São Paulo, 17 de novembro de 1977

Segundo o poeta Manuel Bandeira (1886 – 1968), na apresentação da segunda edição de Flagrantes do Brasil, a obra de Manzon seria como um retrato de “nossa terra, nossos homens e nossos costumes”. Seu acervo é um dos maiores patrimônios cinematográficos de preservação da história e da memória no Brasil e em toda América Latina produzido por um só artista.

Em junho de 1990, em São Paulo, recebeu a Cruz de Oficial da Legião de Honra da França. Jean Manzon faleceu em Reguengos de Monsaraz, em Portugal, em 1º de julho de 1990, devido a um traumatismo craniano ocasionado por uma queda de uma escada (Jornal do Brasil, 5 de junho de 1990; e 3 de julho de 1990).

 

Um pouco da história do Rei Momo I e Único do carnaval carioca

 

 

Na Mitologia Grega, Momo era o deus da festividade, filho do Sono e da Noite. Por sua irreverência e sarcasmo foi expulso do Olimpo. Na Grécia, registros históricos revelam que os primeiros reis Momos até hoje conhecidos desfilavam em festas de orgia por volta dos séculos 5 ou 4 a.C. Já nas bacanais romanas, os participantes selecionavam um Rei Momo entre os soldados mais bonitos do exército e, ao final da festa, ele era sacrificado em honra do deus Saturno.

A primeira representação do Rei Momo de que se tem notícia no Brasil foi feita pelo caricaturista alemão radicado no Brasil, Henrique Fleiuss (1824 – 1882), e publicada na Semana Illustrada, em 2 de março de 1862, primeira publicação humorística ilustrada da imprensa brasileira. Fundada por Fleiuss, existiu entre 1860 e 1876, e teve como colaboradores Joaquim Nabuco (1849 – 1910) e Machado de Assis (1839 – 1908), dentre outros.

 

 

Até hoje, acredita-se que a primeira representação física do Rei Momo no país tenha acontecido em 21 de junho de 1910 durante a encenação da opereta Cupido no Oriente apresentada no Circo Spinelli. O famoso Benjamim de Oliveira (1870 – 1954), um dos autores da peça ao lado de David Carlos (18?-19?) e o primeiro palhaço negro do Brasil, interpretou Momo. O espetáculo contava com 28 músicas de autoria do maestro Paulino do Sacramento (1880 – 1926) e quatro atos.

 

 

 

 

Em 1933, a Federação das Sociedades Carnavalescas do Rio de Janeiro, a Casa dos Artistas e a Empresa Beira-Mar Cassino organizaram a entrada triunfal do Rei Momo no Rio de Janeiro, que seria uma nota interessantíssima do carnaval. A programação foi apresentada por Cerqueira Lima, representante do Touring Club (A Noite, 20 de dezembro de 1932, penúltima colunaA Noite, 28 de janeiro de 1933, quarta coluna; e 14 de fevereiro de 1933, terceira coluna).

 

“Foi uma ideia feliz essa de se dar, assim, como uma apoteose ao deus da folia, abertura oficial aos folguedos de carnaval”.

A Noite, 15 de fevereiro de 1933

 

 

 

E, em 18 de fevereiro de 1933, desembarcou na cidade um Rei Momo, porém de papelão. Foi esculpido pelo cenógrafo Hipólito Colomb que, com o decorador Jayme Silva, o vestiu. Momo chegou à Praça Mauá a bordo do Mocanguê. A alegoria media 13 metros e era iluminada por 800 lâmpadas elétricas. Houve um desfile na avenida Rio Branco e o rei da folia instalou-se no Cassino Beira-Mar. Foi a diretoria do Lloyd Club que promoveu a luxuosa cerimônia de chegada (A Noite, 15 de fevereiro18 de fevereiro, primeira coluna; 18 de fevereiro, quarta coluna; e 19 de fevereiro, de 1933; Diário da Noite, 18 de fevereiro; e 20 de fevereiro de 1933).

 

 

Como provado por fotos publicadas no jornal A Noite, de 21 de fevereiro de 1933, e na mesma data 3ª edição; e de 23 de fevereiro de 1933, já existia um  Rei Momo de carne e osso em 1933, criado por iniciativa dos jornalistas de A Noite Vasco Lima, Raymundo Magalhães Junior, Edgard Pilar Drummond, pseudônimo Palamenta, que integrava o Centro dos Cronistas Carnavalescos; e do caricaturista Fritz, pseudônimo de Anisio Mota. O escolhido para encarnar o soberano do carnaval carioca foi o cronista de turfe, que também trabalhava no jornal, o carioca Francisco Moraes de Cardoso (1893 – 1948), um tipo bonachão, alegre e com cara de glutão.

 

 

Mas foi no ano seguinte, em 3 de fevereiro de 1934, que o Rei Momo de carne e osso abriu o carnaval do Rio de Janeiro. Chegou na Praça Mauá e seguiu pela Avenida Rio Branco até o Palácio das Festas, onde houve um baile em sua homenagem (A Noite, 13 de dezembro de 1933, terceira colunaA Noite, 19 de fevereiro de 1934, primeira coluna; A Noite, 30 de janeiro de 1934, penúltima coluna; A Noite, 3 de fevereiro de 1934; A Noite, 4 de fevererio de 1934).

 

momo10A Noite, 3 de fevereiro de 1934

 A Noite, 3 de fevereiro de 1934

 

Foi vestido, por sugestão do maestro Silvio Piergilli (c.1888 – 1962), que trabalhava no Teatro Municipal e era amigo de Raymundo Magalhães Junior, com a roupa do duque de Mântua, personagem da ópera Rigoletto, de Giuseppe Verdi. Há uma outra versão na qual o caricaturista Fritz teria sido o desenhista da roupa, que teria sido executada por uma costureira do Teatro Municipal. Provavelmente, em 1933, Momo usou a fantasia do duque e, no ano seguinte, 1934, desfilou com a roupa desenhada por Fritz.

 

 

 

O jornal A Noite, de 9 de dezembro de 1948, resumiu assim a história do Rei Momo no carnaval do Rio de Janeiro:

 

momo14momo15

 

O fato é que durante 15 anos, de 1934 até sua morte, em 9 de dezembro de 1948, Moraes de Cardoso reinou no carnaval carioca (A Noite, 9 de dezembro de 1948; O Jornal, 10 de dezembro de 1948, primera coluna). Havia ingressado em A Noite em fins da década de 20, a convite de Adauto de Assis, que chefiava a seção esportiva do jornal. Antes, Moraes Cardoso trabalhava na papelaria Casa Cruz. Quando faleceu, além de repórter esportivo e comentarista de turfe, era Chefe da Seção de Circulação de A Noite.

 

 

 

Retrospectiva do Rei Momo do carnaval carioca desde 1934

 

 

1934 a 1948 – Francisco Moraes Cardoso

1949 – Gustavo Matos

1950 – Jaime de Moraes

1951 a 1957 – Nelson Nobre

1958 a 1971 – Abrahão Reis

1972 – Edson Seraphin de Santana

1973 – Elson Macula

1974 a 1982 – Edson Seraphin de Santana

1983 – Paolo Vicente Paccelli

1984 – Robertão

1985 e 1986 – Elson Macula

1987 a 1995 – Reynaldo Bola

1996 – Paulo Cesar Braga

1997 a 2003 –   Alex de Oliveira

2004 – Wagner Monteiro

2005 – Marcelo Reis

2006 a 2008 – Alex de Oliveira

2009 a 2013 – Milton Junior

2014 a 2016– Wilson Dias da Costa Neto

2017 – Fabio Damião

2018 – Milton Junior

2019 – Wilson Dias da Costa Neto

2020 a 2021– Djeferson Mendes da Silva

2022 – Wilson Dias da Costa Neto

2023 – Djferson Mendes da Silva,

 

Andrea C.T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

ABI – Boletim Informativo, 1990

BURGI, Sérgio; COSTA, Helouise (org.). As origens do fotojornalismo no Brasil: um olhar sobre O Cruzeiro. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2012.

CARDENUTO FILHO, Reinaldo. Discursos de intervenção: o cinema de propaganda ideológica para o CPC e o Ipês às vésperas do Golpe de 1964 São Paulo, 2008. Tese (Mestrado) – Universidade de São Paulo. Escola de Comunicação e Artes.

COELHO, M. Beatriz Ramos de Vasconcelos. A Construção da imagem da nação Brasileira pela fotodocumentação: 1940-1999. São Paulo, 2000. Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas.

COSTA, Haroldo. 100 anos de carnaval no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro : Irmãos Vitale, 2001.

COSTA, Helouise. Palco de uma história desejada: o retrato do Brasil por Jean Manzon em: Revista do Patrimônio, nº 27, 1998. Maria Inez Turazzi (org.). Brasília: IPHAN, 1998.

COSTA, Helouise. Um olho que pensa: estética moderna e fotojornalismo. Tese de doutoramento. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, 1998.

Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira

GOMES, Sérgio. Jean Manzon. Profissão: otimista, artigo publicado na Folha de São Paulo de 17 de novembro de 1977.

Figuras e Coisas do Carnaval Carioca / Jota Efegê: apresentação de Artur da Távola. —2. ed. — Rio de Janeiro: Funarte, 2007.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

MANZON, Jean. Flagrantes do Brasil. Rio de Janeiro: Ed. Bloch, 1950.

MANZON, Jean. Memórias do Brasil. São Paulo: Cepar Consultoria e Participações, 2007.

MANZON, Jean. Retrato vivo da grande aventura. São Paulo: Cepar Consultoria e Participações, 2006/2007.

PEREGRINO, Nadja. O Cruzeiro: a revolução da fotoreportagem. Rio de Janeiro, Dazibao, 1991.

PINHEIRO, Marlene M. Soares (1996), A Travessia do avesso: sob o signo do carnaval. São Paulo : Annablume, 1995.

Memória do carnaval, Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, 1991.

Revista Superinteressante, 14 de fevereio de 2020

Site Enciclopédia Itaú Cultural

Site Fundaj

Site MultiRio

TACCA, Fernando de. O índio na fotografia brasileira: incursões sobre a imagem e o meio. História, ciências, saúde – Manguinhos – Vol. 18, nº 1, p.191-223. Rio de Janeiro., 2011

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Artigos publicados na Brasiliana Fotográfica com fotografias do acervo dos Diários Associados

Os Diários Associados na Brasiliana Fotográfica, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 30 de maio de 2018.

A Casa dos Artistas nos Diários Associados, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 26 de agosto de 2019.

 

Links para artigos sobre carnaval já publicados na Brasiliana Fotográfica

 

Imagem relacionada

O carnaval nas primeiras décadas do século XX, publicado em 5 de fevereiro de 2016

 

 

O carnaval do Cordão da Bola Preta, publicado em 9 de fevereiro de 2018

 

 

As Camélias Japonesas no carnaval de Alagoas pelas lentes do fotógrafo amador Luiz Lavenère Wanderley (1868 – 1966, publicado em 21 de fevereiro de 2020

 

Cenas da folia em Manaus em 1913, publicado em 28 de fevereiro de 2020

 

 

Baile de Carnaval em Santa Teresa – Di Cavalcanti, Klixto e Helios Seelinger, na casa de Raul Pederneiras, publicado em 25 de fevereiro de 2022

 

Foliões do Carnaval de Diamantina por Chichico Alkmim, publicado em 17 de fevereiro de 2023

 

 

Crianças no carnaval carioca de 1933 por Guilherme Santos, publicado em 8 de fevereiro de 2024

 

Acessando o link para as fotografias de Carnaval disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas