O fotógrafo amador pernambucano Henrique Martins (1864 – 1933)

O pesquisador Rodrigo Cantarelli, da equipe da Coordenação-Geral de Estudos da História Brasileira (CEHIBRA) da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), uma das instituições parceiras da Brasiliana Fotográfica, recentemente identificou a autoria de algumas imagens produzidas por Henrique Martins, que atuou como fotógrafo amador nas primeiras décadas do século XX, em Pernambuco. Sua produção fotográfica está presente em duas coleções integrantes do acervo da Fundação Joaquim Nabuco: a Coleção Franklin Santiago Poggi de Figueiredo e a Coleção Josebias Bandeira. São imagens belíssimas do Recife, de Olinda e de Jaboatão dos Guararapes.

Acessando o link para fotografias de autoria de Henrique Martins disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.  

 

O fotógrafo amador pernambucano Henrique Martins (1864 – 1933)

Rodrigo Cantarelli*

Henrique Martins (1864 – 1933) foi um fotógrafo amador com atuação em Pernambuco nas primeiras décadas do século XX, sendo encontradas menções aos seus trabalhos, na imprensa recifense, a partir de 1903. Filho mais jovem de José Izidoro Martins e Francisca Emilia de Oliveira, Henrique Martins integrou uma família de intelectuais conhecidos no estado, sendo irmão do desembargador Samuel Martins (1862 – 1930) e do jurista Martins Júnior (1860 – 1904).

Henrique Martins se graduou bacharel na Faculdade de Direito do Recife, em 1889, chegando a escrever sobre a utilização da fotografia em processos judiciais, no entanto, não seguiu uma carreira profissional nesse campo, tal qual seus irmãos, ocupando-se do cargo de Secretário da Faculdade de Direito e sócio responsável da empresa Martins & C., que comercializava material fotográfico na capital pernambucana. São encontradas algumas notícias na imprensa local relatando que a Martins & C. produziu pequenos filmes publicitários, com o intuito de serem projetados antes das sessões nos cinemas do Recife, a exemplo do Festival do Jornal do Recife, relatado na notícia de 18 de julho de 1915 do referido jornal, e o Festival d’A Província, também relatado pelo Jornal do Recife, em 17 de agosto do mesmo ano. Ainda são encontrados dois endereços, hoje não mais existentes, onde funcionou a Martins & C., sendo o primeiro na Rua Sigismundo Gonçalves (por vezes rua do Cabugá), n.º 3, 1º andar, e Rua das Laranjeiras, n.º 2, ambos logradouros situados no bairro de Santo Antônio.

 

 

A produção fotográfica de Henrique Martins está presente em duas coleções integrantes do acervo da Fundação Joaquim Nabuco. A primeira delas é a Coleção Franklin Santiago Poggi de Figueiredo, composta exclusivamente por negativos em acetato, datados do começo do século XX. Estes negativos estão quase todos identificados por um código numérico, elaborado pelo autor das imagens, bem como, em alguns casos, datados e com o título da imagem identificando o seu local. Além disso, alguns desses negativos ainda possuem as assinaturas “H.” ou “H.M.”. Não é possível afirmar que todas as imagens desta coleção, composta por 84 documentos, seja de autoria de Henrique Martins, entretanto, tanto a semelhança na caligrafia grafada nos documentos quanto a técnica e a temática dos negativos reforça essa possibilidade.

 

 

 

 

 

 

Já a segunda coleção onde encontramos os trabalho de Henrique Martins é a Josebias Bandeira, composta, quase que exclusivamente, por cartões postais. São diversas as imagens do início do século passado onde, além das assinaturas “H.” e “H.M.” presentes nos negativos que deram origem aos cartões postais, ainda percebemos um pequeno carimbo circular onde lemos “H. Martins”.

 

 

 

 

 

 

 

É importante destacar que alguns dos negativos que deram origem aos postais encontrados na Coleção Josebias Bandeira, estão presentes na Coleção Franklin Santiago Poggi de Figueiredo. Um desses postais, que mostra a igreja Matriz da Boa Vista, no Recife, autentica a autoria da imagem do negativo da Coleção Franklin Poggi, visto que, quando comparamos as duas imagens, podemos perceber que negativo foi danificado e perdeu exatamente a parte da imagem com a assinatura “H.”.

 

 

 

 

 

 

Tais imagens foram expostas e comercializadas em lugares, na cidade do Recife, frequentados por uma elite intelectual pernambucana, a exemplo da Livraria Francesa, da Livraria Universal e da Fábrica da Lafayette. A imprensa local, em diversas ocasiões, ao comentar os trabalhos de Henrique Martins, nos permite reconstituir os mais diversos temas registrados por ele, seja o desembarque de personalidades no Porto do Recife, paisagens urbanas e até mesmo os mais diversos retratos, tendo ele registrado uma imagem do cangaceiro Antônio Silvino (esta, infelizmente não presente nas coleções da Fundação Joaquim Nabuco). No entanto, estes outros temas mencionados estão presentes também nas duas coleções, que mostram desde aspectos do Porto do Recife, sobrecarregado de embarcações em função da 1ª da Guerra Mundial; aos banhos de mar na cidade de Olinda; bem como as novas e as velhas edificações da capital pernambucana, e dos seus arredores, naquele início do século XX.

 

 

 

 

 

 

 

 

Rodrigo Cantarelli é pesquisador da CEHIBRA – FUNDAJ.

 

 

Fontes:

DESEMBARGADOR Samuel Martins. Jornal Pequeno, Recife, 23 de abril 1930.

MARTINS, Henrique. Lista geral dos bacharéis e doutores que tem obtido o respectivo grao na faculdade de direito do Recife desde sua fundação em Olinda, no anno de 1828, ate o anno de 1923. Recife, 1923.

MARTINS, Henrique. Sobre a photographia judiciaria: seu historico e sua applicacao. A Cultura Academica, Recife. a.3, v.3, p.75-86, ago. 1906.