No Dia do Imigrante Italiano, a trajetória do fotógrafo Nicola Maria Parente (1847 – 1911) no Brasil

Inspirada pela celebração do Dia Nacional do Imigrante Italiano e pela recente publicação do livro Italianos detrás da câmara: trajetórias e olhares marcantes no florescer da fotografia no Brasil, de autoria de Livia Raponi e Joaquim Marçal, um dos curadores da Brasiliana Fotográfica, escrevo sobre mais um importante fotógrafo italiano que atuou no Brasil no século XIX: Nicola Maria Parente (1847 – 1911), introdutor do cinematógrafo na Paraíba. Em destaque, imagens de sua autoria que pertencem à Fundação Biblioteca Nacional, uma das fundadoras da Brasiliana Fotográfica; e à Fundação Joaquim Nabuco e ao Museu Histórico Nacional, às instituições parceiras do portal.

 

 

Nicola Maria Parente se junta aos também italianos Camillo Vedani (18? – 1888)João Firpo (1839 – 1899) e Elvira (1876 – 1972) e Vincenzo Pastore (1930 – 1918), que já foram temas de artigos publicados no portal.

 

 

Acessando o link para as fotografias de autoria de Nicola Maria Parente disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Pela importância que a comunidade italiana tem na história do Brasil, a lei nº 11.687, de 2 de junho de 2008 instituiu oficialmente o Dia Nacional do Imigrante Italiano no calendário de todo o território nacional. O dia 21 de fevereiro foi escolhido devido à expedição que Pietro Tabacchi fez ao Espírito Santo, em 1874, marco do início do processo da migração em massa dos italianos para o Brasil. Estima-se que atualmente aproximadamente 30 milhões de descendentes de italianos vivam em terras brasileiras.

 

Bandeira da Itália

Bandeira da Itália

 

Breve perfil do fotógrafo italiano Nicola Maria Parente (1847 – 1911)

 

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A biografia de Nicola Maria Parente ainda tem diversas lacunas. Ele nasceu em Marsico Nuovo, província de Potenza, na região de Basilicata, em 13 de março de 1847, filho de Giovannantonio Parente e Maria Carmela Perci (Site Cápsula do Tempo). Relatos de seus familiares informam que ele teria participado nas lutas de Giuseppe Garibaldi (1807-1882) pela unificação da Itália, mas este fato ainda não foi confirmado.

 

 

Provavelmente veio para o Brasil, em 1865. Também de acordo com relatos de familiares, chegou com seu irmão Carmino, seus primos João, Georgina e Luigi; e com sua esposa Carolina Rotunda e seus filhos Galileu e Margarida. Durante a viagem Carolina teria dado à luz a Garibaldi e teria falecido logo depois do parto. No Porto de Santos, Nicola teria conhecido a italiana Giusephina Calliari, que viajava com dois filhos, Marcella e Giulio. Casaram-se e, posteriormente, tiveram uma filha, Carmelita. Há informações de que teriam se estabelecido em Taquari, no Rio Grande do Sul. Quanto à nacionalidade dos filhos há uma divergência ainda não resolvida pela pesquisa da vida de Nicola: no anúncio de sua morte é dito que todos nasceram no Brasil.

Percorreu alguns estados do Brasil e, o que se sabe, é que, na década de 1880, estabeleceu-se em João Pessoa, que na época chamava-se Parahyba do Norte, onde abriu a Photographia Vesúvio, na rua d´Areia, 73.

 

 

Na Paraíba, foi contemporâneo do italiano João Firpo (1839 – 1899) e do alemão Bruno Bourgard (18? – 19?), dentre outros fotógrafos itinerantes, e da pioneira Roza Augusta (18? -19?).

 

 

 

Também trabalhou como dentista.

 

 

Gênio de artista investigador, Nicola foi, além de fotógrafo e dentista, comerciante e inventor. Foi também ele que apresentou o cinematógrafo aos moradores de João Pessoa, na Paraíba, entre julho e agosto de 1897, durante a Festa das Neves, que homenageia a padroeira da cidade, Nossa Senhora das Neves, e que, na época, era o maior acontecimento social e religioso do estado. Em frente à Photographia Vesúvio, na rua Nova, nº 2, foi colocado um grande cartaz com frases em francês anunciando o espetáculo. Segundo anotações do fotógrafo, cineasta, diretor e pesquisador paraibano Walfredo Rodriguez (1893 – 1973), que estava presente ao acontecimento, em seu Roteiro Sentimental de uma Cidade:

“O autor destas desativadas evocações, recorda-se, ainda, envoltas em névoas das imagens remotas, das fitas ali exibidas, numa Festa das Neves de 1897 – “Chegada de um trem a Gare de Lion”, Um macaco pulando um arco” e “Crianças jogando bolas de neve em Biarritz”.

Parece que Nicola Parente conhecia os irmãos Louis e Auguste Lumière, franceses responsáveis pelo invento do cinematógrafo, cuja primeira exibição pública aconteceu em Paris, em 28 de dezembro de 1895. Em 1896, Parente viajou para a Europa e de lá trouxe a novidade. Segundo o bisneto de Nicola, o jornalista Pedro Parente, seu bisavô teria ido aFrança, em 1900, quando teria sido convidado pelos irmãos Lumière para a Exposição Universal de Paris.

 

 

Nicola itinerou com o cinematógrafo por diversos estados do Nordeste, como Bahia, Ceará, Pará e Rio Grande do Norte; e pelo interior de São Paulo. O organizador do livro A crítica de cinema em Belém, Pedro Veriano, aventa a possibilidade de Nicola ter sido o responsável  pelas primeiras filmagens no Pará, “mas não deixou provas concretas do trabalho” .

 

Em 1899,  transferiu-se para Abaeté, atual Abaetetuba, no Pará, onde criou o estabelecimento comercial Casa Italiana, da firma Nicola Parente & Filhos. Também colaborou com o Jornal da Mata.

Em 19 de maio de 1911, faleceu, vítima da explosão de um novo aparelho gerador de gás oxigênio que pretendia inventar em seu laboratório em Abaeté. De acordo com a notícia veiculada pelo Estado do Pará, era sócio de seu filho Garibaldi na firma comercial Parente & Cia.  Seu outro filho, Galileu, era jornalista, poeta e fotógrafo. Como já mencionado, tinha também duas filhas, Margarida e Carmelita. Foi identificado como muito estimado, honesto e caridoso (Estado do Pará, 29 de maio de 1911, última coluna).

 

Acesse aqui a Cronologia de Nicola Maria Parente (1847 – 1911) 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

ALIPRANDI, E.; MARTINI, V. (orgs.). Gli italiani nel nord del Brasile. Rassegna delle vite e delle opere della stirpe italica negli stati del nord brasiliano. Belém: Tip. da Livraria Gilet, 1932.

BARRO, Máximo. Participação italiana no cinema brasileiro. São Paulo : SESI-SP Editora.

Fotografia Paraibana Revista, 2012, pág 73

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

GOLZIO, Derval Gomes. Utilização Político-Ideológica da Fotografia: estudo das imagens publicadas no jornal A União durante a disputa política no Estado da Paraíba-1930. Dissertação de Mestrado em Multimedios, Unicamp, 1997.

Italianos detrás das câmeras: trajetórias e olhares marcantes no florescer da fotografia no Brasil / Organizado por Joaquim Marçal, Livia Raponi, traduzido por Livia Raponi, Vittorio Cappelli. – São Paulo : Editora Unesp, 2022.

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002.

LAPA, José Roberto do Amaral. A cidade: os cantos e os antros : Campinas, 1850-1900. São Paulo : Editora da Universidade de São Paulo, 1996.

LEAL, Wills. O Discurso Cinematográfico dos Paraibanos: a história do cinema na/da Paraíba. João Pessoa: Ed. A União, 1989.

LEITE, Ary Bezerra. Cidade de Fortaleza: 1897-1945: do Cinematógrafo aos Anos de Guerra.

LEITE, Ari Bezerra. História da fotografia no Ceará do século XIX. Edição do autor, 2019.

LEITE, Ary Bezerra. Memória do cinema: os ambulantes do Brasil (Cinema itinerante no Brasil: 1895 – 1914). Fortaleza : Premius, 2011.

PETIT, Pere. Filmes, Cinemas e Documentários no fim da Belle Époque no Pará (1911-1914). Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São Paulo, julho 2011,

VERIANO, Pedro (coord.). A crítica de cinema em Belém. Belém: Secult/PA, 1983.

SANTOS, Alex. Cinema e Revisionismo. João Pessoa, SEC/PB, 1982.

Site Cápsula do Tempo

Site Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro

Site Crônicas Taipuenses

Site Fatos e Fotos de Natal Antiga

Site Fortaleza Nobre

Site Italian Genealogy

Site Paraíba Criativa

Site Pró-Memória de Campinas – SP

Cronologia de Nicola Maria Parente (1847 – 1911)

Cronologia de Nicola Maria Parente (1847 – 1911) 

 

 

1847 –  Nicola Maria Parente nasceu em Marsico Nuovo, província de Potenza, na região de Basilicata, em 13 de março, filho de Giovannantonio Parente e Maria Carmela Perci  (Site Cápsula do Tempo).

1865 – Provável ano de sua chegada ao Brasil com, segundo relatos de parentes, seu irmão Carmino, seus primos João, Georgina e Luigi; e com sua esposa Carolina Rotunda e seus filhos Galileu e Margarida. Durante a viagem, Carolina teve um filho, Garibaldi, e teria falecido logo depois do parto.

No Porto de Santos, Nicola teria conhecido  a italiana Giusephina Calliari, que viajava com dois filhos, Marcella e Giulio. Casaram-se e, posteriormente, tiveram uma filha, Carmelita. Quanto à nacionalidade dos filhos há uma divergência ainda não resolvida pela pesquisa da vida de Nicola: no anúncio de sua morte é dito que todos nasceram no Brasil. Há informações de que teria se estabelecido em Taquari, no Rio Grande do Sul, com sua família.

1871 – Chegou no Rio de Janeiro, no vapor italiano Expresso, que veio da Europa. Do Rio de Janeiro, seguiu para a Bahia no paquete Cruzeiro do Sul (Diário do Rio de Janeiro, 26 de março de 1871, quarta colunaDiário do Rio de Janeiro, 15 de abril de 1871, primeira coluna).

1886 - Já possuia a Photographia Vesúvio, na rua d´Areia, 73, em João Pessoa, na capital da Paraíba.

1888 – Atuava como dentista em João Pessoa. Viajou para Pedras de Fogo, também na Paraíba; e para Goiana, em Pernambuco, mas retornaria à capital da Paraíba (Gazeta da Parahyba. 12 de outubro de 1888, última coluna).

 

 

1889 – Foi anunciado que ele iria para o sul do país. Na ocasião atuava na arte dentária e na fotografia (Gazeta da Parahyba, 12 de dezembro de 1889, última coluna).

 

 

1895 - Na cidade de Goiana, em Pernambuco, fundou a Photograhia Ítalo-Brasileira, na rua Conde d´Eu, onde oferecia seus serviços como fotógrafo e também como protético.

1896 – Já de volta à Paraíba, agradeceu às pessoas que estiveram presentes ao enterro de Francisco Jorge da S. Parente e convidou para a missa de sétimo dia (A União (PB), 19 de setembro de 1896, terceira coluna).

Agradeceu às pessoas que estiveram presentes ao enterro de Anna Isabel do Sacramento e convidou para a missa de sétimo dia (A União (PB), 27 de setembro de 1896, segunda coluna).

Em novembro, estava no Recife, da onde seguiu para a Paraíba, no vapor Maranhão (Jornal de Recife, 4 de novembro de 1896, terceira coluna).

Viajou à Europa e, na França, adquiriu o cinematógrafo, inventado pelos irmãos Lumière, cuja primeira exibição pública aconteceu em Paris, em 28 de dezembro de 1895.

1897 – Foi o responsável pela apresentação ao paraibanos do cinematógrafo durante a Festa das Neves, que homenageia a padroeira da cidade, Nossa Senhora das Neves (A União (PB), 5 de agosto de 1897, penúltima coluna; e 8 de agosto de 1897, última colunaA Notícia, 9 de agosto de 1897, segunda colunaA República (CE), 20 de setembro de 1897, terceira coluna).

Em frente à Photographia Vesúvio, na rua Nova, nº 2, foi colocado um grande cartaz com frases em francês anunciando o espetáculo. Segundo anotações do fotógrafo, cineasta, diretor e pesquisador paraibano Walfredo Rodriguez (1893 – 1973), em seu Roteiro Sentimental de uma Cidade, que estava presente ao acontecimento:

“O autor destas desativadas evocações, recorda-se, ainda, envoltas em névoas das imagens remotas, das fitas ali exibidas, numa Festa das Neves de 1897 – “Chegada de um Trem a Gare de Lion”, Um macaco pulando um arco” e “Crianças jogando bolas de neve em Biarritz”.

 

 

 

Esteve em Belém, apresentando o cinematógrafo.

Em novembro, apresentou o invento em Fortaleza, no Ceará (A República, 20 de novembro de 1897, quarta coluna).

 

 

1898 – A Photographia Vesúvio foi anunciada pelo filho de Nicola, Garibaldi (A União (PB), 15 de junho de 1898).

 

 

O consultório dentário de Nocola ficava na rua General Osório, 2 (antiga rua Nova), mesmo local da Photographia Vesúvio, em João Pessoa.

 

 

Em abril, Nicola esteve em Natal, onde apresentou o cinematógrafo na rua do Comércio (A República, 19 de abril de 1898):

“Sábado à noite o Sr. Nicolau Parente fez uma excelente exibição do cinematógrafo – mais uma das grandes aplicações da eletricidade, devida ao grande gênio de Edison. O trabalho agradou bastante e é uma das melhores diversões que temos gozado nesta capital”.

Entre julho e outubro, Nicola esteve na Bahia apresentando o cinematógrafo, na rua Carlos Gomes, nº 26 (Jornal de Notícias (BA), 8 de julho de 1898, terceira coluna).

 

 

Em novembro, esteve em Bragança (SP) com o cinematógrafo.

1899 – Em Campinas, exibição regular de sessões de cinema organizadas por Nicola no Cine Teatro Rink.

 

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Propaganda veiculada em 6 de dezembro de 1899 / A cidade: os cantos e os antros : Campinas, 1850-1900, página 31.

 

Transferiu-se para Abaeté, atual Abaetetuba, no Pará, onde criou o estabelecimento comercial Casa Italiana, da firma Nicola Parente & Filhos. Também colaborou com o Jornal da Mata.

1900 – Esteve apresentando o cinematógrafo em Manaus e também em Belém.

Segundo seu bisneto, o jornalista Pedro Parente, viajou para a Europa como convidado especial dos irmãos Lumière para a Exposição Universal de Paris.

1911 – Em 19 de maio, faleceu, vítima da explosão de um novo aparelho gerador de gás oxigênio que pretendia inventar em seu laboratório em Abaeté. De acordo com a notícia veiculada pelo Estado do Pará, era sócio de seu filho Garibaldi na firma comercial Parente & Cia.  Seu outro filho, Galileu, era jornalista, poeta e fotógrafo. Como já mencionado, tinha também duas filhas, Margarida e Carmelita. Foi identificado como muito estimado, honesto e caridoso (Estado do Pará, 29 de maio de 1911, última coluna).

 

 

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica