Série “O Rio de Janeiro desaparecido” XXV – O Theatro Phenix

Com imagens produzidas por um fotógrafo ainda não identificado e por N. Viggiani, a Brasiliana Fotográfica conta um pouco da história do Theatro Phenix, tema do 25º artigo da série O Rio de Janeiro desaparecido. O escritório Januzzi e Irmão foi responsável pelo projeto aprovado, em 14 de novembro de 1906, do Palace Hotel, que já foi tema de um artigo do portal; e do Theatro Phenix – ambos empreendimentos da família Guinle. Mais uma vez convidamos nossos leitores a explorar as fotografias com a ferramenta zoom e, a partir daí, fazer um passeio pela cidade nas primeiras décadas do século XX, observando mais de perto a paisagem urbana carioca e seus personagens.

 

 

No Álbum da Avenida Central, lançado, em 1907, pelo fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), havia desenhos das fachadas do Palace Hotel, que ficava na Avenida Central, e do Teatro Phenix, contiguo ao hotel, na Rua Barão de São Gonçalo, posteriormente rebatizada como Avenida Almirante Barroso. Nenhum dos dois estava construído quando o álbum foi produzido, portanto, logicamente, não puderam ser fotografados. Esse álbum é um importante registro da reforma da principal via da então capital federal, onde ele contrapôs reproduções das plantas às fotografias das fachadas de cada edifício documentado. Esse tipo de fotografia foi fundamental para a construção e para a difusão de uma nova imagem do Rio de Janeiro, uma imagem associada aos ideais de civilização e progresso.

 

Um pouco da história do Theatro Phenix

 

 

O nome do Theatro Phenix foi uma homenagem ao Theatro Phenix Dramática, que existia nos jardins do Hotel Brissac. Eduardo Balassin Guinle (1846 – 1912), patriarca de sua abastada e influente família, foi obrigado a construí-lo. A Prefeitura do Rio de Janeiro, sob a gestão de Francisco Pereira Passos (1836 – 1913)  desapropriou, demoliu e reurbanizou a área onde ficava o Phenix Dramática, localizado na Rua da Ajuda, nº 57, no processo da construção da Avenida Central, em 1904. Ele havia sido inaugurado, em 1863, com o nome de El Dorado. Foi renomeado Phenix Dramática, em 1868. Bem, o terreno foi adquirido pelo empresário Eduardo Guinle e, segundo a lei, seria obrigatória a construção de um novo teatro no lugar do demolido. Num gesto de afirmação cultural, ele ofereceu ao Rio de Janeiro uma sala de espetáculos imponente com capacidade para 1200 espectadores, cuja natureza e dimensões só eram comparáveis aos teatros Municipal e de São Pedro. Seu projeto seguia o modelo clássico dos teatros italianos com a platéia rodeada por camarotes (Última Hora, 28 de fevereiro de 1955, primeira coluna).

Segundo Augusto Mauricio:

“…e essa casa de espetáculos, que é uma das que melhor possui o Rio de Janeiro quer como platéia, camarotes, mobiliário confortável com cadeiras estofadas, sala suntuosa, e corredores amplos, revestido todo de mármore trabalhado de diversas cores, colunas de diferentes ordens, grandes espelhos e ainda instalações internas para os artistas, que contam com camarotes magníficos – custou ao proprietário àquele recuado tempo, pouco mais de dois mil contos de réis”.

O novo Teatro Phenix,  cuja construção terminou em 1908, 1912 ou 1913 –  as fontes variam -, ficava na Rua Barão de São Gonçalo, logo transformada em Avenida Almirante Barroso, em um terreno contíguo ao Palace Hotel. Sua fachada foi inspirada na Ópera Garnier, em Paris.

Desde o início foi arrendado a terceiros – o primeiro foi Angelo Balloni, principal sócio da H. Balloni e Cia, que concedeu uma entrevista ao jornal Imparcial de 26 de fevereiro de 1914, data da inauguração do teatro. Na reportagem, é ressaltado o aspecto mais inclusivo do teatro, comparando-o ao Theatro Municipal: “No Phenix achar-se-á bem instalada tanto a sociedade chic como a classe operária. É que seu ambiente é artístico sem ser solene. Nele há um único atrativo, a simplicidade artística, cuja ação se estende por todas as pessoas, sejam elas quais forem, Isso, aliás, é pouco comum em nosso meio. Haja vista, por exemplo, o Municipal” (O Imparcial, 26 de fevereiro de 1914, antepenúltima coluna).

 

 

Anunciado como a mais ampla e luxuosa sala de espetáculos da América do Sul, antes de sua inauguração oficial, lá foram realizados bailes de carnaval nos dias 21, 22, 23 e 24 de fevereiro de 1914 (Correio da Manhã, 23 de fevereiro de 1914, primeira colunaO Paiz, 19 de fevereiro de 1914, sexta colunaO Paiz, 23 de fevereiro de 1914, primeira colunaO Paiz, 9 de março de 1914).

 

 

 

 

 

Foi reaberto como teatro, arrendado a Luiz Alonso, em novembro de 1915, com a peça Champignol à força, um vaudeville em três atos dos dramaturgos franceses Georges Feydeau (1862 – 1921) e Maurice Desvallières (1857 – 1926), encenada pela Companhia Leopoldo Froes e estrelada pela atriz Lucilia Peres (1881 – 1962) (O Paiz, 3 de novembro de 1915).

 

 

Funcionou também como teatro, cinema, cassino e dancing, quando o arrendatário era, desde 1916, Djalma Moreira.  Em 1921, a Casa dos Artistas protestou contra a transformação do Theatro Phenix em tavolagem. Provavelmente, Djalma arrendou o teatro até 1923 (Correio da Manhã, 27 de outubro de 1916, penúltima colunaO Jornal, 4 de abril de 1920Revista da Semana, 31 de dezembro de 1921, primeira colunaO Jornal, 4 de abril de 1922, terceira colunaA Noite, 15 de fevereiro de 1923, primeira coluna; Crítica, 2 de dezembro de 1928, segunda coluna).

 

 

 

Voltou a ser um teatro, arrendado pelo calabrês Jácomo Rosário Staffa (c. 1867 – 1927), e foi reinaugurado em 30 de abril de 1926 com a revista Excelsior, do pernambucano Manuel Bastos Tigre (1882 – 1957). Uma curiosidade: Bastos Tigre era cunhado do fotógrafo Louis Piereck (1880 – 1931) e foi o responsável pelo slogan da Bayer que se tornou famoso em todo o mundo: “Se é Bayer é bom“. É também o autor da letra da música Chopp em Garrafa, com música de Ary Barroso (1903 – 1964), que foi interpretada por Orlando Silva (1915 – 1978). Foi inspirada no produto que a Brahma passou a engarrafar. Sucesso do carnaval de 1934, é considerado o primeiro jingle  publicitário do Brasil. Foi também o autor do livro Meu Bebê: livro das mamães para anotações sobre o bebê desde seu nascimento. O Dia do Bibliotecário, 12 de março, dia de seu nascimento, foi instituído, em 1980, em sua homenagem. (Correio da Manhã, 12 de julho de 1925, quinta coluna; Correio da Manhã, 10 de fevereiro de 1926, quinta colunaCorreio da Manhã, 16 de abril de 1926, antepenúltima colunaCorreio da Manhã, 30 de abril de 1926).

 

 

Voltando ao Phenix. Lembramos aqui que Staffa era o proprietário do Grande Cinematographo Pariziense, o segundo cinema do Rio de Janeiro, inaugurado em 9 de agosto de 1907. O primeiro foi o Chic, inaugurado em 1º de agosto do mesmo ano. O terceiro foi o cinema Pathé, do fotógrafo Marc Ferrez e Arnaldo Gomes de Souza. A firma de Arnaldo e Ferrez chamava-se Arnaldo & Cia, omitindo a participação de Ferrez, porque Charles Pathé (1863 – 1957), um dos proprietários da Pathé Frères, proibia que seus distribuidores e representantes possuíssem cinematógrafos e Ferrez era um de seus representantes. Staffa denunciou o fato em 1908. Foi também o proprietário do Palace Hotel de Caxambu (Correio da Manhã, 8 de maio de 1926, segunda coluna).

 

 

O Phenix foi palco de muitas peças e bailados, esses últimos criações da coreógrafa e bailarina russa Maria Oleneva (1896 – 1985) que, posteriomente, foi uma das fundadoras da Escola de Dança do Teatro Municipal.

Em seu prédio foi sediado, na década de 1920, o Partido Democrático (Correio da Manhã, 24 de julho de 1927, quarta colunaCrítica, 7 de dezembro de 1928, última coluna).

Em 1929, passou a exibir quadros de Nu Artístico e era proibida a entrada de menores e de senhoritas (Crítica18 de abril23 de abril18 de maio de 1929).

 

 

Em 31 de maio, estreia do vaudeville musicado A Ilha dos Prazeres, uma peça do gênero livre com quadros de nu artístico, tendo como estrela a atriz  Theda Diamant (Crítica, 31 de maio de 1929, segunda coluna).

 

 

Em junho, Carlos Machado (1908 – 1992), que ficou conhecido como o Rei da Noite, foi anunciado diretor artístico do Phenix (Crítica, 21 de junho de 1929, terceira coluna). Ainda em 1929, foi o palco da temporada das Operetas Vienenses e voltou a exibir filmes(Crítica, 21 de julho de 1929Crítica, 12 de setembro de 1929, terceira coluna).

Ficou fechado por um breve período, tendo sido reaberto, após uma reforma, em janeiro de 1930, como Cine Theatro Phenix , sob a direção da Empresa S. Kauffman apresentando espetáculos puramente familiares (Crítica, 26 de dezembro de 1929). Passou a ter “uma orquestra de 30 professores que darão vida e palavras às cintas mudas por intermédio da linguagem universal – a Música”. Lembramos aqui que o cinema sonoro estava ocupando o lugar dos filmes silenciosos (Correio da Manhã, 27 de dezembro de 1929, terceira colunaO Paiz, 29 de dezembro de 1929, quinta colunaJornal do Brasil, 9 de janeiro de 1930 e O Imparcial (MA), 17 de janeiro de 1930, quarta coluna).

 

 

 

Entre as décadas de 1930 e 1940, voltou a funcionar ora como teatro ora como cinema. Abrigou também conferências, bailes de carnaval e recitais de música. Pelo teor dos filmes lá exibidos, “verdadeiros atentados à moral e ao decoro públicos”, foi censurado (A Batalha, 17 de março 1931, terceira coluna).

 

 

Em 1937, arrendado por Vital Ramos de Castro (1879 – 1958), cineasta e empresário do ramo cinematográfico, o Phenix foi inaugurado como Ópera, uma nova casa de diversões. Ainda em 1937 passou a chamar-se Cine Theatro Ópera (Correio da Manhã, 15 de junho de 1937, penúltima coluna; Beira- Mar, 14 de agosto de 1937Diário Carioca, 19 de setembro de 1937, antepenúltima coluna; penúltima colunaA Nação, 9 de outubro de 1937, segunda colunaCorreio da Manhã, 27 de março de 1938). Não seria a primeira vez que os caminhos de Vital e Staffa se encontravam: em 1927, o Cine Parisiense, que era, como já mencionado, de Staffa, foi comprado por ele.

 

 

Vital foi o proprietário do Circuito independente Vital Ramos de Castro,  que chegou a ter vinte salas de cinema no Rio de Janeiro, entre eles o Cine Plaza, na Cinelândia, o Cinema Olinda, na Praça Sans Penha, que foi a maior sala de cinema que já existiu no Rio de Janeiro; o Cinema Colonial, futura Sala de Teatro Cecília Meirelles e o Cine Ritz, em Copacabana.

 

 

Em 1944, com o apoio do então prefeito do Rio de Janeiro, Henrique Dodsworth (1895 – 1975), voltou a ser teatro e foi reaberto com a encenação pela companhia de Bibi Ferreira (1922 – 2019) da peça Sétimo Céu, do dramaturgo norte-americano Austin Stroug (1881 – 1952) (Gazeta da Manhã, 15 de abril de 1943, quarta colunaJornal do Commercio, 20 de maio de 1944, terceira colunaGazeta da Manhã, 15 de julho de 1944, penúltima coluna; Jornal do Commercio, 17 e 18 de julho de 1944, quarta colunaJornal do Commercio, 20 de de julho de 1944). Nele se apresentaram, dentre outros, o Teatro do Estudante, de Paschoal Carlos Magno (1906 – 1980); Sandro Apolônio (1921 – 1995), Maria Della Costa (1926 – 2015) e Henriette Morineau (1908 – 1990).

Em 1948, Vital Ramos de Castro entrou com uma ação de despejo contra o grupo teatral de Sandro Apolônio que se apresentava no Phenix com a peça Estrada do Tabaco (A Scena Muda, 15 de junho de 1948, página 3 e página 24A Scena Muda, 8 de março de 1949).

 

 

Foi fechado, em 1951, e totalmente demolido entre 1957 e 1958. Assim se encerrava um capítulo da história do teatro no Rio de Janeiro (Jornal, 2 de dezembro de 1950, segunda colunaJornal do Commercio, 15 e 16 de janeiro de 1951, penúltima colunaJornal, 2 de dezembro de 1950, segunda coluna; Correio da Manhã, 6 de dezembro de 1957, quarta colunaJornal do Commercio, 27 de dezembro de 1957, sétima colunaCorreio da Manhã, 8 de julho de 1958, última coluna).

 

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

BULCÃO, Clóvis. Os Guinle: a história de uma dinastia. Rio de Janeiro : Intrínseca, 2015.

BATISTA, Antonio José de Sena. Arquitetos sem halo: a ação dos escritórios M.M.M.Roberto e Henrique Mindlin Arquitetos Associados. Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em História Social da Cultura, do Departamento de História da PUC-Rio, como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em História, março de 2013.

CATTAN, Roberto Correia de Mello. A Família Guinle e a Arquitetura do Rio de Janeiro Um capítulo do ecletismo carioca nas duas primeiras décadas do novecentos. Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em História do Departamento de História da PUC-Rio, novembro de 2013.

CAVALCANTI, Lauro, org., Quando o Brasil Era Moderno Artes plásticas no Rio de Janeiro 1905-1960, Rio de Janeiro : Aeroplano Editora, 2001.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

MARCHESAN, Luiz Gonzaga. Antonio Cândido na revista Texto.

MORAES, Frederico. Cronologia das Artes Plásticas no Brasil 1816-1994. Rio de Janeiro : Topbooks, 2001.

Site Clube Naval

Site Estilos Arquitetônicos

Site Inepac

Veja Rio

Youtube – O LUXUOSO PALACE HOTEL DOS PRESIDENTES E ARTISTAS MODERNISTAS

 

Links para os outros artigos da Série O Rio de Janeiro desaparecido

 

Série O Rio de Janeiro desaparecido I Salas de cinema do Rio de Janeiro do início do século XXde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 26 de fevereiro de 2016.

Série O Rio de Janeiro desaparecido II – A Exposição Nacional de 1908 na Coleção Família Passos, de autoria de Carla Costa, historiadora do Museu da República, publicado na Brasiliana Fotográfica, em 5 de abril de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido III – O Palácio Monroe, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica, em 9 de novembro de 2016.

Série O Rio de Janeiro desaparecido IV - A via elevada da Perimetral, de autoria da historiadora Beatriz Kushnir, publicado na Brasiliana Fotográfica em 23 de junho de 2017.

Série O Rio de Janeiro desaparecido V – O quiosque Chopp Berrante no Passeio Público, Ferrez, Malta e Charles Dunlopde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portalpublicado na Brasiliana Fotográfica em 20 de julho de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VI – O primeiro Palácio da Prefeitura Municipal do Rio de Janeirode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de setembro de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VII – O Morro de Santo Antônio na Casa de Oswaldo Cruzde autoria de historiador Ricardo Augusto dos Santos da Casa de Oswaldo Cruzpublicado na Brasiliana Fotográfica em 5 de fevereiro de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VIII – A demolição do Morro do Castelode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portalpublicado na Brasiliana Fotográfica em 30 de abril de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido IX – Estrada de Ferro Central do Brasil: estação e trilhosde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de novembro de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido X – No Dia dos Namorados, um pouco da história do Pavilhão Mourisco em Botafogode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de junho de 2020.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XI – A Estrada de Ferro do Corcovado e o mirante Chapéu de Sol, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 22 de julho de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XII – o Teatro Lírico (Theatro Lyrico), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 15 de setembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIII – O Convento da Ajuda, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de outubro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIV – O Conselho Municipal, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 19 de novembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XV – A Praia de Santa Luzia no primeiro dia do verão, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 21 de dezembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVI – O prédio da Academia Imperial de Belas Artes, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, publicado na Brasiliana Fotográfica em 13 de janeiro de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVII – Igreja São Pedro dos Clérigos, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 18 de março de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVIII – A Praça Onze, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 20 de abril de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIX – A Igrejinha de Copacabana, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 23 de junho de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XX – O Pavilhão dos Estados, futuro prédio do Ministério da Agricultura, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 26 de julho de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXI – O Chafariz do Largo da Carioca, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 19 de setembro de 2022. 

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXII – A Cadeia Velha que deu lugar ao Palácio Tiradentes, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 11 de abril de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXIII e Avenidas e ruas do Brasil XVII - A Praia e a Rua do Russel, na Glória, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 15 de maio de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXIV – O luxuoso Palace Hotel, na Avenida Rio Branco, uma referência da vanguarda artística no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 4 de julho de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXVI – Conclusão do arrasamento do Morro do Castelo por Augusto Malta, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 14 de dezembro de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXVII e Série Os arquitetos do Rio de Janeiro V – O Jockey Club e o Derby Club, na Avenida Rio Branco e o arquiteto Heitor de Mello (1875 – 1920), de autoria de Andrea c. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, em 15 de janeiro de 2024

 

Outros artigos publicados na Brasiliana Fotográfica sobre teatros e cinemas

 

Série O Rio de Janeiro desaparecido I Salas de cinema do Rio de Janeiro do início do século XXpublicado em 26 de fevereiro de 2016.

Os teatros do Brasil, publicado em 21 de março de 2016

A inauguração do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, publicado em 14 de julho de 2017

Cinema no Brasil – a primeira sessão e um pouco da história do Cinema Odeon, publicado em 8 de julho de 2021

Série “O Rio de Janeiro desaparecido” XII – O Teatro Lírico (Theatro Lyrico), publicado em 16 de setembro de 2021

O Theatro de Santa Isabel, publicado em 28 de outubro de 2021

O Teatro Amazonas (Theatro Amazonas), em Manaus, a “Paris dos Trópicos”, publicado em 28 de dezembro de 2021

O Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro, no Dia Mundial do Teatro, publicado em 27 de março de 2023

Dia do Cinema Brasileiro, publicado em 19 de junho de 2023

O Theatro da Paz, em Belém do Pará, inaugurado em 15 de fevereiro de 1878, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado em 15 de fevereiro de 2024

Série “O Rio de Janeiro desaparecido” XXIV – O luxuoso Palace Hotel, na Avenida Rio Branco, uma referência da vanguarda artística no Rio de Janeiro

Com imagens produzidas por Antônio Caetano da Costa Ribeiro (18? – 19?), Augusto Malta (1864 – 1957), Guilherme Santos (1871 – 1966) e por um fotógrafo ainda não identificado, a Brasiliana Fotográfica conta um pouco da história do luxuoso Palace Hotel, tema do 24º artigo da Série O Rio de Janeiro desaparecido. Diversas exposições de fotografia e de pintura foram realizadas no Palace, tornando-o um pólo da vanguarda artística do Brasil, tema da poesia Rondó do Palace Hotel, de Manoel Bandeira.  O escritório Januzzi e Irmão foi responsável por seu projeto e também pelo do Teatro Phenix – aprovado em 14 de novembro de 1906 -, dois empreendimentos da família Guinle. O Teatro Phenix, contiguo ao Palace, será tema de um futuro artigo do portal.

 

 

Convidamos nossos leitores a explorar as fotografias com a ferramenta zoom e, a partir daí, fazer um passeio pelo Rio de Janeiro nas primeiras décadas do século XX, observando mais de perto a paisagem urbana carioca e seus personagens.

Acessando o link para as fotografias do Palace Hotel, na avenida Rio Branco, disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Um pouco da história do Palace Hotel

 

 

Localizado na Avenida Central , número 185, esquina com a rua Almirante Barroso, o Palace Hotel ficava na espinha dorsal do mundo das compras e do lazer dos elegantes, dos negócios e da cultura da então capital federal. Ficava no ponto mais nobre da avenida, onde também estavam situados os prédios do Jockey Club, projeto do arquiteto Heitor de Mello (1875 – 1920), inaugurado em 1913 e demolido na década de 1970; e do Clube Naval, projetado pelo italiano Tommaso Bezzi (1844 – 1915), executado por Heitor de Mello, inaugurado em 1910, e tombado em 1987 pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural.

A linha central da avenida havia sido inaugurada pelo presidente Rodrigues Alves (1848 – 1919), em 7 de setembro de 1904 (O Paiz, 8 de setembro de 1904, na sexta coluna, sob o título “Avenida Central” e Gazeta de Notícias, de 8 de setembro de 1904, na última coluna). No ano seguinte, 1905, sob um temporal, a avenida foi aberta oficialmente, em 15 de novembro (O Paiz, 16 de novembro de 1905, na quinta coluna, sob o título “15 de Novembro”).

 

 

A abertura da avenida foi uma das principais marcas da reforma urbana realizada por Francisco Pereira Passos (1836 – 1913), o bota-abaixo, entre 1902 e 1906, período em que foi prefeito do Rio de Janeiro. Essas transformações foram definidas por Alberto Figueiredo Pimentel (1869-1914), autor da seção “Binóculo”, da Gazeta de Notícias, com a máxima “O Rio civiliza-se”, que se tornou o slogan da reforma urbana carioca, que tornou o Rio uma cidade cosmopolita, moderna. A Avenida Central inaugurou um novo eixo da cidade em direção ao mar, a orla foi embelezada com a Avenida Beira-Mar, aberta em 1906, e a cidade, antes portuária, incorporou à sua vida urbana as praias de CopacabanaIpanema e Leblon.

 

 

O nome da Avenida Central foi mudado, por decreto, em 15 de fevereiro de 1912, para Avenida Rio Branco, uma homenagem ao diplomata e ministro das Relações Exteriores do Brasil, o barão de Rio Branco ( 1845 – 1912), que havia falecido cinco dias antes (O Paiz, 16 de fevereiro de 1912, sob o título “Barão do Rio Branco”).

No Álbum da Avenida Central, lançado em 1907 pelo fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), havia desenhos das fachadas do Palace, que ficava na avenida, e do Teatro Phenix, contiguo ao hotel, na Almirante Barroso, ainda Barão de São Gonçalo. Tanto o hotel como o teatro chamavam-se Avenida e fazian m parte do prédio 1885-187-189-191. Nenhum dos dois estava construído quando o álbum foi produzido, portanto não puderam ser fotografados. Quando foram construídos passaram a chamar-se Palace Hotel e Theatro Phenix. Esse álbum é um importante registro da reforma da principal via da então capital federal, onde ele contrapôs reproduções das plantas às fotografias das fachadas de cada edifício documentado. Esse tipo de fotografia foi fundamental para a construção e para a difusão de uma nova imagem do Rio de Janeiro, uma imagem associada aos ideais de civilização e progresso.

 

 

 

O Palace Hotel pertencia a Eduardo Palassin Guinle (1846 – 1912), patriarca de sua influente e abastada família. As obras do hotel foram concluídas em torno de 1915 e ele foi inaugurado, em julho de 1919. Foi o ponto de encontro da elite carioca, de celebridades nacionais e internacionais, além de ter sido o palco de diversos e importantes eventos culturais e mundanos. Na época, o Rio de Janeiro era tanto pólo de atração como modelo para as capitais estaduais.

 

 

Foi o primeiro empreendimento da família Guinle gerenciado pelo empresário Octávio Guinle (1886 – 1968), filho de Eduardo. O negócio contava com a sociedade do barão de Saavedra (1890 – 1956) e de Francisco Castro e Silva (18? – 19? que juntos comandavam a Companhia Hotéis Palace, fundada em 1919, mesmo ano da inauguração do Palace. Marcou o início de uma nova fase da indústria hoteleira no Rio de Janeiro. Eles também construíram o Copacabana Palace Hotel, quintessência do glamour carioca, inaugurado em 13 de agosto de 1923.

 

 

Pouco depois da inauguração do Palace Hotel foi realizado um grande banquete em um dos seus salões para autoridades que estavam no Rio de Janeiro para a posse do presidente Epitácio Pessoa (1865 – 1942) (O Paiz11 de julho de 1919, primeira coluna20 de julho de 1919, segunda colunaCorreio da Manhã, 30 de julho de 1919, antepenúltima coluna). Antes de se instalarem no Palácio do Catete, muitos  presidentes da República eleitos se hospedavam lá até o dia da posse. Washington Luis (1896 – 1957) esteve, em 1926, no quarto 309, e para o mesmo quarto voltou depois de seu exílio, 15 anos depois.

O Palace possuía 8 andares, servidos por seis elevadores, com 250 quartos de dormir. Sua imagem está mais próxima dos modelos dos palácios urbanos italianos, do barroco ou mesmo de exemplos maneiristas, inspirados na matriz renascentista de Florença. Sofreu uma intervenção do arquiteto francês Joseph Gire (1872 – 1933), provavelmente durante a década de 20. Gire foi o responsável pelos projetos dos hoteis Gloria (1922) Copacabana Palace (1923), dentre vários outros emprendimentos no Rio de Janeiro.

 

 

“Todos os quartos tem água quente e fria e o estylo do mobiliário é de muito bom gosto. A Empresa fez ligar para todos os quartos 10 linhas principaes de telephones. A sala de jantar, situada no sétimo andar, esta ricamente decorada, podendo conter 500 pessoas. As suas grandes janellas de sacada conduzem a grandes terraços com vista para a cidade e Bahia, tocando durante todas as refeições uma orchestra de primeira classe. O estabelecimento é dirigido segundo systema europeu, e tem serviço de cozinha irreprehnsível. O hotel tem ainda espaçosos salões de leitura, de visitas, recepção, baile, sala de concertos, bibliotheca, barbeiro, etc., etc. Na cave do edifício há grande stocks dos melhores vinhos. A Companhia emprega 230 pessoas. Todo o pessoal em contacto com os hospedes falla portuguez, inglez, francez, italiano, espanhol e allemão. Para o serviço de cosinha emprega 60 cosinheiros. A direção do hotel está entregue ao Snr. Jean Paul, da Dinamarca, tendo este senhor uma larga experiência nos hotéis das principaes cidades de Europa e dos Estados Unidos da América do Norte”.

Enciclopédia Comercial, Globe Encyclopedia Company, 1924, London.

 

Segundo o diplomata Maurício Nabuco (1891 – 1979) em seu livro Reflexões e reminiscências, o Palace Hotel teria sido a primeira grande hospedaria do Brasil e se tornado o centro de jovens casais. Em seu bar teria nascido o hábito de se tomar um aperitivo elegante à hora do jantar.  Ainda sobre o bar: sua entrada independente teria atraido, segundo Lucia Meira Lima, as mais formosas “francesas” que aqui aportaram e despertavam paixões entre a jeunesse dorée e os balzaqueanos das décadas de 1920 e 1930. Outros ambientes requintados do hotel eram o Salão Nobre, o Salão de Leitura e o Jardim de Inverno, que antecedia o salão que mais tarde abrigaria as exposições promovidas pela Associação dos Artistas Brasileiros (AAB), localizado ao fundo.

Várias homenagens, chás dançantes, recitais, almoços e jantares, bailes de carnaval eram realizados em seus salões. Foi no Palace Hotel que a poetisa gaúcha Iveta Ribeiro  (1886 – 1962) apresentou a revista Brasil Feminino, que dirigia (Revista da Semana, 6 de fevereiro de 1932).

 

 

 

 

 

 

Funcionou até 15 de setembro de 1950, quando o gerente sr. Rubens Bokel de Freitas mandou que fosse cerrada em definitivo a porta principal daquele estabelecimento, conforme informado no artigo O fim de uma época, de João Martins, publicado na revista O Cruzeiro, 7 de outubro de 1950. Teve seus bens leiloados. Foi demolido entre 1950 e 1951 (O Jornal, 17 de setembro de 1950, primeira coluna; Jornal do Brasil, 24 de setembro de 1950Jornal do Brasil, 5 de novembro de 1950, penúltima colunaJornal do Brasil, 20 de janeiro de 1951).

 

 

Em seu lugar foi erguido o Edifício Condomínio Marquês do Herval, projeto do escritório MMM Roberto, dos irmãos arquitetos Maurício, Marcelo e Milton; e uma das principais construções de arquitetura modernista do Rio de Janeiro. Foi inaugurado, em 1956,  com 36 andares, 35 mil metros quadrados de área construída e 600 unidades, incluindo as lojas e sobrelojas.

 

Edifício Marquês do Herval

Edifício Marquês do Herval

 

 

O Palace Hotel como referência de vanguarda artística

 

Foi uma referência da vanguarda artística desde os primeiros anos da década de 1920. Diversas exposições de pintura e fotografia aconteceram em seus salões.

 

Algumas exposições de fotografia realizadas no Palace Hotel

 

Algumas importantes exposições de fotografia aconteceram no Palace Hotel, dentre elas, o Salão do Branco e Preto, e uma de águas- fortes photographicas de Fernando Guerra Duval (18? – 1959), em outubro de 1932 (Revista da Semana, 8 de outubro de 1932O Malho, 15 de outubro de 1932).

 

 

 

Em outubro de 1933, realizou-se outra exposição de Fernando Guerra Duval (18? – 1959), um dos fundadores, em 1923, do Photo Club Brasileiro, uma associação de fotógrafos, no Rio de Janeiro, formada pelos associados do Photo Club do Rio de Janeiro, fundado em 1910, que se juntaram a fotógrafos de arte para debater as relações entre fotografia e arte. O Photo Club Brasileiro promovia cursos, concursos, exposições e excursões. Publicou as revistas Photo Revista do Brasil (1925 – 1926) e Photogramma (1926 – 1931). Também organizava salões anuais, o primeiro deles inaugurado em 4 de julho de 1924, no Liceu de Artes e Ofícios (Artigo de Fernando Guerra Duval, na Gazeta de Notícias, 9 de julho de 1924), além de divulgar novas técnicas e estéticas, mantendo correspondência com sociedades internacionais de fotografia. Até o fim da década de 1940, foi uma instituição fundamental na difusão da ideia da fotografia como arte. Uma matéria da revista Para Todos, de 17 de setembro de 1927, sobre a quarta exposição anual do Photo Club, ilustrava essa função primordial da associação. Alguns de seus membros de destaque foram Alberto Friedmann, Barroso Neto, Herminia Borges, João Nogueira Borges, Oscar de Teffé e Silvio Bevilacqua. Foi um reduto do pictorialismo.

 

 

Fernando, símbolo de elegância e frequentador dos mais requintados e intelectualizados salões cariocas desde as primeiras décadas do século XX, foi também poeta, ator e barítono. Foi casado com Stella de Carvalho Guerra Duval (1879 – 1971), fundadora da Pró-Matre e também da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, ao lado de Bertha Lutz  (1894 – 1976) e Jerônima Mesquita (1880 – 1972), dentre outras. Em 1939, era o presidente da Associação dos Artistas Brasileiros, cuja sede era o Palace Hotel. Em 1942, era seu coordenador-geral. Faleceu em novembro de 1959 (A Rua, 25 de outubro de 1916, última coluna; Vida Doméstica, junho de 1927O Paiz, 22 e 23 de setembro de 1930, penúltima colunaRevista da Semana, 7 de outubro de 1933; O Imparcial, 31 de julho de 1935, terceira colunaFon Fon, 2 de dezembro de 1939; O Malho, novembro de 1942; Correio da Manhã, 5 de dezembro de 1959, penúltima coluna).

 

 

Em 1935, foi realizada a Exposição Fotográfica do Touring Club do Brasil (Revista da Semana, 14 de dezembro de 1935).

 

 

Em 1937, realizou-se o Salão Pinturial Fotográfico (Revista da Semana, 30 de outubro 1937).

 

 

Em 1938, foram as seguintes as exposições de fotografia no Palace:

 

 

Em outubro de 1939, realização de mais um Salão em Preto e Branco.

 

 

No mês seguinte, no dia 4, foi inaugurada a exposição fotográfica de Jorge de Castro (? – 19?) intitulada Clichês, no Palace Hotel.  Foram exibidas imagens de paisagens rurais, de árvores, de habitações, de recantos poéticos do Rio de Janeiro, além de retratos de pessoas anônimas e também de registros do maestro Villa-Lobos, dos poetas Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Murilo Nery e Oswald de Andrade;, dos escritores Anibal Machado, Jorge Amado e José Lins do Rego; da pintora Adagisa Nery, do ministro Gustavo Capanema, dentre outros (Correio da Manhã, 4 de novembro de 1939, primeira coluna; Revista da Semana, 18 de novembro de 1939).

 

 

“Fundamentalmente realista, amando as visões da vida, ele as interpreta, porém, captando o momento e o ângulo rico ou compondo o ambiente em que a realidade capitula diante da luz e se converte numa expressão sugestiva e bela”.

Mário de Andrade sobre Jorge de Castro na crônica O homem que se achou,

1940

 

Algumas exposições de pinturas realizadas no Palace Hotel

 

 

… como a de artistas da Escola de Paris, trazida ao Brasil, em 1930 por Vicente do Rego Monteiro e Géo-Charle; a exposição de Arquitetura Tropical, em 1933; o Salão dos Novos, em 1926; o Salão de Maio, em 1936; Além das primeiras individuais de Cícero Dias, em 1928; Ismael Nery, Portinari e Tarcila do Amaral, em 1929; Bruno Lechovski, em 1931; e outras de Scliar, Segall, Armando Viana, Waldemar da Costa, Kaminagai, Nivouliés de Pierrefort, Manuel Constantino, Colette Pujol, Dimitri Ismailovitch etc. Na década de 50, o Palace Hotel seguia realizando exposições, porém menos significativas e provavelmente sem o aval da Associação dos Artistas Brasileiros.

Cronologia das Artes Plásticas no Brasil 1816-1994

 

 

De Ismael Nery, Exposição Foujita no Palace Hotel - 1931

De Ismael Nery, Exposição Foujita no Palace Hotel – 1931

 

O primeiro registro de uma exposição realizada no Palace é de 1923 quando Sylvia Meyer (1889 – 1955) mostrou, em um de seus salões, retratos em pastel que foram muito bem recebidos pela crítica e pelo público. Foi sua primeira exposição individual. Voltou a expor no Palace Hotel, em 1932, e a poetisa e feminista Anna Amélia Carneiro de Mendonça (1896 – 1971), uma das organizadoras do I Salão de Arte Feminina, em 1931, escreveu uma crítica muito favorável à artista (Diário de Notícias, 9 de outubro de 1932, primeira coluna).

 

 

A partir de 1929, o Palace Hotel sediou muitas exposições sob o patrocínio da Associação dos Artistas Brasileiros (AAB), fundada por iniciativa dos artistas plásticos e irmãos Armando e Mário Navarro Costa, e pelo jornalista, escritor, dramaturgo, professor, historiador e crítico de arte Celso Kelly (1906 – 1979). A Associação dos Artistas Brasileiros surgiu a partir do convívio de artistas plásticos dos mais variados ramos durante o 1º Salão dos Artistas Brasileiros, sediado no salão nobre da Biblioteca Nacional, em 1928. Sua sede, após passar pelo Liceu e Artes e Ofícios e pelo Teatro Cassino, passou a ser, em fins de 1929, o Palace Hotel, onde promoveu exposições antológicas.

Além das já citadas exposições, o Palace Hotel também recebeu, em 1927, uma exposição conjunta de Oswaldo Goeldi (1895 – 1961) com o príncipe russo Paulo Gagarin (1885 – 1980); de Tarsila do Amaral (1886 – 1973), em 1929; de Gilberto Trompovski (1908 – 1982), em 1930; de Levino Fânzeres (1884 – 1956), em 1931; de Haydéa (1896 – 1980) e Manoel Santiago (1897 – 1987) e de Eugenio Latour (1874 – 1942), em 1932; de Hernani do Irajá (1895 – 1969), de Georgina de Albuquerque (1895 – 1962), de Olga Mary (1891 – 1963) e Raul Pedrosa (1892 – 1962), de Oswaldo Teixeira (1905 – 1974) e do francês Marcel Féguide (1888 – 1968), em 1933; do retratista português Henrique Medina (1901 – 1988), do polonês Konstanty Brandel (1880 – 1970), do italiano José Boscagly (1862 – 1945), em 1935; de alunos de Cândido Portinari (1903 – 1962), em 1936; de Alberto da Veiga Guignard (1896 – 1962), de Sarah Villela de Figueiredo (1903 – 1958), em 1938; dentre inúmeras outras.

 

 

A já mencionada exposição organizada por Vicente do Rego Monteiro (1899 – 1970), foi a primeira mostra de arte moderna europeia na América do Sul e congregou obras de artistas do calibre de Fernand Léger (1881 – 1955), Georges Braque (1882 – 1963), Pablo Picasso (1881 – 1973) e Raoul Dufy (1877 – 1953).

 

 

 

 

Foi também no Palace Hotel que o mundialmente famoso arquiteto norte-americano Frank Lloyd Wright (1867 – 1959) proferiu sua  última palestra da temporada que passou no Rio de Janeiro, entre 2 e 24 de outubro de 1931.

Segundo Adriana Marta Irigoyen de Toucedo:

arquiteto

 

O Palace Hotel foi personagem de uma das poesias do grande Manuel Bandeira (1886 – 1968) que revelou, em uma entrevista ao cronista Paulo Mendes Campos (1922 – 1991), publicada na Revista Província de São Pedro, em 1949, que ela referia-se à Lembrança de uma farra de Carnaval com Cícero Dias no saguão do Palace HotelRondó do Palace Hotel foi publicada no livro Estrela da Manhã (1936).

 

 

 

Rondó do Palace Hotel

por Manuel Bandeira

No hall do Palace o pintor
Cícero Dias entre o Pão
De Açúcar e um caixão de enterro
(É um rei andrógino que enterram?)
Toca um jazz de pandeiro com a mão que o Blaise Cendrars perdeu na guerra.

Deus do céu, que alucinação!
Há uma criatura tão bonita
Que até os olhos parecem nus:
Nossa Senhora da Prostituição!
-“Garçom, cinco martínis!” Os
Adolescentes cheiram éter
No hall do Palace.

Aqui ninguém dá atenção aos préstitos
(Passa um clangor de clubes lá fora):
Aqui dança-se, canta-se, fala-se
E bebe-se incessantemente
Para esquecer a dor daquilo
Por alguém que não está presente
No hall do Palace.

 

 

 

Andrea C.T. Wanderley

Editora e Pesquisadora da Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

 

BULCÃO, Clóvis. Os Guinle: a história de uma dinastia. Rio de Janeiro : Intrínseca, 2015.

BATISTA, Antonio José de Sena. Arquitetos sem halo: a ação dos escritórios M.M.M.Roberto e Henrique Mindlin Arquitetos Associados. Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em História Social da Cultura, do Departamento de História da PUC-Rio, como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em História, março de 2013.

CATTAN, Roberto Correia de Mello. A Família Guinle e a Arquitetura do Rio de Janeiro Um capítulo do ecletismo carioca nas duas primeiras décadas do novecentos. Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em História do Departamento de História da PUC-Rio, novembro de 2013.

CAVALCANTI, Lauro, org., Quando o Brasil Era Moderno Artes plásticas no Rio de Janeiro 1905-1960, Rio de Janeiro : Aeroplano Editora, 2001.

COSTA, Helouise. Pictorialismo e Imprensa: O Caso da Revista O Cruzeiro (1928-1932). In: FABRIS, Annateresa (org.). Fotografia:  Usos e Funções no Século XIX. 2 ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2008. (Texto & Arte, 3).

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

MARCHESAN, Luiz Gonzaga. Antonio Cândido na revista Texto.

MENDES, Ricardo org. Pensamento crítico em fotografia – Antologia Brasil – 1890 – 1930. FUNARTE, 2013.

MORAES, Frederico. Cronologia das Artes Plásticas no Brasil 1816-1994. Rio de Janeiro : Topbooks, 2001.

Site Clube Naval

Site Estilos Arquitetônicos

Site Inepac

SOARES, Débora Poncio. ENTRE APAGAMENTOS E LEMBRANÇAS: A artista Sylvia Meyer (1889 – 1955). Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de bacharel em História da Arte, 2021.

TOUCEDO, Adriana Marta Irigoyen de. Frank Lloyd Wright e o Brasil.  Dissertação de Mestrado – Escola de Engenharia de São Carlos – Universidade de São Paulo, 2000.

XAVIER, Roger Ferreira. Os comediantes: da gênese à formulação do teatro do futuro (1938-1942). Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do Título de Mestre em Artes Cênicas. Linha de Pesquisa: História e Historiografia do Teatro e das Artes

Youtube – O LUXUOSO PALACE HOTEL DOS PRESIDENTES E ARTISTAS MODERNISTAS

 

Links para os outros artigos da Série O Rio de Janeiro desaparecido

 

Série O Rio de Janeiro desaparecido I Salas de cinema do Rio de Janeiro do início do século XXde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 26 de fevereiro de 2016.

Série O Rio de Janeiro desaparecido II – A Exposição Nacional de 1908 na Coleção Família Passos, de autoria de Carla Costa, historiadora do Museu da República, publicado na Brasiliana Fotográfica, em 5 de abril de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido III – O Palácio Monroe, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica, em 9 de novembro de 2016.

Série O Rio de Janeiro desaparecido IV - A via elevada da Perimetral, de autoria da historiadora Beatriz Kushnir, publicado na Brasiliana Fotográfica em 23 de junho de 2017.

Série O Rio de Janeiro desaparecido V – O quiosque Chopp Berrante no Passeio Público, Ferrez, Malta e Charles Dunlopde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portalpublicado na Brasiliana Fotográfica em 20 de julho de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VI – O primeiro Palácio da Prefeitura Municipal do Rio de Janeirode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de setembro de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VII – O Morro de Santo Antônio na Casa de Oswaldo Cruzde autoria de historiador Ricardo Augusto dos Santos da Casa de Oswaldo Cruzpublicado na Brasiliana Fotográfica em 5 de fevereiro de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VIII – A demolição do Morro do Castelode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portalpublicado na Brasiliana Fotográfica em 30 de abril de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido IX – Estrada de Ferro Central do Brasil: estação e trilhosde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de novembro de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido X – No Dia dos Namorados, um pouco da história do Pavilhão Mourisco em Botafogode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de junho de 2020.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XI – A Estrada de Ferro do Corcovado e o mirante Chapéu de Sol, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 22 de julho de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XII – o Teatro Lírico (Theatro Lyrico), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 15 de setembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIII – O Convento da Ajuda, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de outubro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIV – O Conselho Municipal, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 19 de novembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XV – A Praia de Santa Luzia no primeiro dia do verão, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 21 de dezembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVI – O prédio da Academia Imperial de Belas Artes, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, publicado na Brasiliana Fotográfica em 13 de janeiro de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVII – Igreja São Pedro dos Clérigos, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 18 de março de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVIII – A Praça Onze, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 20 de abril de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIX – A Igrejinha de Copacabana, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 23 de junho de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XX – O Pavilhão dos Estados, futuro prédio do Ministério da Agricultura, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 26 de julho de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXI – O Chafariz do Largo da Carioca, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 19 de setembro de 2022. 

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXII – A Cadeia Velha que deu lugar ao Palácio Tiradentes, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 11 de abril de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXIII e Avenidas e ruas do Brasil XVII - A Praia e a Rua do Russel, na Glória, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 15 de maio de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXVI – Conclusão do arrasamento do Morro do Castelo por Augusto Malta, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 14 de dezembro de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXVII e Série Os arquitetos do Rio de Janeiro V – O Jockey Club e o Derby Club, na Avenida Rio Branco e o arquiteto Heitor de Mello (1875 – 1920), de autoria de Andrea c. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, em 15 de janeiro de 2024

 

Outros artigos publicados na Brasiliana Fotográfica sobre hotéis

 

Hotéis do século XIX e do início do século XX no Brasil, publicado em 5 de novembro de 2015 , de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica.

O Hotel Glória – antes e depois, publicado em 21 de dezembro de 2017, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica.

Copacabana Palace, símbolo do glamour carioca, publicado em 13 de agosto de 2020, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica.

O Hotel Pharoux por Revert Henrique Klumb, publicado em 15 de junho de 2022, publicado em 13 de agosto de 2023, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica.

O centenário do Copacabana Palace, quintessência do “glamour” carioca, e seu criador, o arquiteto francês Joseph Gire, publicado em 13 de agosto de 2023, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica.

Série “O Rio de Janeiro desaparecido” XXII – A Cadeia Velha, que deu lugar ao Palácio Tiradentes

Em seu 22º artigo da Série O Rio de Janeiro desaparecido, a Brasiliana Fotográfica lembra a história da Cadeia Velha, demolida em 1922, que deu lugar ao Palácio Tiradentes, inaugurado, em 1926, com imagens de autoria de Augusto Malta (1864 – 1957), fotógrafo oficial da Prefeitura do Rio de Janeiro, entre 1903 e 1936; estereoscopias de Guilherme Santos (1871 – 1966) e registros realizados por  fotógrafos ainda não identificados.

 

 

Acessando o link para as fotografias da Cadeia Velha e do Palácio Tiradentes disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

O Palácio Tiradentes foi construído no local onde existia a Casa de Câmara e Cadeia, prédio erguido em torno de 1640, quando os membros do Senado e da Câmara do Rio de Janeiro solicitaram a construção de um edifício para abrigar os trabalhos do legislativo. No século XVII, usualmente, nas cidades coloniais da América portuguesa nesses mesmos prédios ficavam as prisões. Só em 1747 foi inaugurado o edifício colonial da Câmara e da Cadeia Velha. Em 1808, com a chegada de d. João VI (1767 – 1826) ao Brasil, o local serviu de moradia para os empregados da corte.

 

 

Abrigou a Assembleia Nacional Constituinte que tinha como missão elaborar a Constituição do Brasil recém liberto de Portugal, mas foi dissolvida pelo Exército por ordem de dom Pedro ( (1798 – 1834), que não aprovou o texto original do documento. Foi sede da Câmara dos Deputados, entre 1826 e 1914.

 

 

cadeia velha1

Edifícios da Cadeia Velha, Palácio Monroe e Biblioteca Nacional, de Ramiro Berbert de Castro

 

Em 1914, o prédio da Cadeia Velha se encontrava em péssimas condições e a Câmara foi transferida para o Palácio Monroe, no fim da rua do Passeio, na avenida Central, atual Rio Branco, ponto mais nobre da capital do Brasil, na Cinelândia.

 

 

Entre 1914 e sua demolição, a Cadeia Velha serviu como depósito. Em 25 de dezembro de 1921, foi aprovado um projeto dos arquitetos cearense Archimedes Memória (1893 – 1960) e do franco-suíço Francisque Couchet (18? – 19?) para a construção do Palácio Tiradentes, no local onde existia a Cadeia Velha (Architectura no Brasil, janeiro de 1922). Os arquitetos trabalhavam no Escritório Técnico Heitor de Mello (1875 – 1920), que havia falecido, em 1920. Memória e Couchet foram sócios até 1929. Segundo a revista Architectura no Brasil, de janeiro de 1922o estilo do palácio é Luiz XVI, moderno.

 

 

Archimedes e Couchet foram também responsáveis pelos projetos do Palácio das Festas e do Palácio das Grandes Indústrias, na Exposição Internacional do Centenário da Independência (1922), um dos maiores eventos internacionais já realizados no Brasil, inaugurada no Rio de Janeiro em 7 de setembro de 1922 e encerrada em 24 de julho do ano seguinte; além dos edifícios do Palácio Pedro Ernesto (1923), cujo projeto foi desenvolvido por eles, já que seu autor, Heitor Mello (1875 – 1920), faleceu em 1920; do Hotel Balneário da Urca (1925), futuro Cassino da Urca e sede da TV Tupi carioca; do Jockey Club Brasileiro, na Gávea (1926), e do Botafogo Futebol e Regatas (1928).

 

 

Augusto Malta, Sentados, da esquerda para a direita: Nestor de Figueiredo, Adollpho Morales de los Rios (pai) e Francisco Cuchet. Em pé, na mesma ordem: Arquimedes Memoria, Adolpho Morales de los /rios (filho), Celestino Severo de Juan e Edgar Vianna, de 7 de setembro de 1922. Rio de Janeiro, RJ / Rio antigo, por Charles Dunlop.

Augusto Malta. Sentados, da esquerda para a direita: Nestor de Figueiredo, Adolpho Morales de los Rios (pai) e Francisque Cuchet. Em pé, na mesma ordem: Archimedes Memoria, Adolpho Morales de los Rios (filho), Celestino Severo de Juan e Edgar Viana, 7 de setembro de 1922. Rio de Janeiro, RJ / Rio Antigo, por Charles Dunlop.

 

O prédio da Cadeia Velha foi demolido em 1922, quando foi lançada, com a presença do presidente da República, Epitácio Pessoa (1865 – 1942), a pedra fundamental do prédio da nova sede do Legislativo (O Combate, 19 de junho de 1922Fon-Fon, 24 de junho de 1922).

 

 

 

 

 

 

Em estilo eclético, inspirado no Grand Palais de Paris, o Palácio Tiradentes foi inaugurado em 6 de maio de 1926, no dia em que se completava Um século de vida legislativa no Brasil. Seu nome homenageia Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes (1746 – 1792), um dos líderes da Inconfidência Mineira, que passou cinco dias na Cadeia Velha, da onde foi levado à forca, em 21 de abril de 1792.

Por ordem do então presidente da Câmara, Arnolfo de Azevedo (1868 – 1942), o Palácio Tiradentes foi construído com muita economia, tendo custado 15 contos de réis, metade do custo do Palácio Pedro Ernesto, inaugurado em 1923. Toda sua estrutura é de concreto e tijolo; as estátuas são de massa. Ricos cafeicultores e o estado de São Paulo foram responsáveis pela doação de vários móveis para a nova Câmara Federal, abrigada no Palácio Tiradentes. A Câmara Federal ali funcionou de 1926 até 1960 (Correio de Manhã, 7 de maio de 1926O Paiz6 de maio e 7 de maio de 1926; Architectura no Brasil, junho/julho de 1926).

 

 

O presidente dos Estados Unidos, Herbert Hoover (1874 – 1964), fez uma visita ao Palácio Tiradentes, em 22 de dezembro de 1928 (Fon-Fon, 29 de dezembro de 1928).

 

 

Abaixo, um imagem de autoria do fotógrafo amador Guilherme Santos (1871 – 1966) no dia da Constituinte de 1934, em 16 de julho de 1934, com a cavalaria e civis diante do Palácio Tiradentes.

 

 

O Parlamento foi fechado pelo presidente Getulio Vargas (1882 – 1954) no período do Estado Novo, de 1937 a 1945, e no Palácio Tiradentes passou a funcionar o Ministério da Justiça e o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), órgão de censura do regime. Com a saída de Vargas, em 1945, o Palácio Tiradentes novamente abrigou uma Assembleia Constituinte.

Quando Brasília tornou-se a capital do Brasil, em 1960, o Palácio Tiradentes passou a abrigar a Assembleia Legislativa do Estado da Guanabara (ALEG) que, com a fusão dos estados da Guanabara e do Rio de Janeiro, efetivada em 1975, passou a se chamar Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ).

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

CASTRO, Ramiro Berbert de. Edifícios da Cadeia Velha, Palácio Monroe e Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro : Empresa Brasil Editora, 1926.

Diário do Rio

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

O GLOBO, 10 de novembro de 2011

Site Academia Ipuense de Letras, Ciências e Artes

Site Alerj

Site Rio Memórias

 

Links para os outros artigos da Série O Rio de Janeiro desaparecido

 

Série O Rio de Janeiro desaparecido I Salas de cinema do Rio de Janeiro do início do século XXde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 26 de fevereiro de 2016.

Série O Rio de Janeiro desaparecido II – A Exposição Nacional de 1908 na Coleção Família Passos, de autoria de Carla Costa, historiadora do Museu da República, publicado na Brasiliana Fotográfica, em 5 de abril de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido III – O Palácio Monroe, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica, em 9 de novembro de 2016.

Série O Rio de Janeiro desaparecido IV - A via elevada da Perimetral, de autoria da historiadora Beatriz Kushnir, publicado na Brasiliana Fotográfica em 23 de junho de 2017.

Série O Rio de Janeiro desaparecido V – O quiosque Chopp Berrante no Passeio Público, Ferrez, Malta e Charles Dunlopde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portalpublicado na Brasiliana Fotográfica em 20 de julho de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VI – O primeiro Palácio da Prefeitura Municipal do Rio de Janeirode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de setembro de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VII – O Morro de Santo Antônio na Casa de Oswaldo Cruzde autoria de historiador Ricardo Augusto dos Santos da Casa de Oswaldo Cruzpublicado na Brasiliana Fotográfica em 5 de fevereiro de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VIII – A demolição do Morro do Castelode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portalpublicado na Brasiliana Fotográfica em 30 de abril de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido IX – Estrada de Ferro Central do Brasil: estação e trilhosde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de novembro de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido X – No Dia dos Namorados, um pouco da história do Pavilhão Mourisco em Botafogode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de junho de 2020.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XI – A Estrada de Ferro do Corcovado e o mirante Chapéu de Sol, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 22 de julho de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XII – o Teatro Lírico (Theatro Lyrico), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 15 de setembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIII – O Convento da Ajuda, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de outubro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIV – O Conselho Municipal, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 19 de novembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XV – A Praia de Santa Luzia no primeiro dia do verão, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 21 de dezembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVI – O prédio da Academia Imperial de Belas Artes, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, publicado na Brasiliana Fotográfica em 13 de janeiro de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVII – Igreja São Pedro dos Clérigos, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 18 de março de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVIII – A Praça Onze, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 20 de abril de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIX – A Igrejinha de Copacabana, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 23 de junho de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XX – O Pavilhão dos Estados, futuro prédio do Ministério da Agricultura, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 26 de julho de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXI – O Chafariz do Largo da Carioca, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 19 de setembro de 2022. 

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXIII e Avenidas e ruas do Brasil XVII - A Praia e a Rua do Russel, na Glória, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 15 de maio de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXIV – O luxuoso Palace Hotel, na Avenida Rio Branco, uma referência da vanguarda artística no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 4 de julho de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXV – O Theatro Phenix, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 5 de setembro de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXVI – Conclusão do arrasamento do Morro do Castelo por Augusto Malta, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 14 de dezembro de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXVII e Série Os arquitetos do Rio de Janeiro V – O Jockey Club e o Derby Club, na Avenida Rio Branco e o arquiteto Heitor de Mello (1875 – 1920), de autoria de Andrea c. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, em 15 de janeiro de 2024

 

O Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro, no Dia Mundial do Teatro

No Dia Mundial do Teatro, a Brasiliana Fotográfica traz para seus leitores registros da mais antiga casa de espetáculos do Rio de Janeiro, o Teatro João Caetano, na Praça Tiradentes, antigo Largo do Rocio, onde floresceu uma dramaturgia genuinamente brasileira, liderada pelo ator João Caetano (1808 – 1863), que dá nome ao teatro desde 1923. As imagens foram produzidas, já no século XX, por Augusto Malta (1864 – 1957), pelo fotógrafo amador Guilherme Santos (1871 – 1966) e por fotógrafos ainda não identificados. Não confundir nem com o Teatro João Caetano, construído na ocasião da Exposição Nacional de 1908, nem com o Teatro João Caetano de Niterói.

Vários ícones da cultura brasileira já se apresentaram no palco do João Caetano, dentre eles, Chiquinha Gonzaga (1847-1935), Dercy Gonçalves (1907 – 2008), Dulcina de Moraes (1908 – 1996), Fernanda Montenegro (1929-), Fernanda Torres (1965-), Gal Costa (1945-), Grande Otelo (1915 – 1993), Maria Bethânia (1946-), Marco Nanini (1948-), Marilia Pera (1943- 2015), Paulo Autran (1922 – 2007), Paulo Gracindo (1911 – 1995) e Procópio Ferreira (1898 – 1979). Em seu palco também foram realizados shows históricos do Projeto Seis e Meia, idealizado por Albino Pinheiro (1934 – 1999), em 1976, além das séries de grandes musicais como Rua Azusa e Sassaricando.

As fotos realizadas por Guilherme Santos são estereoscopias. Ele era um entusiasta desta técnica fotográfica, tornando-se um de seus pioneiros no Brasil, ao adquirir, em 1905, na França, o Verascope, um sistema de integração entre câmera e visor, que permitia ver imagens em 3D, produzidas a partir de duas fotos quase iguais, porém tiradas de ângulos um pouco diferentes. Eram impressas em uma placa de vidro e reproduziam a sensação de profundidade de maneira bem próxima da visão real. Antes dele, entre os anos de 1855 e 1862, o “Photographo da Casa Imperial”, Revert Henrique Klumb (1826 – c. 1886), favorito da imperatriz Teresa Christina e professor de fotografia da princesa Isabel, havia realizado vários registros utilizando a técnica da estereoscopia. A Casa Leuzinger também produziu fotografias estereoscópicas.

 

 

Acessando o link para as fotografias do Teatro João Caetano disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a ela. 

 

O alagoano Augusto Malta (1864 – 1937) foi contratado, em 1903, pela Prefeitura do Rio de Janeiro como fotógrafo oficial, cargo criado para ele. Passou a documentar a radical mudança urbanística promovida pelo então prefeito da cidade, Francisco Pereira Passos (1836-1913), período que ficou conhecido como o “bota-abaixo”. Trabalhou na Prefeitura até 1936, quando se aposentou. Foi o mais importante cronista fotográfico do Rio de Janeiro das primeiras décadas do século XX, autor de um importante legado iconográfico.

 

 

O Dia Mundial do Teatro foi  instituido, em 1961, pelo Instituto Internacional do Teatro, organização não-governamental fundada pela UNESCO e por profissionais da dança e do teatro, em 1948.

 

teatro

 

Um pouco da história do Teatro João Caetano

 

O  Teatro João Caetano foi inaugurado, em 12 outubro de 1813, por dom João VI, com o nome de Real Theatro de São João, com a peça lírica O Juramento dos Nunes, de autoria do escritor e dramaturgo português dom Gastão Fausto da Câmara Coutinho (1772 – 1852), com música do também português Bernardo José de Souza e Queiroz (1865 – 1837), compositor oficial do teatro (O Patriota, outubro de 1813Gazeta do Rio de Janeiro, 18 de janeiro de 1814). Suas bases foram alicerçadas com pedras destinadas à construção da catedral do Rio de Janeiro. Para os supersticiosos, isso foi a causa dos diversos incêndios ocorridos ao longo da existência do teatro.

 

 

A construção do teatro foi determinada por um decreto, de 28 de maio de 1810, assinado por dom João VI (1767 – 1826):

“Fazendo-se absolutamente necessario nesta Capital que se erija um Theatro decente, e proporcionado á população, e ao maior gráo de elevação e grandeza em que hoje se acha pela minha residencia nella, e pela concurrencia de estrangeiros, e de outras pessoas que vêm das extensas Provincias de todos os meus Estados: fui servido encarregar ao doutro Pau’o Fernandes Vianna, do Meu Conselho e Intendente Geral da Polícia, do cuidado e diligencia de promover todos os meios para elle se erigir, e conservar sem dispendio das rendas publicas, e sem ser por meio de alguma nova contribuição que grave maios ou meus fieis vassallos, a quem antes desejo alliviar de todas ellas; e havendo-me propsoto o mesmo Intendente que grande parte dos Meus vassallos residentes nesta Còrte me haviam já feito conhecer que por ser esta obra do meu real agrado, e de notoria necessidade, se prestavam de boa vontade e dar-me mais uma prova de seu amor, e distincta fidelidade, concorrendo por meio de acções a fazer o fundo conveniente, principalmente si eu houvesse por bem de tomar o dito Theatro debaixo de minha protecção, e de permittir que com realação ao meu real nome se denominasse Real Theatro de S. João (…)”..

Foi edificado em um terreno adquirido por Fernando José de Almeida e o responsável pelo projeto, neoclássico, foi o engenheiro João Manuel da Silva. Sua fachada assemelhava-se a do Real Theatro de São Carlos, em Lisboa, de autoria de José da Costa e Silva (18? -1819), que teria vindo para o Rio de Janeiro, em 1812, e que, em agosto deste ano, havia sido empossado como Arquiteto Geral de todas as obras Reais no Brasil.

“O projeto arquitetônico com sua volumetria dominava a paisagem e enobrecendo o Largo do Rossio, obedecendo ao estilo da cena italiana, seguia hierarquicamente os espaços internos do edifício teatral, separando os limites entre o palco e a plateia, com sua forma aproximada de ferradura, apresentava a curvatura dos balcões em forma de “U” alongado, definindo os foyers, o proscênio e o fosso da orquestra. Seguindo o modelo de arquitetura teatral europeia, o teatro possuía um pórtico ao corpo frontal do edifício, para proteção dos espectadores que chegavam de carruagem. Um estilo de fachada próprio para um teatro de grande importância cultural e social…Havia um terraço, ou varanda na frente do edifício que serviu de palco para importantes pronunciamentos históricos.”.

José Dias em Teatros do Rio: do século XVIII ao século XX

 

Dom João VI era um assíduo frequentador do teatro assim como pessoas de destaque da sociedade carioca, o que tornou o Real Teatro de São João, além de centro da vida artística da capital, o ponto de encontro da vida política e social da cidade.

Cerca de um ano depois do casamento por procuração de dom Pedro I (1798 – 1834) com a arquiduquesa austríaca Leopoldina (1797 – 1926), realizado, em 13 de maio de 1817, o pintor francês Jean-Baptiste Debret (1768- 1848), um dos cenógrafos do Real Theatro de São João, criou um cenário povoado de figuras mitológicas e alegóricas, para um baile, que aconteceu no teatro, em 18 de maio de 1818. Posteriormente, foi o autor do pano de boca inaugurado nas festas de coroação de d. Pedro I, em 1822.

 

 

 

Debret chegou ao Brasil, em 1816, integrando um grupo de artistas que ficou conhecido como Missão Artística Francesa, do qual faziam parte o arquiteto francês Grandjean de Montigny (1776 – 1850), o gravador suíço Charles Simon Pradier (1786 – 1947), entre outros, incluindo artesãos e o músico austríaco Sigismund von Neukomm (1778 – 1858), chefiados pelo intelectual e administrador francês Joachim Lebreton (1760 – 1819), que havia sido administrador das obras de arte do Museu do Louvre, em Paris, e secretário perpétuo da classe de Belas Artes do Institut de France. Foi demitido de suas funções, em 1815, devido a seu apoio a Napoleão (1769 – 1821) e também por seu discurso proferido no Institut contra o desmembramento das coleções do Louvre. Veio para o Brasil como exilado (Gazeta do Rio de Janeiro, 6 de abril de 1816, segunda coluna; Correio Official, 29 de dezembro de 1834, terceira coluna).

Em 1821, foi feita uma reforma, o teatro foi pintado interna e externamente, forrados os camarotes, de cujos parapeitos pendiam sanefas de veludo e ouro, festões de flores, bandeiras e troféus; foi estendido um tablado que, encobrindo os camarotes da primeira ordem, corria até o soalho do proscênio. Do teto pendia grande quantidade de lustres de cristal, iluminados com velas de cera (José Dias, 2012).

Alguns momentos importantes da história do Brasil aconteceram no teatro: a leitura, pelo futuro imperador D. Pedro I, do decreto de 24 de fevereiro de 1821, pelo qual D. João VI aprovava a Constituição elaborada pelas Cortes de Lisboa. Em 5 de junho do mesmo ano, também no teatro, reuniu-se a assembleia perante a qual D. Pedro jurou as bases da futura Constituição de Portugal. Ao retornar de São Paulo, em 15 de setembro de 1822, D. Pedro surgiu num dos camarotes do São João mostrando, no braço, uma faixa verde e amarela, onde estava escrito “Independência ou Morte”, sendo ovacionado pelo público e pela multidão que irrompeu a sala (José Dias, 2012).

O Real Theatro de São João sofreu seu primeiro incêndio ao final da representação do drama sacro Vida de Santo Hermenegildo, em 25 de março de 1824, data em que se comemorava o juramento da Constituição do Império do Brasil. Aconteceu pouco depois que dom Pedro I havia deixado o recinto. O fogo se espalhou e o prédio ficou reduzido a quatro paredes (Diário do Rio de Janeiro, 24 de março de 1824, primeira colunaAbelha do Itacolomy, 13 de abril de 1824Diário do Rio de Janeiro, 20 de abril de 1824, primeira coluna).

 

 

Seu proprietário, Fernando José de Almeida, já mencionado, conseguiu um empréstimo no Banco do Brasil, estabeleceu acionistas de camarotes e obteve a concessão de loterias. Durante as obras de reconstrução, foi preparado em um salão da frente, junto à varanda, o Theatrinho Constitucional, inaugurado em 1º de dezembro de 1824, para festejar a coroação e sagração de D. Pedro I. Tinha um pequeno palco, 24 camarotes e uma plateia para 150 pessoas. Na estreia, apresentação do Hino, composto pelo Imperador e tocado pela orquestra; de um discurso recitado pela atriz Estela Joaquina de Moraes e da ópera de Rossini, O engano feliz.
O teatro foi reedificado e reinaugurado com o nome de Imperial Theatro de São Pedro de Alcântara, com a ópera Tancredo, de Giochanino Rossini (1792 – 1868), em 22 de janeiro de 1826, data de aniversário da imperatriz dona Leopoldina (1797 – 1826) (O Spectador Brasileiro, 23 de janeiro de 1826, segunda coluna). Foi em seguida fechado para a conclusão da reforma e reaberto em 4 abril do mesmo ano, aniversário da princesa dona Maria da Glória (1819 – 1853) (O Spectador Brasileiro, 12 de abril de 1826, primeira coluna).

“O Imperial Theatro de São Pedro de Alcântara conservou todas as características do projeto anterior (Real Theatro de São João, 1813).”  “O teatro possuía 100 camarotes, distribuídos em quatro ordens, com capacidade para umas 300 pessoas, separadas por um gradil dourado da platéia que acomodava aproximadamente 600 espectadores. Ao centro ficava o camarote imperial, ornado com o brasão do império, com lindos trabalhos de talha dourada e guarnecido de cortinas de seda azul, bordadas a ouro (essa decoração deve ter sido substituída por verde e ouro, cores a que se refere Carlos Seidler). A iluminação era feita por 220 velas de cera, resguardadas em mangas de vidro. A não ser no camarote imperial, onde havia um grande lustre e várias arandelas, do teto não pendia nenhum candelabro para não prejudicar a visão. O edifício era bastante arejado, atendendo aos rigores do clima. À entrada havia um buffet.”

Teatros do Centro Histórico do Rio de Janeiro

 

O teatro ficou temporariamente fechado em 1831 e José Fernando de Almeida, filho do antigo proprietário, arrendou o teatro ao Banco do Brasil. Reabriu, no mesmo ano, em 3 de maio, com o nome de Theatro Constitucional Fluminense com a apresentação da peça Tolita ou O Império das Leis (Jornal do Commercio, 3 de junho de 1831, primeira coluna). Após o distúrbio ocorrido no teatro, em 28 de setembro de 1831, iniciado por uma briga entre o tenente brasileiro Antônio Caetano e o oficial português Paiva, do Estado-Maior do Exército, que tomou proporções maiores, deixando dois feridos e três mortos, o teatro foi novamento fechado (Distúrbios no Theatro Constitucional FluminenseJornal do Commercio, 1º de outubro de 1931, segunda coluna).

 

 

Foi reaberto em 02 de dezembro de 1831, com a representação do drama O aldeão magistrado, encenado por uma companhia constituida pelo arrendatário do teatro. Em 3 de maio de 1832, foi encenado no teatro o drama A reconciliação das duas tribos pelo poder da inocência (Correio Mercantil, 2 de maio de 1832, segunda coluna). João Caetano dos Santos (1808 – 1863), o mais importante ator brasileiro do século XIX, fazia parte do elenco.

 

Para liquidação total da dívida, o Banco do Brasil, em 1838, levou o imóvel à praça, sendo arrematado por Manuel Maria Bregaro e Joaquim Valério Tavares que formaram uma sociedade por ações, composta por quarenta acionistas, um dos quais, o ator João Caetano dos Santos.

A representação da tragédia Antônio José ou o Poeta e a Inquisição, de Gonçalves de Magalhães (1811-1882) , em 13 de março de 1838, no Teatro Constitucional Fluminense, é considerada fundamental para a definição individual do teatro brasileiro. O drama foi apresentado pela companhia de João Caetano, composta exclusivamente de atores brasileiros (Jornal do Commercio, 6 de março de 1838, primeira coluna).

Em outubro de 1838,  foi novamente fechado, dessa vez para uma reforma, quando foi construído o segundo andar, o teto foi pintado pelo artista Olivier e, o pano de boca, pintado por Manuel Araújo Porto Alegre (1806-1879), discípulo do já mencionado Grandjean de Montigny. Em 7 de setembro de 1839, foi reaberto com seu antigo nome: Theatro de São Pedro de Alcântara. Em cena, João Caetano na peça Olgiato, de J. G. de Magalhães (Diário do Rio de Janeiro, 3 de setembro de 1839, primeira coluna).

João Caetano tornou-se seu principal acionista, tomando a si a empresa do Teatro Constitucional Fluminense, em 1843.

O segundo incêndio no teatro aconteceu em 9 de agosto de 1851, após de uma representação de O cativo de Fez, de João Antônio da Costa.

“Ardeu o arquivo das companhias líricas e dramáticas, avaliado em mais de 12.000$; vestimentas, cenário, instrumentos de música, tudo o fogo devorou. Salvaram-se somente os livros do escritório, uma mesa com algum dinheiro e os móveis da sala de entrada do camarote particular do Imperador”

Henrique Marinho em O teatro brasileiro…(1904)

 

João Caetano, então diretor e empresário do teatro, decidiu reconstrui-lo e o Theatro São Pedro de Alcântara foi reinaugurado, com a presença de dom Pedro II (1825 – 1891) e da imperatriz Teresa Cristina (1822 – 1889), em 18 de agosto de 1852, com o espetáculo O Livro Negro, protagonizado por João Caetano. Os arquitetos Olivier e Hosxe participaram da reconstrução e o cenógrafo Joaquim Lopes de Barros Cabral foi o responsável pela pintura (Diário do Rio de Janeiro, 20 de agosto, terceira coluna; 21 de agosto, primeira coluna; e 25 de agosto de 1852, penúltima coluna). 

 

 

Em 26 de janeiro de 1856, outro incêndio, ocorrido após a apresentação do drama de Mendes Leal, D. Maria de Alencastro, em benefício da atriz Isabel Maria Nunes, que reduziu a cinzas todo aquele edificio (Correio Mercantil, 27 de janeiro de 1856, última coluna). Cerca de um ano depois, em 3 de janeiro de 1857, foi, com a presença do imperador Pedro II (1825 – 1891), mais uma vez reinaugurado, com o drama Affonso Pietro, protagonizado por João Caetano, e o vaudeville Ketly ou A volta à Suiça. A reforma foi comandada pelo ator José Romualdo de Noronha, que idealizou um teatro com todas as características das salas de espetáculos da Europa. Entretanto, as condições técnicas ainda e a acústica eram insatisfatórias.

 

caetano1

 

“O teatro com efeito corresponde à expectação de todos. Ornado com simplicidade e elegância, todo branco com flores de ouro, forrados os seus camarotes de papel azul e branco fabricados no país, apresenta algumas inovações muito bem entendidas. O fundo dos camarotes tem a forma circular aconselhada pelas leis da acústica; a quarta ordem apresenta um avarandado de muito bom gosto, a abóbada do forro em vez de começar na linha em que terminam os camarotes, começa na linha em que estes principiam, e assim erguendo- -se o forro, dá a essa quarta ordem uma elevação que perfeitamente contrasta com o acachapado das nossas torrinhas. Reduzindo a menores proporções a tribuna imperial, o construtor do teatro ganhou espaço para mais dois camarotes em cada ordem, ao mesmo tempo que estabelecendo a orquestra no vão por baixo do arco do proscênio deu mais extensão ao espaço destinado às cadeiras”.

Jornal do Commercio, 5 de janeiro de 1857

 

Mesmo com o falecimento de João Caetano, em 24 de agosto de 1963, o teatro continuou  a ser o mais frequentado da Corte.

Na década de 1880, apresentaram-se em seu palco duas das maiores atrizes do século XIX: a italiana Eleonora Duse (1858 – 1924), em 1885; e a francesa Sarah Bernhartd (1844 – 1923), em 1886, quando sua atuação em Fedra, de Jean Racine (1639 – 1699) arrebatou a plateia (Jornal do Commercio, 29 de junho de 1885, última colunaA Semana, 17 de julho de 1885Diario do Brazil, 7 de agosto de 1885, primeira coluna; Gazeta de Notícias, 3 de junho de 1886, última coluna).

Em 1885 foi feita realizada outra reforma desta vez por iniciativa dos diretores do Banco Industrial e Mercantil, que eram, na ocasião, proprietários do teatro. O projeto arquitetônico foi de Pedro Leonardo Lamberti. As condições de visibilidade e acústica foram melhoradas e a instalação da iluminção a gás foi supervisionada pelo próprio imperador Pedro II. A pintura das paredes se assemelhava à mármore e as cadeiras ficaram mais espaçosas. O pano de boca foi pintado pelo cenógrafo Rossi, baseado em uma ideia de Ângelo Agostini (1843 – 1910). Em 1888, foi novamente reformado.

Com a Proclamação da República, o teatro foi atingido pela crise econômica que afetou atividades artísticas. Passou a abrigar companhias circenses e de variedades.

Em 3 de maio de 1891, foi inaugurada numa praça que existia defronte ao edifício da antiga Academia Imperial de Belas-Artes, hoje Museu de Belas-Artes, uma estátua em tamanho natural de João Caetano como o protagonista da peça Oscar, filho de Ossion, de Antoine-Vincent Arnault (1766 – 1834), de autoria do escultor carioca Francisco Manuel Chaves Pinheiro (1822 – 1884) e fundida em Roma.

 

 

Por escritura pública datada de 14 de junho de 1898, passada no Cartório do Tabelião Evaristo, o Banco do Brasil, mais uma vez, passou a ser o proprietário do imóvel, por permuta feita com o Conde de Santa Marinha, Comendador Antônio Teixeira Rodrigues, e sua esposa.

Em 1916, a estátua de João Caetano foi transladada do Campo de Santana – onde estava desde 1909 – para a Praça Tiradentes, diante do Teatro de São Pedro de Alcântara (O Paiz, 3 de setembro de 1909, primeira colunaO Paiz, 20 de agosto de 1916, última colunaO Paiz, 6 de outubro de 1916, segunda coluna).

 

 

O Teatro de São Pedro de Alcântara foi remodelado, em dezembro de 1916. Custou mais de 300 contos ao Banco do Brasil e foi executada pelo engenhero Silveira da Mota com a firma construtora Andrade Lima & Cia. Os encarregados pela iluminação e pelos aparelhos elétricos, foi a firma F. R. Moreira & Cia e a decoração e o pano de boca foram realizados pelos irmãos Timóteo.

Por escritura lavrada em Notas do 18º Ofício, Cartório do Tabelião Álvaro Borgert Teixeira, no Livro n. 23, folhas 2, em 22 de dezembro de 1920, o teatro tornou-se propriedade da Prefeitura do Distrito Federal.

Finalmente, a partir de 24 de agosto de 1923, pelo Decreto nº 1891 do prefeito Alaor Prata (1882 – 1964), o teatro passou a chamar-se Teatro João Caetano, em homenagem ao ator, considerado o pai do teatro brasileiro (O Paiz, 25 de agosto de 1923, quarta colunaRevista da Semana, 1º de setembro de 1923, primeira coluna).

Durante a gestão do prefeito Antônio da Silva Prado Junior (1880 – 1955), em 15 de junho de 1928, realizava-se o último espetáculo do antigo teatro pela companhia Margarida Max, com a revista Rio nu, de autoria de Moreira Sampaio. Foi demolido, reconstruído e o prédio atual foi inaugurado em 28 de junho de 1930, com a opereta Rose Marie, com música de Rudolf Friml (1879 – 1972) e Herbert Stothart (1885 – 1949), e livro e letra de Otto Harbach (1873 – 1963) e Oscar Hammerstein II (1895 – 1960), apresentado por uma companhia francesa do Morgadu, com Jane Marney como estrela. Devido à apresentação, as músicas da opereta, já conhecidas, voltaram a fazer muito sucesso (O Imparcial, 29 de novembro de 1928O Paiz, 27 de junho de 1930; O Cruzeiro, 21 de junho de 1930; e O Malho, 19 de julho de 1930, coluna do meio). Foi essa obra que deu ao teatro a estrutura que mantém até os dias de hoje, sem o pórtico por onde passavam as carruagens (Correio da Manhã, 24 de junho e 20 de julho de 1930).

 

 

Houve uma acirrada polêmica entre o arquiteto francês Joseph Gire (1872 – 1933) que tinha um projeto de remodelar e modernizar o Teatro João Caetano, mantendo a estrutura original e o urbanista francês Alfred Agache (1875 – 1959), convidado, em 1927, para trabalhar em um projeto de remodelação urbana do Rio de Janeiro a convite de Prado Júnior. Agache venceu e viabilizou a proposta do projeto de Alejandro Baldassini, que demoliu o imóvel. Nos primeiros anos da década de 1930, Baldassini foi editor da revista Forma juntamente com o engenheiro teuto brasileiro Emilio Baumgart, calculista de suas principais obras.

O projeto e sua execução ficaram a cargo da empresa Gusmão, Dourado & Baldassini. Com uma fachada futurista e com sua volumetria purista, em um estilo bem moderno, o novo edifício, considerado um ícone art déco do Rio de Janeiro, não agradou a todos (Fon-Fon, 24 de maio de 1930O Malho, 7 de junho de 1930; O Jornal, 13 de julho de 1930, penúltima colunaO Cruzeiro, 9 de agosto de 1930; Jornal do Brasil, 21 de dezembro de 2008).

 

 

“Conquanto os principais teatros do mundo sejam considerados obras de arte do primeiro renascimento arquitetônico, o nosso é, no século atual, um monumento de época. Como construção, encarado sob o ponto de vista técnico, é a última palavra no arrojo a que tem chegado a engenharia moderna, utilizando-se do concreto armado, heterogêneo e monolítico. Assim, observa-se na estrutura óssea do novel edifício, como no indumento arquitetônico, a ausência absoluta de arcos. E as poucas vigas que se vêem apresentam originalidades de perfis. Os camarotes, balanceados em quase quatro metros, não são suportados por nenhuma coluna que embarace a vista nem vigas ou consolos, o que no campo da lógica dá  a pensar até onde chegaremos. A questão da acústica foi baseada nos métodos modernos análogos aos usados na construção do grande Salão de Música Pleyel, em Paris.”

 

 

Os painéis de temática musical, Samba e Carnaval, que foram pintados a óleo diretamente sobre a parede do foyer superior do Teatro João Caetano são de autoria do pintor Emiliano Di Cavalcanti (1897 – 1976). Foram projetados em 1929.

 

 

As datas 1931 e 1964 grafadas sob a assinatura do artista referem-se, respectivamente, ao ano da pintura e ao da intervenção feita pelo próprio artista. A obra é considerada o primeiro mural modernista brasileiro e foi tombada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural do Rio de Janeiro – Inepac -, em 27 de outubro de 1967.

 

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Nas décadas de 40 e 50, o João Caetano foi o palco de diversas revistas musicais e também de bailes de carnaval como os registrados nas matérias Dalva, a rainha – Baile do Rádio – Texto de Josué Guimarães e fotos de José Medeiros e Flávio Damm (O Cruzeiro, 17 de fevereiro de 1951); Paz e alegria no Baile das Atrizes – Texto de Arlindo Silva e fotos de João Martins, Flávio Damm e Jorge Audi (O Cruzeiro, 13 de março de 1954), Rainha do Rádio – Texto de Ary Vasconcelos e fotos de Jorge Audi, Mário de Moraes e José Medeiros (O Cruzeiro, 25 de fevereiro de 1956), Baile das Atrizes – Texto de Mário de Moraes e fotos de Walter Luiz, Antônio Ronek, José Medeiros, Jorge Audi e Hélio Passos (O Cruzeiro, 25 de fevereiro de 1956).

 

 

Na década de 1960, durante três anos, no governo de Carlos Lacerda (1914 – 1977), foi realizada uma reforma no teatro, cujo responsável pelas obras foi o engenheiro Stélio de Morais, diretor do Departamento de Prédios e Aparelhamentos Escolares. O projeto foi de Roberto Thompson Motta e a inspeção da execução ficaram a cargo de Celso Torreão Campos.

Sobre a reforma, João Bethencourt (1924 – 2006), então Diretor do Serviço de Teatro, comentou:

“…além da nova pintura geral, assoalhos, ladrilhos, espelhos, lustres etc., as 650 poltronas da plateia serão estofadas; as frisas e camarotes terão novo acabamento; o palco, os camarins e os sanitários serão totalmente remodelados; além do pano de boca e das passadeiras. Só o pano de boca, em veludo, custou 4 milhões de cruzeiros e as obras totais custarão cerca de 30 milhões. É sabido que uma das muitas deficiências do Teatro João Caetano sempre foi a acústica, considerada péssima por quantos ali têm atuado. Sobre tal problema dos mais importantes, disse-nos o diretor do Serviço de Teatros que, segundo a opinião do engenheiro Piragibe, técnico no assunto, além de Administrador Regional do Centro, as pequenas reformas e melhoramentos por que está passando o teatro serão suficientes para modificar completamente a acústica da casa. Se, porém, tal não se der, o problema será atacado futuramente, com novas verbas especiais para atendê-lo, pois se trata de dispositivo caríssimo”.

A Noite, 28 de janeiro de 1964

 

O João Caetano reabriu suas portas em 7 de setembro de 1965. Na programação: execução do Hino Nacional; concerto da Orquestra Sinfônica Brasileira, regida pelo maestro Eleazar de Carvalho (1912 – 1996), apresentando a Sétima Sinfonia de Beethoven; os Choros nº 10 de Villa-Lobos e um concerto de Schumann (1810 – 1856), com a pianista Guiomar Novaes (1894 -1979) (Jornal do Brasil, 8 de setembro de 1965, penúltima coluna).

Ainda nos anos 60, foram montados no João Caetano grandes musicais como, Hello Dolly! (1938), do escritor norte-americano Thornton Wilder (1897 – 1975), estrelado por Bibi Ferreira (1922 – 2019), que contracenou com o barítono Paulo Fortes (1923 – 1997) , em março de 1966. Também no elenco: Augusto César Vanucci (1934 – 1992), Lisia Demôro (19?- ?), Hilton Prado (1935 – 2021), Marly Tavares (1940-) e Milton Carneiro (1923 – 1999), entre outros (Jornal do Brasil, 2 de março de 1966, segunda coluna). Aliás, foi no Teatro João Caetano que Bibi esteve pela primeira vez em um palco: com apenas 24 dias de nascida entrou em cena no colo da mãe, a atriz espanhola Aida Izquierdo Ferreira (1903 – 1985).

De março de 1978 até março de 1979, passou por uma nova remodelação. Adolfo Bloch era o presidente da Fundação dos Teatros do Rio e Rafael Peres foi o responsável pelo projeto arquitetônico. Roberto Thompson Motta ficou ccom o projeto acústico e Fernando Pamplona ficou encarregado parte cênica, de iluminação e mecânica do palco. A  supervisão foi do engenheiro Carlos Lafayette.

 

 

O Teatro João Caetano foi reinaugurado com a comédia protagonizada por Paulo Gracindo (1911 – 1995), O Rei de Ramos, de Dias Gomes (1922 – 1999), em 11 de março de 1979 (Jornal do Brasil, 11 de março de 1979). A direção foi de Flavio Rangel (1934 – 1988) e a música de Chico Buarque de Holanda (1944-) e Francis Hime (1939-).

 

 

Nas décadas de 1970 e 80, o João Caetano teve seu nome associado a shows musicais. Em 1980, o teatro vinculou-se à Funarj – Fundação Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de Janeiro ou Fundação de Artes do Estado do Rio de Janeiro.

Em julho de 1989, o forro do telhado no segundo balcão do Teatro João Caetano caiu sobre as cadeiras durante um show do cantor Belchior (1946 – 2017). A causa do desabamento foi a infiltração generalizada no telhado e a má conservação do prédio (Jornal do Brasil, 15 de julho de 1989, quinta coluna).

Em abril de 1992, o teatro entrou em uma nova reforma. Nesta ocasião, o painel Samba, pintado por Di Cavalcanti, foi restaurado (O Fluminense, 2 de abril de 1991, primeira coluna; Jornal do Commercio, 2 de abril de 1992, primeira coluna).

Em 22 de abril de 1994, foi inaugurado o Sótão do Teatro João Caetano com a encenação da peça Casa de Prostituição Anaïs Nin, de Francisco Azevedo, dirigido por Ticiana Studart (Jornal do Brasil, 18 de abril de 1994, quarta coluna). A sala, por não ter tido uma boa aceitação, deixou de funcionar. No ano seguinte, o João Caetano passou por outra reforma.

Em 2009, foram realizadas novas intervenções que incluíram a restauração dos dois painéis de Di Cavalcanti, tratamento cênico de Gringo Cardia (1957-) e reforma de foyers, plateia e balcões. Foram adquiridos um novo carpete e novas poltronas.

Para comemorar seus 200 anos, em outubro de 2013, houve apresentações gratuitas do balé , de Deborah Colker. A Orquestra Sinfônica, o Coro e Orquestra de Música Popular da Escola de Música Villa-Lobos, além do grupo Chorando Baixinho e da Banda Sinfônica do Corpo de Bombeiros, participaram da programação do aniversário realizada no Largo Albino Pinheiro, ao lado do teatro. Houve também um evento fechado para convidados, no dia 12 de outubro, quando foi lançada uma medalha comemorativa pela Casa da Moeda e realizada uma homenagem ao ator Rogério Fróes (1934-), representando a classe artística. No foyer do teatro, realização de uma exposição com peças raras da história do João Caetano como programas do século XIX e a ata de reinauguração do teatro, em 1930, com as assinaturas do presidente Washington Luís (1869 – 1957) e do prefeito do Distrito Federal, Prado Junior (1880 – 1955).

 

 

Em 2022, os dois painéis, Samba e Carnaval, de Di Cavalcanti, foram restaurados por uma equipe de técnicos, alguns que haviam participado do restauro o mural Guerra e Paz, de Cândido Portinari (1903 – 1962), na sede da ONU. A equipe foi liderada pelo professor Edson Motta Júnior, da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (O GLOBO, 16 de julho de 2022).

 

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O Teatro João Caetano da Exposição de 1908

 

Em 1908, por ocasião da Exposição Nacional Comemorativa do 1º Centenário da Abertura dos Portos do Brasil, no Rio de Janeiro, o então Teatro Constitucional ergueu, no local do evento, um pavilhão temporário para apresentar peças e concertos para o público. Vários espetáculos foram montados num espaço confortável, batizado de Teatro João Caetano, organizado em platéia, galeria e camarotes.

 

 

A exposição foi inaugurada, em 11 de agosto de 1908, na região da Urca, no Rio de Janeiro, em comemoração ao centenário da Abertura dos Portos às Nações Amigas, decretada em 28 de janeiro de 1808, pelo então príncipe regente de Portugal, dom João de Bragança, futuro dom João VI (1767 – 1926)(O Paiz, 11 de agosto de 1908). A exposição exibiu um “inventário” do Brasil através de seus produtos industriais, agrícolas, pastoris e artísticos. Promovida pelo governo federal, apresentou a cidade do Rio de Janeiro, recém urbanizada e saneada pelo então prefeito Francisco Pereira Passos (1936 – 1913) e pelo cientista Oswaldo Cruz (1872 – 1917), respectivamente. O evento foi encerrado em 15 de novembro de 1908 (O Paiz, 16 de novembro de 1908, sexta coluna).

 

 

Com projeto de Francisco Isidro Monteiro, o Teatro João Caetano da Exposição de 1908 foi construído em madeira revestida de estuque ocupando uma área de 870 m² com capacidade para 800 espectadores. A decoração interna em tons de verde e com capitéis dourados foi realizada pelo caricaturista Raul Pederneiras (1874 – 1953) e equipe.

Foi inaugurado, em 12 de agosto de 1908, no dia seguinte à abertura da Exposição Nacional, com a apresentação das peças O Noviço, de Martins Penna (1815 – 1848); e Não consultes médico, de Machado de Assis (1839 – 1908) (O Paiz, 13 de agosto de 1908, terceira coluna). Nos meses da exposição, foram apresentadas diversas peças, dentre elas Vida e morte, de Artur Azevedo (1855 – 1908); e Romance de uma moça rica, de Pinheiro Guimarães (1832 – 1877) (Revista da Semana, 27 de setembo de 1908).

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Arquivo Nacional e a história luso-brasileira

CABOT, Roberto. Joseph Gire: a construção do Rio de Janeiro moderno/RobertoCabot, – 1. ed – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2014.

COSTA, Carla. Série “O Rio de Janeiro desaparecido” II – A Exposição Nacional de 1908 na Coleção Família Passos in Brasiliana Fotográfica, 5 de abril de 2018.

DIAS, José da Silva Dias. Teatros do Rio: do século XVIII ao século XX. Fundação Nacional de Artes, FUNARTE, 2012, p. 87.

Edarc – Arquivo Nacional

Entretextos

Facebook – Museu da Música Mariana

GOUVEIA, Viviane. Vida artística no período joanino in O Arquivo Nacional e a História Luso Brasileira, agosto 2018.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

LISBOA  JUNIOR, Luiz Américo. Teatro português no Brasil: do Império à Primeira República. Tese orientada pelo Prof. Doutor Jose Damião Rodrigues, especialmente elaborada para a obtenção do grau de Mestre em História. Especialidade em História e Cultura do Brasil. Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras, 2020.

MARINHO, Henrique. O teatro brasileiro… Rio de Janeiro: H. Garnier, 1904.

GLOBO, 5 de outubro de 2013 – João Caetano, uma história em cena há 200 anos, por Nani Rubin 

PAIXÃO, Mucio da. O teatro no Brasil. Editora Brasília Rio. Rio de Janeiro, 1936.

PRADO, Décio de Almeida. João Caetano: o ator, o empresário, o repertório. São Paulo : Perspectiva, Ed. da Universidade de São Paulo, 1972.

Site As Histórias dos Monumentos do Rio

Site Bolsa de Arte – Paralelo

Site Elenco Brasileiro

Site Funarj

Site Inepac

Site Jusbrasil

Site Paulo Fortes

Site Rio Memórias

Site SP Escola de Teatro

Site Teatros do Centro Histórico do Rio de Janeiro

Site World Theatre Day

Veja Rio, 26 de outubro de 2022

 

Outros artigos publicados na Brasiliana Fotográfica sobre teatros e cinemas

 

Série O Rio de Janeiro desaparecido I Salas de cinema do Rio de Janeiro do início do século XXpublicado em 26 de fevereiro de 2016.

Os teatros do Brasil, publicado em 21 de março de 2016

A inauguração do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, publicado em 14 de julho de 2017

Cinema no Brasil – a primeira sessão e um pouco da história do Cinema Odeon, publicado em 8 de julho de 2021

Série “O Rio de Janeiro desaparecido” XII – O Teatro Lírico (Theatro Lyrico), publicado em 16 de setembro de 2021

O Theatro de Santa Isabel, publicado em 28 de outubro de 2021

O Teatro Amazonas (Theatro Amazonas), em Manaus, a “Paris dos Trópicos”, publicado em 28 de dezembro de 2021

Dia do Cinema Brasileiro, publicado em 19 de junho de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXV – O Theatro Phenix, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado em 5 de setembro de 2023

O Theatro da Paz, em Belém do Pará, inaugurado em 15 de fevereiro de 1878, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado em 15 de fevereiro de 2024

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XV – Misericórdia: rua, largo e ladeira, no Rio de Janeiro, por Cássio Loredano

Série Avenidas e ruas do Brasil  XV – Misericórdia, rua, largo e ladeira, no Rio de Janeiro, por Cássio Loredano

Na décima quinta publicação da série Avenidas e ruas do Brasil a Brasiliana Fotográfica traz para seus leitores o artigo Misericórdia: rua, largo e ladeira, escrito pelo caricaturista Cássio Loredano. É a terceira contribuição de Cássio no portal – já escreveu sobre a Igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro e sobre a Rua da Carioca.

 

 

Acessando o link para as imagens da rua da Misericórdia disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Misericórdia: rua, largo e ladeira, no Rio de Janeiro

Cássio Loredano*

 

 

No Guia Rex de 1993, um dos últimos guias de ruas do Rio de Janeiro a serem impressos em papel, a Rua da Misericórdia ainda é apenas um trecho mínimo, de uns trinta metros, entre a lateral esquerda do Forum e o Largo da Misericórdia. Quem hoje a procure caminhará sobre a bonita restauração ajardinada da Praça do Expedicionário, ao fundo da qual – e muito próximo de onde esteve a velha rua – está o imponente obelisco-monumento ao Barão do Rio Branco. Fazia de fato pena ver o herói durante anos em vergonhoso estado de abandono na praça cercada de horrendos tabiques de lata amarrotados e emporcalhados.

 

 

A rua. (Esqueçamos régua e esquadro no traçado de ruas de cidades orgânicas.) A tirar do rabicho de rua do plano do guia um caminho mais ou menos direito rumo ao Paço Imperial, temos que chegaríamos, rasgando o prédio do Forum de fora a fora em diagonal, à esquina das atuais Rua Erasmo Braga e Avenida Presidente Antônio Carlos. Por ali cerca se dava o que Brasil Gerson, em sua História das Ruas do Rio, chama “o encontro” das ruas Direita e da Misericórdia. Esta, aberta para facilitar o acesso do cada vez mais importante centro administrativo e comercial da cidade a seu hospital, a Santa Casa da Misericórdia, na Praia de Santa Luzia, embrião da primeira faculdade de Medicina do Rio.

 

 

Da Misericórdia foi chamada por causa da Santa Casa e por passar, entre seu início no Paço e o hospital, pelo Largo da Misericórdia, com seu pequenino, lindo templo de Nossa Senhora do Bonsucesso, nos fundos da Santa Casa. E pelo início, aqui também à esquerda, da primeira rua da cidade, a Ladeira da Misericórdia.

 

Ladeira e Rua da Misericórdia / História das ruas do Rio por Brasil Gerson, página 13 da 6ª edição

Ladeira e Rua da Misericórdia, s/d. Rio de Janeiro, RJ / História das ruas do Rio, por Brasil Gerson, página 13 da 6ª edição

 

Este, a Ladeira, foi muito provavelmente o caminho que tomaram Natividade e Perpétua para subir ao Morro do Castelo na primeira cena de Esaú e Jacó, penúltimo romance de Machado de Assis.

“Era a primeira vez que as duas iam ao Morro do Castelo. Começaram de subir pelo lado da rua do Carmo. Muita gente há no Rio de Janeiro que nunca lá foi, muita haverá morrido, muita mais nascerá e morrerá sem lá pôr os pés. Nem todos podem dizer que conhecem uma cidade inteira. Um velho inglês, que aliás andara terras e terras, confiavame há muitos anos em Londres que de Londres só conhecia bem o seu clube, e era o que lhe bastava da metrópole e do mundo. Natividade e Perpétua conheciam outras partes, além de Botafogo, mas o Morro do  Castelo, por mais que ouvissem falar dele e da cabocla que lá reinava em 1871, era-lhes tão estranho e remoto como o clube. O íngreme, o desigual, o mal calçado da ladeira mortificavam os pés às duas pobres donas. “

O morro teve três ou quatro subidas. O escritor Gastão Cruls fala nessa quarta, uma Calçada da Sé, a partir do meio da Rua da Misericórdia, mas que nenhum outro historiador conhece e ela não está em nenhum dos mapas que às dezenas esquadrinharam aquele quadrilátero ao longo das décadas. Tais caminhos se fizeram necessários para dar à cidade que paulatinamente descia à várzea acesso ao que continuava no alto, a Catedral, que, com seu amplo adro de terra batida, atraía multidões para as grandes festas de São Sebastião, o Colégio dos Jesuítas, depois um quartel, um hospital militar e o observatório.

 

 

O que faz supor que foi a Misericórdia que Natividade tomou com a irmã para o morro é Machado indicar que as duas “começaram a subir pelo lado da Rua do Carmo“, isto é, o lado da velha ladeira. E terem deixado o coupé esperando-as meio escondido também daquele lado, no espaço entre a Igreja de São José e a Assembleia, de onde saiu para apanhá-las na esquina de São José com a Rua da Misericórdia e levá-las de volta a Botafogo.

E agora? Se já então constatava Machado que muito carioca nunca tinha estado no morro… E vaticinava, sem poder calcular o alcance do que dizia: “muita [gente] mais nascerá e morrerá sem lá por os pés.

Agora, só guiados pela magia de um Gastão Cruls, de um Brasil Gerson, um Noronha Santos, um Vieira Fazenda, um Lima Barreto, um João do Rio; ou pela magia dele próprio, o “Bruxo do Cosme Velho”, como Machado de Assis ficou conhecido.

 

 

 

 

* Cássio Loredano é jornalista e caricaturista. E, sobretudo, um apaixonado pelo Rio de Janeiro e suas histórias.

 

Links para as outras publicações da série “Avenidas e ruas do Brasil”

 Série “Avenidas e ruas do Brasil” I – Avenida Central, atual Rio Branco, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 7 de setembro de 2016

Série “Avenidas e ruas do Brasil” II – A Rua do Imperador em Petrópolis por Klumb, Leuzinger e Stahl, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 26 de junho de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” III – A Rua do Bom Jesus, no Recife, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 6 de agosto de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IV – A Rua 25 de Março, em São Paulo, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 1º de setembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” V – A Rua Direita, a Rua das Mercês e a Rua Macau do Meio, em Diamantina, Minas Gerais, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 22 de outubro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” VI  – Rua Augusto Ribas e outras, em Ponta Grossa, no Paraná, pelo fotógrafo Luiz Bianchi, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 16 de novembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” VII – A Avenida Atlântica, em Copacabana, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 23 de dezembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil VIII – A Rua da Carioca por Cássio Loredano, de autoria de Cássio Loredano, publicada em 20 de janeiro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IX – Ruas e panoramas do bairro do Catete, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 14 de julho de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” X – A Rua da Ajuda, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 9 de novembro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XI – A Rua da Esperança, em São Paulo, por Vincenzo Pastore, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 14 de dezembro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XII – A Avenida Paulista, o coração pulsante da metrópole, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 21 de janeiro de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XIII – A Rua Buenos Aires no Centro do Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 19 de julho de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XIV – A Avenida Presidente Vargas,, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 31 de agosto de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVI – “Alguma coisa acontece no meu coração”, a Avenida São João nos 469 anos de São Paulo, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 25 de janeiro de 2023

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVII  e série “O Rio de Janeiro desaparecido” XXIII – A Praia e a Rua do Russel, na Glória, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 15 de maio de 2023

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVIII – Avenida Beira-Mar, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 22 de janeiro de 2024

 

 

 

Série “O Rio de Janeiro desaparecido” XXI – O Chafariz do Largo da Carioca

 

 

Com registros dos fotógrafos Augusto Malta (1864 – 1957)Guilherme Santos (1871 – 1966) e Marc Ferrez (1843 – 1923), o Chafariz do Largo da Carioca é o tema do 21º artigo da Série O Rio de Janeiro desaparecido. Teve sua pedra fundamental lançada em 5 de fevereiro de 1832 e começou a funcionar em 7 abril de 1834 (Brasil, Ministério do Império, 1833 e  1834Jornal do Commercio, 8 de abril de 1834, última coluna). Seu projeto é quase sempre atribuido exclusivamente ao arquiteto francês Grandjean de Montigny (1776 – 1850), membro da Missão Artística Francesa. Porém, segundo Brasil Gerson, o autor principal do projeto do chafariz teria sido o coronel e engenheiro lisboeta Joaquim Cândido Guilhobel (1787 – 1859), que havia sido aluno de Montigny no curso de Arquitetura da Academia Imperial de Belas Artes e que, em 1831, tornou-se professor de Desenho da Academia Militar (Império do Brasil: Diário Fluminense, 31 de maio de 1931, última coluna).

 

 

 

Tinha 35 bicas para o abastecimento de água da população, tanques para as lavadeiras e um bebedouro de animais. Foi demolido entre 1925 e 1926, na administração do prefeito Alaor Prata (1882 – 1964) (O Imparcial, 19 de agosto de 1925, terceira coluna).

 

 

Acessando o link para as fotografias do Chafariz do Largo da Carioca disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

Foi o terceiro chafariz do Largo da Carioca: o primeiro, com 12 bicas de bronze, foi inaugurado, em 1723, durante o governo de Aires de Saldanha e Albuquerque (1681 – 1756); e, o segundo, provisório e de madeira, com 40 bicas, em 1830 (Jornal do Commercio, 24 de maio de 1830, primeira coluna).

 

 

Sob a alegação de motivos de trânsito que determinariam a necessidade de alargamento do Largo da Carioca, foi realizada a demolição do Chafariz de Grandjean de Montigny, iniciada em 11 de setembro de 1925. Foi informado que o chafariz seria rearmado em um recanto da Quinta da Boa Vista de acordo com suas disposições antigas (O Imparcial, 12 de setembro de 1925, última coluna). A demolição começou sob a supervisão do engenheiro Ângelo Barata, da Prefeitura do Rio de Janeiro. Segundo artigo da advogada e jornalista feminista Orminda Ribeiro Bastos (1899 – 1971), publicado em O Paiz, de 28 de outubro de 1927, a demolição foi dirigida por Maria Esther Correia Ramalho, uma das primeiras engenheiras do Brasil, da turma de 1922 da Escola Politécnica da Universidade do Brasil.

 

 

Houve reações contrárias como a do escritor e crítico de arte e arquitetura, José Marianno Filho (1881 – 1946), na época presidente da Associação Nacional de Belas Artes; e dos escritores Coelho Netto (1864 – 1934) e Escragnolle Doria (1869 – 1948). A demolição chegou a ser suspensa devido a uma ação impetrada pelos padres do Convento de Santo Antônio (O Imparcial20 de agosto21 de agosto26 de setembro, 9 de outubro de 1925; 2 de abril de 1926; O Paiz, 25 de outubro de 1925, sexta coluna; Correio da Manhã, 15 de janeiro de 1926, quarta coluna; Revista da Semana, 26 de setembro de 1925; Universal, 26 de agosto de 1925).

 

“O passado é o pesadelo do presente. Os artistas de hoje temem-lhe o confronto”. 

José Marianno Filho sobre a demolição do Chafariz do Largo da Carioca

 

 

 

 

 

 

Já o professor Raul Lessa de Saldanha da Gama (1882 – 1945), da Escola Nacional de Belas Artes, foi a favor da decisão do prefeito Alaor Prata (Gazeta de Notícias, 24 de novembro de 1925).

 

 

Segundo editorial de O Imparcial, a demolição do chafariz não melhorou o trânsito no local e deixou uma área sem calçamento, inútil e horrivelmente feia (O Imparcial, 2 de abril de 1926).

 

 

Sua demolição causou falta de água para os trabalhadores (O Imparcial, 6 de março de 1927).

 

 

 

 

Andrea C.T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Blog As Histórias dos Monumentos do Rio

Dunlop, Charles Julius. Rio Antigo. Rio de Janeiro: Editora Rio Antigo, 1963.

GERSON, Brasil. História das Ruas do Rio. Rio de Janeiro: Bem-Te-Vi, 2013.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

ROSA, Francisco Ferreira da. Rio de Janeiro em 1922-1924. Rio de Janeiro: Typographia do Annuario do Brasil (Almanak Laemmert), 1924. 222 p. (Coleção Memória do Rio 3 – Reprodução).

Site Biblioteca do IBGE

Site Enciclopédia Itaú Cultural

Site Mulher 500 anos atrás dos panos

Site Multirio

 

Links para os outros artigos da Série O Rio de Janeiro desaparecido

 

Série O Rio de Janeiro desaparecido I Salas de cinema do Rio de Janeiro do início do século XXde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 26 de fevereiro de 2016.

Série O Rio de Janeiro desaparecido II – A Exposição Nacional de 1908 na Coleção Família Passos, de autoria de Carla Costa, historiadora do Museu da República, publicado na Brasiliana Fotográfica, em 5 de abril de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido III – O Palácio Monroe, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica, em 9 de novembro de 2016.

Série O Rio de Janeiro desaparecido IV - A via elevada da Perimetral, de autoria da historiadora Beatriz Kushnir, publicado na Brasiliana Fotográfica em 23 de junho de 2017.

Série O Rio de Janeiro desaparecido V – O quiosque Chopp Berrante no Passeio Público, Ferrez, Malta e Charles Dunlopde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portalpublicado na Brasiliana Fotográfica em 20 de julho de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VI – O primeiro Palácio da Prefeitura Municipal do Rio de Janeirode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de setembro de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VII – O Morro de Santo Antônio na Casa de Oswaldo Cruzde autoria de historiador Ricardo Augusto dos Santos da Casa de Oswaldo Cruzpublicado na Brasiliana Fotográfica em 5 de fevereiro de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VIII – A demolição do Morro do Castelode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portalpublicado na Brasiliana Fotográfica em 30 de abril de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido IX – Estrada de Ferro Central do Brasil: estação e trilhosde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de novembro de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido X – No Dia dos Namorados, um pouco da história do Pavilhão Mourisco em Botafogode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de junho de 2020.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XI – A Estrada de Ferro do Corcovado e o mirante Chapéu de Sol, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 22 de julho de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XII – o Teatro Lírico (Theatro Lyrico), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 15 de setembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIII – O Convento da Ajuda, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de outubro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIV – O Conselho Municipal, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 19 de novembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XV – A Praia de Santa Luzia no primeiro dia do verão, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 21 de dezembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVI – O prédio da Academia Imperial de Belas Artes, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, publicado na Brasiliana Fotográfica em 13 de janeiro de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVII – Igreja São Pedro dos Clérigos, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 18 de março de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVIII – A Praça Onze, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 20 de abril de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIX – A Igrejinha de Copacabana, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 23 de junho de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XX – O Pavilhão dos Estados, futuro prédio do Ministério da Agricultura, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 26 de julho de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXII – A Cadeia Velha que deu lugar ao Palácio Tiradentes, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 11 de abril de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXIII e Avenidas e ruas do Brasil XVII A Praia e a Rua do Russel, na Glória, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 15 de maio de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXIV – O luxuoso Palace Hotel, na Avenida Rio Branco, uma referência da vanguarda artística no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 4 de julho de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXV – O Theatro Phenix, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 5 de setembro de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXVI – Conclusão do arrasamento do Morro do Castelo por Augusto Malta, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 14 de dezembro de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXVII e Série Os arquitetos do Rio de Janeiro V – O Jockey Club e o Derby Club, na Avenida Rio Branco e o arquiteto Heitor de Mello (1875 – 1920), de autoria de Andrea c. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, em 15 de janeiro de 2024

 

O Hotel Pharoux por Revert Henrique Klumb

Motivada pela publicação do artigo Pharoux, o primeiro hotel de luxo do Brasil, publicado na Brasiliana Iconográfica, em 15 de junho de 2022, a Brasiliana Fotográfica destaca uma imagem do estabelecimento, o primeiro hotel de luxo do Brasil, produzida pelo francês Revert Henrique Klumb (c. 1826 – c. 1886), o fotógrafo da família real do Brasil. A imagem pertence ao acervo da Biblioteca Nacional, uma das instituições fundadoras da Brasiliana Fotográfica, segundo a qual:

Através de pesquisa nas obras “Origens e expansão da fotografia no Brasil : século XIX”, de Boris Kossoy, e “Imagem e letra : introdução à bibliologia brasileira”, de Orlando da Costa Ferreira, foi constatado que o endereço manuscrito no verso do cartão-suporte era o mesmo da “Officina de Paulo Robin”, dirigida por Klumb”.

Klumb foi, provavelmente, o introdutor da técnica estereoscópica no Brasil – utilizada na foto destacada -, com a qual entre os anos de 1855 e 1862, aproximadamente, produziu ampla documentação sobre o Rio de Janeiro.

 

 

O Hotel Pharoux foi fundado pelo francês de Marselha, Louis Dominique Pharoux (?- 1867), bonapartista que exilou-se no Brasil, em torno de 1816.

“O hotel que levava seu nome inaugurou um novo padrão para as hospedarias da capital do Império, que até então só oferecia alojamentos bastante simples e, em geral, sujos”.

Brasiliana Iconográfica

 

Inicialmente, o Pharoux era uma hospedaria na rua da Quitanda, nº 99, e várias vezes anunciava no jornal oferecer sopa e bife de tartarugas (Jornal do Commercio, 23 de setembro de 1836, terceira coluna). Em 1838, transferiu-se para a rua Fresca, nº 3, esquina com o Largo do Paço, atual Praça XV, e uma de suas fachadas dava de frente para a Praia Dom Manuel (Jornal do Commercio, 12 de fevereiro de 1838, quarta coluna).

 

 

Era um edifício que, além do térreo, tinha três andares. Refinado e confortável, trouxe à corte um certo glamour europeu. Possuia uma  sala de jantar que comportava mais de oitenta pessoas, mobiliário de bom gosto e seus banhos eram um atrativo a mais, em uma cidade que oferecia até então somente hospedarias pouco confortáveis e uma mesa sem grandes variedades nas casas de pasto, que já se multiplicavam pelas ruas (Arqueologia Histórica no Rio de JaneiroJornal do Commercio, 12 de fevereiro de 1838, quarta coluna). As salas de banho tinham banheiras de metal e mármore com torneiras de água fria e quente. Toalhas brancas eram oferecidas. Um requinte na época. Utilizava-se água encanada vinda do chafariz do Largo do Paço.

Desde o início, destacou-se também, como já mencionado, pelo esmero em sua gastronomia e por servir vinhos franceses.

 

 

Era também um ponto de convergência da sociedade de sua época e de viajantes (Jornal do Commercio19 de fevereiro de 1838, segunda coluna; 24 de abril de 1838, terceira coluna). Foi muitas vezes, o cenário de contos, como o publicado na A Semana Illustrada, de 11 de agosto de 1861.

 

“O hotel Pharoux, tinha excelente frequência da sociedade local, frequentado também por muitos viajantes franceses, que junto ao seu bem humorado e cortês proprietário, passavam horas agradáveis lembrando a pátria. Construiu o cais que acabou levando seu nome, e fez desse magnífico e aprazível local um ponto de encontro para os que podiam usufruir do conforto de um bom vinho, e de uma boa mesa abençoados pelas brisas do mar”

Arqueologia Histórica no Rio de Janeiro

 

 

“…Velhos do meu tempo, acaso vos lembrais desse mestre cozinheiro do Hotel Pharoux, um sujeito que, segundo dizia o dono da casa, havia servido nos famosos Véry e Véfour, de Paris, e mais nos palácios do Conde Molé e do Duque de la Rochefoucauld? Era insigne. Entrou no Rio de Janeiro com a polca… A polca, M. Prudhon, o Tivoli, o baile dos estrangeiros, o Cassino, eis algumas das melhores recordações daquele tempo; mas sobretudo os acepipes do mestre eram deliciosos.”

Memórias Póstumas de Brás Cubas por Machado de Assis

 

Em 1860 era anunciada a venda do prédio do hotel, que passou a ter outro proprietário (Correio Mercantil, 12 de janeiro de 1860, segunda coluna; 20 de janeiro de 1860, quarta coluna; Courrier du Brésil, 1º de janeiro de 1860).

 

 

Em 1861, seu dono era João Freichou ou Jean Frechon que, em 1862, reformou o hotel (Correio Mercantil, 22 de dezembro de 1861, terceira coluna; Courrier du Brésil, 31 de agosto de 1862). Em 1863, foi noticiada a falência fraudulenta do estabelecimento (Correio Mercantil, 25 de abril de 1863, última coluna).

 

 

Segundo a maioria das fontes, Luiz Pharoux retornou à França, em 1864.  Após abrigar a Casa de Saúde do dr. Antônio Marcolino Fragozo, a Casa de Saúde Nossa Senhora da Glória e a Casa de Saúde dos drs. Catta-Preta, Marinho e Werneck (Diário do Rio de Janeiro, 1º de fevereiro de 1864Jornal do Commercio12 de junho de 1870, quarta coluna; e 13 de outubro de 1874), e, posteriormente outro hotel, o Real (Almanak Laemmert, 1927), o edifício do Hotel Pharoux foi demolido, em 1959, para a  construção da Perimetral.

 

 

O Hotel Pharoux e a história da fotografia no Brasil

 

 

Foi no Hotel Pharoux que o abade francês Louis Comte (1798 – 1868), que chegou ao Brasil trazendo o daguerreótipo, no  navio L´Oriental , que aportou no Rio de Janeiro em 23 de dezembro de 1939, fez o primeiro ensaio fotográfico no país. Leia essa história no artigo A chegada do daguerreótipo no Brasil – os primeiros registros no Rio de Janeiro, publicado em 16 de janeiro de 2020, aqui no portal.

 

 

Foi lá que o retratista francês Abram-Louis Buvelot (1814 – 1888) se hospedou, quando chegou ao Rio de Janeiro, em outubro de 1840.

 

fotografia

M. Louis Buvelot. Xilografia publicada no Australasian Sketcher, em 12 de julho de 1888 / Acervo da Coleção La Trobe Picture

 

Link para a Cronologia de Abram-Louis Buvelot (1814 – 1888). 

 

Os norte-americanos Augustus Morand (c. 1818 – 1896) e J.E. Smith, dois pioneiros na comercialização da daguerreotipia no Brasil, chegaram ao Rio de Janeiro, vindos de Nova York, na galera C. Canckl, em 25 de novembro de 1842 (Diário do Rio de Janeiro, 26 de novembro de 1842, na última coluna). Observação: com as iniciais de Smith, J. E, acaba-se a dúvida que um outro Smith, mencionado por Boris Kossoy em seu livro Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910), seja o mesmo que veio para o Brasil com Morand. No livro de Kossoy, as iniciais do “outro” Smith são T.O.

 

 

 

Na primeira página do Jornal do Commercio de 23 de dezembro de 1842, Morand foi saudado como uma celebridade: 

 

 

Ainda nessa mesma edição, sob o título O daguerreótipo na sua perfeição, foi anunciado o estabelecimento do gabinete de Morand e Smith no Hotel Pharoux, salão n. 52, casa nova, 2º andar, no Rio de Janeiro (Jornal do Commercio, 23 de dezembro de 1842, na segunda coluna). O anúncio foi repetido algumas vezes em 1842 e em 1843.

 

 

A bordo do navio norte-americano Susan, Morand deixou o Rio de Janeiro em direção a Nova York, em 13 de abril de 1843 (Jornal do Commercio, 14 e 15 de abril de 1843, na última coluna). Ele e Smith foram sucedidos por J. D. Davies, que comprou deles uma grande porção de lâminas, etc, convidou o público para visitar a oficina no Hotel Pharoux e, pouco depois, estabeleceu seu gabinete na rua do Ouvidor, 75 (Jornal do Commercio25 de abril de 1843, na segunda coluna, e 3 de maio de 1843, na terceira coluna). Algumas fontes levantam a possibilidade de Morand não ter retornado direto para Nova York e ter ficado trabalhando na América do Sul até 1844.

 

Cronologia de Augustus Morand (c. 1818 – 1896)

 

c. 1818 - Nascimento de Augustus Morand, em Nova York.

1838 – Casamento com Caroline Kane (1821 – ?)

1840 – Augustus Morand começou a trabalhar como daguerreotipista. Conheceu o pintor Henry Inman (1801 – 1846) e juntos fizeram experiências sobre o efeito da luz e da sombra.

c. 1841 – Provavelmente seu estabelecimento fotográfico sucedeu o de Matthews D. Van Loan na esquina da Broadway com Chambers Street, em Nova York.

1842 – Ao longo do ano, foram publicadas na revista U.S. Magazine and Democratic Review diversas gravuras baseadas em daguerreótipos produzidos por Morand: na edição de agosto, um retrato do político Thomas Wilson Door (1805 – 1854); na de setembro, de Churchill C. Cambreleng (1786 – 1862); e, na de novembro, do presidente John Tyler (1790 – 1862).

 

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Churchill C. Cambreleng, gravura baseada em daguerreótipo de Morand e publicada na edição de setembro de 1842 da The United States Democratic Review

 

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John Tyler, gravura baseada em daguerreótipo de Morand e publicada na edição de novembro de 1842 da The United States Democratic Review

 

 

De 1842 a 1845, catálogos de Nova York informavam que o endereço de Morand era Suffock Street, 25.

Por problemas de saúde, Morand foi aconselhado por médicos a viajar para os trópicos.

Os norte-americanos Augustus Morand e J.E. Smith, dois pioneiros na comercialização da daguerreotipia no Brasil, chegaram ao Rio de Janeiro, vindos de Nova York, na galera C. Canckl, em 25 de novembro de 1842 (Diário do Rio de Janeiro, 26 de novembro de 1842, na última coluna). Observação: com as iniciais de Smith, J. E, acaba-se a dúvida que um outro Smith, mencionado por Boris Kossoy em seu livro Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910), seja o mesmo que veio para o Brasil com Morand. No livro de Kossoy, as iniciais do “outro” Smith são T.O.

 

 

Na primeira página do Jornal do Commercio de 23 de dezembro de 1842, Morand foi saudado como uma celebridade: 

 

 

Ainda nessa mesma edição, sob o título O daguerreótipo na sua perfeição, foi anunciado o estabelecimento do gabinete de Morand e Smith no Hotel Pharoux, salão n. 52, casa nova, 2º andar, no Rio de Janeiro (Jornal do Commercio, 23 de dezembro de 1842, na segunda coluna). O anúncio foi repetido algumas vezes em 1842 e em 1843.

 

 

1843 – Morand trouxe cartas de recomendação para pessoas influentes no Brasil e logo foi apresentado a d. Pedro II.

Os hábeis artistas do daguerreótipo Morand e Smith foram convidados para o paço imperial, onde produziram retratos do imperador Pedro II, das augustas princesas e algumas vistas da Quinta da Boavista. O público era convidado para admirar esses registros no gabinete dos fotógrafos, no Hotel Pharoux. Ainda foi informado que na câmara de Pedro II havia uma fotografia da autoria de Morand e Smith (Jornal do Commercio, 27 de janeiro de 1843, na segunda coluna).

 

 

Nos cinco meses que esteve no Brasil, a presença de Morand era constantemente requisitada no palácio real de São Cristóvão, onde fotografou as vizinhanças, copiou quadros da Galeria Real de Pinturas e retratou membros da família imperial, além de dona Francisca, irmã caçula do imperador.

Existe uma polêmica em torno da autoria de um dos três primeiros daguerreótipos produzidos no Brasil – até hoje conhecidos. São do Paço da Cidade, do Chafariz do Mestre Valentim e fachada do Mercado do Peixe; e do Mercado da Calendária. Alguns historiadores da fotografia consideram que foram de autoria do abade francês Louis Comte (1798 – 1868), que esteve no Rio de Janeiro, em 1840. Outros afirmam que um deles, o que retrata d. Pedro II (1825 – 1891) descendo de sua carruagem em frente ao Paço Imperial, seria de autoria de Morand.

A bordo do navio norte-americano Susan, Morand deixou o Rio de Janeiro em direção a Nova York, em 13 de abril de 1843 (Jornal do Commercio, 14 e 15 de abril de 1843, na última coluna).

Morand e Smith foram sucedidos por J. D. Davies, que comprou deles uma grande porção de lâminas, etc, convidou o público para visitar a oficina no Hotel Pharoux e, pouco depois, estabeleceu seu gabinete na rua do Ouvidor, 75 (Jornal do Commercio25 de abril de 1843, na segunda coluna, e 3 de maio de 1843, na terceira coluna). Algumas fontes levantam a possibilidade de Morand não ter retornado direto para Nova York.

1843 – Nascimento de sua filha, Caroline Lydia Morand (1843 – 1902), em Nova York.

1844 a 1846 – Catálogos de Nova York informavam que entre 1844 e 1846, o endereço do gabinete de daguerreotipia de Morand, em sociedade com George W. Morand, era Chambers Street, 73.

c. 1846 – Em meados da década de 1840, Morand trabalhou como daguerreotipista em várias cidades do sul dos Estados Unidos.

Nascimento de sua segunda filha, Mary (1846 – 1863).

1847 – Morand trabalhava como daguerreotipista, em Saint Louis, na Morand and Company´s Gallery of Daguerreotype Portraits and Family Groups.

Retornou a Nova York e abriu uma galeria na Chatham Street, 132, mesma rua em que morava.

1851 – Morand foi eleito presidente da New York State Daguerreian Association.

Fez parte do comitê que elaborou o estatuto da American Daguerre Association.

Fez parte do comitê formado pela American Daguerre Association para investigar a autoria da invenção de um processo para produzir daguerreótipos coloridos reivindicado por Levi Hill (1816 – 1865).

Foi publicado na edição de abril da revista Photographic Art-Journal, o artigo Augustus Morand the Daguerrean Art, sobre Augustus Morand, de autoria do reverendo Daniel Parish Kidder (1815 – 1891), teólogo e escritor que viveu entre 1837 e 1840 no Brasil. Uma curiosidade: em dezembro de 1839, Kidder embarcou em Salvador no mesmo navio que trouxe o abade Louis Comte para o Rio de Janeiro. Foi o abade que apresentou o daguerreótipo a d. Pedro II, em janeiro de 1840 (Jornal do Commercio de 17 de janeiro de 1840, na primeira coluna, e de 20 de janeiro de 1840, na terceira coluna). Kidder foi o autor dos livros Sketches of residence and travel in Brazil e Brazil and the brazilians, publicado em 1857.

1852 – Morand estabeleceu uma nova galeria na Chatham Street, 65, em Nova York.

1857 -1858 – Trabalhava como editor na Broadway, 379, em Nova York.

1859 – Comprou a galeria de Alexander Becker, situada na Broadway, 411, em Nova York.

1860 – Segundo catálogo de Nova York, Morand trabalhava como fotógrafo na Broadway, 379. Outras fontes indicam que nesse ano ainda possuía a galeria na Broadway, 411.

1860 – 1862 – Augustus e George H. Morand estabeleceram uma galeria no Brooklyn.

1863 – A filha de Morand, Mary, faleceu de doença cardíaca aos 17 anos. Na época, Morand residia na Washington Street, nº. 210, no Brooklyn (The New York Times, 24 de agosto de 1863).

1896 – Falecimento de Morand, na Inglaterra.

 

 

Andrea C.T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Link para o artigo Pharoux, o primeiro hotel de luxo do Brasil, publicado na Brasiliana Iconográfica, em 15 de junho de 2022.

Este artigo foi ampliado em 20 de junho de 2022.

 

Outros artigos publicados na Brasiliana Fotográfica em torno da obra de Revert Henrique Klumb:

Revert Henrique Klumb, o fotógrafo da família real do Brasil, publicado em 31 de agosto de 2016

As versões diurna e noturna na fotografia de Revert Henrique Klumb, 28 de dezembro de 2018

Petrópolis, a Cidade Imperial, pelos fotógrafos Marc Ferrez e Revert Henrique Klumb, 16 de março de 2020

“Doze horas em diligência”, o primeiro guia turístico do Brasil, por Revert Henrique Klumb (c. 1826 – c. 1886), 8 de maio de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” II – A rua do Imperador em Petrópolis por Klumb, Leuzinger e Stahl, 16 de junho de 2020.

 

Outros artigos publicados na Brasiliana Fotográfica sobre hotéis

Hotéis do século XIX e do início do século XX no Brasil, publicado em 5 de novembro de 2015 , de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica.

O Hotel Glória – antes e depois, publicado em 21 de dezembro de 2017, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica.

Copacabana Palace, símbolo do glamour carioca, publicado em 13 de agosto de 2020, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXIV – O luxuoso Palace Hotel, na Avenida Rio Branco, uma referência da vanguarda artística no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 4 de julho de 2023.

O centenário do Copacabana Palace, quintessência do “glamour” carioca, e seu criador, o arquiteto francês Joseph Gire, publicado em 13 de agosto de 2023, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica.

 

 

Fontes:

AULER, Guilherme. O Paisagista e Retratista Buvelot, Jornal do Brasil, 2 Junho de 1957, Rio de Janeiro.

BERNIER, Celeste-Marie; STAUFFER, John; TRODD, Zoe. Picturing Frederick Douglass: An Illustrated Biography of the Nineteenth Century`s Most Phothographed American. New York: W W Norton & Company, Inc, 2015.

GERSON, Brasil. História das Ruas do Rio. Rio de Janeiro: Bem-Te-Vi, 2013.

COLMAN, Anne. Buvelot, the Migrant Artist. Interpreting New Worlds in Brazil and Australia. Austrália: La Trobe Journal, 2005.

CRULS, Gastão. Aparência do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Editora José Olympio, 1965.

ERMAKOFF, George. Rio de Janeiro 1840 – 1900 – Uma crônica fotográfica. Rio de Janeiro: G. Ermakoff Casa Editorial, 2006.

FERREZ, Gilberto. A fotografia no Brasil: 1840- 1900. Prefácio Pedro Karp Vasquez. 2. ed. Rio de Janeiro: Funarte, 1985.

FERREZ, Gilberto. Origens e expansão da fotografia no Brasil Século XIX. Rio de Janeiro: Funarte, 1980.

FERREZ, Gilberto; NAEF, Weston J. Pioneer photographers of Brazil : 1840 – 1920. New York: The Center for Inter-American Relations, 1976.

FOREL, M. F. Louis Buvelot, Peintre Vaudois. Gazette de Lausanne, 31 de março de 1906.

GERSON, Brasil. História das Ruas do Rio. Rio de Janeiro: Bem-Te-Vi, 2013.

GRAY, J. R. Louis Buvelot His Life and Work. Tese de mestrado. Universidade de Melbourne, 1968.

GURAN, Milton (organizador), TURAZZI, Maria Inez; VASQUEZ, Pedro Karp. Os daguerreótipos de Louis Comte no Rio de Janeiro – As primeiras fotografias feitas na América do Sul. Rio de Janeiro: Luz Tropical, 2016.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

ibiblio- The Public’s Library and Digital Archive

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KIDDER, D. P. Augustus Morand the Daguerrean Art. Nova York: Photographic Art-Journal, abril de 1851

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002.

KOSSOY, Boris. O mistério dos daguerreótipos do Largo do Paço in Revista da USP, n. 120, janeiro-março, 2019, pp.127-152.

KOSSOY, Boris. Origens e expansão da fotografia no Brasil, século XIX. Rio de Janeiro: Funarte, 1980.

LAGO, Pedro Corrêa do. Brasiliana Itaú: uma grande coleção dedicada ao Brasil / curadoria da coleção: Pedro Corrêa do Lago, Ruy Souza e Silva. Rio de Janeiro: Capivara, 2009.

MELO JUNIOR, Donato. Buvelot no Brasil i (apontamentos 1963) e Buvelot no Brasil ii (novos apontamentos à guisa de adendo 1986). Boletim do Museu Nacional de Belas Artes. Rio de Janeiro, 5 (13–5): 9–15, jan.-dez. 1986. il.

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Pharoux, o primeiro hotel de luxo do Brasil, Brasiliana Iconográfica, 15 de junho de 2022.

SANTOS, Fabíola Martins. Geografia das Redes Hoteleiras Mundo, Brasil e Santa Catarina. Tese de Doutorado da Universidade Federal de Santa Catarina – Centro de Filosofia e Ciências Humanas – Programa de Pós-Graduação em Geografia.

TURAZZI, Maria Inez. Poses e trejeitos: a fotografia e as exposições na era do espetáculo: 1839/1889. Prefácio Pedro Karp Vasquez. Rio de Janeiro: Funarte. Rocco, 1995. 309 p., il. p&b. (Coleção Luz & Reflexão, 4). ISBN 85-85781-08-4.

VASQUEZ, Pedro Karp. O Brasil na fotografia oitocentista. São Paulo: Metalivros, 2003.

VASQUEZ, Pedro Karp. Dom Pedro II e a fotografia no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Roberto Marinho, 1985.

Site Arqueologia Histórica no Rio de Janeiro

Site Diário do Rio

Site Enciclopédia Itaú Cultural

Site História do Rio Para Todos

Site The Williams Family Tree

Série “O Rio de Janeiro desaparecido” XIV – O Conselho Municipal do Rio de Janeiro

No 14º artigo da Série O Rio de Janeiro desaparecido, o tema é o Conselho Municipal do Rio de Janeiro, fotografado pelo alagoano Augusto Malta, em torno de 1904, em seus primeiros anos como fotógrafo oficial da Prefeitura do Rio de Janeiro, cargo que ocupou de 1903 a 1936. Localizava-se na Praça Ferreira Viana, no antigo Largo da Mãe do Bispo, hoje Praça Floriano, no centro da cidade.

 

 

O prédio, cuja pedra fundamental foi lançada, em 22 de maio de 1871, abrigou o Colégio São José e, a partir de 1895, o Conselho Municipal do Rio de Janeiro. Durante a reforma urbana empreendida pelo prefeito Francisco Pereira Passos (1836 – 1913), entre 1903 e 1906,  parte da imprensa, homens públicos e especialistas em saúde e tecnologia pressionaram o governo no sentido de condenar a arquitetura de citação portuguesa ou que viesse do período colonial. Mas o prefeito decidiu manter o prédio do Conselho Municipal, que tinha esse perfil, e, a seu lado, erguer o Teatro Municipal do Rio de Janeiro, inaugurado em 14 de julho de 1909. Segundo André Nunes de Azevedo, Pereira Passos propunha, dessa forma, um futuro que encarava o passado sem temor, sem desejo de superá-lo, de vencê-lo, mas como parte dele.

Em 1918, o edifício foi demolido para dar lugar ao prédio atual, denominado Palácio Pedro Ernesto, inaugurado em 1923, onde funciona a Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro. Foi projetado por Heitor de Mello (1875 – 1920), porém ele faleceu em 14 de setembro de 1920. Na época, seu sócio era o franco-suíço Francique Cuchet (18? – 19?). Com sua morte, o arquiteto cearense Archimedes Memória (1893 – 1960) e Cuchet estabeleceram contrato de sociedade em partes iguais do “Escriptorio Technico Heitor de Mello – A. Memória & F. Couchet, architectos. Foram  eles que deram continuidade ao projeto do Palácio Pedro Ernesto, iniciado por Heitor de Mello (Vida Doméstica, 21 de julho de 1923).

 

 

Na edição de O Cruzeiro, de 9 de setembro de 1950, foi publicada a matéria Biografia da cidade – Do Convento da Ajuda às luzes da Cinelândia , com texto de Raymundo Athayde e fotos de Augusto Malta (1864 – 1957) e do importante fotojornalista Luciano Carneiro (1926 – 1959). Contava a história da Cinelândia e as fotos antigas que ilustraram a reportagem foram produzidas por Malta, em 1911. Uma delas, abaixo reproduzida, é um registro do Conselho Municipal. Lembramos que o Convento da Ajuda foi o tema do 13º artigo da série O Rio de Janeiro desaparecido, publicado em 19 de outubro de 2021.

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

AZEVEDO, André Nunes de. A grande reforma urbana do Rio de Janeiro: Rodrigues Alves, Pereira Passos e as ideias de civilização e progresso. Rio de Janeiro ; Ed PUC, 2016.

Diário do Rio

Dunlop, Charles Julius. Legislativo Municipal in Rio Antigo. 3ª Tiragem ed. Rio de Janeiro: Editora Rio Antigo, 1963. (Composto e impresso na Gráfica Laemmert, Ltda.).

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

Wikilivros

 

Links para os outros artigos da Série O Rio de Janeiro desaparecido

 

Série O Rio de Janeiro desaparecido I Salas de cinema do Rio de Janeiro do início do século XXde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 26 de fevereiro de 2016.

Série O Rio de Janeiro desaparecido II – A Exposição Nacional de 1908 na Coleção Família Passos, de autoria de Carla Costa, historiadora do Museu da República, publicado na Brasiliana Fotográfica, em 5 de abril de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido III – O Palácio Monroe, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica, em 9 de novembro de 2016.

Série O Rio de Janeiro desaparecido IV - A via elevada da Perimetral, de autoria da historiadora Beatriz Kushnir, publicado na Brasiliana Fotográfica em 23 de junho de 2017.

Série O Rio de Janeiro desaparecido V – O quiosque Chopp Berrante no Passeio Público, Ferrez, Malta e Charles Dunlopde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portalpublicado na Brasiliana Fotográfica em 20 de julho de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VI – O primeiro Palácio da Prefeitura Municipal do Rio de Janeirode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de setembro de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VII – O Morro de Santo Antônio na Casa de Oswaldo Cruzde autoria de historiador Ricardo Augusto dos Santos da Casa de Oswaldo Cruzpublicado na Brasiliana Fotográfica em 5 de fevereiro de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VIII – A demolição do Morro do Castelode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portalpublicado na Brasiliana Fotográfica em 30 de abril de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido IX – Estrada de Ferro Central do Brasil: estação e trilhosde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de novembro de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido X – No Dia dos Namorados, um pouco da história do Pavilhão Mourisco em Botafogode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de junho de 2020.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XI – A Estrada de Ferro do Corcovado e o mirante Chapéu de Sol, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 22 de julho de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XII – o Teatro Lírico (Theatro Lyrico), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 15 de setembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIII – O Convento da Ajuda, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de outubro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XV – A Praia de Santa Luzia no primeiro dia do verão, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 21 de dezembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVI – O prédio da Academia Imperial de Belas Artes, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, publicado na Brasiliana Fotográfica em 13 de janeiro de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVII – Igreja São Pedro dos Clérigos, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 18 de março de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVIII – A Praça Onze, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 20 de abril de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIX – A Igrejinha de Copacabana, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 23 de junho de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XX – O Pavilhão dos Estados, futuro prédio do Ministério da Agricultura, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 26 de julho de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXI – O Chafariz do Largo da Carioca, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 19 de setembro de 2022. 

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXII – A Cadeia Velha que deu lugar ao Palácio Tiradentes, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 11 de abril de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXIII e Avenidas e ruas do Brasil XVII - A Praia e a Rua do Russel, na Glória, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 15 de maio de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXIV – O luxuoso Palace Hotel, na Avenida Rio Branco, uma referência da vanguarda artística no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 4 de julho de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXV – O Theatro Phenix, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 5 de setembro de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXVI – Conclusão do arrasamento do Morro do Castelo por Augusto Malta, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 14 de dezembro de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXVII e Série Os arquitetos do Rio de Janeiro V – O Jockey Club e o Derby Club, na Avenida Rio Branco e o arquiteto Heitor de Mello (1875 – 1920), de autoria de Andrea c. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, em 15 de janeiro de 2024

Série “Avenidas e ruas do Brasil” X – A Rua da Ajuda, no Rio de Janeiro, por Augusto Malta

Série “Avenidas e ruas do Brasil” X – A Rua da Ajuda, no Rio de Janeiro, por Augusto Malta

No 10º artigo da Série “Avenidas e ruas do Brasil”, o tema é a Rua da Ajuda, uma das mais antigas do Rio de Janeiro, registrada pelo alagoano Augusto Malta (1864 – 1957), fotógrafo oficial da Prefeitura do Rio de Janeiro, de 1903 a 1936. Esse cargo foi criado para ele por Francisco Pereira Passos (1836 – 1913), que o contratou meses após ter sido nomeado prefeito do então Distrito Federal, o Rio de Janeiro, pelo presidente Rodrigues Alves (1848 – 1919) em 30 de dezembro de 1902. O objetivo era o registro das obras e dos imóveis a serem desapropriados para posteriores pagamentos de indenizações. Malta passou a documentar, então, a radical mudança urbanística promovida pelo prefeito. Para realizá-la, várias demolições aconteceram e ficaram conhecidas popularmente como a política do “bota-abaixo”, que contribuíram decisivamente para o surgimento do Rio de Janeiro da Belle Époque.

 

Acessando o link para as fotografias da rua da Ajuda disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

A Rua da Ajuda, onde se encontravam o Conselho Municipal e o  Convento da Ajuda, que já foi tema de um artigo publicado na Brasiliana Fotográfica, foi drasticamente encurtada quando a Avenida Central, atual Avenida Rio Branco, foi construída e inaugurada, em 1904. Da rua restou apenas um pequeno trecho denominado Rua Chile, localizado entre a Rua São José e a Avenida Rio Branco.

 

 

Recebeu, por volta de 1630, o nome de Caminho de Nossa Senhora da Ajuda por começar em frente à Capela de Nossa Senhora da Ajuda. Mas, antes disso, em fins do século XVI, no caminho que vai para a Lagoa Grande ou do Boqueirão, levantou-se a Ermida de Nossa Senhora da Conceição da Ajuda, fato que comprova a antiguidade da Rua da Ajuda, aberta pelos primeiros povoadores do Rio de Janeiro.

“A Rua da Ajuda é quase tão antiga como as de São José e da Assembleia. Já encontramos escrituras de venda de terrenos e prédios desde 1612. Sua abertura explica-se pela comunicação, ao lado do Morro do Castelo e da rua São José, com a Ermida da Ajuda – onde está o Convento da Ajuda, demolido há poucos meses para construção de um grande hotel”.

Felisberto Freire em História da Cidade do Rio de Janeiro (1912)

 

 

Em um trecho do conto Pai Contra Mãe, publicado na antologia de contos Relíquias de Casa Velha (1906), o escritor Machado de Assis (1839 – 1908), em cuja obra a paisagem urbana do Rio de Janeiro é bastante presente, a Rua da Ajuda foi três vezes citada.

 

 

“…Saiu de manhã a ver e indagar pela Rua e Largo da Carioca, Rua do Parto e da Ajuda, onde ela parecia andar, segundo o anúncio. Não a achou; apenas um farmacêutico da Rua da Ajuda se lembrava de ter vendido uma onça de qualquer droga, três dias antes, à pessoa que tinha os sinais indicados. Cândido Neves parecia falar como dono da escrava, e agradeceu cortesmente a notícia. Não foi mais feliz com outros fugidos de gratificação incerta ou barata”.

 

 

“…Mas não sendo a rua infinita ou sequer longa, viria a acabá-la; foi então que lhe ocorreu entrar por um dos becos que ligavam aquela à Rua da Ajuda. Chegou ao fim do beco e, indo a dobrar à direita, na direção do Largo da Ajuda, viu do lado oposto um vulto de mulher; era a mulata fugida. Não dou aqui a comoção de Cândido Neves por não podê-lo fazer com a intensidade real. Um adjetivo basta; digamos enorme. Descendo a mulher, desceu ele também; a poucos passos estava a farmácia onde obtivera a informação, que referi acima. Entrou, achou o farmacêutico, pediu-lhe a fineza de guardar a criança por um instante; viria buscá-la sem falta”.

 

 

“…O fruto de algum tempo entrou sem vida neste mundo, entre os gemidos da mãe e os gestos de desespero do dono. Cândido Neves viu todo esse espetáculo. Não sabia que horas eram. Quaisquer que fossem, urgia correr à Rua da Ajuda, e foi o que ele fez sem querer conhecer as consequências do desastre…”

 

 

Andrea C.T.Wanderley

Editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

FREIRE, Felisberto. História da Cidade do Rio de Janeiro: 1564 – 1700. Rio de Janeiro, RJ; São Paulo, SP: Tipografia da Revista dos Tribunais, 1912

GERSON, Brasil. História das Ruas do Rio. Rio de Janeiro: Bem-Te-Vi, 2013.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

Rua da Ajuda. Revista do Arquivo do Distrito Federal, Volume I, pág. 356, 1950

Site O Rio de Janeiro Aqui

 

Links para as outras publicações da série “Avenidas e ruas do Brasil”

 Série “Avenidas e ruas do Brasil” I – Avenida Central, atual Rio Branco, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 7 de setembro de 2016

Série “Avenidas e ruas do Brasil” II – A Rua do Imperador em Petrópolis por Klumb, Leuzinger e Stahl, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 26 de junho de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” III – A Rua do Bom Jesus, no Recife, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 6 de agosto de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IV – A Rua 25 de Março, em São Paulo, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 1º de setembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” V – A Rua Direita, a Rua das Mercês e a Rua Macau do Meio, em Diamantina, Minas Gerais, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 22 de outubro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” VI  – Rua Augusto Ribas e outras, em Ponta Grossa, no Paraná, pelo fotógrafo Luiz Bianchi, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 16 de novembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” VII – A Avenida Atlântica, em Copacabana, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 23 de dezembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil VIII – A Rua da Carioca por Cássio Loredano, de autoria de Cássio Loredano, publicada em 20 de janeiro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IX – Ruas e panoramas do bairro do Catete, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 14 de julho de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XI – A Rua da Esperança, em São Paulo, por Vincenzo Pastore, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 14 de dezembro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XII – A Avenida Paulista, o coração pulsante da metrópole, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 21 de janeiro de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XIII – A Rua Buenos Aires no Centro do Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 19 de julho de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XIV – A Avenida Presidente Vargas,, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 31 de agosto de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XV – Misericórdia: rua, largo e ladeira, no Rio de Janeiro, por Cássio Loredano, de autoria de Cássio Loredano, publicada em 8 de dezembro de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVI – “Alguma coisa acontece no meu coração”, a Avenida São João nos 469 anos de São Paulo, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 25 de janeiro de 2023

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVII  e série “O Rio de Janeiro desaparecido” XXIII – A Praia e a Rua do Russel, na Glória, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 15 de maio de 2023

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVIII – Avenida Beira-Mar, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 22 de janeiro de 2024

 

 

Série “O Rio de Janeiro desaparecido” XIII – O Convento da Ajuda

No 13º artigo da Série O Rio de Janeiro desaparecido, a Brasiliana Fotográfica traz para seus leitores fotografias do Convento da Ajuda produzidas pela Casa Leuzinger, do fotógrafo e editor suíço Georges Leuzinger (1813 – 1892), e por Augusto Malta (1864 – 1957). Leuzinger foi um dos mais importantes fotógrafos e difusores para o mundo da fotografia sobre o Brasil no século XIX, além de pioneiro das artes gráficas no país. Grande empreendedor, montou um sofisticado e diversificado complexo editorial, a Casa Leuzinger, que se tornaria um polo de publicações e de produções fotográficas, alçando o Brasil ao mesmo nível da produção europeia do setor. Malta foi o fotógrafo oficial da Prefeitura do Rio de Janeiro entre 1903 e 1936 e sua relação com a cidade e sua paisagem, construída, inicialmente, por seus deslocamentos com sua bicicleta, se expandiria para a formação de seu significativo legado iconográfico. Foi o mais  importante cronista fotográfico do Rio de Janeiro das primeiras décadas do século XX.

 

O Convento da Ajuda, como ficou conhecido o Convento de Nossa Senhora da Conceição, que ocupava uma grande parte da área onde atualmente fica a região da Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro, foi o primeiro mosteiro feminino da cidade e o terceiro do Brasil. Ficava na rua da Ajuda, uma das importantes vias do Rio Antigo. Teve sua origem, em torno de 1678, quando dona Cecília Barbalho, suas três filhas solteiras e mais duas moças recolheram-se em uma pequena casa, no Campo da Ajuda, construída a partir de uma subscrição pública. Dona Cecília era filha do ex-governador Luis Barbalho Bezerra (1584 – 1644), herói da guerra contra os holandeses no nordeste; e irmã de Jerônimo Barbalho (?-1661), condenado à forca devido a sua atuação na Revolta da Cachaça, contra o governador Salvador Correia de Sá e Benevides (1594 ou 1602 – 1688), em 1660.

Foi fundado por monjas clarissas vindas do Convento de Santa Clara do Desterro da Bahia e construído pelo brigadeiro-engenheiro português José Fernandes Pinto Alpoim (1700 – 1765), sua inauguração, em 30 de março de 1750, aconteceu com grandes festejos populares e foi assistida pelo então governador Antônio Gomes Freire de Andrade(1685 – 1763) , o Conde de Bobadela.

 

 

Acessando o link para as fotografias do Convento da Ajuda disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

Já nos primórdios do século XX, havia propostas de construção de um hotel na área do convento. Os engenheiros Morales de los Rios (1858 – 1928) e João Pedreira do Couto Ferraz Junior (1826 – 1913) e Durish & Cia assinaram um contrato comprometendo-se a construir hoteis em algumas áreas da cidade, incluindo o terreno onde se localizava o Convento da Ajuda, o que não se realizou (O Paiz, 1º de abril de 1910, sexta colunaO Paiz, 18 de novembro de 1910, quinta coluna).

O convento foi adquirido pela empresa Brasil Railway Company, que  pertencia ao Sindicato Farquhar, holding liderada pelo capitalista norte-americano Percival Farquhar (1865 – 1953), o que causou polêmica. O empresário era um dos administradores da Rio de Janeiro Light and Power Company (O Paiz, 9 de julho de 1911, primeira coluna; Correio da Manhã, 28 de outubro de 1911, terceira coluna). E assim o casarão, que havia resistido ao bota-abaixo do prefeito Pereira Passos (1836 – 1913), na primeira década do século XX, foi demolido, entre fins de 1911 e 1912 (Correio da Manhã, 12 de janeiro de 1912, quinta coluna).

 

 

Na mesma época, foi construido um novo Convento de Nossa Senhora da Ajuda, em Vila Isabel, para abrigar as freiras, que deixaram o convento durante uma madrugada do mês de outubro de 1911 (O Paiz, 28 de outubro de 1911, primeira coluna). Ficou aberto à visitação pública durante uma semana.

 

 

Foi visitado pelo presidente da República, Hermes da Fonseca (1855 – 1923), recebido pela Irmã Paula (O Paiz, 27 de outubro de 1911, penúltima coluna; Correio da Manhã, 28 de outubro de 1911O Paiz, 5 de novembro de 1911, quarta coluna). O então presidente da Light, Alexander Mackenzie (1860 – 1943), prorrogou o prazo da visitação ao prédio até 9 de novembro, quando os restos mortais de pessoas da família real foram trasladados para o Convento de Santo Antônio, dentre eles os de dona Leopoldina (1797 – 1826), primeira mulher de dom Pedro I (1798 – 1834) (O Paiz, 7 de novembro de 1911, quarta coluna; Correio da Manhã, 10 de novembro de 1911).

 

 

A área ficou abandonada por cerca de nove anos e, eventualmente era ocupada com a realização de eventos (Revista da Semana, 15 de maio de 1915). Entre 1916 e 1918, houve no terreno exposições de pomicultura, de horticultura, de cachorros, de avicultura, além de exercícios de tiro e a realização de uma feira promovida pelo Ministério da Fazenda (Revista da Semana, 15 de julho e 12 de agosto de 1916; 4 de agosto de 1917; 12 de janeiro e 14 de dezembro de 1918).

 

 

 

Na década de 20, o espanhol Francisco Serrador (1872 – 1941), que em 1908 era o dono do Bijou-Theatre, em São Paulo, sucursal da firma Marc Ferrez & Filhos e que foi o primeiro presidente da União dos Importadores Cinematográficos no Brasil, urbanizou a área, onde foram construídos prédios, hotéis e muitos cinemas, dando origem à Cinelândia. Pouco antes, em 1921, o prefeito Carlos Sampaio (1861 – 1930) havia começado o desmonte do Morro do Castelo e havia acontecido na cidade a Exposição do Centenário da Independência do Brasil, em 1922 (O Commercio de São Paulo, 15 de fevereiro de 1908, na primeira coluna).O Imparcial, 8 de dezembro de 1919, na segunda coluna; O Cruzeiro, 9 de setembro de 1950).

A fotografia abaixo mostra a Fonte ou Chafariz  das Saracuras, colocado no pátio que ficava dentro do Convento da Ajuda, em 1795. Em 1911, foi posto pelo cardeal Arcoverde (1850 – 1930) à disposição do então prefeito da cidade, Bento Ribeiro (1856 – 1921) (O Paiz, 25 de outubro de 1911, penúltima coluna). Encontra-se na Praça General Osório, antiga praça Ferreira Vianna, em Ipanema. É uma obra atribuída a Valentim da Fonseca e Silva, o Mestre Valentim (1845 – 1913), um dos principais artistas do Brasil Colônia, e havia sido doado às freiras pelo vice-rei José Luis de Castro (1744 – 1819, o Conde de Resende .

 

 

O Chafariz das Saracunas, em sua localizção atual, na Praça General Osório

O Chafariz das Saracunas, em sua localizção atual, na Praça General Osório

 

Na edição de O Cruzeiro, de 9 de setembro de 1950foi publicada a matéria Biografia da cidade – Do Convento da Ajuda às luzes da Cinelândia , com texto de Raymundo Athayde e fotos de Augusto Malta (1864 – 1957) e do importante fotojornalista Luciano Carneiro (1926 – 1959). Contava a história da Cinelândia e as fotos antigas que ilustraram a reportagem foram produzidas por Malta, em 1911. São imagens do Convento da Ajuda, de sua demolição e do terreno que ocupava após a demolição; e do edifício do antigo Conselho Municipal. As fotografias abaixo estavam entre as que foram publicadas na reportagem.

 

 

 

 

Em um trecho de seu livro Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), Machado de Assis (1839 – 1908) referiu-se ao Convento da Ajuda ao descrever o jantar em comemoração da primeira queda de Napoleão promovido pela família Cubas. A doçaria, uma herança da gastronomia portuguesa, fazia sucesso na mesa dos cariocas, onde fios d’ovos, toucinhos do céu, pés-de-moleque e baba-de-moça, entre outros, eram muito apreciados. O Convento da Ajuda destacava-se pela excepcional qualidade dos doces que produzia.

“Não se contentou a minha família em ter um quinhão anônimo no regozijo público; entendeu oportuno e indispensável celebrar a destituição do imperador com um jantar, e tal jantar que o ruído das aclamações chegasse aos ouvidos de sua Alteza, ou quando menos, de seus ministros. Dito e feito. Veio abaixo toda a velha prataria, herdada do meu avô Luis Cubas; vieram as toalhas de Flandres, as grandes jarras da Índia; matou-se um capado; encomendaram-se às madres de Ajuda as compotas e marmeladas; lavaram-se, areavam-se, poliram-se as salas, escadas, castiçais, arandelas, as vastas mangas de vidro, todos os aparelhos do luxo clássico”.

 

Link para o artigo Série “Avenidas e ruas do Brasil” XI – A rua da Ajuda, no Rio de Janeiro, por Augusto Malta, publicado em 9 de novembro de 2021 na Brasiliana Fotográfica.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

GERSON, Brasil. História das Ruas do Rio. Rio de Janeiro: Bem-Te-Vi, 2013.

CRULS, Gastão. Aparência do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Editora José Olympio, 1965.

DUNLOP, Charles Julius. Convento da Ajuda. Rio Antigo. Rio de Janeiro: Editora Rio Antigo, 1963. (Composto e impresso na Gráfica Laemmert, Ltda.).

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

Site CPDOC

Site Memória da Eletricidade

Site Rio de Janeiro aqui

 

Links para os outros artigos da Série O Rio de Janeiro desaparecido

 

Série O Rio de Janeiro desaparecido I Salas de cinema do Rio de Janeiro do início do século XXde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 26 de fevereiro de 2016.

Série O Rio de Janeiro desaparecido II – A Exposição Nacional de 1908 na Coleção Família Passos, de autoria de Carla Costa, historiadora do Museu da República, publicado na Brasiliana Fotográfica, em 5 de abril de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido III – O Palácio Monroe, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica, em 9 de novembro de 2016.

Série O Rio de Janeiro desaparecido IV - A via elevada da Perimetral, de autoria da historiadora Beatriz Kushnir, publicado na Brasiliana Fotográfica em 23 de junho de 2017.

Série O Rio de Janeiro desaparecido V – O quiosque Chopp Berrante no Passeio Público, Ferrez, Malta e Charles Dunlopde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portalpublicado na Brasiliana Fotográfica em 20 de julho de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VI – O primeiro Palácio da Prefeitura Municipal do Rio de Janeirode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de setembro de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VII – O Morro de Santo Antônio na Casa de Oswaldo Cruzde autoria de historiador Ricardo Augusto dos Santos da Casa de Oswaldo Cruzpublicado na Brasiliana Fotográfica em 5 de fevereiro de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VIII – A demolição do Morro do Castelode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portalpublicado na Brasiliana Fotográfica em 30 de abril de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido IX – Estrada de Ferro Central do Brasil: estação e trilhosde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de novembro de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido X – No Dia dos Namorados, um pouco da história do Pavilhão Mourisco em Botafogode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de junho de 2020.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XI – A Estrada de Ferro do Corcovado e o mirante Chapéu de Sol, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 22 de julho de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XII – o Teatro Lírico (Theatro Lyrico), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 15 de setembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIV – O Conselho Municipal, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 19 de novembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XV – A Praia de Santa Luzia no primeiro dia do verão, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 21 de dezembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVI – O prédio da Academia Imperial de Belas Artes, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, publicado na Brasiliana Fotográfica em 13 de janeiro de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVII – Igreja São Pedro dos Clérigos, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 18 de março de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVIII – A Praça Onze, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 20 de abril de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIX – A Igrejinha de Copacabana, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 23 de junho de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XX – O Pavilhão dos Estados, futuro prédio do Ministério da Agricultura, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 26 de julho de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXI – O Chafariz do Largo da Carioca, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 19 de setembro de 2022. 

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXII – A Cadeia Velha que deu lugar ao Palácio Tiradentes, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 11 de abril de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXIII e Avenidas e ruas do Brasil XVII A Praia e a Rua do Russel, na Glória, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 15 de maio de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXIV – O luxuoso Palace Hotel, na Avenida Rio Branco, uma referência da vanguarda artística no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 4 de julho de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXV – O Theatro Phenix, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 5 de setembro de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXVI – Conclusão do arrasamento do Morro do Castelo por Augusto Malta, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 14 de dezembro de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXVII e Série Os arquitetos do Rio de Janeiro V – O Jockey Club e o Derby Club, na Avenida Rio Branco e o arquiteto Heitor de Mello (1875 – 1920), de autoria de Andrea c. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, em 15 de janeiro de 2024