Série “O Rio de Janeiro desaparecido” XXIV – O luxuoso Palace Hotel, na Avenida Rio Branco, uma referência da vanguarda artística no Rio de Janeiro

Com imagens produzidas por Antônio Caetano da Costa Ribeiro (18? – 19?), Augusto Malta (1864 – 1957), Guilherme Santos (1871 – 1966) e por um fotógrafo ainda não identificado, a Brasiliana Fotográfica conta um pouco da história do luxuoso Palace Hotel, tema do 24º artigo da Série O Rio de Janeiro desaparecido. Diversas exposições de fotografia e de pintura foram realizadas no Palace, tornando-o um pólo da vanguarda artística do Brasil, tema da poesia Rondó do Palace Hotel, de Manoel Bandeira.  O escritório Januzzi e Irmão foi responsável por seu projeto e também pelo do Teatro Phenix – aprovado em 14 de novembro de 1906 -, dois empreendimentos da família Guinle. O Teatro Phenix, contiguo ao Palace, será tema de um futuro artigo do portal.

 

 

Convidamos nossos leitores a explorar as fotografias com a ferramenta zoom e, a partir daí, fazer um passeio pelo Rio de Janeiro nas primeiras décadas do século XX, observando mais de perto a paisagem urbana carioca e seus personagens.

Acessando o link para as fotografias do Palace Hotel, na avenida Rio Branco, disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Um pouco da história do Palace Hotel

 

 

Localizado na Avenida Central , número 185, esquina com a rua Almirante Barroso, o Palace Hotel ficava na espinha dorsal do mundo das compras e do lazer dos elegantes, dos negócios e da cultura da então capital federal. Ficava no ponto mais nobre da avenida, onde também estavam situados os prédios do Jockey Club, projeto do arquiteto Heitor de Mello (1875 – 1920), inaugurado em 1913 e demolido na década de 1970; e do Clube Naval, projetado pelo italiano Tommaso Bezzi (1844 – 1915), executado por Heitor de Mello, inaugurado em 1910, e tombado em 1987 pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural.

A linha central da avenida havia sido inaugurada pelo presidente Rodrigues Alves (1848 – 1919), em 7 de setembro de 1904 (O Paiz, 8 de setembro de 1904, na sexta coluna, sob o título “Avenida Central” e Gazeta de Notícias, de 8 de setembro de 1904, na última coluna). No ano seguinte, 1905, sob um temporal, a avenida foi aberta oficialmente, em 15 de novembro (O Paiz, 16 de novembro de 1905, na quinta coluna, sob o título “15 de Novembro”).

 

 

A abertura da avenida foi uma das principais marcas da reforma urbana realizada por Francisco Pereira Passos (1836 – 1913), o bota-abaixo, entre 1902 e 1906, período em que foi prefeito do Rio de Janeiro. Essas transformações foram definidas por Alberto Figueiredo Pimentel (1869-1914), autor da seção “Binóculo”, da Gazeta de Notícias, com a máxima “O Rio civiliza-se”, que se tornou o slogan da reforma urbana carioca, que tornou o Rio uma cidade cosmopolita, moderna. A Avenida Central inaugurou um novo eixo da cidade em direção ao mar, a orla foi embelezada com a Avenida Beira-Mar, aberta em 1906, e a cidade, antes portuária, incorporou à sua vida urbana as praias de CopacabanaIpanema e Leblon.

 

 

O nome da Avenida Central foi mudado, por decreto, em 15 de fevereiro de 1912, para Avenida Rio Branco, uma homenagem ao diplomata e ministro das Relações Exteriores do Brasil, o barão de Rio Branco ( 1845 – 1912), que havia falecido cinco dias antes (O Paiz, 16 de fevereiro de 1912, sob o título “Barão do Rio Branco”).

No Álbum da Avenida Central, lançado em 1907 pelo fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), havia desenhos das fachadas do Palace, que ficava na avenida, e do Teatro Phenix, contiguo ao hotel, na Almirante Barroso, ainda Barão de São Gonçalo. Tanto o hotel como o teatro chamavam-se Avenida e fazian m parte do prédio 1885-187-189-191. Nenhum dos dois estava construído quando o álbum foi produzido, portanto não puderam ser fotografados. Quando foram construídos passaram a chamar-se Palace Hotel e Theatro Phenix. Esse álbum é um importante registro da reforma da principal via da então capital federal, onde ele contrapôs reproduções das plantas às fotografias das fachadas de cada edifício documentado. Esse tipo de fotografia foi fundamental para a construção e para a difusão de uma nova imagem do Rio de Janeiro, uma imagem associada aos ideais de civilização e progresso.

 

 

 

O Palace Hotel pertencia a Eduardo Palassin Guinle (1846 – 1912), patriarca de sua influente e abastada família. As obras do hotel foram concluídas em torno de 1915 e ele foi inaugurado, em julho de 1919. Foi o ponto de encontro da elite carioca, de celebridades nacionais e internacionais, além de ter sido o palco de diversos e importantes eventos culturais e mundanos. Na época, o Rio de Janeiro era tanto pólo de atração como modelo para as capitais estaduais.

 

 

Foi o primeiro empreendimento da família Guinle gerenciado pelo empresário Octávio Guinle (1886 – 1968), filho de Eduardo. O negócio contava com a sociedade do barão de Saavedra (1890 – 1956) e de Francisco Castro e Silva (18? – 19? que juntos comandavam a Companhia Hotéis Palace, fundada em 1919, mesmo ano da inauguração do Palace. Marcou o início de uma nova fase da indústria hoteleira no Rio de Janeiro. Eles também construíram o Copacabana Palace Hotel, quintessência do glamour carioca, inaugurado em 13 de agosto de 1923.

 

 

Pouco depois da inauguração do Palace Hotel foi realizado um grande banquete em um dos seus salões para autoridades que estavam no Rio de Janeiro para a posse do presidente Epitácio Pessoa (1865 – 1942) (O Paiz11 de julho de 1919, primeira coluna20 de julho de 1919, segunda colunaCorreio da Manhã, 30 de julho de 1919, antepenúltima coluna). Antes de se instalarem no Palácio do Catete, muitos  presidentes da República eleitos se hospedavam lá até o dia da posse. Washington Luis (1896 – 1957) esteve, em 1926, no quarto 309, e para o mesmo quarto voltou depois de seu exílio, 15 anos depois.

O Palace possuía 8 andares, servidos por seis elevadores, com 250 quartos de dormir. Sua imagem está mais próxima dos modelos dos palácios urbanos italianos, do barroco ou mesmo de exemplos maneiristas, inspirados na matriz renascentista de Florença. Sofreu uma intervenção do arquiteto francês Joseph Gire (1872 – 1933), provavelmente durante a década de 20. Gire foi o responsável pelos projetos dos hoteis Gloria (1922) Copacabana Palace (1923), dentre vários outros emprendimentos no Rio de Janeiro.

 

 

“Todos os quartos tem água quente e fria e o estylo do mobiliário é de muito bom gosto. A Empresa fez ligar para todos os quartos 10 linhas principaes de telephones. A sala de jantar, situada no sétimo andar, esta ricamente decorada, podendo conter 500 pessoas. As suas grandes janellas de sacada conduzem a grandes terraços com vista para a cidade e Bahia, tocando durante todas as refeições uma orchestra de primeira classe. O estabelecimento é dirigido segundo systema europeu, e tem serviço de cozinha irreprehnsível. O hotel tem ainda espaçosos salões de leitura, de visitas, recepção, baile, sala de concertos, bibliotheca, barbeiro, etc., etc. Na cave do edifício há grande stocks dos melhores vinhos. A Companhia emprega 230 pessoas. Todo o pessoal em contacto com os hospedes falla portuguez, inglez, francez, italiano, espanhol e allemão. Para o serviço de cosinha emprega 60 cosinheiros. A direção do hotel está entregue ao Snr. Jean Paul, da Dinamarca, tendo este senhor uma larga experiência nos hotéis das principaes cidades de Europa e dos Estados Unidos da América do Norte”.

Enciclopédia Comercial, Globe Encyclopedia Company, 1924, London.

 

Segundo o diplomata Maurício Nabuco (1891 – 1979) em seu livro Reflexões e reminiscências, o Palace Hotel teria sido a primeira grande hospedaria do Brasil e se tornado o centro de jovens casais. Em seu bar teria nascido o hábito de se tomar um aperitivo elegante à hora do jantar.  Ainda sobre o bar: sua entrada independente teria atraido, segundo Lucia Meira Lima, as mais formosas “francesas” que aqui aportaram e despertavam paixões entre a jeunesse dorée e os balzaqueanos das décadas de 1920 e 1930. Outros ambientes requintados do hotel eram o Salão Nobre, o Salão de Leitura e o Jardim de Inverno, que antecedia o salão que mais tarde abrigaria as exposições promovidas pela Associação dos Artistas Brasileiros (AAB), localizado ao fundo.

Várias homenagens, chás dançantes, recitais, almoços e jantares, bailes de carnaval eram realizados em seus salões. Foi no Palace Hotel que a poetisa gaúcha Iveta Ribeiro  (1886 – 1962) apresentou a revista Brasil Feminino, que dirigia (Revista da Semana, 6 de fevereiro de 1932).

 

 

 

 

 

 

Funcionou até 15 de setembro de 1950, quando o gerente sr. Rubens Bokel de Freitas mandou que fosse cerrada em definitivo a porta principal daquele estabelecimento, conforme informado no artigo O fim de uma época, de João Martins, publicado na revista O Cruzeiro, 7 de outubro de 1950. Teve seus bens leiloados. Foi demolido entre 1950 e 1951 (O Jornal, 17 de setembro de 1950, primeira coluna; Jornal do Brasil, 24 de setembro de 1950Jornal do Brasil, 5 de novembro de 1950, penúltima colunaJornal do Brasil, 20 de janeiro de 1951).

 

 

Em seu lugar foi erguido o Edifício Condomínio Marquês do Herval, projeto do escritório MMM Roberto, dos irmãos arquitetos Maurício, Marcelo e Milton; e uma das principais construções de arquitetura modernista do Rio de Janeiro. Foi inaugurado, em 1956,  com 36 andares, 35 mil metros quadrados de área construída e 600 unidades, incluindo as lojas e sobrelojas.

 

Edifício Marquês do Herval

Edifício Marquês do Herval

 

 

O Palace Hotel como referência de vanguarda artística

 

Foi uma referência da vanguarda artística desde os primeiros anos da década de 1920. Diversas exposições de pintura e fotografia aconteceram em seus salões.

 

Algumas exposições de fotografia realizadas no Palace Hotel

 

Algumas importantes exposições de fotografia aconteceram no Palace Hotel, dentre elas, o Salão do Branco e Preto, e uma de águas- fortes photographicas de Fernando Guerra Duval (18? – 1959), em outubro de 1932 (Revista da Semana, 8 de outubro de 1932O Malho, 15 de outubro de 1932).

 

 

 

Em outubro de 1933, realizou-se outra exposição de Fernando Guerra Duval (18? – 1959), um dos fundadores, em 1923, do Photo Club Brasileiro, uma associação de fotógrafos, no Rio de Janeiro, formada pelos associados do Photo Club do Rio de Janeiro, fundado em 1910, que se juntaram a fotógrafos de arte para debater as relações entre fotografia e arte. O Photo Club Brasileiro promovia cursos, concursos, exposições e excursões. Publicou as revistas Photo Revista do Brasil (1925 – 1926) e Photogramma (1926 – 1931). Também organizava salões anuais, o primeiro deles inaugurado em 4 de julho de 1924, no Liceu de Artes e Ofícios (Artigo de Fernando Guerra Duval, na Gazeta de Notícias, 9 de julho de 1924), além de divulgar novas técnicas e estéticas, mantendo correspondência com sociedades internacionais de fotografia. Até o fim da década de 1940, foi uma instituição fundamental na difusão da ideia da fotografia como arte. Uma matéria da revista Para Todos, de 17 de setembro de 1927, sobre a quarta exposição anual do Photo Club, ilustrava essa função primordial da associação. Alguns de seus membros de destaque foram Alberto Friedmann, Barroso Neto, Herminia Borges, João Nogueira Borges, Oscar de Teffé e Silvio Bevilacqua. Foi um reduto do pictorialismo.

 

 

Fernando, símbolo de elegância e frequentador dos mais requintados e intelectualizados salões cariocas desde as primeiras décadas do século XX, foi também poeta, ator e barítono. Foi casado com Stella de Carvalho Guerra Duval (1879 – 1971), fundadora da Pró-Matre e também da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, ao lado de Bertha Lutz  (1894 – 1976) e Jerônima Mesquita (1880 – 1972), dentre outras. Em 1939, era o presidente da Associação dos Artistas Brasileiros, cuja sede era o Palace Hotel. Em 1942, era seu coordenador-geral. Faleceu em novembro de 1959 (A Rua, 25 de outubro de 1916, última coluna; Vida Doméstica, junho de 1927O Paiz, 22 e 23 de setembro de 1930, penúltima colunaRevista da Semana, 7 de outubro de 1933; O Imparcial, 31 de julho de 1935, terceira colunaFon Fon, 2 de dezembro de 1939; O Malho, novembro de 1942; Correio da Manhã, 5 de dezembro de 1959, penúltima coluna).

 

 

Em 1935, foi realizada a Exposição Fotográfica do Touring Club do Brasil (Revista da Semana, 14 de dezembro de 1935).

 

 

Em 1937, realizou-se o Salão Pinturial Fotográfico (Revista da Semana, 30 de outubro 1937).

 

 

Em 1938, foram as seguintes as exposições de fotografia no Palace:

 

 

Em outubro de 1939, realização de mais um Salão em Preto e Branco.

 

 

No mês seguinte, no dia 4, foi inaugurada a exposição fotográfica de Jorge de Castro (? – 19?) intitulada Clichês, no Palace Hotel.  Foram exibidas imagens de paisagens rurais, de árvores, de habitações, de recantos poéticos do Rio de Janeiro, além de retratos de pessoas anônimas e também de registros do maestro Villa-Lobos, dos poetas Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Murilo Nery e Oswald de Andrade;, dos escritores Anibal Machado, Jorge Amado e José Lins do Rego; da pintora Adagisa Nery, do ministro Gustavo Capanema, dentre outros (Correio da Manhã, 4 de novembro de 1939, primeira coluna; Revista da Semana, 18 de novembro de 1939).

 

 

“Fundamentalmente realista, amando as visões da vida, ele as interpreta, porém, captando o momento e o ângulo rico ou compondo o ambiente em que a realidade capitula diante da luz e se converte numa expressão sugestiva e bela”.

Mário de Andrade sobre Jorge de Castro na crônica O homem que se achou,

1940

 

Algumas exposições de pinturas realizadas no Palace Hotel

 

 

… como a de artistas da Escola de Paris, trazida ao Brasil, em 1930 por Vicente do Rego Monteiro e Géo-Charle; a exposição de Arquitetura Tropical, em 1933; o Salão dos Novos, em 1926; o Salão de Maio, em 1936; Além das primeiras individuais de Cícero Dias, em 1928; Ismael Nery, Portinari e Tarcila do Amaral, em 1929; Bruno Lechovski, em 1931; e outras de Scliar, Segall, Armando Viana, Waldemar da Costa, Kaminagai, Nivouliés de Pierrefort, Manuel Constantino, Colette Pujol, Dimitri Ismailovitch etc. Na década de 50, o Palace Hotel seguia realizando exposições, porém menos significativas e provavelmente sem o aval da Associação dos Artistas Brasileiros.

Cronologia das Artes Plásticas no Brasil 1816-1994

 

 

De Ismael Nery, Exposição Foujita no Palace Hotel - 1931

De Ismael Nery, Exposição Foujita no Palace Hotel – 1931

 

O primeiro registro de uma exposição realizada no Palace é de 1923 quando Sylvia Meyer (1889 – 1955) mostrou, em um de seus salões, retratos em pastel que foram muito bem recebidos pela crítica e pelo público. Foi sua primeira exposição individual. Voltou a expor no Palace Hotel, em 1932, e a poetisa e feminista Anna Amélia Carneiro de Mendonça (1896 – 1971), uma das organizadoras do I Salão de Arte Feminina, em 1931, escreveu uma crítica muito favorável à artista (Diário de Notícias, 9 de outubro de 1932, primeira coluna).

 

 

A partir de 1929, o Palace Hotel sediou muitas exposições sob o patrocínio da Associação dos Artistas Brasileiros (AAB), fundada por iniciativa dos artistas plásticos e irmãos Armando e Mário Navarro Costa, e pelo jornalista, escritor, dramaturgo, professor, historiador e crítico de arte Celso Kelly (1906 – 1979). A Associação dos Artistas Brasileiros surgiu a partir do convívio de artistas plásticos dos mais variados ramos durante o 1º Salão dos Artistas Brasileiros, sediado no salão nobre da Biblioteca Nacional, em 1928. Sua sede, após passar pelo Liceu e Artes e Ofícios e pelo Teatro Cassino, passou a ser, em fins de 1929, o Palace Hotel, onde promoveu exposições antológicas.

Além das já citadas exposições, o Palace Hotel também recebeu, em 1927, uma exposição conjunta de Oswaldo Goeldi (1895 – 1961) com o príncipe russo Paulo Gagarin (1885 – 1980); de Tarsila do Amaral (1886 – 1973), em 1929; de Gilberto Trompovski (1908 – 1982), em 1930; de Levino Fânzeres (1884 – 1956), em 1931; de Haydéa (1896 – 1980) e Manoel Santiago (1897 – 1987) e de Eugenio Latour (1874 – 1942), em 1932; de Hernani do Irajá (1895 – 1969), de Georgina de Albuquerque (1895 – 1962), de Olga Mary (1891 – 1963) e Raul Pedrosa (1892 – 1962), de Oswaldo Teixeira (1905 – 1974) e do francês Marcel Féguide (1888 – 1968), em 1933; do retratista português Henrique Medina (1901 – 1988), do polonês Konstanty Brandel (1880 – 1970), do italiano José Boscagly (1862 – 1945), em 1935; de alunos de Cândido Portinari (1903 – 1962), em 1936; de Alberto da Veiga Guignard (1896 – 1962), de Sarah Villela de Figueiredo (1903 – 1958), em 1938; dentre inúmeras outras.

 

 

A já mencionada exposição organizada por Vicente do Rego Monteiro (1899 – 1970), foi a primeira mostra de arte moderna europeia na América do Sul e congregou obras de artistas do calibre de Fernand Léger (1881 – 1955), Georges Braque (1882 – 1963), Pablo Picasso (1881 – 1973) e Raoul Dufy (1877 – 1953).

 

 

 

 

Foi também no Palace Hotel que o mundialmente famoso arquiteto norte-americano Frank Lloyd Wright (1867 – 1959) proferiu sua  última palestra da temporada que passou no Rio de Janeiro, entre 2 e 24 de outubro de 1931.

Segundo Adriana Marta Irigoyen de Toucedo:

arquiteto

 

O Palace Hotel foi personagem de uma das poesias do grande Manuel Bandeira (1886 – 1968) que revelou, em uma entrevista ao cronista Paulo Mendes Campos (1922 – 1991), publicada na Revista Província de São Pedro, em 1949, que ela referia-se à Lembrança de uma farra de Carnaval com Cícero Dias no saguão do Palace HotelRondó do Palace Hotel foi publicada no livro Estrela da Manhã (1936).

 

 

 

Rondó do Palace Hotel

por Manuel Bandeira

No hall do Palace o pintor
Cícero Dias entre o Pão
De Açúcar e um caixão de enterro
(É um rei andrógino que enterram?)
Toca um jazz de pandeiro com a mão que o Blaise Cendrars perdeu na guerra.

Deus do céu, que alucinação!
Há uma criatura tão bonita
Que até os olhos parecem nus:
Nossa Senhora da Prostituição!
-“Garçom, cinco martínis!” Os
Adolescentes cheiram éter
No hall do Palace.

Aqui ninguém dá atenção aos préstitos
(Passa um clangor de clubes lá fora):
Aqui dança-se, canta-se, fala-se
E bebe-se incessantemente
Para esquecer a dor daquilo
Por alguém que não está presente
No hall do Palace.

 

 

 

Andrea C.T. Wanderley

Editora e Pesquisadora da Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

 

BULCÃO, Clóvis. Os Guinle: a história de uma dinastia. Rio de Janeiro : Intrínseca, 2015.

BATISTA, Antonio José de Sena. Arquitetos sem halo: a ação dos escritórios M.M.M.Roberto e Henrique Mindlin Arquitetos Associados. Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em História Social da Cultura, do Departamento de História da PUC-Rio, como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em História, março de 2013.

CATTAN, Roberto Correia de Mello. A Família Guinle e a Arquitetura do Rio de Janeiro Um capítulo do ecletismo carioca nas duas primeiras décadas do novecentos. Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em História do Departamento de História da PUC-Rio, novembro de 2013.

CAVALCANTI, Lauro, org., Quando o Brasil Era Moderno Artes plásticas no Rio de Janeiro 1905-1960, Rio de Janeiro : Aeroplano Editora, 2001.

COSTA, Helouise. Pictorialismo e Imprensa: O Caso da Revista O Cruzeiro (1928-1932). In: FABRIS, Annateresa (org.). Fotografia:  Usos e Funções no Século XIX. 2 ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2008. (Texto & Arte, 3).

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

MARCHESAN, Luiz Gonzaga. Antonio Cândido na revista Texto.

MENDES, Ricardo org. Pensamento crítico em fotografia – Antologia Brasil – 1890 – 1930. FUNARTE, 2013.

MORAES, Frederico. Cronologia das Artes Plásticas no Brasil 1816-1994. Rio de Janeiro : Topbooks, 2001.

Site Clube Naval

Site Estilos Arquitetônicos

Site Inepac

SOARES, Débora Poncio. ENTRE APAGAMENTOS E LEMBRANÇAS: A artista Sylvia Meyer (1889 – 1955). Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de bacharel em História da Arte, 2021.

TOUCEDO, Adriana Marta Irigoyen de. Frank Lloyd Wright e o Brasil.  Dissertação de Mestrado – Escola de Engenharia de São Carlos – Universidade de São Paulo, 2000.

XAVIER, Roger Ferreira. Os comediantes: da gênese à formulação do teatro do futuro (1938-1942). Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do Título de Mestre em Artes Cênicas. Linha de Pesquisa: História e Historiografia do Teatro e das Artes

Youtube – O LUXUOSO PALACE HOTEL DOS PRESIDENTES E ARTISTAS MODERNISTAS

 

Links para os outros artigos da Série O Rio de Janeiro desaparecido

 

Série O Rio de Janeiro desaparecido I Salas de cinema do Rio de Janeiro do início do século XXde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 26 de fevereiro de 2016.

Série O Rio de Janeiro desaparecido II – A Exposição Nacional de 1908 na Coleção Família Passos, de autoria de Carla Costa, historiadora do Museu da República, publicado na Brasiliana Fotográfica, em 5 de abril de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido III – O Palácio Monroe, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica, em 9 de novembro de 2016.

Série O Rio de Janeiro desaparecido IV - A via elevada da Perimetral, de autoria da historiadora Beatriz Kushnir, publicado na Brasiliana Fotográfica em 23 de junho de 2017.

Série O Rio de Janeiro desaparecido V – O quiosque Chopp Berrante no Passeio Público, Ferrez, Malta e Charles Dunlopde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portalpublicado na Brasiliana Fotográfica em 20 de julho de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VI – O primeiro Palácio da Prefeitura Municipal do Rio de Janeirode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de setembro de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VII – O Morro de Santo Antônio na Casa de Oswaldo Cruzde autoria de historiador Ricardo Augusto dos Santos da Casa de Oswaldo Cruzpublicado na Brasiliana Fotográfica em 5 de fevereiro de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VIII – A demolição do Morro do Castelode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portalpublicado na Brasiliana Fotográfica em 30 de abril de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido IX – Estrada de Ferro Central do Brasil: estação e trilhosde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de novembro de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido X – No Dia dos Namorados, um pouco da história do Pavilhão Mourisco em Botafogode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de junho de 2020.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XI – A Estrada de Ferro do Corcovado e o mirante Chapéu de Sol, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 22 de julho de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XII – o Teatro Lírico (Theatro Lyrico), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 15 de setembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIII – O Convento da Ajuda, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de outubro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIV – O Conselho Municipal, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 19 de novembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XV – A Praia de Santa Luzia no primeiro dia do verão, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 21 de dezembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVI – O prédio da Academia Imperial de Belas Artes, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, publicado na Brasiliana Fotográfica em 13 de janeiro de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVII – Igreja São Pedro dos Clérigos, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 18 de março de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVIII – A Praça Onze, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 20 de abril de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIX – A Igrejinha de Copacabana, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 23 de junho de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XX – O Pavilhão dos Estados, futuro prédio do Ministério da Agricultura, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 26 de julho de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXI – O Chafariz do Largo da Carioca, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 19 de setembro de 2022. 

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXII – A Cadeia Velha que deu lugar ao Palácio Tiradentes, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 11 de abril de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXIII e Avenidas e ruas do Brasil XVII - A Praia e a Rua do Russel, na Glória, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 15 de maio de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXVI – Conclusão do arrasamento do Morro do Castelo por Augusto Malta, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 14 de dezembro de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXVII e Série Os arquitetos do Rio de Janeiro V – O Jockey Club e o Derby Club, na Avenida Rio Branco e o arquiteto Heitor de Mello (1875 – 1920), de autoria de Andrea c. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, em 15 de janeiro de 2024

 

Outros artigos publicados na Brasiliana Fotográfica sobre hotéis

 

Hotéis do século XIX e do início do século XX no Brasil, publicado em 5 de novembro de 2015 , de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica.

O Hotel Glória – antes e depois, publicado em 21 de dezembro de 2017, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica.

Copacabana Palace, símbolo do glamour carioca, publicado em 13 de agosto de 2020, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica.

O Hotel Pharoux por Revert Henrique Klumb, publicado em 15 de junho de 2022, publicado em 13 de agosto de 2023, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica.

O centenário do Copacabana Palace, quintessência do “glamour” carioca, e seu criador, o arquiteto francês Joseph Gire, publicado em 13 de agosto de 2023, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica.

O fotógrafo amador Guilherme Santos (1871 – 1966)

 

O fotógrafo amador Guilherme Antônio dos Santos (1871 – 1966) era um entusiasta da fotografia estereoscópica, tendo sido um dos pioneiros dessa técnica no Brasil, ao adquirir, em 1905, na França, o Verascope, um sistema de integração entre câmera e visor, que permitia ver imagens em 3D, produzidas a partir de duas fotos quase iguais, porém tiradas de ângulos um pouco diferentes. Eram impressas em uma placa de vidro e reproduziam a sensação de profundidade de maneira bem próxima da visão real. Antes dele, entre os anos de 1855 e 1862, o “Photographo da Casa Imperial”, Revert Henrique Klumb (1826 – c. 1886), favorito da imperatriz Teresa Christina e professor de fotografia da princesa Isabel, havia produzido vários registros utilizando a técnica da estereoscopia. A Casa Leuzinger também produziu fotografias estereoscópicas.

 

 

Guilherme Santos, cuja produção mais intensa ocorreu entre 1910 e 1958, registrou a paisagem, o cotidiano e os hábitos do carioca a partir da produção de fotografias dos antigos carnavais na avenida Central, de teatros, da inauguração do Cristo Redentor, de visitantes ilustres como os aviadores pioneiros Sacadura Cabral (1881 – 1924) e Gago Coutinho (1869 – 1959) e do voo do dirigível Zeppelin. Também registrou os pavilhões da Exposição Internacional de 1922. Sua série predileta era a de fotografias do Morro do Castelo – ele nunca se conformou com sua destruição.

 

 

A técnica da estereoscopia foi desenvolvida pelo escocês David Brewster (1781 – 1868), em 1844, poucos anos após a invenção da fotografia. Segundo Pedro Vasquez, a definição da fotografia estereoscópica é a seguinte: “Consistia em pares de fotografias de uma mesma cena que, vistas simultaneamente em um visor binocular apropriado, produziam a ilusão da tridimensionalidade. Esse efeito era obtido porque as fotografias eram tiradas ao mesmo tempo com uma câmera de objetivas gêmeas, cujos centros óticos eram separados entre si por cerca de 6,3cm – a distância média que separa os olhos humanos”.

 

Acessando o link para as fotografias de Guilherme Santos disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá visualizar e magnificar as imagens.

 

Em 1851, David Brewster apresentou sua invenção na Exposição Universal de Londres e, a partir daí, o comércio das fotografias estereocópicas tornou-se uma febre, tendo Paris e Londres como seus dois centros de produção e difusão. Com o desenvolvimento da tecnologia tanto das chapas, que tornaram-se mais sensíveis, como das câmeras, com mais recursos óticos e mecânicos, a partir da década de 1860, começaram a surgir as primeiras estereoscopias retratando pessoas em movimento.  A pornografia passou a ser um dos temas das fotografias estereoscópicas. Alguns autores especulam que a associação da estereoscopia com a pornografia teria sido uma das causas de seu declínio como prática de consumo. Só no final do século XIX voltou a ser popular. O lançamento do Verascope, pela Maison Richard, na França, em 1893, contribuiu para que a estereoscopia voltasse a se proliferar, atraindo a atenção de fotógrafos amadores e de foto clubes europeus.

Guilherme Santos se interessou pela técnica, em 1905, quando viajou em férias para Paris e adquiriu um Verascope, após visitar uma exposição de fotografias estereoscópicas e constatar que havia pouquíssimos registros do Brasil. Sobre o fato, declarou em reportagem da Noite Ilustrada, de 1º de agosto de 1950:

“Tendo viajado à Europa em 1905 e verificado a maneira deprimente como era julgado e apresentado o Brasil em certas fotografias e, coincidindo com o interesse que então me despertava a arte fotográfica, um ideal dominou o meu sentimento de brasileiro: fazer um arquivo de fotografias que um dia provasse que o Brasil não era aquilo que estava sendo apresentado; minhas criações fotográficas mostrariam em quadros, com expressão artística, um Brasil adiantado e cheio de atrações, civilizado, habitado por uma raça superior e, não olhando sacrifícios, nem gastos, vencendo obstáculos e suportando e prejudicando interesses, em atividade constante nestes últimos quarenta e dois anos, consegui reunir o arquivo que está em condições de ter aproveitamento para a educação, cultura do povo e propaganda do Brasil”.

A fotografia passou a ser seu hobby. Foi membro do Photo Clube Brasileiro e publicou na edição de maio de 1925 da Photo Revista do Brasil um artigo defendendo a estereoscopia e conclamando os leitores a aderirem a uma campanha sobre o desenvolvimento do gosto dos brasileiros pela fotografia.

 

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Verascope. c. 1894 / ignomini.com

 

Monarquista, bem humorado e otimista, Guilherme Santos fazia parte da alta burguesia carioca, tendo sido amigo de famílias importantes como os Guinle e os Marinho. Além de comerciante e fotógrafo amador, era um colecionador de selos e pinturas. Foi sócio do Theatro Lírico e membro da Sociedade Brasileira de Belas Artes. Em sua casa de veraneio petropolitana, cultivava um jardim de cravos e orquídeas, uma das formas de expressar seu amor pela natureza, também manifestado em várias de suas fotografias. Escrevia poesias e tocava piano. Baixo, magro e de olhos verdes, era considerado parecido com o presidente do Brasil Epitácio Pessoa (1865 – 1942). Uma de suas frases preferidas era “O homem que não vive para servir não serve para viver”.

A Coleção Guilherme Santos foi adquirida pelo Banco do Estado da Guanabara, em 28 de abril de 1964, para iniciar, juntamente com a coleção de fotografias de Augusto Malta (1864 – 1957), o acervo visual do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, inaugurado em 3 de setembro de 1965 (Diário de Notícias, 29 de agosto de 1965). Malta, contemporâneo e amigo de Santos, foi o fotógrafo oficial da prefeitura do Rio de Janeiro entre 1902 e 1936. Antes da venda, Santos guardava seu acervo fotográfico em um cofre Fichet à prova de fogo, que ele mesmo havia mandado construir, já que era o representante brasileiro da fábrica belga de cofres. Após um incêndio ocorrido em sua loja, na rua do Rosário, 146, em 23 de dezembro de 1954, quando a única coisa que se salvou foi seu acervo de fotografias, decidiu vendê-lo para preservá-lo.

A maior parte da obra de Santos, que inclui 17.812 mil negativos e 9.310 mil positivos (em vidro), além de 1.302 ampliações em papel feitas a partir dos negativos, está guardada no MIS-RJ. Um conjunto de cerca de 3000 imagens produzidas pelo fotógrafo foi adquirida pelo Instituto Moreira Salles, em 2013.

 

 

 

Cronologia de Guilherme Antônio dos Santos (1871 – 1966)

 

1871 – No Rio de Janeiro, em 12 de fevereiro, nasceu Guilherme Antonio dos Santos, cuja família residia na Rua do Rezende. Seu pai era o joalheiro José Antonio dos Santos (? – 1905).

1883 - No encerramento das aulas do Colégio Aquino, onde fez seus estudos, Guilherme Santos e Escragnolle Doria (1869 – 1948) receberam do imperador Pedro II medalhas por terem respondido “com prontidão e segurança a todas as suas perguntas sobre História do Brasil” (Correio da Manhã, 31 de maio de 1952).

1896 – Guilherme casou-se com Maria Mendonça dos Santos, conhecida como dona Mariquinhas. Tiveram quatro filhos: Guilherme dos Santos Júnior (? – 1980), médico que foi diretor do Souza Aguiar e do Hospital Paulino Werneck; Amália Santos Pinto da Silva (? – 1986), Manoel Antônio dos Santos , que sempre trabalhou com o pai na representação dos cofres belgas Fichet; e Francisca Mendonça dos Santos (1901 – ?) . Os filhos estudaram no Colégio São Vicente de Paulo e as filhas no Colégio Santa Isabel, em Petrópolis.

dezembro de 1898 – A joalheria e galeria de arte Luiz de Rezende & Cia, cujo um dos sócios era o pai de Guilherme Santos, José Antonio dos Santos, foi roubada. Ficava na rua do Ouvidor 88 e 89 e na rua Ourives 69 ( Gazeta de Notícias, 6 de dezembro de 1898, na última coluna e  Jornal do Brasil, 19 de dezembro de 1903, na sétima coluna, sob o título “O buraco do Rezende”). Anteriormente, a joalheria chamava-se Santos Moutinho e Cia. Na época do roubo, que teve grande repercussão, Guilherme Santos morava no último andar da loja.

1901 – Guilherme Santos foi empossado no conselho da Sociedade Animadora da Corporação dos Ourives (Jornal do Brasil, 31 de julho de 1901, na última coluna). Nasceu sua filha caçula, Francisca, (Jornal do Brasil, de 16 de dezembro de 1901, na quarta coluna). Nos Almanak Laemert de 1901190219031904, 19051906 e 1907, Guilherme e seu irmão, Francisco Antonio, aparecem como dois dos sócios da joalheria Luiz de Rezende & Cia. Luiz de Rezende ( – 1927) era português e foi com o pai de Guilherme Santos, José Antônio, que ele aprendeu a ourivesaria.

1905 / 1906 – No Almanak Laemert de 1905, Guilherme Santos aparece como o 2º secretário da Sociedade Animadora da Corporação dos Ourives. Viajou para Paris com a família para, a conselho de seu pai, se tratar de um estado de nervosismo permanente ocasionado pelo roubo à joalheira em 1898. Cuidou-se com um tratamento de auto-sugestão cujo lema era “Hoje sob todos os pontos de vista vou cada vez melhor”. Interessou-se pela técnica da estereoscopia e adquiriu um equipamento Verascope, da Maison Richard, após visitar uma exposição de fotografias estereocópicas no Grand Palais. Lá constatou que havia pouquíssimos registros do Brasil, todos de mulheres negras vendendo abacaxis. Santos começou a praticar a fotografia amadora e foi em Portugal que produziu seu primeiro registro, no pinhal de Caldas da Rainha. Seu pai, José Antonio dos Santos, faleceu (Correio da Manhã, 20 de maio de 1952).

1907 Provavelmente, foi um dos proprietários do Cinema Pavilhão Progresso, na rua Hadock Lobo, 16. O cinema foi inaugurado em 31 de outubro de 1907 (Jornal do do Brasil, 30 de outubro de 1907, na primeira coluna).

1920 – Guilherme Santos morava na rua Conde de Bonfim, 86, na Tijuca.

1922 – Santos cedeu ao então ministro do Exterior, José Manuel de Azevedo Marques (1865 – 1943), milhares de reproduções estereográficas de quadros da natureza brasileira que foram distribuídas aos estrangeiros que vieram representar seus países nas comemorações do centenário da independência do Brasil. Deixou de trabalhar na Casa Luiz de Rezende ( Correio da Manhã, 20 de maio de 1952).

1923 – Foi criado o Photo Club Brasileiro, uma associação de fotógrafos, no Rio de Janeiro, pelos associados do Photo Club do Rio de Janeiro, fundado em 1910, que se juntaram a fotógrafos de arte para debater as relações entre fotografia e arte. O Photo Club Brasileiro promovia cursos, concursos, exposições e excursões. Publicou as revistas Photo Revista do Brasil (1925 – 1926) e Photogramma (1926 – 1931). Também organizava salões anuais, o primeiro deles inaugurado em 4 de julho de 1924, no Liceu de Artes e Ofícios (artigo de Fernando Guerra Duval, na Gazeta de Notícias, 9 de julho de 1924), além de divulgar novas técnicas e estéticas, mantendo correspondência com sociedades internacionais de fotografia. Até o fim da década de 1940, foi uma instituição fundamental na difusão da ideia da fotografia como arte. Uma matéria da revista Para Todos, de 17 de setembro de 1927, sobre a quarta exposição anual do Photo Club ilustrava essa função primordial da associação. Alguns de seus membros de destaque foram Alberto Friedmann, Barroso Neto, Fernando Guerra Duval, Herminia Borges, João Nogueira Borges, Oscar de Teffé e Silvio Bevilacqua.

 

 

maio de 1925 –  Guilherme Santos tornou-se membro do Photo Club Brasileiro. Publicou na edição de lançamento da Photo Revista do Brasil, órgão oficial da associação, o artigo “Photographia Estereoscópica”. No expediente da revista, aparece como um de seus principais colaboradores. E, nas páginas dedicadas às notícias do Photo Club, que acabava de se instalar em uma nova sede, na rua 13 de maio, 35, aparece como um dos membros recentes da associação. O presidente e o vice-presidente do Photo Club Brasileiro eram Alberto Friedmann e Fernando Guerra Duval (18? – 1959), respectivamente.

 

“Photographia Estereoscópica”

Por Guilherme A Santos

Confeccionar uma photographia é quasi sempre reconstruir uma recordação!

Nenhuma outra photographia trabalhada pelos processos conhecidos, pôde dar-nos tamanha satisfação, produzir-nos impressão tão viva  e tão nitida daquilo que quizermos recordar como a photographia estereoscopica! Seja o retracto de um ente querido, seja uma paysagem, ou ainda uma reunião de família, cujo objecto exprima um momento feliz da nossa existencia!

A sensação do relevo e da perspectiva que nos dá um positivo sobre vidro, copia de um cliche estereoscopico, introduzido no instrumento apropriado, é inegualavel! inconfundivel! incomparavel!

Ao olhar, apresentam-se as imagens das creaturas, da Natureza ou dos objectos, com a expressão a mais perfeita e verdadeira , mostrando-nos em destaque todos os planos que as objectivas colheram na extensão do angulo focal!

Como passa tempo, o que é possível de encontrar que seja mais agradável, mais divertido do que os positivos sobre vidro da photoestereoscopia!?

Reunidos em família e acompanhados de bons amigos sentados em redor de uma mesa, passa-se de mão em mão o apparelho estereoscópicos exibindo as differentes séries de positivos! Algumas, despertando recordações aos que, num afogar de saudades revêem os bons momentos que passaram, contemplando imagens de creaturas que talvez nunca mais encontrem no caminho da vida e que fizeram a delícia daqueles momentos, em uma estação de águas, em uma excursão, em cidades de verão, a bordo de um transatlântico, na convivência íntima de uma longa viagem, etc.

Outras séries apresentando o esplendor da Natureza em grandes quadros compostos com senso esthético, com observação artística que estasiam, que empolgam e que nunca cançaríamos de contemplar são photografias que provam como é impossível negar o extraordinário poder que tem a natureza, de impressionar e fazer vibrar a alma das creaturas com suas majestosas creações!

Nesse particular a nossa terra recebeu do CREADOR um dote precioso, o qual infelizmente em vez de ser transportado para as chapas da photographia por meio das objectivas dos differentes apparelhos, tem o homem esbanjado e destruido quasi inconscientemente sem considerar o grande mal que causa ao bem commum e sem reflectir no crime que pratica!

Disse PAULO MANTEGAZZA, capitulo IV no “O LIVRO DAS MELANCHOLIAS” de uma forma encantadora e com a alma amargurada: que se conhecesse DEUS, dir-khe-hia que na sua infinita misericordia, perdoasse todos os peccados dos homens e reservasse toda a sua ira, toda as suas vinganças, tododos seus raios, para o homem que destróe uma “FLORESTA”!!…

Faço minhas as palavras do primoroso escriptor, mas accrescento que o homem que dedicar-se á photographia, de preferenciaa estereoscopica, no contacto intimo e constante que ele tiver com a NATUREZA, quando a tiver estudado bem, irá lentamente habituando-se a apreciar devidamente a sua obra grandiosa, sentirá despertar em sua alma, sentimentos delicadosque até então desconhecia e difficilmente será capaz de derrubar uma arvore ou consentir que alguem o faça em sua presença!

A falta de amor e o abandono ás nossa bellezas naturaes é patente! Cito um exemplo mui recente:

Por uma destas lindas manhãs de ABRIL (era dia feriado) percorremos uma parte da estrada que liga o ALTO DA BOA VISTA ao SUMARÉ.

É uma das maravilhas da TIJUCA! A vegetação é abundante e variada e conta-se ás dezenas, arvores gigantescas cujas ramadas projectam sombras extensas sobre o caminho!

O sol imprimia uma luz de oiro sobre o verde esmeralda do arvoredo e fazia pensar que foi a NATUREZA quem inspirou os nossos antepassados sobre a escolha das cores para a nossa bandeira!

Caminhamos cerca de 6 kilometros ida e volta e gastamos cerca de 5 horas. Pois bem, nesse demorado percurso, cruzamos com 3 outros grupos de excursionistas, todos elles, compunham-se de estrangeiros!

Nem um brasileiro! nem um amador da photographia! Digo, encontramos um brasileiro, que empunhando uma vara que tinha um sacco de gaze preso a uma das extremidades, caçava as lindas borboletas azues de grandes azas que faziam o encanto daquellas paragens! aquelle rapaz de 20 annos presumives, de bella estaturaphysica, fazia-o como meio de vida! Contamos estendidas sobre um jornal, 20 daquellas borboletas, apanhadas em menos de uma hora! Pobrezinhas! a  NATUREZA limitou-lhes curtíssima existência, nem mesmo a essas deixam viver!

Creio ser o momento de ser transformada essa situação. A Photo-Revista vem preencher uma lacuna e acreditamos que uma campanha sustentada com perseverança por todos os seus collaboradores, daria bom resultado, no sentido de desenvolver o gosto dos brasileiros pela arte photographica: talvez conseguíssemos convence-los de trocar uma ou outra vez (às horas de ócio) os encantos do lar doméstico, pelos encantos naturaes, lembrando-lhes que em companhia de nossa família e em contacto com a floresta, também construímos lares provisorios sob a benção da mãe de tudo e de todos que é a NATUREZA!

(Photo Revista do Brasil, vol 1, maio de 1925, pg 14)

Além disso, a fotografia da capa era de sua autoria (O Brasil, 31 de maio de 1925, na sexta coluna, sob o título “Publicações”). E, na mesma edição da revista, foi publicada uma propaganda das fotografias estereoscópicas de Guilherme. O endereço, rua Buenos Aires, 93, é o mesmo do escritório dos cofres belgas Fichet, empresa que ele representava no Brasil. Posteriormente, o escritório foi transferido para a rua do Rosário, 146.

1937 Resumo do assalto ocorrido na Casa Luiz de Rezende, em 1898, com retratos dos sócios Luiz de Rezende e José Antonio dos Santos, pai de Guilherme (Noite Illustrada, 25 de maio de 1937).

1942 – Publicação da matéria “Rio desaparecido”, de Escragnolle Doria, sobre a importância dos arquivos fotográficos de Augusto Malta e Guilherme Santos (Revista da Semana, 30 de maio de 1942).

1945 – Publicação no Boletim de Belas Artes de outubro de um artigo sobre o desmonte do Morro do Castelo com entrevista de Guilherme Santos (Correio da Manhã, 8 de maio de 1952).

1950 – Publicação de matéria elogiando a coleção de fotografias de Guilherme Santos (Jornal do Brasil, 24 de março de 1950, na última coluna sob o título “Belas Artes). Publicação de uma reportagem de Walter Sampaio sobre o “Arquivo Guilherme dos Santos”. Na matéria, Santos revelou ter vontade de “expor em um museu o seu valioso arquivo histórico e estereoscópico nacional”. (A Noite Ilustrada, 1º de agosto de 1950).

 

 

1951 O Departamento de História e Documentação do Rio de Janeiro examinou a coleção fotográfica de Guilherme Santos (O Malho, setembro de 1951).

1952 – Faleceu sua esposa, Maria Mendonça dos Santos, em 26 de maio ( Correio da Manhã, 30 de maio de 1952, na primeira coluna). Na coluna “Pequenas Reportagens”, é lembrado um artigo do Boletim de Belas Artes de outubro de 1945, onde Guilherme Santos comentava seus registros fotográficos do desmonte do Morro do Castelo (Correio da Manhã, 8 de maio de 1952). Na mesma coluna, foi publicada uma matéria sobre Guilherme Santos ( Correio da Manhã, 20 de maio de 1952). Finalmente na coluna de 31 de maio de 1952, o assunto foi a coleção de fotografias de Santos.

 

 

1954 –  Às vésperas do Natal, a sede da G.A. Santos & CIA, localizada na Rua do Rosário, 146, sofreu um incêndio. A única coisa resgatada foi o acervo de fotografias de Guilherme que estava dentro de um cofre à prova de fogo. Foi devido a esse fato que Santos decidiu vender sua coleção de fotografias (Correio da Manhã, 24 de dezembro de 1954).

1956 – Na primeira página do Jornal do Brasil, foi publicada a matéria “O Rio de Janeiro através da estereoscopia”, assinada por Augusto Maurício, sobre a coleção de fotografias de Guilherme Santos ( Jornal do Brasil, 27 de maio de 1956).

1964 – A Coleção Guilherme Santos foi adquirida pelo Banco do Estado da Guanabara, em 28 de abril de 1964, para iniciar, juntamente com a coleção de fotografias de Augusto Malta (1864 – 1957), o acervo do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro. O contrato de compra e venda foi assinado pelo filho e procurador de Guilherme, Manoel Antônio dos Santos.

1965 – Inauguração do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, em 3 de setembro de 1965 (Diário de Notícias, 2 de setembro de 1965). A maior parte da obra de Santos, que inclui 17.812 mil negativos e 9.310 mil positivos (em vidro), além de 1.302 ampliações em papel feitas a partir dos negativos, está sob a guarda da instituição.

janeiro de 1966 – Guilherme Santos faleceu em 26 de janeiro, na casa de sua filha Francisca, na Ilha do Governador. Na época, ele morava na rua Cesário Alvim, 39. Anúncio da missa de sétimo dia de Guilherme Santos (Diário de Notícias, 30 de janeiro de 1966).

1984 – Fotografias do Rio Antigo de autoria de Guilherme Santos fizeram parte da exposição “19 anos do Museu da Imagem e do Som” (Última Hora, 27 de dezembro de 1984, na última coluna).

2013 – Um conjunto de cerca de 3000 imagens produzidas pelo fotógrafo foi adquirida pelo Instituto Moreira Salles, em 2013.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

A hora e o lugar – organizadores Sergio Burgi e Samuel Titan Jr. IMS – Rio de Janeiro, 2015.

Antologia Brasil: 1890-1930 – Pensamento crítico em Fotografia. Organização Ricardo Mendes – FUNARTE – Rio de Janeiro, 2013.

Cenas cariocas: o Rio de Janeiro através das estereoscopias de Guilherme dos Santos, de Maria Isabela Mendonça dos Santos – UFF – Niterói, 2014.

Depoimento oral de Lilia Maria Maya Monteiro na série Projetos Especiais – Projeto Guilherme Santos, Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, em 22 de janeiro de 1988.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

PARENTE, José Inacio. A Estereoscopia no Brasil. Sextante – Rio de Janeiro, 1999.

Site do Instituto Moreira Salles

Site do Museu da Imagem e do Som

MELLO, Maria Teresa Bandeira de. Arte e fotografia: o movimento pictorialista no Brasil. Edição Frederico Gomes; apresentação Angela Magalhães. Rio de Janeiro: Funarte, 1998. (Luz & reflexão, 7)., p. 68.

PESSANHA, Maria Edith de Araújo. A Estereoscopia: o Mundo em Terceira Dimensão. Rio de Janeiro, 1991.

SANTOS, Maria Isabela Mendonça dos. Cenas cariocas: o Rio de Janeiro através das estereoscopias de Guilherme Santos (1910 – 1957). Niterói: Universidade Federal Fluminense. Programa de Pós-Graduação em História, 2014.

TURAZZI, Maria Inez. Poses e Trejeitos: a fotografia na era do espetáculo (1839 – 1889). Rio de Janeiro: Funarte/Rocco, 1995.

VASQUEZ, Pedro Karp. A Fotografia no Império. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. 2002.