Prédios da Exposição Internacional do Centenário da Independência de 1922 que ainda existem

Ainda existem seis prédios que foram ocupados por atividades da Exposição Internacional do Centenário da Independência, realizada em 1922, no Rio de Janeiro. São eles o Petit Trianon, que abrigou o Pavilhão da França e é a atual sede da Academia Brasileira de Letras; o atual edifício do Museu Histórico Nacional, que foi ampliad e remodelado para abrigar o Pavilhão das Grandes Indústrias (O Paiz, 3 de outubro de 1922, terceira colunaExposição de 1922, dezembro de 1922); o Pavilhão da Estatística, atualmente o prédio do Centro Cultural do Ministério da Saúde (Fon-Fon, 28 de outubro de 1922); o de uma das atuais sedes do Museu da Imagem e do Som, que foi o Pavilhão da Administração e do Distrito Federal; e o prédio do Pavilhão das Indústrias Particulares, que depois sediou o restaurante Albamar, e que já existia antes da Exposição de 1922 e abrigava o Mercado Municipal. Em Lisboa, encontra-se o Pavilhão Carlos Lopes, que foi o Pavilhão das Indústrias de Portugal (Revista da Semana, 23 de maio de 1923).*

Exposição Internacional do Centenário da Independênciaum dos maiores eventos internacionais já realizados no Brasil, foi inaugurada no Rio de Janeiro em 7 de setembro de 1922 e terminou em 24 de julho do ano seguinte (O Paiz, 25 de julho de 1923). Seu fim estava previsto para março de 1923, mas como algumas construções não estavam concluídas na data de sua inauguração, foi prorrogada até julho.

 

Fotografias dos prédios construídos ou usados na Exposição Internacional do Centenário da Independência em 1922, que ainda existem

 

Petit Trianon, que abrigou o Pavilhão da França, edificado sob a chefia do arquiteto Emile Louis Viret (1882 – 1968). Seu adjunto era o também arquiteto Gabriel Marmorat (1882 – 1951). É a atual sede da Academia Brasileira de Letras.

 

 

Atual Museu Histórico Nacional, que abrigou o Pavilhão das Grandes Indústrias. Para integrar a Exposição de 1922, as edificações do antigo Arsenal de Guerra, a Casa do Trem e o Forte Santiago foram ampliadas e remodeladas, com uma decoração característica da arquitetura neocolonial.

 

Uma das atuais sedes do Museu da Imagem e do Som, que foi o Pavilhão da Administração e do Distrito Federal, projeto do arquiteto italiano Sylvio Rebecchi (1882 – 1950). 

 

 

O Pavilhão de Estatística, projetado pelo professor da Escola Nacional de Belas Artes, Gastão da Cunha Bahiana (1879-1959), é atualmente o prédio do Centro Cultural do Ministério da Saúde. Gastão Bahiana escolheu para o edificio a sobriedade do estilo Luís XVI, prejudicada pela cúpula desenhada por seu sócio Nereu Sampaio. Em 1930, a cúpula, após insistência de Gastão Bahiana, foi retirada.

 

 

 Prédio do Pavilhão das Indústrias Particulares, no Mercado Municipal . As obras para a construção do novo Mercado Municipal, todo metálico e construído na Inglaterra e na Bélgica, começaram em 1903 e faziam parte do plano de roformas urbanas do prefeito Pereira Passos. Seu projeto foi do engenheiro português Alfredo Azevedo Marques (18? – 19?) e foi inaugurado, em 14 de dezembro de 1907 (Gazeta de Notícias, 15 de dezembro de 1907, primeira coluna). O material do mercado, feito de ferro, veio da Bélgica. Recebeu, em 1922, um revestimento provisório em estilo neocolonial para integrar a Exposição do Centenário da Independência. A partir de 1933, sediou o restaurante Albamar. Foi demolido em 1962, porém, no mesmo ano, a torre nordeste, onde está o Albamar, havia sido tombada.

 

 

O Pavilhão das Indústrias de Portugal, atual Pavilhão Carlos Lopes, em Lisboa. Foi idealizado pelos arquitetos Guilherme (1891 – 1969) e Carlos Rebello de Andrade (1887 – 1971) e Alfredo Assunção Santos (? – 1968). Construído no Brasil para a Exposição de 1922, o pavilhão foi reinaugurado em Lisboa, em 3 de outubro de 1932, com a Grande Esposição Industrial Portuguesa e batizado de Palácio das Exposições. Passou a chamar-se Pavilhão Carlos Lopes, em 1984, em homenagem ao atleta português. Foi fechado em 2003 e reabriu, em 2017, depois de obras de remodelação.

 

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

* Este parágrafo foi reescrito em 10 de abril de 2023.

 

Fontes:

Blog Histórias e Monumentos

FRANÇA, Carolina Rebouças. O desaparecimento do Mercado Municipal Praça XV, fator na formação do espaço público da cidade do Rio de Janeiro. I Encontro Nacional da Associação Nacional e de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, 29 de novembro a 3 de dezembro de 2010.

LEVY, Ruth. A exposição do centenário e o meio arquitetônico carioca no início dos anos 1920. Rio de Janeiro : EBA/UFRJ, 2010.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

Site Centro Cultural Ministério da Saúde

Site Museu Histórico Nacional

Site Rio Memórias

WANDERLEY, Andrea. Série 1922 – Hoje, há 100 anos” VIII – A abertura da Exposição Internacional do Centenário da Independência do Brasil e o centenário da primeira grande transmissão pública de rádio no país in Brasiliana Fotográfica, 7 de setembo de 2022.

O Pavilhão do Distrito Federal, atualmente uma das sedes do Museu da Imagem e do Som

Ao longo deste ano a Brasiliana Fotográfica publicou onze artigos na Série 1922, Hoje, há 100 anos, criada a partir dos centenários da Semana de Arte Moderna e da Exposição do Centenário da Independência do Brasil. Terminamos 2022 com um artigo relativo a essa última efeméride. É sobre o Pavilhão do Distrito Federal, atualmente uma das sedes do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro. Seu projeto foi do arquiteto italiano Sylvio Rebecchi (1882 – 1950). Aproveitamos para desejar um Feliz 2023!

Além do edifício do MIS, cinco prédios da Exposição de 1922 ainda existem. No Rio de Janeiro, são o do Pavilhão da França, atualmente sede da Academia Brasileira de Letras; o do Palácio das Indústrias, atual Museu Histórico Nacional;  o do Pavilhão de Estatística, órgão do Ministério da Saúde; e o do Pavilhão das Indústrias Particulares, o restaurante Albamar. Este último já existia antes da Exposição e abrigava o Mercado Municipal. O Pavilhão das Indústrias de Portugal, foi transferido para Lisboa e é o atual Pavilhão Carlos Lopes.

 

O Pavilhão do Distrito Federal, atualmente uma das sedes do Museu da Imagem e do Som

 

 

Projetado pelo arquiteto italiano Sylvio Rebecchi (1882 – 1950) e construído para ser o Pavilhão do Distrito Federal durante a  Exposição do Centenário da Independência do Brasil de 1922, é, desde 1965, uma das sedes do Museu da Imagem e do Som (MIS-RJ), no Centro, na Praça XV.

 

 

 

O MIS-RJ foi inaugurado em 3 de setembro de 1965, como parte das comemorações do IV Centenário da cidade do Rio de Janeiro (Jornal do Brasil, 3 de setembro; 9 de setembro; e 15 de outubro de 1965). Lá se encontra o acervo iconográfico com as fotografias de autoria de Augusto Malta (1864 – 1957), fotógrafo oficial da Prefeitura entre 1903 e 1936, e do fotógrafo amador Guilherme Santos (1871 – 1966), além de boa parte das coleções de partituras de Jacob do Bandolim (1918 – 1969) e Almirante (1908 – 1980). Antes o edifício havia abrigado a administração do Instituto Médico Legal e do Serviço de Registro dos Estrangeiros.

 

 

Sylvio Rebecchi compôs o júri que escolheu o Pavilhão do Brasil na Exposição de Filadélfia de 1926. O vencedor foi o então jovem arquiteto Lúcio Costa (Architectura no Brasil, novembro de 1925; Jornal do Brasil, 11 de novembro de 1925). Em 1926, Rebecchi foi eleito vice-presidente do Instituto Central dos Arquitetos (Architectura no Brasil, junho e julho de 1926). Faleceu em dezembro de 1950 (Tribuna da Imprensa, 7 de dezembro de 1950, última coluna).

 

 

Uma curiosidade: o pai de Sylvio, o italiano comendador Raphael Rebecchi (1844 – 1922), fundador da empresa Rebecchi & Cia, havia sido o responsável, em fins do século XIX, pelo projeto e pela construção da residência de José Baptista Barreira Vianna (1860 – 1925), fotógrafo amador que já foi tema de um artigo da Brasiliana Fotográfica. Foi a primeira casa na praia e uma das primeiras de Ipanema. Barreira Vianna, no final da década de 1890, havia adquirido um terreno do loteamento de José Antônio Moreira Filho (1830-1899), o barão e conde de Ipanema, exatamente na esquina das atuais avenida Vieira Souto e rua Francisco Otaviano, ao lado de onde seria construído, mais tarde, o Colégio São Paulo. Raphael Rebecchi também venceu, em 1904, o concurso de fachadas da Avenida Central, cuja história foi tema de outro artigo do portal (Jornal do Brasil, 27 de março de 1904, sexta coluna; Architectura no Brasil, fevereiro de 1922).

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

O fotógrafo amador Guilherme Santos (1871 – 1966)

 

O fotógrafo amador Guilherme Antônio dos Santos (1871 – 1966) era um entusiasta da fotografia estereoscópica, tendo sido um dos pioneiros dessa técnica no Brasil, ao adquirir, em 1905, na França, o Verascope, um sistema de integração entre câmera e visor, que permitia ver imagens em 3D, produzidas a partir de duas fotos quase iguais, porém tiradas de ângulos um pouco diferentes. Eram impressas em uma placa de vidro e reproduziam a sensação de profundidade de maneira bem próxima da visão real. Antes dele, entre os anos de 1855 e 1862, o “Photographo da Casa Imperial”, Revert Henrique Klumb (1826 – c. 1886), favorito da imperatriz Teresa Christina e professor de fotografia da princesa Isabel, havia produzido vários registros utilizando a técnica da estereoscopia. A Casa Leuzinger também produziu fotografias estereoscópicas.

 

 

Guilherme Santos, cuja produção mais intensa ocorreu entre 1910 e 1958, registrou a paisagem, o cotidiano e os hábitos do carioca a partir da produção de fotografias dos antigos carnavais na avenida Central, de teatros, da inauguração do Cristo Redentor, de visitantes ilustres como os aviadores pioneiros Sacadura Cabral (1881 – 1924) e Gago Coutinho (1869 – 1959) e do voo do dirigível Zeppelin. Também registrou os pavilhões da Exposição Internacional de 1922. Sua série predileta era a de fotografias do Morro do Castelo – ele nunca se conformou com sua destruição.

 

 

A técnica da estereoscopia foi desenvolvida pelo escocês David Brewster (1781 – 1868), em 1844, poucos anos após a invenção da fotografia. Segundo Pedro Vasquez, a definição da fotografia estereoscópica é a seguinte: “Consistia em pares de fotografias de uma mesma cena que, vistas simultaneamente em um visor binocular apropriado, produziam a ilusão da tridimensionalidade. Esse efeito era obtido porque as fotografias eram tiradas ao mesmo tempo com uma câmera de objetivas gêmeas, cujos centros óticos eram separados entre si por cerca de 6,3cm – a distância média que separa os olhos humanos”.

 

Acessando o link para as fotografias de Guilherme Santos disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá visualizar e magnificar as imagens.

 

Em 1851, David Brewster apresentou sua invenção na Exposição Universal de Londres e, a partir daí, o comércio das fotografias estereocópicas tornou-se uma febre, tendo Paris e Londres como seus dois centros de produção e difusão. Com o desenvolvimento da tecnologia tanto das chapas, que tornaram-se mais sensíveis, como das câmeras, com mais recursos óticos e mecânicos, a partir da década de 1860, começaram a surgir as primeiras estereoscopias retratando pessoas em movimento.  A pornografia passou a ser um dos temas das fotografias estereoscópicas. Alguns autores especulam que a associação da estereoscopia com a pornografia teria sido uma das causas de seu declínio como prática de consumo. Só no final do século XIX voltou a ser popular. O lançamento do Verascope, pela Maison Richard, na França, em 1893, contribuiu para que a estereoscopia voltasse a se proliferar, atraindo a atenção de fotógrafos amadores e de foto clubes europeus.

Guilherme Santos se interessou pela técnica, em 1905, quando viajou em férias para Paris e adquiriu um Verascope, após visitar uma exposição de fotografias estereoscópicas e constatar que havia pouquíssimos registros do Brasil. Sobre o fato, declarou em reportagem da Noite Ilustrada, de 1º de agosto de 1950:

“Tendo viajado à Europa em 1905 e verificado a maneira deprimente como era julgado e apresentado o Brasil em certas fotografias e, coincidindo com o interesse que então me despertava a arte fotográfica, um ideal dominou o meu sentimento de brasileiro: fazer um arquivo de fotografias que um dia provasse que o Brasil não era aquilo que estava sendo apresentado; minhas criações fotográficas mostrariam em quadros, com expressão artística, um Brasil adiantado e cheio de atrações, civilizado, habitado por uma raça superior e, não olhando sacrifícios, nem gastos, vencendo obstáculos e suportando e prejudicando interesses, em atividade constante nestes últimos quarenta e dois anos, consegui reunir o arquivo que está em condições de ter aproveitamento para a educação, cultura do povo e propaganda do Brasil”.

A fotografia passou a ser seu hobby. Foi membro do Photo Clube Brasileiro e publicou na edição de maio de 1925 da Photo Revista do Brasil um artigo defendendo a estereoscopia e conclamando os leitores a aderirem a uma campanha sobre o desenvolvimento do gosto dos brasileiros pela fotografia.

 

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Verascope. c. 1894 / ignomini.com

 

Monarquista, bem humorado e otimista, Guilherme Santos fazia parte da alta burguesia carioca, tendo sido amigo de famílias importantes como os Guinle e os Marinho. Além de comerciante e fotógrafo amador, era um colecionador de selos e pinturas. Foi sócio do Theatro Lírico e membro da Sociedade Brasileira de Belas Artes. Em sua casa de veraneio petropolitana, cultivava um jardim de cravos e orquídeas, uma das formas de expressar seu amor pela natureza, também manifestado em várias de suas fotografias. Escrevia poesias e tocava piano. Baixo, magro e de olhos verdes, era considerado parecido com o presidente do Brasil Epitácio Pessoa (1865 – 1942). Uma de suas frases preferidas era “O homem que não vive para servir não serve para viver”.

A Coleção Guilherme Santos foi adquirida pelo Banco do Estado da Guanabara, em 28 de abril de 1964, para iniciar, juntamente com a coleção de fotografias de Augusto Malta (1864 – 1957), o acervo visual do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, inaugurado em 3 de setembro de 1965 (Diário de Notícias, 29 de agosto de 1965). Malta, contemporâneo e amigo de Santos, foi o fotógrafo oficial da prefeitura do Rio de Janeiro entre 1902 e 1936. Antes da venda, Santos guardava seu acervo fotográfico em um cofre Fichet à prova de fogo, que ele mesmo havia mandado construir, já que era o representante brasileiro da fábrica belga de cofres. Após um incêndio ocorrido em sua loja, na rua do Rosário, 146, em 23 de dezembro de 1954, quando a única coisa que se salvou foi seu acervo de fotografias, decidiu vendê-lo para preservá-lo.

A maior parte da obra de Santos, que inclui 17.812 mil negativos e 9.310 mil positivos (em vidro), além de 1.302 ampliações em papel feitas a partir dos negativos, está guardada no MIS-RJ. Um conjunto de cerca de 3000 imagens produzidas pelo fotógrafo foi adquirida pelo Instituto Moreira Salles, em 2013.

 

 

 

Cronologia de Guilherme Antônio dos Santos (1871 – 1966)

 

1871 – No Rio de Janeiro, em 12 de fevereiro, nasceu Guilherme Antonio dos Santos, cuja família residia na Rua do Rezende. Seu pai era o joalheiro José Antonio dos Santos (? – 1905).

1883 - No encerramento das aulas do Colégio Aquino, onde fez seus estudos, Guilherme Santos e Escragnolle Doria (1869 – 1948) receberam do imperador Pedro II medalhas por terem respondido “com prontidão e segurança a todas as suas perguntas sobre História do Brasil” (Correio da Manhã, 31 de maio de 1952).

1896 – Guilherme casou-se com Maria Mendonça dos Santos, conhecida como dona Mariquinhas. Tiveram quatro filhos: Guilherme dos Santos Júnior (? – 1980), médico que foi diretor do Souza Aguiar e do Hospital Paulino Werneck; Amália Santos Pinto da Silva (? – 1986), Manoel Antônio dos Santos , que sempre trabalhou com o pai na representação dos cofres belgas Fichet; e Francisca Mendonça dos Santos (1901 – ?) . Os filhos estudaram no Colégio São Vicente de Paulo e as filhas no Colégio Santa Isabel, em Petrópolis.

dezembro de 1898 – A joalheria e galeria de arte Luiz de Rezende & Cia, cujo um dos sócios era o pai de Guilherme Santos, José Antonio dos Santos, foi roubada. Ficava na rua do Ouvidor 88 e 89 e na rua Ourives 69 ( Gazeta de Notícias, 6 de dezembro de 1898, na última coluna e  Jornal do Brasil, 19 de dezembro de 1903, na sétima coluna, sob o título “O buraco do Rezende”). Anteriormente, a joalheria chamava-se Santos Moutinho e Cia. Na época do roubo, que teve grande repercussão, Guilherme Santos morava no último andar da loja.

1901 – Guilherme Santos foi empossado no conselho da Sociedade Animadora da Corporação dos Ourives (Jornal do Brasil, 31 de julho de 1901, na última coluna). Nasceu sua filha caçula, Francisca, (Jornal do Brasil, de 16 de dezembro de 1901, na quarta coluna). Nos Almanak Laemert de 1901190219031904, 19051906 e 1907, Guilherme e seu irmão, Francisco Antonio, aparecem como dois dos sócios da joalheria Luiz de Rezende & Cia. Luiz de Rezende ( – 1927) era português e foi com o pai de Guilherme Santos, José Antônio, que ele aprendeu a ourivesaria.

1905 / 1906 – No Almanak Laemert de 1905, Guilherme Santos aparece como o 2º secretário da Sociedade Animadora da Corporação dos Ourives. Viajou para Paris com a família para, a conselho de seu pai, se tratar de um estado de nervosismo permanente ocasionado pelo roubo à joalheira em 1898. Cuidou-se com um tratamento de auto-sugestão cujo lema era “Hoje sob todos os pontos de vista vou cada vez melhor”. Interessou-se pela técnica da estereoscopia e adquiriu um equipamento Verascope, da Maison Richard, após visitar uma exposição de fotografias estereocópicas no Grand Palais. Lá constatou que havia pouquíssimos registros do Brasil, todos de mulheres negras vendendo abacaxis. Santos começou a praticar a fotografia amadora e foi em Portugal que produziu seu primeiro registro, no pinhal de Caldas da Rainha. Seu pai, José Antonio dos Santos, faleceu (Correio da Manhã, 20 de maio de 1952).

1907 Provavelmente, foi um dos proprietários do Cinema Pavilhão Progresso, na rua Hadock Lobo, 16. O cinema foi inaugurado em 31 de outubro de 1907 (Jornal do do Brasil, 30 de outubro de 1907, na primeira coluna).

1920 – Guilherme Santos morava na rua Conde de Bonfim, 86, na Tijuca.

1922 – Santos cedeu ao então ministro do Exterior, José Manuel de Azevedo Marques (1865 – 1943), milhares de reproduções estereográficas de quadros da natureza brasileira que foram distribuídas aos estrangeiros que vieram representar seus países nas comemorações do centenário da independência do Brasil. Deixou de trabalhar na Casa Luiz de Rezende ( Correio da Manhã, 20 de maio de 1952).

1923 – Foi criado o Photo Club Brasileiro, uma associação de fotógrafos, no Rio de Janeiro, pelos associados do Photo Club do Rio de Janeiro, fundado em 1910, que se juntaram a fotógrafos de arte para debater as relações entre fotografia e arte. O Photo Club Brasileiro promovia cursos, concursos, exposições e excursões. Publicou as revistas Photo Revista do Brasil (1925 – 1926) e Photogramma (1926 – 1931). Também organizava salões anuais, o primeiro deles inaugurado em 4 de julho de 1924, no Liceu de Artes e Ofícios (artigo de Fernando Guerra Duval, na Gazeta de Notícias, 9 de julho de 1924), além de divulgar novas técnicas e estéticas, mantendo correspondência com sociedades internacionais de fotografia. Até o fim da década de 1940, foi uma instituição fundamental na difusão da ideia da fotografia como arte. Uma matéria da revista Para Todos, de 17 de setembro de 1927, sobre a quarta exposição anual do Photo Club ilustrava essa função primordial da associação. Alguns de seus membros de destaque foram Alberto Friedmann, Barroso Neto, Fernando Guerra Duval, Herminia Borges, João Nogueira Borges, Oscar de Teffé e Silvio Bevilacqua.

 

 

maio de 1925 –  Guilherme Santos tornou-se membro do Photo Club Brasileiro. Publicou na edição de lançamento da Photo Revista do Brasil, órgão oficial da associação, o artigo “Photographia Estereoscópica”. No expediente da revista, aparece como um de seus principais colaboradores. E, nas páginas dedicadas às notícias do Photo Club, que acabava de se instalar em uma nova sede, na rua 13 de maio, 35, aparece como um dos membros recentes da associação. O presidente e o vice-presidente do Photo Club Brasileiro eram Alberto Friedmann e Fernando Guerra Duval (18? – 1959), respectivamente.

 

“Photographia Estereoscópica”

Por Guilherme A Santos

Confeccionar uma photographia é quasi sempre reconstruir uma recordação!

Nenhuma outra photographia trabalhada pelos processos conhecidos, pôde dar-nos tamanha satisfação, produzir-nos impressão tão viva  e tão nitida daquilo que quizermos recordar como a photographia estereoscopica! Seja o retracto de um ente querido, seja uma paysagem, ou ainda uma reunião de família, cujo objecto exprima um momento feliz da nossa existencia!

A sensação do relevo e da perspectiva que nos dá um positivo sobre vidro, copia de um cliche estereoscopico, introduzido no instrumento apropriado, é inegualavel! inconfundivel! incomparavel!

Ao olhar, apresentam-se as imagens das creaturas, da Natureza ou dos objectos, com a expressão a mais perfeita e verdadeira , mostrando-nos em destaque todos os planos que as objectivas colheram na extensão do angulo focal!

Como passa tempo, o que é possível de encontrar que seja mais agradável, mais divertido do que os positivos sobre vidro da photoestereoscopia!?

Reunidos em família e acompanhados de bons amigos sentados em redor de uma mesa, passa-se de mão em mão o apparelho estereoscópicos exibindo as differentes séries de positivos! Algumas, despertando recordações aos que, num afogar de saudades revêem os bons momentos que passaram, contemplando imagens de creaturas que talvez nunca mais encontrem no caminho da vida e que fizeram a delícia daqueles momentos, em uma estação de águas, em uma excursão, em cidades de verão, a bordo de um transatlântico, na convivência íntima de uma longa viagem, etc.

Outras séries apresentando o esplendor da Natureza em grandes quadros compostos com senso esthético, com observação artística que estasiam, que empolgam e que nunca cançaríamos de contemplar são photografias que provam como é impossível negar o extraordinário poder que tem a natureza, de impressionar e fazer vibrar a alma das creaturas com suas majestosas creações!

Nesse particular a nossa terra recebeu do CREADOR um dote precioso, o qual infelizmente em vez de ser transportado para as chapas da photographia por meio das objectivas dos differentes apparelhos, tem o homem esbanjado e destruido quasi inconscientemente sem considerar o grande mal que causa ao bem commum e sem reflectir no crime que pratica!

Disse PAULO MANTEGAZZA, capitulo IV no “O LIVRO DAS MELANCHOLIAS” de uma forma encantadora e com a alma amargurada: que se conhecesse DEUS, dir-khe-hia que na sua infinita misericordia, perdoasse todos os peccados dos homens e reservasse toda a sua ira, toda as suas vinganças, tododos seus raios, para o homem que destróe uma “FLORESTA”!!…

Faço minhas as palavras do primoroso escriptor, mas accrescento que o homem que dedicar-se á photographia, de preferenciaa estereoscopica, no contacto intimo e constante que ele tiver com a NATUREZA, quando a tiver estudado bem, irá lentamente habituando-se a apreciar devidamente a sua obra grandiosa, sentirá despertar em sua alma, sentimentos delicadosque até então desconhecia e difficilmente será capaz de derrubar uma arvore ou consentir que alguem o faça em sua presença!

A falta de amor e o abandono ás nossa bellezas naturaes é patente! Cito um exemplo mui recente:

Por uma destas lindas manhãs de ABRIL (era dia feriado) percorremos uma parte da estrada que liga o ALTO DA BOA VISTA ao SUMARÉ.

É uma das maravilhas da TIJUCA! A vegetação é abundante e variada e conta-se ás dezenas, arvores gigantescas cujas ramadas projectam sombras extensas sobre o caminho!

O sol imprimia uma luz de oiro sobre o verde esmeralda do arvoredo e fazia pensar que foi a NATUREZA quem inspirou os nossos antepassados sobre a escolha das cores para a nossa bandeira!

Caminhamos cerca de 6 kilometros ida e volta e gastamos cerca de 5 horas. Pois bem, nesse demorado percurso, cruzamos com 3 outros grupos de excursionistas, todos elles, compunham-se de estrangeiros!

Nem um brasileiro! nem um amador da photographia! Digo, encontramos um brasileiro, que empunhando uma vara que tinha um sacco de gaze preso a uma das extremidades, caçava as lindas borboletas azues de grandes azas que faziam o encanto daquellas paragens! aquelle rapaz de 20 annos presumives, de bella estaturaphysica, fazia-o como meio de vida! Contamos estendidas sobre um jornal, 20 daquellas borboletas, apanhadas em menos de uma hora! Pobrezinhas! a  NATUREZA limitou-lhes curtíssima existência, nem mesmo a essas deixam viver!

Creio ser o momento de ser transformada essa situação. A Photo-Revista vem preencher uma lacuna e acreditamos que uma campanha sustentada com perseverança por todos os seus collaboradores, daria bom resultado, no sentido de desenvolver o gosto dos brasileiros pela arte photographica: talvez conseguíssemos convence-los de trocar uma ou outra vez (às horas de ócio) os encantos do lar doméstico, pelos encantos naturaes, lembrando-lhes que em companhia de nossa família e em contacto com a floresta, também construímos lares provisorios sob a benção da mãe de tudo e de todos que é a NATUREZA!

(Photo Revista do Brasil, vol 1, maio de 1925, pg 14)

Além disso, a fotografia da capa era de sua autoria (O Brasil, 31 de maio de 1925, na sexta coluna, sob o título “Publicações”). E, na mesma edição da revista, foi publicada uma propaganda das fotografias estereoscópicas de Guilherme. O endereço, rua Buenos Aires, 93, é o mesmo do escritório dos cofres belgas Fichet, empresa que ele representava no Brasil. Posteriormente, o escritório foi transferido para a rua do Rosário, 146.

1937 Resumo do assalto ocorrido na Casa Luiz de Rezende, em 1898, com retratos dos sócios Luiz de Rezende e José Antonio dos Santos, pai de Guilherme (Noite Illustrada, 25 de maio de 1937).

1942 – Publicação da matéria “Rio desaparecido”, de Escragnolle Doria, sobre a importância dos arquivos fotográficos de Augusto Malta e Guilherme Santos (Revista da Semana, 30 de maio de 1942).

1945 – Publicação no Boletim de Belas Artes de outubro de um artigo sobre o desmonte do Morro do Castelo com entrevista de Guilherme Santos (Correio da Manhã, 8 de maio de 1952).

1950 – Publicação de matéria elogiando a coleção de fotografias de Guilherme Santos (Jornal do Brasil, 24 de março de 1950, na última coluna sob o título “Belas Artes). Publicação de uma reportagem de Walter Sampaio sobre o “Arquivo Guilherme dos Santos”. Na matéria, Santos revelou ter vontade de “expor em um museu o seu valioso arquivo histórico e estereoscópico nacional”. (A Noite Ilustrada, 1º de agosto de 1950).

 

 

1951 O Departamento de História e Documentação do Rio de Janeiro examinou a coleção fotográfica de Guilherme Santos (O Malho, setembro de 1951).

1952 – Faleceu sua esposa, Maria Mendonça dos Santos, em 26 de maio ( Correio da Manhã, 30 de maio de 1952, na primeira coluna). Na coluna “Pequenas Reportagens”, é lembrado um artigo do Boletim de Belas Artes de outubro de 1945, onde Guilherme Santos comentava seus registros fotográficos do desmonte do Morro do Castelo (Correio da Manhã, 8 de maio de 1952). Na mesma coluna, foi publicada uma matéria sobre Guilherme Santos ( Correio da Manhã, 20 de maio de 1952). Finalmente na coluna de 31 de maio de 1952, o assunto foi a coleção de fotografias de Santos.

 

 

1954 –  Às vésperas do Natal, a sede da G.A. Santos & CIA, localizada na Rua do Rosário, 146, sofreu um incêndio. A única coisa resgatada foi o acervo de fotografias de Guilherme que estava dentro de um cofre à prova de fogo. Foi devido a esse fato que Santos decidiu vender sua coleção de fotografias (Correio da Manhã, 24 de dezembro de 1954).

1956 – Na primeira página do Jornal do Brasil, foi publicada a matéria “O Rio de Janeiro através da estereoscopia”, assinada por Augusto Maurício, sobre a coleção de fotografias de Guilherme Santos ( Jornal do Brasil, 27 de maio de 1956).

1964 – A Coleção Guilherme Santos foi adquirida pelo Banco do Estado da Guanabara, em 28 de abril de 1964, para iniciar, juntamente com a coleção de fotografias de Augusto Malta (1864 – 1957), o acervo do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro. O contrato de compra e venda foi assinado pelo filho e procurador de Guilherme, Manoel Antônio dos Santos.

1965 – Inauguração do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, em 3 de setembro de 1965 (Diário de Notícias, 2 de setembro de 1965). A maior parte da obra de Santos, que inclui 17.812 mil negativos e 9.310 mil positivos (em vidro), além de 1.302 ampliações em papel feitas a partir dos negativos, está sob a guarda da instituição.

janeiro de 1966 – Guilherme Santos faleceu em 26 de janeiro, na casa de sua filha Francisca, na Ilha do Governador. Na época, ele morava na rua Cesário Alvim, 39. Anúncio da missa de sétimo dia de Guilherme Santos (Diário de Notícias, 30 de janeiro de 1966).

1984 – Fotografias do Rio Antigo de autoria de Guilherme Santos fizeram parte da exposição “19 anos do Museu da Imagem e do Som” (Última Hora, 27 de dezembro de 1984, na última coluna).

2013 – Um conjunto de cerca de 3000 imagens produzidas pelo fotógrafo foi adquirida pelo Instituto Moreira Salles, em 2013.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

A hora e o lugar – organizadores Sergio Burgi e Samuel Titan Jr. IMS – Rio de Janeiro, 2015.

Antologia Brasil: 1890-1930 – Pensamento crítico em Fotografia. Organização Ricardo Mendes – FUNARTE – Rio de Janeiro, 2013.

Cenas cariocas: o Rio de Janeiro através das estereoscopias de Guilherme dos Santos, de Maria Isabela Mendonça dos Santos – UFF – Niterói, 2014.

Depoimento oral de Lilia Maria Maya Monteiro na série Projetos Especiais – Projeto Guilherme Santos, Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, em 22 de janeiro de 1988.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

PARENTE, José Inacio. A Estereoscopia no Brasil. Sextante – Rio de Janeiro, 1999.

Site do Instituto Moreira Salles

Site do Museu da Imagem e do Som

MELLO, Maria Teresa Bandeira de. Arte e fotografia: o movimento pictorialista no Brasil. Edição Frederico Gomes; apresentação Angela Magalhães. Rio de Janeiro: Funarte, 1998. (Luz & reflexão, 7)., p. 68.

PESSANHA, Maria Edith de Araújo. A Estereoscopia: o Mundo em Terceira Dimensão. Rio de Janeiro, 1991.

SANTOS, Maria Isabela Mendonça dos. Cenas cariocas: o Rio de Janeiro através das estereoscopias de Guilherme Santos (1910 – 1957). Niterói: Universidade Federal Fluminense. Programa de Pós-Graduação em História, 2014.

TURAZZI, Maria Inez. Poses e Trejeitos: a fotografia na era do espetáculo (1839 – 1889). Rio de Janeiro: Funarte/Rocco, 1995.

VASQUEZ, Pedro Karp. A Fotografia no Império. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. 2002.