Prédios da Exposição Internacional do Centenário da Independência de 1922 que ainda existem

Ainda existem seis prédios que foram ocupados por atividades da Exposição Internacional do Centenário da Independência, realizada em 1922, no Rio de Janeiro. São eles o Petit Trianon, que abrigou o Pavilhão da França e é a atual sede da Academia Brasileira de Letras; o atual edifício do Museu Histórico Nacional, que foi ampliad e remodelado para abrigar o Pavilhão das Grandes Indústrias (O Paiz, 3 de outubro de 1922, terceira colunaExposição de 1922, dezembro de 1922); o Pavilhão da Estatística, atualmente o prédio do Centro Cultural do Ministério da Saúde (Fon-Fon, 28 de outubro de 1922); o de uma das atuais sedes do Museu da Imagem e do Som, que foi o Pavilhão da Administração e do Distrito Federal; e o prédio do Pavilhão das Indústrias Particulares, que depois sediou o restaurante Albamar, e que já existia antes da Exposição de 1922 e abrigava o Mercado Municipal. Em Lisboa, encontra-se o Pavilhão Carlos Lopes, que foi o Pavilhão das Indústrias de Portugal (Revista da Semana, 23 de maio de 1923).*

Exposição Internacional do Centenário da Independênciaum dos maiores eventos internacionais já realizados no Brasil, foi inaugurada no Rio de Janeiro em 7 de setembro de 1922 e terminou em 24 de julho do ano seguinte (O Paiz, 25 de julho de 1923). Seu fim estava previsto para março de 1923, mas como algumas construções não estavam concluídas na data de sua inauguração, foi prorrogada até julho.

 

Fotografias dos prédios construídos ou usados na Exposição Internacional do Centenário da Independência em 1922, que ainda existem

 

Petit Trianon, que abrigou o Pavilhão da França, edificado sob a chefia do arquiteto Emile Louis Viret (1882 – 1968). Seu adjunto era o também arquiteto Gabriel Marmorat (1882 – 1951). É a atual sede da Academia Brasileira de Letras.

 

 

Atual Museu Histórico Nacional, que abrigou o Pavilhão das Grandes Indústrias. Para integrar a Exposição de 1922, as edificações do antigo Arsenal de Guerra, a Casa do Trem e o Forte Santiago foram ampliadas e remodeladas, com uma decoração característica da arquitetura neocolonial.

 

Uma das atuais sedes do Museu da Imagem e do Som, que foi o Pavilhão da Administração e do Distrito Federal, projeto do arquiteto italiano Sylvio Rebecchi (1882 – 1950). 

 

 

O Pavilhão de Estatística, projetado pelo professor da Escola Nacional de Belas Artes, Gastão da Cunha Bahiana (1879-1959), é atualmente o prédio do Centro Cultural do Ministério da Saúde. Gastão Bahiana escolheu para o edificio a sobriedade do estilo Luís XVI, prejudicada pela cúpula desenhada por seu sócio Nereu Sampaio. Em 1930, a cúpula, após insistência de Gastão Bahiana, foi retirada.

 

 

 Prédio do Pavilhão das Indústrias Particulares, no Mercado Municipal . As obras para a construção do novo Mercado Municipal, todo metálico e construído na Inglaterra e na Bélgica, começaram em 1903 e faziam parte do plano de roformas urbanas do prefeito Pereira Passos. Seu projeto foi do engenheiro português Alfredo Azevedo Marques (18? – 19?) e foi inaugurado, em 14 de dezembro de 1907 (Gazeta de Notícias, 15 de dezembro de 1907, primeira coluna). O material do mercado, feito de ferro, veio da Bélgica. Recebeu, em 1922, um revestimento provisório em estilo neocolonial para integrar a Exposição do Centenário da Independência. A partir de 1933, sediou o restaurante Albamar. Foi demolido em 1962, porém, no mesmo ano, a torre nordeste, onde está o Albamar, havia sido tombada.

 

 

O Pavilhão das Indústrias de Portugal, atual Pavilhão Carlos Lopes, em Lisboa. Foi idealizado pelos arquitetos Guilherme (1891 – 1969) e Carlos Rebello de Andrade (1887 – 1971) e Alfredo Assunção Santos (? – 1968). Construído no Brasil para a Exposição de 1922, o pavilhão foi reinaugurado em Lisboa, em 3 de outubro de 1932, com a Grande Esposição Industrial Portuguesa e batizado de Palácio das Exposições. Passou a chamar-se Pavilhão Carlos Lopes, em 1984, em homenagem ao atleta português. Foi fechado em 2003 e reabriu, em 2017, depois de obras de remodelação.

 

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

* Este parágrafo foi reescrito em 10 de abril de 2023.

 

Fontes:

Blog Histórias e Monumentos

FRANÇA, Carolina Rebouças. O desaparecimento do Mercado Municipal Praça XV, fator na formação do espaço público da cidade do Rio de Janeiro. I Encontro Nacional da Associação Nacional e de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, 29 de novembro a 3 de dezembro de 2010.

LEVY, Ruth. A exposição do centenário e o meio arquitetônico carioca no início dos anos 1920. Rio de Janeiro : EBA/UFRJ, 2010.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

Site Centro Cultural Ministério da Saúde

Site Museu Histórico Nacional

Site Rio Memórias

WANDERLEY, Andrea. Série 1922 – Hoje, há 100 anos” VIII – A abertura da Exposição Internacional do Centenário da Independência do Brasil e o centenário da primeira grande transmissão pública de rádio no país in Brasiliana Fotográfica, 7 de setembo de 2022.

O centenário da morte de Rui Barbosa, que passou à história como a “Águia de Haia”

“O direito dos mais miseráveis dos homens, o direito do mendigo, do escravo, do criminoso, não é menos sagrado, perante a justiça, que o do mais alto dos poderes. Antes, com os mais miseráveis é que a justiça deve ser mais atenta, e redobrar de escrúpulo; porque são os mais maldefendidos, os que suscitam menos interesse, e os contra cujo direito conspiram a inferioridade na condição com a míngua nos recursos”.

Trecho de Oração aos Moços, de Rui Barbosa*

 

Com duas imagens realizadas por fotógrafos ainda não identificados, a Brasiliana Fotográfica lembra o centenário da morte do baiano Rui Barbosa (1849 – 1923), abolicionista e um dos artífices da República brasileira, figura ilustre de nossa história (O Paiz2 de março e 3 de março de 1923). Uma das fotos, produzida em torno de 1918, o retrata ao lado do engenheiro Paulo de Frontin (1860 – 1933), diante de um navio, no Porto do Rio de Janeiro. A outra mostra seu cortejo fúnebre, realizado em 3 de março de 1923. Ambas pertencem ao acervo fotográfico do Instituto Moreira Salles, uma das instituições fundadoras do portal.

 

 

 

 

O advogado, jurista e político Rui Barbosa nasceu em 5 de novembro de 1849, em Salvador, e faleceu em Petrópolis, em 1º de março de 1923. Foi um dos mais proeminentes intelectuais de seu tempo, tendo se destacado também como diplomata, escritor, jornalista, orador e tradutor. Foi um abolicionista atuante, tendo colaborado, assim como o também baiano Luis Gama (1830 – 1882), no periódico Radical Paulistano, em 1869 (Radical Paulistano, 19 de agosto de 1869, primeira coluna). Foi um dos autores da Constituição da Primeira República, de 1891, mas, por denunciar o autoritarismo de Floriano Peixoto (1839 – 1895) e apoiar a Revolta da Armada, exilou-se, em 1893, em Buenos Aires, da onde partiru para Lisboa, Madri, Paris e finalmente Londres. Retornou ao Brasil em 1895. Foi também membro fundador da Academia Brasileira de Letras, em 1897.

 

 

Defendeu as liberdades individuais, o federalismo, o ensino técnico e o acesso das mulheres às faculdades. Foi também admirador do pianista Ernesto Nazareth (1863 – 1934), que ia escutar na sala de espera do Cinema Odeon. Era também grande fã dos Batutas e presença frequente nas apresentações do grupo no Cine Palais.

 

 

Ganhou o cognome de Águia de Haia do Barão do Rio Branco (1845 – 1912), ministro das Relações Exteriores, por sua participação na II Conferência de Paz, realizada, entre 15 de junho e 18 de outubro de 1907, em Haia, na Holanda, quando fez uma notável defesa do princípio da igualdade dos Estados. Foi como Embaixador Extraordinário, Ministro Plenipotenciário e Delegado do Brasil, cuja nomeação havia sido realizada, em 29 de abril de 1907, por decreto do presidente Afonso Pena (1847 – 1909).

 

 

Ao longo de sua vida foi deputado, senador e ministro da Fazenda do governo de Deodoro da Fonseca (1827 – 1892), primeiro presidente do Brasil.

 

“De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”.

Trecho de discurso proferido por Rui Barbosa no Senado, em 1914

 

Em 1910, foi candidato à Presidência da República, na chamada campanha civilista, mas foi vencido por Hermes da Fonseca (1855 – 1923).

 

 

 

Foi eleito juiz da Corte Internacional de Justiça, em 14 de setembro de 1921. Em agosto de 1922, sofreu um edema pulmonar. Cerca de um mês depois, recebeu a Grã Cruz da Ordem de S. Tiago, de Antônio José de Almeida (1866 – 1929), presidente de Portugal, em visita oficial ao Brasil.

Rui Barbosa faleceu, como já mencionado, em Petrópolis, em 1º de março de 1923, e foram-lhe concedidas honras de Chefe de Estado. Seu corpo foi velado na Biblioteca Nacional e enterrado no Cemitério de São João Batista, com grande acompanhamento popular, em 4 de março (O Paiz, 4 de março e 5 de março de 1923).

 

 

Em 1949, ano do centenário de seu nascimento, seus restos mortais foram transferidos para o Fórum Rui Barbosa, em Salvador, na Bahia (Correio da Manhã, 4 de novembro de 1949, primeira coluna; Diário de Notícias, 9 de novembro de 1949). Foi publicada uma matéria sobre a Casa de Rui Barbosa (Revista da Semana, 5 de novembro de 1949).

 

 

Em sua obra Ordem e Progresso (1974), Gilberto Freyre (1900 – 1987) o definiu como “o homem capaz de grandes façanhas e tremendas vitórias sobre gigantes luros e rosados; espécie de Davi brasileiro em face de Golias nórdicos ou germânicos”.

 

“Rui Barbosa foi, entre nós, refletida ou espontaneamente, o ideólogo de uma reforma da sociedade. (…) essa reforma pode ser chamada, dentro dos limites que indicarei, a ascensão da classe média”.

San Tiago Dantas (1911 – 1964) em Rui Barbosa e a Renovação da Sociedade

 

“Hoje sabemos que mais do que o seu vernáculo, do que o seu purismo, o que fica de Rui é a capacidade de sacrifício. Ele soube sempre perder. (…) Como a semente do Evangelho que precisa morrer para frutificar, ele soube morrer pelo dia seguinte do Brasil”.

Oswald de Andrade (1890 – 1954) em Rui e a árvore da liberdade

 

“Rui foi um humanista, não só pelo culto apaixonado do verbo, aprendido para além de sua mera significação pragmática, mas também pelo grau de seu desapego à certeza do êxito, pela sua virtù do risco, pelo amor à nobreza do gesto de optar”.

Miguel Reale (1910 – 2006) em Posição de Rui Barbosa no Mundo da Filosofia

 

* O discurso Oração aos Moços, de Rui Barbosa, foi proferido na formatura da turma de 1920 da Faculdade de Direito de São Paulo, lido, em de 29 março de 1921, pelo catedrático de Direito Romano, Reinaldo Porchat (1868 – 1953), que viria a ser o primeiro reitor da Universidade de São Paulo.

 

 

Andrea C.T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

BARBOSA, Ruy, 1849-1923. Oração aos moços / Rui Barbosa ; prefácios de senador Randolfe Rodrigues, Cristian Edward Cyril Lynch. – Brasília : Senado Federal, Conselho Editorial, 2019.

CARDIM, Carlos Henrique. A raiz das coisas – Rui Barbosa: o Brasil no mundo. Civilização Brasileira, 2023.

GABRIEL, Juan de Souza. Vitórias do pequeno Davi contra muitos Golias. O GLOBO, 1º de março de 2023.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

SILVA, Leandro de Almeida. O discurso modernizador de Rui Barbosa (1879 – 1923). Dissertação de Mestrado. Minas Gerais: Universidade Federal de Juiz de Fora, 2009.

Site Academia Brasileira de Letras

Site Casa de Rui Barbosa

Site JusBrasil

Site Senado Federal

A fundação da Academia Brasileira de Letras

Somente seis prédios da Exposição Internacional do Centenário da Independência, realizada em 1922, ainda existem e o da atual sede da Academia Brasileira de Letras, que hoje completa 125 anos, é um deles. É uma réplica do Petit Trianon, residência de campo da rainha da França, Maria Antonieta (1775 – 1793), em Versalhes, e abrigou, durante o evento, o Palácio da França (Fon Fon8 de julho 23 de setembro de 1922). Foi edificado sob a chefia do arquiteto Emile Louis Viret (1882 – 1968). Seu adjunto era o também arquiteto Gabriel Marmorat (1882 – 1951). Para celebrar o aniversário da ABL que, segundo seu estatuto tem por fim a cultura da língua e da literatura nacional, a Brasiliana Fotográfica destaca uma fotografia produzida por Thiele & Kollien, do acervo do Instituto Moreira Salles, uma das instituições fundadoras do portal (*).

 

 

 

A Exposição Internacional do Centenário da Independência, um dos maiores eventos internacionais já realizados no Brasil foi inaugurada no Rio de Janeiro em 7 de setembro de 1922 e terminou em 24 de julho do ano seguinte (O Paiz, 25 de julho de 1923). Seu fim estava previsto para março de 1923, mas, como algumas construções não estavam concluídas na data de sua inauguração, foi prorrogada até julho. Durante sua realização foi produzido o Álbum Internacional do Centenário da Independência  com fotografias de autoria de Carlos Bippus, Thiele & Kollien e Lopes.

Além do edifício da ABL, cinco prédios da Exposição de 1922 ainda existem. No Rio de Janeiro, são o do Pavilhão da Administração e do Distrito Federal, atualmente uma das sedes do Museu da Imagem e do Som; o do Palácio das Indústrias, atual Museu Histórico Nacional;  o do Pavilhão de Estatística, órgão do Ministério da Saúde, e o do Pavilhão das Indústrias Particulares, o restaurante Albamar. Este último já existia antes da Exposição e abrigava o Mercado Municipal. O Pavilhão das Indústrias de Portugal, foi transferido para Lisboa e é o atual Pavilhão Carlos Lopes.

 

Segundo o site da Academia Brasileira de Letras:

“No fim do século XIX, Afonso Celso Júnior, ainda no Império, e Medeiros e Albuquerque, já na República, manifestaram-se a favor da criação de uma academia literária nacional, nos moldes da Academia Francesa. O êxito social e cultural da Revista Brasileira, de José Veríssimo, daria coesão a um grupo de escritores e, assim, possibilidade à idéia”.

O escritor e poeta Lucio de Mendonça (1854 – 1909) teve a iniciativa de propor uma Academia de Letras, sob a égide do Estado. As primeiras notícias relativas à sua fundação foram divulgadas em novembro de 1896, pela Gazeta de Notícias e pelo Jornal do Commercio (Gazeta de Notícias, 10 de novembro de 1896, quarta coluna; Jornal do Commercio, 11 de novembro de 1896, segunda coluna).

 

 

Até sua fundação, foram realizadas sete sessões preparatórias: a primeira em 15 de dezembro de 1896, e, a última, em 28 de janeiro de 1897, quando foi divulgado o estatuto da instituição. Ambas em uma sala da redação da Revista Brasileira, na Travessa do Ouvidor, nº 31 (Gazeta de Notícias, 16 de dezembro de 1896, quarta coluna; e Gazeta de Notícias, 29 de janeiro de 1897, terceira coluna).

 

 

 

 

A Academia Brasileira de Letras (ABL), inspirada na Academia Francesa, foi, finalmente, fundada em 20 de julho de 1897 e em sua sessão inaugural estavam presentes 16 acadêmicos em uma sala do Museu Pedagogium, na rua do Passeio, Centro do Rio de Janeiro. Seu primeiro presidente foi o escritor Machado de Assis (1839 – 1908). Joaquim Nabuco (1849 – 1910) foi seu primeiro secretário-geral; Rodrigo Otávio (1866 – 1944), 1º secretário; Silva Ramos (1853 – 1930), 2º secretário; e Inglês de Sousa (1853 – 1918), tesoureiro. Desde o início tem 40 membros, os imortais.

 

 

 

Nabuco pronunciou o discurso inaugural. A partir desta data, a Academia passou a realizar reuniões semanais no Pedagogium (Gazeta de Notícias, 22 de julho de 1897, sétima coluna).

 

 

Entre 1905 e 1923, a ABL ocupou o prédio do Silogeu, onde também funcionavam o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, a Academia de Medicina e o Instituto dos Advogados do Brasil e o Instituto Histórico. Este edifício foi construído durante as reformas do prefeito Pereira Passos (1836 – 1913) e foi demolido no início da década de 1970 para o alargamento da Rua Teixeira de Freitas.

 

 

 

Em 15 de dezembro de 1923, quando comemorava 27 anos de fundação, a ABL mudou-se para seu endereço atual e sua primeira sede própria, no Petit Trianon, doado pelo governo da França, localizado na avenida Presidente Wilson (Jornal do Brasil, 6 de julho de 1923, quinta coluna; 15 de dezembro de 1923, penúltima coluna).  No prédio são realizadas as reuniões regulares dos Acadêmicos e as Sessões Solenes comemorativas e de posse de seus novos membros.

 

 

Neste mesmo ano, havia sido inaugurado, meses antes, um monumento em homenagem a Santos Dumont (1873 – 1932), no Petit Trianon (Jornal do Brasil, 13 de março de 1923).

 

 

Em 20 de julho de 1979, foi inaugurado um edifício ao lado do Petit Trianon, batizado como Palácio Austregésilo de Athayde (1898 – 1993), Acadêmico que ocupou durante 35 anos, de 1958 até sua morte, em 1993, a presidência da instituição. O novo edifício tornou-se importante parte do patrimônio da ABL. A primeira mulher eleita Acadêmica foi a escritora cearense Rachel de Queiroz (1910 – 2003), em 4 de novembro de 1977. Em 1996, a escritora Nélida Piñon (1937 – 2022) foi eleita a primeira mulher presidente da instituição, que é atualmente presidida pelo jornalista Merval Pereira (1949-).

 

Início

 

 

 

 

(*) Esse parágrafo foi alterado em 26 de julho de 2022.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Blog Rio Curioso

Cem Anos de Cultura Brasileira. Rio de Janeiro : Academia Brasileira de Letras, 2002

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

O Globo, 20 de julho de 2022

PISA, Daniel. Academia Brasileira de Letras Histórias e Revelações. Editora Fine Books, 2013.

Site Academia Brasileira de Letras

Site Arquivo Arq

Site Histórias e Monumentos

Após encantar-se com Molière e Giulietta Dionesi, o imperador Pedro II sofre um atentado

Dom Pedro II (1825 – 1891) foi alvo de um atentado quando saía do Theatro Sant´Anna, no Rio de Janeiro, com alguns membros de sua família, em 15 de julho de 1889. Foi o primeiro governante do Brasil a sofrer um atentado!

 

 

Pela primeira vez, após um reinado de mais de meio século, fora quebrado o respeito que sempre cercou a pessoa do imperador”. 

                                                                                                                                            O Paiz, 17 de julho de 1889

 

Na verdade, Pedro II, um Habsburgo perdido nos trópicos, cuja figura de 1,90m, louro e de olhos azuis contrastava com a aparência da maioria da população do Brasil, governou por quase 50 anos e não por mais de meio século – foram 49 anos, três meses e 22 dias. Só foi superado por duas inglesas e rainhas do Reino Unido: Vitória (1817 – 1901), que reinou de 1837 até sua morte, em 1901; e Elizabeth II (1926 -), que ocupa o trono desde 1952. Pedro II governou o Brasil, país pelo qual era apaixonado, de 23 de julho de 1840 a 15 de novembro de 1889 e, segundo José Murilo de Carvalho, o fez “com os valores de um republicano, com a minúcia de um burocrata e com a paixão de um patriota. Foi respeitado por quase todos, não foi amado por quase ninguém”. Lembramos aqui o fato de dom Pedro II ter sido um grande entusiasta da fotografia, tendo sido o primeiro brasileiro a possuir um daguerreótipo,e  provavelmente, o primeiro fotógrafo do Brasil. Devido ao seu interesse no assunto, implantou e ajudou decisivamente o desenvolvimento da fotografia no país.

 

 

Na noite de 15 de julho de 1889, houve a apresentação de uma jovem violinista italiana e a encenação de uma peça,  no Theatro Sant´Anna. O imperador Pedro II (1825 – 1891), acompanhado da imperatriz Teresa Cristina (1822 – 1889), de sua filha, a princesa Isabel (1846 – 1921), e do príncipe Pedro Augusto (1866 – 1934), seu neto mais velho, estiveram presentes.

 

 

Acessando o link para as fotografias de dom Pedro II disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas. 

 

O Theatro Sant´Anna localizava-se onde anteriormente ficava o Theatro Casino Franco-Brésilien. Foi reinaugurado em 29 de outubro de 1880, com a opereta do alemão Jacques Offenbach (1819 – 1880), La fille du tambour major, executada pela Companhia Lírica Francesa. Era, desde então, um dos palcos mais importantes do Rio de Janeiro. Ficava na Praça da Constituição, atual Praça Tiradentes (Revista Musical e de Bellas Artes, 30 de outubro de 1880, segunda coluna). Em 26 de janeiro de 1905, já propriedade do empresário Paschoal Segreto (1868 – 1920), foi reinaugurado com o nome de Theatro Carlos Gomes com a encenação da peça Papa Lebonnard, de Jean Aicard (1848 – 1921), com a Companhia Christiano de Souza e Lucinda Simões (O Malho, 21 de janeiro de 1905).

Voltando à noite de 15 de julho de 1889. O Sant’Anna achava-se repleto: platéia e camarotes ocupados por pessoas da melhor sociedade; as galerias cheias da gente que de ordinário a freqüenta (Novidades, 16 de julho de 1889, quinta coluna). Foi apresentada a comédia Escola de Maridos (1661), do célebre dramaturgo francês Molière (1622 – 1673), traduzida pelo jornalista e dramaturgo maranhense Arthur de Azevedo (1855 – 1908), que em um dos intervalos foi chamado ao camarote do imperador, que felicitou seu trabalho e manifestou o desejo de possuir uma cópia de sua excelente tradução (Gazeta de Notícias, 16 de julho de 1889, quarta coluna). Arthur de Azevedo foi, anos depois, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras e algumas de suas peças de maior sucesso foram A Capital Federal e O Mambembe.

 

 

Nos intervalos da peça, a violinista Giulietta Dionesi (c. 1877 – 1911), com a apenas 11 anos e já considerada uma virtuose do instrumento, executou a Grande Marcha Militar, do belga Hubert Leonard (1819 – 1890); e o Andante e Polonesa de Concerto, do francês Charles Dancla (1817 – 1907). Foi acompanhada por seu irmão, 10 anos mais velho do que ela, o maestro e pianista Romeu Dionesi (c. 1867 – ?). A apresentação foi um sucesso (Gazeta de Notícias14 de julho de 1889, quarta coluna; e 17 de julho de 1889, penúltima coluna).

 

GIULIETA1

A violinista italiana Giulietta Dionesi, aos 11 anos, em gravura da revista Pantheon

 

Os Dionesi haviam chegado em junho no Rio de Janeiro, após uma bem sucedida excursão pela Itália, Espanha e Portugal. No dia 6 de julho, Giulieta foi cumprimentar o imperador que, segundo noticiado, a recebeu com benéfico acolhimento e pediu que ela deixasse com ele o álbum com os artigos que a imprensa havia publicado sobre ela. Os irmãos ficaram órfãos de mãe e fugiram da Itália devido à exploração que o pai fazia do talento dos dois (Gazeta de Notícias, 29 de junho de 1889, quinta coluna; e 7 de julho de 1889, quinta coluna).

Enfim, a noite no Teatro Sant´Anna havia sido um sucesso absoluto! O espetáculo correu na melhor ordem. A atitude do povo era de todo o ponto pacífica e cortês. Porém, quando dom Pedro II e seus familiares, ao fim do espetáculo, chegaram ao saguão do teatro, houve uma manifestação contra a família imperial. Alguém gritou “Viva o Partido Republicano!”, abafado imediatamente esses gritos sediciosos aos aplausos de Viva o imperador! Viva a família imperial! Viva a monarquia! ((Novidades, 16 de julho de 1889, quinta coluna; e Novidades, 17 de julho de 1889, quinta coluna).

Causou a mais viva impressão a notícia da deplorável ocorrência de ontem à noite, às portas do teatro Sant’Anna e suas circunvizinhanças. Um grupo, quando o Imperador saía do teatro em companhia de sua augusta família, levantou vivas à república, o que produziu a maior confusão no povo, que em desafronta de Sua Magestade levantou vivas ao imperador. Sua Magestade embarcou em seguida no seu coche, que partiu a trote largo, e afirmam várias pessoas que, no momento de passar aquele por defronte da Maison Moderne, ou Stat-Coblentz, ouviu-se a detonação de um tiro” (Cidade do Rio, 16 de julho de 1889).

 

 

Foi na frente do restaurante Maison Moderne, localizado na própria Praça da Constituição, entre a rua Espírito Santo e a Travessa da Barreira, que foram disparados tiros na direção da carruagem imperial, que seguiu pela rua da Carioca em direção ao Paço Imperial.

 

 

Ainda na madrugada do dia 16 de julho, o 1º delegado de polícia, Bernardino Ferreira da Silva, começou as investigações. O primeiro detido, logo liberado, foi Germano Hasslocher. Depois compareceu à delegacia Eduardo José de Freitas informando que um funcionário da Maison Moderne, Antônio José Nogueira, conhecia o autor dos disparos, Adriano Augusto do Valle. Assim, o delegado Bernardino prendeu o acusado em um bonde da Companhia de Botafogo, na rua de Gonçalves Dias. Ele tinha 20 ou 21 anos, era natural de Coimbra, filho de Adriano Francisco Augusto do Valle e trabalhava desde maio como primeiro caixeiro do estabelecimento de pedras açorianas e máquinas para lavoura dos Srs. Ferreira & C., na rua Teófilo Otoni, nº 119, mesma rua onde residia, no nº 128. Na edição de O Paiz de 17 de julho de 1889, foram publicados alguns antecedentes do acusado que, segundo o periódico, há algum tempo discutia assuntos políticos , mostrando-se extremado em suas opiniões. Noticiou também o boato de que Adriano já havia dado um tiro em um retrato do conde d´Eu (1842 – 1922), marido da princesa Isabel, dizendo que sentia não poder fazer o mesmo, por enquanto, na pessoa desse príncipe (O Paiz, de 17 de julho de 1889; e Diário do Commércio, 17 de julho de 1889, terceira coluna).

 

 

Segundo alguns relatos, pouco antes do atentado, junto com outros rapazes, em bebedeira, Adriano do Valle teria afirmado ter coragem de dar “Vivas a República” diante do imperador. Foi incentivado pelos colegas, atirou e fugiu. Tentou se esconder em diversos hotéis, mas todos estavam cheios. No Hotel Provenceaux, pediu que o caixeiro Antônio Gonçalves guardasse os dois revólveres que possuía. Durante o interrogatório, confessou seu crime e declarou:

 

 

Houve um clima de consternação geral. O atentado causou polêmica em torno da imigração estrangeira, em crescimento durante a década de 1880, já que o criminoso era português, pertencendo à maior colônia de imigrantes da Corte e também à comunidade mais rica da cidade do Rio de Janeiro; e do movimento republicano.

Os republicanos imediatamente declararam-se contra o atentado, dissociando-se da ação criminosa. Quintino Bocaiuva (1836 – 1912 ), chefe do Partido Republicano e redator-chefe do jornal O Paiz, publicou o editorial “Os dois fatos“(O Paiz, 17 de julho de 1889, terceira coluna).

 

 

Outros jornais também se pronunciaram nesse sentido:

Infelizmente, houve ontem um atentado que não podemos atribuir senão à inconsciência de quem o praticou: ou loucura ou embriaguez, pois, por honra do partido republicano, não acreditamos que tal ato dele partisse. Esse triste acontecimento é ainda uma das consequências da profunda anarquia que lavra nos espíritos do Brasil, onde todas as noções de direito, dever e liberdade acham-se completamente obliteradas”. Tal ato contrariaria a “brandura do coração brasileiro e dos nossos costumes” (Gazeta da Tarde, 16 de julho de 1889, segunda coluna). 

“Revolucionários, sim, assassinos, nunca!”

“O Partido Republicano não tem a menor responsabilidade pelo desacato cometido contra S.S.M.M… O desacato que sofreu o chefe do estado, alquebrado pelos anos e pela moléstia, junto à santa senhora que o acompanhava só pode ser levado à conta da loucura daqueles que a todo transe procuram indispor e vilipendiar o nosso partido. Apelamos para o próprio imperador, e ele, que com cosciência nos diga, se julga que haja nesta terra um “verdadeiro republicano” que seja capaz de atentar contra a sua vida! Revolucionários, sim, assassinos, nunca!” (República Brazileira, 17 de julho de 1889, primeira coluna).

O próprio dom Pedro II, que no dia seguinte ao atentado foi com a imperatriz para o Palacete Itamaraty, no Alto da Boa Vista, procurou minimizar publicamente a importância do ocorrido, descartando a possibilidade de Adriano fazer parte de uma trama para sua deposição: “Não foi nada, foi um tiro de louco!” teria exclamado, na tentativa de encerrar o caso. Na ocasião, recebeu diversas visitas em desagravo ao ocorrido (O Paiz, 17 de julho de 1889, última coluna).

 

 

Devido à nacionalidade do acusado, o conselheiro Nogueira Soares, ministro de Portugal no Brasil, convocou seus compatriotas a uma reunião para a discussão sobre o atentado contra o imperador (Gazeta de Notícias, 21 de julho de 1889, sexta coluna). Associados das caixas beneficentes e associações portuguesas lançaram uma nota de repúdio ao crime e a diretoria do Liceu Literário Português anunciou seu total desacordo com o ato cometido contra o imperador: “Este ato manou de um louco, e os loucos não têm pátria” (Gazeta de Notícias, 18 de julho de 1889, terceira coluna).

Na reunião do ministério de Portugal, realizada no Gabinete Português de Leitura, no dia 24 de julho, o ministro Nogueira Soares leu um retrospecto dos acontecimentos acerca do atentado e fundamentou a seguinte proposta:

 

 

A Gazeta de Notícias publicou um editorial contra a posição aprovada por parte da colônia portuguesa durante a reunião (Gazeta de Notícias, 26 de julho de 1889, primeira coluna). O jornal O Paiz, cujo dono era o português João José dos Reis Junior, também se pronunciou afirmando que “A nacionalidade portuguesa não pode de modo algum ser lastimada pelo acidente da origem do jovem presumido criminoso” e desaprovando o ato de Nogueira Soares classificando- o de”azáfama de zumbaias à monarquia” e de “ostenstação de desprezo e de abandono para com o desventurado moço português (O Paiz, 28 de julho de 1889, quarta coluna).

Enquanto isso, o imperador seguiu recebendo, entre os meses de julho e agosto, vários telegramas o felicitando por ter sobrevivido ao atentado. Pelo mesmo motivo, também foram oferecidas diversas missas em Ação de Graças. Mas o fato é que a monarquia estava mesmo em seus estertores no Brasil. Em 9 de novembro, foi realizado o baile da Ilha Fiscal (Gazeta de Notícias, de 11 de novembro de 1889), que passou à história como o último baile do regime monárquico no país. Dias depois, em 15 de novembro, foi proclamada a República (Gazeta de Notícias, 16 de novembro de 1889).  Em 17 de novembro, a família real partiu para o exílio, na Europa, a bordo do Alagoas (Gazeta de Notícias, edição de 18 de novembro de 1889, sob o título “O Embarque do Imperador”, na segunda coluna).

Cerca de uma semana depois, no dia 23 de novembro de 1889, aconteceu o julgamento de Adriano do Valle perante o júri. Foi presidida pelo juiz Hollanda Cavalcanti. O reú compareceu acompanhado por seu curador, Julio Ottoni, e por seu defensor Ferreira Lima. O promotor do caso foi Lima Drummond. A defesa alegou que o grito de “Viva o Partido Republicano” tornara-se irrelevante devido à mudança de regime de governo ocorrido no Brasil; que Adriano não havia atirado contra a carruagem imperial já que nem os cocheiros nem os membros do piquete haviam ouvido disparos; e que não havia marca de tiros na carruagem. Argumentaram também que Adriano do Valle havia ingerido absinto, um dos motivos de ter tomado uma atitude irracional. O juiz Hollanda Cavalcanti fez 10 perguntas para os jurados, sendo a primeira “O acusado atirou no carro do imperador?” As demais estavam associadas a ela. Por 10 votos a 0, os jurados responderam “não” à primeira questão. As seguintes perderam o sentido e Adriano do Valle foi então, poucos dias após a proclamação da República, absolvido e posto em liberdade (Gazeta de Notícias, 24 de novembro, penúltima coluna).

Pedro II faleceu, no exílio, em Paris, em 5 de dezembro de 1891, no Hotel Bedford, na rua Arcade, no oitavo arrondissement da cidade. Foi retratado pelo renomado fotógrafo Nadar e seu atestado de óbito foi assinado por Jean Marie Charcot (1825 – 1893), Charles Jacques Bouchard (1837 – 1915) e por seu médico e amigo pessoal, Cláudio Velho da Motta Maia (1843 – 1897). A causa da morte foi pneumonia aguda no pulmão esquerdo.

 

Registro de morte de dom Pedro II

Registro de morte de dom Pedro II

Tradução do registro de morte do imperador:

Nós, abaixo assinados, Professores da Faculdade de Medicina e doutores em medicina, certificamos que Dom Pedro II d’Alcantara morreu em 5 de Dezembro de 1891 à meia noite e 35 (da manhã) no hotel Bedford, 17 rue de l’Arcade, em Paris, em conseqüência de uma pneumonia aguda do pulmão esquerdo.

Paris, 5 de dezembro de 1891

J.M Charcot

C. de Motta Maia

Bouchard”

Link para o registro da morte de Pedro II.

 

 

 

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Academia Brasileira de Letras

CPDOC

BESOUCHET, Lídia. Exílio e morte do Imperador. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1975

CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados, o Rio de Janeiro e a República que não foi. São Paulo: Cia. das Letras, 1987.

CARVALHO, José Murilo. Pedro II: ser ou não ser. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

Enciclopédia Britannica

HARING, Bertita. O Trono do Amazonas – a história dos Braganças no Brasil – José Olympio, RJ, 1944.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

Jornal da Manhã de Uberaba, 20 de setembro de 1918

MEDEIROS, Karla Armani. Giulietta Dionesi, a jovem violinista. O Diário de Barretos, 8 de janeiro de 2019.

OLIVEIRA, Olga Maria Frange de. O atentado e o resgate de um gênioJornal da Manhã (Uberaba), 20 de setembro de 2018.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. As barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

Site Naxos

Site Theatros do Centro Histórico do Rio de Janeiro

Site ViolinMan.com

VIDIPÓ, George. Um processo criminal nos jornais do século XIX: o atentado contra dom Pedro II. Anais do Encontro Internacional XVII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias, 2018.