O Pavilhão do Distrito Federal, atualmente uma das sedes do Museu da Imagem e do Som

Ao longo deste ano a Brasiliana Fotográfica publicou onze artigos na Série 1922, Hoje, há 100 anos, criada a partir dos centenários da Semana de Arte Moderna e da Exposição do Centenário da Independência do Brasil. Terminamos 2022 com um artigo relativo a essa última efeméride. É sobre o Pavilhão do Distrito Federal, atualmente uma das sedes do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro. Seu projeto foi do arquiteto italiano Sylvio Rebecchi (1882 – 1950). Aproveitamos para desejar um Feliz 2023!

Além do edifício do MIS, cinco prédios da Exposição de 1922 ainda existem. No Rio de Janeiro, são o do Pavilhão da França, atualmente sede da Academia Brasileira de Letras; o do Palácio das Indústrias, atual Museu Histórico Nacional;  o do Pavilhão de Estatística, órgão do Ministério da Saúde; e o do Pavilhão das Indústrias Particulares, o restaurante Albamar. Este último já existia antes da Exposição e abrigava o Mercado Municipal. O Pavilhão das Indústrias de Portugal, foi transferido para Lisboa e é o atual Pavilhão Carlos Lopes.

 

O Pavilhão do Distrito Federal, atualmente uma das sedes do Museu da Imagem e do Som

 

 

Projetado pelo arquiteto italiano Sylvio Rebecchi (1882 – 1950) e construído para ser o Pavilhão do Distrito Federal durante a  Exposição do Centenário da Independência do Brasil de 1922, é, desde 1965, uma das sedes do Museu da Imagem e do Som (MIS-RJ), no Centro, na Praça XV.

 

 

 

O MIS-RJ foi inaugurado em 3 de setembro de 1965, como parte das comemorações do IV Centenário da cidade do Rio de Janeiro (Jornal do Brasil, 3 de setembro; 9 de setembro; e 15 de outubro de 1965). Lá se encontra o acervo iconográfico com as fotografias de autoria de Augusto Malta (1864 – 1957), fotógrafo oficial da Prefeitura entre 1903 e 1936, e do fotógrafo amador Guilherme Santos (1871 – 1966), além de boa parte das coleções de partituras de Jacob do Bandolim (1918 – 1969) e Almirante (1908 – 1980). Antes o edifício havia abrigado a administração do Instituto Médico Legal e do Serviço de Registro dos Estrangeiros.

 

 

Sylvio Rebecchi compôs o júri que escolheu o Pavilhão do Brasil na Exposição de Filadélfia de 1926. O vencedor foi o então jovem arquiteto Lúcio Costa (Architectura no Brasil, novembro de 1925; Jornal do Brasil, 11 de novembro de 1925). Em 1926, Rebecchi foi eleito vice-presidente do Instituto Central dos Arquitetos (Architectura no Brasil, junho e julho de 1926). Faleceu em dezembro de 1950 (Tribuna da Imprensa, 7 de dezembro de 1950, última coluna).

 

 

Uma curiosidade: o pai de Sylvio, o italiano comendador Raphael Rebecchi (1844 – 1922), fundador da empresa Rebecchi & Cia, havia sido o responsável, em fins do século XIX, pelo projeto e pela construção da residência de José Baptista Barreira Vianna (1860 – 1925), fotógrafo amador que já foi tema de um artigo da Brasiliana Fotográfica. Foi a primeira casa na praia e uma das primeiras de Ipanema. Barreira Vianna, no final da década de 1890, havia adquirido um terreno do loteamento de José Antônio Moreira Filho (1830-1899), o barão e conde de Ipanema, exatamente na esquina das atuais avenida Vieira Souto e rua Francisco Otaviano, ao lado de onde seria construído, mais tarde, o Colégio São Paulo. Raphael Rebecchi também venceu, em 1904, o concurso de fachadas da Avenida Central, cuja história foi tema de outro artigo do portal (Jornal do Brasil, 27 de março de 1904, sexta coluna; Architectura no Brasil, fevereiro de 1922).

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Ipanema pelas lentes de José Baptista Barreira Vianna (1860 – 1925)

A Brasiliana Fotográfica homenageia Ipanema, um dos mais emblemáticos bairros do Rio de Janeiro, com uma seleção de registros de autoria do fotógrafo amador, o comerciante português José Baptista Barreira Vianna (1860-1925), que chegou ao Rio de Janeiro, em 1875. Deixou como legado dois álbuns com 98 fotografias em cada um, que atualmente pertencem ao acervo do Instituto Moreira Salles, uma das instituições fundadoras do portal. Um dos álbuns traz imagens de paisagens, prioritariamente, da Tijuca e de Ipanema, produzidas entre 1897 e 1905; o outro, cenas de família, retratos e vistas de interiores, no período entre 1897 e 1907. Essas fotografias são importantes documentos da virada do século no Rio de Janeiro.

 

 

Barreira Vianna trabalhou no comércio e abriu uma loja de produtos importados da Europa no Largo da Carioca. Com a esposa, Laura Moreira, e seis filhos, vivia no tradicional bairro da Tijuca. Possuía um espírito progressista e tinha como hobbies a marcenaria e a fotografia. Com um amigo fotógrafo, Sr. Mendes, produzia imagens com sua máquina, uma Eastman Kodak. No final da década de 1890, comprou um terreno do loteamento de José Antônio Moreira Filho (1830-1899), o barão e conde de Ipanema, exatamente na esquina das atuais avenida Vieira Souto e rua Francisco Otaviano, ao lado de onde seria construído, mais tarde, o Colégio São Paulo. A residência da família Barreira Vianna, cujo projeto e construção ficou a cargo do arquiteto italiano Raphael Rebecchi (18? – 1922), foi a primeira na praia e uma das primeiras de Ipanema. Uma curiosidade: Rebecchi, fundador da empresa Rebecchi & Cia, foi o vencedor do projeto contemplado com o 1º prêmio do concurso de fachadas da avenida Central, tendo projetado cinco edificações e construído outras quatro na referida avenida durante a reforma do prefeito Pereira Passos (1836 – 1913) (O Malho, 2 de abril de 1904).

Barreira Vianna possuía uma oficina – que ficava ao lado da casa – onde construiu uma miniatura de bondinho elétrico, que corria em trilhos que ficavam no jardim e atravessava uma ponte sobre um lago. Anos depois, devido a problemas financeiros, ele vendeu a casa para o conde Modesto Leal.

 

 

Acessando o link para as fotografias de José Baptista Barreira Vianna disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Cronologia de José Baptista Barreira Vianna (1860 – 1925)

 

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José Baptista Barreira Vianna. Autorretrato, c. 1900. Rio de Janeiro, RJ / Acervo do IMS

 

1860 – Nascimento de José Baptista Barreiros, em Vianna do Castelo, em Portugal.

1875 - Chegou ao Brasil com seu irmão, José Lourenço. Ele se fixa no Rio de Janeiro e emprega-se no comércio. Seu irmão estabeleceu-se em São Paulo. Por ter nascido em Vianna do Castelo, José Baptista Barreiros foi chamado por seus amigos da colônia portuguesa de Vianna. Adotou o apelido como sobrenome e também mudou seu sobrenome de Barreiros por Barreira, passando a chamar-se José Baptista Barreira Vianna.

1884 - Casou-se com Laura Carlota Moreira (O Apóstolo, de 9 de março de 1884, na última coluna). Tiveram seis filhos: Maria Alice, João Jorge, Henriqueta, Rita, José e Lívia.

1887 - Solicitou um seguro de vida à empresa New York Life Insurance Company (Jornal do Commercio, de 10 de julho de 1887, na terceira coluna).

Década de 1890 – Durante essa década, a família Barreira Vianna residia na rua Santa Carolina, na Tijuca. José tinha como hobbies a marcenaria e a fotografia. Com um amigo fotógrafo, Sr. Mendes, produzia imagens com sua máquina, uma Eastman Kodak. Adquiriu um terreno do loteamento do Barão de Ipanema, na esquina das atuais Francisco Otaviano e Vieira Souto.

1891 - Tornou-se um dos membros do conselho fiscal do Banco Incorporador (Diário do Commercio, de 15 de fevereiro de 1891, na sétima coluna e em anúncio de 16 de fevereiro).

Integrava a diretoria da Companhia Manufactora e Importadora de Calçado Brasil como tesoureiro (Gazeta de Notícias, de 21 de fevererio de 1891).

Firmou um contrato comercial de uma empresa de importação situada na rua General Câmara, número 72, em sociedade com Manoel Cândido de Azambuja, Francisco dos Santos Romano e Miguel de Magalhães Fonseca (Jornal do Commercio, de 14 de março de 1891, na terceira coluna, sob o título “Contratos Commerciaes”).

1894 -  Firmou um contrato de um comércio de armarinho com Manoel Cândido de Azambuja, Francisco dos Santos Romano e Miguel de Magalhães Fonseca (Jornal do Commercio, de 6 de junho de 1894, na sétima coluna).

Foi noticiado o aniversário de sua esposa, Laura Vianna (O Paiz, de 23 de setembro de 1894, na terceira coluna).

 

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José Baptista Barreira Vianna. D. Laura, esposa de José Baptista Barreira Vianna, c. 1900. Rio de Janeiro, RJ / Acervo IMS

 

1895 – Participou de um abaixo-assinado apoiando a medida da gerência da empresa New York Life Insurance Company em relação a um projeto de lei discutido na Câmara dos Deputados sobre companhias estrangeiras de seguro atuantes no Brasil (Cidade do Rio, de 21 de agosto de 1895, sob o título “Segurados da New York”, na segunda coluna).

1896 – Foi para a Europa com sua esposa e um filho, no paquete francês Brésil (Jornal do Brasil, de 16 de março de 1896, na terceira coluna).

Voltou para o Brasil, no paquete francês Chili (A Notícia, de 6 de setembro de 1896, na última coluna sob o título “Visita”).

Foi eleito um dos suplentes da Sociedade Portugueza de Beneficência (Liberdade, 23 de dezembro de 1896, sob o título “Sociedade Portugueza de Beneficencia, na quarta coluna).

1897 – A diretoria da Sociedade Portugueza de Beneficência tomou posse e Barreira Vianna foi um dos suplentes (Cidade do Rio, 29 de março de 1897, na sexta coluna).

Firmou um contrato com Francisco dos Santos Romano para o comércio de material de construção (O Paiz, de 25 de abril de 1897, na segunda coluna).

Integrou o grupo da colônia portuguesa que se organizou para oferecer um navio de guerra à Portugal como parte das comemorações do quarto centenário do descobrimento do caminho marítimo para as Índias (Jornal do Brasil, de 15 de novembro de 1897, na terceira coluna, sob o título “Grande subscripção patriotica portugueza“).

1899 – Já estava morando com a família na casa de Ipanema, cujo projeto e construção foram do arquiteto italiano Raphael Rebecchi (18? – 1922). Foi a primeira casa da praia e uma das primeiras do bairro. Dos dois lados da casa, havia duas construções onde ficavam as dependências dos empregados, a lavanderia e uma oficina. São dessa época as fotografias que produziu das áreas internas e externas da residência. Embora a eletricidade não houvesse chegado à Ipanema, a casa possuía eletricidade produzida por um gerador movido por motor à explosão alimentado por acetileno.

1900 – Firmou um contrato com Viríssimo Barbosa de Souza, Luiz José Monteiro e José Antônio Teixeira Barroso para o comércio de sabão na Praia de São Cristóvão, números 5 e 7 (O Paiz, de 21 de agosto de 1900, na terceira coluna).

Em 29 de dezembro,  falecimento do pintor João Baptista Castagneto (1862 – 1900), de quem José Baptista Barreira Vianna era muito amigo. Também fazia parte de seu rol de amizades o pintor João Baptista da Costa (1865 – 1926), que era professor de pintura de seus filhos.

1900 a 1903 – Do moinho de vento, que pertencia à propriedade e puxava água do sub-solo para a lavagem externa da casa, Barreira Vianna produziu fotografias do Leme, de Copacabana, do Arpoador, de Ipanema, do Leblon, da Gávea e da Lagoa.

1902 – Foi um dos escolhidos pela Associação Comercial do Rio de Janeiro para compor uma comissão para discutir os problemas gerados pela multiplicidade de taxas cambiais (Jornal do Commercio Retrospecto Commercial, edição de 1902, na primeira coluna).

1906 – Foi um dos patronos da conferência que John R. Mott (1865 – 1955) proferiu na Associação dos Empregados do Commercio. Mott iria presidir, em São Paulo, a Convenção Nacional da Associação Cristã dos Moços, aberta em 19 de julho de 1906 (Gazeta de Notícias, de 19 de julho de 1906, na sétima coluna).

1909 – Firmou um contrato com Theophilo Rufino Bezerra de Menezes, Carlos Frederico Oberlaender e José Pinto de Almeida para o comércio de sal na rua da Gamboa, números 193 e 795 (O Paiz, de 7 de aogosto de 1909, na terceira coluna).

1925 – Foi noticiado o falecimento de Barreira Vianna, que na época morava na rua João Alfredo, número 31. Ele foi enterrado no Cemitério Francisco Xavier (O Paiz, 4 de julho de 1925, na sexta coluna). Foi anunciada sua missa de 30º dia (Jornal do Brasil, 2 de agosto de 1925, na quinta coluna).

 

Um pouco da história de Ipanema

 

José Antônio Moreira Filho (1830-1899), o barão e conde de Ipanema, comprou, em 1878, do tabelião e empresário Francisco José Fialho (1820? – 1885) um lote de terras que ia desde a atual rua Barão de Ipanema até o atual Canal do Jardim de Alah. Criou, então, um novo bairro, que batizou de “Villa Ipanema”, em homenagem a seu pai, o primeiro barão e conde de Ipanema, o paulista João Antônio Moreira (1797 – 1879). O nome Ipanema significa em tupi água ruim e foi inspirado por uma das propriedades do barão, em Minas Gerais.

A Villa Ipanema foi inaugurada, em 15 de abril de 1894, pelo barão e por seu sócio José Silva com a presença do prefeito Henrique Valladares, que no mesmo dia inaugurou a ampliação das linhas de bonde da empresa de Ferro Carril do Jardim Botânico, da Praça Malvino Reis, atual Serzedelo Correia, até a ponta da Igrejinha, que era a Igreja de Nossa Senhora de Copacabana, erguida no século XVIII e derrubada em 1918, próxima à rua Francisco Otaviano (Gazeta de Notícias, 16 de abril de 1894, terceira coluna). Em 26 de abril de 1894, foi assinada a ata de fundação definitiva do bairro Villa Ipanema, com a presença do então prefeito Henrique Valadares e do barão e conde de Ipanema, que lançou, em seus terrenos, um enorme loteamento, berço do que é ainda hoje um dos bairros mais valorizados da cidade do Rio de Janeiro. No princípio, foram abertas 13 ruas, uma avenida e duas praças no areal sem valor, tomado por pitangueiras, cajueiros e araçazeiros. Até hoje essas vias são as mais importantes artérias do bairro. Entre elas, a avenida Vieira Souto e as ruas Prudente de Moraes e Visconde de Pirajá, essa última batizada inicialmente de Vinte de Novembro. Ipanema conservou a denominação de vila até a década de 20. Apesar de alguns autores considerarem outras datas, o dia 26 de abril de 1894 é a data mais aceita como marco de referência da fundação do bairro. Ipanema tornou-se, ao longo do século XX, reduto de artistas, intelectuais, jornalistas e boêmios, um dos símbolos do comportamento de vanguarda, exportando a moda e os costumes cariocas para o resto do país.

Ipanema tornou-se, ao longo do século XX, reduto de artistas, intelectuais, jornalistas e boêmios, um dos símbolos do comportamento de vanguarda, exportando a moda e os costumes cariocas para o resto do país.

 

Acessando o link para as fotografias do bairro de Ipanema disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Destacamos uma fotografia produzida por Marc Ferrez ( 1843 – 1923), em torno de 1895.

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Para a elaboração desse post, a Brasiliana Fotográfica baseou-se em diversos periódicos pesquisados na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional, no depoimento deixado por um dos netos de Barreira Vianna, que tinha 9 anos quando ele faleceu; no site da Multirio, na dissertação Avenida Central: arquitetura e tecnologia no início do século XX, de Sandra Zagari-Cardoso; e também no artigo A cidade em direção a Copacabana e Ipanema: transição para a modernidade, publicado no blog do Instituto Moreira Salles na ocasião da abertura da exposição Rio, primeiras poses – Uma visão da cidade a partir da chegada da fotografia – 1840 – 1930, realizada entre 28 de fevereiro de 2015 e 28 de fevereiro de 2016.

 

*Esse artigo foi ampliado em 18 de junho de 2019.