As favelas do Leblon

Com fotografias do acervo do médico pernambucano Victor Tavares de Moura (1892-1960) que, em 1941, constituiu uma comissão para o estudo das favelas, tornando-se um dos responsáveis pela execução do projeto piloto dos Parques Proletários, o pesquisador Ricardo Augusto dos Santos, da Fiocruz, uma das instituições parceiras da Brasiliana Fotográfica, conta um pouco da história das favelas do Leblon, suas remoções e incêndios suspeitos ou oficiais como no caso da Favela do Largo da Memória, que foi realizado através de ato oficial, em 1942.  Seus residentes foram para o Parque Proletário Provisório da Gávea ou Parque Proletário nº 1, formado por imensos barracões erguidos pela Prefeitura na Rua Marquês de São Vicente, na Gávea, ao lado da Pontifícia Universidade Católica (PUC).

 

Favelas do Leblon

Ricardo Augusto dos Santos*

 

 

Os atuais moradores do Leblon, bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro, não devem conhecer, mas o bairro carrega marcas das lutas dos trabalhadores. Em esquina elegante, localizamos um pequeno comércio com o nome de Largo da Memória. Também encontramos uma praça com a mesma designação. Qual a origem dessas referências? Na região – Leblon e Gávea -, em torno da Lagoa Rodrigo de Freitas, existiram várias favelas. Não eram poucas as comunidades. Catacumba, Favela do Capinzal, Piraquê, Praia do Pinto. Esta última, possuía grande dimensão. Algumas delas chegavam a ocupar as águas da Lagoa. Por exemplo, a Favela da Ilha das Dragas localizava-se perto do Canal do Jardim de Alah, fronteira entre Ipanema e Leblon, e ocupava a ilha Caiçaras.

 

 

 

Dominando uma extensa faixa de terra, situava-se a favela Largo da Memória. Sua origem está em antigo acesso à praia. Várias favelas da Zona Sul da cidade desaparecerem após incêndios de origem suspeita. Razões para essa suposição são abundantes. Um dos motivos para sustentar a hipótese criminosa está na rapidez com que, após a queima dos barracos, e consequente mudança dos habitantes para regiões distantes, acontecia a urbanização dos terrenos. Hoje, a região é área de residências de altíssimo valor.

 

Acessando o link para as fotografias de favelas do Leblon disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

No entanto, curiosamente, a favela do Largo da Memória, removida na época do primeiro governo Vargas (1930-1945), foi incendiada através de ato oficial. O acontecimento representa um importante registro da política habitacional para os trabalhadores. Uma fogueira de quilômetros ardeu durante horas entre a Gávea e o Leblon. Este incêndio foi documentado e noticiado pela imprensa e o prefeito Henrique Dodsworth (1895-1975) participou do evento, ateando a chama original.

 

 

No momento de sua destruição, a plateia formada por políticos, bombeiros, moradores e jornalistas assistia ao fato. A favela foi arrasada pelo projeto que criou os Parques Proletários Provisórios. Os residentes do Largo da Memória foram para o Parque Proletário Provisório da Gávea ou Parque Proletário nº 1, constituído por imensos barracões erguidos pela Prefeitura na Rua Marquês de São Vicente (Gávea), ao lado da Pontifícia Universidade Católica (PUC). Mas, as precárias habitações provisórias tornaram-se permanentes e acabaram se deteriorando em meio aos destroços que restavam do abandono. Em menor intensidade, isso aconteceu na Gávea. Mas, os barracões do Parque Proletário nº3 erguidos na Praia do Pinto – misturados aos antigos casebres – formaram o maior conjunto de moradias do lugar. Fontes indicam que, em finais da década de 1960, moravam na Praia do Pinto mais de 10.000 pessoas. O Parque Proletário Provisório nº2 localizava-se no Caju.

 

 

Encontramos fotos que documentam estes momentos no acervo do médico Victor Tavares de Moura (1892-1960). Nomeado pelo Prefeito Dodsworth para centralizar as ações de estudo e erradicação das favelas, Moura defendia que essas aglomerações urbanas deveriam ser objeto de intervenção. Reassentados nos parques provisórios, adultos e crianças receberiam atenção dos órgãos públicos. Originalmente, o programa possuía atendimento médico e social, mas as ações assistenciais não duraram muito tempo. No acervo fotográfico, várias imagens registram uma visita do presidente Getulio Vargas (1882-1954).

 

 

Victor Tavares nasceu em 12 de abril de 1892, em Nazareth (PE), filho de João de Moura Vasconcelos e Davina de Moura Tavares. Em 1906, ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia, concluindo o curso em 1913, no Rio de Janeiro. Entre 1916 e 1918, morou em Paris e Berlim, especializando-se em cirurgia. Em consequência da Primeira Guerra Mundial, regressou a Pernambuco, assumindo um cargo na Diretoria de Higiene e Saúde Pública. Em 1920, foi nomeado médico da prefeitura de Garanhuns. Dois anos depois, coordenaria uma campanha contra a peste bubônica. Em 1935, transferiu-se para o Rio de Janeiro para trabalhar como médico da prefeitura do Distrito Federal. Posteriormente, trabalhou na Diretoria-Geral de Assistência Municipal, no Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Bancários (IAPB) e no IAP dos Comerciários. Em 1937, foi nomeado chefe do Albergue da Boa Vontade. Em virtude da Lei de Desacumulação, optou pelo cargo que ocupava na prefeitura, coordenando a comissão para o estudo das favelas, tornando-se responsável pelo planejamento dos Parques Proletários Provisórios. Faleceu em 3 de novembro de 1960.

 

 

Muitas favelas foram incendiadas, provocando a movimentação involuntária das pessoas. Em 1967, às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, um incêndio destruiu parte da Favela da Catacumba (perto do Corte de Cantagalo), trazendo pânico e desabrigando milhares. Contudo, este não foi o único e, tampouco, o último fogo nas residências dos pobres. Esses acontecimentos se repetiram em várias favelas durante anos. Várias comunidades localizadas na Zona Sul foram removidas com o argumento de que o espaço seria organizado. Além disso, sustentavam que, após a transferência, os moradores viveriam em acomodações dignas. Entretanto, afastados das áreas valorizadas, os habitantes foram para conjuntos habitacionais longínquos e sem condições adequadas.

 

 

Em 1969, situada entre a Lagoa e a orla, um incêndio arrasou a favela da Praia do Pinto. O contínuo processo de valorização imobiliária provocava conflitos entre os trabalhadores e a população de alto poder aquisitivo que estava se estabelecendo no local. A partir do início da década de 1960, as políticas públicas em relação aos ocupantes das áreas cobiçadas pelos empresários dos ramos construtor e imobiliário possuíam como pressuposto o deslocamento para bairros afastados dos locais de trabalho dos moradores.

 

*Ricardo Augusto dos Santos é Pesquisador Titular da Fundação Oswaldo Cruz

 

Indicações Bibliográficas:

AMOROSO, Mauro; BRUM, Mario; GONÇALVES, Rafael Soares (Orgs.). Pensando as favelas cariocas: história e questões urbanas. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio: Ed. Palas, 2021.

PESTANA, Marco Marques. Remoções de Favelas no Rio de Janeiro. Empresários, Estado e movimento de favelados. 1957-1973. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2022.

 

Link para o artigo A favela banida, publicado no portal de fotojornalismo Testemunha Ocular, em 2 de junho de 2022.

Série “O Rio de Janeiro desaparecido” XV – A praia de Santa Luzia no primeiro dia do verão

No 15º artigo da série O Rio de Janeiro desaparecido, publicado no primeiro dia do verão de 2021, o tema é a praia de Santa Luzia, que ficava em frente à igreja homônima, no Centro da cidade e era uma das preferidas dos banhistas cariocas. A mais antiga imagem dessa praia disponível no acervo fotográfico da Brasiliana Fotográfica foi produzida em torno de 1866 pelo fotógrafo e editor suíço Georges Leuzinger (1813 – 1892).

 

 

Há ainda registros realizados por Augusto Malta (1864 – 1957)Juan Gutierrez (c. 1860 – 1897)Marc Ferrez (1843 – 1923)Revert Henrique Klumb (c. 1826 – c. 1886) e por Rodrigues & C°. Editores e Proprietários. A grande maioria das fotografias são da paisagem, mas há uma, de autoria de Gutierrez, de uma trincheira montada durante a Revolta da Armada, entre 1893 e 1894. Uma curiosidade: foi justamente durante uma outra revolta ocorrida no Brasil, a Guerra de Canudos, que Gutierrez faleceu. Em 28 de junho, foi mortalmente ferido (Jornal do Commercio, 13 de julho de 1897, na terceira coluna sob o título “Expedição de Canudos” e O Paiz, 7 de setembro de 1897, na primeira coluna).

 

 

Acessando o link para as fotografias da Praia de Santa Luzia disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

Voltando à praia de Santa Luzia. Em suas margens foi construída a Santa Casa da Misericórdia, em meados do século XVI.

 

 

Em 1898,  um dos pioneiros do cinema no Brasil, o ítalo-brasileiro Affonso Segreto (1875 – 19?), filmou o documentário A Praia de Santa Luzia, um de seus primeiros registros cinematográficos do Rio de Janeiro.

 

 

Até o início do século XX, a praia de Santa Luzia era uma opção de lazer no Rio de Janeiro, mas sua descaracterização começou, em 1905, quando o então prefeito Francisco Pereira Passos (1836 – 1913) mandou construir barracões que funcionariam como garagens para os barcos dos clubes de remo.

 

 

 

Durante o seu mandato, entre 1902 e 1906, Pereira Passos realizou uma extensa reforma urbana, tendo ordenado diversas demolições, conhecidas como a política do “bota-abaixo”, que contribuíram para o surgimento do Rio de Janeiro da Belle Époque. Entre as obras dessa época, foi aberta a avenida Beira Mar, que estendeu  a linha litoral do entroncamento da praia de Santa Luzia até o Largo da Glória.

 

 

Em 1922, com a derrubada do Morro do Castelo, foi construída a Esplanada do Castelo, diminuindo muito a faixa de areia da Praia de Santa Luzia. Foi substituída na preferência dos banhistas pela Praia das Virtudes, que ficava na altura da avenida Beira Mar entre a avenida Presidente Antônio Carlos e a rua Marechal Câmara, ao lado da praia de Santa Luzia (Correio da Manhã, 13 de janeiro de 1931, penúltima coluna).

 

O Globo, 12 de janeiro de 1931

O Globo, 12 de janeiro de 1931

 

Foi na década de 1930, que o que restava da praia de Santa Luzia e da Ponta do Calabouço desapareceram em consequência da ampliação do aterro, feito com entulho do desmanche do Morro do Castelo, para a construção do Aeroporto Santos Dumont, inaugurado oficialmente em 30 de novembro de 1936 com a presença do presidente da República, Getulio Vargas (1882 – 1954). Chamava-se anteriormente Aeroporto do Calabouço e teve seu nome alterado por ordem de Getulio para homenagear o Pai da Aviação (Diário Carioca, 20 de outubro de 1936, última coluna). O terminal de passageiros, projeto dos arquitetos Marcelo Roberto (1908-1964) e Milton Roberto (1914-1953), que venceram um concurso realizado pelo Ministério da Aeronáutica, ficou pronto em 1945.

 

 

 

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

ANDREATTA, Verena; CHIAVARI, Maria Pace; e REGO, Helena. O Rio de Janeiro e a sua orla: história, projetos e identidade carioca. Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, dezembro de 2009.

Diário do Rio de Janeiro

MELO, Victor Andrade. Remo, modernidade e Pereira Passos: primórdios das políticas públicas de esporte no Brasil. Revista do Núcleo de Estudos e Pequisas sobre Esporte e Sociedade – Universidade Federal Fluminense, julho/outubro de 2006

Rio Memórias

Site Infraero

 

Links para os outros artigos da Série O Rio de Janeiro desaparecido

 

Série O Rio de Janeiro desaparecido I Salas de cinema do Rio de Janeiro do início do século XXde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 26 de fevereiro de 2016.

Série O Rio de Janeiro desaparecido II – A Exposição Nacional de 1908 na Coleção Família Passos, de autoria de Carla Costa, historiadora do Museu da República, publicado na Brasiliana Fotográfica, em 5 de abril de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido III – O Palácio Monroe, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica, em 9 de novembro de 2016.

Série O Rio de Janeiro desaparecido IV - A via elevada da Perimetral, de autoria da historiadora Beatriz Kushnir, publicado na Brasiliana Fotográfica em 23 de junho de 2017.

Série O Rio de Janeiro desaparecido V – O quiosque Chopp Berrante no Passeio Público, Ferrez, Malta e Charles Dunlopde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portalpublicado na Brasiliana Fotográfica em 20 de julho de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VI – O primeiro Palácio da Prefeitura Municipal do Rio de Janeirode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de setembro de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VII – O Morro de Santo Antônio na Casa de Oswaldo Cruzde autoria de historiador Ricardo Augusto dos Santos da Casa de Oswaldo Cruzpublicado na Brasiliana Fotográfica em 5 de fevereiro de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VIII – A demolição do Morro do Castelode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portalpublicado na Brasiliana Fotográfica em 30 de abril de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido IX – Estrada de Ferro Central do Brasil: estação e trilhosde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de novembro de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido X – No Dia dos Namorados, um pouco da história do Pavilhão Mourisco em Botafogode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de junho de 2020.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XI – A Estrada de Ferro do Corcovado e o mirante Chapéu de Sol, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 22 de julho de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XII – o Teatro Lírico (Theatro Lyrico), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 15 de setembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIII – O Convento da Ajuda, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de outubro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIV – O Conselho Municipal, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 19 de novembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVI – O prédio da Academia Imperial de Belas Artes, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, publicado na Brasiliana Fotográfica em 13 de janeiro de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVII – Igreja São Pedro dos Clérigos, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 18 de março de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVIII – A Praça Onze, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 20 de abril de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIX – A Igrejinha de Copacabana, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 23 de junho de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XX – O Pavilhão dos Estados, futuro prédio do Ministério da Agricultura, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 26 de julho de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXI – O Chafariz do Largo da Carioca, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 19 de setembro de 2022. 

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXII – A Cadeia Velha que deu lugar ao Palácio Tiradentes, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 11 de abril de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXIII e Avenidas e ruas do Brasil XVII - A Praia e a Rua do Russel, na Glória, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 15 de maio de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXIV – O luxuoso Palace Hotel, na Avenida Rio Branco, uma referência da vanguarda artística no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 4 de julho de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXV – O Theatro Phenix, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 5 de setembro de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXVI – Conclusão do arrasamento do Morro do Castelo por Augusto Malta, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 14 de dezembro de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXVII e Série Os arquitetos do Rio de Janeiro V – O Jockey Club e o Derby Club, na Avenida Rio Branco e o arquiteto Heitor de Mello (1875 – 1920), de autoria de Andrea c. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, em 15 de janeiro de 2024

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XI – A Rua da Esperança, em São Paulo, por Vincenzo Pastore

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XI – A Rua da Esperança, em São Paulo, por Vncenzo Pastore

Na décima primeira publicação da Série “Avenidas e ruas do Brasil”, destacamos fotos do casario da Rua da Esperança, em São Paul,o em dois tempos: erguido e demolido. As imagens foram produzidas pelo fotógrafo italiano Vincenzo Pastore (1865 – 1918), que, da segunda metade do século XIX ao início do século XX, foi um importante cronista visual de São Paulo. Com sua câmara, Pastore capturava tipos e costumes de um cotidiano ainda pacato da cidade que logo, com o desenvolvimento econômico, mudaria de perfil. Captava as transformações urbanas e humanas de São Paulo, que passava a ser a metrópole do café.

Com seu olhar sensível, o imigrante italiano flagrava trabalhadores de rua como, por exemplo, feirantes, engraxates, vassoureiros e jornaleiros, além de conversas entre mulheres e brincadeiras de crianças. Pastore, ao retratar pessoas simples do povo, realizou, na época, um trabalho inédito na história da fotografia paulistana. Registrou cenas de ruas, de demolições em São Paulo com uma câmara de pequeno formato, produzindo imagens diferentes das realizadas, durante o século XIX, com câmeras de grande formato sobre tripés. Foi um dos pioneiros da nova linguagem da fotografia do século XX. Com a ferramenta zoom os leitores podem observar as imagens com detalhes.

 

 

Acessando o link para as fotografias da Rua da Esperança disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

A antiga igreja da Sé começou a ser demolida em 1912, e também em torno desse período foi realizada toda a reurbanização do local com a demolição de alguns quarteirões, sendo alguns da Rua da Esperança, necessários para se abrir uma esplanada diante do edifício religioso (Correio Paulistano, 3 de fevereiro de 1912, terceira coluna; Correio Paulistano, 22 de janeiro de 1913, penúltima coluna; Correio Paulistano, 25 de abril de 1913, terceira coluna).

 

 

Opinião de uma nonagenária sobre São Paulo

O progressão da Rua da Esperança é mencionado

O Pirralho, 25 de janeiro de 1913

 

O projeto da nova catedral foi do arquiteto alemão radicado no Brasil, Maximiliano Hehl (1861 – 1916), e, em 06 de julho de 1913, foi realizada a cerimônia de lançamento da pedra fundamental (Correio Paulistano, 7 de julho de 1913, segunda coluna). Porém a inauguração da Catedral Metropolitana de São Paulo só aconteceria em 1954 por ocasião do IV Centenário de São Paulo, porém foi simbólica, já que o prédio ainda não estava concluído (Correio Paulistano, 22 de janeiro de 1954, primeira coluna). As torres só  foram inauguradas em 15 de novembro de 1969.

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Dicionário de Ruas de São Paulo

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

 

Links para as outras publicações da série “Avenidas e ruas do Brasil”

 Série “Avenidas e ruas do Brasil” I – Avenida Central, atual Rio Branco, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 7 de setembro de 2016

Série “Avenidas e ruas do Brasil” II – A Rua do Imperador em Petrópolis por Klumb, Leuzinger e Stahl, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 26 de junho de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” III – A Rua do Bom Jesus, no Recife, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 6 de agosto de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IV – A Rua 25 de Março, em São Paulo, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 1º de setembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” V – A Rua Direita, a Rua das Mercês e a Rua Macau do Meio, em Diamantina, Minas Gerais, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 22 de outubro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” VI  – Rua Augusto Ribas e outras, em Ponta Grossa, no Paraná, pelo fotógrafo Luiz Bianchi, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 16 de novembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” VII – A Avenida Atlântica, em Copacabana, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 23 de dezembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil VIII – A Rua da Carioca por Cássio Loredano, de autoria de Cássio Loredano, publicada em 20 de janeiro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IX – Ruas e panoramas do bairro do Catete, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 14 de julho de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” X – A Rua da Ajuda, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 9 de novembro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XII – A Avenida Paulista, o coração pulsante da metrópole, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 21 de janeiro de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XIII – A Rua Buenos Aires no Centro do Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 19 de julho de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XIV – A Avenida Presidente Vargas,, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 31 de agosto de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XV – Misericórdia: rua, largo e ladeira, no Rio de Janeiro, por Cássio Loredano, de autoria de Cássio Loredano, publicada em 8 de dezembro de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVI – “Alguma coisa acontece no meu coração”, a Avenida São João nos 469 anos de São Paulo, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 25 de janeiro de 2023

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVII  e série “O Rio de Janeiro desaparecido” XXIII – A Praia e a Rua do Russel, na Glória, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 15 de maio de 2023

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVIII – Avenida Beira-Mar, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 22 de janeiro de 2024

 

 

 

Oliveira Reis: o engenheiro-historiador do Rio de Janeiro e seu acervo iconográfico

O engenheiro paulista José de Oliveira Reis (1925 – 1994) trabalhou na Prefeitura do Rio de Janeiro, de 1933 a 1966, e se apaixonou pela cidade. Durante esse período acumulou vários tipos de documentos públicos produzidos pela prefeitura sobre a urbe, especialmente fotografias, tornando-se um dos inúmeros profissionais que trabalharam na administração pública do Rio de Janeiro e auxiliaram na formação dos acervos, sua preservação e memória, ainda que não fossem historiadores de formação.  Uma pequena parcela do acervo que forma a Coleção Particular José de Oliveira Reis, doada por seu titular ao Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro (AGCRJ), uma das instituições parceiras da Brasiliana Fotográfica, encontra-se no acervo do portal. Sobre o assunto, os pesquisadores do AGCRJ Carolina Ferro e Rafael Martins de Araujo escreveram o artigo “Oliveira Reis: o engenheiro-historiador do Rio de Janeiro e seu acervo iconográfico”.

 

Oliveira Reis: o engenheiro-historiador do Rio de Janeiro e seu acervo iconográfico

Carolina Ferro e Rafael Martins de Araujo*

 

 

Inúmeros foram os profissionais que trabalharam na administração pública do Rio de Janeiro e auxiliaram na formação dos acervos, sua preservação e memória, ainda que não fossem historiadores de formação. Este é o caso de José de Oliveira Reis (1925 – 1994), importante engenheiro da cidade que, paulista, se apaixonou pela antiga capital do Brasil, acumulando, já na década de 1930, vários tipos de documentos públicos produzidos pela então Prefeitura do Distrito Federal sobre a urbe, especialmente fotografias. Uma pequena parcela do acervo que forma a Coleção Particular José de Oliveira Reis, doada por seu titular ao Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro (AGCRJ), encontra-se no site da Brasiliana Fotográfica.

Acessando o link para as fotografias Coleção Particular José de Oliveira Reis disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

José de Oliveira Reis nasceu em 25 de setembro de 1903, em Ribeirão Preto, São Paulo. Formou-se em Engenharia Civil na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, em 1925, e foi transferido em definitivo para a cidade três anos depois, quando trabalhava em uma empresa privada. Em 1933, foi o terceiro colocado no primeiro concurso público para o cargo de engenheiro da Prefeitura do Distrito Federal.

Naquele período, o debate acerca dos impactos nas transformações urbanas para a administração pública era crescente e exposto tanto na criação de um processo seletivo para engenheiros municipais quanto na instituição do Plano Agache. O projeto de remodelação urbana elaborado por Alfred Agache  não chegou a ser implantado (1928-1930) e era parte da reestruturação organizacional que permitiria à prefeitura obter o protagonismo sobre o processo de urbanização da cidade. Doutor Reis (como era conhecido na Prefeitura do Rio) foi um dos engenheiros mais destacados desse cenário. Apenas cinco anos após sua aprovação no concurso, foi nomeado Chefe da Comissão do Plano da Cidade, sendo enviado aos Estados Unidos, em 1939, para estudar o processo de desenvolvimento de diversas regiões. Ao retornar, participou da elaboração do Plano Diretor da Cidade e de projetos de grande importância histórica para o Rio de Janeiro, como a abertura da avenida Presidente Vargas e a urbanização da Esplanada do Castelo. Em 1945, a Comissão do Plano da Cidade foi transformada em Departamento de Urbanismo (DUR), com Oliveira Reis sendo nomeado seu primeiro diretor, cargo que ocupou até 1948. Nos anos seguintes, ele voltaria a ocupar a diretoria do DUR: em 1954; entre 1956 e 1960 (quando foi um dos nomes na urbanização da esplanada do Morro de Santo Antônio); e em 1962.

 

 

Em 1965, apenas um ano antes de se aposentar, Oliveira Reis publicou As Administrações Municipais e o Desenvolvimento Urbano: O Rio e seus Prefeitos (1862 a 1960). Sua aposentadoria não significou o seu desligamento do serviço público, pois, até as vésperas de seu falecimento, permanecia como colaborador, estando à frente da Revista Municipal de Engenharia. Segundo seu biógrafo, Rodrigo Santos de Faria (2007) – que inclusive usa boa parte da documentação do AGCRJ para construir o argumento de sua tese – o biênio 1965/1966, marca o início da atuação do engenheiro como “historiógrafo da administração pública” do Rio de Janeiro. Após a primeira publicação, viriam diversos livros, artigos e palestras abordando o tema, como Os Prefeitos do Rio de Janeiro como Capital da República de 1889 a 1960, apresentado em conferência em 1971; O Rio de Janeiro e seus Prefeitos (1977, quatro volumes); A Guanabara e seus Governadores (1979); História da Legislação sobre o Uso do Solo (1983); As inundações do Rio de Janeiro e o Sesquicentenário do nascimento de Pereira Passos, publicados na famosa Revista Municipal de Engenharia (RME), que existiu entre 1932 e 1999, e cujas edições estão disponíveis para consulta online numa parceria DocPro, BN Digital e AGCRJ.

Dr. Reis foi editor-chefe da RME entre 1978 e 1992. Uma edição especial da publicação, de agosto de 1997, três anos depois de seu falecimento, prestou homenagem ao engenheiro, com depoimentos de colegas, recortes de jornais que noticiavam feitos de Oliveira Reis, e uma edição de História Urbanística do Rio de Janeiro, publicado originalmente em 1986. Nos depoimentos, Dr. Reis é descrito como alguém tranquilo, fascinado por seu trabalho e pelo Rio de Janeiro. Exímio conhecedor da história das ruas mais importantes de cor, fazia de sua sala na RME um “ponto de encontro de arquitetos, historiadores, geógrafos [e] pesquisadores do Rio de Janeiro”. Sua paixão pela História também fica evidente em entrevista concedida ao AGCRJ, em 1986. Nela, o engenheiro não apenas responde cada pergunta, como também faz questão de comentar detalhes sobre antigas obras e expor as minúcias das mudanças na administração pública da prefeitura.

Bons exemplos são suas respostas sobre a construção da avenida Presidente Vargas. Depois de esclarecer que a obra se tratava de um projeto antigo, pretendido “desde o século XIX como uma extensão do canal do Mangue”, Reis, ao ser perguntado sobre o auxílio do governo federal para a construção da via, conta um detalhe curioso sobre a aprovação do projeto. Henrique Dodsworth não tinha muita convicção da execução da avenida porque o vulto da obra era muito grande. Mas o presidente da República se interessou pela obra a partir de uma visita à Feira de Amostras onde havia um estande da Secretaria de Viação e Obras com todo o projeto da avenida Presidente Vargas, inclusive uma perspectiva muito bonita feita pelo arquiteto Nelson Muniz Nevares, com o nome da via. O presidente olhou para a perspectiva, olhou para o prefeito e disse: “Dr. Henrique, vamos fazer essa avenida.” Aí o Henrique Dodsworth tomou a palavra do presidente e, naturalmente, tratou de executar a obra. (FREIRE; OLIVEIRA, 2008).

 

 

Como entusiasta da História e grande divulgador da memória da cidade, Oliveira Reis preservou e organizou uma vasta documentação acerca do processo de urbanização do Rio. Grande parte deste material foi doada ao AGCRJ, em 1992, e a outra se encontra no Arquivo Municipal de Ribeirão Preto, em São Paulo. Na instituição carioca há um manancial de documentos diversificados que vai desde proposições de Harland Bartholomew (1889-1989) – um importante urbanista norte-americano – para o descongestionamento do tráfego urbano, até imagens panorâmicas da cidade em que trabalhou durante toda sua vida. Tudo isso com tipologias diferenciadas, como documentos manuscritos, datilografados, periódicos, teses, decretos, palestras, certificados, memorandos, planejamentos urbanos, ilustrações etc. Alguns deles eram organizados em grupo, com o objetivo de construir uma memória de um determinado local. Este foi o caso da Avenida Perimetral, cujo conjunto inclui recortes de jornais sobre o projeto urbanístico, plantas de lotes da Avenida Presidente Vargas para permutas com terrenos desapropriados da localidade da nova construção e um histórico da avenida feito pelo próprio Oliveira Reis. Além dos documentos doados pelo personagem, à coleção particular foram acrescidas mais algumas fotografias e a entrevista citada que foi realizada pela historiadora Sandra Horta, que ocupou o cargo de Diretora de Pesquisa da instituição por algumas décadas e cuja transcrição está disponível na obra de Lúcia Lippi Oliveira e Américo Freire (2008).

 

 

A pequena parcela do acervo na Brasiliana Fotográfica refere-se a algumas das fotografias panorâmicas da Coleção Particular de Oliveira Reis, no AGCRJ. Infelizmente não há dados sobre autoria, muito menos datas exatas. Isto porque era um acervo de trabalho e auxiliava as reflexões nos cargos que ocupou. Sobre as imagens em questão, que formam um grupo de 99 fotos, sabe-se, apenas, que elas são da década de 1930, mesma época em que Reis se tornou engenheiro da Prefeitura do Distrito Federal. Através delas, é possível sobrevoar a história urbana da cidade, passando por bairros como Glória, Centro, Botafogo, Copacabana, Vila Isabel, Rio Comprido e muito mais. Exemplos interessantes são as que retratam a construção do Cristo Redentor, um ícone turístico e cartão postal do Rio de Janeiro, com a zona sul, o Pão de Açúcar, a enseada de Botafogo e a cidade de Niterói ao fundo; e uma das fotografias de Copacabana, sem a famosa calçada, mas já com o majestoso Copacabana Palace que foi inaugurado na década anterior. O objetivo do Dr. Reis ao acumular e guardar essas imagens era, além de compreender as mudanças da urbe carioca, preservar sua memória e construir uma história que fosse capaz de dar conta das intensas transformações perpetradas pelos governos municipais.

A Coleção Particular de Oliveira Reis está totalmente disponível para consulta no AGCRJ. Só de fotografias são acerca de 800, que abordam das décadas de 1930 a 1990. Essas imagens nos permitem apreciar e analisara cidade de outrora, pensar sobre os deslocamentos humanos e sociais, e refletir sobre as transformações de nossa urbe, cada vez mais cimentada e verticalizada.
No Arquivo Virtual, o banco de dados da instituição, há mais detalhes e o conteúdo dos documentos. Este pode ser acessado facilmente no link: rio.rj.gov.br/web/arquivogeral.

 

 

*Carolina Ferro é gerente de pesquisa do AGCRJ, professora do Centro Universitário UniCarioca e Doutora em História pela UFF.

Rafael Martins de Araujo é estagiário da gerência de pesquisa do AGCRJ e bacharel em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

 

 

 

Fontes:

FARIA, Rodrigo Santos de. José de Oliveira Reis, urbanista em construção: uma trajetória profissional no processo de institucionalização do urbanismo no Brasil (1926-1965/1966). 2007. Tese (Doutorado em História) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas-SP, 2007. Disponível em: http://www.repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/280241. Acesso em: 23 set. 2019.

______. Da Comissão do Plano da Cidade (1937) ao Departamento de Urbanismo no Rio de Janeiro (1945): uma interpretação relacional pelo acervo documental do engenheiro José de Oliveira Reis. Oculum Ensaios, n. 09-10, Campinas-SP, p. 26-41, Jan./Dez. 2009.

FREIRE, Américo; OLIVEIRA, Lúcia Lippi (Org.). Novas memórias do urbanismo carioca. Rio de Janeiro: Editora da FGV, 2008.

JOSÉ DE Oliveira Reis (Lista de documentos). Rio de Janeiro: AGCRJ, [s./d.].

KUSHNIR, Beatriz (Dir.). Coleção Particular Oliveira Reis. Rio de Janeiro: AGCRJ, 2015.

MOREIRA, Fernando Diniz. Urbanismo e modernidade: reflexões em torno do Plano Agache para o Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, v. 9, n. 2, nov. 2007.

REVISTA Municipal de Engenharia: 65 anos, Edição Especial. Homenagem ao Engenheiro Oliveira Reis. Rio de Janeiro, Edição especial, ago. 1997.
SILVA, Pedro Sousa da. Reforma Urbana no Estado Novo: a gestão de Henrique Dodsworth na cidade do Rio de Janeiro (1937-1945). Mosaico, v. 8, n° 13, 2017.

Série “O Rio de Janeiro desaparecido” VIII – A demolição do Morro do Castelo

O Morro do Castelo, um dos marcos da fundação da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, foi registrado pelo alagoano Augusto Malta (1864 – 1957), fotógrafo oficial da prefeitura da cidade entre 1903 e 1936 e o principal fotógrafo da transformação urbana carioca nas primeiras décadas do século XX, período de grandes mudanças na cidade, dentre elas uma importante intervenção na paisagem natural carioca: a demolição do Morro do Castelo. O início do romance Esaú e Jacó, de Machado de Assis (1839 – 1908), lançado em 1904, parece ter sido uma profecia…

“Era a primeira vez que as duas iam ao Morro do Castelo. Começaram de subir pelo lado da Rua do Carmo. Muita gente há no Rio de Janeiro que nunca lá foi, muita haverá morrido, muita mais nascerá e morrerá sem lá pôr os pés. Nem todos podem dizer que conhecem uma cidade inteira”.

A demolição foi determinada pelo prefeito Carlos Sampaio (1861 – 1930), em 1921, decisão baseada, segundo o governo, na necessidade de higienização e modernização da cidade. São essas imagens, além de registros realizados por Torres (18? – 19?) e por fotógrafos ainda não identificados, que a Brasiliana Fotográfica traz hoje para seus leitores. O Morro do Castelo tinha 63 metros de altura, ocupava uma área de cento e oitenta e quatro mil metros quadrados e seus limites eram as atuais avenida Rio Branco (antiga avenida Central), as ruas Santa Luzia, Misericórdia e São José.

 

Acessando o link para as fotografias da demolição do Morro do Castelo disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas. 

 

 

 

Em 1904, durante a gestão do prefeito Pereira Passos (1836 – 1913),  para a abertura da Avenida Central, a ladeira do Seminário e parte do Morro do Castelo foram destruídas, mas foi entre 1920 e 1922, na administração do engenheiro e prefeito Carlos Sampaio (1861 – 1930), que o morro, considerado um símbolo degradado do passado colonial português, foi demolido, por deliberação do decreto de 17 de agosto de 1920 (Jornal do Brasil, 18 de agosto de 1920, quinta coluna).

 

 

A decisão, baseada em um discurso de higienização e modernização da cidade, causou muita polêmica, tendo sido criticada por vários intelectuais como Monteiro Lobato (1882 – 1948) em seu texto Luvas!, de 1920:

“…Ouve sempre cochichos suspeitos nos quais um estribilho soa insistente: precisamos arrasar o Morro do Castelo! Sente-se condenado como a árvore secular que caiu nas unhas de um vendedor de lenha, preocupadíssimo com o cálculo das carradas prováveis. Percebe que virou negócio, que o verdadeiro tesouro oculto em suas entranhas não é a imagem de ouro maciço de Santo Inácio, e sim o panamá do arrasamento. Os homens de hoje são negocistas sem alma. Querem dinheiro. Para obtê-lo venderão tudo, venderiam até a alma se a tivessem. Como pode ele, pois, resistir a maré, se suas credenciais – velhice, beleza, pitoresco, historicidade – não são valores de cotação na bolsa?

Outro crítico do arrasamento do Morro do Castelo foi o escritor Lima Barreto (1881 – 1922) e, na edição de 28 de agosto de 1920, da revista Careta, foi publicado seu artigo, Megalomania.

 

 

Porém a iniciativa foi saudada por personalidades importantes como o sanitarista Belisário Pena (1868 – 1939) (Jornal do Brasil, 21 de agosto de 1920, terceira coluna), que parabenizou o prefeito. Os cerca de 4 mil moradores do Morro do Castelo eram trabalhadores e pobres e seriam instalados, inicialmente, em barracos na Praça da Bandeira. Máquinas e empréstimos no valor de US$ 12 milhões foram contratados para o arrasamento do morro. Outras obras significativas de Sampaio foram o saneamento e aterro da área em torno da Lagoa Rodrigo de Freitas, a atual avenida Epitácio Pessoa; e a construção da avenida Maracanã.

 

 

Um pouco da história

A cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro foi fundada no Morro Cara de Cão em 1º de março de 1565 e, após a expulsão dos invasores franceses, dois anos depois, foi, por escolha do governador-geral do Brasil, Mem de Sá (1500 – 1572), reinstalada no Morro de São Januário, posteriormente denominado Descanso, Alto da Sé, Alto de São Sebastião e, finalmente, Morro do Castelo. A escolha do ponto, da onde se via a Baía de Guanabara, sua porta de entrada, foi estratégico para a defesa da cidade em caso de possíveis futuros ataques. Murado e fortificado, o Rio de Janeiro no Morro do Castelo passou a abrigar a Casa do Governador, a Casa da Câmara, a Cadeia, o Colégio dos Jesuítas, armazéns e igrejas. Foi lá fundada a primeira Sé Catedral, para onde foi levada o marco de pedra de fundação da cidade, anteriormente no sopé do Morro Cara de Cão, e também os restos mortais do militar português Estácio de Sá (1520 – 1567), fundador do Rio de Janeiro.

 

 

 

 

O título deste artigo foi alterado de A demolição do Morro do Castelo para Série O Rio de Janeiro desaparecido VIII – A demolição do Morro do Castelo, em 16 de setembro de 2021.

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

BARROS, Paulo Cezar de. Onde nasceu a cidade do Rio de Janeiro? ( um pouco da história do Morro do Castelo)Revista geo-paisagem (online ) Vol. 1, número 2, julho/dezembro de 2002

Blog do Jornal do Brasil, 9 de março de 2011

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

LOBATO, Monteiro. Onda Verde. São Paulo: Monteiro Lobato e C., 1921.

MENEZ, Alexssandro. Civilização versus barbárie: a destruição do Morro do Castelo no Rio de Janeiro (1905-1922). Revista Historiador Número 06. Ano 06. Janeiro de 2014.

MOTTA, Marly Silva da. A nação faz cem anos: a questão nacional no centenário da independência. Rio de Janeiro: Editora FGV: CPDOC, 1992.

NONATO, José Antônio Era uma vez o Morro do Castelo. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2000.

PAIXÃO, Cláudia Míriam Quelhas. O Rio de Janeiro e o morro do Castelo: populares, estratégias de vida e hierarquias sociais (1904-1922). Dissertação de mestrado. Niterói: UFF, 2008.

Site do Diário do Rio

Site do CPDOC

 

 

 

Links para os outros artigos da Série O Rio de Janeiro desaparecido

 

Série O Rio de Janeiro desaparecido I Salas de cinema do Rio de Janeiro do início do século XXde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 26 de fevereiro de 2016.

Série O Rio de Janeiro desaparecido II – A Exposição Nacional de 1908 na Coleção Família Passos, de autoria de Carla Costa, historiadora do Museu da República, publicado na Brasiliana Fotográfica, em 5 de abril de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido III – O Palácio Monroe, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica, em 9 de novembro de 2016.

Série O Rio de Janeiro desaparecido IV - A via elevada da Perimetral, de autoria da historiadora Beatriz Kushnir, publicado na Brasiliana Fotográfica em 23 de junho de 2017.

Série O Rio de Janeiro desaparecido V – O quiosque Chopp Berrante no Passeio Público, Ferrez, Malta e Charles Dunlopde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portalpublicado na Brasiliana Fotográfica em 20 de julho de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VI – O primeiro Palácio da Prefeitura Municipal do Rio de Janeirode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de setembro de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VII – O Morro de Santo Antônio na Casa de Oswaldo Cruzde autoria de historiador Ricardo Augusto dos Santos da Casa de Oswaldo Cruzpublicado na Brasiliana Fotográfica em 5 de fevereiro de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido IX – Estrada de Ferro Central do Brasil: estação e trilhosde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de novembro de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido X – No Dia dos Namorados, um pouco da história do Pavilhão Mourisco em Botafogode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de junho de 2020.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XI – A Estrada de Ferro do Corcovado e o mirante Chapéu de Sol, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 22 de julho de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XII – o Teatro Lírico (Theatro Lyrico), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 15 de setembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIII – O Convento da Ajuda, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de outubro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIV – O Conselho Municipal, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 19 de novembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XV – A Praia de Santa Luzia no primeiro dia do verão, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 21 de dezembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVI – O prédio da Academia Imperial de Belas Artes, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, publicado na Brasiliana Fotográfica em 13 de janeiro de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVII – Igreja São Pedro dos Clérigos, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 18 de março de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVIII – A Praça Onze, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 20 de abril de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIX – A Igrejinha de Copacabana, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 23 de junho de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XX – O Pavilhão dos Estados, futuro prédio do Ministério da Agricultura, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 26 de julho de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXI – O Chafariz do Largo da Carioca, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 19 de setembro de 2022. 

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXII – A Cadeia Velha que deu lugar ao Palácio Tiradentes, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 11 de abril de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXIII e Avenidas e ruas do Brasil XVII A Praia e a Rua do Russel, na Glória, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 15 de maio de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXIV – O luxuoso Palace Hotel, na Avenida Rio Branco, uma referência da vanguarda artística no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 4 de julho de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXV – O Theatro Phenix, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 5 de setembro de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXVI – Conclusão do arrasamento do Morro do Castelo por Augusto Malta, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 14 de dezembro de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXVII e Série Os arquitetos do Rio de Janeiro V – O Jockey Club e o Derby Club, na Avenida Rio Branco e o arquiteto Heitor de Mello (1875 – 1920), de autoria de Andrea c. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, em 15 de janeiro de 2024

Série “O Rio de Janeiro desaparecido” VII – O Morro de Santo Antônio na Casa de Oswaldo Cruz

O pesquisador Ricardo Augusto dos Santos, da Fiocruz, uma das instituições parceiras da Brasiliana Fotográfica, é o autor do artigo sobre um álbum antigo com 19 fotografias do Morro de Santo Antônio, no Rio de Janeiro, identificadas recentemente no Departamento de Arquivo e Documentação da Casa de Oswaldo Cruz. Elas exibem o cotidiano do Morro de Santo Antônio, retratando os habitantes, as ruas e casas. Localizado no centro da cidade, assim como outra colina também destruída, o Morro do Castelo, Santo Antônio estava situado em planície cercado de outras elevações que nos primeiros tempos do Rio colonial marcavam os limites do núcleo urbano. Sua completa demolição ocorreu a partir da década de 1950, fechando um ciclo de grandes obras no Rio de Janeiro com base no desmonte de morros, aterros de lagoas e arrasamento das ruas. Representou um importante capítulo na consolidação da cidade. Seus limites correspondem as ruas da Carioca, do Lavradio, Evaristo da Veiga e o Largo da Carioca. Após sua destruição, foram abertas largas avenidas.

 

Morro de Santo Antônio

Ricardo Augusto dos Santos*

 

capinha

 

Recentemente, no Departamento de Arquivo e Documentação da Casa de Oswaldo Cruz, identificamos um antigo álbum fotográfico contendo 19 fotografias. Após um rápido reconhecimento, constatamos que as imagens documentam cenas de um morro existente no centro do Rio de Janeiro. As fotos encontradas no acervo iconográfico da COC exibem o cotidiano do Morro de Santo Antônio, retratando os habitantes, as ruas e casas. Mas que morro era esse? Localizado no centro da cidade, assim como outra colina também destruída (Morro do Castelo), Santo Antônio estava situado em planície cercado de outras elevações que nos primeiros tempos do Rio colonial marcavam os limites do núcleo urbano. Sua completa demolição ocorreu a partir da década de 1950, fechando um ciclo de grandes obras no Rio de Janeiro com base no desmonte de morros, aterros de lagoas e arrasamento das ruas. Representou um importante capítulo na consolidação da cidade. Seus limites correspondem as ruas da Carioca, do Lavradio, Evaristo da Veiga e o Largo da Carioca. Após sua destruição, foram abertas largas avenidas.

 

 

Acessando o link para as fotografias do Morro de Santo Antônio do acervo da Casa de Oswaldo Cruz disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Mas as imagens? Quando foram feitas? O que revelam? Podemos seguir pistas para obter respostas. Na capa do álbum está escrito: Fotografias de vários trechos do Morro de Santo Antônio, antes e depois da ação da Saúde Pública. As fotografias possuem legendas e uma delas traz a seguinte frase: Rua Caminho Pequeno na Manhã do Incêndio. E na imagem seguinte, o mesmo local fotografado após a remoção dos escombros. Então, ocorreu um incêndio! Tudo indica que incêndios suspeitos aconteciam com incrível regularidade ameaçando os moradores e suas habitações.

 

 

Estes vestígios do tempo mostram que o Morro do Castelo ainda estava de pé. Portanto, as fotos foram produzidas antes de 1922, data da demolição do Morro do Castelo. As anotações à margem das imagens revelam que as fotos foram feitas a partir de uma intervenção das autoridades de saúde pública. As notícias nos jornais de época indicam que inspetores sanitários vigiavam o pequeno comércio que abastecia os trabalhadores da área. Além da questão higiênica, havia o interesse econômico. Desde o surgimento das primeiras construções no local, interesses imobiliários conflitantes sobre uso do solo, articulados com a preocupação das condições de vida e sanitárias das comidas e bebidas vendidas no morro, determinavam as ações das autoridades públicas e proprietários. Lembrando que, em caso de destruição do morro, os terrenos planos (e valorizados!) seriam de posse do proprietário do morro. Em várias ocasiões, a prefeitura tentou, por ordem judicial, remover os moradores, mas os habitantes conseguiam adiamento da remoção. Porém, em 1916 houve um grande incêndio, obrigando um grande número de habitantes a buscar refúgio no Morro do Telégrafo, perto da Quinta da Boa Vista. Em meados da década de 1960, o morro seria totalmente destruído, surgindo uma grande esplanada, hoje dominada por imensos prédios públicos (BNDES, Petrobrás).

 

 

 

*Ricardo Augusto dos Santos é Pesquisador Titular da Fundação Oswaldo Cruz

 

O título deste artigo foi alterado de O Morro de Santo Antônio na Casa de Oswaldo Cruz para Série O Rio de Janeiro desaparecido VII – O Morro de Santo Antônio na Casa de Oswaldo Cruz, em 16 de setembro de 2021.

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Links para os outros artigos da Série O Rio de Janeiro desaparecido

 

Série O Rio de Janeiro desaparecido I Salas de cinema do Rio de Janeiro do início do século XXde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 26 de fevereiro de 2016.

Série O Rio de Janeiro desaparecido II – A Exposição Nacional de 1908 na Coleção Família Passos, de autoria de Carla Costa, historiadora do Museu da República, publicado na Brasiliana Fotográfica, em 5 de abril de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido III – O Palácio Monroe, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica, em 9 de novembro de 2016.

Série O Rio de Janeiro desaparecido IV - A via elevada da Perimetral, de autoria da historiadora Beatriz Kushnir, publicado na Brasiliana Fotográfica em 23 de junho de 2017.

Série O Rio de Janeiro desaparecido V – O quiosque Chopp Berrante no Passeio Público, Ferrez, Malta e Charles Dunlopde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portalpublicado na Brasiliana Fotográfica em 20 de julho de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VI – O primeiro Palácio da Prefeitura Municipal do Rio de Janeirode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de setembro de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VIII – A demolição do Morro do Castelode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portalpublicado na Brasiliana Fotográfica em 30 de abril de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido IX – Estrada de Ferro Central do Brasil: estação e trilhosde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de novembro de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido X – No Dia dos Namorados, um pouco da história do Pavilhão Mourisco em Botafogode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de junho de 2020.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XI – A Estrada de Ferro do Corcovado e o mirante Chapéu de Sol, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 22 de julho de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XII – o Teatro Lírico (Theatro Lyrico), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 15 de setembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIII – O Convento da Ajuda, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de outubro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIV – O Conselho Municipal, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 19 de novembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XV – A Praia de Santa Luzia no primeiro dia do verão, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 21 de dezembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVI – O prédio da Academia Imperial de Belas Artes, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, publicado na Brasiliana Fotográfica em 13 de janeiro de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVII – Igreja São Pedro dos Clérigos, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 18 de março de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVIII – A Praça Onze, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 20 de abril de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIX – A Igrejinha de Copacabana, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 23 de junho de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XX – O Pavilhão dos Estados, futuro prédio do Ministério da Agricultura, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 26 de julho de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXI – O Chafariz do Largo da Carioca, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 19 de setembro de 2022. 

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXII – A Cadeia Velha que deu lugar ao Palácio Tiradentes, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 11 de abril de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXIII e Avenidas e ruas do Brasil XVII A Praia e a Rua do Russel, na Glória, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 15 de maio de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXIV – O luxuoso Palace Hotel, na Avenida Rio Branco, uma referência da vanguarda artística no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 4 de julho de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXV – O Theatro Phenix, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 5 de setembro de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXVI – Conclusão do arrasamento do Morro do Castelo por Augusto Malta, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 14 de dezembro de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXVII e Série Os arquitetos do Rio de Janeiro V – O Jockey Club e o Derby Club, na Avenida Rio Branco e o arquiteto Heitor de Mello (1875 – 1920), de autoria de Andrea c. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, em 15 de janeiro de 2024