Três álbuns fotográficos da Exposição Nacional de 1908 no Museu Histórico Nacional: Boscagli, Malta e Musso

No mês em que a Exposição Nacional de 1908 completa 115 anos – foi inaugurada em 11 de agosto e encerrada em 15 de novembro de 1908 -, a Brasiliana Fotográfica publica o artigo A Exposição Nacional de 1908 no Museu Histórico Nacional, de autoria da historiadora Maria Isabel Ribeiro Lenzi, do Arquivo Histórico do Museu Histórico Nacional, uma das instituições parceiras do portal, com três álbuns fotográficos produzidos na ocasião pelos fotógrafos Augusto Malta (1864 – 1957), José Boscagli (1862 – 1945) e Luis Musso (18? – 19?). Cada álbum tem sua característica: o de Malta parece ter sido realizado especialmente para presentear o seu amigo, o ministro Miguel de Calmon; o de Boscagli retratou a mostra do Rio Grande do Sul; e, finalmente, tudo indica que o produzido por Musso tenha sido encomendado pelo governo federal para o registro oficial do evento.

 

Acessando o link para as fotografias do álbum de autoria de Augusto Malta sobre a Exposição Nacional de 1908 pertencentes ao Museu Histórico Nacional disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá visualizar e magnificar as imagens.

 

 

Acessando o link para as fotografias do álbum de autoria de José Boscagli sobre a Exposição Nacional de 1908 pertencentes ao Museu Histórico Nacional disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá visualizar e magnificar as imagens.

 

 

Acessando o link para as fotografias do álbum de autoria de Luis Musso sobre a Exposição Nacional de 1908 pertencentes ao Museu Histórico Nacional disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá visualizar e magnificar as imagens.

 

 

A Exposição Nacional de 1908 no Museu Histórico Nacional

Maria Isabel Ribeiro Lenzi*

 

 

Era 1907. O Rio de Janeiro, então Distrito Federal, acabara de ser remodelado ao gosto das nações ditas civilizadas, pelo governo de Rodrigues Alves com a participação do prefeito Pereira Passos e do sanitarista Oswaldo Cruz. No ano seguinte, faria 100 anos que o Brasil abrira seus portos às nações amigas. Foi esse o mote para que fosse organizada a Exposição Nacional de 1908, oportunidade de o país exibir sua produção a si próprio.  A ideia havia sido lançada pela Associação Comercial, apoiada pela imprensa e acatada pelo Congresso Nacional, que votou em 1907 orçamento para promover, no ano seguinte, o evento destinado a ser um panorama da agricultura, da indústria, da pecuária e das artes liberais desenvolvidas no país.

 

 

Depois de muito debate, foi escolhida a várzea entre as praias da Saudade e Vermelha, no vale formado entre os morros da Urca, Pão de Açúcar e Babilônia, para a construção do que viria a ser a Exposição Nacional de 1908.  O país promovera anteriormente exposições nacionais, mas aquela foi a primeira em que foram construídos pavilhões especialmente para a ocasião. O lugar escolhido, além de apresentar uma bonita paisagem, tinha a vantagem de já abrigar dois edifícios públicos – a antiga Escola Militar e a fundação do prédio para a Universidade do Brasil – que poderiam ser aproveitados depois de reforma.  O presidente da República era Afonso Penna. Seu Ministro da Indústria, Viação e Obras Públicas, Miguel Calmon Du Pin e Almeida, nomeou o engenheiro José Mattoso Sampaio Corrêa para chefiar a comissão construtora que estaria encarregada de produzir uma “pequenina cidade de palacetes no areal da Urca”,[1] onde se faria um inventário do Brasil com função pedagógica, para que os próprios brasileiros conhecessem o país. O cronista João do Rio fala sobre isso:

 

A exposição vai abrir-se. É a grande mostra do Brasil. Cada estado expõe suas riquezas… e os tentamens da sua indústria o estrangeiro admirará, aproveitará… o brasileiro descobrirá. Estou a ver o pasmo… dos cariocas diante do ouro, das pedras, das madeiras, dos tecidos e dos aproveitamentos da natureza assombrosa pelo homem vagaroso. Isso é Paraná?… Isso é Amazonas? Ora, diga-me, onde fica o Mato Grosso? Quando o brasileiro descobrirá o Brasil?[2]

 

A exposição, inaugurada no dia 11 de agosto, ficou aberta até 15 de novembro de 1908. De janeiro a junho, a área que hoje corresponde à Praia Vermelha e parte da Av. Pasteur era um canteiro de obras com muitos operários que fizeram surgir aqueles palácios em arquitetura efêmera que logo desapareceriam da vida carioca. Era como um sonho aquela cidadela iluminada pela luz elétrica, mas, como nos sonhos, uma alegria fugaz.

O edifício da Universidade do Brasil foi adaptado para abrigar o Palácio dos Estados e a Escola Militar, depois da reforma, se transformou no Palácio das Indústrias, com um grande chafariz em sua fachada – o Chateau d’Eau.  Quatro estados e o Distrito Federal construíram seus próprios pavilhões. Os de Minas Gerais, de São Paulo, da Bahia e do Distrito Federal, opulentos, simbolizando o poder de suas elites, contrastavam com a simplicidade do Pavilhão de Santa Catariana, que apresentou aos visitantes uma casa de colono feita de madeira e em seu interior, 150 tábuas de diferentes espécies de árvores catarinenses.

 

 

As demais unidades da federação ocuparam o Palácio dos Estados com seus produtos.  Portugal foi o único país estrangeiro a participar do certame com um pavilhão em estilo manuelino oferecido pelo governo brasileiro àquele país. Porém, os produtos portugueses excederam aquele espaço e Portugal construiu, então, um anexo a seu pavilhão onde foram expostas telas e esculturas de seus artistas.

 

 

 

 

Algumas instituições também se fizeram representar, como a Fábrica de Tecidos Bangu, com seu pavilhão, à época descrito como “uma pequena mesquita mourisca”; a Sociedade Nacional de Agricultura com pavilhão em estilo renascença; a Fábrica de Chocolate Bhering, com o Pavilhão Café e Cacau. O Jardim Botânico participou com uma estufa envidraçada onde o público podia admirar várias espécies de plantas e ao seu redor, muitas mudas que, provavelmente, o público poderia adquirir.

 

 

Os divertimentos não faltavam na exposição. Para quem gostava da arte dramática, havia dois teatros. O Teatro João Caetano, grande, inspirado no Teatro Municipal que estava prestes a ser inaugurado, era dirigido por Artur Azevedo. Havia também, por iniciativa do empresário Paschoal Segreto, um pequeno teatro de variedades, um cinematógrafo e uma pista de patinação. Pinturas, esculturas, desenhos de artistas nacionais foram expostos no Pavilhão das Artes Liberais.

 

 

Os amantes da música podiam assistir a concertos no Pavilhão Egípcio – nome este devido à estética egípcia daquele espaço dedicado às apresentações das orquestras. E para abrigar as bandas militares e civis, diversos coretos foram distribuídos pela exposição.

 

 

Os visitantes entravam na Exposição pela Porta Monumental.  Muito deles vindos de barca que saía do Cais Pharoux para o ancoradouro construído especialmente para recebê-los. Alguns serviços eram oferecidos nos pavilhões dos Correios e Telégrafo, da Assistência Municipal, da Imprensa e dos Bombeiros. O visitante também contava com opções entre quiosques de cerveja e de refrescos, além de cafés e restaurantes.

No Pavilhão da Imprensa, Olavo Bilac editava o Jornal da Exposição, onde se encontrava a programação e as notícias do evento. Em suas crônicas, Bilac fazia críticas e elogios à exposição. Ele lembra em um de seus textos que sem a “fada de eletricidade”, as noites não seriam tão espetaculares!

 

 

Muitos fotógrafos registraram esse evento do início do século XX. Certamente, diversos visitantes levavam sua Kodak na bolsa, mas foi o trabalho de profissionais que chegou até os nossos dias, nos dando uma ideia do que foi a comemoração do centenário da abertura dos portos brasileiros às nações amigas.

Na coleção Miguel Calmon do Museu Histórico Nacional, existem três álbuns da Exposição Nacional de 1908.  Um deles é do fotógrafo Augusto Malta, que parece feito especialmente para presentear o ministro Miguel de Calmon. Nele, temos acesso à imagem da área antes da construção dos pavilhões, mas a maioria das fotografias nos mostra a exposição em seu auge, com muita gente perambulando entre os edifícios. É visível o caráter único deste álbum, pois Augusto Malta recortou algumas fotografias em formas inusuais, muitas vezes privilegiando retratar o ministro Calmon e o presidente Afonso Pena.  Destacamos o balão que Augusto Malta clica com sua lente na hora em que ele é lançado do Pavilhão de São Paulo, bem como as fotografias noturnas nas quais a luz elétrica protagoniza as imagens…

 

 

O álbum de Luis Musso nos parece um trabalho encomendado pelo governo federal para o registro oficial do evento. As fotografias são todas da mesma dimensão e com muito poucas pessoas no entorno. São retratos dos prédios, como se o fotógrafo quisesse catalogar a arquitetura do evento. A capa traz o brasão da República, o que nos sugere seu caráter oficial.

 

 

 

Por fim, temos um álbum produzido pelo governo do Rio Grande do Sul, onde é possível ver os produtos exibidos por este estado.  A maioria absoluta das fotografias é de autoria de José Boscagli (com exceção da primeira foto, que é de Augusto Malta e apresenta o Palácio dos Estados, onde o Rio Grande do Sul expunha seus produtos). A importância deste álbum está na possibilidade dele nos oferecer uma ideia de como eram expostos os produtos na mostra.

 

 

 

 

Cabe lembrar ainda fato curioso ocorrido na exposição, embora não registrado por nenhum fotógrafo: a visita da banda de música dos indígenas Bororo. Eles lá estiveram, tocaram no Pavilhão de São Paulo e no Teatro João Caetano. Mas não chegou até nós nenhuma imagem deles no evento. Quem quiser saber mais sobre o assunto, veja a postagem da Brasiliana Fotográfica: Novos acervos: Museu Histórico Nacional .

 

 

*Maria Isabel Ribeiro Lenzi é Doutora em História pela UFF e historiadora do Arquivo Histórico do Museu Histórico Nacional (IBRAM/MTur)

 

Bibliografia:

Levy, Ruth. Entre Palácios e Pavilhões. A arquitetura efêmera da Exposição Nacional de 1908. Rio de Janeiro: EBA Publicações, 2008.

Neves, Margarida de Souza. As vitrines do progresso. Rio de Janeiro: PUC-RIo, FINEP, PNPq, 1986

Pereira, Margareth da Silva. A Exposição Nacional de 1908 ou O Brasil visto por dentro. In: Pereira, Margareth da Silva (org). 1908, um Brasil em exposição. São Paulo: Caixa Cultural, 2011

Mariani, Luiza Helena. Bilac, João do Rio e a Exposição Nacional de 1908. In: Pereira, Margareth da Silva (org). 1908, um Brasil em exposição. São Paulo: Caixa Cultural, 2011

Revista Kosmos. Ano V, julho de 1908, nº 7

 

[1] Revista Kosmos, ano  V, nº7, julho de 1908, p.1

[2] Apud:  Levy  Ruth, Palácios e Pavilhões. A arquitetura efêmera da Exposição Nacional de  1908. p.73

 

Nota da editora:

Uma curiosidade: foi durante a Exposição Nacional de 1908 que o engenheiro fluminense Augusto Ferreira Ramos (1860 – 1939), um dos coordenadores do Pavilhão de São Paulo, teve a ideia de construir o Bondinho do Pão de Açúcar. Para saber mais sobre essa história, acesse o artigo A construção do Bondinho do Pão de Açúcar sob as lentes de Theresio Mascarenhas, de minha autoria, publicado na Brasiliana Fotográfica, em 27 de outubro de 2022.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Links para os artigos sobre exposições nacionais ou internacionais publicados na Brasiliana Fotográfica

O pintor Victor Meirelles e a fotografia na II Exposição Nacional de 1866, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 17 de agosto de 2017.Motr

A festa do progresso: o Brasil na Exposição Continental, Buenos Aires, 1882, de autoria de Maria do Carmo Rainho, Arquivo Nacional, publicado em 29 de março de 2018.

Série “O Rio de Janeiro desaparecido” II – A Exposição Nacional de 1908 na Coleção Família Passos, de autoria de Carla Costa, Museu da República, publicado em 5 de abril de 2018.

Marc Ferrez, a Comissão Geológica do Império (1875 – 1878) e a Exposição Antropológica Brasileira no Museu Nacional (1882), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 29 de junho de 2018.

Paris, 1889: o álbum da exposição universal, de autoria de Claudia B. Heynemann, Arquivo Nacional,publicado em 27 de julho de 2018.

Café Brasil: o Império na Exposição Internacional de Filadélfiade autoria de Claudia B. Heynemann, Arquivo Nacional, publicada em 4 de dezembro de 2019.

Festa das Artes e da Indústria Segunda Exposição Nacional, 1866, de autoria de Claudia Beatriz Heynemann e Maria Elizabeth Brêa Monteiro, Arquivo Nacional, em 5 de abril de 2020.

A apresentação do Departamento Nacional de Saúde Pública na Exposição Internacional do Centenário da Independência, de Ricardo Augusto dos Santos, Fiocruz, publicado em 13 de abril de 2020.

A Exposição Internacional de Higiene de Dresden, de Cristiane d´Avila, Fiocruz, publicado em 5 de janeiro de 2022.

Série 1922 – Hoje, há 100 anos VIII – A abertura da Exposição Internacional do Centenário da Independência do Brasil e o centenário da primeira grande transmissão pública de rádio no país, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 7 de setembro de 2022, na Brasiliana Fotográfica.

 

 

 

Pelas fronteiras do Brasil

Durante o governo do presidente do Brasil Washington Luís foi criado o Serviço de Inspeção de Fronteiras para vigiar e nacionalizar as fronteiras. Para chefiá-lo foi nomeado o general Cândido Mariano da Silva Rondon. Foram visitadas as fronteiras do Oiapoque, girando para oeste e para o sul através das fronteiras da Guiana Francesa, Guiana, Suriname, Venezuela, Colômbia, Peru, Bolívia, Paraguai e Argentina e Uruguai. É sobre essa história o artigo que Maria Elizabeth Brêa Monteiro, pesquisadora do Arquivo Nacional, uma das instituições parceiras do portal, escreveu para a Brasiliana Fotográfica. Além do texto, foram disponibilizadas fotografias de um álbum produzido durante a Campanha de 1929-1930 da Inspeção de Fronteiras. São de autoria de Benjamin Rondon, engenheiro-topógrafo e filho de Rondon, e do fotógrafo e cinegrafista José Louro.

 

 

 

Pelas fronteiras do Brasil

Maria Elizabeth Brêa Monteiro*

 

“Nenhum córrego ou morro à tua vista escapa,
Nem salto ou corredeira, ou charco ou terrapleno.
E o Brasil que Rio Branco ampliou sobre o mapa,
Vais, milha a milha, demarcando no terreno.”
(Ode em louvor de Rondon, de Bastos Tigre)

 

Desde o final do século XIX a soberania e a preservação do espaço nacional ensejavam preocupação dos dirigentes da recém-instalada República. Ao mesmo tempo que as vastas dimensões territoriais do país constituíam um valor positivo, a necessidade de integração de regiões afastadas situadas em faixas de fronteira deram origem a projetos de controle e reconhecimento territorial.

Os trabalhos da Comissão de Linhas Telegráficas e Estratégicas de Mato Grosso ao Amazonas, iniciados nos anos de 1890, já contemplavam objetivos de estabelecer comunicação entre o sertão e os centros urbanos e introduzir à dinâmica espacial do país áreas a noroeste e domínio sobre zonas de fronteira. A Comissão revestia-se de um caráter estratégico “não só como fator de desenvolvimento, mas também como motor para a ocupação da região, incentivando a migração, e para a garantia da defesa das fronteiras brasileiras, ‘nacionalizando’ os povos indígenas.” (Moreira Neto, 2005: 83)

Acessando o link para as fotografias do álbum referente à Campanha de 1929-1930 da Inspeção de Fronteiras disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

Nesse contexto, foi criado em 1927, diretamente subordinado ao Estado Maior do Exército, o Serviço de Inspeção de Fronteiras, que tinha a atribuição de proceder à vigilância e à nacionalização das fronteiras. Para essa missão de inspecionar mais de 10 mil quilômetros de limites, desde a Guiana Francesa ao Uruguai, o ministro da Guerra, atendendo determinação do presidente Washington Luís para que fossem realizadas as inspeções das fronteiras do Brasil até o final de seu governo, com o objetivo de estudar as condições de seu povoamento e segurança, nomeou o general Cândido Mariano da Silva Rondon, que mobilizou antigos companheiros de jornadas pelo “hinterland” como Boanerges Lopes de Sousa, Amílcar Botelho de Magalhães, João Barbosa de Faria e Luiz Thomaz Reis.

O objetivo de sua criação foi, então, proceder ao exame das fronteiras brasileiras do ponto de vista geográfico, econômico e militar. Foram visitadas as fronteiras do Oiapoque, girando para oeste e para o sul através das fronteiras da Guiana Francesa, Guiana, Suriname, Venezuela, Colômbia, Peru, Bolívia, Paraguai e Argentina e Uruguai.

 

 

Rondon, em discurso proferido no Pará em setembro de 1928, salienta sua visão quanto ao papel da Comissão de Inspeção de Fronteiras:

(…) tornar conhecidas as nossas terras, firmando a geografia territorial; e as possibilidades econômicas e de colonização, ao mesmo tempo que fornece ao estado-maior do exercito os elementos de que carece para a defesa nacional.(O Paiz, 5.09.1928.)

A Comissão de Inspeção de Fronteiras era organizada com um Estado-Maior, um ajudante de ordem, serviço cinematográfico, serviço radiotelegráfico, serviço sanitário, serviço telefotográfico, serviço de trabalhos censitários dos povos indígenas, serviço de geologia e serviço de botânica, que envolviam professores e pesquisadores do Museu Nacional para onde foram encaminhadas peças arqueológicas e de cultura material indígena, itens da flora e fauna e outros artigos. Distribuída em várias turmas, procederam ao levantamento dos rios, dos marcos de fronteiras, das fortificações, das linhas fronteiriças, recensearam as populações encontradas, contataram diversos povos indígenas, visitaram empreendimentos econômicos e produziram vasta documentação.
Em 1927, durante a primeira campanha de inspeção das fronteiras com a Venezuela, Colômbia e Guianas Francesa e Inglesa, Rondon fez uso de todos os meios de transporte numa viagem ininterrupta de 257 dias, na primeira fase dos trabalhos que percorreu 10.702 km por via marítima e fluvial; 1.801 km a cavalo, 2.917 km em automóvel; 1.896 km em estrada de ferro, totalizando 18.316 km.

A segunda campanha chefiada, primeiramente, por Boanerges Lopes de Sousa, que se estendeu de julho de 1928 a fevereiro de 1929, cobriu os estados do Amazonas e Pará, na divisa com Venezuela, Colômbia e Suriname. Percorreu os rios Negro, Içana, Urupês, Javari, Juruá, Breu, Purus, Acre, Abunã, Japurá, Trombetas e Cuminá, alcançando a fronteira com o Suriname.

Em setembro de 1929, teve início a terceira campanha que, saindo do Rio de Janeiro, seguiu até Cuiabá passando pela ilha do Bananal, em direção a Belém e Manaus. Nessa última expedição, Rondon vai ao Acre, Rondônia e Mato Grosso, verifica as fronteiras com o Paraguai no rio Apa, desce o rio Paraná, visita o salto de Sete Quedas e Foz do Iguaçu, chegando à fronteira da Argentina pela ponte internacional sobre o rio Peperiguaçu. (Lasmar, 2008) De acordo com reportagem do Jornal do Brasil de 9 de agosto de 1938, nesta última etapa, seu esforço foi insuperável, pois tendo partido de automóvel com destino a Registo do Araguaia, alcançava Marcelino Ramos, na fronteira de Santa Catarina com o Rio Grande, a 3 de outubro de 1930.

 

 

Ao longo dessa última expedição pela Inspeção de Fronteiras, visitou diferentes áreas indígenas, destacamentos e quartéis militares e empreendimentos econômicos, como as instalações da Fundação Ford, da Guaporé Rubber Company e da Companhia Mate Laranjeira. Refez marcos de limites e reavivou outros, passou por ruínas de antigas fortificações como os fortes Príncipe da Beira e Coimbra, na fronteira entre Bolívia e o estado do Mato Grosso, e de velhas igrejas como a de Santo Antonio dos Militares ou a da povoação de Casalvasco, na região do Guaporé, Mato Grosso.

 

 

As atividades da Comissão de Inspeção de Fronteiras foram interrompidas com a Revolução de 1930 e a detenção de Rondon no Rio Grande do Sul. Na ocasião, o general Juarez Távora, comandante do movimento revolucionário e responsável pelo Ministério da Viação e Obras Públicas do governo provisório, fez declarações detratoras sobre os trabalhos realizados por Rondon, em contraste, por exemplo, com o ex-presidente dos Estados Unidos, Theodore Roosevelt, que, ao longo de uma célebre expedição científica pela Amazônia empreendida nos anos 1913-1914, reconhecia seu pioneirismo e afinco na instalação de linhas de comunicação pelo interior mais interno do Brasil. As declarações do general Távora levaram Rondon a pedir sua reforma do Exército. Em seu diário escreve:

“Enxovalhado na minha honra de soldado e homem público por um dos chefes da Revolução, com mais de anos de contínuos trabalhos no interior do paiz, 49 de serviço militar, já no fim de minha carreira pública, peço minha reforma de acordo com a Lei.”

Por solicitação do chefe do Estado Maior do Exército e do ministro, reconsiderou seu pedido de reforma. Sobre a declaração de Juarez Távora, Getulio Vargas teria dito: “É a opinião de um homem, mas não é da Nação”.

Alguns autores mencionam a atenção que Rondon sempre devotou à divulgação dos trabalhos sobre seu comando e das conquistas por ele alcançadas. Com frequência concedia entrevistas a jornais, fazia conferências e participava de encontros em institutos de estudos. Importantes jornais com O Paiz, Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, por exemplo, divulgavam os trabalhos do “eminente desbravador dos nossos sertões”, como se refere Loureiro Sobrinho em entrevista publicada em 2 de junho de 1927 em O Paiz. Mas essa atenção se fez mais concreta na produção e arranjo de copiosa documentação que Rondon e seus colaboradores empreenderam. De acordo com Fernando Tacca, “os álbuns, os artigos publicados nos principais jornais do país e principalmente as apresentações dos filmes seguidas de conferências, funcionavam como uma espécie de marketing pessoal e uma forma de persuasão para a continuidade das atividades da comissão.” (2011: 206)

 

 

Desde a Comissão de Linhas Estratégicas havia um cuidado com a organização e preservação dos registros das atividades levadas a efeito. A publicação de relatórios, álbuns fotográficos, entre outros elementos, revela a importância e a intenção em preservar a memória dessas iniciativas e também dar visibilidade às ações por vezes revestidas de uma tenacidade, característica atribuída, com frequência, a Rondon.

Em seu livro A Nação por um fio, Laura Antunes Maciel menciona, a respeito das imagens produzidas durante as expedições lideradas por Rondon, a dificuldade de dissociá-las das atividades às quais Rondon esteve vinculado desde a Comissão de Linhas Telegráficas, o Serviço de Proteção aos Índios-SPI, até a Comissão de Inspeção de Fronteiras, no período de 1890 a 1930. Fotógrafos, cinegrafistas, companheiros do exército com frequência integravam-se às diferentes missões ele consagradas. Esse amálgama entre a Comissão Rondon e a Comissão de Inspeção de Fronteiras, por exemplo, se fez sentir até mesmo nas instalações físicas. Alojada numa sala do Instituto Benjamin Constant, no Rio de Janeiro, onde funcionou o escritório central da Comissão Rondon, a Inspetoria de Fronteiras herdou o arquivo e toda a infraestrutura dessa Comissão, utilizando-se, assim, dos serviços cartográficos e topográficos que tornaram possível a organização das cartas das regiões de fronteiras.

 

 

Os álbuns seguem um padrão temático, privilegiando imagens dos grupos de trabalho, dos grupos étnicos, aspectos das vilas e cidades percorridas, prédios públicos, dos meios de transporte, de marcos de demarcação de limites e antigas construções. Apresentam também uma grande quantidade de imagens privilegiando a paisagem e aspectos geográficos que confirmam a intenção de se avaliar a natureza da região que deve servir para o reconhecimento das fronteiras brasileiras, assim como as áreas que devem receber intervenção do Estado. (Rodrigues, 2017)

 

 

 

 

É importante frisar que as fotografias não tinham a função de ilustrar ou divulgar paisagens pitorescas e exóticas. Constituíam parcela significativa do processo de construção de um ideal de nação, de expansão de valores e visões.

Logo cedo Rondon percebeu o alcance político que continham os registros fotográficos e cinematográficos. As viagens empreendidas pela Inspetoria de Fronteiras geraram álbuns, filmes e publicações. A terceira campanha, objeto do álbum ora apresentado, está editada, em sua maior parte, no filme “Ao Redor do Brasil – Aspectos do Interior e das Fronteiras Brasileiras”, de 1932, e nas películas “Posto Alves de Barros” (1930), “Mato Grosso e Paraná” (1931). As imagens realizadas nessa expedição também estão publicadas no livro Índios do Brasil, volumes 1 e 3. (Lasmar, 2008)

Este álbum referente à Campanha de 1929-1930 da Inspeção de Fronteiras parece ter sido elaborado a pedido do inspetor Cândido Rondon para o então chefe do Governo Provisório, Getulio Vargas. Ainda que, ao longo das expedições realizadas por Rondon como inspetor de fronteiras, sejam numerosos os registros de povos indígenas, neste volume as imagens se concentram nas ações de reconhecimento do território e de fixação de limites, visando formar “uma consciência geográfica da nação, criando os instrumentos para ordenação e controle e para a defesa da soberania brasileira face aos países limítrofes”. (Maciel, 1998:189)

As imagens selecionadas mostram o sertão como uma região promissora que abriga empreendimentos econômicos e obras de engenharia e também revisitam áreas históricas de relevância para a constituição territorial do país. As fotografias de Vila Bela, primeira sede da capitania de Mato Grosso, as ruínas do Forte Príncipe da Beira, construído no século XVIII para assegurar o domínio português sobre as minas do Guaporé, os registros do Palácio dos Capitães Generais, residência dos governadores dessa capitania, sugerem uma refundação dos limites do Brasil por essa Comissão. Cabe registrar ainda as menções a Ricardo Franco de Almeida Serra, importante engenheiro militar no levantamento das fronteiras do Brasil e fundador do Forte Coimbra, do também militar Hermenegildo Porto Carrero (barão do Forte de Coimbra) e do pintor e desenhista Amado Adriano Taunay, que esteve na região do Mato Grosso como integrante da expedição Langsdorff documentando os mais variados aspectos de sua natureza e sociedade, constituindo um relevante inventário do Brasil.

 

 

 

 

Assinam as fotografias Benjamin Rondon, engenheiro-topógrafo e filho de Rondon, e José Louro, fotógrafo e cinegrafista experiente, que, a serviço do SPI, documentou contatos com os grupos indígenas da região do Amazonas, além de ter participado das campanhas da Inspeção de Fronteiras juntamente com o major Thomaz Reis.

As 92 imagens das atividades de Inspeção de Fronteiras estão reproduzidas em 80 pranchas em papel fotográfico, compondo este volume de esmerada encadernação em couro e revestimento em papel kraft marmorizado com guardas e espelhos em tecido tafetá, elaborada pela empresa Drux & Filho, especializada em marroquinaria, instalada à rua Uruguaiana, no centro do Rio de Janeiro.

 

* Maria Elizabeth Brêa Monteiro é Mestre em História (UERJ) | Pesquisadora do Arquivo Nacional

 

Fontes:

BIGGIO, Elias dos Santos. Cândido Rondon: a integração nacional. Rio de Janeiro: Contraponto, Petrobras, 2000.

LASMAR, Denise Portugal. O acervo imagético da Comissão Rondon no Museu do Índio 1890-1938. Rio de Janeiro: Museu do Índio, 2008.

LOUREIRO SOBRINHO. As fronteiras do Brasil. O Paiz, 02.05.1927. Disponível em: <https://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/>. Acesso em: 04 jul. 2019.

MACIEL, Laura Antunes. A nação por um fio: caminhos, práticas e imagens da “Comissão Rondon”. São Paulo: EDUC, 1998.

MAGALHÃES, Amilcar A. Botelho de. Pelos sertões do Brasil. 2.ed.Rio de Janeiro: Companhia Editora Nacional, 1941.

MOREIRA NETO, Carlos de Araujo. Índios e fronteiras. Revista de Estudos e Pesquisas, FUNAI, Brasília, v.2, n.2, p. 79-87, dez. 2005.

O Paiz, 5.09.1928. Disponível em: <https://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/>. Acesso em: 4 jul. 2019.

PAIVA, Mário Garcia de (org.). A grande aventura de Rondon. Rio de Janeiro: INL, 1971.

RODRIGUES, F. da S. Marechal Rondon e a trajetória de um militar sertanista na Primeira República brasileira. Atores e Trajetórias do campo indigenista nas Américas. Estudos ibero-americanos, Porto Alegre, v. 43, n. 1, p. 122-134, jan./abr. 2017.

RODRIGUES, Fernando da Silva e Arias Neto, José Miguel. Fotografia, história e poder: investigando os alguns da Comissão de Inspeção de Fronteiras (1927-1930). In: Rodrigues, Fernando da

SILVA E ARIAS NETO, José Miguel (org.). História militar: entre o debate local e o nacional. Série Estudos Reunidos, v. 51, Paco Editorial, 2019. Acesso em 30 maio 2019.

TACCA, Fernando de. O índio na fotografia brasileira: incursões sobre a imagem e o meio. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.18, n.1, jan.-mar. 2011, p.191-223.

Os Augustos, Stahl e Riedel, e a imagem da cachoeira de Paulo Afonso

A Brasiliana Fotográfica destaca uma curiosidade acerca de uma imagem envolvendo os fotógrafos Augusto Riedel (1836 – ?) e Augusto Stahl (1828 – 1877). Muito provavelmente Riedel conhecia o fotógrafo Stahl ou pelo menos o trabalho realizado por ele porque uma das mais famosas e importantes fotografias de Stahl, da cachoeira de Paulo Afonso, na Bahia, produzida em 1860 a pedido de dom Pedro II (1825 – 1891), que ficou entusiasmado com a monumentalidade da paisagem formada pelas quedas d´água que conheceu, em 1859, durante uma viagem que realizou às províncias do norte, acompanhado por uma comitiva e também pela imperatriz dona Teresa Cristina (1822 – 1889).

A imagem realizada por Stahl, considerada uma das mais importantes da história da fotografia no Brasil, causa grande impacto tanto por sua qualidade técnica como por sua beleza. Foi usada por Riedel no álbum Viagem de S.S.A.A. Reaes Duque de Saxe e seu Augusto Irmão D. Luis Philippe ao Interior do Brasil no Anno 1868  com uma alteração: foi acrescida da presença de um suposto membro da comitiva da viagem substituindo um jovem presente no registro realizado por Stahl. Segundo Bia Corrêa do Lago, “Riedel colou a nova imagem, retocou a colagem e a emenda, e refotografou o original alterado, diminuindo-lhe o tamanho pela metade“. Ficam várias questões: se Riedel esteve no local, por que usou a fotografia de Stahl? Por falta de tempo? Por falta de recursos técnicos? Terá Stahl cedido a fotografia a Riedel? O fato é que Riedel assinou a foto sem fazer nenhuma menção à autoria de Stahl.

 

 

 

 

O alemão de Hamburgo, Germano Wahnschaffe (18? – ?), que trabalhava com Stahl, pintou, entre 1860 e 1861, um quadro a óleo, copiado da fotografia da cachoeira de Paulo Afonso. O quadro pertence à Coleção Brasiliana Itaú, uma das parceiras da Brasiliana Iconográfica. Foi exposto e considerado o quadro mais imponente da Exposição dos Produtos Naturais, Agrícolas e Industriais das províncias de Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, aberta no Recife em 16 de novembro de 1861 (Jornal do Recife, 23 de novembro de 1861, segunda coluna).

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002. 408 p., il. p&b.

LAGO, Bia Correia do. Augusto Stahl : obra completa em Pernambuco e Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Editora Capivara, 2001.

Nudez na Galeria Ducasble causa polêmica no Recife do século XIX

 

A exposição de uma cópia do quadro Sono de antíope (ao lado), do pintor italiano renascentista Correggio (c. 1439 – 1534), na Galeria Ducasble, causou polêmica no Recife, em 1885. Por ser considerado por parte do público um registro imoral, muitos deixaram de frequentar o estabelecimento. O advogado e ex-presidente das províncias do Piauí, do Ceará e de Pernambuco, Diogo Cavalcanti de Albuquerque (1829 – 1889), publicou, no Diário de Pernambuco de 27 de junho de 1885, uma crítica a esse comportamento, segundo ele, inspirado por uma nudofobia. No mesmo artigo, criticou o pouco incentivo do governo às artes e elogiou a galeria do fotógrafo e antiquário francês Alfred Ducasble (18-? – 19?). Diogo Cavalcanti de Albuquerque foi o Comissário Geral do Império à Exposição Universal de Paris, em 1889, na qual Ducasble participou como delegado oficial da província de Pernambuco e também como autor de fotografias e expositor de quadros, móveis, jóias e antiguidades.

O ateliê de fotografia e galeria de belas artes de Ducasble situava-se à Rua Barão da Vitória, 65 e era conhecido como A. Ducasble & C., Galeria Ducasble e Fotografia Parisiense. Pintores como Aurélio de Figueiredo (1856 – 1916) e José Jerônimo Telles Júnior (1851 – 1914)  expuseram seus trabalhos na galeria.

‘A uma habilidade não comum, que ele tem vantajosamente empregado no aperfeiçoamento dos processos fotográficos junta, como entusiasta e verdadeiro cultor das belas artes, ardente vocação, apurado gosto e inexcedível dedicação a esse gênero de cultura humana; ainda mais: vota particular interesse, liga a maior importância às produções e progresso da arte nacional’ (Diogo Cavalcanti de Albuquerque sobre Ducasble, em 1885).

 

 

Por ter fotografado grande parte da sociedade pernambucana, Ducasble ficou mais conhecido como retratista embora tenha sido também considerado um excelente paisagista. Foi casado com a alagoana e modista Urraca (1837 – 1893), com quem teve filhos: Maria Vitória (1864 – 1902), nascida em Alagoas, e o futuro caixeiro-viajante Alfredo Ducasble Filho (18? – 19?), nascido em Pernambuco.

 

 

 

Acessando o link para as fotografias de Alfredo Duscable disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

Pouco se sabe sobre a vinda de Ducasble para o Brasil: teria chegado a Pernambuco em 1873 e atuou na cidade nas décadas de 1870 a 1890. Além de fotógrafo, era colecionador e antiquário. Foi professor de desenho e caligrafia no Liceu de Artes e Ofícios e na Escola Propagadora do Recife e é de sua autoria o livro Curso Prático de Caligrafia. Na década de 1880, participou de exposições no Brasil e no exterior, tendo obtido medalha de prata na Exposição Internacional de Antuérpia, em 1885. Foi possivelmente a primeira pessoa a divulgar internacionalmente o mobiliário colonial brasileiro ao enviar, além de pinturas e jóias, móveis e outras antiguidades de seu acervo para a Exposição Universal de Paris em 1889, da qual foi delegado oficial da província de Pernambuco. Na ocasião, recebeu a medalha de prata por seu panorama de Pernambuco e por retratos expostos. Algumas vistas do Recife de sua autoria foram incluídas no Album de vues du Brésil, que organizado pelo Barão do Rio Branco (1945 – 1912) e lançado em Paris na ocasião da Exposição Universal, fazia parte da segunda edição de Le Brésil, extrato da Grande Enciclopédia, trabalho dirigido pelo geógrafo Émile Levasseur  (1828-1911), para o qual o barão havia colaborado. Nesse mesmo ano, 1889, Ducasble teria ido viver em Paris.

 

 

Desenhos publicados no Album de vues du Brésil baseados em fotografias de Ducasble

(Páginas 53 a 56 do PDF)

 

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Em 1893, ano do falecimento de sua mulher, a Galeria Ducasble do Recife foi vendida para o fotógrafo Ludgero Jardim da Costa (18? – 19?). Em 1900, foi anunciada a existência de uma sucursal da Galeria Ducasble, na Avenue de la Grande Armée, em Paris.

 

Cronologia de Alfredo Ducasble (18? – 19?)

 

1873 – J. A. Ducasble teria chegado em Pernambuco vindo da Europa no vapor Rio Grande (Diário de Pernambuco, 11 de março de 1873, terceira coluna).

1874 – No Recife, A. Ducasble, sua mulher e três filhos embarcaram rumo ao sul do país, no vapor inglês Illimani (A Província – Órgão do Partido Liberal, 27 de janeiro de 1874, primeira coluna).

No Rio de Janeiro, João Alfredo Ducasble, sua senhora e um filho embarcaram no vapor Pará rumo a Pernambuco (Jornal do Commercio, 20 de junho de 1874).

Foi anunciado que Ducasble era consertador de máquinas de costura e que a modista Madame Ducasble havia chegado da corte e convidava as senhoras que desejassem vestir-se elegantemente para a visitarem na rua da Imperatriz, nº 8, mesmo local onde Ducasble atendia (Jornal de Recife, 9 de julho e 13 de julho de 1874).

 

 

 

Foi publicado um anúncio de Ducasble oferecendo aulas de caligrafia e de francês no primeiro andar da rua da Imperatriz, nº 1, onde sua esposa tinha um estabelecimento de moda (Jornal de Recife, 6 de agosto e 11 de agosto de 1874).

 

 

1875 – João Alfredo Ducasble trabalhava como desenhista na Repartição das Obras de Conservação dos Portos da Província (Almanak Administrativo, Mercantil, Industrial e Agrícola (PE), 1875).

Sua esposa, a modista Urraca Ducasble (18? – 1893), participava a mudança de seu estabelecimento de moda para a rua Barão da Vitória, 52, no 1º andar, a partir do dia 12 de julho de 1875 (A Província – Órgão do Partido Liberal, 11 de julho de 1875). Dois anos depois, mudou-se para o número 65 da mesma rua.

1876 - Vindo no navio Rio Grande, o francês Alfred Ducasble, chegou ao Rio de Janeiro (Diário do Rio de Janeiro, 13 de fevereiro de 1876, quinta coluna).

1877 - Foi publicado um anúncio onde Ducasble oferecia-se para fazer qualquer levantamento em plantas de engenho, nivelamentos, projetos de casas de campo, chalés e qualquer desenho de arquitetura, mecânico e topográfico (Jornal de Recife, 18 de abril de 1877, quinta coluna). Continuava lecionando caligrafia e desenho em colégios, em casas particulares e em sua casa (Jornal de Recife, 23 de abril de 1877, terceira coluna). Mudou-se para a Rua Barão da Vitória (ex- rua Nova), nº 65, 1º andar (Jornal de Recife, 16 de outubro de 1877, quarta coluna).

Ducasble participou de uma celebração na Escola Filotécnica (Jornal de Recife, 16 de novembro de 1877, quarta coluna).

Imprimiu o Curso Prático de Caligrafia, de sua autoria, aprovado pelo Conselho Superior de Instrução Pública de Pernambuco (Jornal de Recife, 28 de novembro de 1877, última coluna).

1878 - Durante uma reunião do Conselho de Instrução Pública da província da Bahia, foi lido um ofício mandando informar o requerimento de Alfred Ducasble, que se propõe a ensinar em 30 lições a caligrafia nas escolas, nos dois externatos e aos professores públicos, e oferece à venda por 1$500 réis cada exemplar da coleção de seus traslados. A venda não foi realizada (O Monitor, 28 de abril de 1878, terceira coluna e O Monitor, 18 de junho de 1878, sexta coluna).

Em Salvador, Alfredo Ducasble embarcou no vapor francês Niger rumo ao Recife (O Monitor, 20 de junho de 1878, quarta coluna e A Província – Órgão do Partido Liberal, de 1878, 20 de junho de 1878, segunda coluna).

Anunciou seus serviços como professor de caligrafia e de desenho, estabelecendo curtos prazos para ensinar as matérias (Jornal de Recife, 5 de julho de 1878, quinta coluna).

 

No fim dessa década, provavelmente, o alemão Rodolpho Frederico Francisco Lindemann (1852 – 19?)  trabalhava como fotógrafo junto a Alfredo Ducasble.

1880 – Anunciou a realização de Retratos Inalteráveis na Photographia Parisiense pelo processo de cromotipia, na rua Barão da Vitória, 65.

 

 

Em 1º de março, anunciou-se que na Photographia Parisiense, de Alfredo Ducasble & C., fazia-se retratos de pessoas falecidas, de grupos, retratos em domicílio e de paisagens e por todos os sistemas mais modernos. A dúzia de retratos custava 5 $ (Jornal de Recife, 1º de março de 1880).

1881 - Teria pretendido estender sua atuação para a Paraíba onde seria seu representante ou sócio Manoel Bezerra de Mello.

No Liceu de Artes e Ofícios do Recife, Ducasble era professor de caligrafia e de desenho linear. Doou para a biblioteca da instituição 10 exemplares de seu livro Curso de Caligrafia (Diário de Pernambuco, 18 de fevereiro de 1881, segunda coluna e Diário de Pernambuco, 22 de março de 1881, segunda coluna).

Exposição, no estabelecimento fotográfico de M. Alfred Ducasble , que de dia em dia vem caminhando num progresso rápido a ponto de já ser o primeiro da província, de dois quadros do pintor paraibano Aurélio de Figueiredo (1856 – 1916), Saudade e Melancolia (Diário de Pernambuco, 19 de abril de 1881, primeira coluna). Meses depois, por motivos de saúde, o pintor foi para a Paraíba e deixou como contato no Recife a Galeria Ducasble (Diário de Pernambuco, 8 de setembro de 1881, quarta coluna).

Participou da Exposição da Indústria Nacional e da Exposição Provincial de Pernambuco provavelmente com fotografias. Na última conquistou a medalha de mérito.

1882 – Participou da Primeira Exposição Artístico-Industrial promovida pela Imperial Sociedade dos Artistas Mecânicos e Liberais de Pernambuco e conquistou uma medalha de mérito pelos retratos de seu estabelecimento fotográfico. Alberto Henschel (1827 – 1882) também recebeu uma medalha de mérito pelas vistas fotográficas que expôs (Diário de Pernambuco, 17 de janeiro de 1882, segunda colunaJornal de Recife, 22 de janeiro de 1882, última coluna).

Uma menina de cor preta com aproximadamente 10 anos chamada Josefa foi abandonada na casa do casal Ducasble (Diário de Pernambuco, 14 de março de 1882, quinta coluna).

Ducasble foi laureado com o primeiro prêmio na Exposição Artístico-Industrial do Rio de Janeiro (Jornal de Recife, 14 de maio de 1884, última coluna).

Ducasble doou livros para a Biblioteca do Liceu de Artes e Ofícios de Pernambuco, inaugurada em 11 de dezembro de 1881 e aberta em 10 de abril de 1882 (Jornal de Recife, 4 de maio de 1882, penúltima coluna).

Fazia parte da comissão do Club Abolicionista encarregada de angariar donativos no bairro de Santo Antônio, no Recife (Jornal do Recife, 13 de junho de 1882, penúltima coluna).

Integrava o comitê nomeado pelo Consulado da França para organizar a Festa Nacional de 14 de julho (Jornal de Recife, 28 de junho de 1882, quinta coluna). Foi elogiado pelo trabalho verdadeiramente artístico - uma miniatura que foi ofertada aos participantes da festa (Jornal de Recife, de 16 de julho de 1882, penúltima coluna).

Na comemoração dos 41 anos da Imperial Sociedade dos Artistas Mecânicos e Liberais de Pernambuco, foi realizada uma exposição com quatro salas. A primeira sala, que era a principal, denominada Galeria Ducasble apresentava um quadro de fotografias produzidas por Ducasble, quadros a óleo do paraibano Aurélio de Figueiredo (1856 – 1916), do francês radicado em Pernambuco  Eugène Lassailly (18? – 19?) e do pernambucano José Jerônimo Telles Júnior (1851 – 1914), além de trabalhos a crayon de Benevenuto Cabral e estudos, também a crayon, de Maria Tasso (Jornal do Recife, 19 de dezembro de 1882, quinta coluna).

1883 – Fotografias porcelana produzidas por Ducasble eram um dos prêmios oferecidos em um sorteio da Livraria e Papelaria de G. Laporte & C. (Jornal de Recife, 4 de fevereiro de 1883, quinta coluna).

Ducasble partiu para a Europa a bordo do vapor inglês La Plata (Diário de Pernambuco, 16 de fevereiro de 1883, segunda coluna).

Na Galeria Ducasble, exposição de um quadro pintado por Leopoldino de Faria (1836 – 1911), retratando o diretor do Arsenal de Marinha (Jornal de Recife, 8 de junho de 1882, penúltima coluna).

Ducasble chegou da Europa a bordo do vapor francês Gironde (Jornal de Recife, 5 de agosto de 1883, última coluna). Publicou que retomava a direção de seu estabelecimento e que estava recuperado de seus incômodos. Informava que havia visitado os melhores estabelecimentos das principais cidades europeias, onde havia praticado com grandes mestres de fotografia e pintura. Anunciou ter trazido modernos equipamentos e que havia se dedicado ao estudo dos processos instantâneos podendo tirar facilmente o retrato de toda e qualquer criança com expressão e semelhança (Jornal de Recife, 10 de agosto de 1883, quinta coluna).

 

 

O pintor francês Lassaily havia chegado da França e anunciava que quem precisasse de seus serviços poderia procurá-lo na Photographia Parisienne (Jornal de Recife, 13 de novembro de 1883, última coluna).

Ducasble anunciou que o quadro dos bachareis do 5º ano encontrava-se em sua galeria e que até o fim do mês receberia o pagamento da segunda prestação (Jornal de Recife, 17 de novembro de 1883, terceira coluna).

1884 - Anúncio da Galeria Ducasble informava que a partir de qualquer fotografia produzia retratos a óleo, crayon e nanquim (Jornal de Recife, 9 de maio de 1884).

Ele, Menna da Costa e Hermina Costa formavam a comissão da Imperial Sociedade dos Artistas Mecânicos e Liberais para arrecadação dos impostos devidos por fotógrafos e retratistas (Jornal de Recife, 11 de julho de 1884, última coluna).

Ducasble fez a importação de espelhos, que chegaram no vapor francês Ville de Pernambuco (Jornal de Recife, 11 de julho de 1884, segunda coluna). Ao longo do ano foram noticiadas outras importações.

Na Galeria Ducasble, exposição de um belo retrato a óleo feito na Europa de Laurentino José de Miranda, que iria ornar a sala de sessões da Companhia de Ferrovia de Olinda (Diário de Pernambuco, 16 de maio de 1884). Exposição também de um bonito retrato a óleo do conselheiro Theodoro Machado Freire Pereira da Silva, que seria levado para o salão de honra da Câmara Municipal do Recife (Jornal de Recife, 14 de setembro de 1884, quarta coluna).

 

 

1885 – Estavam expostos na Galeria Ducasble os retratos a óleo dos advogados José Mariano Carneiro da Cunha (1850 – 1912) e Félix de Valois Correia (18? – 19?), encomendados pela Imperial Sociedade de Artistas Mecânicos e Liberais em homenagem aos serviços prestados por eles. Seriam colocados no salão de honra da referida instituição no dia do aniversário da mesma, em 18 de janeiro (Jornal de Recife, 14 de janeiro de 1885, quarta coluna).

Publicou um anúncio intitulado Antiguidades, onde anunciava interesse na compra de objetos antigos como sejam: pratos, cadeiras de sofá, vasos e candelabros de bronze, pinturas antigas e modernas e qualquer objeto artístico (Jornal de Recife, 25 de fevereiro de 1885, sexta coluna e Diário de Pernambuco, 6 de março de 1885). Esse anúncio foi publicado várias vezes ao longo do ano.

 

 

Participou da Exposição Internacional de Antuérpia, realizada entre 2 de maio e 2 de novembro de 1885, e ganhou o diploma de medalha de prata na Classe 7 – Fotografias e seus aparelhos (Diário de Pernambuco, 29 de outubro de 1885, terceira colunaJornal de Recife, 7 de abril de 1887, quinta coluna).

A carta geral do Brasil assim como outra da província de São Paulo não deixam nada a desejar como gravura topográfica. Saíram das oficinas dos senhores Paul Robin & O, do Rio de Janeiro que obtiveram por seus trabalhos uma medalha de prata; a mesma recompensa foi atribuída aos senhores Marc Ferrez e Ducasbles por suas belas fotografias’ (Anvers à l´Exposition Universelle, 1886).

A exposição de uma reprodução do quadro Sono de antíope, do pintor renascentista Correggio (c. 1439 – 1534), na Galeria Ducasble, causou polêmica por ser considerado imoral por parte do público e por essa causa deixou de frequentar o estabelecimento. O advogado e ex-presidente das províncias do Piauí, do Ceará e de Pernambuco Diogo Cavalcanti de Albuquerque (1829 – 1889) publicou uma crítica a esse comportamento, segundo ele, inspirado por uma nudofobia. No mesmo artigo critica o pouco incentivo do governo às artes e elogia o estabelecimento de Ducasble (Diário de Pernambuco, 27 de junho de 1885).

 

 

 

 

Continuava trabalhando como professor do Liceu de Artes e Ofícios (Diário de Pernambuco, 14 de outubro de 1885 e Diário de Pernambuco, 3 de julho de 1886).

Executou o retrato do sr. Epaminondas Gouvêia, que seria colocado na Igreja do Carmo. Foi encomendado pela Irmandade de Nossa Senhora da Luz (Jornal de Recife, 25 de outubro de 1885, quinta coluna).

Participou, na Seção de Fotografia, da 5ª Exposição Artístico-Industrial, promovida pela Imperial Sociedade dos Artistas Mecânicos e Liberais, quando obteve o diploma de Progresso (Jornal de Recife, 31 de dezembro de 1885, quinta coluna).

O larápio José Braz da Silva célebre autor do roubo que sofreu a atriz Helena Balsemão foi retratado por Ducasble (Diário de Pernambuco, 3 de julho de 1885, quarta coluna).

Ducasble vendeu à Irmandade de Nossa Senhora da Conceição cadeiras de carvalho revestidas de acentuados desenhos de talha (Jornal de Recife, 9 de dezembro de 1926, primeira coluna).

Participou da quinta Exposição Artístico-Industrial do Liceu de Artes e Ofícios promovida pela Imperial Sociedade dos Artistas Mecânicos e Liberais e ganhou o Diploma de Progresso. Na ocasião a fotografa pernambucana Hermina Menna da Costa (18? – 19?) recebeu o Diploma de Mérito (Diário de Pernambuco, 20 de dezembro de 1885).

1886 – Na exposição fotográfica no Palácio de Cristal, na cidade do Porto, em Portugal, Ducasble foi contemplado com uma menção honrosa (Gazeta de Notícias, 27 de junho de 1886, terceira coluna).

Produziu um retrato da atriz portuguesa Lucinda Furtado Coelho (1850 – 1928) que constava de um jornal dedicado a ela (Jornal de Recife, 1º de julho de 1886, penúltima coluna).

Na Galeria Ducasble, exposição de um retrato a óleo de Diogo Cavalcanti de Albuquerque executado em Paris por um brasileiro. Também na galeria, exposição de trabalhos do pintor cearense Irineu de Souza (1850 – 1924) e de uma fotografia do Teatro de Santa Isabel na ocasião da sessão fúnebre promovida União Federal Abolicionista em honra a José Bonifácio (Diário de Pernambuco, 9 de abril de 1886, primeira colunaJornal de Recife, 18 de setembro, quinta coluna e Jornal de Recife, 3 de dezembro de 1886, segunda coluna).

Participou da Exposição Sul-Americana de Berlim e conquistou o primeiro prêmio e a medalha de ouro (Diário de Pernambuco, 21 de agosto de 1886, penúltima colunaJornal do Commercio, 31 de março de 1887, última coluna e Jornal de Recife, 16 de março de 1888)

1887 – Publicação de artigos de Ducasble na quarta, na sexta e na oitava edição da Revista do Norte

Publicação de uma carta do pintor Telles Júnior ao mestre Alfredo Ducasble sobre o artigo escrito sobre os quadros de Barreto Sampaio na Revista do Norte, 10 de fevereiro de 1887. Telles Junior sentiu-se ofendido pela crítica de Ducasble (Jornal de Recife, 14 de março, quinta coluna).

Na Galeria Ducasble, exposição de retratos pintado a óleo por Bannel de Paris (Jornal de Recife, 13 de abril de 1887, quinta coluna).

Ducasble ofertou ao Instituto Arqueológico Geográfico de Pernambuco uma fotografia da inscrição da Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, no Monte Guararapes (Jornal de Recife, 20 de abril de 1887, primeira coluna).

Chegada no vapor Ville de Bahia de uma encomenda de quadros feita por Ducasble (Jornal de Recife, 7 de junho de 1887, quarta coluna).

Em uma carta publicada por Feliciano de Azevedo Gomes para a família de Emílio Soares, alfaiate e genro de Ducasble, casado com sua filha Maria Victória, foi revelado que Ducasble sofria dos nervos. Feliciano acusou Ducasble de calúnia no episódio envolvendo um surto de loucura de Soares e o desafiou para um duelo. Ducasble declarou jamais ter caluniado Feliciano, a quem continuava a considerar um cavalheiro muito distinto e honrado (Jornal de Recife, 14 de junho, última coluna;  15 de junho, penúltima coluna; e 18 de junho, terceira coluna).

O escritor português Ramalho Ortigão (1936 – 1915) em sua vista ao Recife foi à Galeria Ducasble onde foi fotografado. Estava com Joaquim Nabuco (Jornal de Recife, 20 de novembro de 1887, segunda coluna).

Na Galeria Ducasble, exposição de um retrato de Adolfo Manta, encomendado por seus ex-escravos, recém libertos por ele (Diário de Pernambuco, 7 de dezembro de 1887, última coluna).

1888 – Publicação de uma propaganda da Galeira Ducasble com lista de prêmios (Jornal de Recife, 16 de março de 1888). Foi publicada diversas vezes ao longo do ano no Jornal de Recife e no Diário de Pernambuco.

 

 

Na Galerie Artistique de Ducasble, exposição de dois bustos a óleo dos abolicionistas pernambucanos Joaquim Nabuco (1849 – 1910) e de José Mariano Carneiro da Cunha (1850 – 1912), realizados por Ducasble (Jornal de Recife, 30 de maio de 1888, quinta coluna).

 

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Joaquim Nabuco e José Mariano Carneiro da Cunha fotografados por Ducasble / Acervo Fundação Joaquim Nabuco

 

 

O artista, pintor e decorador francês Eugène Lassailly  publicou uma propaganda de seus serviços e um dos lugares onde poderia ser contactado era a Galeria Ducasble (Jornal de Recife, 19 de junho de 1888, quarta coluna).

Ducasble foi um dos contribuintes da subscrição agenciada no Recife por Luiz Cintra a fim de serem ofertadas aos médicos que cuidaram da saúde de dom Pedro II (Diário de Pernambuco, 28 de agosto de 1888, quinta coluna).

Participou da Comissão Pernambucana para a representação da província na Exposição Universal de Paris (Diário de Pernambuco, 23 de setembro de 1888, última coluna e Jornal de Recife, 11 de janeiro de 1889, primeira coluna).

Ducasble  lecionava caligrafia na Escola Normal da Sociedade Propagadora de Instrução Pública (Diário de Pernambuco, 23 de novembro de 1888, última coluna).

Em anúncio, Ducasble atestava ter feito com sucesso uso do Elixir Cabeça de Negro sedativo contra o reumatismo, fórmula do dr. Santa Rosa (Jornal do Commercio, 12 de dezembro de 1888).

1889 – Abertura da exposição prévia dos produtos que deveriam ir para a Exposição Universal de Paris, dentre eles objetos artísticos de Ducasble, que recebeu o diploma de 1ª classe (Jornal do Povo, 14 de janeiro de 1889, terceira coluna, Diário de Pernambuco, 15 de janeiro de 1889, quarta coluna; e Diário de Pernambuco, 5 de fevereiro de 1889, segunda coluna).

Foi eleito conselheiro da diretoria da Imperial Sociedade de Artistas Mecânicos e Liberais (Jornal de Recife, 26 de janeiro de 1889, terceira coluna).

Foi de sua autoria a fotografia do projeto do monumento em homenagem à abolição da escravidão que seria erigido em Olinda (Jornal de Recife, 10 de fevereiro de 1889, primeira coluna).

Ducasble foi escolhido delegado da Comissão Pernambucana para a representação da província na Exposição Universal de Paris (Diário de Pernambuco, 3 de maio de 1889, penúltima coluna).

Ducasble produziu uma fotografia do pessoal da Companhia de Bombeiros (Jornal do Povo, 17 de maio de 1889, segunda coluna).

Na Exposição Universal de Paris, realizada entre 6 de maio e 31 de outubro de 1889, ganhou medalha de prata por seu panorama de Pernambuco e por retratos expostos e também por lenços bordados e rendas. Além disso, expôs 5 quadros, móveis, jóias e antiguidades (Diário de Pernambuco, 23 de outubro, quarta coluna, e Jornal de Recife, 24 de outubro de 1889, penúltima coluna). Segunda a Revista do Patrimônio Artístico e Histórico Nacional de 1946, Ducasble talvez tenha sido o primeiro a enviar peças antigas brasileiras ou luso-brasileiras para serem mostradas fora do país. Nessa mesma exposição, o fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923) participou com vistas do Rio de Janeiro, vistas marinhas e paisagens e, de acordo com Maria Inez Turazzi, recebeu a medalha de bronze. Segundo o Auxiliador da Indústria Nacional, ele teria recebido a medalha de prata (O Auxiliador da Indústria Nacional, 1889). O fotógrafo Felipe Augusto Fidanza (c. 1847 – 1903) recebeu uma medalha de bronze. Outros fotógrafos que participaram foram Albert Richard Dietze (1838 – 1906), Rodolpho Lindemann (c. 1852 – 19?), Nicholson & Ferreira, Joaquim Insley Pacheco  (c. 1830 – 1912) e José Ferreira Guimarães (1841 – 1924). Foi também nessa exposição que a Torre Eiffel, na época a mais alta estrutura do mundo, foi inaugurada.

Ducasble estava presente no banquete realizado em 3 de outubro, no restaurante Voisin para a despedida de Visconde de Cavalcanti (1829 – 1899), presidente do Comissariado Geral do Brasil junto à Exposição Universal de Paris, que retornaria ao Rio de Janeiro (Jornal do Commercio, 24 de outubro de 1889, sexta coluna).

Foi um dos fotógrafos incluídos no livro Album de vues du Brésilbarão do Rio Branco (1845-1912) foi o responsável pelo livro, considerado a última peça para a promoção do Brasil imperial, representando um resumo iconográfico do país e de suas riquezas. Foi um dos livros que inaugurou a ilustração fotográfica do Brasil e é considerado por muitos uma espécie de balanço final do período imperial. Nas palavras do barão, o álbum pretendia “mostrar a fisionomia atual das principais cidades do Brasil e seus arredores. Sob esse aspecto, a presente coleção é a mais completa publicada até hoje”. Trazia também fotografias produzidas por Augusto Riedel (1836 -?)Joaquim Insley Pacheco (c. 1830 – 1912)Marc Ferrez (1843 – 1923) e Rodolpho Lindemann (c. 1852 – 19?), dentre outros. Foi lançado em Paris na ocasião da Exposição Universal de 1889, e fazia parte da segunda edição de Le Brésil, extrato da Grande Enciclopédia, trabalho dirigido pelo geógrafo Émile Levasseur  (1828-1911), para o qual o barão havia colaborado. O Album de vues du Brésil foi o primeiro do gênero publicado depois do Brasil Pitoresco (1861), primeiro livro de fotografia realizado na América Latina, com imagens de Jean Victor Frond (1821 – 1881) e texto do jornalista e político francês Charles Ribeyrolles (1812-1860), reeditado em 1941.

Sua proposta para a confecção do quadro de retratos da turma do 5º ano da Faculdade de Direito foi vencida pela a de Constantino Barza, sucessor do fotógrafo berlinense Alberto Henschel (1827 – 1882) (Jornal de Recife, 19 de julho de 1889, quinta coluna). Em anúncio, Ducasble convidada os quintanistas que quisessem fazer parte do grupo da Torre Eiffel para irem a sua galeria (Jornal de Recife, 20 de agosto de 1889, terceira coluna).

Na Galeria Ducasble, exposição de estudos cenográficos de um ex-aluno da Imperial Academia de Belas Artes do Rio de Janeiro (Diário de Pernambuco, 16 de julho de 1889, última coluna).

Ducasble compareceu em Paris à missa celebrada pelo abade , na Igreja de Saint Augustin, em 25 de julho, a mando do Barão de Penedo, em desagravo ao atentado sofrido por d. Pedro II (Gazeta do Norte, 8 de setembro de 1889, terceira coluna).

Escreveu uma carta informando sobre o sucesso dos produtos pernambucanos exibidos na Exposição Universal de Paris (Diário de Pernambuco, 8 de setembro de 1889, quarta coluna).

Estava à venda na Galeria Ducasble fotografias da armação funerária da Igreja da Penha para as exéquias pela morte de dom Luiz I de Portugal (1838 – 1889) celebradas pela colônia portuguesa do Recife (Diário de Pernambuco, 20 de dezembro de 1889, segunda coluna).

Duscable foi viver em Paris e abriu a farmácia Ducasbline, onde vendia remédios que produziu a partir de seus estudos sobre a flora brasileira e conseguindo a custa a custa de pacientes investigações e meticulosas experiências o conhecimento perfeito das propriedades medicinais de muitas plantas, submeteu-as a processos científicos manipulando assim os medicamentos vendidos em seu estabelecimento parisiense. Segundo carta enviada por Ducasble à redação do jornal A Província – Órgão do Partido Liberal, em dezembro de 1900, seus medicamentos eram aconselhados pelo Instituto Médico de Paris e e estavam obtendo resultado maravilhosos em casos de anemia, bronquite e outras doenças (A Província – Órgão do Partido Liberal, 20 de dezembro de 1900, terceira coluna).

1890 – Foi publicada uma cobrança de impostos relativa ao imóvel que seu estabelecimento fotográfico ocupava na Rua Barão da Vitória, 65 (A Província – Órgão do Partido Liberal, 9 de abril de 1890, sexta coluna).

Na Galeria, Ducasble, exposição de pinturas de paisagens de Frederico Desidério de Barros, cenógrafo da Companhia Heller (Jornal de Recife, 6 de julho de 1890, última coluna). Cerca de 2 meses depois, exposição de pinturas de paisagens do hábil amador e acadêmico José de Castro Paes Barreto (Jornal de Recife, 16 de setembro de 1890, quarta coluna).

Madame Ducasble anunciou sua volta ao Brasil após uma temporada em Paris e a reabertura de seu ateliê de moda no Recife. Havia condescendência nos preços (Diário de Pernambuco, 21 de outubro de 1890, segunda coluna).

No ateliê da Photografia Ducasble, exposição de retratos a óleo dos barões de Itapessuna e de Caiará, realizados por Frederico Ramos a partir de pequenas fotografias (A Província – Órgão do Partido Liberal, 14 de novembro de 1890, segunda coluna).

Foi anunciada a existência de uma sucursal da Galeria Ducasble na avenida de La Grande Armée, em Paris, na França. Também anunciava a venda de antiguidades e de objetos que por afluência de artigos tinham deixado de ir para a Exposição Universal de Paris, no ano anterior (Jornal de Recife, 16 de novembro de 1890, terceira coluna).

1891 – Para exportação 30 litros de licor foram embarcados por Madame Ducasble no vapor francês Equateur, que iria para Paris (Diário de Pernambuco, 5 de maio de 1891, terceira coluna).

Publicação de uma denúncia de Ducasble, que estava em Paris, sobre problemas de pagamento com a Comissão de Pernambuco na Exposição Universal em Paris em 1889, do qual havia sido representante diante da Comissão Central de Paris (Jornal de Recife, 7 de maio de 1891, terceira coluna). Dois dias depois, a comissão publicou sua versão dos fatos (Jornal de Recife, 9 de maio de 1891, primeira coluna).

 

 

1892 – Ducasble presenteou o Diário de Pernambuco com uma fotografia do cadafalso ereto na matriz de Boa Vista por ocasião das exéquias em memória de dom Pedro de Alcântara (Diário de Pernambuco, 5 de fevereiro de 1892, primeira coluna).

Foi no ateliê de Ducasble, que o fotógrafo português naturalizado brasileiro Francisco du Bocage (1860 – 1919), recém chegado no Recife a bordo do vapor nacional Olinda, vindo do sul do Brasil (Diário de Pernambuco, 17 de fevereiro de 1892, na segunda coluna) expôs chapéus e capotas (Diário de Pernambuco, 24 de fevereiro de 1892, quarta coluna e Jornal do Recife, 24 de fevereiro de 1892, terceira coluna).

 

 

Publicação de uma propaganda da Galeria Ducasble onde foram destacados os prêmios conferidos a ela e o fato de ter sempre à escolha de seus numerosíssimo fregueses fotografias artísticas onde o belo resplandece ante os efeitos de luz bem combinada e verdadeiros modelos que a crítica mais exigente jamais poderá ferir (Jornal de Recife, 30 de agosto de 1892, quarta coluna).

A Photographia Ducasble registrou no Teatro de Santa Isabel, o pano de anúncios pintado por Libânio do Amaral (? – 1920) para o referido teatro (Jornal de Recife, 28 de outubro de 1892, segunda coluna).

1893 – Falecimento de Urraca, esposa de Ducasble, de meningite. Foi enterrada no Cemitério Público de Santo Amaro e a missa de sétimo dia foi celebrada na matriz da Graça, no Recife (Diário de Pernambuco, 20 de junho de 1893, primeira colunaJornal de Recife, 21 de junho de 1893, sexta coluna; e Diário de Pernambuco, 22 de junho de 1893, penúltima coluna).

A antiga Photographia Ducasble passou a ser dirigida por um fotógrafo de grande prática dispondo para a execução de seus trabalhos de um pessoal técnico competentemente habilitado (Diário de Pernambuco, 3 de outubro de 1893, quinta colunaJornal de Recife, 4 de outubro de 1893). O fotógrafo em questão era Ludgero Jardim da Costa (18? – 19?) (Jornal de Recife, 8 de agosto de 1894, sexta coluna).

 

 

 

 

1894 – Representada pelos parentes presentes e ausentes, foi celebrada uma missa pelo primeiro ano da morte de Urraca Ducasble (Diário de Pernambuco, 17 de junho de 1894, terceira coluna).

1895 – Casamento civil de Alfredo Ducasble Filho com Maria Hermelinda Magalhães (Jornal de Recife, 18 de setembro de 1895, última coluna).

1898 –  Alfredo Ducasble foi aprovado como benfeitor da Sociedade Propagadora Instrução Pública (Diário de Pernambuco, 25 de janeiro de 1898, segunda coluna).

1900 - Alfredo Ducasble Filho era representante da fábrica O Moinho de Ouro, produtora de chocolates, no Rio de Janeiro (A Província – Órgão do Partido Liberal, 20 de abril de 1900, terceira coluna). Posteriomente, passou a ser representante de um laboratório farmacêutico francês e viajante geral do Almanack Laemmert (A Província – Órgão do Partido Liberal, 5 de março de 1901, penúltima coluna; e A Província – Órgão do Partido Liberal, 25 de agosto de 1910, penúltima coluna).

Realização de um leilão na antiga Photographia Ducasble (A Província – Órgão do Partido Liberal, 12 de dezembro de 1900, primeira coluna).

 

Alfredo Ducasble Filho era o representante no Brasil do grupo Pollaion-Ducasble, de produtos farmacêuticos, sediado em Paris (A Província – Órgão do Partido Liberal, 14 de março de 1901, penúltima coluna).

1902 – A leitura do livro de Ducasble, Curso de caligrafia prática, foi indicado aos alunos pela Instrução Pública de Pernambuco (Diário de Pernambuco, 17 de maio de 1902, quinta coluna). Em 1904 e em 1906 foi adotado pelas escolas municipais do Recife.

Faleceu de nefrite a alagoana Maria Victoria Soares, filha de Ducasble e viúva de Emilio Soares. No anúncio de morte, foi mencionado que seu pai residia em Paris (A Província – Órgão do Partido Liberal, 2 de setembro de 1902, primeira coluna e Diário de Pernambuco, 12 de setembro de 1902, sexta coluna).

1904 - No Rio de Janeiro, com pouco menos de 5 anos, falecimento de Adalgisa Ducasble, filha de Ducasble Filho e neta de Alfredo Ducasble (Jornal do Commercio, 9 de abril de 1904, última coluna).

Alfredo Ducasble Filho e sua família viviam no bairro do Encantado, no Rio de Janeiro. Acolheram uma criança que havia sido maltratada por sua mãe adotiva, mas apesar dos cuidados, ela faleceu (Gazeta de Notícias, 18 de maio de 1905, primeira coluna).

1910 – Na primeira página do jornal A Província – Órgão do Partido Liberal, foi publicada uma fotografia de melhoramentos no Porto de Recife com crédito para Ducasble Filho (A Província – Órgão do Partido Liberal, 30 de agosto de 1910)

1917 – Na Sociedade da Cruz Vermelha, no Rio de Janeiro, Maria Magalhães Ducasble, filha de Ducasble Filho, recebeu o diploma de enfermeira (A Época, 4 de maio de 1917).

1923 – Foi doado ao Instituto Arqueológico de Pernambuco uma coleção de cédulas e moedas que o governo do estado havia comprado de Alfredo Ducasble (Diário de Pernambuco, 6 de abril de 1923, segunda coluna).

1928 – Desquite de Ducasble Filho e Maria (O Paiz, 17 de novembro de 1928, segunda coluna).

1931 – Foi ofertada ao Instituto Arqueológico de Pernambuco uma fotografia produzida por Ducasble, em 1888, de Joaquim Nabuco.  A foto havia pertencido a Antônio Machado Gomes da Silva e seu neto, Adolfo da Silva Neto, a doou para a instituição(Diário de Pernambuco, 17 de dezembro de 1931, primeira coluna).

1933 – Em um artigo sobre o pintor alagoano Rosalvo Ribeiro (1865 – 1915), Ducasble foi citado como seu admirador, que teria batizado uma das obras de Rosalvo de L´innocence (O Dia (PR), 8 de outubro de 1933, terceira coluna).

1946 – Em uma matéria sobre a vida do pintor pernambucano José Jerônimo Telles Júnior (1851 – 1914), a Galeria Ducasble foi citada como um dos lugares mais frequentados por ele  (Diário de Pernambuco, 26 de maio de 1946, gunda coluna).

1951 – Nas memórias de Telles Júnior, na ocasião do centenário de seu nascimento, Ducasble foi citado (Diário de Pernambuco, 2 de agosto de 1951, penúltima coluna)

1956 – Fotografias produzidas por Ducasble foram publicadas no livro, Álbum de Pernambuco e seus arrabaldes, organizado por Gilberto Ferrez (Jornal do Brasil, 4 de novembro de 1956).

1977 – Em Washington, capital dos Estados Unidos, fotografias de Ducasble, Insley Pacheco e Alberto Henschel encontradas na coleção Oliveira Lima foram expostas no Instituto Cultural Brasileiro Americano. Essas fotografias foram redescobertas por acaso pelo diretor da citada instituição, José Neinstein, quando ele foi pesquisar um livro raro sobre o Brasil na Biblioteca da Universidade Católica de Washington, em fins de abril de 1977 (Jornal do Brasil, 29 de junho de 1977, última coluna).

1978 – Publicação, no Diário de Pernambuco, de uma fotografia de Joaquim Nabuco, produzida por Ducasble, em 1887 (Diário de Pernambuco, 17 de setembro de 1978).

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

BECHARA FILHO, Gabriel. Primórdios da fotografia na Paraíba. Correio das Artes – suplemento literário do jornal A União, João Pessoa, 27 de novembro de 1983.

CORNELI, René; MUSSELY, Pierre. Anvers à l´Exposition Universelle. Bruxelles: Typographie et Lithographie Ad Mertens, 1886, pág. 346.

Enciclopédia Itaú Cultural

Guia Geográfico Salvador Antiga

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002.

KOSSOY, Boris. Realidades e ficções na trama fotográfica. Cotia(SP) : Ateliê Editorial, 1999.

Revista do IPHAN, nº 26 – 1997

Site do Arquivo Nacional

TURAZZI, Maria Inez. Poses e trejeitos: a fotografia e as exposições na era do espetáculo: 1839/1889. Prefácio Pedro Karp Vasquez. Rio de Janeiro: Funarte. Rocco, 1995. 309 p., il. p&b. (Coleção Luz & Reflexão, 4). ISBN 85-85781-08-4.

VASQUEZ, Pedro Karp. A fotografia no Império. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2002.

Série “O Rio de Janeiro desaparecido” VII – O Morro de Santo Antônio na Casa de Oswaldo Cruz

O pesquisador Ricardo Augusto dos Santos, da Fiocruz, uma das instituições parceiras da Brasiliana Fotográfica, é o autor do artigo sobre um álbum antigo com 19 fotografias do Morro de Santo Antônio, no Rio de Janeiro, identificadas recentemente no Departamento de Arquivo e Documentação da Casa de Oswaldo Cruz. Elas exibem o cotidiano do Morro de Santo Antônio, retratando os habitantes, as ruas e casas. Localizado no centro da cidade, assim como outra colina também destruída, o Morro do Castelo, Santo Antônio estava situado em planície cercado de outras elevações que nos primeiros tempos do Rio colonial marcavam os limites do núcleo urbano. Sua completa demolição ocorreu a partir da década de 1950, fechando um ciclo de grandes obras no Rio de Janeiro com base no desmonte de morros, aterros de lagoas e arrasamento das ruas. Representou um importante capítulo na consolidação da cidade. Seus limites correspondem as ruas da Carioca, do Lavradio, Evaristo da Veiga e o Largo da Carioca. Após sua destruição, foram abertas largas avenidas.

 

Morro de Santo Antônio

Ricardo Augusto dos Santos*

 

capinha

 

Recentemente, no Departamento de Arquivo e Documentação da Casa de Oswaldo Cruz, identificamos um antigo álbum fotográfico contendo 19 fotografias. Após um rápido reconhecimento, constatamos que as imagens documentam cenas de um morro existente no centro do Rio de Janeiro. As fotos encontradas no acervo iconográfico da COC exibem o cotidiano do Morro de Santo Antônio, retratando os habitantes, as ruas e casas. Mas que morro era esse? Localizado no centro da cidade, assim como outra colina também destruída (Morro do Castelo), Santo Antônio estava situado em planície cercado de outras elevações que nos primeiros tempos do Rio colonial marcavam os limites do núcleo urbano. Sua completa demolição ocorreu a partir da década de 1950, fechando um ciclo de grandes obras no Rio de Janeiro com base no desmonte de morros, aterros de lagoas e arrasamento das ruas. Representou um importante capítulo na consolidação da cidade. Seus limites correspondem as ruas da Carioca, do Lavradio, Evaristo da Veiga e o Largo da Carioca. Após sua destruição, foram abertas largas avenidas.

 

 

Acessando o link para as fotografias do Morro de Santo Antônio do acervo da Casa de Oswaldo Cruz disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Mas as imagens? Quando foram feitas? O que revelam? Podemos seguir pistas para obter respostas. Na capa do álbum está escrito: Fotografias de vários trechos do Morro de Santo Antônio, antes e depois da ação da Saúde Pública. As fotografias possuem legendas e uma delas traz a seguinte frase: Rua Caminho Pequeno na Manhã do Incêndio. E na imagem seguinte, o mesmo local fotografado após a remoção dos escombros. Então, ocorreu um incêndio! Tudo indica que incêndios suspeitos aconteciam com incrível regularidade ameaçando os moradores e suas habitações.

 

 

Estes vestígios do tempo mostram que o Morro do Castelo ainda estava de pé. Portanto, as fotos foram produzidas antes de 1922, data da demolição do Morro do Castelo. As anotações à margem das imagens revelam que as fotos foram feitas a partir de uma intervenção das autoridades de saúde pública. As notícias nos jornais de época indicam que inspetores sanitários vigiavam o pequeno comércio que abastecia os trabalhadores da área. Além da questão higiênica, havia o interesse econômico. Desde o surgimento das primeiras construções no local, interesses imobiliários conflitantes sobre uso do solo, articulados com a preocupação das condições de vida e sanitárias das comidas e bebidas vendidas no morro, determinavam as ações das autoridades públicas e proprietários. Lembrando que, em caso de destruição do morro, os terrenos planos (e valorizados!) seriam de posse do proprietário do morro. Em várias ocasiões, a prefeitura tentou, por ordem judicial, remover os moradores, mas os habitantes conseguiam adiamento da remoção. Porém, em 1916 houve um grande incêndio, obrigando um grande número de habitantes a buscar refúgio no Morro do Telégrafo, perto da Quinta da Boa Vista. Em meados da década de 1960, o morro seria totalmente destruído, surgindo uma grande esplanada, hoje dominada por imensos prédios públicos (BNDES, Petrobrás).

 

 

 

*Ricardo Augusto dos Santos é Pesquisador Titular da Fundação Oswaldo Cruz

 

O título deste artigo foi alterado de O Morro de Santo Antônio na Casa de Oswaldo Cruz para Série O Rio de Janeiro desaparecido VII – O Morro de Santo Antônio na Casa de Oswaldo Cruz, em 16 de setembro de 2021.

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Links para os outros artigos da Série O Rio de Janeiro desaparecido

 

Série O Rio de Janeiro desaparecido I Salas de cinema do Rio de Janeiro do início do século XXde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 26 de fevereiro de 2016.

Série O Rio de Janeiro desaparecido II – A Exposição Nacional de 1908 na Coleção Família Passos, de autoria de Carla Costa, historiadora do Museu da República, publicado na Brasiliana Fotográfica, em 5 de abril de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido III – O Palácio Monroe, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica, em 9 de novembro de 2016.

Série O Rio de Janeiro desaparecido IV - A via elevada da Perimetral, de autoria da historiadora Beatriz Kushnir, publicado na Brasiliana Fotográfica em 23 de junho de 2017.

Série O Rio de Janeiro desaparecido V – O quiosque Chopp Berrante no Passeio Público, Ferrez, Malta e Charles Dunlopde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portalpublicado na Brasiliana Fotográfica em 20 de julho de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VI – O primeiro Palácio da Prefeitura Municipal do Rio de Janeirode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de setembro de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VIII – A demolição do Morro do Castelode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portalpublicado na Brasiliana Fotográfica em 30 de abril de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido IX – Estrada de Ferro Central do Brasil: estação e trilhosde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de novembro de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido X – No Dia dos Namorados, um pouco da história do Pavilhão Mourisco em Botafogode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de junho de 2020.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XI – A Estrada de Ferro do Corcovado e o mirante Chapéu de Sol, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 22 de julho de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XII – o Teatro Lírico (Theatro Lyrico), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 15 de setembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIII – O Convento da Ajuda, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de outubro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIV – O Conselho Municipal, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 19 de novembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XV – A Praia de Santa Luzia no primeiro dia do verão, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 21 de dezembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVI – O prédio da Academia Imperial de Belas Artes, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, publicado na Brasiliana Fotográfica em 13 de janeiro de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVII – Igreja São Pedro dos Clérigos, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 18 de março de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVIII – A Praça Onze, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 20 de abril de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIX – A Igrejinha de Copacabana, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 23 de junho de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XX – O Pavilhão dos Estados, futuro prédio do Ministério da Agricultura, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 26 de julho de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXI – O Chafariz do Largo da Carioca, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 19 de setembro de 2022. 

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXII – A Cadeia Velha que deu lugar ao Palácio Tiradentes, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 11 de abril de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXIII e Avenidas e ruas do Brasil XVII A Praia e a Rua do Russel, na Glória, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 15 de maio de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXIV – O luxuoso Palace Hotel, na Avenida Rio Branco, uma referência da vanguarda artística no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 4 de julho de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXV – O Theatro Phenix, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 5 de setembro de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXVI – Conclusão do arrasamento do Morro do Castelo por Augusto Malta, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 14 de dezembro de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXVII e Série Os arquitetos do Rio de Janeiro V – O Jockey Club e o Derby Club, na Avenida Rio Branco e o arquiteto Heitor de Mello (1875 – 1920), de autoria de Andrea c. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, em 15 de janeiro de 2024

 

Paris, 1889: o álbum do Brasil na exposição universal

Segundo a historiadora e pesquisadora Claudia Beatriz Heynemann, o álbum “Exposição Universal de Paris 1889 – Exposição Brasileira “, conservado pelo Arquivo Nacional, uma das instituições parceiras da Brasiliana Fotográfica, “é um acontecimento em si, o da difusão da linguagem fotográfica, instaurando a visualidade de uma época, não apenas pelo que escolhe mostrar, mas lançando sobre esses cenários a aura de modernidadede que se revestiam aquelas sociedades”. Composto de sessenta e uma fotografias, o álbum é dedicado à participação do Brasil no evento, que celebrou o centenário da Revolução Francesa e da República e atraiu 32 milhões de visitantes. As exposições universais disseminavam os avanços da indústria, do comércio e o cosmopolitismo.

 

Paris, 1889: o álbum da exposição universal

Claudia Beatriz Heynemann*

A vista obtida entre os diferentes pilares da Torre Eiffel, em vários ângulos, com a estrutura nem sempre visível, pontua boa parte do álbum da participação brasileira na exposição universal de Paris em 1889. Referência até de tomadas internas do pavilhão nacional segundo as legendas, a Torre era o que havia de moderno na engenharia, na arquitetura do ferro, enfrentando críticas de alguns e a admiração de muitos. Distribuídos sobre uma superfície de 96 hectares envolvendo o Campo de Marte, e as regiões do Trocadero e da Esplanada dos Inválidos – 35 países participaram da festa que reuniu 61.722 expositores, atraindo 32 milhões de visitantes. [1]

 

 

Entre 6 de maio e 31 de outubro, a quarta exposição universal organizada pela França celebrou o centenário da Revolução Francesa e da República, e era também demonstrativa do lugar conquistado pela França e seu império colonial naquele fim de século. A expressão corresponde ao intervalo entre 1870 e 1914: marcado por agitações políticas compreende outras balizas tradicionais, como a conclusão dos processos de unificação alemã e italiana até a 1ª Guerra Mundial. A belle époque, outra delimitação aplicada à virada do século XIX ao XX, ficaria assim conhecida dados os signos de progresso de que se imbui o século XIX, uma perspectiva otimista como adverte Francisco Falcon e que contrasta com a “face sombria e trágica” da época. Uma nova compreensão desses anos leva a que se fixe o princípio da época contemporânea a partir dos 1900, uma fronteira deslocada do marco da Revolução Francesa. De todo modo, lembra o autor, “a passagem de um século a outro é importante por tudo que ela antecipa de ameaçador no século que se inicia, em contraste com certa imagem literária de paz, prazer de viver, domesticação dos conflitos e dos sentidos”.[2]

Poucas décadas antes, o poeta Charles Baudelaire (1821-1867) relacionaria a modernidade com o transitório, a moda, a decoração, a representação do presente, e o espetáculo das multidões que aspiravam a poeira das fábricas. E também com a fotografia que logo assumirá uma escala industrial, linguagem moderna, presente, por excelência. Assim, o moderno será relacionado, no Oitocentos, à mecanização e à indústria, ao progresso da ciência, ao progresso enfim, antes que se impusesse o discurso da modernidade na economia, substituindo-o pelo termo do desenvolvimento. O século XIX se constitui sob esse aspecto por inovações até ali impensáveis, que se dão de modo cada vez mais acelerado, ritmo que se imprime à própria percepção do tempo histórico.

Acessando o link para as fotografias da exposição brasileira na Exposição Universal de Paris de 1889 disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas. 

As exposições universais ultrapassaram o objetivo primeiro de disseminar os avanços da indústria, do comércio entre as nações, de um padrão de comportamento, e de impor uma pedagogia do progresso às massas para se tornarem “manifestações de todo um pensamento” sendo preciso, assinala Helena Barbuy, que se entenda as exposições universais como algo muito maior do que meras feiras comerciais, a despeito de seu caráter industrial. Eram antes salões de arte que privilegiavam as manifestações intelectuais, mais do que o comércio ou as atividades produtivas, o que se poderia constatar na própria premiação por meio de medalhas e honras, e não por valores em dinheiro. [3] Para Nelson Sanjad, no entanto o que prevalece afinal é um sistema ditado pela classificação dos objetos. Ao avaliar a historiografia das exposições o autor destaca a importância de se reconhecer essa lógica de organização, que se voltará não para uma apreciação intelectual que considerasse a matéria prima e as técnicas utilizadas, mas para a valorização de objetos, da produção, de atividades industriais. Apesar das críticas, o principal esquema aplicado guiava-se pela utilidade dos itens expostos, obedecendo a um princípio pragmático. [4] A adoção desse método conduz a outras escolhas como edificações, circuito obedecido, arquitetura dos pavilhões, no âmbito de “uma cultura das exposições” a que se refere o autor.

 

A exposição brasileira

Composto de sessenta e uma fotografias, [5]o exemplar do álbum “Exposição Universal de Paris 1889 – Exposição Brasileira” conservado pelo Arquivo Nacional [6] é dedicado à participação do país no evento, o que inclui as tomadas externas em que vemos parte da circulação do público, quiosques e a Torre Eiffel, algumas fachadas de outros pavilhões latino-americanos como México e Argentina, os três pavimentos da edificação e as áreas internas formadas pelo jardim, lago, estufa e as galerias de ligação.

 

O público e o staff envolvidos na organização da exposição brasileira aparecem sempre ao ar livre, enquanto as salas reservadas aos produtos permanecem vazias, possibilitando uma melhor apreciação. A série chama a atenção pela própria intenção do registro, como o “estudo do arco”, dedicado à claraboia e à decoração acima do arco, explorando o efeito de luz da iluminação natural no ambiente. Outros exemplos são a “vista longitudinal” e um “estudo de perspectiva” sobre a sala do Conselho.

 

 

Além da tarefa de documentar a montagem da exposição brasileira pelos pavimentos, posaram para o fotógrafo não identificado, grupos de zeladores, jardineiros, empregados no quiosque de degustação de café[7], membros da Comissão Brasileira de Estudos, além dos integrantes do Comitê Franco-Brasileiro que organizou o evento. Formado por jornalistas e escritores, com o apoio do governo imperial, foi responsável pela participação de uma das poucas monarquias presentes ao evento comemorativo de uma república, o império do Brasil. A demora em confirmar a participação do país, iniciada somente em junho, a exemplo de outros governos latino-americanos, fez com que as respectivas representações ocupassem o terreno antes reservado a jardins e restaurantes, aos pés da Torre Eiffel, na “aleia do sol”, conforme Helena Barbuy. [8]

 

 

Reunidos na sala da rua Lafayette, cinco membros do Comitê se debruçam atarefados sobre a mesa enquanto uma criada permanece à porta. Roupas e decoração, armários e vitrines constituem mais um motivo de interesse para os que se dedicarem a essas imagens, signos de uma civilização que então se celebrava e a qual a classe dirigente brasileira pretendia se integrar. Nesse sentido, uma das principais abordagens sobre a participação de nações como o Brasil nas exposições universais refere-se ao descompasso com o centro evidenciado nas vitrines dos exportadores de matérias-primas.

 

 

 

Entendidas de modo geral como espetáculos da ordem burguesa no âmbito de uma cartografia estabelecida pela expansão do capitalismo e do imperialismo, essas exposições contaram em sua maioria com expositores brasileiros e se estruturaram a partir de 1876, em Filadélfia, com pavilhões edificados, quando se adotou esse modelo para as exposições internacionais. Em torno da exibição nos Estados Unidos construiu-se uma interpretação do lugar do Brasil nesse cenário, na qual se admite a predominância de produtos agrícolas, minerais, da flora e da fauna brasileiras, além da exploração de um “exotismo” das populações indígenas, o que, no entanto, não é paradoxal. Isso porque o Império e suas vitrines eram parte de uma mesma lógica: “não se tratava, portanto, de um antagonismo entre invenções/tecnologia versus recursos naturais, mas pensá-los dentro de um mesmo plano de análise ligado a diferentes projetos de modernidade que cabiam a cada uma das nações no capitalismo internacional naquele momento”.[9]

Ainda sob esse aspecto, jornalistas e outros observadores teriam percorrido o pavilhão brasileiro com a atenção voltada para os produtos primários que lideravam a pauta de exportações do Império. Tendo entre os membros da Comissão, o célebre paisagista Auguste Glaziou (1833 – 1906), responsável, entre muitas obras, pela reforma do Passeio Público e do Campo de Santana no Rio de Janeiro, o Pavilhão brasileiro incluía um jardim com plantas exóticas, o lago da Vitoria Régia e uma estufa, o que teria dado a alguns críticos franceses contemporâneos a impressão do Brasil como “uma grande plantação”. [10]

 

 

Esse veredito contrariava em muito a provável expectativados expositores, pois considerando a valorização de jardins e florestas pelo Império, pode-se enxergar nessa composição o discurso científico contraposto à ideia de barbárie e destruição da natureza, além do consagrado papel distintivo que as riquezas naturais tiveram entre os letrados brasileiros do século XIX.

Das inúmeras narrativas que o álbum oferece impõe-se aquela que organiza a trama da derrocada do Império e da Proclamação da República, ocorrida quinze dias após o final da exposição. É então que se olha para as tomadas do primeiro e segundo andar do pavilhão de onde se vê a bandeira imperial. Na parede da sala do Conselho o retrato do Imperador encimando a entrada soa já como anacrônico naquele momento, diante do desfecho político iminente. Tampouco se pode esquecer a abolição do trabalho escravo, ocorrida menos de um ano antes e que tem como um de seus indícios na exposição brasileira, o incentivo à imigração europeia, alardeada não apenas como um substituto da mão de obra, mas como um meio para o “branqueamento” da população. Não deixa de ser interessante do ponto de vista da historiografia sobre a inserção brasileira em suas potenciais contradições que nesse caso já se vivesse um momento pós-abolição. Não era mais a “monarquia escravista”, mesmo que permaneça válido o quadro embaraçoso de uma população miserável, desprovida de educação, assolada por epidemias que desestabilizava o outro quadro, o da sociedade moderna, das aquisições tecnológicas, da alta cultura, como escreve Nelson Sanjad.

 

 

Outro sintoma desse desajuste estaria na exposição de artefatos indígenas, como os instrumentos de pesca e cestaria, além de outros itens extraídos da cultura material desses grupos, lembrando que um pavilhão amazônico foi construído e figura em algumas fotografias. Ainda para Sanjad, “havia constrangimento, tanto no sentido de condensação, redução quanto no de embaraço provocado por situação moralmente desconfortável, em apresentar a diversidade social e cultural desses países em um contexto imperialista, colonialista, racista e eurocêntrico, o que levava à idealização das populações locais em chave positiva ou negativa, mas sempre representadas de maneira a-histórica, homogeneizadas, desterritorializadas, às vezes propositalmente invisibilizadas”. [11]

 

 

O álbum é um acontecimento em si, o da difusão da linguagem fotográfica, instaurando a visualidade de uma época, não apenas pelo que escolhe mostrar, mas lançando sobre esses cenários a aura de modernidadede que se revestiam aquelas sociedades. As belas imagens do Pavilhão das máquinas, [12] dos armários e bancadas repletos de panos de algodão, mate, café, perfumes e quadros documentam a Exposição de Paris também por sua definição como imagem técnica: imbuídas de um pressuposto de confiabilidade, registro do real, objetos de exibição nas exposições universais, experimentadas como suvenir, arquivo, memória.

 

 

[1]L’ExpositionUniverselle de Paris 1889 | Un Jour de plus à Paris. Disponível em <http://www.unjourdeplusaparis.com/paris-reportage/exposition-universelle-1889> Acesso em 8 de maio de 2018

[2]Cf. FALCON, Francisco José Calazans. De um século a outro: uma nova época ou um novo mundo? Acervo, [S.l.], v. 22, n. 1 jan-Jun, p. 7-18, nov. 2011. ISSN 22378723. Disponível em: <http://revista.arquivonacional.gov.br/index.php/revistaacervo/article/view/97>. Acesso em: 03 Jul. 2018.

[3]BARBUY, Heloisa. O Brasil vai a Paris em 1889: um lugar na Exposição Universal. Anais do Museu Paulista. São Paulo. N. Sér. v.4 p.211-61 jan./dez. 1996. Disponível em <http://www.revistas.usp.br/anaismp/article/viewFile/5342/6872> Acesso em 20 de junho de 2018

[4]SANJAD, Nelson. Exposições internacionais: uma abordagem historiográfica a partir da América Latina. Hist. cienc. saude-Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 24, n. 3, p. 785-826, set. 2017. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-59702017000300785&lng=pt&nrm=iso> Acessos em 03 jul. 2018, p. 790.

[5]A edição em francês permitia atingir autoridades e empresários na França e demais nações

[6]Agradecemos a Mauro Domingues que tratou e formatou esse álbum, além de muitos outros registros da coleção Arquivo Nacional inseridos na Brasiliana Fotográfica, permitindo assim a sua difusão.

[7] A degustação de café já fora promovida na Exposição Continental de Buenos Aires. Conferir “A festa do progresso: o Brasil na Exposição Continental, Buenos Aires, 1882”, de Maria do Carmo Rainho. Disponível em https://brasilianafotografica.bn.gov.br/?p=11486

[8] Cf. BARBUY, H. Op. cit.

[9] MACHADO, Marina Monteiro; MARTINS, Monica de Souza Nunes. A modernidade nas teias da floresta: o Brasil na exposição Universal da Filadélfia de 1876. Geosul, Florianópolis, v. 32, n. 65, p. 68-86, nov. 2017. ISSN 2177-5230. Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/geosul/article/view/2177-5230.2017v32n65p68>. Acesso em: 04 jul. 2018. Para essas autoras deve-se igualmente atentar para a transformação que se opera ao longo do tempo nas exposições, sua dimensão do ponto de vista da cultura de massas e a entrada em cena de artigos consumidos pelas classes trabalhadoras, indicando uma popularização desses eventos.

[10] Cf. BARBUY, H. Op. cit.

[11]SANJAD, N. Op. cit

[12] O Brasil foi representado nesse espaço, em que ficavam agrupados equipamentos e eram efetuadas as demonstrações, pelas máquinas de Alfredo Michel, dentre elas “um novo systema de alambique para a destillação no vácuo”. Cf. DANTAS, Regina Maria M. Costa. A participação do Museu Nacional na Exposição Universal Internacional de 1889. Tese (Doutorado em História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia) – Programa de Pós-graduação em História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia/Universidade Federal do Rio de Janeiroem Paris. Disponível em http://www.museunacional.ufrj.br/semear/docs/Teses_dissertacoes_tcc/Tese_DANTASREGINA.pdf Acesso em 5 de julho de 2018.

*Claudia Beatriz Heynemann é Doutora em História e Pesquisadora do Arquivo Nacional

 

 

 

Links para os artigos sobre exposições nacionais ou internacionais publicados na Brasiliana Fotográfica

O pintor Victor Meirelles e a fotografia na II Exposição Nacional de 1866, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 17 de agosto de 2017.

A festa do progresso: o Brasil na Exposição Continental, Buenos Aires, 1882, de autoria de Maria do Carmo Rainho, Arquivo Nacional, publicado em 29 de março de 2018.

Série “O Rio de Janeiro desaparecido” II – A Exposição Nacional de 1908 na Coleção Família Passos, de autoria de Carla Costa, Museu da República, publicado em 5 de abril de 2018.

Marc Ferrez, a Comissão Geológica do Império (1875 – 1878) e a Exposição Antropológica Brasileira no Museu Nacional (1882), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 29 de junho de 2018.

Café Brasil: o Império na Exposição Internacional de Filadélfiade autoria de Claudia B. Heynemann, Arquivo Nacional, publicada em 4 de dezembro de 2019.

Festa das Artes e da Indústria Segunda Exposição Nacional, 1866, de autoria de Claudia Beatriz Heynemann e Maria Elizabeth Brêa Monteiro, Arquivo Nacional, em 5 de abril de 2020.

A apresentação do Departamento Nacional de Saúde Pública na Exposição Internacional do Centenário da Independência, de Ricardo Augusto dos Santos, Fiocruz, publicado em 13 de abril de 2020.

A Exposição Internacional de Higiene de Dresden, de Cristiane d´Avila, Fiocruz, publicado em 5 de janeiro de 2022.

Série 1922 – Hoje, há 100 anos VIII – A abertura da Exposição Internacional do Centenário da Independência do Brasil e o centenário da primeira grande transmissão pública de rádio no país, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 7 de setembro de 2022, na Brasiliana Fotográfica.

Três álbuns fotográficos da Exposição Nacional de 1908 no Museu Histórico Nacional: Boscagli, Malta e Musso, de autoria de Maria Isabel Ribeiro Lenzi, historiadora do Museu Histórico Nacional, publicado em 25 de agosto de 2023, na Brasiliana Fotográfica.

O fotógrafo, botânico e naturalista alemão George Huebner (1862 – 1935)

O fotógrafo, botânico e naturalista alemão George Huebner (1862 – 1935) foi um dos estrangeiros atraídos a Manaus quando a cidade, com o ciclo da borracha, tornou-se um importante pólo econômico. Estabeleceu-se comercialmente em Belém, onde, em 1897, colaborou com o fotógrafo português Felipe Augusto Fidanza (c. 1847 – 1903). Em novembro do mesmo ano, apresentando-se como membro correspondente da Sociedade Geográfica de Dresden, informava a abertura de um ateliê fotográfico em Manaus, a Photographia Allemã, no antigo Hotel Cassina, junto ao palácio do governo. O ateliê mudou algumas vezes de endereço. Como fotógrafo registrou a chegada da modernidade em Belém e em Manaus, etnias indígenas, retratos de personalidades importantes de sua época, a sociedade que surgiu a partir do apogeu da economia da borracha e paisagens da floresta amazônica.

Acessando o link para as fotografias de George Huebner disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

Ao longo de vinte anos, entre 1903 e 1924, Huebner manteve um relacionamento de trabalho e de amizade com o etnólogo alemão Theodor Koch-Grünberg (1872 – 1924). Essa parceria refletiu-se na produção profissional – fotográfica e etnográfica – de ambos. Fotografias e traduções de vocabulários indígenas colhidos por Huebner foram usados por Koch-Grünberg  na ilustração e composição de vários de seus artigos.

Em 1906, Huebner e o professor de Belas-Artes Libânio do Amaral (? – 1920), com quem já estava associado desde 1902, adquiriram, em Belém, o ateliê fotográfico Fidanza, que havia sido o mais tradicional do Pará. Dois anos depois, em 1908, Huebner foi pela primeira vez ao Rio de Janeiro, onde ele e Libânio do Amaral ganharam a medalha de prata e a medalha de ouro pelo Amazonas e o Grande Prêmio pelo Pará, na Exposição Nacional de 1908 (Almanak Laemmert, 1909). Em 1911, foi publicada uma propaganda da Photografia G. Huebner & Amaral informando que seria aberta e estaria à disposição do público para executar qualquer trabalho fotográfico a partir do dia 1º de janeiro de 1911, no Rio de Janeiro. Situava-se no edifício de O Paiz, na esquina da avenida Central com Sete de Setembro (A Notícia, 2 de janeiro de 1911, última coluna).

 

 

Antes, na década de 1880, Huebner veio pela primeira vez para a América do Sul e, em 1888, estabeleceu-se no Peru, onde conheceu o fotógrafo alemão Charles Kroehle (c. 1876 – c. 1902). Durante cerca de três anos e meio, percorreram o território peruano, desde os altiplanos andinos até a costa do Pacífico e a região amazônica. Nessa expedição foram registradas centenas de fotos assinadas pelos dois. Essas imagens são as primeiras de etnias peruanas como os campa, caxibo, cunivo, mayonisha, pito, xipibo, muitas já extintas, de que se tem notícia.

Retornou a Dresden e, em 1894, voltou à Amazônia e fez duas expedições: a primeira, à nascente do rio Orinoco, já na Venezuela, e a outra por um longo trecho do rio Branco, afluente do rio Negro. Nos oito meses em que permaneceu na floresta amazônica, Huebner também aprofundou seus conhecimentos de botânica amazônica, ao coletar e documentar espécimes da flora, especialmente de orquídeas. Dois anos depois, em 1896, ele e o fotógrafo José Gomes Leite (18? – 19?) seguiram no vapor Tabatinga para o Rio Madeira, comissionados pela casa artística do sr, Antonio Luciani, a serviço de suas profissões (Diário Oficial(AM), 25 de janeiro de 1896, última coluna).

 

 

Sobre os registros de indígenas produzidos por Huebner, segundo o site O índio na fotografia brasileira, o fotógrafo tinha uma preocupação em manter preservadas em suas imagens tanto as características que os tornavam indígenas “exóticos” quanto fotografá-los em situações e posições diferentes das habituais. Nos retratos realizados durante suas expedições, o fotógrafo primava pelas expressões de descontração e espontaneidade que extraía de seus retratos, em técnicas e linguagens que evoluíram junto com seu desenvolvimento profissional. Foi dessa forma que, ao fotografar índios Apurinã, Wapixana, Makuxi, Taurepang (ou Menon), Marqueritare e Bindiapá, entre outras, Huebner extraía semblantes que transpareciam as relações de negociação que permeavam os bastidores da captura de imagens de seus modelos.

Além do Instituto Moreira Salles, também possuem fotografias de George Huener em seus acervos o Museu Histórico Nacional, o Musée d´Ethnographie, o Museum Völkerkunde, o Verein für Erdkunde, a Oliveira Lima Library e Boris Kossoy.

 

Breve cronologia do fotógrafo George Huebner (1862 – 1935)

 

George Huebner (na cabeceira) com amigos / Revista Studium da Unicamp.

 

1862 – Nascimento de Georg Hübner, em Dresden, na época, uma das mais importantes cidades da Alemanha. Posteriormente seu nome foi latinizado para George Huebner.

1885 – Huebner realizou sua primeira viagem à América do Sul. Já mantinha contato com sociedades científicas, para as quais iria coletar dados e imagens sobre os povos nativos da região.

1888 - Huebner fez viagens pelo Peru e, estabelecido em Lima, conheceu Charles Kroehle, um fotógrafo alemão. Durante cerca de três anos e meio, percorreram o território peruano, desde os altiplanos andinos até a costa do Pacífico e a região amazônica.

1892 – Huebner retornou a Dresden, publicou textos ilustrados em revistas de ciência popular e de viagens como Globus e Deutsche Rundschau für Geographie und Statistik. Fez palestras em sociedades científicas e forneceu imagens para artigos científicos. Foi sua primeira incursão no meio científico.

1894 – Voltou à Amazônia e fez duas expedições: a primeira, à nascente do Orinoco, já na Venezuela, e a outra por um longo trecho do rio Branco, afluente do rio Negro. Nos oito meses em que permaneceu na Floresta Amazônica, Huebner também aprofundou seus conhecimentos de botânica amazônica, ao coletar e documentar espécimes da flora, especialmente de orquídeas.

1894 /1895 / 1896 – Ao longo desses anos, retornou a Dresden e voltou para o Brasil.

c. 1895 - Coletou o holótipo do lagarto do verme do rio Inirida, que foi posteriormente batizado em sua homenagem como Mesobaena huebneri .

1896 - Foi admitido como naturalista, sócio-correspondente do Verein für Erdkunde (Sociedade de Geografia) de Dresden.

Huebner e o também fotógrafo Gomes Leite seguiram no vapor Tabatinga para o Rio Madeira, comissionados pela casa artística do sr. Antonio Luciani, a serviço de suas profissões (Diário Oficial(AM), 25 de janeiro de 1896, última coluna).

1897 – Em Belém, colaborou com o fotográfo português Felipe Augusto Fidanza (c. 1847 – 1903).

Em novembro, George Huebner, apresentando-se como membro correspondente da Sociedade Geográfica de Dresden, informava a abertura de um ateliê fotográfico em Manaus, a Photographia Allemã, no antigo Hotel Cassina, junto ao palácio do governo (Jornal do Rio Negro, 7 de novembro de 1897).

1899 – Huebner anunciou que seguiria para o rio Juruá e que, durante sua ausência, a Photographia Allemã seria gerenciada por José Gomes Leite (Commercio do Amazonas, 4 de fevereiro de 1899, sexta coluna).

1900 – Huebner anunciou seu estabelecimento fotográfico na rua São Vicente, 23, onde fazia retratos de todos os gêneros e em platinotipia e crayon, diversas vezes ao longo de 1900 (Commercio do Amazonas, 25 de abril de 1900).

 

 

Huebner fotografou a sessão extraordinária do Congresso do Estado do Amazonas (A Federação, orgam do Partido Republicano Federal (AM), 10 de julho de 1900, terceira coluna).

Foi noticiado uma grande afluência de curiosos ao escritório da redação do Commercio do Amazonas para apreciarem as fotografias do sahimento do dr. Eduardo Ribeiro, trabalho do conceituado “atelier” do sr George Huebner . Sahimento é a procissão de condução do cadáver (Commercio do Amazonas, 23 de outubro de 1900, sexta coluna).

Em torno desse ano, foram produzidas as fotografias do Álbum de Vistas de Manaus.

 

 

1902 – Associou-se a Libânio do Amaral (? – 1920), professor de Belas Artes. A Photographia Allemã ficava na rua Eduardo Ribeiro (O Palito, 1º de junho de 1902).

Lindos leques em que se aprecia o primor artístico do exímio desenhista Libânio Amaral da acreditada Photographia Allemã de Huebner & Amaral seriam os mimos para a barraca amazonense (Quo vadis?, 21 de novembro de 1902, última coluna).

Huebner & Amaral fizeram vistas da festa de Natal de 1902 e realizaram uma estereotipia da festa do Christo, em Manaus (Quo vadis?, 28 de dezembro de 1902, quinta coluna).

Huebner forneceu 8 retratos para o Ginásio Amazonense (Mensagens do governador do amazonas para a Assembleia, 1902).

1903 – A delegacia fiscal do Amazonas comprou um retrato do presidente da República, Rodrigues Alves, realizado por Huebner & Amaral (Quo vadis?, 28 de janeiro de 1903, quinta coluna).

O etnólogo alemão Theodor Koch-Grünberg chegou a Manaus para iniciar sua expedição ao alto Rio Negro, patrocinado pelo Museu de Berlim. Dois anos antes havia se apresentado como voluntário do Museu Etnográfico de Berlim e, em 1902, foi contratado como pesquisador assistente trabalhando sob a tutela do pesquisador Karl von den Steinen. Nesse mesmo ano, obteve seu doutoramento na Universidade de Würzburg.

Theodor conheceu Huebner, com quem estabeleceu laços de amizade e uma colaboração profissional de quase 22 anos, que só terminaria com sua morte prematura por malária, em 1924, em Vista Alegre, no atual estado de Roraima. Segundo Andreas Valentin, a parceria entre os dois já se transformara em cumplicidade, que transparecia nas suas cartas. É importante, no entanto, lembrar que Huebner não tivera formação superior de qualquer espécie. Era de se esperar que um homem das ciências, para ser reconhecido como tal, fosse treinado e passasse por todos os trajetos e rituais da Academia. Não foi este o caso de Huebner. A confiança que ele conquistou não só de Koch Grünberg como também de outros cientistas e instituições, principalmente após abandonar o negócio fotográfico, se deve aos seus próprios méritos, como profissional dedicado não apenas à sua atividade-fim, mas também como investigador meticuloso, preciso e sempre em busca do desconhecido. Acrescenta-se, ainda, a postura humanista que eles compartilhavam em sua preocupação com a rápida extinção dos índios.

1904 – O folheto Kautschukgewinnung am Amazonen – Strome, de 15 páginas, sem data, fazia parte da bibliografia do artigo “Chelonios do Brasil”. Foi publicado como texto explicativo de 8 grandes fotografias publicadas pelos srs. G. Huebner & Amaral, de Manaus. Contém uma breve resenha da indústria de borracha no amazonas, com indicações originais sobre as árvores de borracha, os seringais, os processos de extração e preparação e a exportação (Boletim do Museu Paraense de História Natural e Etnografia, 1904 )

Huebner e Amaral ofereceram  à redação do jornal Quo Vadis? duas lindas coleções de bilhetes postais, com fotografias de Manaus e do interior do Amazonas (Quo vadis?, 11 de fevereiro de 1904, segunda coluna). Ao Jornal do Commercio(AM), ofereceram fotografias do edifício do jornal onde funcionavam seus escritórios e oficinas (Jornal do Commercio (AM), 13 de abril de 1904, segunda coluna).

Huebner & Amaral realizaram quadros de 110 cm sobre 86, ampliações de fotografias, em moldura de madeira da terra, das diversas fases do cultivo e do beneficiamento da borracha (Jornal do Commercio, 17 de abril de 1904, segunda coluna).

Huebner chegou em Manaus, vindo de Belém, no vapor Campos Salles (Jornal do Commercio (AM), 14 de junho de 1904, quarta coluna).

O monsenhor Luis Gonzaga de Oliveira e um grupo de seus ex-discípulos foram fotografados no ateliê de Huebner & Amaral. Durante a reunião, o compositor Caetano Briones executou ao piano a música Rio Negro, de sua autoria (Jornal do Commercio (AM), 19 de junho de 1904, quarta coluna).

Huebner estava em Dresden, na Alemanha (Jornal do Commercio (AM), 23 de setembro de 1904, terceira coluna). Em 29 de outubro, já estava de volta em Manaus (Jornal do Commercio (AM), 29 de outubro de 1904, segunda coluna).

O governador do Amazonas, coronel  Constantino Neri (1859 – 1926), foi presenteado com uma fotografia dele produzida por Huebner & Amaral (Jornal do Commercio (AM), 9 de dezembro de 1904, segunda coluna).

O ateliê de Huebner & Amaral é elogiado como o preferido do público devido às incontestáveis provas de competência (Jornal do Commercio (AM), 15 de dezembro de 1904, quarta coluna).

1905 - Exposição de retratos produzidos por Huebner & Amaral dos cinco presidentes do Brasil até então: Deodoro da Fonseca (1827 – 1892), Floriano Peixoto (1839 – 1895), Prudente de Morais (1841 – 1902), Campos Salles (1841 – 1913) e Rodrigues Alves (1848 – 1919) (Jornal do Commercio (AM), 11 de fevereiro de 1905, segunda coluna).

Huebner foi um dos fiscais do carnaval realizado na primeira avenida de Manaus (Jornal do Commercio (AM), 7 de março de 1905, primeira coluna).

Huebner importou artigos fotográficos da Europa (Jornal do Commercio (AM), 9 de junho de 1905, quarta coluna).

Durante uma sessão na Academia de Letras, em Manaus, Huebner teve uma discussão com o fotógrafo italiano Panigal. Amobos fotografavam a ocasião (Jornal do Commercio, 6 de agosto de 1905, última coluna).

1906 – Huebner e Libânio do Amaral adquiriram, em Belém, o ateliê fotográfico Fidanza, que havia sido o mais tradicional do Pará – pertencia ao fotógrafo português Felipe Augusto Fidanza (c. 1847 – 1903), que havia se suicidado três anos antes. O ateliê ficava na rua Conselheiro João Alfredo, 23.

Huebner encontrava-se em Funchal, cidade portuguesa na Ilha da Madeira (Jornal do Commercio, 5 de junho de 1906, quarta coluna). Seguiu para Hamburgo (Jornal do Commercio (AM), 21 de junho de 1906, quarta coluna).

Foi editado durante o governo do coronel Constantino Neri (1859 – 1926) no Amazonas, o álbum Vale do Rio Branco com fotografias produzidas por Huebner. Foi coordenado pelo engenheiro militar Alfredo Ernesto Jacques Ourique (1848 – 1932). Ele e Huebner faziam parte da comitiva da viagem que o governador Neri fez pelo rio Branco, em 1904, a  bordo do Vapor Mararyr. Eles documentaram a vida ribeirinha, as paisagens, as fazendas, as ruínas do Forte São Joaquim, a fronteira do Brasil com a Guiana Inglesa e a população indígena. O álbum Vale do Rio Branco foi editado em Dresden, na Alemanha, ficou pronto, em 1906. Só foi divulgado na Exposição Nacional de 1908, no Rio de Janeiro: todas as gravuras são magníficas, sendo o trabalho do álbum verdadeiramente artístico, feito no estrangeiro (Jornal do Brasil, 24 de junho de 1908, segunda coluna).

Huebner & Amaral fotografaram os assassinos da família Pacoty (Jornal do Commercio (AM), 22 de setembro de 1906, quarta coluna).

1907 – Ao longo desse ano, Huebner importou material fotográfico da Europa.

Na opulenta vitrine da acreditada fotografia de Huebner & Amaral, exposição de retratos do governador Constantino Neri e dos coronéis Antonio Bittencourt e Afonso de Carvalho (Jornal do Commercio (AM), 15 de dezembro de 1907, terceira coluna).

1908 – Um funcionário da Photographia Allemã foi preso, acusado de roubar dinheiro de Huebner (Jornal do Commercio (AM), 10 de janeiro de 1908, última coluna).

A Photographia Allemã inaugurou uma exposição de quadros do artista plástico Ernest Vollbehr (1876 – 1960) (Jornal do Commercio (AM), 18 de fevereiro de 1908, última coluna).

Huebner fotografou o grupo Club Cabocolin, de foliões que se fantasiavam de índios (Jornal do Commercio (AM), 3 de março de 1908, terceira coluna).

Exposição de um retrato da sra. Zuleide de Barros, executado por Huebner, que seria mostrado na Exposição Nacional de 1908, no Rio de Janeiro (Jornal do Commercio (AM), 5 de março de 1908, quinta coluna).

Pela primeira vez, Huebner viajou para o Rio de Janeiro, onde ele e Libânio do Amaral ganharam a medalha de prata e a medalha de ouro pelo Amazonas e o Grande Prêmio pelo Pará, na Exposição Nacional de 1908 (Almanak Laemmert, 1909).

Na gerência do Jornal do Commercio de Manaus, exposição de fotografias de autoria de Huebner realizadas na seção amazonense da Exposição Nacional (Jornal do Commercio (AM), 10 de setembro de 1908, primeira coluna).

Realização de um trabalho sobre os índios Macuchi e Wapishana, por Huebner e pelo etnologista e explorador alemão Theodor Koch Grumberg (1872 – 1924) sobre aspectos dessas tribos, por exemplo, seus vocabulários (Boletim do Museu Paranaense de História Natural e de Etnografia, 1909).

1909 – Exposição de uma fotografia produzida pela casa Huebner & Amaral da passeata da Sociedade do Tiro Brasileiro do Amazonas (Jornal do Commercio (AM), 7 de janeiro de 1909, primeira coluna).

Huebner & Amaral ofereceram ao Jornal do Commercio fotografias da inauguração do Cristo no Tribunal do Juri (Jornal do Commercio (AM), 23 de junho de 1909, segunda coluna)

Huebner participou da expedição para prestar socorro às vítimas da enchente do rio Amazonas. As fotografias foram expostas mostrando a desolação causada pela enchente (Jornal do Commercio (AM), 4 de julho de 1909, quinta coluna, e 5 de julho, quarta coluna).

1910 – Huebner e Libânio do Amaral eram credores do estado do Amazonas pela realização de trabalhos fotográficos para a Comissão de Saneamento e para a Polícia, e também pela publicação da obra Vale do Rio Branco (Relatório dos presidentes dos estados brasileiros (AM), 1910, página 525, página 559 e página 580).

No salão nobre da Photographia Allemã, exposição de um excelente retrato em nítida fotogravura do fundador do Jornal do Commercio de Manaus, o português Joaquim Rocha dos Santos (Jornal do Commercio (AM), 4 de janeiro de 1910, última coluna).

George Huebner e Libânio Amaral estão na Alemanha (Jornal do Commercio (AM), 15 de agosto de 1910, quinta coluna).

1911 – Foi publicada uma propaganda da Photografia G. Huebner & Amaral que estaria à disposição do público para executar qualquer trabalho fotográfico a partir do dia 1º de janeiro de 1911, no Rio de Janeiro. Ficava no edifício de O Paiz, com entrada pela rua Sete de Setembro. O prédio ficava na esquina da avenida Central com Sete de Setembro (A Notícia, 2 de janeiro de 1911, última coluna e  Jornal do Commercio (AM), 27 de janeiro de 1911, penúltima coluna).

Fotografias da extração da borracha e de seu beneficiamento realizadas por Huebner & Amaral ganharam a medalha de ouro na exposição de borracha anexa ao Congresso Comercial, Industrial e Agrícola realizada em Manaus em fevereiro de 1911 (Jornal do Commercio (AM), 18 de março de 1911, terceira coluna e 19 de março de 1911, última coluna).

A revista Fon Fon publica uma matéria elogiando o ateliê de Huebner & Amaral. A fotografia junta patenteará aos nosso leitores o conforto e a sóbria elegância desse atelier, cujos trabalhos são verdadeiras maravilhas (Fon-Fon, 22 de abril de 1911).

 

 

Reputado estabelecimento de arte, a Photographia Allemã passou por várias reformas (Jornal do Commercio (AM), 24 de dezembro de 1911, segunda coluna e 25 de dezembro, primeira coluna).

1912 – Huebner e Libânio do Amaral ofereceram ao Centro Cívico Sete de Setembro uma fotografia do barão do Rio Branco (A Imprensa, 20 de março de 1912, terceira coluna).

O endereço do estabelecimento dos fotógrafos passou a ser avenida Rio Branco, 128 – com a morte do barão do Rio Branco, a avenida Central passou a se chamar avenida Rio Branco.

Huebner chegou ao Maranhão, vindo do Rio de Janeiro (Jornal do Commercio (AM), 20 de abril de 1912, pen~ultima coluna).

Huebner e Libânio do Amaral e outros proprietários e empregados de estabelecimentos fotográficos requerem que o governo decrete uma lei que determine o fechamento de suas casas comerciais aos domingos (A Imprensa, 13 de abril de 1912, primeira coluna). O pedido foi indeferido (A Imprensa, 8 de junho de 1912, última coluna).

Notícia de que Huebner e dona Maria Ângela pagaram imposto de transmissão de propriedade. Será ela esposa de Huebner? (Jornal do Commercio (AM), 30 de junho de 1912, segunda coluna).

Huebner & Amaral cobraram do senhor Carlos Simas, empregado do Banco do Brasil, o pagamento de uma encomenda de fotografias (Jornal do Commercio (AM), 8 de julho de 1912, penúltima coluna).

Publicação de uma carta enviada do rio Orinoco do etnólogo alemão Theodor Koch-Grünberg (1872 – 1924) a Huebner na qual ele narra seu encontro com indígenas em dezembro de 1911 (Jornal do Commercio (AM), 11 de julho de 1912, quinta coluna).

Denúncia de tráfico de índios no interior do Amazonas feita Koch-Grünberg, que encaminhou dois indígenas escravizados para a residência de Huebner e Amaral (Jornal do Commercio (AM), 17 de julho de 1912, terceira coluna).

A Photographia Huebner & Amaral reabriu em 11 de setembro, na rua da Assembleia, 100, antigo endereço da Photographia Guimarães, do fotógrafo português José Ferreira Guimarães (1841 – 1924) (Jornal do Commercio, 9 de setembro de 1917).

 

 

1917 – A Photographia Huebner & Amaral reabriu em 11 de setembro, na rua da Assembleia, 100, antigo endereço da Photographia Guimarães, do fotógrafo português José Ferreira Guimarães (1841 – 1924) (Jornal do Commercio, 9 de setembro de 1917).

A Photographia Huebner & Amaral foi apedrejada por populares em revolta contra a pirataria alemã. Os mostruários do estabelecimento fotográfico foram destruídos (Diário de Pernambuco, 15 de novembro de 1917, quinta coluna).

 

 

1918 – O Almanak Laemmert anunciou o estabelecimento fotográfico G. Huebner, Amaral & Cia, na rua da Assembleia, 100, no Rio de Janeiro.

O estabelecimento fotográfico G. Huebner & Amaral, em Manaus, na avenida Eduardo Ribeiro, foi anunciado pela última vez no Almanak Laemmert.

1919 – O estabelecimento fotográfico G. Huebner & Amaral, de Belém, na rua Conselheiro João Alfredo, foi anunciado pela última vez no Almanak Laemmert.

Foi anunciada a dissolução da sociedade entre George Huebner, Libânio do Amaral e Paulo Erbe, sócio-gerente da firma desde 1912, que passou a ser o único dono do estabelecimento fotográfico G. Huebner, Amaral & Cia (Jornal do Commercio, 23 de novembro de 1919, oitava coluna). Erbe se estabeleceu, posteriormente, na rua República do Peru, nº 100.

 

 

1928 - Foi introduzida no Jardim Botânico do Rio de Janeiro a palmeira Leopoldinia piassaba Wallace, da região do rio Negro, no Amazonas, adquirida de George Huebner, em Manaus (Rodriguésia, junho / setembro de 1936).

1929 – O estabelecimento fotográfico G. Huebner & Amaral, do Rio de Janeiro, na rua República do Peru, 100, foi anunciado pela última vez no Almanak Laemmert.

1930 -  Huebner foi identificado como um incansável estudioso, abrigado infelizmente na mais severa, verídica modéstia, quem primeiramente (da sua chácara perdida num obscuro arrabalde de Manaus) revelou aos meios científicos esse bizarro exemplar da família das palmaceas…a sohnregia excelsa… (Eu sei tudo, maio de 1930).

Foi publicado o artigo As nossas plameiras como elemento de decoração, de autoria de Huebner (O Campo, fevereiro de 1930).

1935 – George Huebner, que em seus últimos anos de vida, vivia em um sítio nos arredores de Manaus coletando espécies vegetais, sobretudo orquídeas, faleceu.

1944 – Apesar de ter sido rebatizado com o nome de Fotografia Artística, o estúdio Photographia Allemã foi depredado devido aos acontecimentos relacionados à Segunda Guerra Mundial, destruindo parte do acervo fotográfico de Huebner.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Beolens, Bo; GRAYSON, Michael; WATKINS, Michael. The Eponym Dictionary of Reptil. Baltimore: The John Hopkins University Press, 2011.

ERMAKOFF , George. Rio de Janeiro 1900 – 1930 – Uma crônica fotográfica. Rio de Janeiro: G. Ermakoff Casa Editorial, 2006.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002.

SCHOEPF, Daniel. George Huebner 1862-1935: um fotógrafo em Manaus. São Paulo: Metalivros, 2005.

Site O índio na fotografia brasileira

TACCA, Fernando de. O índio na fotografia brasileira: incursões sobre a imagem e o meio. História, ciências, saúde – Manguinhos – Vol. 18, nº 1, p.191-223. Rio de Janeiro., 2011.

VALENTIM, Andreas. A fotografia amazônica de George Huebner. Rio de Janeiro: Nau Editora, 2012.

VALENTIM, Andreas. George Huebner e Theodor Koch-Grünberg: diálogos na Amazônia, 1905-1924. Trabalho apresentado na 26ª. Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 1 e 4 de junho de 2008, Porto Seguro, Bahia, Brasil. 

VALENTIM, Andreas. O índio na fotografia de George Huebner.

O fotógrafo austríaco Otto Rudolf Quaas e o construtor Ramos de Azevedo

 

O fotógrafo austríaco Otto Rudolf Quaas (c. 1862 – c. 1930) registrou diversas obras projetadas ou executadas pelo Escritório Técnico Ramos de Azevedo, cujo proprietário, o paulista Francisco de Paula Ramos de Azevedo (1851–  1928) era, entre a virada do século XIX e as primeiras décadas do século XX, o grande construtor de São Paulo. Nesse período, a cidade passou por grandes transformações devido à riqueza gerada pela cafeicultura e pela chegada de levas de imigrantes. As construções de traços coloniais davam lugar às com influência europeia, modernas. A Brasiliana Fotográfica destaca algumas imagens da documentação das obras desse construtor, um dos trabalhos mais importantes produzidos por Quaas, reunidos no Álbum Escritório Técnico do Engenheiro e Arquiteto F. P. Ramos d’Azevedo – São Paulo – Álbum de Construções. Quaas fotografou, dentre vários projetos, palacetes, o portal do Cemitério da Consolação, o Quartel de Polícia, o Hospício dos Alienados e a Escola Politécnica. Sua obra registrou também diversos aspectos da capital e do interior do estado de São Paulo. Quaas foi muito bem sucedido em sua profissão e residia na rua das Palmeiras com sua esposa, Emma Quaas, e três filhos.

 

 

Acessando o link para as fotografias de  Otto Rudolf Quaas disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Breve Cronologia de Otto Rudolph Quaas

c. 1862 – Segundo Boris Kossoy, Otto Rudolph Quaas nasceu na Áustria por volta desse ano.

1895 – Quaas chegou em São Paulo, vindo da Europa, nos primeiros dias de 1895 e estabeleceu seu ateliê fotográfico na rua do Gasômetro, n. 20 (O Commercio de São Paulo, 16 de janeiro de 1895, na quarta coluna).

Chegou num dos últimos dias a essa capital e tomou a direção do atelier fotográfico da rua do Gazometro n. 20, o sr. Otto Rudolf Quaas, que nos dizem ser um artista de muitíssimo merecimento. O público vai ter ocasião de avaliar dos progressos daquela casa, em virtude de tão excelente aquisição (Estado de São Paulo, 16 de janeiro de 1895).

 

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Propaganda da Photographia Artistica, de Otto Rudolf Quaas, no O Estado de São Paulo, 28 de janeiro de 1895

 

Em maio, transferiu-se para o Largo Sete de Setembro, nº 11, casa onde esteve por muito tempo o estabelecimento dos srs. Victor Steidel & C. Neste novo prédio o atelier do sr. Otto, enriquecido como foi ultimamente com novos aparelhos ficará sendo, senão o primeiro, pelo menos um dos primeiros estabelecimentos fotográficos de S. Paulo (Estado de São Paulo, 8 de maio de 1895).

1896 – Mudou-se para a rua de São Bento, n. 30, e inaugurou a nova Photographia Artística, em 26 de fevereiro de 1896 (O Commercio de São Paulo, 26 de fevereiro de 1896, quarta coluna). Ficava defronte do Grande Hotel e estava montada com todo o capricho e com os aperfeiçoamentos mais modernos (Estado de São Paulo, 26 de fevereiro de 1896).

 

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Anúncio da Photographia Artística, na rua de São Bento nº 30, no Estado de São Paulo, 19 de março de 1896

 

1898 – A Photographia Artística transferiu-se para o número 46 da rua de São Bento, em frente a Rotisserie Sportsman.

 

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Anúncio da mudança da Photographia Artística, no O Estado de São Paulo, 2 de julho de 1898

 

No último dia de 1898, foi anunciada uma Grande Inauguração no ateliê de Quaas com a apresentação de um grande repertório de óperas, músicas e cantos. Anunciava como a última novidade a Photographia de Voz. Avisamos especialmente o distinto público que todas as pessoas que tirarem uma dúzia de retratos Imperiais, no atelier fotográfico, têm direito de falar na máquina, podendo ouvir e levar logo depois o cilindro com a sua própria voz gravada eternamente para mandar aos seus afeiçoados.

 

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O Estado de São Paulo, 31 de dezembro de 1898

 

1899 – O tcheco Gustavo Figner (18? – 1934), depositário da Casa Inana, no Rio de Janeiro, e futuro fundador da Casa Edison de São Paulo, anunciou a venda de um fonógrafo de corda na fotografia O. R. Quaas e Cia (Estado de São Paulo, 5 de janeiro de 1899). Ele era irmão de Fred Figner (1866 – 1947), fundador da Casa Edison no Rio de Janeiro e primeiro produtor fonográfico do Brasil.

 

O Estado de São Paulo, de 1899

O Estado de São Paulo, 5 de janeiro de 1899

 

Nesse mesmo ano, o atelier de Quaas, foi uma das lojas que sofreram danos consideráveis causados pelo estampido e pela água, devido a um incêndio na Loja do Japão, na rua de São Bento (O Estado de São Paulo, 6 de julho de 1899). Dias depois, Quaas enviou à redação do jornal Estado de São Paulo uma vista de um trecho da rua S. Bento na ocasião do incêndio (Estado de São Paulo, 11 de julho de 1899).

 

 

1900 – A Photographia Artística enviou à redação do O Estado de São Paulo uma coleção de 15 magníficas fotografias com vistas de diversos pontos da exposição universal de Paris. Essas vistas são reproduzidas no atelier do sr. Quaas e constituem um trabalho que acredita o conhecido estabelecimento artístico (O Estado de São Paulo, 23 de novembro de 1900).

1901 –  Estava exposto em seu ateliê um retrato em grande formato da rainha Vitória (1819 – 1901), do Reino Unido, que havia falecido em 22 de janeiro (O Estado de São Paulo, 24 de janeiro de 1901).

Quaas registrou a visita que o ministro plenipotenciário da Áustria-Hungria, Eugen Kuezyuski, fez à Sociedade Auxiliadora Austro-Húngara (O Estado de São Paulo, 27 de abril de 1901).

Era um dos membros da comissão da Sociedade Auxiliadora Austro-Húngara (O Estado de São Paulo, 24 de setembro de 1901).

Trabalhou para a Companhia Paulista de Estradas de Ferro, tendo fotografado a inauguração do ramal de Rincão a Martinho Prado, em 30 de dezembro de 1901 (Correio Paulistano, 4 de janeiro de 1902, na quarta coluna).

1902 – Quaas presenteou o governador do estado de São Paulo, Rodrigues Alves (1848 – 1919), e outras autoridades com uma coleção de pequenas fotografias da inauguração do ramal ferroviário do Rincão (O Estado de São Paulo, 14 de janeiro de 1902).

Quaas foi eleito vice-presidente da Instituição Imperador Francisco José I (O Estado de São Paulo, 12 de julho de 1902).

No salão de honra da Santa Casa da Misericórdia de São Paulo, Quaas registrou a entrega, realizada pelo cônsul da França, Numa Antigeon, do diploma de Oficial da Academia à superiora da instituição, Maria Arsênia, nome religioso de Anna Berthet (O Estado de São Paulo, 19 de julho de 1902)

Uma comissão de redatoras do periódico Educação escolheu as mais interessantes fotografias tiradas de crianças entre 1 e 7 anos durante o ano de 1902 dos seguintes estúdios fotográficos do centro de São Paulo: o de Quaas & Cia, o de José Vollsack, o de Rodolfo Neuhaus, o de Giovanni Sarracino e o de Valério Vieira (O Commercio de São Paulo, 22 de dezembro de 1902, na segunda coluna).

Quaas foi de novo eleito vice-presidente da instituição Imperador Francisco José I (O Estado de São Paulo, 24 de dezembro de 1902).

1903 – Quaas ofereceu à redação do O Estado de São Paulo uma magnífica fotografia de Santos Dumont (O Estado de São Paulo, 19 de setembro de 1903).

1904 – Na Revista Ilustração Brasileira, de dezembro de 1904, seu trabalho foi elogiado por sua nitidez e fidelidade incríveis. A casa Quass é a única que está habilitada em S. Paulo a trabalhar à noite.

1905 – A Secretaria de Agricultura de São Paulo requisitou um pagamento a Otto Quaas (O Estado de São Paulo, 4 de março de 1905).

Estava envolvido na criação de um Club de Retratos em Cores e anunciou, no O Estado de São Paulo de 19 de maio de 1905, o adiamento do club até segundo aviso.

Os credores da falência de Otto Quaas reuniram-se na segunda vara comercial de São Paulo (O Estado de São Paulo, 13 de julho de 1905).

1907 - Quaas fotografou a Villa Penteado iluminada, na ocasião em que hospedou o ex-presidente da Argentina, general Julio Argentino Roca (1843 – 1914), que havia participado da Guerra do Paraguai (O Estado de São Paulo, 23 de março de 1907).

Fotografou o eclipse solar ocorrido em 10 de julho (O Estado de São Paulo, 12 de julho de 1907).

Foi um dos premiados no concurso de fotógrafos promovido pela Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo (O Estado de São Paulo, 18 de agosto de 1907).

1908 – Seu estabelecimento, a Photographia Quaas, ficava na rua Barra Funda, 149 (O Estado de São Paulo, 25 de novembro de 1908).

Participou da Exposição Nacional, com 24 quadros com fotografias, pinturas a pastel, sepiotipias, aumentos, platinotipia e fotografia em alto relevo, tendo recebido uma das medalhas de ouro da seção de fotografias. Outro fotógrafo agraciado com uma medalha de ouro foi Guilherme Gaensly (1843 – 1928). Os grandes prêmios foram conquistados por Valério Vieira (1862 – 1941) e Giovanni Sarracino (O Estado de São Paulo, 23 de novembro de 1908 e Catálogo da Exposição, 1908).

 

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Anúncio da Photographia Quaas, no O Estado de São Paulo, 18 de dezembro de 1908

 

1910 - Quaas participou da comemoração pelo octagésimo aniversário de Francisco José I, rei da Áustria-Hungria, realizada no consulado do país, em São Paulo (O Estado de São Paulo, 19 de agosto de 1910).

1911 – A Photographia Quaas publicou um anúncio para a contratação de um bom impressor com prática de atelier, de um ajudante com bastante prática e de um aprendiz de fotógrafo. Ainda se localizava na rua Barra funda, 149 (O Estado de São Paulo, 19 de março, 3 de de junho e 25 de setembro de 1911).

Participou da Exposição de Turime ganhou a medalha de prata.

1912 – A Photographia Quaas publicou um anúncio para a contratação de um bom impressor e retocador (O Estado de São Paulo, 6 de janeiro de 1912).

1913 – Seu estabelecimento ficava na rua das Palmeiras, 59, onde residia com sua família.

1920 – Em uma matéria sobre a história da Casa Edison de São Paulo, cujo proprietário era Gustavo Figner (? – 1934), foi relembrado que em fins do século XIX, um fonógrafo do empresário esteve em exposição no estabelecimento de Quaas, na época localizado na rua São Bento (O Estado de São Paulo, 13 de junho de 1920).

 

O Estado de São Paulo, 13 de junho de 1920

O Estado de São Paulo, 13 de junho de 1920

 

1926 – Fotografou a inauguração da pista de atletismo do Sport Club Germânia, atual Esporte Clube Pinheiros (Revista do Esporte Clube Pinheiros, março de 2014). Também do Germânia, fotografou, no fim da década de 20, panoramas do rio com os cochos, a casa de barcos e a figueira de tronco duplo, além das festas ao ar livre e também no salão da Rua Dom José de Barros (Site do Esporte Clube Pinheiros).

1929 / 1930 – Segundo depoimento de Vicentina Mello Cunha concedido a Boris Kossoy, Quaas faleceu por volta de 1929 e 1930, com cerca de 68 anos.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Acervo de O Estado de São Paulo

Acessa SP

Efedeportes.com

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002.

NASCIMENTO, Ana Paula. Engenharia e sociabilidade – a trajetória de Samuel das Neves no Rio de Janeiro. 19&20, Rio de Janeiro, v. XII, n. 1, jan./jun. 2017.

SÃO PAULO 450 Anos: a imagem e a memória da cidade no acervo do Instituto Moreira Salles. São Paulo: Bei Editora,agosto 2004.

Site da Secretaria da Administração Penitenciária de São Paulo

Site do Esporte Clube Pinheiros

Site Enciclopedia Itaú Cultural

Alagoas, Bahia, Minas Gerais e Sergipe por Augusto Riedel (1836 -?)

Alagoas, Bahia, Minas Gerais e Sergipe por Augusto Riedel (1836 -?)*

 

Considerado um dos mais talentosos fotógrafos paisagistas dos oitocentos, o alemão Augusto Riedel (1836-?) foi proprietário de um estúdio fotográfico à rua Direita nº 24, em São Paulo (Diário de São Paulo, de 1º de outubro de 1865, na primeira coluna), na década de 1860, e na rua Cassiano, 41, no Rio de Janeiro, entre 1875 e 1877. De sua produção, restaram 40 imagens do álbum Viagem de S.S.A.A. Reaes Duque de Saxe e seu Augusto Irmão D. Luis Philippe ao Interior do Brasil no Anno 1868 – que se tornou um dos trabalhos clássicos da documentação fotográfica do século XIX no Brasil. O duque de Saxe, dom Luis Augusto de Saxe Coburgo e Gotha (1845 – 1907), era genro do imperador Pedro II (1825 – 1891), marido da princesa Leopoldina de Bragança e Bourbon (1847 – 1871). A presença do nome do fotógrafo na capa do álbum indica que ele já devia ser bastante conhecido e que provavelmente devam existir outras fotos dele ainda hoje não amplamente reconhecidas.

 

 

A viagem durou meses e foram percorridos os estados de Minas Gerais, onde foram retratadas as cidades de Ouro Preto, Mariana, Sabará, Diamantina (e suas minas de diamantes), Lagoa Santa e o primeiro vapor do rio das Velhas, além das minas de Morro Velho; vistas do rio São Francisco, que levaram os viajantes até Penedo, em Alagoas; Sergipe e, finalmente, Bahia, último estado visitado pela expedição. São possivelmente os mais antigos registros fotográficos dessas regiões do Brasil.  O itinerário percorrido sugere um grande interesse do grupo em geologia e em assuntos relativos à mineração. No Diário do Rio, de 10 de agosto de 1868, há uma homenagem à visita dos príncipes à Diamantina.

A grande maioria das fontes consultadas pela Brasiliana Fotográfica afirmam que Riedel fazia parte da comitiva da viagem, porém no livro O naturalista dr. Lund (Peter Wilhelm) sua vida e seus trabalhos, publicado em 1883 (Gazeta de Notícias, 21 de julho de 1883, segunda coluna), o autor, o médico dinamarquês Theodoro Langgaard (1813 – 1883), que morou no Brasil, afirmou que um fotógrafo, sem mencionar a identidade, havia sido enviado pelo Duque de Saxe, após a realização da viagem, para fazer os registros dos lugares que ele havia julgado mais interessantes.

 

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Trecho do livro O naturalista dr. Lund (Peter Wilhelm) – sua vida e seus trabalhos, de Theodoro Langgaard, página 35

 

Um trecho do testamento de Lund, escrito em 21 de junho de 1871, confirma que Augusto Riedel esteve em Lagoa Santa, em 1869, e teria procurado a caverna de Maquiné:

A pedido do Sr. Augusto Riedel delarco, ser com o meu consentimento que o mesmo senhor, na sua passagem por aqui no mês de maio de 1869, procedeu à procura da caverna chamada Lapa Nova de Maquiné, por mim explorada e descrita no ano 1834. Delcaro outrossim, que, se a mim couber direito, privilégio, prêmio ou emolumento qualquer como primeiro descobridor, cedo todos estes direitos e emolumentos ao dito Sr. Augusto Riedel

(Trecho transcrito do livro Peter Wilhelm Lund, o naturalista que revelou ao mundo a pré-história brasileira, de Ana Paula Almeida Marchesotti, página 93)

 

Duas imagens que ilustram o livro de Theodoro Langgaard são do álbum Viagem de S.S.A.A. Reaes Duque de Saxe e seu Augusto Irmão D. Luis Philippe ao Interior do Brasil no Anno 1868 : Morada do dr. Lund em Lagoa Santa e Jazigo de Brandt em Lagoa Santa. Brandt trabalhou com Lund de 1835 até sua morte, em 1862. Posteriormente, o próprio Lund, Wilhelm Behrens, que havia sido seu secretário, e seu amigo suíço, Johann Rudolph Müller, foram enterrados no mesmo jazigo. A terceira imagem é a reprodução de um retrato de Lund. As três estão presentes nesse artigo.

Anos depois de produzidas, várias dessas imagens produzidas por Riedel foram apresentadas na Exposição de História do Brasil de 1881-1882, na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, um dos mais importantes eventos da historiografia nacional (Catálogo da Exposição de História do Brasil 1881-2, vol.2, páginas 1415, 1416, 1422, 1456, 1508 e 1612). A exposição, realizada sob a direção de Ramiz Galvão (1846-1938), foi aberta pelo imperador dom Pedro II, em 2 de dezembro de 1881, quando o soberano completou 56 anos (Gazeta de Notícias, de 3 de dezembro de 1881, na terceira coluna sob o título “Exposição da História do Brazil”). 

Diversas vistas de Riedel foram incluídas pelo barão do Rio Branco (1845-1912) no Album de vues du Brésil, considerada a última peça para a promoção do Brasil imperial, representando um resumo iconográfico do Império e de suas riquezas. Trazia também fotografias de Marc Ferrez, Insley Pacheco e Rodolpho Lindemann (c. 1852 – 19?), dentre outros. Foi publicado em Paris durante a realização da Exposição Universal de 1889.

* Pouco se sabe da biografia de Augusto Riedel e a grande maioria dos livros e sites consultados pela Brasiliana Fotográfica afirmam ou levam em conta a possibilidade de ele ser filho do botânico Ludwig Riedel (1790-1861). Em O olhar distante – a paisagem brasileira vista pelos grandes artistas estrangeiros 1637-1998, de Pedro Corrêa do Lago, e no livro Fotógrafos alemães no Brasil do século XIX, de Pedro Vasquez, a dúvida em relação a essa filiação foi levantada. Uma notícia do jornal O Globo, de 10 de novembro de 1874, na quarta coluna da página 4, de fato, prova que havia dois Augustos Riedel. O filho de Ludwig trabalhava na casa Leuzinger & Filhos:

Augusto Riedel, empregado na casa dos Srs. Leuzinger & Filhos, e filho do falecido botanico Dr. Luiz Riedel, declara, por causa de duvidas, que nada tem de afinidade com Augusto Riedel, photographo, e que de hora em diante, assignar-se-ha – Augusto Fernando Riedel“.

 

 

Ainda na consulta a jornais, a Brasiliana resgatou duas notícias sobre Frederico Augusto Riedel, nome com o qual, de acordo com a Enciclopédia Itaú Cultural, Riedel é às vezes identificado. Em 1876, teria se naturalizado brasileiro (Diário do Rio de Janeiro, 10 de fevereiro de 1876, terceira coluna, sob o título “Noticiário”) e, em 17 de novembro de 1877, teria partido do Brasil no paquete “Habsburg”, com destino a Bremen, na Alemanha (Gazeta de Notícias, de 18 de novembro de 1877, na quinta coluna sob o título “Sahidas do dia 17″).

Em 1976, algumas das fotografias de Riedel foram incluídas na exposição “Pioneer Photographers of Brazil”, realizada no Inter-American Relations, em Nova York, e no livro homônimo, onde os autores Weston Naef e Gilberto Ferrez  ressaltam que há na obra do fotográfo “um senso sutil das nuanças da composição pictórica capaz de transformar um tema banal num manifesto acerca dos abusos cometidos pelo ser humano contra a natureza”. Também comparam seu trabalho ao do fotógrafo paisagista irlandês Timothy O´Sullivan (1840-1882) que, na mesma época em que Riedel participava dessa viagem pelo Brasil, trabalhava no Arizona, em Nevada, no Colorado e no Novo México, na primeira expedição oficial para o oeste dos Estados Unidos após a Guerra Civil norte-americana (1861-1865).

 

Acessando o link para as fotografias de Augusto Riedel disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Uma curiosidade: certamente Riedel conhecia o fotógrafo Auguste Stahl (1828 – 1877) ou pelo menos o trabalho realizado por ele porque uma das mais famosas fotografias de Stahl, da cachoeira de Paulo Afonso, na Bahia, foi usada por Riedel no álbum Viagem de S.S.A.A. Reaes Duque de Saxe e seu Augusto Irmão D. Luis Philippe ao Interior do Brasil no Anno 1868  com uma alteração: foi acrescida da presença de um suposto membro da comitiva da viagem.

 

 

 

 

*Esse artigo foi atualizado em 17 de julho de 2019.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002. 408 p., il. p&b.

LAGO, Bia Correia do. Augusto Stahl : obra completa em Pernambuco e Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Editora Capivara, 2001.

LAGO, Bia Corrêa do;LAGO, Pedro Corrêa do. Coleção Princesa Isabel: fotografia do século XIX. Rio de Janeiro: Capivara, 2008.432p.:il., retrs.

LAGO, Bia Corrêa do;LAGO, Pedro Corrêa do. Os fotógrafos do Império. Rio de Janeiro: Capivara, 2005. 240p.:il

LAGO, Pedro Corrêa do. O olhar distante – a paisagem brasileira vista pelos grandes artistas estrangeiros 1637-1998. In: Mostra do redescobrimento: o olhar distante – The distant view. Nelson Aguilar, organizador. Fundação Bienal de São Paulo. São Paulo: Associação Brasil 500 Anos Artes Visuais, 2000.

FERREZ, Gilberto.  A fotografia no Brasil : 1840-1900. 2a. ed. Rio de Janeiro: Funarte: Fundação Nacional Pró-Memória, 1985. (História da fotografia no Brasil, 1)

FERREZ, Gilberto;NAEF, Weston J. Pioneer photographers of Brazil : 1840-1920. New York: The Center for Inter-American Relations, 1976.

LANGGAARD, Theodoro. O naturalista dr. Lund (Peter Wilhelm) – sua vida e seus trabalhos. Rio de Janeiro : Typographia Universal de H. Laemmert & C, 1883.

LUNA FILHO, Pedro Ernesto de. Peter Wilhelm Lund: o auge de suas investigações científicas e a razão para o término das pesquisas. Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 2007.

MARCHESOTTI, Ana Paula Almeida: Peter Wilhelm Lund, o naturalista que revelou ao mundo a pré-história brasileira. Rio de Janeiro : E-Papers, 2011.

TURAZZI, Maria Inez. Poses e trejeitos : a fotografia e as exposições na era do espetáculo: 1839-1889. Rio de Janeiro: Funarte: Rocco, 1995 (Coleção luz & reflexão,4)

VASQUEZ, Pedro. O Brasil na fotografia oitocentista/ [pesquisa e texto]Pedro Karp Vasquez; [reproduções fotográficas Cesar Barreto, Rosa Gauditano].–São Paulo: Metalivros, 2003.

VASQUEZ, Pedro. Dom Pedro II e a fotografia no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Roberto Marinho: Cia Internacional de Seguros: Ed. Index, 1985.

VASQUEZ, Pedro Karp. Fotógrafos Alemães no Brasil do Século XIX: Deutsche Fotografen des 19. Jahrhunderts in Brasilien. Apresentação Winston Fritsch; prefácio Joaquim Marçal; projeto editorial Pedro Karp Vasquez, Ronaldo Graça Couto; projeto gráfico Victor Burton. São Paulo: Metalivros, 2000. 203 p., il. p&b. ISBN 85-85371-28-5.

Site da Biblioteca Nacional Digital

Site da Enciclopédia Brasiliana Guita e José Mindlin

Site da Enciclopédia do Itaú Cultural

Site do Instituto Moreira Salles