Alagoas, Bahia, Minas Gerais e Sergipe por Augusto Riedel (1836 -?)

Alagoas, Bahia, Minas Gerais e Sergipe por Augusto Riedel (1836 -?)*

 

Considerado um dos mais talentosos fotógrafos paisagistas dos oitocentos, o alemão Augusto Riedel (1836-?) foi proprietário de um estúdio fotográfico à rua Direita nº 24, em São Paulo (Diário de São Paulo, de 1º de outubro de 1865, na primeira coluna), na década de 1860, e na rua Cassiano, 41, no Rio de Janeiro, entre 1875 e 1877. De sua produção, restaram 40 imagens do álbum Viagem de S.S.A.A. Reaes Duque de Saxe e seu Augusto Irmão D. Luis Philippe ao Interior do Brasil no Anno 1868 – que se tornou um dos trabalhos clássicos da documentação fotográfica do século XIX no Brasil. O duque de Saxe, dom Luis Augusto de Saxe Coburgo e Gotha (1845 – 1907), era genro do imperador Pedro II (1825 – 1891), marido da princesa Leopoldina de Bragança e Bourbon (1847 – 1871). A presença do nome do fotógrafo na capa do álbum indica que ele já devia ser bastante conhecido e que provavelmente devam existir outras fotos dele ainda hoje não amplamente reconhecidas.

 

 

A viagem durou meses e foram percorridos os estados de Minas Gerais, onde foram retratadas as cidades de Ouro Preto, Mariana, Sabará, Diamantina (e suas minas de diamantes), Lagoa Santa e o primeiro vapor do rio das Velhas, além das minas de Morro Velho; vistas do rio São Francisco, que levaram os viajantes até Penedo, em Alagoas; Sergipe e, finalmente, Bahia, último estado visitado pela expedição. São possivelmente os mais antigos registros fotográficos dessas regiões do Brasil.  O itinerário percorrido sugere um grande interesse do grupo em geologia e em assuntos relativos à mineração. No Diário do Rio, de 10 de agosto de 1868, há uma homenagem à visita dos príncipes à Diamantina.

A grande maioria das fontes consultadas pela Brasiliana Fotográfica afirmam que Riedel fazia parte da comitiva da viagem, porém no livro O naturalista dr. Lund (Peter Wilhelm) sua vida e seus trabalhos, publicado em 1883 (Gazeta de Notícias, 21 de julho de 1883, segunda coluna), o autor, o médico dinamarquês Theodoro Langgaard (1813 – 1883), que morou no Brasil, afirmou que um fotógrafo, sem mencionar a identidade, havia sido enviado pelo Duque de Saxe, após a realização da viagem, para fazer os registros dos lugares que ele havia julgado mais interessantes.

 

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Trecho do livro O naturalista dr. Lund (Peter Wilhelm) – sua vida e seus trabalhos, de Theodoro Langgaard, página 35

 

Um trecho do testamento de Lund, escrito em 21 de junho de 1871, confirma que Augusto Riedel esteve em Lagoa Santa, em 1869, e teria procurado a caverna de Maquiné:

A pedido do Sr. Augusto Riedel delarco, ser com o meu consentimento que o mesmo senhor, na sua passagem por aqui no mês de maio de 1869, procedeu à procura da caverna chamada Lapa Nova de Maquiné, por mim explorada e descrita no ano 1834. Delcaro outrossim, que, se a mim couber direito, privilégio, prêmio ou emolumento qualquer como primeiro descobridor, cedo todos estes direitos e emolumentos ao dito Sr. Augusto Riedel

(Trecho transcrito do livro Peter Wilhelm Lund, o naturalista que revelou ao mundo a pré-história brasileira, de Ana Paula Almeida Marchesotti, página 93)

 

Duas imagens que ilustram o livro de Theodoro Langgaard são do álbum Viagem de S.S.A.A. Reaes Duque de Saxe e seu Augusto Irmão D. Luis Philippe ao Interior do Brasil no Anno 1868 : Morada do dr. Lund em Lagoa Santa e Jazigo de Brandt em Lagoa Santa. Brandt trabalhou com Lund de 1835 até sua morte, em 1862. Posteriormente, o próprio Lund, Wilhelm Behrens, que havia sido seu secretário, e seu amigo suíço, Johann Rudolph Müller, foram enterrados no mesmo jazigo. A terceira imagem é a reprodução de um retrato de Lund. As três estão presentes nesse artigo.

Anos depois de produzidas, várias dessas imagens produzidas por Riedel foram apresentadas na Exposição de História do Brasil de 1881-1882, na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, um dos mais importantes eventos da historiografia nacional (Catálogo da Exposição de História do Brasil 1881-2, vol.2, páginas 1415, 1416, 1422, 1456, 1508 e 1612). A exposição, realizada sob a direção de Ramiz Galvão (1846-1938), foi aberta pelo imperador dom Pedro II, em 2 de dezembro de 1881, quando o soberano completou 56 anos (Gazeta de Notícias, de 3 de dezembro de 1881, na terceira coluna sob o título “Exposição da História do Brazil”). 

Diversas vistas de Riedel foram incluídas pelo barão do Rio Branco (1845-1912) no Album de vues du Brésil, considerada a última peça para a promoção do Brasil imperial, representando um resumo iconográfico do Império e de suas riquezas. Trazia também fotografias de Marc Ferrez, Insley Pacheco e Rodolpho Lindemann (c. 1852 – 19?), dentre outros. Foi publicado em Paris durante a realização da Exposição Universal de 1889.

* Pouco se sabe da biografia de Augusto Riedel e a grande maioria dos livros e sites consultados pela Brasiliana Fotográfica afirmam ou levam em conta a possibilidade de ele ser filho do botânico Ludwig Riedel (1790-1861). Em O olhar distante – a paisagem brasileira vista pelos grandes artistas estrangeiros 1637-1998, de Pedro Corrêa do Lago, e no livro Fotógrafos alemães no Brasil do século XIX, de Pedro Vasquez, a dúvida em relação a essa filiação foi levantada. Uma notícia do jornal O Globo, de 10 de novembro de 1874, na quarta coluna da página 4, de fato, prova que havia dois Augustos Riedel. O filho de Ludwig trabalhava na casa Leuzinger & Filhos:

Augusto Riedel, empregado na casa dos Srs. Leuzinger & Filhos, e filho do falecido botanico Dr. Luiz Riedel, declara, por causa de duvidas, que nada tem de afinidade com Augusto Riedel, photographo, e que de hora em diante, assignar-se-ha – Augusto Fernando Riedel“.

 

 

Ainda na consulta a jornais, a Brasiliana resgatou duas notícias sobre Frederico Augusto Riedel, nome com o qual, de acordo com a Enciclopédia Itaú Cultural, Riedel é às vezes identificado. Em 1876, teria se naturalizado brasileiro (Diário do Rio de Janeiro, 10 de fevereiro de 1876, terceira coluna, sob o título “Noticiário”) e, em 17 de novembro de 1877, teria partido do Brasil no paquete “Habsburg”, com destino a Bremen, na Alemanha (Gazeta de Notícias, de 18 de novembro de 1877, na quinta coluna sob o título “Sahidas do dia 17″).

Em 1976, algumas das fotografias de Riedel foram incluídas na exposição “Pioneer Photographers of Brazil”, realizada no Inter-American Relations, em Nova York, e no livro homônimo, onde os autores Weston Naef e Gilberto Ferrez  ressaltam que há na obra do fotográfo “um senso sutil das nuanças da composição pictórica capaz de transformar um tema banal num manifesto acerca dos abusos cometidos pelo ser humano contra a natureza”. Também comparam seu trabalho ao do fotógrafo paisagista irlandês Timothy O´Sullivan (1840-1882) que, na mesma época em que Riedel participava dessa viagem pelo Brasil, trabalhava no Arizona, em Nevada, no Colorado e no Novo México, na primeira expedição oficial para o oeste dos Estados Unidos após a Guerra Civil norte-americana (1861-1865).

 

Acessando o link para as fotografias de Augusto Riedel disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Uma curiosidade: certamente Riedel conhecia o fotógrafo Auguste Stahl (1828 – 1877) ou pelo menos o trabalho realizado por ele porque uma das mais famosas fotografias de Stahl, da cachoeira de Paulo Afonso, na Bahia, foi usada por Riedel no álbum Viagem de S.S.A.A. Reaes Duque de Saxe e seu Augusto Irmão D. Luis Philippe ao Interior do Brasil no Anno 1868  com uma alteração: foi acrescida da presença de um suposto membro da comitiva da viagem.

 

 

 

 

*Esse artigo foi atualizado em 17 de julho de 2019.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

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LAGO, Bia Correia do. Augusto Stahl : obra completa em Pernambuco e Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Editora Capivara, 2001.

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LAGO, Pedro Corrêa do. O olhar distante – a paisagem brasileira vista pelos grandes artistas estrangeiros 1637-1998. In: Mostra do redescobrimento: o olhar distante – The distant view. Nelson Aguilar, organizador. Fundação Bienal de São Paulo. São Paulo: Associação Brasil 500 Anos Artes Visuais, 2000.

FERREZ, Gilberto.  A fotografia no Brasil : 1840-1900. 2a. ed. Rio de Janeiro: Funarte: Fundação Nacional Pró-Memória, 1985. (História da fotografia no Brasil, 1)

FERREZ, Gilberto;NAEF, Weston J. Pioneer photographers of Brazil : 1840-1920. New York: The Center for Inter-American Relations, 1976.

LANGGAARD, Theodoro. O naturalista dr. Lund (Peter Wilhelm) – sua vida e seus trabalhos. Rio de Janeiro : Typographia Universal de H. Laemmert & C, 1883.

LUNA FILHO, Pedro Ernesto de. Peter Wilhelm Lund: o auge de suas investigações científicas e a razão para o término das pesquisas. Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 2007.

MARCHESOTTI, Ana Paula Almeida: Peter Wilhelm Lund, o naturalista que revelou ao mundo a pré-história brasileira. Rio de Janeiro : E-Papers, 2011.

TURAZZI, Maria Inez. Poses e trejeitos : a fotografia e as exposições na era do espetáculo: 1839-1889. Rio de Janeiro: Funarte: Rocco, 1995 (Coleção luz & reflexão,4)

VASQUEZ, Pedro. O Brasil na fotografia oitocentista/ [pesquisa e texto]Pedro Karp Vasquez; [reproduções fotográficas Cesar Barreto, Rosa Gauditano].–São Paulo: Metalivros, 2003.

VASQUEZ, Pedro. Dom Pedro II e a fotografia no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Roberto Marinho: Cia Internacional de Seguros: Ed. Index, 1985.

VASQUEZ, Pedro Karp. Fotógrafos Alemães no Brasil do Século XIX: Deutsche Fotografen des 19. Jahrhunderts in Brasilien. Apresentação Winston Fritsch; prefácio Joaquim Marçal; projeto editorial Pedro Karp Vasquez, Ronaldo Graça Couto; projeto gráfico Victor Burton. São Paulo: Metalivros, 2000. 203 p., il. p&b. ISBN 85-85371-28-5.

Site da Biblioteca Nacional Digital

Site da Enciclopédia Brasiliana Guita e José Mindlin

Site da Enciclopédia do Itaú Cultural

Site do Instituto Moreira Salles