Abram-Louis Buvelot (Suíça, 03/03/1814 – Austrália, 30/05/1888)

Suíço, nascido em Morges, o pintor e fotógrafo Abram-Louis Buvelot (1814 – 1888), chegou ao Brasil, em 1835, e foi, com seu associado, o francês Prat (? – 1852), o primeiro fotógrafo no Brasil a receber o real patrocínio de um monarca quando, em 8 de março de 1851, d. Pedro II autorizou o uso das armas imperiais na fachada do estabelecimento fotográfico Buvelot & Prat, na rua dos Latoeiros, no centro do Rio de Janeiro. Buvelot pintou, sob encomenda da imperatriz dona Teresa Cristina, uma paisagem de floresta brasileira, que foi exibida na Exposição Geral de Belas Artes de 1846. A obra agradou muito a d. Pedro II, que o agraciou com o título de Cavaleiro da Imperial Ordem do Rosa, em 1847 (Diário Novo, 22 de março de 1847, na segunda coluna). A imperatriz dava de presente a suas irmãs em Nápoles, Paris e Viena quadros de Buvelot.

 

 

Buvelot foi aluno do pintor suíço Marc Louis Arlaud (1772 – 1845), na Escola de Desenho de Lausanne, de Jean-George Volmar (1769 – 1831), em Berna, e do francês Camille Flers (1802 – 1868), em Paris. Este último havia passado uma temporada no Rio de Janeiro, onde trabalhou como cozinheiro, pintor e bailarino.

Em  Salvador, sua primeira residência no Brasil, Buvelot foi professor de pintura. Em 1840, passou a morar no Rio de Janeiro e produziu vistas, cenas de costumes urbanos da cidade que estão no álbum litográfico Rio de Janeiro Pitoresco, realizado com o pintor francês Louis Auguste Moreaux (1818 – 1877) e publicado em fascículos entre 1942 e 1945, ano em que foi publicado, na íntegra, pela Heaton & Rensburg. Foi o primeiro álbum de gravuras impresso no Brasil (de que se tem notícia até hoje) e possuía 18 pranchas com dezenas de imagens litografadas, dentre elas registros da Ladeira de Santa Teresa e Santa Luzia, do Chafariz do Aragão, do Largo do Paço, além de cenas de escravizados e de outros personagens da cena carioca.

Entre 1840 e 1852, participou de todas as exposições da Academia Imperial de Belas Artes, exceto nos anos de 1842, 1845 e 1851. Fundou, em torno de 1845, um estabelecimento fotográfico na rua dos Latoeiros, 36 (atual Gonçalves Dias), tornando-se um dos primeiros profissionais da daguerreotipia no Rio de Janeiro. A oficina de Buvelot prestou diversos serviços para a Casa Imperial, dentre eles a produção de retratos de d. Pedro II, dona Teresa Cristina e de sua filha, a princesa Isabel, que integram a Coleção de Dom Pedro de Orleans e Bragança. Com seu associado, Prat, realizou, em 1851, uma série de daguerreótipos de Petrópolis – todos desaparecidos. Estiveram na cidade entre 25 de fevereiro a 1º de março e entre 9 e 15 de abril para fotografar aspectos da então colônia imperial e receberam da mordomia imperial 2:595$000. Foram pagos 92$000 ao Hotel Suíço de Francisco Gabriel Chifelli e ao colono Davi Heiderich pelo aluguel de carros que os transportou do Porto da Estrela a Petrópolis. Esses daguerreótipos estão desaparecidos. Segundo o historiador Guilherme Auler (1914-1965), alguns foram descritos por d. Pedro II em um dos manuscritos que estão no Arquivo da Casa Imperial. Seriam a descrição dos registros do palácio, ainda não concluído; do Hotel Suíço, da serraria, da residência do ministro da Rússia, além de aspectos da rua do Imperador e da rua Dona Francisca, dentre outros. Auler levantou a hipótese dessas fotografias terem sido ofertadas a Dona Francisca, a Princesa de Joinville que semestralmente recebia de maneira oficial, com correspondência da Mordomia da Casa Imperial ao Ministro brasileiro em Paris, caixas de doce de abacaxi, farinha de mandioca, feijão preto, barril de aguardente, caixas de goiabada e sementes de quiabo… A feijoada recordava o Brasil. E se havia o cuidado de remeter tais coisas, para o culto da saudade, certamente um daguerreótipo representava muito mais (Jornal do Brasil, 2 de junho de 1957). 

Em 1852, Buvelot retornou à Suíça, onde tentou, sem sucesso se estabelecer como fotógrafo. Em 1865, fixou-se na Austrália, onde tornou-se um dos maiores pintores paisagistas do país. Entre 1866 e 1882, contribuiu com paisagens em várias exposições nacionais e internacionais. Faleceu em 30 de maio de 1888.

Em uma carta enviada em 1877 para um de seus amigos mais próximos, o pintor francês Eugene Girardet (1853 – 1907), refletindo sobre as circunstâncias de sua vida e seu envelhecimento, Buvelot escreveu:
Apenas uma faculdade persiste em força total e esta é um sentimento pela natureza que unido a um coração sempre jovem para amar e valorizar aqueles que escolheu…me faz encontrar um charme na vida.

Cronologia de Abram-Louis Buvelot (1814 – 1888)

 

 

1814 – Nascimento de Abram-Louis Buvelot, em 3 de março, em Morges, na Suíça, segundo filho de François-Simeon (? – 1848), funcionário do Correio, e de Jeanne-Louise-Marguerite Heizer (? – 1856), diretora escolar. Tinha um irmão, Eugene-Jean-Louis-Henri (c. 1820- 1852), gravador e litógrafo. A família Buvelot havia se estabelecido em Morges em 1677, onde chegou como refugiada protestante da cidade de Condé-en-Barrois, na França.

1830 – Em dezembro, Buvelot deixou sua cidade natal, provavelmente para estudar na Escola de Desenho de Lausanne, dirigida pelo pintor suíço Marc Louis Arlaud (1772 – 1845), que havia sido aluno do célebre pintor francês Louis David (1748-1825).

1834 – Provavelmente, deixou a Suíça e passou alguns meses em Paris, onde foi aluno do pintor francês Camille Flers (1802 – 1868). Flers havia vivido no Rio de Janeiro entre 1821 e 1823.

1835 - Buvelot chegou em Salvador, na Bahia, onde deu aulas de pintura. Seu tio, François Buvelot (1777 – ?) possuía uma plantação de café no estado entre 1825 e 1842. Buvelot permaneceu em Salvador até 1840 e os quadros que pintou da cidade, intitulados Vista da Bahia e Vista das Fortalezas da Entrada da Bahia, além de um retrato de Minerva Candida d’Albuquerque, o destacou entre as famílias europeias abastadas que viviam na Bahia.

1839 – Anunciou ao público ter aberto uma casa onde desenhava paisagens, retratos de todos os tamanhos e tudo quanto diz respeito a essa arte (Correio Mercantil, 9 de fevereiro de 1939, na segunda coluna).

1840 – Anunciou com o pintor francês Louis Auguste Moreau (1818 – 1877) aulas de desenho e pintura na rua Direita do Palácio, nº 65 (Correio Mercantil, 29 de janeiro, na segunda coluna, e 4 de fevereiro de 1840, na segunda coluna).

Em outubro, chegou ao Rio de Janeiro, a bordo do patacho Minerva. Três dias depois, compareceu à Polícia e no livro de legitimação de passaportes identificou-se como Luis Buvelot, suíço, solteiro, 27 anos, retratista. Como a maioria dos imigrantes, viveu um tempo no Hotel Pharoux, e depois teve várias moradias, dentre elas na ruas do Rosário, do Cano, Santa Teresa e Ourives (Jornal do Commercio, 31 de outubro de 1840, na terceira coluna e Jornal do Brasil, 2 de junho de 1957). 

Em dezembro, participou da III Exposição Geral de Belas Artes com duas paisagens representando a praia de Santa Luzia e o Saco da Gamboa com o cemitério inglês (Jornal do Commercio, 16 de dezembro de 1840 e Diário de Pernambuco, 13 de janeiro de 1841, na primeira coluna). Na ocasião, Zeferino Ferrez (1797 – 1951), pai do fotógrafo Marc Ferrez, foi condecorado.

1841 – Foi anunciada a venda de uma litografia de Heaton & Rensburg representando a coroação e a sagração de d. Pedro II, quando ele se apresentou ao povo na varanda Largo do Paço, baseada em um desenho do pintor francês Louis Auguste Moreaux (1818 – 1877) e Buvelot. Estava à venda nas lojas de Georges Leuzinger (1813 – 1892) e Laemmert, dentre outras (Jornal do Commercio, 4 de agosto de 1841, na segunda coluna).

Participou da Exposição Geral de Belas Artes com quadros representando a Lagoa Rodrigo de Freitas e Botafogo (Jornal do Commercio, 6 de janeiro de 1842, na terceira coluna).

1842 – Foi publicado o primeiro número do Rio de Janeiro Pitoresco com seis estampas de vistas e figuras desenhadas por Buvelot e pelo pintor francês Louis Auguste Moreaux (1818 – 1877). Estava à venda nas lojas de Georges Leuzinger (1813 – 1892) e Laemmert (Jornal do Commercio, 24 de março de 1842, na terceira coluna).

Embarcou no navio Bom Sucesso, rumo a Vila Viçosa e Campos (Jornal do Commercio, 17 de novembro de 1842, na última coluna).

1843 - Em novembro, Buvelot casou-se com a parisiense Marie-Félicité Lalouette (1816 – ?), filha de Nicolas-Joseph e Appaline-Rosalie Piquet, meses depois do nascimento de Jeanne-Louise-Sophie, única filha do casal, em 24 de fevereiro.

Ele e o pintor cearense José dos Reis Carvalho (1800 – 1872) ganharam medalha de ouro na Exposição Geral de Belas Artes.

1844 – A imperatriz dona Teresa Cristina, que havia chegado ao Rio de Janeiro, em 3 de setembro de 1843, comprou todos os quadros de Buvelot expostos na Exposição do Rio de Janeiro: Cemitério Inglês na Gamboa, Vista do Convento de Santo Antônio, Canto do Beco do Cairu, Vista da Cidade do Rio de Janeiro observado do Andaraí Pequeno e Vista de Nossa Senhora da Glória observada dos aquedutos. O recibo, no valor de 300$000, de 1º de fevereiro de 1844, encontra-se no Arquivo da Casa Imperial. (Jornal do Commercio, 23 de fevereiro de 1844, na primeira coluna e Jornal do Brasil, 2 de junho de 1957).

Buvelot participou da Exposição Geral de Belas Artes com quatro quadros: Vista da cidade e da Baía observada da Fábrica de Rapé, no Andaraí; Vista da passagem da Boa Vista observada do mesmo lugar; Vista do Corcovado e da Lagoa Rodrigo de Freitas observada da Boa Vista da Gávea;Vista de Botafogo observada do caminho novo da praia Vermelha (Jornal do Commercio, 21 de dezembro de 1844, na primeira coluna e Jornal do Brasil, 2 de junho de 1957).

c. 1845 – Fundou seu estabelecimento fotográfico, na rua dos Latoeiros (atual rua Gonçalves Dias), tornando-se um dos primeiros profissionais da daguerreotipia no Rio de Janeiro.

1845 – Foi publicado pela Heaton & Rensburg o álbum litográfico Rio de Janeiro Pitoresco, realizado por Buvelot e pelo pintor francês Louis Auguste Moreaux (1818 – 1877). Reunia três séries de gravuras realizadas desde 1842 (Anuário do Museu Imperial, 1960).

Consta dos livros de fevereiro da mordomia imperial um recibo no valor de 500$000 para o pagamento de uma vista da Lagoa Rodrigo de Freitas, de autoria de Buvelot (Jornal do Brasil, 2 de junho de 1957).

Francisco Buvelot, provavelmente François Buvelot, o tio de Louis Buvelot, partiu para a França, na barca francesa Emile (Jornal do Commercio, 20 de junho de 1845, na última coluna).

1846 – Era o professor de desenho do Colégio de São Pedro de Alcântara (Jornal do Commercio, 18 de outubro de 1846, na segunda coluna).

Pintou, sob encomenda da imperatriz dona Teresa Cristina, uma paisagem de floresta brasileira, Vista de mato virgem, que foi exibida na Exposição Geral de Belas Artes de 1846. Pelo quadro, foram pagos 300$000 conforme recibo de 4 de dezembro de 1846 existente no Arquivo da Casa Imperial (Jornal do Brasil, 2 de junho de 1957).

1847D. Pedro II o agraciou com o título de Cavaleiro da Imperial Ordem do Rosa  pelo mesmo decreto que tornou Grandjean de Montigny (1776 – 1850) Oficial da mesma Ordem (Diário Novo, 22 de março de 1847, na segunda coluna).

Apresentou uma aquarela na Exposição Geral de Belas Artes (Jornal do Brasil, 2 de junho de 1957).

1848 – Apresentou seis pinturas na Exposição Geral de Belas Artes: Vista de uma casa nas Laranjeiras, Vista de uma choupana, Vista do caminho dos aquedutos, Vista de uma casa em Catumbi, Vista da Gávea observada da Lagoa; e Vista das Laranjeiras (Jornal do Brasil, 2 de junho de 1957).

1848 a 1951 – Seu estabelecimento, intitulado Louis Buvelot  foi anunciado na seção de “Pintores e Retratistas” do Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro de 1848, 1849, 1950 e 1951. Em 1951, foi anunciado também na seção de “Daguerreótipos”, no mesmo endereço, mas intitulado Officina de Buvelot, 6, & Prat, r. dos Latoeiros, 36.

1849 – Em 30 de novembro, a Família Real pagou a Buvelot  544$000 pela realização de 19 retratos e pelo fornecimento de 20 estojos de daguerreótipos (Jornal do Brasil, 2 de junho de 1957).

Buvelot foi saudado como o artista que melhor sente e executa a natureza do Brasil, na Exposição da Academia de Belas Artes. Ele apresentou duas vistas (Correio Mercantil, 18 de dezembro de 1849, na terceira coluna).

1850 – Uma conta de 404$000 de retratos de d. Pedro II foi paga pela mordomia imperial, em setembro. A partir dessa informação, o historiador Guilherme Auler concluiu que o retrato do imperador que se encontra no Palácio do Grã-Pará é de autoria de Buvelot & Prat e sua data é 1850 (Jornal do Brasil, 2 de junho de 1957).

Em uma crítica às obras apresentadas na Exposição da Academia de Belas Artes, foi escrito: as paisagens do sr. Buvelot não podem ser mais naturais! Lamentamos que esse homem não seja brasileiro ou ao menos lente de paisagem da academia, que a esse respeito está muito mal servida… Ele apresentou duas aquarelas (Gazeta Mercantil, 17 de dezembro de 1850, na segunda coluna e Jornal do Brasil, 2 de junho de 1957).

1851 – Buvelot e Prat estiveram em Petrópolis entre 25 de fevereiro a 1º de março e entre 9 e 15 de abril para fotografar aspectos da então colônia imperial e receberam da mordomia imperial 2:595$000. Foram pagos 92$000 ao Hotel Suíço de Francisco Gabriel Chifelli e ao colono Davi Heiderich pelo aluguel de carros que os transportou do Porto da Estrela a Petrópolis. Esses daguerriótipos estão desaparecidos. Segundo o historiador Guilherme Auler, alguns foram descritos por d. Pedro II em um dos 114 manuscritos que estão no Arquivo da Casa Imperial. Seriam a descrição dos registros do palácio, ainda não concluído; do Hotel Suíço, da serraria, da residência do ministro da Rússia, além de aspectos da rua do Imperador e da rua Dona Francisca, dentre outros. Auler levantou a hipótese dessas fotografias terem sido ofertadas a Dona Francisca, a Princesa de Joinville que semestralmente recebia de maneira oficial, com correspondência da Mordomia da Casa Imperial ao Ministro brasileiro em Paris, caixas de doce de abacaxi, farinha de mandioca, feijão preto, barril de aguardente, caixas de goiabada e sementes de quiabo… A feijoada recordava o Brasil. E se havia o cuidado de remeter tais coisas, para o culto da saudade, certamente um daguerreótipo representava muito mais  (Jornal do Brasil, 2 de junho de 1957).

Foi o primeiro fotógrafo no Brasil, com seu associado Prat, a receber o real patrocínio de um monarca quando, em 8 de março de 1851, d. Pedro II autorizou o uso das armas imperiais na fachada do estabelecimento fotográfico Buvelot & Prat.

 

 

1852 – O estabelecimento fotográfico foi anunciado no Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro como Officina Imperial de Buvelot, 6, & Prat, r. dos Latoeiros, 36.

Apresentou  um quadro na Exposição Geral de Belas Artes (Jornal do Brasil, 2 de junho de 1957).

Buvelot retornou à Suíça por motivos de saúde, provavelmente havia contraido malária. Porém, no livro Famous Australian Artists, de Lois Hunter, publicado na Austrália, em 2003, foi mencionado que o motivo real de Buvelot ter deixado o Brasil teria sido a pressão pública devido a um escândalo desencadeado por um caso que ele teria tido com uma estudante. Algumas fontes informam que o ano foi 1851.

Viveu entre julho de 1852 e dezembro de 1853 em Vevey, Vaud, onde tentou, sem sucesso, se estabelecer como retratista.

1853 - Em dezembro, mudou-se com Marie-Felicité e sua filha Jeanne-Louise-Sophie (1844 – ?) para Lausanne. 

1854 – Foi com o artista austríaco Ferdinand Krumholtz (1810 – 1878), que ele havia conhecido no Rio de Janeiro, para Calcutá, na Índia, onde tentaram as carreiras de pintor e fotógrafo.

1855 - Buvelot teria ido para a Escócia antes de voltar à Suíça (Jornal do Brasil, 2 de junho de 1957). Começou a trabalhar como desenhista na Escola de Design em La Chaux-de-Fonds, Neuchâtel. Permaneceu na cidade com sua mulher e filha até setembro de 1864. Nesse período, contribuiu inúmeras vezes em exposições organizadas pela Sociedade dos Amigos das Artes de Neuchâtel.

1856 – Participou da Exposição de Berna com a pintura de uma paisagem.

Pela última vez a Oficinna Imperial Buvelot & Prat foi anunciada no Almanaque Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro. O último anúncio  publicado no Correio Mercantil e Instrutivo, Político, Universal foi publicado em 21 de janeiro de 1956, na terceira coluna.

1857 – A oficina foi anunciada no Auxiliador da Administração do Correio da Tarde de 1857.

1859/1860 – Buvelot participou da Exposição Geral de Belas Artes de 1859 e de 1860 (Revista Popular, janeiro a março de 1861).

1864 – Buvelot trabalhou em um comitê que estabeleceu o Museu de Belas Artes em La Chaux-de-Fonds.

Segundo informação do dicionário de Emmanuel Bénézit (1854 – 1920), Buvelot teria voltado ao Brasil durante esse ano (Jornal do Brasil, 2 de junho de 1957).

Em setembro, deixou sua família em La Chaux-de-Fonds e, dois meses depois, partiu de Liverpool para a Austrália acompanhado de Caroline-Julie Beguin (? – 1902), que havia sido sua colega como professora de francês na Escola de Design de La Chaux-de-Fonds. Viveram juntos até a morte de Buvelot, em 1888.

1865 – Chegou em 18 de fevereiro em Melbourne, em Vitória, estado da Austrália, onde comprou um estúdio fotográfico na rua Bourke, nº 92.

1866 – Mudou-se para a rua La Trobe, nº 88 e retomou sua carreira de pintor. Caroline-Julie dava aulas de francês para ajudá-lo a se estabelecer como artista em Melbourne. Tornou-se conhecido, recebeu diversos prêmios, tendo-se notabilizado por suas paisagens. Entre 1866 e 1882, contribuiu com paisagens em várias exposições nacionais e internacionais. Segundo o crítico de arte do jornal australiano Argus, James Smith, ele reproduzia integralmente as paisagens australianas nas mais diversas técnicas: aquarelas, óleos e crayons.

1868 - Inscreveu-se para ser o instrutor das aulas de arte na Galeria Nacional de Vitória, sem sucesso. Dois anos depois, o austríaco Eugen von Guerad (1811 – 1901) foi designado para o cargo.

1869 – Em torno desse ano sua reputação como o principal pintor das paisagens da colônia australiana estava firmada.

Foi professor de desenho de paisagens na Escola de Design de Artisan, em Carlton, subúrbio de Melbourne.

Os quadros Winter morning near Heidelberg and Summer afternoon, Templestowe foram adquiridos pela Biblioteca Pública, como parte dos preparativos da Coleção Australiana para a Galeria Nacional de Vitória.

1870 / 1874 – Serviu no comitê da Academia de Artes de Vitória e também participou de exibições do grupo.

1873 –  O casal Buvelot mudou-se para o cottage Ma Retrait, na rua George, em Fitzroy, um subúrbio de Melborne.

1884 - Devido a problemas na visão e nas mãos, deixou de pintar.

1888 – A Academia de Belas Artes do Brasil adquiriu uma paisagem de Buvelot (Brasil. Ministério do Império, 1888).

Buvelot faleceu, em 30 de maio, na Austrália. Foi enterrado no cemitério de Kew, onde foi construído um memorial em sua homenagem.

1890 – Seu quadro, Vista da Gamboa, participou da Exposição Geral de Belas Artes de 1890 (Catálogo da Exposição Geral de Belas Artes de 1890).

1894 – A Galeria Grosvenor da Galeria Nacional de Vitória passou a chamar-se Galeria Buvelot.

 

Foster e  Martin. Retrato de Louis Buvelot, c. 1883

Foster e Martin. Retrato de Louis Buvelot, c. 1883 / La Trobe Picture Collection, Biblioteca de Vitória, Austrália

 

1953 – Integrou a mostra A Paisagem Brasileira até 1900, organizada por Rodrigo Melo Franco de Andrade (1898 – 1969) para a II Bienal de São Paulo.

1961 – Na Biblioteca Estadual da Guanabara, foi um dos pintores expostos na mostra O Rio na Pintura Brasileira.

1962 – Foi um dos artistas da mostra Pintura Australiana: colonial, impressionista e contemporânea, realizada em Perth e em Adelaide, na Austrália.

1976 – Integrou a exposição Arte Australiana nos 1870s, em Melbourne e em Sidney, na Austrália.

1977 - Integrou a exposição Aspectos da Paisagem Brasileira: 1816-1916, no Museu Nacional de Belas Artes.

1982 – Integrou a mostra 150 Anos de Pintura de Marinha na História da Arte Brasileira, realizada no Museu Nacional de Belas Artes.

1983 - Integrou a exposição Arcádia Australiana, em Sidney, na Austrália.

1992 – Integrou a mostra Natureza: Quatro Séculos de Arte no Brasil, no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Acesse as obras de Buvelot disponíveis no acervo da Brasiliana Iconográfica.

Fontes:

AULER, Guilherme. O Paisagista e Retratista Buvelot, Jornal do Brasil, 2 Junho de 1957, Rio de Janeiro.

Australian Dictionary of Biography

CAMPOFIORITO, Quirino. História da pintura brasileira no século XIX. Prefácio Carlos Roberto Maciel Levy. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1983. 292 p., il. p&b. color.

COLMAN, Anne. Buvelot, the Migrant Artist. Interpreting New Worlds in Brazil and Australia. Austrália: La Trobe Journal, 2005.

ERMAKOFF , George. Rio de Janeiro 1840 – 1900 – Uma crônica fotográfica. Rio de Janeiro: G. Ermakoff Casa Editorial, 2006.

FREIRE, Laudelino. Um século de pintura: apontamentos para a história da pintura no Brasil de 1816-1916. Rio de Janeiro: Fontana, 1983. 677 p.

FOREL, M. F. Louis Buvelot, Peintre Vaudois. Gazette de Lausanne, 31 de março de 1906.

GRAY, J. R. Louis Buvelot His Life and Work. Tese de mestrado. Universidade de Melbourne, 1968.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002.

LAGO, Pedro Corrêa do. Brasiliana Itaú: uma grande coleção dedicada ao Brasil / curadoria da coleção: Pedro Corrêa do Lago, Ruy Souza e Silva. Rio de Janeiro: Capivara, 2009.

LEVY, Carlos Roberto Maciel. Exposições gerais da Academia Imperial e da Escola Nacional de Belas Artes: período monárquico, catálogo de artistas e obras entre 1840 e 1884. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1990. 317 p. / v.1

MELO JUNIOR, Donato. Buvelot no Brasil i (apontamentos 1963) e Buvelot no Brasil ii (novos apontamentos à guisa de adendo 1986). Boletim do Museu Nacional de Belas Artes. Rio de Janeiro, 5 (13–5): 9–15, jan.-dez. 1986. il.

PONTUAL, Roberto. Dicionário das artes plásticas no Brasil. Texto Mário Barata, Lourival Gomes Machado, Carlos Cavalcanti et al. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1969. 559 p.

RAPPAPORT, Helen. Queen Victoria: A Biographical Companion. Santa Barbara, California:ABC – CLIO Biographical Companions, 2013.

SMITH, Bernard. Australian Painting 1788-1960. London:Oxford University Press, 1962.

STICKEL, Erico João Siriuba. Uma pequena biblioteca particular – Subsídios para o estudo da iconografia no Brasil. São Paulo:Editora da Universidade de São Paulo – Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2004.

TURAZZI, Maria Inez. Poses e trejeitos: a fotografia e as exposições na era do espetáculo: 1839/1889. Prefácio Pedro Karp Vasquez. Rio de Janeiro: Funarte. Rocco, 1995. 309 p., il. p&b. (Coleção Luz & Reflexão, 4). ISBN 85-85781-08-4.

VASQUEZ, Pedro Karp. O Brasil na fotografia oitocentista. São Paulo: Metalivros, 2003.

VASQUEZ, Pedro Karp. Dom Pedro II e a fotografia no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Roberto Marinho, 1985.

Site da Enciclopédia Itaú Cultural

São Paulo sob as lentes do fotógrafo Guilherme Gaensly (1843 – 1928)

A Brasiliana Fotográfica homenageia os 463 anos de São Paulo, a maior cidade da América do Sul e a quarta maior do mundo, com imagens produzidas pelo suíço Guilherme Gaensly (1843 – 1928). Ele nasceu em Wellhausen, cantão de Thurgau, e foi para Salvador, na Bahia, aos 5 anos de idade. Em 1871, após um período de aprendizado no ateliê de Alberto Henschel (1827 – 1882) na capital baiana, estabeleceu-se como fotógrafo. Destacou-se como retratista e como fotógrafo de paisagens urbanas e rurais. Em 1882, Rodolpho Lindemann (c. 1852 – 19?) tornou-se seu sócio e, em 1894, a próspera empresa Gaensly & Lindemann abriu uma filial em São Paulo, onde Gaensly foi morar.

 

 

Foi o autor de importantes registros do estado e da cidade de São Paulo, vendidos como fotografias em papel albuminado e colotipias impressas na Suíça e comercializadas em álbuns. Foi o mais importante divulgador da nova imagem do estado como líder do Brasil.

 

“As imagens de Gaensly foram fartamente utilizadas pelas primeiras publicações ilustradas, oficiais ou não, num contexto promocional, interessadas em divulgar a imagem do Estado de São Paulo no plano internacional. Gaensly, de sua parte, veicularia amplamente sua produção através dos cartões postais…Se, por um lado, enquanto fotógrafo proprietário de um esta belecimento comercial as vistas urbanas e rurais se incluíam em sua atividade profissional constituindo-se no seu meio de vida, por outro, ele colaborou definitivamente para a construção da imagem oficial da cidade: aquela idealizada pelas elites e pelo Estado, a imagem de uma cidade que se “apresentava” moderna através de estilos “neoclássicos”.

Boris Kossoy in Realidades e ficções na trama fotográfica, 2002

 

 

Ao lado de seu contemporâneo Marc Ferrez (1843 – 1923), Gaensly foi provavelmente o fotógrafo mais publicado em postais no Brasil. Em 1899, a empresa The São Paulo Railway, Light and Power Company, o contratou como fotógrafo oficial, função que exerceu até 1925, três anos antes de sua morte. Na ocasião, a presença da Light representava a modernização da área urbana e dos serviços da cidade.

 

Acessando o link para as fotografias de São Paulo produzidas por Guilherme Gaensly, disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

“Essa documentação, assinada por um fotógrafo plenamente maduro e no auge da carreira, possui particular importância já que Gaensly valia-se ainda da tecnologia e do olhar estético característico da fotografia do final do século XIX, o que lhe permitiu conferir peculiar qualidade a seus registros, fazendo-os mesmo transcender os aspectos estritamente técnicos das imagens que sabia capturar com extremo rigor formal e poder de síntese”.

Catálogo da Exposição comemorativa da doação do Acervo Brascan ao IMS –

Guilherme Gaenly e Augusto Malta: dois mestres da fotografia brasileira no Acervo Brascan, p.10)

 

Apesar de nunca ter sido o fotógrafo oficial de São Paulo, como foi Augusto Malta (1864 – 1957) no Rio de Janeiro, Gaensly foi o autor de uma abrangente obra sobre a capital paulista nas primeiras décadas do século XX, o que o coloca nessa posição. Ele e Militão Augusto de Azevedo (1837 – 1905) são considerados os fotógrafos que mais cultuaram São Paulo. Gaensly fotografou a cidade em plena transição para a modernidade, tendo registrado todos os aspectos urbanos da nova metrópole que surgia. Registrou a inauguração dos bondes elétricos que substituíram as carroças, o Jardim da Luz, a agitação do comércio na região do entorno da Praça da Sé, o crescimento da avenida Paulista, além de palacetes, chácaras, edifícios públicos, igrejas, escolas, teatros e hospitais. Essas vistas de São Paulo foram comercializadas em álbuns impressos na Suíça a partir de fotografias em papel albuminado e de colotipias. Fotografou também a chegada de imigrantes italianos em Santos e em São Paulo. Dentre os prêmios que recebeu, está uma medalha de prata conquistada na Exposição Universal de Saint Louis, em 1904.

 

 

“Guilherme Gaensly foi sem dúvida o fotógrafo que mais aproximou o seu trabalho das necessidades e exigências do ideário republicano de progresso social e material. Dedicado e ativo nas primeiras décadas do século passado, produziu uma visão da metrópole emergente com requinte e elegância, buscando interpretá-la como um espaço urbano harmonioso; uma memória que não ultrapassa o estritamente fotográfico, mas que hoje se evidencia como um dos principais fios condutores da história da cidade”

Rubens Fernandes Junior, in Guilherme Gaensly, 2011

 

Cronologia de Guilherme Gaensly  (1843 – 1928)

 

 

1843 – Em 1º de setembro (provavelmente), nascimento de Wilhelm (Guilherme) Gaensly, em Wellhausen, cantão de Thurgau, na Suíça, fronteira com a atual Alemanha, filho de Jacob Heinrich ( c.1804 – 1868) e Anna Barbara Kin (c. 1813 – 1895). Teve 4 irmãos: Ferdinand (c. 1837 – 1915), Frederick (c. 1838 – 1902), Julia (c.1848 – 1936) e Alaine (c.1852 – ?). Nesse mesmo ano, seu pai veio para o Brasil, repetindo a experiência de primos e irmãos, chegando em Salvador, em 19 de setembro.

1848 – Em julho, chegada de Anna Barbara com os filhos Ferdinand, Frederick e Guilherme em Salvador, na época a segunda cidade mais populosa do Brasil – a primeira era o Rio de Janeiro.

1850/1851 – Criação do Bahia Fremden Kirschhof, o Cemitério dos Estrangeiros. Os pais e irmãos de Gaensly estão enterrados lá, na área dos protestantes.

1868 – Morte de Jacob Heinrich em 4 de janeiro. Alberto Henschel (1827 – 1882) anuncia a técnica da marfimographia, a contratação de novos profissionais e a iminente abertura de uma filial da Photographia Allemã em Salvador, na Bahia (Jornal de Recife, edição de 21 de julho de 1868, quarta e quinta colunas, no pé da página). Em algum momento entre a inauguração do ateliê e 1871 Gaensly trabalhou para Henschel.

Década de 1870 – Segundo Kossoy, durante essa década, Gaensly também foi associado ao fotógrafo alemão Joseph Schleier (1827 – 1903), que havia chegado em Salvador em 1851.

1871 – Após um período de aprendizado no ateliê de Henschel, situado na rua da Piedade, 16 (Jornal da Bahia, 16 de setembro de 1871), Gaensly estabeleceu-se como fotógrafo na firma Maison Gaensly & Lange (segundo Kossoy, Waldemar Lange), com a colaboração de Karl Gustaff ( c. 1837 – 1872), alemão que também havia prestado serviços para Henschel. Provavelmente, a Maison Gaensly & Lange ficava na Estrada do Manguinho.

1874 – Segundo Geraldo da Costa Leal em Um cinema chamado saudade (1997), nessa época, o europeu Rodolpho Frederico Francisco Lindemann (c. 1852 – 19?) já trabalharia com Gaensly.

1875 – No Jornal da Bahia de 29 de agosto de 1875, na página 3, de 31 de agosto, na página 4, e de 4 de setembro, na página 4, foram publicadas propagandas da Photographia do Commercio, de Gaensly, na Ladeira de São Bento, 1. A propaganda foi publicada outra vez em 14 e 19 de abril de 1876 no mesmo jornal.

Novo estabelecimento

montado com todo o gosto

Photographia do Commercio

Guilherme Gaensly

1- Ladeira de S. Bento – 1

na localidade que ocupava a I.l.L. M. Sociedade Recreativa

Tendo sido todos os utensílios para esta nova galeria como instrumentos, mobílias, fundos, decorações, etc, escolhidos pessoalmente na minha última viagem à Europa onde visitei os maiores estabelecimentos deste gênero, venho oferecer ao respeitável público o ATELIER melhor montado desta capital garantindo trabalhos perfeitos e de DURAÇÃO visto que adotei todos os melhoramentos feitos nestes últimos anos.

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1876 – Segundo Kossoy, Gaensly anunciou seu estabelecimento, a Photographia do Commercio, no Largo do Teatro, 1, no Jornal da Bahia, de 20 de junho de 1876.

1877 – Foi agraciado com 3 medalhas pelo Imperial Liceu de Artes e Ofícios da Bahia.

1881 – Participou da grande mostra da Biblioteca Nacional, Exposição de História do Brasil, que reunia integrantes do acervo da instituição e também da coleção de dom Pedro II (1825 – 1891) e do barão Homem de Mello (1837 – 1918). Apresentou 28 fotografias de quadros a óleo de pessoas públicas como o padre Antônio Vieira (1608 – 1697) e o conde de Cavalleiros (1750 – 1807). Expôs também vistas da Bahia produzidas provavelmente durante a década de 1870 com o alemão Joseph Schleier (1827 – 1903) (Anais da Biblioteca Nacional, 1881 – 1882, volume 2, nas páginas 141814191421149515011542154415451546155215541555155815661571157215741575157615781579158115821583158915911592 e 1597).

A presença de Schleier no catálogo da Exposição de História do Brasil parece confirmar a associação entre ele e Gaensly. As imagens são do Terreiro de Jesus com a cathedral e Faculdade de Medicina (antigo colégio dos jesuitas). Segundo Ricardo Mendes, “Considerando a abrangência do trabalho de Gaensly ao registrar a cidade de Salvador, não teria sentido a inclusão de imagens de locais tão conhecidos, a não ser que se tratasse de uma associação efetiva. De J. Schleier existem poucas referências, além de raras imagens no acervo da Biblioteca Nacional e dos Instituto Geográfico e Histórico da Bahia”.

Nesse ano o endereço de seu ateliê mudou para Largo do Teatro n° 92 – ao lado do Teatro São João – local que anos depois ficaria conhecido como Praça Castro Alves. O estúdio, um grande sobrado, era, provavelmente, também a residência de Gaensly.

Gaensly e Rodolpho Frederico Francisco Lindemann (c. 1852 – 19?), futuramente seu sócio e cunhado, fotografaram a inauguração do segundo trecho da Estrada de Ferro Central da Bahia, entre São Félix e Tapera, atual Taperi (Diário de Pernambuco, 1º de janeiro de 1882, na última coluna).

1882 – Informava-se ao público novas mudanças e melhorias na Fotografia premiada de Guilherme Gaensly, que além de ateliê fotográfico funcionava também como uma galeria de seus trabalhos e anunciava  “a melhor coleção de vistas dos pontos mais bonitos da capital e subúrbios. Chama especial atenção para os retratos de tamanho natural pela câmara solar, retocados por um hábil artista de Paris”. O retoque deveria ser uma referência ao acabamento de fotopintura. (Diário de Notícias, 1 de janeiro de 1882).

Gaensly apresentou “excelentes trabalhos photographicos” na exposição dos 10 anos do Imperial Liceu de Artes e Ofícios (Diário de Pernambuco, 28 de outubro de 1882, na última coluna).

Foi agraciado com uma medalha do Imperial Liceu de Artes e Ofícios da Bahia.

Admitiu como ajudante Frederico Francisco Lindemann (c. 1852 – 19?), que no final dessa década tornou-se seu sócio.

1883 –  Foi publicado um anúncio do ateliê fotográfico de Gaensly, com a denominação Photographia Gaensly, na Praça de Castro Alves (Diário de Notícias, 4 de abril de 1883).

“O conhecido e acreditado photographo Gaensly” registrou o grupo que estava presente ao lançamento da pedra fundamental para as obras do primeiro engenho central da companhia Bahia Central Sugar Factories, um empreendimento do engenheiro britânico Hugh Wilsonorganizador da Companhia Anônima da Imperial Estrada de Ferro Central da Bahia (Jornal do Commercio, 3 de junho de 1883, na primeira coluna).

Foi agraciado com uma medalha do Imperial Liceu de Artes e Ofícios da Bahia.

1884 – Foi agraciado com uma medalha do Imperial Liceu de Artes e Ofícios da Bahia.

1885 – Foi agraciado com uma medalha do Imperial Liceu de Artes e Ofícios da Bahia.

1888 - Em 5 de maio, Guilherme casou-se com Ida Itschner (c.1863 – 1933), na residência dos pais da noiva, João Jacob Itschner e Elisabet Wolf Itschner. Teve como testemunhas seu sócio, Rodolfo Lindemann, e um de seus irmãos, Frederick. A cerimônia foi celebrada pelo pastor A.L. Blackford, um dos fundadores da igreja presbiteriana no Brasil.

Rodolfo Lindemann havia se casado com a irmã de Guilherme, Alaine, em 23 de abril, no ateliê fotográfico dele e de Guilherme, tendo como testemunhas os irmãos de Gaensly, Frederick e Ferdinand.

Rodolfo Lindemann havia se casado com a irmã de Guilherme, Alaine, em 23 de abril, no ateliê fotográfico dele e de Guilherme, tendo como testemunhas os irmãos de Gaensly, Frederick e Ferdinand.

gaensly

Acervo IMS

1889 – Rodolpho Lindemann, do ateliê Gaensly & Lindemann, foi premiado na Exposição Universal de Paris, no Campo de Marte, com uma medalha de bronze com quadros fotográficos da Bahia e de Pernambuco.

1891 – Gaensly embarcou rumo à Europa no paquete alemão Rosário (Diário de Notícias, 14 de janeiro de 1891, na penúltima coluna).

O casal Guilherme e Ida Gaensly embarcou no paquete alemão Mondevidéu rumo a Santos (O Paiz, 2 de julho de 1891, na última coluna).

1892 – Foi noticiado que o beco ao lado do ateliê fotográfico de Gaensly & Lindemann, na praça Castro Alves, em Salvador, havia se tornado um “mictório” (Jornal de Notícias, 28 de maio de 1892, na primeira coluna).

1893 – O casal Guilherme e Ida Gaensly embarcaram no paquete alemão Olinda rumo à Europa (Gazeta de Notícias, 9 de julho de 1893, na última coluna).

1894 – Inauguração da filial da firma Gaensly & Lindemann, em São Paulo, na rua XV de Novembro, 28, onde se concentrava o comércio de alto padrão na capital. Gaensly foi chefiar a sede paulista e Lindemann permaneceu em Salvador. A firma baiana teve seu nome alterado para Photographia Cosmopolita. Tudo indica que a crescente concorrência em Salvador e a queda do desempenho da economia baiana devido à seca foram as causas da abertura do ateliê em São Paulo.

Entre 1894 e  1897, editou a série de grandes estampas fotográficas de São Paulo.

O ateliê fotográfico Gaensly & Lindemann foi o responsável pela produção de um quadro com os retratos de todos os arcebispos da Bahia. Foi organizado por iniciativa de Olavo de Freitas Martins, um dos fundadores do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. “O trabalho artístico do systema photogravura foi executado pelo artista sr. Rodolpho Lindemann, ficando perfeito”. A matéria também informava que a sede paulista do ateliê Gaensly & Lindemann estava produzindo um quadro com os retratos dos arcebispos de São Paulo (Jornal de Recife, 24 de outubro de 1894, na quinta coluna).

As edições de 1894 e 1895 do livro São Paulo, de Gustav Köenigswald, foram ilustradas com as primeiras séries de vistas da capital paulista produzidas por Gaensly.

1895 – Aos 82  anos, faleceu em Salvador a mãe de Gaensly, Anna Barbara.

1896 – Anúncio em francês da Photographia Gaensly & Lindemann, com os endereços em São Paulo – rua Quinze de Novembro,28 – e em Salvador – Largo Castro Alves, 92 (Almanach, 1896).

Elogio à fotografia Otto de bicicleta, produzida pelo ateliê Gaensly & Lindemann, exposta na casa de música do sr. Luiz Levy, na rua Quinze de Novembro, em São Paulo (A Bicycleta, 12 de julho de 1896, na primeira coluna).

O fotógrafo Juan Gutierrez (c. 1860 – 1897) anunciou que Gaensly e Lindemann haviam cedido “gentilmente” a ele o seu “magnífico atelier” na rua Quinze de Novembro, 28, na capital paulista. Gutierrez estava expondo suas fotografias no salão da Associação Comercial (O Commercio de São Paulo, 24 de novembro de 1896, na quinta coluna).

No periódico paulista A música para todos, exemplar de dez.1896 / jan.1897, foi anunciada a Photographia Gaensly & Lindemann recomendada aos nossos assinantes. No mesmo anúncio,  foi também noticiada a exposição de mais de cinquenta fotografias do ateliê na redação da revista.

1898 – Foi comercializado o álbum “Colleções de 27 cartões com vistas da Cantareira, Jardim Publico, Quartel de Policia, Serra de Santos, Fazendas de Café, Poços de Caldas, Escola Normal de Campinas, Estação de Campinas, Largo de São Bento, Largo do Palacio, Ypiranga e outros”, cartões postais impressos por Victor Vergueiro Steidel (1868 – 1906). Não foi apresentada a autoria das imagens, mas foram, muito provavelmente, baseadas em fotografias de Gaensly, de Paulo Kowalsky e de Marc Ferrez(1843 – 1923). O fotógrafo Kowalsky teria atuado em São Paulo entre 1891 e 1897.

Para a Escola Politécnica, o estúdio Gaensly & Lindemann produziu o quadro de formatura da turma de Engenheiros Geógrafos.

1899 – Gaensly & Lindemann presentearam o Correio Paulistano com “uma bella collecção de bilhetes postais contendo vistas dos principais edificios e dos logares mais pitorescos” de São Paulo (Correio Paulistano, 4 de agosto de 1899, na última coluna). Seria sua primeira série de postais, Lembrança de São Paulo.

Gaensly & Lindemann anunciaram o envio da Grande Collecção de Vistas de São Paulo para a Exposição Universal de Paris de 1900.

Em abril, foi constituída em Toronto, por um grupo de investidores canadenses estimulados por empresários paulistas a The São Paulo Railway, Light and Power Company Limited.  Em 17 de junho, a empresa obteve autorização para funcionar no Brasil e logo em seguida iniciou seus trabalhos no país.

Gaensly foi contratado pela companhia e foi seu principal fotógrafo até 1925. Com equipamentos de grande porte (negativos em vidro 24 x 30cm), passou, então, a documentar os trabalhos da empresa, produzindo registros das transformações urbanas de São Paulo, causadas por obras de implantação de linhas de bonde elétrico, de iluminação pública, imagens de casas de máquina e interiores de oficinas de manutenção, além de fotografias da construção de barragens e das hidrelétricas da Light no estado. A primeira fotografia produzida por ele para a Light foi das obras da rua 25 de março, em 5 de julho.

 

 

1900 – Terminou a sociedade entre Gaensly & Lindemann, em São Paulo, e Gaensly passou a atuar sozinho na Photographia Gaensly (Alkmanak Lammert, 1901). No mesmo Almanak, consta o ateliê Gaensly & Lindemann, em Salvador.

Produção da segunda série de postais, também denominada Lembrança de São Paulo, dessa vez apenas com a assinatura de Gaensly. A terceira série deve ter sido editada logo em seguida.

1901 – Foi noticiado que a Photographia Gaensly & Lindemann de Salvador havia fotografado uma criança natimorta e hermafrodita, que estava despertando a curiosidade da população e de médicos, dentre eles o professor  de medicina legal, Nina Rodrigues (1862 – 1906) (Diário do Maranhão, 31 de outubro de 1901, na última coluna sob o título “Criança fenomenal”).

1902 - As imagens publicadas no primeiro Relatório de Diretoria da Light dirigido aos acionistas no exterior foram baseadas em fotografias de Gaensly e Lindemann, produzidas especificamente para a empresa ou para o álbum Lembrança de São Paulo, editado pelo Instituto Politécnico de Zurique e impresso em colotipia.

O estúdio fotográfico Gaensly & Lindmann continuava funcionando em Salvador (Almanak Laemmert, 1903).

1903 - Para “auxiliar a propaganda do café” na Exposição de Saint Louis (1904), Gaensly começou a documentar as instalações e a  lavoura cafeeira da colônia americana em Santa Bárbara (Correio Paulistano, 6 de dezembro de 1903).

Enviou ao Correio Paulistano uma coleção de dez cartões-postais coloridos e 50 em planotipia (Correio Paulistano, 26 de abril de 1903, na primeira coluna).

1904 – Gaensly entregou “as vistas produzidas no interior da exposição (Saint Louis) e as dos mapas do café” (Correio Paulistano, 12 de fevereiro de 1904, na primeira coluna).

Gaensly integrou uma comitiva que visitou a Ilha dos Búzios, parte do Arquipélago de Ilhabela, onde seria instalada uma colônica correcional. O conhecido fotógrafo Gaensly tinha a tarefa de tirar vistas dos trechos mais pitorescos e menos conhecidos dos Búzios e das histórias do fortes coloniais de Bertioga, São Sebastião e Villa Bella. Dentre vários, também estavam na expedição o escritor e engenheiro Euclides da Cunha (1866 – 1909), autor de Os Sertões, e o pintor Benedito Calixto (1853 – 1927), além de autoridades como o secretário do Interior de São Paulo e o chefe de polícia (Correio Paulistano8 de agosto de 1904, na quarta coluna, e 12 de agosto de 1904, na última coluna).

Anúncio da Photographia de Guilherme Gaensly, antiga Gaensly & Lindemann. A propaganda seria publicada diversas vezes durante 1904 e 1905 (Correio Paulistano, 1º de novembro de 1904, na sétima coluna). Foi contemporâneo dos fotógrafos húngaro José Wollsack (1847 – 1927), do austríaco Otto Rudolf Quaas (c. 1862 – c. 1930) e do brasileiro Valério Vieira (1862 – 1941).

 

 

Na Exposição Mundial de Saint Louis, realizada entre 30 de abril e 1º de dezembro de 1904,  Gaensly ganhou medalha de prata na categoria “Photographia” (Almanak Laemmert, 1905).

O estúdio fotográfico Gaensly & Lindmann continuava funcionando em Salvador (Almanak Laemmert, 1905).

1905 - Entre 1905 e 1907, nas notas fiscais da Photographia Gaensly existem muitas referências a serviços de reproduções de mapas para a Comissão Geográfica e Geológica.

Início das atividades da Rio de Janeiro Railway, Light and Power Company Limited e contratação do fotógrafo Augusto Malta (1864 – 1957).

Foi publicada uma fotografia de autoria de Gaensly da festa do Club da Guarda Nacional, realizada no Jardim da Luz, em 26 de julho de 1905 (Revista da Semana, 20 de agosto de 1905).

c. 1905 – Gaensly editou uma série no formato postal, que ficou conhecida como a série A, com cinquenta imagens. Foi produzida com uma técnica de impressão que resultava numa melhor visualização, próxima ao da cópia fotográfica.

1906 - Guilherme Gaensly estava na folha de pagamento da Secretaria de Agricultura de São Paulo (Correio Paulistano, 1º de novembro de 1906, na última coluna).

Foi elogiada como magnífica a fotografia do quadro da turma de graduandos da Escola de Farmácia de Ouro Preto, produzida por Gaensly (O Pharol, 11 de dezembro de 1906, na sexta coluna, sob o título “Municípios”).

Último registro do funcionamento do estúdio fotográfico Gaensly & Lindmann, em Salvador, no Almanak Laemmert, 1906.

1907 – Guilherme Gaensly estava na folha de pagamento da secretaria de Agricultura de São Paulo (Commercio de São Paulo, 22 de novembro de 1907, na primeira coluna).

1908 – Guilherme Gaensly estava na folha de pagamento das secretarias do Interior e da Agricultura de São Paulo (Commercio de São Paulo12 de janeiro de 1908, na primeira coluna, 26 de fevereiro, na quinta coluna8 de maio, na terceira coluna Correio Paulistano, 30 de outubro de 1908, na sexta coluna e 15 de dezembro de 1908, na última coluna).

Participou da Exposição Nacional e obteve a medalha de ouro na seção de “Photographia” (Commercio de São Paulo, 27 de novembro de 1897, na quarta coluna, sob o título “Notas e Notícias”, e Almanak Laemmert, 1909).

1909 – Guilherme Gaensly estava na folha de pagamento da secretaria de Agricultura de São Paulo (Correio Paulistano, 13 de julho de 1909, na penúltima coluna).

1910 – Iniciou a produção de um novo conjunto de 50 imagens de São Paulo no formato postal, posteriormente conhecida como a série B.

1911 - O naturalista Hermann von Ihering (1850-1930), que dirigiu o Museu Paulista entre 1894 e 1916, pediu à Diretoria de Terras, Colonização e Imigração um coleção de fotografias dos núcleos coloniais “ultimamente tiradas pelo dr. Gaensly” (Correio Paulistano, 29 de abril de 1911, na segunda coluna).

Uma coleção de fotografias de Guilherme Gaensly foi um dos prêmios da rifa organizada por artistas em prol das vítimas de uma inundação ocorrida em Santa Catarina e no Paraná (O Paiz, 18 de dezembro de 1911, na última coluna)

c. 1912 – O ateliê de Gaensly mudou-se para a rua Boa Vista, 39 (Almanak Laemmert, 1913).

1915 - Foi publicada no jornal Germania, da comunidade alemã, em 15 de junho de 1914, uma propaganda do ateliê do fotógrafo na rua Boa Vista, 39.

1917 – Gaensly prestou serviços à Prefeitura de São Paulo (Correio Paulistano, 4 de dezembro de 1917, na última coluna).

1922 – Fotografou os participantes do Sínodo Presbiteriano Independente reunido em São Paulo em 24 de maio, um importante evento da igreja presbiteriana. A imagem foi publicada na edição de 2 de março de 1922 na capa do jornal O Estandarte e encontra-se arquivada no Centro de Documentação e História Reverendo Vicente Themudo Lessa.

1925 – Gaensly deixou de trabalhar para a The São Paulo Railway, Light and Power Company Limited.

1927 –  Último registro do funcionamento de seu ateliê na rua Boa Vista, 39, no Almanak Laemmert de 1927.

1928 – Guilherme Gaensly morreu em 20 de junho de pneumonia, em São Paulo.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Fontes:

BURGI, Sergio;DIETRICH, Ana Maria;MENDES,Ricardo. Imagens de São Paulo – Gaensly no acervo da Light 1899 – 1925, organização Vera Maria de Barros Ferraz. São Paulo:Fundação Patrimônio Histórico da Energia de São Paulo, 2001.

Catálogo da Exposição comemorativa da doação do Acervo Brascan ao IMS – Guilherme Gaenly e Augusto Malta: dois mestres da fotografia brasileira no Acervo Brascan. Rio de Janeiro: Instituto Moreira Salles, 2002

FERREZ, Gilberto; NAEF, Weston J.. Pioneer Photographers of Brazil, 1840-1920. New York: Center for Inter-American Relations, 1976.

HANNAVY, John. Encyclopedia of Nineteenth-Century Photography. New York:Taylor and Francis Group, 205.

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002. 408 p., il. p&b.

KOSSOY, Boris. Origens e Expansão da fotografia no Brasil: século XIX. Rio de Janeiro:Funarte, 1980.

KOSSOY, Boris. Realidades e ficções na trama fotográfica. São Paulo : Ateliê Editorial, 2002.

KOSSOY, Boris. São Paulo, 1900. Rio de Janeiro:Editora Kosmos, 1988.

KOSSOY, Boris; FERNANDES JUNIOR, Rubens;SEGAWA, Hugo. Guilherme Gaensly. São Paulo:Cosac Naify, 2011.

LAGO, Bia Corrêa do;LAGO, Pedro Corrêa do. Os Fotógrafos do Império. Rio de Janeiro: Capivara, 2005. 240p.:il

LIMA, Solange Ferraz de. São Paulo na virada do século. As imagens da razão urbana: a cidade nos álbuns fotográficos de 1887 a 1919. São Paulo:Universidade de São Paulo, 1995.

OLSZEWSKI FILHA, Sofia. A fotografia e o negro na cidade de Salvador, 1840 – 1914. Salvador:EGBA, Fundação Cultural do Estado da Bahia, 1989.

Revista Carta Capital

Site da Enciclopédia Itaú Cultural

Site do Instituto Moreira Salles

TEIXEIRA, Cid. Professores de daguerreotipia: eles deixaram a Imagem do Senhor-de-Engenho e Sinhazinhas. Jornal da Bahia, 10 e 11 de novembro de 1963.

TURAZZI, Maria Inez. Poses e trejeitos: a fotografia e as exposições na era do espetáculo: 1839/1889. Prefácio Pedro Karp Vasquez. Rio de Janeiro: Funarte. Rocco, 1995. 309 p., il. p&b. (Coleção Luz & Reflexão, 4). ISBN 85-85781-08-4.

VASQUEZ, Pedro. Mestres da fotografia no Brasil: Coleção Gilberto Ferrez. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 1995.

Para a elaboração dessa cronologia foi realizada uma ampla pesquisa em inúmeros jornais da Hemeroteca da Biblioteca Nacional.

O editor e fotógrafo suíço Georges Leuzinger (1813 – 1892)

Retrato de George Leuzinger por Insley Pacheco, c. 1863

Retrato de Georges Leuzinger por Insley Pacheco, c. 1863 / Acervo IMS

Georges Leuzinger (1813-1892) nasceu em Mollis, cidade do cantão de Glarus, na Suíça, e foi um dos mais importantes fotógrafos e difusores para o mundo da fotografia sobre o Brasil no século XIX, além de pioneiro das artes gráficas no país. Grande empreendedor, montou um sofisticado e diversificado complexo editorial, a Casa Leuzinger, que se tornaria um polo de publicações e de produções fotográficas, alçando o Brasil ao mesmo nível da produção europeia do setor.

A Casa Leuzinger era formada por oficinas de litografia, encadernação e fotografia, além de papelaria, tipografia e estamparia de livros e gravuras. Foi referência em artes gráficas, impressão e divulgação de gravuras e fotografias.  Além de produzir suas próprias imagens, o estabelecimento comercializava obras de fotógrafos como Marc Ferrez (1843 – 1923) e Albert Frisch (1840 – 1918) , entre outros.

Como fotógrafo, Leuzinger realizou, durante a década de 1860, apenas cerca de 20 anos após a invenção da daguerreotipia, um importante e pioneiro trabalho de documentação do Rio de Janeiro, incluindo cenas urbanas, vistas de Niterói, da Serra dos Órgãos e de Teresópolis.

Georges Leuzinger chegou ao Rio de Janeiro, em 1832, aos 19 anos, falando apenas alemão, para trabalhar na firma de comissões e exportações de seu tio Jean-Jacques Leuzinger. Foi, em 1840, quando a firma de seu tio faliu, que ele iniciou seu próprio negócio. Nesse mesmo ano, em 27 de novembro, casou-se com Anne Antoinette du Authier (1822-1898), conhecida como Eleonore, na igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro. O casal teve 13 filhos.

Em 1845, a Casa Leuzinger publicou o Panorama circular da baía de Guanabara, em 6 partes, com litografias do francês Alfred Martinet (1821 – 1875). São as primeiras estampas por ele editadas. Leuzinger editou também vários jornais em alemão redigidos, segundo Ernesto Senna (1858 – 1913) em O velho commercio do Rio de Janeiro, de 1908, “por alguns revolucionários e socialistas que a revolução de 1848 havia feito fugir da Europa”. Ainda, segundo este autor, encarregou alguns desses forasteiros, que muitas vezes eram também artistas, de produzir imagens do Brasil e de seus costumes populares. Essas imagens eram adquiridas pelos estrangeiros que passavam pelo Brasil.

 

Ernesto Senna / O Rio de Janeiro do meu tempo, de Luiz Edmundo

Ernesto Senna / O Rio de Janeiro do meu tempo, de Luiz Edmundo

 

Na década de 1860, a Casa Leuzinger criou uma seção de fotografia, provavelmente dirigida por Franz Keller-Leuzinger (1835-1890), que era casado com uma das filhas de Leuzinger, Sabine Christine. Segundo Pedro Vasquez, Leuzinger foi “o primeiro marchand de fotografias do Brasil. Isso no sentido de distribuidor de fotografias e não no sentido moderno que damos ao termo, de galerista”. Possivelmente, o jovem Marc Ferrez (1843-1923) recebeu seus primeiros ensinamentos de fotografia de Franz Keller, na Casa Leuzinger. Em 1867, o trabalho do ateliê fotográfico de Leuzinger ganhou uma Menção Honrosa na Exposição Universal de Paris, com um panorama tomado da ilha das Cobras. Foi a primeira premiação internacional do Brasil em fotografia. No mesmo ano, Franz Keller, seu genro, e Joseph Keller, pai de Franz, foram encarregados pelo governo brasileiro para fazer os estudos preparatórios para a construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré. Leuzinger enviou, com eles, o fotógrafo alemão Christoph Albert Frisch (1840 – 1918), que trabalhava em seu ateliê. Dois anos depois, a Casa Leuzinger publicou o catálogo Resultat d’une expédition phographique sur le Solimões ou Alto Amazonas et Rio Negro, com as fotografias produzidas pelo fotógrafo alemão Christoph Albert Frisch (1840 – 1918) durante essa viagem à Amazônia.

O Catálogo da Exposição de História do Brasil, especialmente editado por Leuzinger para o evento realizado entre 1881 e 1882 pela Biblioteca Nacional, foi considerado pelo historiador José Honório Rodrigues (1913-1987) “o maior monumento bibliográfico da história do Brasil até hoje erguido”. Outros importantes trabalhos que editou foram uma série de fotografias da Amazônia de autoria do fotógrafo alemão Albert Frisch, o álbum Rio de Janeiro et ses environs, c. 1868, Caminho de Ferro de D. Isabel, 1875, dentre dezenas de outros.

 

 

 

Acessando o link para as fotografias de Georges Leuzinger disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Cronologia de Georges Leuzinger (1813 – 1892)

 

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Georges Leuzinger. Folha de rosto do Álbum Rio de Janeiro e seus Arredores, c. 1868 / Acervo IMS

 

1813 – Georg Leuzinger nasceu, em 31 de outubro, no cantão de Glarus, na cidade suíça de Mollis, filho de Georg Leuzinger e Sabine Laager. Posteriormente, já no Brasil, adotou para seu nome a grafia francesa Georges.

1817 - Nasceu o único irmão de Leuzinger, Johannes, em 31 de dezembro.

1822 – Nasceu em Saint-Léonard, na França, a futura esposa de Georges Leuzinger, Anne Antoinette du Authier (1822-1898), filha do visconde Du Authier e de Marie-Anne Mounier. Curiosamente, era chamada de Eleonore pela família.

1832 – Em 30 de dezembro, sozinho, falando apenas alemão e com 19 anos, Leuzinger desembarca no Rio de Janeiro, após uma viagem de 54 dias desde o porto de Havre. No Diário do Rio de Janeiro, 2 de janeiro de 1833, terceira coluna, foi noticiada a chegada Bergantim Francez Les Drigas, que trouxe ao Brasil 56 suíços e oito franceses. Vem para trabalhar na Leuzinger & Cia, firma de exportação e importação que pertencia a seu tio, Jean-Jacques Leuzinger. Links para notícias de negócios realizados pela firma do tio: Diário de Rio de Janeiro, 3 de fevereiro de 1837, na primeira coluna, sob o título “Entradas no dia 31″; O Paquete do Rio, de 27 de maio de 1837, terceira coluna, sob o título “Entradas do dia 26 de maio”; Pharol do Imperio, de 20 e julho de 1837, sob o título “18 de julho – De portos estrangeiros”; O Sete d´abril, de 14 de março de 1839, na primeira coluna).

1839 – Eleonore, futura esposa de Leuzinger, veio morar no Brasil com a irmã, a baronesa de Geslin, dona  do Colégio de Meninas Francês, Português, no Rio de Janeiro. Posteriormente, Eleonore lecionou e dirigiu o estabelecimento.

1840  A firma do tio de Leuzinger foi liquidada.

Leuzinger comprou do também suíço Jean Charles Bouvier a papelaria e encadernação “Ao Livro Encarnado”, na rua do Ouvidor, 36, e abriu seu próprio negócio, em 1º de julho (Jornal do Commercio, 22 de julho de 1840, na terceira coluna). Ao longo das décadas seguintes, com a ampliação de seus negócios, tornou-se proprietário das seguintes firmas: Estamparia de G.Leuzinger, Litografia de G. Leuzinger e Officina Photographica de G.Leuzinger. Reunidas sob a marca G. Leuzinger, eram conhecidas como Casa Leuzinger.

Em 24 de novembro, Leuzinger e Eleonore se casaram, na igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro. O casal, entre 1842 e 1862, teve 13 filhos: Sabine Christine (1842-1915), Anne Marie (1843-1911), Georges Henri (1845 -1908), Mathilde (1846-?), Eugenie (1847-?), Jean Edmond (1848-1916). Victor Ulrich (1849-1877), Léonie Emilie (1851-?), Gabrielle Marie (1853-1869), Paul Alphonse (1855-1927), Elise Georgianne (1856-1927), Georges (1858-1905), e Jules Adolf (1862-1889).

Anunciou a venda de “álbuns, pastas e carteiras de veludo e marroquim dourado, do gosto mais moderno de Paris; caixinhas ricas, contendo papéis diversos com cercaduras pintadas, para bilhetes de convites e cartas para senhoras, com todos os pertences de escrever e outros para pintura e desenho” (Jornal do Commercio, de 28 de dezembro de 1840, na terceira coluna).

1841- Anúncio da Leuzinger, com o endereço da rua do Ouvidor, 36, sobre a venda da Galeria Contemporânea Brasileira ou Colecção de Trinta Retratos de Brasileiros Célebres, desenhados e publicados pelo pintor e fotógrafo francês radicado no Rio de Janeiro, François-René Moreau (1807-1860) (O Despertador, 7 de outubro de 1841, na segunda coluna, sob o título “Annuncios”).

1842 - Leopoldo de Geslin, provavelmente o barão de Geslin, casado com a irmã de Leuzinger, tornou-se seu sócio (Jornal do Commercio, de 10 de maio de 1942, na primeira coluna sob o título “Objectos diversos”). Poucos meses depois, a sociedade terminou (Jornal do Commercio, de 5 de agosto de 1842, na terceira coluna).

1845 – Com litografias do francês Alfred Martinet (1821 – 1875), foram  publicadas as primeiras estampas editadas por Leuzinger, o Panorama circular da baía de Guanabara ( Jornal do Commercio, de 5 de março de 1845, na terceira coluna).

1846 – Leuzinger comprou a estamparia que pertencia a Eduardo Hulsemann (Jornal do Commercio, de 16 de janeiro de 1846, na primeira coluna).

1849 - O único irmão de Leuzinger, Johanes, mudou-se para Muscatine, no estado de Iowa, nos Estados Unidos.

Em parceria com o gravador (abridor) alemão R. Bollenberg, Leuzinger inaugurou uma oficina de estamparia. Oferecia, assim, dois serviços: o da “abrição”, que é a gravação da chapa em metal, e a sua impressão, função da estamparia (Jornal do Commercio, de 12 de julho de 1849, na segunda coluna).

Leuzinger publicou três projetos editoriais: um panorama da cidade, tomado do Corcovado em três partes; um conjunto de paisagem natural e outro de vistas da cidade. Este último foi impresso pela Maison Lemercier, em Paris.

1852 – Leuzinger comprou do francês Jean-Sébastian Saint-Amand uma tipografia, que ficava na rua São José, 64 (Jornal do Commercio, de 3 de novembro de 1852, na primeira coluna).

1853 - Leuzinger comprou uma oficina de litografia.

A Casa Leuzinger publicou o periódico semanal O Emigrado Alemão – Órgão para a colonização, Literatura, Ciências e Política  (Jornal do Commercio, de 18 de junho de 1853, na última coluna). 

A partir de daguerreótipos, Leuzinger publicou um conjunto de litografias da cidade do Rio de Janeiro. Anunciou no Jornal do Commercio, de 24 de dezembro de 1853, que as imagens poderiam ser “entregues em Paris, Londres, Hamburgo e Lisboa, conforme a vontade dos subscritores” (no topo da última coluna).

1854 - Imprimiu o periódico Courrier du Brésil, 5 de novembro de 1854..

1855 – Nasceu o décimo filho de Leuzinger, Paul, que teve como padrinho o pintor, escritor e jornalista dinamarquês Paul Harro-Harring (1798–1870)*, que foi um dos maiores ativistas e revolucionários europeus do século XIX. Era amigo de Leuzinger e esteve várias vezes no Brasil: em 1840, para denunciar a violência da escravidão; em 1842 e entre os anos de 1854 e 1855 como refugiado político (Correio Mercantil, de 21 de outubro de 1855, na terceira coluna, sob o título “Saíram ontem desse porto”) .

1856 - Foi aberta a oficina para escrituração da Casa Leuzinger.

1857 – Em dezembro, passou a imprimir o periódico Rio Commercial Journal.

1858 – Segundo registrado no volume XI dos Anais da Biblioteca Nacional, nesse ano, Leuzinger importou dos Estados Unidos “os primeiros prelos e tipos americanos, com que operou uma completa transformação na indústria tipográfica brasileira” (Annaes da Biblioteca Nacional, volume XI, de 1883).

1861 - Seus filhos Edmond e Victor foram estudar na Basiléia, na Suíça.

Leuzinger participou da Exposição Nacional com dois trabalhos na classe “Impressão, encadernação e objetos de escritório”. Recebeu a medalha de prata referente a “Livros grandes de encadernação”.

1862 – Leuzinger participou, pela primeira vez, de uma mostra internacional, a Exposição Universal de Londres.

Após  temporada de estudo, seu filho mais velho, Georges Henri, retornou da Europa e foi trabalhar na empresa do pai. Seria o gerente da Casa Leuzinger por mais de 40 anos.

Leuzinger ganhou a medalha de prata na categoria “Indústria fabril e manual”, da Exposição Nacional (Correio da Tarde, de 16 de março de 1862, na quinta coluna, sob o título “Collaboração”).

1865 – Foi aberto o ateliê de fotografia da Casa Leuzinger, especializado em “vistas da cidade, Tijuca, Petrópolis, Teresópolis e rio Amazonas”, como se lê no verso de uma de suas cartes de visite.

Em 1865 montou então Georges Leuzinger um completo ateliê fotográfico, com todos os aparelhos necessários para viagens para o interior do Brasil, tendo para esse fim contratado um habilíssimo artista fotógrafo para dirigi-lo, que em companhia de vários auxiliares fizeram excursões por essa capital, Petrópolis, Teresópolis, etc., tirando fotografias de tudo o que de mais interessante se encontra na pujante natureza daquelas blíssimas regiões“.

Ernesto Senna em O Velho Comércio do Rio de Janeiro

Algumas obras apontam que seu futuro genro, Franz Keller, trabalharia em seu ateliê fotográfico e que teria sido professor, no ateliê, do fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), recém chegado da França. Mas esses fatos nunca foram comprovados. Na verdade, durante a década de 1860, Keller ficou bastante ocupado com trabalhos na área de engenharia que realizou com seu pai, o também engenhero Joseph Keller.

1865 a 1875 – Nesse período, Leuzinger realizou a maior e mais importante parte de sua produção fotográfica, que pode ser dividida em cinco séries principais: panoramas e paisagens da cidade do Rio de Janeiro e de seu entorno imediato, vistas de Niterói, vistas da Serra dos Órgãos de Teresópolis e Petrópolis, documentação botânica e documentação etnográfica, botânica e paisagística da região amazônica.

1866 – Seus filhos, Victor e Edmond, já estavam no Brasil trabalhando em seu ateliê fotográfico.

De 19 de outubro a 16 de dezembro de 1866, realizou-se a II Exposição Nacional. A fotografia apareceu pela primeira vez como categoria específica, separando-se do grupo destinado às Belas Artes. Leuzinger ganhou a medalha de prata na categoria “Paisagem”, com nove vistas da cidade e arredores (Semana Illustrada, de 18 de novembro de 1866). Seu trabalho chamou a atenção do pintor Victor Meirelles (1833-1903) que comentou:

“Os trabalhos fotográficos desse senhor primam pela nitidez, vigor e fineza dos tons e também por uma cor muito agradável. Pode-se dizer desses trabalho, que são perfeitos, pois que representam fielmente com todas as minudências os diversos lugares pitorescos de nosso característico país. Algumas provas são obtidas com tanta felicidade que parece antes um trabalho artisticamente estudado e que neste ponto rivalizam com a mais perfeita gravura em talhe doce; direi que estas provas poderiam perfeitamente servir de estudo aos artistas que se dedicam a arte bela da pintura de paisagens. As formas são ali reproduzidas com toda a fidelidade da perspectiva linear, e o que sobretudo torna-se ainda mais digno de atenção é a perspectiva aérea, tão difícil de obter-se na fotografia sem grande alteração.

Aquela gradação dos planos que tão bem se destacam entre si e vão gradualmente desaparecendo no horizonte até o último é obtida de modo a não ter-se mais que desejar, sendo nesta parte notáveis as seguintes vistas:

Gavia do lado da Tijuca, Vale do Andarahy, Montanha dos Órgãos vista da barreira, Vista da Praia Grande, A planície abaixo da cascata na Tijuca, O rochedo de Quebra Cangalhas, Panorama da cidade do Rio de Janeiro, Montanha dos Órgãos do lado de Teresópolis, O Garrafão, e muitas outras que deixaremos de mencionar”.

1867 -Sua filha Sabine Christine  (1842-1915) casou-se com Franz Keller (1835-1890), que passou a assinar Franz Keller-Leuzinger.

Franz e seu pai, o também engenheiro Joseph Keller, foram encarregados pelo governo brasileiro de fazer os estudos preparatórios para a construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré. Leuzinger enviou, com eles, o fotógrafo alemão Christoph Albert Frisch (1840 – 1918), que trabalhava em seu ateliê. Partiram em 15 de novembro (Diário do Povo, de 15 de novembro de 1867, na primeira coluna).

Albert Frisch acompanhou os engenheiros somente até Manaus … percorreu 400 léguas pelo rio Amazonas e seus afluentes durante 5 meses…, num barco acompanhado por dois remadores, desde Tabatinga até Manaus. Produziu, na ocasião, uma pioneira série de 98 fotografias com os primeiros registros que chegaram até nós de índios brasileiros da região, além de aspectos de fauna e flora e de barqueiros de origem boliviana, que atuavam como comerciantes itinerantes nos rios amazônicos. Segundo o livro de Ernesto Senna, O velho commercio do Rio de Janeiro, a expedição fotográfica de Frisch à Amazônia foi fruto de uma solicitação feita pelo suíço Louis Agassiz (1807 – 1873) a Leuzinger.

Satisfazendo ao pedido de Agassiz, fez Leuzinger tirar vistas até Tabatinga, na fronteira do Amazonas com a República do Peru, vistas que serviram não só para os trabalhos científicos daqule sábio, como também para ilustrações europeias. Quando o engenheiro Keller foi em comissão explorar os rios Madeira e Mamoré, Georges Leuzinger mandou um fotógrafo d casa acompanhar a expedição, que trouxe depois daquelas incomparáveis regiões graande cópia de clichês, da flora, da fauna, de paisagens, e fotograafias de silvícolas e de suas tabas, aldeamentos, instruentos, armas, etc. Estas coleções, de graande valor para estudos etnográficos, eram muito interessantes sob qualquer ponto de vista e muito procuradas por viajantes estrangeiros”.

Agassiz havia, entre 1865 e 1866, comandado a Comissão Thayer no Brasil, que percorreu boa parte do território brasileiro entre o Rio de Janeiro e a Amazônia, viagem que deu origem ao livro A journey in Brazil, editado em Boston, em 1868. A comissão foi financiada pelo empresário e filantropo norte-americano Nathaniel Thayer, Jr. (1808-1883), ex-aluno de Agassiz no Museu de Zoologia Comparada, em Harvard.

Vale lembrar que Charles Frederick Hartt (1840 – 1878), o futuro chefe da Comissão Geológica do Império (1875 – 1878), integrada pelo fotógrafo Marc Ferrez (1843-1923), participou da Comissão ou Expedição Thayer – foi a primeira vez que esteve no Brasil.

Leuzinger adquiriu a loja número 33 da rua do Ouvidor, posteriormente renumerada para 31, onde passou a funcionar sua papelaria.

O trabalho do ateliê fotográfico de Leuzinger ganhou uma Menção Honrosa na Exposição Universal de Paris, com um panorama tomado da ilha das Cobras. Foi a primeira premiação internacional do Brasil em fotografia.

O imperador Pedro II (1825 – 1891) pediu a Leuzinger que fotografasse o quadro Os funerais de Atahualpa, do pintor peruano Luiz Montero (1826-1869), que estava fazendo uma exposição no Rio de Janeiro (Jornal do Commercio, de 1º de setembro de 1867, sob o título “Gazetilha”, na sexta coluna).

1869 – A filha de Leuzinger, Gabrielle Marie (1853 – 1869), faleceu em 23 de abril de 1869 (Jornal do Commercio, 29 de abril de 1869, última coluna).

Após sua morte, ela estava quase sorridente, uma figura de anjo e tão branca quanto os lençóis de seu leito. Franz Keller fez seu retrato de perfil para nosso espanto o perfil perfeito de Mathilde quando tinha sua idade, 16 anos, 6 dias e 21 horas e meia” (Carta de Georges Leuzinger para seu filho Paul, que estava vivendo na França, de 2 de junho de 1969).

A obra Flora Brasiliensis, iniciada por Carl Friedrich Phillip von Martius (Erlanger, Alemanha, 1794 – Munique, Alemanha, 1868), renomado naturalista do século XIX, e concluída pelos também alemães August Wilhelm Eichler (1839 – 1887) e Ignatz Urban (1848 – 1931), com a ajuda de 65 especialistas de vários países, foi publicada entre 1840 e 1906. A imagem Silva Montium Serra dos Orgâos Declivia Obumbrans, in Prov. Rio de Janeiro, publicada no fascículo de 1869, foi baseada em uma fotografia de Leuzinger.

 

 

Publicação do catálogo Resultat d’une expédition phographique sur le Solimões ou Alto Amazonas et Rio Negro, com as fotografias produzidas pelo fotógrafo alemão Christoph Albert Frisch (1840 – 1918) durante sua viagem pela Amazônia, em 1867.

 

 

1872 – A Casa Leuzinger estava em seu auge. Já tinha recursos como 19 mil quilos de tipos americanos para impressão, um motor a gás com potência de quatro cavalos e dez prelos mecânicos, além de empregar 50 funcionários (Annaes da Biblioteca Nacional, volume XI de 1883).

Em julho, Franz Keller (1835-1890) estava na Suíça.

Em 1º de novembro, concedeu aos três filhos mais velhos a sociedade na Casa Leuzinger, passando a firma a se chamar G. Leuzinger & Filhos (Jornal do Commercio, de 8 de maio de 1873, na segunda coluna).

1873 – Leuzinger voltou pela primeira vez à Europa.

A Casa Leuzinger  ocupava um prédio de três andares da rua Sete de Setembro, 35, além do segundo andar do número 37 da mesma rua. Nesses endereços funcionavam as oficinas de pautação, encadernação, douração, e livros para escrituração. A tipografia continuava na rua do Ouvidor, 36.

Com dois panoramas litografados do Rio de Janeiro, Leuzinger participou da Exposição Nacional. Ganhou Menção Honrosa na Exposição Universal de Viena nas duas categorias em que enviou trabalhos: “Fotografia” e “Livros de contabilidade e encadernação”.

1874 – Seu genro e funcionário, Franz Keller (1835-1890) que já havia retornado à Alemanha, publicou o livro ilustrado Do Amazonas ao Madeira (Jornal do Commercio, de 31 de janeiro de 1874, na última coluna).

 

 

Polêmica em torno da vitória de Leuzinger em uma concorrência para a impressão de trabalhos da repartição geral de estatística (Jornal do Commércio, 1º de setembro, na última coluna; dois artigos no dia 2 de setembro, na quinta coluna da primeira página e na terceira coluna da segunda página; de 3 de setembro, na última coluna; de 4 de setembro, na sexta coluna; e de 5 de setembro, na terceira coluna).

Provavelmente nesse ano, Leuzinger imprimiu o Censo Geral do Império, de 1872, o primeiro da história do Brasil.

1875 – Seu filho Edmond casou-se com Leocádia de Faria e passou a trabalhar na firma do sogro, a Faria, Cunha e Cia.

A Casa Leuzinger participou da IV Exposição Nacional com um álbum composto de quatro fotogravuras impressas pela Casa Goupil, de Paris, e com fotografias de índios e paisagens da Amazônia.

1876 – A Casa Leuzinger participa da Exposição Universal da Filadélfia com material de encadernação. Imprime o primeiro volume dos Anais da Bibliotheca Nacional .

1878 a 1879 - Publicou O Besouro, jornal que trazia litografias impressas a vapor por Ângelo Agostini (1843 – 1910) e Paul Théodore Robin (? – 1897), a maioria de autoria do português Bordalo Pinheiro(1846 – 1905).

1881 – Para preservar seu trabalho como editor de estampas, Leuzinger doou para a Seção de Iconografia da Biblioteca Nacional um conjunto de 114 imagens de gravuras e desenhos.

No Rio Grande do Sul, a Casa Leuzinger participou da Exposição Provincial Brasileira-Alemã.

1882 – Foi realizada a Exposição Continental de Buenos Aires, com a participação da Casa Leuzinger.

1885 - Leuzinger participou da Exposição Internacional de Antuérpia. Foi fundada, em 23 de novembro, a Sociedade Beneficente dos Empregados da Casa Leuzinger.

1889 – A Casa Leuzinger participou da Exposição Universal de Paris.

1892 – Georges Leuzinger morreu em 24 de outubro (Gazeta de Notícias, 25 de outubro de 1892, na quinta coluna e Revista Illustrada, novembro de 1892, na terceira coluna). A família agradeceu às manifestações de pesar (O Tempo, 27 de outubro de 1892, no topo da quarta coluna).

1898 – Morte de Eleonore Leuzinger (Gazeta de Notícias, de 18 de outubro de 1898, no topo da quinta coluna).

Para a elaboração dessa cronologia, a Brasiliana Fotográfica pesquisou em várias fontes, principalmente no Cadernos de Fotografia Brasileira – Georges Leuzinger, do Instituto Moreira Salles, e em diversos jornais da Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

*Para conhecer mais sobre Paul Harro-Harring, acesse o artigo Paul Harro-Harring, um viajante abolicionista, publicado em 18 de outubro de 2013, na Brasiliana Iconográfica.

 

Bibliografia

Cadernos de Fotografia Brasileira – Georges Leuzinger, IMS. Rio de Janeiro: Bei Comunicação, junho de 2006.

COSTA FERREIRA, Orlando da. Imagem e letra: introdução à bibliologia brasileira: a imagem gravada. São Paulo: Edusp, 1994.

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002. 408 p., il. p&b.

LAGO, Bia Corrêa do;LAGO, Pedro Corrêa do. Coleção Princesa Isabel: fotografia do século XIX. Rio de Janeiro: Capivara, 2008.432p.:il., retrs.

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MEIRELLES, Victor. “Photographia” In BRASIL. Exposição Nacional. Relatório da Segunda Exposição Nacional de 1866, publicado […] pelo Dr. Antonio José de Souza Rego, 1o secretário da Commissão Directora. Rio de Janeiro: Typ. Nacional, 1869, 2ª parte, pp. 158-170

SANSON, Maria Lucia David de; AIZEN, Mario; VASQUEZ, Pedro. O Rio de Janeiro do fotógrafo Leuzinger 1860-1870. Rio de Janeiro: Editora Sextante Artes, 1998.

SENNA, Ernesto. O Velho Comércio do Rio de Janeiro. 2ª edição. Rio de Janeiro: G Ermakoff, 2006.

TURAZZI, Maria Inez. Poses e trejeitos: a fotografia e as exposições na era do espetáculo – 1839/1889 / Maria Inez Turazzi – Rio de Janeiro: Rocco, 1995. 309p. : il

VASQUEZ, Pedro. O Brasil na fotografia oitocentista/ [pesquisa e texto]Pedro Karp Vasquez; [reproduções fotográficas Cesar Barreto, Rosa Gauditano].–São Paulo: Metalivros, 2003.