A Fonte Adriano Ramos Pinto por Guilherme Santos e Marc Ferrez

A Brasiliana Fotográfica destaca três fotografias estereoscópicas da Fonte Adriano Ramos Pinto – a Fonte da Juventude: uma produzida pelo fotógrafo amador Guilherme Santos (1871 – 1966) e duas por Marc Ferrez (1843 – 1923). A fonte foi inaugurada pelo presidente Rodrigues Alves (1848 – 1919), em 24 de fevereiro de 1906, no jardim da Glória (O Paiz, 25 de fevereiro de 1906, primeira coluna).

 

 

 

Estava localizada onde havia o Mercado da Glória, demolido em 1904 (Gazeta de Notícias, 7 de maio, quarta coluna).

 

 

Acessando o link para as fotografias estereoscópicas da Fonte Adriano Ramos Pinto disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá visualizar e magnificar as imagens.

 

“Objetivamente, a estereoscopia consiste em pares de imagens de uma mesma cena que, vistas simultaneamente num visor binocular – o estereoscópio-, produzem a ilusão de tridimensionalidade. As vistas estereoscópicas, também conhecidas como estereografias ou estereogramas, podem ser produzidas a partir de diferentes tipos de imagens como desenhos, gravuras ou fotografias, sendo esta última a forma que ganhou maior popularidade”.

Maria Isabela Mendonça dos Santos

 

Marc Ferrez (1843 – 1923) foi um brilhante cronista visual das paisagens e dos costumes cariocas da segunda metade do século XIX e do início do século XX. Sua vasta e abrangente obra iconográfica se equipara a dos maiores nomes da fotografia do mundo. Estabeleceu-se como fotógrafo com a firma Marc Ferrez & Cia, em 1867, na rua São José, nº 96, e logo se tornou o mais importante profissional da área no Rio de Janeiro. Cerca de metade da produção fotográfica de Ferrez foi realizada na cidade e em seus arredores, onde registrou, além do patrimônio construído, a exuberância das paisagens naturais.

O fotógrafo amador Guilherme Antônio dos Santos (1871 – 1966) era um entusiasta da fotografia estereoscópica, tendo sido um dos pioneiros dessa técnica no Brasil, ao adquirir, em 1905, na França, o Verascope, um sistema de integração entre câmera e visor, que permitia ver imagens em 3D, produzidas a partir de duas fotos quase iguais, porém tiradas de ângulos um pouco diferentes. Eram impressas em uma placa de vidro e reproduziam a sensação de profundidade de maneira bem próxima da visão real. Guilherme Santos, cuja produção mais intensa ocorreu entre 1910 e 1958, registrou a paisagem, o cotidiano e os hábitos do carioca.

 

Breve história da Fonte Adriano Ramos Pinto

 

A inauguração da fonte que, como já mencionado, contou com a presença do presidente da República, Rodrigues Alves (1845 – 1919), aconteceu dentro do contexto da reforma urbana realizada no Rio de Janeiro pelo prefeito Francisco Pereira Passos (1848 – 1913) – também presente à cerimônia -, que contribuiu fortemente para o surgimento do Rio de Janeiro da Belle Époque. Para sanear e modernizar a cidade, Pereira Passos realizou diversas demolições, conhecidas popularmente como a política do “bota-abaixo”, além de diversas iniciativas de embelezamento. A Fonte Adriano Ramos Pinto foi uma contribuição a esse trabalho.

 

 

 

 

 

Foi doada ao Rio de Janeiro por Adriano e Antônio Ramos Pinto, proprietários da Casa Adriano Ramos Pinto, fundada em 1880, na cidade do Porto, em Portugal, e grande exportadora de vinhos para o Brasil no início do século XX. Foi o poeta Olavo Bilac (1865 – 1918) que fez o agradecimento ao senhor Ramos Pinto em nome da Prefeitura do Rio de Janeiro. O monumento foi encomendado ao escultor parisiense Eugène Thievier (1845 – 1920) e foi realizado, em cerca de nove meses, em uma peça de mármore carrara de 37 toneladas e 7 metros de altura. Nela, três jovens, que representam a Mocidade, aproximam-se de Cupido que está no alto do monumento, personificando o Amor. A montagem foi entregue à casa Jourdan de Paris, o arquiteto Baulain o adaptou às condições de fonte e ele foi  instalado por Franck Smithson. Em seu pedestal está inscrito:

 

Ao Brazil, Adriano Ramos Pinto & Irmão.

 

 

“Porque ofereço um monumento de arte ao Brasil?… Por um simples ato de agradecimento. Os meus vinhos têm naqueles mercados uma aceitação extraordinária e devo reconhecer que isso é mais a obra de simpatia do publico, cujas qualidades de coração admiro, do que dos esforços de minha propaganda. Daí querer eu corresponder a essa gentileza com um sinal bem público perdurável da minha gratidão, afirmando ao mesmo tempo o meu amor pelo Brasil”

Do livro A Fonte Adriano Ramos Pinto, de Ana Filipa Correia

 

 

Houve protestos na ocasião de sua inauguração: alguns alegavam que não passava de uma propaganda para a Casa Adriano Ramos Pinto e outros achavam que os jovens eram apresentados em poses licenciosas (Leitura para Todos, junho de 1906, primeira coluna).

 

 

Encontra-se, desde 1935,  na entrada do Túnel Novo, no lado de Botafogo. Em 1983, a fonte teve sua água cortada. Foi vandalizada, em 2011, e sua restauração custou mais que 100 mil reais. Não foi a primeira vez que a fonte foi vítima de vandalismo (Correio da Manhã, 1º de outubro de 1966, última coluna).

 

 

 

Publicações da Brasiliana Fotográfica em torno da obra do fotógrafo Marc Ferrez 

 

 

O Rio de Janeiro de Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 30 de junho de 2015

Obras para o abastecimento no Rio de Janeiro por Marc Ferrez , de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 25 de janeiro de 2016

O brilhante cronista visual Marc Ferrez (7/12/1843 – 12/01/1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 7 de dezembro de 2016

Do natural ao construído: O Rio de Janeiro na fotografia de Marc Ferrez, de autoria de Sérgio Burgi, um dos curadores da Brasiliana Fotográfica, publicada em 19 de dezembro de 2016

No primeiro dia da primavera, as cores de Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 22 de setembro de 2017

Marc Ferrez , a Comissão Geológica do Império (1875 – 1878) e a Exposição Antropológica Brasileira no Museu Nacional (1882), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica,  publicada em 29 de junho de 2018

Série “O Rio de Janeiro desaparecido” V – O quiosque Chopp Berrante no Passeio Público, Ferrez, Malta e Charles Dunlop, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 20 de julho de 2018

Uma homenagem aos 175 anos de Marc Ferrez (7 de dezembro de 1843 – 12 de janeiro de 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 7 de dezembro de 2018 

Pereira Passos e Marc Ferrez: engenharia e fotografia para o desenvolvimento das ferrovias, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 5 de abril de 2019

Fotografia e ciência: eclipse solar, Marc Ferrez e Albert Einstein, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 

Os 180 anos da invenção do daguerreótipo – Os álbuns da Comissão Geológica do Império com fotografias de Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 19 de agosto de 2019

Celebrando o fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 4 de dezembro de 2019

Uma homenagem da Casa Granado ao imperial sob as lentes de Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 7 de fevereiro de 2020

Ressaca no Rio de Janeiro invade o porão da casa do fotógrafo Marc Ferrez, em 1913, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado 6 de março de 2020

Petrópolis, a Cidade Imperial, pelos fotógrafos Marc Ferrez e Revert Henrique Klumb, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 16 de março de 2020

Bambus, por Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 5 de junho de 2020

O Baile da Ilha Fiscal: registro raro realizado por Marc Ferrez e retrato de Aurélio de Figueiredo diante de sua obra, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 9 de novembro de 2020

O Palácio de Cristal fotografado por Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 2 de fevereiro de 2021

A Estrada de Ferro do Paraná, de Paranaguá a Curitiba, pelos fotógrafos Arthur Wischral (1894 – 1982) e Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 22 de março de 2021

Dia dos Pais – Julio e Luciano, os filhos do fotógrafo Marc Ferrez, e outras famílias, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 6 de agosto de 2021

No Dia da Árvore, mangueiras fotografadas por Ferrez e Leuzinger, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 21 de setembro de 2021

Retratos de Pauline Caroline Lefebvre, sogra do fotógrafo Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 28 de abril de 2022

A Serra dos Órgãos: uma foto aérea e imagens realizadas pelos mestres Ferrez, Leuzinger e Klumb, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 30 de junho de 2022

O centenário da morte do fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 12 de janeiro de 2023

O Observatório Nacional pelas lentes de Marc Ferrez, amigo de vários cientistas, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 29 de maio de 2023

No Dia Mundial do Meio Ambiente, a potente imagem da Cachoeira de Paulo Afonso, por Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 5 de junho de 2023

Os 180 anos de nascimento do fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 7 de dezembro de 2023

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

BENCHIMOL, Jaime Larry. Pereira Passos: um Haussmann tropical. Rio de Janeiro, SMCTT, 1990.

Biblioteca do IBGE

Blog Histórias dos Monumentos do Rio de Janeiro

CORREIA, Ana Felipa. fonte Adriano Ramos Pinto: o Vinho do Porto e a arte da Belle Époque no Rio de Janeiro. Portugal : Editores Adriano Ramos Pinto, 2000.

DEL BRENNA, Giovanna Rosso (org.). O Rio de Janeiro de Pereira Passos: Uma cidade em questão II. Rio de Janeiro:Index, 1985

DE LOS RIOS FILHO, Adolfo Morales. Dois Notáveis Engenheiros: Pereira Passos e Vieira Souto. Rio de Janeiro: Edit

Inventário dos Monumentos – RJ

LENZI, Maria Isabel Ribeiro. Pereira Passos: Notas de Viagens. Rio de Janeiro:Editora Sextante, 2000.

O GLOBO, 3 de novembro de 2011

G1, 23 de outubro de 2012

OLIVEIRA REIS, José de. O Rio de Janeiro e seus prefeitos, evolução urbanística da cidade. vol.3, Rio de Janeiro, Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, 1977.

PINHEIRO, Manoel Carlos; FIALHO JR, Renato. Pereira Passos: vida e obra in coleção Estudos Cariocas. Rio de Janeiro:IPP/Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, 1996.

Monumentos do Rio

SANTOS, Maria Isabela Mendonça. A estereoscopia e o olhar da modernidade in Brasiliana Fotográfica, 29 de maio de 2019.

Veja Rio, 27 de julho de 20169 de janeiro de 2017

WANDERLEY, Andrea C.T. O brilhante cronista visual Marc Ferrez (RJ, 07/12/1843 – RJ, 12/01/1923) in Brasiliana Fotográfica, 7 de dezembro de 2016.

WANDERLEY, Andrea C.T.O fotógrafo amador Guilherme Santos (1871 – 1966) in Brasiliana Fotográfica. 28 de julho de 2016.

 

 

 

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