Nos passos de Oswaldo: imagens das expedições do IOC aos portos do Brasil entre 1911 e 1913

Hoje a Fundação Oswaldo Cruz completa 120 anos e a Brasiliana Fotográfica homenageia a instituição com a publicação de um artigo e de imagens das expedições realizadas por pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz aos portos do Brasil, entre os anos de 1911 e 1913. As fotos estão sob a guarda do Departamento de Arquivo e Documentação da Casa de Oswaldo Cruz, unidade da Fiocruz parceira do portal e responsável pela preservação do patrimônio histórico da Fundação. Hoje, se os aeroportos são as principais vias de entrada de vírus como o Sars-Cov-2, no passado o controle para evitar epidemias começava nos portos marítimos e fluviais. Quem nos conta essa história é Cristiane d’Avila, jornalista do DAD/COC. No final do artigo, estão listados, com links, todos os 25 artigos produzidos pelo Departamento de Arquivo e Documentação da Casa de Oswaldo Cruz para a Brasiliana Fotográfica.

 

Nos passos de Oswaldo: imagens das expedições do IOC aos portos do Brasil em entre 1911 e 1913

   Cristiane d’Avila*

 

 

“Os meios de defesa dos portos da extensa costa brasileira são totalmente ineficientes contra a penetração de moléstias contagiosas vindas do estrangeiro. O serviço sanitário dos portos é verdadeiramente vergonhoso. É imprescindível instalar estações de desinfecção nos portos principais, bem como hospitais de isolamento com laboratórios, indispensáveis para o diagnóstico das moléstias”[1].

As rigorosas medidas sanitárias citadas acima foram pinçadas de uma carta de Oswaldo Cruz escrita em 1905, quando o cientista chefiava a Diretoria Geral de Saúde Pública (DGSP). Em inédita e pioneira expedição científica a portos marítimos e fluviais de Norte a Sul do Brasil, Cruz escreveu, diariamente, dezenas de cartas à esposa Emília da Fonseca Cruz e telegramas a autoridades da época. Em suas missivas, o cientista relatava o que via nos “sertões”[2] e localidades até então quase inabitadas do país.

 

Acessando o link para as 21 fotografias selecionadas sobre as expedições do IOC aos portos do Brasil em entre 1911 e 1913 para esse artigo disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Nessa expedição, que durou mais de 100 dias entre os meses de setembro de 1905 a fevereiro de 1906, Oswaldo Cruz constatou o risco a que estava sujeita a população nas “portas de entrada” do país, os portos marítimos e fluviais. Seu objetivo era combater, principalmente, doenças como malária, peste bubônica e febre amarela, entre outras enfermidades. Era preciso sanear aquelas localidades e também responder positivamente a tratados internacionais. Signatário da 11ª Conferência Sanitária Internacional, assinada em Paris, em 1903, e da Convenção Sanitária entre as Repúblicas Platinas, assinada no Rio de Janeiro, em 1904, o país tinha o compromisso de promover a reforma da organização sanitária das zonas portuárias brasileiras.

A bordo do navio República, Oswaldo Cruz fez o seguinte percurso de inspeção aos portos, partindo do porto do Rio de Janeiro: Cabo Frio (RJ), Vitória (ES); Caravelas, Porto Seguro, Santa Cruz e Salvador (BA); Aracaju (SE); Penedo e Maceió (AL); Tamandaré e Recife (PE), Cabedelo e João Pessoa (PB); Natal, Mossoró e Assu (RN); Camocim e Fortaleza (CE); Amarração (PI), São Luís (MA); Belém, Santarém e Óbidos (PA); e Parintins e Manaus (AM). O propósito foi estabelecer nessas localidades estações de desinfecção e hospitais de isolamento, para debelar moléstias que mortificavam o povo empobrecido do interior.

 

 

“A série não está completa. A última carta disponível foi enviada de São Luís do Maranhão, mas sabemos que Oswaldo Cruz prosseguiu viagem até Manaus e, depois, aos portos do Sul”, explica a pesquisadora do Departamento de Arquivo e Documentação da Casa de Oswaldo Cruz (DAD/COC) Ana Luce Girão, no artigo “A bordo do República: diário pessoal da expedição de Oswaldo Cruz aos portos marítimos e fluviais do Brasil”.

Em segunda etapa da viagem iniciada em janeiro de 1906, o cientista rumou para o Sul a bordo do paquete Santos. Foi quando visitou os portos de Santos, Paranaguá, São Francisco e Rio Grande. Estendeu o itinerário até as capitais do Uruguai, da Argentina e do Paraguai e, em seguida, a Corumbá (MT). Em 28 de fevereiro, depois de passar novamente por Buenos Aires e Assunção, retornou ao Rio de Janeiro[3].

 

 

Infelizmente, não há registro fotográfico sobre essa expedição aos portos marítimos e fluviais do Brasil pela DGSP [4], mas o DAD/COC guarda 29 documentos textuais de Oswaldo sobre a experiência. Além de representarem um minucioso e praticamente único relato da viagem, neles o cientista registra impressões sobre as condições de saúde, arquitetura e topografia das cidades visitadas. Tal qual um etnógrafo, tece observações sobre hábitos e costumes, comportamentos e modos de vestir e falar das elites locais e da população em geral[5].

Esse conjunto documental faz parte da série Correspondência do Fundo Oswaldo Cruz, a qual possui cerca de dois mil itens documentais de tipo textual, iconográfico e cartográfico, com datas-limite situadas entre 1885 e 1953. Para Ana Luce Girão, aí está registrada, com considerável detalhe, a trajetória profissional, intelectual e administrativa do titular.

 

 

As 21 fotos selecionadas para ilustrar este artigo abrangem as expedições científicas de pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) realizadas entre 1911 e 1913. Seguindo os passos do mentor Oswaldo Cruz, Arthur Neiva e Belisário Penna percorreram o norte da Bahia, o sudeste de Pernambuco, o sul do Piauí e Goiás de norte a sul. João Pedro de Albuquerque e José Gomes de Faria dirigiram-se para o Ceará e o norte do Piauí. Adolpho Lutz e Astrogildo Machado desceram o rio São Francisco, de Pirapora a Juazeiro, cruzando também alguns de seus afluentes. Carlos Chagas, Pacheco Leão e  João Pedro Albuquerque inspecionaram boa parte da bacia do rio Amazonas através dos rios Solimões, Juruá, Purus, Acre, Iaco, Negro e o baixo rio Branco.

“Os temas de maior ocorrência no conjunto fotográfico de 1913 são as paisagens rurais e fluviais e os transportes. Rios, barrancos e vegetações emolduram vultos de vapores, gaiolas e embarcações menores, denotando a vastidão do território, a dificuldade de percorrê-lo e a escassa presença humana”[6].

 

 

A partir de documentos da viagem de Oswaldo Cruz em 1905 e das expedições do IOC de 1911 a 1913, pesquisadores da COC produziram os documentários Chagas na Amazônia (1991)[7]Chagas nos rios Negro e Branco (1994)[8]Chagas no Acre e Purus (1997)[9] e Oswaldo Cruz na Amazônia (2002)[10], refazendo as mencionadas viagens e reexaminando questões relativas às condições sanitárias da região amazônica.

 

[1] Trecho extraído de carta de Oswaldo Cruz reproduzida em áudio no documentário Oswaldo Cruz na Amazônia, de Stella Oswaldo Cruz Penido e Eduardo Thielen, produzido pela VideoSaúde Distribuidora da Fiocruz.

[2] Para compreender melhor a expressão ver LIMA, 1998.

[3] Para saber mais, acesse www.oswaldocruz.fiocruz.br

[4] PENIDO, 2007.

[5] Ver em http://basearch.coc.fiocruz.br/index.php/expedicao-aos-portos-maritimos-e-fluviais-do-brasil-pela-dgsp

[6] SANTOS, THIELEN, 1996.

[7] Ver em https://youtu.be/LzYdhNO2EQw

[8] Ver em https://youtu.be/-ungTgViUBw

[9] Ver em https://youtu.be/OCB-wuyX194

[10] Ver em https://portal.fiocruz.br/video-oswaldo-cruz-na-amazonia-revolta-da-vacina

 

*Cristiane d’Avila é jornalista do Departamento de Arquivo e Documentação Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz

 

Fontes:

LIMA, Ana Luce Girão Soares de. “A bordo do República: diário pessoal da expedição de Oswaldo Cruz aos portos marítimos a fluviais do Brasil”. Hist. cienc. saúde-Manguinhos,  Rio de Janeiro ,  v. 4, n. 1, p. 158-167,  June  1997 .   Disponível em https://bit.ly/3d3ZSt8.

LIMA, Nísia Trindade. Missões civilizatórias da República e interpretação do Brasil. Hist. cienc. saude-Manguinhos,  Rio de Janeiro ,  v. 5, supl. p. 163-193,  jul.  1998 .   Disponível em https://bit.ly/2WosQNK.

PENIDO, Stella Oswaldo Cruz. “Carta do editor”. Hist. cienc. saúde-Manguinhos,  Rio de Janeiro ,  v. 14, supl. p. 7-9,  dez.  2007 .   Disponível em https://bit.ly/2yeuzNC.

REBELO, Fernanda. “Entre o Carlo R. e o Orleannais: a saúde pública e a profilaxia marítima no relato de dois casos de navios de imigrantes no porto do Rio de Janeiro, 1893-1907”. Hist. ciênc. saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.20, n.3, jul.-set. 2013, p.765-796.

SANTOS, Fernando Dumas dos; THIELEN, Eduardo. “Revisitando a Amazônia de Carlos Chagas”. Hist. cienc. saúde-Manguinhos,  Rio de Janeiro ,  v. 3, n. 3, p. 523-534,  Nov.  1996 .   Disponível em  https://bit.ly/2YrZd0R.

 

 

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Lista dos 25 artigos produzidos pela Casa de Oswaldo Cruz para publicação na Brasiliana Fotográfica

(agosto de 2017 a maio de 2020)

A apresentação do Departamento Nacional de Saúde Pública na Exposição Internacional do Centenário da Independência – 13/04/2020 – Ricardo Augusto dos Santos, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

 

Cenas da folia em Manaus em 1913 – 28/02/2020 – Cristiane d´Avila, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

 

Trilhos sobre a floresta: imagens da construção da E.F. Madeira-Mamoré – 14/10/2019 – Cristiane d´Avila, Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz

 

As ruínas de Brás de Pina – 30/09/2019 – Ricardo Augusto dos Santos, Pesquisador Titular da Fundação Oswaldo Cruz, Fiocruz

 

O funeral de Teixeira Mendes pela lente de Augusto Malta – 02/08/2019 – Ricardo Augusto dos Santos, Pesquisador Titular da Fundação Oswaldo Cruz, e Marcus Vinícius Rubim Gomes é estagiário na Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

 

A descoberta da doença de Chagas – 14/06/2019 – Simone Petraglia Kropf, historiadora da Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

 

O cotidiano da Manguinhos – 24/04/2019 – Equipe da Fiocruz 

 

As expedições do Instituto Oswaldo Cruz entre 1911 e 1913 – 14/03/2019 – Cristiane d´Avila, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

 

Morro de Santo Antônio – 05/02/2019 – Ricardo Augusto dos Santos, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

 

João Pedro ou João Pedroso? – 11/01/2019 – Ricardo Augusto dos Santos e Francisco dos Santos Lourenço, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

 

Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas: centenário da construção da pesquisa clínica em Manguinho – 21/12/2018 – Dilene Raimundo do Nascimento, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

 

Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas 100 anos: Carlos e Evandro Chagas em retratos de família,  – 27/11/2018 – Aline Lopes de Lacerda, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

 

Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas: 100 anos de pesquisa clínica – 26/10/2018 – Cristiane d´Avila, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

 

O sanitarista Belisário Penna (1868 – 1939, um dos protagonistas da história da saúde pública no Brasil – 28/09/2018 – Ricardo Augusto dos Santos, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

 

Vacinação no Brasil, uma história centenária – 17/08/2018 – Cristiane d´Avila, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

 

A criação de uma vacina para a peste da manqueira, um marco na história da veterinária brasileira e mundial – 21/06/2018 – Cristiane d´Avila, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

 

100 anos do Castelo da Fiocruz: criador e criatura – Renato da Gama-Rosa Costa – 15 /05/ 2018, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

 

100 anos do Castelo da Fiocruz: os pedreiros do castelo da avenida Brasil – Ricardo Augusto dos Santos – 12/04/2018, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

 

Febre amarela: imagens da produção da vacina no início do século XX – Aline Lopes de Lacerda – 23/03/2018, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

 

100 anos do Castelo da Fiocruz: a ocupação da Fazenda de Manguinhos – Cristiane d´Avila – 28/02/2018, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

 

Manguinhos e a cidade do Rio de Janeiro – Equipe da Fiocruz – 19/01/2018, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

 

O cientista Oswaldo Cruz (1872 – 1917), prefeito de Petrópolis – Cristiane d’Avila com a colaboração de Ana Luce Girão, 28/12/2017, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

 

O fotógrafo Joaquim Pinto da Silva, o J. Pinto (1884-1951) e a Fundação Oswaldo Cruz – Ricardo Augusto dos Santos, 16/11/2017, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

 

Manguinhos e os sertões – Equipe da Fiocruz, 09/10/2017 , Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

 

Novos acervos: Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz – Fotografia, Ciência e Saúde Pública – Equipe da Fiocruz, 30/08/2017, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz

100 anos do Castelo da Fiocruz: criador e criatura

No terceiro e último texto publicado na Brasiliana Fotográfica sobre o centenário do Castelo da Fiocruz, o pesquisador Renato da Gama-Rosa, da Fiocruz, uma das instituições parceiras do portal, aborda detalhes sobre a construção do edifício e sobre seu projeto arquitetônico. O Castelo da Fiocruz é o local de trabalho de pesquisadores e técnicos que pesquisam, ensinam ciência e saúde pública; e que também fabricam medicamentos essenciais para a população. Projetado pelo arquiteto Luiz Moraes Junior (1872 – 1955), o edifício começou a ser erguido em 1905 e foi concluído em 1918. Os textos anteriores sobre o tema, publicados pela Brasiliana Fotográfica, foram 100 anos do Castelo da Fiocruz: a ocupação da Fazenda de Manguinhos, da jornalista Cristiane d´Avila, e Os pedreiros do Castelo da avenida Brasil, do pesquisador Ricardo Augusto dos Santos.

 

Os 100 anos do Castelo da Fiocruz: criador e criatura

Renato da Gama-Rosa Costa*

Em novembro de 1918 eram concluídos os últimos trabalhos no edifício-sede do então Instituto Oswaldo Cruz, atual Fundação Oswaldo Cruz. Celebra-se em 2018, portanto, os 100 anos de conclusão do que viria ser um dos mais simbólicos e emblemáticos edifícios da paisagem carioca. Seu projeto e sua construção, entretanto, se iniciaram bem antes. Este texto, apoiado por fotografias e desenhos de época, pretende contar o desenrolar dessa história.

 

 

 

O que é hoje a Fundação Oswaldo Cruz se constituiu a partir do ofício nº 490, de 25 de maio de 1900. Segundo Alberto Taveira (1941), arquivista do Instituto Oswaldo Cruz, em fins do ano anterior, o barão de Pedro Affonso (1845 – 1920), diretor do Instituto Vacínico Municipal, que funcionava na região do Catete, havia proposto ao então prefeito do Rio de Janeiro, Cesário Alvim (1939 – 1903), a instalação de um laboratório soroterápico na Fazenda Municipal de Manguinhos, com o objetivo de preparar soro antipestoso em grande escala. Em dezembro daquele mesmo ano, o barão seguia para Europa para adquirir o material necessário à empreitada. O barão retornou de sua viagem em fevereiro de 1900. Com tal ofício, ficavam autorizadas as obras de conclusão do instituto e também a transferência das instalações, então adaptadas pelo barão na Fazenda de Manguinhos, da alçada municipal para a responsabilidade federal. Nascia, assim, o Instituto Soroterápico Federal. Este tornou-se, em 12 de dezembro de 1907, o Instituto de Patologia Experimental; posteriormente, em 19 de março de 1909, em Instituto Oswaldo Cruz. Sessenta anos depois, tornou-se a Fundação Recursos Humanos para a Saúde e, logo em seguida, pelo decreto 66.624, de 22 de maio de 1970, transformou-se na Fundação Instituto Oswaldo Cruz – Fiocruz -, ou, simplesmente, Fundação Oswaldo Cruz, nome que ostenta até os dias de hoje. É uma das maiores instituições de saúde pública do mundo.

Acessando o link para as fotografias do Castelo da Fiocruz e da Fazenda de Manguinhos apresentadas nesse post e disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas. 

O Instituto de Manguinhos, como também é conhecido, aproveitou as antigas instalações da fazenda de mesmo nome para abrigar os primeiros laboratórios. Esses foram oficialmente inaugurados em 23 de julho de 1900, utilizando salas adaptadas das antigas casas da fazenda, ou seja, espaços acanhados e de funcionalidade limitada. Recém-chegado de Paris, onde havia aprimorado sua formação no Instituto Pasteur, o médico Oswaldo Cruz (1872 – 1917) seria um dos primeiros a trabalhar no instituto comandado pelo barão. Com a exoneração a pedidos do próprio Pedro Affonso, em dezembro de 1902, Oswaldo Cruz assumiria a direção do instituto com a missão de prosseguir com a fabricação de soros e vacinas e atacar as epidemias de peste, febre amarela e varíola que ameaçavam a então Capital Federal. Com sua nomeação, em 23 de março de 1903, para Diretor Geral de Saúde Pública – função equivalente à época ao de ministro da saúde de hoje -, cargo em que ficou até fins de 1909, Oswaldo Cruz conseguiria as verbas necessárias para erguer melhores instalações para seus laboratórios em Manguinhos.

 

 

 

Admirador de uma boa arquitetura, Oswaldo Cruz veria no engenheiro português Luiz Moraes Junior (1872 – 1955), o construtor ideal de seu instituto. Moraes trabalhava nas obras de reforma da Igreja da Penha por convite feito pelo vigário-geral daquela paróquia, o Padre Ricardo, tendo chegado ao Brasil, vindo da cidade de Faro, sul de Portugal, no ano de 1899. As obras duraram de 1900 a 1902, justamente nos primeiros anos de funcionamento das instalações adaptadas das primitivas casas da Fazenda de Manguinhos. Oswaldo Cruz certamente acompanhou com admiração o serviço elaborado por Moraes na Igreja da Penha, durante a convivência de ambos no trajeto do trem no ramal da Leopoldina, que pegavam para se deslocarem para seus respectivos trabalhos. O cientista teria feito o convite para que Luiz Moraes projetasse os novos laboratórios, talvez por estar descontente com os recursos que eram oferecidos pelo barão de Pedro Affonso. Oswaldo Cruz, com a saída do barão, pôde, finalmente, convidar oficialmente Moraes para projetar as novas instalações dos laboratórios, com o desejo de os tornar os mais avançados à época. O que de fato foi feito.

Moraes trabalhou ao longo de 1903 no desenho das novas e modernas instalações do instituto comandado agora por Oswaldo Cruz. O projeto previa a construção do edifício principal; de biotérios para grandes e pequenos animais; de estrebarias; de um pavilhão para estudo da peste e um pavilhão para desinfecção, incineração e garagem, outro para mictórios, e casas de guarda. Desses, apenas os últimos não foram edificados.No lugar de alguns dos pavilhões não construídos seria erguido o pavilhão dos Medicamentos Oficiais, conhecido como Quinino, anos depois.

As verbas chegariam em finais de 1903, permitindo a construção dos pavilhões da estrebaria – a Cavalariça e o da peste – ou Pavilhão do Relógio. Em 1905, começaram as obras de escavação das bases do que seria o edifício principal do instituto, o Castelo de Manguinhos, o Pavilhão Mourisco. Muitos se perguntam até hoje do porquê da escolha dessa linguagem para a sede principal do instituto de Manguinhos.

A linguagem árabe usada por Moraes em Manguinhos seguiu o fenômeno que atingiu a Europa, a partir da década de 1840, principalmente a Espanha e a Inglaterra, como reação ao classicismo vigente, na tentativa de recuperar a memória artística de épocas de um notável esplendor construtivo (Domingo, 1998: 115).  A burguesia europeia do século XIX adotaria, portanto, a linguagem neoárabe com “(…) conotações de evasão, evocação e singularidade social muito importantes, adotando os palácios de Alhambra como principal modelo referencial que suscitara – sempre por meio da decoração – um amplo repertório emocional” (ibidem).

 

 

Imaginando como seria a sede de seu novo instituto, Oswaldo Cruz fez um croqui para Moraes, onde teria desenhado, segundo Henrique Aragão, em estilo bizantino. Depois, segundo ainda Aragão, “ao tratar do assunto com Luiz Moraes, suas preferências encaminharam-se para o estilo mourisco, mais grandioso e mais fortemente evocador de mistérios como convinha à sede de uma instituição destinada a simbolizar a grandeza da ciência e a perscrutar os segredos da vida” (Aragão, 1950: 34).

O livro sobre Alhambra, editado em 1906, por Albert F. Calvert (1872 – 1946), traz desenhos certamente adotados por Moraes em Manguinhos. Esse transcreve os estudos do arquiteto galês Owen Jones (1809 – 1874) sobre as experiências decorativas mouras de Granada, primeiramente publicadas em 1837, em Londres, sobre o título Plans, elevations, sections and details ofthe Alhambra, de Jules Gpoury e Owen Jones, oriundo da biblioteca particular de Oswaldo Cruz e hoje pertencente ao acervo da Biblioteca de Obras Raras da Fiocruz. Além de Alhambra, acreditamos que houve outras duas grandes influências na construção do Castelo da Fiocruz: o Palácio de Montsouris e a sinagoga de Berlim (COSTA, 2014). Acompanhar a evolução dos projetos realizados para o Castelo de Manguinhos pode revelar a influência que Montsouris, Alhambra e Berlim tiveram na configuração do palácio das ciências.

 

 

Segundo o museólogo Luiz Fernando Ribeiro, na justificativa de tombamento do “conjunto arquitetural de Manguinhos” o primeiro esboço, feito pelo próprio cientista imaginou uma “construção de corpo horizontal, com dois bastiões laterais, um central, dezessete janelas e uma grande porta com escada de acesso ao segundo andar”. “Apresentada a ideia ao arquiteto”, prossegue Luiz Fernando, “este executa um trabalho semelhante ao de Oswaldo Cruz, sem as torres laterais, mas já em estilo mourisco. Segue-se a esse projeto um outro, no qual foram inseridas as duas torres” (RIBEIRO, 1980: B), muito semelhante a Montsouris. Erguido como representante da Tunísia na Exposição Universal de 1867, em Paris, o observatório parisiense teria sido visitado algumas vezes por Oswaldo Cruz, durante sua estada no Instituto Pasteur. A configuração final do projeto, de 1908, com cinco pavimentos, teria sido apresentada após, acreditamos, viagens do cientista e do arquiteto à Alemanha. Oswaldo Cruz esteve por duas vezes nesse país na companhia de Moraes para participar das Exposições Internacionais de Higiene: em 1907, em Berlim, ocasião em que o instituto receberia a Medalha de Ouro; e em 1911, em Dresden. “Na maquete exibida na Exposição de Higiene de Berlim, em 1907, o edifício já se apresentava com as duas torres. Mas só em 1908, com a construção em estágio bem adiantado, Moraes confeccionou o projeto definitivo em cinco pavimentos” (Benchimol, 1990: 110).  Certamente na primeira viagem, ambos teriam tido contato com a Sinagoga de Berlim e se inspirado a concluir o projeto do edifício principal.

 

 

Montsouris

Postal do Observatório de Montsouris (antigo Palácio de Bardo) / Acervo particular

 

 

 

 

Em novembro de 1909, o então ministro do Interior, o médico J.J. Seabra (1855 – 1942), autorizou a liberação de recursos para a finalização das obras para Manguinhos. Essas permitiram que o edifício abrisse seus primeiros laboratórios no ano seguinte. Um desses laboratórios, o situado no segundo pavimento, e onde hoje se encontra uma sala expositiva em memória a Oswaldo Cruz, foi ocupado pelo cientista até sua ida, em 1916, para Petrópolis, para tratar sua insuficiência renal, e onde viria a falecer, em 11 de fevereiro de 1917. Entre agosto de 1916 e fevereiro de 1917, Oswaldo Cruz foi prefeito de Petrópolis.

Entre os anos de 1911 e 1913, outro montante de recursos foi liberado para o prosseguimento das obras, segundo Jaime Benchimol. Entretanto, depois de 1914 e até o ano de 1918, a verba para a finalização das obras do Castelo seria custeada com renda própria do Instituto, proveniente da vacina contra a peste da Manqueira (1990: 107). Prossegue Benchimol: “Em 1918 contratavam-se os últimos serviços para o acabamento do edifício” (IDEM: 119), como os vitrais da biblioteca, instalados em novembro. Portanto, podemos concluir que não existe uma data de inauguração do Castelo. Ele foi sendo finalizado conforme as verbas iam chegando. O próprio Oswaldo Cruz usufruiu de uma sala no edifício sem que ele estivesse totalmente concluído. Uma inscrição calcada na pedra em uma das laterais do Castelo indica o nome de seu autor (Luiz Moraes Jr.) e a data de 1908, ocasião em que eram lançadas as bases do projeto final.

 

 

 

 

 

 

A Fundação Oswaldo Cruz, ao longo de 2018, prepara uma série de homenagens para marcar o centenário de finalização do seu edifício-sede.  Os textos apresentados aqui na Brasiliana Fotográfica sobre a efeméride são parte importante desta celebração.

 

*Renato da Gama-Rosa Costa é pesquisador e professor da Casa de Oswaldo Cruz

 

Fontes

ARAGÃO, Henrique. Notícia histórica sobre a fundação do Instituto Oswaldo Cruz. Serviço Gráfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Rio de Janeiro, 1950.

BENCHIMOL, Jaime (org.) Manguinhos do Sonho à Vida: a Ciência na Belle Époque. Casa de Oswaldo Cruz. Rio de Janeiro, 1990.

COSTA, Renato da Gama-Rosa (org.) Caminhos da Arquitetura em Manguinhos. Rio de Janeiro: Casa de Oswaldo Cruz, 2003.

COSTA, Renato Gama-Rosa. Monumentos à Ciência: arquitetura neomourisca, eclética e modernista. In: Iglesias, Fabio; Santos, Paulo Roberto Elian; Martins, Ruth B. (Org.). Vida, Engenho e Arte. 1ed. Rio de Janeiro: Casa de Oswaldo Cruz, 2014.

DOMINGO, José Manuel Rodriguez. La Alhambra de Oriente: larestauraciondel patrimônio monumental hispanomusulmán y el medievalismo islámico. Coloquio Internacional de Historiadel Arte. Universidad Nacional Autónoma de México. México, 1998.

RIBEIRO, Luiz Fernando Fernandes. “Conjunto Arquitetural de Manguinhos”. IN BRASIL. Proc. Nº 1.037-T-80. Pedido de tombamento: Instituto Oswaldo Cruz (Manguinhos). Rio de Janeiro. RJ. 1980.

TAVEIRA, Alberto. Resumo histórico da fundação do Instituto Soroterápico Federal, hoje Instituto Oswaldo Cruz. Manguinhos, 1941.

 

Outros textos sobre o assunto publicados na Brasiliana Fotográfica

100 anos do Castelo da Fiocruz: a ocupação da fazenda de Manguinhos por Cristiane d´Avila

100 anos do Castelo da Fiocruz: os pedreiros do Castelo da Avenida Brasil por Ricardo Augusto dos Santos

Febre amarela: imagens da produção da vacina no início do século XX

“Tema pungente nos noticiários, a febre amarela é precedida de uma longa história de estudos e frentes de combate desde o início do século XX”. É essa história, contada por Aline Lopes Lacerda, historiadora e chefe do Departamento de Arquivo e Documentação da COC/Fiocruz, uma das instituições parceiras do portal, que a Brasiliana Fotográfica traz hoje para seus leitores. As fotografias que ilustram esse texto contemplam o arquivo da Fundação Rockefeller e estão sob a guarda da Casa de Oswaldo Cruz. A maioria dessas imagens foram produzidas pelos próprios médicos e cientistas, nas décadas de 1930 e 1940, em diversos estados brasileiros, registrando aspectos variados das atividades voltadas para o estudo e combate da febre amarela e malária, então duas das principais doenças endêmicas no país.

Segundo o último levantamento sobre a febre amarela divulgado pelo Ministério da Saúde antes da publicação desse artigo pela Brasiliana Fotográfica, entre os dias 1º de julho de 2017 e 20 de março de 2018, foram confirmados no Brasil 1.098 casos da doença, sendo que 340 resultaram em morte.

 

Febre amarela: imagens da produção da vacina no início do século XX

Aline Lopes de Lacerda*

Tema pungente nos noticiários, a febre amarela é precedida de uma longa história de estudos e frentes de combate desde o início do século XX, quando as atividades de pesquisa em laboratório seguiam paralelas às empreitadas para controle e combate ao vetor da doença, o mosquito Aedes aegypti. Segundo Benchimol (2001, p. 125), os anos de 1928 a 1932 foram cruciais em termos de transformações ocorridas na forma de abordagem da doença, contribuindo para isso fatores políticos, científicos, sociais, técnicos, epidemiológicos.

 

 

A descoberta da modalidade silvestre da doença – supunha-se que era essencialmente urbana – eliminou a possibilidade de se erradicá-la do país, o que causou uma reviravolta nos estudos epidemiológicos, com novo direcionamento de métodos já empregados e incorporação de novas estratégias para o controle da doença. Do ponto de vista dos trabalhos em laboratório, a infecção do macaco rhesus pelo vírus da febre amarela na África, em 1928, deflagrou um surto de novas pesquisas e novas técnicas aplicáveis a esses trabalhos, inaugurando um novo modelo de combate à moléstia.

Acessando o link para as imagens relativas à fabricação da vacina da febre amarela disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

Para ilustrar em parte essa história, apresentamos algumas imagens fotográficas sobre a produção da vacina antiamarílica que contemplam o arquivo da Fundação Rockefeller, uma coleção com cerca de 15 mil registros visuais sobre os trabalhos desempenhados a partir da colaboração entre aquela instituição e o Serviço Nacional de Febre Amarela no combate à febre amarela, bem como à malária. Este acervo, sob a guarda da Casa de Oswaldo Cruz, é composto majoritariamente por fotografias produzidas pelos próprios médicos e cientistas, nas décadas de 1930 e 1940, em diversos estados brasileiros, registrando aspectos variados das atividades voltadas para o estudo e combate da febre amarela e malária, então duas das principais doenças endêmicas no país.

Embora presente no país desde 1916, com a vinda das primeiras comissões médicas, para tratar com o governo brasileiro do combate às várias endemias presentes no país, a Missão Rockefeller intensificou e institucionalizou suas atividades no país a partir de 1930, atuando lado a lado com organismos governamentais e mobilizando esforços especialmente no combate à febre amarela, período que coincide com o início da produção de registros visuais sobre os trabalhos e seu arquivamento. Já em 1931 a missão estabeleceu contrato com o governo brasileiro e passou a atuar através do Serviço Cooperativo de Febre Amarela, organizando campanhas em grande parte do país.

Em 1932, o Serviço de Profilaxia de Febre Amarela foi regulamentado e reorganizado pelo médico americano Fred Lowe Soper (1893 – 1977), funcionário da Fundação Rockefeller, passando a ser subordinado ao Departamento de Saúde Pública. Datam desse período as principais iniciativas em torno da pesquisa e do combate à doença, com a construção de um laboratório para estudo e fabricação da vacina e a sistematização e maior abrangência das campanhas de erradicação do mosquito e do diagnóstico mais preciso da moléstia.

Em 1940 o Serviço de Profilaxia adquire caráter nacional com a criação do Serviço Nacional de Febre Amarela, sob a responsabilidade exclusiva de sanitaristas brasileiros, passando a ser vinculado ao Departamento Nacional de Saúde do Ministério da Educação e Saúde. A partir dessa época, com laboratório já montado e fabricando a vacina antiamarílica, a Fundação Rockefeller vai aos poucos transferindo o controle dessas atividades, de início para o já estruturado Serviço Nacional de Febre Amarela, em 1946, até que, em 1950, quando se retira formalmente do país, o laboratório de pesquisas e de produção da vacina é incorporado ao Instituto Oswaldo Cruz, provavelmente acompanhado pelo conjunto de imagens produzido e acumulado durante mais de vinte anos de atividades, e que, como tudo indica, permaneceu nas instalações do laboratório mais de trinta anos, até seu recolhimento à Casa de Oswaldo Cruz.

As fotografias neste acervo se apresentam na forma de cópias-contato (cópia-contato é uma imagem não ampliada de um negativo fotográfico)  coladas no verso de fichas catalográficas, que contêm informações resumidas de cada imagem registrada, como o número de registro da imagem provavelmente dentro do arquivo institucional que a gerou , o assunto, o nome do fotógrafo autor do registro, a data em que a foto foi tirada ou recebida no arquivo nesse caso, por quem teria sido encaminhada , o tamanho do filme fotográfico etc.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

* Aline Lopes de Lacerda é historiadora e chefe do Departamento de Arquivo e Documentação da COC/Fiocruz

100 anos do Castelo da Fiocruz: a ocupação da Fazenda de Manguinhos

A Brasiliana Fotográfica abre as comemorações do centenário da conclusão da construção do Castelo da Fiocruz, instituição parceira do portal, com um texto de autoria de Cristiane d’Avila, jornalista do Departamento de Arquivo e Documentação da Casa de Oswaldo Cruz com fotografias de autoria de Huberti (18? – 19?), J. Pinto (1884 – 1951) e de fotógrafos ainda não conhecidos. Posteriormente, serão publicados textos sobre o centenário do prédio dos pesquisadores da Casa de Oswaldo Cruz, Renato da Gama-Rosa, com detalhes sobre sua construção e sobre seu projeto arquitetônico, e de Ricardo Augusto dos Santos, com o foco nos pedreiros que o ergueram. Aos 30 anos e à frente do então Instituto Soroterápico Federal, na distante fazenda de Manguinhos, Oswaldo Cruz (1872 – 1917) não mediu esforços para materializar um sonho aparentemente irrealizável: construir um monumental castelo para abrigar a nova e incipiente ciência brasileira. Por sua extensão e distância do centro do Rio de Janeiro, a fazenda era um espaço adequado à instalação de laboratórios e à produção de soros antipestosos contra o surto de peste bubônica. Projetado pelo arquiteto Luiz Moraes Junior (1872 – 1955), o edifício começou a ser erguido em 1905 e foi concluído em 1918.

 

100 anos do Castelo da Fiocruz: a ocupação da Fazenda de Manguinhos

Cristiane d’Avila*

A missão, grandiosa, os obstáculos, gigantescos. Mas, já diria Brás Cubas, como escapar de uma ideia fixa, caro leitor? Contemporâneo de Machado de Assis, Oswaldo Cruz pode não ter inspirado o genial autor, mas a obsessão que avassalou o memorável personagem talvez tenha acometido o jovem e brilhante médico brasileiro. Aos 30 anos e à frente do então Instituto Soroterápico Federal, na distante fazenda de Manguinhos, Oswaldo Cruz não mediu esforços para materializar um sonho aparentemente irrealizável: construir um monumental castelo para abrigar a nova e incipiente ciência brasileira.

A tarefa não era fácil. A fazenda de Manguinhos, na freguesia (como eram denominados os bairros) de Inhaúma, havia sido ocupada até o final do século 19 por fornos de incineração do lixo da cidade. A partir de 1900, já destinada pelo governo para o funcionamento do Instituto Soroterápico Federal, após um surto de peste bubônica, a fazenda era de fato um terreno longínquo e extenso, em meio a mangues, com algumas edificações precárias, de difícil acesso. No entanto, por sua extensão e distância do centro da cidade, configurava-se como espaço adequado à instalação de laboratórios e à produção de soros antipestosos contra a doença, até então importados pelo governo federal.

 

Acessando o link para as fotografias de aspectos da construção do Castelo da Fiocruz que estão disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Nessa época, a freguesia de Inhaúma contava com três estações da Cia. Leopoldina Railway – Bonsucesso, Ramos e Olaria. O acesso à fazenda de Manguinhos se dava por terra e também pela Baía de Guanabara, onde uma enseada levava ao pequeno cais, construído para o desembarque dos funcionários do Instituto. O acesso por trem foi possível após a abertura da Estação do Amorim, depois rebatizada de Estação Oswaldo Cruz e, posteriormente, de Manguinhos, como está até hoje.´

 

 

Em resumo histórico sobre a fundação do Instituto, o arquivista Albino Taveira escreveu, no ano de 1941:

“Os trens eram raros. Quem não estivesse na Estação à hora marcada teria que vir a pé pelo leito da via férrea. Durante as marés baixas, surgiam dos esconderijos dos caranguejos grandes quantidades de mosquitos. Na fazenda não havia gás nem eletricidade” (FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, 1947).

No mesmo relato, Albino destaca as palavras de Henrique Aragão, em conferência realizada por este em São Paulo, em 1940, com o tema “Oswaldo Cruz e a escola de Manguinhos”:

“Na vetusta fazenda abandonada há somente duas pequenas casas baixas, meio arruinadas, sobre colinas, as quais foram adaptadas muito rapidamente para os futuros laboratórios, todos bastante acanhados. Ao soar o meio-dia, suspende-se o labor para o almoço, na estreita varanda da casinha da fazenda. A mesa está posta sobre uma meia porta, que se apoia sobre duas barricas vazias e é coberta parcialmente com uma toalha grosseira, havendo dois longos bancos de madeira de cada lado para os convivas sentarem. Todos se apressam porque a comida não é muito abundante: uma clássica galinha ensopada com batatas, arroz, pão e, para terminar, algumas bananas e café ralo. Quem se atrasar só encontra ossos e traços de arroz (…) uns 20 minutos depois já o trabalho recomeça intenso embora os estômagos não estejam muito satisfeitos” (ARAGÃO apud FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, 1947).

À frente da direção do Instituto, em 1900, estava o Barão de Pedro Afonso, diretor do Instituto Vacínico Municipal, que contratou os jovens médicos Oswaldo Cruz, Henrique de Figueiredo Vasconcelos e Ismael da Rocha, e o estudante Antônio Cardoso Fontes, para iniciar os trabalhos. Em 1902, Pedro Afonso é exonerado do cargo e Cruz assume o posto, elevando o Instituto a um novo patamar, que incluía não apenas a fabricação de produtos biológicos, mas também a realização de pesquisas biomédicas e o ensino da microbiologia. O modelo seguido pelo cientista, hábil administrador da ciência, era o Instituto Pasteur de Paris, onde havia cursado, por dois anos, sua especialização em microbiologia, soroterapia e imunologia.

A partir de então, as duas casas já existentes no terreno da fazenda foram reformadas para acolher os laboratórios, e também construídos uma cocheira, um biotério e uma enfermaria para cavalos, além de outra casa para servir como dormitório e depósito de cereais e forragens (FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, 1990, p. 99). Depois que Oswaldo Cruz assumiu em definitivo o Instituto Soroterápico Federal, e a chefia da Diretoria Geral de Saúde Pública, em 1903, a fazenda se transformou em um imenso canteiro de obras.

 

 

 

As escavações para o alicerce do edifício central sonhado por Cruz, o pavilhão mourisco – ou o memorável “castelo” – foram iniciadas em 1905. O projeto definitivo, maior que o original desenhado por seu construtor, o engenheiro português Luiz Moraes Junior, data de 1908, ano que coincide com a finalização das obras da estrutura do prédio. Em 1910, embora as obras continuassem, o castelo já era ocupado pelos pesquisadores, sendo finalmente concluído em 1918, coroando com êxito o ambicioso projeto de seu idealizador.

Ao todo, o prédio soma 1.517 m2 de área construída, com materiais em grande parte importados da Alemanha, França, Inglaterra e Portugal, e uso de modernas técnicas construtivas. “Com certeza, nenhum outro edifício do Rio de Janeiro – e talvez do país – se igualava a este pavilhão em sofisticação tecnológica”. (Idem, p. 114)

 

O contexto

 

Uma ideia, um projeto, não se realiza de forma isolada. Concorre para o seu desfecho uma série de fatores, que em determinado momento se convergem e associam para concretizar o objetivo inicial de seu idealizador, ou idealizadores. Com o Castelo da Fiocruz, como foi batizado o pavilhão mourisco, não foi diferente.

No alvorecer de 1900, o Rio de Janeiro era uma cidade em conflito com a contemporaneidade, na acepção das elites. Se, por um lado, convivia-se com práticas sociais consideradas anacrônicas, típicas de um centro ainda colonial, as reformas – urbana (o “bota-abaixo”) e sanitária (campanhas contra a febre amarela, varíola e peste bubônica) empreendidas por Pereira Passos e Oswaldo Cruz, respectivamente, espelhavam um cotidiano tributário da incipiente modernidade. A grande imprensa saudava a nova fase com a sugestiva alcunha de “Regeneração”. Segundo Nicolau Sevcenko, a expressão era por si só esclarecedora do espírito que presidiu esse movimento de destruição da velha cidade, para complementar a dissolução da velha sociedade imperial, e de montagem da nova estrutura urbana. Pereira Passos [prefeito do Rio, grifo meu] atacou algumas tradições cariocas. Proibiu a venda ambulante de alimentos, o ato de cuspir no chão dos bondes e a exposição de carnes na porta dos açougues, assim como uma série de outros costumes “bárbaros” e “incultos” (SEVCENKO, 1983, pp. 31-57).

No cenário urbano, o combate às epidemias havia reforçado a importância de se estender e aprofundar as pesquisas e o investimento em campanhas sanitárias, alvos prioritários da Diretoria Geral de Saúde Pública (DGSP), sob a direção do cientista (1903-1906). Consagrado internacionalmente pelo sucesso alcançado no Rio, Oswaldo Cruz converteu-se em herói nacional, o que deu impulso à posterior transformação do Instituto Soroterápico Federal em Instituto de Patologia Experimental (1907) e, finalmente, em Instituto Oswaldo Cruz (1908).

No cenário nacional, Cruz e os médicos de seu grupo (Belisário Penna e Carlos Chagas) iniciaram expedições ao interior do Brasil, incluindo 30 portos marítimos e fluviais de Norte a Sul do país, para estabelecer um código sanitário com regras internacionais, a fim de erradicar doenças que mortificavam milhares de brasileiros, como a malária e a febre amarela. A partir da intensificação das expedições científicas empreendidas, “a saúde pública como base para a construção da nacionalidade permitiu que fosse abandonada a tese da inferioridade racial do brasileiro” (OLIVEIRA, 1990, p. 146).

Naquele momento, ao contrário do que acontecia no cenário econômico, em que o Brasil vivia uma economia agroexportadora dependente da importação de tecnologia e técnicas europeias para a criação de portos e ferrovias, Cruz fez do IOC um centro de pesquisa autossustentável, complexo, capaz de produzir ciência autonomamente. “A institucionalização da medicina experimental requereu a adaptação do modelo (o Instituto Pasteur) à realidade econômica e social do país e, sobretudo, a superação das barreiras políticas e culturais que bloqueavam um projeto de autossuficiência científica”, explica Jaime Benchimol (BENCHIMOL, 1990, p. 13).

A autonomia do IOC foi conquistada, segundo o pesquisador, no calor da euforia que marcou a reforma e o saneamento da capital federal. “Seguindo um curso independente, manteve em nível elevado sua produtividade científica, tornou-se celeiro dos quadros que iriam impulsionar as instituições regionais de medicina e saúde e afirmou-se como o baluarte de um novo projeto sanitarista” (Idem, 1990, pp. 71-72). Com os alicerces fincados, portanto, faltava ao IOC edificar uma sede à altura de sua relevância.

 

O construtor

 

Quatro anos de diferença e um oceano separavam Oswaldo Cruz, nascido em São Luís do Paraitinga, São Paulo, em 1872, e Luiz Moares Junior, nascido em 1868, em Faro, Portugal, antes do encontro fortuito entre ambos, em 1902, no trem da Leopoldina que levava Cruz ao IOC e Moraes à igreja da Penha. Recém chegado de Portugal, o engenheiro havia sido convidado pelo vigário da igreja para realizar obras de reforma e embelezamento externo no prédio e de construção das duas torres hoje existentes. Depois do encontro, a vida profissional deles tomaria um rumo surpreendente.

Com argúcia e imenso talento construtor, Luiz Moraes Junior equacionou duas qualidades essenciais para a construção do complexo arquitetônico de Manguinhos – planos arquitetônicos baseados em extensos e minuciosos cálculos matemáticos. Não à toa, Cruz “abriu-lhe as portas da comunidade médica da capital, possibilitando a Luiz Moraes assinar projetos de grande envergadura, como os da sede da Policlínica, na Avenida Central, e da Faculdade de Medicina, na Praia Vermelha” (Idem, 1990, p. 173).

Durante os sete anos em que Oswaldo Cruz permaneceu à frente da DGSP (1903-1909) e os 15 em que dirigiu o instituto batizado com seu nome (1902-1917), Luiz  Moraes Junior pôde acumular uma experiência notável num campo muito especializado da construção civil: o das edificações laboratoriais, sanitárias e hospitalares (Idem, p. 173).

A primeira geração de prédios projetados e construídos em Manguinhos por Moraes – pavilhão mourisco, cavalariça, pavilhão da peste, aquário e pombal – foram edificados a partir do permanente intercâmbio entre ele e Cruz. O construtor transformava os esboços e intenções do cientista em plantas finais, que calculava e executava com profissionais de sua confiança. Somam-se a essas edificações o Hospital Oswaldo Cruz (atual Instituto Nacional de Infectologia), o quinino e o pavilhão vacinogênico, construídos após a morte de Cruz, em 1918, na gestão de Carlos Chagas (Idem, 1990, p. 105).

 

 

O complexo arquitetônico de Manguinhos, realizado por Moraes, foi exibido na Exposição de Higiene realizada em Berlim, em 1907:

Ao lado dos trabalhos do instituto, dos gráficos e tabelas da Saúde Pública, figuraram na exposição plantas, fotografias e maquetes dos prédios projetados ou já executados por ele, incorporando os mais modernos preceitos arquitetônicos aplicáveis à construção de laboratórios, hospitais e equipamentos sanitários, em consonância com a higiene e a medicina pasteuriana. (Idem, p. 174)

Luiz Moraes Junior viveu os últimos anos de sua vida em Petrópolis, sendo responsável pelo projeto do prédio do jornal Tribuna de Petrópolis e do Grande Hotel, até hoje existentes. Faleceu aos 87 anos, em 15 de julho de 1955, deixando como maior legado o edifício símbolo da Fundação Oswaldo Cruz, o Castelo de Manguinhos, que, em 2018, completa 100 anos de sua conclusão.

 

 * Cristiane d’Avila é jornalista do Departamento de Arquivo e Documentação da Casa de Oswaldo Cruz

 

Fontes:

BENCHIMOL, Jaime L. (Coord.) Manguinhos do sonho à vida: a ciência na Belle Époque. Rio de Janeiro. Casa de Oswaldo Cruz, 1990.

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. CASA DE OSWALDO CRUZ. Resumo histórico da fundação do Instituto Soroterápico Federal, hoje Instituto Oswaldo Cruz. Coletânea organizada pelo arquivista Albino Taveira. Rio de Janeiro, COC, 1947.

OLIVEIRA, Lúcia Lippi. A questão nacional na Primeira República. São Paulo: Brasiliense, 1990, p. 146

SEVCENKO, Nicolau. Literatura como missão: tensões sociais e criação cultural na Primeira República. São Paulo: Brasiliense, 1983.

 

Link para o artigo Pavilhão Mourisco: desafios para sua preservação, de Carla Maria Teixeira Coelho, Elisabete Edelvita Chaves da Silva e Rosana Soares Zouain, publicado na revista História, Ciência, Saúde- Manguinhos vol 27 nº 2 Abril/Junho 2020**

Link para o artigo A Casa da Ciência, publicado na Revista Shell, nº 66, de 1954***

 

**Este link foi acrescentado ao artigo em 14 de setembro de 2020.

***Este link foi acrescentado ao artigo em 5 de fevereiro de 2021.

O fotógrafo Joaquim Pinto da Silva, o J. Pinto (1884-1951) e a Fundação Oswaldo Cruz

Ricardo Augusto dos Santos*

 

 

A história da fotografia brasileira possui seus atores emblemáticos, como Marc Ferrez (1843 – 1923) e Augusto Malta (1864 – 1957). Mas, também, tem seus heróis quase desconhecidos ou anônimos que, encantados com a possibilidade de registrar em imagens a realidade, nos deixaram documentos relevantes para a memória e a história do país. Um expressivo número de fotografias do acervo da Fundação Oswaldo Cruz foi produzido por Joaquim Pinto da Silva, o J. Pinto (1884 – 1951), como ficou conhecido. Este fotógrafo produziu milhares de imagens, documentando os trabalhos científicos, os primeiros prédios e as transformações urbanas da região onde seria construído o centro de pesquisa, ensino e produção de medicamentos.

 

Acessando o link para as fotografias de autoria de J. Pinto disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

 

Acessando o link para as fotografias em que J. Pinto ou sua família aparecem disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Inicialmente, J. Pinto ocupou um acanhado e improvisado chalé, onde o laboratório fotográfico dividia espaço com a biblioteca do recém-criado Instituto Oswaldo Cruz (IOC). Em 1911, quase finalizado o Pavilhão Mourisco, J. Pinto seria instalado no belo castelo. Podemos observar, em seu trabalho, um notável domínio das técnicas fotográficas. Autor de inúmeras imagens, negativos em vidro e microfotografias científicas, J. Pinto, em final de 1928, enviou aos amigos um cartão desejando um feliz ano novo, contendo a imagem de seu rosto reproduzida cinco vezes. Este fato remete à original fotografia conhecida como Os trinta Valérios, realizada por Valério Vieira (1862-1941), em torno de 1901. O registro, um marco na história da fotografia, traz 30 imagens de Valério Vieira.

 

 

Pouco se sabe da vida deste importante personagem do IOC. Em final dos anos 1980, um grupo de pesquisadores da Casa de Oswaldo Cruz entrevistou um dos filhos de J. Pinto, Wilson Pinto, que forneceu algumas informações sobre seu pai. Infelizmente, idoso, sua saúde precária impossibilitava um depoimento fidedigno, assim como sua irmã Edna, que também quase nada dizia com exatidão sobre a vida de Joaquim Pinto. Porém, naquela tarde, obtivemos registros raros do fotógrafo e de sua família. No próprio acervo da Fiocruz, J. Pinto pouco aparece, a não ser em fotos de uma provável caçada em companhia de Carlos Chagas, ou em seu laboratório fotográfico.

 

 

Nascido em Alagoinhas, na Bahia, em 1884, J. Pinto teria vindo para o Rio de Janeiro com 14 anos. Seus pais eram José Camerino Pinto da Silva e Maria da Purificação. Casou-se com Izaura Costa da Silva e tiveram cinco filhos: Wilson, Milton, Elza, Zeni e Ilda. Depois de morar no Centro da cidade, comprou um terreno no Méier, na Rua Jacinto, número 67, construindo ali sua casa.

 

 

Em 1903, contratado por Oswaldo Cruz na fase inicial das atividades em Manguinhos, ele começou a documentar a construção do que viria a ser um dos principais centros de ciência e saúde do Brasil. Foi fotógrafo da instituição até 1946, quando se aposentou em decorrência de problemas de saúde. Mas as imagens produzidas por ele permaneceram como a memória fotográfica da Fundação Oswaldo Cruz. As fotos de sua autoria também mostram um Rio de Janeiro em processo de urbanização. J. Pinto, que se tornou amigo de Oswaldo Cruz (1872 – 1917) e de Carlos Chagas (1878 -1934), fotografou o aspecto rural de Manguinhos, que foi se transformando. Estão registrados a construção do Castelo, da avenida Brasil, os pesquisadores e instalações físicas. Em seus registros também aparecem construções, como o aquário, demolido, que era ligado à Baía de Guanabara por uma tubulação subterrânea, onde se estudavam organismos aquáticos; a cavalariça e a chaminé da antiga usina de incineração do lixo da cidade, também demolida no início da década de 1940.

 

 

 

*Ricardo Augusto dos Santos é Pesquisador Titular da Fundação Oswaldo Cruz

 

 

Pequena cronologia de Joaquim Pinto da Silva  (1884-1951) 

 Andrea C. T. Wanderley**

1884 – O fotógrafo Joaquim Pinto da Silva, que ficou conhecido como J. Pinto, nasceu em Alagoinhas, na Bahia, filho de José Camerino Pinto da Silva e Maria da Purificação.

c. 1898 – Com 14 anos, J. Pinto teria vindo para o Rio de Janeiro.

1903 – Foi contratado pelo médico e sanitarista Oswaldo Cruz na fase inicial das atividades em Manguinhos e começou a documentar a construção do que viria a ser um dos principais centros de ciência e saúde do Brasil.

1910 – Segundo o historiador Eduardo Thielen, que escreveu a dissertação Imagens da saúde no Brasil – A fotografia na institucionalização da saúde pública, J. Pinto teria sido possivelmente o autor do primeiro filme científico feito no Brasil, Chagas em Lassance. A obra, com 9 minutos de duração, era sobre a descoberta da doença de Chagas, feita pelo cientista Carlos Chagas, em Lassance, Minas Gerais, em 1909 (Agência Fiocruz, 15 de agosto de 2008).

1911 – Chagas em Lassance foi exibido por Oswaldo Cruz na Exposição Internacional de Higiene e Demografia de Dresden, na Alemanha (Agência Fiocruz, 15 de agosto de 2008). Também foi exibido o filme sobre as ações de combate à febre amarela no Rio de Janeiro. Esses dois filmes constituem o mais antigo acervo audiovisual científico preservado de que se tem notícia no Brasil. O pavilhão do Brasil, único país das Américas a construir um estande próprio no evento, foi inaugurado em 15 de junho (O Paiz, 16 de junho de 1911, quinta coluna).

1946 - J. Pinto aposentou-se devido a problemas de saúde.

1951 – Em outubro, falecimento de Joaquim Pinto da Silva. Sua missa de 30º dia foi realizada na Catedral Metropolitana do Rio de Janeiro (Diário de Notícias, 25 e 26 de novembro de 1951).

 

2014 – Lançamento do livro Vida, engenho e arte — O acervo histórico da Fundação Oswaldo Cruz, com imagens produzidas por J. Pinto (O Globo, 6 de junho de 2014).

2016 – Realização da exposição Manguinhos Revelado: um Lugar de Ciência, com cerca de 120 fotografias, a maioria de autoria de J. Pinto (Portal Fiocruz, 8 de novembro de 2016).

 

**Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Manguinhos e os sertões

A Brasiliana Fotográfica traz a seus leitores fotografias relativas ao tema Manguinhos e os sertões, do acervo de um dos parceiros do portal, a Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz. Manguinhos é o bairro onde se situa a instituição. As imagens correspondentes às viagens – produzidas por fotógrafos especialmente contratados para tais missões – registram a associação do Instituto Oswaldo Cruz aos esforços governamentais de interiorização do Estado brasileiro nas primeiras décadas do século XX. Cobrindo as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país, as imagens construíram um inventário pioneiro do interior do Brasil.

As cinco expedições realizadas pelo Instituto Oswaldo Cruz foram:

1911 – Expedição aos Vales dos Rios São Francisco e Tocantins

Entre setembro de 1911 e fevereiro de 1912, o médico e pesquisador Astrogildo Machado (1885 – 1945) e o farmacêutico Antônio Martins forneceram suporte médico aos engenheiros da Estrada de Ferro Central do Brasil, que tinham por missão estabelecer o traçado definitivo da linha ferroviária que, partindo de Pirapora, no noroeste mineiro, deveria chegar até Belém do Pará. Percorreram os vales do São Francisco e do Tocantins e, após alcançarem a capital paraense, retornaram ao Rio de Janeiro por via marítima.

 

 

1912-  Expedições ao Nordeste e Centro-Oeste

Ocorreram nesse ano três viagens de cientistas do Instituto, patrocinadas pela Inspetoria de Obras contra as Secas, para realizar pesquisas sobre a geografia, fauna, flora e as condições sanitárias da região. Arthur Neiva (1885 – 1945) e Belisário Penna (1868-1939) percorreram o norte da Bahia, o sudeste de Pernambuco, o sul do Piauí e Goiás de norte a sul, enquanto João Pedro de Albuquerque (c. 1874 – 1934) e José Gomes de Faria (1887 – 1962). Seguiram para o Ceará e para o norte do Piauí.  A terceira expedição, conduzida por Astrogildo Machado (1885 – 1945) e Adolpho Lutz (1855 – 1940), atravessou o trajeto de Pirapora até Juazeiro, a bordo de uma gaiola pelo rio São Francisco.

 

 

1912/1913 – Expedição à Região Amazônica

Carlos Chagas (1879 – 1934), Pacheco Leão (1872 – 1931) e João Pedroso Barreto de Albuquerque (18? – 1936) realizaram a última grande expedição do período, a serviço da Superintendência da Defesa da Borracha. Percorreram parte da Bacia Amazônica, em especial o trecho acima de Manaus.

 

 

Acessando o link para as fotografias das expedições realizadas pelo do Instituto Oswaldo Cruz disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

As fotografias e negativos remanescentes dessas expedições, com aproximadamente 1700 itens, foram produzidos por câmeras grandes, pesadas, que utilizavam negativos de gelatina seca sobre base de vidro no formato 13 x 18 centímetros. Sobre os fotógrafos conhecemos apenas dois, José Teixeira, que acompanhou a expedição chefiada por Arthur Neiva (1885 – 1945) e Belisário Penna (1868-1939), e João Stamato (1886-1951), cinegrafista do Rio de Janeiro na década de 1910, que documentou a expedição aos Vales dos Rios São Francisco e Tocantins, em 1911.

 

Para saber mais sobre as expedições do Instituto Oswaldo Cruz, acesse o artigos publicados na Brasiliana Fotográfica:

As expedições do Instituto Oswaldo Cruz entre 1911 e 1913, publicado em 14 de março de 2019

Nos passos de Oswaldo: imagens das expedições do IOC aos portos do Brasil entre 1911 e 1913, publicado em 25 de maio de 2020

Parceiros e fundadores da Brasiliana Fotográfica no Programa Memória do Mundo da UNESCO

O Comitê Nacional do Brasil do Programa Memória do Mundo da UNESCO, o MoWBrasil, reunido em sessão plenária com a maioria de seus membros, entre os dias 2 e 3 de outubro de 2017, em Belo Horizonte, escolheu 10 das 22 candidaturas recebidas ao Edital MoWBrasil 2017, para serem inscritas no Registro Nacional do Brasil do Programa Memória do Mundo da UNESCO. Os registros iconográficos da Revolta da Armada (1893 – 1894), cuja inscrição foi proposta pelo Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, parceiro da Brasiliana Fotográfica, pelo Instituto Moreira Salles, um dos fundadores do portal, e pelo Museu Histórico Nacional, foi um dos selecionados. Uma publicação sobre a Revolta da Armada foi feita pela Brasiliana Fotográfica, em 6 de setembro de 2015.

Acessando o link para as fotografias da Revolta da Armada disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

Os outros escolhidos para serem inscritos no Registro Nacional do Brasil do Programa Memória do Mundo da UNESCO cujos proponentes são parceiros ou fundadores da Brasiliana Fotográfica foram o Arquivo Lima Barreto, da Fundação Biblioteca Nacional; a Coleção Família Passos, do Museu da República / IBRAM; a Correspondência original dos governadores do Pará com a corte. Cartas e anexos (1764-1807), do Arquivo Nacional; o Formulário médico manuscrito atribuídos aos jesuítas e encontrado em uma arca da igreja de São Francisco de Curitiba, da Fundação Oswaldo Cruz.

Também foram selecionados: as Atas do Montepio Geral de Economia dos Servidores do Estado – o início da Previdência no Brasil, da Mongeral Aegon Seguros e Previdência; a Coleção Tribunal de Segurança Nacional: a atuação do Supremo Tribunal Militar como instância revisional, 1936-1955, do Superior Tribunal Militar; a Coleção Vladimir Kozák: acervo iconográfico, filmográfico e textual de Povos Indígenas Brasileiros (1948 – 1978), do Museu Paranaense; os Livros de registros da Polícia Militar da Bahia, da Polícia Militar da Bahia; e o Testamento do senhor Martim Afonso de Souza e de sua mulher dona Ana Pimentel, da Universidade Federal de Minas Gerais.

A cerimônia de entrega dos certificados ocorrerá no dia 7 de dezembro de 2017, no Rio de Janeiro, no Forte de Copacabana.

 

 

Para saber mais sobre o Programa Memória do Mundo, acesse o site da Unesco.

 

Novos acervos: Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz

Fotografia, Ciência e Saúde Pública 

 

 

As imagens aqui apresentadas integram o acervo histórico da Fundação Oswaldo Cruz, instituição de referência internacional na área das ciências biomédicas e cuja trajetória encontra-se intrinsecamente relacionada à formulação, planejamento e execução de políticas públicas de saúde no Brasil. Este acervo encontra-se sob a guarda da Casa de Oswaldo Cruz, unidade da Fiocruz e centro de pesquisa e documentação dedicado à memória, à história das ciências biomédicas e da saúde pública e à educação e divulgação em ciência e saúde.

As origens da Fundação Oswaldo Cruz remetem ao Instituto Soroterápico Federal, criado em 1900, no bairro de Manguinhos, no Rio de Janeiro, com o objetivo de produzir soros e vacinas contra a peste bubônica e que, em curto espaço de tempo, já como Instituto Oswaldo Cruz (IOC) em homenagem ao seu primeiro diretor Oswaldo Cruz (1872 – 1917) -, transformou-se no maior centro de medicina experimental da América Latina. O IOC – considerado o primeiro instituto de pesquisa da história do Brasil a trazer contribuições científicas durante um período constante, e o primeiro a dar ao país uma reputação científica internacional -, proporcionou os fundamentos para o desenvolvimento contínuo das ciências biomédicas no Brasil na primeira metade do século XX.

 

Acessando o link para as fotografias do acervo da Fiocruz disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Desde os primeiros anos de atividade, o IOC já contava com laboratório fotográfico próprio, e integrava em seus quadros funcionais o fotógrafo Joaquim Pinto da Silva, contratado ainda na primeira década do século XX. Desde a origem do Instituto, a produção de registros fotográficos, entre outros suportes de informação tais como plantas arquitetônicas, correspondências, impressos etc, se firmou como uma das mais prolíficas, sendo instituída, formalmente, como um dos setores de produção institucional. A existência de um laboratório próprio no Instituto Oswaldo Cruz denota o interesse e a importância da produção de registros fotográficos para os trabalhos que ali seriam desenvolvidos.

As fotografias foram originadas durante o processo de constituição, institucionalização, crescimento e legitimação do IOC desde sua origem até meados do século passado. Esse período é caracterizado pela expansão e fortalecimento do Instituto Soroterápico Federal a partir de alguns sucessos obtidos. O primeiro deles diz respeito às bem sucedidas campanhas de Oswaldo Cruz contra a febre amarela, a peste bubônica e a varíola na capital da República. Na época, Oswaldo Cruz encontrava-se à frente da Diretoria de Saúde Pública, cargo que acumulou juntamente com a direção do Instituto até 1909. Outra vitória acumulada refere-se ao reconhecimento científico internacional das atividades desenvolvidas no IOC, através da premiação com a medalha de ouro na Exposição de Higiene de Berlim, em 1907, e do anúncio da descoberta de uma nova doença – a doença de Chagas – na Exposição Internacional de Higiene de Dresden, em 1911.

Após a morte de Oswaldo Cruz, seu trabalho à frente do IOC teve continuidade com o médico sanitarista Carlos Chagas (1879 – 1934) que, coincidentemente, também acumulou por um período (1920-1926) a direção do Instituto e da recém-criada Diretoria Nacional de Saúde Pública, restabelecendo mais uma vez uma ligação direta entre aquela instituição e o Estado brasileiro naquilo que se refere à saúde pública. Na gestão de Chagas (1917 – 1934), o IOC já era uma instituição consolidada, com autonomia financeira e administrativa suficientes para garantir uma expansão considerável das atividades de pesquisa, ensino e produção ali desenvolvidas.

 

 

A conformação institucional do IOC nos primeiros anos do século XX teve como consequência uma expansão de seu quadro de funcionários e a contratação de um fotógrafo reforça esse fato. A importância dada aos registros visuais pode ser também aferida pelo espaço que a atividade vai ganhando institucionalmente, seja na ocupação de ambientes considerados “nobres” no principal espaço edificado para abrigar o IOC – o castelo mourisco -, onde ocupou gabinetes específicos destinados à fotografia e à cinematografia, seja pela importância da atividade na hierarquia interna, consubstanciada pela obrigatoriedade de apresentação de um relatório anual de atividades à direção do IOC contendo informações veiculadas na forma de textos e imagens.

Hoje, o acervo fotográfico remanescente desse período inicial de consolidação do Instituto – embora tenha sofrido perdas importantes causadas por crises pelas quais passou o IOC –, é marcante e minucioso na sua potência de registro de uma memória do período. Assim, a série fotográfica ora apresentada diz respeito a três dimensões dos impactos da atuação do IOC no contexto sócio, político e científico do período que compreende as primeiras décadas do século XX: a construção de suas instalações na então pouco conhecida região de Manguinhos e suas articulações com o entorno; a era das expedições científicas ao interior do país visando mapear as condições de vida e saúde da população rural e que originou um importante debate político sobre os males da nova república e seus obstáculos ao “progresso”; e flagrantes do cotidiano da instituição, representados por registros de visitantes ilustres, dos professores e alunos dos cursos que o IOC promovia, de algumas atividades de laboratório e, sobretudo, a vida intramuros da instituição.

 

 

Fontes:

BENCHIMOL, Jaime Larry. Manguinhos, do sonho à vida: a ciência na Belle Epoque. Rio de Janeiro: Fiocruz/COC, 1990.

Fundação Oswaldo Cruz. Casa de Oswaldo Cruz. A ciência a caminho da roça. Imagens das expedições científicas do Instituto Oswaldo Cruz ao interior do Brasil entre 1911 e 1913. Rio de Janeiro: Fiocruz/Casa de Oswaldo Cruz, 1991.

LACERDA, Aline Lopes de; Mello, Maria Teresa Villela Bandeira de. Imágenes de la salud pública: la institucionalización del Instituto Oswaldo Cruz em Brasil. Dymanis. Acta Hispanica ad Medicinae Scientiarumque Historiam Illustrandam. Vol. 25, 2005, p. 179-198.

THIELEN, Eduardo Vilela. Imagens da saúde pública do Brasil: a fotografia na institucionalização da saúde pública. Dissertação de mestrado, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 1992, p.158.

Fotografia, Ciência e Saúde Pública 

 

 

As imagens aqui apresentadas integram o acervo histórico da Fundação Oswaldo Cruz, instituição de referência internacional na área das ciências biomédicas e cuja trajetória encontra-se intrinsecamente relacionada à formulação, planejamento e execução de políticas públicas de saúde no Brasil. Este acervo encontra-se sob a guarda da Casa de Oswaldo Cruz, unidade da Fiocruz e centro de pesquisa e documentação dedicado à memória, à história das ciências biomédicas e da saúde pública e à educação e divulgação em ciência e saúde.

As origens da Fundação Oswaldo Cruz remetem ao Instituto Soroterápico Federal, criado em 1900, no bairro de Manguinhos, no Rio de Janeiro, com o objetivo de produzir soros e vacinas contra a peste bubônica e que, em curto espaço de tempo, já como Instituto Oswaldo Cruz (IOC) em homenagem ao seu primeiro diretor Oswaldo Cruz (1872 – 1917) -, transformou-se no maior centro de medicina experimental da América Latina. O IOC – considerado o primeiro instituto de pesquisa da história do Brasil a trazer contribuições científicas durante um período constante, e o primeiro a dar ao país uma reputação científica internacional -, proporcionou os fundamentos para o desenvolvimento contínuo das ciências biomédicas no Brasil na primeira metade do século XX.

Acessando o link para as fotografias do acervo da Fiocruz disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

Desde os primeiros anos de atividade, o IOC já contava com laboratório fotográfico próprio, e integrava em seus quadros funcionais o fotógrafo Joaquim Pinto da Silva, contratado ainda na primeira década do século XX. Desde a origem do Instituto, a produção de registros fotográficos, entre outros suportes de informação tais como plantas arquitetônicas, correspondências, impressos etc, se firmou como uma das mais prolíficas, sendo instituída, formalmente, como um dos setores de produção institucional. A existência de um laboratório próprio no Instituto Oswaldo Cruz denota o interesse e a importância da produção de registros fotográficos para os trabalhos que ali seriam desenvolvidos.

As fotografias foram originadas durante o processo de constituição, institucionalização, crescimento e legitimação do IOC desde sua origem até meados do século passado. Esse período é caracterizado pela expansão e fortalecimento do Instituto Soroterápico Federal a partir de alguns sucessos obtidos. O primeiro deles diz respeito às bem sucedidas campanhas de Oswaldo Cruz contra a febre amarela, a peste bubônica e a varíola na capital da República. Na época, Oswaldo Cruz encontrava-se à frente da Diretoria de Saúde Pública, cargo que acumulou juntamente com a direção do Instituto até 1909. Outra vitória acumulada refere-se ao reconhecimento científico internacional das atividades desenvolvidas no IOC, através da premiação com a medalha de ouro na Exposição de Higiene de Berlim, em 1907, e do anúncio da descoberta de uma nova doença – a doença de Chagas – na Exposição Internacional de Higiene de Dresden, em 1911.

Após a morte de Oswaldo Cruz, seu trabalho à frente do IOC teve continuidade com o médico sanitarista Carlos Chagas (1879 – 1934) que, coincidentemente, também acumulou por um período (1920-1926) a direção do Instituto e da recém-criada Diretoria Nacional de Saúde Pública, restabelecendo mais uma vez uma ligação direta entre aquela instituição e o Estado brasileiro naquilo que se refere à saúde pública. Na gestão de Chagas (1917 – 1934), o IOC já era uma instituição consolidada, com autonomia financeira e administrativa suficientes para garantir uma expansão considerável das atividades de pesquisa, ensino e produção ali desenvolvidas.

 

 

A conformação institucional do IOC nos primeiros anos do século XX teve como consequência uma expansão de seu quadro de funcionários e a contratação de um fotógrafo reforça esse fato. A importância dada aos registros visuais pode ser também aferida pelo espaço que a atividade vai ganhando institucionalmente, seja na ocupação de ambientes considerados “nobres” no principal espaço edificado para abrigar o IOC – o castelo mourisco -, onde ocupou gabinetes específicos destinados à fotografia e à cinematografia, seja pela importância da atividade na hierarquia interna, consubstanciada pela obrigatoriedade de apresentação de um relatório anual de atividades à direção do IOC contendo informações veiculadas na forma de textos e imagens.

Hoje, o acervo fotográfico remanescente desse período inicial de consolidação do Instituto – embora tenha sofrido perdas importantes causadas por crises pelas quais passou o IOC –, é marcante e minucioso na sua potência de registro de uma memória do período. Assim, a série fotográfica ora apresentada diz respeito a três dimensões dos impactos da atuação do IOC no contexto sócio, político e científico do período que compreende as primeiras décadas do século XX: a construção de suas instalações na então pouco conhecida região de Manguinhos e suas articulações com o entorno; a era das expedições científicas ao interior do país visando mapear as condições de vida e saúde da população rural e que originou um importante debate político sobre os males da nova república e seus obstáculos ao “progresso”; e flagrantes do cotidiano da instituição, representados por registros de visitantes ilustres, dos professores e alunos dos cursos que o IOC promovia, de algumas atividades de laboratório e, sobretudo, a vida intramuros da instituição.

 

 

Fontes:

BENCHIMOL, Jaime Larry. Manguinhos, do sonho à vida: a ciência na Belle Epoque. Rio de Janeiro: Fiocruz/COC, 1990.

Fundação Oswaldo Cruz. Casa de Oswaldo Cruz. A ciência a caminho da roça. Imagens das expedições científicas do Instituto Oswaldo Cruz ao interior do Brasil entre 1911 e 1913. Rio de Janeiro: Fiocruz/Casa de Oswaldo Cruz, 1991.

LACERDA, Aline Lopes de; Mello, Maria Teresa Villela Bandeira de. Imágenes de la salud pública: la institucionalización del Instituto Oswaldo Cruz em Brasil. Dymanis. Acta Hispanica ad Medicinae Scientiarumque Historiam Illustrandam. Vol. 25, 2005, p. 179-198.

THIELEN, Eduardo Vilela. Imagens da saúde pública do Brasil: a fotografia na institucionalização da saúde pública. Dissertação de mestrado, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 1992, p.158.