Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas 100 anos: Carlos e Evandro Chagas em retratos de família

A Brasiliana Fotográfica publica o segundo artigo de uma trilogia em comemoração ao centenário do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, com um texto de autoria de Aline Lopes de Lacerda, chefe do Departamento de Arquivo e Documentação Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, instituição parceira do portal. No artigo, Aline conta a história do arquivo de Carlos Chagas, doado no início dos anos 90 à Casa de Oswaldo Cruz. A classificação atribuída a esse arquivo separou os documentos textuais por séries temáticas e as fotografias foram dispostas em dossiês temáticos num arranjo cronológico e transferidas para a Seção Iconográfica. As imagens que retratam Chagas no ambiente mais pessoal e familiar, quando posa com seus filhos e neta aparentemente no jardim de sua residência e que foram reunidas e classificadas junto à documentação textual no grupo intitulado ‘Vida Pessoal’ estão agora disponíveis no acervo fotográfico do portal.

INI 100 anos: Carlos e Evandro Chagas em retratos de família

Aline Lopes de Lacerda*

O centenário do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI), festejado em 2018, antecipa em um ano outra celebração e conjuga, simbolicamente, o brilhantismo de um pai e seu filho. O primeiro, Carlos Chagas, desvendou o ciclo completo da tripanossomíase americana, doença que levaria o seu nome (cuja descoberta completa 200 anos em 2019). Evandro Chagas, anos depois, pelo protagonismo em articular pesquisa clínica, entomológica, laboratorial e saúde pública, nomearia o Hospital Oswaldo Cruz, fundado em 1918. Uma longa história, acima de tudo afetiva, que se revela em documentos, como as fotografias depositadas no arquivo pessoal de Carlos Chagas.

Sob custódia da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), o arquivo de Carlos Chagas (1878-1934), pela importância histórica que lhe é devida, merece algumas considerações, principalmente no que concerne à produção e acumulação desse arquivo. De início, para que sejam conhecidos os caminhos que a documentação trilhou até o momento de organização e subsequente abertura pública à consulta, vale destacar que durante dois anos uma equipe do Departamento de Arquivo e Documentação da COC reuniu-se em torno dessa documentação para discutir seus contornos, identificar as temáticas nela representadas, entender seus contextos de produção e procurar identificar as conexões entre os distintos documentos e as funções exercidas pelo cientista ao longo de sua vida. Esse esforço culminou na elaboração do inventário do arquivo, instrumento de pesquisa que possibilita o acesso aos usuários em geral.

Acessando o link para as fotografias de família de Carlos e Evandro Chagas disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

O arquivo foi doado à COC, no início dos anos 90, por Carlos Chagas Filho (1910-2000), filho caçula do cientista que, desde a morte do pai e do irmão, Evandro Chagas (1905-1940), tornou-se o guardião da memória familiar, mantendo a documentação reunida e utilizando-se dela em projetos específicos. O conjunto, que continha documentos de Carlos Chagas e também de Evandro Chagas, foi objeto de uma primeira organização como arquivo familiar, por se entender, à época, que assim seriam conferidas a ênfase e a visibilidade que mereciam os documentos daqueles que, além de importantes personagens da história da ciência e da saúde pública, eram membros de uma mesma família.

A classificação atribuída então ao arquivo de Carlos Chagas separou os documentos textuais por séries temáticas. As fotografias foram dispostas em dossiês temáticos num arranjo cronológico e transferidas para a Seção Iconográfica, procedimento de organização amplamente utilizado por instituições que mantêm arquivos. Uma característica desse material diz respeito à esparsa presença de registros de caráter ‘pessoal’ da vida do cientista.

As imagens que representam essa temática perfazem um total de 41 documentos, sendo 13 retratos (portraits) de Chagas, de seus pais, filhos e esposa; 11 fotografias relativas a diversas caçadas com amigos, atividade que mantinha como hobby; e seis de encontros com a turma de formatura da Faculdade de Medicina, por ocasião de aniversários comemorativos à data. Algumas retratam Chagas no ambiente mais pessoal e familiar, quando posa com seus filhos e neta aparentemente no jardim de sua residência. Elas foram reunidas e classificadas junto à documentação textual, no grupo intitulado ‘Vida Pessoal’. Em homenagem aos 100 anos do INI publicamos estas fotografias na Brasiliana Fotográfica.

 

*Aline Lopes de Lacerda  é Chefe do Departamento de Arquivo e Documentação Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz

 

 

Outros textos sobre o centenário do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas publicados na Brasiliana Fotográfica:

Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas: 100 anos de pesquisa clínica, por Cristiane d´Avila, em 26/10/2018

Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas: centenário da construção da pesquisa clínica em Manguinho, por Dilene Raimundo do Nascimento, em 21/12/2018 

O fotógrafo Joaquim Pinto da Silva, o J. Pinto (1884-1951) e a Fundação Oswaldo Cruz

Ricardo Augusto dos Santos*

 

 

A história da fotografia brasileira possui seus atores emblemáticos, como Marc Ferrez (1843 – 1923) e Augusto Malta (1864 – 1957). Mas, também, tem seus heróis quase desconhecidos ou anônimos que, encantados com a possibilidade de registrar em imagens a realidade, nos deixaram documentos relevantes para a memória e a história do país. Um expressivo número de fotografias do acervo da Fundação Oswaldo Cruz foi produzido por Joaquim Pinto da Silva, o J. Pinto (1884 – 1951), como ficou conhecido. Este fotógrafo produziu milhares de imagens, documentando os trabalhos científicos, os primeiros prédios e as transformações urbanas da região onde seria construído o centro de pesquisa, ensino e produção de medicamentos.

 

Acessando o link para as fotografias de autoria de J. Pinto disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

 

Acessando o link para as fotografias em que J. Pinto ou sua família aparecem disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Inicialmente, J. Pinto ocupou um acanhado e improvisado chalé, onde o laboratório fotográfico dividia espaço com a biblioteca do recém-criado Instituto Oswaldo Cruz (IOC). Em 1911, quase finalizado o Pavilhão Mourisco, J. Pinto seria instalado no belo castelo. Podemos observar, em seu trabalho, um notável domínio das técnicas fotográficas. Autor de inúmeras imagens, negativos em vidro e microfotografias científicas, J. Pinto, em final de 1928, enviou aos amigos um cartão desejando um feliz ano novo, contendo a imagem de seu rosto reproduzida cinco vezes. Este fato remete à original fotografia conhecida como Os trinta Valérios, realizada por Valério Vieira (1862-1941), em torno de 1901. O registro, um marco na história da fotografia, traz 30 imagens de Valério Vieira.

 

 

Pouco se sabe da vida deste importante personagem do IOC. Em final dos anos 1980, um grupo de pesquisadores da Casa de Oswaldo Cruz entrevistou um dos filhos de J. Pinto, Wilson Pinto, que forneceu algumas informações sobre seu pai. Infelizmente, idoso, sua saúde precária impossibilitava um depoimento fidedigno, assim como sua irmã Edna, que também quase nada dizia com exatidão sobre a vida de Joaquim Pinto. Porém, naquela tarde, obtivemos registros raros do fotógrafo e de sua família. No próprio acervo da Fiocruz, J. Pinto pouco aparece, a não ser em fotos de uma provável caçada em companhia de Carlos Chagas, ou em seu laboratório fotográfico.

 

 

Nascido em Alagoinhas, na Bahia, em 1884, J. Pinto teria vindo para o Rio de Janeiro com 14 anos. Seus pais eram José Camerino Pinto da Silva e Maria da Purificação. Casou-se com Izaura Costa da Silva e tiveram cinco filhos: Wilson, Milton, Elza, Zeni e Ilda. Depois de morar no Centro da cidade, comprou um terreno no Méier, na Rua Jacinto, número 67, construindo ali sua casa.

 

 

Em 1903, contratado por Oswaldo Cruz na fase inicial das atividades em Manguinhos, ele começou a documentar a construção do que viria a ser um dos principais centros de ciência e saúde do Brasil. Foi fotógrafo da instituição até 1946, quando se aposentou em decorrência de problemas de saúde. Mas as imagens produzidas por ele permaneceram como a memória fotográfica da Fundação Oswaldo Cruz. As fotos de sua autoria também mostram um Rio de Janeiro em processo de urbanização. J. Pinto, que se tornou amigo de Oswaldo Cruz (1872 – 1917) e de Carlos Chagas (1878 -1934), fotografou o aspecto rural de Manguinhos, que foi se transformando. Estão registrados a construção do Castelo, da avenida Brasil, os pesquisadores e instalações físicas. Em seus registros também aparecem construções, como o aquário, demolido, que era ligado à Baía de Guanabara por uma tubulação subterrânea, onde se estudavam organismos aquáticos; a cavalariça e a chaminé da antiga usina de incineração do lixo da cidade, também demolida no início da década de 1940.

 

 

 

*Ricardo Augusto dos Santos é Pesquisador Titular da Fundação Oswaldo Cruz

 

 

Pequena cronologia de Joaquim Pinto da Silva  (1884-1951) 

 Andrea C. T. Wanderley**

1884 – O fotógrafo Joaquim Pinto da Silva, que ficou conhecido como J. Pinto, nasceu em Alagoinhas, na Bahia, filho de José Camerino Pinto da Silva e Maria da Purificação.

c. 1898 – Com 14 anos, J. Pinto teria vindo para o Rio de Janeiro.

1903 – Foi contratado pelo médico e sanitarista Oswaldo Cruz na fase inicial das atividades em Manguinhos e começou a documentar a construção do que viria a ser um dos principais centros de ciência e saúde do Brasil.

1910 – Segundo o historiador Eduardo Thielen, que escreveu a dissertação Imagens da saúde no Brasil – A fotografia na institucionalização da saúde pública, J. Pinto teria sido possivelmente o autor do primeiro filme científico feito no Brasil, Chagas em Lassance. A obra, com 9 minutos de duração, era sobre a descoberta da doença de Chagas, feita pelo cientista Carlos Chagas, em Lassance, Minas Gerais, em 1909 (Agência Fiocruz, 15 de agosto de 2008).

1911 – Chagas em Lassance foi exibido por Oswaldo Cruz na Exposição Internacional de Higiene e Demografia de Dresden, na Alemanha (Agência Fiocruz, 15 de agosto de 2008). Também foi exibido o filme sobre as ações de combate à febre amarela no Rio de Janeiro. Esses dois filmes constituem o mais antigo acervo audiovisual científico preservado de que se tem notícia no Brasil. O pavilhão do Brasil, único país das Américas a construir um estande próprio no evento, foi inaugurado em 15 de junho (O Paiz, 16 de junho de 1911, quinta coluna).

1946 - J. Pinto aposentou-se devido a problemas de saúde.

1951 – Em outubro, falecimento de Joaquim Pinto da Silva. Sua missa de 30º dia foi realizada na Catedral Metropolitana do Rio de Janeiro (Diário de Notícias, 25 e 26 de novembro de 1951).

 

2014 – Lançamento do livro Vida, engenho e arte — O acervo histórico da Fundação Oswaldo Cruz, com imagens produzidas por J. Pinto (O Globo, 6 de junho de 2014).

2016 – Realização da exposição Manguinhos Revelado: um Lugar de Ciência, com cerca de 120 fotografias, a maioria de autoria de J. Pinto (Portal Fiocruz, 8 de novembro de 2016).

 

**Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica