O fotógrafo Paul Erbe

A arquivista Daniella Gomes dos Santos e a doutora em História Maria Isabel Lenzi, ambas do Museu Histórico Nacional, uma das instituições parceiras da Brasiliana Fotográfica, nos contam sobre o trabalho de pesquisa que realizaram em busca de informações sobre um fotógrafo chamado Paul Erbe, que atuou no Rio de Janeiro nas primeiras décadas do século XX. O Museu Histórico Nacional possui dois álbuns fotográficos de Erbe, além de três retratos realizados por ele na década de 20. Um dos álbuns, com 11 paisagens do Rio de Janeiro produzidas na década de 10, pertenceu ao alemão Karlheinz Klintworth e foi adquirido em 1998. O outro tem 20 imagens do Mosteiro de São Bento realizadas nos anos 20.

 

O fotógrafo Paul Erbe

Daniella Gomes dos Santos e Maria Isabel Ribeiro Lenzi*

Neste artigo relatamos o trabalho de pesquisa em busca de informações sobre um fotógrafo chamado Paul Erbe.

 

 

A investigação iniciou-se após revisão de dados em diversos inventários das coleções sob a guarda do Arquivo Histórico do Museu Histórico Nacional – MHN. Uma das atualizações feitas foi a de um álbum contendo onze fotografias com imagens do Rio de Janeiro, da década de 1910, com a identificação do fotógrafo Paul Erbe, que nós desconhecíamos.

 

 

Acessando o link para as 11 fotografias em sépia do álbum que pertenceu a Karlheinz Klintworth com fotografias de autoria de Paul Erbe do acervo do Museu Histórico Nacional e disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

Esse álbum pertenceu a Karlheinz Klintworth, cidadão alemão, que viveu no Brasil no período de 1957 a 1970 e foi oferecido ao MHN como sendo uma preciosidade. Após trocas de correspondências entre a direção do Museu e o proprietário das fotografias, foi verificada a relevância do material e a compra foi realizada através da Associação de Amigos do Museu Histórico Nacional no ano de 1998.

 

 

Notícia no Jornal do Brasil sobre a compra do álbum:

 

 

 

Buscamos informações sobre Erbe no Dicionário Histórico-Fotográfico Brasileiro de Boris Kossoy, em que foi compilada a trajetória de fotógrafos e retratistas que documentaram o Brasil entre 1833 e 1910, mas não constam nessa obra informações sobre o fotógrafo.

Pesquisando na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional, encontramos notícia de agosto de 1917, em que vários jornais, como O Paiz, Gazeta de Notícias, Jornal do Commercio e Jornal do Brasil, relatam um incêndio de grandes proporções que destruiu grande parte do edifício em que funcionava a redação do jornal O Paiz, na Avenida Branco, esquina com rua Sete de Setembro, no centro do Rio de Janeiro. Ocorre que, o ateliê fotográfico de Huebner Amaral, de quem Paul Erbe era sócio, também funcionava no prédio em que aconteceu o sinistro.

 

 

 

 

Demos prosseguimento à pesquisa em sítios eletrônicos e encontramos um artigo de Mateus Duarte, tendo como objeto de estudo um álbum com fotografias de 1921 a 1936, produzidas por Paul Erbe. O álbum foi doado e dedicado à John Raschle pela diretoria da indústria como prova reconhecimento à sua collaboração como director gerente nos dois primeiros anos da sociedade e como constante lembrança da sua pêssoa , conforme escrito na dedicatória do dia 26 de novembro de 1936.

 

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Álbum S.A. Cotonifício Gávea / Mapeamento sócio técnico e cultural da Gávea: o álbum de fotografia da S.A Cotonifício Gávea, página 10.

 

 

São 45 fotografias de uma pequena fábrica localizada na Gávea, Rio de Janeiro. O autor relata em seu texto que não conseguiu muita informação sobre o fotógrafo e faz referência ao Almanak Laemmert: Administrativo Mercantil e Industrial (RJ) e ao Jornal do Comércio como fonte de pesquisa. Na edição de 1919 do Jornal do Commercio é noticiada a dissolução da sociedade com George Huebner (1862-1935). Paul Erbe, citado na matéria como Paulo Erbe, era sócio-gerente desde 1912, ficando como único proprietário do ateliê fotográfico, localizado na rua da Assembleia nº 100, a partir da interrupção da parceria. Presumimos que a ruptura da sociedade e a mudança de endereço tenha relação com o incêndio de 1917.

 

 

 

Paul Erbe permaneceu na rua da Assembleia nº 100 até o final da década de 1920.  Ao longo deste decênio, grande parte de seus anúncios ofereciam ao público seu trabalho neste endereço no centro da cidade.

 

 

Todavia, no final da década, o fotógrafo faz o movimento rumo ao bairro que estava em franco crescimento: Copacabana. Encontramos, em 1929, no Almanak Laemmert, sua nova direção à rua República do Peru nº 100.

 

 

A partir de 1923, aparecem diversos anúncios em que se faz referência ao trabalho de Paul Erbe em peças teatrais, cujos artistas tinham os retratos expostos nos saguões do teatro e no “estúdio Erbe”. Eram disponibilizados aos assinantes de frisas e camarotes, fotografias dos principais artistas das Companhias, produzidas pelo “magnífico trabalho da acreditada Photographia ERBE, Rua da Assembleia n.100”(Correio da Manhã, 2 de outubro de 1923; O Jornal, 15 de abril de 1924).

 

 

A única imagem que conseguimos encontrar do fotógrafo está na Revista Fon-Fon! - importante periódico que circulou nas primeiras décadas do século XX – é a que está publicada no início deste artigo. A Fon-Fon! apresentava a vida privada da sociedade burguesa e foi grande influenciadora do comportamento da elite carioca (Fon-Fon!, 7 e outubro de 1916).

Nas buscas por mais informações, nos deparamos com trabalhos de Erbe em sites de leilões eletrônicos: fotografias de famílias e paisagens do Rio de Janeiro.

Mas voltando ao álbum, verificamos que aparece na capa o endereço do centro – rua da Assembleia, 100.  Deste modo, deduzimos que ele deve ter sido feito a partir de 1919, talvez na década de 1920. Porém, observando algumas fotografias, percebemos que são imagens da década de 1910. Em duas fotos, o Pão-de-Açúcar aparece sem os cabos que sustentam o bondinho.  Conseguimos visualizar as construções que estavam sendo feitas no alto dos morros da Urca e do Pão-de-Açúcar, mas ainda sem o bondinho que pouco depois levaria turistas para contemplar a paisagem carioca. Sabemos que a primeira parte do Caminho Aéreo do Pão-de-Açúcar foi inaugurado em 1912, de modo que provavelmente essas imagens são anteriores a este ano. Todavia, a montagem do álbum provavelmente é da década de 1920.

 

 

Consta no processo de compra do álbum que um perito do arquivo histórico da Companhia de Navegação Hamburg-Sud, de Hamburgo, apontou que há uma imagem de um navio da referida companhia, que só trafegou na Baía da Guanabara em alguns meses no ano de 1914.  Nesta fotografia em que aparece o navio, o Pão-de-Açúcar fica bem visível sem o cabo do bondinho, de modo que constatamos um equívoco do perito nesta datação, a julgar pelo exposto acima.

O fato de o Morro do Castelo aparecer em uma das fotos corrobora a tese de que as fotografias são da década de 1910. Sabemos que aquele outeiro foi demolido em início dos anos de 1920 e o álbum traz uma fotografia em que o outeiro está intacto.  Então acreditamos que essas imagens são mesmo dos anos 1910, mas foram reunidas em álbum na década seguinte.

 

 

Além do álbum citado neste artigo, o Arquivo Histórico do MHN preserva outro, contendo vinte fotografias com imagens do Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro, além de três retratos da década de 1920, todos produzidos por Paul Erbe.

 

Acessando o link para as fotografias do outro álbum de fotografias de autoria de Paul Erbe com imagens do Mosteiro de São Bento e de três retratos também produzidos por ele pertencentes ao acervo do Museu Histórico Nacional e disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

 

Não localizamos a quem pertenceu este outro álbum e um dos retratos. Já as outras duas fotografias constam a informação de seus doadores: uma foi doada em 1993 por Yeda Telles de Menezes, e é de um familiar da doadora; e a outra, doada em 1998, por José Pinto de Lima, é do próprio doador.

 

 

 

 

A terceira é do engenheiro e político Miguel Calmon (1879 – 1935), que foi ministro e secretário de Estado dos Negócios da Indústria, Viação e Obras Públicas durante a presidência de Afonso Pena (1847 – 1909) e de Nilo Peçanha (1867 – 1924); e também da Agricultura, Indústria e Comércio, do governo de Artur Bernardes (1875 – 1955).

 

 

 

*Daniella Gomes dos Santos é graduada em Arquivologia pela Unirio e arquivista do Arquivo Histórico do Museu Histórico Nacional (IBRAM/MinC)

Maria Isabel Ribeiro Lenzi é doutora em História pela UFF e historiadora do Arquivo Histórico do Museu Histórico Nacional (IBRAM/MinC)

 

Fontes:

DUARTE, Mateus Sanches. Mapeamento sócio técnico e cultural da Gávea: o álbum de fotografia da S.A Cotonifício Gávea.  Disponível em: https://www.puc-rio.br/ensinopesq/ccpg/pibic/relatorio_resumo2019/download/relatorios/CCS/CSOC/CSOC-
Mateus%20Sanches%20Duarte.pdf . Acesso em 11 de agosto de 2023.Acesso em 11 de agosto de 2023.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOSSOY, Boris. Dicionário Histórico-Fotográfico Brasileiro. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002.

ZANON, Marilia Cecilia. A sociedade carioca da Belle Époque nas páginas do Fon Fon!  Patrimônio e Memória, v.4, n. 2, p. 217-235. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/handle/11449/108024. Acesso em 10 de agosto de 2023.

 

 

Nota da editora:

No catálogo dos quadros do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, publicado, em 1948, na revista do referido instituto, está listada uma ampliação fotográfica realizada por Paul Erbe do historiador, professor e jornalista Max Fleiuss(1868 – 1943) (Revista do  Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, outubro / dezembro de 1948, segunda coluna).

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica