Série “1922 – Hoje, há 100 anos” V – A Revolta do Forte de Copacabana

Com uma imagem do acervo da Fundação Biblioteca Nacional, uma das instituições fundadoras da Brasiliana Fotográfica, produzida por um fotógrafo ainda não identificado, o portal publica o quinto artigo da Série 1922 – Hoje, há 100 anos, desta vez sobre o levante tenentista e a Revolta dos 18 do Forte de Copacabana, entre 5 e 6 de julho de 1922, na avenida Atlântica, no Rio de Janeiro. Com o episódio, o tenentismo ganhou impulso e foi um dos principais agentes históricos responsáveis pelo colapso da Primeira República do Brasil (O Paiz, 7 de julho de 1922; Gazeta de Notícias, 5 de julho de 1922Beira-Mar, 3 de julho de 1927 e Beira-Mar, 3 de julho de 1927).

 

 

Mesmo se opondo aos objetivos do levante, o escritor Coelho Neto (1864 – 1934), em seu artigo Arrancada Radiante, que deveria ter sido publicado no Jornal do Brasil de 9 de julho de 1922, mas foi censurado, perguntou:

“Que povo não se orgulharia de possuir na raça tais leões?”

Embora rapidamente reprimida, a Revolta dos 18 do Forte de Copacabana foi importante historicamente, tendo sido a primeira manifestação do movimento tenentista, que buscava derrubar a República Velha e sua política, que ficou conhecida como Café com Leite, que alternava candidatos das oligarquias de São Paulo e Minas Gerais.

O tenentismo, movimento que deu origem a outras revoltas como a Coluna Prestes (1924 a 1927), a Comuna de Manaus (1924) e a Revolta Paulista (1924), é considerado o embrião da Revolução de 1930.

Segundo Nelson Werneck Sodré:

“…o Tenentismo foi um episódio intimamente vinculado à mudança operada com a queda da República Velha e a implantação do regime subsequente, que poderia ser denominado de República Nova, embora esse título seja impróprio, de vez que não houve, entre uma e outra, a Velha e a Nova, diferenças essenciais”.

“O extraordinário feito desse pequeno grupo, que se deslocou ao longo da praia de Copacabana, ao encontro das forças legais, tornou-se, com a ressonância que alcançou em todo o país, e com sua glorificação pela imprensa de oposição, uma das motivações fundamentais das ações que se  sucederiam ao longo dos anos”.

A marcha dos 18 do Forte foi realizada provavelmente por cerca de 17 ou 18 militares e um civil – há controvérsias em relação a esse número.

 

 

 

Os praças Altino Gomes da Silva, Hildebrando da Silva Nunes, Manoel Ananias dos Santos, Manoel Antônio dos Reis; os soldados Benedito José do Nascimento, Francisco Ribeiro de Freitas, Heitor Ventura da Silva, João Anastácio Falcão de Melo; e o sargento José Pinto de Oliveira participaram da marcha e sobreviveram. Os tenentes Siqueira Campos (1898 – 1930) e Eduardo Gomes (1896 – 1981), futuro patrono da Força Aérea e candidato à Presidência da República em 1945 e em 1950, participaram e foram feridos. Os que morreram durante o combate foram o praça Hipólito José dos Santos, os tenentes Mario Carpenter, o soldado Pedro Ferreira de Melo, além do civil Otávio Correia. O tenente Newton Sizendando Prado (1897 – 1922) foi gravemente ferido e faleceu dias depois.

 

 

Quando aconteceu a Revolta dos 18 do Forte de Copacabana, o mineiro Artur Bernardes (1875 – 1955), do Partido Republicano Mineiro, havia sido eleito presidente da República poucos meses antes, em março de 1922, fato abordado no terceiro artigo da Série Hoje, há 100 anos. Durante a campanha presidencial houve o episódio das cartas falsas: Bernardes foi acusado de ter escrito cartas ao senador Raul Soares (1877 – 1924), publicadas no jornal Correio da Manhã, atacando seu opositor, o fluminense Nilo Peçanha (1867 – 1924), candidato do Movimento Reação Republicana, chamado de moleque, e o marechal Hermes da Fonseca (1855 – 1923), referido como um sargentão sem compostura, o que acirrou os ânimos dos militares contra sua candidatura. Os jovens militares da Revolta dos 18 do Forte haviam apoiado a Reação Republicana. E antes, em 1919, o presidente Epitácio Pessoa (1865 – 1942) já havia nomeado o civil Pandiá Calógeras (1870 – 1934) para o Ministério da Guerra, causando mal estar entre os militares.

Voltando para 1922: Epitácio interveio na eleição estadual de Pernambuco, ocorrida em 27 de maio, cuja campanha eleitoral entre o candidato ligado a Nilo Peçanha, o vencedor José Henrique Carneiro da Cunha, e o ligado a Artur Bernardes, o coronel Lima Castro, prefeito do Recife; havia sido muito agitada. As tropas federais patrulharam o Recife e apoiavam claramente os bernardistas (Diário de Pernambuco, 27 de maio de 1922). O marechal Hermes da Fonseca (1855 – 1923), então presidente do Clube Militar, reagiu criticando duramente o presidente, tendo enviado, em 29 de junho de 1922,  um telegrama ao coronel Jaime Pessoa, comandante da 7ª Região Militar, sediada no Recife:

“O Clube Militar está contristado pela situação angustiosa em que se encontra o Estado de Pernambuco, narrada por fontes insuspeitas que dão ao nosso glorioso Exército a odiosa posição de algoz do povo pernambucano. Venho fraternalmente lembrar-vos que mediteis nos termos dos arts. 6.º e 14 da Constituição, para isentardes o vosso nome e o da nobre classe a que pertencemos da maldição de nossos patrícios. O apelo que ora dirijo ao ilustre consócio é para satisfazer os instantes pedidos de camaradas nossos daí, no sentido de apoiá-lo nessa crítica emergência, em que se procura desviar a força armada do seu alto destino. Confiando no vosso patriotismo e zelo pela perpetuidade do amor do Exército, ao povo de nossa terra, vos falo nesse grande momento. Não esqueçais que as instituições passam e o Exército fica. – Saudações – M.al Hermes da Fonseca.” (Correio da Manhã, 30 de junho de 1922, terceira coluna).

Epitácio ordenou, em 2 de julho, a prisão do marechal  Hermes – que foi libertado no dia seguinte – e o fechamento do Clube Militar, três dias antes do levante do Forte de Copacabana. O capitão Euclides Hermes (1883 – 1962), filho de Hermes e comandante do Forte de Copacabana, em 4 de julho, conclamou seus comandados. Houve também levantes na Vila Militar e na Escola Militar do Realengo, no Rio de Janeiro, e ainda na guarnição de Mato Grosso. Devido à revolta, foi decretado o estado de sítio no Brasil. O governo federal reprimiu o movimento, prendendo vários oficiais, inclusive, novamente, Hermes da Fonseca, libertado em janeiro de 1923 (O Jornal, 2 de julho,primeira coluna4 de julho, primeira coluna; e 6 de julho de 1922; Gazeta de Notícias, 6 de julho de 1922; O Paiz, 7 de janeiro de 1923; Gazeta de Notícias, 7 de janeiro de 1923).

 

 

“Na madrugada de 5 de julho, a crise culminou com uma série de levantes militares. Na capital federal, levantaram-se o forte de Copacabana, guarnições da Vila Militar, o forte do Vigia, a Escola Militar do Realengo e o 1° Batalhão de Engenharia; em Niterói, membros da Marinha e do Exército; em Mato Grosso, a 1ª Circunscrição Militar, comandada pelo general Clodoaldo da Fonseca, tio do marechal Hermes. No Rio de Janeiro, o movimento foi comandado pelos “tenentes”, uma vez que a maioria da alta oficialidade se recusou a participar do levante.

Os rebeldes do forte de Copacabana dispararam seus canhões contra diversos redutos do Exército, forçando inclusive o comando militar a abandonar o Ministério da Guerra. As forças legais revidaram, e o forte sofreu sério bombardeio. O ministro da Guerra, Pandiá Calógeras, empreendeu em vão várias tentativas no sentido de obter a rendição dos rebeldes.

Finalmente, no início da tarde do dia 6 de julho, ante a impossibilidade de prosseguir no movimento, os revoltosos que permaneciam firmes na decisão de não se renderem ao governo abandonaram o forte e marcharam pela avenida Atlântica de encontro às forças legalistas. A eles aderiu o civil Otávio Correia, até então mero espectador dos acontecimentos.

Conhecidos como os 18 do Forte – embora haja controvérsias quanto a seu número, pois os depoimentos dos sobreviventes e as notícias da imprensa da época não coincidem -, os participantes da marcha travaram tiroteio com as forças legais. Os tenentes Siqueira Campos e Eduardo Gomes sobreviveram com graves ferimentos. Entre os mortos, estavam os tenentes Mário Carpenter e Newton Prado.”

Site do CPDOC

 

Segundo o historiador Hélio Silva:

“Silenciado o último fuzil; mal pensadas as feridas sangrentas; jogada a pá de cal aos esquifes baixados às sepulturas, começaram as devassas. (…) (Instautou-se) um estado de sítio de quatro anos, sob um regime de prisões políticas, não só dos réus, mas também dos advogados e jornalistas, que os defendiam e, ainda, a ameaça de prisão para juízes e paralemntares, com a censura à imprensa e alguns jornais suspensos… O interrogatório dos indiciados faz surgir nos cabeçalhos dos diários os nomes que mais tarde iriam chefiar revoluções, dirigir ministérios, comandar exércitos: Eduardo Gomes, Juarez Távora, Ciro Cardoso, Odílio Denys.”

 

forte7Beira-Mar, 3 de julho de 1927

Da esquerda para direita, tenentes Eduardo Gomes, Siqueira Campos, Nílton Prado e Otávio Correia/

Beira-Mar, 3 de julho de 1927

 

A icônica foto do episódio dos 18 do Forte, mostrada acima, não está creditada mas é de autoria do fotógrafo Zenóbio Rodrigues do Couto (1875 – 1931). Houve inclusive uma polêmica em torno da veracidade e da autoria da imagem, considerada pelo O Cruzeiro, em 1931, um dos dois registros mais importantes da reportagem fotográfica brasileira até então. O outro seria o da saída do presidente Washington Luis (1869 – 1957) do Palácio da Guanabara, em 24 de outubro de 1930, produzida por Joaquim Vieira, da Revista da Semana (O Cruzeiro, 26 de setembro de 1931, terceira colunaO Cruzeiro, 3 de julho de 1974).

Além da icônica imagem de Zenóbio, conhecida como Marcha da Morte, ele teria produzido duas outras do episódio: uma do tenente Newton Campos de pé sobre uns colchões em frente ao Forte de Copacabana e outra do cabo Manoel Antônio Reis, corneteiro do Forte. Teriam sido publicadas na edição de 15 de julho de 1922 da revista O Malho, que foi apreendida, motivo pelo qual não há um exemplar dessa edição na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional. Porém, em O Jornal, de 18 de julho de 1922, há a transcrição de um artigo publicado na referida edição de O Malho sobre a revolta, a favor do presidente (O Jornal, 18 de julho de 1922, quarta colunaCorreio da Manhã, 3 de julho de 1963; História de Alagoas). Zenóbio e sua mulher suicidaram-se, em 1931 (O Malho, 12 de setembro de 1931).

 

 

Link para fotografias do movimento revolucionário publicadas na Revista da Semana de 15 de julho de 1922: páginas 18, 19 e 20.

 

Homenagem aos 18 do Forte

 

Em 5 de dezembro de 1930, por decisão do interventor do Distrito Federal, Adolpho Bergamini (1886 – 1945), em homenagem aos 18 do Forte, a rua Barroso, em frente a qual se realizaram os combates na praia, foi batizada de rua Siqueira Campos. E a antiga rua Hermezilda passou a chamar-se 5 de julho, em 1931 (Beira-Mar, 11 de julho de 1931).

 

 

Na edição da Beira-Mar, de 29 de junho de 1940, foi publicado um interessante relato de um repórter que presenciou a Revolta dos 18 do Forte.

Foi inaugurado, em 5 de julho de 1974, com a presença do brigadeiro Eduardo Gomes, único sobrevivente do levante, o monumento Tenente Siqueira Campos – Ao Levante dos 18 do Forte, na avenida Atlântica, em frente à rua Siqueira Campos. A estátua em bronze representa Siqueira Campos no momento que foi atingido por um tiro (Jornal do Brasil, 5 de julho, última coluna; e 6 de julho, terceira coluna, de 1974).

 

 

Outra efeméride de 1922 – A fundação do Centro Dom Vital

 

Também em 1922, em maio, cerca de dois meses antes do episódio dos 18 do Forte, foi fundado o Centro Dom Vital, criado pelo escritor Jackson de Figueiredo (1891 – 1928), convertido ao catolicismo, em 1918, influenciado por dom Sebastião Leme (1882 – 1942), arcebispo do Rio de Janeiro. A associação combatia os ideais dos tenentes, atacava o socialismo e um de seus objetivos mais importantes era formar uma “nova geração de intelectuais católicos”. Jackson usava a revista A Ordem, fundada por ele, em 1921, para repercutir os ideais do Centro Dom Vital, do qual fizeram parte como presidentes o escritor Alceu Amoroso Lima (1893 – 1983) e o jurista Heráclito Sobral Pinto (1893 – 1991), dentre outros.

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

CARVALHO, Claunisio Amorim. O insigne pavilhão: nação e nacionalismo na obra do escritor Coelho Neto. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História Social – Mestrado Acadêmico da Universidade Federal do Maranhão, 2012.

DÓRIA, Pedro. Tenentes: A guerra civil brasileira. Rio de Janeiro : Record, 2016.

FORJAZ, Maria Cecilia Spina. A crise da república oligárquica no Brasil: as primeiras manifestações tenentistas. Dezembro de 1976.

GERSON, Brasil. História das Ruas do Rio. Rio de Janeiro: Bem-Te-Vi, 2013.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

Nosso Século 1910 – 1930. Rio de Janeiro : Editora Abril, 1980.

Site Centro Dom Vital

Site CPDOC – 18 do ForteCentro Dom Vital

Site História de Alagoas

Site Inventário dos Monumentos RJ

SILVA, Hélio. Sangue na areia de Copacabana. Rio de Janeiro : Civilização Brasileira, 1971.

SODRÉ, Nelson Werneck. O Tenentismo. Porto Alegre : Editora Mercado Aberto, 1985.

TORRES, Sergio Rubens de Araújo. A Revolução de 1922 – Os 18 do Forte

 

Links para os artigos já publicados da Série 1922 – Hoje, há 100 anos

Série 1922 – Hoje, há 100 anos I – Os Batutas embarcam para Paris, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, publicado em 29 de janeiro de 2022

Série 1922 – Hoje, há 100 anos II- A Semana de Arte Moderna, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, publicado em 13 de fevereiro de 2022, na Brasiliana Fotográfica

Série 1922 – Hoje, há 100 anos III – A eleição de Artur Bernardes e a derrota de Nilo Peçanha, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, publicado em 1º de março de 2022, na Brasiliana Fotográfica

Série 1922 – Hoje, há 100 anos IV – A primeira travessia aérea do Atlântico Sul, realizada pelos aeronautas portugueses Gago Coutinho e Sacadura Cabral, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicada em 17 de junho de 2022, na Brasiliana Fotográfica

Série 1922 – Hoje, há 100 anos VI e série Feministas, graças a Deus XI – A fundação da Federação Brasileira para o Progresso Feminino, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 9 de agosto de 2022, na Brasiliana Fotográfica

Série 1922 – Hoje, há 100 anos VII – A morte de Gastão de Orleáns, o conde d´Eu (Neuilly-sur-Seine, 28/04/1842 – Oceano Atlântico 28/08/1922), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 28 de agosto de 2022, na Brasiliana Fotográfica.

Série 1922 – Hoje, há 100 anos VIII – A abertura da Exposição Internacional do Centenário da Independência do Brasil e o centenário da primeira grande transmissão pública de rádio no país, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 7 de setembro de 2022, na Brasiliana Fotográfica.

Série 1922 – Hoje, há 100 anos IX – O centenário do Museu Histórico Nacional, de autoria de Maria Isabel Lenzi, historiadora do Musseu Histórico Nacional, publicado em 12 de outubro de 2022, na Brasiliana Fotográfica.

Série 1922 – Hoje, há 100 anos X –  A morte do escritor Lima Barreto (1881 – 1922), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 1º denovembro de 2022, na Brasiliana Fotográfica

Série 1922 – Hoje, há 100 anos XI e série Feministas, graças a Deus XII 1ª Conferência pelo Progresso Feminino e o “bom” feminismo, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, antropóloga do Arquivo Nacional, publicado em 19 de dezembro de 2022, na Brasiliana Fotográfica.

Aspectos de Poços de Caldas impressos no papel fotográfico fabricado pelo pioneiro Conrado Wessel (1891 – 1993)

A Brasiliana Fotográfica destaca imagens de aspectos da cidade mineira de Poços de Caldas, impressas no papel fotográfico produzido pelo fotógrafo, inventor e empreendedor Conrado Wessel (1891 – 1993), pioneiro da indústria fotográfica no Brasil. Filho do fotógrafo argentino Guilherme Wessel (1862 – 1940), sua vida é um exemplo de desenvolvimento científico e inovação realizados no Brasil. As imagens pertencem ao acervo da Fundação Biblioteca Nacional, uma das fundadoras do portal, e, atrás de todas elas, produzidas em 1929, está escrita a marca do fabricante do papel no verso: “Wessel“. Também foram publicadas na seção “Cronologia de Fotógrafos”, as cronologias de Conrado e Guilherme, a 51ª e 52ª produzidas pelo portal.

 

Acessando o link para as fotografias de Poços de Caldas impressas no papel fotográfico produzido por Conrado Wessel disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

 

 

 

As trajetórias de Guilherme (1862 – 1940) e Conrado Wessel (1891 – 1993)

 

 

“Contribuiu decisivamente para a implantação da indústria fotográfica no país, pois fundou a primeira indústria de papel fotográfico no Brasil. Utilizou fórmulas e processos segundo sua concepção e auxiliou Valério Vieira na sensibilizaçaodo famoso painel “Panorama da Cidade de São Paulo. Introduziu o papel fotográfico tamanho postal, que se tornou conhecido por “Postaes Wessel Jardim” e que foram largamente consumido pelos lambe-lambe”. Sua indústria foi posteriormente adquirida pela Kodak e durante algum tempo lia-se nas casixas de papel fotográfico a sigla Kodak-Wessel”

Boris Kossoy sobre Conrado Wessel, 1975

 

O nome de batismo de  Conrado Wessel era Ubald Konrad August Wessel e ele nasceu em Buenos Aires, na Argentina, em 16 de fevereiro de 1891, filho do fotógrafo Guilherme Wessel (1862-1940), que havia nascido em Concepcion do Uruguai; e de Nicolina Krieger Wessel (1863 – 1956). Eles se casaram em 3 de março de 1887. A família Wessel, tradicional fabricante de chapéus em Hamburgo, na Alemanha, havia imigrado para a Argentina em meados do século XIX, provavelmente nos primeiros anos da década de 1860. Guilherme foi para Hamburgo onde formou-se em Física, e retornou à Argentina.

Em 1892, Guilherme foi com a família – mulher e dois filhos, Georg Walter (1888 – 1908) e Conrado – para Sorocaba e, depois, para São Paulo, convidado para lecionar na Escola Politécnica, que viria a ser uma das unidades fundadoras da Universidade de São Paulo, em 1934.

Ele abriu em sociedade com Carlos Norder, em 1900, um estabelecimento de artigos de fotografia e de laboratórios químicos, na rua São Bento, 41 A, no centro da capital, Aos Photograhos e Amadores da photographia. Oferecia gratuitamente aos amadores lições práticas e disponibilizavm para todos os fregueses um quarto escuro. Na mesma época, Guilherme Gaensly (1843 – 1928) tinha um ateliê fotográfico, na rua 15 de Novembro, 28 (O Estado de São Paulo, 3 de janeiro de 1900, página 2, sexta coluna; Correio Paulistano, 5 de janeiro de 1900Almanak Laemmert, segunda coluna, 1901)

 

 

 

O Estado de São Paulo, 3 de janeiro de 1900

O Estado de São Paulo, 3 de janeiro de 1900

 

Anunciava em dezembro de 1900 ter recebido grande sortimento de produtos: chapas Lumière, câmaras fotográficas e objetos para fotografia e distribuiu a seus fregueses, em dezembro do ano seguinte, uma carteira com espelho (O Commercio de São Paulo, 21 de dezembro de 1900; O Estado de São Paulo, 1º de janeiro de 1902, página 2, quarta coluna).

 

 

Em 1901, Guilherme já prestava serviços fotográficos para as secretarias da Fazenda, do Interior e da Justiça de São Paulo (O Estado de São Paulo, 6 de março de 1901, página 1, penúltima coluna; Correio Paulistano, 7 e março, quinta coluna; 4 de setembro, segunda coluna, de 1903; Correio Paulistano, 22 de setembro de 1904, última coluna; Correio Paulistano, 6 de janeiro de 1905, sétima coluna). Também tinha uma Casa Importadora de Artigos para Photografia e Aparelhos de Eletricidade, na rua Direita, nº 20 (Almanak Laemmert, primeira coluna, 1903).

 

Illustração Brasileira, 1905

Illustração Brasileira, 1905

 

Em 1904, Guilherme foi um dos doadores para a quermesse em prol do Instituto Pasteur de São Paulo e do Conservatório Dramático Municipal (Correio Paulistano, 11 de março de 1904, primeira coluna). Neste mesmo ano promoveu uma exposição de fotografias no intuito de estimular os amadores (O Commercio de São Paulo, 9 de julho de 1904, primeira coluna).

 

 

Em 1907, Guilherme tinha uma loja de artigos fotográficos na rua Líbero Badaró, 48. Nessa mesma época, Valério Vieira (1862 – 1941)Vincenzo Pastore (1865 – 1918) também possuiam estabelecimentos fotográficos em São Paulo.

 

 

O italiano Pastore, importante cronista visual de São Paulo da segunda metade do século XIX e do início do século XX, e Guilherme foram, provavelmente, amigos, já que Guilherme estava presente a seu enterro, em janeiro em 1918 (Almanak Laemmert, 1907primeira coluna; Almanak Henault, 1909Correio Paulistano, 19 de janeiro de 1918, terceira coluna).

 

 

Guilherme foi contratado pelo Jockey Club de São Paulo para inaugurar o serviço de fotografia de chegadas dos páreos (O Paiz, 23 de fevereiro de 1907, quarta colunaRevista da Semana, 3 de março de 1907).

 

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Trabalhava com seu filho mais velho Georg Walter, que faleceu de tifo, em 26 de dezembro de 1908, e foi enterrado no Cemitério dos Protestantes (Correio Paulistano, 2 de novembro de 1914, primeira coluna). Nesse mesmo ano, por cerca de seis meses, Conrado foi assistente de um cinegrafista da Gaumont, que havia vindo ao Brasil para filmar fazendas de café para a propaganda do produto na Europa, tornando-se um dos primeiros cinegrafistas do Brasil. Estava na folha de pagamentos da Secretaria da Fazenda de São Paulo (Correio Paulistano, 4 de novembro de 1908, sexta coluna).

“O primeiro documento expedido no Brasil atestando a capacidade para o exercício da função de cinegrafista foi fornecido ao químico Conrado Wessel, em 1908, pela Gaumont Films, uma das produtoras mais antigas da França. Wessel (1891-1993) conta em sua carta autobiográfica que recebeu o atestado das mãos de um cinegrafista da Gaumont, Colliot, que veio ao país contratado pela Secretaria de Agricultura de São Paulo.
Por mais de seis meses, ele foi intérprete e ajudante do cinegrafista francês e ambos filmaram várias fazendas de café, colhendo cenas para a propaganda do produto na Europa” (Ana Maria Guariglia, Folha de São Paulo, 2 de março de 1995).

Guilherme fechou a loja e, em 1909, continuou a trabalhar fornecendo fotografias para a Secretaria da Agricultura. Em 1911, recebeu pagamento da secretaria por ter fornecido 20 fotografias ao poeta Olavo Bilac (1865 – 1918). Em 1920, forneceu à Diretoria de Indústria e Comércio uma fita cinematográfica e ampliações fotográficas para a Feira de Lyon (Correio Paulistano, 12 de outubro de 1909, última coluna; Correio Paulistano, 7 de junho de 1911, terceira coluna; Correio Paulistano, 20 de março de 1912, terceira coluna; O Paiz, 21 de agosto de 1912, quinta coluna; O Combate, 3 de dezembro de 1920, última coluna).

 

 

Conrado, que havia feito seus primeiros estudos na Escola Alemã daVila Mariana, participou de um concurso de fotografia, apresentando 25 fotografias em um pavilhão especialmente preparado para a exposição, no Posto Zootécnico de São Paulo (Correio Paulistano, 21 de outubro de 1906, quinta coluna). Já havia conquistado dois prêmios como fotógrafo quando, em 1911, foi para Viena, na Áustria.

 

 

Além de estudar fotoquímica no K.K. Graphischen Lehr und Versuchsanstalt, entre julho de 1911 e dezembro de 1912 ,estagiou na Casa Beissner & Gottlieb, especializada na área gráfica e fotográfica, entre de 10 de julho de 1912 e 8 de fevereiro de 1913. Especializou-se em clichês para jornais e revistas.

 

 

Abaixo, a reprodução do certificado da Casa Beissner & Gottlieb, de Viena, de 8 de fevereiro de 1913, documentando o estágio profissional obrigatório realizado por Conrado Wessel, na conclusão de seus estudos no Instituto K.K. Graphischen Lehr und Versuchsanstalt.

 

 

Tradução: Atestado: Viena, 8 de fevereiro de 1913. O sr. Conrado Wessel, após ter terminado os estudos gráficos da K.K. Graphischen Lehr & Versuchsanstalt, esteve em nosso instituto em atividades práticas desde 10 de julho de 1912 até hoje. Trabalhou em diferentes departamentos e obteve sucesso e muitos bons resultados. Nós atestamos portanto com satisfação que estamos contentes pelo seu desempenho em cada índice, com extremado respeito por suas realizações, e desejamos a ele o maior progresso no futuro”.

Voltou para São Paulo, em 1913, com maquinário para a montagem de uma clicheria com o pai. Guilherme seguia trabalhando para a Secretaria da Fazenda e, em 1914, fez uma proposta para prorrogar por mais um ano o contrato que tinha de fornecimento de fotografias para a entidade (Correio Paulistano, 3 de fevereiro de 1914, quarta colunaCorreio Paulistano, 29 de julho de 1916, quarta coluna; Correio Paulistano, 13 de dezembro de 1917, terceira coluna; Correio Paulistano, 10 de janeiro de 1918, última coluna).

Em 1914, Conrado fotografou o Salto do Paranapanema durante uma visita realizada pelo então secretário da Agricultura de São Paulo, Paulo de Moraes Barros, ao local, quando inaugurou o primeiro trecho do prolongamento da ferrovia Sorocabana Railway na direção do Porto Tibiriçá (Correio Paulistano, 16 de fevereiro de 1914, sexta coluna).

Entre 1915 e 1919, foi aluno ouvinte na Escola Politécnica e também trabalhou como auxiliar no laboratório do professor de bioquímica, físico-química e eletroquímica Roberto Hottinger, no curso de Engenharia Química. Conrado queria criar um papel fotográfico de qualidade equivalente a dos importados – os usados eram da Kodak, da Agfa e da Gevaert – porém com um preço mais baixo.

Segundo o próprio:

“Durante quatro anos fiz de tudo ali. Desde a preparação do nitrato de prata até os estudos das diferentes qualidades de gelatinas. Da ação dos halogênios como o bromo, o cloro, e o iodo sobre o nitrato de prata ao brommeto de potássio. Cheguei à conclusão que a mistura de uma pequena dose de iodo ao bromo dava muito melhor resultado, assim como a adição do iodo ao cloro”.

O entusiasmo de um inventor (2006)

 

Em 1916, Guilherme seguia trabalhando para a Secretaria de Agricultura (A Gazeta (SP), 18 de janeiro de 1916, quarta coluna) e Conrado já estava desenvolvendo uma fórmula para banhar o papel que batizou de Postal Jardim, para atrair os lambe-lambes do Jardim da Luz. Em fevereiro, foi à inauguração da exposição de Levino Fanzeres (1884 – 1956), na rua Líbero Badaró, 66 (O Estado de São Paulo, 28 de fevereiro, página 2, última coluna).

Em 10 de novembro de 1916, Guilherme consultou a empresa International Patent Agency, de Moura & Wilson, que eram agentes de privilégios sediados no Rio de Janeiro, com o objetivo de se informar quanto aos procedimentos de requerimento de uma patente. A empresa respondeu três dias depois, dispondo-se a providenciar a patente mediante ao fornecimento dos documentos necessários e ao pagamento de Rs 220$000.

Em 1917, Guilherme Wessel possuia uma Oficina de Gravura, na Travessa Guaianazes, 155, na Barra Funda. em 1921, o Almanak Laemmert identificava no endereço um estabelecimento fotográfico (Almanak Laemmert, 1917 e 1921, última coluna). Em 1921, um dos funcionários da oficina sofreu um pequeno acidente (O Combate, 12 de maio de 1921, penútima coluna).

 

 

Em 1919, Conrado comprou uma casa na rua K , em Casa Verde (Correio Paulistano, 5 de fevereiro de 1919, quinta coluna).

A fórmula de Conrado, patenteada no início em 1921, em documento assinado pelo presidente da República, Epitácio Pessoa (1865 – 1942), foi descrita como um “novo processo para fabricação de material photographico, sensível à luz, para o processo positivo e negativo, à base de emulsões de saes de prata ou gelatina, albumina ou collodio, servindo de supportes para estas emulsões papel, vidro, celluloide ou qualquer outro supporte que seja appropriado”.

 

 

 

Em 1921, Conrado comprou do professor de Filosofia da Escola Normal, dr. Picarollo, e de seu filho o maquinário necessário, importou papel da Alemanha e começou a trabalhar em um pequeno prédio de seu pai, na Barra Funda. Enquanto aguardava a chegada do papel, um acaso o ajudou a criar uma forma de pendurar o papel emulsionado para a secagem, uma vez que dispunha de pouco espaço. Realizava um trabalho de propaganda para a Tapeçaria Schultz e observou o sistema de cortinas movimentadas por cordas. Achou que um processo semelhante poderia ser usado para secar metros e metros de papel. Mas a experiência foi um desastre. Nem 10 centímetros foram aproveitados dos 10 metros de papel emulsionados. Teria que encontrar outra solução.

 

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Surgia assim, em março de 1921, a primeira fábrica de papel fotográfico da América Latina, a Fábrica Privilegiada de Papéis Fotográficos Wessel, sediada na rua Lopes de Oliveira, em São Paulo.

 

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Apesar da qualidade do papel fotográfico e de ter melhor preço, os consumidores resistiam a utilizar um produto nacional e continuava a utilizar o postal da Ridax e da Gevaert. Foi nessa época que Wessel forjou o lema que o acompanharia por toda a vida: “Insista, não desista”.

Em 1922, foi inaugurada a exposição provisória do Panorama de São Paulo, na rua São Bento, nº 24, do fotógrafo Valério Vieira (1862 – 1941), anunciada como a maior fotografia já realizada no mundo, com 16 metros (Correio Paulistano, 6 de setembro de 1922, na segunda coluna e 7 de setembro, na quarta coluna). O trabalho foi apresentado na Exposição do Centenário da Independência, no Rio de Janeiro, realizada entre 7 de setembro de 1922 e 24 de julho de 1923. Foi Conrado que possibilitou a impressão da foto em uma solução de brometo de sais de prata (O Estado de São Paulo, 13 de agosto de 1998).

 

 

Dois anos depois, um acontecimento histórico ajudou os negócios de Conrado: entre 5 e 28 de julho de 1924, São Paulo ficou sitiada devido à eclosão da Revolução dos Tenentes ou Revolta Paulista, liderada por Isidoro Dias Lopes (1865 – 1949) e motivada pelo descontentamento dos militares com a crise econômica e a concentração de poder nas mãos de políticos de Minas Gerais e de São Paulo. Devido ao violento conflito urbano, faltou papel importado para os fotógrafos que atuavam, principalmente, no Jardim da Luz, e eles passaram a comprar de Wessel. Quando a rebelião terminou, o fornecimento de papel importado foi restabelecido, mas Wessel já havia conquistado uma clientela fiel. Sua empresa começou a prosperar.

Durante a década de 30, Conrado adquiriu vários imóveis e terrenos, dentre eles um terreno e um prédio na alameda Eduardo Prado, nº 18; o prédio da rua Santo Antônio, nº 89; o prédio da rua Anna Cintra, 34; um prédio na rua Lopes de Oliveira; e um prédio na Conselheiro Belisário, 96 (O Estado de São Paulo,12 de outubro de 1931, página 3, segunda coluna; 24 de junho de 1932, página 3, segunda coluna; 15 de agosto de 1934, página 3, quarta coluna; 5 de novembro de 1935, página 7; e 6 de maio de 1936, página 10, penúltima coluna; Correio Paulistano, 29 de setembro de 1934, sexta coluna; 6 de outubro, primeira coluna, de 1934; 23 de fevereiro de 1935, quinta coluna).

Na revista O Malho, de 2 de janeiro de 1932, publicação de uma fotografia de autoria de Conrado Wessel.

 

 

No mesmo ano, o ministro interino do Trabalho declarou caduca a patente de Wessel (Jornal do Commercio, 18 de março de 1932, segunda coluna). Pelo o que se seguiu, tudo indica que essa decisão foi revogada.

 

 

A residência e a fábrica de Conrado ficavam na rua Lopes de Oliveira, 18. Foi roubado um pacote de papel de sua fabricação mas ele conseguiu encontrar o autor do furto (Correio de São Paulo, 30 de novembro de 1933, terceira coluna).

Ainda na década de 30, foram as bobinas de papel produzidas pela firma de Conrado que alimentaram o sistema Photo Rotativo usado pelo fotógrafo Theodor Preising (1883 – 1962). Tratava-se de um mecanismo que produzia fotografias no formato postal e 18 x 24cm para álbuns a partir de até dois negativos.

 

 

Falecimento de Guilherme Wessel, em 25 de janeiro de 1940 (O Estado de São Paulo, 26 de janeiro de 1940, página 4, quinta coluna).

 

O Estado de São Paulo, 28 de janeiro de 1940

O Estado de São Paulo, 28 de janeiro de 1940

 

Em setembro de 1954, conforme acordado, em 1949, tanto a fábrica, construída em Santo Amaro pela Kodak, quanto a patente de Conrado passou a pertencer à empresa norte-americana, na época líder do mercado fotográfico, denominand0-se Kodak – Wessel. Àquela altura, após décadas dirigindo seu negócio, Conrado já havia consolidado seu patrimônio.

 

 

Sua mãe, Nicolina Krieger Wessel, faleceu, em 7 de novembro de 1956, aos 93 anos, em São Paulo (O Estado de São Paulo, 8 de novembro de 1956, página 7, terceira coluna).

 

O Estado de São Paulo, 8 de novembro de 1956

O Estado de São Paulo, 8 de novembro de 1956

 

No Suplemento Literário do O Estado de São Paulo, de 24 de novembro de 1974, foi publicado o artigo O fotógrafo ambulante – a história da fotografia nas praças de São Paulo, do professor Boris Kossoy (1941-), e a importância de Conrado foi destacada.

Conrado Wessel  faleceu, em 23 de maio de 1993, sem herdeiros e em seu testamento, datado de 11 de maio de 1988, foi determinado que seus bens fossem destinados à criação da Fundação Conrado Wessel, fundada, em 20 de maio de 1994, para a difusão da arte, da ciência e da cultura. O primeiro diretor-presidente da fundação foi Antônio Valério Lorenzini, que havia, assim como seu pai, trabalhado anos com Conrado (O Estado de São Paulo, 29 de janeiro de 1999). Em 2003, A Fundação Conrado Wessel passou a distribuir, anualmente, prêmios nas categorias de Arte, Ciência, Cultura e Medicina.

 Link para a Cronologia de Guilherme (1862 – 1940) e Conrado Wessel (1891 – 1993)

 

Poços de Caldas

 

 

Poços de Caldas, em Minas Gerais, foi fundada em 6 de novembro de 1872 e suas águas raras e com poderes de cura foram responsáveis pela prosperidade da cidade. Seu nome tem origem na cidade de Caldas da Rainha, importante terma em Portugal. Como as fontes eram poços usados por animais, o nome da cidade mineira ficou Poços de Caldas.

Em 1886, funcionava em Poços um balneário voltado ao tratamento de doenças de pele, que utilizava as águas sulfurosas que eram captadas pela Fonte Pedro Botelho (O Paiz, 29 de setembro de 1886, quarta coluna).

 

 

Neste ano, foi visitado, em outubro, por Pedro II (1825 – 1891) e por dona Teresa Cristina (1822 – 1889), que ficaram em um chalé feito especialmente para receber o casal, no Hotel da Empreza – Empresa Balneária, que funcionou como concessionária das termas nos anos 1880-, pelo engenheiro alemão Carlos Alberto Maywald e pelo arquiteto italiano Giovanni Battista Pansini. O casal imperial estava na região devido à inauguração do ramal de Caldas da Estrada de Ferro Mogiana, em 22 de outubro de 1886 (O Paiz, 25 de outubro de 1886, sétima coluna).

 

 

O balneário foi demolido nos anos 20 e substituído pelo conjunto arquitetônico de Eduardo Pederneiras, composto pelo Palace Hotel, de 1923 e reinaugurado em 1929; pelas Thermas Antônio Carlos e pelo Palace Cassino, inaugurados em 29 de março e 31 de março de 1931, respectivamente.

 

 

 

As Thermas Antônio Carlos foi o primeiro estabelecimento termal do Brasil a oferecer uma série de serviços e tratamentos de saúde a partir do uso da água termal. Sua gestão é feita pelo governo de Minas Gerais desde 2018.

O Palace Cassino fez muito sucesso e era frequentado pela aristocracia brasileira e lá aconteciam shows com artistas como Carmen Miranda, Sylvio Caldas e Orlando Silva. Com a assinatura do decreto-lei 9 215, de 30 de abril de 1946, pelo presidente Eurico Gaspar Dutra, determinando a proibição do jogo no país, o cassino fechou suas portas. Muitos anos depois foi restaurado tornando-se patrimônio histórico e arquitetônico da cidade que até hoje é um importante destino turístico.

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Enciclopédia Itaú Cultural

Especial Prêmio Conrado Wessel – Pesquisa Fapesp, 2004

Folha de São Paulo, 6 de junho de 2004

Fundação Conrado Wessel

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002. 408 p., il. p&b.

LEMOS, Eric Danze. Fotografia profissional, arquivo e circulação: a produção de Theodor Preising em São Paulo (1920 – 1940).  Dissertação apresentada ao programa de Pós-Graduação em História Social do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 2016

MEGALE. Nilza Botelho. Memórias Históricas de Poços de Caldas. Minas Gerais : Gráfica Dom Bosco, 1990.

MOURÃO, Mário. Poços de Caldas – Synthese Historica e Cronologica, 1933.

Revista Pesquisa Fapesp – O entusiasmo de um inventor

Revista Pesquisa Fapesp – Rumos de um inventor

Revista Pesquisa Fapesp – Trajetória de um inventor

Site Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais

Site Memórias de Poços

Site Palace Cassino

Site Poços.com