O Dia Internacional da Menina com registros de Chichico Alkmin e Felipe Augusto Fidanza

Para celebrar o Dia Internacional da Menina, declarada pela Assembleia das Nações Unidas, em 19 de dezembro de 2011, a partir da Resolução 66/170, e comemorada pela primeira vez, em 11 de outubro de 2012, a Brasiliana Fotográfica selecionou três imagens. Duas foram produzidas pelo fotógrafo mineiro Chichico Alkmin (1886 – 1978) e uma é de autoria do português Felipe Augusto Fidanza (1844 – 1903).

 

Chichico Alkmin (1886 – 1978)

 

 

Autodidata, Chichico Alkmin (1886 – 1978) foi o primeiro cronista visual de Diamantina, em Minas Gerais,  pioneiro da fotografia de estúdio na cidade. Atuou na profissão, que adotou em 1907, até 1955. Seu primeiro ateliê foi inaugurado em 1912. A obra de Chichico, que compreende imagens da arquitetura diamantinense, sua religiosidade, costumes, ritos e retratos de seus habitantes, é uma das principais referências da memória visual de Minas Gerais.

Chichico retratou a burguesia e também os trabalhadores ligados ao pequeno garimpo, ao comércio e à indústria. Produziu imagens de casamentos, batizados, funerais, festas populares e religiosas, paisagens e cenas de rua. De 1955, quando parou de  fotografar, até 1978, ano de sua morte, continuou cuidando de seu acervo, que guardava no porão de sua casa.

 

 

Felipe Augusto Fidanza (1844 – 1903)

 

Até hoje pouco se sabe da vida de Felipe Augusto Fidanza (1844 – 1903) antes de sua chegada ao Brasil, em fins da década de 1860. Filho de Fernando Gabriel Fidanza e Maria de Jesus Fidanza, nasceu em 4 de setembro de 1844, em Lisboa. Foi batizado em 5 de outubro de 1844, na paróquia/freguesia de São José, em Lisboa. Era bisneto e neto dos atores italianos Raimondo e Giulio Fidanza, respectivamente, que participaram da cena teatral de Portugal. Raimondo, que também era bailarino, foi empresário teatral na Ilha da Madeira.

Em 1º de janeiro de 1867, o Diario do Gram-Pará publicou o anúncio : “PHOTOGRAPHIA, ao largo das Mercez , nº. 5, Fidanza & Com”, o que prova que nessa época ele já estava estabelecido no Pará. Ainda em 1867, Fidanza realizou seu primeiro trabalho de importância nacional: o registro dos preparativos para a recepção da comitiva de dom Pedro II (1825 – 1891). O imperador foi ao Pará para participar das solenidades da abertura dos portos da Amazônia ao comércio exterior. Segundo o pesquisador Pedro Vasquez, com esse trabalho, Fidanza documentou de forma inovadora e antecipatória o espírito jornalístico.

Destacou-se por sua produção de retratos e também pelo registro das paisagens e documentações do início do desenvolvimento urbano de Belém e de Manaus, ocasionado pela riqueza do ciclo da borracha.  Essas imagens de paisagens urbanas foram divulgadas por álbuns fotográficos encomendados pelos governos do Pará e do Amazonas. A modernização de Belém e do Pará foram registradas nas coleções Álbum do Pará (1899) e Álbum de Belém. Álbum do Amazonas (1902), cujo contrato havia sido assinado por Fidanza para o fornecimento de 6 mil álbuns ilustrados destinados à propaganda para o desenvolvimento daquele estado, foi impresso em Paris sem a supervisão do fotógrafo e continha várias imperfeições, o que gerou uma série de comentários negativos sobre seu caráter. Aparentemente este fato pode ter sido uma das causas de seu suicídio, noticiado pelo Jornal do Brasil de 31 de janeiro de 1903 : Atirou-se ao mar, de bordo do vapor Christiannia, em viagem de Lisboa para esta capital (Belém), o conhecido photographo Felippe FidanzaJornal do Brasil, 31 de janeiro de 1903, na primeira coluna ). Ele havia se jogado ao mar na altura da ilha da Madeira quando retornava de Portugal com a mulher e os filhos.

 

 

O Dia Internacional da Menina

 

Como já mencionado, o Dia Internacional da Menina foi declarado pela Assembleia das Nações Unidas, em 19 de dezembro de 2011, e comemorado pela primeira vez, em 11 de outubro de 2012. Tem a intenção de chamar a atenção para as demandas e necessidades de meninas em diferentes países e de defender que elas tenham assegurados seus direitos de desenvolvimento, além de contribuir para a realização das mudanças necessárias para que elas vivam suas infâncias em igualdade com os meninos, focando no enfrentamento de desafios e na promoção de sua emancipação.

Dois dias antes da primeira celebração do Dia Internacional da Menina, a menina paquistanesa Malala Yousafzai (1997-) sofreu uma tentativa de assassinato por seu ativismo na defesa dos direitos humanos das mulheres e do acesso à educação no nordeste do Paquistão, onde os talibãs impedem que as jovens frequentem escolas. O atentado provocou um movimento de apoio nacional e internacional  à causa de Malala. No ano seguinte, em 11 de outubro de 2013, ela participou de uma cerimônia de celebração do Dia Internacional da Menina, em Washington D.C., capital dos Estados Unidos (Correio Braziliense, 12 de outubro de 2013). Malala tornou-se a mais jovem ganhadora do Prêmio Nobel, quando, em 2014, conquistou o da Paz.

 

 

Dados levantados pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) apontam que meninas de 5 a 14 anos passam 160 milhões de horas por dia a mais em atividades domésticas não remuneradas em comparação a meninos na mesma faixa etária.

Site Nações Unidas Brasil

 

Assista aqui a mensagem do secretário-geral da ONU, o português António Manuel de Oliveira Guterres (1949-), no Dia Internacional das Meninas, em 2022.

 

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Você sabia?

Quase 1 em cada 5 meninas ainda não conclui o ensino secundário inferior e quase 4 em cada 10 meninas não
conclui o ensino secundário. 

Cerca de 90 por cento das meninas adolescentes e mulheres jovens não utilizam a Internet nos países de baixos
rendimentos, enquanto os seus pares do sexo masculino têm duas vezes mais probabilidades de estarem online. 

Globalmente, as meninas entre os 5 e os 14 anos gastam 160 milhões de horas a mais todos os dias em cuidados
não remunerados e trabalho doméstico do que os rapazes da mesma idade. 

As meninas adolescentes continuam a ser responsáveis ​​por 3 em cada 4 novas infecções por HIV 
entre adolescentes. 

Quase 1 em cada 4 meninas adolescentes casadas/em união de fato com idades compreendidas entre os 15 e os 19
anos sofreu violência física ou sexual por parte de um parceiro íntimo pelo menos uma vez na vida. 

Mesmo antes da pandemia da COVID-19, 100 milhões de meninas corriam o risco de casamento infantil na próxima
década. E agora, nos próximos dez anos, mais 10 milhões de meninas em todo o mundo correrão o risco de casar
ainda crianças devido à pandemia da COVID-19.

Site United Nations

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

FERRAZ, Eucanaã; WANDERLEY, Andrea. O cronista visual de Diamantina: Chichico Alkmim, fotógrafo (1886 – 1978) in Brasiliana Fotográfica, 22 de agosto de 2017.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

Site Lunetas

Site Nações Unidas Brasil

Site United Nations

WANDERLEY, Andrea. O suicídio do fotógrafo Felipe Augusto Fidanza (1844 – 1903) in Brasiliana Fotográfica, 31 de janeiro de 2016.

Dia Internacional das Pessoas Idosas e Dia Nacional do Idoso

O dia 1º de outubro é o Dia Internacional das Pessoas Idosas e também o Dia Nacional do Idoso. Para homenagear as datas, a Brasiliana Fotográfica destaca a imagem As cantigas do vovô, produzida, em torno de 1900, pelo fotógrafo amador e fotoclubista gaúcho Lunara (1864 – 1937). O registro mostra um idoso cantando e tocando violão alegremente para duas crianças, que o olham com admiração e atenção. A foto exprime a ternura de um momento de interação entre um vovô e seus netos, entre a terceira idade e a infâncianos envolvendo numa atmosfera amorosa, respeitosa e, até, nostálgica.

 

 

A fotografia faz parte do álbum Vistas de Porto Alegre – Fotografias Artísticas, produzido pelos Editores Krahe & Cia com 20 imagens assinadas por Lunara, um dos pseudônimos de Luiz Nascimento Ramos – formado a partir das primeiras sílabas de seus três nomes e que ele usava para expor suas fotos e também para participar de concursos fotográficos. Ele foi um participante ativo da vida cultural e econômica de Porto Alegre e adotou a fotografia como um hobby.

As imagens deste álbum fotográfico nos revelam uma Porto Alegre bucólica de fins do século XIX, início do século XX. Segundo  Denise Burges Stumvoll, mestre em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e autora da dissertação Fotografia e aproximações com a arte no início do século xx : um olhar para as narrativas visuais de Lunara, o álbum Vistas de Porto Alegre:

propõe um percurso realizado pelo fotógrafo, em que somos conduzidos pelas bordas e margens da cidade, bem como aos lugares e às pessoas que ali viveram, como se interessasse, ao autor das imagens, produzir uma metáfora da marginalidade, social e cultural, revelando o que geralmente ficava à sombra da memória visual sobre a modernidade na paisagem urbana.

 

Acessando o link para as fotografias de Lunara disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas. 

 

Alguns dos temas mais abordados nas fotografias de Lunara foram os ex-escravizados, cenas de família, os carreteiros, as aguadeiras e os viajantes. Seus registros eram influenciados pelo movimento pictorialista internacional, movimento que se desenvolveu a partir do surgimento dos fotoclubes e que caracterizava-se pelo resultado da fotografia, que se aproximava da pintura. Em suas imagens, Lunara, com um olhar artístico que acentuava aspectos bucólicos, mostrava seu universo familiar com sensibilidade e humor.

 

Um pouco sobre o Dia Internacional das Pessoas Idosas e do Dia Nacional do Idoso

 

O dia 1º de outubro foi designado como o Dia Internacional das Pessoas Idosas pela Assembleia das Nações Unidas, em 14 de dezembro de 1990. Isso foi precedido por iniciativas como o Plano de Ação Internacional de Viena sobre o Envelhecimento, que foi adotado pela Assembleia Mundial sobre o Envelhecimento de 1982 e endossado mais tarde naquele ano pela Assembleia Geral da ONU. Em 1991, a Assembléia Geral adotou os Princípios das Nações Unidas para Pessoas Idosas (resolução 46/91). Em 2002, a Segunda Assembleia Mundial sobre o Envelhecimento adotou o Plano de Ação Internacional de Madri sobre o Envelhecimento, para responder às oportunidades e desafios do envelhecimento da população no século XXI e promover o desenvolvimento de uma sociedade para todas as idades (Site da ONU).

Em 1º de outubro de  2003, foi criado, no Brasil, o Estatuto do Idoso, pela Lei nº 10.741 para viabilizar políticas públicas às pessoas idosas. Três anos depois, em 2006, a Lei nº 11.433 instituiu, no país, o Dia Nacional do Idoso. Anteriormente, a data, estabelecida, em 1999, pela Comissão pela Educação, do Senado Federal, era comemorada no dia 27 de setembro.

 

Art. 1º Fica instituído o Dia Nacional do Idoso, a ser celebrado no dia 1º de outubro de cada ano.

Parágrafo único. Os órgãos públicos responsáveis pela coordenação e implementação da Política Nacional do Idoso ficam incumbidos de promover a realização e divulgação de eventos que valorizem a pessoa do idoso na sociedade.

Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 28 de dezembro de 2006; 185º da Independência e 118º da República.

 

A Assembleia Geral da ONU proclamou, em 14 de dezembro de 2020, os anos entre 2021 e 2030 como a Década do Envelhecimento Saudável das Nações Unidas, uma colaboração global, alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, que reúne governos, sociedade civil, agências internacionais, profissionais, academia, mídia e iniciativa privada, em prol de melhorias para a vida dos idosos, de suas famílias e das comunidades onde vivem (Biblioteca Virtual em Saúde).

A composição da população mundial mudou significativaamente nas últimas décadas e a expectativa de vida em todo o mundo subiu de 46 para 68 anos. Mais de 8% da população tinha 65 anos ou mais em 2020. Em 2050, a população de idosos deverá atingir mais de 1,5 bilhão de pessoas, sendo que 80% delas viverão em países de baixa e média renda. O Dia Internacional das Pessoas Idosas tem como objetivo prestar uma homenagem aos idosos e também conscientizar e sensibilizar a sociedade sobre as necessidades destas pessoas.

Esta foi a mensagem do secretário-geral das Nações Unidas, o português António Manuel de Oliveira Guterres (1947-) na última celebração do Dia Internacional de Pessoas Idosas, em 1º de outubro de 2022:

Neste Dia Internacional das Pessoas Idosas, focamos a atenção na resiliência de mais de mil milhões de mulheres e homens idosos num mundo em mudança.

Os últimos anos testemunharam reviravoltas dramáticas – e as pessoas idosas estão muitas vezes no epicentro das crises. Eles são particularmente vulneráveis ​​a uma série de desafios, incluindo a pandemia da Covid -19, o agravamento da crise climática, a proliferação de conflitos e a pobreza crescente.

No entanto, perante estas ameaças, os idosos inspiraram-nos com a sua notável resiliência. Em 2030, 1,4 mil milhões de pessoas terão pelo menos 60 anos.

A nossa tarefa enquanto sociedades e enquanto comunidade global é enfrentar os desafios da longevidade – e promover o seu potencial. Devemos promover a inclusão social, económica e política de todas as pessoas em todas as idades.

Esta promessa está consagrada nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Aprendizagem ao longo da vida, proteção social forte, cuidados de saúde a longo prazo acessíveis e de qualidade, redução do fosso digital, apoio intergeracional, dignidade e respeito são essenciais.

Os idosos são uma tremenda fonte de conhecimento e de experiência. Devemo-nos esforçar para garantir o seu envolvimento ativo, participação plena e contribuições essenciais.

Juntos, vamos construir sociedades mais inclusivas e amigas dos idosos e um mundo mais resiliente.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Site Biblioteca Virtual em Saúde – Ministério da Saúde

Site ONU

Site Organização Pan-Americana da Saúde – Opas

WANDERLEY, Andrea. Lunara (1864 – 1937), um fotógrafo amador e fotoclubista de Porto Alegre in Brasiliana Fotográfica, 5 de setembro de 2018.

 

Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência

Com fotografias em formato cabinet*  de autoria de João Xavier de Oliveira Menezes, o J. Menezes (18? – 19?), pertencentes ao acervo da Fundação Biblioteca Nacional, uma das instituições fundadoras da Brasiliana Fotográfica; e com um pequeno histórico do Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, o portal celebra esta data.

 

 

 

Pequeno histórico do Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência

 

O Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, que coincide com o início da primavera, dia 21 de setembro, e simboliza o nascimento e a renovação do movimento das pessoas com deficiência, foi instituído pela Lei nº 11.133/2005, de 14 de julho de 2015. Seu objetivo é a conscientização da população brasileira de que pessoas com deficiência devem ter seus direitos respeitados e devem ser integradas à sociedade sem preconceitos, de forma igualitária. De acordo com o IBGE, no Brasil, 17,3 milhões de pessoas com dois anos ou mais de idade – o que representa 8,4% da população – possuem algum tipo de deficiência.

 

 

Segundo a Lei Brasileira de Inclusão de Pessoa com Deficiência, também conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência, de 2015, a pessoa com deficiência é aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. 

Existe, há relativamente pouco tempo, o conceito de capacitismo, sobre a discriminação em relação a pessoas com deficiência, a partir da subestimação da capacidade e aptidão dessas pessoas devido a suas deficiências, o que se traduz como um obstáculo à inclusão desses indivíduos à sociedade. Além disso, cada vez mais pessoas com deficiência trazem à sociedade um questionamento: seriam elas deficientes ou seria deficiente a sociedade que não satisfaz às necessidades de todas as pessoas que a formam?

O Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência foi oficializado, como já mencionado, em 2005, porém a data já era celebrada desde 1982 por iniciativa do Movimento pelos Direitos das Pessoas com Deficiência. O grupo começou a se organizar em fins de 1979 para reivindicar direitos e melhorias para a vida das pessoas com deficiência.

 

 

Legislação brasileira em relação a pessoas com deficiência:

Lei n° 7.713/1998: garante a dedução do Imposto de Renda para pessoas com deficiência.

Lei nº 7.853/1989: dispõe sobre o apoio às pessoas com deficiência e sua efetiva integração social.

Lei nº 8.213/1991: ordena que, a partir de 100 empregados, a empresa deve reservar de 2% a 5% de vagas para pessoas com deficiência.

Lei nº 8.899/1994: a Lei do Passe Livre prevê que toda pessoa com deficiência tenha direito ao transporte coletivo interestadual gratuito, e que cabe a cada estado ou município implantar programas similares ao Passe Livre para os transportes municipais e estaduais.

Lei nº 8.989/1995promove a isenção do imposto sobre produtos industrializados – IPI, na aquisição de automóveis para utilização no transporte autônomo de passageiros, bem como conduzidos pelas próprias pessoas com deficiência física, e dá outras providências. (Redação dada pela Lei Nº 10.754, de 31.10.2003).

Lei nº 9.394/1996: Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) – Determina que “haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de educação especial e que o atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular”. A legislação brasileira também prevê o acesso a livros em Braille, de uso exclusivo das pessoas com deficiência visual.

Lei nº 10.098/2000: normatiza as condições de acessibilidade.

Lei nº 10.436/2002: reconhece a Língua Brasileira da Sinais (LIBRAS) para os surdos.

Lei nº 10.754/2003: altera a Lei Nº 8.989, de 24 de fevereiro de 1995 que “dispõe sobre a isenção do Imposto Sobre Produtos Industrializados – IPI, na aquisição de automóveis para utilização no transporte autônomo de passageiros, bem como por pessoas com deficiência física e aos destinados ao transporte escolar.

Lei nº 11.126/2005: garante o direito da pessoa com deficiência visual de ingressar e permanecer em ambientes de uso coletivo acompanhado de cão-guia.

Lei nº 12.319/2010: regulamenta a profissão de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS.

Lei 13.146/2015: a Lei Brasileira de Inclusão de Pessoa com Deficiência, também conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência, incorporou os princípios da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, realizada em 2006, pela Organização das Nações Unidas (ONU) e ratificada pelo país em 2008.

 

Pequeno perfil de João Xavier de Oliveira Menezes, o J. Menezes (18? – 19?)

 

Apesar de não sabermos onde e quando João Xavier de Oliveira Menezes, o J. Menezes, nasceu e faleceu, há registros de sua atuação como fotógrafo a partir de 1875, no Rio de Janeiro, na rua da Quitanda, nº 39. Era filho do comendador Thomaz Xavier Ferreira de Menezes e seus irmãos eram Francisco, Eurydice, Thomaz e Carlos Xavier de Oliveira Menezes; e Rita Augusta de Menezes Pinho (Jornal do Commercio, 2 de novembro de 1891, sexta colunaO Paiz, 13 de setembro de 1896, sexta coluna).

 

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Acervo IMS

 

Em 1876, foram realizadas obras em seu estúdio fotográfico e anunciado que já estava a disposição de nosso amigos e fregueses (Gazeta de Notícias, 27 de agosto de 1876).

 

 

Até 1882, foi associado, na firma Pacheco, Menezes & Irmão, a seu irmão, Carlos e a Bernardo José Pacheco (18? -?), que havia sido, entre 1866 e 1874, associado ao fotógrafo açoriano Christiano Junior (1802 – 1902). Apresentavam-se como sucessores de Christiano Junior & Pacheco e ofereciam retratos em todos os systemas (Jornal do Commercio, 3 de dezembro de 1866Gazeta de Notícias, 8 de agosto de 1875Diário do Rio de Janeiro, 9 de novembro de 1875, sexta colunaAlmanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1875 1876187718781879188018811882). Lembramos que Christiano Jr. foi o autor da série Elephansiasis, realizada na década de 1860. Como já indagado no artigo, Para uma história da fotografia médica, no Brasil, de autoria de Joaquim Marçal Ferreira de Andrade, um dos curadores da Brasiliana Fotográfica, teria sido J. Menezes o sucessor de Christiano Junior no atendimento à classe médica da corte?

 

Acessando o link para as fotografias de autoria de J. Menezes disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas. 

 

O estabelecimento passou a chamar-se Menezes & Irmão (Gazeta de Notícias, 13 de junho de 1882, última coluna; Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1884).

 

 

Ainda em 1882, anunciavam Photographia e Pintura e, em 1883, anunciavam uma Grande Novidade:

 

 

 

Em 1883,  foram lidas proclamas de seu casamento com Virgilia Adelaide Mendes Calaza (Gazeta de Notícias, 29 de dezembro de 1893, terceira coluna). Em 1884, com o falecimento de seu irmão e sócio Carlos, foi extinta a firma Menezes & Irmão e J. Menezes passou a atuar por conta própria, ainda na Rua da Quitanda, nº 39 (Jornal do Commercio, 26 de agosto de 1884, sétima coluna; Jornal do Commercio, 3 de outubro de 1884, última coluna). Residia na Rua do Souto, 16.

Foi na década de 1880, que J. Menezes produziu as fotos de pessoas com deficiência exibidas neste artigo.

Nos primeiros anos da década de 1890, seu estabelecimento fotográfico ficava na rua Marquês de Paraná, 1. O último registro de sua atividade como fotógrafo encontrada pela minha pesquisa data de 1902 (Gazeta de Notícias, 13 de junho de 1884, terceira colunaJornal do Commercio, 3 de outubro de 1884, última colunaAlmanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 188518911892, 1898190019011902).

Em 1902, seu filho Augusto (1901 – 1902) faleceu (Jornal do Commercio, 10 de julho de 1902, sexta coluna).

 

 

*Formato de apresentação de fotografias sobre papel que surgiu na Inglaterra em 1866 como uma evolução do formato cartão de visita, tendo portanto o mesmo tipo de apresentação, mas num tamanho maior, razão pela qual era dito de cabinet, de gabinete. Outra denominação empregada para esse formato, inclusive aqui no Brasil, era carte boudoir, em referência àquelas salas íntimas de uso feminino características das residências oitocentistas. Muito utilizado até fins do século passado, esse formato apresentava fotografias de cerca de 9,5 x 14cm montadas sobre cartões rígidos de cerca de 11 x 16,5 cm (Enciclopédia Itaú Cultural).

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

ANDRADE, Joaquim Marçal Ferreira de. Para uma história da Fotografia Médica, no Brasil. Brasiliana Fotográfica, 23 de outubro de 2016

Câmara Paulista para Inclusão da Pessoa Deficiente

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOUTSOUKOS, Sandra Sophia Machado.  O retratado era “diferente”. Rio de Janeiro, c. 1865. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São Paulo, julho 2011.

Ministério da Saúde – Biblioteca Virtual em Saúde

Portal UOL

Site Câmara dos Deputados

Cronologia de João Xavier de Oliveira Menezes, o J. Menezes (18? – 19?)

 Cronologia de João Xavier de Oliveira Menezes, o J. Menezes (18? – 19?)

 

1875 – Apesar de não sabermos, até o momento, onde e quando João Xavier de Oliveira Menezes, o J. Menezes, nasceu e faleceu, há registros de sua atuação como fotógrafo a partir de 1875, no Rio de Janeiro, na rua da Quitanda, nº 39. Era filho do comendador Thomaz Xavier Ferreira de Menezes e seus irmãos eram Francisco, Eurydice, Thomaz e Carlos Xavier de Oliveira Menezes; e Rita Augusta de Menezes Pinho (Jornal do Commercio, 2 de novembro de 1891, sexta colunaO Paiz, 13 de setembro de 1896, sexta coluna).

 

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Acervo IMS

 

1876 – Realização de obras em seu estúdio fotográfico e anunciado que já estava a disposição de nosso amigos e fregueses (Gazeta de Notícias, 27 de agosto de 1876).

 

 

Década de 1880 – Foi nesta década que J. Menezes produziu fotos de pessoas com deficiência.

1882 - Fim de sua associação, na firma Pacheco, Menezes & Irmão, a seu irmão, Carlos e a Bernardo José Pacheco (18? -?), que havia sido, entre 1866 e 1874, associado ao fotógrafo açoriano Christiano Junior (1802 – 1902). Apresentavam-se como sucessores de Christiano Junior & Pacheco e ofereciam retratos em todos os systemas (Jornal do Commercio, 3 de dezembro de 1866Gazeta de Notícias, 8 de agosto de 1875Diário do Rio de Janeiro, 9 de novembro de 1875, sexta colunaAlmanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1875 1876187718781879188018811882). Lembramos que Christiano Jr. foi o autor da série Elephansiasis, realizada na década de 1860. Como já indagado no artigo, Para uma história da fotografia médica, no Brasil, de autoria de Joaquim Marçal Ferreira de Andrade, um dos curadores da Brasiliana Fotográfica, teria sido J. Menezes o sucessor de Christiano Junior no atendimento à classe médica da corte?

O estabelecimento passou a chamar-se Menezes & Irmão (Gazeta de Notícias, 13 de junho de 1882, última coluna; Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1884).

 

 

Anunciavam Photographia e Pintura.

 

 

1883 -  Anunciavam uma Grande Novidade:

 

 

Foram lidas proclamas de seu casamento com Virgilia Adelaide Mendes Calaza (Gazeta de Notícias, 29 de dezembro de 1893, terceira coluna).

1884 - Com o falecimento de seu irmão e sócio Carlos, foi extinta a firma Menezes & Irmão e J. Menezes passou a atuar por conta própria, ainda na Rua da Quitanda, nº 39 (Jornal do Commercio, 26 de agosto de 1884, sétima colunaJornal do Commercio, 3 de outubro de 1884, última coluna). Residia na Rua do Souto, 16.

Década de 1890 – Nos primeiros anos desta década, seu estabelecimento fotográfico ficava na rua Marquês de Paraná, 1. O último registro de sua atividade como fotógrafo encontrada pela minha pesquisa data de 1902 (Gazeta de Notícias, 13 de junho de 1884, terceira colunaJornal do Commercio, 3 de outubro de 1884, última colunaAlmanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 188518911892, 1898190019011902).

1902 –  Seu filho Augusto (1901 – 1902) faleceu (Jornal do Commercio, 10 de julho de 1902, sexta coluna).

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

A Rádio Nacional do Rio de Janeiro, marco da “Era do Rádio” no Brasil

Alô! Alô! Brasil! Aqui fala a Rádio Nacional do Rio de Janeiro! Com essa frase o locutor paulista Celso Guimarães (1907 – 1996) inaugurou a PRE-8, a Rádio Nacional, às 21h, do dia 12 de setembro de 1936. Presente na memória afetiva dos brasileiros e um marco na Era do Rádio no país, foi um veículo de massa de grande influência em sua época e é, assim como a revista O Cruzeiro e a TV Globo, um dos maiores fenômenos de comunicação do Brasil. Uma referência de programação popular e diversificada, a Rádio Nacional marcou a história da radiodifusão e da própria cultura brasileira.

Ela é, na realidade, responsável pelas matrizes que formam hoje o Rádio brasileiro: a música, a informação, o humor, a dramaturgia, o esporte e os programas de auditório.

Site da Rádio Nacional

 

 

“É preciso que se diga que, desde a revolução de 30 – ou, como sugere Diegues, referindo-se aos pontos extremos de seu filme (Joana Francesa): de Carmen Miranda a Brasília, de Getúlio Vargas à televisão ou de Francisco Alves a Caetano Veloso – a Radio Nacional foio canal exlusivo de informação e formação cultural do povo brasileiro, fazendo deste vazio tropical a primeira grande “aldeia global” dos gtempos modernos”

Tristes Tropiques, por Sérgio Augusto,

Pasquim, 14 a 20 de agosto de 1973

 

Com fotografias do Instituto Moreira Salles e do Museu Aeroespacial,  instituições fundadora e parceira do portal, respectivamente, a Brasiliana Fotográfica, conta um pouco desta história. As fotos do IMS são de sua Coordenadoria de Música e pertencem à Coleção José Ramos Tinhorão e ao Arquivo Walter Silva.

 

Acessando o link para as fotografias da Rádio Nacional disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá visualizar e magnificar as imagens.

 

Bandeira Rádio Nacional por Heitor dos Prazeres, s/d. Coleção Família Heitor dos Prazeres

Bandeira Escola de Samba da Rádio Nacional por Heitor dos Prazeres, s/d. Coleção Família Heitor dos Prazeres

 

Nos anos 20, quando houve a primeira grande transmissão de rádio no Brasil, os aparelhos eram caros e seu proprietários tinham que pagar uma taxa para acessar o receptor. Além disso, a programação concentrava-se na transmisssão de música clássica e de óperas. Foi na década de 30, quando Getúlio Vargas (1882 – 1954) assumiu a presidência do Brasil, que a rádio entrou numa nova fase no país. O governo iniciou, em 1931, a regulamentação da radiodifusão e aboliu as já mencionadas taxas. Em 1932, a veiculação de anúncios comerciais foi liberada no rádio e assim as emissoras foram se popularizando. De 1932 a 1937, foram inauguradas 42 novas estações de rádio, passando o país a possuir 63, quantidade que pulou para 111 em 1945, ano do fim o Estado Novo.

 

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Foi neste cenário que surgiu, no dia 12 de setembro de 1936, a Rádio Nacional, na freqüência da antiga rádio Philips. Foi criada pelo grupo A Noite, que teve como proprietário, no final dos anos 20, o empresário Geraldo Rocha. Devido a maus negócios e a suas divergências com o governo federal, ele buscou financiamento com grupos estrangeiros. A Brazil Railway Company, proprietária da Companhia Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, que pertencia ao polêmico empresário norte-americano Percival Farquhar (1864 – 1953)*, incorporou os jornais A Noite e A Manhã (SP) e as revistas Noite IlustradaCarioca e Vamos Ler. Comprou o sinal da antiga Rádio Philips e batizou a sua estação de rádio de Sociedade Civil Brasileira Rádio Nacional (O Jornal, 24 de setembro de 1936, terceira coluna).

 

 

 

A nova emissora radiofônica foi  instalada no prédio do jornal A Noite, o primeiro arranha-céu carioca e, então, o mais alto da América Latina, que havia sido inaugurado anos antes, em 1929, projetado pelo arquiteto francês Joseph Gire (1872 – 1933).

 

 

 

 

Após a já mencionada saudação de Celso Guimarães (1907 – 1996), Alô! Alô! Brasil! Aqui fala a Rádio Nacional do Rio de Janeiro!, a Orquestra do Teatro Municipal executou o Hino Nacional. Então o primeiro presidente da Sociedade Rádio Nacional, Cauby de Araújo, após um pequeno pronunciamento, convidou o presidente do Senado, Medeiros Netto (1887 – 1948), que inaugurou a nova emissora:

“Aqui se levanta mais uma voz pela paz e pela defesa de todos quantos souberem, nesta hora terível para a humanidade, compreender que ela é mais uma garantia de que, na nossa pátria, a liberdade terá sempre um culto. A estação que neste momento se inaugura nasce sob a proteção de uma empresa que em todos os tempos tem sido arauto das grandes aspirações do povo – A Noite. Está inaugurada a grande estação da Sociedade Rádio Nacional”.

Em seguida, do Palácio São Joaquim, na Glória, o cardeal do Rio de Janeiro, dom Sebastião Leme (1882 – 1942), abençoou a emissora, protagonizando a primeira transmissão externa da Rádio Nacional.

Seguiram-se, diretamente do estúdio da nova emissora, diversos pronunciamentos, dentre eles o dos embaixadores de Portugal, da França e do Japão, do ministro da Educação, Gustavo Capanema (1900 – 1985); de Nelson Dantas, presidente da Confederação Brasileira de Radiodifusão; Herbert Moses (1884 – 1972), presidente da Associação Brasileira de Imprensa; e de Castelar de Carvalho, que falou em nome de A Noite; e, finalmente de Cauby Araújo. Também estavam presentes na inauguração outras autoridades como o presidente da Câmara Municipal, Ernani Cardoso (1888 – 1950); Lourival Fontes (1899 – 1967), então diretor do Departamento de Propaganda e Difusão Cultural, futuro Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), representando o prefeito do Distrito Federal; e Agamenon Magalhães (1893 – 1952), ministro do Trabalho. O técnico responsável pela instalaçao da emissora foi Armando Langoni.

 

 

Foi estatizada, assim como as outras empresas do grupo A Noite, pelo governo federal, em 8 de março de 1940, pelo Decreto-Lei nº 2.073, sob a justificativa de dívidas contraídas junto ao Patrimônio Nacional. O coronel Luiz Carlos da Costa Netto foi designado Superintendente das Empresas Incorporadas ao Patrimônio. Para a direção da Rádio Nacional foi nomeado Gilberto de Andrade (1894 – 1949), que a dirigiu até 1946. Segundo Paulo Tapajós, ali Gilberto, que era promotor do Tribunal de Segurança, ex-diretor das revistas Sintonia e A Voz do Rádio, além de organizador da censura ao teatro, apesar de já ter escrito 23 peças encenadas, iniciou a escalada rumo ao Himalaia dos índices de audiência.

Com a aquisição da Rádio Nacional, o governo passou a ter a seu serviço um veículo de grande penetração popular no país, fortalecendo ainda mais o elo com a população…Todo o faturamento comercial era reinvestido na própria emissora. É que apesar de transformá-la numa empresa estatal, com verbas e benefícios da máquina do Estado Novo, a emissora manteve a atuação na esfera comercial, com direito a continuar vendendo anúncios, somando assim fontes de captação na receita da empresa, como descreve Luiz Mendes (2005).

A Nacional, ao contrário das privadas, não precisava sobreviver de sua receita. Vivia de verba pública. Com isso, tudo o que faturava – e olha que era a que mais faturava – era investido nela própria, já que o governo não fazia retirada do lucro. 

Luiz André Ferreira de Oliveira

in Getúlio Vargas e o desenvolvimento do rádio no país: um estudo do rádio de 1930 a 1945.

 

Tornou-se a principal emissora da América Latina e uma das cinco melhores do mundo. Em 1942, ano em que passou por uma reforma, era a líder absoluta de audiência. Seu auditório, localizado no topo do edifício mais alto do país, passou a ter 600 lugares e o local passou a ser um dos cartões-postais do Rio de Janeiro. Ainda neste ano, em 15 de novembro, seus transmissores foram transferidos para o bairro de Parada de Lucas, melhorando a qualidade das transmissões. Em 31 de dezembro, a emissora inaugurou um transmissor de ondas curtas RCA Victor de 50kw e um sistema de cinco antenas direcionais, que deveriam transmitir para a América, Ásia, África e Europa e para todo o território brasileiro.

A Rádio Nacional contava com um elenco de importantes locutores como Aurélio de Andrade (1917 – 1997) e Oduvaldo Cozzi (1915 – 1978), compositores do calibre de Lamartine Babo (1904 – 1963) e Heitor dos Prazeres (1898 – 1966), maestros como Radamés Gnatalli (1906 – 1988) e cantores como Aracy de Almeida (1914- 1988), Carlos Galhardo (1913 – 1985), Francisco Alves (1898 – 1952), Orlando Silva (1915 – 1978) e Silvio Caldas (1908 – 1998). Oito diretores comandavam cerca de 240 funcionários.

 

 

A Rádio Nacional foi responsável direta ou indiretamente pelo lançamento de ídolos nacionais como Ângela Maria (1929 – 2018), Cauby Peixoto (1931- 2016), Ivon Curi (1928 – 1995), Emilinha Borba (1923 – 2005) e Marlene (1922 – 2014). Essas duas últimas protagonizaram uma guerra entre fãs clubes, na década de 50.

 

 

Apresentou programas de sucesso em torno de música, informação, humor, dramaturgia, esporte. Alguns exemplos são o Repórter EssoPiadas do ManducaUm Milhão de Melodias, PRK-30, Balança mas não cai, Curiosidades Musicais, o programa de calouros, Papel Carbono, de Renato Murce, o Programa Paulo Gracindo e Programa César de Alencar, segundo o próprio, possivelmente o primeiro programa de auditório do Brasil, organizado com princípio, meio e fim. 

 

Abertura do Programa César de Alencar

Esta canção nasceu para quem quiser cantar
Canta você, cantamos nós, até cansar
Até bater
E decorar
Pra recordar vou repetir o seu refrão
Prepara a mão
Bate outra vez
Este programa pertence a vocês

 

Pioneira, transmitiu, a primeira radionovela brasileira, Em busca da Felicidadeescrita pelo cubano Leandro Blanco e adaptada por Gilberto Martins, que atingiu altos índices de audiência e durou cerca de 2 anos.

Sua estreia foi anunciada, em 5 de junho de 1941, por Aurélio Andrade:

Senhoras e Senhores, o famoso Creme Dental Colgate apresenta… o primeiro capítulo da empolgante novela de Leandro Blanco, em adaptação de Gilberto Martins… Em busca da felicidade.

Era irradiada às segundas, quartas e sextas-feiras, às 10:30. Foi dirigida por Victor Costa (1907 – 1959) e Maria Helena era a locutora e narradora que resumia os principais acontecimentos dos capítulos anteriores. No elenco, Rodolfo Mayer 91910 – 1985) , Zezé Fonseca (1915 – 1962), Floriano Faissal (1907 – 1986), Lourdes Mayer (1920 – 1998), Brandão Filho (1910 – 1998) e Yara Salles, dentre outros.

 

 

A radionovela mais famosa estreou também na Rádio Nacional, em 8 de janeiro de 1951. Irradiada às segundas, quartas e sextas-feiras, no horário de 20 horas às 20:25h, O direito de nascer ficou em cartaz até setembro de 1952.

Em 28 de agosto de 1941, foi de novo pioneira, desta vez no radiojornalismo, com a estreia, às 12:45, do Repórter Esso, ícone do radiojornalismo nacional. O locutor Romeu Fernandes anunciou o ataque aéreo da Alemanha na Normandia, durante a Segunda Guerra Mundial. Pela primeira vez um noticiário de rádio não era feito a partir da leitura de notícias recortadas dos jornais. As matérias eram produzidas pela agência internacional de notícias United Press Associations (UPA) e seu conteúdo era supervisionado pela agência de publicidade McCann-Erickson. O Repórter Esso foi produto de comunicação da Standart Oil Company of Brazil, companhia norte-americana de petróleo que dava nome ao radiojornal. Seus slogans mais famosos foram O Primeiro a Dar as Últimas e Testemunha Ocular da História. O Repórter Esso terminou suas transmissões em 31 de dezembro de 1968.

 

 

Ainda em 1941, quando comemorava seu quinto aniversário, a Rádio Nacional lançou um concurso para selecionar para a canção Happy Birthday to You uma letra brasileira. Parabéns pra você , letra de Berta Celeste Homem de Melo, cujo pseudônimo era Léa Magalhães, a vencedora do concurso, foi apresentada pela primeira vez em um programa de Almirante (1908 – 1980), regida por Radamés Gnatalli.

Em 1956, quando completou 20 anos, a Rádio Nacional ocupava os quatro últimos andares do Edifício A Noite, tinha seis estúdios e um auditório com 496 lugares no 21º andar.

Na década de 60, o impacto do crescimento da televisão no Brasil fez com que o rádio entrasse em declínio e o sucesso da Rádio Nacional diminuiu consideravelmente. Em 1972, todo o seu acervo estava abandonado no terraço do prédio. Por iniciativa da professora Neusa Fernandes, diretora do Museu da Imagem e do Som, o acervo foi transferido para esta instituição e totalmente organizado: são 383 discos, 357. 985 partituras e 1.312 scripts de diversos programas da Rádio Nacional.

Atualmente, a Rádio Nacional faz parte das emissoras da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), tem emissoras e transmite para Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Tabatinga, São Luís do Maranhão, Recife e Amazônia, e mantém uma programação dedicada ao jornalismo, ao esporte e à música popular brasileira.

Em 3 de agosto de 2021, foi inaugurado o Museu da Rádio Nacional, na Lapa, no Rio de Janeiro.

 

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Uma história contada pelo jornalista Sérgio Cabral (1937-), publicada em seu livro A Rádio Nacional…, ilustra o poder desta emissora radiofônica nos anos de seu sucesso:

Em 1951, a tripulação de um avião da Força Aérea Brasileira, daqueles que eram chamados de “fortaleza voadora”, dava início às providências para a aterrissagem na cidade de Campo Grande, quando foi surpreendida por um “apagão”no aeroporto local. Voando desde Manaus, a tripulação sabia que a reserva de combustível não era suficiente nem para pro curar o aeroporto mais próximo (situado a centenas de quilômetros de distância) nem para esperar muito tempo pela volta da luz. O comandante do avião comunicou-se com o responsável pela unidade da FAB de Campo Grande, a quem transmitiu o drama que estava vivendo. A comunicação seguinte foi feita de Campo Grande para a Base Aérea de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, que, por sua vez, entrou em contato com a Rádio Nacional, situada na Praça Mauá, no Centro do Rio, para pedir ajuda. Minutos depois, um locutor transmitia aos ouvintes de Campo Grande – portanto, a mais de dois mil quilômetros de distância – a seguinte mensagem.

“Atenção, Campo Grande, Mato Grosso! Uma fortaleza voadora da FAB precisa aterrissar e o campo de pouso está às escuras. Apelamos aos proprietários de automóveis que se desloquem imediatamente para o aeroporto a fim de que a pista de aterrissagem seja iluminada pelos faróis dos seus automóveis.”

O apelo foi repetido várias vezes, até que a Rádio Nacional foi informada de que o problema estava resolvido. Às 23h45, o avião pousava no aeroporto de Campo Grande iluminado pelos faróis de centenas de automóveis.

 

Os primórdios do rádio no Brasil, a primeira grande transmissão pública no país, em 1922, e a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, considerada a primeira emissora radiofônica brasileira, cujo centenário celebra-se em 2023

 

 

Na abertura da Exposição Internacional do Centenário da Independência, foi realizada a primeira grande transmissão pública de rádio do Brasil. Outras transmissões radiofônicas já haviam sido realizadas no país – pelo padre gaúcho Roberto Landell de Moura (1861 – 1928), em 16 de julho de 1899, em São Paulo (Commercio de São Paulo, 17 de julho de 1899, terceira coluna); e pela Rádio Clube de Pernambuco, fundada em 6 de abril de 1919 (Jornal do Recife, 25 de abril de 1919, última coluna).

 

 

 

Mas esta, realizada em 7 de setembro de 1922, é considerada a primeira transmissão radiofônica oficial brasileira.

Em maio de 1922, a Delegação dos Estados Unidos para a Exposição de 1922 já anunciava as demonstrações que seriam realizadas por empresas norte-americanas (A Noite, 20 de maio de 1922, terceira coluna). Uma estação de 500 watts, montada no alto do Corcovado pela Westinghouse Eletric International em combinação com a Companhia Telefônica Brasileira, irradiou o discurso do presidente Epitácio Pessoa  (1865 – 1942), surpreendendo os visitantes da Exposição Internacional do Rio de Janeiro, através de 80 receptores vindos dos Estados Unidos, instalados em pontos centrais da cidade. A transmissão também foi realizada para Niterói, Petrópolis e São Paulo. Pelo mesmo sistema, à noite, a ópera O Guarany, de Carlos Gomes, encenada no Teatro Municipal, também foi irradiada (Correio da Manhã, 8 de setembro de 1922, quinta colunaA União (RJ), 14 de setembro de 1922, quarta coluna).

 

 

A Western Electric Company em colaboração com a Companhia Telefônica também esteve presente à exposição onde fez demonstrações do telefone Alto-Falante que funcionando em comum com a radiofonia possibilitava ouvir-se trechos de música e de óperas executados a considerável distância (Jornal do Brasil, 16 de setembro de 1922, sexta coluna).

 

 

Segundo Edgar Roquette Pinto (1884 – 1954), considerado o pai da radiofusão no Brasil, durante a Exposição de 1922:

“… muito pouca gente se interessou pelas demonstrações experimentais de radiotelefonia então realizadas pelas companhias norte-americanas Westinghouse, na estação do Corcovado, e Western Electric, na Praia Vermelha. […]. Creio que a causa desse desinteresse foram os alto-falantes instalados na exposição. Ouvindo discurso e música reproduzidos no meio de um barulho infernal, tudo distorcido, arranhando os ouvidos, era uma curiosidade sem maiores consequências”. (BBC, 1988).

 

 

O fato é que no ano seguinte foi fundada, em 20 de abril de 1923, aquela que é considerada a primeira emissora radiofônica do Brasil, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, por inúmeros associados influenciador pelo engenheiro e astrônomo Henrique Morize (1860 -1930), com quem o fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923) havia no final do século XIX realizado experiências cinematográficas e radiográficas; e por seu principal idealizador, justamente Edgar Roquette-Pinto. Seu o slogan era “Trabalhar pela cultura dos que vivem em nossa terra e pelo progresso do Brasil”. Em caráter experimental, a primeira transmissão da Rádio Sociedade aconteceu em 1º de maio de 1923, Dia do Trabalho, utilizando o prefixo PR1– A e, após, PRA-A e PRA-2. Em 1936, foi doada ao governo por Roquette-Pinto e, em 1953, virou Rádio Ministério da Educação, com a criação da pasta. Referência em programação cultural a Rádio MEC está, desde 1983, também na banda FM. Ao longo de sua existência, formou, segundo seu atual gerente executivo Thiago Regotto, gerações de ouvintes oferecendo não só música clássica, mas ciência, literatura, dramaturgia, jazz, o conceito dos Concertos para a Juventude – que eram transmitidos do Cinema Rex, com a Sinfônica Brasileira –, a manutenção de grupos musicais e da Orquestra criada em 1961 por Edino Krieger. Isso sem falar na colaboração de nomes da arte, desde Pixinguinha, nos anos 1940, Jacob do Bandolim, na década de 1970, Altamiro Carrinho nos 2000, até Fernanda Montenegro.

 

 

“É surpreendente descobrir que o cineasta Humberto Mauro fez programas radiofônicos sobre cinema em 1943; que Otto Maria Carpeaux produzia Vida e Romance – encontro com a Literatura; ou que o programa Quadrante trazia crônicas especialmente escritas por Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Dinah Silveira de Queiróz, Fernando Sabino, Manuel Bandeira e Rubem Braga. Ou ainda que Música Viva apresentava primeiras audições brasileiras de obras de compositores do século XX“.

Luciana Medeiros, no artigo

Rádio MEC completa 100 anos com programação especial de aniversário

 

*Além da ferrovia Madeira-Mamoré (The Brazilian Review, 18 de julho de 1911), o empresário Percival Farquhar foi responsável pelo arrendamento da ferrovia Sorocabana (Correio Paulistano, 17 de agosto de 1907, quarta coluna), pela criação da Sorocabana Railway Company (The Brazilian Review, 30 de julho de 1907) e pela construção do porto de Belém (Relatório do Ministério da Agricultura, 1907 The Brazilian Review, 27 de outubro de 1908), e pelo controle da Companhia de Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande (O Século, 28 de fevereiro de 1907, penúltima coluna), entre outros empreendimentos. Foi presidente da Rio de Janeiro Trampway Light Power Company (Almanaque Garnier, 1908) e fez parte da diretoria da Brazil Railways Company (The Brazilian Review, 15 de fevereiro de 1910). Segundo o New York Times, 22 de setembro de 1912, no artigo Two New Yorkers Try to ‘Harrimanize’ South America, o sonho de Farquhar era dominar todo o transporte ferroviário da América Latina. Ele nasceu em York, na Pensilvânia, em 1864, e faleceu em Nova York, em 4 de agosto de 1953. Uma curiosidade: Farquhar morou na cobertura do Edifíco Biarritz, uma das mais belas edificações art decó do Rio de Janeiro, no bairro do Flamengo, assim como o Edifício A Noite, projetado pelo francês Joseph Gire.

 

 *percival

 

A Brasililiana Fotográfica agradece a colaboração de Bia Paes Leme, coordenadora de Música do Instituto Moreira Salles, e a de Euler Gouvêa, músico e assistente da Coordenadoria de Música do Instituto Moreira Salles, para a publicação desse artigo.

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Agência Brasil

CABRAL, Sérgio. A Rádio Nacional…

Dicionário de Verbetes do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

OLIVEIRA, Luiz André Ferreira de. Getúlio Vargas e o desenvolvimento do rádio no país: um estudo do rádio de 1930 a 1945. Dissertação (Mestrado Profissional em Bens Culturais e Projetos Sociais) – FGV – Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, 2006.

MELLO, Zuza Homem de. Enciclopédia da Música Brasileira. São Paulo: Publifolha, 2000.

PINHEIRO, Claudia. A Rádio Nacional. Rio de Janeiro : Editora Nova Fronteira, 2005.

SAROLDI, Luiz Carlos; MOREIRA, Sonia Virgínia. Rádio Nacional o Brasil em Sintonia. Rio de Janeiro : Editora Zahar, 2015.

Site A Crítica

Site Câmara dos Deputados

Site Elenco Brasileiro

Site Rádio Nacional

Wikipedia

Série “O Rio de Janeiro desaparecido” XXV – O Theatro Phenix

Com imagens produzidas por um fotógrafo ainda não identificado e por N. Viggiani, a Brasiliana Fotográfica conta um pouco da história do Theatro Phenix, tema do 25º artigo da série O Rio de Janeiro desaparecido. O escritório Januzzi e Irmão foi responsável pelo projeto aprovado, em 14 de novembro de 1906, do Palace Hotel, que já foi tema de um artigo do portal; e do Theatro Phenix – ambos empreendimentos da família Guinle. Mais uma vez convidamos nossos leitores a explorar as fotografias com a ferramenta zoom e, a partir daí, fazer um passeio pela cidade nas primeiras décadas do século XX, observando mais de perto a paisagem urbana carioca e seus personagens.

 

 

No Álbum da Avenida Central, lançado, em 1907, pelo fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), havia desenhos das fachadas do Palace Hotel, que ficava na Avenida Central, e do Teatro Phenix, contiguo ao hotel, na Rua Barão de São Gonçalo, posteriormente rebatizada como Avenida Almirante Barroso. Nenhum dos dois estava construído quando o álbum foi produzido, portanto, logicamente, não puderam ser fotografados. Esse álbum é um importante registro da reforma da principal via da então capital federal, onde ele contrapôs reproduções das plantas às fotografias das fachadas de cada edifício documentado. Esse tipo de fotografia foi fundamental para a construção e para a difusão de uma nova imagem do Rio de Janeiro, uma imagem associada aos ideais de civilização e progresso.

 

Um pouco da história do Theatro Phenix

 

 

O nome do Theatro Phenix foi uma homenagem ao Theatro Phenix Dramática, que existia nos jardins do Hotel Brissac. Eduardo Balassin Guinle (1846 – 1912), patriarca de sua abastada e influente família, foi obrigado a construí-lo. A Prefeitura do Rio de Janeiro, sob a gestão de Francisco Pereira Passos (1836 – 1913)  desapropriou, demoliu e reurbanizou a área onde ficava o Phenix Dramática, localizado na Rua da Ajuda, nº 57, no processo da construção da Avenida Central, em 1904. Ele havia sido inaugurado, em 1863, com o nome de El Dorado. Foi renomeado Phenix Dramática, em 1868. Bem, o terreno foi adquirido pelo empresário Eduardo Guinle e, segundo a lei, seria obrigatória a construção de um novo teatro no lugar do demolido. Num gesto de afirmação cultural, ele ofereceu ao Rio de Janeiro uma sala de espetáculos imponente com capacidade para 1200 espectadores, cuja natureza e dimensões só eram comparáveis aos teatros Municipal e de São Pedro. Seu projeto seguia o modelo clássico dos teatros italianos com a platéia rodeada por camarotes (Última Hora, 28 de fevereiro de 1955, primeira coluna).

Segundo Augusto Mauricio:

“…e essa casa de espetáculos, que é uma das que melhor possui o Rio de Janeiro quer como platéia, camarotes, mobiliário confortável com cadeiras estofadas, sala suntuosa, e corredores amplos, revestido todo de mármore trabalhado de diversas cores, colunas de diferentes ordens, grandes espelhos e ainda instalações internas para os artistas, que contam com camarotes magníficos – custou ao proprietário àquele recuado tempo, pouco mais de dois mil contos de réis”.

O novo Teatro Phenix,  cuja construção terminou em 1908, 1912 ou 1913 –  as fontes variam -, ficava na Rua Barão de São Gonçalo, logo transformada em Avenida Almirante Barroso, em um terreno contíguo ao Palace Hotel. Sua fachada foi inspirada na Ópera Garnier, em Paris.

Desde o início foi arrendado a terceiros – o primeiro foi Angelo Balloni, principal sócio da H. Balloni e Cia, que concedeu uma entrevista ao jornal Imparcial de 26 de fevereiro de 1914, data da inauguração do teatro. Na reportagem, é ressaltado o aspecto mais inclusivo do teatro, comparando-o ao Theatro Municipal: “No Phenix achar-se-á bem instalada tanto a sociedade chic como a classe operária. É que seu ambiente é artístico sem ser solene. Nele há um único atrativo, a simplicidade artística, cuja ação se estende por todas as pessoas, sejam elas quais forem, Isso, aliás, é pouco comum em nosso meio. Haja vista, por exemplo, o Municipal” (O Imparcial, 26 de fevereiro de 1914, antepenúltima coluna).

 

 

Anunciado como a mais ampla e luxuosa sala de espetáculos da América do Sul, antes de sua inauguração oficial, lá foram realizados bailes de carnaval nos dias 21, 22, 23 e 24 de fevereiro de 1914 (Correio da Manhã, 23 de fevereiro de 1914, primeira colunaO Paiz, 19 de fevereiro de 1914, sexta colunaO Paiz, 23 de fevereiro de 1914, primeira colunaO Paiz, 9 de março de 1914).

 

 

 

 

 

Foi reaberto como teatro, arrendado a Luiz Alonso, em novembro de 1915, com a peça Champignol à força, um vaudeville em três atos dos dramaturgos franceses Georges Feydeau (1862 – 1921) e Maurice Desvallières (1857 – 1926), encenada pela Companhia Leopoldo Froes e estrelada pela atriz Lucilia Peres (1881 – 1962) (O Paiz, 3 de novembro de 1915).

 

 

Funcionou também como teatro, cinema, cassino e dancing, quando o arrendatário era, desde 1916, Djalma Moreira.  Em 1921, a Casa dos Artistas protestou contra a transformação do Theatro Phenix em tavolagem. Provavelmente, Djalma arrendou o teatro até 1923 (Correio da Manhã, 27 de outubro de 1916, penúltima colunaO Jornal, 4 de abril de 1920Revista da Semana, 31 de dezembro de 1921, primeira colunaO Jornal, 4 de abril de 1922, terceira colunaA Noite, 15 de fevereiro de 1923, primeira coluna; Crítica, 2 de dezembro de 1928, segunda coluna).

 

 

 

Voltou a ser um teatro, arrendado pelo calabrês Jácomo Rosário Staffa (c. 1867 – 1927), e foi reinaugurado em 30 de abril de 1926 com a revista Excelsior, do pernambucano Manuel Bastos Tigre (1882 – 1957). Uma curiosidade: Bastos Tigre era cunhado do fotógrafo Louis Piereck (1880 – 1931) e foi o responsável pelo slogan da Bayer que se tornou famoso em todo o mundo: “Se é Bayer é bom“. É também o autor da letra da música Chopp em Garrafa, com música de Ary Barroso (1903 – 1964), que foi interpretada por Orlando Silva (1915 – 1978). Foi inspirada no produto que a Brahma passou a engarrafar. Sucesso do carnaval de 1934, é considerado o primeiro jingle  publicitário do Brasil. Foi também o autor do livro Meu Bebê: livro das mamães para anotações sobre o bebê desde seu nascimento. O Dia do Bibliotecário, 12 de março, dia de seu nascimento, foi instituído, em 1980, em sua homenagem. (Correio da Manhã, 12 de julho de 1925, quinta coluna; Correio da Manhã, 10 de fevereiro de 1926, quinta colunaCorreio da Manhã, 16 de abril de 1926, antepenúltima colunaCorreio da Manhã, 30 de abril de 1926).

 

 

Voltando ao Phenix. Lembramos aqui que Staffa era o proprietário do Grande Cinematographo Pariziense, o segundo cinema do Rio de Janeiro, inaugurado em 9 de agosto de 1907. O primeiro foi o Chic, inaugurado em 1º de agosto do mesmo ano. O terceiro foi o cinema Pathé, do fotógrafo Marc Ferrez e Arnaldo Gomes de Souza. A firma de Arnaldo e Ferrez chamava-se Arnaldo & Cia, omitindo a participação de Ferrez, porque Charles Pathé (1863 – 1957), um dos proprietários da Pathé Frères, proibia que seus distribuidores e representantes possuíssem cinematógrafos e Ferrez era um de seus representantes. Staffa denunciou o fato em 1908. Foi também o proprietário do Palace Hotel de Caxambu (Correio da Manhã, 8 de maio de 1926, segunda coluna).

 

 

O Phenix foi palco de muitas peças e bailados, esses últimos criações da coreógrafa e bailarina russa Maria Oleneva (1896 – 1985) que, posteriomente, foi uma das fundadoras da Escola de Dança do Teatro Municipal.

Em seu prédio foi sediado, na década de 1920, o Partido Democrático (Correio da Manhã, 24 de julho de 1927, quarta colunaCrítica, 7 de dezembro de 1928, última coluna).

Em 1929, passou a exibir quadros de Nu Artístico e era proibida a entrada de menores e de senhoritas (Crítica18 de abril23 de abril18 de maio de 1929).

 

 

Em 31 de maio, estreia do vaudeville musicado A Ilha dos Prazeres, uma peça do gênero livre com quadros de nu artístico, tendo como estrela a atriz  Theda Diamant (Crítica, 31 de maio de 1929, segunda coluna).

 

 

Em junho, Carlos Machado (1908 – 1992), que ficou conhecido como o Rei da Noite, foi anunciado diretor artístico do Phenix (Crítica, 21 de junho de 1929, terceira coluna). Ainda em 1929, foi o palco da temporada das Operetas Vienenses e voltou a exibir filmes(Crítica, 21 de julho de 1929Crítica, 12 de setembro de 1929, terceira coluna).

Ficou fechado por um breve período, tendo sido reaberto, após uma reforma, em janeiro de 1930, como Cine Theatro Phenix , sob a direção da Empresa S. Kauffman apresentando espetáculos puramente familiares (Crítica, 26 de dezembro de 1929). Passou a ter “uma orquestra de 30 professores que darão vida e palavras às cintas mudas por intermédio da linguagem universal – a Música”. Lembramos aqui que o cinema sonoro estava ocupando o lugar dos filmes silenciosos (Correio da Manhã, 27 de dezembro de 1929, terceira colunaO Paiz, 29 de dezembro de 1929, quinta colunaJornal do Brasil, 9 de janeiro de 1930 e O Imparcial (MA), 17 de janeiro de 1930, quarta coluna).

 

 

 

Entre as décadas de 1930 e 1940, voltou a funcionar ora como teatro ora como cinema. Abrigou também conferências, bailes de carnaval e recitais de música. Pelo teor dos filmes lá exibidos, “verdadeiros atentados à moral e ao decoro públicos”, foi censurado (A Batalha, 17 de março 1931, terceira coluna).

 

 

Em 1937, arrendado por Vital Ramos de Castro (1879 – 1958), cineasta e empresário do ramo cinematográfico, o Phenix foi inaugurado como Ópera, uma nova casa de diversões. Ainda em 1937 passou a chamar-se Cine Theatro Ópera (Correio da Manhã, 15 de junho de 1937, penúltima coluna; Beira- Mar, 14 de agosto de 1937Diário Carioca, 19 de setembro de 1937, antepenúltima coluna; penúltima colunaA Nação, 9 de outubro de 1937, segunda colunaCorreio da Manhã, 27 de março de 1938). Não seria a primeira vez que os caminhos de Vital e Staffa se encontravam: em 1927, o Cine Parisiense, que era, como já mencionado, de Staffa, foi comprado por ele.

 

 

Vital foi o proprietário do Circuito independente Vital Ramos de Castro,  que chegou a ter vinte salas de cinema no Rio de Janeiro, entre eles o Cine Plaza, na Cinelândia, o Cinema Olinda, na Praça Sans Penha, que foi a maior sala de cinema que já existiu no Rio de Janeiro; o Cinema Colonial, futura Sala de Teatro Cecília Meirelles e o Cine Ritz, em Copacabana.

 

 

Em 1944, com o apoio do então prefeito do Rio de Janeiro, Henrique Dodsworth (1895 – 1975), voltou a ser teatro e foi reaberto com a encenação pela companhia de Bibi Ferreira (1922 – 2019) da peça Sétimo Céu, do dramaturgo norte-americano Austin Stroug (1881 – 1952) (Gazeta da Manhã, 15 de abril de 1943, quarta colunaJornal do Commercio, 20 de maio de 1944, terceira colunaGazeta da Manhã, 15 de julho de 1944, penúltima coluna; Jornal do Commercio, 17 e 18 de julho de 1944, quarta colunaJornal do Commercio, 20 de de julho de 1944). Nele se apresentaram, dentre outros, o Teatro do Estudante, de Paschoal Carlos Magno (1906 – 1980); Sandro Apolônio (1921 – 1995), Maria Della Costa (1926 – 2015) e Henriette Morineau (1908 – 1990).

Em 1948, Vital Ramos de Castro entrou com uma ação de despejo contra o grupo teatral de Sandro Apolônio que se apresentava no Phenix com a peça Estrada do Tabaco (A Scena Muda, 15 de junho de 1948, página 3 e página 24A Scena Muda, 8 de março de 1949).

 

 

Foi fechado, em 1951, e totalmente demolido entre 1957 e 1958. Assim se encerrava um capítulo da história do teatro no Rio de Janeiro (Jornal, 2 de dezembro de 1950, segunda colunaJornal do Commercio, 15 e 16 de janeiro de 1951, penúltima colunaJornal, 2 de dezembro de 1950, segunda coluna; Correio da Manhã, 6 de dezembro de 1957, quarta colunaJornal do Commercio, 27 de dezembro de 1957, sétima colunaCorreio da Manhã, 8 de julho de 1958, última coluna).

 

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

BULCÃO, Clóvis. Os Guinle: a história de uma dinastia. Rio de Janeiro : Intrínseca, 2015.

BATISTA, Antonio José de Sena. Arquitetos sem halo: a ação dos escritórios M.M.M.Roberto e Henrique Mindlin Arquitetos Associados. Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em História Social da Cultura, do Departamento de História da PUC-Rio, como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em História, março de 2013.

CATTAN, Roberto Correia de Mello. A Família Guinle e a Arquitetura do Rio de Janeiro Um capítulo do ecletismo carioca nas duas primeiras décadas do novecentos. Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em História do Departamento de História da PUC-Rio, novembro de 2013.

CAVALCANTI, Lauro, org., Quando o Brasil Era Moderno Artes plásticas no Rio de Janeiro 1905-1960, Rio de Janeiro : Aeroplano Editora, 2001.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

MARCHESAN, Luiz Gonzaga. Antonio Cândido na revista Texto.

MORAES, Frederico. Cronologia das Artes Plásticas no Brasil 1816-1994. Rio de Janeiro : Topbooks, 2001.

Site Clube Naval

Site Estilos Arquitetônicos

Site Inepac

Veja Rio

Youtube – O LUXUOSO PALACE HOTEL DOS PRESIDENTES E ARTISTAS MODERNISTAS

 

Links para os outros artigos da Série O Rio de Janeiro desaparecido

 

Série O Rio de Janeiro desaparecido I Salas de cinema do Rio de Janeiro do início do século XXde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 26 de fevereiro de 2016.

Série O Rio de Janeiro desaparecido II – A Exposição Nacional de 1908 na Coleção Família Passos, de autoria de Carla Costa, historiadora do Museu da República, publicado na Brasiliana Fotográfica, em 5 de abril de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido III – O Palácio Monroe, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica, em 9 de novembro de 2016.

Série O Rio de Janeiro desaparecido IV - A via elevada da Perimetral, de autoria da historiadora Beatriz Kushnir, publicado na Brasiliana Fotográfica em 23 de junho de 2017.

Série O Rio de Janeiro desaparecido V – O quiosque Chopp Berrante no Passeio Público, Ferrez, Malta e Charles Dunlopde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portalpublicado na Brasiliana Fotográfica em 20 de julho de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VI – O primeiro Palácio da Prefeitura Municipal do Rio de Janeirode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de setembro de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VII – O Morro de Santo Antônio na Casa de Oswaldo Cruzde autoria de historiador Ricardo Augusto dos Santos da Casa de Oswaldo Cruzpublicado na Brasiliana Fotográfica em 5 de fevereiro de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VIII – A demolição do Morro do Castelode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portalpublicado na Brasiliana Fotográfica em 30 de abril de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido IX – Estrada de Ferro Central do Brasil: estação e trilhosde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de novembro de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido X – No Dia dos Namorados, um pouco da história do Pavilhão Mourisco em Botafogode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de junho de 2020.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XI – A Estrada de Ferro do Corcovado e o mirante Chapéu de Sol, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 22 de julho de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XII – o Teatro Lírico (Theatro Lyrico), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 15 de setembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIII – O Convento da Ajuda, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de outubro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIV – O Conselho Municipal, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 19 de novembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XV – A Praia de Santa Luzia no primeiro dia do verão, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 21 de dezembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVI – O prédio da Academia Imperial de Belas Artes, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, publicado na Brasiliana Fotográfica em 13 de janeiro de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVII – Igreja São Pedro dos Clérigos, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 18 de março de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVIII – A Praça Onze, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 20 de abril de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIX – A Igrejinha de Copacabana, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 23 de junho de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XX – O Pavilhão dos Estados, futuro prédio do Ministério da Agricultura, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 26 de julho de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXI – O Chafariz do Largo da Carioca, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 19 de setembro de 2022. 

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXII – A Cadeia Velha que deu lugar ao Palácio Tiradentes, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 11 de abril de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXIII e Avenidas e ruas do Brasil XVII - A Praia e a Rua do Russel, na Glória, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 15 de maio de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXIV – O luxuoso Palace Hotel, na Avenida Rio Branco, uma referência da vanguarda artística no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 4 de julho de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXVI – Conclusão do arrasamento do Morro do Castelo por Augusto Malta, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 14 de dezembro de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXVII e Série Os arquitetos do Rio de Janeiro V – O Jockey Club e o Derby Club, na Avenida Rio Branco e o arquiteto Heitor de Mello (1875 – 1920), de autoria de Andrea c. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, em 15 de janeiro de 2024

 

Outros artigos publicados na Brasiliana Fotográfica sobre teatros e cinemas

 

Série O Rio de Janeiro desaparecido I Salas de cinema do Rio de Janeiro do início do século XXpublicado em 26 de fevereiro de 2016.

Os teatros do Brasil, publicado em 21 de março de 2016

A inauguração do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, publicado em 14 de julho de 2017

Cinema no Brasil – a primeira sessão e um pouco da história do Cinema Odeon, publicado em 8 de julho de 2021

Série “O Rio de Janeiro desaparecido” XII – O Teatro Lírico (Theatro Lyrico), publicado em 16 de setembro de 2021

O Theatro de Santa Isabel, publicado em 28 de outubro de 2021

O Teatro Amazonas (Theatro Amazonas), em Manaus, a “Paris dos Trópicos”, publicado em 28 de dezembro de 2021

O Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro, no Dia Mundial do Teatro, publicado em 27 de março de 2023

Dia do Cinema Brasileiro, publicado em 19 de junho de 2023

O Theatro da Paz, em Belém do Pará, inaugurado em 15 de fevereiro de 1878, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado em 15 de fevereiro de 2024

No Dia do Repórter Fotográfico, destaque para o “Marco no fotojornalimo brasileiro: a seca no Ceará é documentada com fotografias”

No Dia do Repórter Fotográfico, a Brasiliana Fotográfica republica o Marco no fotojornalimo brasileiro: a seca no Ceará é documentada com fotografias. O assunto do artigo, originalmente publicado no portal em 12 de julho de 2015, é a veiculação de duas fotos de vítimas da maior seca nordestina do século XIX, na revista O Besouro, uma das iniciativas pioneiras da imprensa brasileira na utilização de fotografias como documentos comprobatórios de um fato, estabelecendo uma relação entre a narrativa escrita e o registro fotográfico. O autor das imagens, pertencentes ao acervo da Biblioteca Nacional, uma das instituições fundadoras do portal, foi Joaquim Antônio Correia, cujo ateliê ficava em Fortaleza, no Ceará.

Para os leitores interessados em fotojornalismo, destacamos o portal Testemunha Ocular, uma iniciativa do Instituto Moreira Salles, instituição fundadora da Brasiliana Fotográfica, para preservar e difundir o passado e o presente do Fotojornalismo brasileiro; e também a exposição Evandro Teixeira. Chile 1973, em cartaz até 13 de novembro de 2023, no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro.

 

Marco no fotojornalimo brasileiro: a seca no Ceará é documentada com fotografias

 

J.A. Correia. Secca de 1877-78, 1877-1878. Ceará / Acervo FBN

J.A. Correia. Secca de 1877-78, 1877-1878. Ceará / Acervo FBN

 

Segundo o trabalho “Imagens da Seca de 1877-78 – Uma contribuição para o conhecimento do fotojornalismo na imprensa brasileira”, dos pesquisadores Joaquim Marçal Ferreira de Andrade e Rosângela Logatto, a publicação de fotos de vítimas da maior seca nordestina do século XIX foi uma das iniciativas pioneiras da imprensa brasileira na utilização de fotografias como documentos comprobatórios de um fato (Anais da Biblioteca Nacional, vol 114, de 1994, p.71-83).

Para denunciar a tragédia, o chargista português Rafael Bordalo Pinheiro (1846 – 1905) publicou, em 20 de julho de 1878, em uma ilustração da revista O Besouro, duas fotos que fazem parte de um conjunto de 14 registros fotográficos de vítimas da seca ocorrida entre 1877 e 1878. Porém, não foi dado crédito para o autor das fotos, Joaquim Antônio Correia, cujo ateliê ficava em Fortaleza, no Ceará.

Link para O Besouro de 20 de julho de 1878, ano I, n.16

Esse conjunto de fotografias pertence, atualmente, ao acervo da Biblioteca Nacional.  São imagens chocantes, em formato de cartes de visite, e retratam crianças, homens e mulheres desnutridos e maltrapilhos, de aparência doentia, e, muitas vezes, as fotos, feitas em estúdio, trazem textos rimados que se referem à miséria.

 

Acessando o link para as fotografias de Joaquim Antônio Correia sobre a seca nordestina de 1877/1878 disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

A publicação da ilustração litográfica das duas fotos sendo seguradas por um esqueleto vestindo paletó, sob o título “Páginas tristes – Scenas e aspectos do Ceará (para S. Majestade, o Sr. Governo e os Senhores Fornecedores verem)”, tinha o objetivo de reforçar denúncias feitas pelo escritor e jornalista José do Patrocínio (1853 – 1905) em artigos publicados no periódico de texto Gazeta de Notícias. Patrocínio fazia, na época, a cobertura jornalística da seca com o principal objetivo de acompanhar a aplicação dos recursos governamentais em seu combate. Partiu em 10 de maio de 1878 e retornou ao Rio de Janeiro, em 12 de agosto do mesmo ano. As matérias foram publicadas, na coluna Folhetim, na primeira página da Gazeta de Notícias, sob o título “Viagem ao Norte” (1).

Mas só o texto não era suficiente. Então, Patrocínio enviou as fotos para a redação da revista O Besouro, para a qual já havia mandado, antes da viagem, o artigo “Sermão de Lágrimas” (O Besouro, edição de 4 de maio de 1878 ), em que tratava, com preocupação, a seca e a situação dos retirantes.

A publicação da ilustração com as fotos de Joaquim Antônio Correia, na revista O Besouro, foi um verdadeiro “anticartão de visita, veemente panfleto que denuncia uma realidade que muitos membros da corte se negavam a enxergar”(“Imagens da Seca de 1877-78 – Uma contribuição para o conhecimento do fotojornalismo na imprensa brasileira”).

Abaixo, está reproduzido o texto publicado no O Besouro, na página seguinte à ilustração com as fotografias:

“O Ceará

O nosso amigo José do Patrocínio, em viagem por aquela provincia, enviou-nos as duas photographias por que foram feitos os desenhos da nossa primeira página.

São dois verdadeiros quadros de fome e miséria. E´ n´aquelle estado que os retirantes chegam á capital, aonde quasi sempre morrem, apezar dos apregoados soccorros, que segundo informações exactas são distribuídos de maneira improficua.

A nossa estampa da primeira pagina é uma prova cabal áquelles que accusavam de exageração, a pintura que se fazia do estado da infeliz província.

Repare o governo e repare o povo, na nossa estampa, que é a cópia fiel da desgraça da população cearense.

Continuaremos a reproduzir o que o nosso distincto collega nos enviar a tal respeito.”

Uma curiosidade: também dessa viagem ao norte do país originou-se o romance de José do Patrocinio, Os Retirantes, publicado na Gazeta de Notícias, em estilo de folhetim, entre 29 de junho e 10 de dezembro de 1879.

 

(1) – Links para os artigos escritos por José do Patrocínio sob o título “Viagem ao Norte”.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 1º de junho de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 6 de junho de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 20 de julho de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 23 de julho de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 3 de agosto de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 15 de agosto de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 22 de agosto de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 30 de agosto de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 7 de setembro de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 12 de setembro de 1878.

 

Breve cronologia de Joaquim Antônio Correia (18? – ?)

 

seca1

 

1874 – Até este ano, o nome de Joaquim Antônio Correia apareceia no cadastro de contribuintes como dono de uma casa comercial especializada em produtos manufaturados fora da província,que ficava na rua da Palma , nº 17.

1877 - Estabeleceu como fotógrafo na rua Formosa, n° 31. Atuou como retratista por não menos de dez anos e foi contemporâneo de Agio Pio, do prussiano Carlos Frederico Johann Reeckell, do dinamarquês Niels Olsen (1843 – 1911) associado ao austríaco Constantino Barza, do francês Baubrier e de Francisco Brandão, dentre outros.

 

 

1878 – Defendeu-se da acusação de comercializar indevidamente retratos que produzia de moças de família e ameaçou pendurar de cabeça para baixo os retratos de seus devedores (O Cearense, 12 de maio de 1878).

Em maio, conheceu o escritor José do Patrocínio (1853 – 1905), que havia ido para o Ceará para conhecer mais de perto a tragédia da seca. Voltando para o Rio de Janeiro, publicou duas fotos da seca no Ceará de autoria de Correia, na revista O Besouro, de 20 de julho de 1878, do chargista português Rafael Bordallo Pinheiro (1846 – 1905). Foi uma das iniciativas pioneiras da imprensa brasileira na utilização de fotografias como documentos comprobatórios de um fato. Foi um marco na história do fotojornalismo brasileiro.

A publicação da ilustração litográfica das duas fotos sendo seguradas por um esqueleto vestindo paletó, sob o título “Páginas tristes – Scenas e aspectos do Ceará (para S. Majestade, o Sr. Governo e os Senhores Fornecedores verem)”, tinha o objetivo de reforçar denúncias feitas por do Patrocínio em artigos publicados no periódico de texto Gazeta de Notícias. Patrocínio fazia, na época, a cobertura jornalística da seca com o principal objetivo de acompanhar a aplicação dos recursos governamentais em seu combate. Partiu em 10 de maio de 1878 e retornou ao Rio de Janeiro, em 12 de agosto do mesmo ano. As matérias foram publicadas, na coluna Folhetim, na primeira página da Gazeta de Notícias, sob o título “Viagem ao Norte”. Mas só o texto não era suficiente. Então, Patrocínio enviou as fotos para a redação da revista O Besouro, para a qual já havia mandado, antes da viagem, o artigo “Sermão de Lágrimas” (O Besouro, edição de 4 de maio de 1878 ), em que tratava, com preocupação, a seca e a situação dos retirantes.

1881 – Seu estúdio fotográfico dispunha de um grande sortimento de quadros de gosto…máquinas de 4 objetivas…e tudo por preço tão diminuto que admira.

 

 

1883 / 1884 – Antes da assinatura da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, Fortaleza, em 24 de maio de 1883, tornou-se a primeira capital brasileira a libertar todos os escravizados. No ano seguinte, em 25 de março de 1884, o Ceará passou a ser o primeiro estado brasileiro a extinguir a escravidão. Correia documentou os líderes da luta escravagista em fotos chamadas de Retratos Libertadores e, em 1883, as comercializava.

 

O Libertador, de 1887

O Libertador,  9 de maio de 1883 / História da fotografia no Ceará do século XIX

 

1885 – Correia anunciou que havia adquirido, em Paris, uma nova máquina para retratos instantâneos (O Cearense, de 28 de julho de 1885, última coluna).

1886 – Anunciava que em seu estabelecimento fotográfico tirava-se retratos pelos processos mais aperfeiçoados (O Libertador, 8 de junho de 1886, última coluna).

1892 – Provavelmente continuou trabalhando como fotógrafo até este ano.

Em 29 de dezembro, inaugurou a primeira fábrica de louças do Ceará, no Boulevard da Conceição (A República, 28 de dezembro de 1892, quarta coluna).

1893 – Anunciou a venda de seu estúdio fotográfico:

“Joaquim Antonio Correia vende a sua fotografia constando de boas lentes, drogas, punsas, etc. A tratar: Rua Formosa, nº 31″ (A República, 30 de maio de 1893). Residia na rua Floriano Peixoto, nº 95.

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

ANDRADE, Joaquim Marçal Ferreira de; LOGATTO, Rosângela. Imagens da Seca de 1877-78 – Uma contribuição para o conhecimento do fotojornalismo na imprensa brasileira Anais da Biblioteca Nacional, vol 114, de 1994, p. 71-83.

BEZERRA, Ari Leite. História da fotografia no Ceará do século XIX. Edição do autor, 2019.

Fundação Palmares

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002. 408 p., il. p&b.

Link para o artigo 500 mil mortos: a tragédia esquecida que dizimou brasileiros durante 3 anos no século 19, de Camilla Veras Mota, Camila Costa e Cecilia Tombesi publicada no site da BBC, em 18 de junho de 2021, com as fotografias de Joaquim Antonio Corrêa.*

 

*Esse link foi acrescentado no artigo em 19 de junho de 2021.

**Essa breve cronologia foi inserida em 19 de abril de 2022.

Três álbuns fotográficos da Exposição Nacional de 1908 no Museu Histórico Nacional: Boscagli, Malta e Musso

No mês em que a Exposição Nacional de 1908 completa 115 anos – foi inaugurada em 11 de agosto e encerrada em 15 de novembro de 1908 -, a Brasiliana Fotográfica publica o artigo A Exposição Nacional de 1908 no Museu Histórico Nacional, de autoria da historiadora Maria Isabel Ribeiro Lenzi, do Arquivo Histórico do Museu Histórico Nacional, uma das instituições parceiras do portal, com três álbuns fotográficos produzidos na ocasião pelos fotógrafos Augusto Malta (1864 – 1957), José Boscagli (1862 – 1945) e Luis Musso (18? – 19?). Cada álbum tem sua característica: o de Malta parece ter sido realizado especialmente para presentear o seu amigo, o ministro Miguel de Calmon; o de Boscagli retratou a mostra do Rio Grande do Sul; e, finalmente, tudo indica que o produzido por Musso tenha sido encomendado pelo governo federal para o registro oficial do evento.

 

Acessando o link para as fotografias do álbum de autoria de Augusto Malta sobre a Exposição Nacional de 1908 pertencentes ao Museu Histórico Nacional disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá visualizar e magnificar as imagens.

 

 

Acessando o link para as fotografias do álbum de autoria de José Boscagli sobre a Exposição Nacional de 1908 pertencentes ao Museu Histórico Nacional disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá visualizar e magnificar as imagens.

 

 

Acessando o link para as fotografias do álbum de autoria de Luis Musso sobre a Exposição Nacional de 1908 pertencentes ao Museu Histórico Nacional disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá visualizar e magnificar as imagens.

 

 

A Exposição Nacional de 1908 no Museu Histórico Nacional

Maria Isabel Ribeiro Lenzi*

 

 

Era 1907. O Rio de Janeiro, então Distrito Federal, acabara de ser remodelado ao gosto das nações ditas civilizadas, pelo governo de Rodrigues Alves com a participação do prefeito Pereira Passos e do sanitarista Oswaldo Cruz. No ano seguinte, faria 100 anos que o Brasil abrira seus portos às nações amigas. Foi esse o mote para que fosse organizada a Exposição Nacional de 1908, oportunidade de o país exibir sua produção a si próprio.  A ideia havia sido lançada pela Associação Comercial, apoiada pela imprensa e acatada pelo Congresso Nacional, que votou em 1907 orçamento para promover, no ano seguinte, o evento destinado a ser um panorama da agricultura, da indústria, da pecuária e das artes liberais desenvolvidas no país.

 

 

Depois de muito debate, foi escolhida a várzea entre as praias da Saudade e Vermelha, no vale formado entre os morros da Urca, Pão de Açúcar e Babilônia, para a construção do que viria a ser a Exposição Nacional de 1908.  O país promovera anteriormente exposições nacionais, mas aquela foi a primeira em que foram construídos pavilhões especialmente para a ocasião. O lugar escolhido, além de apresentar uma bonita paisagem, tinha a vantagem de já abrigar dois edifícios públicos – a antiga Escola Militar e a fundação do prédio para a Universidade do Brasil – que poderiam ser aproveitados depois de reforma.  O presidente da República era Afonso Penna. Seu Ministro da Indústria, Viação e Obras Públicas, Miguel Calmon Du Pin e Almeida, nomeou o engenheiro José Mattoso Sampaio Corrêa para chefiar a comissão construtora que estaria encarregada de produzir uma “pequenina cidade de palacetes no areal da Urca”,[1] onde se faria um inventário do Brasil com função pedagógica, para que os próprios brasileiros conhecessem o país. O cronista João do Rio fala sobre isso:

 

A exposição vai abrir-se. É a grande mostra do Brasil. Cada estado expõe suas riquezas… e os tentamens da sua indústria o estrangeiro admirará, aproveitará… o brasileiro descobrirá. Estou a ver o pasmo… dos cariocas diante do ouro, das pedras, das madeiras, dos tecidos e dos aproveitamentos da natureza assombrosa pelo homem vagaroso. Isso é Paraná?… Isso é Amazonas? Ora, diga-me, onde fica o Mato Grosso? Quando o brasileiro descobrirá o Brasil?[2]

 

A exposição, inaugurada no dia 11 de agosto, ficou aberta até 15 de novembro de 1908. De janeiro a junho, a área que hoje corresponde à Praia Vermelha e parte da Av. Pasteur era um canteiro de obras com muitos operários que fizeram surgir aqueles palácios em arquitetura efêmera que logo desapareceriam da vida carioca. Era como um sonho aquela cidadela iluminada pela luz elétrica, mas, como nos sonhos, uma alegria fugaz.

O edifício da Universidade do Brasil foi adaptado para abrigar o Palácio dos Estados e a Escola Militar, depois da reforma, se transformou no Palácio das Indústrias, com um grande chafariz em sua fachada – o Chateau d’Eau.  Quatro estados e o Distrito Federal construíram seus próprios pavilhões. Os de Minas Gerais, de São Paulo, da Bahia e do Distrito Federal, opulentos, simbolizando o poder de suas elites, contrastavam com a simplicidade do Pavilhão de Santa Catariana, que apresentou aos visitantes uma casa de colono feita de madeira e em seu interior, 150 tábuas de diferentes espécies de árvores catarinenses.

 

 

As demais unidades da federação ocuparam o Palácio dos Estados com seus produtos.  Portugal foi o único país estrangeiro a participar do certame com um pavilhão em estilo manuelino oferecido pelo governo brasileiro àquele país. Porém, os produtos portugueses excederam aquele espaço e Portugal construiu, então, um anexo a seu pavilhão onde foram expostas telas e esculturas de seus artistas.

 

 

 

 

Algumas instituições também se fizeram representar, como a Fábrica de Tecidos Bangu, com seu pavilhão, à época descrito como “uma pequena mesquita mourisca”; a Sociedade Nacional de Agricultura com pavilhão em estilo renascença; a Fábrica de Chocolate Bhering, com o Pavilhão Café e Cacau. O Jardim Botânico participou com uma estufa envidraçada onde o público podia admirar várias espécies de plantas e ao seu redor, muitas mudas que, provavelmente, o público poderia adquirir.

 

 

Os divertimentos não faltavam na exposição. Para quem gostava da arte dramática, havia dois teatros. O Teatro João Caetano, grande, inspirado no Teatro Municipal que estava prestes a ser inaugurado, era dirigido por Artur Azevedo. Havia também, por iniciativa do empresário Paschoal Segreto, um pequeno teatro de variedades, um cinematógrafo e uma pista de patinação. Pinturas, esculturas, desenhos de artistas nacionais foram expostos no Pavilhão das Artes Liberais.

 

 

Os amantes da música podiam assistir a concertos no Pavilhão Egípcio – nome este devido à estética egípcia daquele espaço dedicado às apresentações das orquestras. E para abrigar as bandas militares e civis, diversos coretos foram distribuídos pela exposição.

 

 

Os visitantes entravam na Exposição pela Porta Monumental.  Muito deles vindos de barca que saía do Cais Pharoux para o ancoradouro construído especialmente para recebê-los. Alguns serviços eram oferecidos nos pavilhões dos Correios e Telégrafo, da Assistência Municipal, da Imprensa e dos Bombeiros. O visitante também contava com opções entre quiosques de cerveja e de refrescos, além de cafés e restaurantes.

No Pavilhão da Imprensa, Olavo Bilac editava o Jornal da Exposição, onde se encontrava a programação e as notícias do evento. Em suas crônicas, Bilac fazia críticas e elogios à exposição. Ele lembra em um de seus textos que sem a “fada de eletricidade”, as noites não seriam tão espetaculares!

 

 

Muitos fotógrafos registraram esse evento do início do século XX. Certamente, diversos visitantes levavam sua Kodak na bolsa, mas foi o trabalho de profissionais que chegou até os nossos dias, nos dando uma ideia do que foi a comemoração do centenário da abertura dos portos brasileiros às nações amigas.

Na coleção Miguel Calmon do Museu Histórico Nacional, existem três álbuns da Exposição Nacional de 1908.  Um deles é do fotógrafo Augusto Malta, que parece feito especialmente para presentear o ministro Miguel de Calmon. Nele, temos acesso à imagem da área antes da construção dos pavilhões, mas a maioria das fotografias nos mostra a exposição em seu auge, com muita gente perambulando entre os edifícios. É visível o caráter único deste álbum, pois Augusto Malta recortou algumas fotografias em formas inusuais, muitas vezes privilegiando retratar o ministro Calmon e o presidente Afonso Pena.  Destacamos o balão que Augusto Malta clica com sua lente na hora em que ele é lançado do Pavilhão de São Paulo, bem como as fotografias noturnas nas quais a luz elétrica protagoniza as imagens…

 

 

O álbum de Luis Musso nos parece um trabalho encomendado pelo governo federal para o registro oficial do evento. As fotografias são todas da mesma dimensão e com muito poucas pessoas no entorno. São retratos dos prédios, como se o fotógrafo quisesse catalogar a arquitetura do evento. A capa traz o brasão da República, o que nos sugere seu caráter oficial.

 

 

 

Por fim, temos um álbum produzido pelo governo do Rio Grande do Sul, onde é possível ver os produtos exibidos por este estado.  A maioria absoluta das fotografias é de autoria de José Boscagli (com exceção da primeira foto, que é de Augusto Malta e apresenta o Palácio dos Estados, onde o Rio Grande do Sul expunha seus produtos). A importância deste álbum está na possibilidade dele nos oferecer uma ideia de como eram expostos os produtos na mostra.

 

 

 

 

Cabe lembrar ainda fato curioso ocorrido na exposição, embora não registrado por nenhum fotógrafo: a visita da banda de música dos indígenas Bororo. Eles lá estiveram, tocaram no Pavilhão de São Paulo e no Teatro João Caetano. Mas não chegou até nós nenhuma imagem deles no evento. Quem quiser saber mais sobre o assunto, veja a postagem da Brasiliana Fotográfica: Novos acervos: Museu Histórico Nacional .

 

 

*Maria Isabel Ribeiro Lenzi é Doutora em História pela UFF e historiadora do Arquivo Histórico do Museu Histórico Nacional (IBRAM/MTur)

 

Bibliografia:

Levy, Ruth. Entre Palácios e Pavilhões. A arquitetura efêmera da Exposição Nacional de 1908. Rio de Janeiro: EBA Publicações, 2008.

Neves, Margarida de Souza. As vitrines do progresso. Rio de Janeiro: PUC-RIo, FINEP, PNPq, 1986

Pereira, Margareth da Silva. A Exposição Nacional de 1908 ou O Brasil visto por dentro. In: Pereira, Margareth da Silva (org). 1908, um Brasil em exposição. São Paulo: Caixa Cultural, 2011

Mariani, Luiza Helena. Bilac, João do Rio e a Exposição Nacional de 1908. In: Pereira, Margareth da Silva (org). 1908, um Brasil em exposição. São Paulo: Caixa Cultural, 2011

Revista Kosmos. Ano V, julho de 1908, nº 7

 

[1] Revista Kosmos, ano  V, nº7, julho de 1908, p.1

[2] Apud:  Levy  Ruth, Palácios e Pavilhões. A arquitetura efêmera da Exposição Nacional de  1908. p.73

 

Nota da editora:

Uma curiosidade: foi durante a Exposição Nacional de 1908 que o engenheiro fluminense Augusto Ferreira Ramos (1860 – 1939), um dos coordenadores do Pavilhão de São Paulo, teve a ideia de construir o Bondinho do Pão de Açúcar. Para saber mais sobre essa história, acesse o artigo A construção do Bondinho do Pão de Açúcar sob as lentes de Theresio Mascarenhas, de minha autoria, publicado na Brasiliana Fotográfica, em 27 de outubro de 2022.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Links para os artigos sobre exposições nacionais ou internacionais publicados na Brasiliana Fotográfica

O pintor Victor Meirelles e a fotografia na II Exposição Nacional de 1866, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 17 de agosto de 2017.Motr

A festa do progresso: o Brasil na Exposição Continental, Buenos Aires, 1882, de autoria de Maria do Carmo Rainho, Arquivo Nacional, publicado em 29 de março de 2018.

Série “O Rio de Janeiro desaparecido” II – A Exposição Nacional de 1908 na Coleção Família Passos, de autoria de Carla Costa, Museu da República, publicado em 5 de abril de 2018.

Marc Ferrez, a Comissão Geológica do Império (1875 – 1878) e a Exposição Antropológica Brasileira no Museu Nacional (1882), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 29 de junho de 2018.

Paris, 1889: o álbum da exposição universal, de autoria de Claudia B. Heynemann, Arquivo Nacional,publicado em 27 de julho de 2018.

Café Brasil: o Império na Exposição Internacional de Filadélfiade autoria de Claudia B. Heynemann, Arquivo Nacional, publicada em 4 de dezembro de 2019.

Festa das Artes e da Indústria Segunda Exposição Nacional, 1866, de autoria de Claudia Beatriz Heynemann e Maria Elizabeth Brêa Monteiro, Arquivo Nacional, em 5 de abril de 2020.

A apresentação do Departamento Nacional de Saúde Pública na Exposição Internacional do Centenário da Independência, de Ricardo Augusto dos Santos, Fiocruz, publicado em 13 de abril de 2020.

A Exposição Internacional de Higiene de Dresden, de Cristiane d´Avila, Fiocruz, publicado em 5 de janeiro de 2022.

Série 1922 – Hoje, há 100 anos VIII – A abertura da Exposição Internacional do Centenário da Independência do Brasil e o centenário da primeira grande transmissão pública de rádio no país, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 7 de setembro de 2022, na Brasiliana Fotográfica.

 

 

 

Dia Internacional da Fotografia, uma retrospectiva de artigos

A invenção do daguerreótipo e seu anúncio, em 1839, transformou de forma definitiva e radical a linguagem e a cultura visual nestes últimos 184 anos. Com a publicação de uma imagem do fotógrafo Augusto Malta (1864 – 1957), do acervo do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, e também com uma retrospectiva dos artigos já publicados na Brasiliana Fotográfica sobre o Dia Internacional da Fotografia, o portal, voltado para a pesquisa e reflexão sobre a fotografia como fonte primária e essencial para a escrita da nossa história, homenageia mais uma vez a data comemorativa.

 

Thumbnail

Augusto Malta (1864 – 1957), s/d. Rio de Janeiro, RJ / Acervo AGCRJ

 

Em 1903, Malta foi contratado pela Prefeitura do Rio de Janeiro como fotógrafo oficial, cargo criado para ele. Passou a documentar a radical mudança urbanística promovida pelo então prefeito da cidade, Francisco Pereira Passos (1836-1913), período que ficou conhecido como o “bota-abaixo”. Augusto Malta trabalhou na Prefeitura até 1936, quando se aposentou.

 

O Dia Internacional da Fotografia

 

 

A data escolhida para a comemoração do Dia Internacional da Fotografia tem sua origem no ano de 1839, quando, em 7 de janeiro, na Academia de Ciências da França, foi anunciada a descoberta da daguerreotipia, um processo fotográfico desenvolvido por Joseph Nicèphore Niépce (1765-1833) e Louis Jacques Mandé Daguerre (1787-1851). Cerca de sete meses depois, em 19 de agosto, durante um encontro realizado no Instituto da França, em Paris, com a presença de membros da Academia de Ciências e da Academia de Belas-Artes, o cientista François Arago, secretário da Academia de Ciências, explicou o processo e comunicou que o governo francês havia adquirido o invento, colocando-o em domínio público e, dessa forma, fazendo com que o “mundo inteiro” tivesse acesso à invenção. Em troca, Louis Daguerre e o filho de Joseph Niépce, Isidore, passaram a receber uma pensão anual vitalícia do governo da França, de seis mil e quatro mil francos, respectivamente.

A velocidade com que a notícia do invento do daguerreótipo chegou ao Brasil é curiosa: cerca de 4 meses depois do anúncio da descoberta, foi publicado no Jornal do Commercio, de 1º de maio de 1839, sob o título “Miscellanea”, na segunda coluna, um artigo sobre o assunto – apenas 10 dias após de ter sido o tema de uma carta do inventor norte-americano Samuel F. B. Morse (1791 – 1872), escrita em Paris em 9 de março de 1839, para o editor do New York Observer, que a publicou em 20 de abril de 1839.

O Dia Internacional da Fotografia foi instituído em 1991. Com o incentivo do fotógrafo indiano O.P. Sharma (1937-), a Sociedade de Fotógrafos de Mídia da América (American Society of Media Photographers – ASMP) e A Sociedade Real Fotográfica (The Royal Photographic Society – RPS) declararam o Dia Internacional da Fotografia na data de 19 de agosto.

 

Leia aqui os artigos já publicados na Brasiliana Fotográfica sobre o Dia Internacional da Fotografia:

 

Dia Internacional da Fotografia – 19 de agosto, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 19 de agosto de 2015

Os 180 anos da invenção do daguerreótipo – Pequeno histórico e sua chegada no Brasil, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 19 de agosto de 2019

Os 180 anos da invenção do daguerreótipo – Os álbuns da Comissão Geológica do Império com fotografias de Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 19 de agosto de 2019

Autorretratos de fotógrafos – Uma homenagem no Dia Internacional da Fotografia, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 19 de agosto de 2021

No Dia Internacional da Fotografia, fotógrafas pioneiras no Brasil, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 19 de agosto de 2022

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Digital Camera World

Foto em Foco

No Dia do Historiador, um artigo sobre o ofício

No Dia do Historiador, a Brasiliana Fotográfica publica o artigo O Ofício do Historiador, de Ricardo Augusto dos Santos, pesquisador titular da Fundação Oswaldo Cruz, parceira do portal desde agosto de 2017. Nele o autor nos revela o trabalho realizado por pesquisadores da instituição, que seguem rotinas para organizar e identificar documentos, sejam eles relatórios, manuscritos ou fotografias. Também dá exemplos de algumas descobertas feitas por historiadores a partir de entrevistas e de pesquisas objetivas ou não. Destaca os acervos, abertos a consulta, dos médicos Belisário Penna (1868 – 1939) e Renato Kehl (1889 – 1978), “descobertos” sogro e genro a partir de uma entrevista com uma das filhas de Belisário.

O Dia do Historiador foi instituído, no Brasil, pela  Lei nº 12.130/2009, de 17 de dezembro de 2019, em homenagem ao nascimento do diplomata e escritor pernambucano Joaquim Nabuco (1849-1910). É comemorado, desde 2010, no dia 19 de agosto. No última dia 14 de agosto, a Brasiliana Fotográfica publicou o artigo Uma homenagem ao historiador José Murilo de Carvalho (1939 – 2023), sobre ele, que foi um dos maiores historiadores do Brasil.

O ofício de historiador também foi tema de uma poesia do grande poeta Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1987).

 

Historiador 

Veio para ressuscitar o tempo

e escalpelar os mortos,

as condecorações, as liturgias, as espadas,

o espectro das fazendas submergidas,

o muro de pedra entre membros da família,

o ardido queixume das solteironas,

os negócios de trapaça,

as ilusões jamais confirmadas nem desfeitas. 

Veio para contar

o que não faz jus a ser glorificado

e se deposita, grânulo,

no poço vazio da memória.

É importuno,

sabe-se importuno e insiste,

rancoroso, fiel.

 

Carlos Drummond de Andrade, in Paixão Medida

 

O Ofício do Historiador

 Ricardo Augusto dos Santos*

 

O ofício do historiador apresenta afinidade com a ciência que estuda vestígios materiais da presença humana. Munidos de instrumentos adequados, historiadores e arqueólogos realizam suas investigações, revelando fontes inexploradas. Nestas disciplinas, a busca de objetos soterrados pelo tempo, vestígios do cotidiano, alcançam novas dimensões, indicando aspectos desconhecidos sobre as sociedades, surgindo um manancial de informações, tornando acessível o conhecimento.

Pacientemente, são retiradas camadas de terra acumuladas pelos homens, recuperando práticas e ideias. O trabalho historiográfico, além das semelhanças com uma arqueologia documental, é igualmente marcado pela ideia do resgate. Sem dúvida, a similitude da prática historiográfica com a pesquisa arqueológica é atraente.

O ofício historiográfico realiza-se em estreita relação e, simultaneamente, à descoberta, organização e divulgação dos documentos encontrados. Vamos falar de alguns exemplos.

No início da década de 1990, pesquisadores da Casa de Oswaldo Cruz entrevistaram Maria Penna, a última filha viva de Belisário Penna (1868-1939). Em meio às perguntas, a gentil senhora exclamou: Vocês deveriam fazer essas perguntas a minha irmã, a Eunice. Mas, infelizmente, ela morreu. Ela foi casada com Renato Kehl.

 

 

Naquela época, não possuíamos conhecimento do parentesco unindo estes dois intelectuais. Após a entrevista, dias depois, determinei tarefas a uma estagiária. Seria sua responsabilidade a pesquisa sobre Renato Kehl (1889-1974). Em pouco tempo, a aprendiz de pesquisadora, mencionou a novidade: seu pai conhecia Sergio Kehl, filho de Renato e, portanto, neto de Belisário. Contactado, Sérgio estava doente e desejava doar rapidamente o acervo do famoso eugenista. Assim foi feito. Os documentos de Kehl foram incorporados ao Departamento de Arquivo e Documentação da Casa de Oswaldo Cruz.

 

 

Os importantes acervos dos intelectuais Belisário Penna e Renato Kehl estão sob a guarda da COC/FIOCRUZ e estão abertos a consulta. São textos, fotos, relatórios e recortes de jornais que registram a presença das ideias eugênicas e sanitaristas no Brasil.

 

Acessando o link para as fotografias do acervo de Renato Kehl disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

Acessando o link para as fotografias do acervo de Belisário Penna disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Na época da citada entrevista, ainda se tinha uma visão embaçada sobre a trajetória de Belisário. Por exemplo, pensava-se que ele fosse primo de Affonso Penna, presidente do Brasil entre 1906 e 1909. Entretanto, investigando os documentos, apuramos que Maria Guilhermina de Oliveira Penna, nascida em Barbacena (1857-1929), irmã de Belisário, casou-se em 23 de janeiro de 1875 com Affonso Augusto Moreira Penna (1847-1909) que exerceria a presidência da República e faleceu durante seu mandato. Portanto, Belisário era cunhado do presidente.

Entretanto, outros laços familiares se revelaram. Eunice Penna, filha de Belisário, como já mencionado, casou-se com Renato Kehl. Além desta união, outro casamento consolidou os laços entre as famílias Penna e Kehl. João Fernandes de Oliveira Penna, filho de Belisário, uniu-se com a irmã de Kehl, Cecília Ferraz Kehl.

Mas, um outro fato interessante que ilustra a atividade historiográfica merece destaque. Uma característica da profissão é a existência de rotinas de pesquisa, além de uma perseverança quase sem limite. Os profissionais que trabalham na organização de fontes, não ignoram que determinados itens, ao final da organização dos fundos documentais e inserção de dados nas bases, permanecem algum tempo sem identificação, dificultando sua inclusão nas séries documentais. Temporariamente,  o documento (relatório, manuscrito, foto), poderá ficar fora do arranjo. O processo de identificação irá demandar mais investimento, mas esse obstáculo é superado.

Entre os documentos do acervo de Renato Kehl, destaca-se um pequeno conjunto de fotografias. Uma foto deste arquivo permanecia desconhecida. Não havia anotação em seu verso. Aparentemente, nenhuma fotografia do acervo estava relacionada. Mas, eu conservava a sensação de que conhecia o lugar. Que já havia visto a cena. Assistindo a um documentário sobre a cidade do Rio de Janeiro, fartamente acompanhado de imagens do início do século XX, identifiquei o local da fotografia. Trata-se do monumental Palácio das Festas. Um prédio edificado no Rio de Janeiro para a Exposição Internacional do Centenário da Independência em 1922. O edifício foi considerado uma das obras mais belas da exposição e contava com obras de arte para ornamentá-lo. Assim como a maioria das construções, o Pavilhão de Festas foi demolido após o fim da comemoração. A obra possuía salas para mostras. A entrada do palácio era decorada com motivos relacionados à natureza brasileira.

 

 

Uma das apresentações montadas no local foi preparada pelo recém-criado Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP). Esse órgão administrativo da saúde pública era uma antiga reivindicação dos intelectuais sanitaristas, que acreditavam que somente uma organização nacional resolveria os graves problemas de saúde no Brasil. A instalação dessa apresentação de fotos e maquetes realizada pelo DNSP obteve ampla repercussão, sendo saudada pela imprensa como um momento vital para a salvação do país. O médico Renato Kehl, funcionário do DNSP, trabalhou na produção.

Em seu arquivo pessoal, Renato Kehl guardou dezenas de imagens fotográficas desta mostra. Podemos averiguar que o objetivo da exposição do DNSP era colaborar para a educação higiênica das populações rurais e urbanas. Os objetos e fotografias, reunidas no trabalho, realçam o valor dos ensinamentos da higiene. As imagens são um fragmento da campanha educativa e sanitária que deveria ser instalada no Brasil. São imagens das habitações típicas das áreas rurais, infestadas de insetos transmissores de doenças. Também eram apresentados os modelos corretos de casas rurais que os camponeses deveriam construir.(1)

 

 

 

(1) Sobre a exposição do DNSP, ver https://brasilianafotografica.bn.gov.br/?p=18805

 

*Ricardo Augusto dos Santos é Pesquisador Titular da Fundação Oswaldo Cruz

Fontes:

ALVES, Fernando Antônio Pires; SANTOS, Ricardo Augusto dos; HAMILTON, Wanda Suzana. Acervo da Casa de Oswaldo Cruz. História, Ciências, Saúde- Manguinhos.  Outubro 1994, Volume 1, nº 1, Págs.. 145-152.