A Gruta da Imprensa

A Brasiliana Fotográfica destaca uma imagem da Gruta da Imprensa, localizada na Niemeyer, uma das mais bonitas avenidas do Rio de Janeiro. O registro foi produzido por Augusto Malta ( 1864 – 1957), fotógrafo oficial da prefeitura do Rio de Janeiro, de 1903 a 1937, e pertence ao Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, uma das instituições parceiras do portal. A Gruta da Imprensa foi inaugurada pelo prefeito Carlos Sampaio (1861 – 1930), dias antes do início da viagem dos reis da Bélgica ao Brasil, em 1920, e sua denominação foi uma homenagem do prefeito à imprensa carioca (Correio da Manhã, 19 de setembro de 1920, na segunda coluna e O Globo, 10 de março de 1926, sob o título “Loucura que passou”).

“Em meio dessa avenida, a comitiva fez alto para inaugurar a “Gruta da Imprensa”, delicada homenagem do Sr. Prefeito. Trata-se de uma gigantesca laje, que da margem da avenida se aprofunda no oceano, deixando , por um capricho da natureza, larga abertura, formando gruta, de fácil acesso, onde o mar irrompe violento sem, contudo, oferecer perigo. Uma longa escadaria com balaustrada foi construída levando a gruta à entrada da qual o Sr. Carlos Sampaio fez colocar em cimento o dístico: – Gruta da Imprensa” (Jornal do Brasil, 18 de setembro de 1920, na quinta coluna).

Tornou-se, na época, um concorrido ponto turístico. Em 1926, foi cogitada a construção de um bar no local, mas os técnicos responsáveis pelas vistorias alegaram falta de segurança na região e alertaram para o iminente desaparecimento da Gruta, devido à “fácil deterioração pela ação da água” (O Globo, 10 de março de 1926, sob o título “Loucura que passou”). Contrariando as previsões de destruição, a Gruta da Imprensa continua lá, mas já não é uma área de lazer utilizada pelos cariocas. Sua presença foi de novo notada na ocasião do desabamento da Ciclovia Tim Maia, justamente na altura da Gruta da Imprensa, em 21 de abril de 2016, cerca de três meses após sua inauguração.

Durante as corridas de automóveis do Circuito da Gávea ou Trampolim do Diabo, concorrido acontecimento social e esportivo que acontecia no entorno do Morro Dois Irmãos e da Avenida Niemeyer, entre os anos 1933 e 1954, e chegava a reunir até 300 mil espectadores, alguns jornalistas esportivos acompanhavam as provas apoiados na mureta da gruta. Em 1935, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) foi presenteada pelo pintor Álvaro de Almeida com um quadro retratando a Gruta da Imprensa. Na ocasião, o gesto foi saudado pelo conselheiro da ABI, jornalista Carlos Maul: “É um quadro que tem para nós dupla valia: a de ser uma obra de beleza e a de fixar um dos mais formosos aspectos da paisagem carioca em que um governo da cidade perpetuou o nome da nossa classe. Esse quadro avivará em nosso espírito a memória do símbolo que ele exprime: a resistência heroica a todas as tempestades” (O Globo, 27 de abril de 2016).

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica