A Fundação Rockfeller no Brasil
Ricardo Augusto dos Santos*
Em 2022, a Casa de Oswaldo Cruz (COC) recebeu o certificado da incorporação do Fundo Fundação Rockefeller ao Programa Memória do Mundo da Unesco. O organismo internacional reconheceu o acervo como patrimônio documental inestimável. Sob a guarda do Departamento de Arquivo e Documentação da COC, este conjunto retrata as ações do Serviço Nacional de Febre Amarela e do Serviço Nacional de Malária e contém 4.209 fotografias e 633 negativos. Algumas são imagens raras de cidades e pequenas comunidades.
O arquivo abrange as ações realizadas pela Fundação Rockefeller no Brasil. Com milhares de fotos dos estados brasileiros Rio de Janeiro, Bahia e Ceará, mostra os serviços executados pela instituição em conjunto com o governo brasileiro na eliminação do mosquito Aedes aegypti, vetor da febre amarela, e do mosquito Anopheles gambiae, vetor da malária.
O arquivo das Séries do Fundo Fundação Rockefeller está dividido em séries documentais: a Série Serviço de Febre Amarela, a Série Serviço de Malária do Nordeste, a Série Exposições do Serviço de Febre Amarela e do Serviço de Malária do Nordeste; além da Série Fotografias Aéreas.
Neste artigo, apresentamos imagens da Série Serviço de Febre Amarela. Com fotos sobre a campanha de erradicação do mosquito Aedes aegypti nos estados brasileiros, além de imagens das pesquisas sobre a forma silvestre da febre amarela e o processo de produção da vacina contra a doença. Uma outra série, Serviço de Malária do Nordeste, contém os registros da eliminação do mosquito Anopheles gambiae, vetor da malária, durante a epidemia da doença ocorrida no Nordeste do país, em 1939. As fotografias também documentam o processo de produção da vacina contra a febre amarela, produzida em Manguinhos.
Inúmeras expedições percorreram o Brasil em busca de informações que pudessem explicar a diversidade natural e social do imenso país. Cientistas e aventureiros viajaram por várias regiões realizando pesquisas e colhendo amostras. Durante o século XIX e nas décadas iniciais do século passado, várias missões científicas ocorreram no país. Entusiasmados pelas conquistas técnicas, especialistas em ciências naturais excursionaram pela imensidão do território brasileiro. Muitas viagens foram documentadas através de pinturas, desenhos e fotografias.
No início do século XX, a Fundação Rockefeller iniciou uma série de projetos médicos e científicos no Brasil. Nesta época, várias iniciativas semelhantes estavam sendo criadas nas áreas da saúde pública internacional. Na origem, esse projeto assistencial da Fundação Rockefeller se restringia ao sul dos Estados Unidos. No entanto, suas atividades foram ampliadas para países que possuíam graves problemas sanitários, necessitando derrotar doenças como a ancilostomíase, a febre amarela e a malária.
Através de convênios com o governo brasileiro, o grupo industrial e financeiro norte-americano, liderado pelo bilionário John Davison Rockefeller (1839-1937), entrou em contato com cientistas e médicos nacionais. Assim, a Rockefeller chegou ao país. Após a criação de um acordo de cooperação com o estado brasileiro, começou um planejamento para controle das doenças endêmicas. Essas moléstias eram devastadoras, sobretudo nas regiões mais afastadas das capitais. As tarefas se concentravam na erradicação da febre amarela e da malária.
A partir de 1930, ocorreu um progresso da conduta da empresa norte-americana. Atuando ao lado de organismos estatais, especialmente criados para dominar a febre amarela e a malária, doenças que causavam muitas mortes, a Rockfeller auxiliou na elaboração do Serviço Nacional de Febre Amarela e do Serviço de Malária do Nordeste. Desta maneira, ampliando o alcance dos trabalhos, também proporcionava uma troca de conhecimentos e experiências entre o governo brasileiro e a instituição estrangeira.
Nesta campanha de Saneamento do Brasil, as equipes de trabalhos procuravam combater o mosquito vetor da febre amarela, mas também desenvolviam pesquisas em laboratórios, aprofundando análises sobre a doença, além da produção da vacina antiamarílica. A partir de 1940, a Fundação Rockefeller foi transferindo a direção do projeto para o Serviço Nacional de Febre Amarela. Na década de 1950, o laboratório de pesquisas e de produção da vacina passou para o comando do Instituto Oswaldo Cruz.
Apresentamos, neste artigo, algumas fotografias do Fundo Fundação Rockefeller. O arquivo fotográfico é resultado das atividades da Fundação Rockefeller no Brasil. Há uma concentração de imagens a partir de 1930, quando ocorre a institucionalização de suas atividades em nível federal.
*Ricardo Augusto dos Santos é Pesquisador Titular da Fundação Oswaldo Cruz