O cientista Oswaldo Cruz (1872 – 1917), prefeito de Petrópolis

 

 

Cristiane d’Avila com a colaboração de Ana Luce Girão*

 

 

Em 2017, por ocasião do centenário de morte de Oswaldo Cruz (1872 – 1917), a Fiocruz instituiu o Ano Oswaldo Cruz, com o objetivo de divulgar para a sociedade a história do cientista e daquele que pode ser considerado seu maior legado: firmar uma instituição científica em um país recém-saído da escravidão, economicamente dependente e com profundas desigualdades sociais e regionais[1]. Para lembrar a data, contamos alguns detalhes sobre os últimos dias de vida de Oswaldo Cruz, que, mesmo gravemente doente, aceitou o desafio de realizar um projeto ambicioso: um extenso plano de urbanização e organização do serviço sanitário na cidade de Petrópolis, considerada refúgio de boa parte da elite do Rio de Janeiro, capital da República, no início do século XX.

Não era qualquer cidade. Quando o presidente do Estado do Rio de Janeiro, Nilo Peçanha (1867 – 1924), convidou Oswaldo Cruz para assumir a recém-criada prefeitura de Petrópolis, em 1916, dava a ele um cargo à altura do cientista. Residência de todo o corpo diplomático durante o ano e da elite política, financeira e intelectual da capital na estação calmosa, o verão – quando o presidente da República se deslocava do Rio para o pomposo Palácio Rio Negro –, Petrópolis vivia um momento político conturbado.

Na imprensa carioca e petropolitana os articulistas não se cansavam de denunciar a “politicagem”, atrelada ao maquinismo político-eleitoral, que impedia o progresso da “princesa do Piabanha”, entre as inúmeras alcunhas atribuídas à bela cidade serrana. Acusado de nada fazer pela população além de cobrar-lhe impostos, o grupo majoritário, organizado na Câmara Municipal, não via com bons olhos a decisão unilateral do governo fluminense, que impusera a criação da prefeitura e oferecera o cargo ao ilustre higienista.

Em contrapartida, Oswaldo Cruz, consagrado nacional e internacionalmente pela campanha empreendida contra a febre amarela, varíola e peste bubônica, iria somar à urbe, célebre pela beleza e salubridade, mais que o reconhecimento como destino privilegiado para o lazer da elite carioca. Escolhera-a como alvo de um novo e ambicioso projeto de trabalho, que incluía ações de saneamento, urbanização e educação pública.

Bastante debilitado pela nefrite que o acometera ainda jovem, o cientista decidiu acatar a recomendação do médico Salles Guerra e, mesmo contrariado, se afasta da dura rotina no Instituto Soroterápico Federal, nessa época já denominado Instituto Oswaldo Cruz. Nilo Peçanha o havia indicado para assumir a prefeitura de Petrópolis e o filho Bento (1895 – 1941) reforçava o coro, insistindo para que o pai se mudasse para a residência de veraneio da família na cidade, na rua Montecaseros, em busca do tão necessário repouso. Para não arrefecer os ânimos do cientista, ofereciam a ele não apenas o cargo político, mas uma nova frente de trabalho, um novo desafio, tão ao gosto de seu temperamento.

Imbuído da missão, Oswaldo, com o filho Bento e Salles Guerra, toma um barco a vapor no cais Pharoux, atual Praça XV, e em pouco mais de uma hora chega ao porto localizado no fundo da Baía de Guanabara. De lá embarca nos vagões da Estrada de Ferro Mauá, que conduziam os passageiros até a Raiz da Serra. Daquele ponto em diante, o trem subia a serra pelo moderno sistema de cremalheira até o lugar denominado Alto da Serra, onde atualmente fica a Rua Teresa.

O percurso completo, que no passado recente levava quatro horas, naquele ano já era percorrido em cerca de duas. Sem perder tempo, no dia 17 de agosto Cruz toma posse e, no dia 18, apresenta seu plano de ação para a prefeitura. Em carta ao colega Cândido Martins, chefe interino do executivo municipal que o convidara para o cargo, pede discrição e nenhuma pompa na ocasião da posse:

‘Meu ilustrado colega Dr. Candido Martins,

Aqui me acho à sua disposição pronto assumir o cargo de Prefeito. Se me fosse permitido esperar de sua gentileza um obsequio eu rogaria a meu simpático e generoso colega o favor especialíssimo de me dar posse da mais absoluta intimidade e sem a menor solenidade. Se for possível, hoje e nesse caso rogo o obsequio de comunicar ao portador deste – meu filho e nosso colega Bento Cruz – a hora em que deverei comparecer a Prefeitura para receber suas ordens. Estou certo que não me negará o solicitado aqui e aguardando ancioso (sic) sua resposta afirmativa peço aceitar os protestos da mais viva simpatia e distinta consideração do colega muito grato.

Ass. Gonçalves Cruz’

O articulista do jornal petropolitano Diário da Manhã, em edição de 6 de agosto de 1916, assim definiu a indicação de Cruz ao posto: “… para restituir a ordem e a moralidade administrativa, que de Petrópolis foram desgraçadamente expulsas… e arrancar a gestão dos negócios da municipalidade à faminta voracidade e à ingenuidade inepta de seus gestores”. Nomeado, Oswaldo Cruz apresenta seu amplo projeto, contendo 26 objetivos, com propostas de intervenção em inúmeras frentes, do embelezamento da cidade ao saneamento financeiro das contas públicas, da urbanização à gestão da saúde e da educação infantil.

As medidas propostas, no entanto, causaram imenso reboliço em parte da Câmara Municipal, que passou a organizar manifestações em frente à casa do prefeito, cujo estado de saúde se agravava progressivamente. Em janeiro, Oswaldo Cruz afasta-se por tempo indeterminado do trabalho, mas sua licença médica não atenua as manifestações. “Latas de querosene e gritos da ralé, que num ofertório de gentilezas de hienas excitadas vinha trazer ao ex-prefeito o testemunho do seu regozijo pela provável restituição do governo municipal à camarilha que o explorava”, relata o médico e contemporâneo de Cruz, Ezequiel Dias.

Após intenso processo de sofrimento causado pela moléstia, Oswaldo Cruz entra em coma, vindo a falecer no mesmo dia, em 11 de fevereiro de 1917, aos 44 anos, em sua casa de Petrópolis. Suas “Ideias e Projetos”, como definiu o plano para a gestão da cidade, não chegaram a sair do papel, ao menos exatamente como programou. São eles:

Ideias e Projetos

Petrópolis – 18 de agosto de 1916

- Encampação do Banco Construtor

- Encampação da Fazenda Imperial e resgate dos foros pelos proprietários

- Imposto (2$000 por metro) sobre terrenos devolutos

- Desenhista de jardins

- Preparo de gás pobre com lixo e produção de energia elétrica para os britadores e oficinas

- Aquisição e manutenção de condução para o Prefeito e Inspetor de Obras

- Rede de esgotos

- Substituição na prefeitura das carroças de tração animal por automóveis

 – Regulamentação e fiscalização da venda do leite

- Organização do serviço sanitário

- Barragem dos rios e revestimento do alvéo com seção ovoide – formação de quedas d´água em degraus

- Formação dum lago à feição do Bois em Serpentina

- Construção de um edifício de Diversões

- Bondes – linha circular Castelânea Alto da Serra

- Rosário

- Plantio de flores nas margens dos rios

- Organização do ensino primário

- Fiscalização do ensino de Português nas escolas estrangeiras

- Museu histórico do Império e Jardim Botânico no Palácio Imperial

- Parque para ginástica das escolas e educação física obrigatória para todos colégios

- Calçamento de macadame asfaltado e interlinha dos bondes a paralelepípedos

- Estatística da população e índice de analfabetismo

- Revisão do imposto predial

- Repressão da mendicância e criação de asilos para mendigos

- Matadouro e laboratório

 

Reprodução da carta enviada por Oswaldo Cruz ao sr. Cândido Martins, em 17 de agosto de 1916:

fiocruz

 

Saiba mais sobre Oswaldo Cruz acessando a Biblioteca Virtual Oswaldo Cruz.

 

* Cristiane  d’Avila é jornalista e Ana Luce Girão é historiadora do Departamento de Arquivo e Documentação da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz)

 

Fontes:

 

Casa de Oswaldo Cruz. Carta de Oswaldo Cruz para Cândido Martins. Dossiê BR RJCOC OC-PET-01, Fundo Oswaldo Cruz, 1916.

___________________. Diário da Manhã, Petrópolis, 6 de agosto de 1916. Dossiê BR RJCOC OC-PET-01, Fundo Oswaldo Cruz, 1916.

___________________. Ideias e projetos. Dossiê BR RJCOC OC-PET-01, Fundo Oswaldo Cruz, 1916.

D’AVILA. Cristiane. Fantasia na serra: representações de Petrópolis na mídia impressa. 2005. 120 f. Dissertação (Mestrado em Comunicação Social) – Departamento de Comunicação, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, PUC-RIO. Rio de Janeiro.

GUERRA, E. Salles. Oswaldo Cruz. Rio de Janeiro: Casa Editora Vecchi Limitada, 1940.

 

[1] Texto extraído do cartaz digital de divulgação da palestra “Ciência, saúde e projeto nacional: o legado de Oswaldo Cruz”, promovida e realizada em 9 de novembro de 2017 pela Fundação Casa de Rui Barbosa, pelo centenário de morte de Oswaldo Cruz.

 

Pequena cronologia de Oswaldo Cruz desde sua nomeação à prefeitura de Petrópolis até sua morte

 Andrea C. T. Wanderley**

1916

julho 

Oswaldo Cruz foi nomeado prefeito de Petrópolis por Nilo Peçanha. Foi pelo jornal O Paiz  como um homem de ciência em que a cultura brasileira se orgulha, saneador benemérito do Rio de Janeiro, criador de Manguinhos, membro da Academia Brasileira e uma das mais altas, complexas e belas figuras nacionais (O Paiz, 31 de julho de 1916, quinta coluna). No mesmo dia e no mesmo jornal, sua nomeação à prefeitura de Petrópolis foi o tema da coluna “Pall-Mall-Rio”, escrita por José Antônio José, o João do Rio (1881 – 1921) (O Paiz, 31 de julho de 1916, última coluna).

agosto

A nomeação de Oswaldo Cruz para a prefeitura de Petrópolis é elogiada e saudada em coluna semanal da revista O Malho como um ato que o povo recebe com um sorriso de satisfação, só por ver a cara com que ficam os inventores de negociatas e os politiqueiros contumazes (O Malho, 5 de agosto de 1916, segunda coluna).

Oswaldo Cruz esteve no gabinete do ministro da Justiça, Carlos Maximiliano Pereira dos Santos (1873 – 1960) (O Paiz, 2 de agosto, quinta coluna).

Oswaldo Cruz e o governador do Rio de Janeiro, Nilo Peçanha, estiveram em Petrópolis (O Paiz, 2 de agosto de 1916, última coluna).

Oswaldo Cruz telegrafou ao senador José Leopoldo de Bulhões Jardim (1856 – 1928) informando que não poderia tomar posse na prefeitura de Petrópolis em 8 de agosto por estar enfermo (O Paiz, 7 de agosto de 1916, última coluna). Foi o senador Bulhões que sucedeu Oswaldo Cruz na prefeitura de Petrópolis, em fevereiro do ano seguinte.

Devido ao impedimento de Oswaldo Cruz, o sr. Cândido José Ferreira Martins, na época vice-presidente da Câmara Municipal de Petrópolis, assumiu a prefeitura da cidade (O Paiz, 10 de agosto de 1916, terceira coluna).

Em nome de Venceslau Brás (1868 – 1966), presidente da República, Helio Lobo, secretário da presidência, fez uma visita a Oswaldo Cruz, que continuava doente (O Paiz, 11 de agosto de 1916, segunda coluna). No dia seguinte, Oswaldo Cruz recebeu a visita de Arthur Obino em nome do ministro da Justiça (O Paiz, 12 de agosto de 1916, segunda coluna). Quatro dias depois, Cruz visitou o ministro da Justiça em agradecimento à visita de Obino (O Paiz, 17 de agosto de 1916, primeira coluna).

Oswaldo Cruz foi eleito vice-presidente da recém criada Academia Brasileira de Ciências, presidida por Henrique Morize (1860 – 1930) (O Paiz, 17 de agosto de 1916, última coluna). O francês naturalizado brasileiro Henri Charles Morize ou Henrique Morize era engenheiro e astrônomo. Além de ter sido o primeiro presidente da Academia Brasileira de Ciências, de 1916 a 1926, foi também diretor do Observatório Nacional entre 1908 e 1929. Em torno de 1897, realizou experiências cinematográficas com o fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923) e com Tasso Fragoso (1869 – 1945), na época aluno da Escola Militar e posteriormente general.

Foi publicada a notícia de que Oswaldo Cruz já estava completamente restabelecido da enfermidade que o acometera (O Paiz, 18 de agosto de 1916, quarta coluna).

Finalmente, em 18 de agosto, Oswaldo Cruz assumiu a prefeitura de Petrópolis. Cândido José Ferreira Martins expôs a ele a situação financeira do município e os trabalhos que havia executado. Foi então feito um balanço no cofre da tesouraria e um termo foi assinado por Oswaldo Cruz, Cândido Martins, Arthur Barbosa e por mais três funcionários. A posse de Oswaldo Cruz não se revestiu de solenidade como era desejo da maioria dos vereadores por ter o mesmo solicitado a mais absoluta intimidade em carta dirigida ao prefeito interino, Cândido Martins. Acompanhado por ele e por Arthur Barbosa, Cruz visitou todas as seções da administração municipal e depois telegrafou a Nilo Peçanha, informando ter assumido a prefeitura de Petrópolis. Foi apresentado a todo o funcionalismo da cidade pelo coronel José Land. Também recebeu vários telegramas, cartas e visitas pessoais (O Paiz, 20 de agosto de 1916, segunda coluna e Gazeta de Notícias, 20 de agosto de 1916, última coluna).

Oswaldo Cruz convocou o conselho de vereadores de Petrópolis para uma reunião extraordinária em 1º de setembro. Entre as medidas da convocação, encontram-se a criação do imposto de testada, autorização para contrair um empréstimo e para fazer operações de crédito(O Paiz, 26 de agosto de 1916, última coluna).

setembro

Oswaldo Cruz foi visitado pelos vereadores Cândido Martins e Arthur Barbosa ficando combinada a instalação do Conselho na próxima semana (O Paiz, 3 de setembro de 1916, segunda coluna).

Foi convocado para comparecer à primeira reunião do diretório central da Liga da Defesa Nacional. Ele era um dos 50 membros do diretório (O Paiz, 7 de setembro de 1916, quarta coluna). A Liga da Defesa Nacional foi fundada em 7 de setembro de 1916 por um grupo de intelectuais, dentre eles Rui Barbosa (1849 – 1923), Pedro Lessa (1859 – 1921) e Olavo Bilac I(1865 – 1918), que sintetizava a ação da associação como um apostolado de civismo e patriotismo.

Foi instalada a Câmara Municipal de Petrópolis convocada por Oswaldo Cruz. O sr. Roldão Barbosa, como secretário da sessão, leu a mensagem do prefeito, datada de 4 de setembro de 1916, abordando a contração de empréstimos, a criação de impostos e a execução de operações de crédito. O vereador Joaquim Moreira ocupou a tribuna e declarou que o Partido Municipal, que presidia, aceitou o ato do governo em criar a prefeitura de Petrópolis porque foi nomeado um homem superior para ocupá-la, Oswaldo Cruz. O vereador Sá Earp declarou-se contrário à criação da prefeitura de Petrópolis, cuja justificativa teria sido a restauração da estrada União e Indústria (O Paiz, 12 de setembro de 1916, primeira coluna).

Na coluna “Sorrisos e frivolidades”, da Revista da Semana, um veranista de Petrópolis mostrou-se entusiasmado com as propostas de mudanças feitas por Oswaldo Cruz para a cidade (Revista da Semana, 30 de setembro de 2016, primeira coluna).

outubro

Oswaldo Cruz foi receber os médicos Carlos Chagas (1879 – 1934) e Figueiredo Rodrigues, delegados do Brasil no Congresso Médico e na Conferência de Microbiologia e Parasitologia realizadas em Buenos Aires, que chegaram ao Rio de Janeiro a bordo do paquete “Voltaire” (O Paiz, 11 de outubro de 1916, segunda coluna).

Ocupando um lugar de honra, Oswaldo Cruz participou do banquete oferecido pela classe médica a Carlos Chagas  (1879 – 1934), no Salão Assyrius do Teatro Municipal do Rio de Janeiro (O Paiz, 22 de outubro de 1916, primeira coluna).

novembro

Foi noticiado que Oswaldo Cruz iria à festa em benefício da Associação da Mulher Brasileira, realizada no Teatro Municipal (O Paiz, 2 de novembro de 1916, segunda coluna).

Na Câmara Municipal de Petrópolis, Oswaldo Cruz leu uma mensagem sobre a proposta de orçamento para o ano de 1917 acompanhada de ligeira exposição sobre o estado de diversos serviços (Jornal do Commercio, 17 de novembro de 1916, sexta coluna).

Presidiu o banquete oferecido ao cientista Arthur Neiva (1880 – 1943), no Salão Assyrius do Teatro Municipal do Rio de Janeiro (Gazeta de Notícias, 19 de novembro de 1916, sexta coluna). A revista Fon-Fon, de 2 de dezembro de 1916, publicou uma fotografia do evento.

Por falta de quórum não houve sessão na Câmara Municipal de Petrópolis, mas as comissões de Fazenda e Justiça se reuniram e discutiram os assuntos abordados na mensagem do prefeito Oswaldo Cruz. Participaram dos debates Sá Earp, Arthur Barbosa, Modesto Guimarães e Domingos Nogueira. Pediram mais informações ao prefeito. Dentre algumas decisões, resolveram negar a criação do imposto de testada (O Paiz, 19 de novembro de 1916, segunda coluna).

 

 

Por proposta do professor Miguel Couto (1865 – 1934), presidente da Academia Nacional de Medicina, foi criada uma comissão para estudar medidas profiláticas no combate de algumas doenças e Oswaldo Cruz foi um dos nomeados para integrar o grupo, Os outros integrantes seriam Afrânio Peixoto (1876 – 1947), Carlos Chagas (1879 – 1934), Carlos Seidl (1867 – 1929) e Miguel Pereira (1871 – 1918) (Jornal do Commercio, 1º de dezembro de 1916, quinta coluna).

dezembro

Oswaldo Cruz sancionou e promulgou a Deliberação nº 6 sobre averbação de prédios e transferências de comerciais e industriais em Petrópolis (Jornal do Commercio, 12 de dezembro de 1916, penúltima coluna).

 

 

De acordo com o prefeito Oswaldo Cruz, seria levantado um monumento em homenagem ao fundador da cidade de Petrópolis, Julio Frederico Koeler (1804 – 1847), na Praça da Liberdade. Informou, também, que brevemente seria lançada a pedra fundamental do monumento (Gazeta de Notícias, 19 de dezembro de 1916, última coluna).

 

1917 

janeiro

Oswaldo Cruz agradeceu ao governo do estado do Rio de Janeiro o material e o serviço do Corpo de Bombeiro com que a administração fluminense acaba de dotar Petrópolis (A Época, 6 de janeiro de 1917, terceira coluna).

Foi noticiado um boato sobre o estado de saúde e a iminente saída de Oswaldo Cruz da prefeitura de Petrópolis (A Época, 25 de janeiro de 1917, terceira coluna).

Oswaldo Cruz está doente. Tasso Fragoso (1869 – 1945), chefe da Casa Militar da Presidência foi visitá-lo a mando do presidente da República, Venceslau Brás (O Paiz, 27 de janeiro de 1917, quinta coluna). E João Pedroso de Albuquerque, secretário do Dr. Cruz foi visitar o presidente, no Palácio do Rio Negro, em Petrópolis (A Época, 27 de janeiro de 1917, terceira coluna).

Em 31 de janeiro, devido a seu estado de saúde, Oswaldo Cruz solicitou uma licença da prefeitura de Petrópolis  ao governo do Rio de Janeiro. Foi deferida. Segundo consta, o Dr, Oswaldo Cruz fará uma viagem, a fim de iniciar um rigoroso tratamento de sua saúde profundamente abalada (O Paiz, 1º de fevereiro de 1917, quarta coluna).

fevereiro

O senador Leopoldo de Bulhões (1856 – 1928) assumiu a prefeitura de Petrópolis (O Paiz, 2 de fevereiro de 1917, quarta coluna).

Foi noticiada uma piora no estado de saúde de Oswaldo Cruz (O Paiz, 7 de fevereiro de 1917, sexta coluna). Outras notícias sobre a doença de Oswaldo Cruz foram publicadas (A Época, 7 de fevereiro de 1917, quinta coluna da primeira página e segunda coluna da página 4).

Aos 44 anos, Oswaldo Cruz faleceu de nefrite, em Petrópolis. O Brasil não pode aquilatar devidamente o infortúnio que é para a Nação, para a América e para a humanidade inteira a morte do grande sábio Oswaldo Cruz (O Paiz, 12 de fevereiro de 1917). Na edição de A Época, também do dia 12 de fevereiro, ele foi saudado como um facho de farol, que rasga a escuridão da noite. E fulgiu. Iluminou logo.

 

 

Segundo a Revista da Semana, tanto a guerra, que priva o corpo diplomático de associar-se às festas, como a morte recente do Dr. Oswaldo Cruz, prefeito de Petrópolis, contribuem para que decline a animação do carnaval (Revista da Semana, 17 de fevereiro de 1917).

 

 

O importante músico cearense Alberto Nepomuceno (1864 – 1920) compôs a Ode a Oswaldo Cruz (6:03), sobre poema de Osório Duque Estrada. A obra pode ser escutada no episódio Ode a Alberto Nepomuceno,  do programa “Prelúdios”, de Arthur Dapieve, transmitido pela Rádio Batuta, em 24 de março de 2019. Inácio de Nonno (voz), Coral Brasil Ensemble da UFRJ, regido por Maria José Chevitarese, e Claudia Feitosa (piano). É a quinta obra executada ao longo do programa, na marcação -24:56. Clique aqui.**

 

 

 

**Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

*** Informação acrescida ao artigo em 28 de abril de 2019.

O prefeito Pereira Passos (1836 – 1913) e o fotógrafo Augusto Malta (1864 -1957)

Foi na gestão do engenheiro Francisco Pereira Passos como prefeito do Rio de Janeiro que, pela primeira vez, a prefeitura contratou um fotógrafo, o alagoano Augusto Malta (1864 – 1957), para documentar as obras da cidade. Na imagem abaixo, do ateliê de Malta, há um retrato de Pereira Passos, um senhor de cabelo, barba e bigode brancos, na parede à esquerda do fotógrafo.

 

 

Em 30 de dezembro de 1902, por decreto, Francisco Pereira Passos (29 de agosto de 1836 – 2 de março de 1913) foi nomeado prefeito do então Distrito Federal, o Rio de Janeiro, pelo presidente Rodrigues Alves (1848 – 1919) e assumiu no mesmo dia (Gazeta de Notícias, 31 de dezembro de 1902, na sexta coluna), sucedendo Carlos Leite Ribeiro (1858 – 1945). Ocupou o cargo até 16 de novembro de 1906, quando foi sucedido por Francisco Marcelino de Sousa Aguiar (1855 – 1935) (O Paiz, 17 de novembro de 1906, na sexta coluna). Durante seu mandato, o prefeito Passos realizou uma significativa reforma urbana na cidade. Para saneá-la e modernizá-la realizou diversas demolições, conhecidas popularmente como a política do “bota-abaixo”, que contribuiu fortemente para o surgimento do Rio de Janeiro da Belle Époque. Essas transformações foram definidas por Alberto Figueiredo Pimentel (1869-1914), autor da seção “Binóculo”, da Gazeta de Notícias, com a máxima “O Rio civiliza-se”, que se tornou o slogan da reforma urbana carioca. Figueiredo Pimentel tornou sua coluna a mais lida e popular da imprensa carioca, um oráculo de boas maneiras. Foi dele a ideia de criar o corso de automóveis na Praia de Botafogo, um desfile carnavalesco de carros enfeitados realizado no inverno (Fon-Fon!, 14 de fevereiro de 1914; A Notícia, 19 e 20 de outubro de 1912, segunda coluna, e 6 e 7 de fevereiro de 1914, segunda coluna).

 

 

 

Sobre Pereira Passos:

“O ex-prefeito imortal, rompendo todos os embaraços da chamada tradição e surdo às ameaças da rotina, conseguiu no seu governo essa coisa estupenda: fez o carioca mudar-se de uma velha cidade tortuosa e colonial para uma opulenta e encantadora capital sem que esse arredasse o pé do Rio de Janeiro” (Correio da Manhã, de 3 de março de 1913).

 

 

Alguns meses após a nomeação de Pereira Passos como prefeito, o alagoano Augusto Malta (1864 – 1957), foi contratado pela Prefeitura do Rio de Janeiro, em junho de 1903, como fotógrafo oficial, cargo criado para ele e que ocupou até 1936. Pereira Passos precisava de um fotógrafo para registrar as obras e os imóveis a serem desapropriados para posteriores pagamentos de indenizações e Malta passou a documentar a radical mudança urbanística promovida por ele. Sobre sua contratação, Malta declarou na entrevista “Malta – o que fotografou Passos e Rio Branco”, feita por Raymundo de Athayde e publicada pela Revista da Semana, edição de Natal de 16 de dezembro de 1944:

“Confesso que sentia grande sensação quando via surgirem no papel as belas e surpreendentes imagens que o sal de prata revelava e o hipossulfito fixava a meus olhos, na câmara escura improvisada em minha casa. E vivia assim nesse ingênuo amadorismo, quando um fornecedor da Prefeitura, meu amigo (o empreiteiro Antônio Alves da Silva Júnior), levou-me para tirar fotografias das obras que então o grande Pereira Passos realizara em 1903. Na época, o Rio começava a mudar a indumentária e remoçar. Por acaso o insuperável Prefeito viu as fotografias que eu tirava por esporte e gostou. Propôs-me um emprego na Prefeitura e eu, sem relutâncias, aceitei”

Passos e Malta tornaram-se muito próximos, tendo o prefeito sido padrinho de uma das filhas do fotógrafo, Aristocléa (1903-1934).

Anos depois, os filhos de Malta, Aristógiton (1904 – 1954) e Uriel (1910 – 1994), também trabalharam como fotógrafos da prefeitura.

Acessando o link para as fotografias de autoria de Augusto Malta e de seus filhos Aristógiton e Uriel disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

Uma das marcas da reforma urbana realizada por Pereira Passos foi a abertura da avenida Central e da avenida Beira-Mar. Segundo a publicação virtual Coleção Estudos Cariocas, abrigada no portal de informações do Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos da Secretaria Municipal de Urbanismo da Prefeitura do Rio de Janeiro, as principais obras realizadas durante a gestão do prefeito Passos foram:

 

 

“1903: inauguração do Pavilhão da Praça 15 (21/6); prolongamento da Rua do Sacramento – atual Avenida Passos, até a Rua Marechal Floriano (27/06); inauguração do Jardim do Alto da Boa Vista (11/10); início do alargamento da antiga Rua da Prainha (atual Rua do Acre);

1904: término do alargamento da antiga Rua da Prainha – atual Rua do Acre (fevereiro); demolições do Morro do Castelo (8/03); construção do aquário do Passeio Público (18/9); melhoramento da Rua 13 de Maio.

1905: início da construção do Theatro Municipal (03/01); inauguração da nova estrada de rodagem da Tijuca (4/1); alargamento e prolongamento da Rua Marechal Floriano até o Largo de Santa Rita (2/2); decreto de alargamento da Rua do Catete (28/4); alargamento e prolongamento da Rua Uruguaiana (setembro); decreto de construção da Avenida Atlântica, em Copacabana (4/11); inauguração da Avenida Central (atual Av. Rio Branco), marco da administração Pereira Passos (15/11); inauguração da Escola-Modelo Tiradentes (24/11); decreto de abertura da Rua Gomes Freire de Andrade, entre a Rua Riachuelo e a do Núncio (29/12); decreto de abertura da Avenida Maracanã (30/12).

1906: alargamento da Rua da Carioca (janeiro e fevereiro); inauguração da fonte do Jardim da Glória (24/2); inauguração da nova Fortaleza na Ilha de Lage (28/6); inauguração do palácio da exposição permanente de São Luiz (futuro Palácio do Monroe), para os trabalhos da 3ª Conferência Pan-Americana (22/7); inauguração do alargamento da Rua 7 de Setembro no trecho entre a Av. Central e 1º de Março (6/9); conclusão das obras de melhoramento do porto do Rio de Janeiro e do Canal do Mangue (9/11); inauguração das obras de melhoramento e embelezamento do Campo de São Cristóvão – jardim e escola pública (11/11); inauguração da Avenida Beira-Mar (23/11); melhoramento do Largo da Carioca; inaugurações dos quartéis do Méier, da Saúde, São Cristóvão e Botafogo; aterramento das praias do Flamengo e Botafogo, com construção de jardins; construção do Pavilhão Mourisco, em Botafogo; construção do Restaurante Mourisco, próximo à estação das barcas, no Centro; melhorias no abastecimento de água para a capital.

Além destas, merecem registro: melhoramentos da zona suburbana do DF; saneamento da cidade; arborização de diversas áreas da cidade; renovação do calçamento da cidade; e inauguração de calçamento asfáltico; alargamento da Rua Camerino; abertura da Avenida Salvador de Sá; canalização do Rio Carioca (da Praça José de Alencar ao Cosme Velho); construção da Avenida Atlântica; inauguração da Escola-Modelo Rodrigues Alves, no Catete; liberação de verbas para a construção da Biblioteca Nacional; início da construção do novo edifício da Escola Nacional de Belas Artes; início das obras do edifício do Congresso Nacional; criação do novo Mercado Municipal.

Além disso, promoveu a renovação do porto e instituiu a vacinação obrigatória, posta em prática pelo sanitarista Oswaldo Cruz (1872 – 1917), fato que desencadeou a Revolta da Vacina, em novembro de 1904, reação popular à campanha (Gazeta de Notícias, 14, 1516, 17, 18 de novembro de 1904).

Acessando o link para as fotografias de Pereira Passos e de seu cortejo fúnebre disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

Em 19 de fevereiro de 1913, Pereira Passos partiu para a Europa, no navio inglês Araguaia (O Paiz, 20 de fevereiro de 1913, na terceira coluna) e faleceu a bordo, em 2 de março de 1913 (O Paiz e Correio da Manhã, 3 de março de 1913). Pereira Passos teve uma “syncope cardíaca” fulminante em seu camarote e foi assistido pelo médico Victor Godinho, que nada pode fazer. Seu esquife chegou em Lisboa, em 5 de março, foi para o Posto de Desinfecção e seguiu para o cemitério dos Prazeres (Correio da Manhã, 6 de março de 1913, na penúltima coluna).

 

Em 30 de maio de 1913, chegaram ao Rio de Janeiro, a bordo do Cap Finistere, os despojos de Pereira Passos, que foram transportados para terra no vapor D. João VI. A banda do Corpo de Bombeiros executou a marcha fúnebre de Chopin e foi grande a manifestação popular em torno da chegada da urna funerária do ex-prefeito, que, do arsenal de Marinha, foi levada para a Prefeitura (O Paiz, 31 de maio de 1913). No dia seguinte, um grande cortejo fúnebre com a participação de autoridades e da população carioca  aconteceu entre a Prefeitura e o cemitério São Francisco Xavier, onde Pereira Passos foi enterrado (O Paiz, 1º de junho de 1913).

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

BENCHIMOL, Jaime Larry. Pereira Passos: um Haussmann tropical. Rio de Janeiro, SMCTT, 1990.

DEL BRENNA, Giovanna Rosso (org.). O Rio de Janeiro de Pereira Passos: Uma cidade em questão II. Rio de Janeiro:Index, 1985

DE LOS RIOS FILHO, Adolfo Morales. Dois Notáveis Engenheiros: Pereira Passos e Vieira Souto. Rio de Janeiro: Editora A Noite, 1991.

LENZI, Maria Isabel Ribeiro. Pereira Passos: Notas de Viagens. Rio de Janeiro:Editora Sextante, 2000.

OLIVEIRA REIS, José de. O Rio de Janeiro e seus prefeitos, evolução urbanística da cidade. vol.3, Rio de Janeiro, Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, 1977.

PINHEIRO, Manoel Carlos;FIALHO JR, Renato. Pereira Passos: vida e obra in coleção Estudos Cariocas. Rio de Janeiro:IPP/Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, 1996.

Portal Augusto Malta do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro

Site do Instituto Pereira Passos

Além das fontes supracitadas, a Brasiliana Fotográfica fez uma ampla pesquisa na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.