O Cemitério de Pistoia e a memória dos combatentes da FEB

A Brasiliana Fotográfica publica o artigo O Cemitério de Pistoia e a memória dos combatentes da FEB com imagens da Coleção Lafayette Brasiliano, do Arquivo Histórico e Institucional do Museu da República, uma das instituições parceiras do portal. Essa coleção é formada por 41 fotografias produzidas, em sua maioria, pelo fotógrafo Horácio Coelho. Além de imagens do cemitério e de cerimônias de sepultamento, há imagens de militares da FEB, entre eles seu comandante, marechal Mascarenhas de Morais, e os proprietários do terreno cedido para a construção do cemitério, Dr. Landini e sua esposa. A autora do artigo é a historiadora Maria de Fátima Morado, que inicia seu texto com uma bela e comovente poesia de Cecilia Meirelles.

 

 

O Cemitério de Pistoia e a memória dos combatentes da FEB

Maria de Fátima Morado*

 

Eles vieram felizes, como para grande jogos atléticos:

com um largo sorriso no rosto, com forte esperança no peito,

- porque eram jovens e eram belos.

 

Marte, porém, soprava fogo por estes campos e estes ares.

E agora estão na calma terra,sob estas cruzes e estas flores,

cercados por montanhas suaves.

 

São como um grupo de meninos num dormitório sossegado,

com lençóis de nuvens imensas, e um longo sono sem suspiros,

de profundíssimo cansaço

 

Cecília Meireles(1901 – 1964)

 

 

O Cemitério Militar Brasileiro foi instalado na cidade italiana de Pistoia, em 02 de dezembro de 1944, durante a Segunda Guerra Mundial. Nele foram sepultados os corpos dos integrantes da Força Expedicionária Brasileira (FEB), onde permaneceram até 05 de outubro de 1960, quando seus restos mortais foram transladados para o Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, localizado no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro. Em junho de 1965, em substituição ao cemitério, foi erguido no local o Monumento Votivo Militar Brasileiro (MVMB) como homenagem aos expedicionários brasileiros que morreram durante a guerra.

 

 

A construção do cemitério foi pensada para agilizar os procedimentos necessários para o transporte, identificação, liberação e ritos fúnebres dos corpos dos soldados brasileiros. Até então, os sepultamentos eram realizados no cemitério de Traquinia e no cemitério militar dos Estados Unidos, em Vada. O deslocamento dos corpos dos postos de coleta para esses cemitérios mudavam de acordo com os novos locais de frentes de batalha. Dessa forma, as distâncias poderiam variar entre 200 km a 360 km o que acarretava o aumento do tempo para a mobilização de soldados dedicados à essa missão. Além disso, a burocracia realizada pela administração do cemitério americano causava atrasos para a liberação da documentação e notificação aos familiares.

 

 

Acessando o link para as fotografias do Cemitério de Pistóia do acervo do Museu da República disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

Todo o trâmite para o resgate dos corpos, identificação, sepultamento e homenagem era realizado pelo Pelotão de Sepultamento da FEB, criado em 04 de julho de 1944, pouco após a ida do 1º Escalão da Força Expedicionária Brasileira para a Europa, em 2 de julho de 1944. Em agosto, o Pelotão partiu do Rio de Janeiro, capital federal nessa época, sob o comando do primeiro-tenente Lafayette Brasiliano, que mais tarde foi responsável pela organização do Cemitério de Pistoia.

 

 

Lafayette Vargas Moreira Brasiliano nasceu em 25 de junho de 1913, filho do general do Exército João Moreira de Oliveira Braziliano e de Alcinda Vargas Moreira Braziliano. Lafayette Brasiliano concluiu o Colégio Militar em 1931 e integrou a Força Expedicionária Brasileira durante a Segunda Guerra Mundial. Após o final da Guerra, já no posto de capitão, foi nomeado instrutor de ensino militar, em 1946, participando da organização do curso de Intendência. Foi ajudante-de-ordens do presidente Getulio Vargas entre 1951 e 1954, passando para a reserva em 1957. Faleceu em 8 de novembro de 1976, na cidade do Rio de Janeiro.

A Coleção Lafayette Brasiliano, do Arquivo Histórico e Institucional do Museu da República, foi doada em 1999. Essa coleção é formada por 41 fotografias produzidas, em sua maioria, pelo fotógrafo Horácio Coelho. As imagens apresentam a estrutura do cemitério, detalhes das sepulturas e registram cerimônias de sepultamento. Nas fotos da coleção também estão presentes os militares da FEB, entre eles seu comandante, marechal Mascarenhas de Morais, e os proprietários do terreno cedido para a construção do cemitério, Dr. Landini e sua esposa.

 

 

 

 

*Maria de Fátima Morado é Historiadora do Arquivo Histórico e Institucional do Museu da República

 

Fontes:

ADITÂNCIA DO EXÉRCITO JUNTO À EMBAIXADA DO BRASIL NA ITÁLIA. Monumento Votivo Militar Brasileiro (MVMB) “Honra e Glória”. Brasília.

FARIA. Durland Puppin de. O Pelotão de Sepultamento da FEB. Revista Agulhas Negras, Resende, ano 3, n. 3, jan./dez. 2019.

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS. Força Expedicionária Brasileira (FEB). Rio de Janeiro, 2020.

MEIRELES, Cecilia. Pistoia – Cemitério Militar Brasileiro. Rio de Janeiro: Global, 1955.

PIOVEZAN, Adriane. Os mortos na memória dos vivos: o Cemitério Militar Brasileiro de Pistóia (1945-1960). In: Anais do XVII Encontro Estadual de História da ANPUH-SC. Joinville, 2018.