Com duas imagens produzidas por Juan Gutierrez de Padilla (c. 1860 – 1897), na década de 1890, quando ainda estava em construção; e com outra de autoria de Augusto Malta (1864 – 1957), de 1927, a Brasiliana Fotográfica conta um pouco da história do Túnel Real Grandeza. Há ainda uma fotografia de autoria de Rodrigues & C°. Editores e Proprietários mostrando a abertura do Túnel do Leme, ou Túnel Novo.
O Túnel Real Grandeza foi rebatizado de Túnel Alaor Prata, em 1927, em homenagem a Alaor Prata Leme Soares (1882 – 1964), que foi prefeito do Rio de Janeiro entre 1922 e 1926. Foi inaugurado em 6 de julho de 1892 e ligou a Rua Real Grandeza, em Botafogo, à Rua do Matoso, atual Rua Siqueira Campos, em Copacabana. Sua construção foi realizada pelo engenheiro José de Cupertino Coelho Cintra (1843 – 1939), gerente da Companhia Ferro-Carril Jardim Botânico. Com essa ligação, o bairro de Copacabana começou a se integrar ao resto da cidade. Com a presença do presidente da República, marechal Floriano Peixoto (1839 – 1895), quando foi inaugurado, foi lavrada uma ata que marcou, oficialmente, o nascimento de Copacabana (O Paiz, 7 de julho de 1892, na sexta coluna). Antes disso, Copacabana não era um local de fácil acesso, viviam ali alguns pescadores, havia algumas chácaras e sítios, além da Igrejinha de Copacabana e do Forte Reduto do Leme.
Abaixo, uma imagem realizada por Gutierrez na década de 1890: em primeiro plano, no centro, a estação de bondes instalada na Praça Malvino Reis (atual Serzedelo Corrêa). Essa estação foi colocada em uso no ano de 1893, quando os trilhos chegaram até o bairro, e depois de demolida, deu lugar ao Centro Comercial de Copacabana. No fundo, à direita, o Morro do Cantagalo; à esquerda, a ponta do Arpoador.
Da data de sua inauguração até 1901, quando foi entregue ao livre trânsito público, só podiam passar pelo Túnel Velho bondes da Companhia Jardim Botânico.
Ficou mais conhecido como Túnel Velho porque, em 4 de março de 1906, foi inaugurado pela companhia Jardim Botânico sua nova linha elétrica pelo Túnel do Leme, indo o ramal até o ponto terminal da praça do Vigia, onde foi construída a estação de bonds (O Paiz, 4 de março de 1906, quarta coluna; A Notícia, 6 e 7 de março de 1906, quinta coluna). O Túnel do Leme, inaugurado com a denominação de Túnel Carioca, teve seu nome mudado para Túnel Coelho Cintra, em 1937. Mas ficou conhecido como Túnel Novo.
Brevíssimos perfis de Juan Gutierrez de Padilla (c. 1860 – 1897) e de Augusto Malta (1864 – 1957),
fotógrafos das imagens do Túnel Velho publicadas neste artigo
Juan Gutierrez de Padilla (c. 1860 – 1957)
Juan Gutierrez de Padilla foi um dos mais importantes fotógrafos paisagistas dos oitocentos, no Brasil. Foi, ao lado de Marc Ferrez (1843 – 1923) e George Leuzinger (1813 – 1892), ambos do século XIX, e de Augusto Malta (1864 – 1957), já no século XX, um dos maiores cronistas visuais do Rio de Janeiro. Foi um dos fotógrafos principais da transição da cidade imperial para a cidade republicana. Gutierrez registrou a Revolta da Armada ( 1893 – 1894), tornando-se um dos pioneiros da fotografia dos conflitos armados no Brasil. Em 1896, eclodiu o conflito de Canudos e foi por seu entusiamo republicano que, após a derrota da expedição comandada pelo coronel Moreira César (1850 – 1897), decidiu incorporar-se como ajudante de ordens do general João da Silva Barbosa. Foi ferido mortalmente, em 28 de junho de 1897. Sua trágica morte o tornou, talvez, o primeiro repórter fotográfico morto durante um trabalho de campo, no Brasil, apesar de, até hoje, não se conhecer nenhum registro fotográfico que ele tenha feito do conflito. Nasceu, provavelmente, nas Antilhas, na época, uma colônia espanhola. Porém, outras fontes afirmam que ele teria nascido em Cuba ou na África.
Augusto Malta (1864 – 1957)
O alagoano Augusto Malta foi o mais importante cronista fotográfico do Rio de Janeiro das primeiras décadas do século XX. Em 1903, foi contratado pela Prefeitura do Rio de Janeiro como fotógrafo oficial, cargo criado para ele. Passou a documentar a radical mudança urbanística promovida pelo então prefeito da cidade, Francisco Pereira Passos (1836-1913), período que ficou conhecido como o “bota-abaixo”. Augusto Malta trabalhou na Prefeitura até 1936, quando se aposentou. Além de ter documentado as transformações urbanas e os grandes eventos da cidade como a Exposição Nacional de 1908, a construção do Teatro Municipal, em 1909; a Revolta da Chibata, em 1910; e a inauguração do Cristo Redentor, em 1931; fotografou personalidades políticas, intelectuais e artísticas; paisagens, monumentos, lojas, o casario decadente e as ressacas. Registrou também aspectos da vida carioca como, por exemplo, o carnaval de rua, o movimento dos quiosques, os eventos sociais, os moradores de cortiços, os vendedores ambulantes, as prostitutas, os marinheiros e cenas de praia. Faleceu em Em 30 de junho de 1957, no Hospital da Ordem Terceira da Penitência, devido a uma insuficiência cardíaca. Foi sepultado no dia seguinte, no Cemitério do Caju (Correio da Manhã, 2 de julho de 1957, na seção “Prefeitura”).
Andrea C. T. Wanderley
Editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica
Fontes:
DUNLOP, Charles. Rio Antigo, vol 1. Rio de Janeiro: Editora Rio Antigo Ltda, 1958.
GERSON, Brasil. História das Ruas do Rio. Rio de Janeiro: Bem-Te-Vi, 2013.
Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional
Site Prefeitura do Rio de Janeiro
WANDERLEY, Andrea C. T. A fundação de Copacabana in Brasiliana Fotográfica, 6 de julho de 2016.
WANDERLEY, Andrea C. T. O alagoano Augusto Malta, fotógrafo oficial do Rio de Janeiro entre 1903 e 1936 in Brasiliana Fotográfica, 10 de julho de 2015.
WANDERLEY, Andrea C. T. O fotógrafo Juan Gutierrez de Padilla (c. 1860 – 28/6/1897) in Brasiliana Fotográfica, 28 de junho de 2016.