Zumbi dos Palmares (Alagoas,1655 – Alagoas, 20 de novembro de 1695)

Antônio Parreiras - Zumbi 2.jpg

Zumbi (1927), pintura de Antonio Parreiras (1860 – 1937) / Acervo do Museu Antonio Parreiras, Niterói

A Brasiliana Fotográfica homenageia Zumbi dos Palmares (1655-1695), considerado um dos símbolos da luta contra a escravidão no Brasil, com a publicação de uma galeria de tipos negros fotografados, em torno de 1869, na Bahia e em Pernambuco, por Alberto Henschel (1827-1882). Esses registros fotográficos integram o acervo do Leibniz-Institut für Laenderkul (1), primeira instituição internacional a se tornar parceira da Brasiliana Fotográfica.

O quadro retratando Zumbi (ao lado) é de Antonio Parreiras (1860-1937). Tanto o fotógrafo Alberto Henschel como o pintor já foram temas da Brasiliana Fotográfica.

O dia da morte de Zumbi, 20 de novembro, é comemorado em todo o Brasil como o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. A data foi criada, em 2003, e instituída oficialmente em âmbito nacional com a lei nº 12.519, de 10 de novembro de 2011.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou, em 21 de dezembro de 2023, o Projeto de Lei nº 3268/2021, que declara o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra feriado em todo o país. O texto do PL foi publicado no Diário Oficial da União do dia seguinte.*

Zumbi nasceu, em 1655, em uma das aldeias do Quilombo dos Palmares, uma comunidade formada por escravizados fugitivos. O quilombo, o maior do período colonial brasileiro, localizava-se na região da Serra da Barriga, na Capitania de Pernambuco, atual região de União dos Palmares, em Alagoas. Foi capturado, no quilombo, ainda criança, pelos soldados da expedição comandada por Brás da Rocha Cardoso, e entregue ao padre português Antônio Melo, do distrito de Porto Calvo, Alagoas. Foi batizado, aprendeu português e latim, e recebeu o nome de Francisco.

Aos 15 anos, fugiu e voltou para o Quilombo dos Palmares. Posteriormente, tornou-se o líder da comunidade, substituindo seu tio, Ganga Zumba (c. 1630 – 1678). A capital de Palmares foi destruída, em 1694, e Zumbi foi ferido. Traído por um dos seus principais comandantes, Antônio Soares, foi morto em 20 de novembro de 1695, na serra de Dois Irmãos, local de seu esconderijo. Foi esquartejado e sua cabeça foi cortada e exposta na praça do Carmo, em Recife.

Há uma grande bibliografia sobre Zumbi e o Quilombo dos Palmares. Nem sempre os estudos apontam para a mesma direção.

 

Galeria de tipos negros fotografados por Alberto Henschel

 

Acessando o link para as fotografias de tipos negros fotografados por Alberto Henschel disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

(1) O conjunto de 460 imagens do Brasil produzidas até 1900 pertencentes ao acervo do Leibniz-Institut für Länderkunde foi, mediante convênio, incorporado ao acervo do Instituto Moreira Salles por meio da digitalização das fotos em alta resolução. A instituição, sediada na cidade de Leipzig,  reúne o mais importante acervo de fotografia brasileira do século XIX  na Alemanha, em especial pelas imagens reunidas na coleção Stübel.

O geólogo alemão Moritz Alphons Stübel (1835 – 1904) viajou, entre 1868 e 1877, pela América do Sul com o também geólogo Wilhelm Reiss (1838 – 1908), que retornou um ano antes para a Alemanha. Stübel formou uma importante coleção de fotografias, composta originalmente por quase duas mil imagens. A “Collection Alphons Stübel”, a maior coleção de fotografias sul-americanas do século XIX, até agora conhecida, da Alemanha – e provavelmente da Europa – está preservada no Leibniz-Institut für Länderkunde.

Colaboraram para esta pesquisa a designer Mariana Newlands e a socióloga Roberta Zanatta, da equipe do IMS

*Este parágrafo foi acrescentado em 22 de dezembro de 2023.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

CARNEIRO, Edison. O Quilombo dos Palmares, Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 3a ed., 1966

CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil. O longo Caminho. 3ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002

FONSECA JR, Eduardo. Zumbi dos PalmaresA História do Brasil que não foi contada. Rio de Janeiro: Soc. Yorubana Teológica de Cultura Afro-Brasileira, 1988)

FREITAS, Décio. Palmares, a guerra dos escravos. Porto Alegre: Movimento, 1973

GOMES, Flavio dos Santos. De olho em Zumbi dos Palmares: História, símbolos e memória social. São Paulo: Claro Enigma, 2011

MOURA, Clovis. Dicionário da Escravidão Negra no Brasil / Clovis Moura; assessora de pesquisa Soraya Silva Moura – São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2004

VASQUEZ, Pedro Karp. Fotógrafos alemães no Brasil do século XIX, São Paulo: Metalivros, 2000

Outras fontes:

Artigo de  Frank Stephan Kohl: “Collection Alphons Stübel”: um tesouro escondido

Artigo de Fernando Correia da Silva: Zumbi dos Palmares: libertador dos escravos: 1655-1695.

Entrevista Zumbi, um herói cercado de mistério, na Revista História, de novembro de 2009

Portal Brasil

Site Calendarr

Site da Fundação Joaquim Nabuco

Site do Instituto Moreira Salles

Site do Leibniz-Institut für Laenderkunder

Nudez na Galeria Ducasble causa polêmica no Recife do século XIX

 

A exposição de uma cópia do quadro Sono de antíope (ao lado), do pintor italiano renascentista Correggio (c. 1439 – 1534), na Galeria Ducasble, causou polêmica no Recife, em 1885. Por ser considerado por parte do público um registro imoral, muitos deixaram de frequentar o estabelecimento. O advogado e ex-presidente das províncias do Piauí, do Ceará e de Pernambuco, Diogo Cavalcanti de Albuquerque (1829 – 1889), publicou, no Diário de Pernambuco de 27 de junho de 1885, uma crítica a esse comportamento, segundo ele, inspirado por uma nudofobia. No mesmo artigo, criticou o pouco incentivo do governo às artes e elogiou a galeria do fotógrafo e antiquário francês Alfred Ducasble (18-? – 19?). Diogo Cavalcanti de Albuquerque foi o Comissário Geral do Império à Exposição Universal de Paris, em 1889, na qual Ducasble participou como delegado oficial da província de Pernambuco e também como autor de fotografias e expositor de quadros, móveis, jóias e antiguidades.

O ateliê de fotografia e galeria de belas artes de Ducasble situava-se à Rua Barão da Vitória, 65 e era conhecido como A. Ducasble & C., Galeria Ducasble e Fotografia Parisiense. Pintores como Aurélio de Figueiredo (1856 – 1916) e José Jerônimo Telles Júnior (1851 – 1914)  expuseram seus trabalhos na galeria.

‘A uma habilidade não comum, que ele tem vantajosamente empregado no aperfeiçoamento dos processos fotográficos junta, como entusiasta e verdadeiro cultor das belas artes, ardente vocação, apurado gosto e inexcedível dedicação a esse gênero de cultura humana; ainda mais: vota particular interesse, liga a maior importância às produções e progresso da arte nacional’ (Diogo Cavalcanti de Albuquerque sobre Ducasble, em 1885).

 

 

Por ter fotografado grande parte da sociedade pernambucana, Ducasble ficou mais conhecido como retratista embora tenha sido também considerado um excelente paisagista. Foi casado com a alagoana e modista Urraca (1837 – 1893), com quem teve filhos: Maria Vitória (1864 – 1902), nascida em Alagoas, e o futuro caixeiro-viajante Alfredo Ducasble Filho (18? – 19?), nascido em Pernambuco.

 

 

 

Acessando o link para as fotografias de Alfredo Duscable disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

Pouco se sabe sobre a vinda de Ducasble para o Brasil: teria chegado a Pernambuco em 1873 e atuou na cidade nas décadas de 1870 a 1890. Além de fotógrafo, era colecionador e antiquário. Foi professor de desenho e caligrafia no Liceu de Artes e Ofícios e na Escola Propagadora do Recife e é de sua autoria o livro Curso Prático de Caligrafia. Na década de 1880, participou de exposições no Brasil e no exterior, tendo obtido medalha de prata na Exposição Internacional de Antuérpia, em 1885. Foi possivelmente a primeira pessoa a divulgar internacionalmente o mobiliário colonial brasileiro ao enviar, além de pinturas e jóias, móveis e outras antiguidades de seu acervo para a Exposição Universal de Paris em 1889, da qual foi delegado oficial da província de Pernambuco. Na ocasião, recebeu a medalha de prata por seu panorama de Pernambuco e por retratos expostos. Algumas vistas do Recife de sua autoria foram incluídas no Album de vues du Brésil, que organizado pelo Barão do Rio Branco (1945 – 1912) e lançado em Paris na ocasião da Exposição Universal, fazia parte da segunda edição de Le Brésil, extrato da Grande Enciclopédia, trabalho dirigido pelo geógrafo Émile Levasseur  (1828-1911), para o qual o barão havia colaborado. Nesse mesmo ano, 1889, Ducasble teria ido viver em Paris.

 

 

Desenhos publicados no Album de vues du Brésil baseados em fotografias de Ducasble

(Páginas 53 a 56 do PDF)

 

bresil 1bresil 2bresil 3

bresil 4

 

Em 1893, ano do falecimento de sua mulher, a Galeria Ducasble do Recife foi vendida para o fotógrafo Ludgero Jardim da Costa (18? – 19?). Em 1900, foi anunciada a existência de uma sucursal da Galeria Ducasble, na Avenue de la Grande Armée, em Paris.

 

Cronologia de Alfredo Ducasble (18? – 19?)

 

1873 – J. A. Ducasble teria chegado em Pernambuco vindo da Europa no vapor Rio Grande (Diário de Pernambuco, 11 de março de 1873, terceira coluna).

1874 – No Recife, A. Ducasble, sua mulher e três filhos embarcaram rumo ao sul do país, no vapor inglês Illimani (A Província – Órgão do Partido Liberal, 27 de janeiro de 1874, primeira coluna).

No Rio de Janeiro, João Alfredo Ducasble, sua senhora e um filho embarcaram no vapor Pará rumo a Pernambuco (Jornal do Commercio, 20 de junho de 1874).

Foi anunciado que Ducasble era consertador de máquinas de costura e que a modista Madame Ducasble havia chegado da corte e convidava as senhoras que desejassem vestir-se elegantemente para a visitarem na rua da Imperatriz, nº 8, mesmo local onde Ducasble atendia (Jornal de Recife, 9 de julho e 13 de julho de 1874).

 

 

 

Foi publicado um anúncio de Ducasble oferecendo aulas de caligrafia e de francês no primeiro andar da rua da Imperatriz, nº 1, onde sua esposa tinha um estabelecimento de moda (Jornal de Recife, 6 de agosto e 11 de agosto de 1874).

 

 

1875 – João Alfredo Ducasble trabalhava como desenhista na Repartição das Obras de Conservação dos Portos da Província (Almanak Administrativo, Mercantil, Industrial e Agrícola (PE), 1875).

Sua esposa, a modista Urraca Ducasble (18? – 1893), participava a mudança de seu estabelecimento de moda para a rua Barão da Vitória, 52, no 1º andar, a partir do dia 12 de julho de 1875 (A Província – Órgão do Partido Liberal, 11 de julho de 1875). Dois anos depois, mudou-se para o número 65 da mesma rua.

1876 - Vindo no navio Rio Grande, o francês Alfred Ducasble, chegou ao Rio de Janeiro (Diário do Rio de Janeiro, 13 de fevereiro de 1876, quinta coluna).

1877 - Foi publicado um anúncio onde Ducasble oferecia-se para fazer qualquer levantamento em plantas de engenho, nivelamentos, projetos de casas de campo, chalés e qualquer desenho de arquitetura, mecânico e topográfico (Jornal de Recife, 18 de abril de 1877, quinta coluna). Continuava lecionando caligrafia e desenho em colégios, em casas particulares e em sua casa (Jornal de Recife, 23 de abril de 1877, terceira coluna). Mudou-se para a Rua Barão da Vitória (ex- rua Nova), nº 65, 1º andar (Jornal de Recife, 16 de outubro de 1877, quarta coluna).

Ducasble participou de uma celebração na Escola Filotécnica (Jornal de Recife, 16 de novembro de 1877, quarta coluna).

Imprimiu o Curso Prático de Caligrafia, de sua autoria, aprovado pelo Conselho Superior de Instrução Pública de Pernambuco (Jornal de Recife, 28 de novembro de 1877, última coluna).

1878 - Durante uma reunião do Conselho de Instrução Pública da província da Bahia, foi lido um ofício mandando informar o requerimento de Alfred Ducasble, que se propõe a ensinar em 30 lições a caligrafia nas escolas, nos dois externatos e aos professores públicos, e oferece à venda por 1$500 réis cada exemplar da coleção de seus traslados. A venda não foi realizada (O Monitor, 28 de abril de 1878, terceira coluna e O Monitor, 18 de junho de 1878, sexta coluna).

Em Salvador, Alfredo Ducasble embarcou no vapor francês Niger rumo ao Recife (O Monitor, 20 de junho de 1878, quarta coluna e A Província – Órgão do Partido Liberal, de 1878, 20 de junho de 1878, segunda coluna).

Anunciou seus serviços como professor de caligrafia e de desenho, estabelecendo curtos prazos para ensinar as matérias (Jornal de Recife, 5 de julho de 1878, quinta coluna).

 

No fim dessa década, provavelmente, o alemão Rodolpho Frederico Francisco Lindemann (1852 – 19?)  trabalhava como fotógrafo junto a Alfredo Ducasble.

1880 – Anunciou a realização de Retratos Inalteráveis na Photographia Parisiense pelo processo de cromotipia, na rua Barão da Vitória, 65.

 

 

Em 1º de março, anunciou-se que na Photographia Parisiense, de Alfredo Ducasble & C., fazia-se retratos de pessoas falecidas, de grupos, retratos em domicílio e de paisagens e por todos os sistemas mais modernos. A dúzia de retratos custava 5 $ (Jornal de Recife, 1º de março de 1880).

1881 - Teria pretendido estender sua atuação para a Paraíba onde seria seu representante ou sócio Manoel Bezerra de Mello.

No Liceu de Artes e Ofícios do Recife, Ducasble era professor de caligrafia e de desenho linear. Doou para a biblioteca da instituição 10 exemplares de seu livro Curso de Caligrafia (Diário de Pernambuco, 18 de fevereiro de 1881, segunda coluna e Diário de Pernambuco, 22 de março de 1881, segunda coluna).

Exposição, no estabelecimento fotográfico de M. Alfred Ducasble , que de dia em dia vem caminhando num progresso rápido a ponto de já ser o primeiro da província, de dois quadros do pintor paraibano Aurélio de Figueiredo (1856 – 1916), Saudade e Melancolia (Diário de Pernambuco, 19 de abril de 1881, primeira coluna). Meses depois, por motivos de saúde, o pintor foi para a Paraíba e deixou como contato no Recife a Galeria Ducasble (Diário de Pernambuco, 8 de setembro de 1881, quarta coluna).

Participou da Exposição da Indústria Nacional e da Exposição Provincial de Pernambuco provavelmente com fotografias. Na última conquistou a medalha de mérito.

1882 – Participou da Primeira Exposição Artístico-Industrial promovida pela Imperial Sociedade dos Artistas Mecânicos e Liberais de Pernambuco e conquistou uma medalha de mérito pelos retratos de seu estabelecimento fotográfico. Alberto Henschel (1827 – 1882) também recebeu uma medalha de mérito pelas vistas fotográficas que expôs (Diário de Pernambuco, 17 de janeiro de 1882, segunda colunaJornal de Recife, 22 de janeiro de 1882, última coluna).

Uma menina de cor preta com aproximadamente 10 anos chamada Josefa foi abandonada na casa do casal Ducasble (Diário de Pernambuco, 14 de março de 1882, quinta coluna).

Ducasble foi laureado com o primeiro prêmio na Exposição Artístico-Industrial do Rio de Janeiro (Jornal de Recife, 14 de maio de 1884, última coluna).

Ducasble doou livros para a Biblioteca do Liceu de Artes e Ofícios de Pernambuco, inaugurada em 11 de dezembro de 1881 e aberta em 10 de abril de 1882 (Jornal de Recife, 4 de maio de 1882, penúltima coluna).

Fazia parte da comissão do Club Abolicionista encarregada de angariar donativos no bairro de Santo Antônio, no Recife (Jornal do Recife, 13 de junho de 1882, penúltima coluna).

Integrava o comitê nomeado pelo Consulado da França para organizar a Festa Nacional de 14 de julho (Jornal de Recife, 28 de junho de 1882, quinta coluna). Foi elogiado pelo trabalho verdadeiramente artístico - uma miniatura que foi ofertada aos participantes da festa (Jornal de Recife, de 16 de julho de 1882, penúltima coluna).

Na comemoração dos 41 anos da Imperial Sociedade dos Artistas Mecânicos e Liberais de Pernambuco, foi realizada uma exposição com quatro salas. A primeira sala, que era a principal, denominada Galeria Ducasble apresentava um quadro de fotografias produzidas por Ducasble, quadros a óleo do paraibano Aurélio de Figueiredo (1856 – 1916), do francês radicado em Pernambuco  Eugène Lassailly (18? – 19?) e do pernambucano José Jerônimo Telles Júnior (1851 – 1914), além de trabalhos a crayon de Benevenuto Cabral e estudos, também a crayon, de Maria Tasso (Jornal do Recife, 19 de dezembro de 1882, quinta coluna).

1883 – Fotografias porcelana produzidas por Ducasble eram um dos prêmios oferecidos em um sorteio da Livraria e Papelaria de G. Laporte & C. (Jornal de Recife, 4 de fevereiro de 1883, quinta coluna).

Ducasble partiu para a Europa a bordo do vapor inglês La Plata (Diário de Pernambuco, 16 de fevereiro de 1883, segunda coluna).

Na Galeria Ducasble, exposição de um quadro pintado por Leopoldino de Faria (1836 – 1911), retratando o diretor do Arsenal de Marinha (Jornal de Recife, 8 de junho de 1882, penúltima coluna).

Ducasble chegou da Europa a bordo do vapor francês Gironde (Jornal de Recife, 5 de agosto de 1883, última coluna). Publicou que retomava a direção de seu estabelecimento e que estava recuperado de seus incômodos. Informava que havia visitado os melhores estabelecimentos das principais cidades europeias, onde havia praticado com grandes mestres de fotografia e pintura. Anunciou ter trazido modernos equipamentos e que havia se dedicado ao estudo dos processos instantâneos podendo tirar facilmente o retrato de toda e qualquer criança com expressão e semelhança (Jornal de Recife, 10 de agosto de 1883, quinta coluna).

 

 

O pintor francês Lassaily havia chegado da França e anunciava que quem precisasse de seus serviços poderia procurá-lo na Photographia Parisienne (Jornal de Recife, 13 de novembro de 1883, última coluna).

Ducasble anunciou que o quadro dos bachareis do 5º ano encontrava-se em sua galeria e que até o fim do mês receberia o pagamento da segunda prestação (Jornal de Recife, 17 de novembro de 1883, terceira coluna).

1884 - Anúncio da Galeria Ducasble informava que a partir de qualquer fotografia produzia retratos a óleo, crayon e nanquim (Jornal de Recife, 9 de maio de 1884).

Ele, Menna da Costa e Hermina Costa formavam a comissão da Imperial Sociedade dos Artistas Mecânicos e Liberais para arrecadação dos impostos devidos por fotógrafos e retratistas (Jornal de Recife, 11 de julho de 1884, última coluna).

Ducasble fez a importação de espelhos, que chegaram no vapor francês Ville de Pernambuco (Jornal de Recife, 11 de julho de 1884, segunda coluna). Ao longo do ano foram noticiadas outras importações.

Na Galeria Ducasble, exposição de um belo retrato a óleo feito na Europa de Laurentino José de Miranda, que iria ornar a sala de sessões da Companhia de Ferrovia de Olinda (Diário de Pernambuco, 16 de maio de 1884). Exposição também de um bonito retrato a óleo do conselheiro Theodoro Machado Freire Pereira da Silva, que seria levado para o salão de honra da Câmara Municipal do Recife (Jornal de Recife, 14 de setembro de 1884, quarta coluna).

 

 

1885 – Estavam expostos na Galeria Ducasble os retratos a óleo dos advogados José Mariano Carneiro da Cunha (1850 – 1912) e Félix de Valois Correia (18? – 19?), encomendados pela Imperial Sociedade de Artistas Mecânicos e Liberais em homenagem aos serviços prestados por eles. Seriam colocados no salão de honra da referida instituição no dia do aniversário da mesma, em 18 de janeiro (Jornal de Recife, 14 de janeiro de 1885, quarta coluna).

Publicou um anúncio intitulado Antiguidades, onde anunciava interesse na compra de objetos antigos como sejam: pratos, cadeiras de sofá, vasos e candelabros de bronze, pinturas antigas e modernas e qualquer objeto artístico (Jornal de Recife, 25 de fevereiro de 1885, sexta coluna e Diário de Pernambuco, 6 de março de 1885). Esse anúncio foi publicado várias vezes ao longo do ano.

 

 

Participou da Exposição Internacional de Antuérpia, realizada entre 2 de maio e 2 de novembro de 1885, e ganhou o diploma de medalha de prata na Classe 7 – Fotografias e seus aparelhos (Diário de Pernambuco, 29 de outubro de 1885, terceira colunaJornal de Recife, 7 de abril de 1887, quinta coluna).

A carta geral do Brasil assim como outra da província de São Paulo não deixam nada a desejar como gravura topográfica. Saíram das oficinas dos senhores Paul Robin & O, do Rio de Janeiro que obtiveram por seus trabalhos uma medalha de prata; a mesma recompensa foi atribuída aos senhores Marc Ferrez e Ducasbles por suas belas fotografias’ (Anvers à l´Exposition Universelle, 1886).

A exposição de uma reprodução do quadro Sono de antíope, do pintor renascentista Correggio (c. 1439 – 1534), na Galeria Ducasble, causou polêmica por ser considerado imoral por parte do público e por essa causa deixou de frequentar o estabelecimento. O advogado e ex-presidente das províncias do Piauí, do Ceará e de Pernambuco Diogo Cavalcanti de Albuquerque (1829 – 1889) publicou uma crítica a esse comportamento, segundo ele, inspirado por uma nudofobia. No mesmo artigo critica o pouco incentivo do governo às artes e elogia o estabelecimento de Ducasble (Diário de Pernambuco, 27 de junho de 1885).

 

 

 

 

Continuava trabalhando como professor do Liceu de Artes e Ofícios (Diário de Pernambuco, 14 de outubro de 1885 e Diário de Pernambuco, 3 de julho de 1886).

Executou o retrato do sr. Epaminondas Gouvêia, que seria colocado na Igreja do Carmo. Foi encomendado pela Irmandade de Nossa Senhora da Luz (Jornal de Recife, 25 de outubro de 1885, quinta coluna).

Participou, na Seção de Fotografia, da 5ª Exposição Artístico-Industrial, promovida pela Imperial Sociedade dos Artistas Mecânicos e Liberais, quando obteve o diploma de Progresso (Jornal de Recife, 31 de dezembro de 1885, quinta coluna).

O larápio José Braz da Silva célebre autor do roubo que sofreu a atriz Helena Balsemão foi retratado por Ducasble (Diário de Pernambuco, 3 de julho de 1885, quarta coluna).

Ducasble vendeu à Irmandade de Nossa Senhora da Conceição cadeiras de carvalho revestidas de acentuados desenhos de talha (Jornal de Recife, 9 de dezembro de 1926, primeira coluna).

Participou da quinta Exposição Artístico-Industrial do Liceu de Artes e Ofícios promovida pela Imperial Sociedade dos Artistas Mecânicos e Liberais e ganhou o Diploma de Progresso. Na ocasião a fotografa pernambucana Hermina Menna da Costa (18? – 19?) recebeu o Diploma de Mérito (Diário de Pernambuco, 20 de dezembro de 1885).

1886 – Na exposição fotográfica no Palácio de Cristal, na cidade do Porto, em Portugal, Ducasble foi contemplado com uma menção honrosa (Gazeta de Notícias, 27 de junho de 1886, terceira coluna).

Produziu um retrato da atriz portuguesa Lucinda Furtado Coelho (1850 – 1928) que constava de um jornal dedicado a ela (Jornal de Recife, 1º de julho de 1886, penúltima coluna).

Na Galeria Ducasble, exposição de um retrato a óleo de Diogo Cavalcanti de Albuquerque executado em Paris por um brasileiro. Também na galeria, exposição de trabalhos do pintor cearense Irineu de Souza (1850 – 1924) e de uma fotografia do Teatro de Santa Isabel na ocasião da sessão fúnebre promovida União Federal Abolicionista em honra a José Bonifácio (Diário de Pernambuco, 9 de abril de 1886, primeira colunaJornal de Recife, 18 de setembro, quinta coluna e Jornal de Recife, 3 de dezembro de 1886, segunda coluna).

Participou da Exposição Sul-Americana de Berlim e conquistou o primeiro prêmio e a medalha de ouro (Diário de Pernambuco, 21 de agosto de 1886, penúltima colunaJornal do Commercio, 31 de março de 1887, última coluna e Jornal de Recife, 16 de março de 1888)

1887 – Publicação de artigos de Ducasble na quarta, na sexta e na oitava edição da Revista do Norte

Publicação de uma carta do pintor Telles Júnior ao mestre Alfredo Ducasble sobre o artigo escrito sobre os quadros de Barreto Sampaio na Revista do Norte, 10 de fevereiro de 1887. Telles Junior sentiu-se ofendido pela crítica de Ducasble (Jornal de Recife, 14 de março, quinta coluna).

Na Galeria Ducasble, exposição de retratos pintado a óleo por Bannel de Paris (Jornal de Recife, 13 de abril de 1887, quinta coluna).

Ducasble ofertou ao Instituto Arqueológico Geográfico de Pernambuco uma fotografia da inscrição da Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, no Monte Guararapes (Jornal de Recife, 20 de abril de 1887, primeira coluna).

Chegada no vapor Ville de Bahia de uma encomenda de quadros feita por Ducasble (Jornal de Recife, 7 de junho de 1887, quarta coluna).

Em uma carta publicada por Feliciano de Azevedo Gomes para a família de Emílio Soares, alfaiate e genro de Ducasble, casado com sua filha Maria Victória, foi revelado que Ducasble sofria dos nervos. Feliciano acusou Ducasble de calúnia no episódio envolvendo um surto de loucura de Soares e o desafiou para um duelo. Ducasble declarou jamais ter caluniado Feliciano, a quem continuava a considerar um cavalheiro muito distinto e honrado (Jornal de Recife, 14 de junho, última coluna;  15 de junho, penúltima coluna; e 18 de junho, terceira coluna).

O escritor português Ramalho Ortigão (1936 – 1915) em sua vista ao Recife foi à Galeria Ducasble onde foi fotografado. Estava com Joaquim Nabuco (Jornal de Recife, 20 de novembro de 1887, segunda coluna).

Na Galeria Ducasble, exposição de um retrato de Adolfo Manta, encomendado por seus ex-escravos, recém libertos por ele (Diário de Pernambuco, 7 de dezembro de 1887, última coluna).

1888 – Publicação de uma propaganda da Galeira Ducasble com lista de prêmios (Jornal de Recife, 16 de março de 1888). Foi publicada diversas vezes ao longo do ano no Jornal de Recife e no Diário de Pernambuco.

 

 

Na Galerie Artistique de Ducasble, exposição de dois bustos a óleo dos abolicionistas pernambucanos Joaquim Nabuco (1849 – 1910) e de José Mariano Carneiro da Cunha (1850 – 1912), realizados por Ducasble (Jornal de Recife, 30 de maio de 1888, quinta coluna).

 

nabucoejosemariano

Joaquim Nabuco e José Mariano Carneiro da Cunha fotografados por Ducasble / Acervo Fundação Joaquim Nabuco

 

 

O artista, pintor e decorador francês Eugène Lassailly  publicou uma propaganda de seus serviços e um dos lugares onde poderia ser contactado era a Galeria Ducasble (Jornal de Recife, 19 de junho de 1888, quarta coluna).

Ducasble foi um dos contribuintes da subscrição agenciada no Recife por Luiz Cintra a fim de serem ofertadas aos médicos que cuidaram da saúde de dom Pedro II (Diário de Pernambuco, 28 de agosto de 1888, quinta coluna).

Participou da Comissão Pernambucana para a representação da província na Exposição Universal de Paris (Diário de Pernambuco, 23 de setembro de 1888, última coluna e Jornal de Recife, 11 de janeiro de 1889, primeira coluna).

Ducasble  lecionava caligrafia na Escola Normal da Sociedade Propagadora de Instrução Pública (Diário de Pernambuco, 23 de novembro de 1888, última coluna).

Em anúncio, Ducasble atestava ter feito com sucesso uso do Elixir Cabeça de Negro sedativo contra o reumatismo, fórmula do dr. Santa Rosa (Jornal do Commercio, 12 de dezembro de 1888).

1889 – Abertura da exposição prévia dos produtos que deveriam ir para a Exposição Universal de Paris, dentre eles objetos artísticos de Ducasble, que recebeu o diploma de 1ª classe (Jornal do Povo, 14 de janeiro de 1889, terceira coluna, Diário de Pernambuco, 15 de janeiro de 1889, quarta coluna; e Diário de Pernambuco, 5 de fevereiro de 1889, segunda coluna).

Foi eleito conselheiro da diretoria da Imperial Sociedade de Artistas Mecânicos e Liberais (Jornal de Recife, 26 de janeiro de 1889, terceira coluna).

Foi de sua autoria a fotografia do projeto do monumento em homenagem à abolição da escravidão que seria erigido em Olinda (Jornal de Recife, 10 de fevereiro de 1889, primeira coluna).

Ducasble foi escolhido delegado da Comissão Pernambucana para a representação da província na Exposição Universal de Paris (Diário de Pernambuco, 3 de maio de 1889, penúltima coluna).

Ducasble produziu uma fotografia do pessoal da Companhia de Bombeiros (Jornal do Povo, 17 de maio de 1889, segunda coluna).

Na Exposição Universal de Paris, realizada entre 6 de maio e 31 de outubro de 1889, ganhou medalha de prata por seu panorama de Pernambuco e por retratos expostos e também por lenços bordados e rendas. Além disso, expôs 5 quadros, móveis, jóias e antiguidades (Diário de Pernambuco, 23 de outubro, quarta coluna, e Jornal de Recife, 24 de outubro de 1889, penúltima coluna). Segunda a Revista do Patrimônio Artístico e Histórico Nacional de 1946, Ducasble talvez tenha sido o primeiro a enviar peças antigas brasileiras ou luso-brasileiras para serem mostradas fora do país. Nessa mesma exposição, o fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923) participou com vistas do Rio de Janeiro, vistas marinhas e paisagens e, de acordo com Maria Inez Turazzi, recebeu a medalha de bronze. Segundo o Auxiliador da Indústria Nacional, ele teria recebido a medalha de prata (O Auxiliador da Indústria Nacional, 1889). O fotógrafo Felipe Augusto Fidanza (c. 1847 – 1903) recebeu uma medalha de bronze. Outros fotógrafos que participaram foram Albert Richard Dietze (1838 – 1906), Rodolpho Lindemann (c. 1852 – 19?), Nicholson & Ferreira, Joaquim Insley Pacheco  (c. 1830 – 1912) e José Ferreira Guimarães (1841 – 1924). Foi também nessa exposição que a Torre Eiffel, na época a mais alta estrutura do mundo, foi inaugurada.

Ducasble estava presente no banquete realizado em 3 de outubro, no restaurante Voisin para a despedida de Visconde de Cavalcanti (1829 – 1899), presidente do Comissariado Geral do Brasil junto à Exposição Universal de Paris, que retornaria ao Rio de Janeiro (Jornal do Commercio, 24 de outubro de 1889, sexta coluna).

Foi um dos fotógrafos incluídos no livro Album de vues du Brésilbarão do Rio Branco (1845-1912) foi o responsável pelo livro, considerado a última peça para a promoção do Brasil imperial, representando um resumo iconográfico do país e de suas riquezas. Foi um dos livros que inaugurou a ilustração fotográfica do Brasil e é considerado por muitos uma espécie de balanço final do período imperial. Nas palavras do barão, o álbum pretendia “mostrar a fisionomia atual das principais cidades do Brasil e seus arredores. Sob esse aspecto, a presente coleção é a mais completa publicada até hoje”. Trazia também fotografias produzidas por Augusto Riedel (1836 -?)Joaquim Insley Pacheco (c. 1830 – 1912)Marc Ferrez (1843 – 1923) e Rodolpho Lindemann (c. 1852 – 19?), dentre outros. Foi lançado em Paris na ocasião da Exposição Universal de 1889, e fazia parte da segunda edição de Le Brésil, extrato da Grande Enciclopédia, trabalho dirigido pelo geógrafo Émile Levasseur  (1828-1911), para o qual o barão havia colaborado. O Album de vues du Brésil foi o primeiro do gênero publicado depois do Brasil Pitoresco (1861), primeiro livro de fotografia realizado na América Latina, com imagens de Jean Victor Frond (1821 – 1881) e texto do jornalista e político francês Charles Ribeyrolles (1812-1860), reeditado em 1941.

Sua proposta para a confecção do quadro de retratos da turma do 5º ano da Faculdade de Direito foi vencida pela a de Constantino Barza, sucessor do fotógrafo berlinense Alberto Henschel (1827 – 1882) (Jornal de Recife, 19 de julho de 1889, quinta coluna). Em anúncio, Ducasble convidada os quintanistas que quisessem fazer parte do grupo da Torre Eiffel para irem a sua galeria (Jornal de Recife, 20 de agosto de 1889, terceira coluna).

Na Galeria Ducasble, exposição de estudos cenográficos de um ex-aluno da Imperial Academia de Belas Artes do Rio de Janeiro (Diário de Pernambuco, 16 de julho de 1889, última coluna).

Ducasble compareceu em Paris à missa celebrada pelo abade , na Igreja de Saint Augustin, em 25 de julho, a mando do Barão de Penedo, em desagravo ao atentado sofrido por d. Pedro II (Gazeta do Norte, 8 de setembro de 1889, terceira coluna).

Escreveu uma carta informando sobre o sucesso dos produtos pernambucanos exibidos na Exposição Universal de Paris (Diário de Pernambuco, 8 de setembro de 1889, quarta coluna).

Estava à venda na Galeria Ducasble fotografias da armação funerária da Igreja da Penha para as exéquias pela morte de dom Luiz I de Portugal (1838 – 1889) celebradas pela colônia portuguesa do Recife (Diário de Pernambuco, 20 de dezembro de 1889, segunda coluna).

Duscable foi viver em Paris e abriu a farmácia Ducasbline, onde vendia remédios que produziu a partir de seus estudos sobre a flora brasileira e conseguindo a custa a custa de pacientes investigações e meticulosas experiências o conhecimento perfeito das propriedades medicinais de muitas plantas, submeteu-as a processos científicos manipulando assim os medicamentos vendidos em seu estabelecimento parisiense. Segundo carta enviada por Ducasble à redação do jornal A Província – Órgão do Partido Liberal, em dezembro de 1900, seus medicamentos eram aconselhados pelo Instituto Médico de Paris e e estavam obtendo resultado maravilhosos em casos de anemia, bronquite e outras doenças (A Província – Órgão do Partido Liberal, 20 de dezembro de 1900, terceira coluna).

1890 – Foi publicada uma cobrança de impostos relativa ao imóvel que seu estabelecimento fotográfico ocupava na Rua Barão da Vitória, 65 (A Província – Órgão do Partido Liberal, 9 de abril de 1890, sexta coluna).

Na Galeria, Ducasble, exposição de pinturas de paisagens de Frederico Desidério de Barros, cenógrafo da Companhia Heller (Jornal de Recife, 6 de julho de 1890, última coluna). Cerca de 2 meses depois, exposição de pinturas de paisagens do hábil amador e acadêmico José de Castro Paes Barreto (Jornal de Recife, 16 de setembro de 1890, quarta coluna).

Madame Ducasble anunciou sua volta ao Brasil após uma temporada em Paris e a reabertura de seu ateliê de moda no Recife. Havia condescendência nos preços (Diário de Pernambuco, 21 de outubro de 1890, segunda coluna).

No ateliê da Photografia Ducasble, exposição de retratos a óleo dos barões de Itapessuna e de Caiará, realizados por Frederico Ramos a partir de pequenas fotografias (A Província – Órgão do Partido Liberal, 14 de novembro de 1890, segunda coluna).

Foi anunciada a existência de uma sucursal da Galeria Ducasble na avenida de La Grande Armée, em Paris, na França. Também anunciava a venda de antiguidades e de objetos que por afluência de artigos tinham deixado de ir para a Exposição Universal de Paris, no ano anterior (Jornal de Recife, 16 de novembro de 1890, terceira coluna).

1891 – Para exportação 30 litros de licor foram embarcados por Madame Ducasble no vapor francês Equateur, que iria para Paris (Diário de Pernambuco, 5 de maio de 1891, terceira coluna).

Publicação de uma denúncia de Ducasble, que estava em Paris, sobre problemas de pagamento com a Comissão de Pernambuco na Exposição Universal em Paris em 1889, do qual havia sido representante diante da Comissão Central de Paris (Jornal de Recife, 7 de maio de 1891, terceira coluna). Dois dias depois, a comissão publicou sua versão dos fatos (Jornal de Recife, 9 de maio de 1891, primeira coluna).

 

 

1892 – Ducasble presenteou o Diário de Pernambuco com uma fotografia do cadafalso ereto na matriz de Boa Vista por ocasião das exéquias em memória de dom Pedro de Alcântara (Diário de Pernambuco, 5 de fevereiro de 1892, primeira coluna).

Foi no ateliê de Ducasble, que o fotógrafo português naturalizado brasileiro Francisco du Bocage (1860 – 1919), recém chegado no Recife a bordo do vapor nacional Olinda, vindo do sul do Brasil (Diário de Pernambuco, 17 de fevereiro de 1892, na segunda coluna) expôs chapéus e capotas (Diário de Pernambuco, 24 de fevereiro de 1892, quarta coluna e Jornal do Recife, 24 de fevereiro de 1892, terceira coluna).

 

 

Publicação de uma propaganda da Galeria Ducasble onde foram destacados os prêmios conferidos a ela e o fato de ter sempre à escolha de seus numerosíssimo fregueses fotografias artísticas onde o belo resplandece ante os efeitos de luz bem combinada e verdadeiros modelos que a crítica mais exigente jamais poderá ferir (Jornal de Recife, 30 de agosto de 1892, quarta coluna).

A Photographia Ducasble registrou no Teatro de Santa Isabel, o pano de anúncios pintado por Libânio do Amaral (? – 1920) para o referido teatro (Jornal de Recife, 28 de outubro de 1892, segunda coluna).

1893 – Falecimento de Urraca, esposa de Ducasble, de meningite. Foi enterrada no Cemitério Público de Santo Amaro e a missa de sétimo dia foi celebrada na matriz da Graça, no Recife (Diário de Pernambuco, 20 de junho de 1893, primeira colunaJornal de Recife, 21 de junho de 1893, sexta coluna; e Diário de Pernambuco, 22 de junho de 1893, penúltima coluna).

A antiga Photographia Ducasble passou a ser dirigida por um fotógrafo de grande prática dispondo para a execução de seus trabalhos de um pessoal técnico competentemente habilitado (Diário de Pernambuco, 3 de outubro de 1893, quinta colunaJornal de Recife, 4 de outubro de 1893). O fotógrafo em questão era Ludgero Jardim da Costa (18? – 19?) (Jornal de Recife, 8 de agosto de 1894, sexta coluna).

 

 

 

 

1894 – Representada pelos parentes presentes e ausentes, foi celebrada uma missa pelo primeiro ano da morte de Urraca Ducasble (Diário de Pernambuco, 17 de junho de 1894, terceira coluna).

1895 – Casamento civil de Alfredo Ducasble Filho com Maria Hermelinda Magalhães (Jornal de Recife, 18 de setembro de 1895, última coluna).

1898 –  Alfredo Ducasble foi aprovado como benfeitor da Sociedade Propagadora Instrução Pública (Diário de Pernambuco, 25 de janeiro de 1898, segunda coluna).

1900 - Alfredo Ducasble Filho era representante da fábrica O Moinho de Ouro, produtora de chocolates, no Rio de Janeiro (A Província – Órgão do Partido Liberal, 20 de abril de 1900, terceira coluna). Posteriomente, passou a ser representante de um laboratório farmacêutico francês e viajante geral do Almanack Laemmert (A Província – Órgão do Partido Liberal, 5 de março de 1901, penúltima coluna; e A Província – Órgão do Partido Liberal, 25 de agosto de 1910, penúltima coluna).

Realização de um leilão na antiga Photographia Ducasble (A Província – Órgão do Partido Liberal, 12 de dezembro de 1900, primeira coluna).

 

Alfredo Ducasble Filho era o representante no Brasil do grupo Pollaion-Ducasble, de produtos farmacêuticos, sediado em Paris (A Província – Órgão do Partido Liberal, 14 de março de 1901, penúltima coluna).

1902 – A leitura do livro de Ducasble, Curso de caligrafia prática, foi indicado aos alunos pela Instrução Pública de Pernambuco (Diário de Pernambuco, 17 de maio de 1902, quinta coluna). Em 1904 e em 1906 foi adotado pelas escolas municipais do Recife.

Faleceu de nefrite a alagoana Maria Victoria Soares, filha de Ducasble e viúva de Emilio Soares. No anúncio de morte, foi mencionado que seu pai residia em Paris (A Província – Órgão do Partido Liberal, 2 de setembro de 1902, primeira coluna e Diário de Pernambuco, 12 de setembro de 1902, sexta coluna).

1904 - No Rio de Janeiro, com pouco menos de 5 anos, falecimento de Adalgisa Ducasble, filha de Ducasble Filho e neta de Alfredo Ducasble (Jornal do Commercio, 9 de abril de 1904, última coluna).

Alfredo Ducasble Filho e sua família viviam no bairro do Encantado, no Rio de Janeiro. Acolheram uma criança que havia sido maltratada por sua mãe adotiva, mas apesar dos cuidados, ela faleceu (Gazeta de Notícias, 18 de maio de 1905, primeira coluna).

1910 – Na primeira página do jornal A Província – Órgão do Partido Liberal, foi publicada uma fotografia de melhoramentos no Porto de Recife com crédito para Ducasble Filho (A Província – Órgão do Partido Liberal, 30 de agosto de 1910)

1917 – Na Sociedade da Cruz Vermelha, no Rio de Janeiro, Maria Magalhães Ducasble, filha de Ducasble Filho, recebeu o diploma de enfermeira (A Época, 4 de maio de 1917).

1923 – Foi doado ao Instituto Arqueológico de Pernambuco uma coleção de cédulas e moedas que o governo do estado havia comprado de Alfredo Ducasble (Diário de Pernambuco, 6 de abril de 1923, segunda coluna).

1928 – Desquite de Ducasble Filho e Maria (O Paiz, 17 de novembro de 1928, segunda coluna).

1931 – Foi ofertada ao Instituto Arqueológico de Pernambuco uma fotografia produzida por Ducasble, em 1888, de Joaquim Nabuco.  A foto havia pertencido a Antônio Machado Gomes da Silva e seu neto, Adolfo da Silva Neto, a doou para a instituição(Diário de Pernambuco, 17 de dezembro de 1931, primeira coluna).

1933 – Em um artigo sobre o pintor alagoano Rosalvo Ribeiro (1865 – 1915), Ducasble foi citado como seu admirador, que teria batizado uma das obras de Rosalvo de L´innocence (O Dia (PR), 8 de outubro de 1933, terceira coluna).

1946 – Em uma matéria sobre a vida do pintor pernambucano José Jerônimo Telles Júnior (1851 – 1914), a Galeria Ducasble foi citada como um dos lugares mais frequentados por ele  (Diário de Pernambuco, 26 de maio de 1946, gunda coluna).

1951 – Nas memórias de Telles Júnior, na ocasião do centenário de seu nascimento, Ducasble foi citado (Diário de Pernambuco, 2 de agosto de 1951, penúltima coluna)

1956 – Fotografias produzidas por Ducasble foram publicadas no livro, Álbum de Pernambuco e seus arrabaldes, organizado por Gilberto Ferrez (Jornal do Brasil, 4 de novembro de 1956).

1977 – Em Washington, capital dos Estados Unidos, fotografias de Ducasble, Insley Pacheco e Alberto Henschel encontradas na coleção Oliveira Lima foram expostas no Instituto Cultural Brasileiro Americano. Essas fotografias foram redescobertas por acaso pelo diretor da citada instituição, José Neinstein, quando ele foi pesquisar um livro raro sobre o Brasil na Biblioteca da Universidade Católica de Washington, em fins de abril de 1977 (Jornal do Brasil, 29 de junho de 1977, última coluna).

1978 – Publicação, no Diário de Pernambuco, de uma fotografia de Joaquim Nabuco, produzida por Ducasble, em 1887 (Diário de Pernambuco, 17 de setembro de 1978).

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

BECHARA FILHO, Gabriel. Primórdios da fotografia na Paraíba. Correio das Artes – suplemento literário do jornal A União, João Pessoa, 27 de novembro de 1983.

CORNELI, René; MUSSELY, Pierre. Anvers à l´Exposition Universelle. Bruxelles: Typographie et Lithographie Ad Mertens, 1886, pág. 346.

Enciclopédia Itaú Cultural

Guia Geográfico Salvador Antiga

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002.

KOSSOY, Boris. Realidades e ficções na trama fotográfica. Cotia(SP) : Ateliê Editorial, 1999.

Revista do IPHAN, nº 26 – 1997

Site do Arquivo Nacional

TURAZZI, Maria Inez. Poses e trejeitos: a fotografia e as exposições na era do espetáculo: 1839/1889. Prefácio Pedro Karp Vasquez. Rio de Janeiro: Funarte. Rocco, 1995. 309 p., il. p&b. (Coleção Luz & Reflexão, 4). ISBN 85-85781-08-4.

VASQUEZ, Pedro Karp. A fotografia no Império. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2002.

A Galeria dos condenados por Lilia Schwarcz

Com um artigo da historiadora e antropóloga Lilia Moritz Schwarcz, a Brasiliana Fotográfica destaca A Galeria dos condenados, que pertence à Coleção Dona Thereza Christina Maria e está guardada na Divisão de Manuscritos da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, uma das fundadoras do portal. A partir da década de 1870, por iniciativa de Luiz Vianna de Almeida Valle (1827 – 1877), médico e diretor da Casa de Correção da Corte, primeira penitenciária construída no Brasil, os presos da referida instituição passaram a ser fotografados. A partir dessa iniciativa começou a ser formada a Galeria dos condenados,  composta por dois álbuns. Existem dois volumes de cada álbum, um com capa sem decoração e outro com capa decorada com o brasão do Império no centro e com arabescos dourados nas bordas. Cada página traz uma fotografia acompanhada de informações sobre o condenado retratado: seu nome, seu número na Casa de Correção, os delitos dos quais foi acusado, penas e multas, além da data de entrada.  A fotografia era então uma técnica primordial e estratégica para a criminologia e em especial para a antropologia criminal italiana, que pretendia entender o crime a partir de “elementos externos”; os famosos estigmas raciais. 

 

A Galeria dos condenados

 Lilia Moritz Schwarcz*

 

 

Faz parte do acervo da coleção Dona Thereza Christina, que hoje se encontra alocada na Divisão de Manuscritos da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, um documento de título no mínimo inusitado: Galeria dos condenados. Medindo cerca de 27 x 20 centímetros, ele inclui dois álbuns, cada qual com dois volumes, ligeiramente diversos: um com uma capa menos vistosa e o outro ricamente adornado por arabescos dourados nas suas bordas e um imponente brasão do Império bem ao centro, o qual confere ao material um ar de oficialidade.

Há também outras especificidades que denotam o cuidado com que a fonte foi produzida. Nos dois volumes mais simples, estão as fotos tiradas em “plano americano” (com os modelos retratados do quadril ou da cintura para cima), bem como imagens que não foram aprovadas por conta de “problemas técnicos”, como o aspecto tremido do modelo, a falta de luz, ou manchas que comprometem o produto final. Essas fotos devem ter passado por algum tipo de censura prévia, uma vez que foram eliminadas daqueles volumes com capas mais caprichadas.

Mas a grande originalidade dessa fonte se encontra no interior da obra. São 320 fotos de presos (sendo 318 homens para apenas duas mulheres) da Casa de Correção da Corte, que foram matriculados na instituição entre os anos de 1859 e 1875. A Galeria é composta por 324 fotos, mas 5 delas aparecem repetidas, uma vez que o condenado retornou duas vezes à Casa de Correção, mas foi utilizado o mesmo registro visual. Todas as fotos encontram-se recortadas em molduras ovais, devidamente coladas nas páginas e adornadas por arabescos feitos à mão. As várias páginas que compõem o álbum, também apresentam arabescos desenhados nas laterais, trazem uma única foto e um texto manuscrito com informações breves, como a data de entrada na instituição, o nome do condenado, seu número registro dentro da Casa, o crime cometido, bem como as penas e multas que lhes foram imputadas. Em alguns casos aparecem, igualmente, comutações de penas, indultos, a data de soltura ou até mesmo referências à morte do condenado.

Por mais que possamos descrever o conteúdo presente neste documento, toda a história que o circunda resta ainda bastante desconhecida. É sabido que d. Pedro II, quando de sua partida para o exílio, em 1889, dividiu toda a sua coleção entre instituições como o Museu Imperial , o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, e, justamente, a Biblioteca Nacional. Mas o motivo e o critério que fizeram com que o monarca entregasse esses álbuns para essa última instituição continua em aberto.

 

Acessando o link para as fotografias da Galeria de Condenados disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas. 

 

Vale lembrar que a Casa de Correção da Corte foi a primeira prisão brasileira idealizada com esse fim, e, ao que tudo indica, também a primeira a adquirir uma máquina e construir um laboratório para a produção de fotografias de identificação dos presos. O modelo vinha das penitenciárias europeias, que já usavam a técnica desde os tempos do daguerreótipo, como forma de obter registros mais precisos e objetivos, ademais quando comparadas àqueles obtidos pelos retratos-falados.

A fotografia já tinha se tornado, nesse contexto, uma técnica primordial e estratégica para a criminologia, e em especial para a antropologia criminal italiana, que pretendia entender o crime a partir de “elementos externos”; os famosos estigmas raciais. Até então só se anotavam “signaes” mais superficiais do apenado, o que levava, com grande frequência, a problemas de reconhecimento, tanto em casos de fuga, na prisão de “suspeitos” ou na recondução de convictos.

E talvez d. Pedro II se orgulhasse da nova técnica da fotografia que cada vez mais simbolizava a modernidade. Afinal, ele mesmo era um fotógrafo amador e um adepto da nova técnica. Sendo assim, um álbum como esse poderia representar uma prova cabal da “civilização do Império” e do alto grau de cientificidade que seu soberano imprimia ao “comportamento desviante” em sua jovem nação.

Mas existem outros mistérios em torno da Galeria dos condenados: durante muito tempo não se tinha ideia de quem seria o profissional da Casa responsável por esses serviços. Foi só a partir da descoberta de um relatório do diretor da instituição, datado de maio de 1872, que ficou claro como o técnico era, ele mesmo, um prisioneiro na divisão criminal. Portanto, não apenas um preso foi indicado para fotografar os demais, como seu próprio retrato deve também constar da Galeria. E é preciso concordar que não foi pequeno o empenho que ele teve para se familiarizar não só com uma grande quantidade de substâncias químicas sensíveis, como dominar uma técnica complexa. Excesso ou falta de luz podiam atrapalhar o resultado; o tempo de arranjo da pose, da luz e para a fixação ainda demoravam alguns minutos; sem esquecer a desconfiança que uma máquina como essa deveria causar, ainda mais se os “colegas” tivessem que se submeter a um aparelho, bastante utilizado naquela época, que atava o modelo a uma cadeira e imobilizava o seu pescoço para assim garantir o bom resultado do retrato.

No álbum não aparecem ilustrações acerca do cotidiano da Casa, muito menos das suas instalações. Já “os condenados” estão retratados a partir de alguns ângulos: por vezes surgem contrastados diante de um fundo escuro, por vezes o rosto é tomado de frente, por vezes o modelo vira o rosto para a esquerda, por vezes para a direita. Mas chama atenção a existência de um grande número de negros nesses álbuns, o que é de se esperar num país nesse contexto ainda dominado por uma maioria de escravizados que, não raro, se revoltava contra o sistema. Interessante pensar, pois, como, a despeito do plano americano impor uma espécie de padrão, não raro os modelos apresentam pequenas reações que correspondem a grandes agências diante das lentes. Há aqueles que viram de perfil para destacar suas escarificações e marcas de nação; há aqueles que se enrolam em panos da costa, com seus desenhos geométricos e geralmente bem coloridos, deixando escapar, pelos detalhes, a sua identidade. Alguns retratados também desafiam a “norma” e o aspecto policial que o documento carrega, como no caso de Benedicto Crioulo, condenado à pena de galé, que simplesmente cruza os braços e encara o fotógrafo.

 

 

A técnica com certeza seria nova para a maioria deles, senão para todos, mas o profissional devia despertar um sentimento de familiaridade. De toda maneira, tudo colabora para que essas fotos resultem paradoxais. Se o registro pedia seriedade, não é difícil vislumbrar aqueles que cuidam da aparência, e se não sorriem, acabam se impondo pela altivez que apresentam. Esse é o caso de Isabel Jacintha, uma das duas mulheres fotografadas, que lá está para cumprir “pena perpétua”. O que terá feito Jacintha? Matado seu senhor, a exemplo de centenas de escravizadas que com sua rebeldia diziam “não” a um regime de sevícias e humilhações na alcova escravista? Teria envenenado o feitor, como fizeram outras mulheres que conheciam os segredos das ervas e sabiam “amansar” seus capatazes? Não há como responder essas questões, e a frustração do historiador reside no fato do documento se calar e não dizer mais. Entretanto, é possível anotar seu porte elegante, o olhar digno e desafiador, a expressão altiva. Aí estão pequenos sinais, grandes detalhes, daqueles que viveram em regimes de privação e desafiaram o próprio sistema penitenciário feito para que ficassem invisíveis e perdidos no seu silêncio.

 

 

A Galeria dos condenados traz em seu nome o arbítrio e o mal-estar que carrega. Mal-estar diante da escravidão, esse sistema que supõe a posse de uma pessoa por outra, e cuja liberdade por vezes, e por mais estranho que pareça, se consegue a partir de um ato, um pequeno movimento ou um gesto no intervalo imprevisto entre a pose exigida e o clique da fotografia.

PS: O historiador Manolo Florentino generosamente disponibilizou um CD com as fotos constantes do álbum. Sandra Sofia Machado Koutsoukos realizou uma pesquisa alentada sobre o material. Destaco seu livro Negros no estúdio do fotógrafo. Campinas, Unicamp, 2010.

 

*Lilia Moritz Schwarcz é antropóloga e historiadora. É autora, entre outros livros, de O espetáculo das raças (1993), As barbas do imperador (1998), O sol do Brasil (2008), Brasil: Uma biografia (com Heloisa Murgel Starling, 2015 ), Lima Barreto: Triste visionário (2017) e organizadora de Dicionário da Escravidão e Liberdade (com Flavio dos Santos Gomes, 2018).

 

O médico Luiz Vianna de Almeida Valle (1827 – 1877), diretor da Casa de Correção da Corte de 1868 a 1877 e introdutor da prática de fotografar os presos 

Andrea C.T. Wanderley**

Consta nos Relatórios Ministeriais, de março de 1871 (Biblioteca Nacional), referentes ao ano de 1870, que Luiz Vianna de Almeida Valle enviou ao Ministro da Justiça um relatório no qual valorizava sua iniciativa de compra da máquina fotográfica:

” Photographia. Estabeleci na Casa uma machina de photographar, que acha-se já funcionando. V. Ex. compreende perfeitamente as vantagens desta instituição n’uma Penitenciaria qualquer, e que devem ser maiores na da Côrte, onde não existem unicamente condemnados á prisão cellular, mas também a galés e prisão simples”. 

 

Notas sobre Luiz Vianna de Almeida Valle na imprensa

 

Luiz Vianna de Almeida Valle foi acusado de, como subdelegado de polícia, coagir votantes (Diário do Rio de Janeiro, 20 de dezembro de 1860, última coluna).

Pediu como remuneração de seus serviços durante a epidemia de cólera a comenda da Ordem de Cristo ou o oficialato da Ordem da Rosa (Ministério do Império, julho de 1861).

Almeida Valle e o advogado Antônio Ferreira Vianna ofereceram seus serviços aos pobres da Freguesia de Sant´Anna (Arquivo Municipal, 11 de julho de 1861).

Em 1862, era o subdelegado de polícia do 1º distrito da freguesia de Sant´Anna (A Formiga, 19 de julho de 1862, terceira coluna), cargo do qual foi exonerado no ano seguinte (A Actualidade, 22 de junho de 1863, primeira coluna).

Foi nomeado tenente cirurgião do primeiro batalhão de reserva da Guarda Nacional do município da corte (O Constitucional, 26 de março de 1864, terceira coluna).

Tornou-se o diretor da Casa de Correção da Corte substituindo o major Daniel José Thompson (Correio Paulistano, 18 de junho de 1868, segunda coluna). A Casa de Correção do Rio de Janeiro, também chamada Casa de Correção da Corte, teve seu primeiro regulamento aprovado em 6 de julho de 1850 pelo decreto n. 678. Tinha o objetivo de ser uma prisão modelo do Império, onde se executaria a pena de prisão com trabalho, sendo considerada uma das “obras mais úteis e necessárias ao País pela influência do sistema penitenciário sobre os hábitos e a moral dos presos”.

Almeida Valle  foi recebido por d. Pedro II (Correio Mercantil, 13 de julho de 1868, quarta coluna).

Era o secretário de uma comissão presidida pelo Conde da Estrella que tinha a finalidade de celebrar o fim da Guerra do Paraguai e a chegada do Conde d´Eu (1842 – 1922) à corte (Diário do Rio de Janeiro, 7 de abril de 1870).

Era um dos conselheiros da Sociedade Propagadora das Belas-Artes (Diário do Rio de Janeiro, 3 de fevereiro de 1871, quinta coluna).

Em 28 de janeiro de 1871, Almeida Valle foi promovido a oficial da Ordem da Rosa (Diário de São Paulo, 8 de fevereiro de 1871, primeira coluna).

Era um dos fundadores da Associação de Socorros à Invalidez (Diário do Rio de Janeiro, 1º de fevereiro de 1875, última coluna).

Almeida Valle escreveu uma carta ao Diário do Rio de Janeiro explicando as razões da fuga de dois presidiários e elogiando a atuação dos ministros (Diário do Rio de Janeiro, 17 de janeiro de 1876, segunda coluna).

Em 1876, Almeida Valle integrava com José Vieira Couto de Magalhães (1837 -1898) e o brigadeiro Francisco Antônio Raposo (1817 – 1880) uma comissão para a organização de penitenciárias agrícolas, presídios militares e núcleos coloniais (Diário de São Paulo, 28 de setembro de 1876, última coluna).

Foi condecorado com a comenda da Ordem de Nossa Senhora da Conceição (Diário do Rio de Janeiro, 11 de dezembro de 1876, quinta coluna).

No relatório da Comissão das Prisões, Almeida Valle foi elogiado pelo tratamento que dava aos infelizes confiados à sua direção (Diário do Rio de Janeiro, 27 de janeiro de 1877, segunda coluna).

Por estar doente foi afastado da direção do presídio e Bellarmino Braziliense o substituiu. Almeida Valle faleceu em março de 1877 (Diário do Rio de Janeiro, 1º de fevereiro de 1877, sexta coluna e Jornal do Commercio, 16 de abril de 1877, última coluna).

 

**Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

BELARMINO, Gonçalo. A Galeria dos condenados e a institucionalização da memória na Casa de Correção da Corte (1859-1876) – Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Memória Social como requisito Parcial para Obtenção do grau de Mestre em Memória Social do Centro de Ciências Humanas da UNIRIO.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOUTSOUKOS, Sandra. No estúdio do fotógrafo.’Representação e auto-representação de negros livres, forros e escravos no Brasil da segunda metade do século XIX. Volume I  – Tese de Doutorado apresentada na pós-graduação em Multimeios, do Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas, para a obtenção do título de Doutor em Multimeios

Site da Câmara dos Deputados

Site do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro

Site do Arquivo Nacional

O que fica de fora, por João Moreira Salles

Em sua primeira publicação de 2019, a Brasiliana Fotográfica traz para seus leitores uma reflexão do documentarista João Moreira Salles acerca da fotografia Elvira Leopardi Pastore e sua filha Maria Lúcia, produzida pelo italiano radicado no Brasil Vincenzo Pastore (1865 – 1918), em torno de 1908, na rua da Assembleia, na capital paulista. É um registro da mulher e da filha do fotógrafo. João analisa o que deixa-se de fora do campo visual: “O que organiza a cena não está representado na imagem. De certa forma, o elemento mais importante do flagrante não foi flagrado. O que estarão olhando as duas personagens da foto, mulher e filha do fotógrafo? Pastore elidiu a informação – e, nessa elisão, entramos nós”.

Com sua câmara Pastore capturava tipos e costumes de um cotidiano ainda pacato de São Paulo, uma cidade que logo, com o desenvolvimento econômico, mudaria de perfil. Captava as transformações urbanas e humanas da cidade, que passava a ser a metrópole do café. Com seu olhar sensível, o bem sucedido imigrante italiano flagrava trabalhadores de rua como, por exemplo, feirantes, engraxates, vassoureiros e jornaleiros, além de conversas entre mulheres, brincadeiras de crianças e registros de sua família. Pastore, ao retratar pessoas simples do povo, realizou, na época, um trabalho inédito na história da fotografia paulistana.

 

O que fica de fora

João Moreira Salles*

Para ir direto ao assunto: gosto do que é incompleto. Por exemplo, tomem este conto famoso do guatemalteco Augusto Monterroso:

                            Quando acordou o dinossauro ainda estava lá.

Acabou. É só isso. Quem acordou?  onde? O dinossauro atacará?

Ou este de Hemingway:

                            Vende-se: sapatinhos de bebê, sem uso.

Uma tragédia contida em menos de 40 caracteres. Soa tão pungente porque quase nada foi dito. O que faltou dizer é por nossa conta. Em ambos os casos a imaginação é forçada a trabalhar, como um reservista convocado para a ação.

No mundo das imagens, essa economia narrativa pode ser materializada pelo que se decide deixar fora do campo visual. Um exemplo notável desse modo de contar histórias é a fotografia Elvira Leopardi Pastore e sua filha Maria Lúcia, do italiano radicado no Brasil Vincenzo Pastore. O que organiza a cena não está representado na imagem. De certa forma, o elemento mais importante do flagrante não foi flagrado. O que estarão olhando as duas personagens da foto, mulher e filha do fotógrafo? Pastore elidiu a informação – e, nessa elisão, entramos nós.

 

 

A nota biográfica que acompanha o acervo digital da Coleção Vincenzo Pastore nos informa que ele perambulava pela São Paulo do início do século XX com uma câmera de pequeno formato na mão. Graças a emulsões fotográficas de maior sensibilidade à luz, havia se libertado do estúdio e do tripé. Podia agora registrar a vida vivida nas ruas, ou, como diria o cineasta soviético Dziga Vertov uns anos depois, a respeito do cinema revolucionário que ele próprio inventaria, a vida pega de surpresa, “não ensaiada”.

Acessando o link para as fotografias de Vincenzo Pastore disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

Parte considerável da obra de Pastore se compõe de instantâneos urbanos que deslumbrariam Vertov. Para mim, nenhum deles é mais bonito do que este, mãe e filha no jardim de casa. Uma ação foi interrompida e jamais saberemos a razão. A menina está colhendo verduras (ou flores?) com a mãe. Quer continuar, mas alguma coisa acabou de acontecer lá no alto – na casa? No telhado, na árvore, no quintal vizinho? A mãe fixa sua atenção. O sol forte a faz proteger os olhos. Isso sabemos. O resto, não.

Desconfiamos também que Elvira e Maria Lúcia não se dão conta de que estão sendo fotografadas. Pastore as flagra num momento de inconsciência em relação à câmera, adotando um regime de representação que no futuro se tornaria tema de debates intermináveis sobre a existência ou não de uma realidade espontânea, não contaminada pela presença do observador. Em 1908, data provável da foto, esse modo de flagrar o instante é novo e radical. Alguns dos maiores fotógrafos do século XX, de Walker Evans a Cartier-Bresson, tomariam esse partido.

 

 Imagem

A Virgem Anunciada, de Antonello da Messina, 1475-1476 / Galleria Regionale della Sicilia, Palermo.

Há uns anos escrevi sobre a Virgem Anunciada de Antonello da Messina. Poucas imagens do Quattrocento italiano são tão belas. Vemos apenas a Virgem, e ela nos vê. Diante dela, o Anjo somos nós. Significa que fomos nós que lhe demos a notícia –  e a notícia é terrível. Com a mão direita Maria repele o Anjo, nos repele. Ela agora sabe e não quer companhia. Maria está irremediavelmente só, numa dor que não se compartilha. Com a mão esquerda, fecha o manto, esconde o corpo e nos exclui. Seu filho, ela sabe, um dia morrerá diante dela. Sua tristeza a leva para longe de nós. Talvez seja a personagem mais triste da história da pintura.

Lembrei-me dela ao ver a fotografia de Pastore. Não há tristeza aqui e a imagem tampouco nos implica, ao contrário do que faz a de Antonello. As duas são cenas silenciosas – como se existissem numa suspensão do tempo –, mas também não é isso o que as une na minha imaginação. É o extracampo, a lacuna. O que ficou de fora.

 

O escritor Amós Oz gosta de citar estes versos do poeta Yehuda Amichai:

 

                Ali onde estamos perfeitamente certos

               não crescerão nunca

               flores na primavera.

 

Não ter acesso a tudo diminui esse risco. Sob certo ponto de vista, a flor (ou a verdura?) na cesta de Maria Lúcia dependem dessa limitação.

 

*João Moreira Salles é documentarista e editor da revista piauí.

 

Cronologia do fotógrafo Vincenzo Pastore (1865 – 1918)

 

5 de agosto de 1865 – Nascimento de Vincenzo Pastore, em Casamassima, na região de Puglia, na Itália, filho de Francesco Pastore e Costanza Massara.

1890 – Pastore chegou ao Brasil, em São Paulo, provavelmente no início dessa década, quando houve um grande fluxo de imigração de italianos para a cidade, em busca de novas oportunidades de trabalho. Entre sua chegada ao Brasil e sua morte, em 1918, volta algumas vezes à Itália.

1894 – Iniciou suas atividades de fotógrafo em São Paulo.

1898 – Pastore tem um estabelecimento fotográfico na Itália, em Potenza, na região de Basilicata. Casou-se com Elvira Leopardi Pastore (1876-1972) com quem teve 10 filhos: Costanza (1899-?), Beatriz (1902-?), Maria Lucia (1903-1988), Francisco (1905-1985), Pion Donato (1906-?), Eleonora ( 1908-1992), Olga (1909-?), Carmelita (1910 -?), Dante (1912-?) e Redento (1915-1918).

1899 -  Voltou para São Paulo.

Recebeu uma carta protocolada do município de Potenza, transcrevendo carta do prefeito agradecendo pelo retrato do rei, que seria colocado na sala do Conselho Provincial.

1900 – Possuia um estabelecimento fotográfico na Rua da Assembleia, nº 12 (depois rua Rodrigo Silva), onde também residia. Em nota no Estado de São Paulo, edições de 22 e 23 de outubro de 1900, anunciava: “Dá de presente aos seus clientes seis photographias / novo formato Elena, em elegantíssimos cartõezinhos ornados, só 4$500 e por poucos dias”.

Sua esposa, Elvira, trabalhava no estúdio e era a responsável pelos serviços de fotopintura e acabamento. Era ela, também, que registrava em um caderno de anotações, intitulado “A arte de fotografar e revelar”, o trabalho realizado no laboratório e as técnicas de fotopintura.

1905 – Recebeu uma carta do Consulado Geral da Itália em São Paulo, transmitindo os agradecimentos do Ministro da Casa Real pelo envio de fotos de índios bororos.

1906 - Recebeu uma carta de Giacomo della Chiesa (1854 – 1922), futuro papa Bento XV, agradecendo o envio de fotografias de índios bororós para o papa Pio X.

1907 – Inauguração de um novo estúdio, na Rua Direita nº 24-A. Em notas sobre a abertura do novo estabelecimento, foi anunciada a distribuição de Retratos Mimosos, pequenas fotos com moldura especial de flores e arabescos, a cada visitante. Posteriormente, Pastore abriu um novo estúdio na Praça da República, nº 95.

1908 – Participou da Exposição Nacional, realizada no Rio de Janeiro, em comemoração ao centenário da abertura dos portos no Brasil, com um conjunto de fotopinturas e trabalhos de grandes dimensões.

Realizou também um concurso de beleza infantil, do dia 10 de maio a 10 de julho, em seu ateliê fotográfico de São Paulo (O Paiz, edição de 8 de maio de 1908, última nota da primeira coluna).

1911 – Ganhou a medalha de bronze na Espozione Internazionale delle industrie e dell lavoro, em Turim, na Itália.

1914 – Viajou com a família para a Europa (Correio Paulistano, edição de 10 de fevereiro de 1914, na terceira coluna, sob o título “Hóspedes e Viajantes” ). Em novembro, inaugurou o estabelecimento Fotografia Italo-Americana – ai Due Mondi, na Via Sparano, nº 117, em Bari, na Itália. O nome do estúdio italiano indicava sua condição de imigrante bem sucedido, que pertencia a dois mundos. Realizou uma grande exposição de fotografias.

1915 – Devido à Primeira Guerra Mundial, encerrou as atividades na Itália e voltou a São Paulo.

1916 - Sob os títulos “Bellezas Paulistanas”, “Melancholia”, “Quem é a moça dos óculos pretos? e “Oração”, foram publicadas fotografias de autoria de Pastore, na revista Cigarra, nas edições  de 31 de março 30 de abril  , 17 de agosto14 de setembro e 26 de outubro.

No dia 17 de junho, foi publicada no O Estado de São Paulo, a seguinte nota: “O Sr. Vincenzo Pastore, proprietario da Photographia Pastore, a rua Direita, recebeu communicação official, do sr. Giannetto Cavasola, ministro da Agricultura da Italia, e do prefeito da provincia de Bari, de que, a 4 de maio passado, foi nomeado pelo duque de Genova, principe regente, cavalheiro da Ordem da Corôa da Italia. O sr. Pastore é muito conhecido nesta capital, onde conta com muitas amizades. Em 1914, o sr. Pastore fez, em Bari, uma grande exposição italo-brasileira de photographias, que mereceu francos elogios da imprensa. Os seus esforços acabam de ser merecidamente recompensados”. Em 18 de dezembro, o prêmio foi concedido.

1918 – Em 15 de janeiro, Pastore faleceu, em São Paulo, devido a complicações após uma cirurgia de hérnia. Era alérgico e foi anestesiado com clorofórmio (Correio Paulistano, 19 de janeiro de 1918, na terceira coluna).

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Uma homenagem aos 175 anos de Marc Ferrez (7 de dezembro de 1843 – 12 de janeiro de 1923)

A Brasiliana Fotográfica homenageia os 175 anos de nascimento do brilhante cronista visual Marc Ferrez (1843 – 1923), destacando as publicações do portal relativas ao fotógrafo e disponibilizando um artigo sobre ele de autoria de Sérgio Burgi, Coordenador de Fotografia do Instituto Moreira Salles, uma das instituições fundadoras do portal. A vasta e abrangente obra iconográfica de Ferrez se equipara a dos maiores nomes da fotografia do mundo. Foi o principal fotógrafo das paisagens e dos costumes cariocas da segunda metade do século XIX e do início do século XX.  Outro segmento de sua obra iconográfica registrou as várias regiões do Brasil – ele foi o único fotógrafo do século XIX que percorreu todas as regiões do país, tendo sido, no referido século, o principal responsável pela divulgação da imagem do país no exterior. Em meados dos anos 1870, integrou a Comissão Geológica do Império. Era Fotógrafo da Marinha Imperial. Faleceu em 12 de janeiro de 1923.

 

 

Acessando o link para as fotografias de Marc Ferrez disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

 

MARC FERREZ

Sergio Burgi*

 

 

Mais conhecido por suas imagens icônicas da cidade do Rio de Janeiro e de seu exuberante entorno, Marc Ferrez foi também o primeiro fotógrafo a percorrer extensivamente o território brasileiro, primeiramente como fotógrafo da Comissão Geológica do Império do Brasil (1875-1878), e posteriormente, como fotógrafo da construção e modernização das principais ferrovias, registrando localidades e paisagens em diversos estados e regiões do país. Permanentemente associado ao campo das artes, da engenharia, da técnica e da ciência e em constante interação com os principais nomes de seu tempo nestas áreas, Marc Ferrez documentou grandes projetos de engenharia, de arquitetura e de urbanismo no Império e na República. Estes diversos trabalhos comissionados realizados ao longo de sua carreira o colocaram em associação direta com as principais inovações tecnológicas e científicas de seu tempo, tendo por conseguinte buscado também expandir as fronteiras de sua própria produção de imagem em fotografia, através, por exemplo, do desenvolvimento de câmeras especiais e do estudo e domínio de novos processos fotográficos.

A partir da sociedade formada com seus filhos, em 1907, Marc Ferrez investiu na expansão de suas atividades nas áreas de comercialização de equipamentos e produtos fotográficos e cinematográficos, na produção e comercialização de impressões fotomecânicas, na distribuição de novos produtos para o mercado amador, como os autocromos e estereoscopias, e, especialmente, na distribuição e exibição de filmes cinematográficos, sendo estes os principais campos que viriam a consolidar, a partir do início do século XX, a era da comunicação visual de massa baseada na circulação intensiva da imagem fotográfica e cinematográfica, profissional e amadora. Este processo foi somente possível pelos avanços tecnológicos originados na interseção da ciência com a técnica e pela intensa atividade de comercialização de processos e produtos, que no Brasil teve em Marc Ferrez seu principal ator e agente. A carreira fotográfica de Marc Ferrez percorre, assim, mais de cinco décadas de profundas transformações no campo da imagem, e, nesse sentido, sua trajetória e seu legado constituem, sem dúvida, uma plataforma única para a compreensão do país e de sua representação ao longo do século XIX e primeiras décadas do século XX.

Por esses motivos, que evidenciam a importância do legado de Marc Ferrez, o Instituto Moreira Salles, que tem sob sua guarda o acervo do fotógrafo, realizará ao longo dos próximos cinco anos um trabalho sistemático de documentação e pesquisa da obra completa de Marc Ferrez, buscando referenciar de maneira abrangente e exaustiva seu trabalho, reunido tanto no IMS como em outras instituições no país e no exterior.

 

*Sergio Burgi é Coordenador de Fotografia do Instituto Moreira Salles

 

Publicações da Brasiliana Fotográfica em torno da obra do fotógrafo Marc Ferrez 

 

O Rio de Janeiro de Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 30 de junho de 2015

Obras para o abastecimento no Rio de Janeiro por Marc Ferrez , de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 25 de janeiro de 2016

O brilhante cronista visual Marc Ferrez (7/12/1843 – 12/01/1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 7 de dezembro de 2016

Do natural ao construído: O Rio de Janeiro na fotografia de Marc Ferrez, de autoria de Sérgio Burgi, um dos curadores da Brasiliana Fotográfica, publicada em 19 de dezembro de 2016

No primeiro dia da primavera, as cores de Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 22 de setembro de 2017

Marc Ferrez , a Comissão Geológica do Império (1875 – 1878) e a Exposição Antropológica Brasileira no Museu Nacional (1882), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica,  publicada em 29 de junho de 2018

Série “O Rio de Janeiro desaparecido” V – O quiosque Chopp Berrante no Passeio Público, Ferrez, Malta e Charles Dunlop, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 20 de julho de 2018

Uma homenagem aos 175 anos de Marc Ferrez (7 de dezembro de 1843 – 12 de janeiro de 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 7 de dezembro de 2018 

Pereira Passos e Marc Ferrez: engenharia e fotografia para o desenvolvimento das ferrovias, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 5 de abril de 2019

Fotografia e ciência: eclipse solar, Marc Ferrez e Albert Einstein, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 

Os 180 anos da invenção do daguerreótipo – Os álbuns da Comissão Geológica do Império com fotografias de Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 19 de agosto de 2019

Celebrando o fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 4 de dezembro de 2019

Uma homenagem da Casa Granado ao imperial sob as lentes de Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 7 de fevereiro de 2020

Ressaca no Rio de Janeiro invade o porão da casa do fotógrafo Marc Ferrez, em 1913, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado 6 de março de 2020

Petrópolis, a Cidade Imperial, pelos fotógrafos Marc Ferrez e Revert Henrique Klumb, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 16 de março de 2020

Bambus, por Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 5 de junho de 2020

O Baile da Ilha Fiscal: registro raro realizado por Marc Ferrez e retrato de Aurélio de Figueiredo diante de sua obra, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 9 de novembro de 2020

O Palácio de Cristal fotografado por Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 2 de fevereiro de 2021

A Estrada de Ferro do Paraná, de Paranaguá a Curitiba, pelos fotógrafos Arthur Wischral (1894 – 1982) e Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 22 de março de 2021

Dia dos Pais – Julio e Luciano, os filhos do fotógrafo Marc Ferrez, e outras famílias, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 6 de agosto de 2021

No Dia da Árvore, mangueiras fotografadas por Ferrez e Leuzinger, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 21 de setembro de 2021

Retratos de Pauline Caroline Lefebvre, sogra do fotógrafo Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 28 de abril de 2022

A Serra dos Órgãos: uma foto aérea e imagens realizadas pelos mestres Ferrez, Leuzinger e Klumb, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 30 de junho de 2022

O centenário da morte do fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 12 de janeiro de 2023

O Observatório Nacional pelas lentes de Marc Ferrez, amigo de vários cientistas, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 29 de maio de 2023

No Dia Mundial do Meio Ambiente, a potente imagem da Cachoeira de Paulo Afonso, por Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 5 de junho de 2023

A Fonte Adriano Ramos Pinto por Guilherme Santos e Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 18 de julho de 2023

Os 180 anos de nascimento do fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 7 de dezembro de 2023

 

A prisão do fotógrafo e aviador britânico S.H. Holland (1883 – 1936) no Rio de Janeiro, em 1930

Até o momento, as informações sobre o fotógrafo e piloto britânico Sidney Henry Holland (1883 – 1936) são esparsas. Conforme anunciado, a Brasiliana Fotográfica, a partir de uma pesquisa realizada, principalmente, na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional, importante ferramente de difusão de conhecimento, conta um pouco da trajetória de Holland no período em que atuou no Brasil, entre 1928 e 1932. Pilotando seu avião, era constantemente visto nos céus do Rio de Janeiro fazendo propaganda de peças teatrais, de lojas, de filmes cinematográficos e de candidaturas políticas. Além disso, comercializava imagens aéreas que produzia de paisagens e de aspectos da cidade, principalmente, no formato de cartões-postais, e também lecionava aviação. Combateu como piloto na Primeira Guerra Mundial e esteve na Argentina antes de chegar ao Brasil, em 1928, como chefe da seção de aviação da Aircraft Operating Co, contratada para fazer o levantamento da planta cadastral do Rio de Janeiro. No período em que morou no Brasil, produziu fotos aéreas de ilhas, de diversos bairros cariocas, dentre eles Botafogo, Copacabana, Ipanema, Leblon, Leme, Urca. Também fotografou outras cidades como Petrópolis e Friburgo.

 

 

Acessando o link para as fotografias de autoria do fotógrafo britânico S.H. Holland disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

Em 1930, Holland tinha uma empresa de reclames comerciais no Edifício Portella, na rua Rio Branco, 111, sala 511, e tinha dois representantes comerciais, os irmãos James Cecil Cotton e Cecil Howard Cotton. Seu ateliê fotográfico ficava na rua Capitão Salomão, anexo à Empresa Brasileira de Aviação Limitada. A partir de uma denúncia de que S.H. Holland havia produzido fotografias de pontos estratégicos da cidade e por requisição dos ministros da Guerra e da Marinha, a 4ª Delegacia Auxiliar do Rio de Janeiro prendeu Holland e os Cotton em seu escritório. Foram apreendidos seus arquivos de escrituração e fotografias e, em seu ateliê na rua Capitão Salomão, 30, anexo à Empresa Brasileira de Aviação Limitada, de sua propriedade, foi apreendido cerca de 40 contos de material fotográfico. A prisão e as apreensões foram baseadas nas determinações do Decreto 16983, de 22 de julho de 1925, que proibia fotografar pontos estratégicos da cidade, fortalezas e quartéis. A ação integrava a forte ação de repressão que a polícia estava realizando contra a fotografia aérea. Além disso, o avião de Holland não estava registrado na Aeronáutica. Holland e seus funcionários foram soltos pouco depois (Diário Carioca, 20 de abril de 1930, primeira coluna; Correio da Manhã, 20 de abril de 1930, penúltima coluna; Diário da Noite, 22 de abril de 1930, quinta coluna; O Jornal, 22 de abril de 1930 e Jornal do Brasil, 23 de abril de 1930, quinta coluna).

 

Transcrição da declaração de S.H. Holland em matéria de capa de O Jornal, 26 de abril de 1930, onde identificado foi como antigo capitão-aviador do Exército Britânico:

 

‘_ Fui preso por quatro agentes de polícia às 14h e meia do sábado passado – disse-nos o aviador quando jogava uma partida de “golf” no Gávea Golf Club. Levado para a 4ª delegacia auxiliar, fui recolhido incomunicável ao xadrez, onde hora depois entretanto, foram também recolhidos os srs. Cotton, meus agentes comerciais. À meia-noite daquele dia, chamado à presença do dr. Pedro de Oliveira Sobrinho, 4º delegado auxiliar, fui cientificado das razões de nossas prisões. Disse-me o delegado que, por denúncia recebida, sabia que eu, possuindo dois aviões, empregava-os para obter fotografias dos pontos estratégicos e por consequência incorria em grande crime. A propósito dos aviões, provei-lhe que só possuía um da marca “De Havilland Moth”, guardado no hangar existente em Manguinhos, onde também está depositado um outro do mesmo tipo e que vendi logo depois de minha chegada ao Rio há um ano ao dr. Raphael d´Chysosthomo de Oliveira, conhecido usineiro de Campos. Com relação às fotografias, prosseguiu o capitão – afirmei que a denúncia também não era verdadeira. Sempre empreguei o meu avião com finalidades comerciais, não só para anúncios como também para fotografar aspectos da cidade. É certo que em um panorama parcial do Rio, aparece, a um canto, a Fortaleza de Santa Cruz, mas ainda tão ao longe e tão reduzida que não passa de mero acidente da paisagem, sem relevo de mínima importância.

AS APREENSÕES

_ E perguntamos, as apreensões que a polícia efetuou em sua residência e aqui no escritório?

_ Foram as de papéis que nos guia e do arquivo de “negativos” que tinha em parte aqui  e em parte no meu laboratório, à rua Capitão Salomão, nº 30, onde, aliás, resido. Foi por ele examinando-o rigorosamente que a polícia verificou não haver eu dado motivos para a denúncia recebida. O número de “negativos” que possuo é superior a três mil e disso tiro a renda de que vivo. As diligências da polícia, apreendendo esse arquivo e levando-o para a 4ª delegacia, dão-me um prejuízo superior a cinquenta contos devido às “chapas” inutilizadas e à paralisação dos meus trabalhos. Felizmente estou de novo em liberdade, após cinco dias e duas hors de prisão juntamente com os meus companheiros srs. Cotton e assim poderemos recomeçar os trabalhos’.

 

 

 

Em uma matéria publicada sobre sua morte, no Correio da Manhã, 16 de dezembro de 1936, foi mencionado que S.H. Holland havia deixado o Brasil logo depois da Revolução de 1932, na qual teria se envolvido. Teria também se envolvido na Revolução de 30. O piloto faleceu quando combatia na Guerra Civil Espanhola em um avião vermelho de bombardeio ao lado das tropas governamentais da Espanha. Na primeira patrulha contra os americanos, Holland foi abatido dentro das linhas do general Franco. Integrava a primeira esquadrilha yankee, formada por 4 aviadores norte-americanos e por diversos pilotos voluntários ingleses, cuja base ficava perto da cidade espanhola de Bilbao (O Jornal, 20 de dezembro de 1936, sexta coluna).

 

 

Breve cronologia do fotógrafo e aviador britânico S.H. Holland (1883 – 1936)

 

 

1883 – Em Petworth, na Inglaterra, em 17 de março de 1883, nascimento de Sydney Henry Holland, filho de Arthur Charles Holland (1850 – 1936) e Amy Louisa Katherine Stratton (1857 – 1936).

1914 – 1918 – Combateu como piloto na Primeira Guerra Mundial.

1920 - Na Argentina, Holland sofreu um desastre de avião e ficou gravemente ferido. Ele estava pilotando um avião Avro, pertencente ao Aeroclube de Buenos Aires. Estava com o presidente da entidade, Nicanor Posse, e com o instrutor Gregorio Sandoval (O Paiz, 15 de abril de 1920, na penúltima coluna).

Holland sofreu outro acidente de avião, também na Argentina, e fraturou a perna (O Paiz, 26 de maio de 1920, penúltima coluna).

1923 - Ficou em terceiro lugar na Copa Wilbur Wright organizada pelo Aeroclube Argentino, em 5 de agosto de 1923, no circuito San Isidor, San Fernando e el Palomar com a participação de quinze pilotos.

 

 

 

Também na Argentina, em 9 de dezembro, Holland ficou em 2º lugar na Copa 19 de Novembro, competição de regularidade conhecida como Carrera Aérea de la Plata. Vinte e quatro pilotos participaram da prova.

 

 

1928 – Chegada de S. H. Holland ao Rio de Janeiro vindo da Europa no paquete Arandora. Veio com os engenheiros contratados pela prefeitura do Rio de Janeiro para fazer o levantamento da planta cadastral da cidade. Holland era o chefe da seção de aviação da comissão e o chefe da delegação da Aircraft Operating era o coronel do corpo de engenharia do exército inglês, T.T. Behrens Foi noticiado que Holland já conhecia o Rio de Janeiro de passagem e que dessa vez teria que ficar na cidade por pelo menos 3 anos para concluir o trabalho para o qual havia sido contatado (A Noite, 21 de junho de 1928, segunda colunaO Paiz, 22 de junho de 1928, segunda coluna e Correio da Manhã, 22 de junho de 1928, sétima coluna).

Foi aprovado no exame para motorista (Correio da Manhã, 7 de julho de 1928, primeira coluna).

O ministro da Viação, Vítor Konder (1886 – 1941), autorizou a revalidação da carta de piloto de Holland (Correio Paulistano, 18 de julho de 1928, na sexta coluna).

1929 – Na Exposição Ferroviária, os pilotos Charles Astor e S.H. Holland fizeram uma exibição de acrobacia aérea (Jornal do Brasil, 17 de agosto de 1929, terceira coluna).

1930 – Foi noticiado que as famosas artistas Margarida Max (c. 1890 – c.1960), estrela do teatro de revista, e Josephine Baker (1906 – 1975) já haviam voado com o capitão Holland.

A partir de uma denúncia de que S.H. Holland havia produzido fotografias de pontos estratégicos da cidade e por requisição dos ministros da Guerra e da Marinha, a 4ª Delegacia Auxiliar do Rio de Janeiro o prendeu em seu escritório no Edifício Portella, na avenida Rio Branco, nº 111., onde localizava-se sua empresa de reclames aéreos. Seus representante comerciais James Cecil Cotton e Cecil Howard Cotton também foram presos. No escritório, foram apreendidos seus arquivos de escrituração e fotografias. Em seu ateliê na rua Capitão Salomão, 30, anexo à Empresa Brasileira de Aviação Limitada, foi apreendido cerca de 40 contas de material fotográfico. A prisão e as apreensões foram baseadas nas determinações do Decreto 16983, de 22 de julho de 1925, que proibia fotografar pontos estratégicos da cidade, fortalezas e quartéis. A ação integrava a forte ação de repressão que a polícia estava realizando contra a fotografia aérea. Além disso, o avião de Holland não estava registrado na Aeronáutica (Diário Carioca, 20 de abril de 1930, primeira coluna; Diário da Noite, 22 de abril de 1930, quinta coluna; O Jornal, 22 de abril de 1930). e Jornal do Brasil, 23 de abril de 1930, quinta coluna). Pouco depois, foi apreendido na Alfândega uma aeroplano procedente do exterior para Holland (Correio da Manhã, 24 de abril de 1930, última coluna). Holland foi solto e seus funcionários foram soltos em 24 de abril (Correio da Manhã, 25 de abril de 1930).

Publicação de uma fotografia aérea de Petrópolis, a linda cidade de verão, de autoria de Holland e produzida especialmente para a revista O Cruzeiro (O Cruzeiro, 26 de abril de 1930).

Publicação de fotografias aéreas produzidas por Holland de diversos bairros do Rio de Janeiro, dentre eles Leme, Copacabana, Ipanema e Leblon, todos dentro da zona da recém instalada estação de telefonia automática “7”, localizada na rua Visconde de Pirajá, 44, em Ipanema (Sino Azul, junho de 1930).

O capitão Holland envolveu-se na Revolução de 30.

1931 – Na Feira Internacional de Amostras, o paraquedista Genaro Maddalun pulou de paraquedas de um avião cedido por Holland (A Esquerda, 14 de agosto de 1931, segunda colunaDiário de Notícias, 14 de agosto de 1931, última coluna, e Jornal do Commercio, 23 de agosto de 1931, quarta coluna).

Na página central da edição de O Cruzeiro, de 10 de outubro de 1931, publicação de uma fotografia aérea do Cristo Redentor, pouco antes de sua inauguração oficial, em 12 de outubro, produzida por Holland especialmente para a revista.

1932-  Holland envolveu-se na Revolução de 1932 e pouco depois deixou o Brasil.

1936 – Holland faleceu, em dezembro, quando combatia na Guerra Civil Espanhola em um avião vermelho de bombardeio ao lado das tropas governamentais da Espanha. Na primeira patrulha contra os americanos, Holland foi abatido dentro das linhas do general Franco. Também morreram os dois outros tripulantes do avião: um russo que o pilotava e um observador espanhol. Com Holland foram encontradas duas cartas, um cheque de 15 libras e duas notas de 100 pesetas. Em uma das cartas, escrita na véspera de sua morte, o aviador comentou que pilotava um aparelho não muito bom, e reclamou da desorganização vermelha, do atraso de seu pagamento, que havia sido acertado com o embaixador da Espanha em Londres na ocasião de seu alistamento; e também da falta de aquecimento no campo de aviação em que servia. Os documentos do piloto foram remetidos para a sua esposa em Londres inclusive as promessas dos vermelhos espanhóis de pagar aos seus herdeiros a importância de 1.500 libras, no caso em que ele morresse. Holland integrava a primeira esquadrilha yankee, formada por 4 aviadores norte-americanos e por diversos pilotos voluntários ingleses, cuja base ficava perto da cidade espanhola de Bilbao (Correio da Manhã, 16 de dezembro de 1936, terceira coluna; e O Jornal, 20 de dezembro de 1936 )

‘O chefe de três ataques simultâneos estava no setor de Bondilla, noroeste de Madri. Mouros e recém chegados alemães atacaram com tanques e aviões. Os legalistas venceram após 5 horas, matando 200 e ferindo vários. Sydney Henry Holland, que recentemente havia ido para a Espanha com outros aviadores britânicos, foi morto no front Vittoria quando os rebeldes revidaram um ataque no aeródromo contra 11 máquinas legalistas. O avião de Holland, pilotado por um russo, com um observador espanhol, foi derrubado por rajadas de metralhadoras. Os ocupantes morreram queimados. O correspondente do Daily Mail de Salamanca revelou que os documentos encontrados com Holland mostravam que o governo o havia empregado em 27 de novembro de 1936 com um salário de 220 libras por mês, subsídios de 24 libras, passagem de primeira-classe, um prêmio de 300 libras por cada máquina rebelde abatida, compensação por incapacitação por ferimentos, e 1500 libras para seu parente mais próximo em caso de morte… (Trove Advocate, 18 de dezembro de 1936).

 

 

 

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Dicionário Cravo Albim

ERMAKOFF , George. Rio de Janeiro 1900 – 1930 – Uma crônica fotográfica. Rio de Janeiro: G. Ermakoff Casa Editorial, 2006.

Ernst Udet y sus aviones en Argentina

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

Site Air History

Site The Kings Candlesticks – families trees

O sanitarista Belisário Penna (1868-1939), um dos protagonistas da história da saúde pública no Brasil

O sanitarista mineiro Belisário Penna (1868 – 1939) foi um dos protagonistas da história da saúde pública no Brasil. Após atuar como médico e ter se dedicado ao comércio, Belisário foi selecionado, em 1904, para atuar como inspetor sanitário da Diretoria Geral de Saúde Pública do Rio de Janeiro, gerida pelo cientista Oswaldo Cruz (1872 – 1917). No ano seguinte, foi transferido para o Serviço de Profilaxia da Febre Amarela. Combateu as epidemias de varíola e de febre amarela, no Rio de Janeiro, e o impaludismo, em Minas Gerais, onde permaneceu por três anos, tendo participado da principal descoberta médica do período: a descrição da etiologia da moléstia ainda desconhecida, a tripanossomíase americana. Participou de diversas expedições científicas por diversas regiões do país, uma delas a Porto Velho, onde estava sendo construída a ferrovia Madeira-Mamoré. Na ocasião, com Oswaldo Cruz, estudou as condições sanitárias e propôs um plano de combate à malária. Assumiu interinamente o Ministério da Educação e Saúde Pública, em 1931 e em 1932. É a trajetória de Belisário Penna que Ricardo Augusto dos Santos, pesquisador da Fiocruz, traz para os leitores da Brasiliana Fotográfica. A Fiocruz é uma das instituições parceiras do portal.

O sanitarista Belisário Penna (1868-1939)

Ricardo Augusto dos Santos* 

Dezenas de pesquisadores escreveram trabalhos sobre Belisário Penna e sua importância para as políticas públicas de saúde e educação. Após inúmeros textos sobre o sanitarista, haverá alguma revelação? Certamente. Além das descobertas propiciadas por documentos desconhecidos, sempre existirá a possibilidade de interpretações e correção de equívocos, quase sempre, devido a citações baseadas apenas em leituras bibliográficas, sem pesquisa empírica. Seria cansativo enumerar as passagens em artigos referindo-se à “Belisário Penna, cientista do IOC”. Ele nunca pertenceu aos quadros do Instituto Oswaldo Cruz e, tampouco, podemos afirmar que ele era cientista. Sua trajetória é um campo privilegiado para investigar os intelectuais daquele período. Um conjunto deles era representante das famílias abastadas, algumas em decadência econômica desde meados do período monárquico. Muitos eram filhos de proprietários de terras, mas sem capital financeiro e articulação com outras frações de classes em expansão graças à criação de indústrias. Devido aos conhecimentos adquiridos nos cursos superiores (Medicina, Direito e Engenharia) e relações pessoais, gradativamente, passaram a ocupar postos relevantes na administração pública. A capacidade de manejar capitais simbólicos, acumulados pelos diplomas, em associação com as relações pessoais (amizades, casamentos), permitiam operar com desenvoltura entre os cargos de poder.

Belisário Augusto de Oliveira Penna nasceu em 29 de novembro de 1868, em Barbacena, Minas Gerais. Filho homônimo do Visconde de Carandaí e de Lina Leopoldina Lage Duque. Ambos descendentes de grandes proprietários de terras. O casal teve oito filhos, criados em ambiente nobre, no qual não faltavam criados falando francês. Fez os cursos primário e ginasial em sua cidade natal no tradicional Colégio Abílio. Matriculou-se, em 1886, na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, concluindo o curso na Faculdade de Medicina da Bahia, no último ano. Terminando o curso, se casou com Ernestina Rodrigues Chaves, filha de João Rodrigues Chaves, fundador e diretor da faculdade de Direito (Salvador). Voltando a Barbacena, trabalhou como médico numa região tomada de agricultores de origem italiana. Também tentou a clínica em localidades próximas, acabando por fixar-se em Juiz de Fora, em 1896, onde assumiu as funções de médico da Hospedaria dos Imigrantes, demitindo-se ao final de um ano. Sua primeira esposa morreu de febre amarela. Dos quatro filhos que ela lhe deu sobreviveram dois: Maria e Celina. No ano seguinte, 1898, retornou à Bahia e, ao visitar os sogros, reafirmou os laços de parentesco: casou-se com a irmã de sua primeira esposa, Maria Augusta Chaves, com quem teve nove filhos. Retornando a Juiz de Fora, o trabalho não lhe dando o suficiente para a manutenção da família, dedicou-se ao comércio, abrindo uma firma de produtos alimentícios. A Belisário Penna & Cia. não prosperou. Mesmo elegendo-se vereador na cidade, o médico viveu com precariedade de recursos, recorrendo ao auxílio da família.

Acessando o link para as fotografias de Belisário Penna disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

Após a entrada de Oswaldo Cruz na DGSP (Diretoria Geral de Saúde Pública), realizaram-se concursos para as campanhas sanitárias de combate às doenças que assolavam o Rio de Janeiro (peste bubônica, febre amarela e varíola). Aprovado na seleção, Belisário tomou posse como inspetor sanitário. Em maio de 1904, iniciava suas atividades no centro da cidade, nas ruas Marquês de Sapucaí, Santana, General Pedra, Senador Eusébio, Visconde de Itaúna, São Leopoldo, Alcântara e Marquês de Pombal. Área de pequeno comércio e inúmeros cortiços, região habitada pelos descendentes dos negros escravizados e imigrantes (italianos, judeus, portugueses). A capital federal vivia, naquele momento, intensa epidemia de varíola que, no distrito a seu cargo, Belisário conseguiu dominar, recorrendo à vacinação de todos os moradores. Ocupando-se da vigilância médica e vacinação, inicialmente encontrou relutância da população, que logo foi superada, “graças ao seu jeito especial de lidar com o povo”. Sua maneira especial constituía em ameaçar recolher aos hospitais aqueles que não se vacinassem. Devido ao receio de ser conduzido a um lugar identificado com a morte, os habitantes daquela localidade pobre da cidade aceitavam a vacinação. No ano seguinte, foi transferido para o Serviço de Profilaxia da Febre Amarela, trabalhando nos bairros da Saúde e Gamboa.

Em 1906, partiu para combater o impaludismo entre os operários que construíram uma ferrovia, no norte de Minas Gerais. Permaneceu por três anos, participando da principal descoberta médica do período: a descrição da etiologia da moléstia ainda desconhecida, a tripanossomíase americana. Caso raro na história da medicina, Carlos Chagas descreveu todo o ciclo evolutivo da doença: o micro-organismo causador da enfermidade, os hospedeiros, o inseto vetor (barbeiro) e as manifestações clínicas no homem. Nos anos seguintes, no entanto, alguns médicos contestaram as afirmações de Chagas, o que gerou controvérsias sobre a descoberta. O alemão Rudolf Krauss questionou a abrangência da doença e suas relações com o bócio e o cretinismo, e um grupo da Academia Nacional de Medicina levantou dúvidas sobre a autoria da descoberta. Belisário recordaria os fatos acontecidos em 1909, manifestando solidariedade com Chagas. Contudo, declarava as diferenças que possuía com Chagas. Segundo os relatos, ele teria abandonado a direção do Departamento de Saneamento e Profilaxia Rural, órgão ligado ao DNSP (Departamento Nacional de Saúde Pública), criado em 1920 e tendo Chagas como diretor geral, por não concordar com a “interferência política” em seu trabalho.

No arquivo pessoal de Belisário Penna, encontramos documentos pessoais, fotografias, relatórios, textos e cartas. Em todos os itens, reconhecemos a presença do discurso apoteótico da campanha sanitarista. No entanto, nos recortes de jornais, constatamos a crítica às nomeações políticas que ele também fazia uso. É muito presente nas produções intelectuais do sanitarista a crença na racionalidade científica organizando a administração pública, independentemente dos conflitos políticos. Entretanto, sabemos que, muitas vezes, isso também é uma retórica política. Se Carlos Chagas realizou nomeações tendo em vista indicações políticas, Belisário Penna também não esteve imune a esta “epidemia” nacional.

Em 1910, vamos encontrá-lo, acompanhando Oswaldo Cruz na consultoria sobre a profilaxia da malária, que matava, segundo dizia-se, um operário para cada dormente assentado na construção da ferrovia Madeira-Mamoré. Durante o mês em que permaneceram em Porto Velho, Cruz e Belisário estudaram as condições sanitárias da região e propuseram um plano de combate à malária que prescrevia o uso diário, compulsório, de quinina pelos trabalhadores, sob pena de não receberam os salários caso não tomassem suas doses. O plano foi posto em prática pela empresa norte-americana ainda com a presença dos dois médicos. Após várias tentativas frustradas de construção da ferrovia, ela foi abandonada. Retornando ao Rio de Janeiro, na passagem por Belém, Cruz foi contratado pelo governo do Pará para combater a febre amarela na cidade. Implantou a Comissão de Profilaxia da Febre Amarela na capital paraense, no mesmo ano. Convocou vários médicos para a empreitada, entre as quais o próprio Belisário.

Ele percorreu, junto com Arthur Neiva, do Instituto Oswaldo Cruz, em 1912, o norte da Bahia, sudeste de Pernambuco, sul do Piauí e nordeste de Goiás, com o fim de estudar as condições sanitárias e os problemas de saúde existentes na região. Viajaram durante sete meses, registrando não apenas as doenças encontradas, mas também aspectos sociais, econômicos e culturais das populações locais. Este momento é exposto como ponto de inflexão da carreira do sanitarista. Em 1913, visitaria os estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Depois reassumiu o cargo de inspetor sanitário no Rio de Janeiro, passando a trabalhar nos subúrbios da Leopoldina. Em março de 1916, foi instalado em Vigário Geral (RJ), aquele que foi considerado o primeiro posto de profilaxia rural do Brasil. A partir deste momento, o chamado movimento sanitarista ganhou força. A fundação da Liga Pró-Saneamento do Brasil, que congregou vários intelectuais e políticos, foi resultado da repercussão alcançada pelo livro Saneamento do Brasil de Belisário Penna. Constituído pelos artigos de jornal, publicados em 1916 no jornal O Correio da Manhã, marcaram o percurso de Belisário como incansável militante da causa sanitarista no Brasil. Como decorrência da campanha do movimento sanitarista, o presidente Wenceslau Brás, em maio de 1918, teria ficado impressionado e criado o Serviço de Profilaxia Rural, nomeando o sanitarista para dirigi-lo.

 

 

Em 1924, em carta aberta aos filhos, apoiou a revolta tenentista de 5 de julho daquele ano, em São Paulo. Preso, foi enviado à capital paulista e, em seguida transferido para o Rio de Janeiro, onde ficou detido por seis meses. Foi suspenso de suas funções como delegado de saúde, sendo reintegrado apenas em 1927. Posto em disponibilidade, ele prosseguiu na campanha pelo saneamento pela imprensa. Mas, foi como empregado do Laboratório Daudt, Oliveira & Cia., que percorreu novamente o país, realizando conferências e anunciando os produtos desta empresa farmacêutica. Belisário retornaria em 1927 à administração pública, como inspetor de Propaganda e Educação Sanitária. Percorreu então os estados de Minas Gerais, Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, até ser requisitado pelo presidente do estado do Rio Grande do Sul, Getulio Vargas, para organizar o serviço estadual de higiene. No Sul, iniciou um período de trabalho intenso, proferindo conferências e formulando o seu Plano de Educação Higiênica, indicando providências relativas a problemas de saúde. Merece destaque seu engajamento na Revolução de 1930. Após a vitória do movimento, foi nomeado diretor do Departamento Nacional de Saúde Pública.

 

 

Em 1o de setembro de 1931, assumiu interinamente o Ministério da Educação e Saúde Pública, recém-criado pelo governo federal, substituindo Francisco Campos por três meses. O ‘caixeiro-viajante da higiene’ alcançava, após décadas de atuação, o cargo máximo na área da saúde pública. Belisário ainda voltou a exercer interinamente a chefia do ministério, em dezembro de 1932. No início do ano seguinte, solicitou aposentadoria. Em uma das suas últimas manifestações públicas, compareceu, com uniforme integralista, cercado pelos companheiros camisas-verdes, a um encontro com o Getulio Vargas. Foram comunicar ao presidente da República, o resultado da escolha de Plínio Salgado como candidato a uma provável eleição presidencial. O sanitarista era filiado a Ação Integralista Brasileira (AIB). Membro da Câmara dos 40, órgão político do movimento. Em 1938, após a tentativa de golpe desfechada pelos integralistas, o movimento foi reprimido e ele retirou-se da política para viver em sua fazenda, no interior do estado do Rio de Janeiro. Faleceu em 4 de novembro de 1939.

 

 

 

*Ricardo Augusto dos Santos é Pesquisador Titular da Fundação Oswaldo Cruz

 

Fontes:

DOS SANTOS, Ricardo Augusto. O Plano de Educação Higiênica de Belisário Penna: 1900-1930. Dynamis, v. 32, p. 45-68, 2012.

A criação de uma vacina para a peste da manqueira, um marco na história da veterinária brasileira e mundial

Cristiane d’Avila, jornalista do Departamento de Arquivo e Documentação da Casa de Oswaldo Cruz, uma das parceiras da Brasiliana Fotográfica, conta a história da criação da vacina para a peste da manqueira. Foi por iniciativa de Oswaldo Cruz que as pesquisas sobre o assunto começaram a ser feitas no Brasil, no início do século XX, quando ele acumulava a função de diretor do Serviço de Profilaxia da Febre Amarela da Diretoria Geral de Saúde Pública e também do Instituto Soroterápico Federal, que viria a ser denominado Instituto Oswaldo Cruz, em 1908, e, posteriormente, Fundação Oswaldo Cruz. Ele convocou seus colegas Ezequiel Dias e Henrique Rocha Lima para investigarem a moléstia, mas, após 1905, o cientista Alcides Godoy tornou-se o responsável pelo projeto. A partir de 1908, o Instituto Oswaldo Cruz passou a produzir e fabricar em escala comercial a primeira vacina veterinária brasileira de combate a doenças infectocontagiosas. Um marco na história da veterinária brasileira e mundial.

Cristiane d’Avila *

“Peste da manqueira”, “mal do ano”, “mal do quarto inchado”, “blackleg” (nos países de língua inglesa). Os nomes populares atribuídos a doenças dizem muito sobre os danos à saúde humana e animal ou mesmo sobre os prejuízos financeiros que podem provocar. Em tais situações, somam-se esforços para que se encontrem respostas, antídotos e tratamentos que debelem as causas e minimizem os efeitos provocados por elas. No caso do carbúnculo sintomático, não foi diferente.

Era início do século XX. Pecuaristas mineiros, atônitos com a moléstia que acometia os bezerros e bovinos jovens, causando imensa mortandade e prejuízos galopantes, buscavam soluções para a situação. A doença, letal, iniciava-se com febre e inchaço da musculatura, especialmente das regiões chamadas “quartos” dos bovinos, atrofiando-as e provocando o andar manco. Não à toa, recebeu denominações que a classificaram popularmente como “peste” e “mal”.

Durante muito tempo confundido com o antraz, o carbúnculo sintomático não abatia apenas os rebanhos brasileiros. Tratava-se de uma doença de impacto mundial, porém mais ativa em países tropicais, que apresentava como vetor o microrganismo anaeróbico Clostridium chauvei. O germe havia sido cultivado e analisado pela primeira vez, em 1887, pelo bacteriologista francês Émile Roux, do Instituto Pasteur de Paris. Antes disso, foi estudado por Arloing, Cornevin e Thomas, que de 1887 a 1894 investigaram exaustivamente a etiologia, a epizootiologia, a manifestação clínica ea  patologia da doença. Em 1887, o trio publicou o livro Le Charbon symptomatique d uboeuf, porém não obteve sucesso na produção de um imunizante para o mal.

Em 1903, Oswaldo Cruz, já interessado em pesquisas sobre o carbúnculo sintomático, convidou o então estudante de medicina Alcides Godoy (1880 – 1950) para ingressar, como auxiliar acadêmico, no Serviço de Profilaxia da Febre Amarela da Diretoria Geral de Saúde Pública, a fim de trabalhar na produção de soros e vacinas. Nesse período, Cruz acumulava a função de diretor deste serviço e também do Instituto Soroterápico Federal (que viria a ser denominado Instituto Oswaldo Cruz, em 1908, e, posteriormente, Fundação Oswaldo Cruz).

 

 

Atento às pesquisas em curso no exterior, Oswaldo Cruz já havia adquirido e consultado a obra de Arloing, Cornevin e Thomas. Incansável na busca por respostas, colocou os colegas do Instituto Ezequiel Dias e Rocha Lima para investigarem a moléstia, mas após 1905 Godoy tornou-se o responsável pelo projeto. Enquanto isso, Henrique da Rocha Lima, pesquisador e “braço direito” de Oswaldo Cruz, usando técnica aprendida durante uma estadia na Alemanha, obteve colônias anaeróbicas do germe, cedendo-as a Godoy para investigação científica.

 

Voltado totalmente à pesquisa, Godoy (na foto ao lado) foi original: empregou um meio de cultura especial para bactérias anaeróbicas, com uso de glicose, a fim de obter uma “raça” diferenciada de bactérias de virulência atenuada, criando uma vacina com o clostridiumchauvoei vivo. Logo que foram confirmadas, em laboratório, as propriedades vacinantes de suas culturas, Godoy viajou, em 1906, para Juiz de Fora, Minas Gerais, em companhia dos pesquisadores do Instituto Rocha Lima e de Carlos Chagas, para executar os testes finais. A primeira demonstração pública da vacina, entretanto, não obteve o resultado esperado e alguns animais faleceram.

De volta a Manguinhos, Godoy descobriu a causa do insucesso: uma maior virulência do lote da vacina preparada para o teste. Corrigida a falha, novas inoculações foram feitas, desta feita com absoluto sucesso. A descoberta fez o então Instituto Oswaldo Cruz produzir e fabricar em escala comercial, a partir de 1908, a primeira vacina veterinária brasileira de combate a doenças infectocontagiosas. Um marco na história da veterinária brasileira e mundial.

 

 

Acima, a foto emblemática do fotógrafo J. Pinto (1884 – 1951) registra o trabalho de embalagem dos frascos e acondicionamento das vacinas em caixas, no IOC. Para o fotógrafo Roberto Jesus Oscar, do Departamento de Arquivo e Documentação da Casa de Oswaldo Cruz, onde a foto original de J. Pinto está depositada, essa imagem, gerada a partir de negativo de vidro, esbanja composição, enquadramento e equilíbrio de contrastes, enchendo a imagem de luz, volume e textura. Aos olhos de hoje a imagem pode causar estranheza, mas trata-se de uma ótima representação da história de Manguinhos, um ícone do acervo da Instituição.

É importante ressaltar que após a obtenção do registro da patente da vacina, Godoy efetuou uma escritura de cessão que transferia sua descoberta para o IOC, com o propósito de incentivar as atividades de exploração industrial do imunizante. A verba obtida com a venda da vacina auxiliou a instituição a cobrir gastos com o ensino, a pesquisa e a produção, sem submeter-se à burocracia governamental vigente, ao mesmo tempo em que representou um estímulo aos pesquisadores para o desenvolvimento de produtos biológicos a serem patenteados e vendidos (CHAMAS, 2006). Até 1917, ano da morte de Oswaldo Cruz, Godoy recebeu 5% da renda obtida com a venda das vacinas. A partir dessa data, esse percentual passou para 8% do total das vendas da vacina.

De acordo com um quadro elaborado por Oscar Meira, e apresentando por Benchimol, no período de 1906 a 1918 o Instituto produziu 7.111.698 doses da vacina contra a peste da manqueira. No mesmo período, a vacina foi o produto biológico mais produzido, perdendo apenas, em 1918, para a maleína, uma substância empregada no teste (prova de maleína) para diagnóstico do mormo, uma doença infectocontagiosa que acomete cavalos. (MORAES, 2008)

 

 

A princípio, a distribuição da vacina ficava a cargo do Ministério da Agricultura e de alguns órgãos públicos da esfera estadual e municipal. Cioso da importância da tarefa e obcecado com a eficiência deste processo, em 1913, Oswaldo Cruz (de chapéu branco, ao centro) cria a Seção de Propaganda da Vacina contra a Peste da Manqueira, assumindo totalmente a distribuição. Godoy está de pé, na ponta direita da foto.

A pesquisadora Alice Ferry de Moraes destaca o depoimento de Delfim Moreira, deputado estadual por Minas Gerais de 1894 a 1902, Secretário do Interior de Minas Gerais de 1914 a 1918 e, mais tarde, presidente do Brasil no período de 1918 a 1919, sobre o impacto da vacina (MORAES, 2008):

Se nós somos um país exportador de carne devêmo-lo (sic) a Manguinhos. Desse infalível produto, tirou Oswaldo Cruz, na época da pobreza daquele grande Instituto, o necessário para sua biblioteca, para as pesquisas, para o contrato de funcionários técnicos, enfim, todos os meios de progredir e realizar. (MAGALHÃES apud MORAES, 2008)

As vacinas foram produzidas pelo IOC até 1939. Em razão da promulgação de uma lei que proibia os cientistas lotados em instituições públicas de receberem dinheiro por suas patentes, Godoy fundou a Produtos Veterinários Manguinhos Ltda., juntamente com o pesquisador Astrogildo Machado, com quem criou outra vacina também importante – a vacina contra o Carbúnculo Hemático ou Verdadeiro, conhecido como Antraz, patenteada sob o n.º 9.981, em 1918 (CHAMAS, 2006).

 

Abaixo o texto de Oswaldo Godoy, filho de Alcides Godoy, publicado na Agência Fiocruz de Notícias em 15 de agosto de 2008, ano do centenário da primeira patente registrada pelo IOC:

 

‘A vacina contra a manqueira começou a ser distribuída e vendida já em 1906. Ela imunizava o gado com uma só aplicação. Na exposição de demografia e higiene realizada de Berlim, em junho de 1907, na qual o Instituto obteve a medalha de ouro, a vacina da manqueira foi um dos destaques selecionados, dentre os produtos fabricados para representar as atividades do IOC.

A premiação em Berlim foi determinante para que o Ministério da Justiça e Negócios Interiores aprovasse um novo regulamento, proposto por Oswaldo Cruz, visando expandir de modo expressivo as atribuições do Instituto, que passaria a gozar de considerável autonomia administrativa e financeira, sendo esta última garantida, principalmente, pela renda advinda da venda da vacina na manqueira. Tais recursos, que permitiam ao Instituto não depender apenas do orçamento governamental, foram fundamentais para contratar novos pesquisadores e, assim, ampliar o quadro de pessoal da instituição.

O próprio Oswaldo Cruz, em função da repercussão e da originalidade do processo desenvolvido por Godoy, aconselhou-o a patentear em seu nome a invenção. A carta patente nº 5.566 foi obtida em 24 de novembro de 1908. A publicação no Diário Oficial se deu em 6 de dezembro daquele ano. Ainda em 1908, cedeu, por escritura pública, ao Instituto Oswaldo Cruz, representado por seu diretor Oswaldo Cruz, os direitos de exploração comercial do seu privilégio de invenção (a vacina contra a manqueira).

No mesmo ano de 1908, Godoy publicou, com a colaboração de Gomes de Faria (que havia sido recentemente contratado pelo IOC), um trabalho analisando as variáveis no meio de cultura que poderiam ter causado a maior virulência da vacina responsável pelos problemas em Juiz de Fora, confirmando-se que a concentração da glicose havia sido a responsável pela redução da virulência da vacina (aspecto que havia sido identificado e solucionado por Godoy naquela ocasião, em 1906).

Além de dedicar-se ao tema da manqueira, como sua atividade principal, Godoy desenvolvia outras atividades – como era de praxe entre todos os pesquisadores de Manguinhos –, como a produção dos soros antidiftérico e antitetânico, e na dosagem do soro antipestoso. Com Astrogildo Machado, desenvolveu, em 1918, outra importante vacina produzida e comercializada pelo IOC, contra o carbúnculo hemático.

Outra frente importante de trabalho de Godoy em Manguinhos foi a criação de diversos dispositivos e aparelhos para facilitar e aperfeiçoar os procedimentos de produção, como o “frasco Dr. Godoy”, desenvolvido por ele para facilitar a coleta de mosquitos pelos “mata-mosquitos” que atuavam nas campanhas sanitárias.

Numa época em que as atividades de produção, ensino e pesquisa eram realizadas de modo bastante conjugado pelos pesquisadores, Godoy foi também professor do curso de aplicação do Instituto, criado em 1908 para oferecer treinamento experimental nas áreas de microbiologia e zoologia médica.

Godoy fez três viagens de estudo à Europa. Em 1912, foi enviado aos Laboratórios de Leipzig, na Alemanha, a fim de acompanhar pesquisas concernentes a questões de físico-química aplicada à ciência médica. Em 1919, permaneceu quatro meses na Europa; foi designado para esta viagem a partir da solicitação, feita a Manguinhos pela representação diplomática inglesa, para que algum médico embarcasse num navio inglês aportado no Rio cujo médico de bordo havia adoecido. Esta foi, conforme relatou certa ocasião, a única vez que exerceu a clínica médica. Finalmente, em 1925, esteve na Itália acompanhando Carlos Chagas no 1º Congresso de Malariologia, realizado em Roma, e para estudar os modernos processos de profilaxia da malária empregados naquele país.

Integrante do chamado “jardim da infância da ciência”, como Oswaldo Cruz carinhosamente chamava o grupo inicial de pesquisadores de Manguinhos, Godoy sempre gozou da confiança e apreço tanto de Cruz quanto de seu sucessor, Carlos Chagas, substituindo-os, várias vezes, em suas ausências, na direção do instituto.

Em 1923, Carlos Chagas solicitou ao Ministério da Justiça a renovação da patente da vacina da manqueira por mais 15 anos. Foi o segundo produto que obteve no Brasil a renovação da Patente, fato só obtido anteriormente pela Fornicída Matarazzo. Em 1937, como conseqüência da reforma implementada por Gustavo Capanema no Ministério da Educação e Saúde (criado em 1930, no âmbito da Revolução de 1930), foi vedada ao IOC a fabricação e comercialização desse e outros produtos veterinários.

Em 26 de junho de 1938, Godoy e Machado pediram o registro da marca genérica para produtos veterinários Manguinhos. Suas famílias fundaram em 25 de janeiro de 1939, uma firma que se chamou Produtos Veterinários Manguinhos Ltda, para fabricar e comercializar a vacina da manqueira, do carbúnculo hemático, e posteriomente a vacina contra a pneumoenterite dos porcos. O primeiro lugar em que estabeleceram o laboratório foi em prédio nos fundos do Hospital Gaffrée Guinle, na Rua Silva Ramos 20. Tiveram por muitos anos escritório na Rua Uruguaiana 33. Na década de 40 construíram um laboratório na Rua Licinio Cardoso 91 (hoje Rua Francisco Manuel), em Benfica.

Godoy casou-se com Dulce Leite de Castro em 5 setembro de 1923 e tiveram dois filhos: Oswaldo Tarcisio, que veio a se formar em Química Industrial e Engenharia Química e Margarida Maria, que estudou música, tocava piano e estudou na Europa. Faleceu em 30 de janeiro de 1950, aos 70 anos. Na década de 60 a família Godoy saiu da sociedade, que ficou com a família de Machado. A firma, que continua a fabricar a vacina da manqueira, foi vendida recentemente pelos seus descendentes e pertence hoje à empresa Bravet’.

 

* Cristiane d’Avila é jornalista do Departamento de Arquivo e Documentação da Casa de Oswaldo Cruz

 

Fontes:

BENCHIMOL, Jaime L. Manguinhos do sonho à vida: a ciência na belle époque. Rio de Janeiro: Casa de Oswaldo Cruz; Fiocruz, 1990.

CHAMAS, Claudia Inês. A Propriedade Intelectual e a Vacina contra a Peste da ManqueiraRevista Brasileira de Inovação, [S.l.], v. 5, n. 1 jan/jun, p. 203-218, junho 2006. ISSN 2178-2822.

GODOY, Alcides. Primeira vacina veterinária desenvolvida e fabricada no Brasil completa 100 anos. Agência Fiocruz de Notícias.

MAGALHÃES, Octávio de. Alcides Godoy. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, t. 49, mar. 1951. p. 1-6.

MORAES, Alice Ferry de. A inovação e a vacina da peste da manqueira. Inf. &Soc.:Est., João Pessoa, v.18, n.3, p. 97-103, set./dez. 2008. ISSN 1809-4783

 

 

O fotógrafo, botânico e naturalista alemão George Huebner (1862 – 1935)

O fotógrafo, botânico e naturalista alemão George Huebner (1862 – 1935) foi um dos estrangeiros atraídos a Manaus quando a cidade, com o ciclo da borracha, tornou-se um importante pólo econômico. Estabeleceu-se comercialmente em Belém, onde, em 1897, colaborou com o fotógrafo português Felipe Augusto Fidanza (c. 1847 – 1903). Em novembro do mesmo ano, apresentando-se como membro correspondente da Sociedade Geográfica de Dresden, informava a abertura de um ateliê fotográfico em Manaus, a Photographia Allemã, no antigo Hotel Cassina, junto ao palácio do governo. O ateliê mudou algumas vezes de endereço. Como fotógrafo registrou a chegada da modernidade em Belém e em Manaus, etnias indígenas, retratos de personalidades importantes de sua época, a sociedade que surgiu a partir do apogeu da economia da borracha e paisagens da floresta amazônica.

Acessando o link para as fotografias de George Huebner disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

Ao longo de vinte anos, entre 1903 e 1924, Huebner manteve um relacionamento de trabalho e de amizade com o etnólogo alemão Theodor Koch-Grünberg (1872 – 1924). Essa parceria refletiu-se na produção profissional – fotográfica e etnográfica – de ambos. Fotografias e traduções de vocabulários indígenas colhidos por Huebner foram usados por Koch-Grünberg  na ilustração e composição de vários de seus artigos.

Em 1906, Huebner e o professor de Belas-Artes Libânio do Amaral (? – 1920), com quem já estava associado desde 1902, adquiriram, em Belém, o ateliê fotográfico Fidanza, que havia sido o mais tradicional do Pará. Dois anos depois, em 1908, Huebner foi pela primeira vez ao Rio de Janeiro, onde ele e Libânio do Amaral ganharam a medalha de prata e a medalha de ouro pelo Amazonas e o Grande Prêmio pelo Pará, na Exposição Nacional de 1908 (Almanak Laemmert, 1909). Em 1911, foi publicada uma propaganda da Photografia G. Huebner & Amaral informando que seria aberta e estaria à disposição do público para executar qualquer trabalho fotográfico a partir do dia 1º de janeiro de 1911, no Rio de Janeiro. Situava-se no edifício de O Paiz, na esquina da avenida Central com Sete de Setembro (A Notícia, 2 de janeiro de 1911, última coluna).

 

 

Antes, na década de 1880, Huebner veio pela primeira vez para a América do Sul e, em 1888, estabeleceu-se no Peru, onde conheceu o fotógrafo alemão Charles Kroehle (c. 1876 – c. 1902). Durante cerca de três anos e meio, percorreram o território peruano, desde os altiplanos andinos até a costa do Pacífico e a região amazônica. Nessa expedição foram registradas centenas de fotos assinadas pelos dois. Essas imagens são as primeiras de etnias peruanas como os campa, caxibo, cunivo, mayonisha, pito, xipibo, muitas já extintas, de que se tem notícia.

Retornou a Dresden e, em 1894, voltou à Amazônia e fez duas expedições: a primeira, à nascente do rio Orinoco, já na Venezuela, e a outra por um longo trecho do rio Branco, afluente do rio Negro. Nos oito meses em que permaneceu na floresta amazônica, Huebner também aprofundou seus conhecimentos de botânica amazônica, ao coletar e documentar espécimes da flora, especialmente de orquídeas. Dois anos depois, em 1896, ele e o fotógrafo José Gomes Leite (18? – 19?) seguiram no vapor Tabatinga para o Rio Madeira, comissionados pela casa artística do sr, Antonio Luciani, a serviço de suas profissões (Diário Oficial(AM), 25 de janeiro de 1896, última coluna).

 

 

Sobre os registros de indígenas produzidos por Huebner, segundo o site O índio na fotografia brasileira, o fotógrafo tinha uma preocupação em manter preservadas em suas imagens tanto as características que os tornavam indígenas “exóticos” quanto fotografá-los em situações e posições diferentes das habituais. Nos retratos realizados durante suas expedições, o fotógrafo primava pelas expressões de descontração e espontaneidade que extraía de seus retratos, em técnicas e linguagens que evoluíram junto com seu desenvolvimento profissional. Foi dessa forma que, ao fotografar índios Apurinã, Wapixana, Makuxi, Taurepang (ou Menon), Marqueritare e Bindiapá, entre outras, Huebner extraía semblantes que transpareciam as relações de negociação que permeavam os bastidores da captura de imagens de seus modelos.

Além do Instituto Moreira Salles, também possuem fotografias de George Huener em seus acervos o Museu Histórico Nacional, o Musée d´Ethnographie, o Museum Völkerkunde, o Verein für Erdkunde, a Oliveira Lima Library e Boris Kossoy.

 

Breve cronologia do fotógrafo George Huebner (1862 – 1935)

 

George Huebner (na cabeceira) com amigos / Revista Studium da Unicamp.

 

1862 – Nascimento de Georg Hübner, em Dresden, na época, uma das mais importantes cidades da Alemanha. Posteriormente seu nome foi latinizado para George Huebner.

1885 – Huebner realizou sua primeira viagem à América do Sul. Já mantinha contato com sociedades científicas, para as quais iria coletar dados e imagens sobre os povos nativos da região.

1888 - Huebner fez viagens pelo Peru e, estabelecido em Lima, conheceu Charles Kroehle, um fotógrafo alemão. Durante cerca de três anos e meio, percorreram o território peruano, desde os altiplanos andinos até a costa do Pacífico e a região amazônica.

1892 – Huebner retornou a Dresden, publicou textos ilustrados em revistas de ciência popular e de viagens como Globus e Deutsche Rundschau für Geographie und Statistik. Fez palestras em sociedades científicas e forneceu imagens para artigos científicos. Foi sua primeira incursão no meio científico.

1894 – Voltou à Amazônia e fez duas expedições: a primeira, à nascente do Orinoco, já na Venezuela, e a outra por um longo trecho do rio Branco, afluente do rio Negro. Nos oito meses em que permaneceu na Floresta Amazônica, Huebner também aprofundou seus conhecimentos de botânica amazônica, ao coletar e documentar espécimes da flora, especialmente de orquídeas.

1894 /1895 / 1896 – Ao longo desses anos, retornou a Dresden e voltou para o Brasil.

c. 1895 - Coletou o holótipo do lagarto do verme do rio Inirida, que foi posteriormente batizado em sua homenagem como Mesobaena huebneri .

1896 - Foi admitido como naturalista, sócio-correspondente do Verein für Erdkunde (Sociedade de Geografia) de Dresden.

Huebner e o também fotógrafo Gomes Leite seguiram no vapor Tabatinga para o Rio Madeira, comissionados pela casa artística do sr. Antonio Luciani, a serviço de suas profissões (Diário Oficial(AM), 25 de janeiro de 1896, última coluna).

1897 – Em Belém, colaborou com o fotográfo português Felipe Augusto Fidanza (c. 1847 – 1903).

Em novembro, George Huebner, apresentando-se como membro correspondente da Sociedade Geográfica de Dresden, informava a abertura de um ateliê fotográfico em Manaus, a Photographia Allemã, no antigo Hotel Cassina, junto ao palácio do governo (Jornal do Rio Negro, 7 de novembro de 1897).

1899 – Huebner anunciou que seguiria para o rio Juruá e que, durante sua ausência, a Photographia Allemã seria gerenciada por José Gomes Leite (Commercio do Amazonas, 4 de fevereiro de 1899, sexta coluna).

1900 – Huebner anunciou seu estabelecimento fotográfico na rua São Vicente, 23, onde fazia retratos de todos os gêneros e em platinotipia e crayon, diversas vezes ao longo de 1900 (Commercio do Amazonas, 25 de abril de 1900).

 

 

Huebner fotografou a sessão extraordinária do Congresso do Estado do Amazonas (A Federação, orgam do Partido Republicano Federal (AM), 10 de julho de 1900, terceira coluna).

Foi noticiado uma grande afluência de curiosos ao escritório da redação do Commercio do Amazonas para apreciarem as fotografias do sahimento do dr. Eduardo Ribeiro, trabalho do conceituado “atelier” do sr George Huebner . Sahimento é a procissão de condução do cadáver (Commercio do Amazonas, 23 de outubro de 1900, sexta coluna).

Em torno desse ano, foram produzidas as fotografias do Álbum de Vistas de Manaus.

 

 

1902 – Associou-se a Libânio do Amaral (? – 1920), professor de Belas Artes. A Photographia Allemã ficava na rua Eduardo Ribeiro (O Palito, 1º de junho de 1902).

Lindos leques em que se aprecia o primor artístico do exímio desenhista Libânio Amaral da acreditada Photographia Allemã de Huebner & Amaral seriam os mimos para a barraca amazonense (Quo vadis?, 21 de novembro de 1902, última coluna).

Huebner & Amaral fizeram vistas da festa de Natal de 1902 e realizaram uma estereotipia da festa do Christo, em Manaus (Quo vadis?, 28 de dezembro de 1902, quinta coluna).

Huebner forneceu 8 retratos para o Ginásio Amazonense (Mensagens do governador do amazonas para a Assembleia, 1902).

1903 – A delegacia fiscal do Amazonas comprou um retrato do presidente da República, Rodrigues Alves, realizado por Huebner & Amaral (Quo vadis?, 28 de janeiro de 1903, quinta coluna).

O etnólogo alemão Theodor Koch-Grünberg chegou a Manaus para iniciar sua expedição ao alto Rio Negro, patrocinado pelo Museu de Berlim. Dois anos antes havia se apresentado como voluntário do Museu Etnográfico de Berlim e, em 1902, foi contratado como pesquisador assistente trabalhando sob a tutela do pesquisador Karl von den Steinen. Nesse mesmo ano, obteve seu doutoramento na Universidade de Würzburg.

Theodor conheceu Huebner, com quem estabeleceu laços de amizade e uma colaboração profissional de quase 22 anos, que só terminaria com sua morte prematura por malária, em 1924, em Vista Alegre, no atual estado de Roraima. Segundo Andreas Valentin, a parceria entre os dois já se transformara em cumplicidade, que transparecia nas suas cartas. É importante, no entanto, lembrar que Huebner não tivera formação superior de qualquer espécie. Era de se esperar que um homem das ciências, para ser reconhecido como tal, fosse treinado e passasse por todos os trajetos e rituais da Academia. Não foi este o caso de Huebner. A confiança que ele conquistou não só de Koch Grünberg como também de outros cientistas e instituições, principalmente após abandonar o negócio fotográfico, se deve aos seus próprios méritos, como profissional dedicado não apenas à sua atividade-fim, mas também como investigador meticuloso, preciso e sempre em busca do desconhecido. Acrescenta-se, ainda, a postura humanista que eles compartilhavam em sua preocupação com a rápida extinção dos índios.

1904 – O folheto Kautschukgewinnung am Amazonen – Strome, de 15 páginas, sem data, fazia parte da bibliografia do artigo “Chelonios do Brasil”. Foi publicado como texto explicativo de 8 grandes fotografias publicadas pelos srs. G. Huebner & Amaral, de Manaus. Contém uma breve resenha da indústria de borracha no amazonas, com indicações originais sobre as árvores de borracha, os seringais, os processos de extração e preparação e a exportação (Boletim do Museu Paraense de História Natural e Etnografia, 1904 )

Huebner e Amaral ofereceram  à redação do jornal Quo Vadis? duas lindas coleções de bilhetes postais, com fotografias de Manaus e do interior do Amazonas (Quo vadis?, 11 de fevereiro de 1904, segunda coluna). Ao Jornal do Commercio(AM), ofereceram fotografias do edifício do jornal onde funcionavam seus escritórios e oficinas (Jornal do Commercio (AM), 13 de abril de 1904, segunda coluna).

Huebner & Amaral realizaram quadros de 110 cm sobre 86, ampliações de fotografias, em moldura de madeira da terra, das diversas fases do cultivo e do beneficiamento da borracha (Jornal do Commercio, 17 de abril de 1904, segunda coluna).

Huebner chegou em Manaus, vindo de Belém, no vapor Campos Salles (Jornal do Commercio (AM), 14 de junho de 1904, quarta coluna).

O monsenhor Luis Gonzaga de Oliveira e um grupo de seus ex-discípulos foram fotografados no ateliê de Huebner & Amaral. Durante a reunião, o compositor Caetano Briones executou ao piano a música Rio Negro, de sua autoria (Jornal do Commercio (AM), 19 de junho de 1904, quarta coluna).

Huebner estava em Dresden, na Alemanha (Jornal do Commercio (AM), 23 de setembro de 1904, terceira coluna). Em 29 de outubro, já estava de volta em Manaus (Jornal do Commercio (AM), 29 de outubro de 1904, segunda coluna).

O governador do Amazonas, coronel  Constantino Neri (1859 – 1926), foi presenteado com uma fotografia dele produzida por Huebner & Amaral (Jornal do Commercio (AM), 9 de dezembro de 1904, segunda coluna).

O ateliê de Huebner & Amaral é elogiado como o preferido do público devido às incontestáveis provas de competência (Jornal do Commercio (AM), 15 de dezembro de 1904, quarta coluna).

1905 - Exposição de retratos produzidos por Huebner & Amaral dos cinco presidentes do Brasil até então: Deodoro da Fonseca (1827 – 1892), Floriano Peixoto (1839 – 1895), Prudente de Morais (1841 – 1902), Campos Salles (1841 – 1913) e Rodrigues Alves (1848 – 1919) (Jornal do Commercio (AM), 11 de fevereiro de 1905, segunda coluna).

Huebner foi um dos fiscais do carnaval realizado na primeira avenida de Manaus (Jornal do Commercio (AM), 7 de março de 1905, primeira coluna).

Huebner importou artigos fotográficos da Europa (Jornal do Commercio (AM), 9 de junho de 1905, quarta coluna).

Durante uma sessão na Academia de Letras, em Manaus, Huebner teve uma discussão com o fotógrafo italiano Panigal. Amobos fotografavam a ocasião (Jornal do Commercio, 6 de agosto de 1905, última coluna).

1906 – Huebner e Libânio do Amaral adquiriram, em Belém, o ateliê fotográfico Fidanza, que havia sido o mais tradicional do Pará – pertencia ao fotógrafo português Felipe Augusto Fidanza (c. 1847 – 1903), que havia se suicidado três anos antes. O ateliê ficava na rua Conselheiro João Alfredo, 23.

Huebner encontrava-se em Funchal, cidade portuguesa na Ilha da Madeira (Jornal do Commercio, 5 de junho de 1906, quarta coluna). Seguiu para Hamburgo (Jornal do Commercio (AM), 21 de junho de 1906, quarta coluna).

Foi editado durante o governo do coronel Constantino Neri (1859 – 1926) no Amazonas, o álbum Vale do Rio Branco com fotografias produzidas por Huebner. Foi coordenado pelo engenheiro militar Alfredo Ernesto Jacques Ourique (1848 – 1932). Ele e Huebner faziam parte da comitiva da viagem que o governador Neri fez pelo rio Branco, em 1904, a  bordo do Vapor Mararyr. Eles documentaram a vida ribeirinha, as paisagens, as fazendas, as ruínas do Forte São Joaquim, a fronteira do Brasil com a Guiana Inglesa e a população indígena. O álbum Vale do Rio Branco foi editado em Dresden, na Alemanha, ficou pronto, em 1906. Só foi divulgado na Exposição Nacional de 1908, no Rio de Janeiro: todas as gravuras são magníficas, sendo o trabalho do álbum verdadeiramente artístico, feito no estrangeiro (Jornal do Brasil, 24 de junho de 1908, segunda coluna).

Huebner & Amaral fotografaram os assassinos da família Pacoty (Jornal do Commercio (AM), 22 de setembro de 1906, quarta coluna).

1907 – Ao longo desse ano, Huebner importou material fotográfico da Europa.

Na opulenta vitrine da acreditada fotografia de Huebner & Amaral, exposição de retratos do governador Constantino Neri e dos coronéis Antonio Bittencourt e Afonso de Carvalho (Jornal do Commercio (AM), 15 de dezembro de 1907, terceira coluna).

1908 – Um funcionário da Photographia Allemã foi preso, acusado de roubar dinheiro de Huebner (Jornal do Commercio (AM), 10 de janeiro de 1908, última coluna).

A Photographia Allemã inaugurou uma exposição de quadros do artista plástico Ernest Vollbehr (1876 – 1960) (Jornal do Commercio (AM), 18 de fevereiro de 1908, última coluna).

Huebner fotografou o grupo Club Cabocolin, de foliões que se fantasiavam de índios (Jornal do Commercio (AM), 3 de março de 1908, terceira coluna).

Exposição de um retrato da sra. Zuleide de Barros, executado por Huebner, que seria mostrado na Exposição Nacional de 1908, no Rio de Janeiro (Jornal do Commercio (AM), 5 de março de 1908, quinta coluna).

Pela primeira vez, Huebner viajou para o Rio de Janeiro, onde ele e Libânio do Amaral ganharam a medalha de prata e a medalha de ouro pelo Amazonas e o Grande Prêmio pelo Pará, na Exposição Nacional de 1908 (Almanak Laemmert, 1909).

Na gerência do Jornal do Commercio de Manaus, exposição de fotografias de autoria de Huebner realizadas na seção amazonense da Exposição Nacional (Jornal do Commercio (AM), 10 de setembro de 1908, primeira coluna).

Realização de um trabalho sobre os índios Macuchi e Wapishana, por Huebner e pelo etnologista e explorador alemão Theodor Koch Grumberg (1872 – 1924) sobre aspectos dessas tribos, por exemplo, seus vocabulários (Boletim do Museu Paranaense de História Natural e de Etnografia, 1909).

1909 – Exposição de uma fotografia produzida pela casa Huebner & Amaral da passeata da Sociedade do Tiro Brasileiro do Amazonas (Jornal do Commercio (AM), 7 de janeiro de 1909, primeira coluna).

Huebner & Amaral ofereceram ao Jornal do Commercio fotografias da inauguração do Cristo no Tribunal do Juri (Jornal do Commercio (AM), 23 de junho de 1909, segunda coluna)

Huebner participou da expedição para prestar socorro às vítimas da enchente do rio Amazonas. As fotografias foram expostas mostrando a desolação causada pela enchente (Jornal do Commercio (AM), 4 de julho de 1909, quinta coluna, e 5 de julho, quarta coluna).

1910 – Huebner e Libânio do Amaral eram credores do estado do Amazonas pela realização de trabalhos fotográficos para a Comissão de Saneamento e para a Polícia, e também pela publicação da obra Vale do Rio Branco (Relatório dos presidentes dos estados brasileiros (AM), 1910, página 525, página 559 e página 580).

No salão nobre da Photographia Allemã, exposição de um excelente retrato em nítida fotogravura do fundador do Jornal do Commercio de Manaus, o português Joaquim Rocha dos Santos (Jornal do Commercio (AM), 4 de janeiro de 1910, última coluna).

George Huebner e Libânio Amaral estão na Alemanha (Jornal do Commercio (AM), 15 de agosto de 1910, quinta coluna).

1911 – Foi publicada uma propaganda da Photografia G. Huebner & Amaral que estaria à disposição do público para executar qualquer trabalho fotográfico a partir do dia 1º de janeiro de 1911, no Rio de Janeiro. Ficava no edifício de O Paiz, com entrada pela rua Sete de Setembro. O prédio ficava na esquina da avenida Central com Sete de Setembro (A Notícia, 2 de janeiro de 1911, última coluna e  Jornal do Commercio (AM), 27 de janeiro de 1911, penúltima coluna).

Fotografias da extração da borracha e de seu beneficiamento realizadas por Huebner & Amaral ganharam a medalha de ouro na exposição de borracha anexa ao Congresso Comercial, Industrial e Agrícola realizada em Manaus em fevereiro de 1911 (Jornal do Commercio (AM), 18 de março de 1911, terceira coluna e 19 de março de 1911, última coluna).

A revista Fon Fon publica uma matéria elogiando o ateliê de Huebner & Amaral. A fotografia junta patenteará aos nosso leitores o conforto e a sóbria elegância desse atelier, cujos trabalhos são verdadeiras maravilhas (Fon-Fon, 22 de abril de 1911).

 

 

Reputado estabelecimento de arte, a Photographia Allemã passou por várias reformas (Jornal do Commercio (AM), 24 de dezembro de 1911, segunda coluna e 25 de dezembro, primeira coluna).

1912 – Huebner e Libânio do Amaral ofereceram ao Centro Cívico Sete de Setembro uma fotografia do barão do Rio Branco (A Imprensa, 20 de março de 1912, terceira coluna).

O endereço do estabelecimento dos fotógrafos passou a ser avenida Rio Branco, 128 – com a morte do barão do Rio Branco, a avenida Central passou a se chamar avenida Rio Branco.

Huebner chegou ao Maranhão, vindo do Rio de Janeiro (Jornal do Commercio (AM), 20 de abril de 1912, pen~ultima coluna).

Huebner e Libânio do Amaral e outros proprietários e empregados de estabelecimentos fotográficos requerem que o governo decrete uma lei que determine o fechamento de suas casas comerciais aos domingos (A Imprensa, 13 de abril de 1912, primeira coluna). O pedido foi indeferido (A Imprensa, 8 de junho de 1912, última coluna).

Notícia de que Huebner e dona Maria Ângela pagaram imposto de transmissão de propriedade. Será ela esposa de Huebner? (Jornal do Commercio (AM), 30 de junho de 1912, segunda coluna).

Huebner & Amaral cobraram do senhor Carlos Simas, empregado do Banco do Brasil, o pagamento de uma encomenda de fotografias (Jornal do Commercio (AM), 8 de julho de 1912, penúltima coluna).

Publicação de uma carta enviada do rio Orinoco do etnólogo alemão Theodor Koch-Grünberg (1872 – 1924) a Huebner na qual ele narra seu encontro com indígenas em dezembro de 1911 (Jornal do Commercio (AM), 11 de julho de 1912, quinta coluna).

Denúncia de tráfico de índios no interior do Amazonas feita Koch-Grünberg, que encaminhou dois indígenas escravizados para a residência de Huebner e Amaral (Jornal do Commercio (AM), 17 de julho de 1912, terceira coluna).

A Photographia Huebner & Amaral reabriu em 11 de setembro, na rua da Assembleia, 100, antigo endereço da Photographia Guimarães, do fotógrafo português José Ferreira Guimarães (1841 – 1924) (Jornal do Commercio, 9 de setembro de 1917).

 

 

1917 – A Photographia Huebner & Amaral reabriu em 11 de setembro, na rua da Assembleia, 100, antigo endereço da Photographia Guimarães, do fotógrafo português José Ferreira Guimarães (1841 – 1924) (Jornal do Commercio, 9 de setembro de 1917).

A Photographia Huebner & Amaral foi apedrejada por populares em revolta contra a pirataria alemã. Os mostruários do estabelecimento fotográfico foram destruídos (Diário de Pernambuco, 15 de novembro de 1917, quinta coluna).

 

 

1918 – O Almanak Laemmert anunciou o estabelecimento fotográfico G. Huebner, Amaral & Cia, na rua da Assembleia, 100, no Rio de Janeiro.

O estabelecimento fotográfico G. Huebner & Amaral, em Manaus, na avenida Eduardo Ribeiro, foi anunciado pela última vez no Almanak Laemmert.

1919 – O estabelecimento fotográfico G. Huebner & Amaral, de Belém, na rua Conselheiro João Alfredo, foi anunciado pela última vez no Almanak Laemmert.

Foi anunciada a dissolução da sociedade entre George Huebner, Libânio do Amaral e Paulo Erbe, sócio-gerente da firma desde 1912, que passou a ser o único dono do estabelecimento fotográfico G. Huebner, Amaral & Cia (Jornal do Commercio, 23 de novembro de 1919, oitava coluna). Erbe se estabeleceu, posteriormente, na rua República do Peru, nº 100.

 

 

1928 - Foi introduzida no Jardim Botânico do Rio de Janeiro a palmeira Leopoldinia piassaba Wallace, da região do rio Negro, no Amazonas, adquirida de George Huebner, em Manaus (Rodriguésia, junho / setembro de 1936).

1929 – O estabelecimento fotográfico G. Huebner & Amaral, do Rio de Janeiro, na rua República do Peru, 100, foi anunciado pela última vez no Almanak Laemmert.

1930 -  Huebner foi identificado como um incansável estudioso, abrigado infelizmente na mais severa, verídica modéstia, quem primeiramente (da sua chácara perdida num obscuro arrabalde de Manaus) revelou aos meios científicos esse bizarro exemplar da família das palmaceas…a sohnregia excelsa… (Eu sei tudo, maio de 1930).

Foi publicado o artigo As nossas plameiras como elemento de decoração, de autoria de Huebner (O Campo, fevereiro de 1930).

1935 – George Huebner, que em seus últimos anos de vida, vivia em um sítio nos arredores de Manaus coletando espécies vegetais, sobretudo orquídeas, faleceu.

1944 – Apesar de ter sido rebatizado com o nome de Fotografia Artística, o estúdio Photographia Allemã foi depredado devido aos acontecimentos relacionados à Segunda Guerra Mundial, destruindo parte do acervo fotográfico de Huebner.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Beolens, Bo; GRAYSON, Michael; WATKINS, Michael. The Eponym Dictionary of Reptil. Baltimore: The John Hopkins University Press, 2011.

ERMAKOFF , George. Rio de Janeiro 1900 – 1930 – Uma crônica fotográfica. Rio de Janeiro: G. Ermakoff Casa Editorial, 2006.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002.

SCHOEPF, Daniel. George Huebner 1862-1935: um fotógrafo em Manaus. São Paulo: Metalivros, 2005.

Site O índio na fotografia brasileira

TACCA, Fernando de. O índio na fotografia brasileira: incursões sobre a imagem e o meio. História, ciências, saúde – Manguinhos – Vol. 18, nº 1, p.191-223. Rio de Janeiro., 2011.

VALENTIM, Andreas. A fotografia amazônica de George Huebner. Rio de Janeiro: Nau Editora, 2012.

VALENTIM, Andreas. George Huebner e Theodor Koch-Grünberg: diálogos na Amazônia, 1905-1924. Trabalho apresentado na 26ª. Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 1 e 4 de junho de 2008, Porto Seguro, Bahia, Brasil. 

VALENTIM, Andreas. O índio na fotografia de George Huebner.

Manguinhos e a cidade do Rio de Janeiro

 

 

A região de Manguinhos vem acompanhando, há mais de cem anos, as transformações de uma cidade que não para de crescer. Área de difícil acesso e pouco habitada, no início do século XX, ela se tornava ideal para se trabalhar com soros e vacinas. Neste local, se instalaria o Instituto Oswaldo Cruz. Manguinhos era acessada apenas pela estrada de ferro ou por meio de barcos. Ao longo do século XX, passaria por uma série de intervenções, justificadas pela necessidade de sanear e urbanizar os subúrbios cariocas. As fotos apresentadas, de autoria de Joaquim Pinto da Silva (c.1884- 1951), imortalizado como J. Pinto, procuram revelar um pouco do passado da instituição, na sua relação com a cidade do Rio de Janeiro.

Acessando o link para as fotografias relativas a Manguinhos e a cidade do Rio de Janeiro disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

 

Equipe da Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz