Uma das últimas fotos ou a última foto da Família Imperial no Brasil e seu autor, Otto Hees (1870 – 1941)

A Brasiliana Fotográfica destaca uma fotografia de autoria de Otto Rees (1870-1941), considerada um dos últimos registros ou mesmo o último da Família Imperial no Brasil, produzida em 23 de maio de 1889, pelo fotógrafo Otto Hees (1870 -1941), no Palácio Isabel, atual Grão-Pará, em Petrópolis. Estão na imagem dom Pedro II (1825 – 1891),  dona Teresa Cristina (1822 – 1889), a princesa Isabel (1846 – 1921), o conde d’Eu (1842 – 1922) e os filhos do casal – dom Pedro de Alcântara, com dom Luís e dom Antônio – e o filho da princesa Leopoldina, dom Pedro Augusto. É um retrato externo e diurno, onde todos, à exceção do conde d´Eu, olham fixamente para a câmera.

 

 

Em 15 de novembro do mesmo ano da foto destacada, 1889, foi proclamada a República e, dois dias depois, eles partiram para o exílio, na Europa, a bordo do Alagoas (Gazeta de Notícias, edição de 18 de novembro de 1889, sob o título “O Embarque do Imperador”, na segunda coluna). Quando foi deposto, dom Pedro II tinha governado por 49 anos, três meses e 22 dias. Só foi superado pela rainhas Vitória (1819-1901) e Elizabeth II (1926-2022), ambas da Inglaterra. Chegaram em Lisboa em 7 de dezembro. Visitaram Coimbra e o Porto, onde a imperatriz Teresa Cristina faleceu, em 28 de dezembro.

Entre 1890 e 1891, Pedro II viveu entre Cannes, Vichy, Versalhes e Baden-Baden. Em 24 de outubro de 1891, chegou em Paris, onde se hospedou no Hotel Bedford, número 17 da rua de l’Arcade. Em 5 de dezembro, faleceu de pneumonia (O Paiz, de 6 de dezembro de 1891, e Gazeta de Notícias, de 6 de dezembro de 1891). Ao final da tarde do dia 5, centenas de coroas de flores, uma delas enviada pela rainha Vitória , e mais de cinco mil telegramas já haviam chegado ao Hotel Bedford. O caixão foi coberto pela bandeira imperial e o presidente francês, Sadi Carnot (1837 – 1894), determinou honras militares, fatos que irritaram o governo brasileiro.

Segundo o historiador José Murilo de Carvalho, a morte do imperador teve grande repercussão no Brasil “apesar dos esforços do governo para a abafar. Houve manifestações de pesar em todo o país: comércio fechado, bandeiras a meio pau, toques de finados, tarjas pretas nas roupas, ofícios religiosos“.

Na noite do dia 8, seu corpo, já embalsamado, foi levado, em cortejo oficial no mesmo carro usado nos funerais do ex-presidente Adolphe Thiers (1797 – 1877), para a igreja da Madeleine. No dia seguinte,  houve exéquias solenes com a presença de autoridades francesas e de outros países, além de personalidades como sua filha, a princesa Isabel; o escritor português Eça de Queirós (1845 – 1900) e o diplomata Joaquim Nabuco (1849 – 1910).

Em 1921, chegaram no Rio de Janeiro os corpos de dom Pedro II e de dona Teresa Cristina, que estavam no Mosteiro de São Vicente de Fora, em Lisboa. Viajaram no encouraçado São Paulo, que havia transportado do Brasil à Europa os reis da Bélgica. O conde d´Eu (1842 – 1922), seu filho, o príncipe Dom Pedro (1875 – 1940), e o barão de Muritiba (1839 – 1922) acompanharam a viagem dos despojos (O Paiz, de 9 de janeiro de 1921Careta, 15 de janeiro de 1921). A princesa Isabel não chegou a se beneficiar da revogação do banimento da família real do Brasil porque faleceu em 14 de novembro de 1921. Os corpos de dom Pedro II e de dona Teresa Cristina ficaram na Catedral Metropolitana. Em 1925, os  restos mortais dos monarcas foram para a Catedral de Petrópolis e, finalmente, em 5 de dezembro de 1939, foram para o Mausoléu Imperial, uma capela localizada à direita da entrada da Catedral de Petrópolis, numa cerimônia na qual estava presente o então presidente da República, Getulio Vargas (1882 – 1954). O túmulo foi esculpido em mármore de Carrara pelo francês Jean Magrou (1869 – 1945) e pelo brasileiro Hildegardo Leão Veloso (1899 – 1966) (Jornal do Brasil, de 6 de dezembro de 1939).

 

Pequeno perfil do fotógrafo Otto Hees (1870 – 1941)

 

Otto Friedrich Wilhelm Karl Hees era um dos 11 filhos do fotógrafo alemão Pedro Hees (1841 – 1880) com Maria Glasow Hees (1843 – 1928). Seus irmão eram Ana Catarina Hees (1861-1944), Edmundo Frederico Nicolau Hees (1862-1944), Fernando Jacob Hees (1865-1866), Fernando Mauricio Hees (1867-1893), João Batista Hees (1868-1876), Elisa Matilde Hees (1872-1932), Maria Olga Hees (1872-1958), Joana Teresa Hees (1874-1900), Numa Augusto Hees (1877-1961) e Isabel Emma Hees (1878-1943). Nasceu em Petrópolis, em 4 de setembro de 1870.

Seu pai, o já mencionado Pedro Hees, em 16 de agosto de 1876, tornou-se Fotógrafo da Casa Imperial. Segundo Boris Kossoy, recebeu do conde e da condessa d´Eu “a graça de usar o título de Photographo de sua Imperial Caza e de collocar na porta do seu estabelecimemnto as respectivas armas”. O documento foi assinado por Benedicto Torres, mordomo do conde d’Eu e da princesa Isabel.

Otto iniciou seus estudos no Colégio Alemão, em Petrópolis, e, em dezembro de 1882, foi premiado (O Mercantil, 20 de dezembro de 1882, quarta coluna). Aprendeu fotografia com seu pai, que faleceu, em julho de 1880,  quando ele tinha apenas 10 anos. O estabelecimento fotográfico de Pedro Hees foi arrendado ao fotógrafo Antonio Henrique da Silva Heitor (18?-?), que recebeu o título de Fotógrafo da Casa Imperial, em 2 de março de 1885, outorgado por dom Pedro II.

Em março de 1888, Otto já havia assumido o estúdio (Alggemeine Deutsche Zeitung, 31 de março de 1888, última coluna).

Em 23 maio de 1889, produziu a fotografia da Família Imperial em destaque nesta publicação da Brasiliana Fotográfica. A imagem foi reproduzida no artigo Isabel, a Redentora, publicado em A Noite, de 30 de julho de 1946. É referida como o último flagrante de parte da família Imperial no Brasil.

 

hees

 

Em outubro de 1889, Otto abriu um estúdio em Juiz de Fora, Minas Gerais, e retornou a Petrópolis no mês seguinte (O Mercantil, 20 de novembro de 1889, última coluna).

 

 

 

Em 1º de fevereiro de 1890, o estabelecimento passou a chamar-se Hees & Irmãos, de Numa Augusto e Otto.

 

 

Em 1892, alistou-se no exército, seguindo também a carreira militar.

Em abril de 1895, fazia parte da administração do Asilo de Caridade de Petrópolis (Boletim do Grande Oriente do Brasil, Jornal Oficial da Maçonaria, abril de 1895).

Em maio de 1895, tornou-se um dos primeiros ciclistas a efetuar o trajeto Petrópolis-Juiz de Fora. Foi um dos fundadores do Clube Alemão e, ainda nessa década ficou conhecido em Petrópolis por ter organizados muitas festas. Em 1900, foi candidato a vereador geral e a juiz de paz em Petrópolis, cargo pelo qual foi empossado, em 1901, pelo biênio seguinte. Também em 1901, quando era tenente, produziu fotografias de ladrões para arquivamento da polícia.

Em 1902, trabalhou na Sul América Seguros e, no ano seguinte, fotografou o barão do Rio Branco (1845 – 1912) e outras personalidades, em 17 de novembro de 1903, logo após a assinatura do Tratado de Petrópolis, que incorporou o território correspondente ao Acre ao Brasil.

 

 tratatohees

 

Foi reeleito para o cargo de juiz de paz para o biênio 1904-1905. Em 1910, foi eleito vereador por Petrópolis. Já era major. Nas décadas seguintes, afastado comercialmente da fotografia, exerce os cargos de secretário executivo e delegado de polícia na sua cidade natal (Enciclopédia Itaú Cultural). Faleceu na mesma cidade, em setembro de 1941 (Jornal do Brasil, 17 de setembro de 1941, quarta coluna).

 

Leia aqui a Cronologia de Otto Hees (1870 – 1941)

Fontes:

FERREZ, Gilberto. A fotografia no Brasil: 1840- 1900. Prefácio Pedro Karp Vasquez. 2. ed. Rio de Janeiro: Funarte, 1985.

FERREZ, Gilberto; NAEF, Weston J. Pioneer photographers of Brazil : 1840 – 1920. New York: The Center for Inter-American Relations, 1976.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOSSOY, Boris. Dicionário Histórico-Fotográfico Brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002.

LAGO, Bia Corrêa do. Os fotógrafos do Império: a fotografia brasileira no Século XIX. Rio de Janeiro: Capivara, 2005.

LAGO, Bia Corrêa do; LAGO, Pedro Corrêa do. Coleção Princesa Isabel: fotografia do século XIX. Rio de Janeiro: Capivara, 2008.432p.:il., retrs.

TURAZZI, Maria Inez. Poses e trejeitos: a fotografia e as exposições na era do espetáculo: 1839/1889. Prefácio Pedro Karp Vasquez. Rio de Janeiro: Funarte. Rocco, 1995. 309 p., il. p&b. (Coleção Luz & Reflexão, 4). ISBN 85-85781-08-4.

VASQUEZ, Pedro Karp. Dom Pedro II e a fotografia no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Roberto Marinho, 1985.

VASQUEZ, Pedro Karp. Fotógrafos Alemães no Brasil do Século XIX. São Paulo: Metalivros, 2000.

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