O Aquário de Manguinhos

O pesquisador Ricardo Augusto dos Santos, da Casa de Oswaldo Cruz, uma das instituições parceiras da Brasiliana Fotográfica, destaca a história do Aquário que integrou no século XX, da década de 10 a de 60, quando foi demolido, o conjunto arquitetônico histórico de Manguinhos, formado pelo Pavilhão Mourisco (Castelo), pela Cavalariça, pelo Pavilhão da Peste e pelo Quinino. O artigo traz registros realizados pelo fotógrafo Joaquim Pinto da Silva, o J. Pinto (1884 – 1951).

 

O Aquário

Ricardo Augusto dos Santos*

 

 

As milhares de pessoas que transitam pela avenida Brasil, principal porta de entrada do Rio de Janeiro, quando passam pela altura de Manguinhos, observam um Castelo em estilo mourisco. Porém, a vegetação impede que elas vejam as belas construções do estupendo conjunto arquitetônico. Além do Pavilhão Mourisco (Castelo), formam este núcleo histórico a Cavalariça, o Pavilhão da Peste e o Quinino. Completando a formação existia o Aquário. Situado atrás do Pavilhão da Peste, este prédio foi totalmente demolido na década de 1960.

No início do século XX, o Instituto Soroterápico Federal era constituído por humildes casas, que serviam de escritório, laboratórios e refeitório. Entre as primeiras construções da embrionária instituição, ainda havia uma velha cocheira recebendo poucos cavalos e gaiolas para pequenos animais. Esse acanhado desenho original do futuro centro de pesquisa, educação e produtor de medicamentos teria vida curta.

 

Acessando o link para as fotografias do Aquário de Manguinhos disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Oswaldo Cruz assumiu a direção do Instituto com planos ambiciosos. O projeto era desenvolver uma grande instituição capaz de produzir soros, vacinas, realizar pesquisa e oferecer sólido ensino científico. E as modestas instalações improvisadas não estavam afinadas com esses objetivos. O rudimentar e precário grupo de casas foi gradativamente demolido e substituído pelo conjunto arquitetônico histórico de Manguinhos. Para a tarefa, Oswaldo Cruz contratou o arquiteto português Luiz de Moraes Júnior.

 

 

O primeiro prédio do complexo começou a ser construído em 1903. Era o Pavilhão da Peste, que seria usado para a fabricação de soro antipestoso. Na época, foram erguidos a Cavalariça e o biotério para pequenos animais, o Pombal. Durante a primeira década, começaram as obras do Aquário. O monumental Castelo Mourisco só seria concluído em 1918. O Quinino, levantado em 1919, seria ocupado pelo Serviço de Medicamentos Oficiais. Seu nome de batismo lembra a substância utilizada para combater a malária. Ainda seria criado no majestoso terreno, o Hospital Oswaldo Cruz (hoje Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas). Este foi edificado entre 1912 e 1917.

 

 

Colado ao prédio dedicado a produção de vacina e soro contra a peste bubônica, estava o Aquário. Esta construção concluída em 1909, possuía duas piscinas (água salgada e doce) para cultura de animais, além de tanques para experiências. Seu compartimento de água salgada possuía ligação direta com o mar, recebendo na maré alta, água e animais. Com a maré baixa, um engenho com orifícios, permitia a retenção dos peixes.

A arquitetura do Aquário propiciava que a temperatura em seu interior não fosse influenciada pelas bruscas alterações de clima na cidade. Além dos tanques, o edifício comportava laboratório e sala. Apesar da beleza, valor histórico e patrimonial, ele foi demolido. As poucas fontes indicam que suas funções nunca foram inteiramente executadas. Tendo perdido sua ligação com o mar devido à construção da Avenida Brasil, sua demolição foi decretada nos anos 50.

 

 

*Ricardo Augusto dos Santos é Pesquisador Titular da Fundação Oswaldo Cruz