Panorama circular do Rio de Janeiro, visível do Morro de Santo Antônio

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Este Panorama circular da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, Brasil, visível do Morro de Santo Antônio foi publicado em 1917 pela Empresa de Propaganda Brasileira que, com justeza, denominou-o um ‘indicador’. Sua execução gráfica ficou a cargo das oficinas do Jornal do Brasil, uma das primeiras a equipar-se, desde a virada do século, para a realização de trabalhos de reprodução fotomecânica pelo processo de autotipia, também conhecido como similigravura, meio-tom ou meia-tinta: a partir de uma fotografia, preparava-se um clichê onde os tons contínuos da imagem eram reduzidos a uma trama de retícula – minúsculos pontos, de dimensões variadas que, impressos, nos dão a impressão de estarmos vendo “uma fotografia de verdade”.

Pois até os fins do século 19, a idéia de ‘fotografia’ estava, mesmo, vinculada a um objeto, um artefato fotográfico, uma fotografia original, produzida em laboratório. Mas a partir do advento da retícula, a fotografia se desvinculou do original, do artefato, tornando-se apenas uma imagem, multiplicada aos milhares em poucas horas, e rapidamente disseminada. Tornou-se onipresente, enfim.

Desta primeira edição do panorama, teriam sido produzidos oito mil exemplares. Trata-se de um painel fotográfico circular com uma visão de 360° do centro do Rio de Janeiro, tomada a partir do Morro de Santo Antônio. Foram feitas oito fotos e de cada uma delas aproveitou-se o campo abrangido pelo ângulo de 30 graus. Assim, temos doze seções na imagem, nitidamente marcadas por uma linha vertical.

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Esquema para montagem do panorama circular do Rio de Janeiro, acompanhado de instruções escritas, no verso do mesmo.

Esta é uma versão moderna das antigas rotundas, pintadas a mão, que tanto sucesso fizeram no passado. Os pintores Pedro Américo e Vítor Meireles foram mestres nesta técnica. O panorama giratório Baía e cidade do Rio de Janeiro de Vítor Meireles, apresentado em 1890 à população carioca, tinha 115 metros de comprimento e foi exibido inicialmente em uma rotunda na Praça 15. Dele só restaram alguns estudos em papel, que hoje integram o acervo do Museu Nacional de Belas Artes.

Voltemos ao nosso panorama. Segundo informa o texto impresso no verso, esta peça gráfica serviria de guia “aos visitantes do grande panorama, ora em via de execução.” Se este empreendimento (do grande panorama) foi levado a cabo, desconhecemos. Quem sabe algum leitor de nosso portal Brasiliana Fotográfica não disporá dessas informações, tão valiosas?

 

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No anúncio da loja de produtos fotográficos de Felix Ottersbach, estão listados alguns dos produtos então utilizados, no momento em que ampliava-se um novo mercado, voltado aos amadores da fotografia.

 

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A descoberta dos raios X deu-se nos fins do século 19 e a sua utilização, no campo da medicina, foi quase imediata. A radiografia, entre outras aplicações, desenvolveu-se com rapidez.

 

No trabalho apresentado em congresso e depois publicado na Revista do IHGB em 1984, Lygia Cunha discorreu sobre os “Panoramas e Cosmoramas. Distrações populares no Segundo Reinado.” A mais recente publicação deste ensaio deu-se no ano de 2010, em coletânea de estudos seus, integrantes do vol. 34 da Coleção Rodolfo Garcia, da Biblioteca Nacional, pp. 205-211:

Ali, a autora reproduz um anúncio dos antigos panoramas que foram exibidos em terras cariocas: “Panorama da rua do Teatro, n. 30. Faz-se ciente ao respeitável público que, durante os 9 dias da coroação, apresentará novas vistas, e igualmente o grande comboio que teve lugar em Paris pela morte do Grande Napoleão. Entrada 160 rs.” Jornal do Commercio, 18 e 19 de julho de 1841, p. 4 (segunda coluna, quase no meio da página).

Como se vê, o fascínio do ser humano pelas ‘experiências imersivas’ faz parte de sua natureza e sempre o acompanhou, do homem das cavernas aos apreciadores de videogames e filmes 3-D. Convidamos, então, os visitantes de nosso portal para desfrutar da potente ferramenta de zoom que têm à sua disposição, percorrendo este panorama quase centenário. Estamos comemorando o aniversário dos 450 anos da cidade; momento mais que oportuno para este passeio.

 

Panorama circular

Empresa de Propaganda Brazileira : Panorama circular da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, Brasil, visível do Morro de Santo-Antonio. Acervo FBN

 

Joaquim Marçal Ferreira de Andrade

Curador, pela Biblioteca Nacional, do portal Brasiliana Fotográfica

 

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